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151 ACÓRDÃOS DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO TRT/RO-17363/98 Publ. no “MG” de 15.06.1999 RECORRENTE: TEREZINHA VAZ DE SOUZA RECORRIDO: FRIOGERAIS ARMAZÉNS FRIGORÍFICOS LTDA. EMENTA: ACIDENTE DO TRABALHO - CONTRATO DE EXPERIÊNCIA. O tempo de afastamento do empregado, em virtude de acidente do trabalho, não pode ser computado na fluência do prazo do contrato de prova. Isto porque a finalidade precípua dessa modalidade de contrato é a verificação da aptidão do empregado e de outros fatores de adaptabilidade recíproca. Assim, com a superveniência de acidente de trabalho, torna- se necessária a complementação do tempo previsto no contrato de experiência para que esse objetivo seja cumprido, ficando afastada a hipótese de indeterminação do contrato. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário, interposto de decisão da MM. 2ª Junta de Conciliação e Julgamento de Contagem, em que figuram: como recorrente, TEREZINHA VAZ DE SOUZA e, como recorrido, FRIOGERAIS ARMAZÉNS FRIGORÍFICOS LTDA. RELATÓRIO Ao de f. 24/25, que a este incorporo, acrescento que a MM. 2ª Junta de Conciliação e Julgamento de Contagem julgou improcedente a ação trabalhista, isentando a reclamante do pagamento de custas processuais (f. 25). Inconformada, a reclamante interpôs recurso ordinário (f. 28), aduzindo que sofreu acidente do trabalho no curso do contrato de experiência, requerendo a estabilidade provisória do acidentado, ao argumento de que quando retornou ao trabalho, o contrato já havia se indeterminado. A reclamada apresentou contra- razões às f. 30/32. O Ministério Público do Trabalho manifestou-se pelo prosseguimento do feito, nos termos do artigo 83, incisos II e VII, da Lei Complementar n. 75 de 20.05.93 (f. 34). Tudo visto e examinado. VOTO Admissibilidade Preliminarmente, determino a retificação da autuação para que conste como recorrido FRIOGERAIS ARMAZÉNS FRIGORÍFICOS LTDA. Conheço do recurso, porque presentes os pressupostos de admissibilidade, recebendo-o no efeito meramente devolutivo (artigo 899/CLT). Conheço também das contra- razões porque tempestivas e subscritas por procurador regularmente constituído (f. 19). Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg. - Belo Horizonte, 29 (59):151-228, Jan./Jun.99

ACÓRDÃOS DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª … · culpada pelo acidente do elevador, na obra de construção civil onde trabalhava, do qual fora vítima. Com razão o autor

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ACÓRDÃOS DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO

TRT/RO-17363/98Publ. no “MG” de 15.06.1999

RECORRENTE: TEREZINHA VAZ DESOUZA

RECORRIDO: FRIOGERAIS ARMAZÉNSFRIGORÍFICOS LTDA.

EMENTA: ACIDENTE DOTRABALHO - CONTRATO DEEXPERIÊNCIA. O tempo deafastamento do empregado,em virtude de acidente dotrabalho, não pode sercomputado na fluência doprazo do contrato de prova.Isto porque a finalidadeprecípua dessa modalidade decontrato é a verificação daaptidão do empregado e deoutros fatores deadaptabilidade recíproca.Assim, com a superveniênciade acidente de trabalho, torna-se necessária acomplementação do tempoprevisto no contrato deexperiência para que esseobjetivo seja cumprido,ficando afastada a hipótese deindeterminação do contrato.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos de recurso ordinário,interposto de decisão da MM. 2ª Juntade Concil iação e Julgamento deContagem, em que figuram: comorecorrente, TEREZINHA VAZ DESOUZA e, como recorrido,FRIOGERAIS ARMAZÉNSFRIGORÍFICOS LTDA.

RELATÓRIO

Ao de f. 24/25, que a esteincorporo, acrescento que a MM. 2ªJunta de Conciliação e Julgamento deContagem julgou improcedente a açãotrabalhista, isentando a reclamante dopagamento de custas processuais (f. 25).

Inconformada, a reclamanteinterpôs recurso ordinário (f. 28),aduzindo que sofreu acidente dotrabalho no curso do contrato deexperiência, requerendo a estabilidadeprovisória do acidentado, ao argumentode que quando retornou ao trabalho, ocontrato já havia se indeterminado.

A reclamada apresentou contra-razões às f. 30/32.

O Ministério Público do Trabalhomanifestou-se pelo prosseguimento dofeito, nos termos do artigo 83, incisos IIe VII, da Lei Complementar n. 75 de20.05.93 (f. 34).

Tudo visto e examinado.

VOTO

Admissibilidade

Preliminarmente, determino aretificação da autuação para que constecomo recorrido FRIOGERAISARMAZÉNS FRIGORÍFICOS LTDA.

Conheço do recurso, porquepresentes os pressupostos deadmissibilidade, recebendo-o no efeitomeramente devolutivo (artigo 899/CLT).

Conheço também das contra-razões porque tempestivas e subscritaspor procurador regularmente constituído(f. 19).

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg. - Belo Horizonte, 29 (59):151-228, Jan./Jun.99

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MÉRITO

Estabilidade provisória (artigo118, da Lei 8.213/91)

A reclamante afirma que temdireito à estabilidade no emprego, emvirtude de ter sofrido acidente do trabalhono curso do contrato de experiênciafirmado com a reclamada. Acrescentaque, quando retornou ao trabalho, oreferido contrato já havia setransformado em contrato por prazoindeterminado.

Data venia, não lhe assiste razão.É incontroverso que a autora foi

admitida pela reclamada através decontrato de experiência, com previsão deduração de 45 dias a partir de 31.03.98,ficando afastada do emprego de06.04.98 a 31.05.98, em virtude deacidente de trabalho.

Todavia, esse tempo deafastamento do empregado, decorrentede acidente do trabalho não pode sercomputado na fluência do prazo docontrato de prova. Isto porque afinalidade precípua dessa modalidade decontrato é a verificação da aptidão doempregado e de outros fatores deadaptabilidade recíproca. Assim, com asuperveniência do acidente no sétimodia da prestação laboral, inviabilizandoo atendimento a essa finalidade, tornou-se necessária a complementação dotempo previsto no contrato deexperiência para que esse objetivo fossecumprido.

Por conseguinte, uma vezsuspenso o contrato, todas as condiçõesanteriormente pactuadas ficaramsuspensas a partir do afastamento dareclamante, tendo sido restabelecidas apartir de 01.06.98. Desse modo,considerando o início do contrato de

experiência em 31.03.98 e a data doacidente em 06.04.98 e, retomando acontagem a partir de 01.06.98 até08.07.98, tem-se que a autora trabalhouao todo 45 dias, conforme previsto nocontrato de experiência de f. 12/13, o queafasta a hipótese de indeterminação docontrato.

Por outro lado, cumpre acentuarque a natureza do contrato a termo éincompatível com qualquer espécie deestabilidade provisória, inclusive aquelaprevista no artigo 118, da Lei 8.213/91,já que as partes conhecem de antemãoa data do término do pacto laboral.

Ademais, a estabilidade noemprego pressupõe a existência dedespedida imotivada, o que não ocorreuno caso vertente, vez que a extinção docontrato se deu exclusivamente emdecorrência do implemento da dataprevista para o final do contrato,conforme TRCT de f. 17.

Pelo exposto, nego provimentoao recurso.

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da TerceiraRegião, pela sua TERCEIRA TURMA, àunanimidade, em conhecer do recurso;no mérito, sem divergência, em negar-lhe provimento.

Belo Horizonte, 19 de maio de1999.

MARIA LAURA FRANCO LIMA DEFARIA

Presidente e Relatora

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TRT/RO-14124/98Publ. no “MG” de 05.06.1999

RECORRENTE: VALDOMIRO LUIZ DEMIRANDA

RECORRIDA: RF EMPREENDIMENTOSLTDA.

EMENTA: ACIDENTE DOTRABALHO - DANOS MORAIS.Faz jus o empregado vítima deacidente em elevador em obrade construção civil, com danosfísicos comprovados, àindenização por danos morais,quando as provas dos autosdemonstram que o empregadorincorreu nas culpas in eligendoe in vigilando, ao escolher male não vigiar a manutenção doelevador procedida pelaempresa prestadora do referidoserviço. Ora, o empregador éobrigado a manter as condiçõesde segurança dos seusempregados, e se transfere estaresponsabilidade para terceiro,deve, de qualquer modo, serresponsabilizado, podendo, sejulgar conveniente, exercer oseu direito de regresso.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos em destaque, DECIDE-SE:

RELATÓRIO

A MM. 2a JCJ de Uberlândia, emdecisão proferida às f. 152-156, da lavrada MM. Juíza do Trabalho, Drª Rita deCássia de Castro Oliveira, cujo relatórioadoto, julgou procedente, em parte, areclamatória, condenando a reclamadaa pagar ao reclamante a verbadiscriminada no decisum.

Embargos de declaração peloreclamante, ao final julgadosimprocedentes.

Inconformado, recorre oreclamante, insurgindo-se contra oindeferimento de indenização por danosmorais.

Contra-razões às f. 164-166.Parecer da d. Procuradoria

Regional do Trabalho, nos termos da LeiComplementar n. 75/93, peloconhecimento e desprovimento dorecurso.

É o relatório.

VOTO

Juízo de admissibilidade

Presentes os pressupostos deadmissibilidade, conheço do recurso, edas contra-razões.

FUNDAMENTOS

Inconforma-se o autor com oindeferimento da indenização por danosmorais alegando que a empresa ré foiculpada pelo acidente do elevador, naobra de construção civil onde trabalhava,do qual fora vítima.

Com razão o autor.Regra geral, como nos ensina a

professora Maria Helena Diniz, em suaobra Teoria das Obrigações Contratuais eExtracontratuais, 3o volume, EditoraSaraiva, 10a edição, 1995, “São elementosindispensáveis à configuração do ato ilícito:

1o) fato lesivo voluntário, ouimputável, causado pelo agente por açãoou omissão voluntária (dolo),negligência, imprudência ou imperícia(culpa), que viole um direito subjetivoindividual. É necessário, portanto, que o

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infrator tenha conhecimento da ilicitudede seu ato, agindo com dolo, seintencionalmente procura prejudicaroutrem, ou culpa, se, consciente dosprejuízos que advêm de seu ato, assumeo risco de provocar o dano, sem qualquerdeliberação de violar um dever;

2o) ocorrência de um dano...

3o) nexo de causalidade entre odano e o comportamento do agente...”.(Grifei)

Tem-se, ainda, que a lei civilprevê as hipóteses em que aresponsabilidade civil é objetiva, ou seja,não se discute sobre culpa.

Não obstante, a regra geral é apreconizada pela teoria subjetiva,segundo a qual é necessário que a vítimaprove a culpa do agente, dos prejuízossofridos e o nexo causal entre ocomportamento do agente e o danocausado.

Esta prova, que a princípioincumbe ao autor, na excelenteexposição de Aguiar Dias, citado por RuiStocco, p. 56, “... não é derrogado emmatéria de responsabilidade civil, masrecebe, nesse domínio, em lugar do seuaparente sentido absoluto, umasignificação especial, que por atenção aoutra norma (reus in excipiendo fic actor),vem a ser esta: aquele que alega um fatocontrário à situação normal, adquirida, éa ausência de culpa, o autor não podeescapar à obrigação de provar toda vezque, fundadamente, consiga o réuinvocá-la. Mas se, ao contrário, pelascircunstâncias peculiares à causa, outraé a situação-modelo, isto é, se a situaçãonormal faça crer na culpa do réu, já aquise invertem os papéis: é ao responsávelque incumbe mostrar que, contra essa

vítima, não ocorreu culpa de sua parte.Em tais circunstâncias, como é claro, asolução depende preponderantementedos fatos da causa, revestindo deconsiderável importância o prudentearbítrio do juiz na sua apreciação”. (op.cit., pp. 100-101)

Conclui o autor citado: “O que severifica, em matéria de responsabilidade,é o progressivo abandono da regra actoriincumbit probatio, no seu sentidoabsoluto, em favor da fórmula de que aprova incumbe a quem alega contra anormalidade, que é válida tanto para aapuração de culpa como para averificação da causalidade. À noção denormalidade se juntam, aperfeiçoando afórmula, as de probabilidade e deverossimilhança, que, uma vez que seapresentem em grau relevante, justificama criação das presunções de culpa.”(idem, p. 102)

Pelo artigo 7o, inciso XXVIII, daConstituição Federal de 1988, tem-seque há a responsabilidade objetiva doempregador quanto ao seguro contraacidentes de trabalho, e ainda, em suasegunda parte, a indenização civil,quando incorrer em dolo ou culpa.

No presente caso, entendo, datavenia, que o empregador procedeu comculpa, dando ensejo à aplicação doretrocitado dispositivo constitucional eainda, à lei civil, que trataespecificamente do assunto (art. 159, doCódigo Civil Brasileiro).

Vejamos:Não há dúvidas que o elevador

que caiu com o reclamante e outrosempregados passou por manutençãouma semana antes do acidente (nestesentido, os depoimentos prestadosperante a autoridade policial, sendo queo próprio reclamante atestou a idoneidadedo depoimento que lá prestou).

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Não obstante, tenho que oempregador foi o culpado pelo evento,ainda que não de forma grave. É queincorreu nas culpas in eligendo e invigilando, porque não escolheu bem enem fiscalizou com rigor a atuação daempresa que procedia à manutenção doelevador de sua obra em construção, oque era sua obrigação. Ora, admitindo-se que a reclamada determinava amanutenção periódica do elevador porempresa especializada, e não tendoprova alguma nos autos, sequerindícios, de que o sinistro ocorreu porforça maior, caso fortuito ou comconcorrência de qualquer dos seusempregados, evidencia-se que oacidente decorreu de falha técnica namanutenção do elevador. Ademais, aprova testemunhal informou que,embora tenha havido a manutenção, osdefeitos persistiam no “breque” doelevador, o que revela o descaso dareclamada com a integridade física dosseus empregados.

A averiguação do regularcumprimento do contrato não éprerrogativa, mas obrigação doscontratantes.

“Sempre que duas pessoas sepropõem a formar um contrato, opoliscitante obriga-se aresponder para com o outro, noque diz respeito à formação docontrato, pela mesma culpa porque se responsabiliza em virtudedo mesmo contrato; em umapalavra, vincula-se a evitar todaculpa. Isto é implícito, é denatureza das coisas, é umaconvenção tácita, como odemonstra o próprio fato de seformar o contrato.Nos contratos bilaterais esse

pacto é recíproco.” (MENDONÇA,Carvalho de, apud Santos,CARVALHO, J.M. de. CódigoCivil Brasileiro Interpretado, vol.III, p. 312, 1977, Livraria FreitasBastos S.A.)

O Código Civil, ao tratar do atoilícito, determina que a negligência e aomissão voluntária que importam emprejuízo a outrem obriga à reparação dodano, respondendo os bens doresponsável pela ofensa ou violação dodireito alheio.

A recorrente contratou a empresaprestadora de serviços de manutençãode elevadores e descurou-se do deverde fiscalizar a execução dos mesmos,obrigação decorrente do próprio pacto,negligenciando o dever de vigilância eprudência no cometimento de serviçosà empresa interposta, incorrendo, destaforma, na culpa extracontratual ouaquiliana, que no dizer de CarvalhoSantos, “... envolve fatos diversos, comoa intenção de prejudicar, a imperícia, anegligência, a imprudência, a falta devigilância, o abuso de direito, a falta decuidado ou fiscalização de coisas oupessoas”. (Obr. cit.)

A Súmula 229, do STF, não maisprevalece em face da Carta Magna, queé posterior à referida Súmula, e que falagenericamente em culpa, semespecificar o grau, se máximo ou mínimo.

No caso em análise temos que oempregado comportou-sepassivamente, não contribuindo em nadapara o acidente, já o empregador, aindaque indiretamente, foi o responsável pelolamentável acidente, que vitimou váriaspessoas, deixando-as em não menoslamentável situação física e psíquicaante os danos ao organismo, comredução da capacidade laborativa.

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É a hipótese da responsabilidadepor fato de terceiro, que só exoneraquando elimina, totalmente, a relação decausalidade entre o dano e odesempenho do contrato.

Como observa Caio Mário, citadopor Aguiar Dias, “... para que tal se dêna excludente pelo fato de terceiro, émister que o dano seja causadoexclusivamente pelo fato de pessoaestranha. Se para ele tiver, de qualquermodo, contribuído o agente, por mínimaque tenha sido sua ligação causal como fato, não haverá isenção deresponsabilidade: ou o agente respondeintegralmente pela reparação, ouconcorre com o terceiro na composiçãodas perdas e danos”. (Grifei)

A doutrina e jurisprudência maisabalizadas corroboram a tese (STOCCO,Rui. Responsabilidade Civil, 2a edição,doutrina e jurisprudência, RT, 1995):

“Quem se obriga por fatode terceiro, se este não cumprea obrigação, fica vinculado a elae responde por perdas e danosdaí decorrentes, nos termos doart. 929, do CC.” (TJSP - 10a C. -Ap. Rel. Menezes Gomes - j.13.04.89 - RT 646/89)

“O fato de terceiro, emnosso Direito, não exclui aresponsabilidade, dando,apenas, direito regressivo contraesse terceiro.” (TJSP - 3a C. - Ap.- Rel. Barros Monteiro Filho - j.20.09.78 - RT 523/101)

A questão aqui tratada é diversadaquela prevista no art. 1521, inciso III,do Código Civil, que cuida daresponsabilidade do patrão, amo oucomitente, pelos atos de seus

empregados, serviçais e prepostos, quecausem danos a terceiros.

Aborda-se aqui aresponsabilidade do patrão perante seusfuncionários pelos danos materiais oupessoais que estes venham a sofrer emserviço, decorrentes de ação ou omissãodaquele, mediante dolo ou culpa grave.

O art. 7o, inciso XXVIII, daConstituição Federal de 1988, dispõe serdireito dos trabalhadores urbanos erurais, o “seguro contra acidentes detrabalho, a cargo do empregador, semexcluir a indenização a que este estáobrigado, quando incorrer em dolo ouculpa.”

A responsabilidade do patrãoperante seus funcionários quando emserviço é contratual e segue a regra geralestabelecida no art. 159, do Código Civil,fundando-se no dolo ou na culpa.

O empregador, por força docontrato de trabalho que estabelece comseu empregado, obriga-se a dar-lhecondições plenas de trabalho, no quepertine à segurança, salubridade econdições mínimas de higiene econforto.

Se no decorrer da jornada detrabalho o empregado sofre danosdecorrentes de ação ou omissãointencional, ou proceder culposo doempregado, responde este civilmenteperante aquele.

O recebimento de auxílio-acidente ou pensão acidentária daPrevidência Social não exclui aindenização do direito comum, comoestabelece a Carta Magna.

Mas agora já não mais se exigedolo ou culpa grave do empregador paraque responda por danos sofridos porseus empregados.

Já muito antes da CF/88 aresponsabilidade do empregador se

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desvinculara do dolo (ou da culpa grave,com que acudira a jurisprudência). Aregra hoje expressa no art. 7°, incisoXXVIII, da Carta Magna, vigia antes.

Como demonstrou oDesembargador Costa de Oliveira embrilhante exposição, na vigência doDecreto-lei 7.036/44, quando oempregador ou a sua seguradoraindenizava o acidentado por causaacidentária, não se sujeitava a outra açãodo empregado, a menos que tivesseobrado dolosamente por si ou porpreposto seu. A pesquisa revelou que aodolo tinha de equiparar-se a culpa grave(art. 31). Esta regra foi, contudo,derrogada pelo art. 22, da Lei 6.367, de19.10.76. Essa derrogação não ocorreucom o art. 42, da Lei 5.316, de 14.09.67.

Com a ausência da lei, desde aderrogação da regra sobre inexistênciada ação do acidentado, pelo direitocomum (exceto no caso de culpa gravedo empregador - “dolo”), fica o intérpretediante do problema jurídico seguinte: Setiver havido qualquer culpa doempregador, tem o acidentado açãocontra ele pelo direito comum? Ora, aresposta é afirmativa. Primeiro, porquedesapareceu a restrição à ação do direitocomum (antes, somente no caso de dolo= culpa grave). Segundo, por indicaçãodos fatos sociais no seu constanteevoluir, eles que são o mais seguroindicador do sentido das regras jurídicase da orientação delas no espaço-tempo.

Note-se ser a linguagem apenasum dos componentes dos fatos sociais.Ora, se o autor não dispuser de açãocontra o empregador culpado (qualquerque seja a intensidade da sua culpa),complicam-se os fatos sociais e sofreprofundo golpe a adaptação social peloDireito. Em tal hipótese o empregador,fiado no recolhimento das contribuições

legais ao Instituto de Previdência,descansado com a sua restritaresponsabilidade pelo acidente - 15 diasseus, o mais por conta do INPS - baixaráas guardas, afrouxará a vigilância,deixará o empregado brasileiro aodestino das leis da física, não cuidaráde investir em segurança no trabalho,contribuirá para o aumento dos acidentesno trabalho. O número de acidentes noBrasil é dos mais altos do mundo, mesmoconsiderada a estatística fundada naproporcionalidade (número deempregados, percentual dos acidentesocorridos). Esse descalabro não podeser admitido pelo Direito. Logo,desaparecida a regra que limitava aresponsabilidade do empregadorperante o empregado acidentado à sóhipótese de culpa grave, temos deinterpretar o sistema vigente deste modo:configurada qualquer culpa doempregador, direta ou por seusprepostos, responde ele perante oacidentado segundo o direito comum.Irrelevante que o INSS também indenize,por responsabilidade objetiva - pelafatalidade para a qual o empregado nãoconcorreu com culpa exclusiva sua.

As causas jurídicas (= fatosjurídicos) dessa eficácia de direitos-deveres são diversas: 1. Paga o INSSporque o acidente ocorre e há osrecolhimentos compulsórios para aprevidência social (o empregado tambémcolabora); 2. Paga o empregador sozinhopelo direito comum pela ilicitude da culpa(dimensão subjetiva).

Já não se pode levar em conta avelha tese da culpa grave. Culpado oempregador, em qualquer grau,responde.

Tornou-se matéria ainda maisclara depois que se constitucionalizou,ao se determinar a responsabilidade do

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empregador “... quando incorrer em doloou culpa”. (CF/88, art. 7°, XXVIII). Já eraassim pela legislação ordinária. Mas aprópria norma constitucional frisou aimportância deste ponto da infortunísticacom razão. Estatística recente mostrouque, ainda assim, “O Brasil é o país como maior índice de acidentes no trabalhode todo o mundo, mesmo analisando ofenômeno do ponto de vista relativo. Aincidência maior é, sobretudo, entre ostrabalhadores braçais.” (RT 704l103)

Como observou Carlos RobertoGonçalves “Nota-se um grande avançoem termos de legislação, pois admitiu-se a possibilidade de ser pleiteada aindenização pelo direito comum,cumulável com a acidentária, no caso dedolo ou culpa do empregador, sem fazerqualquer distinção quanto aos graus deculpa. O avanço no entanto não foicompleto, adotada apenas aresponsabilidade subjetiva, quecondiciona o pagamento da indenizaçãoà prova de culpa ou dolo do empregador,enquanto a indenização acidentária esecuritária é objetiva. Os novos rumosda responsabilidade civil, no entanto,caminham no sentido de considerarobjetiva a responsabilidade dasempresas pelos danos causados aosempregados, com base na teoria dorisco-criado, cabendo a estes somentea prova do dano e do nexo causal.”(Responsabilidade Civil, Ed. Saraiva, S.Paulo, 5a ed., 1994, p. 325)

Para Humberto Theodoro Júnior“A maior novidade da Constituição de1988, em tema de responsabilidade civil,situa-se, talvez, no campo do acidente detrabalho”, observando que “Além demanter o regime de seguro previdenciáriopara o acidente de trabalho, deu o passofinal para separar, total e definitivamente,o regime da infortunística do regime da

responsabilidade civil”, acrescentando:“Esse dispositivo trouxe uma grande efundamental inovação, pois, com ele, aresponsabilidade civil do patrão caiutotalmente no regime do Código Civil. Nãose cogita mais do tipo de culpa para imporo dever de reparar o dano regulado peloDireito comum. Qualquer que seja,portanto, o grau de culpa terá oempregador de suportar o deverindenizatório, segundo as regras doDireito Civil, sem qualquer compensaçãocom a reparação concedida pelaPrevidência Social.” (Alguns impactos danova ordem constitucional sobre o DireitoCivil, RT 662111)

Desse modo, o patrão só seexime de ser responsabilizado se provara culpa exclusiva da vítima, caso fortuitoou força maior.

“[...]É sabido, porque de

jurisprudência até sumulada, quea indenização acidentária nãoexclui a do Direito comum, emcaso de dolo ou culpa grave doempregador. Com o advento daConstituição Federal de 1988,modificou-se o Direito. A normaorgânica contida no art. 7°, XXVIII,da CF, passou a assegurar aotrabalhador urbano ou rural oseguro contra acidentes detrabalho, a cargo do empregador,sem excluir a indenização a queele está obrigado quando incorrerem dolo ou culpa. A Lei Maior foialém da jurisprudência sumulada,excluindo a gravidade da culpa doempregador como condição pararesponsabilizá-lo civilmente pelodano”. (TJMG - Ap. 81.281-1- Rel.Oliveira Leite - j. 28.11.89 - Jur.Mineira 108/267)

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Apurada a culpa do empregador,há que se fixar a indenização, o queconfigura difícil tarefa, porque se situano âmbito da subjetividade e não hácritérios específicos na lei.

O reclamante a requereu nomontante de dez mil vezes o valor doseu último salário (R$165,00), o queperfaz aproximadamente R$165.000,00.

A ré impugnou tal valor.O reclamante, pedreiro, ficou com

vários danos físicos, tais como pernatorta, desvio de coluna, seqüelas no tratourinário, além de ter passado por umlongo período de recuperação, queincluiu dois meses de imobilização, eainda, uso de muleta por um ano. Aofinal, foi aposentado por invalidez.Patentes as dores física e psíquicasofridas pelo obreiro.

No presente caso, considerando-se que a empresa reclamada nãoimpugnou a alegação obreira de quepossuiu boa situação financeira, e ainda,que não impugnou o valor daindenização sob argumento contrário,mas com outros, os danos morfológicossofridos pelo autor, as suas condiçõessociais e o grau de culpa do empregador,fixo em R$50.000,00 o valor daindenização a ser pago por este, comjuros e correção monetária.

Por estes motivos reformo adecisão a quo.

Quanto aos honoráriosadvocatícios, devidos, em face daassistência sindical comprovada, nopercentual de 15%, na forma dasentença, como se apurar em liqüidação.

Pelo exposto, conheço do recursoe dou-lhe provimento para condenar areclamada a pagar ao reclamanteindenização por danos morais no importede R$50.000,00, com juros na forma dasentença e correção monetária a partir da

data do acidente e, ainda, honoráriosadvocatícios a favor do sindicato-assistente, na forma da sentença, comose apurar em liqüidação, invertendo-se osônus da sucumbência, acrescendo àcondenação o valor de R$50.000,00, comdiferença de custas de R$100,00.

Motivos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho, da TerceiraRegião, por sua Quinta Turma, àunanimidade, em conhecer do recursoe das contra-razões; no mérito, pormaioria de votos, em dar-lhe provimentopara condenar a reclamada a pagar aoreclamante indenização por danosmorais no importe de R$50.000,00, comjuros na forma da sentença e correçãomonetária a partir da data do acidente e,ainda, honorários advocatícios a favor dosindicato-assistente, na forma dasentença, como se apurar em liqüidação,invertendo-se os ônus da sucumbência,acrescendo à condenação o valor deR$50.000,00, com diferença de custasde R$100,00, vencido o Ex.mo JuizFernando Antônio de Menezes Lopesquanto à competência da Justiça doTrabalho e que reduzia a indenizaçãopor dano moral a 20 vezes o salário doreclamante.

Belo Horizonte, 19 de abril de1999.

FERNANDO ANTÔNIO DE MENEZESLOPES

Presidente

LEVI FERNANDES PINTORelator

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg. - Belo Horizonte, 29 (59):151-228, Jan./Jun.99

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TRT/RO-12526/98Publ. no “MG” de 17.04.1999

RECORRENTE: COMÉRCIO EINDÚSTRIA TOALHEIRO BRASILLTDA.

