35
ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL SEMANA 1 SELEÇÃO DAS 10 JURISPRUDÊNCIAS MAIS IMPORTANTES DO STF

ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

  • Upload
    ngoliem

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

ACOMPANHAMENTO PLENUS

MAGISTRATURAESTADUAL

SEMANA 1

SELEÇÃO DAS 10 JURISPRUDÊNCIAS MAIS

IMPORTANTES DO STF

Page 2: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

2

1. Direito constitucional:

1.1. Controle de Constitucionalidade: MP convertida em LEI.

No caso em análise, o plenário analisou pedido de ADI para declarar a inconstitu-cionalidade da Lei 8.866/94, que foi resultado da conversão da medida provisória 427/94 e 449/94.

A suprema corte foi levada a resolver se há prejudicialidade da ADI que foi proposta contra uma MP que posteriormente foi convertida em lei.

No caso em tela, o STF assinalou que: “Ainda que a ação tenha sido ajuizada, ori-ginalmente, em face de medida provisória, não cabe falar em prejudicialidade do pedido. Não há a convalidação de eventuais vícios existentes, razão pela qual permanece a possibi-lidade do exercício do juízo de constitucionalidade. Na espécie, há continuidade normativa entre o ato legislativo provisório e a lei que resulta de sua conversão”. (STF. Plenário. ADI 1055/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/12/2016)

Info 851 do STF.

1.2. Medida Provisória: Análise de Relevante Urgência.

Ainda no mesmo julgado, o STF fixou outra tese muito importante.

Em primeiro lugar, temos que os requisitos da MP podem ser extraídos do Art. 62 da CF/88, vejamos: “Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacio-nal”.

Assim, na análise desse caso concreto, o STF entendeu que tais requisitos estão na ótica da liberdade da administrativa de gestão pública e que cabe ao gestor público auferir o atendimento desses requisitos.

Dessa forma, o STF entendeu que: “No que diz respeito à análise dos requisitos de urgência e relevância da medida provisória, no caso, não cabe ao Poder Judiciário exami-nar o atendimento desses requisitos. Trata-se de situação tipicamente financeira e tributá-ria, na qual deve prevalecer, em regra, o juízo do administrador público. (STF. Plenário. ADI 1055/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/12/2016)

Info 851 do STF.

Page 3: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

3

1.3. Controle de constitucionalidade: TJ local e CF/88 como parâmetro:

Em primeiro lugar, é importante relembrar que segundo o Art. 125 §2º da CF/88, cabe aos estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em relação a Constituição Estadual.

Tal controle é de competência do Tribunal de Justiça, não cabendo a nenhum outro órgão do Poder judiciário (Nem mesmo o STF – ADI 717).

No presente julgado, o STF foi levado a questionamento se seria possível que tri-bunais de justiça realizassem controle de constitucionalidade de leis municipais utilizando como parâmetro a CF/88.

O STF, fixou o seguinte entendimento: “Tribunais de Justiça podem exercer con-trole abstrato de constitucionalidade de leis municipais utilizando como parâmetro nor-mas da Constituição Federal, desde que se trate de normas de reprodução obrigatória pelos estados. (STF. Plenário. RE 650898/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/2/2017) (repercussão geral)

Info 852 do STF.

1.4. Controle de constitucionalidade: Na ADI a causa de pedir é aberta:

Em primeiro lugar, vejamos o que Bernardo Gonçalves explica sobre a causa de pe-dir aberta: “significa que o STF não está preso à fundamentação jurídica do legitimado ativo. Ou seja, ele pode declarar a inconstitucionalidade por outros fundamentos diferenciados dos manejados na exordial. Portanto, o STF irá percorrer toda a Constituição em sua análise, e não somente as alegações do autor da ADI”. (GONÇALVES. Bernardo. Curso de Direito Constitucio-nal. Editora Juspovum. 9ª Edição. 2017. Pág. 1490).

Assim, o STF abraçou essa ideia supramencionada, fixando a seguinte tese: O Cole-giado afastou as preliminares de inconstitucionalidade formal por vício de iniciativa, de ofen-sa ao princípio da isonomia e de descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal. Adotou, contudo, o fundamento da guerra fiscal, em virtude da “causa petendi” aberta. No caso, ao ampliar benefício fiscal no âmbito do ICMS de maneira unilateral, a lei impugnada incidiu em inconstitucionalidade. (ADI 3796/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 8/3/2017)

Info 856 do STF.

Page 4: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

4

1.5. Poder legislativo: Quando a condenação do Deputado Federal ou Senador ultra-passar 120 dias em regime fechado, a perda do mandato é consequência lógica:

Em primeiro lugar, cabe relembrar a regra constitucional prevista no Art. 55, III: “Perderá o mandato o Deputado ou Senador: (...) III - que deixar de comparecer, em cada ses-são legislativa, à terça parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada”.

Com a inteligência desse Artigo, o STF entendeu que: “Quando a condenação (Do parlamentar) ultrapassar 120 dias em regime fechado, a perda do mandato é consequência lógica. Nos casos de condenação em regime inicial aberto ou semiaberto, há a possibilidade de autorização de trabalho externo, que inexiste em condenação em regime fechado”.

Assim, como o Parlamentar não poderá laborar externamente, a perda do mandato é consequência lógica!

No presente julgado, a Primeira Turma julgou procedente ação penal e condenou deputado federal à pena de 12 anos, 6 meses e 6 dias de reclusão, em regime inicial fechado, mais 374 dias-multa no valor de 3 salários mínimos. (STF. 1ª Turma. AP 694/MT, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 2/5/2017).

Info 863 do STF.

1.6. Princípio da Igualdade: Cotas Raciais em Concursos públicos:

Em primeiro lugar, cumpre salientar que a Lei 12.990/14 estabeleceu que: “Ficam reservadas aos negros 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração públi-ca federal, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas pela União, na forma desta Lei”.

O STF foi chamado por meio de ADC para deliberar sobre tal lei, fixando a seguinte tese: “É constitucional a reserva de 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública direta e indireta. ”

A suprema corte também deliberou no sentido de que além da autodeclaração, é possível que a administração pública utiliza critérios de heteroidentificação para evitar frau-des.

Page 5: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

5

Nas palavras do STF: “Quanto à autodeclaração, prevista no parágrafo único do art. 2º da Lei federal 12.990/2014, o Supremo asseverou que se devem respeitar as pessoas tal como elas se percebem. Entretanto, um controle heterônomo não é incompatível com a Constituição, observadas algumas cautelas, sobretudo quando existirem fundadas razões para acreditar que houve abuso na autodeclaração”.

Nesse caso, é preciso deixar claro que o Supremo entendeu que esses critérios de heteroidentificação devem respeitar a dignidade humana. Assim, citou como exemplos des-ses mecanismos os seguintes: “a exigência de autodeclaração presencial perante a comis-são do concurso, a apresentação de fotos e a formação de comissões com composição plu-ral para entrevista dos candidatos em momento posterior à autodeclaração”. (STF. Plenário. ADC 41/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 8/6/2017)

Info 868 do STF.

1.7. Competência Legislativa: Município possui competência para legislar sobre meio ambiente e controle de poluição quando se tratar de interesse local:

Em primeiro lugar, cumpre relembrar que Segundo o Art. 24 da CF/88: “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico”.

Em segundo lugar, o Art. 30, I da CF/88 ensina que: “Compete aos Municípios: I - le-gislar sobre assuntos de interesse local”.

O caso julgado pelo STF em questão, diz respeito a um RE que debateu a competên-cia dos municípios para legislar sobre meio ambiente e controle de poluição.

O RE foi interposto contra um acórdão de TJ que reconheceu a legitimidade de le-gislação municipal com base na qual se aplicaram multas por poluição do meio ambiente, decorrente da emissão de fumaça por veículos automotores no perímetro urbano.

O STF, entendeu pela inteligência dos dispositivos constitucionais supramenciona-dos e fixou a seguinte tese: “O Município tem competência para legislar sobre meio ambien-te e controle da poluição, quando se tratar de interesse local”. (STF. Plenário. RE 194704/MG, rel. orig. Min. Carlos Velloso, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 29/6/2017)

Info 870 do STF.

Page 6: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

6

1.8. Competência Originária do CNJ: A CF conferiu competência originária e concor-rente ao CNJ para aplicação de medidas disciplinares.

O presente julgado analisou um agravo regimental em MS em que o agravante era um magistrado estadual que praticou infração disciplinar grave.

