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1 PÓS-GRADUAÇÃO EM LITERATURA MEMÓRIA CULTURAL E SOCIEDADE ADEILTON NASCIMENTO SUZANA O CORONEL E O LOBISOMEM: LITERATURA, MEMÓRIA SOCIAL E O IMAGINÁRIO CAMPISTA Campos dos Goytacazes/RJ 2007

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PÓS-GRADUAÇÃO EM LITERATURA MEMÓRIA

CULTURAL E SOCIEDADE

ADEILTON NASCIMENTO SUZANA

O CORONEL E O LOBISOMEM:

LITERATURA, MEMÓRIA SOCIAL E O IMAGINÁRIO CAMPISTA

Campos dos Goytacazes/RJ

2007

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ADEILTON NASCIMENTO SUZANA

O CORONEL E O LOBISOMEM:

LITERATURA, MEMÓRIA SOCIAL E O IMAGINÁRIO CAMPISTA

Monografia apresentada ao Centro Federal de

Educação Tecnológica de Campos como requisito

parcial para conclusão do Curso de Pós-Graduação

em Literatura, Memória Cultural e Sociedade.

Orientadora: Prof. Dra. Vania Cristina Alexandrino Bernardo

Campos dos Goytacazes/RJ

2007

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Suzana, Adeilton Nascimento.

O coronel e o Lobisomem: Memória Social e o

Imaginário Campista / Adeilton Nascimento Suzana /

Campos dos Goytacazes/RJ [s.n.], 2007.

37f.: 30cm

Monografia (Pós-Graduação em Literatura,

Memória Cultural e Sociedade) – Centro Federal de

Educação Tecnológica, Campos dos Goytacazes/ RJ,

2007.Bibliografia: f. 34-36

1. Literatura. 2. Memória Social. 3. Imaginário. I.Título.

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ADEILTON NASCIMENTO SUZANA

O CORONEL E O LOBISOMEM:

LITERATURA, MEMÓRIA SOCIAL E O IMAGINÁRIO CAMPISTA

Monografia apresentada ao Centro Federal de

Educação Tecnológica de Campos como requisito

parcial para conclusão do Curso de Pós-Graduação

em Literatura, Memória Cultural e Sociedade.

Aprovada em 11 de janeiro de 2008

BANCA AVALIADORA:

______________________________________________________________________

Profª Vania Cristina Alexandrino Bernardo (orientadora)

Doutora em Literatura Comparada - UFF

Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos

______________________________________________________________________

Profª Edinalda Maria Almeida da Silva

Mestra em Comunicação e Cultura – UFRJ / FAFIC

Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos

_____________________________________________________________________________________

Profº SynthioVieira de Almeida

Mestre em Sociologia - IUPERJ

Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos

Campos dos Goytacazes/RJ

2007

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Agradecimentos

Em primeiro lugar a Deus, o Autor da vida e o Guardião de todas as memórias e lembranças

minhas.

À minha família, minha esposa Juliana que foi parte integrante deste trabalho incentivando-

me a continuar e não desistir dos meus sonhos, sendo também a minha auxiliadora na

correção da monografia. Meu muito obrigado e minha admiração por ser quem você é, pois

sem a sua compreensão eu não continuaria. Amo muito vocês duas (Juliana e Ana Julia, nossa

filha).

Aos meus pais, dos quais eu jamais poderei me esquecer. Não terei nunca como recompensá-

los, pois sendo a jornada do conhecimento longa para mim, foram eles que me incentivaram e

ainda me incentivam até hoje, vibrando e aguardando o meu próximo passo. Obrigado a

vocês por tudo.

Gostaria de agradecer aos professores que fizeram parte da minha história e fazem parte da

minha lembrança, em especial à Professora Vania Bernardo que me orientou e me ajudou,

compreendendo-me e corrigindo.

Agradeço ao Cefet Campos e a todos os professores da Pós-graduação e, em especial, àqueles

que entenderam a minha dificuldade muitas vezes em estar presente. Muito obrigado, pois nas

minhas lembranças e nas minhas falas vocês estarão sempre presentes.

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Nunca vi disco voador, nunca vi lobisomem (apesar de ser especialista e ter escrito sobre

lobisomem, nunca vi). Mas tenho certeza de que há lobisomem. Tenho notícia de que um

coletor federal em Campos era lobisomem. Ele desencantou anos depois, mas tenho certeza de

que era um lobisomem. Essa paisagem teve muita influência sobre minha vida. As lendas,

aquela vastidão, aquela solidão dos Campos dos Goitacazes, aquilo me marcou muito.