RECORRIDA: LUCIENE GUIMARÃESDA SILVA

EMENTA: ADICIONAL DEINSALUBRIDADE -DESATIVAÇÃO DO LOCAL DETRABALHO - PROVA TÉCNICAEMPRESTADA. É plenamentejustificável a utilização de provaemprestada para aferição deinsalubridade quando o local detrabalho foi desativado, nãopodendo a empresa atribuir aosempregados as conseqüênciasde suas decisõesadministrativas e os riscos donegócio, mormente quando seconstata a sonegação por parteda empresa de levantamentoambiental, existente na mesma,apesar de solicitado pelo perito.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos de recurso ordinário, emque é recorrente COMÉRCIO EINDÚSTRIA TOALHEIRO BRASIL LTDA.e recorrida LUCIENE GUIMARÃES DASILVA.

RELATÓRIO

A MM. 16ª JCJ de Belo Horizonte,sob a presidência do MM. Juiz Dr.SEBASTIÃO GERALDO DE OLIVEIRA,julgou a ação procedente em parte, paracondenar o reclamado ao pagamento dediferenças de horas extras, com a dobrado art. 467/CLT e reflexos e adicional deinsalubridade e reflexos.

Recurso ordinário do reclamado(f. 109/119), versando sobre quitação docontrato de trabalho, horas extras,adicional de insalubridade, dobra do art.467/CLT e honorários periciais.

Custas pagas e feito depósitorecursal (f. 120).

Contra-razões da reclamante (f.122/125).

A Procuradoria Regional, atravésdo parecer de f. 127, da lavra do Dr.Dennis Borges Santana, é peloprosseguimento do feito.

É o relatório.

VOTO

Admissibilidade

Conheço do recurso,regularmente processado.

MÉRITO

Quitação do contrato detrabalho - En. 330/TST

Diz que, através do TRCT, quecontou com a assistência sindical, foidada plena e geral quitação do contratode trabalho, na forma do En. 330/TST,nada mais podendo ser reclamado, querem relação a valores, quer em relaçãoàs parcelas nele discriminadas, o queacarreta a improcedência da ação.

Sem apoio. A quitação de quetrata o En. 330/TST diz respeito tão-somente às parcelas discriminadas notermo de rescisão do contrato de trabalho,que não tem o alcance pretendido peloreclamado, na presente ação, em que sepleiteia parcelas não abrangidas por ele,que não pode obstar o direito de ação,que é garantido constitucionalmente.

Nego provimento.

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg. - Belo Horizonte, 29 (59):151-228, Jan./Jun.99

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Diferenças de horas extras -Dobra do art. 467/CLT

Rebela-se contra as diferençasde horas extras, alegando que todasaquelas prestadas e anotadas noscartões de ponto foram pagas e não hápedido de horas extras relativas aintervalo intrajornada, como deferido,que, de acordo com a inicial, era de umahora diária, o que constitui julgamentoalém do pedido.

Aduz que, também é indevida adobra deferida, uma vez que não se tratade parcela incontroversa, nem de salárioem sentido estrito, como reza o art. 467/CLT, que deve ser interpretadorestritivamente.

Com razão em parte, a meu ver.A correção do registro da jornada

de trabalho nos cartões de ponto, queera considerado pelo reclamado paraapuração de horas extras, é fatoincontroverso e, se houve dias em que ointervalo de uma hora não foi cumprido,obviamente que tal circunstânciaimportará em excesso na jornada normalde trabalho; por via de conseqüência, odeferimento de horas extras além de 44semanais, apuradas através dos cartõesde ponto, não constitui julgamento alémdo pedido.

No que toca às diferençaspropriamente ditas, elas existem, comose vê, a título de exemplo, as horas extrasprestadas no mês de maio/95 (cartão deponto de f. 36, doc. 03), que superam asduas horas extras pagas no recibo do mêsde junho/95 (f. 41, doc. 04).

No entanto, tem razão oreclamado ao se insurgir contra a dobradeferida, que é devida somente em casode salário em sentido estrito sobre o qualnão paire controvérsia, o que não é ocaso das horas extras aqui deferidas.

Todavia, a Egrégia Turma, pormaioria de votos, negou provimento aorecurso também no que diz respeito àdobra do artigo 467, da CLT, aofundamento de que a existência dashoras extras decorre da análise doscartões de ponto juntados aos autos peloempregador, que delas tinha plenoconhecimento. Por isso, a simplescontestação ao pedido não configuracontrovérsia capaz de afastar aaplicação do disposto no artigo 467consolidado, que também deve incidirsobre as horas extras, tendo em vista asua inequívoca natureza salarial. Porisso, a r. sentença recorrida foi mantidapor seus próprios e jurídicosfundamentos.

Recurso desprovido.

Adicional de insalubridade

Aduz que o adicional deinsalubridade requer, por força de lei, arealização de perícia para afervento desua existência ou não, sendo inaceitávelo deferimento do pedido com base emlaudo emprestado, que diz respeito aoutro reclamante, que trabalhava emoutro setor da empresa, inclusive comoutras máquinas não utilizadas pelareclamante.

Sem base. Não encontra nenhumóbice legal, para aferição deinsalubridade, a consideração de períciarealizada em outro processo,plenamente justificável em face dadesativação do local de trabalho,mormente, quando o laudo apresentadonão é impugnado, e quando sonegado,pela empresa, levantamento ambientalfeito no local, como ocorreu no caso,conforme informação do perito à f. 81 dosautos.

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A medição do nível de ruído naUnidade Horto, em que a reclamantetrabalhou, no Setor de Calandra, daadmissão ao final de 1995, ficou, nahipótese dos autos, prejudicada, devidoà sua desativação no início de 1996.

No entanto, no laudo juntado coma inicial, às f. 08/17, e que não sofreuqualquer impugnação por parte doreclamado, onde as condições detrabalho eram as mesmas, inclusivequanto à desativação do local detrabalho já naquela ocasião, concluiuaquele perito que, naquela Unidade,apesar de desativada, os limites detolerância encontrados para o agenteruído, em outra perícia por ele realizada(f. 18/27), eram superiores ao permitido.Esclarece à f. 16 que, naquelaoportunidade, verificou que o galpão defuncionamento era pequeno, com todasas unidades funcionando próximas umasdas outras e que o ruído médioalcançava a ordem de 90,9 dB, portantosuperiores ao limite estabelecido na NR-15, da Portaria 3214.

Ora, se o local de trabalho era omesmo e os serviços prestados namesma época, nada impede que sejaconsiderado o levantamento ambientalfeito no local, naquela ocasião, já quequando da realização da perícia, nestesautos, verificou-se a impossibilidade demedição do agente insalubre, comoantes mencionado.

Por outro lado, não se podeadmitir que somente agora, em faserecursal, venha o reclamado impugnaro laudo apresentado com a inicial eque, de acordo com a conclusãodaquele perito, o local em que areclamante trabalhou é insalubre,sendo devido, por conseguinte, oadicional respectivo.

Nego provimento.

Honorários periciais

Diz que, não havendoconstatação de insalubridade atravésda perícia realizada, os honoráriospericiais constituem ônus da reclamantee, caso assim não se entenda, deve serreduzido o valor arbitrado, tendo emvista a simplicidade dos trabalhosrealizados.

Nada a reparar. A perícia, nestesautos, ficou prejudicada devido àdesativação do local de trabalho, mas oreclamado foi sucumbente no objeto daperícia, conforme as razões acimamanifestadas, o que, de acordo com oentendimento do En. 236/TST, atrai parasi o ônus pelo pagamento dos honoráriospericiais.

Quanto ao valor arbitrado, deveser mantido, sob duplo fundamento: auma, porque compatíveis com o zelo doprofissional na tentativa de obterinformações sobre as condições detrabalho a que era submetida areclamante e, a duas, porque a períciasomente não se realizou por culpa doreclamado, que deixou, apesar desolicitado, de apresentar ao perito olevantamento ambiental daquelaUnidade, existente na empresa,informação obtida através do Técnico deSegurança do Trabalho da empresa,como informado pelo perito à f. 81,documento, no dizer do MM. Juiz deprimeiro grau, imprescindível para odeslinde da questão, tendo em vista adesativação do local.

Nego provimento.

Fundamentos pelos quais,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, pela sua QuartaTurma, à unanimidade, conheceu do

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recurso; no mérito, por maioria de votos,negou-lhe provimento, vencidos,parcialmente, os Ex.mos Juízes Relator eMárcio Flávio Salem Vidigal.

Belo Horizonte, 17 de março de1999.

LUIZ OTÁVIO LINHARES RENAULTPresidente

ANTÔNIO AUGUSTO MOREIRAMARCELLINI

Relator

TRT/RO-9757/98Publ. no “MG” de 11.06.1999

RECORRENTE: CLEVERSON DASILVEIRA BORBA

RECORRIDA: EMPRESA BRASILEIRADE PESQUISA AGROPECUÁRIA- EMBRAPA

EMENTA: DISPENSA INJUSTAMOTIVADA. Não viola oprincípio da impessoalidade,objeto do art. 37, daConstituição Federal, eaplicável à Empresa Pública, adispensa sem justa causa deempregado que tem motivaçãoprópria, não encarnandodesvio de finalidade,abusividade e ou perseguição.

Vistos, relatados e discutidosestes autos de Recurso Ordinário,oriundos da MM. 2ª Junta de Conciliaçãoe Julgamento de Sete Lagoas, em quefiguram, como recorrente, Cleverson daSilva Borba, e como recorrida, EmpresaBrasileira de Pesquisa Agropecuária -EMBRAPA, como a seguir se expõe:

I - RELATÓRIO

“Ao de f. 559/561, que adoto,acrescento que a MM. 2ª JCJ de SeteLagoas julgou improcedente o pedido dedeclaração de nulidade de transferênciacumulado com o de reintegração noemprego; revogou a liminar concedidanos autos da ação cautelar incidente; ejulgou procedente a ação de consignaçãoem pagamento proposta pela empresa.

O Reclamante então recorre,insistindo no pedido de declaração denulidade da dispensa com a conseqüentereintegração, bem como seja aReclamada condenada a lhe pagar aremuneração referente ao período deafastamento, férias, 13º salário,recolhimento do FGTS, integração deaumentos salariais, se ocorreram, sendotodas as parcelas atualizadasmonetariamente e acrescidas de juros,tudo conforme razões de f. 571/586.

Recurso contrariado às f. 590/605.Parecer da d. Procuradoria que,

através da Drª Maria Christina DutraFernandez, opina pelo desprovimento doapelo.”

É o relatório, da lavra do i. Relator.

II - VOTO

1. Admissibilidade

Atendidos os pressupostos decabimento e admissibilidade, conheço dorecurso.

2. Mérito

A primeira matéria a examinar dizrespeito ao direito ao emprego comocausa da nulidade da despedida, o quede início diz respeito ao dever de serexaminada a questão da existência de

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estabilidade no emprego, por ser ela aprimeira objeção ao exercício do poderdo empregador de resilir o contrato detrabalho.

Como o recurso (f. 572),alegando a admissão na Recorrida em03.08.87, assevera que “na data acimareferida já contava lapso temporalsuperior a 05 anos de serviço público”,está mais que evidenciada anecessidade de se esgrimir a questãoestabilitária, mais ainda porque osprincípios iura novit curia e da mihi factodabo tibi jus dizem respeito à exigênciada parte expor os fatos, para que oDireito que lhes seja pertinente sejaaplicado.

Portanto, há que ser, mesmo,examinada a existência, ou não, daestabilidade.

Isto ponderado, há que seconsignar, sobretudo, que acircunstância do empregado de EmpresaPública ficar credenciado à celebraçãode contrato de trabalho em face deaprovação em prévio concurso público(art. 37, II/CF) não significa, e nãocorresponde de jure, que venha aadquirir estabilidade no emprego.

Isto porque a regra estabilitária doservidor concursado vir a ser alcançadapro tempore (dois anos de efetivoexercício, ou três anos de efetivoexercício com a Emenda Constitucional19, de 05.06.98) diz respeito,exclusivamente, ao vínculo de naturezaestatutária, ou relação de direitoadministrativo.

Em se tratando de EmpresaPública, inclusive por decorrênciaexpressa da norma constitucional (art.173, § 1º - tanto na redação da Carta de1988, como na redação da Emenda n.19, de 05.06.98, agora pelo seu incisoII), o regime trabalhista do seu pessoal

é exclusivo dessa Entidade daAdministração Indireta, ao qual, tal comoveiculado impositivamente no art. 7º, doEstatuto Fundamental, o FGTS temaplicação e, assim, não tem comoconcorrer e ou suplementar a matéria deestabilidade em regime jurídico diversoe distinto.

Em outras palavras, o art. 41, daCarta Federal, não é incidente e ouaplicável a empregado concursado deEmpresa Pública, intelecção, aliás, quetem como fonte a afirmação do ExcelsoSupremo Tribunal Federal, com o lastroda competência fixado no art. 102, doDiploma em comento, pela ADIN 112-BA, RTJ 157/737, proclamando que taldispositivo não compreende osempregados de empresas públicas e desociedades de economia mista.

Este entendimento, que na base,ou princípio, tem a ver com a aplicaçãodo primado do art. 39, da Lei Fundamental- onde o alcance é estrito do regimeestatutário, sem prejuízo do legisladorconstituinte ter, filologamente, consentidoconceituar os então funcionários públicoscivis como servidores - não é pioneiro,como se pode perceber com os seguintesexemplos:

“SERVIDOR PÚBLICOCELETISTA DE ENTE DAADMINISTRAÇÃO INDIRETA -ADMISSÃO POR CONCURSOPÚBLICO - ESTABILIDADE. Nãohavendo norma que outorgue,expressamente, a estabilidade aservidor público celetista admitidomediante concurso público, emente da Administração Indireta,não são eles destinatários de talgarantia.” (TRT - 3ª Região, RO-6.785/95, 1ª Turma, Rel. JuízaMônica Sette Lopes, DJ 26.01.96)

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“O art. 41, da CF de 1988, aplica-se aos servidores públicosestatutários, e não aos celetistas,sob pena de conceder a estesdireitos incompatíveis, como porexemplo, a estabilidade a que serefere tal artigo e o FGTS a quealude o art. 7º, II, da CartaMagna.” (TRT - Paraná, RO-15.486/93, Rel. Juiz Armando deSouza Couto, Ac. 1ª Turma 6.920/95, in Nova Jurisprudência emDireito do Trabalho, ValentinCarrion, Editora Saraiva, 1995, 2ºSemestre, p. 479, n. 2.990)

“A contratação de empregadoprecedida de concurso é formaseletiva de recrutamento depessoal e, por si só, nãopressupõe garantia deemprego...”. (TST/ SDI, Min.Ursulino Santos, in NovaJurisprudência em Direito doTrabalho, Valentin Carrion,Editora Saraiva, 1996, 1ºSemestre, pp. 616/618, n. 3.905)

Tanto mais pela atiladaobservância dos PRINCÍPIOSCONSTITUCIONAIS, que a MestraCÁRMEM LÚCIA ANTUNES ROCHA(Princípios constitucionais daadministração pública, Editora Del Rey,1994) avulta:

“Os princípiosconstitucionais têm uma funçãopositiva e outra negativa. A suafunção positiva consiste emafirmar a diretriz e o conteúdo dossubprincípios e do regramentojurídico que se põe à observânciados membros da sociedadeestatal.

Conteúdo de todas asregulações jurídicas, osprincípios constitucionaisconsistem em ponto de partida eponto de chegada de todas asinterpretações das normas, metado sistema posto. Então, oconteúdo de toda norma que oforma deve com eles seidentificar, afirmando-se a suavalidade pela sua coerência ecompatibilidade com eles.

A função negativa dosprincípios constitucionaisconsiste em rejeitar a introduçãono sistema normativo de qualquerconteúdo que se contraponha ouse incompatibilize com o quantoneles é estabelecido. No primeirocaso, tem-se a imperiosidade dainclusão, expressa ou implícita,na ordem normativa do conteúdoprincipiológico constitucional, detal modo que se lhe assegureconcretude e ampliação douniverso ao qual se aplique e selhe dê cumprimento. Na segundafunção, tem-se a imposição daexclusão, no sistema jurídico, deconteúdo que se contraponhaaos princípios acolhidosconstitucionalmente.

[...]Pilares mestres do

sistema constitucional, osprincípios constitucionaisdecorrem da razão que aquelaprojeta, para realizar, segundo oDireito, o seu ideal de Justiçamaterial”.

Então, simplificadamente, há quese verificar que aquele art. 41 insere-sena Seção II, do Capítulo VII, o qualestritamente dispõe sobre a

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Administração Pública, exteriorizandonormas específicas e particularizadasDOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS(apreenda-se funcionários estatutários),ordenando o regime jurídico único paraos Servidores da Administração PúblicaDireta, das Autarquias e das FundaçõesPúblicas (vale dizer, relação jurídicaregida pelo direito público ouadministrativo enquanto só a este tempertinência o regime jurídico único e, nãopela lei trabalhista), do que resulta quenão há destrato dos próprios princípiosmandamentais, e da própria ordemlógico-sistêmica da Norma Fundamental.

De resto, aquela disposição doart. 7º, voltada aos trabalhadoresempregados (que não são os, nem seconfundem com, Servidores PúblicosCivis), do FGTS, captadasubstitutivamente como erradicação daestabilidade em emprego.

Dessa sorte, a alegação de jácontar mais de cinco anos de serviçopúblico ao tempo da admissão naReclamada em 03.08.97, é de nenhumalcance e, inobstante não logrecomprovação, não teria condição jurídicade influir no cômputo do tempo de serviçoao fim da estabilidade, quando ainda selembra que no art. 19, do ADCT, daConstituição Federal de 1988, não seincluiria o Reclamante diante daestritividade desta disposição de caráterexcepcional (dirigida a servidorespúblicos civis da administração direta,autárquica e das fundações públicas,exaustivamente).

Deste modo, não há falar emestabilidade do Reclamante-Recorrente.

Isto dirimido, segue-se a matériaalusiva à incidência do art. 37, da CartaMagna, na linha da indispensabilidade doato motivado, que o Reclamante sustentae, a meu ver, d.v., com integral razão.

Com efeito, a circunstância de seestar defronte de Empresa Pública, ououtra Entidade da Administração PúblicaIndireta, por lhes endereçar o tecidoconstitucional o regime de empresaprivada e o da legislação trabalhista emface dos respectivos quadros depessoal, não tem nessa indicação umaexaustão.

É que não se perde de vista oprincípio apreensivo de todos os Entesda Administração Pública, direta eindireta, serem alcançados pelo art. 37da Carta, onde timbrada a exigência daimpessoalidade, ainda persistente coma Emenda n. 19, de 1998.

Inconciliável seria a observânciade um inciso daquele art. 37 (II -concurso público para admissão ememprego público) desgarrado do caput,mais porque aquele é conseqüênciadeste, tal como assim enunciado na suaparte final (e, também, ao seguinte).

O rol de disposições é o mínimoda atenciosa derivação do caput,cabendo lembrar que a este correspondeo significado da parte de abertura de umalei ou de qualquer de seus artigos,enquanto inciso é cada uma das divisõesou subdivisões de um dispositivo legal(apud Dicionário Jurídico da AcademiaBrasileira de Letras Jurídicas, ForenseUniversitária, 3ª edição).

Como proclamado pela ExcelsaCorte que o art. 173, § 1º, da ConstituiçãoFederal, não prejudica e ou afasta aobservância do art. 37, do mesmoDiploma, irrecusável, d.v., a apreensãodeste na espécie.

A impessoalidade, diziam ospublicistas, era a característica dageneralidade própria da lei, indicandoque sua regência se dava semdeterminação de pessoas. Quando olegislador constituinte tomou esse

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princípio, aliás vertido ao direito público,explicitando-o no Diploma de 1988,assentou o óbice de os atos dos Entes eEntidades da Administração Pública(direta e indireta) atuarem comoexteriorização de vontade dirigente.

Como observa JOSÉ AFONSODA SILVA, “Os atos e provimentosadministrativos são imputáveis não aofuncionário que os pratica, mas ao órgãoou entidade administrativa daAdministração Pública, de sorte que eleé o Autor institucional do ato.”

CELSO BASTOS, dizendo que“Toda vez que o administrador praticaalgum entorce na legislação paraabranger uma situação por ela nãocolhida ou para deixar de abarcar umaoutra naturalmente inclusa no modelolegal, a Administração está se desviandoda trilha da legalidade”, arremata:

“O campo por excelênciaem que medra o atentado àimpessoalidade é o dadiscricionariedade. Aqui, aomoldar o seu comportamento,cabe a prática da escolha de umato que melhor atenda afinalidade legal. Nesta ocasião éque o administrador pode sertentado a substituir o interessecoletivo por considerações deordem pessoal (favorecimento ouperseguição). A introduçãodestes elementos estranhos àpreocupação legal macula, semdúvida o ato do víciotecnicamente chamado de desviode finalidade ou abuso de poder.O ato torna-se arbitrário. Oprimado da lei cede diante daconveniência do administrador.”(Comentários à ConstituiçãoFederal, Saraiva, 3º v., pp. 34/35)

CRETELLA JÚNIOR (DireitoAdministrativo, Forense, 5ª ed.) expõe,com clareza, o alcance do instituto:

“A expressão desvio depoder, também conhecida pelosnomes de excesso de poder,abuso de poder, desvio definalidade, é constituída de doistermos bem distintos - desvio epoder - ligados pelo conectivopreposicional e, ambos, comsentido técnico que é precisoaclarar.

Desvio é afastamento,mudança de direção, distorção;poder é faculdade, competênciapara decidir determinadoassunto. Desvio de poder éexpressão que, à letra, portanto,significa: afastamento na práticade determinado ato; poderexercido em sentido diferentedaquele em vista do qual foraestabelecido.

A autoridade que temcompetência ou poder para aedição de determinado ato,manifesta sua vontade,praticando-o, dando-lhenascimento, mas nessa operaçãoerra de alvo, afasta-se do fimcolimado para perseguirfinalidade diversa da visada.Incide no desvio de poder.”

Pois bem.Assentado que o princípio da

impessoalidade tem incidência, adenúncia do Reclamante é exatamentede que a sua dispensa foi feita emagressão a tal dogma, pelo que se háde a isto examinar.

Em sede de fato, visível que oAutor, ao contrário do que alega, d.v.,

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foi quem buscou a prevalência dointeresse pessoal - o que se pode atalharcom a indicação da pretensão denatureza política solicitando que, à suaacomodação em Sete Lagoas, ondeestruturou sua vida pessoal e familiar,inclusive com aquisição de casa própria,a Presidência da Reclamada, emBrasília, estudasse a possibilidade derevisão do processo de sua transferência(ofício do Secretário Geral doGovernador do Estado de Minas Gerais,f. 64, vindo com a inicial). O telex cujacópia está à f. 65, da Presidência daRepública, também retrata a mesmatrilha.

A Reclamada, pela sua próprianatureza jurídica e pelas metasprogressistas cada vez maisnecessárias, cuidou de realizar umestudo de planejamento - poderíamosdizer - de otimização.

Como evidenciado com larguezanos autos, seus levantamentossinalizaram melhor resultado às suasatividades e finalidades com oremanejamento de localidade, doReclamante. Este, que ingressou naempresa no Rio Grande do Sul, e queveio trabalhar em Sete Lagoas/MG,retornaria àquele, onde seu trabalho degrande valor prosseguiria, o quepropiciaria a busca daquelesdesideratos.

E eis que o Reclamante passa aver nisto uma represália, pelo que faz adenúncia de sua dispensa serdetratadora do primado daimpessoalidade.

Neste aspecto é que o obreiroincide em erro, porque a Reclamada nãoatuou com qualquer mácula em seusprocedimentos.

Ele, empregado originário doEstado sulino, a tal retornaria,

contribuindo com a empregadora nabusca daquela otimização, levantadoque havia sido que dois técnicos damesma área em Sete Lagoas não tinhajustificativa e resultado.

A solução da transferência,então, veio adequadamente posta, e oReclamante, embora entrasse emafastamentos por direitos que lhe foramreconhecidos (e nunca turvados), tentouarticulações para reverter aquela atitudeda empregadora, sem obter êxito.

É evidente que articulações decunho político, em se transitando naesfera da Administração Pública, sãoabsolutamente legítimas. Aliás, fiquebem claro que programas de Governosão políticos, donde nada mais naturalque ações políticas sejam praticadas naorla da Administração Pública, em todosos níveis.

Quando se tem como exemploaqueles apontados, que vieram ao feito,e a Reclamada mantém aquele resultadoa que a otimização chegara, nem sepoderia por em dúvida da maiorseriedade que cercava o assunto.Porque questões de substância sãoaquelas cujas trilhas não consentemvariação, pena de comprometimento doobjetivo da própria Entidade e, querendo-se ou não, em nosso País tais situaçõesdeixaram, há tempos, de ser moldadasaos meros interesses políticos.

O fato, pois, é que a Reclamadanão procedeu, em face do Reclamante,com olvido ou transgressão do princípioinsculpido no art. 37, da Norma Maior.Ao contrário, e sem que se possa criticar,manteve o plano para buscar resultados,o que se faz imperioso, além denecessário, porque já passou o tempodo desperdício pela acomodação e nãoenfrentamento da missão matar queconduziu à criação da Empresa Pública.

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O resgate da consecução dos finslegítimos é, noutras palavras, o quesedimenta o procedimento daempregadora diante do ora Recorrente,enquanto, d.v., os interesses individuaisdeste é que se contrapõem àqueles.

A dedução da Reclamada terinvestido no Reclamante, do que é marcoinsuperável o título do ápice curricular(PHD), é questão que não tem como sejaobjeto de tergiversação.

A empregadora não pretendeulivrar-se do Autor. Muito ao contrário,buscou que ele prosseguisse naatividade funcional, com adequaçãoàquele cenário apurado indispensávelpara a própria continuidade da empresa.

Assacar o investimento no título,contra a Reclamada, é a premissa queencaminha a inicial ao juízo de valorequívoco.

Feitas as tentativas, com aresistência intransigente do obreiro, asolução da despedida é, mesmo,impessoal e motivada, inteiramentedivorciada da órbita de transgressãodaquele princípio que é pilar deprocedimento da Entidade daAdministração Pública Indireta. Enfim,desvio ou ato subalterno inexistem.

Deve-se salientar que tais fatosresultam demonstrados, inclusive pelaprova oral, razão porque a conclusão aque chegou a r. sentença -improcedência do pedido de nulidade detransferência cumulado comreintegração no emprego - faz-seirretocável.

Portanto, com os fundamentosexpendidos, conquanto distintos dos dar. sentença, desprovejo o recurso.

Não viola o princípio daimpessoalidade, objeto do art. 37, daConstituição Federal, e aplicável àEmpresa Pública, a dispensa sem justa

causa de empregado que tem motivaçãoprópria, não encarnando desvio definalidade, abusividade e ouperseguição.

III - CONCLUSÃO

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da TerceiraRegião, por sua Segunda Turma,unanimemente, em conhecer do recurso;por maioria de votos, vencido o Ex.mo JuizRelator, em negar-lhe provimento.

Belo Horizonte, 18 de maio de1999.