O agravante alegou basicamente:

a) Ofensa ao princípio da subsidiariedade, dada ausência de análise prévia da su-posta falta pela Corregedoria local;

b) Invalidade das provas, as quais haviam sido obtidas durante a investigação de outras pessoas;

Os argumentos do agravante não convenceram o STF:

Em primeiro lugar, a corte enfatizou o entendimento consolidado da corte no senti-do de que a competência para aplicação de sanções disciplinares do CNJ é originária e con-corrente conferida pela própria CF/88.

Em segundo lugar o STF entendeu que a utilização de dados obtidos por desco-berta fortuita em interceptações telefônicas devidamente autorizadas funciona como prova empresta em processo administrativo disciplinar. (STF. 1ª Turma. MS 30361 AgR/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 29/8/2017)

Info 875 do STF.

1.9. Educação: O estudo religioso nas escolas públicas brasileiras pode ter natureza confessional:

O presente julgado trata-se de uma ADI proposta pelo PGR solicitando que fosse dado interpretação conforme a constituição ao art. 33, §§ 1º e 2º da LDB e ao art. 11, § 1º do acordo Brasil-Santa Sé para que o Ensino religioso confessional fosse declarado inconstitu-cional.

Mas o que é e ensino religioso confessional? É aquele que possui vinculação a uma religião específica.

Page 7: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

7

O STF entendeu que o poder público, observando a laicidade do Estado e a Consa-gração religiosa deverá atuar na regulamentação integral do cumprimento do preceito cons-titucional do Art. 210 §1º da CF/88: “O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental”.

Assim, deverá o poder público atuar de forma a fornecer, em igualdade de condi-ções, o oferecimento de ensino confessional das diversas crenças, mediante requisitos for-mais de credenciamento previamente fixados pelo ministério da educação.

Outrossim, o STF julgou a referida ADI improcedente e entendeu que o ensino reli-gioso nas escolas pode ter natureza confessional. (STF. Plenário. ADI 4439/DF, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 27/9/2017)

Info 879 do STF.

1.10. Controle de Constitucionalidade: Tese da abstrativização do controle difuso.

Em primeiro lugar, vamos analisar o que diz Bernardo Gonçalves sobre a tese da abstrativização do controle difuso: “Trata-se da chamada tese da abstrativização do controle difuso, que significa transformar (ou pelo menos aproximar) o controle difuso-concreto em controle abstrato”. (GONÇALVES. Bernardo. Curso de Direito Constitucional. Editora Juspo-vum. 9ª Edição. 2017. Pág. 1462 e 1463).

No julgado em tela, o STF passou a adotar a tese da abstrativização do controle difuso.

Assim, se o STF decidir em controle difuso, essa decisão terá os mesmos efeitos do controle concentrado, ou seja, eficácia erga omnes e vinculante. STF. Plenário. ADI 3406/RJ e ADI 3470/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 29/11/2017

Info 886 do STF.

Page 8: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

8

2. Direito administrativo:

2.1. Greve: Impossibilidade de greve para policiais civis:

Em primeiro lugar, cumpre salientar que a CF/88 traz expressamente a vedação da greve para os militares. Vejamos o Art. 142 §3º, IV da CF/88:

Art. 142 (...)§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, apli-cando-se-lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições: (...)IV - ao militar são proibidas a sindicalização e a greve.

Com isso discutia-se a possibilidade de policial civil ter direito a greve. O STF enten-deu que: “a interpretação teleológica dos arts. 9º, 37, VII, e 144 da Constituição Federal (CF) veda a possibilidade do exercício de greve a todas as carreiras policiais previstas no citado art. 144”.

Portanto, prevaleceu no STF que: “O exercício do direito de greve, sob qualquer forma ou modalidade, é vedado aos policiais civis e a todos os servidores públicos que atuem diretamente na área de segurança pública”. (STF. Plenário. ARE 654432/GO, Rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 5/4/2017) (repercussão geral)

Info 860 do STF.

2.2. Contratos administrativos: Responsabilidade Poder Público:

O seguinte julgado discutia a responsabilidade subsidiária da Administração Públi-ca por encargos trabalhistas gerados pelo inadimplemento de empresa prestadora de serviço.

O TST, analisando o caso, entendeu no caso que existia responsabilidade subsidiá-ria da administração tomadora dos serviços. Isso ocorreu em razão da existência de culpa “in vigilando” do órgão público, caracterizada pela falta de acompanhamento e fiscalização da execução de contrato de prestação de serviços, em conformidade com a nova redação dos itens IV e V do Enunciado 331 da Súmula do TST.

Acontece que, em que pese o enunciado da súmula do TST, em 1995 surgiu a lei 9.032/1995 que deu a seguinte redação ao Art. 71 da lei 8.666/93:

Art. 71 (...) § 1º A inadimplência do contratado, com referência aos encargos traba-lhistas, fiscais e comerciais não transfere à Administração Pública a responsabilidade por seu pagamento, nem poderá onerar o objeto do contrato ou restringir a regularização e o uso das obras e edificações, inclusive perante o Registro de Imóveis. (Redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995).

Page 9: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

9

O STF, por sua vez, entendeu que: “com o advento da Lei 9.032/1995, o legislador buscou excluir a responsabilidade subsidiária da Administração”.

Anotou o STF que:” a imputação da culpa “in vigilando” ou “in elegendo” à Admi-nistração Pública, por suposta deficiência na fiscalização da fiel observância das normas trabalhistas pela empresa contratada, somente pode acontecer nos casos em que se tenha a EFETIVA COMPROVAÇÃO da ausência de fiscalização”.

Fixou, portanto, a seguinte tese: “O inadimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados do contratado não transfere automaticamente ao Poder Público contra-tante a responsabilidade pelo seu pagamento, seja em caráter solidário ou subsidiário, nos termos do art. 71, § 1º, da Lei 8.666/1993”. (STF. Plenário. RE 760931/DF, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ác. Min. Luiz Fux, julgado em 26/4/2017) (repercussão geral)

Info 862 do STF.

2.3. Bens Públicos: EC 46/2005 e propriedade da União:

Em primeiro lugar, cumpre mencionar que a EC 46 Alterou o inciso IV do art. 20 da Constituição Federal para a seguinte redação:

“Art. 20 (...) IV - as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II”.

Assim, o presente RE discutia a situação dominial dos terrenos de marinha e seus acrescidos localizados em ilha costeira com sede de Município — no caso, Vitória/ES — após a promulgação da Emenda Constitucional (EC) 46/2005.

O Colegiado do STF entendeu que os terrenos de marinha e seus acrescidos situa-dos na ilha costeira em que é sediado o Município de Vitória constituem bens federais.

Para o STF: “A Emenda Constitucional (EC) 46/2005 não interferiu na proprieda-de da União, nos moldes do art. 20, VII, da Constituição Federal (CF), sobre os terrenos de marinha e seus acrescidos situados em ilhas costeiras sede de Municípios”. STF. Plenário. RE 636199/ES, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 27/4/2017 (repercussão geral)

Info 862 do STF.

Page 10: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

10

2.4. Servidores Públicos: Acumulo de cargos e teto constitucional:

Em primeiro lugar, é importante relembrar que é vedada a acumulação cargos, ex-ceto nos casos previstos na CF/88, vejamos:

Art. 37 XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quan-do houver compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI:

a) a de dois cargos de professor;b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico;c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profis-

sões regulamentadas;

O Supremo foi levado a interpretar a parte do artigo constitucional que diz: “Obser-vado em qualquer caso o disposto no inciso XI”.

Isso por que, o Inciso XI diz respeito ao teto constitucional.

Assim, a corte suprema fixou o seguinte entendimento: “Nos casos autorizados constitucionalmente de acumulação de cargos, empregos e funções, a incidência do art. 37, XI (1), da Constituição Federal (CF) pressupõe consideração de cada um dos vínculos formalizados, afastada a observância do teto remuneratório quanto ao somatório dos gan-hos do agente público”. (STF. Plenário. RE 612975/MT e RE 602043/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgados em 26 e 27/4/2017 (repercussão o geral)

Ou seja, o STF entendeu que as remunerações devem respeitar o teto isoladamen-te. Portanto, se o indivíduo ocupa dois cargos constitucionalmente autorizados, o somatório dos ganhos poderá ultrapassar o teto constitucional, desde que isoladamente não ultrapas-sem.

Info 862 do STF.

2.5. Servidores Públicos: Nomeação Tardia:

No presente RE, o STF discutiu o direito à promoção funcional retroativa de candi-dato nomeado por ato judicial com determinação de efeitos retroativos.

