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Universidade da Beira interior Departamento de Gestão e Economia Licenciatura em Marketing 3º ano Direito de Marketing Trabalho Individual A ACÇÃO POPULAR DA LEI 83/95 Docente: Ana Cristina dos santos Alves Pinto Trabalho realizado por: Maria Luísa Pires nº 20449

Acção Popular - Direito de Marketing

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Universidade da Beira interior

Departamento de Gestão e Economia

Licenciatura em Marketing – 3º ano

Direito de Marketing

Trabalho Individual

A ACÇÃO POPULAR DA LEI 83/95

Docente:

Ana Cristina dos santos Alves Pinto

Trabalho realizado por:

Maria Luísa Pires nº 20449

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DIREITO DE MARKETING 4 De Junho de

2009

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Índice

1. Introdução ............................................................................................................... 3

2. Acção Popular ......................................................................................................... 4

3. Democracia participativa e acção popular ......................................................... 7

4. O direito de acção popular no Direito Português ............................................ 10

5. Evolução Histórica ............................................................................................ 11

6. Interesses Difusos ................................................................................................. 15

7. ―Lei de Acção Popular" ....................................................................................... 18

8. Conclusão .............................................................................................................. 19

9. Bibliografia ............................................................................................................ 21

Anexos .......................................................................... Error! Bookmark not defined.

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1. Introdução

No âmbito da disciplina de Direito de Marketing de entre os temas

propostos o escolhido para a realização deste trabalho foi o da acção Popular da

Lei 83/95.

Numa primeira parte iremos definir o conceito de Acção Popular com um

breve enquadramento deste direito no Direito Português e enquadramento

histórico.

Numa segunda parte, tentar definir acerca da problemática entre interesses

individuais, colectivos ou difusos e estabelecer as ambiguidades entre os dois

últimos.

Por fim, apresentaremos a leitura objectiva de todos os dados apresentados

para fins de conclusão e tentaremos analisar o conteúdo exposto no relatório

com uma perspectiva de apresentar propostas de alteração da legislação.

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2. Acção Popular

O professor Marcello Caetano referia-se à acção popular como uma

faculdade de fiscalização cívica, concedida a determinados indivíduos que satisfaçam

certos requisitos de legitimidade, para, usando a via contenciosa, obterem a anulação de

resoluções administrativas que considerem lesivas de interesses de colectividades locais

ou, actuando em nome próprio e no interesse das autarquias, intentarem acções no foro

judicial, necessárias para manter, reivindicar e reaver bens ou direitos do corpo

administrativo.

O direito de acção popular é um direito de acção judicial que se traduz

num elemento de participação activa dos cidadãos na vida política da

colectividade, onde se encontram inseridos.

Pelo seu carácter excepcional e taxativo, implica um desvio às regras gerais

da legitimidade processual não podendo ser exercida fora dos casos

estabelecidos pelo legislador. Há regras no ordenamento jurídico, com base nas

quais a iniciativa processual não pode fundar-se em interesses genéricos, e

assim, o direito de acção popular traduz-se numa excepção à regra da

legitimidade processual. Não pode também, por outro lado, ser averiguada de

modo concreto e casuístico, o que nos permite afastar a noção de interesse

directo e pessoal tem como finalidade a prossecução de interesses públicos e

não pessoais. A legitimidade da acção popular é aferida antes em termos gerais

e abstractos, a partir da integração objectiva de certas qualidades ou, inserção

em determinada categoria de indivíduos. É importante que o interesse a

prosseguir seja suficientemente difuso e geral para não se identificar com o

interesse pessoal do seu agente, uma vez que está em causa a prossecução de

um interesse público, já que é a partir da noção de colectividade política que se

opera a atribuição do direito de acção popular.

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Uma vez analisada a questão da legitimidade, há que referir também que o

direito de acção judicial conferido pelo direito de acção popular é um direito

autónomo à prestação de uma actividade jurisdicional, por parte dos órgãos

competentes do Estado, traduzindo-se na atribuição de um direito subjectivo. É

certo que é um direito autónomo, mas não é de carácter abstracto e desprovido

de finalidade, já que, como referimos, é a garantia de determinado direito

substantivo material.