José Cândido de Carvalho

Só consigo escrever assim. No dia em que a fonte secar, paro de escrever. Aí não fará mais

sentido escrever sobre coisas que estão longe da minha vida, de minhas inquietações, da

minha memória.

Milton Hatoum

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Resumo

Este trabalho propõe uma discussão da obra O coronel e o lobisomem, num viés das

contribuições que a literatura traz para o estudo da sociedade da época, a partir da memória

individual e social local extraída do livro e para o estudo do imaginário campista, que vai

além das fronteiras do homem local. Discute-se o enquadramento da memória individual

dentro de uma memória coletiva, tendo como referencial teórico principal Maurice

Halbwachs. As histórias ficcionais do “Coronel Ponciano de Azeredo”, no Norte-Fluminense,

são tomadas como paradigma para se analisar como o imaginário atua no processo de

cognição de novas realidades e como essas realidades faziam parte da visão de mundo do

povo campista, e quais as maneiras de pensar que eles assumem diante dela. Delimita-se a

periodicidade do trabalho, num contexto histórico-social, que é permeado por conceitos, como

o mandonismo, o coronelismo e o clientelismo que marcam a sociedade da época em que se

desenvolve o romance O coronel e o lobisomem.

Palavras-chaves: Literatura. Memória individual. Memória social. Imaginário. Coronelismo.

Campos dos Goytacazes

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Abstract

This work proposes a discussion of the literary work O coronel e o lobisomem, from the

perspective of literary contributions that this literary work brings to the study of the society of

the time, through the individual and social memory, extracted from the book and for purpose

of the study of the imaginary of the Campos city, imaginary because it goes beyond the

borders of the local man . The framing of the individual memory within the collective

memory is discussed, having as the main reference, theoretician Maurice Halbwachs. The

fictional texts of Coronel Ponciano de Azeredo, in the North-Fluminense, are taken as a

paradigm to analyze how the imaginary acts in the process of cognition of new realities and

how these realities were part of the vision of the world of the local people, and the ways of

thinking that they assume. Delimiting it to the period of the literary work in a historical-social

context, which is permeated by concepts such as “mandonismo”, “coronelismo” and

“clientelismo” that mark the society of the time in which the literary work O coronel e o

lobisomem was developed.

KEY WORDS: Literature. Individual memory. Social memory. Imaginary. Coronelismo.

Campos dos Goytacazes

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 9

1 MEMÓRIA: A LIGAÇÃO DO INDIVIDUAL AO COLETIVO OU SOCIAL ................ 10

2 LITERATURA E MEMÓRIA SOCIAL: DISCURSOS QUE SE IMBRICAM................. 15

3 O CORONEL E O CORONELISMO: A O OBRA E O CONTEXTO HISTÓRICO........ 21

4 A OBRA E O IMAGINÁRIO CAMPISTA........................................................................ 26

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 32

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 34

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INTRODUÇÃO

O que extrair de uma obra tão aclamada pela critica literária como O coronel e o

lobisomem de José Cândido de Carvalho?

O que o presente trabalho busca é discutir algumas idéias em torno da memória

individual /coletiva, o papel da literatura como fonte histórica, isto é, fonte documental e a sua

conexão com o imaginário. As especificidades dos assuntos se enquadrarão dentro da região

Norte-Fluminense, uma vez que o livro trabalha o seu enredo na mesma, especificamente a

cidade de Campos dos Goytacazes e os seus arredores como Sobradinho e Santo Amaro, onde

o povo campista será o foco de estudo em questão, numa temporalidade histórica que vai do

início do século XX até meados do mesmo. A região Norte-Fluminense, bem como a maior

parte do Brasil, vive ainda num momento histórico peculiar como o mandonismo, e o

coronelismo.

O livro O coronel e o lobisomem de José Cândido de Carvalho é motivo de muitos

trabalhos acadêmicos, dissertações de mestrado e teses de doutorado. Aliado a isto, há um

interesse próprio em discutir um trabalho tão aclamado e legitimado pela crítica literária e que

muitas vezes parece ser um romance desconhecido ou pouco valorizado na sociedade

campista atual. “O ambiente em que o romance desenvolve-se é o ambiente do autor, o

romance é a representação que a sociedade faz de si própria” (BACCEGA, 1995). Este

entrelaçamento da ficção e o real é o suficiente para analisar a memória, o imaginário e a

história presente na literatura de José Cândido de Carvalho. Da memória individual

(memórias de José Cândido) e da memória coletiva fazemos uma leitura da sociedade da

época.

