Acordo PS-BE

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    Posio conjunta do Partido Socialista e do Bloco de Esquerdasobre soluo poltica

    O Partido Socialista (PS) e o Bloco de Esquerda assumem a seguinte posio sobre a

    soluo poltica no quadro da nova realidade institucional da XIII legislatura decorrentedas eleies de 4 de Outubro.

    1.Os resultados das eleies legislativas realizadas no passado dia 4 de outubro de 2015significaram uma inequvoca derrota da estratgia de empobrecimento e das polticas deausteridade conduzidas pela coligao do PSD-CDS ao longo dos ltimos quatro anos.

    Tendo em conta as profundas dificuldades que Portugal atravessa, fruto de uma longacrise social e econmica e de um contexto externo de elevada incerteza, e face ao novoquadro parlamentar decorrente dos resultados eleitorais, o PS, o Bloco de Esquerda e a

    CDU anunciaram um processo de convergncia fundado na necessidade patritica deconferir traduo poltica vontade de mudana expressa pela maioria dos eleitores.Nesse sentido, assumiram a responsabilidade de negociar um acordo tendo no horizontea construo de uma maioria estvel, duradoura e credvel na Assembleia da Repblicaque sustente a formao e a ao de um Governo comprometido com a mudanareclamada nas urnas.

    2.Foi no quadro desse objectivo que PS e Bloco de Esquerda procuraram, ao longo de umaesforada abordagem mtua, identificar matrias, medidas e solues que possamtraduzir um indispensvel sinal de mudana.

    Uma abordagem sria em que se reconheceram a natureza distinta dos programas dosdois partidos e as diferenas de pressupostos com que observam e enquadram aspectosestruturantes da situao do Pas.

    Mas tambm, e sobretudo, um trabalho e uma avaliao que confirmaram existir umconjunto de questes que podem assegurar uma resposta pronta a legtimas aspiraesdo povo portugus de verem recuperados os seus rendimentos, devolvidos os seusdireitos, asseguradas melhores condies de vida. Foram os pontos de convergncia eno os de divergncia que ambos os partidos optaram por valorizar.

    3.Entre outros, PS e Bloco de Esquerda identificam como aspetos em que possvelconvergir, independentemente do alcance programtico diverso de cada partido, comvista a solues de poltica inadiveis:

    O descongelamento das penses; a reposio dos feriados retirados; um combatedecidido precariedade, incluindo aos falsos recibos verdes, ao recurso abusivo aestgios e ao uso de contratos emprego/insero para substituio de trabalhadores; areviso da base de clculo das contribuies pagas pelos trabalhadores a recibo verde; ofim do regime de requalificao/mobilidade especial; o cumprimento do direito

    negociao colectiva na Administrao Pblica; a reposio integral dos complementos

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    de reforma dos trabalhadores do setor empresarial do Estado; a reduo para 13% do IVAda restaurao; a introduo da clusula de salvaguarda no IMI; a garantia de proteoda casa de morada de famlia face a execues fiscais e penhoras; o alargamento doestmulo fiscal s PME em sede de IRC; a reavaliao das redues e isenes da TSU;

    o reforo da capacidade do SNS pela dotao dos recursos humanos, tcnicos efinanceiros adequados, incluindo a concretizao do objectivo de assegurar a todos osutentes mdicos e enfermeiros de famlia; a revogao da recente alterao Lei deInterrupo Voluntria da Gravidez; a garantia, at 2019, do acesso ao ensino pr-escolara todas as crianas a partir dos trs anos; o reforo da Ao Social Escolar directa eindirecta; a vinculao dos trabalhadores docentes e no docentes das escolas; areduo do nmero de alunos por turma; a progressiva gratuitidade dos manuaisescolares do ensino obrigatrio; a promoo da integrao dos investigadores doutoradosem laboratrios e outros organismos pblicos e substituio progressiva da atribuio debolsas ps-doutoramento por contratos de investigador; a reverso dos processos econcesso/privatizao das empresas de transportes terrestres; a no admisso de

    qualquer novo processo de privatizao.

    Com vista sua incluso no programa do governo e definio da futura colaboraoentre os grupos parlamentares, o PS e o Bloco de Esquerda elencaram alguns destes eoutros pontos em documento que se anexa a esta declarao.