O STF entendeu que: “ a promoção ou a progressão funcional – a depender do ca-ráter da movimentação, se vertical ou horizontal – não se resolve apenas mediante o cum-primento do requisito temporal. Pressupõe a aprovação em estágio probatório e a confir-mação no cargo, bem como o preenchimento de outras condições indicadas na legislação ordinária”.

Page 11: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

11

Assim, fixou o seguinte entendimento: “A nomeação tardia de candidatos aprova-dos em concurso público, por meio de ato judicial, à qual atribuída eficácia retroativa, não gera direito às promoções ou progressões funcionais que alcançariam houvesse ocorrido, a tempo e modo, a nomeação”. STF. Plenário. RE 629392 RG/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 8/6/2017 (repercussão geral)

Info 868 do STF.

2.6. Servidores Públicos: Servidores Temporários:

Em primeiro lugar, cumpre salientar que o Art. 9, III da lei 8.745/1993 veda a contra-tação de professor substituto com contrato ainda vigente ou finalizado há menos de dois anos na mesma modalidade.

Em análise, o STF entendeu que a referida norma é constitucional e funciona para evitar um inegável risco: “O servidor admitido sob regime temporário pode, ainda que por meio de um novo processo seletivo, ser mantido em função temporária, transformando-se em ordinário o que é, por sua natureza, extraordinário e transitório”.

Assim, o STF fixou o seguinte entendimento: “É compatível com a Constituição Federal a previsão legal que exija o transcurso de 24 (vinte e quatro) meses, contados do término do contrato, antes de nova admissão de professor temporário anteriormente contratado”. STF. Plenário. RE 635648/CE, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 14/6/2017 (repercussão geral)

Info 869 do STF.

2.7. Greve no serviço público: Competência:

“A justiça comum, federal ou estadual, é competente para julgar a abusividade de greve de servidores públicos celetistas da Administração pública direta, autarquias e fundações públicas”. STF. Plenário. RE 846854/SP, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 1º/8/2017 (repercussão geral)

Info 871 do STF.

Page 12: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

12

2.8. Bens Públicos: Terras ocupadas por índios:

Tratam-se de Ações Cíveis Ordinárias nas quais o Estado de Mato Grosso solicitava indenização por desapropriação indireta de terras devolutas a ele pertencentes, sob a ale-gação de que as terras teriam sido incluídas no perímetro de áreas indígenas sem a obediên-cia ao procedimento expropriatório devido.

O STF afirmou que a Constituição Federal de 1988 (CF/1988): “estabeleceu que as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios são bens da União” e julgou improceden-te as ações. STF. Plenário. ACO 362/MT e ACO 366/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgados em 16/8/2017

Info 873 do STF.

2.9. Concurso Público: É inconstitucional a contratação, sem concurso público, após a instauração da Assembleia constituinte, de advogados para exercerem a função de defensor público estadual:

A Lei Complementar 55/1994, do Estado do Espírito Santo, permitiu a incorporação de advogados admitidos sem a realização de concurso público à defensoria, foi declarada inconstitucional pela Suprema Corte no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 1199/ES (DJU de 19.4.2006), ressaltados os efeitos “ex tunc” da decisão.

A tese fixada pelo STF foi a seguinte: “os princípios da segurança jurídica e da pro-teção da confiança legítima não podem justificar a manutenção no cargo de candidato ad-mitido sem concurso público. O Colegiado ressaltou, ainda, a inaplicabilidade do disposto no art. 22 (1) do Ato de Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) ao caso em questão, visto que a contratação dos advogados se deu após a instalação da constituinte”. STF. 1ª Turma. RE 856550/ES, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julga-do em 10/10/2017

Info 881 do STF.

2.10. Concessão de Serviço Público: A concessionária não possui direito adquirido à renovação do contrato de concessão:

No presente julgado, a segunda turma do STF analisou um Mandado de Segurança contra ato do Ministro de Estado de Minas e Energia que indeferiu pedido de prorrogação de contrato de concessão de serviço de geração de energia elétrica. A concessionária sustenta possuir direito líquido e certo a renovação.

Page 13: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

13

Relembrando, Matheus Carvalho explica concessão de serviço público: “Não se trata de transferência da titularidade do serviço, haja vista a impossibilidade de outorga de atividades públicas a particulares. Em verdade, a concessão enseja somente a delegação da atividade, ou seja, a descentralização por colaboração, na qual o ente delegado terá somente o poder de executar o serviço, sem obter sua titularidade”. (CARVALHO, Matheus. Manual de Direito administrativo. 4º Edição. 2017. Editora Juspodivm. Pág. 651).

Acontece que no julgado em tela, o STF foi levado a decidir sobre o direito a prorro-gação de contrato de uma concessionária de energia elétrica.

O Art. 19 da lei 9.074/1995 informa que:  “Art. 19. A União poderá, visando garantir a qualidade do atendimento aos consumidores a custos adequados, prorrogar, pelo prazo de até vinte anos, as concessões de geração de energia elétrica, alcançadas pelo art. 42 da Lei no 8.987, de 1995, desde que requerida a prorrogação, pelo concessionário, permissionário ou titular de manifesto ou de declaração de usina termelétrica, observado o disposto no art. 25 desta Lei”.

Assim, o STF entendeu que: “A simples remissão ao mencionado art. 19 seria sufi-ciente para esvaziar o argumento. Não bastasse, a primeira subcláusula da avença remete à expressão permissiva “poderá ser prorrogado”. No ponto, entendeu inexistir ato jurídico per-feito a assegurar o que requerido”.

A corte entendeu que a concessionária não tem direito adquirido à renovação do contrato de concessão de usina hidrelétrica.

É do poder público a faculdade de prorrogar ou não o contrato administrativo de concessão de serviço público, ponderando estratégias do próprio gestor, não podendo a concessionária invocar direito líquido e certo a tal prorrogação. Dessa forma, a prorrogação do contrato administrativo insere-se no campo da discricionariedade. STF. 2ª Turma. RMS 34203/DF e AC 3980/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgados em 21/11/2017

Info 885 do STF.

Page 14: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

14

3. Direito penal:

3.1. Latrocínio: Agente que participou do roubo pode responder por latrocínio ainda que o disparo que matou a vítima tenha sido efetuado pelo corréu:

O presente julgado diz respeito a réu que foi condenado a 42 anos de reclusão pela prática das condutas previstas nos arts. 148 (sequestro e cárcere privado); 157, § 3º, segunda parte (latrocínio), por duas vezes; e 211 (ocultação de cadáver) do Código Penal (CP). Reco-nheceu-se, ainda, o concurso formal impróprio com relação aos crimes de latrocínio, conside-rada a existência de duas vítimas fatais.

A defesa interpôs HC pelo fato de entender não existir prova de que o recorrente tenha concorrido para a morte das vítimas, e por entender a participação como de menor importância.

Se o agente não participa diretamente da morte, apenas quis o roubo, mas seu comparsa atira e mata a vítima, ele deve responder pela participação de menor importância (roubo) ou pelo resultado (Latrocínio)?

O STF entendeu que: “Aquele que se associa a comparsa para a prática de roubo, sobrevindo a morte da vítima, responde pelo crime de latrocínio, ainda que não tenha sido o autor do disparo fatal ou que sua participação se revele de menor importância”.

O STF entendeu que o agente teria assumido o risco de produzir resultado mais grave, ciente de que atuava em crime de roubo, no qual as vítimas foram mantidas em cár-cere sob a mira de arma de fogo. STF. 1ª Turma. RHC 133575/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, jul-gado em 21/2/2017

Info 855 do STF.

3.2. Latrocínio: Atingido único patrimônio, mas houve pluralidade de mortes:

No crime de latrocínio, havendo duas vítimas e subtração de um único patrimônio, tem-se dois crimes em concurso formal ou um único crime de latrocínio?

No tocante ao reconhecimento de crime único, a turma ponderou ser o latrocínio delito complexo, cuja unidade não se altera em razão da existência de mais de uma vítima fatal. Acrescentou, por fim, que a pluralidade de vítimas é insuficiente para configurar o concurso de crimes, uma vez que, na espécie, o crime fim arquitetado foi o de roubo (cp, art. 157, § 3º), e não o de duplo latrocínio. STJ. 5ª Turma. HC 336.680/PR, Rel. Min. Jorge Mus-si, julgado em 17/11/2015. STF. 1ª Turma. RHC 133575/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 21/2/2017

Page 15: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

15

Info 855 do STF.

