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EE _______________________________________________________________________ EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE FEIRA DE SANTANA/BA, DIREITO À SAÚDE PACIENTE COM DISFUNÇÃO GRAVE DA ARTICULAÇÃO TÊMPORO MANDIBULAR E DISFUNÇÃO CRÂNIO MAXILO FACIAL - NECESSIDADE DE TRATAMENTO MÉDICO-ODONTOLÓGICO – EM CARÁTER DE URGÊNCIA – SISTEMA ÚNICO DE SÁUDE - OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA DA UNIÃO, DO ESTADO E DO MUNICÍPIO. URGENTE O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da República infra-firmado, com base no art. 129, II e III da Constituição Federal, na Lei Complementar Federal n. 75/93 e na Lei n. 7.347/85, vem propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA, em face da: 1. UNIÃO, pessoa jurídica de direito público, representada pelo Procurador-Chefe da Advocacia Geral da União, com sede na Avenida Tancredo Neves, n. 450, 28º andar, Ed. Suarez Trade, Caminho das Árvores, Salvador/BA; 2. ESTADO DA BAHIA, pessoa jurídica de direito público, representada pelo Procurador-Geral do Estado, com sede no Largo do Campo Grande, n. 382, Salvador/BA; e 3. MUNICÍPIO DE FEIRA DE SANTANA, pessoa jurídica de direito público, na pessoa do Prefeito Municipal, com sede na Av. Sampaio, n. 344, Centro, Feira de Santana/BA. 1

ACP tratamento medico-odontologico · Integrada de Saúde Oral, no valor de R$ 9.500,00 (nove mil e quinhentos reais), além do tratamento de ortodontia na OrthoClinic Correção

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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DASUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE FEIRA DE SANTANA/BA,

DIREITO À SAÚDE – PACIENTE COMDISFUNÇÃO GRAVE DA ARTICULAÇÃOTÊMPORO MANDIBULAR E DISFUNÇÃOCRÂNIO MAXILO FACIAL - NECESSIDADE DETRATAMENTO MÉDICO-ODONTOLÓGICO – EMCARÁTER DE URGÊNCIA – SISTEMA ÚNICO DESÁUDE - OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA DA UNIÃO, DOESTADO E DO MUNICÍPIO.

URGENTE

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, peloProcurador da República infra-firmado, com base no art. 129, II e III da

Constituição Federal, na Lei Complementar Federal n. 75/93 e na Lei n.

7.347/85, vem propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE

TUTELA ANTECIPADA, em face da:

1. UNIÃO, pessoa jurídica de direito público,

representada pelo Procurador-Chefe da

Advocacia Geral da União, com sede na Avenida

Tancredo Neves, n. 450, 28º andar, Ed. Suarez

Trade, Caminho das Árvores, Salvador/BA;

2. ESTADO DA BAHIA, pessoa jurídica de direito

público, representada pelo Procurador-Geral do

Estado, com sede no Largo do Campo Grande, n.

382, Salvador/BA; e

3. MUNICÍPIO DE FEIRA DE SANTANA, pessoa

jurídica de direito público, na pessoa do Prefeito

Municipal, com sede na Av. Sampaio, n. 344,

Centro, Feira de Santana/BA.

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I – DO OBJETO DA AÇÃO

Pretende-se com a presente ação a realização de

tratamento médico-odontológico e cirúrgico, EM CARÁTER DE URGÊNCIA,

para o Sr. ALFRÂNIO JORGE DE SOUZA SILVA, 37 anos, que padece de

DISFUNÇÃO GRAVE DA ARTICULAÇÃO TÊMPORO MANDIBULAR E

DISFUNÇÃO CRÂNIO-MAXILO-FACIAL (CID-K07.6).

II - D OS FATOS

Compareceu à sede da Procuradoria da República

da Subseção Judiciária de Feira de Santana/BA, em 02/04/2007, o Sr.

ALFRÂNIO JORGE DE SOUZA SILVA, portador de R.G. 0864875584, SSP/BA,

inscrito no CPF n. 521.547.695 00, brasileiro, maior, solteiro, técnico em

comercialização e mercadologia, residente e domiciliado neste município,

cujo termo de declarações encontra-se anexo aos autos, solicitando

providências do MPF, visto que necessita submeter-se a tratamento

médico-odontológico o mais breve possível, conforme relatórios médicos

que instruem a inicial, tendo em vista que padece de DISFUNÇÃO GRAVE

DA ARTICULAÇÃO TÊMPORO-MANDIBULAR E DISFUNÇÃO CRÂNIO-MAXILO-

FACIAL.

Consoante as declarações prestadas, o Sr.

ALFRÂNIO padece da referida enfermidade há cerca de 06 (seis) anos,

cujos principais sintomas são fortes dores de cabeça (cefaléia), dores

musculares e cervicais, traumas oclusais, mau hálito, dificuldade de

mastigação, problemas estomacais e distúrbios psíquicos, que o

levaram, inclusive, a perder o emprego e não ter condições físicas de

realizar qualquer atividade laborativa, tendo que viver, desde então, às

custas de sua genitora, a Sra. MARIA JOSÉ DE SOUZA SILVA, aposentada

como lavradora pela Previdência Social, que recebe um salário mínimo

mensal.

Ora, trata-se de um cidadão com 37 anos,

atualmente incapaz de desenvolver-se como ser humano e de exercer

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qualquer atividade laborativa, o que tem causado sérios danos de ordem

psíquica, o que obrigou o paciente a fazer tratamento psiquiátrico no

Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) desde 2003, conforme relatórios

médicos emitidos por diversos psiquiatras que se encontram anexos,

entre os quais poder-se-ia destacar o emitido pela Dra. Maria de Lourdes

Souza (CREMEB 2450), no qual assinala que o Sr. ALFRÂNIO passou a

apresentar quadro psico-somático, caracterizado por depressão,

idéias obsessivas e manifestação dolorosa persistente, necessitando

fazer uso de Duloxetina (cymbalta) via oral, diariamente, e por tempo

indeterminado.

Cumpre ressaltar que, ao longo desses 06 (seis)

anos, o Sr. ALFRÂNIO já fez uso de 78 (setenta e oito) medicamentos,

para atenuar os sintomas da disfunção têmporo-mandibular, sobretudo

as fortes dores na região bucofacial, conforme demonstram as

numerosas receitas médicas anexas e a extensa lista de substâncias

utilizadas. Entretanto, tais medicamentos possuem um caráter paliativo,

pois destinam-se apenas a combater os sintomas da doença e amenizar a

dor, sem que a causa fosse sanada, ou seja, a realização de tratamento

médico, odontológico e cirúrgico para correção da disfunção

mandibular.

