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TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL ACÓRDÃO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL ELEITORAL N° 560-46. 2016.6.26.0131 - CLASSE 32— MAIRINQUE - SÃO PAULO Relatora: Ministra Rosa Weber Agravantes: Antônio Alexandre Gemente e outro Advogados: Francisco Roque Festa - OAB: 106774/SP e outros Agravada: Coligação Fazendo Mais por Você Advogados: Renato Oliveira Ramos - OAB: 20562/DF e outros ELEIÇÕES 2016. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. REGISTRO DE CANDIDATURA. PREFEITO E VICE-PREFEITO (COLIGAÇÃO PARA UM FUTURO MELHOR - PRP/PTN/DEM/pSC/pp/pTC/pEN/ PROSIPRB/PT do B). INDEFERIDO. INELEGIBILIDADE. ART. 1°, 1, G, DA LEI COMPLEMENTAR N° 64/1990. INCIDÊNCIA. A Lei Complementar n° 135/2010 se aplica a fatos pretéritos, nos termos do que decidido pela Suprema Corte do julgamento das ADCs nos 29 e 30 e da ADI n° 4578. Precedentes. A matéria em debate no Recurso Extraordinário n° 929.670, com repercussão geral reconhecida, diz respeito à possibilidade de aplicação do prazo de oito anos de inelegibilidade nos casos em que cominada a sanção de inelegibilidade em AIJE pelo prazo então vigente (três anos) (art. 1, 1, d, da LC n° 64/1990), diversa, portanto, da tratada no caso em apreço - inelegibilidade como consequência da rejeição das contas públicas (art. 1°, 1, g, da LC n°64/1990). Rejeitadas as contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas, por decisão definitiva do órgão competente, não suspensa ou anulada por decisão judicial, cabe à Justiça Eleitoral proceder ao enquadramento das irregularidades como insanáveis ou não, além de verificar se constituem ou não ato doloso de improbidade administrativa. Precedentes. Rejeição de contas, pela Câmara de Vereadores, decorrente da ausência de inscrição de créditos tributários em dívida ativa - conduta reiterada por dois

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TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL

ACÓRDÃO

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL ELEITORAL N° 560-46. 2016.6.26.0131 - CLASSE 32— MAIRINQUE - SÃO PAULO

Relatora: Ministra Rosa Weber Agravantes: Antônio Alexandre Gemente e outro Advogados: Francisco Roque Festa - OAB: 106774/SP e outros Agravada: Coligação Fazendo Mais por Você Advogados: Renato Oliveira Ramos - OAB: 20562/DF e outros

ELEIÇÕES 2016. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. REGISTRO DE CANDIDATURA. PREFEITO E VICE-PREFEITO (COLIGAÇÃO PARA UM FUTURO MELHOR - PRP/PTN/DEM/pSC/pp/pTC/pEN/ PROSIPRB/PT do B). INDEFERIDO. INELEGIBILIDADE. ART. 1°, 1, G, DA LEI COMPLEMENTAR N° 64/1990. INCIDÊNCIA.

A Lei Complementar n° 135/2010 se aplica a fatos pretéritos, nos termos do que decidido pela Suprema Corte do julgamento das ADCs nos 29 e 30 e da ADI n° 4578. Precedentes.

A matéria em debate no Recurso Extraordinário n° 929.670, com repercussão geral reconhecida, diz respeito à possibilidade de aplicação do prazo de oito anos de inelegibilidade nos casos em que cominada a sanção de inelegibilidade em AIJE pelo prazo então vigente (três anos) (art. 1, 1, d, da LC n° 64/1990), diversa, portanto, da tratada no caso em apreço - inelegibilidade como consequência da rejeição das contas públicas (art. 1°, 1, g, da LC n°64/1990).

Rejeitadas as contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas, por decisão definitiva do órgão competente, não suspensa ou anulada por decisão judicial, cabe à Justiça Eleitoral proceder ao enquadramento das irregularidades como insanáveis ou não, além de verificar se constituem ou não ato doloso de improbidade administrativa. Precedentes.

Rejeição de contas, pela Câmara de Vereadores, decorrente da ausência de inscrição de créditos tributários em dívida ativa - conduta reiterada por dois

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exercícios -, bem como do desvio de verba pública afeta à área de educação para a realização de evento carnavalesco. Irregularidades insanáveis caracterizadoras de ato doloso de improbidade administrativa, evidenciado prejuízo ao erário municipal. Aplicação da Súmula n° 24/TSE.

Da contagem do prazo de oito anos previsto na alínea g do inciso 1 do art. 11 da LC n° 64/1 990, com a redação conferida pela LC n° 135/2010, deve ser desconsiderado o período no qual suspensos os efeitos da decisão de rejeição das contas, por força de liminar deferida em ação anulatória, retomada a contagem do prazo da inelegibilidade, pelo tempo faltante, a partir da data em que julgado improcedente o pedido de anulação. Precedentes.

À luz do aresto recorrido, rejeitadas as contas em 14.3.2008, suspensos os efeitos do Decreto Legislativo, entre 14.7.2008 e 27.8.2009, por força de liminar concedida em ação anulatória, revogada a medida de urgência em 27.8.2009, quando julgado improcedente o pedido, inelegível o primeiro agravante, titular da chapa, até 27.02.2017.

Não atacados os fundamentos relativos à: i) ausência de prequestionamento; ii) aplicação das Súmulas n0S 24 e 28 do TSE; e iii) impossibilidade de se conhecer de tese nova trazida em memoriais; iv) forma de contagem do prazo de inelegibilidade utilizada pela Corte Regional estar de acordo com o entendimento consolidado deste Tribunal Superior.

A mera reprodução das razões veiculadas no recurso especial, ausentes elementos aptos a infirmar os fundamentos da decisão agravada, atrai a aplicação da Súmula n° 26/TSE. Precedentes.

Agravo regimental conhecido e não provido.

Comunicação imediata ao Tribunal de origem, visando à realização de novo pleito majoritário no Município de Mairinque/SP, nos termos do ad. 224, § 30, do Código Eleitoral, incluído pela Lei n° 13.165/2015, consoante decidido por esta Corte Superior no julgamento dos ED-REspe n° 139-25/RS, em sessão de 28.11.2016.

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por

maioria, em negar provimento ao agravo regimental, determinar a comunicação

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imediata ao Tribunal de origem, visando à realização de novo pleito majoritário, nos termos do voto da relatora.

Brasília, 2 de maio de 2017.

2 MINISTFA ROSA WEBER - RELATORA

L

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AgR-REspe n° 560-46.2016.6.26.0131/Sp 4

RELATÓRIO

A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER: Senhor Presidente,

trata-se de agravo regimental manejado por Antônio Alexandre Gemente e

Rodrigo Augusto da Conceição, eleitos Prefeito e Vice-Prefeito de

Mairinque/SP nas Eleições 2016, contra decisão pela qual neguei seguimento

ao recurso especial que interpuseram, mantido o indeferimento dos pedidos de

registro das candidaturas, considerada a incidência, em relação ao titular da

chapa, da inelegibilidade prevista na alínea g do inciso 1 do art. 11 da Lei Complementar n°64/1990.

Em suas razões (fls. 1.390-1.431), os agravantes reiteram os

argumentos esposados no recurso especial:

nula a sentença, por excesso de prazo, porquanto publicada

em mural eletrônico após o término do expediente forense do

dia 12.9.2016, termo final previsto nos arts. 16, § l, da Lei n° 9.50411997 e 57

da Res.-TSE n° 23.455/20151 para o julgamento dos pedidos de registro de

candidatura no âmbito das instâncias ordinárias;

ante a publicação extemporânea da sentença de

indeferimento do registro de candidatura dos recorrentes, inviabilizado o

exercício da faculdade prevista no art. 13, § 31, da Lei n° 9.504/19972, na

hipótese de o candidato ser declarado inelegível, tendo em vista que expirado

o prazo para a substituição de candidatos em 12.9.2016, inconteste o prejuízo

aos agravantes;

inconstitucionalidade da Lei Complementar n° 135/2010,

inaplicável a fatos ocorridos antes da sua vigência, ante o disposto no art. 50,

XXXVI e XL, da CRF13/1988, pendente de exame tal questão pelo Supremo

1 Art. 57. Todos os pedidos de registro de candidatos, inclusive os impugnados e os respectivos recursos, devem estar

julgados pelas instâncias ordinárias, e publicadas as decisões a eles relativas até 12 de setembro de 2016 (Lei n°9.504/1997, art. 16, § 10). 2 Art. 13. É facultado ao partido ou coligação substituir candidato que for considerado inelegível, renunciar ou falecer após o termo final do prazo do registro ou, ainda, tiver seu registro indeferido ou cancelado. [..] § 30 Tanto nas eleições majoritárias como nas proporcionais, a substituição só se efetivará se o novo pedido for apresentado até 20 (vinte) dias antes do pleito, exceto em caso de falecimento de candidato, quando a substituição poderá ser efetivada após esse prazo.

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Tribunal Federal no Recurso Extraordinário n° 929.670, da relatoria do

Mm. Luís Roberto Barroso, com repercussão geral já reconhecida, no qual

estaria sendo revisto o entendimento acerca da "admissibilidade da retroação

da LC 135/2010 para ampliar o prazo de inelegibilidade para 8 (oito) anos, dos

casos julgados pela LC 64/90, em que a punição por abuso de poder era de 3

(três) anos" (tI. 1.239), tendo sido proferidos dois votos contrários à

retroatividade da Lei da Ficha Limpa;

a rejeição de contas que deu azo ao indeferimento do

registro de candidatura diz respeito a contabilidade de governo relativa ao

exercício de 1992, prestada pelo primeiro recorrente enquanto Prefeito de

Mairinque/SP, referente, portanto, a atos anteriores à vigência das Leis de

Improbidade Administrativa (Lei n° 8.429/1992) e de Responsabilidade Fiscal

(LC n° 101/2000), a obstar a subsunção dos fatos a tais normas e,

consequentemente, sua caracterização como ato doloso de improbidade

administrativa;

o parecer do Tribunal de Contas do Estado - adotado como

razão de decidir pelo Legislativo Municipal, para o fim de julgar irregulares as

contas prestadas - não apontou a existência de qualquer irregularidade

insanável, tampouco de ato doloso de improbidade administrativa com violação

de princípios da Administração Pública, dano ao erário ou enriquecimento

ilícito, do agente ou de terceiro, a elidir a incidência da causa de inelegibilidade

prevista no art. l, 1, g, da LC n°64/1990;

a irregularidade atinente à ausência de inscrição de créditos

tributários em dívida ativa não se mostra insanável, considerado que o TCE

não apontou a ocorrência de prescrição, viabilizado o saneamento da falha no

exercício seguinte, o que seria corroborado pelo fato de que a Corte de Contas

"afastou a ocorrência de dano ao erário e, igualmente, não sofreu o recorrente

qualquer medida visando à condenação ao ressarcimento dos valores que

teriam deixado de ingressar na receita municipaf' (fI. 1.413);

g) quanto ao "'desvio de verbas da educação para a realização

de eventos carnavalescos', em verdade, jamais existiu", ocorrido

remanejamento na aplicação de recursos vinculados à mesma pasta -

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"Diretoria de Educação e Cultura" -, com vistas à realização de evento de significativo valor cultural, voltado eminentemente para as crianças de Mairinque/SP (fI. 1.414);

o TRE/SP teria examinado as questões de forma superficial, exagerada e distorcida, inferindo, por presunção, a ocorrência de

irregularidades insanáveis caracterizadoras de ato doloso de improbidade

administrativa, cabendo ressaltar que "o órgão competente para ajuizar eventual ação de improbidade administrativa [Ministério Público], agindo com reconhecida prudência e justiça, se absteve da propositura - e, com a devida

vênia, não cabe ao d. Juízo Eleitoral a sua declaração, sob pena de usurpar a competência da Justiça Estadua!' (fI. 1.416), em afronta ao devido processo legal;

incontroverso nos autos que a decisão da Câmara de

Vereadores foi proferida em 03 de junho de 2008, exaurido o prazo da suposta

inelegibilidade em 03 de junho de 2016, anteriormente, portanto, à

formalização do pedido de registro de candidatura, momento de aferição dos requisitos de registrabilidade;

indevida a interpretação dada pela Corte de origem, no

sentido de, usando em desfavor do pretenso candidato a liminar que obteve

perante o Tribunal de Justiça de São Paulo, pela qual suspensos,

entre 5.8.2008 e 27.8.2009, os efeitos do Decreto Legislativo de rejeição das

contas, acrescer tal período de suspensão à contagem do prazo da

inelegibilidade, prorrogando-o para fevereiro de 2007, a revelar descabida

perpetuação do cumprimento de sanção, bem como afronta ao direito de acesso à Justiça;

"a r. sentença hostilizada, ao fundamentar o indeferimento

do registro, incorreu em indesejada confusão de diploma, ora invocando as

disposições da Lei Complementar n° 64/90, ora aludindo às alterações trazidas pela Lei Complementar n° 135/10", aplicando ao caso "um terceiro e anômalo regime jurídico" a fim de estender o cumprimento do prazo da restrição à cidadania passiva, em ofensa aos princípios "do devido processo legal, da legalidade e da taxatividade das hipóteses de inelegibilidade" (fls. 1.424-5);

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1) as normas atinentes ao regime jurídico de inelegibilidades

"devem ser interpretadas literal e restritivamente, tal como no campo do direito pena!' (fi. 1.425).