A divisão do trabalho terá, num primeiro momento, uma discussão da memória e suas

implicações (individual/coletiva ou social), tendo em vista os pressupostos teóricos de

Maurice Halbwachs (1990), Michael Pollak (1989), Henri Bergson (1999) e Jacques Le Goff

(2003), basicamente.

A segunda parte estabelecerá a relação das obras literárias com o contexto histórico, a

literatura como fonte documental sob o ponto de vista teórico de Maria Aparecida Baccega

(1995) e Domício Proença Filho (1997).

A terceira parte tratará do contexto histórico em que a obra é desenvolvida e na quarta

e última parte, será feito um resumo da obra e uma análise sobre o imaginário campista. As

discussões teóricas servirão como base para análise da obra, todavia não perdendo de vista as

aproximações e os distanciamentos nos discursos da história e da literatura.

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1. MEMÓRIA: A LIGAÇÃO DO INDIVIDUAL AO COLETIVO OU SOCIAL

“No trem, em canto sozinho, chamei o morto às falas, coisa que não fazia nunca”

(CARVALHO, 1989, p.15). Essa é uma das partes iniciais do livro, onde o jovem Ponciano

de Azeredo Furtado traz à memória as lembranças do seu avô já falecido. A enunciação

contida na obra nos remete à reflexão de que toda enunciação é socialmente dirigida, mesmo

nos casos em que não se trate de uma informação factual, mas da expressão de uma

necessidade. Qualquer palavra se compõe de duas faces: é determinada não apenas pelo fato

de proceder de alguém, mas também por se dirigir ao outro. A enunciação é um acontecimento

que necessariamente pressupõe não apenas a mobilização dos protagonistas da interação da

linguagem, mas também uma ancoragem espacial e temporal. Além de supor a presença de um locutor

e de um alocutário, ela pressupõe o espaço e o tempo em que os interactantes estão inseridos

(BENVENISTE apud Guerra, 2005, p.2).

De acordo com a mitologia grega, Mnemosine é a deusa da memória (LE GOFF,

2003). A deusa da memória é, usualmente, representada como uma mulher que segura o

queixo em atitude meditativa, tendo os cabelos ornados por pérolas e pedrarias. As percepções

do protagonista da história (O coronel Ponciano) são conduzidas por um processo

mnemônico, em que as idas e vindas nas suas lembranças mantém viva as suas histórias.

Logo que pensamos ou falamos sobre memória, muitos temas são envolvidos ou

queremos dizer muito mais do que foi revelado. Ao falar deste assunto, pensamos na

diversidade cognitiva e afetiva que implica, enquanto conceito, procedimento. E, mais,

estamos em geral com muita insistência, quase tratando de uma espécie de mania, ao

considerar as políticas da memória.

O conceito de memória tem sido muito discutido, numa espécie de obsessão ou

modismo. Sejam quais forem as motivações, é interessante notar que muitos dos nossos

interesses pela memória como assunto de discussão devem-se ao medo que sentimos da

amnésia, a incapacidade de conectar, de alguma maneira, o passado e o presente. Além disso,

as referências habituais de que dispõem os indivíduos para a construção identitária – família,

sindicato, religião, partido, nação, entre outras – foram seriamente abaladas no bojo das

transformações do século XX. O que se vê hoje é uma forte crise ligada à perda das

identidades. É o que acontece com o personagem coronel Ponciano quando vai do campo para

cidade num deslocamento de identidade, o que lhe trouxe um sentimento de não

pertencimento e que foi externado, nas páginas finais do livro, em que o coronel está

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regressando às origens, isto é, ao campo: “POR CAUSA DE TAXAS e dízimos fui obrigado a

voltar ao sobradinho. Já não era sem tempo. As educações da cidade já não comportavam

mais o coronel do mato que eu era.” (CARVALHO, 1989, p.289)

A busca pelas lembranças é um fato presente em todas as sociedades, qualquer que

seja ela, com ou sem escrita, cuja tentativa é manter viva a identidade do indivíduo e do

grupo, conforme afirma Le Goff (2003). A importância da memória constitui um fator

essencial na construção do indivíduo e conservação do grupo: “A memória é um elemento

essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das

atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na angústia.” (

Idem, p.476).

Segundo Pollak : “ A priori, a memória parece ser um fenômeno individual”

(POLLAK, 1992, p.202). Já Halbwachs (1990) assinalou que a memória deve ser entendida

também como coletiva e social.

Tanto a memória individual como a coletiva possuem elementos que as constituem e

como tais são relacionados por Pollak como pessoais ou coletivos:

Quais são os elementos constitutivos da memória, individual ou coletiva?