ANTÔNIO FERNANDO GUIMARÃESPresidente, Revisor e Redator

TRT/RO-6390/98Publ. no “MG” de 27.03.1999

RECORRENTES: REDE FERROVIÁRIAFEDERAL S/A (1)FERROVIA CENTRO ATLÂNTICAS/A (2)

RECORRIDOS: OS MESMOS (1)BALTAZAR MODESTO DA SILVAE OUTRO (2)

EMENTA: APOSENTADORIAESPONTÂNEA - NÃOEXTINÇÃO DO CONTRATO DETRABALHO. Com a edição daLei 8.213, de 24.07.91, quedispõe sobre os Planos deBenefícios da PrevidênciaSocial, a aposentadoria portempo de serviço já não podemais ser considerada como umdos modos clássicos de

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extinção do contrato detrabalho. Estabelece in verbis oartigo 49, da Lei 8.213/91: “Art.49. A aposentadoria por idadeserá devida: I - ao seguradoempregado, inclusive aodoméstico, a partir: a) da datado desligamento do emprego,quando requerida até essa dataou até 90 (noventa) dias depoisdela; ou b) da data dorequerimento, quando nãohouver desligamento doempregado ou quando forrequerida após o prazo previstona alínea ‘a’”. De tal dispositivoconclui-se que não há maisqualquer exigência de que oempregado se desligue doemprego, para fim de obter aconcessão da aposentadoria.Por sua vez, o caput do artigo453, da CLT, (na redação dadapela Lei n. 6.204/75) não visou,em absoluto, estabelecerqualquer hipótese de cessaçãodo contrato de trabalho massim, apenas, tratar do cômputode períodos, mesmo quedescontínuos, trabalhados porempregado que tenha sidoreadmitido e fixar os casos emque a soma desses períodosnão poderá ocorrer. Talentendimento ainda mais restoureforçado pelas recentesdecisões do Excelso SupremoTribunal Federal que,concedendo liminares emMedidas Cautelares em AçõesDiretas deI n c o n s t i t u c i o n a l i d a d e ,suspenderam a eficácia dos §§1º e 2º acrescentados ao mesmodispositivo da Consolidação

Laboral pela Lei n. 9.528/97,diante de possíveis violaçõesao artigo 7º, I, da Constituiçãoda República, por terem“instituído modalidade dedespedida arbitrária, semindenização” e porpressuporem “a extinção dovínculo empregatício comoconseqüência da aposentadoriaespontânea”, ao mesmo tempoem que ali se reconheceu que“a relação mantida entre oempregado e a instituiçãoprevidenciária não se confundecom aquela que o vincula aoseu empregador”. (ADIn MC n.1.721 - DF, Relator Ministro IlmarGalvão e ADIn MC n. 1.770 DF,Relator Ministro Moreira Alves,apud Informativos n. 97 e n. 110,do STF)

Vistos, relatados e discutidosestes autos de Recurso Ordinário, emque figuram como recorrentes REDEFERROVIÁRIA FEDERAL (1) EFERROVIA CENTRO ATLÂNTICA S/A(2) e como recorridos OS MESMOS (1)e BALTAZAR MODESTO DA SILVA EOUTRO (2).

RELATÓRIO

A MM. 10ª Junta de Conciliaçãoe Julgamento de Belo Horizonte/MG, soba presidência da Ex.ma Juíza do Trabalho,Drª Paula Borlido Haddad, através da r.decisão de f. 520/533, declarou extintosem julgamento do mérito o pleito sobrediferenças do FGTS, tendo em vista alitispendência acolhida, e julgouprocedentes, em parte, os demaispedidos, condenando a reclamadaFERROVIA CENTRO ATLÂNTICA S/A

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incabível a condenação relativa aoadicional de insalubridade, sendoindevidos seus reflexos, visto tratar-sede parcela indenizatória; que não há quese falar em pagamento de verbasrescisórias, visto que a causa da rupturado pacto laboral foi a aposentadoriarequerida voluntariamente pelos autores.

Os reclamantes, às f. 574/582,ofereceram contra-razões aos apelos.

O Ministério Público do Trabalho,mediante o parecer de f. 586, da lavrada Drª Maria de Lourdes Queiroz, opinoupelo conhecimento e provimento parcialdos apelos.

É o relatório.

VOTO

Admissibilidade

Conheço dos recursos, porpróprios e tempestivos, satisfeitos osdemais requisitos legais deadmissibilidade.

Ressalte-se que os recursosserão analisados conjuntamente vistoversarem sobre as mesmas matérias.

Ilegitimidade passiva adcausam das reclamadas

Ambas as reclamadas se dizempartes ilegítimas para figurarem no pólopassivo da demanda. A REDEFERROVIÁRIA FEDERAL S/A porquetransferiu toda a sua atividade produtivapara a primeira demandada, FERROVIACENTRO ATLÂNTICA S/A, sendo o casode sucessão trabalhista, e esta últimaporque aquela continua existindo e acontrario sensu, não há de se falar emsucessão.

Na hipótese de serem mantidasna lide, a primeira reclamada requer seja

e subsidiariamente a reclamada REDEFERROVIÁRIA FEDERAL S/A a pagaraos reclamantes, BALTAZARMODESTO DA SILVA e JUDAS TADEUMODESTO SILVA, as parcelas deferidasnos fundamentos, observadas aprescrição acolhida e a compensaçãoautorizada. Condenou, ainda, asdemandadas ao pagamento doshonorários periciais, fixados emR$1.000,00.

As reclamadas aviaramembargos de declaração, f. 534/535 e536/537, sendo que os embargos dasegunda demandada foram julgadosimprocedentes enquanto que os daprimeira reclamada procedentes, a fimde declarar que os índices de correçãomonetária aplicáveis são os do mês daprestação da atividade.

A reclamada REDEFERROVIÁRIA FEDERAL S/A opôs orecurso ordinário de f. 545/551,sustentando, em linhas gerais, que nãosão devidos o adicional de insalubridadee seus reflexos; que os honoráriospericiais devem ser reduzidos; que aaposentadoria voluntária extingue ocontrato de trabalho, razão por que nãohá que se falar em pagamento de verbasrescisórias; que os índices de correçãomonetária aplicáveis são os do mêssubseqüente; que sua responsabilidadese restringe aos eventuais créditosrelativos ao período anterior à sucessãoocorrida em 02.09.96.

A demandada FERROVIACENTRO ATLÂNTICA S/A tambéminterpôs recurso ordinário, f. 554/569,asseverando, em síntese, que não éparte legítima passiva, devendo serexcluída da lide; que, na hipótese de nãoprevalecer este entendimento, a REDEFERROVIÁRIA FEDERAL S/A deveresponder solidariamente; que é

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a segunda demandada responsabilizadasolidariamente e esta, por sua vez,postula a limitação de suaresponsabilidade ao período anterior àsucessão ocorrida em 02.09.96.

Em decorrência de licitaçãopública, sob a modalidade de Leilão, asreclamadas celebraram contrato dearrendamento, por meio do qual aFERROVIA CENTRO ATLÂNTICA S/A,saindo-se vencedora, tornou-seconcessionária para a exploração edesenvolvimento do serviço público detransporte ferroviário de carga na faixade domínio da Malha Centro Leste. Oreferido contrato foi celebrado em01.09.96, ao passo que os reclamantestiveram seus contratos rescindidos em02.09.96, conforme se verifica nosTRCTs de f. 10 e 18, que se achamassinados pela FERROVIA CENTROATLÂNTICA S/A.

Não há dúvida, portanto, de queocorreu uma “sucessão trabalhista” entrea REDE FERROVIÁRIA FEDERAL S/A(sucedida) e a FERROVIA CENTROATLÂNTICA S/A (sucessora). Dessaforma, não há como afastar-se aresponsabilidade de nenhuma dessasempresas pelos débitos trabalhistas.Dispõe o artigo 10, da CLT, que“Qualquer alteração na estrutura jurídicada empresa não afetará os direitosadquiridos por seus empregados”,acrescentando o artigo 448 que “Amudança na propriedade ou na estruturajurídica da empresa não afetará oscontratos de trabalho dos respectivosempregados.” Ao redigir tais dispositivos,pretendeu o legislador, simplesmente,preservar o contrato de trabalho,garantindo o empregado nessastransformações que se operam sem asua intervenção. Não houve a intençãode eximir de responsabilidade o

empregador anterior, liberando-o desuas obrigações, o que seria até mesmoimoral, data venia.

Figure-se o seguinte exemplo(que na prática ocorre freqüentemente);o empregador, financeiramente bem,desiste do negócio. Mas, para tanto, devepagar altas indenizações aos seusempregados. Prefere, por isso, transferi-lo a outro interessado que, estando emcondições precárias, aceita oestabelecimento. O prejuízo para ostrabalhadores é evidente e se traduz naperda de segurança: o responsável pelosseus direitos adquiridos era uma empresaforte e, agora, passa a ser o empregadoreconomicamente ou moralmenteinidôneo. Ora, entender-se que osucedido se desonera equivale ainterpretar aqueles dispositivos legais deforma flagrantemente contrária à suafinalidade, que é a de proteger os obreirosdentro desse quadro de transformações.

Quanto ao sucessor, eximi-lo deresponsabilidade seria, a fortiori,hipótese ainda mais absurda, na medidaem que a sucessão é, por excelência,uma assunção, não apenas de direitos,mas também de obrigações e débitos.

Trata-se, aqui, de dar aplicaçãoprática a um dos princípios próprios doDireito Processual do Trabalho: aqueleque WAGNER GIGLIO, com muitapropriedade, chama de “princípio dadespersonalização do empregador”,lembrando que, sob sua inspiração, “Sãoos bens materiais e imateriaiscomponentes do empreendimento queasseguram a satisfação do julgado” e que“A ação trabalhista visa, concretamente,atingir a empresa, muito emboraendereçada, formalmente, à pessoa físicaou jurídica que a dirige ou explora.” (InDireito Processual do Trabalho, 9ª ed.Ver. E amp., LTr, 1995, p. 107)

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Destarte, a Consolidaçãosimplesmente concedeu ao empregado agarantia de voltar-se contra quem possuira empresa para facilitar-lhe e garantir-lheo recebimento de seus créditos, nãohavendo obstáculo na lei que impeça oempregado de propor ação contra oempregador anterior ou mesmo contraambos, como se fez no caso em apreço.A solidariedade aqui se configura, emdecorrência de tudo o que até aqui se dissee, portanto, da aplicação do disposto noscitados artigos 10 e 448, da CLT.

É verdade que, pela lei civil, osucessor, uma vez condenado aopagamento de débitos trabalhistas dosucedido, pode contra este propor açãoregressiva, como também assegura, nocaso em exame, o Edital de Licitação.Mas isso não interessa de forma algumaao direito do trabalho, que, em tais casos,tem como única preocupação a proteçãodo empregado, não permitindo, emabsoluto, que o trabalhadorhipossuficiente fique à mercê demanobras de toda a espécie. Em outraspalavras, aqui não tem eficácia, nemproduz qualquer efeito, cláusula particularde exoneração de responsabilidadeeventualmente ajustada entre o antigo eo novo empregador. O preceito, de ordempública, que assegura os direitostrabalhistas em tais hipóteses resulta nainvalidade de qualquer disposição devontade das partes em sentido contrário.

De todo o aqui exposto, exsurge,cristalinamente, que a sucessão, nocampo do direito do trabalho, temcontornos muito distintos da sucessãono direito comum, onde o sucedido sedesonera e o sucessor se obriga, ficandoeste último sub-rogado em todas asobrigações do primeiro. Por isso mesmo,aliás, não é pertinente, para fins dedelineamento da sucessão trabalhista,

pretender promover a simples migraçãodas normas e princípios do Direito Civile Comercial para a hipótese em exame.Na esfera trabalhista, ambos continuamsolidariamente responsáveis peloscréditos dos empregados relativos aoperíodo anterior à alteração napropriedade, na titularidade ou naestrutura da empresa. A quemefetivamente pagar tais débitostrabalhistas caberá a possibilidade de,na esfera civil, buscar seu ressarcimentojunto a seu litisconsorte.

Assim sendo, apenas umpequeno reparo merece a decisãorecorrida, no concernente àresponsabilidade da REDEFERROVIÁRIA FEDERAL, que deve sersolidária, e não subsidiária.

Provejo parcialmente o apelo dareclamada FERROVIA CENTROATLÂNTICA S/A, a fim de reconhecer aresponsabilidade solidária da REDEFERROVIÁRIA FEDERAL S/A.

Adicional de insalubridade -Reflexos

A decisão recorrida estáalicerçada no bem elaborado laudopericial de f. 448/461 e nosesclarecimentos prestados pelo expert,às f. 481/483, que deixam patenteado,com riqueza de detalhes que os autores,no desempenho de suas funções,estavam sujeitos, não apenas ao agentefísico ruído (a respeito do qualsilenciaram por completo os recursos),a agente químico, este em razão detransportarem e distribuírem, ao longodos trechos de trabalho, dormentesrecém-preparados, imunizados esaturados com creosoto, situações quecaracterizam, respectivamente,insalubridade em grau médio e máximo.

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Acrescente-se, quanto ao agentequímico, que a situação dos reclamantesse insere, segundo o louvado, nodisposto no Anexo II, da NR 15, sendo,ainda, de se salientar, que a intermitênciano contato com tal agente, não afasta odireito à percepção do correspondenteadicional (Enunciado 47, do C. TST).

Relativamente aos reflexos doadicional em apreço, são devidos, vistoque o adicional de insalubridade pagoem caráter permanente integra aremuneração para todos os fins(Precedente n. 102, da SDI/TST).

Nada há a prover.

Honorários periciais

Para a fixação dos honoráriospericiais, deve ser considerado otrabalho desenvolvido, sua qualidade,complexidade e o tempo demandado.

Com base nesses fatos, éimperativo o reconhecimento de que nocaso vertente, tais critérios foramobservados pela MM. Juntasentenciante.

Logo, mantém-se a decisão,neste particular.

Verbas rescisórias -Aposentadoria

Insuscetível de modificação a r.decisão recorrida, neste particular.

Data venia de opiniõescontrárias, filio-me à corrente que perfilhao entendimento no sentido de que aaposentadoria espontânea não constituicausa de extinção do contrato detrabalho, se o empregado continuatrabalhando sem qualquer solução decontinuidade após a concessão de suaaposentadoria, pois é antinatural eincompatível com a realidade da

prestação de serviços e com o princípioda continuidade das relações deemprego a dupla ficção jurídica de queseu primeiro contrato de trabalho foirescindido e, ato contínuo, ocorreu suareadmissão ao emprego.

No caso em exame éinquestionável que os reclamantesrequereram, espontaneamente, suasaposentadorias junto ao INSS não seafastando de suas funções, comopermitido pelo artigo 54 combinado como artigo 49, I, “b”, ambos da Lei n. 8.213/91, tendo as aludidas aposentadoriassido deferidas conforme cartas deconcessão de f. 12 e 20.

Com a edição da Lei n. 8.213, de24.07.91, que dispõe sobre os Planos deBenefícios da Previdência Social, aaposentadoria por tempo de serviço jánão pode mais ser considerada como umdos modos clássicos de extinção docontrato de trabalho.

Estabelece in verbis o artigo 49,da Lei n. 8.213/91:

“Art. 49. A aposentadoria poridade será devida: I - ao seguradoempregado, inclusive aodoméstico, a partir:a) da data do desligamento doemprego, quando requerida atéessa data ou até 90 (noventa)dias depois dela; oub) da data do requerimento,quando não houver desligamentodo empregado ou quando forrequerida após o prazo previstona alínea ‘a’”.

De tal dispositivo conclui-se quenão há mais qualquer exigência para queo empregado se desligue do emprego,para fins de obter a concessão dobenefício.

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Dessa forma, se já não há maisinterferência do contrato em vigor sobrea concessão da aposentadoria (a não serpara efeitos de fixação da data de iníciodo benefício, nos termos do artigo acimatranscrito, em contrapartida tambémdeixou de haver interferência daconcessão da aposentadoria na vigênciado contrato de trabalho em vigor de seubeneficiário.

A norma inscrita no artigo 453, daCLT, não tem o alcance que lhe pretendeconferir a recorrente, na medida em quenão trata, em absoluto, de hipóteses decessação compulsória do contrato detrabalho. Sua simples leitura demonstraque ela apenas estabelece as hipótesesem que o empregado quando readmitido,terá o tempo de serviço anteriorcomputado. Note-se que o texto de taldispositivo fala expressamente emreadmissão, sendo somente aplicável,pois, no caso de ter o empregado seaposentado em situação prevista pelaletra “a”, do inciso I, do artigo 49, da Lein. 8.213/91, nada além disso.

Quanto aos §§ 1º e 2º inseridosno artigo 453, da CLT, pela Lei n. 9.528,publicada em 11.02.97, tiveram suaeficácia suspensa, através de liminarconcedida pelo Egrégio SupremoTribunal Federal.

A respeito dessa questão,acrescente-se, por oportuno, trecho doartigo da Juíza do Tribunal Regional doTrabalho da 10ª Região, Drª HeloísaPinto Marques, publicado na RevistaTRT, 10ª R. Brasília, V. 7., n.7., jan./dez.1997, pp. 21/26:

“Com a edição da Medida Provisórian. 153, de 14.10.96, pretendeu-seque a aposentadoria voluntáriaextinguisse o contrato de trabalho,ao estabelecer que ‘O ato de

concessão de benefício deaposentadoria importa extinção dovínculo empregatício’ (art. 148). AMP n. 1523 teve treze edições, comquatro alterações. A 12ª edição, de25.09.97, estabelecia, em seu art.4º, que ‘Na aposentadoriaespontânea de empregados dasempresas públicas e sociedades deeconomia mista é permitida suareadmissão desde que atendidosaos requisitos constantes do art. 37,inciso XVI, da Constituição, econdicionada à prestação deconcurso público’. Esta MP veio aser mais uma vez reeditada (MP n.1523-13, de 23.10.97), perdendo,todavia, sua eficácia, vez que nãofoi transformada em lei, conformeinformações da página do SenadoFederal na Internet. A MP n. 1596,de 10.11.97, todavia, convalidou osatos praticados com base nasdiversas edições da MP n. 1523 (art.13), vindo a ser convertida na Lei n.9.528, publicada em 11.12.97 queintroduziu, em seu art. 3º, os §§ 1ºe 2º, do artigo 453, da CLT, com oseguinte teor:Parágrafo 1º Na aposentadoriaespontânea de empregados dasempresas públicas e sociedades deeconomia mista é permitida suareadmissão desde que atendidosaos requisitos constantes do art. 37,inciso XVI, da Constituição, econdicionada à prestação deconcurso público.Parágrafo 2º O ato de concessãode benefício de aposentadoria aempregado que não tivercompletado 35 anos de serviço, sehomem, ou trinta, se mulher,importa em extinção do vínculoempregatício.”

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O § 2º, do artigo 453, teve suaeficácia suspensa, em 19.12.97, por liminarconcedida em medida Cautelar em AçãoDireta de Inconstitucionalidade (ADIn MCn. 1.721-DF), pelo C. Supremo TribunalFederal, porque inibiria o exercício dodireito à aposentadoria proporcional (art.202, § 1º), vislumbrando-se, ainda,possível violação ao art. 7º, I, da Lei Maior,na medida em que a norma impugnadainstituíra modalidade de despedidaarbitrária, sem indenização. Segundo oInformativo n. 97, da Presidência doSupremo Tribunal Federal:

“Prevaleceu o voto do Min. IlmarGalvão, Relator, no sentido de quea norma impugnada instituíramodalidade de despedidaarbitrária, sem indenização,ofendendo, à primeira vista, o art.7º, I, da CF (‘São direitos dostrabalhadores urbanos e rurais,além de outros que visem àmelhoria de sua condição social: I- relação de emprego protegidacontra despedida arbitrária ou semjusta causa, nos termos de leicomplementar, que preveráindenização compensatória, dentreoutros direitos’), já que a relaçãomantida entre o empregado e ainstituição previdenciária não seconfunde com aquela que o vinculaao seu empregador. De outraparte, considerou-se juridicamenterelevante a alegação deinconstitucionalidade por aparenteofensa ao artigo 202, § 1º, da CF(‘É facultada aposentadoriaproporcional, após trinta anos detrabalho, ao homem, e após vintecinco, à mulher’), tendo em vistaque o preceito atacado inibiria oexercício do direito à

aposentadoria proporcional,assegurado constitucionalmenteaos trabalhadores.”

O mesmo ocorreu com o § 1º, doart. 453, que também teve sua eficáciasuspensa pelo Excelso Pretório, aodeferir, na assentada de 14.05.98, opedido de Medida Cautelar em AçãoDireta de Inconstitucionalidade (ADIn MCn. 1.770-DF, Rel. Min. Moreira Alves), porvislumbrar inconstitucionalidade noaludido parágrafo “... uma vez quepressupõe a extinção do vínculoempregatício como conseqüência daaposentadoria espontânea”, havendoponderado a suprema Corte “... aconveniência da suspensão cautelar danorma impugnada pelas repercusssõessociais dela decorrentes”, conformenoticiado no Informativo n. 110, de20.05.98, do Supremo Tribunal Federal”.

Diante dessas considerações,forçoso é o reconhecimento de que osautores têm direito ao recebimento dasverbas rescisórias deferidas em primeirograu.

Desprovejo.

Índices de correção monetária

Tendo em vista a jurisprudênciaiterativa da SDI do Egrégio TST,consubstanciada no Precedente 124,devem ser aplicados, na liqüidação, osíndices de correção monetária do quintodia útil do mês subseqüente ao trabalhado.

Provejo.

CONCLUSÃO

Isto posto, conheço de ambos osrecursos e, no mérito, dou provimentoparcial ao apelo da REDEFERROVIÁRIA FEDERAL S/A, para

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determinar que sejam observados, naliqüidação, os índices de correçãomonetária do quinto dia útil do mêssubseqüente ao trabalhado; e, douprovimento parcial ao recurso daFERROVIA CENTRO ATLÂNTICA S/A,para condenar a REDE FEROVIÁRIAFEDERAL a responder solidariamentepelos débitos trabalhistas reconhecidosnesta demanda.

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da TerceiraRegião, pela sua Quinta Turma,preliminarmente, à unanimidade, emconhecer de ambos os recursos; nomérito, por maioria de votos, em darprovimento parcial ao apelo da REDEFERROVIÁRIA FEDERAL S/A, paradeterminar que sejam observados, naliqüidação, os índices de correçãomonetária do quinto dia útil do mêssubseqüente ao trabalhado e em darprovimento parcial ao recurso daFERROVIA CENTRO ATLÂNTICA S/A,para condenar a REDE FERROVIÁRIAFEDERAL a responder solidariamentepelos débitos trabalhistas reconhecidosnesta demanda, vencidos os Ex.mos

Juízes Revisor e Fernando Antônio deMenezes Lopes quanto àresponsabilidade da RFFSA, quanto àsdiferenças de verbas rescisórias,adicional de insalubridade e legalidadeda FCASA para pleitear a condenaçãoda outra empregadora.

Belo Horizonte, 08 de março de1999.

JOSÉ ROBERTO FREIRE PIMENTAPresidente ad hoc e Relator

TRT/RO-14489/98Publ. no “MG” de 21.05.1999

RECORRENTE: NICODEMOSCARNEIRO DE AREDES

RECORRIDO: COMPANHIA VALE DORIO DOCE

EMENTA: APOSENTADORIAVOLUNTÁRIA DOEMPREGADO - DEPÓSITOS DEVERBAS RESCISÓRIAS EMCONTA CORRENTEBANCÁRIA DOTRABALHADOR - ÔNUS DAPROVA DO PAGAMENTOFORA DO PRAZO LEGAL -MULTA DO ART. 477/CLT.Mesmo com a aposentadoriavoluntária do empregado, aempresa está sujeita aocumprimento do prazo previstono § 6º, do art. 477, da CLT.Porém, alegando o empregadoa existência de depósitobancário, em face da extinçãodo vínculo de emprego,cumpre-lhe provar aextemporaneidade dopagamento em questão, poisele tem pleno acesso à suaconta corrente. Não sedesincumbindo desse ônus, asolução se dá peloreconhecimento da regular etempestiva quitação rescisória,promovida pela empresa.

Vistos, relatados e discutidosos presentes autos de recursoordinár io, sendo recorrenteNICODEMOS CARNEIRO DEAREDES e, recorrido, COMPANHIAVALE DO RIO DOCE.

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RELATÓRIO

A MM. 2ª Junta de Conciliação eJulgamento de João Monlevade, sob apresidência da eminente Juíza Maria deLourdes Gonçalves Melo, julgouimprocedente a ação trabalhista.

Recorre o reclamante, às f. 47/40, onde se rebela contra oentendimento de primeiro grau, referenteà multa do § 8º, do art. 477, da CLT, porentender que a quitação rescisória foiprocessada a destempo, destacando,para tanto, o documento de f. 07 e aquestão relativa ao depósito bancário; oTRCT de f. 20/21 não contém aassinatura do reclamante, além do quenão está datado; considera que aalegação defensiva de que a multa, sedevida, seria em proporção, denota quea reclamada, efetivamente, não quitou arescisão em tempo hábil (art. 477, § 6º,alínea “a”); vê pertinente a expedição deofício ao Mtb, em razão da quitaçãoextemporânea.

Não há custas processuaisexigíveis, em face da isenção concedidapelo r. julgado à f. 35.

Contra-razões, tempestivas, às f.41/44, sem arguições prejudiciais.

O parecer da d. PRT, f. 47, dalavra da eminente Procuradora MariaChristina Dutra Fernandez, sugereapenas o prosseguimento do feito.

Este o relatório.

VOTO

Juízo de admissibilidade

O recurso é próprio e tempestivo,regularmente processado, não há custasprocessuais exigíveis, em face daisenção concedida pelo r. dispositivo def. 35, pelo que dele conheço.

Juízo de mérito

Alegou o reclamante em suapetição inicial que foi dispensado em12.01.98, sem que a reclamadapromovesse a homologação de suarescisão de contrato, e nem efetuasse aquitação das parcelas a ele devidas,limitando-se a depositar em contabancária, em forma de montante, umcerto valor, mesmo assim a destempo,o que, a seu ver, torna procedente amulta do § 8º, do art. 477, da CLT, bemcomo enseja a expedição de ofício aoMtb, frente à infringência dos dispositivoslegais correspondentes.

Juntou um comunicado daempresa onde foi consignada a data daextinção do contrato de trabalho com amesma, em razão de sua aposentadoriavoluntária (12.01.98).

Defendendo-se a reclamada, estasustentou que o reclamante seaposentou, espontaneamente, pelo quenão haveria razão na pretensãovestibular, de efetivação da rescisãocontratual, e, muito menos, há que se falarem multa do art. 477, da CLT, pois ela sóé devida quando se trata da dispensa,injusta, do empregado. Ademais, o acerto“foi pago no citado prazo”.

De qualquer forma,alternativamente, pugnou pela fixação damulta em proporção aos dias de atraso.

Juntou o TRCT de f. 20/21, quenão foi assinado pelo reclamante, e nemestá datado, conforme ele redarguiu.

Em síntese, estes são os fatos.Não é pertinente a discussão

sobre o ângulo de que a aposentadoriaextingue o contrato de trabalho, porquenada importa a forma do desfazimentodo vínculo, pois interessa, sim, que umavez desfeito, as parcelas remanescentesdevem ser quitadas, conforme a previsão

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ordinária emoldurada no art. 477, daCLT, § 6º:

“O pagamento dasparcelas constantes doinstrumento de rescisão ou recibode quitação deverá ser efetuadonos seguintes prazos: a) até oprimeiro dia útil imediato aotérmino do contrato; ou b) até odécimo dia, ...”.

Não obstante o documentorescisório de f. 20/21, embora não tenhasido assinado pelo reclamante, além denão conter a data do possível acertorescisório, e não ter a reclamadaanexado comprovante de depósito dovalor ali consignado, admitiu oreclamante que a empresa depositoucerto valor em sua conta bancária,(extrato consolidado de f. 07), o que,evidentemente, só pode dizer respeitoàs parcelas rescisórias.

Assim, prospera o entendimentosentencial, no sentido de que oreclamante não teria logrado provar aefetivação extemporânea do seu acerto,porque, como se disse, a confissão doautor permite concluir que o acerto emquestão, na verdade, foi feito, e no valorcorreto, pois o autor não pleiteia qualquerdiferença. Ademais, o reclamante templeno acesso à sua conta bancária, paraconstatar o valor e a ocasião do depósito.

Desse modo, por qualquer ânguloque se examine a questão, o apelo deveser desprovido, pois, reitere-se, oreclamante atraiu o ônus probatório edele não se desincumbiu.

Em face do exposto, conheço dorecurso, e, no mérito, nego-lheprovimento, mantendo, de conseguinte,íntegra a v. sentença recorrida, por seuspróprios e jurídicos fundamentos.

Motivos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da TerceiraRegião, pela sua Segunda Turma, àunanimidade, em conhecer do recurso;sem divergência, em negar-lheprovimento.

Belo Horizonte, 27 de abril de1999.