Repisam, ainda, a tese - trazida aos autos tão somente em memoriais - de que Antônio Alexandre Gemente estaria elegível para as

Eleições 2016, considerado que a inelegibilidade ficou efetivamente suspensa

pelo prazo de 2 (dois) meses, entre 4.8.2008 e 5.10.2008, - ao argumento de

que a antecipação de tutela, deferida com o único intuito de permitir sua

candidatura no pleito de 2008, "teve sua eficácia esvaziada no dia 05 de

outubro daquele ano (perda superveniente do interesse de agir), quando o

recorrente perdeu as eleições" ( fl. 1429) -, exaurido o prazo de oito anos da inelegibilidade em 14.6.2016.

Por decisão das fls. 1464-9, proferida durante o recesso

judiciário pelo eminente Ministro-Presidente, indeferido pedido liminar em tutela

de urgência cautelar incidental requerido por Antônio Alexandre Gemente

(fls. 1434-62) - consistente na concessão de efeito suspensivo ativo ao

presente agravo regimental, sob a alegação de que não demonstrado o ato

doloso de improbidade administrativa, a obstar a incidência ari. 11, 1, g, da LC n° 64/1990 -, não verificada a presença do fumus boni iuris.

Contraminuta às fls. 1.478-87, na qual argumenta que os

agravantes se limitaram "a reproduzir o conteúdo do recurso especial", não atacados "os fundamentos da decisão agravada", a inviabilizar conhecimento do agravo regimental.

É o relatório.

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0.1

VOTO

A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (relatora): Senhor

Presidente, preenchidos os pressupostos extrínsecos, conheço do agravo

regimental e passo ao exame de mérito.

Transcrevo os fundamentos da decisão que o desafiou

(fls. 1 .355-77):

Preenchidos os pressupostos genéricos

O TRE/SP manteve a sentença pela qual indeferido o registro das candidaturas dos recorrentes. Eis a ementa do acórdão (fI. 1 .240):

"RECURSO ELEITORAL. REGISTRO DE CANDIDATURA. ELEIÇÕES 2016. PREFEITO. VICE-PREFEITO. IMPUGNAÇÃO. DESAPROVAÇÃO DE CONTAS NO EXERCÍCIO DE CARGO PÚBLICO. EXERCÍCIO DE 1992. DECRETO LEGISLATIVO DE REJEIÇÃO DE CONTAS. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA DA IMPUGNAÇÃO E DE INDEFERIMENTO DOS REGISTROS DE CANDIDATURA. RECURSO. PRELIMINAR. NULIDADE DA SENTENÇA AFASTADA. INCIDÊNCIA DO ART. 1°, INCISO 1, ALÍNEA "G" DA LEI COMPLEMENTAR N° 64/90. PERÍODO DE SUSPENSÃO DOS EFEITOS DO DECRETO LEGISLATIVO TAMBÉM SUSPENDE O CURSO DO PERÍODO DE INELEGIBILIDADE. AS ALTERAÇÕES OCORRIDAS NAS HIPÓTESES DE INELEGIBILIDADE INTRODUZIDAS PELA LC N° 135/10 ALCANÇAM ATOS OU FATOS OCORRIDOS ANTE DE SUA EDIÇÃO. PEDIDO DE EFEITO SUSPENSIVO PREJUDICADO. MANTIDA A SENTENÇA. RECURSO DESPROVIDO."

No tocante à alegação de nulidade da sentença em decorrência da não observância do prazo para sua prolação, a teor dos arts. 13, § 30, da Lei n° 9.504/1997 e 57 da Res.-TSE n° 23.455/2015, extraio o seguinte excerto do aresto recorrido (fls. 1.241-3):

"De início, ante o presente julgamento, prejudicado está o pedido de atribuição de efeito suspensivo ao recurso eleitoral.

Ademais, a preliminar de declaração de nulidade da r. sentença deve ser afastada.

Não há que se falar em excesso de prazo.

Verifica-se que os autos foram conclusos ao MM. Juiz Eleitoral na data de 12 de setembro de 2016 (fI. 1147), tendo sido a r. sentença prolatada naquele mesmo dia (fi. 1154), bem como a publicação no mural eletrônico (fI. 1154-A).

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Logo, foram respeitados os prazos estipulados pelo art. 52, caput, da Resolução TSE n° 23.455/2015, in verbis:

"Art. 52. O pedido de registro, com ou sem impugnação, será julgado no prazo de três dias após a conclusão dos autos ao Juiz Eleitoral."

Também não há que se falar em nulidade decorrente do fato da r. sentença de primeiro grau ter sido publicada na data limite para os eventuais pedidos de substituição de candidatos.

O art. 67, § 30, da Resolução TSE n° 23.455/2015, prevê que o pedido de substituição de candidato deve ser apresentado até 20 (vinte) dias antes do pleito, nos seguintes termos:

"Art. 67, § 30 Tanto nas eleições majoritárias como nas proporcionais, a substituição só se efetivará se o novo pedido for apresentado até vinte dias antes do pleito, exceto, no caso de falecimento de candidato, quando a substituição poderá ser efetivada após esse prazo, observado em qualquer hipótese o previsto no § 11."

O fato da r. sentença ter sido publicada na data do termo final do prazo para o requerimento de substituição de candidato não gera qualquer prejuízo para os recorrentes. Senão, vejamos:

O recorrente ANTÔNIO ALEXANDRE GEMENTE tem ciência, desde março de 2008, acerca do teor do Decreto Legislativo n° 266/2008 (fI. 250) que rejeitou as contas de governo do Município de Mairinque, enquanto era Prefeito, referentes ao exercício de 1992.

A partir da publicação do Decreto e, principalmente, com o início da vigência da Lei Complementar n° 135/1 0, o recorrente incidiu na inelegibilidade de 08 (oito) anos do art. 1, inciso 1, alínea "g", da Lei Complementar n° 64/90. Logo, pelo menos desde o ano de 2010 o candidato tem plena consciência dos riscos de ter o registro de sua candidatura eventualmente indeferido, não podendo, agora, em sede de recurso, usar o argumento de que fora perdido o prazo do requerimento de substituição de candidato, eis que assumiu o risco ao lançar a sua candidatura.

Também não há prejuízo pelo fato dele ter sido o candidato com o maior número de votos no Município (conforme pesquisa no site do e. Tribunal Superior Eleitoral) e, por ter concorrido ao pleito na condição de sub judice, eventual provimento do seu recurso e consequente deferimento do seu registro de candidatura levar-se-ia ao empossamento ao cargo de Prefeito, juntamente com o seu Vice.

Com essas considerações, anote-se, que os recorrentes efetivamente não lograram comprovar efetivo prejuízo em função da publicação da r. sentença de primeiro grau no termo final da data para a apresentação de requerimento de substituição de candidatura.

É importante ressaltar que, nos termos do art. 219, caput, do Código Eleitoral, há comando de parcimônia e de ponderação dirigido ao Juiz Eleitoral, ao dispor que "na aplicação da lei

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AgR-REspe no 560-46.2016.6.26.0131/Sp 10

eleitoral, o juiz atenderá sempre aos fins e resultados a que ela se dirige, abstendo-se de pronunciar nulidades sem demonstração de prejuízo"." (destaquei)

Em relação a tal aspecto, consoante bem pontuado pelo Vice-Procurador-Geral Eleitoral em parecer (fI. 1346):

"Sobre o ponto, destaque-se, de plano, que não há, no acórdão recorrido, informação sobre o horário de publicação da sentença, o TRE/SP somente registra que "os autos foram conclusos ao MM. Juiz Eleitoral na data de 12 de setembro de 2016, tendo sido a r. sentença prolatada naquele mesmo dia, bem como a publicação no mural eletrônico" (fI. 1.241).

Ainda que essa data tenha coincidido com o termo final para substituição de candidatos, não há como considerar tal circunstância como suficiente para declaração de nulidade da sentença, tendo em vista que, com a impugnação do registro de candidatura, tanto a Coligação quanto o candidato assumiram o risco de indeferimento do registro, quando optaram pela não substituição em tempo hábil.

É certo que a legislação eleitoral faculta aos candidatos com situação indefinida na Justiça Eleitoral o direito de, por sua conta e risco, "prosseguir sua campanha, praticando todos os atos a ela inerentes". O candidato, então, deve sopesar os esforços e recursos diante das chances de sucesso. Assim, não pode, posteriormente, alegar prejuízo por não lograr êxito em seu pedido de registro."

Àluz do acórdão regional, não há falar em inobservância, pelo Juiz Eleitoral, do prazo para prolação da sentença, não demonstrado efetivo prejuízo aos pretensos candidatos, conhecedores da possibilidade de terem os registros de candidatura indeferidos, presente impugnação ao registro do titular da chapa com amparo na inelegibilidade prevista no art. 1, 1, g, da Lei Complementar n° 64/1990, não merecendo reparos, portanto, a conclusão do TRE/SP, tomada com base no que preceitua o art. 219 do Código Eleitoral.

Quanto à ventilada inconstitucionalidade da Lei Complementar n° 135/2010, nada colhe o recurso.

Nos termos da jurisprudência do TSE, reafirmada para as Eleições 2016, as alterações promovidas pela Lei Complementar n° 135/2010 se aplicam a fatos pretéritos, à luz do entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal por ocasião do julgamento das ADCs n 29 e 30 e da ADI n° 4578. Confiram-se os seguintes precedentes:

"ELEIÇÕES 2016. REGISTRO DE CANDlDATU. CARGO. VEREADOR. CONDENAÇÃO PELA PRÁTICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, INELEGIBILIDADE PREVISTA NO ART. 1, 1, L, DA LC N° 64/90. REGRAS INTRODUZIDAS E ALTERADAS PELA LC N° 135/2010. APLICAÇÃO ÀS SITUAÇÕES ANTERIORES À SUA VIGÊNCIA ADCs N° 29 E N° 30 E ADI N° 4.578/STF.

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11

EFICÁCIA ERGA OMNES E EFEITO VINCULANTE. MANUTENÇÃO DO SUBSTRATO JURÍDICO QUE LASTREOU O PRONUNCIAMENTO DA SUPREMA CORTE EM SEDE DE FISCALIZAÇÃO ABSTRATA E CONCENTRADA. VEDAÇÃO AO REJULGAMENTO DA MATÉRIA PELOS DEMAIS ÓRGÃOS JUDICIAIS QUANDO NÃO SE VERIFICAR A MODIFICAÇÃO DAS CIRCUNSTÂNCIAS FÁTICAS E JURÍDICAS QUE AUTORIZAM A ANTICIPATORY OVERRULING. AGRAVO REGIMENTAL. DESPROVIMENTO.

(...)

O Plenário do STF asseverou, quando do julgamento das ADCs n° 29 e n° 30 e da ADI n° 4.578, que as regras introduzidas e alteradas pela LC n° 135/2010 aplicam-se às situações anteriores à sua edição e não ofendem a coisa julgada ou a segurança jurídica.