Há duas modalidades típicas de acção popular. A acção popular correctiva,

prevista nos artigos 822º1 e 826º2 do Código Administrativo, que permite a

qualquer eleitor ou contribuinte, dentro de certas condições, impugnar

contenciosamente os actos administrativos ilegais de alguns órgãos da

administração local e interpor recursos de determinados actos eleitorais, e a

acção popular supletiva, com base no artigo 369º3 do citado código,

desenvolvida perante o contencioso civil, no qual o agente deve alegar os

prejuízos concretos sofridos pela entidade cujo interesses prosseguem, assim

como a protecção jurídica a que esses interesses estão contemplados; visa suprir

1Artigo 822.º do Código Administrativo: A qualquer eleitor, ou contribuinte do Estado, no gozo dos seus direitos civis ou políticos, é permitido recorrer das deliberações que tenha por ilegais, tomadas pelos corpos administrativos das circunscrições em que se ache recenseado, ou por onde seja colectado e, pelas demais entidades referidas nos n.os 2, 3 e 4 do artigo 820.º com jurisdição na mesma área. 2Artigo 826.º do Código Administrativo: Pode qualquer eleitor, nos termos estabelecidos na lei eleitoral, interpor os recursos numerados nosn.os 9, 11 e 12 do artigo 820.º 3Artigo 369.º do Código Administrativo: Qualquer contribuinte, no gozo dos seus direitos civis e políticos, pode intentar, em nome e no interesse das autarquias locais em que tiver domicílio há mais de dois anos, as acções judiciais necessárias para manter, reivindicar ou reaver bens ou direitos do corpo administrativo que hajam sido usurpados ou de qualquer modo lesados. 1 — As acções referidas neste artigo só podem ser intentadas quando o corpo administrativo as não tiver proposto nos três meses posteriores à entrega de uma exposição circunstanciada acerca do direito que se pretende fazer valer e dos meios probatórios de que dispõe para o tornar efectivo. 2 — Os que obtiverem vencimento, no todo ou em parte, nas acções de que trata este artigo terão direito ao reembolso das quantias que houverem gasto com o pleito, até 2/3 do valor real dos bens ou direitos mantidos ou readquiridos.

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a inércia dos órgãos administrativos. São formas de contencioso objectivo que

tem por finalidade a defesa da legalidade administrativa. Por serem figuras

conceitualmente diferentes, a doutrina mais recente tem-lhes conferido

tratamento autónomo.

Os autores que conferem tratamento unitário ao instituto da acção popular,

integram as duas figuras numa só: a A figura da substituição processual. Ao

propor uma acção popular, o autor age em nome próprio, mas em defesa de um

direito alheio, o que leva a que estes autores considerem que, de um ponto de

vista processual, se está perante a figura da substituição processual,

defendendo o sujeito activo o direito da Comunidade de que faz parte

integrante, configurando-se, assim, uma forma de exercício privado de funções

públicas. É de rejeitar igualmente a atribuição de natureza procuratória ao

direito de acção popular, ao integrá-la na figura da representação. A qualidade

de representante requer uma actuação em nome e interesse alheio, respeitando

determinado formalismo, o que não se verifica no caso do direito de acção

popular.

A figura da representação não se adequa, e a figura da substituição não se

adapta à acção popular correctiva. Assim, na acção popular correctiva estamos

perante a atribuição de um direito subjectivo, de natureza cívica e com carácter

político. O indivíduo, como cidadão titular de um interesse geral e objectivo na

legalidade e, face ao reconhecimento e protecção jurídica conferido pela

atribuição do direito de acção popular, passa também a ser titular de um direito

subjectivo de carácter cívico. Já quanto à acção popular substitutiva a doutrina

maioritária considera-a um caso típico de substituição processual, já que o

agente da acção popular prossegue em seu nome, risco e interesse próprio o

direito de outra entidade, configurando-se uma forma de exercício privado de

funções públicas.

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3. Democracia participativa e acção popular

A democracia é a forma de governo em que o poder é atribuído à

totalidade dos cidadãos e exercido de harmonia com a vontade expressa por

estes. Mas o poder não lhe é atribuído em abstracto; deve ser exercido um

esforço conjunto entre os cidadãos e os governantes. Os cidadãos devem ter um

certo nível de participação na vida política para que se possa dizer que formam

uma vontade actual e autónoma perante os governantes.

