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Acórdão Rescisão Contratual atraso entrega imóvel.
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Gabinete do Desembargador Gilberto Marques Filho
AGRAVO REGIMENTAL NA APELAÇÃO CÍVEL N° 27356-84.2012.8.09.0175
(201290273561)
Comarca : GOIÂNIA
Agravante : INPAR PROJETOS WAVE SPE LTDA.
Agravada : LINDALVA DE JESUS PINHEIRO FERREIRA
Relator : Gilberto Marques Filho
R E L A T Ó R I O
Trata-se de agravo regimental interposto por INPAR
PROJETOS WAVE SPE LTDA. em decorrência de decisão monocrática que julgou
recurso de apelação cível manejado nos autos da Ação de Rescisão Contratual
cumulada com Ação de Devolução de Valores cumulada com Ação de Indenização
por Perdas e Danos proposta por LINDALVA DE JESUS PINHEIRO FERREIRA.
No recurso de fls. 215/245, o agravante, em síntese,
reitera a não ocorrência dos alegados danos morais, porquanto ter ocorrido mero
dissabor com o descumprimento contratual. Menciona que a recorrida contribuiu
para a não entrega do imóvel e que o atraso é de apenas um mês, o que justifica a
redução da indenização. Pondera que a data da entrega do imóvel é o mês de
agosto de 2.010, oportunidade em que a recorrida estava em mora. Aponta ser
devida retenção de parte da quantia paga, consoante estipulado no contrato.
Por tais razões, pugna pela reconsideração da decisão
atacada e, caso não seja esse o entendimento, roga pela submissão do recurso ao
Órgão Colegiado. Preparo à fl. 246.
É o sucinto relatório.
Gabinete do Desembargador Gilberto Marques Filho
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V O T O
Presentes os pressupostos de admissibilidade recursal,
conheço do recurso.
Compulsando os autos, verifica-se que as teses ventiladas no
agravo regimental não são aptas a modificar a decisão recorrida, de forma a impor a
reconsideração do ato questionado, conquanto serem estas mera reiteração das
questões analisadas na decisão ora impugnada, inviabilizando a reconsideração do que
restou decidido.
Neste sentido, o exemplificativo julgado.
Ao interpor agravo regimental da decisão que negou seguimento ao apelo,
por não ter a recorrente laborado na produção de provas no amparo das
suas pretensões, a agravante deve demonstrar o desacerto dos fundamentos
do decisum recorrido, sustentando a insurgência em elementos novos que
justifiquem o pedido de reconsideração. IMPULSO REGIMENTAL
CONHECIDO E DESPROVIDO (TJGO, Agravo de Instrumento 56209-
75.2014.8.09.0000, Rel. Des. Fausto Moreira Diniz, 6ª Câmara Cível, julgado em
13/05/2014, DJe 1545 de 20/05/2014).
Peço vênia para transcrever os fundamentos da decisão que
analisou as razões da apelação cível, submetendo-os ao colegiado para apreciação.
No tocante à restituição das parcelas pagas pela autora, pondera o apelante ser
devida a retenção de parte da quantia, dada a observância do contrato pelo
disposto no art. 408 do Código Civil.
Inicialmente, cumpre consignar ser aplicável ao caso em tela as diretrizes contidas
no Código de Defesa do Consumidor, consoante entendimento jurisprudencial.
"AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
PROCESSUAL CIVIL. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. SÚMULA Nº
83/STJ. 1. O Código de Defesa do Consumidor atinge os contratos de compra
e venda nos quais a incorporadora se obriga a construir unidades
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imobiliárias mediante financiamento. Acórdão em harmonia com a
jurisprudência deste Superior Tribunal. Precedentes. Incidência da Súmula nº
83/STJ. 2. Agravo regimental não provido." (STJ, AgRg no AREsp 120.905/SP,
Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, DJe 13/05/2014)
Neste passo, afasta-se a incidência das normas do Código Civil, notadamente a
invocada pelo recorrente, não justificando, por conseguinte, a observância da
cláusula contratual quarta pretendida pelo recorrente, conquanto ser esta
conflitante com o Código de Defesa do Consumidor.