Ora, as fotografias da região bucofacial

anexadas aos autos demonstram, de maneira clara e inequívoca, a

gravidade da doença e o sofrimento pelo qual tem passado o Sr.

ALFRÂNIO.

Vale salientar que o tratamento custa

atualmente em torno de R$ 20.000,00. Em 2005, custava cerca de R$

15.000,00. Entretanto, o referido cidadão não disponhe de condições

financeiras para arcar com os custos do mesmo.

Com efeito, os orçamentos que se encontram

anexos aos autos fornecidos pelo Nucleo Integrado de Reabilitação

Orofacial de FS/BA (NIRO), no valor R$ 14.920,00 (quatorze mil,

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novecentos e vinte reais) (orçamento em 10/10/2005) e pela Clínica

Integrada de Saúde Oral, no valor de R$ 9.500,00 (nove mil e

quinhentos reais), além do tratamento de ortodontia na OrthoClinic

Correção Dentária, no valor R$ 3.648,00 (três mil, seiscentos e quarenta

e oito reais), o que totaliza R$ 13.148,00 (treze mil, cento e quarenta e

oito reais) (orçamento datado de 16/12/2003). Cumpre assinalar que tais

orçamentos certamente sofreram acréscimos no valor, por serem datados

de 2003 a 2005, de modo que se encontram atualmente defasados.

Por fim, assevera que já procurou tratamento

junto à SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE FEIRA DE SANTANA,

SECRETÁRIA DE SAÚDE DO ESTADO DA BAHIA, MINISTÉRIO DA SAÚDE,

FACULDADE DE ODONTOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA –

UFBA, UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA e à ASSOCIAÇÃO

BRASILEIRA DE ODONTOLOGIA - ABO, não logrando êxito em suas

inúmeras tentativas, tendo em vista que as instituições alegam que não

dispõem de meios profissionais e materiais para realizar o tratamento,

por ser de alta complexidade técnica e do alto custo financeiro.

Com efeito, segundo o Sr. ALFRÂNIO, o

Município de Feira de Santana, através da Secretaria Municipal de

Saúde, negou-se a realizar o tratamento, sob a alegação de que não

dispõe de estrutura médico-odontológica para fazê-lo, pois se trata de

atribuição da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia. Esta, por sua vez,

informou-lhe que, como o Município de Feira de Santana encontra-se

habilitado na Gestão Plena do Sistema Único de Saúde, a ele compete a

realização do tratamento.

Por outro lado, a Secretaria de Atenção Básica

do Ministério da Saúde orientou o referido cidadão a se dirigir à

Secretaria de Saúde deste município, sob o mesmo argumento acima

indicado: a de que, por se encontrar em gestão plena, cabe ao Municipio

realizar o tratamento ou encaminhar o paciente para outros municípios

onde possa ser feito.

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Neste sentido, apesar das diversas tentativas

junto ao Município de Feira de Santana, o Estado da Bahia e a União,

conforme demonstram as inúmeras correspondências devidamente

protocolizadas pelo Sr. ALFRÂNIO, que instruem a inicial, encaminhadas

exaustivamente aos três entes federativos, o paciente continua submetido

a uma via crucis interminável, visto que cada uma das entidades

federativas atribui a competência à outra, sem que o tratamento, até a

presente data, fosse realizado apesar de já terem passado 06 (seis) anos,

desde que o Sr. ALFRÂNIO procurou auxílio médico junto ao Poder Público,

a quem cabe, por dever constitucional, garantir o direito à saúde aos

cidadãos.

Instaurado o Procedimento Administrativo n.

1.14.004.00076/2007-39 nesta Procuradoria da República, a fim de

viabilizar o tratamento médico-odontológico para o Sr. ALFRÂNIO JORGE

DE SOUZA SILVA, foram requisitadas informações à Secretaria Municipal de

Saúde de Feira de Santana, mediante o Ofício n. 673/07-PRM/FS-VA, à 2ª

Diretoria Regional de Saúde (2ª DIRES), através do Ofício n. 671/07-

PRM/FS-VA, à Secretaria Executiva do Ministério da Saúde e à Secretaria de

Saúde do Estado da Bahia (Ofício n. 676/07-PRM/FS-VA).

A 2º Diretoria Regional de Saúde, mediante o

Ofício .GAB. n. 055/2007, informou que o “paciente deveria procurar a

Secretaria Municipal de Saúde de Feira de Santana, que faz parte do

Sistema de Gestão Plena da Saúde....”

A Secretaria Municipal de Saúde de Feira de

Santana informou, através do Ofício G.S. 851/07, que o “Sr. ALFRÂNIO já

realizou tratamento de periondentia e endodentia no CEO (Centro de

Especialidades Odontológicas), que são os tratamentos disponíveis e

pactuados pelo Município de Feira de Santana, porém Ortodontia, Prótese,

Cirurgia Crânio Maxilo Facial e Implantodontia ainda não estão disponíveis

na rede SUS a nível federal, Estadual e Municipal.”

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Por outro lado, a então Secretária Municipal de

Saúde de Feira de Santana/BA, Dra. Zênia Maria Aráujo Neves,

encaminhou, equivocadamente, o paciente ao Hospital Psiquiátrico Juliano

Moreira, que, entretanto, conforme ofício assinado pela Coordenadora

clínica, Dra. Lela Santos, “o hospital não realiza tratamento especializado

na área de prótese/oclusão para atendimento de pacientes com problemas

patológicos semelhantes ao do Sr. Alfrânio Jorge de Souza Silva, sugerindo

encaminhamento do paciente à Secretaria Municipal de Saúde de Feira de

Santana em parceria com o Ministerio da Saúde.”

Cumpre salientar que, em resposta encaminhada

ao próprio paciente, o Secretário de Políticas de Saúde, mediante o Ofício

n. 854/02-GAB/SPS/MS, datado de 02 de agosto de 2002, informa que “o

Ministério da Saúde repassa recursos financeiros regularmente à

Secretaria Municipal de Saúde de Feira de Santana, para os serviços de

saúde possam melhor atender os cidadãos moradores desse município.

Assim sendo, comunico que estou enviando cópia de sua carta ao

Secretário Municipal de Saúde de Feira de Santana, pleiteando que a

Secretaria analise a sua situação com vistas a avaliar a possibilidade de

atender à sua solicitação”

A Secretaria de Atenção Básica do Ministério da

Saúde, por sua vez, informou ao MPF que “o paciente encontra-se

atualmente em tratamento junto à Faculdade de Odontologia da

Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS.”, o que, entretanto,

não procede.