A decisão proferida na Lei da Ficha Limpa condiciona a atuação das demais instâncias judiciais, por ter sido emitida em ação de fiscalização abstrata de constitucionalidade, de eficácia erga omnes e efeitos vinculantes.

In casu, não se constata a superveniência de circunstâncias que autorizariam a cognominada anticipato,y overruling e teriam aptidão para propiciar a mudança no entendimento sedimentado pelo Supremo Tribunal Federal nas ADCs n° 29 e 30, razão pela qual a sua aplicação é medida que se impõe, sob pena de (i) amesquinhar-se a segurança jurídica e a isonomia, bens jurídicos legitimadores da necessidade de estabilização das decisões proferidas em fiscalização abstrata, e, no limite, (ii) comprometer-se a própria supremacia e efetividade constitucional.

Agravo regimental desprovido." (AgR-REspe n° 54-94/SP, Rei. Min. Luiz Fux, PSESS de 08.11.2016)

"AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. ELEIÇÕES 2016. VEREADOR. REGISTRO DE CANDIDATURA. INELEGIBILIDADE. ART. 1, 1, E, DA LC 64/90. CONDENAÇÃO CRIMINAL TRANSITADA EM JULGADO. NÃO EXAURIMENTO DO PRAZO DE OITO ANOS APÓS EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. DESPROVIMENTO.

(...)

A incidência da LC 135/2010 (Lei da Ficha Limpa) a condenações criminais transitadas em julgado antes de sua vigência não ofende o princípio da segurança jurídica, conforme decidido pelo c. Supremo Tribunal Federal na ADC 29/DF, Rei. Min. Luiz Fux, DJE de 29.6.2012.

Os votos divergentes proferidos naquela oportunidade não elidem o consenso da maioria, cujo entendimento vincula os demais órgãos do Poder Judiciário, conforme art. 102, § 21, da CF/88.

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AgR-REspe no 560-46.2016.6.26.01311Sp ip

A repercussão geral reconhecida no RE/STF 929.6701DF ainda pende de análise. Assim, prevalece o que decidido na ADC 29/DF acerca da incidência da LO 135/2010 a fatos anteriores à sua entrada em vigor.

Agravo regimental desprovido." (AgR-REspe n° 188-40/PR, ReI. Min. Herman Benjamin, PSESS de 03.11.2016 - destaquei)

No mérito, transcrevo os fundamentos que lastrearam a conclusão do Tribunal de origem pela incidência da causa de inelegibilidade em apreço (fls. 1.244-50):

"No caso concreto, é fato incontroverso nos autos que o recorrente ANTONIO ALEXANDRE GEMENTE, enquanto Prefeito do Município de Mairinque, teve as suas contas, relativas ao exercício de 1992, rejeitadas pelo e. Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (Processo TC 5885/026/1993).

A Câmara Municipal, ao receber o parecer conclusivo da e. Corte de Contas, editou o Decreto Legislativo n° 266/2008 (fI. 250), no qual rejeitou as referidas contas.

Pela leitura dos autos, verifica-se que os atos do recorrente ANTÔNIO ALEXANDRE GEMENTE que geraram a rejeição de suas contas, no exercício de 1992, foram os seguintes: ausência de inscrição dos créditos tributários em dívida ativa, desvio de verbas orçamentárias (aplicou as verbas destinadas à educação em eventos carnavalescos na cidade) e emissão de cheques sem a necessária provisão de fundos (fi. 215).

Anote-se que, segundo o parágrafo único do art. 70 da Constituição Federal, "Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie, ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniá ria", sendo que as Leis Orgânicas dos Municípios estabelecem que compete ao Prefeito prestar contas referentes ao exercício anterior sobre as execuções dos planos de governo.

No que tange à fiscalização das contas, o art. 31 da Constituição Federal dispõe que:

"Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei.

§ 1° O controle externo da Câmara Municipal será exercido corri o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver.

§ 2° O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar, só deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara Municipal."

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Já a Constituição Estadual em seu artigo 150 estabelece

"Art. 150: A fiscalização contábil, financeira, orçamentária operacional e patrimonial do Município e de todas as entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, finalidade, motivação, moralidade, publicidade e interesse público, aplicação de subvenções e renúncia de receitas, será exercida pela Câmara Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas de Controle interno e de cada Poder, na forma da respectiva lei orgânica, em conformidade com o disposto no art. 31 da Constituição Federal".

Tecidas essas considerações iniciais, é importante frisar que não compete a esta e. Corte proceder ao reexame do mérito da análise das contas de qualquer natureza (afastando-se, assim, a alegação recursal de usurpação de competência da Justiça Estadual em eventual ação de improbidade administrativa), motivo pelo qual a inelegibilidade aventada pela coligação impugnante, ora recorrida, deverá ser examinada, exclusivamente, sob a ótica da decisão do e. Tribunal de Contas nos autos do processo que apreciou as contas de governo do Município de Mairinque referentes ao exercício de 1992.

Dito em outras palavras, a análise a ser feita deve se dar a partir do quanto disposto no artigo 1°, 1, alínea "g", da Lei Complementar n° 64/90, que prevê, in verbis:

"Art. 1° São inelegíveis:

- para qualquer cargo:

[. . •1

g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade administrativa, e por decisão irrecorrível do órgão competente, salvo se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciário, para as eleições que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes, contados a partir da data da decisão, aplicando-se o disposto no inciso II do art. 71 da Constituição Federal, a todos os ordenadores de despesa, sem exclusão de mandatários que houverem agido nessa condição."

Conforme acima exposto, no que diz respeito à análise das contas de governo do candidato no exercício de cargo público, a competência para o julgamento daquelas é do Poder Legislativo, nos termos do recente posicionamento firmado pelo Supremo Tribunal Federal (Recursos Extraordinários flbs 848826 e 729744).

Consta dos autos, às fis. 1781215, cópia do parecer emitido pelo c. Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, Processo TC 5885/026/1993, no qual o então Prefeito ANTONIO ALEXANDRE GEMENTE é apontado como

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responsável, sendo que a Câmara Legislativa de Mairinque aprovou e promulgou o Decreto-Legislativo n° 266 em 14 de março de 2008, que rejeitou as contas apresentada pelo Prefeito Municipal de Mairinque, referentes ao exercício financeiro de 1992, acatando o parecer exarado pela e. Corte de Contas, processo n° Processo TC 5885/026/1993, conforme documento de fI. 250.

No caso, foram três os motivos que levaram à rejeição das contas da Prefeitura Municipal de Mairinque referentes ao exercício de 1992: ausência de inscrição dos créditos tributários em dívida ativa, desvio de verbas orçamentárias (aplicou as verbas destinadas à educação em eventos carnavalescos na cidade) e emissão de cheques sem a necessária provisão de fundos (fi. 215).

Com relação à emissão de cheques sem a necessária provisão de fundos, não se identifica, na rejeição de contas pelo e. Tribunal de Contas, a presença do dolo na conduta de ANTONIO ALEXANDRE GEMENTE, ausência essa também reconhecida pela r. sentença do Juízo da 131a Zona Eleitoral.

Assim, os requisitos para a inelegibilidade serão aferidos na análise das outras duas condutas que ensejaram a rejeição das contas.

O e. Tribunal de Contas reconheceu que o então Prefeito, ANTÔNIO ALEXANDRE GEMENTE, por dois anos deixou de proceder às inscrições dos créditos tributários em dívida ativa, o que inviabilizou, assim, o ajuizamento de execuções fiscais.

O vício, decorrente de tal conduta, é insanável, por representar renúncia fiscal, o que é absolutamente vedado ao agente público. Assim entendeu o e. Tribunal de Contas, à fI. 186, ao deixar consignado que "malgrado as duas apresentarem irregularidades, os desvios encontrados nas contas do Sr. Presidente da Câmara são, em sua maioria, sanáveis, o que já não acontece com aqueles apurados nas contas do Sr. Prefeito Municipal" (grifamos e negritamos).

Ademais, a renúncia fiscal reiterada por dois anos, afrontou princípio da eficiência, o que caracteriza o ato de improbidade administrativa previsto no art. 11, inciso II, da Lei n° 8.429/92.

O ato doloso de improbidade administrativa encontra-se claramente delineado na decisão do e. Tribunal de Contas, uma vez que se trata de conduta reiterada por dois anos, o que, no mínimo, evidencia que ANTONIO ALEXANDRE GEMENTE assumiu o risco de produzir o resultado lesivo à municipalidade.

Ainda que os recorrentes sustentem a não ocorrência de dolo, jurisprudência do TSE entende de que o dolo exigido para o enquadramento na inelegibilidade é o dolo genérico, e não o

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específico, ou seja, "a simples vontade de praticar a conduta em si que ensejou a improbidade" (TSE, RO 143265, rei. Mm. Luciana PSESS 17.1.2.14).

O e. Tribunal de Contas também reconheceu a prática de desvios de verbas orçamentárias, eis que ANTONIO ALEXANDRE GEMENTE, no cargo de Prefeito, aplicou em festividades de carnaval as verbas destinadas à educação, prática essa que causou prejuízo ao patrimônio público, nos termos do art. 10, inciso XI, da Lei n° 8.429192.

O desvio de verbas públicas também importa em vício insanável, pois eventual reposição ou ressarcimento dos valores (reparação que não ocorreu no caso concreto - não há notícia nos autos) não afasta o fato do setor de educação ter sofrido severo desfalque em função do desvio no ano de 1992. Como já mencionado, a insanabilidade das irregularidades foi reconhecida pelo e. Tribunal de Contas, à fl. 186, ao deixar consignado que "malgrado as duas apresentarem irregularidades, os desvios encontrados nas contas do Sr. Presidente da Câmara são, em sua maioria, sanáveis, o que já não acontece com aqueles' apurados nas contas do Sr. Prefeito Municipal" (grifamos e negritamos).

O dolo na conduta de desvio de verbas públicas é incontestável, pois impossível adequar a conduta em qualquer modalidade de culpa.

Conclui-se, então, que o desvio de verbas públicas e a ausência de inscrição de créditos tributários ensejam o reconhecimento da inelegibilidade Aos termos previsto no artigo l, inciso 1, alínea "g" da LC n° 64/90." (destaquei)

Consigno, de plano, cristalizado o entendimento desta Corte Superior de que "cabe à Justiça Eleitoral, rejeitadas as contas, proceder ao enquadramento das irregularidades como insanáveis ou não e verificar se constituem ou não ato doloso de improbidade administrativa, não lhe competindo, todavia, a análise do acerto ou desacerto da decisão da corte de contas' (RO 725-69, rei. Mm. Maria Thereza de Assis Moura, OJE de 27.3.2015)" (AgR-REspe n° 34-20/1VIS, Rei. Mm. Henrique Neves da Silva, PSESS de 11.12.2016). No mesmo sentido, REspe n° 260-11, Rei. Mm. Luiz Fux, PSESS de 30.11.2016.

Nos termos da remansosa jurisprudência do TSE, "nem toda desaprovação de contas enseja a causa de inelegibilidade do art. 1°, inciso 1, alínea g, da LC n° 64/1990, somente as que preenchem os requisitos cumulativos constantes dessa norma, assim enumerados; i) decisão do órgão competente; ii) decisão irrecorrível no âmbito administrativo; iii) desaprovação devido a irregularidade insanável; iv) irregularidade que configure ato doloso de improbidade administrativa; v) prazo de oito anos contados da decisão não exaurido; vi) decisão não suspensa ou anulada pelo Poder Judiciário." (AgR-REspe n° 3213-73/PR, Relator Mm. Giimar Mendes, DJe de 21.11.2016).

