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8/20/2019 Acrnica Fichadetrabalho 111117114813 Phpapp02 http://slidepdf.com/reader/full/acrnica-fichadetrabalho-111117114813-phpapp02 1/4 Língua Portuguesa e Francesa Dúvidas e recursos A Crónica 1. Lê a seguinte crónica de Miguel Esteves Cardoso: O Pensamento Vivo - Há qualquer coisa de errado na família. A família não funciona. Sei que, como conservador, deveria defender a família. Mas não consigo. A família é indefensável. É um equívoco. É um efeito de economia. A família está a dar cabo das pessoas. E das famílias. - A morte é um nojo. Morrer é uma autêntica vergonha. Que sentido é que faz? A vida pode não ser bonita, mas a morte é um horror. Qual paz, qual sopa de alho porro. Qual "não tenhas medo, estás nas mãos de Deus"! Diante da morte, o medo é a única reacção sensata que se pode ter. A morte é um atraso de vida. - A vida pode ser difícil mas a morte é demasiado fácil. A vida é diferente mas a morte é igual. A vida é comprida. A morte é um instante. Da nossa vida tudo nos é pedido e esperado. Da morte ninguém exige nada. Mais vale viver mal e errado que morrer bem a arrumado. - Em bom português, a expressão "Estás com boa cara" significa exactamente: "Ultimamente tens andado com má cara". A partir de uma certa idade, a cara é muito importante. De nada interessa uma pessoa sentir- Definição de Crónica A crónica é o comentário noticioso de factos, que vive do quotidiano mas não visa a informação. Pode ser uma espécie de narração de acontecimentos, uma apreciação de situações ou, na definição tradicional, assumir-se como relato histórico. Antigamente, a crónica era um relato histórico ou uma narração de factos históricos redigida segundo a ordem do tempo (a palavra grega cronos significa tempo; e em latim chronica, diz-se da narrativa de factos de acordo com o decorrer dos tempos). A crónica moderna é, muitas vezes, uma apreciação crítica, um comentário ou uma narração de acontecimentos reais ou imaginários, a que se exige oportunidade e caráter pessoal, alterna a subjetividade literária com o relato de factos.

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Língua Portuguesa e Francesa – Dúvidas e recursos

A Crónica

1. Lê a seguinte crónica de Miguel Esteves Cardoso:

O Pensamento Vivo

- Há qualquer coisa de errado na família. A família não funciona. Sei que,como conservador, deveria defender a família. Mas não consigo. A famíliaé indefensável. É um equívoco. É um efeito de economia. A família está adar cabo das pessoas. E das famílias.

- A morte é um nojo. Morrer é uma autêntica vergonha. Que sentido é quefaz? A vida pode não ser bonita, mas a morte é um horror. Qual paz, qualsopa de alho porro. Qual "não tenhas medo, estás nas mãos de Deus"!Diante da morte, o medo é a única reacção sensata que se pode ter. A morteé um atraso de vida.- A vida pode ser difícil mas a morte é demasiado fácil. A vida é diferentemas a morte é igual. A vida é comprida. A morte é um instante. Da nossavida tudo nos é pedido e esperado. Da morte ninguém exige nada. Maisvale viver mal e errado que morrer bem a arrumado.

- Em bom português, a expressão "Estás com boa cara" significaexactamente: "Ultimamente tens andado com má cara". A partir de umacerta idade, a cara é muito importante. De nada interessa uma pessoa sentir-

Definição de Crónica

A crónica é o comentário noticioso de factos, que vive do quotidiano mas não visa ainformação. Pode ser uma espécie de narração de acontecimentos, uma apreciação desituações ou, na definição tradicional, assumir-se como relato histórico.

Antigamente, a crónica era um relato histórico ou uma narração de factos históricosredigida segundo a ordem do tempo (a palavra grega cronos significa tempo; e em latimchronica, diz-se da narrativa de factos de acordo com o decorrer dos tempos).

A crónica moderna é, muitas vezes, uma apreciação crítica, um comentário ou umanarração de acontecimentos reais ou imaginários, a que se exige oportunidade e caráter pessoal, alterna a subjetividade literária com o relato de factos.

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se bem, ou estar bem, ou mesmo ser bem. Em Portugal, todos os check-upsdo mundo não valem o olhinho arguto de um transeunte que diz " Está commá cara".

- Não há nada, mas nada, mais entediante do que ouvir alguém contar umsonho. Dá sono. Para adormecer, não há melhor. Quanto mais esquisito osonho, mais chato.

- Os melhores sonhos de todos são aqueles que nos põem a pensar e amexer. Os únicos sonhos de que vale a pena falar são os que não nosdeixam dormir.

- Voltar a Portugal é como voltar a fumar: é maravilhoso e, ao mesmo

tempo, horrível.- Os homens são brutos e insensíveis. Matam mais criancinhas, portam-se pior à mesa, cospem e coçam-se mais. Os homens - e sobretudo os homensque gostam de mulheres - são menos inteligentes, menos delicados e menoscivilizados que as mulheres. A única coisa que têm a favor deles, à partecertas características discutíveis, como serem menos histéricos, é asmulheres gostarem deles. Por que é que as mulheres gostam dos homens?Como lésbica que sou nunca entendi.

- Confesso. Não acredito em Deus. Recuso-me a ser ateu. Quero acreditarem Deus. Faz-me falta. Faz-me mal não acreditar Nele.

- Ser filho é difícil. Mais difícil que ser pai. É raro ouvir-se falar de um"bom filho". Por alguma razão. Os filhos são sempre maus. Mamam efogem. Sugam os pais até o tutano, dando-lhes cabo da paciência, da saúdee do orçamento e quando estão anafados e nutridos, licenciados efresquinhos, chamam-lhes senis e dão o solex à primeira oportunidade.

- O que mais notabiliza o assassino português é já estar morto. Ou pelomenos preso. Os nossos homicidas matam-se e entregam-se mal estejamdespachados. Os assassinos estrangeiros fazem questão de continuaremvivos. Combinam, premeditadamente, os seus crimes, planejam fugas,arranjam álibis, dão luta aos investigadores. Os nossos, está quieto. Osassassinos estrangeiros voltam ao local do crime: os portugueses nemsequer se dão ao trabalho de abandoná-lo.

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- Nós, portugueses, somos demasiado teatrais no dia-a-dia para sermos bons actores no teatro.

- Um menino é um fascista com lapsos de anjinho. É um tirano-junior

maníaco depressivo de lágrima-puxa-risota e risota-puxa-birra, com ocoração mais branquinho, a transbordar de fuligem e de maldade. É um psicopata com as asas presas nos suspensórios.

- Se há uma coisa que os portugueses não têm à mesa é finesse. A fineza éuma coisa que fazem. Não é coisa que tenham.

- Quando eu era garoto pensava que "decadência" significava "caírem osdentes". Depois aprendi que não era. Hoje descobri afinal que era verdade.

2. Responde agora às seguintes perguntas, sobre a crónica:

a) Ao longo de toda a crónica nota-se um tom largamente crítico. Indicaque críticas são feitas.

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b) Explica por palavras tuas esta frase "quando estão anafados e nutridos,licenciados e fresquinhos".

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3. Atenta na seguinte frase:

"O homem que mordeu o cão"

3.1. A partir deste título de uma notícia escreve a tua crónica. ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________