    4.O PS e o Bloco de Esquerda reconhecem as maiores exigncias de identificao polticaque um acordo sobre um governo e um programa de governo colocava. PS e Bloco deEsquerda reconhecem tambm que, no quadro do grau de convergncia que foi possvelalcanar, esto criadas as condies para:

    i) pr fim a um ciclo de degradao econmica e social que a continuao de umgoverno PSD/CDS prolongaria. Com esse objectivo rejeitaro qualquer soluoque proponha um governo PSD/CDS como derrotaro qualquer iniciativa que viseimpedir a soluo governativa alternativa;

    ii) existir uma base institucional bastante para que o PS possa formar governo,apresentar o seu programa de governo, entrar em funes e adoptar uma polticaque assegure uma soluo duradoura na perspectiva da legislatura;

    iii) na base da nova correlao institucional existente na AR, adoptar medidas querespondam a aspiraes e direitos do povo portugus.

    Neste sentido PS e Bloco de Esquerda afirmam a disposio recproca para:

    i) encetarem o exame comum quanto expresso que as matrias convergentesidentificadas devem ter nos Oramentos do Estado, na generalidade e naespecialidade, no sentido de no desperdiar a oportunidade de essesinstrumentos corresponderem indispensvel devoluo de salrios, penses edireitos; inadivel inverso da degradao das condies de vida do povoportugus bem como das funes sociais com a garantia de provises pelo Estadode servios pblicos universais e de qualidade; e inverso do caminho dedeclnio, injustias, explorao e empobrecimento presente e acentuado nosltimos anos;

    ii) examinarem as medidas e solues que podem, fora do mbito do Oramento do

    Estado, ter concretizao mais imediata;

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    iii) examinarem, em reunies bilaterais que venham comummente a seremconsideradas necessrias, outras matrias, cuja complexidade o exija ourelacionadas com:a) legislao com impacto oramental;

    b) moes de censura ao Governo;c) iniciativas legislativas oriundas de outros grupos parlamentares;d) iniciativas legislativas que, no tendo impacto oramental, constituam aspectosfundamentais da governao e funcionamento da Assembleia da Repblica.

    Esta posio no limita outras solues que PS e Bloco de Esquerda entendamestabelecer com o Partido Comunista Portugus e o Partido Ecologista Os Verdes.

    5.Com integral respeito pela independncia poltica de cada um dos partidos e noescondendo do povo portugus diferenas quanto a aspectos estruturantes da viso de

    cada partido quanto a opes de poltica que os respectivos programas evidenciam, ospartidos subscritores do texto que hoje tornam pblico confirmam com clareza bastante asua disposio e determinao em impedir que PSD e CDS prossigam a poltica queagora expressivamente o Pas condenou e assumir um rumo para o pas que garanta:

    a) Virar a pgina das polticas que traduziram a estratgia de empobrecimentoseguida por PSD e CDS;b) Defender as funes sociais do Estado e os servios pblicos, na seguranasocial, na educao e na sade, promovendo um combate srio pobreza e sdesigualdades sociais e econmicas;c) Conduzir uma nova estratgia econmica assente no crescimento e no emprego,no aumento do rendimento das famlias e na criao de condies para oinvestimento pblico e privado;d) Promover um novo modelo de progresso e desenvolvimento para Portugal, queaposte na valorizao dos salrios e na luta contra a precariedade, relance oinvestimento na educao, na cultura e na cincia e devolva sociedadeportuguesa a confiana e a esperana no futuro.e) Valorizar a participao dos cidados, a descentralizao politica e asautonomias insulares.

    Lisboa, 10 de Novembro de 2015

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    ANEXO

    1. Para preparar iniciativas comuns sobre reas fundamentais, ser criado no incio da

    legislatura um conjunto de grupos de trabalho, compostos por representantes dos partidos

    signatrios e pelo membro do governo que tutela a rea respetiva, que apresentaro

    relatrios semestrais:

    Grupo de trabalho para a elaborao de um Plano Nacional Contra a Precariedade,a apresentar ao Conselho Econmico e Social; Grupo de trabalho para o estudo sobre penses no contributivas e estrutura daproteo social e para a avaliao das medidas de combate pobreza; Grupo de trabalho para a avaliao da sustentabilidade da dvida externa. Grupo de trabalho para a avaliao dos custos energticos com incidncia sobreas famlias e propostas para sua reduo; Grupo de trabalho sobre a poltica de habitao, crdito imobilirio e tributao dopatrimnio imobilirio;

    2. No constar do Programa de Governo o regime conciliatrio.

    3. No constar do Programa de Governo qualquer reduo da Taxa Social nica dasentidades empregadoras.

    4. Ser reposta em vigor, em 1 de janeiro de 2016, a norma da lei n 53-B/2006 de 29 dedezembro, relativa atualizao das penses, com a garantia de no haver corte no valornominal das penses.