Com efeito, requisitadas informações ao

Departamento de Odontologia da UEFS, a Dra. Ângela Guimarães Martins,

Coordenadora da Área de Clínica Integrada informou que “o paciente

Alfrânio vem sendo atendido desde 2005 em uma das clínicas odontológicas

da UEFS... que o tratamento que vem sendo realizado contempla uma

parte de suas necessidades bucais, visto que o mesmo também necessita

de procedimentos de dentística (restaurações), endodontia (tratamentos e

retrataramentos de canal), periondontia (tratamento de gengivas) e

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procedimentos protéticos básicos, que já vem sendo realizads. O paciente

foi esclarecido em seu atendimento inicial que a Clínica Integrada do

Curso de Odontologia da UEFS não teria condições de realizar o

tratamento em Disfunção grave da Articulação Têmporo Mandibular e

Disfunção Crânio Maxilo Facial, pois esse tratamento não é realizado

em nenhum curso de graduação em Odontologia, por ser de elevado

grau de complexidade, exigindo nível de especialização dos

profissionais , mesmo contando em nosso quadro com professores na área

em nível de mestrado e doutorado, o tipo de tratamento requerido para o

caso não cabe no ambiente de graduação.” (grifos nossos)

A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia

informou, através do Ofício Gasec n. 646/07, que “os procedimentos

cirúrgicos de maior complexidade em odontologia devem ser referenciados

para a Faculdade de Odontologia sa UFBA, Hospital Geral do Estado (HGE)

e no Hospital Geral Roberto Santos.”

Oficiado, o Hospital Geral do Estado, informou

(Ofício n. 1.812/2007) que “o Hospital Geral do Estado é campo de estágio

da Residência em Buco-Maxilo facial apenas no Setor de Emergência e

que o hospital não dispõe de meios/materiais especializados para

continuação de tratamento após a fase de emergência”. (grifo nosso)

Já a Diretoria Geral do Hospital Roberto Santos

infomou, mediante o Ofício n. 1.429/07, que “o procedimento de enxerto

ósseo poderá ser realizado neste hospital, os demais (movimentações

ortodônticas, próteses provisórias e definitivas sobre raízes

remanescentes, implantes e prótese sobre implantes) são feitos por

espeacialidades na Faculdade de Odontologia da UFBA.”

Sucede, entretanto, que, conforme termo de

declarações anexo, o Sr. ALFRÂNIO já esteve na Faculdade de Odontologia

da UFBA, onde foi submetido a uma avaliação médica detalhada, realizada

pela equipe médica Prof.ª Dr.ª Maria de F.P. Oliveira, cujo laudo encontra-

se anexo, que diagnosticou a enfermidade e estabeleceu os procedimentos

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médicos, odontológicos e cirúrgicos a serem adotados, mas, segundo

informações da própria Dra. Maria F.P. Oliveira, o tratamento só

poderá ser realizado pela Rede privada, que dispõe de condições

técnicas em todas as especialidades, não adiantando encaminhar o

paciente para clínicas conveniadas pelo SUS, porque é mera perda de

tempo.

A Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da

Saúde, novamente oficiada pelo MPF, informou, mediante o Ofíco GS n.

1.797/07, o qual encontra-se anexo o Parecer Técnico do Coordenador

Nacional de Saúde Bucal e do Diretor do Departamento de Atenção Básica,

“que o município de Feira de Santana – BA está habilitado em gestão

plena dos recursos do Sistema Único de Saúde – SUS, devendo, assim,

programar as ações de sua população e realizar os encaminhamentos

para outros municípios, daquelas ações que não possuem oferta, por

insuficiência ou inexistência de capacidade instalada, mantendo

consonância com o processo de regionalização, conforme as Diretrizes

para a Programação Pactuada e Integrada da Assistência à Saúde.”

(grifo nosso)

Por outro lado, o Sr. ALFRÂNIO compareceu à

esta Procuradoria da República em 15 de janeiro de 2008, às 17:00h,

informando que “está sentindo fortes dores de cabeça , chegando a ser

internado 03 (três) vezes na emergência do Hospital Regional Clériston

Andrade, no EMEC e no Hospital D. Pedro, em face da dor insuportável,

em decorrência da Disfunção Grave da Articulação Têmporo

Mandibular e Disfunção Crânio facial; que não está suportando as

fortes dores, que não consegue sequer dormir; que está tomando

Diazepan, Amiptril (psicotrócopico e ansiolítico) e Rivotril

(antidepressivo).”

E continua:

“Que os médicos que o atenderam nas

emergências dos hospitais acima referidos, disseram que sem a

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realização do tratamento médico-dentário, as dores irão continuar e

se agravar e, com o passar do tempo, poderá ocorrer um aneurisma

cerebral, em virtude da falta de tratamento”.

Assinala ainda que “deseja providências do

Ministério Público Federal, pois a União, o Estado da Bahia e o

Município ficam um empurrando para o outro; que já procurou, em

diversas oportunidades, a Secretaria Municipal de Saúde de Feira de

Santana e a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, mas não obteve

atendimento; que já procurou a UFBA, mas o tratamento não é realizado;

que já esteve na Associação Brasileira de Odontologia – Seção Bahia, mas o

tratamento também não é realizado; que já foi atendido pela Clínica

Integrada da UEFS, mas conforme relatório da Coordenadora Ângela

Guimarães Martins, que se encontra nos autos, a Universidade não tem

estrutura médica, pessoal e profissional para realizar o tratamento da

disfunção que acomete o paciente; que o tratamento que o paciente fez

na UEFS foi apenas um tratamento básico (restauração, tratamento de

canais), não contemplando as reais necessidades do quadro clínico do

declarante; que já entrou em contato com o Ministério da Saúde, sendo

informado que é atribuição do Município pois Feira de Santana possui

gestão plena do Sistema Único de Saúde.”

Destarte, conforme a farta documentação médica

que instrui a inicial, observa-se que o Sr.ALFRÂNIO padece de uma grave

enfermidade que acomete a articulação têmporo-mandibular, o que

provoca fortes dores na região bucofacial, ocasionando perturbações no

sistema psiquíco e neurológico, necessitando de tratamento médico,

odontológico, cirúrgico e psiquiátrico, que engloba ortodontia,

periondontia, implantodontia e reabilitação oclusal com prótese, além de

acompanhamento psicológico, fonodiaulógico e terapêutico.

