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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE BLUMENAU – ESTADO DE SANTA CATARINA. THAIZA LEMMON, brasileira, casada, atriz, inscrita no CPF sob o nº. 000000 e RG nº. 000000-SSP-SC, residente e domiciliada no rua Pedro Krauss Sênior, s/nº, bairro Vorstadt, CEP 00000, Blumenau/SC, por seu procurador, vem à presença de Vossa Excelência, apresentar a competente: AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCA DE DÉBITO c/c REPETIÇÃO DE INDÉBITO e, ainda, c/c INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS, contra, HSBC SEGUROS (Brasil) S/A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ n. 76.538.446/0001-36, com sede na cidade de Curitiba- PR, na rua Tenente Francisco Ferreira de Souza, 805, bairro Hauer, CEP 81630- 010, e HSBC CORRETORA DE SEGUROS, empresa de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº. 43.638.022/0001-94, com sede à Travessa Oliveira Bello, 34, 2º Andar, bairro Centro, CEP 80020-030, na cidade de Curitiba-PR, pelos fatos e fundamentos que passa a expor: DOS FATOS Em 22.12.2009, quando utilizava o caixa eletrônico da agencia HSBC a Autora ao confirmar um prosseguimento no caixa, este desconhecido, foi surpreendida com o demonstrativo de auto-atendimento, havendo a imediata contratação do serviço de SEGURO PROTEÇÃO CONTRA ROUBO DO CARTÃO DE DÉBITO. Fato continuo, tentando cancelar a

Ação de Repetição de Indébito

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EXCELENTSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CVEL DA COMARCA DE BLUMENAU ESTADO DE SANTA CATARINA.

THAIZA LEMMON, brasileira, casada, atriz, inscrita no CPF sob o n. 000000 e RG n. 000000-SSP-SC, residente e domiciliada no rua Pedro Krauss Snior, s/n, bairro Vorstadt, CEP 00000, Blumenau/SC, por seu procurador, vem presena de Vossa Excelncia, apresentar a competente:

AO DECLARATRIA DE INEXISTNCA DE DBITO c/c REPETIO DE INDBITO e, ainda, c/c INDENIZAO POR DANOS MORAIS, contra,

HSBC SEGUROS (Brasil) S/A, pessoa jurdica de direito privado, inscrita no CNPJ n. 76.538.446/0001-36, com sede na cidade de Curitiba- PR, na rua Tenente Francisco Ferreira de Souza, 805, bairro Hauer, CEP 81630- 010, e HSBC CORRETORA DE SEGUROS, empresa de direito privado, inscrita no CNPJ sob o n. 43.638.022/0001-94, com sede Travessa Oliveira Bello, 34, 2 Andar, bairro Centro, CEP 80020-030, na cidade de Curitiba-PR, pelos fatos e fundamentos que passa a expor:

DOS FATOS

Em 22.12.2009, quando utilizava o caixa eletrnico da agencia HSBC a Autora ao confirmar um prosseguimento no caixa, este desconhecido, foi surpreendida com o demonstrativo de auto-atendimento, havendo a imediata contratao do servio de SEGURO PROTEO CONTRA ROUBO DO CARTO DE DBITO. Fato continuo, tentando cancelar a contratao indesejada, a Autora por diversas vezes entrou em contato com o 0800-728-3991, no logrando xito no atendimento sempre ocorrendo a queda da ligao ou falha no atendimento pela mquina responsvel pelas informaes da empresa, por conseguinte no havendo protocolo da solicitao.

Preocupada em cancelar referido contrato, e no havendo xito nas tentativas anteriores, a Autora discou o 0800-701-3904 da Ouvidoria do HSBC, novamente sem haver atendimento ou mesmo protocolo da ligao efetuada, restando somente o contato com a agencia de sua CONTA SALRIO, anexo a prefeitura de Blumenau, atravs do telefone 3335-1765, em contato com o Sr Bengala, o mesmo orientou a Autora ligar para o supracitado 0800, atravs de novos procedimento para que houvesse o imediato cancelamento, no logrando xito novamente, em outro contato com o Sr Bengala o mesmo informou que somente poderia cancelar se houvesse o comparecimento da Autora na agencia mencionada.