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À luz da moldura fática delineada no acórdão regional, rejeitadas, por meio do Decreto Legislativo n° 266/2008, publicado em 14 de março de 2008, as contas de governo atinentes ao exercício financeiro de 1992, prestadas pelo primeiro recorrente enquanto Prefeito de Mairinque/SP, em vista de irregularidades insanáveis, assim reconhecidas pelo Tribunal de Contas Estadual e referendadas pela Câmara de Vereadores - (i) ausência de inscrição dos créditos tributários em dívida ativa, pelo período de dois anos, a revelar descabida renúncia fiscal, inviabilizado o ajuizamento de ações de execução fiscal; (ii) desvio de verbas orçamentárias para realização de eventos carnavalescos na cidade, em detrimento do setor de educação, que, naquele ano, sofreu "severo desfalque" -, configurado ato doloso de improbidade administrativa, com prejuízo ao erário municipal.

Rever a conclusão da Corte de origem, tal como pretendido pelos recorrentes, exigiria nova incursão no acervo fático-probatório, providência vedada em sede de recurso especial, a teor da Súmula n° 24ITSE.

Ademais, desservem os arestos à demonstração do dissídio pretoriano, meramente transcritas ementas nas razões recursais, sem o devido cotejo analítico. Aplicação da Súmula n° 28ITSE: "A divergência jurisprudencial que fundamenta o recurso especial interposto com base na alínea b do inciso 1 do art. 276 do Código Eleitoral somente estará demonstrada mediante a realização de cotejo analítico e a existência de similitude fática entre os acórdãos paradigma e o aresto recorrido".

A conclusão da Corte de origem se alinha à jurisprudência deste Tribunal Superior de que "nem toda rejeição de contas enseja a inelegibilidade do art. 1, 1, g, da LC 64/90", cabendo "à Justiça Eleitoral verificar a presença de elementos mínimos que revelem má-fé, desvio de recursos públicos, dano ao erário, reconhecimento de nota de improbidade, grave violação a princípios, dentre outros, isto é, circunstâncias que revelem a lesão dolosa ao patrimônio público ou o prejuízo à gestão da coisa pública" (AgR-RO n° 1216-76/SP, Rei. Mm. João Otávio de Noronha, PSESS de 11. 11. 2014).

O entendimento do TSE é também no sentido de que "não se requer dolo específico para incidência de referida inelegibilidade, bastando o genérico ou eventual, isto é, quando o administrador assume os riscos de não atender aos comandos constitucionais e legais que vinculam e pautam os gastos públicos." (AgR-Respe n° 54-08ISP, ReI. Min. Herman Benjamin, PSESS de 06.12.2016).

Delineado o quadro, inalteráveis as premissas fáticas firmadas no aresto recorrido, não há falar em afronta aos dispositivos veiculados nas razões recursais.

Quanto ao agitado óbice à caracterização do ato doloso de improbidade administrativa, pelo fato de as contas rejeitadas dizerem respeito ao exercício de 1992, antes da vigência das Leis de Improbidade Administrativa (Lei n° 8.42911992) e de !

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Responsabilidade Fiscal (LC n° 101/2000), da detida análise dos arestos proferidos pela Corte de origem, ausente pronunciamento acerca do tema, a inviabilizar o exame do recurso especial quanto ao ponto, à míngua do necessário prequestionamento.

A despeito de opostos embargos de declaração com a finalidade de ver a questão apreciada, foram eles rejeitados, não aparelhado o recurso especial na afronta ao art. 275 do Código Eleitoral, a fim de devolver ao conhecimento deste Tribunal Superior a apontada omissão. lnviabilizado, portanto, o enfrentamento da matéria.

Delineado o quadro, aplica-se à espécie o Enunciado Sumular n° 21 1/STJ: "Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal a quo".

No tocante à contagem do prazo de oito anos da inelegibilidade, reproduzo o seguinte excerto do aresto regional (fls. 1.249-50):

"Por derradeiro, anote-se que improcede, também, a tese recursal de que teria havido "descabida extensão do prazo da suposta inelegibilidade". Vejamos:

A inelegibilidade, pelo período de 08 (oito) anos, teve por termo inicial a data da publicação do Decreto Legislativo n° 266/2008 que rejeitou as contas municipais referentes ao exercício de 1992, qual seja, 14 de março de 2008 (fI. 250).

Ocorre que o curso do prazo sofreu suspensão em função de liminar deferida nos autos do agravo de instrumento n° 801.641.5/3-00, que suspendeu os efeitos constantes no referido Decreto (fI. 389). A decisão judicial, que concedeu a liminar, foi proferida no dia 14 de julho de 2008.

Contudo, na data de 27 de agosto de 2009, foi proferida decisão que cassou a liminar e julgou improcedente o pedido, mantendo, assim, a validade do Decreto Legislativo impugnado (fls. 478/482).

Logo, o curso do período de inelegibilidade de 08 (oito) anos ficou suspenso no período compreendido de 14 de julho de 2008 a 27 de agosto de 2009, em que o Decreto Legislativo de rejeição das contas não surtiu efeitos.

Descontado o período de suspensão da inelegibilidade, essa circunstância incidirá para o recorrente até a data de 27 de fevereiro de 2017.

Em resumo, da leitura da decisão do e. Tribunal de Contas verifica-se que incide no caso a inelegibilidade descrita no ad. 1°, inciso 1, alínea "g" da Lei Complementar n° 64/90, em razão da rejeição das contas de governo referentes ao exercício de 1992.

Em razão de todo o exposto, prejudicado o pedido de atribuição de efeito suspensivo, afasto a matéria preliminar e, no mérito, nego provimento ao recurso para manter a r. sentença de procedência da impugnação e de indeferimento do registro de candidatura de ANTONIO ALEXANDRE

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iI

GEMENTE ao cargo de Prefeito e de RODRIGO AUGUSTO DA CONCEIÇAO ao cargo de Vice-Prefeito do Município de Mairinque pela COLIGAÇÃO "PARA UM FUTURO MELHOR!"."

A teor do entendimento do TSE, "o termo inicial do período de inelegibilidade - oito anos - coincide com a data da publicação da decisão mediante a qual rejeitadas as contas" (REspe n° 51-63/BA, Rei. Mm. Marco Aurélio, DJe de 28.5.2013), que, à luz do acórdão regional, ocorreu em 14.3.2008.

Entretanto, da leitura do aresto recorrido, suspensos os efeitos do Decreto Legislativo n° 266/2008, pelo qual rejeitadas as contas, entre 14.7.2008 e 27.8.2009, por força de liminar concedida em ação anulatória, revogada a medida de urgência em 27.8.2009, quando julgado improcedente o pedido, mantida, desse modo, a validade do Decreto Legislativo impugnado.

Ausente a ventilada mescla de regimes, uma vez que o TRE/SP desconsiderou, na contagem do prazo de oito anos de inelegibilidade, o período em que o Decreto Legislativo de rejeição das contas esteve com a eficácia suspensa, a teor do disposto no art. l, 1, g, da LC n° 64/1990, com a redação conferida pela LC n° 135/2010.

A conclusão da Corte de origem no sentido de que suspensa a contagem do prazo da inelegibilidade enquanto suspensos os efeitos da decisão de rejeição das contas, a protrair o termo final da restrição à cidadania passiva pelo tempo faltante, se alinha à remansosa jurisprudência deste Tribunal Superior, conforme demonstram os seguintes julgados:

"ELEIÇÕES 2016. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. REGISTRO DE CANDIDATURA AO CARGO DE PREFEITO. DEFERIMENTO NAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. INELEGIBILIDADE DA ALÍNEA G DO INCISO 1 DO ART. lo. DA LC 64/90. NÃO INCIDÊNCIA. EXAURIMENTO DO PRAZO DE 8 ANOS. AUSÊNCIA DE ARGUMENTOS HÁBEIS PARA MODIFICAR A DECISÃO AGRAVADA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.

Decorrido o prazo de 8 anos entre a rejeição das contas e a data do presente pedido de Registro de Candidatura, já considerado o tempo em que os efeitos do Decreto Legislativo respectivo ficaram suspensos por força de Medida Liminar, é de se reconhecer a impossibilidade da incidência da causa de inelegibilidade da alínea g do inciso 1 do art. 10 da LC 64/90.

Hipótese em que o atual regime jurídico de inelegibilidades fixa o prazo de 8 anos contados da decisão que rejeitou as contas e cria como causa de suspensão desse prazo a obtenção de decisão judicial, não cabendo, portanto, ao intérprete defender a existência de outro marco suspensivo - no caso, o período em que o agravado esteve investido no cargo de Prefeito -, pois, como cediço, a inelegibilidade, conquanto restrição ao ius honorum, não pode ser entrevista à luz da analogia ou da interpretação extensiva (REspe 524-31/AM, ReI. Min. LUIZ FUX, DJe 26.8.2016).

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(...)

4. Agravo Regimental a que se nega provimento." (AgR-REspe n° 148-19/PR, ReI. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, PSESS de 28.11.2016)

"ELEIÇÕES 2016. RECURSO ESPECIAL, REGISTRO DE CANDIDATURA. PREFEITO. DEFERIMENTO. ALÍNEA G, 1, ART. 1°, DA LC N° 64/90. CONTAS. EXERCÍCIO FINANCEIRO DE 1995. REJEIÇÃO. DECRETO LEGISLATIVO. AÇÃO ANULATÓRIA. IMPROCEDÊNCIA. TRÂNSITO EM JULGADO. INELEGIBILIDADE. NÃO INCIDÊNCIA. DESPROVIMENTO.

Esta Corte Superior consolidou o entendimento, desde 2006, que a suspensão da inelegibilidade, prevista na alínea g, somente seria possível mediante decisão judicial, ainda que de natureza provisória, e não apenas com o mero ajuizamento de ação anulatória, como antes vigorava.

Por se tratar de norma restritiva de direitos, as regras alusivas às causas de inelegibilidade devem ser interpretadas estritamente, de modo a não alcançar situações não contempladas na lei e acabar por cercear o direito fundamental à elegibilidade, especialmente quando se exige criativa interpretação a fim de se alcançar um terceiro regime de contagem de prazo.

A garantia fundamental para o pleno exercício de direitos políticos está amplamente resguardada pela Constituição Federal em seus arts. 14, § 90, e 16, os quais preveem, respectivamente, lei complementar para disciplinar as causas de inelegibilidades e a submissão de qualquer alteração legal que possa afetar o processo eleitoral à regra da anualidade. Logo, tanto o legislador como os operadores do direito devem pautar-se pelas referidas normas, de modo a não cometerem abusos e desvios na aplicação das causas de inelegibilidades, tampouco a criação de nova regra de contagem de prazos de inelegibilidades, sobretudo mediante a combinação de regimes, como se pretendeu in casu.

Na espécie, o recorrido teve suas contas relativas ao exercício de 1995 rejeitadas por meio de Decreto Legislativo datado de 21.11.2000. O recorrido propôs ação anulatória em face do aludido decreto, sem sucesso. Caso se conclua pela aplicação do regime anterior da LC 64/90, a inelegibilidade à época de 5 anos já se exaurira há muito. Do contrário, como nunca houve provimento judicial suspensivo oriundo da ação anulatória proposta em 2000, aplicando-se o modelo atual da LC 64/90, que traz o prazo de 8 anos, a inelegibilidade se esgotou em 2008.

A jurisprudência desta Corte Superior fixou-se no sentido de que, nos casos em que inexiste qualquer determinação judicial apta a suspender a inelegibilidade, o prazo de 8 (oito) anos trazido pela LC 135/2010 deve começar a fluir a partir da decisão que rejeitou as contas do candidato, e não do trânsito

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em julgado da ação anulatória julgada improcedente, que ocorreu em 2009.

Inviável a pretensão da suspensão da inelegibilidade com fundamento na Súmula n° 1 deste Tribunal Superior, em virtude de seu cancelamento, por ocasião do julgamento do PA n° 32345, publicado no DJe de 24, 27 e 28.6.2016.

O TRE/SP concluiu pela não incidência da aludida inelegibilidade na espécie, uma vez que "as contas do recorrido relativas ao exercício de 1995 foram rejeitadas por Decreto Legislativo datado de 21.11.2000 (fi. 99), tendo transcorrido, portanto, mais de 15 anos, sem que tenha havido a suspensão do prazo por determinação do Poder Judiciário (vide certidão encartada às fls. 101/106)". Para alterar a conclusão do Tribunal a quo acerca da inexistência de provimento judicial suspendendo o prazo da inelegibilidade, de forma a possibilitar a incidência do ad. 1°, inciso 1, alínea g, da Lei Complementar n° 64/1990, seria necessário o reexame de provas, o que é inviável nesta instância, a teor do disposto na Súmula n° 24ITSE.