A médica ortodentista Márcia Murici (CRO 4550),

especialista em disfunção crânio-mandibular, que acompanha o paciente

desde o ano de 2003, afirmou em seu relatório técnico anexo que “as

implicações clínicas no caso de não se iniciar o tratamento poderão ser

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um aumento da dor na região da Articulação Têmporo Mandibular

(ATM), um aumento do mau hálito e problemas estomacais já que não

consegue uma boa mastigação, aumento da perda óssea devida a

traumas oclusais e inflamação gengival. O paciente encontra-se

psicologicamente abalado, com a auto-estima baixa devido ao mau

hálito, ausência de elementos dentários, principalmente na região

anterior, dores musculares na região da ATM e dificuldade de

mastigação.” (grifo nosso)

Vale assinalar que a Disfunção Têmporo-

Mandibular e Maxilo-Facial tem sérias repercussões clínicas, físicas,

neurológicas e musculares, porquanto, além de prejudicar a mastigação,

dificultando a alimentação, provoca fortes dores musculares que

impedem o desenvolvimento de qualquer atividade por parte daquele

que sofre dessa enfermidade. Além disso, o mau hálito e as fortes e

incessantes dores na região da boca e do crânio, em conjunto com os

demais, sintomas, abalam o sistema psíquico e neurológico, causando

distúrbios, como depressão, ansiedade e insônia. No caso em epígrafe, o

Sr. ALFRÂNIO viu-se obrigado a fazer uso de ansiolíticos, psicotrópicos e

antidepressivos, pois está sofrendo de insônia, o que contribui para o

agravamento de seu debilitado quadro clínico, face à importância do sono

na saúde do ser humando de modo geral.

Consoante informações extraídas de sites

especializados em Odontologia que se encontram anexos, a Disfunção da

Articulação Têmporo-Mandibular caracteriza-se pelo funcionamento

anormal da articulação temporo-mandibular, ligamentos, músculos da

mastigação, ossos maxilar-mandíbula, dentes e estruturas de suporte

dentário.

Os principais sintomas são dores de cabeça na

região da testa, fundo de olho e nas têmporas, dores de ouvido,

zumbidos no ouvido, dificuldade para mastigar, principalmente

alimentos duros, dores durante a mastigação, tonturas, vertigens,

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barulho próximo à orelha ao abrir e fechar a boca, desgaste dental

excessivo e sensação de travar a mandíbula.

De acordo com a Dra. Shirley de Campos,

especialista em Odontologia Preventiva:

“As Disfunções Têmporo-Mandibulares (DTM)são desordens das articulações e músculos daregião bucofacial e cervical, que têm entreseus sintomas dor facial, dor de ouvido,cefaléia, neuralgias, ruídos, desvios etravamentos. Aproximadamente metade dapopulação apresenta problemas na regiãobucofacial e 5 a 10 % delas necessitamtratamento especializado. Devido à sua altaprevalência e impactos no indivíduo portadorpassou a ser reconhecida como área especifica.A etiologia das DTM é multifatorial incluindo aoclusão bucal, disfunções da articulação,fatores neuromusculares e psicogênicos. Assim,pode-se observar que se trata de uma doençacomplexa e cada paciente deve ser analisadocomo único, sendo importante identificar quaisos fatores envolvidos, devendo sempre estar emmente que as articulações temporomandibulares(ATM) são articulações complexas, tendo em suaintimidade várias estruturas (musculares eneurológicas) que podem desencadear dor. Nestesentido, o atendimento dessa afecção deve serrealizado por uma equipe multiprofissional,que inclua médico, dentista, fisioterapeuta,psicólogo e fonoaudiólogos. Estes profissionaissão necessários para o diagnóstico e oplanejamento do tratamento do paciente. Ospacientes com DTM apresentam sintomas clínicosmais exuberantes e geralmente utilizam grandequantidade de medicamentos. Estatísticas emportadores de cefaléia recorrente mostraram que66% dos pacientes apresentam uma DTM de tipomiogênica ou artrogênica. Na maioria desses otratamento sempre foi o da cefaléia e não daATM, ou seja, trataram-se os sintomas e não acausa.”

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E prossegue:

Cumpre salientar que fatores psicológicos easpectos comportamentais são fortementeassociados à DTM predispondo e mantendo ossintomas. Não existe descrição de uma"personalidade das DTM" porém o componentepsicológico é parte importante da abordagemmultiprofissional e, essencial o seu tratamento. Amaioria dos pacientes apresenta depressão eansiedade, portanto, uma personalidade maisvulnerável ao estresse. Os fatoresneuromusculares, articulares (anatômicos) ecomportamentais atuam em conjunto nodesenvolvimento destes distúrbios. Otratamento deve ser personalizado, comcondutas específicas para cada paciente.Existem duas fases a serem observadas. A Fase Iengloba: uso de órteses e os métodosfisioterápicos relacionados a seguir: Placaoclusal unimaxilar, Placa oclusal bimaxilar (usonoturno), TENS (estimulação elétricatranscutanea), Ultra-som e Iontoforese, comaplicação de medicamentos e analgésicos demodo não invasivo, Ajuste oclusal coronário,Imobilização dento-maxilar, Fisioterapia facial,Fisioterapia postural e Fonoaudiologia. Na faseII, são realizadas as correções anatômicasnecessárias sendo indicados: tratamento ortodôntico, tratamento protético,implantodontia e tratamento cirúrgico.

Nos termos do Relatório Médico emitido pelos

médicos – Cirurgiões – Dentistas, Dr. Márcio Freitas (CRM 15134 e CRO 4940)

e João Laporte (CRO 4940), do Núcleo Integrado de Reabilitação Orofacial,

de Feira de Santana “o paciente ALFRÂNIO nos foi encaminhado para

avaliação clínica no sentido de tratar os fatores relacionados à

Disfunção Grave da Articulação Têmporo Mandibular e Disfunção

Crânio Maxilo Facial, com etiologia intimada ligada à perda de

elementos dentários, mau posicionamento das unidades dentárias

remanescentes e parafunções. Há a necessidade de um tratamento

multidisciplinar, envolvendo as áreas de ortodontia, prótese, cirurgia

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crânio maxilo facial, implantodontia, periondontia e endodontia, com

o objetivo de reabilitar a oclusão.”

Com base na avaliação clínica, os referidos

especialistas estabeleceram o tratamento médico-odontológico que inclui:

1 – Movimentações Ortodônticas:

Objetivo: Reposicionar caninos superiores,

molares superiores e inferiores. Programação: realização de exames

radiográficos, fotografias, confecção de modelos e análises cefamétricas

para confecção e montagem do aparato ortodôntico.