ANTÔNIO FERNANDO GUIMARÃESPresidente

EDUARDO AUGUSTO LOBATORelator

TRT/MS-43/99Publ. no “MG” de 03.06.1999

IMPETRANTE: CLUBE ATLÉTICOMINEIRO

IMPETRADO: MM. JUIZ PRESIDENTE DA15ª JCJ DE BELO HORIZONTE

EMENTA: MANDADO DESEGURANÇA - ATLETA -LIMINAR - ENTREGA DOATESTADO LIBERATÓRIO DOPASSE. Não é ilegal a decisãoque, apreciando pedido liminar,determina a imediata entrega doatestado liberatório do passe aoatleta, quando evidenciada amora contumaz a que se refereo artigo 31, da Lei 9.615/98,configuradora da rescisãoindireta. Esse dispositivo incluicomo motivo ensejador da moranão só o atraso no pagamentode salários por três meses, mastambém a ausência derecolhimento das contribuições

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para o FGTS e para a PrevidênciaSocial. O ajuizamento de ação deconsignação em pagamentoapós a consumação do prazonele previsto não tem o condãode descaracterizar a moracontumaz, caindo no vazio oargumento de que o atraso nopagamento dos salários deu-sepor culpa do empregado. Deoutro lado, evidenciada a moracontumaz, o atleta faz jus aoatestado liberatório do passe, deacordo com o disposto no artigo31, da Lei 9.615/98. Embora aextinção definitiva do passesomente tenha lugar a partir doano de 2001, quando o artigo 28,§ 2º, da referida lei, passará avigorar, é certo que o legisladoracrescentou ao ordenamento,atualmente em vigor, uma novahipótese de liberação do passe,decorrente da rescisão indireta.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos de Mandado deSegurança, em que figuram, comoimpetrante, CLUBE ATLÉTICOMINEIRO e, como impetrado, MM. JUIZPRESIDENTE DA 15ª JCJ DE BELOHORIZONTE.

RELATÓRIO

O CLUBE ATLÉTICO MINEIROimpetra mandado de segurança contraato do MM. Juiz Presidente da 15ª JCJde Belo Horizonte. Informa que seencontra em tramitação reclamaçãotrabalhista contra ele proposta por ALDOCÉSAR DA SILVA, jogador profissional.Pleiteou ele, através de medida cautelar,a imediata rescisão do contrato detrabalho e entrega do atestado liberatório

para inscrição em outro clube, pretensãoque foi atendida pela autoridade tidacoatora. Sustenta ser ilegal o ato emestudo, porque contrário às disposiçõescontidas nas Leis 6.354/76 e 9.615/98.

A autoridade tida como coatoraprestou informações às f. 77/79, tendosido indeferido o pedido liminar pelodespacho de f. 80.

O litisconsorte manifestou-se àsf. 88/90.

A d. Procuradoria opina, às f. 92/96, pela denegação da segurança.

É o relatório.

VOTO

A presente medida é cabível, poisse trata de decisão judicial contra a qualnão cabe recurso de imediato. Logo,entendo que todos os pressupostosprocessuais foram atendidos, inexistindoirregularidades a sanar.

MÉRITO

Como se infere da prova carreadaaos autos, o litisconsorte, ALDO CÉSARDA SILVA, era atleta profissionalvinculado ao Araguari Atlético Clube.Esteve ele atuando junto ao impetrante,Clube Atlético Mineiro, entre julho/97 edezembro/98, em decorrência decontrato de empréstimo firmado entre osdois clubes. Ao final desse contrato, foiefetuada a compra do passe peloimpetrante. O litisconsorte, na mesmaépoca em que o impetrante procurou-opara assinar novo contrato, ajuizoureclamação trabalhista contra os doisclubes, postulando a liberação de seupasse. Esse pedido teve comofundamento a mora contumazdecorrente do não pagamento desalários, além da ausência de

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recolhimento das contribuiçõesprevidenciárias e para o FGTS. Aautoridade tida como coatora deferiupedido formulado em ação cautelar para,considerando rescindido indiretamente ocontrato de trabalho, determinar aentrega do atestado liberatório aoreclamante. Contra essa decisão foiimpetrado o presente mandamus.

Sustenta o impetrante inexistirdébito salarial, pois já providenciou odepósito das parcelas reclamadas emação de consignação. Acrescenta que amora deu-se por culpa exclusiva doempregado, que deixou de comparecerao clube desde o dia 31.12.98. Ademais,pondera que a mora contumaz, previstano artigo 31, da Lei 9.615/98, ocorrequando há atraso de três meses,hipótese que não se verificou nopresente caso. Assevera, outrossim, tercomprovado a quitação de todas asobrigações trabalhistas, em especial orecolhimento das contribuiçõesprevidenciárias e para o FGTS.

Segundo se infere da cópia de f.31, o impetrante ajuizou ação deconsignação em 03 de fevereiro de 1999,após a propositura da reclamatóriamovida pelo litisconsorte e quando jáconsumada a mora contumaz, porquedecorridos três meses sem pagamentodos salários. A alegação de que a lei nãofixa prazo para o ajuizamento da açãode consignação não vinga, pois é certoque a norma legal aplicável à espécieestabelece o lapso cujo termo final atraia mora contumaz. É bom lembrar, nessepasso, o entendimento consubstanciadono En. 13, do TST, de que:

“O só pagamento dos saláriosatrasados em audiência não elidea mora capaz de determinar arescisão do contrato de trabalho.”

Tal posicionamento decorre danecessidade de desestimular o atraso nopagamento dos salários, tornandoineficaz a quitação em juízo, quando jácaracterizado o atraso. A meu ver, ahipótese dos autos traduz o modeloexato visado pelo enunciado de Súmulacitada.

De qualquer sorte, torna-sedesnecessário o exame da questãorelacionada com a mora salarial, eis quede acordo com o artigo 31, § 2º, da Lei9.615/98 (Lei Pelé), a mora contumaztambém se evidencia pela ausência derecolhimento do FGTS e dascontribuições previdenciárias. Oimpetrante providenciou a quitação doFGTS relativo a todo o períodotrabalhado após o ajuizamento dareclamação trabalhista, quando já estavaevidenciada a mora. Ademais, inexisteprova do pagamento das contribuiçõesprevidenciárias. Por conseqüência, restaclaramente demonstrada a moracontumaz.

Resta examinar se esse fatoautoriza a pronta liberação do passe doatleta. O artigo 31, da Lei 9.615/98, éexpresso nesse sentido, dispondo que,rescindido o contrato de trabalho emcondições tais como a dos autos, “... ficao atleta livre para se transferir paraqualquer outra agremiação de mesmamodalidade, nacional ou internacional”.

O impetrante invoca em seu favora circunstância de o artigo 28, § 2º, dareferida Lei 9.615/98, estar com suavigência programada para março de2001. Argumenta ele que a suspensãodesse dispositivo acarreta adesvinculação do contrato de desportodo contrato de trabalho, motivo pelo quala rescisão não liberaria o passe.

O passe é o instrumento quepermite a contratação do atleta, por

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comprovar a sua desvinculação daassociação desportiva à qual prestavaserviços. Trata-se de instituto altamentecontrovertido, que tem sido alvo de durascríticas, por constituir obstáculo àmanifestação de vontade do atletaquando este almeja seu desligamento deuma associação à qual esteja vinculado.O principal argumento contra o passe éo de que o atleta, após cumprir fielmenteum contrato por prazo determinado,quase nunca pode exigir o atestadoliberatório após a sua extinção normal.Essa situação persistiu até o advento daLei 9.615/98, cujo artigo 28, § 2º, prevêa extinção desse instituto. Como o artigo93 da norma remete a vigência dessedispositivo para 2001, o impetranteentende que, em qualquer situação dedesligamento do atleta, persiste seudireito ao passe.

Sucede que, conforme jáacentuado acima, a Lei 9.615/98 contémoutra previsão acerca do passe, contidaem seu artigo 31, o qual teve vigênciaimediata. Esse dispositivo estabelece aliberação do passe para o atleta quevenha a obter a rescisão indireta,fundada na mora contumaz, tal comoocorre no presente caso. Veja-se que,por conter previsão inovadora, a Lei9.615/98 acrescentou à norma vigenteaté a sua edição, uma nova hipótese deliberação do passe.

Entendo, portanto, que a decisãoimpugnada não contém ilegalidade naparte em que determinou a entrega doatestado liberatório ao litisconsorte. Ameu ver, restaram evidenciados osrequisitos ensejadores da liminar, poisos elementos dos autos deixam clara amora contumaz, de molde a autorizar arescisão indireta do contrato de trabalhoe a conseqüente liberação do passe doatleta, emergindo aí o requisito do fumus

boni juris. A par disso, a demora daprestação jurisdicional, nesse caso,obstaria a inscrição do litisconsorte nocampeonato, aspecto que evidencia opericulum in mora.

Diante do exposto, denego asegurança. Custas pelo impetrante, noimporte de R$20,00, calculadas sobre ovalor atribuído à causa.

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da TerceiraRegião, pela sua Seção Especializada,por unanimidade, em conhecer domandado; no mérito, sem divergência,em denegar a segurança. Custas, peloimpetrante, no importe de R$20,00,calculadas sobre o valor atribuído àcausa.

Belo Horizonte, 18 de maio de1999.

TARCÍSIO ALBERTO GIBOSKIPresidente

ALICE MONTEIRO DE BARROSRelatora

TRT/MS-370/98Publ. no “MG” de 12.05.1999

IMPETRANTE: ADERLAU GUILHERMEDE ARAÚJO

IMPETRADO: EX.mo JUIZ VICE-PRESIDENTE DO TRT - 3ª REGIÃO

EMENTA: AUTENTICAÇÃO EFIEL REPRODUÇÃODOCUMENTAL - NATUREZA EDISTINÇÃO SIGNIFICATIVA. -Em Direito (como, de resto, em

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qualquer ciência), cada termoou expressão, em regra, éportador de uma cargasignificativa própria - podendoocorrer, por isso, do descuidode sua fiel interpretação, nãosó o prejuízo da mecanização,mas até mesmo a frustração deresultados instrumentalizadospelo próprio direito.Daí que, no plano de expressão“documental” jamais se poderáconfundir peça documentalautenticada, com peçadocumental simplesmentereprografada - enquanto que,se a última supõe, apenas, suaintegral correspondência aodocumento reproduzido, já aprimeira (no dizer do grandeprocessualista Antunes Varela)resulta de um termo notarial deautenticação no qual, além domais, figura a declaração daspartes, perante o notário (entrenós, tabelião) de que leram odocumento, estão cientes deseu conteúdo e exprime a suaprópria vontade.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos de Mandado deSegurança em que figuram, comoimpetrante: Aderlau Guilherme deAraújo; e, como impetrado, o Ex.mo JuizVice-Presidente do TRT - 3ª Região.

I - RELATÓRIO

Aderlau Guilherme de Araújo,devidamente qualificado na inicial de f.02, impetra Mandado de Segurançacontra o Ex.mo Juiz Vice-Presidente destaEgrégia Corte de Justiça Especializada- invocando, para tanto, os seguintes

argumentos: por abuso de poder e deautoridade, o impetrado feriu direitolíquido e certo do impetrante, enquantoque se recusou determinar a certificaçãode autenticidade, pelo Tribunal, de peçasde formação do Agravo de InstrumentoTRT/AIRR-2922/98; requeridaassistência judiciária ampla, naReclamatória a que se refere o já citadoAgravo de Instrumento, naquele lhe foideferido o pedido, por parte da 18ª JCJda capital, sendo dispensado dopagamento das custas; não tendoconcordado com o despacho que negouseguimento ao Recurso de Revista, oimpetrante interpôs Agravo deInstrumento - e, porque necessitou defazer a juntada a este último de 200(duzentas) folhas, requereu que fossecertificada a sua autenticidade, peloórgão competente, para se livrar dopagamento de R$2,00 por cada folha,num total de R$400,00; teve indeferidoo pedido, pelo impetrado, sob oargumento de que o obreiro se encontracom o contrato de trabalho em vigor epercebe salário superior ao dobro dosalário mínimo legal - e, ainda, porque aIN/06/96/TST estabelece que as peçaspara a formação do Agravo devem serautenticadas em cartório; concedeu-lheo prazo de 03 (três) dias, paraautenticação das citadas peças, emCartório; o inciso XXXIV, do art. 5º, daCF/88, assegura a todos os cidadãos aobtenção de certidões, em repartiçõespúblicas, para defesa de direito eesclarecimento de situações deinteresse processual; o art. 3º, da Lei1.060/50, assegura ao assistido, pelaAssistência Judiciária, ampla, geral eirrestrita gratuidade, em encargosprocessuais; além disso, o § 9º, do art.789, da CLT, estabelece que é facultadoaos presidentes dos Tribunais do

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Trabalho conceder, de ofício, o benefícioda Justiça Gratuita, inclusive quanto atraslados e instrumentos àqueles queperceberem salário igual ou inferior aodobro do mínimo legal, ou provarem oseu estado de miserabilidade; oimpetrante tem encargos pessoais efamiliares, que o impossibilitam deefetuar a despesa imposta pelaautenticação cartorial das peçasprocessuais; os Regimentos Internos doSTJ e do STF, em seus arts. 114 e 64dispõem que prevalecerá a assistênciajudiciária, concedida na instância inferior;tanto pela norma constitucional, quantopela legal (já invocadas), tem direito aotraslado gratuito das peças, para aformação do AI; a IN 06/96, do TST, nãopode impor o dever da autenticaçãocartorial das peças - enquanto que, emface do inciso I, do art. 22, da CF/88,compete privativamente à União legislarsobre Direito do Trabalho; oindeferimento da autenticação das peçasprocessuais pelo órgão próprio desteTribunal viola direito líquido e certo doimpetrante, cerceando-lhe seu sagradodireito de defesa.

Pede, portanto, liminarmente, queo AI em apreço não seja remetido aoTST, sem que as peças em causa sejamdevidamente autenticadas - e, ao final,concedida a segurança requerida, paraque a autoridade coatora determine aautenticação das peças, na formapostulada.

Requer a intimação do impetrado,para que possa responder aos termosdo presente MS, e que lhe sejamconcedidos os benefícios da JustiçaGratuita.

Dá à presente causa o valor deR$500,00.

Juntou os documentos de f. 14-80 dos autos.

A f. 80 verso foi decidido a pedidosobre a liminar requerida.

De f. 83 a 86 foram prestadasinformações pelo impetrado,acompanhadas da cópia da IN 06/96 TST.

A f. 88-93 encontra-se o Parecerda Procuradoria Regional do Trabalho,opinando pela denegação da segurançaintentada.

Este, em síntese, é o relatório.

II - VOTO

De plano, manifestando-mesobre a argüição da Tribuna de nulidadedeste julgamento, por falta de quorumqualificado, nada a decidir, da minhaparte, eis que a decisão é deste plenário.Relativamente à renovada argüição denulidade, por falta de vista, rejeito-a pelasrazões invocadas no despacho de f. 95.

1. Admissibilidade

Conheço da presente MedidaMandamental, enquanto que nela seencontram presentes todos ospressupostos processuais, exigidos porlei, para sua admissibilidade.

2. Quanto à preliminar deextinção do processo, argüida peloimpetrado

Da minha parte, data venia,rejeito-a.

A questão em foco centra-se,exclusivamente, na ordem do direito doreclamante, na estreita relação de seudireito de cidadão para com o Estado(inciso, XXXIV, do art. 5º, da CF/88),enquanto que apenas afeto à ordem damera prestação jurisdicional, semqualquer ligação com o direito da partecontrária - e em relação ao que esta em

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nada poderá contribuir, até porque meraquestão de direito (muito menosinterferir, ou dela lhe resultar prejuízo dequalquer espécie - enquanto quecompletamente estranha à esfera deseus interesses, no plano de direitodiscutido, entre as partes, no processo).

3. Mérito

A presente medida processual, decaráter extremo, tomada pelo impetrante,como instrumento de garantia de direitoque sustenta líquido e certo, data venia,conta com vários ingredientes defavorecimento, partindo logo da falsainterpretação imprimida à expressão“autenticação documental”, passandopela absoluta falta de fundamento legal,atentando contra a condição de gozo deisenção de custas do reclamante,passando por cima do célebre e universalprincípio fundamental da igualdade detratamento das partes, no processo - jápara não se falar da afronta ao livreacesso que todo o cidadão deve ter àJustiça (e, sobretudo, do dever imperativo,por parte dos órgãos do Poder Judiciário,de tudo facilitar, certificando todos os atosnecessários à concretização daquela).

Vistas, por partes, tais razõeslevam-nos às seguintes considerações:

A) Reprografia e autenticaçãodocumental

Partindo, desde logo, dos termosusados na Instrução Normativa 06/96TST, no inciso X, conclui-se que ali sedispõe o seguinte:

“As peças apresentadas, em cópiareprográfica, para a formação doinstrumento de agravo, deverãoestar autenticadas.”

Nota-se, a toda a prova (e datavenia) o equívoco ali cometido, quantoaos termos usados (reprografia eautenticação), em relação ao próprio fima que tais espécies de peças(reprografadas ou autenticadas) sedestinam.

No caso, com o objetivo de evitar-se a subida do processo principal (e noqual se integra a Revista truncada),exige-se, no incidental, o traslado depeças que naquele se encontram (incisoIII, e § único, do art. 523, do CPC) - e aoque, portanto, necessária eexclusivamente deveria proceder aprópria repartição através da qual aRevista se processa (até porque trasladoé ato somente afeto ao cartório - e aoqual, por certo, exclusivamente, seencontrou sujeito, enquanto não existiuo meio mecânico de fazê-lo, através doserviço reprográfico).

Por isso mesmo é que, já comorelator do Processo TRT-RO-14782/95,nos foi dado sentenciar sobre ainterpretação do art. 830/CLT a nível deautenticidade documental:

“A interpretação da norma legaldeve ser feita com os olhos postosno tempo em que foi inspirada ereproduzida. Ora, à época em quefoi promulgada a Consolidaçãodas Leis do Trabalho, inexistiamos sistemas modernos dexerografia, heliografia, fotocópia emicrofilmagem; daí porque areprodução de documentos sedava, manualmente, propiciandoequívocos e até fraudes. Por isto,então, a exigência contida no art.830 consolidado.Hoje, porém, isto não mais seexplica, face ao progresso da vidamoderna, que enseja reprodução

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via fax, xerocópia, microfilmagem,fotocópia etc., tornando precáriaa possibilidade de reproduçãoincorreta, salvo através demontagem.”

Contra esta última possibilidade,porém, existe a fiscalização da partecontrária, no processo.

Traslado, com efeito, é cópia outranscrição de dados documentais - talqual, por outro processo, do mesmo modose procede pelo serviço de reprografia(ambos, porém, com o mesmo resultadode espelho de documentos reproduzidos- e até mesmo, diga-se de passagem, commaior dose de fidelidade para o segundo.Um e outro se prestam ao mesmo fim defidelidade (quanto à realidade reproduzida- mera questão de correspondência,portanto), e não à idoneidade dodocumento (aí sim, questão já afeta àordem da autenticidade). Trata-se,portanto, de aspectos completamentedistintos, até porque o primeiro guardarelação com a força probatória formal,enquanto que o segundo nem tantosignifica, muito menos a tanto se destina- eis que, no caso das peças necessáriasà formação do Agravo de Instrumento,apenas se objetiva a certeza de suarealidade aparente, quanto às peçasreproduzidas (e que se encontram noprocesso principal). Apenas isto, e nadamais, além disto.

A autenticação dos documentos,por sua vez, revela, quanto aos mesmos,aspecto completamente diferente,dizendo respeito à própria autenticidadedo documento - pelo que faz,precisamente, com que tal documentogoze de força probatória formal,equivalente à dos documentos autênticos(o que, inclusive, não se quadra para finsde decisão do AI, como tal - e, portanto,

apenas se poderá referir ao processo deque tais documentos advém.

Em síntese: a autenticidaderefere-se ao valor intrínseco dodocumento; enquanto que, a reproduçãodeste, apenas diz respeito ao seuaspecto extrínseco.

Daí a propriedade doutrinária deAntunes Varela, a tal propósito:

“O termo de autenticação, pelasdeclarações do notário quecontém na sua composição,oferece garantias de veracidadesemelhantes às dos documentosdiretamente lavrados pelo notário(tabelião).”

Para concluir:

“O facto de as declaraçõesconstantes do documento seremredigidas pelas partes, afirmandoo notário (tabelião) ter-lhas lido eterem-nas elas achadoconformes à sua vontade, depoisde haver atestado a identidadedos intervenientes, não afeta, demodo algum, a fé pública daautoria do documento.” ( inManual de Processo Civil,Coimbra Editora Ltda., 2ª Ed.,1985, p. 513)

De tanto se conclui, assim, que aautenticação documental constituiverdadeiro ato de relação, tanto com aautoria, quanto com a veracidade doconteúdo do documento - o que, porcerto, não é visado quanto às peçasdestinadas à formação do AI, cujarelação se encontra, exclusivamente,afeta à ordem da fidelidade de suareprodução (abstraindo-se, porém, daveracidade de seu conteúdo).

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Por isso, a tal, propósito, tambémjá nos foi propiciado decidir, como relator,no RO-21881/97:

“PROVA - FALTA DEAUTENTICAÇÃO DEDOCUMENTOS. - A simplesausência de autenticação decópias de documentos não asinvalida. Faz-se mister a provainconcussa da falsidade de seuconteúdo.”

Tal falsidade, porém, deverá sercomprovada pela parte interessada -jamais, porém, presumida ou atéprevenida, pelo juiz (o que acaba porconstituir grave atentado contra adignidade da própria parte no processo,cuja lealdade, pelo contrário, a leisempre supõe - e contra o que existemas penas previstas no art. 18, do CPC).

De resto, é público e notório quea tradicional “autenticação” atual dedocumento, na prática, pela forma comopor todos os cartórios de notas seprocessa, não guarda qualquercorrespondência com a origem, o sentidoou a finalidade a que aquela se deveprestar (apenas concorrendo, em virtudedo proveitoso equívoco antes apontado,para o reforço da afrontosa indústria dearrecadação cartorial milionária (deR$2,00 por carimbo batido) - cavando,sem dúvida, cada vez mais, o maior dosentraves ao fácil acesso do público aserviços sem os quais a própriaexistência dos cartórios se não justifica.

B) Falta de fundamento legal

Até à promulgação da Lei 9.756/98, o art. 523 e seus incisos, do CPC, éque regulavam os requisitos de formaçãode AI - entre os quais, no inciso III, se

apresenta “a indicação das peças doprocesso que devem ser trasladadas”.

Tal dispositivo, até 18.12.98 (datada publicação da já citada lei),governava, subsidiariamente, o AI, noProcesso do Trabalho.

Esse dispositivo, refere-se aotraslado de peças do processo principal.

Pedro Nunes tem na conta detraslado a “primeira cópia integral e fieldo instrumento ou documento original,lavrado no livro de notas do tabelião, ououtro oficial público”.

Note-se, desde logo, aimpropriedade do termo, enquanto queaplicado às peças de formação do AI -das quais se exige, apenas, simplescópia de peças obrigatórias para aformação daquele.

Com efeito, se reprografiasignifica cópia fiel de documento; e o quese objetiva, para a formação do AI, é,exclusivamente, a cópia de certas peçasintegrantes do processo principal, ondeo espaço para a justificação daautenticação exigida?

Mais: se de traslado se trata, eeste apenas se pode conceber a cargodo tabelião, onde a razão, para que tantoocorra, a cargo do agravante?

Isto, em face da citada disposiçãodo CPC - pois que a nova lei sobre o AIoperou alteração a respeito (se bem quenão aplicada, necessariamente, aopresente caso - enquanto que não alcançaaqueles cuja decisão agravada lhe éanterior). Barbosa Moreira, com a precisãoque lhe é peculiar, em comentário ao art.523, do CPC - sobretudo a seu parágrafoúnico - , doutrina:

“Arrola o parágrafo único trêspeças que ‘serão obrigatoriamentetrasladadas’. Não se fala em peças quehajam de ser obrigatoriamente indicadas:quer isso dizer que o preceito não tem

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como destinatário o agravante, mas ofuncionário ou serventuário a quemincumba o traslado de peças. Éirrelevante que a parte haja deixado deincluí-las na sua lista, emboraaconselhável a inclusão, do ponto devista prático. A falta de traslado, noinstrumento, não torna, por si só,inadmissível o agravo; ao relator, noTribunal, cabe mandar proceder àdiligência necessária para acomplementação (art. 557, caput, 2ªparte).” - in Comentários ao Código deProcesso Civil, V vol., Ed. Forense, SP,p. 386.

Pontes de Miranda, por sua vez,com a competência inegável de que édetentor, discorrendo sobre a atribuiçãoobrigacional do traslado escreve, emcomentário ao art. 524, do CPC:

“A falta das peças dos autos quedevem ser trasladadas; semserem a decisão e a intimação,também é imputável ao escrivão,e não ao recorrente, que asindicou.” (Grifou-se) - (InComentários ao Código deProcesso Civil, tomo III, E.Forense, São Paulo, 1975, p. 294)

Doutra parte, a Súmula 235, doTFR reza:

“Contraria o art. 523 e 557 oacórdão que não conhece deagravo por falta de traslado daspeças obrigatórias, antes queconvertido em diligência para quea serventia componha oinstrumento.” (destacou-se)

Theotônio Negrão, por sua vez, emcomentário ao já citado art. 523, do CPC,invocando jurisprudência do STF, cita:

“Quem organiza o traslado é ocartório, e a ele é que se dirige adeterminação de transcriçãoobrigatória de determinadaspeças, para a formação doAgravo.” (STF - RT 550/236, 618/212) - (In Código de ProcessoCivil, 26ª ed. Editora Saraiva, p.420)

Carreira Alvim, em recentíssimaobra sobre o “Novo Agravo” (já na 3ªedição, pela Editora Del Rey - BeloHorizonte, 1999, p. 105) assim seexpressa, a propósito do tema aquicontrovertido.

“No Supremo Tribunal Federal,tem sido exigida a autenticaçãodas peças, embora essaprovidência não resulte nem doCódigo de Processo Civil, nem doRegimento Interno.No Superior Tribunal de Justiça,porém, essa não tem sido a regra,embora um ou outro ministro façaa exigência.”

Daqui se conclui, portanto, que,pelo menos quanto às peçasobrigatórias, não poderia ter havido aescusa de se certificar a respeito - o que,de resto, se pode estender às peçasessenciais à melhor elucidação dos fatos(e desde que correspondentes aoprocesso principal - enquanto que, desdeque novas, estas sim, devem vir“autenticadas” ao processo).

Pontes de Miranda, com efeito,previne tal possibilidade (da juntada dedocumentos novos ao AI) quando, emcomentário ao art. 524, do CPC, escreve:

“Além das provas já constituídasnos autos e trasladadas, permite

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a lei que se juntem outras,documentais, considerando-se,como tais, aí, as justificações eoutras provas integradas por atodo juiz. Trata-se de algo ligado aoart. 397. Se os documentos novosforam juntados pelo agravado,tem de ser ouvido o agravante,conforme o art. 525, parágrafoúnico.” (obra já citada, p. 294)

Pelo visto, no presente caso, detanto se não trata, porém e apenas depeças simplesmente trasladadas (querobrigatórias, quer essenciais) - e,portanto, umas e outras afetas ànecessária verificação do servidorresponsável por tal serviço, enquantoque meramente reprodutivas daquelasque se encontram no processo principal,sob a sua guarda.

C) Competência exclusiva paralegislar sobre a matéria

A toda a prova, se há-de-ter naconta de atentatória ao disposto no art.22, I, da CF/88, a Instrução Normativa6/96, do TST, enquanto que a mesma,explicitamente, implica em regras queregem o AI - o que, conforme éconsabido, é ato privativo da UniãoFederal, pela via legislativa, como agoraacaba de acontecer com a edição danova lei a respeito do tema (jamais,porém, da alçada ou competência deórgão do Poder Judiciário - cumprindoesclarecer que a legislação adjetiva, noart. 523, exige traslado de peças, porém,não determina a sua autenticação).

A nova lei, por sua vez, atravésde inovação operada, dispõe quecumpre às partes a formação doinstrumento de Agravo (retirando,portanto, tal responsabilidade, dos

ombros do responsável direto pelocartório, sob cuja guarda eresponsabilidade se encontra o processoprincipal - sem que, porém, também, emqualquer de suas disposições, determineque tais peças sejam autenticadas.

Se assim é, data venia, tanto nãopode ser ultrapassado por determinaçãoou comando de origem estranha a essenível de competência.

D) Atentado contra a regalia dagratuidade da justiça, obtida peloimpetrante no processo

O fato referido no r. despachoaqui atacado - de que “os elementos dosautos (f. 110/124) evidenciam que ocontrato de trabalho permanece em vigore seus serviços são remunerados emquantia superior ao dobro do mínimolegal” (f. 80) - rogata venia, em nadapoderá subsidiar o fundamento paradeterminar a “autenticação” das peçasprocessuais, integrantes do AI, por váriasrazões:

a) Primeiramente, porque adespesa, para tanto imposta, supõe valoraté maior do que o próprio salário mínimo(praticamente três vezes mais) - o que,para a maioria dos cidadãos brasileiros,sempre se colocou muito acima daspossibilidades de a tanto procederem -resvalando, na prática, para a própriainviabilidade de acesso à Justiça, - e oque, portanto, acaba por afrontar, diretae especificamente, o disposto nos incisosXXXIV (“a” e “b”) e LXXIV, do artigo 5º,da CF/88.

b) Em segundo lugar, atentacontra o direito assegurado aoimpetrante no processo, de gratuidadeda justiça - o que, necessariamente, levaà própria isenção do pagamento de taisdespesas cartoriais.