Assim, durante todo o dia a Autora no conseguiu efetuar o cancelamento do contrato indesejado, sendo que seu tento restou prejudicado, configurando o abuso por parte da instituio financeira, ao inserir um comando desconhecido e sem informaes complementares nos seus terminais de autoatendimento, gerando um contrato unilateral, sendo que no houve expressa manifestao da Autora em adquirir referido seguro, muito menos houve interveno da corretora em negociar a aplice, esta remetida ao endereo residencial da Autora.

Aps a derrota e dissabor pela falta de atendimento por parte da empresa R, a Autora se dirigiu no dia seguinte at a agencia para efetuar o cancelamento, confeccionando a carta que segue anexo a este petitrio, requerendo o imediato cancelamento e estorno do valor cobrado, sendo que a empresa estava ciente do ocorrido.

Em 24 de dezembro de 2009, foi enviado o comunicado de cancelamento do contrato de seguro (anexo), sendo que em 28 de dezembro de 2009, para surpresa da Autora o valor de R$ 3,00 (trs reais) foram descontados AUTOMATICAMENTE EM SUA CONTA (extrato em anexo), fato este inadmissvel, configurando assim o ato lesivo contra Autora.Resumidamente, aps a empresa R camuflar um comando em seu caixa eletrnico de atendimento, expedir um contrato de seguro indesejado, no disponibilizar um telefone de atendimento e cancelamento do servio ou contrato, e aps o esforo da Autora em dirigir-se a agencia confeccionar a carta de resciso imposta pela empresa, teve, em data posterior o valor cobrado em sua conta salrio, de forma automtica, como se fosse possvel a empresa manipular a conta salrio dos correntistas, ultrajante e descabido o ato praticado pela empresa R, detentora de todas as contas salrios dos servidores municipais de Blumenau-SC.

DA ANTECIPAO PARCIAL DA TUTELA

Note-se, Excelncia, que a cobrana indevida de servios e/ou produtos que jamais foram disponibilizados para a Autora causa-lhe uma situao constrangedora, especialmente porque em decorrncia da cobrana indevida a Autora teve que promover referida ao. Por outro vrtice, v-se a Autora na iminncia de ter o valor de R$ 3,00 (trs reais) descontados todo ms diretamente da sua conta salrio, no havendo justificativa para o pagamento dos valores cobrados automaticamente, cuja prtica deste ato deve se abster a R, eis que se mostra um imperativo de justia, que desde logo pugna na forma de pedido de antecipao parcial de tutela, visto que presentes os requisitos elencados no art. 273, do Cdigo de Processo Civil, notadamente a prova inequvoca do fato, que se consubstancia na ao volitiva da R de cobrar por servios e/ou produtos que no fornecera para a Autora, conforme restou demonstrado nas articulaes retro.

Some-se a isso o fundado receio de dano irreparvel ou de difcil reparao que consiste na subtrao de valor alheio, sendo que o valor cobrado e subtrado da conta indevido, conforme se fez prova. Alm do que a Autora elege a tutela antecipada tambm em observncia ao princpio da economia processual, porquanto o eventual ajuizamento de ao cautelar ensejaria a propositura de posterior demanda de carter principal, o que se mostra despiciendo e oneroso, tanto para as partes como para o prprio Poder Judicirio, como, tambm, salientou a eminente Desembargadora do E. Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul, Dra. Mara Larsen Chechi, no aresto que a requerente se permite transcrever a seguir:

PRESCRIO DA AO CAMBIAL PROTESTO DO TTULO INVIABILIDADE A prescrio da ao cambiria obsta o protesto do ttulo. ORDEM DE SUSTAAO MANTIDA SENTENA PARCIALMENTE REFORMADA TUTELA DE URGNCIA PROCEDIMENTO CAUTELAR ELEITO INADEQUAO INVIABILIDADE DE CONVERSO a partir da incorporao do instituto da antecipao da tutela por nossa legislao processual (Lei 8952/94), no mais se justifica a fungibilidade das tutelas de urgncia, no apenas por razes de ordem formal, mas pelas conseqncias processuais e operacionais que acarreta inclusive no que se refere ao risco da ineficcia da medida (arts. 806 e 808, I, do CPC) ao ajuizamento de duas aes em lugar de uma, com correspondentes despesas processuais e movimentao da mquina judiciria, desnecessrias e onerosas, contrariando os princpios da economia, da celeridade e da ampla defesa (por aplicao de processo com prazos mais reduzidos) e desconsiderando os nobres objetivos da reforma. PROCESSO CAUTELAR EXTINTO. (TJRS APC 599364858 9 C. Civ. Rel. Des Mara Larsen Chechi j. 09.08.2000).

Nesta vertente, torna-se totalmente desnecessrio, processualmente falando, o ingresso de duas aes, vez que a Autora pode ajuizar numa nica ao ordinria, almejando a declarao de inexistncia da dvida, postulando como antecipao de um dos efeitos da tutela jurisdicional pretendida, a absteno da R em praticar qualquer ato que tenha por objetivo a cobrana de valores, se j o fez, que lhe seja determinado promover a imediata restituio, esta em dobro, sob pena de multa diria, relativamente conta salrio n. 0128-29386-03, pelo que, torna-se completamente desarrazoado a interposio da actio cautelar e, posteriormente a ao ordinria.

Neste jaez, ressalte-se trecho do acrdo proferido no AI 97.000983-6, de Joinville, cuja lavra do Desembargador Newton Trisotto:

"[...] toda evidncia, para garantir a eficcia de sentena que declare a inexistncia de dbito ou de relao jurdica, a sustao do protesto absolutamente desnecessria, incua. A doutrina e a jurisprudncia a admitiam face a ausncia de outro instrumento jurdico processual hbil para impedir a consumao do protesto, com suas graves e danosas conseqncias. A antecipao da tutela, no para efeito de declarar a existncia ou inexistncia da relao jurdica mas, como pedido cumulado, para obstar o protesto se me afigura perfeitamente admissvel"

In casu, denota-se que o ajuizamento da ao declaratria com o pedido de antecipao parcial da tutela para impedir que a R pratique qualquer ato que possa onerar a Autora, em caso de j haver praticado qualquer ato neste sentido, que seja compelida a proceder a devoluo em dobro, se mostra mais acertada, tendo em vista que a causa de pedir e sua prova esto desde logo presentes nos autos, motivo pelo qual eventual ao movida a posteriori repetiria integralmente as razes e os elementos de prova da cautelar preparatria.

Finalmente, ressalta que a possibilidade de a medida ora pleiteada ser concedida na forma de cautelar em carter incidental, nos termos do 7, do art. 273, do CPC, institudo pela Lei n 10.444/02, vez que presentes os requisitos do fumus boni iuris, que no caso em tela consiste na inexistncia de dbito relativamente ao Contrato de Seguro Contra Roubo cobrado pela R e do periculum in mora, que diz respeito ao risco a que o direito do postulante est sujeito, caso no seja tutelado com urgncia, diante da morosidade do processo.