2 – Implantações provisórias e definitivas sobre

raízes remanescentes:

Objetivo: manter uma oclusão satisfatória

durante o tratamento e finalizar o tratamento das raízes remanescentes

com coroas fixas unitárias.

Programação: núcleos, coroas provisórias e

coroas definitivas sobre o primeiro pré-molar superior direito, caninos

superiores direito e esquerdo, primeiro molar superior esquerdo, incisivos

laterais inferiores e incisivo central direito.

3 – Enxertos ósseos:

Objetivo: refazer a base óssea reabsorvida após

perda dos elementos dentários com a finalidade de obter base ósssea para

acomodação de implantes de titânio.

4 – Implantes ósseo integrados:

Objetivo: inserção dos parafusos de titânio para

ancoragem protética fixa.

Programação: 02 implantes em região maxilar

anterior (área de incisivos centrais e laterais superiores) e 01 implante em

região de pré molares superiores esquerdos.

5 – Prótese sobre implantes

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Objetivo: Colocação de 05 coroas metacerâmicas

sobre implantes programados no anterior.

Programação: 04 coroas em região maxilar

anterior )área de incisivos centrais e leterais superiores) e 1 coroa em

região de pré-molares superiores esquerdos.

No mesmo sentido, manifestou-se a equipe

médica da Prof.ª Dr.ª Maria de F.P. Oliveira, CREMEB 6707, da Faculdade

de Odontologia da UFBA, na avaliação médico-odontológica realizada, ao

afirmar que o Sr.ALFRÂNIO necessita de:

a) tratamento ortodôntico com manutenção de

30 meses;

b) tratamento das disfunções da ATM;

c) Reabilitação oclusal superior e inferior;

d) Periodontia;

e) Endodontia;

f) Odontologia de estética (restaurações e

reconstruções dentárias);

g) Cirurgia de enxerto preparatório para

implantes;

h) acompanhamento psicológico.

Vale salientar que o Sr.ALFRÂNIO foi submetido

a uma nova avaliação pelo Médico Dr. Marcelo Peixoto, presidente da

Associação Brasileira de Odontologia – Seção Bahia, que concordou, em

todos os seus termos, com a laudo médico elaborado pela UFBA e com o

tratamento recomendado.

Além disso, de acordo com o Parecer Técnico

emitido pela Coordenação Nacional de Saúde Bucal em conjunto com o

Departamento do Atenção Básica, anexo ao ofícvio n. GS/SAS n. 1.379/07,

“o tratamento da DTM pode, muitas vezes, necessitar de uma

abordagem multi-profissional, envolvendo além do cirurgião-dentista,

o médico, o psicólogo, o fisioterapeuta e o fonoaudiólogo.”

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III - DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

O artigo 127, caput, da Carta Federal de 1988,

define o papel do Ministério Público, incumbindo-lhe a missão de defender

a ordem jurídica, o regime democrático e os interesses sociais e individuais

indisponíveis. No art. 129, II, comete-lhe a função de “zelar pelo efetivo

respeito dos poderes públicos e dos serviços de relevância pública aos

direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas

necessárias a sua garantia”.

No caso vertente, o Ministério Público Federal

busca proteger direito fundamental à saúde.

Entrementes, para que não se pretenda afastar a

legitimidade ativa do Parquet, no caso específico, sob o argumento de que

os direitos que aqui se deduzem possuem a natureza de direitos individuais

homogêneos, insta observar que, ainda que assim fosse, a legitimidade está

preservada em face da relevância social do direito protegido, que o faz

transcender aos interesses do grupo atingido, a tal monta, que passam a

configurar os direitos sociais previstos no art. 127 da Constituição Federal,

conforme explana, entre outros, Teori Albino Zavascki, no brilhante estudo

“O Ministério Público e a Defesa de Direitos Individuais Homogêneos”(in Revista do Ministério Público do Rio Grande do Sul, nº 29, págs. 29/40, Porto Alegre,

Revista dos Tribunais, 1993).

A par disso, a Constituição Federal, no art. 197,

estabelece:“Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde,

cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua

regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser

feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa

física ou jurídica de direito privado.”

O Ministério Público, ao promover ação civil

pública com o fim de compelir o Poder Público a garantir o direito à saúde

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a seus cidadãos/contribuintes, de outra atribuição não cuida senão daquela

constitucionalmente assinalada de zelar pelo efetivo respeito dos Poderes

Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados na

Constituição. Nesse sentido, o STF já se manifestou:

“Cumpre assinalar, finalmente, que a essencialidade do direito àsaúde fez com que o legislador constituinte qualificasse, comoprestações de relevância pública, as ações e serviços de saúde(CF, art. 197), em ordem a legitimar a atuação do MinistérioPúblico e do Poder Judiciário naquelas hipóteses em que os órgãosestatais, anomalamente, deixassem de respeitar o mandamentoconstitucional, frustrando-lhe, arbitrariamente, a eficácia jurídico-social, seja por intolerável omissão, seja por qualquer outrainaceitável modalidade de comportamento governamentaldesviante”. (do voto do Min. Celso de Mello no RE nº 273.834-4/RS, 2ªTurma, Julg. em 12/09/2000).

Ademais, a proteção pretendida visa a atender

especificamente a portadores de Disfunção Grave da Articulação

Têmporo-Mandibular e Disfunção Crânio-Maxilo-Facial. Assim, os

beneficiários da prestação jurisdicional pretendida serão todos os

cidadãos residentes no município de Feira de Santana acometidos pela

referida enfermidade, que necessitem de atendimento junto ao SUS,

derivando-se daí a legitimidade do Ministério Público para defender o

interesse individual indisponível, consistente no direito à saúde.

Cumpre assinalar que não há Defensoria Pública

da União em Feira de Santana, o que forçosamente impõe a ação do

Ministério Público Federal, em cumprimento à sua missão constitucional

que é zelar pelos serviços de relevância pública, nos termos do art.129,

inciso II e IX da carta Republicana de 1988.

IV - DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

Os óbices burocráticos ou orçamentários

opostos pelos gestores do SUS não são aptos a afastar o dever

constitucionalmente imposto ao Estado (Poder Público) de garantir o

pleno direito à saúde, conforme a seguir se demonstrará.

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O artigo 196 da Constituição Federal

estabelece:“Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantidomediante políticas sociais e econômicas que visem à redução dorisco de doença e de outros agravos e ao acesso universal eigualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção erecuperação.”