A Constituição prevê os direitos políticos dos cidadãos. Advém do

próprio princípio democrático, dos pilares do Estado de Direito e das bases da

democracia representativa atribuir aos cidadãos liberdades, liberdades políticas,

direitos políticos e forma de garanti-los a todos.

É certo que o direito de sufrágio é o direito político por excelência.

Distingue-se de todos os outros por se projectar no conjunto da comunidade

política e por ser um exercício ao qual são chamados todos os cidadãos com

capacidade activa. Mas a soberania popular não se reconduz meramente ao

iussufragii; cada vez se dá mais importância ao instituto da participação. O

direito de sufrágio é apenas um dos momentos mas não a única forma do povo

manifestar uma vontade jurídica e politicamente eficaz. Cada vez se torna mais

importante conjugar a democracia representativa coma

democraciaparticipativa. Democracia num grau mais intenso que o voto, e

sobretudo mais frequente.

O termo ―participação‖ refere-se às formas de concurso dos cidadãos,

individual ou colectivamente organizados, na tomada de decisões, expressando

a existência ou previsibilidade de formas de expressão institucional dos seus

interesses, ultrapassando os esquemas tradicionais da democracia

representativa.

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Um dos traços característicos da organização do poder político na

Constituição reside na ampla consagração que têm as formas de democracia

participativa. Reforçar a participação cívica através de um maior

aproveitamento dos direitos políticos constitucionalmente consagrados, atribuir

aos cidadãos direitos específicos de intervenção no exercício da função

administrativa do Estado, até mesmo numa integração activa em grupos de

cidadãos eleitores de forma a que a sua interferência e peso em decisões de

órgãos de Estado vá aumentando4.

O artigo 48.º, incluído no Título II, Capítulo II dos direitos, liberdades e

garantias de participação política da Constituição da República Portuguesa,

dispõe que todos os cidadãos têm o direito de tomar parte na vida política e na direcção

dos assuntos públicos do País, directamente oupor intermédio dos seus representantes

livremente eleitos. Por sua vez o art. 109º refere que a participação directa e activa

dos cidadãos na vida política constitui condição e instrumento fundamental da

consolidação do sistema democrático, sendo tarefa fundamental do Estado

Português assegurar e incentivar a participação democrática dos cidadãos na

resolução dos problemas nacionais (art. 9º b)). O princípio da democracia

participativa está patente em toda a Constituição, nomeadamente nos artigos

54.º e 56.º relativos às comissões de trabalhadores e associações sindicais, o

artigo 77.º, participação democrática no ensino, a alínea f) do artigo 80.º e a

alínea i) do artigo 81.º, intervenção democrática dos trabalhadores, o artigo

210.º, júri e participação popular, o artigo 263.º, organização de moradores e os

artigos 267.º e 268.º referentes à participação dos cidadãos na formação das

decisões ou deliberações que lhes digam respeito.

4 Visto como um instituto essencialmente democrático, constata-se que nos regimes totalitários tende-se à sua supressão ou restrição, de maneira a excluir a participação dos cidadãos na vida pública. Por esta razão, alguns autores consideram que as acções populares são um corpo estranho àqueles regimes, sendo qualificados, quando legalmente previstos, de ―flores exóticas‖, pois a ―sua eficácia só se compreende num sistema político em que cada cidadão se preocupa pelas coisas públicas como pelos seus próprios negócios.

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O direito de acção popular, é um instrumento de participação e

intervenção democrática dos cidadãos na vida pública. É um direito político

menor, que constitui um meio ―de participação do cidadão na condução política

do Estado seja para defender interesses públicos, que devam ser prosseguidos

por entidades públicas – as denominadas pessoas colectivas de direito público,

seja para fiscalizar a legalidade da actividade ou actuação administrativa

actuação dessas pessoas colectivas e dos seus órgãos, seja para defesa das

posições dos particulares ou de defesa dos interesses das colectividades e de

educação e formação cívica de todos. É, assim, constitucionalmente consagrada

uma forma peculiar de participação dos cidadãos, individual ou colectivamente

organizados 5 na defesa e preservação de valores essenciais, por pertencerem a

uma mesma colectividade. E, ainda em articulação coma ideia da importância

da democracia participativa, a acção popular poderá desempenhar um papel

fundamental no aperfeiçoamento da mentalidade política dos cidadãos,

―incutindo-lhes um sentimento de participação activa na vida pública, não

apenas dentro de certa periodicidade eleitoral, responsabiliza os governantes

pela amplitude do reexame jurisdicional que integra‖. 6Assim, a acção popular

e correlativo direito é um instituto intrinsecamente político, que alarga o

exercício de funções públicas para além dos órgãosa quem normalmente o seu

exercício está confiado, é um instituto de democracia directa, um direito político