3.3. Lei de Drogas: Venda de droga nas imediações de um presídio e aplicação da causa de aumento do Art. 40, III da lei 11.343/06:

O presente caso, cuida-se de um HC que pretendia afastar a causa de aumento do Art. 40, III da Lei de drogas em tráfico realizado nas imediações do Estabelecimento prisional.

O artigo e inciso supramencionados possuem a seguinte redação: “Art. 40. As penas previstas nos Arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto

a dois terços, se: (...) III – a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tra-tamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos”.

A defesa insurgia-se contra o fato de não ter sido demonstrado que o paciente co-mercializava qualquer tipo de entorpecente com frequentadores do estabelecimento prisio-nal e, portanto, não deveria ter sido aplicada a causa de aumento. O STF acolheu a tese da Defesa? NÃO.

O STF fixou a seguinte tese: “A aplicação da referida causa de aumento se justi-fica quando constatada a comercialização de drogas nas imediações de estabelecimentos prisionais, sendo irrelevante se o agente infrator visa ou não aos frequentadores daquele local”. STF. 2ª Turma. HC 138944/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 21/3/2017

Info 858 do STF.

3.4. Confisco de Bens: O confisco de bens apreendidos em decorrência do tráfico pode ocorrer ainda que o bem não fosse utilizado de forma habitual e mesmo que ele não te-nha sido alterado:

O STF deu provimento ao recurso extraordinário interposto contra acórdão que de-terminou a devolução de veículo de propriedade de acusado pela prática do crime de tráfico de entorpecentes, sob o fundamento de que a perda do bem pelo confisco deve ser reservada aos casos de utilização do objeto de forma efetiva, e não eventual, para a prática do citado delito.

Page 16: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

16

Para o supremo, o confisco previsto no art. 243, parágrafo único, da CF deve ser interpretado à luz dos princípios da unidade e da supremacia da Constituição, ou seja, não se pode ler o direito de propriedade em separado, sem considerar a restrição feita a esse direito. Concluiu que a habitualidade do uso do bem na prática criminosa ou sua adulteração para dificultar a descoberta do local de acondicionamento, “in casu”, da droga, não é pressupos-to para o confisco de bens nos termos do citado dispositivo constitucional.

É possível o confisco de todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico de drogas, sem a necessidade de se perquirir a habitualidade, reiteração do uso do bem para tal finalidade, a sua modificação para dificultar a descoberta do local do acondicionamento da droga ou qualquer outro requisito além daqueles previstos expressamente no art. 243, parágrafo único, da Constituição Federal. STF. Plenário. RE 638491/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/5/2017 (repercussão geral)

Info 865 do STF.

3.5. Crimes contra a dignidade sexual: Bisavô é considerado ascendente para os fins da causa de aumento do art. 226, II, do CP:

No presente HC, o STF discutiu o alcance da palavra ascendente previsto no Inciso II do Art. 226 do Código Penal para saber se é possível a majoração da reprimenda fixada a bisavô condenado pelo delito de atentado violento ao pudor praticado contra sua bisneta (Anterior à lei 12.015/2009).

Vejamos: “Art. 226. A pena é aumentada:  “(...)II – de metade, se o agente é ascen-dente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela”.  

O Colegiado asseverou que, na relação de parentesco com a bisneta, o bisavô está no terceiro grau da linha reta, nos termos previstos no Código Civil, e não há, no ordenamento jurídico, nenhuma regra de limitação quanto ao número de gerações. Nesse contexto, pon-tuou ser juridicamente possível a majoração da pena privativa de liberdade imposta ao re-corrente, bisavô da vítima, em razão da incidência da causa de aumento prevista no inci-so II do art. 226 do Código Penal, considerada a figura do ascendente. STF. 2ª Turma. RHC 138717/PR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 23/5/2017

Info 866 do STF.

Page 17: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

17

3.6. Falsidade Ideológica: Necessidade de prova de que o Prefeito que assinou docu-mentos do Município tinha ciência inequívoca de que a declaração era falsa:

No caso em tela, o prefeito elaborou e assinou ao Ministério da Previdência So-cial (MPAS) comprovantes de repasse e recolhimento ao regime Próprio de previdência Social contendo informações falsas. Os documentos atestavam o recolhimento integral da parcela patronal referente a alguns meses, quando, na verdade, teria havido recolhimento a menor das respectivas contribuições sociais.

O STF entendeu que, no caso em tela, não foi possível constatar o elemento subje-tivo do tipo (dolo) e concluiu que o fato praticado não constitui infração penal.

O STF fixou o seguinte posicionamento: “Considerou que a materialidade e a prá-tica da conduta estão comprovadas pela assinatura do denunciado em documentos com in-formações falsas. No entanto, as provas produzidas não evidenciam que ele tivesse ciência inequívoca do conteúdo inverídico dos documentos que havia assinado na condição de prefeito, tampouco que o tenha feito com o objetivo de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade de fato juridicamente relevante. STF. 1ª Turma. AP 931/AL, Rel. Min. Ro-berto Barroso, julgado em 6/6/2017

Info 868 do STF.

3.7. Concurso de Pessoas: Domínio do Fato: O superior hierárquico não pode ser pu-nido com base na teoria do domínio do fato se não tiver sido demonstrado o dolo:

Em primeiro lugar, cabe relembrar o que é a teoria do Domínio do fato. Nas pala-vras de Cléber Masson: “ Criada em 1939 por Hans Welzel com o propósito de ocupar posição intermediária entre as teorias objetivas e subjetiva. Para essa teoria, o autor é quem possui controle sobre o domínio final do fato, domina finalisticamente o trâmite do crime e decide acerca da sua prática, suspensão, interrupção e condições. De fato, autor é aquele tem que tem a capacidade de fazer continuar e de impedir a conduta penalmente ilícita”. (MASSON, Clé-ber. Direito Penal Esquematizado – Parte Geral. Volume 1. 11ª Edição. Editora Método. 2017. Pág. 573).

No caso em tela, o apelante, deputado federal e ex-governador, foi condenado por peculato-desvio, por supostas irregularidades verificadas durante a fase licitatória e de exe-cução de obras para drenagem de águas pluviais na construção e ampliação de quatro gran-des lagoas para deságue final que objetivava pôr termo a enchentes.

A sentença condenou o réu por participação nos atos de gestão praticados por se-cretário por conta da teoria do domínio do fato.

Page 18: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

18

Porém, o STF, ao julgar a presente apelação, fixou o seguinte entendimento: “A teo-ria do domínio do fato não preceitua que a mera posição de um agente na escala hierár-quica sirva para demonstrar ou reforçar o dolo da conduta. Do mesmo modo também não permite a condenação de um agente com base em conjecturas”. STF. 2ª Turma. AP 975/AL, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 3/10/2017

Info 880 do STF.

3.8. Crimes contra a ordem tributária: Causa de aumento do art. 12, I, da Lei nº 8.137/90:

Em primeiro lugar, cumpre salientar que existe uma causa de aumento de pena previsto no Art. 12, I da Lei 8.137/90 nos seguintes termos:

Art. 12. São circunstâncias que podem agravar de 1/3 (um terço) até a metade as penas previstas nos arts. 1°, 2° e 4° a 7°: I - ocasionar grave dano à coletividade.

Acontece que, por outro lado, a jurisprudência sempre entendeu que se configu-ra a referida causa de aumento quando o agente deixa de recolher aos cofres públicos vul-tuosa quantia. Fazendo uma interpretação sistemática, a defesa utilizou da Portaria 320 da PGFN que prevê que os contribuintes que estão devendo mais de 10 milhões são considera-dos “grandes devedores” para justificar a incidência da causa de aumento do Art. 12, I da lei 8.137/90.

Assim, para a defesa, só poderia ser considerado grave dano à coletividade dívidas superiores a 10 milhões de reais. A tese da defesa foi acolhida?

NÃO! O STF fixou o seguinte entendimento: “A vultosa quantia sonegada — cerca de 4 milhões de reais — é elemento suficiente para caracterização do grave dano à coleti-vidade, constante no inciso I do art. 12, da lei 8.137/1990 (1). Em síntese, o Colegiado as-sentou que os fatos foram suficientemente elucidados na exordial acusatória, sendo que o juiz, não se desbordando dos lindes da razoabilidade e da proporcionalidade, pode aplicar essa agravante”.STF. 2ª Turma. HC 129284/PE, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 17/10/2017

Info 882 do STF.