DA INEXISTNCIA DE DBITO E DA DEVOLUO, EM DOBRO, DOS VALORES COBRADOS INDEVIDAMENTE

Relativamente a esse ttulo, a Autora insurge-se contra o ato praticado pela R no sentido de cobrar pelo seguro no contratado, sendo que o valor est sendo cobrado indevidamente, em afronta ao direito do consumidor. Neste mesmo diapaso, insurge-se contra a cobrana mensal do valor correspondente R$ 3,00 (trs reais), relativo ao contrato de seguro, este cancelado, pois no houve resciso sendo que este contrato nunca foi desejado pela Autora

Neste vrtice, ultrajante a R cobrar por servio que jamais foi contratado pela Autora, em detrimento de uma postura de desrespeito com o consumidor, vtima de uma aplice banal, na qual no existe parmetros de indenizao, sendo os riscos cobertos na Clausula VII, havendo os Riscos no Cobertos na Clausula VIII, configurados nas alneas a at mm, sendo o seguro pago somente quando ocorrido o Roubo do Carto, salvo condies especiais existentes na aplice.

Em face da inexistncia da autorizao de dbito presume-se a cobrana indevida dos valores relativamente a mensalidade do seguro, de modo que a R dever ser condenada a devolver em dobro, na forma do pargrafo nico do art. 42 do Cdigo de Defesa do Consumidor. Seno veja-se:

Art. 42. .............................Pargrafo nico. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito repetio do indbito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso.

Assim, a R deve ser condenada repetio do indbito, nos moldes do art. 42 do Estatuto Consumerista, relativamente aos valores cobrados indevidamente a ttulo de Seguro Proteo, contudo vem sendo cobradas de forma indevida atravs do dbito automtico em conta, este no autorizado pela Autora.

DA INDENIZAAO POR DANOS MORAIS

H no Direito Civil um dever legal amplo de no lesar a que corresponde a obrigao de indenizar, configurvel sempre que, de um comportamento contrrio quele dever de indignidade, surta algum prejuzo para outrem, o que se depreende da interpretao do art. 186 do Cdigo Civil. Por conseguinte, a teoria da responsabilidade civil assenta-se no trip (a) dano tambm denominado prejuzo sofrido pela vtima; (b) ato ilcito legal ou contratual cometido pelo agente; e (c) nexo de causalidade entre o danoe o ato ilcito.

Diante de tal inferncia, mister algumas ponderaes, a saber: Em relao ao primeiro elemento, qual seja o dano, notrio o prejuzo sofrido pela Autora em decorrncia da cobrana indevida e percalos na falta de atendimento. Quanto ao segundo elemento, o ato ilcito, restou caracterizado em face do desconto mensal cobrado indevidamente, decorrente do contrato de seguro imposto pela R.

Diante de tais consideraes, caracterizado est o nexo de causalidade entre o dano sofrido pela Autora e os atos praticados pela R.

Destarte do convvio social, o cidado conquista bens e valores, que formam o acervo a ser tutelado pela ordem jurdica, sendo que alguns se referem ao patrimnio e outros prpria personalidade humana, atributos essenciais e indispensveis da pessoa. Sendo, portanto, direito do indivduo preservar aincolumidade de sua personalidade.

Assim, o dano moral, aquele de natureza no-econmica, porm que se traduz em turbao do nimo, em reaes desagradveis, desconfortveis, constrangedoras, entre outras, se manifesta quando a vtima suporta o constrangimento de submeter aos procedimentos e vontades da empresa negligente e oportunista.

De mais a mais, o dano moral que se caracteriza pela afetao da reputao no meio social (aspecto objetivo) e pelo sofrimento psquico ou moral, a dor, a angstia e as frustraes infligidas ao ofendido (aspecto subjetivo), j constitucionalizado a partir de 1988, contemplado no art. 5, incisos V e X, ganhou status de preceito fundamental, assegurando o direito de indenizao vtima.

Seno veja-se:

Art. 5 [...]V assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, alm da indenizao por dano material, moral ou imagem.(...)X so inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito de indenizao pelo dano material ou moral decorrente de sua violao..