Por outro outro, acerca da cláusula 5.1.2 do contrato, que altera o prazo de entrega
do imóvel quanto ocorrido caso fortuito ou de força maior, a mesma não se aplica
ao presente feito. Isso porque o argumento de que a empresa terceirizada,
responsável pela construção do imóvel, teve problemas com a Receita Federal e de
que em razão disto a obra foi embargante não se ajusta aos conceitos de caso
fortuito ou de força maior.
Assim, a restituição da importância paga pela apelada deve se dar do modo e da
forma consignada na sentença.
Quanto aos danos morais, o deslinde do feito passa pela análise dos pressupostos
necessários à caracterização da responsabilidade civil, a qual, para sua
configuração, depende da presença concomitante de conduta (comissiva ou
omissiva) ilícita, nexo causal e dano.
Relativamente ao pressuposto conduta imputado à empresa apelante, verifica-se
que pode ser rotulada como ilícita, haja vista a violação à regra contida no Código
de Defesa do Consumidor (art. 6°, IV), que protege o consumidor de práticas e
cláusulas abusivas quanto ao fornecimento de produtos e serviços, in casu, a
estipulação da entrega das chaves do imóvel sem o regular cumprimento.
Diante disto, é induvidoso que os danos causados à recorrida extrapolam os limites
do mero dissabor ou do aborrecimento diário, porquanto a não entrega do imóvel
na data prevista frustra a expectativa do consumidor em usufruir de imóvel
habitacional. Aplicável, pois, o firme entendimento desta Corte de Justiça sobre o
tema.
1. Evidenciado o descumprimento do prazo para a conclusão das obras do
empreendimento e a consequente entrega do apartamento, razão assiste à
parte compradora ao requerer a rescisão contratual com base no
inadimplemento da construtora. Inteligência do artigo 475 do Código Civil. 2.
O inadimplemento por parte da construtora em entregar o imóvel na data
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pactuada na avença gera para a adquirente direito subjetivo à resolução
contratual, com a consequente devolução das quantias já pagas pela
contratante, em parcela única, devidamente corrigida, e sem qualquer
dedução. 3. É devida a indenização por danos morais quando o atraso na
entrega de imóvel pela construtora frustra a expectativa do comprador em
usufruir unidade habitacional própria adquirida. 4. Omissis. 5. AGRAVO
REGIMENTAL CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJGO, Apelação Cível 377141-
91.2010.8.09.0051, Rel. Des. Elizabeth Maria Da Silva, 4ª Câmara Cível, DJe
1506 de 19/03/2014)
Em outro flanco, atinente ao nexo de causalidade, elemento referencial entre a
conduta praticada e o resultado decorrente do ato, resta induvidoso que os danos
sofridos pela consumidora decorreram da conduta praticada pela recorrente.
Vale gizar a inaplicabilidade de qualquer das hipóteses elencadas no §3° do artigo
12 do Código de Defesa do Consumidor ao caso em deslinde, haja vista que a não
entrega do imóvel no prazo acordado não decorreu de culpa exclusiva da vítima ou
de terceiro, conquanto ter sido o recorrente o responsável pela escolha da empresa
a qual foi confiada a construção do imóvel.
Para a definição do valor da verba indenizatória inexiste critérios determinados e
fixos aptos a permitir a quantificação do dano moral, sendo recomendável que o
arbitramento seja feito com moderação e atenda às peculiaridades do caso
concreto.
A estes parâmetros, soma-se o prudente arbítrio do julgador que não deve se
escusar aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, de sorte a evitar o
enriquecimento injustificado do credor da verba indenizatória, bem como para a
teoria do desestímulo, segundo a qual o valor a ser ressarcido deve inibir o ofensor
a práticas semelhantes.
Consoante os critérios de razoabilidade e proporcionalidade, a quantia fixada na
sentença atende os parâmetros acima mencionados e o entendimento
jurisprudencial aplicável ao caso, razão pela qual deve ser mantido.