Page 19: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

19

3.9. Atividade Clandestina De Telecomunicações (Lei 9.472/97): Transmitir sinal de internet como provedor sem autorização da ANATEL configura o crime do art. 183 da Lei nº 9.472/97?

No caso em tela, foi imputada ao paciente a prática da infração descrita no arti-go 183 da Lei 9.472/1997, em virtude de haver transmitido, clandestinamente, sinal de inter-net por meio de radiofrequência.

Lei 9.472/1997: “Art. 183. Desenvolver clandestinamente atividades de telecomu-nicação: Pena - detenção de dois a quatro anos, aumentada da metade se houver dano a ter-ceiro, e multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais).”

A defesa sustentou a atipicidade formal e material da conduta. Asseverou que o oferecimento de serviços de internet não pode ser entendido como atividade de telecomuni-cação. Aduziu, também, ser ínfima a lesão ao bem jurídico tutelado.

A tese defensiva foi aceita pelo STF? SIM. “A oferta de serviço de internet, conce-bido como serviço de valor adicionado, não pode ser considerada atividade clandestina de telecomunicações”. STF. 1ª Turma. HC 127978, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 24/10/2017.

Observação importante: Para o STJ, A transmissão clandestina de sinal de internet, via radiofrequência, sem autorização da ANATEL, caracteriza, em tese, o delito previsto no art. 183 da Lei nº 9.472/97. (STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1077499/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 26/09/2017).

Portanto, nesse ponto, os tribunais superiores divergem.

Info 883 do STF.

3.10. Crime Político: Para a configuração do crime político exige-se o preenchimento de requisitos objetivo e subjetivo:

A denúncia imputou ao réu a prática de atos preparatórios do crime de sabotagem em virtude de invasão de hidrelétrica, conforme disposto no art. 15, § 2º, da Lei 7.170/1983 (Lei de Segurança Nacional), vejamos:

Lei 7.170/1983: “Art. 15 - Praticar sabotagem contra instalações militares, meios de comunicações, meios e vias de transporte, estaleiros, portos, aeroportos, fábricas, usinas, barragem, depósitos e outras instalações congêneres. (...) § 2º - Punem-se os atos prepara-tórios de sabotagem com a pena deste artigo reduzida de dois terços, se o fato não constitui crime mais grave”.

Page 20: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

20

Segundo o STF: “Da conjugação dos arts. 1º e 2º da Lei nº 7.170/83, extraem-se dois requisitos, de ordem subjetiva e objetiva:

I) Motivação e objetivos políticos do agente, e

II) Lesão real ou potencial à integridade territorial, à soberania nacional, ao regime representativo e democrático, à Federação ou ao Estado de Direito. Precedentes” (RC 1472, Tribunal Pleno, Rel. Min. Dias Toffoli, Rev. Ministro Luiz Fux, unânime, j. 25/05/2016)”.

Assim, no caso em tela, A Turma entendeu não se tratar de crime político. Negou provimento ao recurso e julgou extinta a ação penal, concluindo pela impropriedade do meio utilizado e pela configuração de crime impossível. STF. 1ª Turma. RC 1473/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2017

Info 885 do STF.

4. Direito processual penal:

4.1. Habeas Corpus: Possibilidade de decisão do HC de forma monocrática pelo Mi-nistro Relator:

No presente julgado, o STF entendeu que: “incumbe não ao relator no âmbito do STJ, mas a este último, como colegiado, julgar o “habeas corpus”. STF. 1ª Turma. HC 137265 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 07/03/2017; STF. 1ª Turma. HC 120496/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/3/2017

Info 857 do STF.

4.2. Execução Penal: Remição de Pena: Trabalho cumprido em jornada inferior ao mínimo legal pode ser aproveitado para fins de remição caso tenha sido uma determinação da direção do presídio:

Em primeiro lugar, cumpre salientar que o Art. 33 da LEP tem a seguinte determi-nação:

“Art. 33. A jornada normal de trabalho não será inferior a 6 (seis) nem superior a 8 (oito) horas, com descanso nos domingos e feriados”.

Mas e se o preso trabalhar por um período inferior ao mínimo legal por determina-ção da própria administração do presídio, ele irá perder os dias remidos?

Page 21: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

21

NÃO.

O STF asseverou que o condenado não poderia ser apenado por um limite de horas imposto pelo próprio estabelecimento penitenciário na execução de sua pena.

O STF fixou o seguinte posicionamento: “obrigatoriedade do cômputo de tempo de trabalho deve ser aplicada às hipóteses em que o sentenciado, por determinação da ad-ministração, cumpra jornada inferior ao mínimo de seis horas, ou seja, em que a jornada de trabalho não derive de ato voluntário nem de indisciplina ou insubmissão do preso”. STF. 2ª Turma. RHC 136509/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 4/4/2017

Portanto, se o ato não foi indisciplina do apenado e sim uma determinação do es-tabelecimento prisional, deve ser assegurado o direito de remir.

Info 860 do STF.

4.3. Prisão Preventiva: Descumprimento de colaboração premiada não justifica, por si só, prisão preventiva:

Page 22: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

22

Segundo Renato Brasileiro, Colaboração premiada pode ser conceituada como:

“Uma técnica especial de investigação por meio da qual o coautor e/ou partícipe da infração penal, além de confessar seu envolvimento no Jato delituoso, fornece aos órgãos responsáveis pela persecução penal informações objetivamente eficazes para a consecução de um dos objetivos previstos em lei, recebendo, em contrapartida, determinado prêmio le-gal”. (LIMA, Renato Brasileiro. Legislação Criminal Especial Comentada. 3ª Edição. Editora Juspodivm. 2015. Pág. 524).

O descumprimento de Colaboração premiada pode justificar a prisão preventiva?

O Colegiado entendeu: “não haver relação direta entre a prisão preventiva e o acordo de colaboração premiada. Por essa razão, o descumprimento do acordado não justi-fica a decretação de nova custódia cautelar. Tampouco há previsão de que, em decorrência do descumprimento do acordo, seja restabelecida prisão preventiva anteriormente revoga-da. Portanto, a celebração de acordo de colaboração premiada não é, por si só, motivo para revogação de prisão preventiva. A Turma concluiu no sentido de ser necessário verificar, no caso concreto, a presença dos requisitos da prisão preventiva, não podendo o decreto prisional ter como fundamento apenas a quebra do acordo”. STF. 1ª Turma. HC 138207/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 25/4/2017

Portanto, o simples descumprimento de colaboração premiada não pode justificar a prisão preventiva, precisa estar presente os requisitos autorizadores da cautelar prisional.

Info 862 do STF.

4.4. Prisão: Advogado condenado em 2ª instância ainda tem direito à prisão em sala de Estado-maior?

Em primeiro lugar é mister salientar que o Estatuto da Ordem dos advogados do Brasil traz como direito do advogado a prisão em Estado-Maior, vejamos:

Art. 7º São direitos do advogado: (...) V - não ser recolhido preso, antes de sentença transitada em julgado, senão em sala de Estado Maior, com instalações e comodidades con-dignas, assim reconhecidas pela OAB, e, na sua falta, em prisão domiciliar (Vide Adin 1.127-8).

A pergunta é clara! Tal prerrogativa continua existindo após o entendimento do STF da execução provisória da pena?

Page 23: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

23

No presente julgado, o STF não se posicionou sobre o tema. No entanto, a Corte: “reputou ausente a estrita aderência do objeto do ato reclamado ao conteúdo da ação direta paradigma e concluiu pela impropriedade da reclamação constitucional”. (STF. 2ª Turma. Rcl 25111 AgR/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/5/2017).

Assim, entendeu o STF que não cabe reclamação para que o STF enfrente o tema pelo paradigma da ADIN 1.127-8, uma vez que em tal contexto a corte não tangenciou o tema.

Info 865 do STF.

4.5. Julgamento por amostragem do Resp e Re: A suspensão dos processos em virtu-de de reconhecimento de repercussão geral (§ 5º do art. 1.035 do CPC) pode ser aplicada para processos criminais:

Em primeiro lugar, cumpre colacionar o Art. 1035 § 5º do CPC/15:

§ 5º Reconhecida a repercussão geral, o relator no Supremo Tribunal Federal de-terminará a suspensão do processamento de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no território nacional.