fundamental – incluído no elenco constitucional dos direitos, liberdades e

garantias (art. 52º CRP) -, que através da participação dos cidadãos, cada um

5 Até à revisão constitucional de 1989 o direito de acção popular, consagrado no artigo 52.º da Constituição da República Portuguesa, só podia ser exercido a título individual, por qualquer cidadão; com a nova redacção deste artigo, este direito é concedido a todos, individual ou colectivamente considerados.

6A apelidada acção popular correctiva, prevista no artigo 822º do Código Administrativo e presentemente no artigo 55º, nº 2, CPTA.

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de per si, na vida do Estado e dos diversos entes administrativos, ―tendo em

vista a realização de interesses meta-individuais‖ 7.

4. O direito de acção popular no Direito

Português

Em Portugal, assim como no resto da Europa, existia nas Ordenações a figura da

acção popular no campo do direito penal e a acção popular supletiva, destinada a

reagir contra quem se apossasse ilegitimamente de caminhos e servidões.

O Código Administrativo de 1940, na sequência de disposições análogas nos

diversos códigos administrativos, tem três disposições referentes ao direito de acção

popular, nas modalidades de acção popular supletiva e acção popular correctiva. No

primeiro caso, qualquer contribuinte pode defender no foro civil os bens e direitos da

autarquia que hajam sido ameaçados ou lesados por terceiros, quando os seus órgãos,

depois de para tal instados, não tenham dentro de certo prazo tomado as medidas

adequadas. Sendo uma forma de contencioso subjectivo, não estão em causa meros

interesses gerais à legalidade, mas interesses concretos, tendo de ser alegados os

prejuízos efectivamente sofridos, pela entidade cujo interesse se prossegue. O agente

da acção popular prossegue em seu nome, risco e interesse, o direito da autarquia,

sendo considerado seu substituto. Em derrogação dos princípios da legitimidade,

atribui-se o direito de acção judicial a entidades que não são titulares desse direito,

configurando-se uma forma de exercício privado de funções públicas. Na acção

correctiva, o sujeito passivo é o ente administrativo, visando-se a impugnação da

legalidade dos seus actos e o recurso de actos eleitorais. Em ambos os casos, está

patente a presunção de um interesse legal a prosseguir, sendo a legitimidade atribuída

em termos gerais e abstractos ou por categoria. O interesse a prosseguir é preconcebido

abstractamente pela lei, em certo número de pessoas bem diferenciadas e com

7Marques Antunes, in ―O Direito de Acção Popular no Contencioso Administrativo‖, Lex, 1997, p. 28 e ss..

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características específicas (eleitor ou contribuinte) a quem se atribui objectivamente

esse direito de acção judicial.

O contencioso tem natureza objectiva, não carecendo o autor popular de invocar o

prejuízo concreto, quer relativamente à sua esfera pessoal, quer relativamente ao

interesse da colectividade. Não quer isto dizer que da protecção do interesse público

não possa advir uma protecção reflexa de interesses privados. Hoje, está em vigor a Lei

3 de 31 de Agosto de 1995, que regula o direito de participação popular em

procedimentos administrativos e o direito de acção popular, sendo protegidos pela

citada lei a saúde pública, o ambiente, a qualidade de vida, a protecção do consumo de

bens e serviços, o património cultural e o domínio público, sendo deferida legitimidade

activa a quaisquer cidadãos em pleno gozo dos seus direitos civis e políticos, bem

como a associações e fundações defensoras desses mesmos direitos,

independentemente de terem ou não interesse directo na causa.

Diante desse quadro, é possível concluir que as acções populares, na sua actuação

milenar, continuam em pleno vigor e tendem a crescer mais ainda, na medida em que

os cidadãos se vão consciencializando do tipo de participação que podem ter numa

sociedade democrática. Com efeito, nesse tipo de sociedade, a participação da

sociedade em defesa da coisa pública é cada vez maior, já que todos os cidadãos terão o

interesse de defender o que é de uso comum.