Em primeiro lugar, são os acontecimentos vividos pessoalmente. Em

segundo lugar, são os acontecimentos que eu chamaria de “vividos por

tabela”, ou seja, vividos pelo grupo ou pela coletividade à qual a pessoa se

sente pertencer (POLLAK, 1992, p.202).

Considerando as teorias de Maurice Halbwachs (1990), a memória é produzida

socialmente. Ora, o conceito sociológico de memória coletiva, forjado dentro de uma

perspectiva positivista, rompe com os psicologismos, abrindo novas perspectivas de análise

histórica. Convém lembrar que nos estudos de Maurice Halbwachs (1990), a memória não é

só um fenômeno de interiorização individual, ela é, também e, sobretudo, uma construção

social e um fenômeno coletivo. Sendo uma construção social, a memória é, em parte,

modelada pela família e pelos grupos sociais. Vale dizer, a memória individual se estrutura e

se insere na memória coletiva. Halbwachs parte, então, de uma oposição entre o universo da

memória (situada em termos da experiência vivida, da imagem, do afeto, etc) e o da história

(situada em termos de uma crítica, de um problema, de conceitos). A formulação de tal

dicotomia permitiu a demonstração dos mecanismos da constituição de uma memória

coletiva, ou seja, ela mostrou as modalidades do seu enraizamento e da sua ligação a

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comunidades concretas. Segundo esse autor, a existência é resultado de persistência, de

perseverança e a única forma de persistir é através da memória. E, desse modo, a memória é

uma construção social e, ao recordarmos, acolhemos a matéria de um passado produzido e

mantido socialmente. A memória social, portanto, é mais do que uma conquista social, ela

desempenha um papel constituinte para a manutenção da existência e também como um

instrumento de poder que assegura esta existência.

Dentro dessa perspectiva, lembramos Le Goff, que faz o seguinte enunciado: “Mas a

memória coletiva é não somente uma conquista é também um instrumento e um objeto de

poder”. (2003, p.476)

Nas teorias de Halbwachs e Bergson, encontraremos enunciados contraditórios. No

ponto de vista deste último, a memória deve ser vista como uma ponte que permite a

recuperação do passado. Por meio dela, o indivíduo poderia reproduzir formas de

comportamento. O passado seria conservado intacto e atuaria de um modo diverso no

presente. Henri Bergson (1999) fala da sobrevivência do passado de maneira que a

conservação do mesmo ocorre conforme a sua formulação hipotética. “O passado sobrevive

sob duas formas distintas: 1) em mecanismos motores; 2) em lembranças independentes”

(1999, p.84).

Para o pensamento bergsoniano, o passado se conserva inteiro e independente do

espírito e que sua própria conservação se dá de modo inconsciente.

(...) o passado conserva-se, e além de conservar-se, atua no presente, mas

não de forma homogênea. De um lado, o corpo guarda esquemas de

comportamento de que se vale muitas vezes automaticamente na sua ação

sobre as coisas, trata-se da memória-hábito, memória dos mecanismos

motores. De outro lado, ocorrem lembranças independentes de quaisquer

hábitos: lembranças isoladas, singulares, que constituíram autênticas

ressurreições do passado. (BOSI, 1987, p.11. Grifo da autora).

Em Bergson, há a concepção da memória-hábito, adquirida pelo esforço da atenção e

repetição, e memória (imagem-lembrança), que possui caráter evocativo. Esta memória é

acessada, em situação definida e individualizada, muitas vezes independente da vontade

daquele que recorda.

Bosi comentando sobre esse conceito de Henri Bergson diz: “(...) a memória é, para o

filósofo da intuição, uma força espiritual e que se opõe à substância material, seu limite e

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obstáculo. A matéria seria, na verdade, a única fronteira que o espírito pode conhecer. A

matéria levaria ao esquecimento.” (1987, p. 16).

Para esta autora, falta em Bergson dar tratamento à memória como um fenômeno

social, característica que certamente não escapa às análises de Halbwachs (1990). Ao analisar

novamente a obra deste sociólogo, pode-se notar que para ele a memória do indivíduo está

relacionada com a família, a classe social à qual pertence, a escola, a igreja, a profissão, enfim

com os grupos de convívio.

Halbwachs diz que lembrar não é trazer o passado intacto, sem sofrer alterações, mas é

revivê-lo, reconstruí-lo, repensando-o com imagens e idéia do tempo presente. E é um

trabalho que não se efetua no plano individual somente, ou seja, independente dos outros.