Este dispositivo não é uma mera ordem

programática despida de conteúdo jurídico obrigacional. O art. 196 da CF

obriga o PODER PÚBLICO a garantir o direito à saúde mediante políticas

sociais e econômicas, bem como a exercer ações e serviços de forma a

promover, proteger e recuperar a saúde. A tal dever corresponde o direito

subjetivo público do cidadão de ver tais ações e serviços implementados.

Nesse sentido, pronunciou-se o Supremo Tribunal Federal:

“PACIENTE COM PARALISIA CEREBRAL E MICROCEFALIA. PESSOADESTITUÍDA DE RECURSOS FINANCEIROS. DIREITO À VIDA E À SAÚDE.FORNECIMENTO GRATUITO DE MEDICAMENTOS E DE APARELHOSMÉDICOS, DE USO NECESSÁRIO, EM FAVOR DE PESSOA CARENTE.DEVER CONSTITUCIONAL DO ESTADO (CF, ARTS. 5º, CAPUT, E 196).PRECEDENTES (STF). - O direito público subjetivo à saúde representa prerrogativajurídica indisponível assegurada à generalidade das pessoas pelaprópria Constituição da República (art. 196). Traduz bem jurídicoconstitucionalmente tutelado, por cuja integridade deve velar, demaneira responsável, o Poder Público, a quem incumbe formular - eimplementar - políticas sociais e econômicas que visem a garantir,aos cidadãos, o acesso universal e igualitário à assistência médico-hospitalar. - O caráter programático da regra inscrita no art. 196 da CartaPolítica - que tem por destinatários todos os entes políticos quecompõem, no plano institucional, a organização federativa doEstado brasileiro - não pode converter-se em promessaconstitucional inconseqüente, sob pena de o Poder Público,fraudando justas expectativas nele depositadas pela coletividade,substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento de seuimpostergável dever, por um gesto irresponsável de infidelidadegovernamental ao que determina a própria Lei Fundamental doEstado. Precedentes do STF”. (STF, RE n. 273.834-4/RS. 2ª Turma, Rel.Min. Celso de Mello, Julg. 12/09/2000).

Como se observa, o direito à saúde implica para o

Poder Público o dever inescusável de adotar todas as providências

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necessárias e indispensáveis para a sua promoção. Nesse contexto jurídico,

se o poder público negligencia no atendimento de seu dever, cumpre ao

Poder Judiciário intervir, num verdadeiro controle judicial de política

pública, para conferir efetividade ao correspondente preceito

constitucional.

Por sua vez, a legislação infraconstitucional,

regulando e estruturando o Sistema Único de Saúde constitucionalmente

estabelecido, em atenção ao princípio da integralidade da assistência,

define, no artigo 2º da Lei n. 8.080/90 que “a saúde é um direito

fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições

indispensáveis ao seu pleno exercício.”. Estabelece ainda, em seu artigo

6º, inciso I, alínea d, que “Estão incluídas [...] no campo de atuação do

Sistema Único de Saúde (SUS) [...] assistência terapêutica integral,

inclusive farmacêutica”.

Além disso, saliente-se que o art.7º da Lei

8.080/90, consagra os princípios e diretrizes que noteiam o Sistema Único

de Saúde:

Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviçosprivados contratados ou conveniados que integram o SistemaÚnico de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com asdiretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal,obedecendo ainda aos seguintes princípios:

I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveisde assistência;

II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articuladoe contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais ecoletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidadedo sistema;

IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ouprivilégios de qualquer espécie; (grifos nossos)

Verifica-se, destarte, que a própria norma

disciplinadora do Sistema Único de Saúde elenca como princípio basilar a

integralidade de assistência, definindo-a como um conjunto articulado e

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contínuo de serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos,

exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema.

É, por conseguinte, dever do Sistema Único de

Saúde fornecer tratamento médico, odontológico e cirúrgico a todos os

cidadãos que não possam arcar com os custos do tratamento da DTM que,

por ser de alta complexidade técnica, é de alto custo, não apenas em

face da exigência do nível de especialização dos profissionais, bem como

dos materiais a serem utilizados para o tratamento (próteses provisórias e

definitivas, enxertos ósseos, implantes e próteses sobre implantes).

Por fim, a Lei n. 9.313/96 estabeleceu agratuidade do fornecimento de toda a medicação necessária ao tratamentoda AIDS, sendo perfeitamente cabível seu emprego analógico às demaisdoenças de um modo geral.

A Suprema Corte, por intermédio de uma de suas

dignas vozes, S. Exa. o Ministro CELSO DE MELLO, apresenta inteligente

orientação no seguinte sentido, verbis:

“Não deixo de conferir [...] significativo relevo ao tema pertinenteà ‘reserva do possível’ (STEPHEN HOLMES/CASS R. SUNSTEIN, “TheCost of Righs”, 1999, Norton, New York), notadamente em sede deefetivação e implementação (sempre onerosas) dos direitos desegunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais), cujoadimplemento, pelo Poder Público, impõe e exige, deste, prestaçõesestatais positivas concretizadas de tais prerrogativas individuaise/ou coletivas.É que a realização dos direitos econômicos, sociais e culturais – alémde caracterizar-se pela gradualidade de seu processo deconcretização – depende, em grande medida, de um inescapávelvínculo financeiro subordinado às possibilidades orçamentárias doEstado, de tal modo que, comprovada, objetivamente, aincapacidade econômico-financeira da pessoa estatal, desta não sepoderá razoavelmente exigir, considerada a limitação materialreferida, a imediata efetivação do comando fundado no texto daCarta Política.Não se mostrará lícito, no entanto, ao Poder Público, em talhipótese – mediante indevida manipulação de sua atividadefinanceira e/ou político-administrativa – criar obstáculo artificialque revele o ilegítimo, arbitrário e censurável propósito defraudar, de frustrar e de inviabilizar o estabelecimento e apreservação, em favor da pessoa e dos cidadãos, de condiçõesmateriais mínimas de existência.

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Cumpre advertir, desse modo, que a cláusula da 'reserva dopossível' – ressalvada a ocorrência de justo motivo objetivamenteaferível – não pode ser invocada, pelo Estado, com a finalidade deexonerar-se do cumprimento de suas obrigações constitucionais,notadamente quando, dessa conduta governamental negativa,puder resultar nulificação ou, até mesmo, aniquilação de direitosconstitucionais impregnados de um sentido de essencialfundamentalidade (ADPF 45 MC/DF – Informativo do STF nº 345).”