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Conforme se sabe, com efeito, aisenção aqui perseguida, está abrangidapela própria assistência judiciária, jáalcançada pelo impetrante no processo.

Por isso, a tal propósito, escreve,com inteira propriedade, José Robertode Castro:

“O artigo 9º, da Lei 1.060, inverbis, diz, noutras palavras, que onecessitado, ao abrigo da assistênciajudiciária, terá isenção de despesas emtodos os atos do processo, até decisãofinal do litígio, em todas as instâncias:

Os benefícios da assistênciajudiciária compreendem os atos doprocesso, até decisão final do litígio, emtodas as ‘instâncias’.”

Para concluir: “Vale dizer, então,que todos os atos processuaispraticados, até à decisão final dademanda, são amparados pelaassistência judiciária, resultando disso aJustiça Gratuita para o necessitado,inclusive para as instâncias superiores.”(In Manual de Assistência Judiciária -Teoria, Prática e Jurisprudência, AideEditora, 1ª ed., 1987, p. 120)

Esta, aliás é a norma no direitocomparado, encontrando-seexpressamente insculpida, inclusive, noartigo 100, do Código de Custas Judiciaisde Portugal, a seguinte disposição:

“Estão isentas de preparos aspessoas ou entidades isentas de custas,o devedor que venha a Juízo declarar-se em estado de falência ou insolvência,as pessoas representadas por defensoroficioso e os funcionários, nos recursosde decisões que lhes imponhamqualquer penalidade e nas reclamaçõesde contas.”

Outra não é a razão em virtudeda qual Manoel A. Teixeira Filho, com ofim de justificar a subida do próprioprocesso principal, juntamente com o AI,

em face da conclusão prática sobre asinovações da nova lei sobre esta espéciede recurso, escreve:

“Como, enfim, um trabalhador,em sua notória hipossuficiência, poderácumprir essa imposição da lei (deproceder à apresentação das cópias daspeças obrigatórias à formação do AI), senão possuir condições financeiras, paraextrair uma enorme quantidade defotocópias das peças existentes nosautos principais?” ( in SuplementoTrabalhista 11/99, p. 57)

De salientar-se, ainda,finalmente, que é a seguinte a posiçãoadotada pelo STJ a respeito deste tema:

“PROCESSO CIVIL - JUSTIÇAGRATUITA - LEI N. 1.060/50,ARTIGO 9º, CPC, ART. 519. - Osbenefícios da assistênciajudiciária compreendem todos osatos do processo, até decisãofinal do litígio, em todas asinstâncias (art. 9º, da Lei n. 1.060/50).A gratuidade, uma vez deferida,infirma a obrigação de obeneficiário efetuar o preparo deque cuida o art. 519, do Códigode Processo Civil.” (R. Esp.16.186 - 0 - RJ, Rel. Min. CésarRocha, D.J., de 22.08.94)

E) Dever imperativo de a tantoproceder a repartição judicial sob cujaguarda e responsabilidade seencontra o processo principal

Pelo visto, o que simplesmentese pretende, no presente caso, é acertidão de que as peças reproduzidasdo processo principal, para a formaçãodo AI, de fato, são correspondentesàquelas que integram o primeiro.

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Afinal, quem melhor e da formamais econômica e segura a tanto poderáproceder?

Por certo que o serventuáriojudicial, sob cuja guarda temporária eresponsabilidade ambos os processosse encontram.

Por que, então, isentá-lo de talincumbência, jogando sobre os ombrosdos já tão sacrificados cidadãos tãopesado ônus, com o risco provável de quetanto poderá até mesmo concorrer paraa inviabilização do acesso à própriaJustiça - pecado que, por certo, ultrapassaa esfera do atentado à ordem dasgarantias fundamentais, para se assentarno arraial da afronta ao próprio direitoperiférico da personalidade (tanto maisgrave, por certo, quanto é verdade acabarpor tornar-se pretexto de abominávelforma de exploração cartorial).

Mais: Como processar-se talimposição formal quando, em se tratandode prazo comum às partes, o processoprincipal não pode sair da repartiçãojudicial a que se encontra sujeito?

Por fim (e ainda sob este mesmoaspecto), como explicar-se o mandamentoconstitucional do artigo 5º, XXXIV - esegundo o qual, em caso de necessidade,a repartição própria, deve conferir ascertidões, para fins de defesa do cidadão?

F) Desigualdade de tratamentodas partes no processo

De mais a mais, comocompreender-se que, dum lado, aInstrução Normativa 06/96-TST, tanto exijada pessoa física ou jurídica de direitoprivado e, por outro, a jurisprudência hojeassentada pela própria e Colenda Corteda qual aquela norma se origina, noPrecedente 134, da SDI, acabe pordispensar de tal formalidade a pessoa

jurídica de direito público - quando, pelaprática corrente do processo, sempre sepoderá concluir que, a nível de conduta,esta última àquelas em nada se sobreleva?

G) Obrigação de ofício doservidor responsável pela repartiçãojudiciária

Finalmente, como zelador-mor pelaguarda e responsabilidade do processo edas peças que o integram, como se poderáser subtraído o funcionário ao qual aquele,por lei, está confiado ao dever de ofício decertificar sobre a declaração da fidelidadedas cópias que o reproduzem?

Daí que, se por um lado, sobnenhum aspecto se justifica aautenticação das peças, para a formaçãodo AI - sobretudo frente ao CPC - muitomenos, à luz deste último, se poderálançar tal responsabilidade sobre osombros da parte (sobremodo quando,além do dever constitucional dofuncionário responsável pelo processoexpedir certidão sobre a correspondênciadas peças reprografados às reproduzidas,no presente caso, a parte aqui impetrantegoza da gratuidade da Justiça).

E, para finalizar, jamais aqui sepoderá olvidar o célebre princípioconstitucional (do art. 5º, II, da CF/88)segundo o qual “ninguém será obrigadoa fazer ou deixar de fazer alguma coisasenão em virtude de lei.” E a lei nadadetermina a este respeito.

Da minha parte, portanto, quantoàs peças obrigatórias e facultativas(porque ambas as espécies relativas,apenas, às do processo principal) concedoa segurança, requerida pondo de lado,porém, possíveis peças novas (enquantoque à autenticação destas somente poderáproceder o Cartório de notas, por atribuiçãoexclusiva da lei para tanto).

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Em síntese: Conheço da presentemedida processual e concedo aoimpetrante a garantia da certidãorequerida, apenas quanto às peçasobrigatórias e facultativas, para aformação do Agravo - de tanto excluindo,porém, qualquer peça nova porventurapara tanto apresentada por aquele noprocesso (esta sim, cuja autenticidadedeve ser conferida por cartório de notas- e ao que não se presta, por certo, arepartição judicial aqui envolvida.

Custas, pela União, isenta.

Isto posto,

Pelo Tribunal Pleno foi decididoà unanimidade, rejeitar as preliminaresargüidas da Tribuna; por maioria devotos, vencidos os Ex.mos Juízes AntônioMiranda de Mendonça, Tarcísio AlbertoGiboski, Fernando Antônio de MenezesLopes, Wanderson Alves da Silva eMárcia Antônia Duarte de Las Casas,rejeitar a preliminar suscitada peloimpetrado; ainda, por maioria de votos,vencido o Ex.mo Juiz Revisor, conhecerdo mandado; no mérito, por maioria devotos, vencidos os Ex.mos Juízes Revisor,Sérgio Aroeira Braga, Itamar JoséCoelho, Washington Maia Fernandes eBeatriz Narazeth Teixeira Souza,conceder a segurança, nos termos dovoto do Ex.mo Juiz Relator. Custas, pelaUnião, imune.

Belo Horizonte, 15 de abril de1999.

GABRIEL DE FREITAS MENDESPresidente

MANUEL CÂNDIDO RODRIGUESRelator

TRT/AP-3702/98Publ. no “MG” de 30.04.1999

AGRAVANTE: BANCO EXCELECONÔMICO S/A.

AGRAVADO: LUIZ GONZAGA DESOUZA LIMA

EMENTA: AGRAVO DEPETIÇÃO - CARTA DESENTENÇA - REQUISITOS -FORMAÇÃO IRREGULAR -NULIDADE - PREJUÍZO.Embora o artigo 590, do CPC,inclua, entre os requisitos dacarta de sentença, a cópia dacontestação, a ausência dessapeça não é causa de nulidadeda execução provisória,porquanto não cominada em lei(artigos 243 e 244, do CPC).Ademais, a nulidade só deveser declarada quando “...resultar dos atos inquinadosmanifesto prejuízo às partes”,como enfatiza o artigo 794/CLT,que agasalha o salutarprincípio de que “não hánulidade sem prejuízo”. Agravodesprovido.

Vistos, relatados e discutidosestes autos de Agravo de Petição, emque figuram, como Agravante, BANCOEXCEL ECONÔMICO S/A e, comoAgravado, LUIZ GONZAGA DE SOUZALIMA.

RELATÓRIO

O BANCO EXCEL ECONÔMICOS/A embargou a execução provisóriaargüindo sua nulidade, porque irregulara extração da carta de sentença, ondenão se incluiu cópia da contestação,

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como exige o artigo 590, inciso III, doCPC. Julgados improcedentes osembargos (f. 113), adveio este agravode petição, agitando a matéria eaduzindo que a ausência de tal peça, aocontrário do sustentado na r. decisãoagravada, trouxe-lhe manifesto prejuízo,pois sujeitou-se a depositar dinheiro paragarantir uma execução irregular,sabendo-se que as instituiçõesfinanceiras têm lucros medianteaplicação de seus recursos financeiros.

Contraminutado (f. 119/120),opinou a d. PRT (f. 122) peloprosseguimento do feito.

É o relatório.

VOTO

I - Do conhecimento

Próprio, tempestivo,regularmente interposto e processado,conheço do agravo.

II - No mérito

A execução é provisória,processando-se, por isso, via carta desentença, esta extraída pordeterminação do i. Vice-Presidente desteRegional, como noticiado à f. 44, ondehá referência às peças indicadas ereferidas no artigo 590, do CPC, comomissão da contestação, inserida noinciso III.

Na primeira oportunidade em quese manifestou nos autos, o executadodenunciou a irregularidade na extraçãoda carta (f. 93), quando, por cautela,impugnou os cálculos ofertados peloexeqüente, apresentando, também, osseus (f. 95/100), com os quais oreclamante concordou (f. 102), e querestaram homologados (f. 103).

A decisão que desacolheu osembargos, destinados a obter a nulidadeda execução, é incensurável.

Com efeito, a pretensão doagravante revela uma inescondívelsutileza, que não rende ensejo ao seuacolhimento.

Sem dúvida, o artigo 590, doCPC, aponta os requisitos para aextração da carta de sentença. Dentreeles está a contestação. Mas o preceitolegal não comina qualquer nulidade arespeito, como recomendam os artigos243 e 244, do CPC.

Ora, contrapondo-se à lição dorenomado Manoel Antônio Teixeira Filho,citada pelo agravante à f. 115, está omagistério do festejado Alcides deMendonça Lima (in Comentários aoCPC. Forense. VI vol. tomo II, pp. 457 e458), ao asseverar:

“É tradicional a formação da cartade sentença com várias peças doprocesso, em lugar de apenas opróprio título. Isto porque nemsempre a sentença revelaintegralmente o pedido e adefesa, pois pode usar fórmulasintética - ‘na forma do pedido’ -embora não sendorecomendável. É necessário,portanto, indicar todos oselementos para que a sentençapossa ser executada, mesmoprovisoriamente, (omissis), nãocausando embaraços ao juízo eoferecendo ao devedor todas asoportunidades para, querendo,apresentar seus embargos.”

“A falta de qualquer das peçasnão é motivo da declaração denulidade, por não ser cominadaem lei (arts. 243 e 244).”

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É ressabido, porque cristalizadoem salutar princípio, que “não há nulidadesem prejuízo”, e ainda que, no processodo trabalho, a nulidade só deve serdeclarada quando resultar dos atosinquinados manifesto prejuízo às partes...”,como enfatiza o artigo 794, da CLT.

Ora, além de ser a contestaçãopeça de autoria do agravante, cujoconteúdo é de seu inteiro conhecimento,como gizado na r. decisão agravada (f.112), a sua falta, na formação da carta,nenhum prejuízo causou à defesa doagravante, isso porque a decisãoexeqüenda (f. 72), diversamente daquelasintética lembrada pelo processualistaretrocitado, primou pela técnica,explicitando as parcelas deferidas e,permitindo, assim, só com ela, o regularencaminhamento da execução.

Não bastasse isso, o agravadocontrapôs-se aos cálculos oferecidospelo exeqüente, ofertando os seus, queforam, finalmente aceitos e assimhomologados. Só isso fulmina,inapelavelmente, o alegado prejuízo.

O Agravante, na hipótese, litigade forma temerária, sujeitando-se àmulta de 5% sobre o valor atualizado daliqüidação.

Ante o exposto, nego provimentoao agravo e aplico ao agravante a multade 5% sobre o valor atualizado daliqüidação a favor do exeqüente.

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da Terceira Região,em Sessão Ordinária da SeçãoEspecializada, por unanimidade, emconhecer do agravo de petição e, nomérito, em negar-lhe provimento. Pormaioria de votos, em aplicar ao agravantea multa de 5% sobre o valor atualizado

da liqüidação, vencidos, totalmente, oEx.mo Juiz Revisor e, parcialmente, osEx.mos Juízes Antônio Álvares da Silva eWanderson Alves da Silva.

Belo Horizonte, 06 de abril de1999.

PAULO ARAÚJOPresidente

TARCÍSIO ALBERTO GIBOSKIRelator

TRT/RO-16614/98Publ. no “MG” de 19.06.1999

RECORRENTES: COOPERATIVA DETRABALHO DE MINAS GERAISLTDA. - COOTRAMIG (1)MINISTÉRIO PÚBLICO DOTRABALHO (2)

RECORRIDOS: OS MESMOS

EMENTA: COMPETÊNCIA DAJUSTIÇA DO TRABALHO -AÇÃO CIVIL PÚBLICA. À luz doinciso III, do art. 83, e inciso II,do art. 84, da Lei Complementarn. 75/93 e art. 114, daConstituição Federal/88, é daJustiça do Trabalho acompetência para processar ejulgar ação civil pública em queo Ministério Público doTrabalho defende o eficazcumprimento das normassociais insculpidas naConstituição Federal, visandoa efetividade da proteção aostrabalhadores e ainstrumentalização dosdireitos sócio-econômicos.

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Vistos, relatados e discutidos estesautos de recurso ordinário, em que figuramcomo recorrentes COOPERATIVA DETRABALHO DE MINAS GERAIS LTDA. -COOTRAMIG (1) e MINISTÉRIOPÚBLICO DO TRABALHO (2) e comorecorridos OS MESMOS.

RELATÓRIO

A MM. 34ª JCJ de Belo Horizonte,sob a presidência da Ex.mo Juiz Dr. MarcusMoura Ferreira, através da sentença de f.1164-1180, cujo relatório adoto e a esteincorporo, à unanimidade, julgouprocedentes, em parte, os pedidos da AçãoCivil Pública proposta por MINISTÉRIOPÚBLICO DO TRABALHO contraCOOPERATIVA DE TRABALHO DEMINAS GERAIS LTDA. - COOTRAMIG,condenando esta a assegurar efetivamentea todos os trabalhadores que a ela sevinculam os direitos inerentes à condiçãode empregados (f. 1179).

Opostos embargos de declaraçãopelas partes, os da reclamada foramjulgados improcedentes, os doreclamante, procedentes, em parte.

Inconformada, a reclamadaapresentou recurso ordinário, alegando aincompetência da Justiça do Trabalho, aoargumento de que somente a justiçacomum pode decidir sobre a extinção esuspensão da atividade de cooperativas.Suscitou a preliminar de ilegitimidade ativado Ministério Público do Trabalho,asseverando que o autor não está adefender direito coletivo ou interesse difusoe que há impossibilidade jurídica do pedido,via ação civil pública, consubstanciado emobrigação de fazer que não encontra abrigoem lei específica. Aduziu, ainda, que suaatividade está amparada no parágrafo únicodo artigo 442, da CLT, e no parágrafo único,do artigo 170 e artigo 174, da CF/88.

Com o recurso vieram aos autosos comprovantes de recolhimento dascustas e do depósito recursal (f. 229-1230).

O reclamante tambémapresentou recurso ordinário,pretendendo a reforma da r. decisão deorigem a fim de ampliar a condenaçãopara coibir que a cooperativa continue aintermediar a mão-de-obra de seusassociados (f. 1234- 1240).

Com o recurso vieram aos autosos comprovantes de recolhimento dascustas e do depósito recursal (f. 700-701).

Apresentadas as contra-razões,as partes pugnaram pela manutenção dar. decisão na parte em que a mesma lhesfavoreceu (f. 1241-1261).

O parecer da d. ProcuradoriaRegional do Trabalho é peloconhecimento dos recursos,desprovimento do recurso da reclamadae provimento do recurso do reclamante(f. 1264-1267).

É o relatório.

VOTO

Admissibilidade

Presentes os requisitos legais deadmissibilidade, conheço dos recursosinterpostos.

JUÍZO DE MÉRITO

Recurso da reclamada

Da incompetência da Justiçado Trabalho

Merece ser afastada a preliminarde incompetência da Justiça do Trabalhoargüida pela reclamada.

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O caso sub judice trata-se deação civil pública em que o MinistérioPúblico do Trabalho postula que areclamada seja coibida de exercer aatividade de intermediação de mão-de-obra empregatícia, sem a observânciados direitos e garantias previstas naConstituição Federal acerca da proteçãoaos trabalhadores. Assim, a discussãorecursal envolve matéria de ordememinentemente trabalhista e que,portanto, está afeta à Justiça do Trabalhoe exclui qualquer outro Órgão Judicial,porquanto o Autor defende o eficazcumprimento das normas sociaisinsculpidas na Lei Maior, visando àefetividade da proteção aostrabalhadores e à instrumentalização dosdireitos sócio-econômicos a que areclamada estaria descumprindo comsua atividade de intermediação de mão-de-obra empregatícia de seusassociados.

A competência da Justiça doTrabalho, nestes casos, encontra-seexpressamente prevista no inciso III, doartigo 83, da Lei Complementar n. 75/93, que dispõe textualmente:

“Art. 83 - Compete aoMinistério Publico do Trabalho oexercício das seguintesatribuições junto aos órgãos daJustiça do Trabalho:

[...]III - Promover a ação civil

pública no âmbito da Justiça doTrabalho, para defesa deinteresses coletivos, quandodesrespeitados os direitos sociaisconstitucionalmente garantidos”.

Portanto, o mencionadodispositivo legal, combinado com o artigo114, da Constituição Federal, garante a

competência da Justiça do Trabalho,como aliás já se pronunciou o ExcelsoSTF, no Recurso Extraordinário n.206.220-1-MG, em que foi Relator o Em.Ministro Marco Aurélio, Segunda Turma,DJU de 16.03.99:

“COMPETÊNCIA - AÇÃO CIVILPÚBLICA - CONDIÇÕES DETRABALHO: Tendo a ação civilpública como causas de pedirdisposições trabalhistas epedidos voltados à preservaçãodo meio ambiente do trabalho e,portanto, aos interesses dosempregados, a competência parajulgá-la é da Justiça do Trabalho.”

No mesmo acórdão supra, restoufixado:

“Compete à Justiça do Trabalhoo julgamento de ação civil públicaque tenha por objeto apreservação do meio ambientetrabalhista e o respeito irrestritoàs normas de proteção aotrabalho (CF, artigo 114, §§ 1º e2º). Com esse entendimento, aTurma julgou procedente recursoextraordinário para reformaracórdão do STJ que, ao dirimirconflito negativo de competênciaestabelecido entre a Quarta Juntade Conciliação e Julgamento deJuiz de Fora - MG e o Juízo deDireito da Fazenda Pública,assentar a competência dajustiça comum para o julgamentode ação civil pública, entendendoser esta uma verdadeira ação deacidente de trabalho (CLT, art.643, § 2º: ‘As questões referentesa acidente de trabalho continuamsujeitas à justiça ordinária, na

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forma do Decreto n. 24637, de 10de julho de 1934, e legislaçãosubseqüente’). Trata-se, naespécie, de ação civil públicaproposta pelo Ministério Públicodo Estado de Minas Gerais contravinte e um bancos, em que sebusca o cumprimento dalegislação trabalhista diante daprecariedade das condições e doambiente de trabalho oferecidaspela rede bancária de Juiz deFora, quais sejam, a extrapolaçãoda jornada de trabalho e oconseqüente aparecimento delesões por esforço repetitivo -LER.”

Diante do exposto, rejeito apreliminar argüida.

Da ilegitimidade ativa do MPT

Também não merece seracolhida a preliminar de ilegitimidadeativa do Ministério Público do Trabalho,sob a alegação de que o mesmo não estáa defender direito coletivo ou interessedifuso.

Como já dito acima, o caso subjudice trata-se de ação civil pública emque o Ministério Público do Trabalhopostula que a reclamada seja coibida deexercer a atividade de intermediação demão-de-obra empregatícia, sem aobservância dos direitos e garantiasprevistas na Constituição Federal acercada proteção aos trabalhadores. Assim,se o Autor defende o eficaz cumprimentodas normas sociais insculpidas na LeiMaior, visando à efetividade da proteçãoaos trabalhadores e à instrumentalizaçãodos direitos sócio-econômicos a que areclamada estaria descumprindo comsua atividade de intermediação de mão-

de-obra empregatícia de seusassociados à lei, o inciso III, do artigo83, e o inciso II, do art. 84, da LeiComplementar n. 75/93, lhe concedemlegitimidade ativa para a presente açãocivil pública.

Segundo Ibrain Rocha, in AçãoCivil Pública e o Processo do Trabalho,p. 74-75, LTr. 1996:

“A Lei Complementar n.75/93, que regulamenta asatribuições do Ministério Públicoda União, no capítulo que tratadas Atribuições do MinistérioPúblico do Trabalho, estabelece,expressamente, no artigo 83, III,a competência do ÓrgãoMinisterial para propor ‘ação civilpública no âmbito da Justiça doTrabalho, para a defesa deinteresses coletivos, quandodesrespeitados os direitos sociaisconstitucionalmente garantidos’(grifo nosso), e por conta destepreceito não houve manifestaçãoquanto à defesa dos interessesmetaindividuais homogêneos.

Embora o preceito em telaseja omisso quanto aos interessesindividuais homogêneos,referindo-se somente a interessescoletivos, que abrangeriamapenas os difusos e coletivosstricto sensu, esta omissão ésanada pelo artigo 84, da mesmaLei Complementar n. 75/93, umavez que tal preceito normativopreceitua expressamente que aoMPT incumbe, no âmbito de suasatribuições, exercer as funçõesinstitucionais previstas nosCapítulos, I, II, III, do Título I, quetrata das atribuições do MPU, e,como no capítulo II, do Título I, no

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seu artigo 6º, inciso VII, alínea ‘d’,há previsão normativa de que oMPU pode promover a ação civilpública para a defesa de outrosinteresses individuaisindisponíveis, homogêneos,sociais, difusos e coletivos, temosa necessidade e lógica conclusãode que é atribuição do MPT adefesa dos interesses individuaishomogêneos no campo dasrelações do trabalho, já que estecompõe o MPU e o artigo 84 lheincumbe as funções institucionais,prescritas no Capítulo II, do TítuloI. Logo, tem legitimidade ativa paraa propositura de ação civil públicavisando à defesa de interessesindividuais homogêneos.

Mas, alerta-se, porém, quena defesa de qualquer dosinteresses, metaindividuaistutelados pela Lei n. 7347/85,devem ser respeitados os finsinstitucionais do Ministério Públicoprevistos na Carta Política de 1988,artigo 127 caput, de defesa daordem jurídica, do regimedemocrático e dos interessessociais e individuais indisponíveis.”

Expondo sobre a diferença entreo interesse individual homogêneo e ointeresse coletivo, expõe o autor citado(p. 39):

“Conclua-se que o traçodistintivo do interesse individualhomogêneo para o coletivo - strictosensu - é a sua divisibilidade,decorrente da sua afetação a umgrupo mais restrito e determinadode pessoas, que estão ligadasentre si para um fim comumdecorrente de origem comum.”

Por sua vez, Carlos HenriqueBezerra Leite, no livro Contratação Ilegalde Servidor Público e Ação Civil PúblicaTrabalhista, Ed. LTM Ltda., aponta asrazões pelas quais, no âmbito do Direitodo Trabalho, não há a necessidade deque seja indivisível o objeto do interessea ser tutelado, como elementocaracterizador dos interesses difusos ecoletivos passíveis de serem defendidospor meio da ação civil pública no âmbitoda Justiça do Trabalho:

“A primeira delas é a deque, como leciona Hugo NigroMazzilli (v. item 4.1 infra), o art. 129,inciso III, da Constituição daRepúbIica, comporta interpretaçãoampliativa, e não restritiva, comopode sugerir a leitura superficial dopreceito ali contido.

A segunda consiste no fatode a expressão ‘interesses oudireitos individuais homogêneos’ser criação do Código de Defesado Consumidor, editado, como sesabe, posteriormente à Carta de1988, pelo que perfeitamenteperdoável a omissão do legisladorconstituinte acerca desta novacategoria jurídica.

A terceira está em que oart. 83, da Lei Complementar n.75/93, refere-se à Ação CivilPública como uns dosinstrumentos de atuação doMinistério Público do Trabalho,embora aludindo apenas àdefesa de ‘interesses coletivos’(inciso III). Não há, no preceito emquestão, previsão expressa datitularidade do Parquer Laboralpara a Ação Civil Pública. Logo,parece-nos mais razoável oalargamento do leque de

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abrangência dos interesses aserem defendidos pela ação civilpública no âmbito da Justiça doTrabalho do que estender alegitimidade ad causam do ÓrgãoMinisterial Trabalhista para outrotipo especial de ação nãocontemplada no capítuloespecífico a ele reservado.

A quarta repousa naliteralidade dos arts. 83, lII, 84,caput e 6º, VIl, ‘a’ e ‘b’, da LC 75/93, os quais, aplicadosconjuntamente, autorizam adefesa pela ação civil pública noâmbito da Justiça do Trabalho,tanto dos interesses ou direitosdifusos e coletivos como dosindividuais homogêneos, emrazão do que, convenhamos,entendimento outro, levaria ànegativa de vigência dosreferidos dispositivos legais, oque seria de todo um desplante.

A quinta e derradeirarazão decorre da inexistência deóbice - ao revés, há permissãoexpressa no art. 6º, inciso VII, ‘a’,inciso XII, da LC 75/93 - a que omesmo direito ou interesse possaser defendido por uma ou maisespécies de ações. Isso se dá,v.g. com a ação civil pública e aação popular, na medida em queambas podem ter por objeto adefesa do patrimônio público (LeiComplementar n. 75, art. 6º, VII,‘b’, Lei n. 8.625/93, art. 25, IV, ‘b’;e Lei n. 4.717/65, art. 1º) Dondese conclui que a defesa dosdireitos individuais homogêneospelo Ministério Público doTrabalho pode ser feita tanto pelaação civil pública como pela açãocivil coletiva.”

Em lapidar acórdão proferido porEgrégio Tribunal Regional do Trabalho -RO-12201-98, pela sua Egrégia 4ªTurma, decidindo hipótese jurídicaidêntica a dos autos, (citar a data depublicação), o Ex.mo Juiz Relator, Dr.Márcio Flávio Salem Vidigal, expôs deforma magistral que:

“Não se pode reduzir àproteção de mero interesseindividual a pretensão trazidapelo autor, porque estas lesõesindividuais em curso ou jáperpetradas continuarão a existirocorrendo sucessivamentecontra cada trabalhador quepotencialmente venha a seradmitido em seus quadros comocooperado. Devemos considerarque estas lesões de direitossempre terão contornosindividuais e concretos em umadeterminada escala, mas aamplitude ou a extensão temporaldessas lesões, tendo em vista ouniverso de trabalhadores cujoperfil profissional se enquadranos fins sociais da ré,enquadram-se claramente comodireitos coletivos difusos a seremprotegidos.”