Segundo Halbwachs,

(...) nossas lembranças permanecem coletivas, e elas nos são lembradas

pelos outros, mesmo que se trate de acontecimentos nos quais só nós

estivemos envolvidos, e com objetos que só nós vimos. É porque, em

realidade, nunca estamos sós. Não é necessário que outros homens estejam

lá, que se distingam materialmente de nós: porque temos sempre conosco e

em nós uma quantidade de pessoas que não se confundem. (1990, p.26)

E prossegue refletindo sobre os aspectos sociais da memória:

(...) nosso passado compreende duas espécies de elementos: aqueles que nos

são possíveis evocar quando queremos: e aqueles que, ao contrário, se bem

que, logo que os procuramos no passado, parece que nossa vontade tropeça

num obstáculo. Na realidade, dos primeiros podemos dizer que estão dentro

do domínio comum, no sentido em que o que nos é assim família ou

facilmente acessível, o é igualmente aos outros. A idéia que representamos

mais facilmente composta de elementos tão pessoais e particulares quanto o

quisermos, é a idéia que os outros fazem de nós, e os acontecimentos de

nossa vida que estão sempre mais gravados na memória dos grupos mais

chegados a nós.(...) as lembranças que nos são mais difíceis de evocar são

aquelas que não concernem a não ser a nós, que constituem nosso bem mais

exclusivo, como se elas não pudessem escapar aos outros, senão na condição

de escapar também a nós próprios. (Idem, p.51)

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Assim, é-nos apresentada pelo sociólogo a idéia de que se existe a memória individual,

ela encontra-se alojada em algum lugar de difícil acesso e que as lembranças trazidas pelos

indivíduos são lembranças comuns, daí a memória coletiva.

Ainda segundo Halbwachs (Idem, p.51), “(...) cada memória individual é um ponto de

vista sobre a memória coletiva(...)” e dessa maneira, portanto, o passado que a memória

recupera e (re)vive é uma construção social.

Reafirmando a teoria de Maurice Halbwachs sobre a seletividade da memória e o

processo de negociação das memórias coletivas e individuais, segue Michael Pollak

afirmando :

Para que nossa memória se beneficie da dos outros, não basta que eles nos

tragam seus testemunhos: é preciso também que ela não tenha deixado de

concordar com suas memórias e que haja suficientes pontos de contato entre

ela e as outras para que a lembrança que os outros nos trazem possa ser

reconstruída sobre uma base comum. (1989, p.3)

A relação entre memória individual e coletiva é intensa e visceral, mas tendo suas

âncoras e plataformas firmadas num ponto, que é o da negociação para a formação e

manutenção da identidade do indivíduo enquanto ser social. No bojo da formação da

identidade do indivíduo, bem como na formação do grupo ao qual ele pertence, encontramos a

formação cultural do grupo, seus compartilhamentos e suas diferenciações. A tessitura do

grupo e a sua convivência são os elementos que envolvem todo aspecto cultural do mesmo.

Incluímos, nessas circunstâncias, as criações humanas, neste caso as literárias, isto porque

uma vez sendo criação, quer seja ficção ou não, é proveniente de um criador enquadrado no

seu ambiente cultural, na sua geo-história, na sua temporalidade e sobretudo nas suas

memórias. Assim, o é José Cândido de Carvalho, doravante JCC, na fala do coronel

Ponciano.

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2. LITERATURA E MEMÓRIA SOCIAL: DISCURSOS QUE SE IMBRICAM

O texto literário veicula uma forma específica de comunicação que

evidencia um uso especial do discurso, colocado a serviço da criação

artística reveladora.

Domício Proença Filho

A relação entre história e memória é intensa e visceral, como já foi dito. Segundo a

visão tradicional, essa relação seria relativamente simples, uma vez que, ao historiador caberia

o papel de “lembrador”, de “Guardião da memória”. Sua função principal seria salvar do

esquecimento os fatos e protagonistas preservando-os para a posteridade por meio do registro

escrito. No entanto, essa relação não é tão simples assim e cada vez mais é percebida pelos

pesquisadores de forma problemática. Uma vez que esse tema envolve objetivo e fundamento

do próprio trabalho historiográfico, muitos pesquisadores debruçam-se sobre ele (como Le

Goff, Pierre Nora e Maurice Halbwachs) concluindo que a memória não pode ser interpretada

apenas como um processo de lembrar fatos passados, ela é uma construção de referenciais

sobre o passado dos diferentes grupos sociais que são influenciados pelas mudanças culturais.

A memória é aberta à dialética da lembrança e do esquecimento, sendo assim seletiva.

É por meio da memória que os sujeitos do processo histórico buscam salvaguardar o passado.