Recurso especial desprovido." (REspe n° 200-03/SP, ReI. Mm. Luciana Lóssio, PSESS de 17.11.2016)

"ELEIÇÕES 2012. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. REGISTRO DE CANDIDATURA. PREFEITO. ART. 1°, INCISO 1, ALÍNEA g, DA LC N° 64/1990. CONTAS DESAPROVADAS PELA CÂMARA MUNICIPAL. CONTAGEM DO PRAZO. MESCLA DE REGIMES. IMPOSSIBILIDADE. PROVIMENTO PARA DEFERIR O REGISTRO DE CANDIDATURA.

(...)

Contagem do prazo de inelegibilidade por rejeição de contas em decisão publicada em 7.7.1993. Com base na compreensão da reserva legal proporcional, as causas de inelegibilidade devem ser interpretadas restritivamente, evitando-se a criação de restrição de direitos políticos sobre fundamentos frágeis, inseguros e indeterminados, como a possibilidade de se criar, por meio de engenhosa interpretação, um terceiro regime de contagem de prazo de inelegibilidades (mescla do anterior com o atual), mais desfavorável que o inaugurado pela LC n° 135/2010, absolutamente ofensivo à boa dogmática de proteção dos direitos fundamentais.

O pleno exercício de direitos políticos por seus titulares (eleitores, candidatos e partidos) é assegurado pela Constituição por meio de um sistema de normas que conformam o que se poderia denominar de devido processo legal eleitoral. Na medida em que estabelecem as garantias fundamentais para a efetividade dos direitos políticos, essas regras também compõem o rol das normas denominadas cláusulas pétreas e, por isso, estão imunes a qualquer reforma que vise a aboli-las. O ad. 14, § 90, que expressamente exige lei complementar para disciplinar as causas de inelegibilidades,

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e o art. 16, que submete a alteração legal do processo eleitoral à regra da anualidade, ambos da CF/1988, constituem verdadeira garantia fundamental para o pleno exercício de direitos políticos, pois, além de estabelecerem barreiras ao legislador contra abusos e desvios da maioria, formam núcleo interpretativo para os operadores do direito, a coibir a inconstitucional criação de uma nova regra de contagem do prazo de inelegibilidades, mediante interpretação que mescla o regime anterior da LC n° 6411990 e o atual, da LC n° 135/2010 (ADPF n° 1441DF, reI. Min. Celso de Melio, julgada em 6.8.2008).

A interpretação razoável leva ao entendimento de que a inelegibilidade referida na alínea g não se aplica ao caso concreto. Se se conclui pela aplicação do modelo anterior da LC n° 64/1990, ou a inelegibilidade está suspensa com o ajuizamento da ação anulatória em 1994, ou o prazo de inelegibilidade de cinco anos exauriu em 2011, contados a partir da mudança de jurisprudência do TSE firmada em 2006. Se se conclui pela aplicação do modelo atual da LC n° 64/1990, que exige decisão judicial que suspende ou anula a rejeição de contas, a inelegibilidade de oito anos exauriu há mais de uma década, pois o prazo é contado a partir de 1993, considerada a ausência de qualquer período suspensivo.

A decisão regional, ao mesclar regimes de inelegibilidades e a jurisprudência do TSE firmada em cada período, descumpriu

que decidido pelo STF na ADC n° 29/DF, reI. Min. Luiz Fux, visto que o Supremo assentou a retroatividade da LC n° 135/2010 a fatos anteriores à sua publicação, não sendo possível mesclar regimes jurídicos de inelegibilidades, mas aplicar integralmente o atual, que fixa prazo de oito anos de inelegibilidade contados da decisão de rejeição de contas e cria como causa de suspensão do prazo a obtenção de decisão judicial, razão pela qual o período de inelegibilidade já exauriu, observado o ano de publicação da rejeição de contas, 1993.

(...)

9. Recursos providos." (REspe n° 531807/MG, ReI. Min. Gilmar Mendes, DJE de 03.6.2015)

"Inelegibilidade. Rejeição de contas. Suspensão.

- Suspensa a inelegibilidade da alínea g do inciso 1 do ad. l da Lei Complementar n° 64190, por força da propositura de ação anulatória nos termos da Súmula n° 1 do TSE, volta a fluir

prazo - já agora de oito anos - a partir de 24.8.2006, caso o candidato não obtenha a anulação ou a suspensão da decisão que rejeitou as suas contas.

Recurso especial da Coligação São Gotardo no Rumo Certo parcialmente provido e recurso especial do Ministério Público Eleitoral não conhecido." (REspe n° 139-77/MG, ReI. Mm. Arnaldo Versiani, PSESS de 06.11.2012)

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"ELEIÇÕES 2012. REGISTRO. INELEGIBILIDADE. REJEIÇÃO DE CONTAS. ALÍNEA G. OITO ANOS. CONTAGEM. AJUIZAMENTO. AÇÃO. SUSPENSÃO. REIN ÍCIO. CONVÉNIO. VINCULAÇÃO. INSANABILIDADE. DOLO GENÉRICO.

(...)

2. Na dicção da ilustre maioria, na contagem do prazo de oito anos previsto na alínea g do inciso 1 do ad. 10 da Lei Complementar n° 64/90, com a redação da Lei Complementar n° 135/2010, deve ser desconsiderado o período no qual, segundo a jurisprudência consolidada pela Súmula n° 1 deste Tribunal, a inelegibilidade ficou suspensa pela simples proposátura de ação judicial, reiniciando-se a contagem a partir da alteração da jurisprudência, que em 24.8.2006, passou a entender ser necessária a obtenção de provimento judicial que suspendesse ou anulasse os efeitos da decisão de rejeição de contas. Vencido, nesse ponto, o relator que considerava não ser possível interpretar a regra de inelegibilidade cuja redação foi alterada pela LC n° 135/2010, com base em entendimento jurisprudencial que interpretava a redação original, já revogada.

(...)

S. Recurso do Ministério Público Eleitoral não conhecido. Recurso do 2° recorrente, conhecido e provido para indeferir o registro da candidatura do recorrido." (REspe n° 14313/MG, ReI. Mm. Henrique Neves Da Silva, PSESS de 06.12.2012)

"ELEIÇÕES 2012. REGISTRO DE CANDIDATURA. PREFEITO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO NA ORIGEM. ACOLHIMENTO. SEGUNDOS EMBARGOS. AUSÊNCIA DE OMISSÃO, OBSCURIDADE OU CONTRADIÇÃO. REJEIÇÃO. CONDIÇÃO DE ELEGIBILIDADE. DIREITOS POLÍTICOS. SUSPENSÃO. PRAZO DE CINCO ANOS. AJUIZAMENTO DE AÇÃO RESCISÓRIA. OBTENÇÃO DE TUTELA ANTECIPADA. MÉRITO. IMPROCEDÊNCIA. REVOGAÇÃO DA LIMINAR. CONTAGEM DO PRAZO. RECOMEÇO PELO TEMPO QUE FALTAVA. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO.

É cabível a oposição de embargos de declaração se a questão foi somente apontada, mas não examinada no voto do relator.

A contagem do prazo de suspensão dos direitos políticos, interrompida por força de antecipação de tutela deferida em ação rescisória, será retomada pelo tempo que faltava, caso essa ação seja, ao final, julgada improcedente.

Recurso especial não provido." (REspe n° 15180/RS, Rei. Mm. Luciana Lóssio, PSESS de 23.10.201 2)

Tal entendimento, cabe aqui enfatizar, vigora desde o regime originário, quando o mero ajuizamento de ação anulatória de mostrava suficiente à suspensão da inelegibilidade, bem como durante o período compreendido entre a mudança de entendimento, pr

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AgR-REspe no 560-46.2016.6.26.0131/sp

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em 2006, quanto à aplicação da Súmula n° IITSE3 e a edição da Lei da Ficha Limpa, em 2010. Confiram-se:

"ELEIÇÕES 2008. Agravos regimentais no recurso especial. Recurso protocolado após tríduo regimental. Intempestividade. Indeferimento de registro de candidatura ao cargo de prefeito. Rejeição de contas. Aplicação do ad. 1°, 1, g, da Lei Complementar n° 64/90. Ajuizamento de ação anulatória com intuito de desconstituir a decisão da Câmara Municipal, quando prevalecia o entendimento consignado na Súmula 01 do TSE. Mudança, em 2006, de entendimento jurisprudencial no julgamento do RO n° 912. Exigência de liminar ou de tutela antecipada para suspender a decisão reprovadora de contas. Possibilidade de aplicação da novel jurisprudência neste caso. Mudança de entendimento jurisprudencial não implica ofensa a direito subjetivo da parte. Ausência de violação aos princípios da segurança jurídica e da irretroatividade de lei. Prazo para aplicação da sanção de inelegibilidade recomeçou a correr em 24.08.2006. Provimento jurisdicional tardio, exarado quando já ultrapassado o prazo para requerimento do registro. Inviabilidade de suspensão da causa de inelegibilidade. Ofensa à Lei de Licitações. Vício de natureza insanável. Precedentes. Agravo regimental da coligação recorrente não conhecido e agravo regimental do pré-candidato desprovido.

Nos processos de registro de candidatura, é intempestivo o agravo regimental interposto após o prazo de três dias previsto no ad. 36, § 80, do RITSE, contado da publicação da decisão em sessão.

Para fins de contagem do prazo de cinco anos de inelegibilidade, previsto no ad. 11, inciso 1, letra g, da Lei Complementar n° 64/90, deve-se considerá-lo suspenso na hipótese de ter sido auizada, antes de 24.08.2006, ação desconstitutiva da decisão que rejeitou as contas, sendo desnecessária a citação válida de litisconsorte passivo ou de qualquer outra parte envolvida no processo para efeito de suspensão. A partir da referida data, a inelegibilidade não está mais suspensa pela simples propositura de ação anulatória, passando a correr o prazo pelo tempo que faltava, salvo se houver provimento liminar oportuno, o qual, por consequência, volta suspender a contagem do prazo qüinqüenal (cf. Acórdãos nos 32.158, de 25.11.2008, rel. designado mm. Arnaldo Versiani; 32.534, de 13.11.2008, e 32.762, de 27.10.2008, ambos da minha relatoria).

Este Tribunal já consignou que "a mutabilidade é própria do entendimento jurisprudencial, o que não implica, por si só, violação a direitos e garantias consagrados pelo ordenamento

Súmula n° 1/TSE, de 1992 (Cancelada em 2016). "Proposta a ação para desconstituir a decisão que rejeitou as contas, anteriormente à Impugnação, fica suspensa a inelegibilidade (Lei Complementar n° 64/90, art. 10, 1, A aplicação do mencionado verbete sumular sofreu modificação em 2006, quando decidido pelo TSE que "a análise da idoneidade da ação anulatória é complementar e integrativa à aplicação da ressalva contida no Enunciado n° 1 da Súmula do TSE, pois a Justiça Eleitoral tem o poder-dever de velar pela aplicação dos preceitos constitucionais de proteção à probidade administrativa e á moralidade para o exercício do mandato (ad. 14, § 90, CF/88)" (RO n° 9121RR, Rei. Mm. Cesar Asfor Rocha, PSESS de 24.8.2006).

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AgR-REspe no 560-46.2016.6.26.01311sp

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jurídico" (Acórdão n° 7.147, de 04.12.2007, rei. mm . Cezar Peluso).

A obtenção de liminar ou de tutela antecipada após o pedido de registro da candidatura não suspende a inelegibilidade.

A inobservância aos ditames da Lei n° 8.666/93 (Lei de licitações) constitui irregularidade de natureza insanável (AgR-REspe n° 32937/PB, ReI. Mm. Joaquim Barbosa, DJe de 25/02/2009)

"Agravo regimental. Recurso ordinário. Eleições 2006. Registro. Candidato. Deputado estadual. Contas. Rejeição. Ações judiciais. Propositura. Trânsito em julgado. Art. 1, g, da Lei Complementar n° 64/90. Inelegibilidade. Fluência. Configuração.