Neste diapaso, o entendimento doutrinrio e jurisprudencial no sentido de que uma vez caracterizado o dano, deve ser indenizado, independentemente de comprovao do prejuzo. Eis o que leciona Yussef Sahid Cahali, em sua obra Dano Moral. In verbis:

Acentua-se cada vez mais na jurisprudncia a condenao daqueles atos que molestam o conceito honrado da pessoa, colocando em dvida a sua credibilidade e o seu crdito. Definem-se como tais queles atos que, de alguma forma, mostram-se hbeis para macular o prestgio moral da pessoa, sua imagem, sua honradez e dignidade.

No diferente o entendimento jurisprudencial. Seno veja-se:

A indenizao por ofensa honra alheia devida independentemente da comprovao da existncia de um efetivo prejuzo, pois dano, puramente moral, indenizvel". (RE n.105.157-SP, Min. Octavio Gallotti, RTJ 115/1.383).

"A reparao do dano moral tem por fim ministrar uma sano para a violao de um direito que no tem denominador econmico. No possvel sua avaliao em dinheiro, pois no h equivalncia entre o prejuzo e o ressarcimento. Quando se condena o responsvel a reparar o dano moral, usa-se de um processo imperfeito, mas onico realizvel para que o ofendido no fique sem uma satisfao" (TARJ, AC n. 5.036/96, Juiz Mauro Fonseca Pinto Nogueira).

Por conseguinte, como j fixou este colendo Tribunal de Justia:

"Caracterizada a ilicitude no procedimento, nasce para o ru a responsabilidade de indenizar" (ACV n. 39.892, de Blumenau, rel.Des. Wilson Guarany).

Cumpre-nos asseverar que o entendimento jurisprudencial majoritrio no sentido de que no h necessidade de prova efetiva do abalo de crdito, para a caracterizao da obrigao de indenizar o dano moral. Ora, ao ser compelido a pagar dvida oriunda de produtos e servios que no contratou, teve a Autora que se socorrer de advogado para ajuizar a presente ao, gerando-lhe mais transtornos e dispndios financeiros, com a contratao de servios advocatcios. Contudo, o cerne do presente conflito de interesses reside na existncia de responsabilidade civil, da R, pelos danos morais que tem experimentado a Autora, em razo da cobrana indevida por servios e produtosno fornecidos pelas Rs.

Diante do exposto, requer a condenao das Rs na indenizao por danos morais provocados na Autora, em valor a ser estabelecido por Vossa Excelncia, porm, que sirva de elemento inibidor das prticas da demandada e ao mesmo tento de alento ao sofrimento experimentado pela Autora.

SOBRE O QUANTUM INDENIZVEL

J sabido que o dano moral, por sua natureza, no oferece preciso matemtica de mensurao econmica.

Critrios como a intensidade da ofensa, a condio scio-econmica do ofendido e do ofensor e a extenso da leso tm orientado nossos Tribunais na fixao dos danos extrapatrimoniais.

Assim, por exemplo:

"APELAO CVEL - AO DE INDENIZAO POR DANOS MORAIS - HABILITAO E UTILIZAO DE LINHA TELEFNICA POR TERCEIRO - NEGATIVAO DO NOME NOS CADASTROS DE INADIMPLENTES - RESPONSABILIDADE CIVIL CONFIGURADA - QUANTUM INDENIZATRIO - MAJORAO NECESSRIA - ADEQUAO AOS LIMITES DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE - JUROS DE MORA - TERMO INICIAL - SMULA 54 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA - RECURSO PROVIDO. A indenizao por danos morais deve ser fixada com ponderao, levando-se em conta o abalo experimentado, o ato que o gerou e a situao econmica do lesado; no pode ser exorbitante, a ponto de gerar enriquecimento, nem irrisria, dando azo reincidncia. Conforme precedentes da Terceira Cmara de Direito Civil deste Tribunal, a indenizao por dano moral em R$ 10.000,00 (dez mil reais) apresenta-se satisfatria para compensar o abalo sofrido pela negativao do nome nos rgos de proteo ao crdito. Nas aes de indenizao por dano moral, em que a responsabilidade civil de natureza extracontratual, os juros moratrios fluem a partir do evento danoso" (Apelao Cvel n. 2007.049606-8/000000, da Capital. Relator: Fernando Carioni. Data Deciso: 26/11/2007). Grifo nosso. (fonte: site do TJSC na Internet www.tj.sc.gov.br, publicado em 16.09.09)