Se no discurso da historiografia, encontramos o importante papel da memória como

resgatador; no discurso literário, segundo Baccega (1995), encontramos as marcas do

indivíduo/sujeito, ainda que na constituição da obra literária, que é arte, haja uma

preocupação com a condição da consciência estética.

Para Proença (1997, p.29) “A literatura é uma forma de linguagem que tem uma

língua como suporte”. O mesmo autor ainda delimita os papéis desempenhados pela língua e

pela literatura. Para ele:

A língua, enquanto concretização da linguagem da comunidade se restringe

às simples representações de fatos ou situações particulares, observados ou

inventados. A literatura se configura quando, ao tratar desses fatos ou

situações, dimensiona-lhes elementos universais, na direção da natureza

essencial dos mesmos (Op. Cit, p.29).

Na obra de Baccega (1995), é explicitada a relação dos discursos históricos e os

literários. Não discutiremos a questão do discurso no presente trabalho, mas para a autora é no

discurso literário, ou seja, na produção literária, que encontramos o “domínio das formações

discursivas da ficção presentes naquela sociedade”. Ainda conforme a autora, apesar de o

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discurso histórico se diferenciar do discurso literário, no que é concernente à consciência

estética, podemos observar que mesmo havendo uma preocupação com a estética no discurso

literário, o mesmo é resultado do conhecimento, ainda que este conhecimento seja

embelezado ao ser externado. A produção literária não será uma espécie de espelhamento

social, mas carregará em si marcas ideológicas.

Conforme o enunciado de Baccega sobre o discurso literário, há uma multiforme

possibilidade de enfoque no discurso:

Também o discurso literário resulta do processo de conhecimento, mediado

pela linguagem verbal. Como sabemos o resultado desse conhecimento

nunca será exatamente o objeto ou ação existente na realidade. Não há puro

reflexo, não há a cópia fotográfica. O mesmo objeto do conhecimento, a

mesma realidade poderá apresentar-se de modos diversos, para

indivíduos/sujeitos diferentes, de acordo com condicionamentos sociais de

cada um, de acordo com seus sistemas de referências. (1995, p.73)

No livro O coronel e o lobisomem, estão refletidos vários discursos, que funcionam

como uma visão de mundo do autor. As palavras dele mesmo e aquelas novas que são

acrescentadas, no léxico do autor, carregam a visão de mundo dele, suas lembranças, suas

memórias e as memórias dos outros, por meio dos enunciados: “Quando o indivíduo/sujeito

vai construir o discurso literário ele toma as palavras não de um abstrato ‘sistema lingüístico’,

mas de outros enunciados presentes na sociedade.” (BACCEGA, 1995, p.75)

Ainda segundo Maria Aparecida Baccega e corroborando para o que foi afirmado

acima sobre o enquadramento do discurso literário na visão de mundo do autor, “o discurso

literário pode ser visto como a apresentação, através da palavra, de um pensamento, de uma

‘visão de mundo’ do autor”. (Op. Cit., p. 75).

Os episódios que aparecem no romance são centrados no narrador/protagonista. Por

ser narrado em primeira pessoa, há uma expressividade predominante do EU, que se torna

evidente logo nas primeiras linhas da obra, em que fica delineada a qualificação de Ponciano

para o desempenho das funções de narrador e protagonista: “A bem dizer, sou Ponciano de

Azeredo Furtado, coronel de patente, do que tenho honra e faço virtude. Herdei de meu avô

Simeão terras de muitas medidas, gado do mais gordo, pasto do mais fino” (CARVALHO,

1989, p.3- Grifos nossos).

Os acontecimentos, retratados de forma linear, obedecem à cronologia das ações, por

isso os eventos são narrados conforme se sucedem na vida de Ponciano. E com certa

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freqüência, ele refere-se a si mesmo não com a primeira pessoa do singular, mas com a

terceira. Para isso, utiliza o próprio nome no lugar do EU, numa tentativa de objetividade e de

distanciamento do discurso.

Em presença de tal apelação, mais brabento apareceu a peste. Ciscava o

chão de soltar terra e macega no longe de dez braças ou mais. Era trabalho

de gelar qualquer cristão que não levasse o nome de Ponciano de Azeredo

Furtado. Dos olhos do lobisomem, pingava labareda, em risco de contaminar

de fogo o verbal adjacente (Op. Cit., p.179- Grifo nosso).

Em O coronel e o lobisomem, podemos observar os discursos que permeiam a obra de

maneira que no uso de uma pessoa com o valor de outra produz não apenas certas

possibilidades de ruptura, mas ainda novos sentidos nesse discurso literário. Ao utilizar a

terceira pessoa no lugar de outra, objetiva-se o discurso, esvazia-se a pessoa, enfatiza-se o

papel social em detrimento da individualidade.