Além do mais, não é razoávelsupor que as normas jurídicas quetraçam os direitos materiais tenhamsimplesmente existência platônica a todamaterialidade que as inspirou e lhes deuvalor e que o próprio ordenamentojurídico seja conivente com quem,reiteradamente, atua em desrespeito àsnormas nele insertas e muitas vezesquerem achar abrigo em normasinstrumentais para a continuidade de suaconduta ilegal.

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O Direito é único e tem como fimpossibilitar o convívio social e estesomente será atingido na medida em queas normas jurídicas não sejam,meramente, enunciados formais.Portanto, pode-se dizer que há uminteresse público e social que se dêefetividade àquilo que se dispôs comonorma de conduta, principalmentequando esta resulta do processodemocrático.

Esse interesse pertence a todosos seguimentos da sociedade e ao próprioEstado como pessoa jurídica, sobretudoquando a infringência da norma égenérica e contínua, já que atenta contrasua finalidade. Assim, se a infringência aum direito atinge somente um indivíduo,ou vários num dado momento, a açãoreparatória por estes suprirá acontrariedade ao ordenamento jurídico.Contudo, se assim não ocorre, ou seja,se a prática ilegal perpetua-se no tempoe abarca potencialmente a todos que sesubmetam àquelas condições, por maisque alguém, individualmente, defenda aaplicação da norma em relação a si, a suaprática isolada não tem o condão dereparar a plenitude da ordem jurídica. Omaior exemplo disso é a enormequantidade de processos individuais naJustiça do Trabalho contra os mesmosempregadores, em que se repetem asmesmas violações às normas de proteçãoao trabalho, em total prejuízo para asociedade e o Estado, o que serve até deestímulo ao não-cumprimento daquelesdireitos, já que nem sempre é rápida asolução judicial e por isso, ostrabalhadores, muitas vezes, vêm-se“forçados”, nos chamados “acordos”, aaceitarem menos do que teriam direito,fato que agride violentamente e inverteos conceitos e valores de proteção aquem deveria realmente ser tutelado.

Certamente a ação civil pública, noâmbito do Direito do Trabalho, abre asportas para a correção dessa distorção,visto que se a violação perpétua pode sercoibida por esta ação, já que a sentençanesta hipótese tem efeito erga omnes (art.16, da Lei 7.347/95), ou seja, abarca todosos que se encontrem, ou que futuramentevenham a se encontrar naquela situação,uma vez que a decisão poderá coibir, sobpena de multa, a continuidade dos atoscontrários ao ordenamento jurídico, alémde reparar os danos resultantes (artigo 11,13, da Lei 7.347/85).

Por estes fundamentos, rejeito ailegitimidade do Ministério Público doTrabalho na presente ação civil pública.

Da impossibilidade jurídica dopedido

Também inocorre impossibilidadejurídica do pedido, ao argumento de quea obrigação de fazer postulada via açãocivil pública deve encontrar guarida emnorma legal específica, proibindo aatuação da cooperativa e que não foimencionada pelo Autor.

A possibilidade jurídica do pedidocomo condição da ação deve serlocalizada no pedido imediato, que serefere à tutela jurisdicional e não nopedido mediato que se refere àprovidência de direito material. Assim, apossibilidade jurídica do pedido deve serentendida como a permissão legal paraque se instaure a relação processual emtorno da pretensão, o que não é vedadono caso ventilado, à luz do mencionadoartigo 83, da Lei Complementar n. 75/93.

Portanto, a matéria alegada podeser requisito de procedência ouimprocedência do direito pretendido,mas não é condição da ação.

Rejeita-se.

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Cooperativa - Intermediação Demão-de-obra - Ilegalidade

A partir deste ponto, analisareiconjuntamente os recursos, dada aidentidade das questões a seremdecididas.

Os recursos trazem em seu bojodiscussão acerca da legalidade daatuação da reclamada, uma cooperativade prestação de serviços instituída naforma da lei e que se propõe a intermediara mão-de-obra de seus associados,oferecendo-a a tomadores de serviços,sem nenhum liame empregatício, comestes ou com ela própria.

O Ministério Público do Trabalhoreivindicou na inicial que a ré fossecompelida a garantir aos associados osdireitos previstos na legislaçãotrabalhista e que cessasse a atividadede intermediação de mão-de-obra, sema garantia destes direitos, argumentandoque é ilegal a atividade da cooperativa,já que os aludidos cooperados prestamserviços nas condições previstas noartigo 3º, da CLT.

Já a reclamada sustenta alegalidade de sua atividade, nos termosdo princípio da livre iniciativa (artigo 170,da CF/88, parágrafo único), na regraconstitucional que permite e incentiva ocooperativismo (§§ 2º e 3º, do artigo 174,da CF/88), bem como na Lei 5.764/71 eparágrafo único, do artigo 442, da CLT.

Portanto, a solução da controvérsiaremete à exata extensão do parágrafoúnico, do artigo 442, da CLT, que prescreve:

“Qualquer que seja o ramode atividade da sociedadecooperativa, não existe vínculoempregatício entre ela e seusassociados, nem entre estes e ostomadores de seus serviços.”

Dissertando sobre o assunto, oEx.mo Juiz deste Egrégio Tribunal eProfessor da UFMG, Dr. Márcio TúlioViana, in Repertório IOB deJurisprudência, maio/96, n. 10/96, pp.157-159, escreve:

“... de resto, a mesmaConstituição prescreve os direitosdos trabalhadores urbanos erurais, distinguindo apenas osdomésticos. Até mesmos osavulsos, como se sabe, foramigualados aos empregadoscomuns.

Assim, quando a lei excluida CLT os cooperados, refere-seapenas àqueles que realmentesão cooperados, mantendo entresi relação societária. Em outraspalavras: pessoas que não sevinculam ao tomador de serviços,nem à própria cooperativa, peloslaços da pessoalidade, dasubordinação, da nãoeventualidade e do salário.

Assim, ao usar aexpressão: ‘Qualquer que seja oramo da atividade da sociedadecooperativa...’, a lei não estáafirmando: ‘qualquer que seja omodo pelo qual o trabalho venha aser realizado’. O que a lei quer dizeré exatamente o que nela estáescrito. Ou seja: que não importao ramo da cooperativa. Mas épreciso - repetimos - que se traterealmente de uma cooperativa, nãosó no plano formal, masespecialmente no mundo real.

Em outras palavras, énecessário que o contrato seexecute na linha horizontal, comoacontece em toda sociedade, e nãona linha vertical, como sucede na

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relação empregado/empregador.Vale dizer: que haja uma obra emcomum (co-operari) e não umtrabalho sob a dependência dooutro (sub-ordinari).

E nem poderia ser de outromodo: um dos princípios do Direitodo Trabalho, como se sabe, é oda primazia da realidade, queprivilegia a substância sobre aforma, o conteúdo sobre o rótulo.E é bom notar, a propósito, queesse princípio tem hoje raizconstitucional, na medida em quea Carta de 1988 absorveu umnúmero inédito de direitostrabalhistas, celetizando-se. Poisde outro modo seria como setivéssemos uma casa semalicerces, uma árvore sem raiz, umcorpo sem alma...”.

Em artigo publicado na RevistaLTr. 61-03, pp. 341-345, março de 1997,Anemar Pereira Amaral, insigneProcurador do Trabalho da 3ª Região,explana que:

“... as entidadescooperativas que se propõem aintermediar a mão-de-obra alheianão têm respaldo legal parafuncionarem. Razões de todaordem levam a este entendimento,já que invadem searas afetas aatividades já regulamentadas,como é o caso da terceirização damão-de-obra, conforme já exposto.

As cooperativas detrabalho rural têm algo emcomum: a enorme quantidade deassociados que congregam.Existem casos em que chegam aarregimentar mais de 10 miltrabalhadores, sem que a

entidade ainda tenha completadoum ano de funcionamento.

Diante desse quadrosurge a dúvida: como atender aregra do item XI, do art. 4º, da Lein. 5.764/71, que limitando a áreade atuação da sociedadecooperativa, dispondo que: ‘aárea de admissão de associadolimitada às possibilidades dereunião, controle, operações eprestação de serviços’? Pelo quese sabe, a estrutura física damaioria das entidades éabsolutamente rudimentar. Seus‘alojamentos’ não oferecem amenor condição de higiene, ostrabalhadores ficam expostos asituações subumanas, dedegradação!”.

Realça, ainda, o citado autor que,ao:

“... examinar alguns casosconcretos da atuação dessasentidades, cujos atosconstitutivos e regulamentares(regimentos internos) traduzem-se em verdadeiras aberraçõesnormativas. Tem-se a impressãoda instalação de uma ‘escravidãobranca’ - não declarada.Pinçamos alguns desses‘regramentos’ relativamente àassembléia de constituição e aoregimento interno de uma dessasentidades, que permitemapreender um pouco do querealmente ocorre. Vejamos:

- Sócios-Fundadores: Deacordo com o relato dos agentesde inspeção do trabalho, da DRT/MG, houve casos em que osdirigentes têm atividades diversas

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das que informam nas atas deassembléia de fundação (qualseja, trabalhador rural): algunscomerciantes, outros egressos daprópria clandestinidade dealiciamentos (gatos). Trabalhorural e comércio são atividadesque não se interagem de maneiraa ensejar interesse cooperativista.Trata-se, na verdade, de um novonegócio, e rentável, ao que tudoindica!

- Regimento lnterno: Alémde objeto ilícito, como exposto, jáque o leasing de mão-de-obranão se encontra relacionado noart. 5º, da Lei de Cooperativas, oregimento interno atenta contraelementares garantiasconstitucionais einfraconstitucionais, destinadasaos trabalhadores em geral”.

Acerca do parágrafo único, artigo442, da CLT, expõe que:

“... o dispositivo legal emcomento não tem qualquerpertinência com as atividades dassociedades cooperativas aquiconsideradas. Sem qualquerconsistência jurídica o dispositivoda Consolidação das Leis doTrabalho, principal esteio esustentáculo de sua existência, aimunizarem-se contra a naturezaempregatícia com os seusassociados”.

Um singelo exame do caso permiteconcluir que as atividades desenvolvidaspor essas entidades cooperativas não seenquadram em nenhum regramentoexistente, estando, na verdade, fora daórbita jurídica pátria: Vejamos:

1) Na contratação regular, regidapela CLT, a relação de emprego é clarae bastante objetiva, não estando aquiabrangidas aquelas atividades;

2) No processo legal deterceirização (Leis n. 6.019/74 e 7.102/83), a empresa contrata, registra eassalaria o trabalhador, cedendo a umasegunda, a tomadora, a disponibilidade,a sua força de trabalho. Ficou claro quea cooperativa não contrata nem pagasalários aos associados, apenas sublocaintegralmente a sua mão-de-obra,afastada, assim, as regras do trabalhotemporário;

3) Na locação de serviços, emque o locador é quem oferecediretamente o seu trabalho mediantepaga, também não se enquadra, pois,embora exista a pessoalidade naprestação do serviço, a figura dolocatário é suprimida da relação jurídica.E mesmo assim, foram revogadas pelalegislação do trabalho todas asdisposições do Código Civil que tratamda locação de mão-de-obra e que comela colidiam.

Dessume-se, ante ao exposto,que o cooperado é relevado a uma figuraexpungida do ordenamento jurídico, àmargem de qualquer tutela legal. Estãopresentes três figuras: o dador da mão-de-obra, o cedente-intermediário e otomador-beneficiário. Em que pese arelação de fato, a ela não se aplicaqualquer regra de direito. Nem mesmolançando mão do método diferenciadordo contrato de trabalho com os contratosafins como a affectio societatis paracaracterizar o contrato de sociedade, ea representação para o mandato, leva aum elemento seguro a permitir aindividuação de uma nova formacontratual. E tudo isso pela simplesexistência do parágrafo único, do art.

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442/CLT. Será que o legisladorpretendeu excluir uma classe detrabalhadores da mais elementarproteção legal? Seria razoável imaginar,no limiar do terceiro milênio, alguémcapaz de empreender tamanha barbárielegislativa? Acreditamos que não!

Se se quiser reconhecer algumaeficácia jurídica ao parágrafo único, doart. 442, da CLT, deixando de ladofundada dúvida quanto à suaconstitucionalidade, somente umainterpretação seria aceitável: dirige-se odispositivo legal às verdadeirassociedades cooperativas, aquelas cujoobjeto social atende ao disposto na Lein. 5.764/71 (Lei das Cooperativas).Estão nesse grupo as cooperativas detrabalho médico, cooperativas agrícolas,cooperativas de produtores rurais emuitas outras. Caso contrário, vislumbra-se a conhecida figura do “gato”, só queagora numa visão empresarial,encontrando naquele dispositivo da CLTseguro abrigo para os espertos, asolução que faltava a todos os seusproblemas legais.

À mesma conclusão foi de NeiFrederico Cano Martins, em elucidativoartigo doutrinário intitulado SociedadeCooperativa - Vínculo Empregatício entreela e o Associado - parágrafo único doart. 442 da CLT (Revista LTr, julho/95,pp. 890/893), onde pontua:

“Não nos parece que aexistência do novel dispositivolegal possa modificar conclusõesdesse jaez (configuração darelação de emprego ante afraude), não obstante tenhamosque reconhecer que o legisladortrouxe ao fraudador dos direitosobreiros um sólido argumento ajustificar a sua irregular atitude.”

Eduardo Gabriel Saad, emincursão sobre o tema Cooperativa eContrato de Trabalho (in SuplementoTrabalhista, LTr, 007/95), procurandodiferençar o trabalhador comum doassociado, assim se posiciona:

“A fim de permitir ao leitorum critério que o leve a identificaro verdadeiro associado de umacooperativa de serviços,lembramos que, de ordinário, é eleincumbido de realizar, na empresacontratante, trabalho de curtaduração e cuja especificidadeexige conhecimentosespecializados. Se a prestação detrabalho for demorada,estabelece-se o rodízio entre osassociados.” (grifei)

Vamos além, para acrescentarque a maior diferença entre o trabalhadore o associado está no objeto social dacongregação. Assim se a cooperativaobjetiva o alheamento da mão-de-obrado cooperado sem que a reunião depessoas vise ganhar fatias de mercadoque não alcançariam agindoindividualmente, há o desvirtuamento dalei, confundindo-se com as empresas deterceirização.

Cooperativa de trabalho ruraljamais poderia vir com propósitossinceros e alvissareiros, a que se referea lei do cooperativismo, senão comoportunismo e visando à fraude, aindaque custe a miséria alheia. Basta observaro alto índice de analfabetismo entre osassociados, havendo casos em que otrabalhador mal consegue desenhar asiniciais do nome e em letra de forma.Presa fácil para os predadores, atraídospelo falso título de “sócio-cooperado”,somado à escassez de trabalho no setor

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(em virtude da crescente mecanização,tanto na agricultura quanto na pecuária)e à alarmante situação de miséria queassola essas regiões comumentedenominadas “bolsões de pobreza”,fermentada pela má distribuição de rendado País. Não poderia haver terreno maisfértil à germinação dessas entidades tãoperniciosas. Qualquer outro interessetiveram os que engendraram as pseudos-cooperativas, menos aqueles enunciadosna Lei 5.764/71.

Se o propósito do legislador foibom ao introduzir o malsinado dispositivolegal no mundo jurídico (parágrafo único,art. 442, Consolidação das Leis doTrabalho) com certeza os resultados nãopoderiam ser mais desastrosos. É assimque a sua interpretação sociológica semostra mais conveniente e condizentecom o vetusto mandamento do art. 5º,da LICC:

“Na aplicação da lei, o juizatenderá aos fins sociais a quese dirige e às exigências do bemcomum.”

Do contrário, à mera retóricaredundariam os fins sociais elencadosdentre os princípios fundamentais doEstado, ostentados no pórtico da novelConstituição da República. O mesmo sediga da valorização do trabalho humanocomo fundamento da ordem econômicaaqui compreendidas a dignidade daexistência e a plenitude do emprego(art.170, VIII). Os Direitos Sociaisconstantes do Capítulo II, do Título II, danovel Constituição Federal, seriam comosimplesmente riscados do Texto.

Restando, pois, como únicaconclusão lógica e sensata a de que odispositivo previsto no parágrafo único,do art. 442, da Consolidação das Leis

do Trabalho, não se aplica quando, aquestão referir-se a trabalho rural ouurbano prestado em regime de mutirãoorganizado sob a forma de cooperativapretensamente constituída nos moldesda Lei n. 5.764/71.

Por sua vez, o Ex.mo Juiz doTrabalho desta 3ª Região e Prof. daUFMG, Dr. Maurício Godinho Delgado,in Introdução ao Direito do Trabalho, ed.LTr, 2ª edição, enuncia dois princípiosinformadores das sociedadescooperativas: o “princípio da duplafinalidade” e o “princípio da retribuiçãopessoal diferenciada” e sobre cada umexplana que (pp. 269-270):

“O princípio da duplaqualidade informa que ocooperado, em tais espécies deassociação, tem de ser, aomesmo tempo, ‘cooperado’ e‘cliente’, auferindo as vantagensdessa duplicidade de situações.Ou seja, é necessário que hajaefetiva prestação de serviços pelacooperativa diretamente aoassociado - e não somente aterceiros. Essa prestação diretade serviços aos associados/cooperados é, aliás, conduta queresulta imperativamente daprópria Lei de Cooperativas (art.6º, I, Lei n. 5.764/71).

De fato, as ‘cooperativassingulares’ (que não se confundemcom as ‘cooperativas centrais’ ou‘federações de cooperativas’ ou,ainda, - ‘confederações decooperativas’ - art. 6º, II e III, da Leidas Cooperativas) ‘se caracterizampela prestação direta de serviçosaos associados’ (art. 7º, Lei n.5.764/71). Na mesma linha,enfatiza o art. 4º, do mesmo

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diploma, que as cooperativassingulares são ‘constituídas paraprestar serviços aos associados’.

Objetiva, desse modo, oprincípio da dupla qualidade - e otexto expresso da Lei deCooperativas (n. 5.764/71) - queessa modalidade de associaçãoou sociedade harmonize-se auma peculiaridade em face deoutras associações: o próprioassociado é um dos beneficiárioscentrais dos serviços prestadospela cooperativa. É o que ocorre,em geral, com cooperativas deserviços de transportes de táxi,de serviços médicos, deprodutores etc.

[...]Há em segundo Iugar, no

cooperativismo, o princípio quepode ser denominado comoretribuição pessoal diferenciada.

De fato, o que justifica aexistência das cooperativas - e asvantagens que essa figura recebeda ordem jurídica - é acircunstância de que ela potenciao trabalho ou, simplesmente, asatividades humanas ou dasorganizações cooperadas. Acooperativa permite que ocooperado obtenha umaretribuição pessoal em virtude desua atividade superior àquilo queobteria caso não estivesseassociado. A retribuição pessoalde cada cooperado é,necessariamente (ainda que empotencial), superior àquelaalcançada caso atuandoisoladamente.

O b s e r v a - s e ,ilustrativamente, como atua oprincípio da retribuição pessoal

diferenciada na prática do mercadoeconômico. Tome-se o caso deuma cooperativa de vendedores.A atuação da cooperativa nãoapenas amplia o mercado docooperado, como também - e issoé essencial - permite que ela aufiracomissões muito superiores àquelepadrão característico da relação deemprego. O mesmo ocorre comcooperativas de serviços médicos:o cooperado médico aufere umaclientela certa e larga - clientelainimaginável caso ele estivesseatuando sozinho; isolado em seuconsultório. Ou cooperativas detáxis: a clientela do cooperado ésumamente superior (e maissegura) que a de um taxistanormal”.

Nesta linha de raciocínio, é bomlembrar o conceito de sociedade e, paratanto, cita-se o que escreveu o renomadoOrlando Gomes, in Contratos, EditoraForense, 4ª edição:

“Pessoas que reúnemesforços ou capitais paraempreendimento comum definalidade econômica formamuma sociedade, mediantecontrato”. (p. 443)

Mais adiante, arremata (p. 448):

“Sociedade é o negóciojurídico pelo qual duas ou maispessoas se obrigam mutuamentea somar esforços e recursos parao exercício de atividadeeconômica, em proveito comum.”

Neste sentido é o que apregoa oartigo 1363, do Código Civil, ao dispor:

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“Celebram contrato desociedade as pessoas quemutuamente se obrigam acombinar seus esforços ourecursos, para lograr fins comuns.”

O fundamento desta espécie deajuste reside na circunstância de que ohomem tende a se unir a outro, quandonão consegue, por si mesmo, alcançar umdado interesse. Ou seja, a união entre osindivíduos em torno de um objetivo comumpermite ao grupo transpor obstáculos quecada um isoladamente não conseguiria. Éo velho adágio de que “a união faz a força”.

Mas o contrato de sociedadepossui elementos que o individualiza edistingue dos demais, inclusive docontrato de trabalho, que, segundoOrlando Gomes (obra citada, p. 449), são:

“a) fim comum, a ser alcançadopela cooperação dos sócios;b) contribuição dos sócios emesforços, ou recursos;c) affectio societatis.”

Sobre cada elemento explana orenomado jurista (p. 449):

“O fim comum há que serpatrimonial. Para a consecuçãode fim ideal, o instrumento jurídicoapropriado é a associação. Nasociedade, o propósito, consisteem unir interesses. Uma vez deveser comum, cada sócio há decontribuir, de alguma sorte, parasua conservação. A contribuiçãopode ser dada em trabalho ou embens, não se exigindo que sejaigual. Verifica-se, desse modo, acooperação, pondo os sócios emcomum os bens ou serviços a quese obrigaram.

A affectio societatis é oelemento psicológico consideradodecisivo para a caracterização docontrato, elemento que possibilitadistingui-lo de figuras afins comoa parceria, a edição, certoscontrato de trabalho, e, de modogeral, os negócios parciários, nosquais, conforme noção pacífica,promete alguém determinadasprestações em troca departicipação nos que outros venhaa obter.

Não é fácil fixar emfórmula precisa e clara oelemento subjetivo do contrato desociedade. Não basta defini-locomo o propósito de cooperar. Émais alguma coisa, ‘o sentimentode que o trabalho de um, dentroda sociedade, reverterá emproveito de todos. Expressa-se,todavia, em termos maisobjetivos, se encarado sob oaspecto da partilha obrigatóriados lucros e perdas.”

Desta forma, enquanto oempregado, na execução do contrato, tempor fim imediato o salário comocontraprestação pelo seu labor, o queanima a atividade do sócio é o ideal deque este trabalho reverterá em prol detodos os membros da sociedade, namedida em que esta atinja o fim para oqual foi criada, normalmenteconsubstanciado na expectativa do lucro.Ou seja, na sociedade, a onerosidade nãoé o fim precípuo do trabalho que o sócionela desenvolve, como ocorre no contratode emprego. O trabalho na primeira temintuito imediato colaborativo, ou de mútuaajuda e apenas, indiretamente, destina-se ao auferimento de uma vantagemeconômica por todo o grupo.

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No caso sub judice, a reclamadatrata-se de uma sociedade constituídasob a forma de cooperativa ligada àprestação de serviços, instituída noEstado de Minas Gerais e que possuiâmbito de atuação em todo territórionacional (f. 501), podendo exercer aatividade de prestação de serviços, osmais variados, de limpeza econservação, eletricista, pedreiro,motorista digitador, que seriamrepassados a seus associados,conforme art. 2º, do Estatuto Social (f.501). Já o § 2º dispõe que os associadosprestariam serviços nas condições deautônomos.

Segundo o artigo 3º, da Lei 5.764,de 16 de dezembro de 1971, que definea Política Nacional de Cooperativismo einstitui o regime jurídico único dassociedades cooperativas:

“Art. 3º Celebram contratode sociedade cooperativa aspessoas que reciprocamente seobrigam a contribuir com bens ouserviços para o exercício de umaatividade econômica, de proveitocomum, sem objetivo de lucro.”

Já o artigo 7º, desta mesma lei,estabelece que “As cooperativassingulares se caracterizam pelaprestação direta de serviços aosassociados.”

Portanto, da análise dos doisdispositivos legais, percebe-se que o fim,ou o objetivo social das cooperativas éa prestação de serviços aos própriosassociados e não a terceiros. E autilização destes seus serviços, ao quedispõe o artigo 29, é restrita aos sócios,a não ser nas hipóteses do artigo 86.

Com efeito, nas sociedadescooperativas, o exercício da atividade

econômica de que cogita o artigo 3º, daLei 5.764/71, consubstancia-se nosserviços que a sociedade prestará aossócios. Como ocorre, por exemplo, emuma cooperativa agrícola que, dispondode máquinas agrícolas, realiza serviçosnas propriedades dos sócios, ou no casodas cooperativas de créditos quefinanciam os investimentos de seusassociados, ou ainda na hipótese de umacooperativa de pescadores que cuida davenda de pescados que lhe foramentregues pelos sócios.

Na verdade, a sociedadecooperativa funciona como um órgão deapoio aos sócios que, com os serviçosoferecidos por ela, têm facilitada aatividade econômica que exploram porsua conta e risco e que não se confundecom os objetivos da cooperativa, tantoque são os sócios que arcam com asdespesas da sociedade, mediante rateio,na proporção direta da fruição deserviços (art. 80, da Lei 5.764/71).

Assim, diante do exposto,conclui-se que no próprio estatuto socialda reclamada há um desvirtuamento daLei 5.764/71, quando dispõe que o objetoda sociedade será prestação de serviçosjunto a entidades públicas e privadas,utilizando a mão-de-obra dos associados(f. 501).

Permissa venia, dispondo oestatuto social nestes termos, osfundadores da reclamada nada maisinstituíram do que uma sociedadeprestadora de serviços a terceiros, o quedenota que a cooperativa não passa deverdadeira empresa fornecedora demão-de-obra dos próprios associados,quando poderia, no máximo, segundo oespírito da Lei 5.764/71, agenciarcontratos de prestação de serviços paraos associados, deixando que estes seobrigassem pessoalmente perante

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terceiros, porque, nesta hipótese, nãorestaria desvirtuada sua função de apoioà atividade que cada sócio desempenha.Obviamente, pelo que se extrai da leidisciplinadora das cooperativas, asatividades dos sócios não são asmesmas da cooperativa. Estas visamfacilitar àquelas somente, não havendo,portanto, identidade entre as empresasde um e de outro, a teor do artigo 7º, damencionada lei.

A extensa documentaçãoexistente nos autos (f. 41-88) dá contade que a reclamada celebrou contratosde fornecimento de mão-de-obra em quese obrigou pessoalmente pela execuçãodos serviços (f. 41-42, 55-57, 63, 68-69),revelando que era a pessoa jurídica dacooperativa quem assumia todos osriscos do negócio e conduzia toda aprestação de serviços, não havendo quese falar, portanto, que os associadosprestavam serviços na condição deautônomos, fato evidenciado até naperícia juntada pela reclamada (f. 887,quesito 23).

Noutro passo, vê-se pelo EstatutoSocial, que a cooperativa em questãotem a pretensão de congregarprofissionais atuantes nas mais variadasáreas, o que torna imperceptível o intuitode cooperação fundado no interessecomum entre os associados, que é abase do cooperativismo. Acrescente-se,outrossim, que a atuação em todo oterritório nacional por certo que inviabilizao disposto no inciso IX, artigo 4º, da Lein. 5.764/71, no que pertine àpossibilidade de reuniões, controle,operações e prestação de serviços.

Também não se percebe, nahipótese ventilada, os “princípios dadupla finalidade” e “o da retribuiçãopessoal diferenciada”, a que se refere oI. Juiz Dr. Maurício Godinho Delgado,

não havendo sequer divisão entre osassociados das sobras líquidas doexercício (f. 883, quesito 11).

Com efeito, estando desvirtuadaa relação cooperativista disciplinada pelaLei 5.764/71, já que a reclamada,segundo os fundamentos acimaexpostos, não se trata de sociedadecooperativa disciplinada pela Lei 5.764/71, data venia, não cabe aqui invocar aaplicabilidade do parágrafo único, doartigo 442, da CLT, e atribuir qualquerefeito ao fato de a demandada encontrar-se formalmente constituída.