Nítido está que o objetivo primordial da presente

demanda, para a qual está devidamente legitimado a figurar no pólo ativo

o Ministério Público Federal, é a proteção de um dos direitos individuais e

coletivos mais relevantes e que restou violado com a não disponibilização

do tratamento pelo SUS, a pacientes portadores de Disfunção Grave da

Articulação Têmporo-Mandibular e Disfunção Crânio-facial;

Não menos maculada restou a garantia

constitucional da saúde, como direito de todos e dever do Estado, que se

não possuísse acepção de valor/interesse social, não mereceria tratamento

individualizado pela Carta Magna de 1988, no Título VIII (Da Ordem Social),

Capítulo II (Da Seguridade Social), Seção II.

Neste sentido, os tribunais pátrios têm

entendimento pacífico quanto à matéria em epígrafe, inclusive o

Superior Tribunal de Justiça, que, em reiteradas decisões, consagrou a

jurisprudência no sentido de que compete ao Poder Público a prestação

integral da assistência à saúde.

“Constitucional e Administrativo. Mandado de Segurança. Objetivo:Reconhecimento do direito de obtenção de medicamentosindispensáveis ao tratamento de retardo mental, hemiatropia,epilepsia, tricotilomania e transtorno orgânico da personalidade.denegação da ordem. recurso ordinário. direito à saúde asseguradona constituição federal (art. 6º e 196 da cf). provimento do recursoe concessão da segurança.I - É direito de todos e dever do Estado assegurar aos cidadãos asaúde, adotando políticas sociais e econômicas que visem àredução do risco de doença e de outros agravos e permitindo oacesso universal igualitário às ações e serviços para suapromoção, proteção e recuperação (arts. 6º e 196 da CF).

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II - Em obediência a tais princípios constitucionais, cumpre aoEstado, através do seu órgão competente, fornecermedicamentos indispensáveis ao tratamento de pessoa portadora deretardo mental, hemiatropia, epilepsia, tricotilomania e transtornoorgânico da personalidade.III - Recurso provido. (Origem: STJ. Classe: ROMS. Processo:2001000890152. UF: MG. Órgão julgador: PRIMEIRA TURMA. Data dadecisão: 13/08/2002. Relator: GARCIA VIEIRA). (grifos nossos)

O direito à saúde, tal como assegurado na

Constituição de 1988, configura direito fundamental de segunda geração.

Nesta geração, estão os direitos sociais, culturais e econômicos, que se

caracterizam por exigirem prestações positivas do Estado. Não se trata

mais, como nos direitos de primeira geração, de apenas impedir a

intervenção do Estado em desfavor das liberdades individuais.

Destarte, os direitos de segunda geração

conferem ao indivíduo o direito de exigir do Estado prestações sociais

(positivas) nos campos da saúde, alimentação, educação, habitação,

trabalho, etc.

Cumpre ressaltar, por fim, que constitui

fundamento da República Federativa do Brasil o princípio da dignidade da

pessoa humana, insculpido no artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal,

impondo-se, assim, ao Poder Público, em todas as suas esferas, federal,

estadual e municipal a adoção das medidas, políticas e providências no

sentido de cumprir o mandamento constitucional e garantir a todos, o

acesso aos serviços básicos e fundamentais, tal como a saúde e,

precipuamemte, à vida.

Não pode o Poder Judiciário, guardião do

ordenamento jurídico pátrio e dos direitos e garantias fundamentais,

admitir que o direito à saúde de um cidadão seja negado, sob a alegação

de que o Poder Público não dispõe de estrutura técnica e recursos

financeiros para realizar o tratamento ora requerido, porquanto se assim

fosse, condenar-se-ia ao abandono ou mesmo à morte todos os

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individuos que não disponham de recursos financeiros para socorrer-se a

clínicas particulares para obterem o tratamento médico que não é

disponibilizado pelo SUS.

Com efeito, o descaso com que este cidadão vem

sendo tratado pelo Poder Público é inconcebível e afronta os princípios e

valores mais fundamentais de um Estado que pretende ser Democrático de

Direito. Configura-se, por conseguinte, evidente afronta ao texto

constitucional que buscou tutelar o direito à saúde e à vida, elevando o

princípio da dignidade da pessoa humana como fundamento de nossa

República. Em uma palavra, o Estado não pode se quedar inerte diante de

um problema de saúde de um cidadão, eximindo-se inconsticionalmente

de cumprir deveres que lhe foram impostos pelo Poder Constituinte

originário e pela legislação ordinária acima referida.

A conduta em epígrafe das Secretarias Municipal,

Estadual e Nacional de Saúde além de condenável é, sobretudo,

discriminatória, pois cria cidadãos de primeira e segunda classes, ou seja,

aqueles abastados que podem arcar com os custos do tratamento na rede

privada e, portanto, ter direito a uma vida normal e os “cidadãos”, ou

melhor, indivíduos esquecidos e abandonados pelo Poder Público,

condenados sumariamente à dor, ao sofrimento ou até mesmo à morte, o

que exige a ação pronta e eficaz do Poder Judiciário, a que compete

garantir, em última instância, a efetividade das normas e valores

constitucionais.

V - DO PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DA TUTELA

No presente caso, todos os requisitos exigidos

pela lei processual para o deferimento da antecipação da tutela

encontram-se reunidos.

A verossimilhança da alegação está plenamente

demonstrada, conforme as razões fáticas, jurídicas e probatórias desta

petição de ingresso. A demora na prestação jurisdicional evidentemente

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acarretará (como já tem acarretado) conseqüências graves para a saúde

do cidadão em epígrafe.

Em relação ao paciente nominado, há

necessidade premente de obtenção do tratamento da Disfunção Grave

da Articulação Têmporo Mandibular e Disfunção Crânio facial, em face

das fortes e incessantes dores que o acometem e que, a cada dia,

agravam-se, tendo em vista a ausência do tratamento médico-

odontológico.

Ora, nos últimos dias, o Sr. ALFRÂNIO foi

internado 03 (três) vezes na emergência de hospitais do Município de

Feira de Santana, em decorrência da insuportável cefaléia, que já não

mais responde à utilização de analgésicos tal a gravidade da doença.

Há ainda o fundado receio de dano irreparável,

que deflui da inequívoca gravidade da enfermidade que acomete o Sr.

ALFRÂNIO, porquanto a falta de tratamento pode ocasionar evolução da

doença e o aumento substancial das dores de cabeça (e isso

inevitavelmente ocorrerá) com a demora em iniciar-se o tratamento, que

deve ser realizado em caráter urgência.

Justifica-se, in casu, o pedido liminar em relação

a Sr. ALFRÂNIO, pelo fato de estarem caracterizados, a lume do artigo

804, do Código de Processo Civil, todos os pressupostos autorizadores de

sua concessão.