Como já dissemos, Ponciano, ao referir-se a si mesmo pelo nome, usa uma terceira

pessoa com o valor de primeira. Outras vezes, ele utiliza seu sobrenome com valor de

primeira pessoa do singular: “Compareci à presença de Dona Esmeraldina para lavar a

testada. Eu afianço que pagou a pena ficar encaxumbado. A mulher de Nogueira, quase botou

este Azeredo Furtado no colo” (Op. Cit., p.237- Grifo nosso).

Podemos verificar que o sujeito não é apenas enunciativo, mas também social: ele

instaura e diz o mundo. Entretanto, apesar de as fragilidades do coronel estarem nitidamente

registradas no texto, ao final de cada episódio, o efeito de sentido instaurado é o de coragem,

o que salvaguarda a aparência do homem forte do campo. Na manipulação do relato em

primeira pessoa, constantemente, o narrador desenvolve certos desdobramentos, que lhe

proporcionam certa liberdade para descrever as ocorrências por um ângulo que não seria

possível numa visão restrita à primeira pessoa. Por meio das formas substantivadas que

designam seu nome/sobrenome, Ponciano ressalta seu papel social. Nesse tipo de

neutralização, ocorre ainda o emprego de outros substantivos com valor de EU. Tais

ocorrências podem indicar, por exemplo, graus de parentesco:

Mas foi o pai saber que o neto de Simeão estava na praça, para arrumar

ligeirinho o baú e esconder a donzelice de dona Branca no fundo do sertão

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restinguento. (...) Ponderei no mesmo ar brincalhão: - Ora, Dona Alvarina,

quem é que vai querer um solteirão como este seu compadre? (Op. Cit., p.8-

71- Grifos nossos).

Nesses exemplos, Ponciano, ao apresentar seu papel social como herdeiro abastado

dos Azeredos Furtados e utilizar a auto-representação, deixa evidente o seu parentesco

consangüíneo na condição de herdeiro por meio do referente “o neto de Simeão”. Essa

linhagem também é confirmada por meio do emprego de outros referentes, “o seu parente” e

“este seu primo”, que marcam o referido parentesco. Há outras referências que indicam

parentesco como resultado de um acordo social. Elas referem-se também ao papel social que

Ponciano assume ao apadrinhar o filho recém-nascido de Quintanilha, com quem passa a

estabelecer uma espécie de laço familiar. Ponciano sempre traz à memória daqueles que estão

ao seu redor, a sua linhagem, a sua patente, ou seja, a sua identidade que lhe confere uma

distinção dos demais que estão à sua volta.

No fragmento, a seguir, Ponciano representa a si mesmo pelo emprego dos referentes

de “alferes”, “o capitão” e “o coronel”, nessa ordem. Convém dizer que este é o papel que

Ponciano mais gosta de representar, em toda a obra, em que ele é sempre “o coronel”, aquele

que se apresenta como um ser superior aos demais:

Dito isso, já largava o assunto quando, de uma cadeira, vi aquela bengala

crescer e atrás dela um velhote munido da necessária licença para que o

alferes desagravasse o povo presente (p.12). Ele não conhecia o capitão. Do

que eu mais apreciava e fazia alarde era da convivência com os rabos-de-

saia dos palcos (...) (Op. Cit., p.15- Grifos nossos).

A escolha de determinada descrição definida traz ao leitor informações importantes

sobre as opiniões, crenças e atitudes do produtor do texto, auxiliando-o na construção do

sentido, isto é, na construção do espaço histórico temporal em que o autor define por meio dos

personagens do texto. Isso pode ser verificado, nos exemplos articulados, em que a descrição

definida tem o objetivo de dar a conhecer ao interlocutor a trajetória de vida do coronel,

sempre às voltas com os mais diferentes problemas. Para isso, o discurso literário utiliza

expressões nominais, também empregadas por um grau explícito de superioridade em

construções com “substantivos + desinências de aumentativo”, de forma a enaltecer a imagem

do coronel, até então mais ligada à força física, como nos vários casos retratados no livro.

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Fui receber Dona Esmeraldina no começo da escada e até ajudei seu pezinho

de palma a vencer o último degrau. Só de gozar aquele riso de covinha no

rosto fiquei mudado. Nem parecia o coronelão desmontador de móveis e

utensílios. (Op. Cit.., p.259 a 260).