Daniel Amorim Explica o que seria Repercussão Geral:

“Ainda que a repercussão geral seja prevista por meio de um conceito jurídico inde-terminado, cabendo ao Supremo Tribunal Federal traçar seus contornos, a doutrina entende que a transcendência pode ser qualitativa, referindo-se à importância para a sistematização e desenvolvimento do Direito, ou quantitativa, referindo-se ao número de pessoas atingidas pela decisão. No art. 322, parágrafo único, do RISTF, aparentemente os requisitos são cumu-lativos, devendo a questão ser relevante do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico e ultrapassar os interesses subjetivos das partes”. (NEVES, Daniel Amorim Assump-ção. Novo Código de Processo Civil Comentado. Editora Juspodivum. Edição 2016. Pág. 1755).

É possível a aplicação da suspensão supramencionada aos processos penais? SIM!

O STF fixou as seguintes conclusões a respeito desse dispositivo:

a) a suspensão prevista nesse § 5º não é uma consequência automática e neces-sária do reconhecimento da repercussão geral. Em outras palavras, ela não acontece sem-pre. O Ministro Relator do recurso extraordinário paradigma tem discricionariedade para determiná-la ou modulá-la;

Page 24: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

24

b) a possibilidade de sobrestamento se aplica aos processos de natureza penal.

c) se for determinado o sobrestamento de processos de natureza penal, haverá, automaticamente, a suspensão da prescrição da pretensão punitiva relativa aos crimes que forem objeto das ações penais sobrestadas. Isso com base em uma interpretação conforme a Constituição do art. 116, I, do Código Penal;

d) em nenhuma hipótese, o sobrestamento de processos penais determinado com fundamento no art. 1.035, § 5º, do CPC abrangerá inquéritos policiais ou procedimen-tos investigatórios conduzidos pelo Ministério Público;

e) em nenhuma hipótese, o sobrestamento de processos penais determinado com fundamento no art. 1.035, § 5º, do CPC abrangerá ações penais em que haja réu preso provisoriamente;

f) em qualquer caso de sobrestamento de ação penal determinado com funda-mento no art. 1.035, § 5º, do CPC, poderá o juízo de piso, no curso da suspensão, proce-der, conforme a necessidade, à produção de provas de natureza urgente. STF. Plenário. RE 966.177 RG/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 7/6/2017

Info 868 do STF.

4.6. Colaboração premiada: Homologação do Acordo:

No presente processo, o STF resolveu questão de ordem e negou provimento a agravo regimental em petição em que discutiam os limites de atuação do relator em homolo-gação de colaboração premiada.

Segundo Renato Brasileiro, Colaboração premiada pode ser conceituada como:

“Uma técnica especial de investigação por meio da qual o coautor e/ou partícipe da infração penal, além de confessar seu envolvimento no Jato delituoso, fornece aos órgãos responsáveis pela persecução penal informações objetivamente eficazes para a consecução de um dos objetivos previstos em lei, recebendo, em contrapartida, determinado prêmio le-gal”. (LIMA, Renato Brasileiro. Legislação Criminal Especial Comentada. 3ª Edição. Editora Juspodivm. 2015. Pág. 524).

O Destaque desse julgado foi: os limites da atuação jurisdicional no instituto da Colaboração Premiada e seus reflexos na persecutio criminis.

Page 25: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

25

Em primeiro lugar, o Supremo reafirmou a atribuição do relator para monocrati-camente homologar acordos de colaboração premiada, oportunidade na qual se limita a juízo de regularidade, legalidade e voluntariedade da avença. Reafirmou, também, a com-petência colegiada do STF para avaliar, em decisão final de mérito, o cumprimento dos ter-mos bem como a eficácia do acordo.

Assim, a Corte asseverou haver dois pontos em discussão:

•O poder do relator à luz do RISTF para a homologação do acordo de colaboração premiada, tanto no que concerne ao alcance quanto no que se refere aos limites dos atos; e

•O momento de aferição do cumprimento dos termos do acordo e sua eficácia.

Diante disso, fixou dois nortes:

a) Nos moldes do que foi decidido no HC 127.483/PR , a fim de reafirmar a atribui-ção do relator como corolário dos poderes instrutórios para ordenar a realização de meios de obtenção de provas, nos termos que lhe são conferidos pelos incisos I e II do art. 21 do RISTF, e, por conseguinte, homologar monocraticamente acordos de colaboração premiada — oportunidade em que se limita ao juízo de regularidade, legalidade e voluntariedade da avença, nos limites do art. 4º, § 7º, da Lei 12.850/2013; e

b) o juízo sobre o cumprimento dos termos do acordo de colaboração e sua eficá-cia, conforme preceitua o art. 4º, § 11, da Lei 12.850/2013.

Destacou, ainda, que atualmente não há mais controvérsia acerca da natureza ju-rídica do instituto, considerado, em termos gerais: um negócio jurídico processual firmado entre o Ministério Público e o colaborador. Trata-se, portanto, de meio de obtenção de pro-va cuja iniciativa não se submete à reserva de jurisdição, diferentemente do que ocorre, por exemplo, com a quebra do sigilo bancário ou fiscal e com a interceptação de comunicações telefônicas.

Assim, o Poder Judiciário é convocado ao final dos atos negociais apenas para afe-rir os requisitos legais de existência e validade, com a indispensável homologação.

Salientou, por fim, que o direito subjetivo do colaborador nasce e se perfectibiliza na exata medida em que ele cumpre seus deveres. Estes são “condictio sine qua non” paraque o colaborador possa fruir desses direitos. Nesse contexto, o acordo homologado como regular, voluntário e legal gera vinculação, condicionada ao cumprimento dos deveres as-sumidos pela colaboração, salvo ilegalidade superveniente apta a justificar nulidade ou anulação do negócio jurídico.

Page 26: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

26

STF. Plenário. Pet 7074/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 21, 22, 28 e 29/6/2017

Info 870 do STF.

4.7. Habeas Corpus: Não cabe HC para tutelar direito à visita em Presídio:

Não cabe habeas corpus para tutelar o direito à visita em presídio. STF. 1ª Turma. HC 128057/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 1º/8/2017

Info 871 do STF.

4.8. Progressão de Regime: Data da prisão preventiva como marco inicial do tempo para a progressão de regime:

No presente caso, o recorrente foi preso cautelarmente por força de mandado de prisão preventiva, mas foi fixada como termo inicial para a obtenção do benefício da progres-são a data da publicação da sentença condenatória.

A Turma entendeu que a custódia cautelar necessariamente deve ser computada para fins de obtenção de progressão de regime e demais benefícios executórios, desde que não ocorra condenação posterior apta a configurar falta grave. Partindo-se da premissa de que, diante da execução de uma única condenação, o legislador não impôs qualquer requi-sito adicional, impende considerar a data da prisão preventiva como marco inicial para a obtenção de benefícios em sede de execução penal. STF. 1ª Turma. RHC 142463/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 12/9/2017

Info 877 do STF.

4.9. Colaboração Premiada: O § 3º do art. 7º da Lei nº 12.850/2013 prevê um limite máximo de duração do sigilo, sendo possível que ele seja retirado antes do recebimento da denúncia:

Em primeiro lugar, cumpre salientar que, no âmbito da administração pública, a publicidade é a regra e o sigilo é a exceção.

No âmbito da colaboração premiada, o Art. 7º §3º da lei 12.850/2013 prevê que:

Art. 7º. (...) § 3º. O acordo de colaboração premiada deixa de ser sigiloso assim que recebida a denúncia, observado o disposto no art. 5º”.

Page 27: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

27

Assim, surgiu o seguinte questionamento: Poderia o sigilo ser retirado antes do re-cebimento da denúncia? O STF entendeu que SIM!

O sigilo do que ajustado é elemento essencial para a efetividade da colaboração firmada, como forma de garantir o êxito das investigações e para assegurar a proteção da pessoa do colaborador e das pessoas próximas.

Uma vez realizadas as diligências cautelares, cuja indispensabilidade tiver sido de-monstrada a partir das declarações do colaborador, ou inexistentes estas, não subsiste razão para o sigilo.

O STF fixou, portanto, o seguinte posicionamento: “Nada impede que o sigilo do acordo seja afastado em momento anterior ao recebimento da denúncia e, assim, possi-bilitar o conhecimento daquele que subscrevera o acordo, bem como o conteúdo do que declarado. Deste modo, tem-se a otimização dos princípios da ampla defesa e do contra-ditório, em favor do investigado ou dos atingidos pela colaboração premiada. Não há di-reito subjetivo do colaborador a que se mantenha, indefinidamente, a restrição de acesso ao conteúdo do acordo, ao argumento de que o sigilo teria sido elemento constitutivo da avença”. STF. 1ª Turma. Inq 4435 AgR/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 12/9/2017

Info 877 do STF.