    5. A necessidade de diversificao das fontes de financiamento da Segurana Social deveser objeto de negociao em sede de concertao social, comprometendo-se os partidossignatrios a trabalhar em conjunto na proposta a apresentar pelo Governo ao ConselhoEconmico e Social.

    6. Como forma de melhorar os rendimentos das famlias, ser gradualmente reduzida atao limite de 4 pp., sem consequncias na formao das penses, a TSU paga pelostrabalhadores com salrio base bruto igual ou inferior a 600/mensal. A perda de receitadecorrente da adoo desta medida ser compensada em cada ano com transferncia doEstado para a Segurana Social de montante equivalente quela reduo.

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    7. O Salrio Mnimo Nacional atingir os 600 durante a presente legislatura, comaumentos de 5% nos dois primeiros anos.

    8. Reforo dos poderes da Autoridade para as Condies de Trabalho na regularizao

    de falsos recibos e outros vnculos ilegais, com imediata converso em contratos detrabalho e acesso aos respetivos direitos.

    9. A reposio gradual dos salrios da Funo Pblica inicia-se em Janeiro de 2016 (25%no primeiro trimestre; 50% no segundo; 75% no terceiro; 100% no quarto).

    9. So repostos os quatro feriados eliminados na anterior legislatura.

    10. Poltica fiscal:a) Aumento da progressividade do IRS, nomeadamente atravs do aumento donmero de escales;

    b) Eliminao do quociente familiar introduzido no OE de 2015, que tem uma naturezaregressiva, e sua substituio por uma deduo por cada filho, sem carter regressivo ecom efeito neutro do ponto de vista fiscal;c) Introduo de uma clusula de salvaguarda que limite a 75 euros/ano os aumentosde IMI em reavaliao do imvel que seja habitao prpria permanente de baixo valor;d) Proibio das execues fiscais sobre a casa de morada de famlia relativamente advidas de valor inferior ao valor do bem executado e suspenso da penhora da casa demorada de famlia nos restantes casos;e) Reviso de valores desproporcionados de coimas e juros por incumprimento deobrigaes tributrias e introduo de mecanismos de cmulo mximo nas coimasaplicadas por contraordenaes praticadas por pessoas singulares, designadamente porincumprimento de obrigaes declarativas;f) Agilizar as situaes e condies em que pode ser negociado e aceite um plano depagamentos por dvidas fiscais e tributrias e Segurana Social.g) Reduo do IVA da restaurao para 13%;h) Reverter, no que toca recente reforma do IRC, a "participation exemption"(regressando ao mnimo de 10% de participao social) e o prazo para reporte deprejuzos fiscais (reduzindo dos 12 para 5 anos);i) Criar um sistema de incentivos instalao de empresas e ao aumento daproduo nos territrios fronteirios, designadamente atravs de um benefcio fiscal, emIRC, modulado pela distribuio regional do emprego.

    11. Sobre os custos das famlias com a energia eltrica e gs:a) Redesenhar a tarifa social no sentido de a tornar automtica para agregadosfamiliares de baixos recursos e beneficirios de prestaes sociais sujeitas a condio derecursos; no caso dos consumidores que, no auferindo prestaes com a naturezaanterior, se encontrem em situao vulnervel, a nota de rendimentos emitida pelaAutoridade Tributria permitir o cumprimento dos requisitos para a atribuio da tarifasocial; os consumidores que, pelo seu nvel de rendimento, esto hoje dispensados deapresentar declarao de rendimentos, devero passar a faz-lo para obter a nota derendimentos da Autoridade Tributria e, dessa forma, aceder tarifa social; o acesso tarifa social d acesso automtico ao Apoio Social Extraordinrio ao Consumidor de

    Energia (ASECE);

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    b) Retirar da fatura da energia eltrica a Contribuio do Audiovisual e incorpor-la nouniverso das comunicaes sem perda de receita para a RTP.

    12. Privatizaes e Concesses:

    a) Anulao das concesses e privatizaes em curso dos transportes coletivos deLisboa e Porto;b) Reverso das fuses de empresas de gua que tenham sido impostas aosmunicpios;c) Reverso do processo de privatizao da EGF, com fundamento na respetivailegalidade;d) Nenhuma outra concesso ou privatizao.