5. Evolução Histórica

A primeira aproximação, ainda que indirecta, à protecção dos direitos dos

consumidores surge na ordem jurídica liberal com a definição como crimes de

ofensas à saúde pública e de certas práticas comerciais desonestas, nos Códigos

Penais de 1852 e 1886.

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Mais tarde, o Decreto-Lei nº 41204, de 27 de Julho de 1954, condensou a

legislação até então dispersa sobre delitos antieconómicos e contra a saúde

pública.

O Código Civil de 1966, embora sem alterações significativas, introduziu

um regime de vendas a prestações que revelava alguma preocupação com a

posição do comprador e o modelo de responsabilidade objectiva para os danos

causados por instalações de energia eléctrica ou gás.

É a Constituição da República de 1976 que, pela primeira vez, atende de

forma expressa à protecção dos direitos dos consumidores.

Publicada numa altura em que, pelo menos na Europa e nos Estados

Unidos da América, já se fazia sentir a preocupação com a situação social dos

consumidores enquanto tais e se vislumbrava a tendência de autonomizar o

ramo do Direito dos Consumidores, estabeleceu a Constituição a incumbência

prioritária do Estado de "proteger o consumidor, designadamente através do

apoio à criação de cooperativas e de associações de consumidores" (artigo 81º,

alínea m).

Aquando da sua primeira revisão, em 1982, o título VI passou a designar-se

"Comércio e Protecção do Consumidor", e no artigo 81º, alínea j), relativamente

às incumbências prioritárias do Estado no âmbito económico e social,

prescreveu-se a de proteger o consumidor.

No artigo 110º, nº 1, definiram-se vários direitos dos consumidores, em termos

de se poderem considerar direitos fundamentais de carácter económico.

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Na segunda revisão da CRP de 1976, resultante da Lei Constitucional nº

1/89, de 8 de Julho, a disciplina do direito dos consumidores também foi

objecto de alteração, em termos de alargamento do seu conteúdo.

Nos termos do artigo 81º, alínea j), da actual versão da CRP, constitui

incumbência prioritária do Estado, a protecção do consumidor, concretizada em

direitos no artigo 60º.

No nº 1 elencam-se os direitos dos consumidores em termos de defesa da

sua qualidade de vida, em relação ao que a boa qualidade dos bens e serviços, o

seu preço competitivo e equilibrado, a protecção da saúde, a segurança, a

eliminação do prejuízo e a própria formação e informação são meramente

instrumentais.

Trata-se de direitos dos cidadãos enquanto consumidores, que obrigam a

prestações do Estado e se impõem aos próprios operadores económicos

fornecedores de bens, desde a produção até à distribuição final.

Por um lado, o Estado deve conformar a actividade económica no sector da

produção e da distribuição dos bens e serviços em termos de garantia de

qualidade e de não afectação da saúde dos consumidores.

Por outro lado, os referidos agentes económicos são sujeitos da obrigação

de operarem a produção e a distribuição de bens e serviços nas referidas

condições de qualidade, sanidade e de preço, e de indemnizar os consumidores

relativamente aos danos patrimoniais e não patrimoniais que lhes causem.

A obrigação de formação e de informação dos consumidores também recai

sobre o Estado, designadamente criando as condições para o efeito, e sobre os

aludidos operadores económicos.

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O nº 3 enuncia o direito das associações de consumidores e das

cooperativas de consumo ao apoio do Estado e a serem ouvidas sobre as

questões que digam respeito à defesa dos consumidores, nos termos definidos

pela lei ordinária.

A legislação ordinária, lentamente, foi concretizando a vontade do

legislador constitucional. Assim, e de forma parcelar, foi regulamentado o

regime de vendas pelo correio, o regime de contratos promessa de venda de

prédios urbanos e a publicidade.

Em 22 de Agosto de 1981, é publicada a Lei de Defesa do Consumidor (Lei

nº 29/81) que constituiu a primeira experiência legislativa de tal amplitude na

Europa.

As normas da Lei de Defesa do Consumidor conheceram importantes

desenvolvimentos, com a definição de regimes específicos, designadamente: a

protecção dos consumidores face aos contratos pré-elaborados, a

regulamentação das vendas ao domicílio e por correspondência, a definição da

responsabilidade decorrente de produtos defeituosos, as vendas com redução

de preços, o Código da Publicidade e o regime da segurança dos produtos.