Diante da nova realidade social e com altos nveis de custo de vida, data vnia, de extrema prudncia considerar o quantum indenizar, seno vejamos nas palavras de Hermenegildo de Barros:

Embora o dano moral seja um sentimento de pesar ntimo da pessoa ofendida, para o qual se no encontra estimao perfeitamente adequada, no isso razo para que se lhe recuse em absoluto uma compensao qualquer. Essa ser estabelecida, como e quando possvel, por meio de uma soma, que no importa nica salvao cabvel nos limites das foras humanas. O dinheiro no os extinguir de todo; no os atenuar mesmo por sua prpria natureza; mas pelas vantagens que seu valor permutativo poderproporcionar, compensando, indiretamente e parcialmente embora, o suplcio moral que os vitimados experimentam (in RTJ 57, pp. 789- 790, voto de Ministro Thompson Flores)

No caso em estudo, preciso no esquecer, determinadas circunstncias que justificam a fixao da condenao nesse patamar, como exemplo a falta de honestidade com o cliente, que se prontifica a seguir os procedimentos bancrios, paga suas obrigaes em dia e ao mesmo tempo alvo de uma empresa que no honra seu contrato e cobra valores indevidos, descontando valores indevidos da conta salrio de seus clientes

So estas, em resumo, as consideraes que levam a Autora a sugerir, a ttulo de indenizao por dano extrapatrimonial (leso honra, dignidade humana), a quantia equivalente a 40 (quarenta) salrios mnimos.

DA APLICAO DO CDIGO DE DEFESA CONSUMIDOR

Da Relao de Consumo

As leis brasileiras, por tempos, procuraram absterem-se de definies. De forma geral o legislador esperava que a Doutrina e a Jurisprudncia pudessem, em conjunto, criar os conceitos sobre as figuras jurdicas abordadas pela Lei.

Como Lei indubitavelmente protetora, o Cdigo de Defesa do Consumidor, preservou para si as definies de seus principais e norteadores conceitos que enseja.

Define ento o CDC, como sendo consumidor; toda pessoa fsica ou jurdica que adquire ou utiliza produto ou servio como destinatrio final, sendo que a Requerida fornecedora de servios, claramente enquadrados como figura jurdica da relao de consumo, afeioando-se a relao em tela, como RELAO DE CONSUMO, estando pois, sobre a gide deste diploma.

O Artigo 173, 4o, de nossa Constituio Federal prev:

A lei reprimir o abuso do poder econmico que vise dominao dos mercados, eliminao da concorrncia e ao aumento arbitrrio dos lucros.

Da Vulnerabilidade do Consumidor

Na relao de consumo, qual se adapta a prestao de servios desempenhada pelas Rs, , sem sombra de dvida o consumidor, vulnervel e hipossuficiente perante o poderio financeiro da mesma, sendo certo que deve o Judicirio no s determinar medidas assecuratrias ao direito do consumidor, como inclusive, dar solues alternativas para as questes controvertidas que desta relao ganharam vida.

Da Proteo Legal dos Consumidores

Assiste aos consumidores a presuno legal da sua proteo. Esta presuno est dita no 1 princpio em que se funda a Poltica Nacional das Relaes de Consumo, na qual o reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor frente ao fornecedor, assim dita no inciso I, do art. 4, do CDC, in verbis: A poltica Nacional de Relaes de Consumo tempor objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito sua dignidade, sade(...)I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;(...)

Aos Juzes permitida a interveno nas relaes de consumo, para dar solues alternativas s questes controvertidas que desta relao ganharam vida.