1 - Omissis. 2 - Não pode ser tida como mero dissabor, mas sim como fator
suficiente à causação do dano extrapatrimonial, a mora na entrega de
apartamento, que que serviria como moradia familiar. 3 - O montante de R$
10.000,00 (dez mil reais), a títulos de danos morais, não ressai abusivo ou
desproporcional, adequando-se ao caso em pauta. 4 - Omissis. Agravo
Regimental conhecido e improvido. (TJGO, Apelação Cível 256005-
93.2011.8.09.0051, Rel. Dr(a). Sérgio Mendonça de Araújo, 4ª Câmara Cível,
julgado em 15/05/2014, DJe 1555 de 03/06/2014)
Gabinete do Desembargador Gilberto Marques Filho
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ANTE O EXPOSTO, com fulcro nas disposições do caput do artigo 557 do Código de
Processo Civil, nego seguimento ao recurso de apelação cível, ante sua manifesta
improcedência, por estes e por seus próprios fundamentos.
PELO EXPOSTO, conheço e nego provimento ao recurso para
manter a decisão agravada e submetê-la à apreciação do órgão colegiado, nos termos
do art. 364, § 3º do RITJGO.
É como voto.
Goiânia, 17 de julho de 2.014.
GILBERTO MARQUES FILHO
Relator
Gabinete do Desembargador Gilberto Marques Filho
AGRAVO REGIMENTAL NA APELAÇÃO CÍVEL N° 27356-84.2012.8.09.0175
(201290273561)
Comarca : GOIÂNIA
Agravante : INPAR PROJETOS WAVE SPE LTDA.
Agravada : LINDALVA DE JESUS PINHEIRO FERREIRA
Relator : Gilberto Marques Filho
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM APELAÇÃO
CÍVEL. AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL
CUMULADA COM DEVOLUÇÃO DE VALORES
CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
RETENÇÃO DE VALORES. ATRASO NA ENTREGA DE
IMÓVEL. VALOR DA INDENIZAÇÃO. AUSÊNCIA DE
FATO NOVO.
1. As disposições do Código de Defesa do Consumidor
aplicam-se aos contratos de compra e venda de imóveis
nos quais a incorporadora se obriga a construir unidades
imobiliárias através de financiamento.
2. Não há falar em retenção de valores no percentual
previsto em cláusula contratual se não ocorridas as
hipóteses nela previstas.
3. A não entrega de imóvel no prazo consignado no
contrato tem o condão de acarretar dano apto a ser
reparado pecuniariamente pela construtora inadimplente.
4. Para o arbitramento da indenização por danos
extrapatrimoniais, mister observar, dentre outros
parâmetros, os princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade, de modo a evitar o enriquecimento
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injustificado do credor da verba indenizatória, bem assim a
teoria do desestímulo.
5. Ausentes argumentos novos que demonstrem o desacerto
dos fundamentos utilizados na decisão recorrida, nega-se
provimento ao recurso de Agravo Regimental.
Recurso conhecido e desprovido.
A C Ó R D Ã O
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Agravo
Regimental na Apelação Cível nº 27356-84, da Comarca de Goiânia.
ACORDA o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, em
sessão pelos integrantes da Primeira Turma Julgadora da Quarta Câmara Cível, à
unanimidade de votos, em conhecer e desprover o regimental, nos termos do voto
do relator.
VOTARAM com o relator o Dr. Marcus da Costa Ferreira,
subst. do Des. Kisleu Dias Maciel Filho e a Desa. Elizabeth Maria da Silva, que
completou a Turma Julgadora, em razão da ausência justificada do Des. Carlos
Escher.
Presidiu a sessão a Desa. Elizabeth Maria da Silva.
Presente a Dra. Eliane Ferreira Favaro, Procuradora de
Justiça.
Goiânia, 17 de julho de 2 014.
GILBERTO MARQUES FILHO
Relator