Em 1996, entrou em vigor o novo regime jurídico aplicável à defesa dos

consumidores - Lei nº 24/96, de 31 de Julho, que, entre outros aspectos

relevantes, configurou a relação de consumo também como a relação entre o

consumidor e a administração pública.

A protecção do utente dos serviços públicos essenciais, regulamentada pela

Lei nº 23/96, de 26 de Julho, constitui um marco fundamental numa sociedade

onde estes serviços são fornecidos quase sempre em regime de monopólio e em

que a tradição legislativa se consolidara há muito no sentido da consagração do

poder do concessionário.

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Por fim, veio a verificar-se, através da Lei nº 83/95, de 31 de Agosto, a tantas

vezes adiada regulamentação do direito de acção popular, destinada, também, a

prevenir, fazer cessar ou perseguir judicialmente as violações aos direitos dos

consumidores.

6. Interesses Difusos

Têm sido avançadas várias definições para a categoria dos

interessesdifusos, podendo-se dizer que será o interesse, juridicamente

reconhecido, deuma pluralidade indeterminada ou indeterminável de sujeitos,

eventualmenteunificada mais ou menos estreitamente com uma comunidade e

que tem porobjecto bens não susceptíveis de apropriação exclusiva.

A necessidade de proteger uma série de interesses plurindividuais, quenão

são protegidos pelos instrumentos clássicos, fez nascer a noção de

interessesdifusos, em áreas conexas com a atribuição de direitos económicos,

sociaise culturais, sem que com eles se confundam, nomeadamente em matérias

relacionadascom o ambiente, consumidores e património cultural.

No entendimento geral e de acordo com o consagrado

constitucionalmente,o interesse difuso é um direito subjectivo público,

porquanto confere umpoder-dever por parte do Estado. É ainda direito de

carácter positivo, poispode levar à inconstitucionalidade por omissão, mas

também negativo, traduzindo-se, neste caso, na abstenção por parte do Estado

ou de terceiros deacções atentatórias aos direitos conferidos. Estas normas, não

são meramenteprogramáticas, pois estabelecem condições materiais e

institucionais necessáriasà participação do cidadão e à sua realização pelos

poderes públicos.

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Ainda que muitos autores considerem que interesses difusos e

interessescolectivos são sinónimos, pois, assentam na ideia de interesse público,

deve serfeita, na opinião do Dr. Colaço Antunes, clara distinção entre os

conceitos.

Os interesses colectivos têm um portador, concreto e determinado, tendo

comobase uma estrutura organizativa que surge de uma relação de

interessesestabelecida para a prossecução de um fim comum, existindo uma

estruturatendencialmente unitária do colectivo, podendo assim ser considerado

um interesseprivado, de um grupo ou de uma categoria. Quanto aos interesses

difusosapresentam-se sem sujeito concreto, indeterminados, não só quanto ao

sujeitomas também quanto ao objecto, traduzindo de forma plural e

heterogénea ointeresse público. Por outro lado, e referindo-se a formas de tutela

judicial,o interesse colectivo é um interesse juridicamente tutelado, ao contrário

dointeresse difuso.

Este autor refere também que a doutrina italiana distingue entre interesses

difusos em sentido próprio e impróprio. Os direitos difusos em

sentidoimpróprio são aqueles em que não se verifica a coexistência de todos

oscaracteres do interesse difuso, porque a ordem jurídica atribui a sua

titularidadea determinado ente público ou privado, transformando-os em

interessescolectivos.

Sendo grande a ambiguidade terminológica entre interesses difusose

interesses colectivos, não se afigura ser a mesma relevante no âmbito

destetrabalho, pois não parece que fosse intenção do legislador

constituintedistingui-las conceitualmente, mas sim procurar adequada tutela

jurisdicionalà defesa dos interesses difusos e colectivos, focando-se antes a

titularidadeplurindividual do interesse.

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7. “Lei de Acção Popular"

Lei N.º 83/95 de 31-08-1995

"A Lei 83/95, de 31 de Agosto, regula o direito de participação procedimental

(popular) (art.s 4.º e ss.), o direito de acção popular (art.s 12.º e ss.). A presente lei visa

a tutela dos direitos ou interesses relativos à saúde pública, ao ambiente, à qualidade de

vida, à protecção do consumo de bens e serviços, ao património cultural e ao domínio

público."