Transitada em julgado a decisão que não acolheu ação anulatória do decreto legislativo que rejeitou as contas, volta a fluir a inelegibilidade prevista no ad. 1°, 1, g, da Lei Complementar n° 64/90.

O agravo regimental, para que obtenha êxito, deve afastar especificamente os fundamentos da decisão impugnada.

Agravo regimental a que se nega provimento." (ARO n° 1104/DF, Rei. Min. Caputo Bastos, PSESS de 31/10/2006)

"Eleições 2004. Recurso Especial. Registro. Impugnação. Rejeição de contas. Câmara Municipal. Ação desconstitutiva referente aos anos de 1995 e 1996. Inelegibilidade decorrente da rejeição de contas referente ao ano de 1994. Ação anulatória. Suspensão do prazo de cinco anos de inelegibilidade. Transitada em julgado a ação, retoma-se a contagem do prazo restante.

Proposta ação desconstitutiva contra a decisão da Câmara de Vereadores que rejeitou as contas de 1995 e 1996, antes da propositura da ação de impugnação ao pedido de registro do Recorrido. Incidência do Enunciado n° 1 da súmula do TSE.

A propositura de ação, tendente a desconstituir a decisão de rejeição de contas, suspende a inelegibilidade e, em consequência, não flui o prazo de cinco anos. Transitada em julgado a sentença, não acolhendo o pedido, volta a correr aquele prazo, persistindo a inelegibilidade pelo tempo que faltar.

Recurso especial n° 24199/CE, ReI. de 11/10/2004)

conhecido, mas desprovido." (REspe Min. Luiz Carlos Lopes Madeira, PSESS

"AGRAVO REGIMENTAL. INELEGIBILIDADE. ART. 1°, 1, g, DA LC N° 64/90. LEGISLAÇÃO MUNICIPAL, UTILIZAÇÃO PARA CONTAGEM DE PRAZO. IMPOSSIBILIDADE. AÇÃO ANULATÓRIA. SUSPENSÃO DO PRAZO. DECISÃO. TRÂNSITO EM JULGADO. REINÍCIO DA CONTAGEM.

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AgR-REspe no 560-46.2016.6.26.0131/sp 25

O prazo de cinco anos, quando suspenso pela propositura de ação que visa desconstituir o ato que rejeitou as contas, recomeça a correr pelo tempo que falta, após o trânsito em julgado da sentença que não acolher o pedido.

Precedentes desta Corte." (ARO n° 815/SP, ReI. Min. Gilmar Mendes, PSESS de 23/09/2004)

"INELEGIBILIDADE. REJEIÇÃO DE CONTAS. AÇÃO ANULATÓRIA.

A PROPOSITURA DE AÇÃO, TENDENTE A DESCONSTITUIR A DECISÃO DE REJEIÇÃO DE CONTAS, SUSPENDE A INELEGIBILIDADE E, EM CONSEQUÊNCIA, NÃO FLUI O PRAZO DE CINCO ANOS. TRANSITADA EM JULGADO A SENTENÇA, NÃO ACOLHENDO O PEDIDO, VOLTA A CORRER AQUELE PRAZO, PERSISTINDO A INELEGIBILIDADE PELO TEMPO QUE FALTAR. IMPOSSIBILIDADE DE ADMITIR-SE SEJA O INTERESSADO ELEGÍVEL E, AO MESMO TEMPO, TENHA CURSO O PRAZO DURANTE O QUAL SERÁ INELEGÍVEL." (RO no 237/SP, ReI. Mm. José Neri da Silveira, PSESS de 09/09/1 998)

Assim, a decisão regional está alinhada à remansosa jurisprudência desta Corte Superior quanto à suspensão da contagem do prazo da inelegibilidade pelo período em que suspensos os efeitos da decisão de rejeição das contas, retomada a contagem do prazo pelo tempo faltante, caso julgado improcedente o pedido veiculado na ação anulatória.

Em relação à tese de que exaurido o prazo de oito anos da inelegibilidade em 14.6.2016 - porquanto suspensos os efeitos do decreto legislativo por apenas 2 (dois meses), entre 04.8.2008 e 05.10.2008, ante a perda superveniente do interesse de agir decorrente do fato de que o primeiro recorrente não se logrou vencedor nas eleições de 2008 -, além de se tratar de matéria não prequestionada, foi suscitada apenas em memoriais.

Nos termos do entendimento do TSE, "os memoriais não se prestam a aditar razões de recurso, cujos pressupostos específicos devem estar preenchidos" (AgR-REspe n° 597/SP, Rei. Mm. Henrique Neves Da Silva, DJe de 24.6.2016; AgR-REspe n°298-64, rei. Mm. Fernando Gonçalves, PSESS em 12.11.2008).

Portanto, não merece reparos o acórdão impugnado, pelo qual, declarado inelegível o titular da chapa, nos termos da alínea g do inciso 1 do art. 10 da LC n° 64/1 990, até 27.02.2017, indeferido o registro das candidaturas dos recorrentes, eleitos para os cargos de Prefeito e Vice-Prefeito de Mairinque/SP nas Eleições 2016.

Ante o exposto, nego seguimento ao recurso especial (art. 36, § 60, do RITSE), prejudicado o pedido de efeito suspensivo. (Destaquei)

Nada colhe o agravo regimental.

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AgR-REspe n° 560-46.2016.6.26.0131/Sp 26

Consigno, de plano, que os agravantes se limitaram a

reproduzir integralmente as razões recursais esposadas no recurso especial e

a tese inovada por ocasião da apresentação dos memoriais, não impugnados

os fundamentos da decisão agravada de que:

não consta no acórdão regional informação sobre o horário

da publicação da sentença, registrado tão somente que os autos foram

conclusos em 12.9.2016 e que publicada a decisão no mural eletrônico

daquele mesmo dia, inocorrente excesso de prazo para sua prolação ou

publicação extemporânea da sentença, a afastar a suscitada nulidade;

rever a conclusão da Corte de origem quanto à existência

de irregularidades insanáveis, assim reconhecidas pelo Tribunal de Contas

Estadual e referendadas pela Câmara de Vereadores, configuradoras de ato

doloso de improbidade administrativa, exigiria o reexame do quadro fático

delineado, procedimento vedado na instância especial, nos termos da Súmula n° 24/TSE.

não prequestionada a alegação de que obstada a

caracterização do ato doloso de improbidade, pelo fato de as contas rejeitadas

dizerem respeito ao exercício de 1992, antes da vigência da Lei n° 8.429/1 992

(Improbidade Administrativa) e da LC n° 101/2000 (Responsabilidade Fiscal);

não se conhece de matéria nova trazida em memoriais,

consistente na tese segundo a qual exaurido o prazo de oito anos da

inelegibilidade em 14.6.2016, uma vez que os efeitos do decreto legislativo

teriam ficado suspensos tão somente entre 4.8.2008 e 5.10.2008 e, ainda que

assim não fosse, o tema não poderia ser analisado nesta instância especial, à míngua do necessário prequestionamento;

a mera transcrição das ementas dos julgados, sem a

realização do devido cotejo analítico, não é suficiente para comprovar o

dissídio jurisprudencial, aplicável, ao ponto, a Súmula n° 28/TSE;

a conclusão do TRE/SP no sentido de que interrompida a

contagem do prazo da inelegibilidade enquanto suspensos os efeitos da

decisão de rejeição das contas, a protrair o termo final da restrição à cidadania

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AgR-REspe no 560-46.2016.6.26.01 31ISP

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passiva pelo tempo faltante, se coaduna com o entendimento consolidado

deste Tribunal Superior.

A teor do entendimento desta Corte Superior, "a parte

agravante possui o ônus de impugnar os fundamentos do decisum fustigado,

sob pena de subsistirem as suas conclusões, nos termos dos Enunciados de

Súmula n126 do TSE e n° 182 do STJ. Precedentes." (AgR-REspe no 4158/SP,

Rei. Min. Luiz Fux, DJe de 19.12.2016)". Na mesma linha de entendimento:

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. ELEIÇÕES 2014. PRESTAÇÃO DE CONTAS. APRESENTAÇÃO POR ADVOGADO SEM PROCURAÇÃO. PREJUÍZO NÃO DEMONSTRADO. PRECLUSÃO. IRREGULARIDADES QUE CONTAMINARAM PERCENTUAL ELEVADO DAS CONTAS. VALOR NOMINAL SIGNIFICATIVO. APLICAÇÃO LIMITADA DOS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE. REITERAÇÃO DE ARGUMENTOS ENFRENTADOS EM DECISÃO INDIVIDUAL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 26 DO TSE.

(...) A mera reiteração de argumentos, sem a arguição de

elemento apto a afastar os fundamentos da decisão agravada, atrai a incidência da Súmula 26 deste Tribunal.

Agravo regimental a que se nega provimento. (AgR-REspe n° 126692, Rei. Mm. Henrique Neves da Silva, DJe de 21.11.2016 - destaquei)

ELEIÇÕES 2016. REGISTRO DE CANDIDATURA. INDEFERIMENTO. FILIAÇÃO PARTIDÁRIA. NÃO COMPROVAÇÃO.

A agravante reitera as alegações recursais, insistindo no argumento de que deve ser aplicada a Súmula 20 do TSE, sem refutar os fundamentos da decisão agravada, consistentes na ausência de prequestionamento, na impossibilidade do reexame de provas em sede de recurso especial e na consonância de entendimento entre o aresto recorrido e a jurisprudência desta Corte.

É inviável o agravo regimental que não infirma objetivamente os fundamentos da decisão agravada, limitando-se a reproduzir integralmente as razões declinadas no recurso especial. Incidência da Súmula 182 do Superior Tribunal de Justiça.

E ... ] Agravo regimental a que se nega provimento. (AgR-REspe n° 144-55/PI, Rei. Mm. Henrique Neves da Silva, PSESS de 13.10.2016 - destaquei)

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A9R-REspe no 560-46.2016.6.26.0131/Sp

Logo, nos exatos termos da decisão agravada, não merece

reparos o acórdão regional, pelo qual, declarado inelegível o titular da chapa,

nos termos da alínea g do inciso 1 do art. 10 da LC n° 64/1 990, até 27.2.2017,

indeferido o registro das candidaturas dos agravantes, eleitos para os cargos

de Prefeito e Vice-Prefeito de Mairinque/SP nas Eleições 2016.

No tocante à agitada inconstitucionalidade da LC n° 135/2010,

consignado na decisão agravada sua aplicabilidade a fatos pretéritos, à luz do

entendimento firmado pela Suprema Corte por ocasião do julgamento das ADCs nos

29 e 30 e da ADI n° 4578, bem como os reiterados julgados deste

Tribunal Superior Eleitoral.

Ressalto, a propósito, que a matéria em debate no Recurso

Extraordinário n° 929.670, com repercussão geral reconhecida, diz respeito à

possibilidade de aplicação do prazo de oito anos de inelegibilidade nos casos

em que cominada em AIJE a sanção de inelegibilidade pelo prazo então vigente (três anos) (art. 11, 1, d, da LC n°64/1990), diversa, portanto, da tratada

no caso em apreço - inelegibilidade como consequência da rejeição das

contas públicas (art. 10, 1, g, da LC n°64/1990). Nesse trilhar:

ELEIÇÕES 2016. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. INDEFERIMENTO DE REGISTRO DE CANDIDATURA. VEREADOR. INELEGIBILIDADE DA ALÍNEA L DO INCISO 1 DO ART. 1° DA LC 64/90. FUNDAMENTO NÃO INFIRMADO. AUSÊNCIA DE ARGUMENTOS HÁBEIS. MANUTENÇÃO DA DECISÃO AGRAVADA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.

(...)