4.10. Nulidades: Situação na qual não houve violação ao Princípio do Promotor Na-tural: Princípio do promotor natural e substituição de órgão acusador ao longo processo.

Segundo Renato Brasileiro, o princípio do promotor natural:

“Consiste o princípio do promotor natural no direito que cada pessoa (física ou ju-rídica) tem de ser processada somente pelo órgão de execução do Ministério Público cujas atribuições estejam previamente fixadas por lei, sendo vedadas designações casuísticas e arbitrárias de Promotores de Justiça (ou Procuradores da República) de encomenda após a prática do fato delituoso (post facturn)”. (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Pe-nal. Volume único. 5ª Edição. 2017. Editora Juspodivum. Pág. 1230).

Chegou ao supremo, por meio de HC um caso no qual se pugnava a nulidade abso-luta da ação penal, em face de violação ao princípio do promotor natural.

No caso, a denúncia se deu por promotor que não o atuante em face do Tribunal do Júri, exclusivo para essa finalidade. O paciente foi denunciado como incurso nas penas dos arts. 121, “caput”, do Código Penal (CP) e 12 da Lei 6.378/1976, por haver ministrado medica-mentos em desacordo com a regulamentação legal, tendo a vítima falecido.

Page 28: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

28

O STF reconheceu: “Não haver ferimento ao princípio do promotor natural. No caso concreto, a “priori”, houve o entendimento de que seria crime não doloso contra a vida, fazendo os autos remetidos ao promotor natural competente. Não obstante, durante toda a instrução se comprovou que, na verdade, tratava-se de crime doloso. Com isso, o promotor que estava no exercício ofereceu a denúncia e remeteu a ação imediatamente ao promotor do Júri, que poderia, a qualquer momento, não a ratificar”. STF. 1ª Turma. HC 114093/PR, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 3/10/2017

Info 880 do STF.

5. Direito Civil:

5.1. União Estável: Direito Sucessório: Em caso de sucessão causa mortis do compa-nheiro deverão ser aplicadas as mesmas regras da sucessão causa mortis do cônjuge:

No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a diferenciação de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no artigo 1.829 do Código Civil. STF. Plenário. RE 646721/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso e RE 878694/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 10/5/2017 (repercussão geral)

Info 864 do STF.

5.2. Conflito entre CDC e convenção de Varsóvia: Antinomia entre o CDC e a Conven-ção de Varsóvia:

O STF fixou que: “as disposições previstas nos aludidos acordos internacionais (Convenção de Varsóvia de 1929) incidem exclusivamente nos contratos de transporte aéreo internacional de pessoas, bagagens ou carga. Assim, não alcançam o transporte nacional de pessoas, que está excluído da abrangência do art. 22 da Convenção de Varsóvia”. STF. Plenário. RE 636331/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes e ARE 766618/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 25/05/2017 (repercussão geral)

Dessa forma:

• Para contratos de transporte internacional de pessoas, bagagens ou carga: Apli-ca-se a convenção de Varsóvia.

• Para contratos de Transporte Nacional de pessoas, bagagens ou carga: CDC.

Page 29: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

29

“Nos termos do art. 178 da Constituição da República, as normas e os tratados internacionais limitadores da responsabilidade das transportadoras aéreas de passageiros, especialmente as Convenções de Varsóvia e Montreal, têm prevalência em relação ao Có-digo de Defesa do Consumidor”. STF. Plenário. RE 636331/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes e ARE 766618/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 25/05/2017 (repercussão geral)

Info 866 do STF.

5.3. Autonomia das entidades desportivas: O art. 59 do CC é compatível com a auto-nomia conferida aos clubes pelo art. 217, I, da CF/88:

Não viola o art. 217, I, da Constituição a decisão que determina associação espor-tiva a observar a norma do art. 59 do Código Civil. STF. 1ª Turma. ARE 935482/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 07/02/2017.

O Art. 59 do CC possui a seguinte redação: “Art. 59. Compete privativamente à as-sembleia geral: I - destituir os administradores; II - alterar o estatuto. Parágrafo único. Para as deliberações a que se referem os incisos I e II deste artigo é exigido deliberação da assem-bleia especialmente convocada para esse fim, cujo quorum será o estabelecido no estatuto, bem como os critérios de eleição dos administradores”.

Info 853 do STF.

5.4. Alimentos: Prisão civil não serve para cobrança de débitos pretéritos:

Em primeiro lugar, é importante relembrar o Art. 528 § 7º do NCPC, que diz que: “O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende até as 3 (três) prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo”.

Portanto, é de clareza meridiana que, para que o credor possa utilizar do rito espe-cial executivo da prisão civil somente pode cobrar os 3 últimos meses e as parcelas vincendas (Que se venceram no curso do processo).

Mas e o resto das Parcelas? Poderá utilizar o rito da execução por quantia certa, como se qualquer dívida patrimonial fosse, vejamos o que ensina Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald:

Page 30: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

30

(...) Possuindo caráter visível excepcional, não seria razoável permitir a utilização da coerção pessoal para parcelas vencidas há mais de três meses. Em outras palavras, signi-fica dizer que somente as parcelas vencidas nos últimos 3 meses e as vincendas autorizam o manejo da prisão civil como meio executivo, afastada sua possibilidade para as parcelas ven-cidas anteriormente, que restariam submetidas aos meios de coerção patrimonial”. (FARIAS. Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: Famílias. 9ª Edição. Editora Juspodivum. 2016. Pág. 816).

Toda essa ideia foi adotada pelo STF, que fixou a seguinte tese: “A prisão por dívida é pertinente apenas no caso de descumprimento inescusável de prestação alimentícia, não sendo cabível quando se referir à execução de débito passado. STF. 1ª Turma. HC 121426/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/3/2017

Info 857 do STF.

5.5. Pessoas Naturais: Alteração de gênero e cirurgia de redesignação de sexo:

O Tribunal iniciou o julgamento de recurso extraordinário em que se discute a pos-sibilidade de alteração de gênero no assento de registro civil de transexual – como masculi-no ou feminino – independentemente da realização de procedimento cirúrgico de redesig-nação de sexo.

O ministro Dias Toffoli (Relator) deu provimento ao recurso e apresentou as seguin-tes teses de repercussão geral:

1. O transexual, comprovada judicialmente sua condição, tem direito fundamen-tal subjetivo à alteração de seu prenome e de sua classificação de gênero no registro civil, independentemente da realização de procedimento cirúrgico de redesignação de sexo;

2. Essa alteração deve ser averbada à margem do assento de nascimento, com a anotação de que o ato é realizado “por determinação judicial”, vedada a inclusão do termo “transexual”;

3. Nas certidões do registro não constará nenhuma observação sobre a origem do ato, vedada a expedição de certidão de inteiro teor, salvo a requerimento do próprio interes-sado ou por determinação judicial;

4. A autoridade judiciária determinará, de ofício ou a requerimento do interessado, a expedição de mandados específicos para a alteração dos demais registros nos órgãos públi-cos ou privados pertinentes, os quais deverão preservar o sigilo sobre a origem dos atos. STF.

Page 31: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

31

Plenário. RE 670.422/RS, rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 22.11.2017

Info 885 do STF.

Obs! Sem mais julgados importantes do STF de 2017 em Direito Civil.

6. Direito processual civil:

6.1. Mandado de Segurança: O STF já relativizou o prazo de 120 dias do MS em nome da segurança jurídica:

O Colegiado asseverou que o fato de a impetrante haver sido favorecida por de-cisão liminar deferida em 10.11.2004 — portanto, há mais de doze anos — justifica avançar na análise da impetração. STF. 2ª Turma. MS 25097/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/3/2017

Portanto, o STF relativizou o prazo de 120 dias do MS em nome da segurança jurídica.

(Info 859).

6.2. Competência: Não compete ao STF julgar execução individual de sentença cole-tiva mesmo que tenha julgado a lide que originou o cumprimento de sentença:

Não compete originariamente ao STF processar e julgar execução individual de sentenças genéricas de perfil coletivo, inclusive aquelas proferidas em sede mandamental. Tal atribuição cabe aos órgãos judiciários competentes de primeira instância. STF. 2ª Tur-ma. PET 6076 QO /DF, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 25/4/2017

Info 862 do STF.