A tantas vezes adiada regulamentação do direito de acção popular,

destinada, também, a prevenir, fazer cessar ou perseguir judicialmente as

violações aos direitos dos consumidores.

Ou seja, o direito de acção popular é um instrumento de participação e

intervenção democrática, na vida pública, exprimindo a importante ideia de

democracia participativa, que acompanha toda a organização do poder político da

nossa Constituição e advém do próprio princípio democrático, dos pilares do

Estado de Direito e das bases da democracia representativa, que permitem

atribuir aos cidadãos liberdades (políticas ou civis, todas) direitos políticos e

formas de garanti-los a todos e a lei 83/95 é a sua lei reguladora(artigos em

anexo).

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8. Conclusão

O direito de acção, ao fim e ao cabo, corresponde à máxima liberal de que

―o poder emana do Povo‖, sendo que, deste modo, a acção popular é uma

decorrência do princípio democrático. O nº 3 do artigo 52 da Constituição da

República Portuguesa vem reforçar os instrumentos de participação dos

cidadãos na vida pública, aprofundando a democracia participativa, enunciada

no artigo 2.º daConstituição da República Portuguesa. Por outro lado, se o

acesso ao direito e aos tribunais é um direito de todos – porque a acção popular

é uma verdadeira acção judicial, ganha dimensão o direito à participação de

cada um na realização da justiça.

Por outro lado, pode-se considerar a acção popular inútil, mas necessária:

inútil, dada a raridade do seu exercício (por mais generoso que seja o regime

jurídico), porque o nível educacional é baixo, porque o activismo social é

reduzido, porque as elites são débeis e preferem viver do Estado a afrontá-lo;

mas, por outro lado, a acção popular torna-se paradoxalmente necessária,

porque o Estado revela-se demasiado débil para proteger eficazmente os

interesses dos grandes grupos, sendo relativamente fácil aos lobbys mais fortes e

coesos (titulares de interesses colectivos e não de interesses difusos) manietar

ou até dirigir a sua actuação.

O problema que se coloca em Portugal e noutros países com

condicionalismos análogos – afinal, aqueles em que, mais se fala em interesses

difusos e em meios processuais de vocação altruísta - é o de saber se não será

ilusório insistir no acréscimo de atribuição de faculdades de actuação

procedimental e processual quando não existem as condições sociais e culturais

para o seu exercício eficaz, isto é, para uma tutela cabal dos interesses difusos; e

se não seria mais realista e mais eficaz concentrar urgentemente as energias na

tarefa de reforma do Estado, no sentido de uma maior democraticidade, de uma

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maior eficiência e de uma maior atenção aos interesses dos grandes grupos

sociais, em detrimento dos pequenos mas activoslobbys.

Em suma, o regime processual da Lei 83/95 está concebido em função de

um tipo específico de acção popular, ao passo que a delimitação do âmbito

material do diploma apontava para outro tipo de acção popular. Em todo o

caso, nenhum deles coincide com a acção popular clássica do contencioso

administrativo, que não tem como objectivo a tutela de quaisquer posições

jurídico-materiais, sejam elas individuais, colectivas ou difusas.

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DIREITO DE MARKETING 4 De Junho de

2009

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9. Bibliografia

Amaral, Freitas do — Manual de Direito Administrativo, vol. II., p. 157,. Almedina 2007 Andrade, Robin— A acção popular no direito administrativo Português, Coimbra, 1967. Caetano, Marcello — Manual de Direito Administrativo, vol. II, Coimbra, 9.ª ed., 1983. Canotilho, Gomes e Moreira, Vital — Direito Constitucional, Coimbra, 2008; Fundamentos da Constituição, Coimbra, 1991; Constituição da República Portuguesa anotad, 2007.

Freitas, José Lebre de – A acção popular ao serviço do direito do ambiente, pp.797 e ss., Coimbra, 1998. Miranda, Jorge — ―O quadro dos direitos políticos na Constituição‖, inEstudos sobre a Constituição, vol. I, 1977; Manual de Direito Constitucional, tomo VII, Coimbra, 2007. Sottomayor, Mariana – O Direito de Acção Popular na Constituição da República Portuguesa, in Documentação e Direito Comparado, nº 75/76. Otero, Paulo – A acção popular: configuração e valor no actual direito português, in Revista da Ordem dos Advogados, 1999.