Ao analisar a questo, V. Exa. no ser um mero servidor da vontade das partes, mas um ativo implementador da Justia, tendo sempre como objetivo a eqidade das partes.

Assim ressalta o Cdigo de Defesa do Consumidor em seus artigos 6. VI, e 14 caput:

- So direitos bsicos do consumidor:(...)VI a efetiva preveno e reparao de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos.(...). O fornecedor de servios responde, independentemente da existncia de culpa, pela reparao dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos prestao de servios, bem como por informaes insuficientes ou inadequadas sobre sua fruio e riscos.

Hodiernamente, inconteste a natureza dos servios oferecidos pela R, quais sejam eles de carter comunicativo ao consumidor atravs de sua prestao de servios. A aplicabilidade, portanto, das disposies do Cdigo de Defesa do Consumidor para o caso concreto, inevitvel. Composto por normas de ordem pblica, o CDC adota como regra a responsabilidade objetiva dispensando, assim, a comprovao da culpa para atribuir ao fornecedor a responsabilidade pelo dano, bastando a presena da ao ou omisso, o dano e o nexo causal entre ambos.

Assim, diante da evidente relao de causa e efeito que se formou e ficou demonstrada, surge o dever de indenizar independentemente da apurao de culpa.

Do Foro

Diante da hipossuficincia do consumidor admitida pelo artigo 6, VII e VIII do CDC, e em sendo a Autora qualificada como consumidora diante da relao que se apresenta uma vez ser a parte mais fraca e destinatria final dos servios oferecidos pela R, e, tendo em vista a dificuldade de interpor a presente

Ao na Comarca da sede da R, competente o Foro desta Comarca de Blumenau para apreciao desta demanda.

Vejamos o disposto no artigo 6, VII e VIII do CDC: Art. 6 So direitos bsicos do consumidor:[...]VII - o acesso aos rgos judicirios e administrativos com vistas preveno ou reparao de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteo jurdica, administrativa e tcnica aos necessitados;VIII - a facilitao da defesa de seus direitos, inclusive com a inverso do nus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critrio do juiz, for verossmil a alegao ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinrias de experincias;[...].

Neste sentido tem decidido o Nosso Egrgio Tribunal de Justia:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXCEO DE INCOMPETNCIA - CONFIGURAO DA RELAO DE CONSUMO - PREVALNCIA DO FORO DO DOMICLIO DA PARTE HIPOSSUFICIENTE EM RELAO AO ELEITO. possvel a negativa de vigncia de clusula eletiva de foro, em benefcio da parte hipossuficiente, mesmo que no enquadrada como destinatrio final conforme Cdigo de Defesa do Consumidor. (TJSC - Agravo de instrumento 2002.003489-4. Relator: Des. Cercato Padilha. Data da Deciso: 13/02/2003).

Desta forma no resta dvida quanto a competncia deste juzo, por mais privilegiado que seja outro.

Da inverso do nus da Prova

Outrossim, conforme j vastamente comentado, aplicando-se o Cdigo de Defesa do Consumidor, deflagra-se um dos direitos bsico do consumidor, esculpido no artigo 6, VIII, concernente a inverso do nus da prova. A inverso, certa, ocorre a critrio do Juiz, observando-se alguns requisitos, vejamos:

VIII a facilitao da defesa de seus direitos, inclusive com a inverso do nus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critrio do juiz, for verossmil a alegao ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinrias de experincias.

Diante disso:

a) trata-se de processo civil, enquanto a este requisito, no resta dvida que est presente;b) for verossmil a alegao, verossmil a alegao da Autora, inclusive, levando-se em conta farta jurisprudncia nesta matria e forte posicionamento dos Tribunais no sentido de reconhecer e declarar as nulidades salientadas;c) for hipossuficiente o consumidor, requisito tambm presente, pois no h como descartar o fato de que a Autora hipossuficiente, visto que jamais contratou seguro, e sequer tem alguma informao a respeito do mesmo, sem nem ao menos ter a cobertura deste; ed) prova inequvoca: h prova suficiente, por ser pblico e notrio o ato em caixas eletrnicos, e por conseguinte o cancelamento e o extrato demonstrando o desconto na conta salrio da aposentada servidora municipal.