A prova pericial juntada pelaprópria reclamada dá conta de que oúnico “serviço” que ela prestava aosassociados era a locação de sua mão-de-obra (quesito 24 - f. 887) e, em quepese a mesma não ter objetivo de lucro,incorporava ao capital social as sobrasdo exercício, em vez de repassá-las aosassociados, além de atuar fora da lei, jáque fornecia mão-de-obra de quem erarealmente empregado a baixo custo, daqual também se beneficiava, tudo emdetrimento dos trabalhadores que nãotinham garantido um mínimo de direitostrabalhistas.

Portanto, a espécie de atividadea que a reclamada se propôs a dedicar,ou seja, a terceirização sem as garantiasde direitos fundamentais trabalhistas,não é a mesma a que o artigo 174, daConstituição Federal/88, veio incentivare nem o princípio da livre iniciativacorroborara tanta agressão jurídica, pois,no mesmo dispositivo legal que oenuncia, também apregoa a valorizaçãodo trabalho humano destinado aassegurar a todos uma existência digna(artigo 170, da Constituição Federal/88).Logo, não é razoável supor que daaplicação do primeiro decorra a negaçãodo segundo.

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Ora, os direitos ascendem dosfatos juridicamente regulados. Assim, sena hipótese os associados dacooperativa trabalhavam nas condiçõeselencadas no artigo 3º, da CLT, não sepode negar aos mesmos os direitoselementares desta condição, como vemprocedendo a reclamada.

É bom lembrar que anecessidade de prover o sustento aquase tudo sujeita quem não dispõe derecursos financeiros para fazê-lo por simesmo e vive, por isso, a ceder a outrosua força de trabalho, sendo essaaniquilação da vontade que reclamoutoda a proteção legal já existente emtorno do empregado. Desta forma, nãose pode idealizar uma sociedade que seintitula de cooperativa, quando, naverdade, não passa de uma ficção, frutode concepções voltadas a afastar aobrigação de garantir um mínimo dedireitos sociais, que na mira do maiorlucro, especula relações e formascontratuais que permitem suprimiraqueles direitos, esquecendo-se que anecessidade econômica é maior do quea vontade de se vincular desta oudaquela forma, já que a única coisa queimporta de imediato é obter o sustento.Destarte, nem se pode presumir quequem se filie à reclamada o faça de livree espontânea vontade e animado doaffectio societatis.

Assim, ao contrário do que tentafazer crer a demandada, sua atuação semostra totalmente à margem da lei,porque é imperativo que se dê àquelesque trabalhem nas condições elencadasno artigo 3º, da CLT, seja em relação àcooperativa ou aos tomadores deserviços, os direitos e garantias mínimasprevistas na legislação trabalhista, à luzdo artigo 9º, da CLT, preceito de ordempública e que se descortina sobre a

realidade fática jurídica da relação deemprego constatada, todosfundamentados na constitucionalizaçãodos direitos sociais. Com efeito, aatividade de locação de mão-de-obra,sem o asseguramento das garantiasmínimas de trabalho, é ilegal e como taldeve ser coibida por meio desta açãocivil pública, a teor do artigo 83, incisoIII, da Lei Complementar n. 75/93,porque, se assim não fosse, seria inócuoo próprio remédio processual concedidoatravés desta ação civil pública aoMinistério Público do Trabalho.

Assim, neste ponto, mereceprovimento o recurso do MinistérioPúblico, a fim de coibir à reclamada quenão proceda a intermediação de mão-de-obra, pelo que se defere o pedidodeduzido pelo Autor na alínea “a”, de f.11. Mas há que se observar, quanto aosefeitos práticos do título judicial que se,vier a garantir aos trabalhadores oregistro como empregados e demaisgarantias trabalhistas, previdenciárias edo FGTS, em face de tratar-se de umaintermediadora de mão-de-obra eestando desvirtuada de sua situaçãoformal de cooperativa, estaríamos diantede uma sociedade totalmente irregular,com sócios que, obviamente, por seremhipossuficientes, tanto que se lhesreconheceu a condição de empregadose assim não poderiam fornecer benspara dar um mínimo de idoneidadeeconômica à sociedade, além de que,ter-se-ia uma sociedade de empregados,sem empregador, ou empregados de simesmos, o que é uma aberração jurídica.

Na hipótese, a cooperativaassumiu a função do tão conhecido“gato” que sequer tem condiçõeseconômicas de suportar os riscos donegócio e vive às custas daintermediação ilegal, encontrando-se

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afastada a norma que lhe davalegitimidade, como uma realidade nãodisciplinada no ordenamento legal. Éjustamente por isso que nesta espéciede fraude na terceirização, sem se falarda que adviria do fato de a atividadeterceirizada constituir atividade-fim dotomador dos serviços, o correto é quese reconheça o vínculo com o tomadordos serviços, quando isto for possível(ressalvando-se a hipótese de suaocorrência em relação aos órgãos daadministração pública, quando,simplesmente, para não se prejudicar osprestadores de serviços, deve-sereconhecer o vínculo empregatício coma cooperativa e impor à administraçãopública a condenação subsidiária pelasdireitos trabalhistas pertinentes).

Quanto à reparação dos direitosdos trabalhadores, traduzido no pedidofeito pelo Autor de impor à reclamada aobrigação de garantir aos associados osdireitos trabalhistas, a pretensão deveser extinta, sem julgamento do mérito,por inutilidade da tutela requerida, já quenão foram citados os tomadores deserviços co- responsáveis pela fraude naintermediação de mão-de-obra.

A falta de idoneidade econômicada reclamada e a fraude perpetrada naterceirização fazem com que o vínculopossa ser reconhecido em relação comos tomadores de serviços, à exceção daPBH, que, em tese, deverá respondersubsidiariamente, deixando-se o vínculopossivelmente com a reclamada. Assim,se estes tomadores de serviços nãoforam citados para a ação, inviabiliza-seos efeitos reparatórios pretendidos peloautor. No entanto, respeitada a coisajulgada, um efeito aproveita a todos, ode que se tornará indiscutível adeclaração de que atividade realizadapela reclamada é ilegal, circunstância

que abre as portas para outra ação civilpública, ou em ações individuais, nasquais se reivindique a reparação do danoperpetrado contra cada trabalhador,podendo-se, inclusive, discutir aresponsabilidade de cada tomador.

Portanto, a pretensão do Autorem ver que a reclamada reconhece aostrabalhadores os direitos trabalhistasesbarra na sua inutilidade, porque parteda premissa de que a reclamada seria aresponsável direta pelos créditos, maso vínculo haveria de ser reconhecido emrelação à ela ou com os tomadores deserviços?

Portanto, provejo parcialmente orecurso da reclamada para lhe afastar aobrigação de reconhecimento dosdireitos trabalhistas aos associados,extinguindo, sem julgamento do mérito,a pretensão do Autor deduzida na alínea“b”, de f. 11, por ausência de utilidadeda tutela requerida, ou seja, ausência deinteresse processual da tutela postulada,artigo 267, inciso VI, do CPC.

Mantenho a condenação impostaa título de multa pelo descumprimentoda obrigação de fazer, só quedirecionada ao cumprimento daobrigação imposta por conta do pedidodeduzido na alínea “a”, da petição inicial(f. 11), sem prejuízo, todavia, dassanções penais cabíveis em relação aosseus diretores.

Provimento nestes termos.

CONCLUSÃO

Pelo exposto, conheço dosrecursos e, no mérito, após afastada aspreliminares de incompetência absolutada Justiça do Trabalho, de ilegitimidadeativa do Ministério Público e deimpossibilidade jurídica do pedido, douprovimento ao recurso da reclamada

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para extinguir, sem julgamento do mérito,o pedido deduzido na alínea “b”, dapetição inicial (f. 11), nos termos do artigo265, VI, CPC e dou provimento aorecurso do Ministério Público doTrabalho para determinar, sob pena demulta de 100 UFIR por obrigaçãodescumprida em relação a cadatrabalhador, revertendo-se osrespectivos valores ao Fundo de Amparoao Trabalhador (FAT), ou à UNIÃO, emcaso de extinção do referido Fundo, semprejuízo das sanções penais cabíveis emrelação aos seus diretores, que areclamada cumpra a obrigação de nãofazer declinada na alínea “a”, da petiçãoinicial (f. 11), ou seja, não proceda àintermediação de mão-de-obra detrabalhadores, sejam eles seusassociados ou não, em atividade-meioou atividade-fim, sem que lhes sejamassegurados o registro comoempregados e as demais garantiasprevidênciárias e do FGTS.

Mantenho o valor arbitrado àcondenação.

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da TerceiraRegião, pela sua Quinta Turma,preliminarmente, à unanimidade, emconhecer dos recursos; sem divergência,em rejeitar as preliminares deincompetência absoluta da Justiça doTrabalho, de ilegitimidade ativa doMinistério Público e de impossibilidadejurídica do pedido e, no mérito, em darprovimento ao recurso da reclamadapara extinguir, sem julgamento do mérito,o pedido deduzido na alínea “b”, dapetição inicial (f. 11), nos termos do artigo265, VI, CPC, e em dar provimento aorecurso do Ministério Público do

Trabalho para determinar, sob pena demulta de 100 UFIR por obrigaçãodescumprida em relação a cadatrabalhador, revertendo-se osrespectivos valores ao Fundo de Amparoao Trabalhador (FAT), ou à UNIÃO, emcaso de extinção do referido Fundo, semprejuízo das sanções penais cabíveis emrelação aos seus diretores, que areclamada cumpra a obrigação de nãofazer declinada na alínea “a”, da petiçãoinicial (f. 11), ou seja, não proceda àintermediação de mão-de-obra detrabalhadores, sejam eles seusassociados ou não, em atividade-meioou atividade-fim, sem que lhes sejamassegurados o registro comoempregados e as demais garantiasprevidenciárias e do FGTS, mantendo-se o valor arbitrado à condenação.

Belo Horizonte, 31 de maio de1999.

LUIZ PHILIPPE VIEIRA DE MELLOFILHO

Presidente ad hoc e Relator

TRT/RO-19687/98Publ. no “MG” 19.06.1999

RECORRENTE: DI GENIO & PATTI S/CLTDA. - CURSO OBJETIVO

RECORRIDOS: CELVA FERREIRASALES DE MAGALHÃES (1)SISTEMA INTEGRADO DEENSINO S/C LTDA. e OUTROS (2)

EMENTA: FRANCHISING -R E S P O N S A B I L I D A D ESUBSIDIÁRIA DA EMPRESAFRANQUEADORA. Afranqueadora não é responsável

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pelos créditos trabalhistasinadimplidos pela empresafranqueada, porquanto ocontrato de franquia não é figurajurídica capaz de atrair aresponsabilidade solidária/subsidiária. Embora exista umacomunhão de interesses entrefranqueador e franqueado, ela érestrita às peculiaridades docontrato.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos em destaque, DECIDE-SE:

RELATÓRIO

A MM. JCJ de Patos de Minas,pela r. sentença de f. 129/138, julgouprocedente, em parte, o pedido deduzidona exordial, condenando os trêsprimeiros reclamados, solidariamente, ea quarta reclamada, subsidiariamente.

Inconformada, a 4ª ré, Di Genio& Patti Ltda. S/C - Curso Objetivo, recorreordinariamente a este Tribunal,pugnando pela reforma do decisum,conforme análise que se fará nafundamentação.

Contra-razões, pela reclamante,às f. 151/153.

Parecer da douta PRT, da lavra daDrª Maria Lúcia Cardoso de Magalhães, épelo prosseguimento do feito, nos termosdos incisos II e VII, do art. 83, da LeiComplementar n. 75/93 (f. 159).

É o relatório.

VOTO

Conhecimento

Satisfeitos os pressupostos legaisde admissibilidade, conheço do recurso.

MÉRITO

Ilegitimidade de parte

Sem as honras de preliminar, arecorrente eriçou ilegitimidade de parte,já que, sabidamente a responsabilidadeacessória pressupõe adentrado examedos autos.

Entretanto, tal prefacial há de serrejeitada, já que restou incontroverso nosautos que a reclamante, ainda queindiretamente, trabalhou em benefício darecorrente e que há uma íntima ligação entrea atividade da franqueada (empregadoradireta) e o êxito do negócio ajustado,emergindo assim, insofismavelmente, sualegitimidade para figurar como pólo passivona presente demanda.

Rejeito.

Da responsabilidade subsidiáriada recorrente

A vexata quaestio dos presentesautos está em saber se a franqueadora,ora recorrente, responde ou nãosubsidiariamente pelos créditostrabalhistas inadimplidos pela primeirareclamada, empresa franqueada.

É consabido que a solidariedadee/ou subsidiariedade deriva da lei ou davontade das partes (art. 896, do CCB) e,na espécie, inexiste amparo legal e/oucontratual a autorizar a condenação,ainda que subsidiária, da reclamada.

Com efeito, restou incontroversonos presentes autos que a recorrente e aprimeira reclamada, Sistema Integrado deEnsino S/C Ltda., firmaram um contratode franquia (v. f. 60/68), cuja figura jurídicanão é capaz de atrair a subsidiariedade.Os únicos elos de ligação entre elas sãoo contrato e a responsabilidade civil ecomercial dele decorrentes.

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Nesse sentido, preleciona orenomado Prof. Paulo Emílio Ribeiro deVilhena, em sua recentíssima obraRelação de Emprego - Estrutura Legal eSupostos - 2ª edição, p. 520: “... inexisteprevisão legal no que diz respeito aqualquer espécie ou forma deresponsabilidade trabalhista dofranqueador (frachisor) pelas obrigaçõesdo franqueado (franchisee)...”.

Continua, “No plano horizontal, ofranqueador não se encontra relacionadocom o franqueado por nenhum daquelesliames previstos no art. 2º, § 2º, daConsolidação da Leis do Trabalho:diversas e autônomas são as empresasde um e de outro, em que não existe‘confusão de patrimônio, vestido com aroupagem de diferentes pessoasjurídicas’ (Mazoratti) e em que ‘emborahaja controle externo do franqueadorsobre o franqueado, tal controle nãoafeta a autonomia dos contraentes(Holando)...”.

E mais, “No plano vertical, não sepode falar em sucessão, eis que não secaracteriza qualquer das hipótesesfisionomizadas pelos arts. 10 e 448, daConsolidação das Leis do Trabalho.”

Embora não se possa olvidar quea franquia empresarial trouxe grandequestionamento acerca daresponsabilidade da franqueadoraperante os trabalhadores da franqueada,porquanto, inegavelmente, existe umacomunhão de interesses entre as partes,eles se limitam às peculiaridades dopróprio contrato, ou seja, “... enquanto oprimeiro deseja vender os produtos ouserviços protegidos pela marca, o últimoprocura tirar proveito de uma designaçãodistintiva que já desfruta de prestígioperante o público” (in RT n. 722 -dezembro/1995), trabalhando por contaprópria e assumindo os riscos e

resultados do negócio, inclusiveadmitindo seus próprios empregados, “...estranhos sempre à franqueadora e aosquais, declarados perante os órgãos doMinistério do Trabalho e para fins deImposto de Renda, sempre por ele pagasas obrigações trabalhistas e/ou feitos osrecolhimentos do FGTS e para INSS”(Vilhena, ob. citada, pp. 515/516).

É que, não obstante existainterferência, por parte da franqueadora,bem como interesse na lucratividade dafranqueada, isso não descaracteriza, demaneira alguma, o contrato de franchise.Ao revés, mais o tipifica, em face danatureza desse contrato, em que afranqueada trabalha dentro dos mesmospadrões de comercialização dofranqueador e de seu modus operandi,sem excluir, contudo, o seu interesse noganho ou recebimento de comissõespelos próprios negócios realizados.

Dessarte, como corolário daexistência de um contrato de franquia,onde há duas empresas autônomas eindependentes, tem-se por infundadaeventual responsabilidade da empresafranqueadora pela inadimplência dosdireitos trabalhistas dos empregados daempresa franqueada. “Aliás, esse parecemesmo ser o espírito encarnado pelafranquia com o advento da Lei 8.955/94,pois, ao estabelecer, na parte final de seuartigo 2º, que não há vínculo de empregoentre franqueado e franqueador, a menlegis denuncia inequivocadamente umamarcante fronteira entre as duasempresas e, consequentemente, umalinha divisória bastante sensível entre asobrigações assumidas pela franqueadacom terceiros (entre esses terceiros, seusempregados) e as obrigações contraídaspela franqueadora.” (GONÇALVESJÚNIOR, Mário. GÊNESIS, Curitiba, 9 (5):153-220 - fevereiro 1997)

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Por fim, retorno ao ponto departida, ressaltando que, por absolutafalta de previsão legal, a recorrente nãoresponde pelos débitos da primeirareclamada, já que ninguém é obrigado afazer ou deixar de fazer alguma coisasenão em virtude de lei - art. 5º, II, daConstituição da República.

Provimento que se dá.

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da TerceiraRegião, pela sua Quinta Turma,preliminarmente, à unanimidade, emconhecer do recurso; no mérito, semdivergência, em dar-lhe provimento parajulgar improcedente o pedido em relaçãoà recorrente e, por conseguinte, absolvê-la da condenação que lhe foi imposta,mantendo, quanto ao mais, a r. sentençahostilizada.

Belo Horizonte, 31 de maio de1999.

FERNANDO ANTÔNIO DE MENEZESLOPES

Presidente e Relator

prevalece sobre qualquer outro,inclusive sobre o trabalhista,desde que tenha sido instituídoantes deste último, como nocaso dos autos. O gravamepersegue o bem imóvel emqualquer situação seja elepenhorado, vendido ou não emhasta pública. O adquirente olevará com o ônus hipotecário afavor da agravante, que emhipótese nenhuma poderá serextinto pela penhorasuperveniente. Agravo provido.

Vistos, relatados e discutidosestes autos de Agravo de Petição em quefiguram como agravante CAIXAECONÔMICA FEDERAL e comoagravados JULIANA MARIA CORTES EOUTROS.

RELATÓRIO

Através da decisão de f. 39/40, oMM. Juiz Presidente da JCJ de Muriaéjulgou improcedentes os embargos deterceiro opostos pela Caixa EconômicaFederal em face da constrição judicial debem imóvel nos autos da execução queJuliana Maria Cortes e outros movem àConfecções M B Mazzini Ltda.

Interpôs a vencida o recurso deagravo de petição, consubstanciado naMinuta de f. 44/55, alegando, em síntese,que o bem constritado nos autos dareclamação trabalhista de número 1.038/98, em curso perante a JCJ de Muriaé,encontra-se a ela hipotecado emdecorrência de empréstimo feito ao sócioda reclamada, hipoteca essadevidamente registrada no Cartório deRegistro de Imóveis desde 29.06.88,portanto, muito anterior à penhoradeterminada pelo d. Juízo a quo. Aduz

TRT/AP-152/99Publ. no “MG” de 02.07.1999

AGRAVANTE: CAIXA ECONÔMICAFEDERAL

AGRAVADOS: JULIANA MARIACORTES E OUTROS

EMENTA: AGRAVO DEPETIÇÃO - CRÉDITOHIPOTECÁRIO - PREFERÊNCIA.O ônus hipotecário,regularmente instituído

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que não há como admitir-se apreferência do crédito trabalhista quandoinexiste concurso universal de credorescapaz de privilegiar tal crédito, mormentepor se tratar de direito real constituídoem garantia com vinculação específica.Relata que os Tribunais Superiores têmreconhecido a absoluta preferência docrédito hipotecário, na forma dosjulgados que transcreve. Finalmente,argumenta que o crédito hipotecário tempreferência sobre todos os demais, tendoem vista que respaldado em EscrituraPública que se constitui em ato jurídicoperfeito, na forma da garantia previstano inciso XXXVI, do art. 5º, daConstituição Federal.

Com a Minuta foram acostadosos documentos de f. 56/100 e ocomprovante de quitação das custasprocessuais de f. 101.

Recurso contraminutado, f. 106/107.

A d. Procuradoria Regional doTrabalho opina pelo prosseguimentonormal do feito, f. 111.

Este o relatório.

VOTO

Recurso próprio, tempestivo eregularmente processado, dele conheço.

Apenas para constar, pois nãoafetará a decisão, registro que emboradevidamente citada para impugnar osembargos, e em nome de todos os oraagravados falou a procuradora, ElaineLisboa Bastos, que não ofereceuprocuração.

Discute-se nos presentes autosa constrição judicial de um imóvel, feitapor determinação do MM. JuizPresidente da JCJ de Muriaé, em faceda execução trabalhista que JulianaMaria Cortes e outros onze reclamantes

movem contra Confecções M B MazziniLtda., em que a agravante alega terpreferência sobre o crédito trabalhista,em razão de hipoteca registrada em dataanterior à penhora.

Não há, nos presentes autos,prova da penhora. Porém, pela deduçãodas partes e da própria decisãoagravada, inexiste dúvida quanto ao bemimóvel constritado, que se trata,efetivamente, daquele constante docontrato de f. 07/11, qual seja,apartamento 01, localizado no bloco 121,do 1º pavimento, situado à Av.Constantino Pinto, em Muriaé-MG.

De acordo com a cláusula Sextado referido contrato, o imóvel, objeto dapenhora, foi dado à Caixa EconômicaFederal, em primeira e especialhipoteca, em virtude de financiamentoobtido junto àquela entidade. O ônus foimesmo registrado junto ao Cartório doRegistro Imobiliário em 29.06.88, nostermos exatos das anotações inseridasna última página do contrato. Por outrolado, a penhora foi efetivada em dataposterior, já que a ação trabalhista é de1997.

O MM. Juiz a quo, refutando atese esposada pela Agravante, esposouentendimento no sentido de que “... nãohá preferência do crédito hipotecário,mas simples sub-rogação no preço queexceder o crédito privilegiado”.

Data venia, a questão é inversa.O ônus hipotecário, regularmenteinstituído, prevalece sobre qualqueroutro, inclusive sobre o trabalhista,desde que, evidentemente, tenha sidoinstituído antes deste último, como nocaso dos autos. A prevalecer oentendimento exposto na r. decisãoagravada, o instituto jurídico da hipotecanão teria valor algum, o que é umabsurdo.

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Não se nega o privilégio docrédito trabalhista, que tem lugar,normalmente, no caso de concursouniversal de credores. Igualmente, nãose nega a validade da penhora queincidiu sobre o imóvel hipotecado. O quese defende é a validade do ônushipotecário a favor da agravante, lançadoem primeiro lugar sobre o imóvel objetoda constrição.

Releva destacar que o gravame,no caso dos autos, persegue o bemimóvel em qualquer situação, seja elepenhorado, vendido ou não em hastapública. É aplicação inevitável doprincípio do “Direito de Seqüela” dodireito comum, pelo qual ao credorhipotecário é assegurado “... o poder deseguir a coisa dada como garantia realem poder de quem quer que se encontre,pois mesmo que se o transmita por atojurídico inter vivos ou mortis causacontinua ele afetado ao pagamento dodébito”. (DINIZ, Maria Helena. In Cursode Direito Civil Brasileiro, 4º Volume,Direito das Coisas, ed. Saraiva, 4ªedição, 1987)

Diante desse princípio, o bemimóvel ora em discussão poderá irperfeitamente à praça para quitação dodébito trabalhista. Porém, o adquirenteo levará com o ônus hipotecário a favorda agravante, que, em hipótese alguma,poderá ser extinto pela penhorasuperveniente, como determinou o MM.Juiz a quo. Ou seja, a credorahipotecária, ora agravante, perseguirá obem em mãos de quem quer que estejapara satisfação de seu crédito.

Os acórdãos colacionados pelaagravante às f. 56/100 retratam asituação dos autos, restando confirmadaa prevalência da hipoteca registrada emprimeiro lugar sobre a penhora paragarantia de dívida trabalhista.

Provejo o recurso para manter oônus hipotecário instituído a favor daagravante sobre o bem imóvel objeto daconstrição judicial.

Isto posto, conheço do recurso e,no mérito, dou-lhe integral provimentopara manter incólume o ônus hipotecárioinstituído a favor da agravante sobre obem imóvel objeto da constrição judicial.

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da TerceiraRegião, em Sessão Ordinária da SeçãoEspecializada, hoje realizada, em julgaro presente feito e, por unanimidade, emconhecer do agravo de petição e, nomérito, em dar-lhe provimento paramanter incólume o ônus hipotecárioinstituído a favor da agravante sobre obem imóvel objeto da constrição judicial.

Belo Horizonte, 08 de junho de1999.

PAULO ARAÚJOPresidente

ITAMAR JOSÉ COELHORelator

TRT/RO-1972/98Publ. no “MG” de 20.03.1999

RECORRENTE: MÁRCIA CRISTINA DACOSTA

RECORRIDA: FERROVIA CENTROATLÂNTICA

EMENTA: ESTABILIDADESINDICAL - MEMBRO DOCONSELHO CONSULTIVO. Nãoé detentor da estabilidadeprovisória prevista no art. 8º,

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VIII/CF, membro do ConselhoConsultivo da entidade sindicalque não exerce, de fato, cargode direção ou representaçãosindical.

Vistos, relatados e discutidosestes autos de recurso ordinário em quefiguram como recorrente MÁRCIACRISTINA DA COSTA e, como recorrida,FERROVIA CENTRO ATLÂNTICA.

RELATÓRIO

A MM. 16ª JCJ de Belo Horizonte,sob a presidência do MM. Juiz Dr.SEBASTIÃO GERALDO DE OLIVEIRA,julgou a ação de consignação empagamento procedente e improcedentea ação proposta pela reclamante.

Recurso ordinário da reclamante(f. 371/377), abordando estabilidadesindical e valor das parcelas consignadas.

Concedida isenção de custas (f.370).

Contra-razões da reclamada (f.378/382).

A Procuradoria Regional, atravésdo parecer de f. 384, da lavra da DrªMaria de Lourdes Queiroz, é pelodesprovimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

Admissibilidade

Conheço do recurso,regularmente processado.

Estabilidade sindical - Membrodo conselho consultivo

Sustenta a reclamante que, comomembro do Conselho Consultivo da

entidade sindical que a representa, édetentora da estabilidade provisóriaconferida aos dirigentes sindicais, conformeseu Estatuto Social, não podendoprevalecer o entendimento de que asatribuições dos conselheiros sãoincompatíveis com os cargos de direção,sob pena de se admitir a intervenção einterferência do Poder Público naorganização sindical, não restando, nocaso, violado o princípio da razoabilidade,haja vista a extensão de sua base territorial.

Assevera, ainda, que a recusa emreceber as verbas reparatórias se deuem virtude da estabilidade de que édetentora e da incorreção dos valoresconsignados, conforme alegado no item11, de sua defesa.

Sem base. Em que pese adisposição contida no art. 54, III, do Estatutodo Sindicato dos Trabalhadores emEmpresas Ferroviárias de Belo Horizonte(f. 65), segundo o qual o ConselhoConsultivo é órgão de direção do Sindicato,não são os seus membros, detentores dagarantia de emprego prevista no art. 8º, VIII/CF e art. 543, § 3º, da CLT, uma vez quenão exercem, a rigor, cargo de direção ourepresentação sindical.

É certo que ao Poder Público évedada a interferência e a intervençãona organização sindical, que é livre paradeliberar sobre os cargos de direção aserem criados.

Todavia, cabe ao Judiciário coibirabusos na criação de tais cargos, visandoconferir aos seus ocupantes a estabilidadeprovisória, pois sua atuação interferediretamente no interesse das empresasintegrantes das categorias profissionais,restringindo o poder potestativo doempregador de extinguir o contrato detrabalho de seus empregados, sujeitando-se aquele ao arbítrio da entidade sindical,o que não coaduna com o espírito da lei.

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Cumpre ao sindicato adotarparâmetros de bom senso na criaçãoe atr ibuição dos cargos que ocompõem, para que nenhum sistemade privilégios, ainda que sob pretextoaparentemente just i f icado, sejainstitucionalizado, sob pena de seconfigurar abuso de direito.

A previsão, no estatuto daentidade sindical, de que o ConselhoConsultivo é cargo de direção não é obastante. É necessário aferir se, de fato,os seus membros detêm poderes dedireção.

Não é o que ocorre na hipótese,em que ao Conselho Consultivo sãoconferidas atribuições de mero auxiliarde Diretoria do Sindicato. Basta conferiro disposto no art. 69, do Estatuto (f. 71),que impõe ao mesmo apenas aapresentação de propostas de soluçõesà Diretoria e desenvolvimento detrabalhos, dentro das empresas, visandoa sindicalização de trabalhadores, o quede forma alguma, representa o exercíciodo poder de direção.