2. A matéria discutida em decisões monocráticas proferidas por Ministros do STF, bem como no RE 929.670 - com repercussão geral reconhecida -, diz respeito à possibilidade de ser aplicado o prazo de inelegibilidade previsto na alínea d do inciso 1 do art. 10 da LC 64/90, com as alterações da LC 135/2010, às condenações em Representações na Justiça Eleitoral nas quais, antes da vigência da lei, tenha sido estabelecido o prazo inferior, então vigente. Situação diversa é a inelegibilidade debatida nos autos, prevista na alínea 1 do inciso 1 do art. 10 da LC 64/90, para a qual o prazo previsto na LC 135/2010 se aplica a condenações ocorridas antes de sua vigência, conforme assentou o STF no julgamento das ADCs 29 e 30 e da ADI 4.5781DF. Precedente: AgR-REspe 160-56/SP, ReI. Mm. Henrique Neves da Silva, publicado na sessão de 25.10.2016.

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AgR-REspe no 560-46.2016.6.26.0131/SP 29

3. Agravo Regimental a que se nega provimento. (AgR-REspe no 12851, Rei. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, PSESS de 28.11.2016 - destaquei)

Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.

Comunique-se o Tribunal de origem, visando à convocação de

novo pleito majoritário no Município de Mairinque/SP, nos termos do art. 224,

§ 31, do Código Eleitoral, incluído pela Lei n° 13.165/2015, consoante decidido

por esta Corte Superior no julgamento dos ED-REspe n° 139-251RS, em sessão de 28.11.2016.

É como voto.

PEDIDO DE VISTA

A SENHORA MINISTRA LUCIANA LÓSSIO: Senhor

Presidente, peço vista dos autos.

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AgR-REspe n° 560-46.20 1 6.6.26.0 1 31ISP

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EXTRATO DA ATA

AgR-REspe n° 560-46.2016.6.26.01 31/SP. Relatora: Ministra

Rosa Weber. Agravantes: Antônio Alexandre Gemente e outro (Advogados:

Francisco Roque Festa - OAB: 1067741SP e outros). Agravada: Coligação

Fazendo Mais por Você (Advogados: Renato Oliveira Ramos - OAB: 20562/DF

e outros).

Decisão: Após o voto da relatora, negando provimento ao

agravo regimental, determinando a comunicação imediata ao Tribunal de

origem, visando à realização de novo pleito majoritário, antecipou o pedido de

vista a Ministra Luciana Lóssio.

Presidência do Ministro Gilmar Mendes. Presentes as

Ministras Rosa Weber e Luciana Lóssio, os Ministros Edson Fachin, Herman

Benjamin, Napoleão Nunes Maia Filho e Henrique Neves da Silva, e o

Vice-Procurador-Geral Eleitoral, Nicolao Dino.

SESSÃO DE 21.3.2017.

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VOTO-VISTA (vencido)

A SENHORA MINISTRA LUCIANA LÓSSIO: Senhor

Presidente, adoto, como relatório, a minuta submetida ao Plenário pela e.

Ministra Relatora Rosa Weber:

Senhor Presidente, trata-se de agravo regimental manejado por Antônio Alexandre Gemente e Rodrigo Augusto da Conceição, eleitos Prefeito e Vice-Prefeito de Mairinque/SP nas Eleições 2016, contra decisão pela qual neguei seguimento ao recurso especial que interpuseram, mantido o indeferimento dos pedidos de registro das candidaturas, considerada a incidência, em relação ao titular da chapa, da inelegibilidade prevista na alínea g do inciso 1 do art. 10 da Lei Complementar n°64/1990.

Em suas razões (fls. 1.390-1.431), os agravantes reiteram os argumentos esposados no recurso especial:

nula a sentença, por excesso de prazo, porquanto publicada em mural eletrônico após o término do expediente forense do dia 12.9.2016, termo final previsto nos arts. 16, § 10, da Lei n° 9.50411997 e 57 da Res.-TSE n° 23.45512015 para o julgamento dos pedidos de registro de candidatura no âmbito das instâncias ordinárias;

ante a publicação extemporânea da sentença de indeferimento do registro de candidatura dos recorrentes, inviabilizado o exercício da faculdade prevista no art. 13, § 30, da Lei n° 9.504/1997, na hipótese de o candidato ser declarado inelegível, tendo em vista que expirado

prazo para a substituição de candidatos em 12.9.2016, inconteste prejuízo aos agravantes;

c) inconstitucionalidade da Lei Complementar n° 135/2010, inaplicável a fatos ocorridos antes da sua vigência, ante o disposto no art. 50, XXXVI e XL, da CRF13I1988, pendente de exame tal questão pelo Supremo Tribunal Federal no Recurso Extraordinário n° 929.670, da relatoria do Mm. Luís Roberto Barroso, com repercussão geral já reconhecida, no qual estaria sendo revisto o entendimento acerca da "admissibilidade da retroação da LC 13512010 para ampliar o prazo de inelegibilidade para 8 (oito) anos, dos casos julgados pela LC 64/90, em que a punição por abuso de poder era de 3 (três) anos" (fi. 1.239), tendo sido proferidos dois votos contrários à retroatividade da Lei da Ficha Limpa;

Art. 57. Todos os pedidos de registro de candidatos, inclusive os impugnados e os respectivos recursos, devem estar julgados pelas instâncias ordinárias, e publicadas as decisões a eles relativas até 12 de setembro de 2016 (Lei n°9.504/1997, art. 16, § 1°).

Art 13. É facultado ao partido ou coligação substituir candidato que for considerado inelegível, renunciar ou falecer após o termo final do prazo do registro ou, ainda, tiver seu registro indeferido ou cancelado. [... § 3° Tanto nas eleições majoritárias como nas proporcionais, a substituição só se efetivará se o novo pedido for apresentado até 20 (vinte) dias antes do pleito, exceto em caso de falecimento de candidato, quando a substituição poderá ser efetivada após esse prazo.

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a rejeição de contas que deu azo ao indeferimento do registro de candidatura diz respeito a contabilidade de governo relativa ao exercício de 1992, prestada pelo primeiro recorrente enquanto Prefeito de Mairinque/SP, referente, portanto, a atos anteriores à vigência das Leis de Improbidade Administrativa (Lei n° 8.42911992) e de Responsabilidade Fiscal (LC n° 101/2000), a obstar a subsunção dos fatos a tais normas e, consequentemente, sua caracterização como ato doloso de improbidade administrativa;

o parecer do Tribunal de Contas do Estado - adotado como razão de decidir pelo Legislativo Municipal, para o fim de julgar irregulares as contas prestadas - não apontou a existência de qualquer irregularidade insanável, tampouco de ato doloso de improbidade administrativa com violação de princípios da Administração Pública, dano ao erário ou enriquecimento ilícito, do agente ou de terceiro, a elidir a incidência da causa de inelegibilidade prevista no art. 1, 1, g, da LC n° 64/1 990;

a irregularidade atinente à ausência de inscrição de créditos tributários em dívida ativa não se mostra insanável, considerado que o TCE não apontou a ocorrência de prescrição, viabilizado o saneamento da falha no exercício seguinte, o que seria corroborado pelo fato de que a Corte de Contas "afastou a ocorrência de dano ao erário e, igualmente, não sofreu o recorrente qualquer medida visando à condenação ao ressarcimento dos valores que teriam deixado de ingressar na receita municipaf' (fI. 1.413);

quanto ao "desvio de verbas da educação para a realização de eventos carnavalescos', em verdade, jamais existiu", ocorrido remanejamento na aplicação de recursos vinculados à mesma pasta - "Diretoria de Educação e Cultura" -, com vistas à realização de evento de significativo valor cultural, voltado eminentemente para as crianças de Mairinque/SP (fI. 1.414);

o TRE/SP teria examinado as questões de forma superficial, exagerada e distorcida, inferindo, por presunção, a ocorrência de irregularidades insanáveis caracterizadoras de ato doloso de improbidade administrativa, cabendo ressaltar que "o órgão competente para ajuizar eventual ação de improbidade administrativa [Ministério Público], agindo com reconhecida prudência e justiça, se absteve da propositura - e, com a devida vênia, não cabe ao d. Juízo Eleitoral a sua declaração, sob pena de usurpar a competência da Justiça Estadua!' ( fI. 1.416), em afronta ao devido processo legal;

incontroverso nos autos que a decisão da Câmara de Vereadores foi proferida em 03 de junho de 2008, exaurido o prazo da suposta inelegibilidade em 03 de junho de 2016, anteriormente, portanto, à formalização do pedido de registro de candidatura, momento de aferição dos requisitos de registrabilidade;

indevida a interpretação dada pela Corte de origem, no sentido de, usando em desfavor do pretenso candidato a liminar que obteve perante o Tribunal de Justiça de São Paulo, pela qual suspensos, entre 05.8.2008 e 27.8.2009, os efeitos do Decreto Legislativo de rejeição das contas, acrescer tal período de suspensão à contagem do prazo da inelegibilidade, prorrogando-o para fevereiro de 2007, a

Ni-

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revelar descabida perpetuação do cumprimento de sanção, bem como afronta ao direito de acesso à Justiça;

k) "a r. sentença hostilizada, ao fundamentar o indeferimento do registro, incorreu em indesejada confusão de diploma, ora invocando as disposições da Lei Complementar n° 64/90, ora aludindo às alterações trazidas pela Lei Complementar n° 135/1Ü', aplicando ao caso "um terceiro e anômalo regime jurídico" a fim de estender o cumprimento do prazo da restrição à cidadania passiva, em ofensa aos princípios "do devido processo legal, da legalidade e da taxatividade das hipóteses de inelegibilidade" (f Is. 1.424-5);

1) as normas atinentes ao regime jurídico de inelegibilidades "devem ser interpretadas literal e restritivamente, tal como no campo do direito pena!' (fI. 1.425).

Repisam, ainda, a tese - trazida aos autos tão somente em memoriais - de que Antônio Alexandre Gemente estaria elegível para as Eleições 2016, considerado que a inelegibilidade ficou efetivamente suspensa pelo prazo de 2 (dois) meses, entre 04.8.2008 e 05.10.2008, - ao argumento de que a antecipação de tutela, deferida com o único intuito de permitir sua candidatura no pleito de 2008, "teve sua eficácia esvaziada no dia 05 de outubro daquele ano (perda super'eniente do interesse de agir), quando o recorrente perdeu as eleições" (fi. 1429) -' exaurido o prazo de oito anos da inelegibilidade em 14.6.2016.

Por decisão das fls. 1464-9, proferida durante o recesso judiciário pelo eminente Ministro-Presidente, indeferido pedido liminar em tutela de urgência cautelar incidental requerido por Antônio Alexandre Gemente (fls. 1434-62) - consistente na concessão de efeito suspensivo ativo ao presente agravo regimental, sob a alegação de que não demonstrado o ato doloso de improbidade administrativa, a obstar a incidência art. l, 1, g, da LC n° 6411 990 -, não verificada a presença do fumus boni iuris.

Contraminuta às fls. 1.478-87, na qual argumenta que os agravantes se limitaram "a reproduzir o conteúdo do recurso especia!', não atacados "os fundamentos da decisão agravada", a inviabilizar conhecimento do agravo regimental.

A e. Relatora negou provimento ao agravo regimental para

manter o indeferimento dos pedidos de registro das candidaturas, considerada

a incidência, em relação ao titular da chapa, da inelegibilidade prevista na

alínea g do inciso 1 do art. 10 da Lei Complementar n° 64/1 990, nos termos da

ementa a seguir:

ELEIÇÕES 2016. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. REGISTRO DE CANDIDATURA. PREFEITO E VICE-PREFEITO (COLIGAÇÃO PARA UM FUTURO MELHOR - PRPIPTN/DEM/PSC/PP/PTC/PEN/PROS/PRB/PTdo B). INDEFERIDO. INELEGIBILIDADE. ART. 1°, 1, G, DA LEI COMPLEMENTAR N° 6411990. INCIDÊNCIA.

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AgR-REspe no 560-46.2016.6.26.0I31ISP

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A Lei Complementar n° 135/2010 se aplica a fatos pretéritos, nos termos do que decidido pela Suprema Corte do julgamento das ADCs nos 29 e 30 e da ADI n° 4578. Precedentes.

A matéria em debate no Recurso Extraordinário n° 929.670, com repercussão geral reconhecida, diz respeito à possibilidade de aplicação do prazo de oito anos de inelegibilidade nos casos em que cominada a sanção de inelegibilidade em AIJE pelo prazo então vigente (três anos) (art. 1, 1, d, da LO n°64/1990), diversa, portanto, da tratada no caso em apreço - inelegibilidade como consequência da rejeição das contas públicas (art. 1, 1, g, da LC n°64/1990).

