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ACUPUNCTURA NA ABORDAGEM DE UM SÍNDROME DE DOR MIOFASCIAL INTRODUÇÃO As síndromes miofasciais nem sempre são tidas em conta no diagnóstico diferencial da dor de origem músculo-esquelética. Estas síndromes caracterizam-se por dor crónica causada por Pontos Gatilho (PG) dolorosos e zonas de tensão muscular, podendo desenvolver-se em qualquer parte do corpo. As mulheres de meia-idade e os indivíduos com lesões musculares prévias ou baixa tolerância ao stress constituem os principais alvos. O objectivo deste caso clínico é demonstrar a importância das síndromes miofasciais como hipótese diagnóstica na presença de sintomatologia álgica músculo- esquelética, assim como o efeito benéfico da acupunctura no tratamento destes doentes. CONCLUSÕES A dor ao nível do bordo radial do punho e compartimento exter- no da mão é regularmente diagnosticada como TQ. No entan- to, perante a ausência de reposta ao tratamento é fundamen- tal questionar o diagnóstico inicial e ponderar outras hipóteses diagnósticas, nomeadamente as Síndromes Miofasciais. A acu- punctura direccionada para o tratamento desta patologia apre- sentou bons resultados e permitiu a confirmação diagnóstica. BIBLIOGRAFIA - Alvarez D, Rockwell P. Trigger Points: Diagnosis and Management. Am Fam Physician 2002;65:653-60 - Gerwin R. A Review of myofascial pain and fibromyalgia- factors that promote their persistence. Acupuncture in medicine 2005;23(3): 121-134 - White A, Cummings M, Filshie J. An Introduction to Western Medical Acupuncture. 2008, Churchill Livingstone Elsevier Rebelo Silva Maria , Almeida Matos Ana, Alves Teixeira Maria, Miguel Gomes Filipa, Pinto Duarte Alexandra, Rebelo Correia Isabel, Rebelo Silva Maria, Coelho Filipe Eduardo Figura 2 Pontos de acupunctura usados e músculos envolvidos Figura 3 Sessão de acupunctura (foto autorizada) CASO CLÍNICO Mulher de 65 anos, com quadro de dor localizada no bordo radial do punho esquerdo e compartimento externo da mão, com 2 meses de evolução, com diagnóstico ecográfico de tenossinovite de Quervain (TQ). Por não apresentar melhoria com anti-inflamatórios não esteróides (AINEs) e fisioterapia, foi reavaliada. O exame objectivo revelou uma tumefacção do bordo radial do punho esquerdo, com extensão activa do polegar indolor e teste de Finkelstein negativo. A avaliação muscular revelou PG nos músculos braquio-radial e extensores radiais do carpo, tendo sido diagnosticado um Síndrome Miosfascial destes músculos (Fig. 1) . Perante este quadro clínico, suspendeu-se a terapêutica instituída, aconselhou-se a evicção de esforços/pesos e efectuou-se um protocolo de tratamento baseado na acupunctura médica contemporânea, com o objectivo de melhorar a disfunção muscular local e desactivar os pontos gatilho (Fig. 2) . Realizaram-se cinco sessões com electroestimulação com frequência de 2/80Hz, duração 30 minutos e periodicidade semanal, usando pontos de acupunctura para tratamento local (músculos braquioradial e extensores radiais do carpo), segmentar (trajecto do nervo radial) e extra-segmentar (efeitos sistémicos) (Fig. 3) . Ao longo das várias sessões, a doente foi evidenciando melhoria clínica, mantendo-se assintomática oito meses após o último tratamento, sem necessidade de terapêutica farmacológica. LU6 LI11 LI10 LI12 LI4

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ACUPUNCTURA NA ABORDAGEM DE UM SÍNDROME

DE DOR MIOFASCIAL

INTRODUÇÃOAs síndromes miofasciais nem sempre são tidas em conta no diagnóstico diferencial da dor de origem músculo-esquelética. Estas síndromes caracterizam-se por dor crónica causada por Pontos Gatilho (PG) dolorosos e zonas de tensão muscular, podendo desenvolver-se em qualquer parte do corpo. As mulheres de meia-idade e os indivíduos com lesões musculares prévias ou baixa tolerância ao stress constituem os principais alvos. O objectivo deste caso clínico é demonstrar a importância das síndromes miofasciais como hipótese diagnóstica na presença de sintomatologia álgica músculo-esquelética, assim como o efeito benéfi co da acupunctura no tratamento destes doentes.

CONCLUSÕESA dor ao nível do bordo radial do punho e compartimento exter-no da mão é regularmente diagnosticada como TQ. No entan-to, perante a ausência de reposta ao tratamento é fundamen-tal questionar o diagnóstico inicial e ponderar outras hipóteses diagnósticas, nomeadamente as Síndromes Miofasciais. A acu-punctura direccionada para o tratamento desta patologia apre-sentou bons resultados e permitiu a confi rmação diagnóstica.

BIBLIOGRAFIA- Alvarez D, Rockwell P. Trigger Points: Diagnosis and Management. Am Fam Physician 2002;65:653-60- Gerwin R. A Review of myofascial pain and fi bromyalgia- factors that promote their persistence. Acupuncture in medicine 2005;23(3): 121-134- White A, Cummings M, Filshie J. An Introduction to Western Medical Acupuncture. 2008, Churchill Livingstone Elsevier

Rebelo Silva Maria, Almeida Matos Ana, Alves Teixeira Maria, Miguel Gomes Filipa, Pinto Duarte Alexandra, Rebelo Correia Isabel, Rebelo Silva Maria, Coelho Filipe Eduardo

Figura 2 Pontos de acupunctura usados e músculos envolvidos

Figura 3 Sessão de acupunctura (foto autorizada)

CASO CLÍNICOMulher de 65 anos, com quadro de dor localizada no bordo radial do punho esquerdo e compartimento externo da mão, com 2 meses de evolução, com diagnóstico ecográfi co de tenossinovite de Quervain (TQ). Por não apresentar melhoria com anti-infl amatórios não esteróides (AINEs) e fi sioterapia, foi reavaliada. O exame objectivo revelou uma tumefacção do bordo radial do punho esquerdo, com extensão activa do polegar indolor e teste de Finkelstein negativo. A avaliação muscular revelou PG nos músculos braquio-radial e extensores radiais do carpo, tendo sido diagnosticado um Síndrome Miosfascial destes músculos (Fig. 1). Perante este quadro clínico, suspendeu-se a terapêutica instituída, aconselhou-se a evicção de esforços/pesos e efectuou-se um protocolo de tratamento baseado na acupunctura médica contemporânea, com o objectivo de melhorar a disfunção muscular local e desactivar os pontos gatilho (Fig. 2). Realizaram-se cinco sessões com electroestimulação com frequência de 2/80Hz, duração 30 minutos e periodicidade semanal, usando pontos de acupunctura para tratamento local (músculos braquioradial e extensores radiais do carpo), segmentar (trajecto do nervo radial) e extra-segmentar (efeitos sistémicos) (Fig. 3). Ao longo das várias sessões, a doente foi evidenciando melhoria clínica, mantendo-se assintomática oito meses após o último tratamento, sem necessidade de terapêutica farmacológica.

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Figura 1