Vejamos a inverso do nus da prova em decises do STJ:

A regra contida no art. 6/VIII do Cdigo de Defesa do Consumidor, que cogita da inverso do nus da prova, tem a motivao de igualar as partes que ocupam posies no isonmicas, sendo nitidamente posta a favor do consumidor, cujo ocasionalmente fica a critrio do juiz sempre que houver verossimilhana na alegao ou quando o consumidor for hopossuficiente, segundo as regras ordinrias da experincia, por isso mesmo exige do magistrado, quando de sua aplicao, uma aguada sensibilidade quanto a realidade mais ampla onde est contido o objeto da prova inverso vai operarse.

Hiptese em que a r/recorrente est muito mais apta a provar que a nicotina no causa dependncia que a autora/ recorrida provar que ela causa.(Recurso Especial N.140097/SP) Portanto, demonstrada a possibilidade de inverso do nus da prova e que a R est mais apta para provar, requer-se Vossa Excelncia que determine a juntada aos autos de todos os documentos que comprovam a possibilidade de desconto dos valores cobrados, sendo indevida a cobrana de valores no contratados.

DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer:a) Se digne Vossa Excelncia em deferir liminarmente e inaudita altera pars, na forma de antecipao parcial da tutela ou de medida liminar incidental prevista no art. 273, 7, do CPC, determinando que a R se abstenha de cobra os valores indevidos, bem como proceda a imediata restituio dos valores na forma dobrada, sob pena de multa diria a ser estabelecida por Vossa Excelncia;b) A citao da R VIA AR, no endereo declinado no prembulo deste petitrio, para, querendo, conteste os termos da presente ao, sob pena de confisso e revelia, sendo, ao final, proferida sentena julgando totalmente procedente o pedido da Autora, para o fim de declarar a inexistncia do contrato de seguro, ou alternativamente declarar este nulo por falta dos requisitos de admissibilidade dos contratos, ou seja a vontade das partes, restituindo os valores cobrados, na forma dobrada, tornando definitiva a deciso liminar;c) Deferir a produo de todos os meios de provas em direito admitidas, notadamente a documental inclusa, testemunhal cujo rol apresentar oportunamente, depoimento pessoal do representante legal da R, sob pena de confesso, alm de outras que se fizerem necessrias, com a Inverso do nus da Prova, com base no diploma consumerista;d) Requer ainda, se digne V. Exa. de julgar procedente a presente ao, com as cominaes legais aplicveis, com a conseqente condenao da R no pagamento, a Autora, da importncia sugerida de 40 salrios mnimos, acrescidos de juros de mora e devidamente atualizada at a data do efetivo pagamento, a ttulo de reparao dos danos morais e patrimoniais respectivamente; caso Vossa Excelncia no entenda pelo pagamento dos 40 salrios mnimos, arbitre-o conforme o digno entendimento, nos moldes e parmetros citados na fundamentao da pea vestibular;e) A devoluo em dobro dos valores cobrados indevidamente, constante nos extratos, devidamente atualizado com juros e correo monetria, naforma da lei;f) A condenao da R, ao pagamento das custas processuais, honorrios advocatcios e demais cominaes de estilo.g) Tendo em vista que o Autora no possuir condies de arcar com as custas processuais e honorrios advocatcios, requer a Vossa Excelncia lhe seja deferido os benefcios da gratuidade da Justia, em conformidade com o disposto nas Leis n 1.060/50 e 7.510/86, conforme documentao anexa.

D-se causa o valor de R$ 20.400,00 (vinte mil e quatrocentos reais).

Nesses termos,Pede e espera deferimento.

Blumenau (SC), 26 de janeiro de 2010.

Carlos BazukaOAB/SC n 69