Rejeitadas as contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas, por decisão definitiva do órgão competente, não suspensa ou anulada por decisão judicial, cabe à Justiça Eleitoral proceder ao enquadramento das irregularidades como insanáveis ou não, além de verificar se constituem ou não ato doloso de improbidade administrativa. Precedentes.

Rejeição de contas, pela Câmara de Vereadores, decorrente da ausência de inscrição de créditos tributários em dívida ativa - conduta reiterada por dois exercícios -, bem como do desvio de verba pública afeta à área de educação para a realização de evento carnavalesco. Irregularidades insanáveis caracterizadoras de ato doloso de improbidade administrativa, evidenciado prejuízo ao erário municipal. Aplicação da Súmula n° 24ITSE.

Da contagem do prazo de oito anos previsto na alínea g do inciso 1 do art. 10 da LC n° 64/1990, com a redação conferida pela LO n° 135/2010, deve ser desconsiderado o período no qual suspensos os efeitos da decisão de rejeição das contas, por força de liminar deferida em ação anulatória, retomada a contagem do prazo da inelegibilidade, pelo tempo faltante, a partir da data em que julgado improcedente o pedido de anulação. Precedentes.

À luz do aresto recorrido, rejeitadas as contas em 14.3.2008, suspensos os efeitos do Decreto Legislativo, entre 14.7.2008 e 27.8.2009, por força de liminar concedida em ação anulatória, revogada a medida de urgência em 27.8.2009, quando julgado improcedente o pedido, inelegível o primeiro agravante, titular da chapa, até 27.02.2017.

Não atacados os fundamentos relativos à: i) ausência de prequestionamento; ii) aplicação das Súmulas n's 24 e 28 do TSE; e iii) impossibilidade de se conhecer de tese nova trazida em memoriais; iv) forma de contagem do prazo de inelegibilidade utilizada pela Corte Regional estar de acordo com o entendimento consolidado deste Tribunal Superior.

A mera reprodução das razões veiculadas no recurso especial, ausentes elementos aptos a infirmar os fundamentos da decisão agravada, atrai a aplicação da Súmula n° 26/TSE. Precedentes.

Agravo regimental conhecido e não provido.

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Comunicação imediata ao Tribunal de origem, visando à realização de novo pleito majoritário no Município de Mairinque/SP, nos termos do art. 224, § 30, do Código Eleitoral, incluído pela Lei n° 13.165/2015, consoante decidido por esta Corte Superior no julgamento dos ED-REspe n° 139-25/RS, em sessão de 28.11.2016.

Pedi vista dos autos para melhor análise e, desde logo,

registro, com a devida vênia a i. Relatora, que estou iniciando a divergência.

Afinal, de acordo com o TRE/SP, é incontroverso que o

agravante Antônio Alexandre Gemente, enquanto Prefeito do Município de

Mairinque/SP, teve as contas, referente ao exercício de 1992, rejeitadas pela

Câmara Municipal - Decreto Legislativo n° 266/2008, publicado em 14 de

março de 2008 - com fundamento no parecer - TC 5885/026/1993 - lavrado

pela Corte de Contas do Estado de São Paulo.

Vejamos:

Consta dos autos, às fls. 178/215, cópia do parecer emitido pelo c. Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, Processo TC 5885/026/1 993, no qual o então Prefeito ANTONIO ALEXANDRE GEMENTE é apontado como responsável, sendo que a Câmara Legislativa de Mairinque aprovou e promulgou o Decreto-Legislativo n° 266 em 14 de março de 2008, que rejeitou as contas apresentada pelo Prefeito Municipal de Mairinque, referentes ao exercício financeiro de 1992, acatando o parecer exarado pela e. Corte de Contas, processo n° Processo TC 5885/026/1993, conforme documento de fi. 250.

Feitas tais considerações, é imprescindível, em análise do

caso, manter o norte de que a Constituição Federal, nos termos do art. 50

LXXVIII, assegura a todos, no âmbito judicial e administrativo, a razoável

duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

In casu, o exame do feito revela que as contas referentes

ao exercício de 1992 foram, inicialmente, julgadas em 1997. No entanto,

referido julgamento foi anulado pelo Poder Judiciário no ano de 2005,

razão pela qual o órgão competente as rejulgou somente em 2008,

quando já transcorridos aproximadamente 16 (dezesseis) anos!

Assim, tendo em vista o princípio constitucional da duração

razoável do processo, entendo ser o caso de o recurso especial ser

diretamente examinado pelo Plenário do Tribunal Superior Eleitoral,

r 1

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AgR-REspe n° 560-46.2016.6.26.01 31/SP 36

possibilitando-se, inclusive, a sustentação oral dos patronos dos recorrentes,

ora agravantes, por ser inaceitável, a meu ver, que o candidato aguarde

longamente o julgamento das suas contas pelo Poder Legislativo local, de

forma a, finalmente, saber se cumpre ou não as condições de elegibilidade.

Inclusive, oportuno rememorar que o TSE já decidiu, no

julgamento do REspe n. 28-41/AL, que "o julgamento das contas dos gestores

públicos para fins de inelegibilidade da alínea g do art. 1 1 1 da LC 64/90, por se

tratar de processo administrativo, deve ocorrer em prazo razoável, ou seja,

pelo menos dentro do prazo prescricional, não podendo ser ignorado o efeito

do decurso do tempo, sob pena de a incerteza sobre a elegibilidade

perpetuar-se de forma indefinida, com sensíveis prejuízos à segurança jurídica

das partes e também ao jus honorum individual, nos termos, inclusive, de

valorosa compreensão doutrinária exposta pelo Professor GILMAR FERREIRA

MENDES (Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 405)"

(Relator o Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Sessão de 28.11.2016).

Desse modo, considerando a relevância do tema e as

questões ora apontadas, divirjo do voto da eminente relatora e dou

provimento ao agravo regimental, exclusivamente para melhor exame do

recurso especial pelo Plenário deste Tribunal.

VOTO (ratificação)

A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (relatora): Senhor

Presidente, tenho muito apreço pelas manifestações dos advogados. Recebi

memoriais dos dois lados e o processo objetivo tem interessados dos dois

lados. Assim, com todo o respeito, mantenho a minha negativa de provimento,

e justifico.

Na verdade, o registro foi indeferido em primeiro e segundo

graus; eu mantive o indeferimento negando seguimento ao recurso especial;

Vossa Excelência, no exercício da Presidência, examinou medida cautelar, no

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recesso, e indeferiu o efeito suspensivo ativo pretendido, sob o fundamento de

ausência de fumus boni iuris.

Trata-se de rejeição de contas pelo Tribunal de Contas da

União. E essa questão das datas em momento algum foi discutida - é

absolutamente inovatória. E o que me chama a atenção, em especial, é que,

de fato, são de contas de 1992, mas não houve inércia daquela Corte de

Contas, pois elas foram apreciadas. Colho dos próprios elementos trazidos

pela eminente Ministra Luciana Lóssio, ao afirmar que:

In casu, o exame do feito revela que as contas referentes ao exercício de 1992 foram, inicialmente, julgadas em 1997. No entanto, referido julgamento foi anulado pelo Poder Judiciário no ano de 2005, razão pela qual o órgão competente as rejulgou somente em 2008, quando já transcorridos aproximadamente 16 (dezesseis) anos!

Ou seja, não houve inércia em momento algum. E a Câmara

de Vereadores julgou, também, em 2008. Isto é, não se pode imputar qualquer

inércia. Não se falou nunca em prescrição.

No precedente que examinei - a partir do destaque da Ministra

Luciana Lóssio -, do Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, havia o deferimento

do registro em todas as instâncias. E, lá, o TCU pronunciou a prescrição com

relação à multa. E deixou de aplicar a multa, em função da prescrição que ele

próprio declarara.

Agora vai a Justiça Eleitoral entender que houve demora?

Aqui, o julgamento é no Poder Judiciário. Pode o decurso do tempo de

tramitação de um processo levar a que se altere a convicção? Parece-me que

os fatos demonstram serem pacíficos, no sentido da hipótese da alínea g.

Assim, com todo o respeito e por essas razões, mantenho o meu voto.

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VOTO

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX: Senhor Presidente,

acompanho o voto da Ministra Rosa Weber.

VOTO (vencido)

O SENHOR MINISTRO ADMAR GONZAGA: Senhor

Presidente, analisei a questão do Município de Mairinque - REspe n° 560-46 -

e pude verificar o motivo do atraso tão alargado na apreciação das contas.

Na verdade, esse atraso se deu, primeiramente, por uma

motivação, digamos assim, a forma açodada de tratar, de cassar a capacidade

política desse candidato, em que não se deu, sequer, direito de se defender.

Assim, sobreveio decisão judicial que mandou refazer o julgamento na

Câmara, das contas de 1992, que, diga-se, somente começaram a ser

apreciadas em 1995, sobre a qual sobreveio a decisão judicial em 2005,

afirmando que a Câmara Municipal nem sequer tinha dado ao candidato o direito de se defender.

Portanto, esse candidato esteve com a espada de Dâmocles

sobre sua cabeça, durante todos esses anos, por conta do ferimento ao

exercício do seu direito de defesa, que é sagrado e de índole constitucional.

Entendo que hoje, 25 anos depois, temos que ver que, à

época, não havia o regime de avaliação que há hoje. Não havia Lei de

Responsabilidade Fiscal, não havia Lei de lmprobidade, ou seja, estamos

muito distantes daquela época, a ponto de trazer, hoje, sem sustentação oral,

para avaliarmos com mais vagar este caso. Sentir-me-ei mais confortável se

este caso vir à sessão para julgamento.

Acompanho a proposta da eminente Ministra Luciana Lóssio, de apreciar esta questão em julgamento.

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VOTO

O SENHOR MINISTRO HERMAN BENJAMIN: Senhor

Presidente, embora não tenhamos nenhum critério objetivo escrito a justificar a

transformação de um julgamento colegiado sem sustentação oral em outro

com sustentação oral, creio que a regra de ouro que adotamos é a de que

justifica-se a sustentação oral quando as questões jurídicas ou as questões

fáticas estão em zona cinzenta. Pelo menos é assim que tenho votado.

Neste caso, não vejo essa zona cinzenta, simplesmente, pelo

passar dos anos. E, evidentemente, não se está imputando a ninguém a

responsabilidade desse período tão longo que se levou para que a questão

realmente chegasse ao Tribunal Superior Eleitoral. Assim, não vejo razão para

me orientar no sentido de realizar julgamento com sustentação oral.

Peço vênia à divergência para acompanhar a eminente

relatora.

VOTO

O SENHOR MINISTRO JORGE MUSSI: Senhor Presidente,

peço todas as vênias à divergência para acompanhar o voto da eminente

relatora.

VOTO (vencido)

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES: Senhores

Ministros, acompanho o voto da Ministra Luciana Lóssio.

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EXTRATO DA ATA

AgR-REspe n° 560-46.2016.6.26.0131 ISP. Relatora: Ministra

Rosa Weber. Agravantes: Antônio Alexandre Gemente e outro (Advogados:

Francisco Roque Festa - OAB: 106774/SP e outros). Agravada: Coligação

Fazendo Mais por Você (Advogados: Renato Oliveira Ramos - OAB: 20562/DE

e outros).

Decisão: O Tribunal, por maioria, negou provimento ao agravo

regimental, determinando a comunicação imediata ao Tribunal de origem,

visando à realização de novo pleito majoritário, nos termos do voto da relatora.

Vencidos a Ministra Luciana Lóssio e os Ministros Admar Gonzaga e Gilmar

Mendes.

Presidência do Ministro Gilmar Mendes. Presentes as Ministras

Rosa Weber e Luciana Lóssio, os Ministros Luiz Fux, Herman Benjamin, Jorge

Mussi e Admar Gonzaga, e o Vice-Procurador-Geral Eleitoral, Nicolao Dino.

SESSÃO DE 2.5.2017. *

Sem revisão das notas de julgamento da Ministra Rosa Weber e do Ministro Herman Benjamin.