6.3. Ação Coletiva Proposta Por Associação: Para ser beneficiada pela sentença favo-rável é necessário que a pessoa esteja filiada no momento da propositura e seja residente no âmbito da jurisdição do órgão julgador:

No caso em tela, determinada associação propôs ação coletiva ordinária contra a União. O objetivo era a repetição de valores descontados a título de imposto de renda de ser-vidores, incidente sobre férias não usufruídas por necessidade do serviço.

Com a procedência do pleito no processo de conhecimento e o subsequente trân-sito em julgado, foi deflagrado, por associação, o início da fase de cumprimento de sentença.

Page 32: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

32

Nesta, o tribunal de origem assentou, em agravo, a necessidade de a primeira peça da execu-ção vir instruída com documentação comprobatória de filiação do associado em momento anterior ou até o dia do ajuizamento da ação de conhecimento, conforme o art. 2º-A, parágra-fo único, da Lei 9.494/1997, incluído pela Medida Provisória 2.180-35/2001 (vide Informativo 863).

Enfatizou que a enumeração dos associados até o momento imediatamente ante-rior ao do ajuizamento se presta à observância do princípio do devido processo legal, inclusive sob o enfoque da razoabilidade. Por meio da enumeração, presente a relação nominal, é que se viabilizam o direito de defesa, o contraditório e a ampla defesa. Reputou que a condição de filiado é pressuposto do ato de concordância com a submissão da controvérsia ao Judiciário.

Portanto, o STF fixou o seguinte entendimento: “A eficácia subjetiva da coisa jul-gada formada a partir de ação coletiva, de rito ordinário, ajuizada por associação civil na defesa de interesses dos associados, somente alcança os filiados, residentes no âmbito da jurisdição do órgão julgador, que o fossem em momento anterior ou até a data da propo-situra da demanda, constantes da relação jurídica juntada à inicial do processo de conhe-cimento”. STF. Plenário. RE 612043/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/5/2017 (reper-cussão geral)

Info 864 do STF.

6.4. Honorários advocatícios: Fixação de honorários recursais mesmo quando não há a apresentação de contrarrazões ou contraminuta:

É cabível a fixação de honorários recursais, prevista no art. 85, § 11, do CPC/2015, mesmo quando não apresentadas contrarrazões ou contraminuta pelo advogado. STF. Ple-nário. AO 2063 AgR/CE , rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 18/5/2017

Info 865 do STF.

6.5. Execução provisória: Fazenda Pública e Obrigação de fazer: Obrigação de fazer não está sujeita a precatório:

O caso em tela tratava de execução de obrigações de fazer, mediante implantação de benefício equivalente à metade do valor de pensão instituída por militar decesso em favor da companheira, a par da outra metade a ser percebida pela esposa, até então favorecida com a integralidade da verba.

Page 33: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

33

O STF entendeu que a sistemática dos precatórios não se aplica no caso concreto, por se tratar de obrigação de fazer, ou seja, implantação de pensão instituída por militar.

Assim, fixou a seguinte tese: “Execução provisória de obrigação de fazer em face da Fazenda Pública não atrai o regime constitucional dos precatórios”. STF. Plenário. RE 573872/RS, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/5/2017 (repercussão geral)

Info 866 do STF.

6.6. Fazenda Pública em Juízo: Índices de juros e correção monetária aplicados para condenações contra a Fazenda Pública:

O STF no presente julgado entendeu que o Art. 1º - F da lei 9.494/1997 revela-se inconstitucional ao impor restrição desproporcional ao direito de propriedade, uma vez que não se qualifica como medida adequada a capturar a variação de preços da economia, sendo inidônea a promover os fins a que se destina.

Desse modo, a remuneração da caderneta de poupança prevista no art. 1º-F da Lei 9.494/1997, na redação dada pela Lei 11.960/2009, não consubstancia índice constitu-cionalmente válido de correção monetária das condenações impostas à Fazenda Pública. STF. Plenário. RE 870947/SE, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 20/9/2017 (repercussão geral)

Info 878 do STF.

6.7. Recurso Extraordinário: Possibilidade de apreciação do recurso extraordinário com repercussão geral mesmo que, no caso concreto, tenha havido prejudicialidade do tema discutido:

O Presente caso trata de o caso de um indivíduo que ingressou com uma ação para concorrer às eleições de prefeito sem estar filiado a partido.

O pedido foi indeferido, chegando ao STF por meio de RE. Ocorre que o recurso chegou ao STF tarde demais, de modo que as eleições municipais já teriam sido realizadas e o feito foi prejudicado.

Porém, o STF entendeu que: “Muito embora a questão constitucional em debate esteja prejudicada na hipótese dos autos — em razão do o esgotamento do pleito municipal de 2016 —, ela deve se revestir do caráter de repercussão geral tendo em vista sua relevân-cia social e política”. STF. Plenário. ARE 1054490 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 5/10/2017

Info 880 do STF.

Page 34: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

34

6.8. Reclamação: Necessidade de esgotamento das instâncias para alegar violação à decisão do STF que decidiu pela constitucionalidade do art. 71, § 1º, da Lei 8.666/93:

Em 2010, no julgamento da ADC 16, o STF decidiu que o art. 71, § 1º, da Lei nº 8.666/93 é constitucional. Vejamos o Artigo:

Lei 8.666/1993: “(...) § 1º A inadimplência do contratado, com referência aos encar-gos trabalhistas, fiscais e comerciais não transfere à Administração Pública a responsabili-dade por seu pagamento, nem poderá onerar o objeto do contrato ou restringir a regulari-zação e o uso das obras e edificações, inclusive perante o Registro de Imóveis”.

Acontece que, mesmo o paradigma supracitado, as varas do trabalho continuam a desrespeitar o precedente, o que levava o Poder público a ajuizar diversas reclamações ao STF.

No julgamento do RE 760931/DF o supremo reafirmou o entendimento de que o Artigo mencionado é constitucional.

Assim, o STF negou provimento a seguinte reclamação entendendo que agora há um novo paradigma no RE 760931/DF e que a reclamação contra RE em Repercussão geral exige esgotamento das instancias: “O Colegiado negou seguimento à reclamação, entenden-do que, por ser relacionada a paradigma de tema de repercussão geral (Tema 246), firmado no julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 760.931/DF (DJE de 12.9.2017), superveniente à ADC em questão, haveria a necessidade de esgotamento de todas as instâncias ordiná-rias antes que o processo fosse julgado pela Suprema Corte, conforme art. 988, § 5º, II, do Código de Processo Civil/2015”. STF. 1ª Turma. Rcl 27789 AgR/BA, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/10/2017

Assim, se o poder público quiser ajuizar reclamação agora, terá que esgotar todas as instancias ordinárias, frente ao novo paradigma.

Info 882 do STF.

6.9. Honorários advocatícios: Execução de honorários sucumbenciais e fracionamento:

Em ação proposta em litisconsórcio facultativo ativo, é possível o fracionamento de honorários advocatícios contra a fazenda pública para evitar o regime de precatórios?

O Colegiado do STF entendeu que: “Apesar de a possibilidade de execução autô-noma dos honorários ser ponto pacífico, eles não se confundem com o crédito dos patroci-nados. A quantia devida a título de honorários advocatícios é única, e, por se tratar de um

Page 35: ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL - … · ... “Compete à União, aos Estados e ao Distrito federal legislar concorrentemente sobre: (...) “VIII - respon-sabilidade

35

único processo, calculada sobre o montante total devido. Por essa razão, o fato de o advo-gado ter atuado em causa plúrima não torna plúrimo também o seu crédito à verba advo-catícia”. STF. 2ª Turma. RE 1038035 AgR/RS, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado em 7/11/2017

Info 884 do STF.

6.10. Embargos de Declaração: Não cabem embargos de declaração contra decisão de presidente do tribunal que não admite recurso extraordinário:

Não cabem embargos de declaração contra a decisão de presidente do tribunal que não admite recurso extraordinário.

Por serem incabíveis, caso a parte oponha os embargos, estes não irão suspen-der ou interromper o prazo para a interposição do agravo do art. 1.042 do CPC/2015. Como consequência, a parte perderá o prazo para o agravo.

Nas palavras do STF: “os embargos de declaração opostos contra a decisão de presidente do tribunal que não admite recurso extraordinário não suspendem ou interrom-pem o prazo para interposição de agravo, por serem incabíveis”. STF. 1ª Turma. ARE 688776 ED/RS e ARE 685997 ED/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgados em 28/11/2017

Info 886 do STF.