O fumus boni iuris, ou seja, a plausibilidade do

direito invocado, consubstancia-se nos inúmeros e minuciosos relatórios

médicos assinados por especialistas na área de odontologia, entre os

quais, a Prof.ª Dr.ª Maria de F.P. Oliveira, da Universidade Federal da Bahia

- UFBA, o presidente da Associação Brasileira de Odontologia – Seção Bahia

(ABO) , Dr. Marcelo Peixoto, a ortodentista Dra. Márcia Murici, os cirurgiões

dentistas Márcio Freitas, João Laporte e José Ricardo Aráujo de Andrade e

a Prof.ª Ângela Guimarães Martins, Coordenadora da Área de Clínica

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Integrada da UEFS, bem como os relatórios psiquiátricos emitidos pela Dra.

Maria de Lourdes de Souza (CEMEB 2450), pela Dra. Gleide Silva Diallo

(CREMEB 9823) e pelo clínico geral, Dr. Sílvio Luiz Marques (CREMEB 1729),

além dos exames clínicos e radiológicos realizados pelo Instituto de

Radiologia de Feira de Santana e da ressonância magnética das

articulações temporo-mandibulares e da cintilografia óssea trifásica

realizada pelo Instituto de Hematologia de Feira de Santana – IHEF, que

comprovam indubitavelmente que SR. ALFRÂNIO apresenta diagnóstico de

Disfunção Grave da Articulação Têmporo-Mandibular e Disfunção Crânio-

Maxilo-Facial, necessitando de tratamento médico e odontológico o mais

breve possível, que, no entanto, tem lhe sido negado reiteradamente pelo

SUS, ao longo de 06 (seis) anos em todas as suas esferas federativas,

apesar da luta incessante do cidadão, que, por não dispor de recursos para

arcar com os custos do tratamento, teve a sua vida totalmente destruída,

sob o ponto de vista pessoal, social e profissional, visto que não pode

sequer trabalhar ou exercer qualquer atividade laborativa e não pode ter

uma vida social e afetiva, em virtude não apenas dos problemas físicos

(fortes dores, mau hálito), mas da repercussão psicológica da doença, que

acarreta baixa estima e profundo estado de depressão.

O periculum in mora é notório e decorre do

risco da ocorrência de agravamento do quadro clínico deste paciente,

em decorrência da falta de tratamento médico adequado. O receio de lesão

consubstancia-se na possibilidade do paciente experimentar prejuízo

irreparável ou de difícil reparação, se tiver de aguardar o tempo necessário

para decisão definitiva da lide.

Impõe-se, na espécie, a dispensa de intimação

da Fazenda Pública para os fins do artigo 2º da Lei nº 8.437/92, no tocante

à disponibilização do tratamento médico e odontológico ao paciente Sr.

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ALFRÂNIO, em face da gravidade da enfermidade e da urgência que o

caso requer, sob pena de se tornar inócua decisão posterior, considerando

que já tem ciência do debilitado estado de saúde do cidadão e pouco ou

nada fez. Ademais, a garantia constitucional do direito à vida e à

dignidade prevalece quando em confronto com as regras de direito

processual civil, ainda que de ordem pública.

Deferir a antecipação da tutela, no presente

caso, significa preservar a dignidade e o estado de saúde do mencionado

enfermo e respeitar sua condição de ser humano e cidadão, que tem o

direito de cobrar do Estado o atendimento integral à saúde.

Todos os requisitos legalmente exigidos para o

deferimento do provimento jurisdicional se encontram presentes.

Em razão do exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO

FEDERAL requer a Vossa Excelência:

a) a concessão da antecipação da tutela

inaudita altera parte, a fim de que seja determinando à UNIÃO, ao ESTADO

DA BAHIA e ao MUNÍCIPIO DE FEIRA DE SANTANA, de forma solidária, a

disponibilização do integral tratamento multiprofissional nas áreas

médico-odontológica e cirúrgica, para a disfunção que acomete o

paciente, nas áreas de periodontia, ortodontia e implantodontia,

incluindo o material necesssário (próteses provisórias e definitivas,

enxertos ósseos, implantes e próteses sobre implantes), fisoterapêutico,

psicológico e fonodiaulógico, para o Sr. ALFRÂNIO, de forma imediata,

em qualquer dos estabelecimentos médicos existentes nesta cidade ou

no Estado da Bahia, públicos ou privados, pelo prazo necessário para

conclusão do tratamento, estimado em, no mínimo, 30 (trinta) meses.

Impende salientar que a relação obrigacional é solidária, devendo a UNIÃO,

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se for o caso, repassar ao ESTADO e ao MUNICÍPIO os recursos necessários a

custeá-la; e

b) a cominação de multa diária para caso de

descumprimento da decisão antecipatória, no valor de R$5.000,00 (cinco

mil reais).

VI - DOS PEDIDOS PRINCIPAIS

Por fim, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL:

a) seja julgada procedente a pretensão ora deduzida, confirmando-se a

medida cautelar, condenando-se a UNIÃO, o ESTADO DA BAHIA e o

MUNICÍPIO DE FEIRA DE SANTANA, de forma solidária, nas obrigações ali

descritas relativamente a ALFRÂNIO e a todos os pacientes portadores de

Disfunção Grave da Articulação Têmporo-Mandibular e Disfunção Crânio

Maxilo-Facial, residentes no Estado da Bahia que necessitem de

atendimento pelo Sistema Único de Saúde;

b) a citação dos entes demandados, nas pessoas

de seus representantes legais, para contestarem a presente ação e

acompanhá-la em todos os seus termos, até final procedência, sob pena de

revelia e confissão;

c) a dispensa do pagamento das custas,

emolumentos e outros encargos, em vista do disposto no artigo 18 da Lei n.

7.347/85; e

d) em que pese já tenha apresentada prova pré-

constituída do alegado, o MPF requer se lhe faculte a produção de todos

os meios de prova em direito admitidos, especialmente prova

documental, testemunhal, pericial e inspeção judicial, na medida

necessária ao pleno conhecimento dos fatos.

Dá-se à causa o valor de R$1.000,00 (mil reais).

Pede deferimento.

Feira de Santana/BA, 22. JAN. 2008.

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Page 27: ACP tratamento medico-odontologico · Integrada de Saúde Oral, no valor de R$ 9.500,00 (nove mil e quinhentos reais), além do tratamento de ortodontia na OrthoClinic Correção

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VLADIMIR ARAS Procurador da República

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