Assim, não pode ser reconhecidoà reclamante, membro do ConselhoConsultivo, o direito à estabilidadeconferida aos dirigentes sindicais, peloque resulta totalmente procedente opedido inicial, de liberação dos valoresconsignados, que não merecemqualquer correção. Isto porque,considerando a data de admissão em30.12.83 e dispensa em 07.11.97, arecorrente faria jus, considerado o prazodo aviso, a 11/12 de férias acrescidasde seu adicional, e não 12/12, comopretendeu na defesa (f. 24) e, quanto aoadicional de horas extras de 70%, nãocolacionou aos autos qualquerinstrumento coletivo que assegure a suaincidência.

Nego provimento.

Fundamentos pelos quais,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, pela sua QuartaTurma, à unanimidade, conheceu dorecurso; no mérito, sem divergência,negou-lhe provimento.

Belo Horizonte, 03 de março de1999.

LUIZ OTÁVIO LINHARES RENAULTPresidente

SANTIAGO BALLESTEROS FILHORelator

TRT/AI-101/99Publ. no “MG” de 16.07.1999

AGRAVANTE: SUZETE APARECIDADE FREITAS SOUZA

AGRAVADO: BANCO DO BRASIL S/A

EMENTA: RECURSO - CUSTAS- ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA -DESERÇÃO - SISTEMAPROCESSUAL LEGAL. Oprocedimento para obtenção deassistência judiciária - queengloba o difundido pedido deisenção de custas no processodo trabalho - está contido na Lei1.060/50 e o recurso previstopara atacar o indeferimento é aapelação (art. 17),correspondendo ao recursoordinário na esfera trabalhista.

Se o juiz trabalhistasomente decide - e indefere - agratuidade na própria sentençae a parte recorre, expressamente,também contra isso, não pode ojuiz negar seguimento ao apelo,

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por deserção, porque a matériaestá devolvida ao Tribunal.

A este caberá examinarem primeiro lugar o recursosobre custas e, se der-lheprovimento, prosseguir nojulgamento do restante. Se não,haverá necessariamentesuspensão do julgamento, porcinco dias, para que o recorrentepague - prosseguindo ojulgamento - ou incorra emdeserção, a ser declarada pelaTurma.

Agravo a que se dáprovimento para, afastando odecreto de deserção, processaro recurso.

Vistos, relatados e discutidos osautos em destaque, DECIDE-SE:

SUZETE APARECIDA DEFREITAS SOUZA interpõe agravo deinstrumento contra decisão que nãorecebeu recurso ordinário seu, àdeserção. Insistindo que, desde apetição inicial, requereu o benefício daJustiça Gratuita, renovando-o até orecurso, sem apreciação do MM. Juiz.

Com contraminuta.O d. MPT manifestou-se pelo

prosseguimento do feito.É o relatório.

1.

O recurso é próprio etempestivo, sendo as partes legítimas eestando bem representadas, nãoocorrendo vícios. Conheço.

2.

Julgada improcedente a ação,a isenção de custas, requerida na

petição inicial, foi indeferida, nasentença, de forma motivada (por faltada declaração pessoal ou por advogadocom poderes específicos exigidos pelalei). Ao recorrer, a sucumbente incluiuum pedido de reforma no corpo dorecurso ordinário, nada requerendo,sobre o tema, ao juiz da causa. Esgotadoo prazo para o preparo, foi decretada adeserção. Que afasto.

Como prevê o art. 17, da Lei1.060/50, da sentença que indeferir opedido de assistência, cabe apelação,com efeito suspensivo (o efeito apenasdevolutivo está previsto somente pararecursos contra sentenças que deferemo benefício). Que, no processo dotrabalho, é o recurso ordinário. Assim,quando o juiz não decide antecipada eincidentalmente a questão da assistênciaexpressamente requerida, deixando parafazê-lo em bloco, com as demaisquestões da lide, na sentença, e indeferea pretensão, cabe à parte recorrerduplamente: um recurso, com efeitosuspensivo quanto ao outro e aosdemais prazos da ação, para discutir anegativa da assistência judiciária e, porcautela, desde logo, para garantia contraeventuais entendimentos divergentes.

Da forma como fez aqui,reunindo toda a matéria recorrível numsó recurso, ainda que eu veja nissoatecnia, a parte não deve ser penalizadacom rigorismo formal, considerando quemanifestou habilmente e no prazo legalo apelo. Nesse caso, o recurso deve terseu curso normal, não podendo serobstado pelo juiz por falta de pagamentodas custas, uma vez que esse é um dostemas da insurgência. Ao Tribunal é quecaberá, ante a precedência da matéria,conhecer, primeiro, do pedido recursalrelativo à assistência e, em dandoprovimento, prosseguir no julgamento.

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Ou, negando provimento, suspender ojulgamento, por força do art. 17, da Lei1.060/50, abrindo chance a que a partesolva a obrigação no prazo, pena - sóaí, então - de caracterizar-se a deserçãoe, se solvida, retomar o julgamento. Éao que leva a instrumentalidade einformalidade do processo do trabalho.E a regra do art. 515-CPC.

Dou provimento ao agravo,afastando o decreto de deserção, paraque o recurso seja processado, cabendoao Tribunal manifestar-se, em graurecursal, a respeito da assistênciajudiciária indeferida.

A SEÇÃO ESPECIALIZADA,por unanimidade, conheceu do agravode petição e, no mérito, deu-lheprovimento, afastando o decreto dedeserção, para que o recurso sejaprocessado, cabendo ao Tribunalmanifestar-se, em grau recursal, arespeito da assistência judiciáriaindeferida.

Belo Horizonte, 25 de maio de1999.

TARCÍSIO ALBERTO GIBOSKIPresidente

PAULO ARAÚJORelator

EMENTA: TRANSAÇÃO -INOCORRÊNCIA DE COISAJULGADA. A transaçãorealizada com o fito de quitarverbas decorrentes do liameempregatício, de forma geral eabrangente, não faz coisajulgada, por inexistirem ospressupostos de concessõesrecíprocas e a incerteza. Aliás,por não se ter aqui a res dubiaou litigiosa, não se pode falarque a cláusula genéricaconsubstancia a transação,como a define o art. 1025, doCódigo Civil Brasileiro.

Vistos, relatados e discutidosestes autos de Recurso Ordinário,oriundos da MM. 1a Junta de Conciliaçãoe Julgamento de João Monlevade, MG,em que figuram, como Recorrentes,Edson Policarpo Costa e CompanhiaSiderúrgica Belgo Mineira, e comoRecorridos, Os Mesmos, como a seguirse expõe:

RELATÓRIO

A MM. 1a Junta de Conciliação eJulgamento de João Monlevade, sob apresidência da Ex.ma Juíza OlíviaFigueiredo Pinto Coelho, pela r. sentençade f. 55-9, julgou procedente, em parte, aação proposta por Edson Policarpo Costaem face da Companhia Siderúrgica BelgoMineira, condenando-a ao pagamento doadicional de 30% sobre o salário básico,com os reflexos vindicados na inicial, àexceção do adicional noturno, no períodoimprescrito até maio de 1996, além doshonorários periciais, arbitrados emR$600,00 (seiscentos reais) e honoráriosadvocatícios, fixados em 15% sobre ovalor da condenação.

TRT/RO-21388/98Publ. no “MG” de 16.07.1999

RECORRENTES: 1 - EDSONPOLICARPO COSTA2 - COMPANHIA SIDERÚRGICABELGO MINEIRA

RECORRIDOS: OS MESMOS

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Opostos Embargos deDeclaração, pela Reclamada (f. 60-1),julgados improcedentes (f. 65-7).

Recorrem as partes.O Reclamante (f. 62-4),

pretendendo a reforma da decisão no quetange à atualização monetária, por almejara adoção dos índices de correção dopróprio mês do vencimento da obrigação.

Contra-razões às f. 69-71.A Reclamada (f. 72-8) sustenta a

argüição da coisa julgada e, casoultrapassada, pretende a reforma da r.sentença no tocante ao adicional depericulosidade e seus reflexos,honorários periciais e advocatícios.

Guias do depósito recursal ecustas à f. 79.

Contra-razões às f. 80-4.O Ministério Público do Trabalho

sugere o prosseguimento do feito.É o relatório.

VOTO

1. Admissibilidade

Atendidos os pressupostosintrínsecos (cabimento, legitimação pararecorrer, interesse em recorrer einexistência de fato impeditivo ou extintivoao poder de recorrer) e extrínsecos(tempestividade, regularidade formal ecomprovação de pagamento de custas edepósito recursal no prazo legal),conheço dos recursos interpostos.

Inverto a ordem de apreciaçãodos apelos, por conter o recurso daReclamada questão prejudicial.

2. Mérito

2.1. Recurso da reclamada

2.1.1. Coisa julgada

Sustenta-se a existência da coisajulgada, em face da transação celebradaentre as partes, conforme documento def. 04-5, em que se deu plena, rasa, gerale irrevogável quitação, “valendo aqueletermo como transação geral de direitos(...)”. Quitando todos os eventuaisdireitos relativos à Recorrente, alegaesta ter produzido a transação efeitos decoisa julgada, nos termos do art. 1030,do Código Civil. Requer a declaração dacoisa julgada, com extinção do processo,sem julgamento do mérito, nos termosdo art. 267, inciso V, do CPC.

Data venia, não há falar nahipótese dos autos em coisa julgada, emface de transação efetuada, que atrairiaa sua aplicação, de ofício, nos termos doart. 301, § 4º, do CPC, pois a sua argüiçãonão tem a amplitude pretendida.

A transação prevista no CódigoCivil Brasileiro, que produziria os efeitosda coisa julgada entre as partes, requeros requisitos da res dubia ou litigiosa,com a presença de concessões mútuas.Por outro lado, a transação, como cediço,é um ato bilateral, fazendo-se, como jáse afirmou, concessões, para por fim ouextinguir obrigações litigiosas, incertasou duvidosas.

Neste sentido tem se posicionadoa jurisprudência pátria, como se poderetirar das sínteses jurídicas, que peçovênia para transcrever:

“Transação -É da própria definição do

instituto os requisitos res dubia econcessões recíprocas.

Orlando Gomes leciona,‘necessário que haja concessõesmútuas, de qualquer teor.Concessões feitas somente porum dos interessados implicamrenúncia ou reconhecimento do

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direito do outro. Tudo conceder,sem nada receber, não é transigir(Contratos, Ed. Forense, Rio,1986, p. 502).” (SILVA, Luiz dePinho Pedreira da. Principiologiado Direito do Trabalho, LTr)

“Quitação - Ato jurídicoperfeito e acabado -

Impossível é cogitar daexistência de ato jurídico perfeitoe acabado revelado pela transaçãode que cogita o art. 1030, doCódigo Civil Brasileiro, quando orecibo assinado contém quitaçãogeral e abrangente, inobservânciado § 2º, do art. 477, da CLT. Noâmbito do Direito do Trabalho aquitação vale quanto a parcela evalores constantes do recibo esomente em relação a este é quese pode cogitar da pertinência doart. 1030 citado, no que elevada atransação, quanto à eficácia, anível de coisa julgada.” (TST, 1a

Turma, Rel. Guimarães Falcão,apud Nova Jurisprudência emDireito do Trabalho, Ed. Revistados Tribunais, SP, 1990, p. 443,Valentin Carrion)

A transação realizada com o fitode quitar verbas decorrentes do liameempregatício, de forma geral eabrangente, não faz coisa julgada, porinexistirem aqueles pressupostosmencionados, quais sejam, concessõesrecíprocas e a incerteza. Aliás, por nãose ter aqui a res dubia ou litigiosa, não sepode falar que a cláusula genéricaconsubstancia a transação, como a defineo art. 1025, do Código Civil Brasileiro.

É o caso dos autos.Firmou-se um acordo para

rescisão do contrato de trabalho (f. 04-5),

em que as partes, em face daaposentadoria do empregado, estipularamo pagamento de indenização por tempode serviço, no valor de R$54.390,74(cinqüenta e quatro mil, trezentos enoventa reais e setenta e quatro centavos),correspondente a 75% do resultado damultiplicação de trinta anos de serviços,contados em dobro, pelo maior salário-hora, com as incorporações descritas nacláusula segunda daquele documento,com pagamento no ato da homologação,realizada em 26 de novembro de 1996(termo de rescisão contratual, f. 17).

Em contrapartida, estipulou-secláusula, em que expressamente seconvencionou:

“O EMPREGADO,recebendo neste ato a quantiasupra de R$54.390,74 (cinqüentae quatro mil, trezentos e noventareais e setenta e quatro centavos),declara, para todos os efeitoslegais, rescindido seu contrato detrabalho, e dá, ao mesmo tempo,à COMPANHIA SIDERÚRGICABELGO MINEIRA, plena, rasa,geral e irrevogável, inclusivequanto a salários, horasextraordinárias, repousoremunerado, férias, adicionais egratificações de qualquernatureza, inclusive o 13o salário,parcelas recebidas no curso doCONTRATO, ora extinto, valendoo presente como transação geralde direitos.” (os destaques nãoexistem no original)

Ora, in casu, a Reclamadanenhuma concessão está fazendo,cabendo somente ao Autor, por receberindenização pelo tempo de serviço a quefaz jus, por ser portador de estabilidade

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pelo período anterior a 5 de outubro de1988, que obriga a observância doempregador, abrir mão de eventuais outrosdireitos, com quitação ampla e geral, sema observância do § 2º, do art. 477, da CLT.

Na sistemática do Direito doTrabalho, a irrenunciabilidade dosdireitos trabalhistas é pressupostopreponderante, sendo, em princípio,vedada. E, mais, para que a renúnciaseja válida, subordina-se a determinadosrequisitos, entre os quais se encontrama natureza do direito, a capacidade daparte, a livre manifestação desta, formanão prescrita em lei, entre outros.

A manifestação há de ser livre,sem encontrar-se maculada por qualquervício de consentimento. Não se podeesquecer que o Código Civil (art. 147, II)dispõe ser anulável “... por vício resultantede erro, dolo, coação, simulação oufraude”, sendo relevante o disposto no art.9o, da CLT, que expressa: “Serão nulosde pleno direito os atos praticados com oobjetivo de desvirtuar, impedir ou fraudara aplicação dos preceitos contidos napresente Consolidação.”

Ainda, tem-se presente os ditamesdos arts. 444 e 468, ambos do DiplomaConsolidado, que objetivam proteger oempregado “... contra atos, geralmente demá-fé, que tenham em mira evitar aaplicação dos preceitos adotados em seufavor, bem como a alteração de condiçõesajustadas no contrato de emprego,quando lhe acarretem prejuízos diretosou indiretos, declara a inexistência deatos, presumindo que, se praticados coma concordância do empregado, viciado foio seu consentimento pela coaçãoeconômica ou hierárquica advinda dasubordinação em que se encontra frenteao respectivo empregador”.(SÜSSEKIND, Arnaldo. Instituições deDireito do Trabalho, vol. 1)

A redação da referenciadacláusula deve ser apreciada com rigor,mormente por envolver conteúdodistratual sui generis, sob a égideevolutiva da Lei 8.078, de 11 de setembrode 1990 (Código de Defesa doConsumidor), pois “Embora distinto oconteúdo político-ideológico das relaçõesde consumo e de trabalho, é semelhanteo conteúdo finalístico dos dois sistemasjurídicos que as tutelam, a saber, aproteção ampla e efetiva da partevulnerável.” (WINTER, Marilena Indira.Proteção Jurídica do Hipossuficiente noDireito do Trabalho e no Direito doConsumidor, in Direito do Trabalho:Estudos/Coordenador José AffonsoDallegrave Neto, São Paulo, LTr, 1997,p. 463).

A outorga de quitação plena egeral de direitos trabalhistas,eventualmente existentes, vai de encontroa normas legais, como se asseverouanteriormente, sendo totalmente inválida,mormente em face dos arts. 9o, da CLT,e 51, da Lei n. 8.078/90.

Volto a declarar que não seadmite que os termos da mencionadacláusula convencionada derroguemprincípios fundamentais do Direito doTrabalho (em especial o dairrenunciabilidade de direitos),revigorados pela Lei n. 8.078/90.

Por último, tem-se que a rescisãocontratual do Reclamante contou comenfática resistência sindical (f. 17v). Seo recibo de quitação de rescisão docontrato firmado pelo empregado commais de um ano de serviço só é válidocom a assistência do respectivoSindicato (art. 477, § 1º, da CLT), énatural que a recusa da entidaderepresentativa em homologar a integralsubstância do ato resilitório priva-o deeficácia jurídica absoluta. Ao Judiciário

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elétricas GE e Whitcomb, “... consertandoo motor de arranque, motor decompressor do freio e baterias de 36v” e,por fim, dar manutenção em locomotivasdiesel, “verificando a parte elétrica, motorde arranque, ignição e baterias de 24V”.

Esclareceu o expert que nasfunções de manutenção das locomotivasnão exercia o Reclamante atividadeperigosa ou se encontrava em área derisco, nos termos do Decreto 93.412/86,pois que realizadas longe de sua fontede alimentação, qual seja, o cabo darede eletrificada. De igual forma, nasatividades de manutenção de baterias edo sistema elétrico das locomotivas adiesel e diesel-elétricas.

Entretanto, no tocante às trocasde carvões dos pantógrafos, “quandofeitas ao longo da linha eletrificada”, haviaa situação de risco “... de contato físicocom a rede sob tensão, podendo, emcaso de acidente, ter ficado incapacitado,inválido ou mesmo falecido. Esta redeestá sob tensão de 700 Volts em correntecontínua e carrega uma corrente elétricade intensidade superior a 450 Ampères.Sua polarização é positiva, enquanto onegativo são os trilhos”. Afirmou que, aorealizar a referenciada troca, ficava oAutor com suas costas e cabeça a menosde um metro do cabo energizado, “...correndo um enorme risco de, nummovimento mais brusco, receber umchoque que lhe poderia ser fatal”.

Enquadrou a situação no item 3, doQuadro Anexo, ao Decreto n. 93.412/86.

Consta também da peritagemque a atividade ocorria até oito vezes,por mês, com pequenas variações e, porforça de seu turno rotativo, atendia, emmédia, a quatro destas trocas. Calculouque havia a exposição habitual ao risco,por energia elétrica, por duas horas, pormês, até maio de 1996.

corolariamente se impõe, portanto, umcontrole de mérito dilatado: conveniênciae adequação legal e aos princípiosprotetivos do Direito do Trabalho.

Nego provimento ao recurso.

2.1.2. Adicional depericulosidade

A Reclamada pretende a reformado julgado, no tocante ao deferimento doadicional de periculosidade, porexposição à eletricidade, ao entendimentode que não foram atendidas as condiçõesdo Decreto 93.412/86, principalmente sea área é integrante do sistema elétrico depotência. Aduz, mais, que o laudo pericialapontou apenas o contato por duas horas,por mês, à condição perigosa, o que setraduz em eventualidade, nos termos doitem 4.4., da Portaria n. 3.311/89.

O laudo pericial de f. 26-39,subscrito por Rogério Maia Botelho,informou que o Reclamante, no períodoimprescrito, exerceu as funções inerentesao cargo de eletricista de locomotivas,cujas atividades consistiam em “darmanutenção em locomotivas elétricas(Schneider, de 150 CV alimentadas emrede eletrificada de 700 Volts)”. Entreestas atividades mencionou acomplementação ou troca da solução dasbaterias alcalinas de 12v (serviçorealizado na oficina, com a locomotivadesconectada da rede de alimentação);troca dos carvões de contato dospantógrafos com a rede eletrificada (feitotambém na oficina em manutençãopreventiva, ou ao longo da via, em casosde acidentes); manutenção da caixa decontrole da cabina, composta de relés erecostados; dar manutenção nos quatromotores elétricos e geradores dalocomotiva, com a máquina desligada; darmanutenção em locomotivas diesel-

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Em seus esclarecimentos (f. 50),o Sr. Perito declarou que “A redeeletrificada que alimentava aslocomotivas caracterizava-se nitidamentecomo ‘Distribuição’ de potência eletro-motora. Esta rede fazia parte do local detrabalho do Autor, quando da troca decarvões dos pantógrafos, conformerelatado no corpo do Laudo.”

E, mais, apontou que havia orisco remanescente para o Autor, aindaque o trabalho se realizasse com opantógrafo arriado, pois “... duranteessas trocas o Reclamante ficava comseu corpo a menos de um metro do caboenergizado a 700V CC, correndo umgrande e óbvio risco de receber umchoque elétrico, em conseqüência de ummovimento mais brusco.[...]”.

O Anexo do Decreto n. 93.412, emseu item n. 3, estipula que são atividadesem condições de periculosidade as “... deinspeção, testes, ensaios, calibração,medição e reparos em equipamentos emateriais elétricos, eletrônicos,eletromecânicos e de segurançaindividual coletiva em sistemas elétricosde potência de alta e baixa tensão”.

As áreas de risco são também alienumeradas, podendo ser citadas as das“... oficinas e laboratórios de testes emanutenção elétrica, eletrônica eeletromecânica onde são executadostestes, ensaios, calibração e reparos deequipamentos energizados ou passíveisde energização acidental”, dentre outras.

Entendo que a atividade doReclamante, no tocante à troca decarvões dos pantógrafos, quandorealizadas ao longo da linha eletrificada,enquadra-se na situação discriminadapela norma regulamentar. Comosalientado pela peritagem, esta redeencontra-se sob tensão de 700 Volts emcorrente contínua, com intensidade

superior a 450 Ampères, com polarizaçãopositiva, sendo os trilhos negativos.

Como já se aventou, segundo aperícia, o local de trabalho enquadra-seno conceito de sistema elétrico depotência, pois a rede eletrificada,alimentadora das locomotivas e que faziaparte daquele local, caracteriza-se como“distribuição” de potência eletromotora.

Inobstante tenha esclarecido aperitagem que nesta troca de carvões oReclamante interrompia o contato coma rede eletrificada, vez que baixava opantógrafo da locomotiva, permanecia orisco, pois “O Reclamante ficava com seucorpo a menos de um metro do caboenergizado a 700 V CC, correndo umgrande e óbvio risco de receber umchoque elétrico, em conseqüência de ummovimento brusco. Este era o riscoremanescente para o Reclamante,mesmo com o pantógrafo arriado.”(esclarecimentos à f. 50)

No tocante à eventualidadealegada pela Recorrente (duas horas pormês), com acerto asseverou a r.sentença: “Ao se referir o legislador a‘contato permanente’ quis abranger assituações contratuais duradouras,inexistindo, no caso, eventualidade naexposição do reclamante ao risco, dadoque ela é habitual, ao longo do pacto,ainda que em períodos espaçados.”

Ponto controvertido de sumarelevância na presente lide não é o tempode exposição do Reclamante a ambienteperigoso, importando mais perquiriracerca da normatização do institutojurídico da periculosidade com base nalegalidade estrita, tendo em vista a suanatureza, que importa em caracterizá-lacom base na efetiva classificação peloórgão competente (CLT, art. 196).

E isto, tal como já se declarou,encontra-se nos presentes autos.

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A proporcionalidade do adicionalpretendida não encontra eco, mais aindaante o entendimento cristalizado peloCol. Tribunal Superior do Trabalho, nasúmula do Enunciado n. 361, in verbis:

“ADICIONAL DEPERICULOSIDADE -ELETRICITÁRIOS - EXPOSIÇÃOINTERMITENTE. O trabalhoexercido em condições perigosas,embora de forma intermitente, dádireito ao empregado a receber oadicional de periculosidade deforma integral, tendo em vista quea Lei n. 7.369/85 não estabeleceuqualquer proporcionalidade emrelação ao seu pagamento.”

Ressalto que este entendimentojoga por terra as alegações baseadas naPortaria n. 3.311/89, na questão daeventualidade abordada pelo recurso,ante a edição do verbete sumular quetraz o atual entendimento prevalentesobre a matéria (o enunciado data de 13de agosto de 1998, datando aquelaportaria de 1989).

A r. sentença determinou acondenação ao adicional depericulosidade de 30% sobre o saláriobásico, o que se mostra acorde com oEn. 191, do TST.

Os reflexos do adicional depericulosidade sobre horas extraspermanecem, posto que se retira dotermo de rescisão contratual (f. 17) quehavia o recebimento de tal verba.

No que tange à repercussão doadicional de periculosidade sobre aindenização de antigüidade, incide oEnunciado n. 132, do TST: “O adicionalde periculosidade pago em caráterpermanente integra o cálculo deindenização.”

A obrigação da Reclamada foiassumida quanto ao pagamento daindenização pelo tempo de serviço, nostermos da legislação (f. 4, cláusulaprimeira, penúltima parte), com a condiçãode ater-se a 75% do valor da indenização,por 30 anos de serviço, em dobro. A leiprescreve que a indenização se paga pelaremuneração e esta é integrada peloadicional de periculosidade.

Nego provimento.

2.1.3. Honorários periciais

Os honorários periciais suportadospela Reclamada, por sucumbente noobjeto correspondente da prova, arbitradosem R$600,00(seiscentos reais) - f. 59 - pelotrabalho realizado, não se mostramexagerados e menos ainda fora darazoabilidade. O montante é condizentecom o trabalho do expert, pelo que não háfalar em rearbitração da verba.

Nego provimento.

2.1.4. Honorários advocatícios

Pretende-se a exclusão da verbaadvocatícia, por entender ausentes ospressupostos da Lei n. 5.584/70 e pelonão percebimento de salário inferior aodobro do mínimo legal.

Em que pesem as argumentaçõestrazidas, o apelo improspera.

Na Justiça do Trabalho só sãodevidos honorários advocatícios sepreenchidos os supostos da Lei 5.584/70.

Na espécie, o Reclamante estáassistido pelo seu Sindicato de classe(f. 17), demonstrou seu estado demiserabilidade (f. 06), por conseguinte,devidos os honorários advocatíciosdeferidos.

Cabe ressaltar, que o fato deperceber o obreiro mais que o dobro do

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salário mínimo legal não impede seja-lheconcedido o benefício da assistênciajudiciária, pois a norma legal destina-se aoempregado que recebe menos do queaquele valor estipulado ou ao declarantede situação que não lhe permite arcar comos ônus e despesas processuais, semprejuízo do sustento pessoal ou de suafamília. Atendido um destes pressupostos,a assistência judiciária há de ser acolhida.

Cabe a lembrança de que a Lei7.115/83, em seu art. 1o, estipula que adeclaração destinada a fazer prova depobreza, quando firmada por seu própriointeressado, presume-se verdadeira, sobas penas da lei (na espécie, esta seencontra à f. 06).

Nego provimento.

2.2. Recurso do reclamante

Diz o Reclamante que aatualização monetária há de ser realizadano mês de vencimento, e não da formaestipulada pela r. sentença, qual seja,após o quinto dia útil do mês subseqüenteao da prestação dos serviços.

Alega que, “Ainda que se apliqueo entendimento do PrecedenteJurisprudencial n. 124, da SDI, o índicedo mês subseqüente só pode seradmitido no vencimento da primeiraprestação, pois as posteriores vencem-se, antecipadamente, por se tratar deprestações sucessivas por prazodeterminado.”

O entendimento ao qual se filiaesta Eg. Turma é o contido nomencionado Precedente 124, da SDI, doCol. Tribunal Superior do Trabalho, qualseja: no cômputo da correção monetária,deve-se observar o índice do primeiro diado mês subseqüente ao da prestaçãodos serviços, sem a restrição pretendidapelo obreiro.

Provejo o recurso, paradeterminar que a atualização monetáriaseja computada pelo índice do primeirodia do mês subseqüente ao da prestaçãodos serviços.

3. Conclusão

Conheço dos recursos; rejeito aprefacial suscitada; no mérito, negoprovimento ao apelo interposto pelaReclamada e dou provimento parcial aodo Reclamante, para determinar que aatualização monetária seja computadapelo índice do primeiro dia do mêssubseqüente ao da prestação dosserviços.

Mantenho inalterado o valor dacondenação.

Motivos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da TerceiraRegião, pela sua Primeira Turma,preliminarmente, à unanimidade, emconhecer de ambos os recursos; quantoao recurso da Reclamada, semdivergência, em rejeitar a preliminar decoisa julgada e em negar provimento aorestante do mérito; unanimemente, emdar provimento parcial ao recurso doReclamante para determinar que aatualização monetária seja computadapelo índice do primeiro dia do mêssubseqüente ao da prestação dosserviços, mantendo inalterado o valor dacondenação.

Belo Horizonte, 28 de junho de1999.

EMÍLIA FACCHINIPresidente e Relatora

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg. - Belo Horizonte, 29 (59):151-228, Jan./Jun.99