A auto-referenciação, realizada por meio de referentes como “a barba do coronel, a

patente de um coronel e o charuto de Ponciano”, enfatiza atributos com os quais Ponciano

identifica sua personalidade: a barba, que lhe confere a imagem de homem másculo; a patente

que lhe garante a autoridade de militar; e o charuto, que confirma seu status social.

A Literatura, ainda como fonte documental, isto é, fonte de memória social, já tem

sido trabalhada por diversos historiadores e pesquisadores de outras áreas do conhecimento,

como a Educação a Psicologia e tantos outros tipos de conhecimento que têm lançado o olhar

criterioso sobre as obras literárias.

Jacques Le Goff afirmava a necessidade de que os estudos históricos se interessassem

pelo homem cotidiano e apontava como indicativo desta tendência o crescente interesse pelo

nível dos costumes. Sua orientação indica: “a necessidade de desenvolver os métodos de uma

história a partir de textos até então desprezados – textos literários ou de arquivos que atestem

humildes realidades cotidianas – os ‘etnotextos’.” (LE GOFF, 1993, p.46).

As fontes literárias assumem assim interesse e importância neste contexto, porque

“como uma destas fontes, a literatura torna-se um fértil campo de pesquisa para a ampliação

da compreensão crítico-social da historiografia educacional.” (SOUZA, 1999, p.181).

A escola francesa do início do século XX, conhecida com A Escola dos Annales, que

tem como seus primeiros precursores Lucien Febvre e Marc Bloch, estreitou as relações entre

História e Literatura, entre memória social e discurso literário. O livro de José Cândido de

Carvalho, enquanto obra literária, captura de forma singular um recorte do que foi a sociedade

campista do início do século, desde a organização, passando por parte da história local e

nacional, indo até nos limites fronteiriços do imaginário campista. O que sustenta os

discursos, presentes no livro, dos seus vários personagens e os vários enunciados são os

lugares da memória social, reservada desde o início da obra na primeira apresentação do

personagem principal no livro, em que o mesmo identifica a sua linhagem e o seu lugar na

sociedade:“A bem dizer, sou Ponciano de Azeredo Furtado, coronel de patente, do que tenho

honra e faço alarde”(CARVALHO, 1989, p.3).

A partir desse novo conceito de fonte documental, a ficção de José Cândido pode e nos

fornece material de pesquisa adequado para o resgate da memória social do Norte-

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Fluminense. Conforme Barthes (1999), romance e história tiveram relações muito estreitas, e

este estreitamento se estende através da linguagem utilizada pelo autor, que reflete o seu

entorno social, a sua ideologia e as marcas históricas do momento vivido. Sendo a literatura

uma produção cultural (PROENÇA, 1997), o autor JCC retira do mundo ao seu redor, isto é,

não somente do momento presente, mas das suas memórias presentes, aquilo que lhe é

conveniente, trazendo à tona por meio da escrita literária, imagens e percepções, quer sejam

as de origens sociais, como no caso do coronelismo, mandonismo e clientelismo (termos que

serão abordados no capítulo seguinte) quer se tratem daquelas de origem psicológica que

afetam o imaginário na criação mítica de lobisomem e sereias, por exemplo.

3. O CORONEL E O CORONELISMO: A OBRA E O CONTEXTO

HISTÓRICO

O subtítulo da obra “Deixados do Oficial Superior da Guarda Nacional, Ponciano de

Azeredo Furtado, Natural da Praça de São Salvador de Campos dos Goitacazes”, já enuncia o

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contexto histórico da obra de ficção, bem como tenta demonstrar ou, pelo menos, provocar a

impressão que a partir daquele momento os fatos na obra realmente aconteceram.

O título de coronel e o poder dos coronéis remontam à criação da Guarda Nacional,

em 1831, pelo governo imperial, em substituição às milícias e ordenanças, quando fazendeiros

recebiam a patente militar para cumprir o papel de autoridade estatal nas regiões de difícil

acesso, compondo a Guarda Nacional com a finalidade de defender a constituição e a

integridade do império. Como seus quadros eram nomeados pelo governo central ou pelos

presidentes de província, o tráfico de influências e a corrupção política logo dominaram o

sistema. A patente de coronel tornou-se equivalente a um título nobiliárquico, concedida, de

preferência, aos senhores de terras, que assim adquiriam autoridade para impor a ordem sobre

o povo e os escravos. O Coronel Ponciano se enquadra dentro da ordem social vigente do

chamado coronelismo, conceito primeiramente utilizado por Vitor Nunes Leal em 1949

(1997), no clássico Coronelismo, enxada e voto, que recebeu novas edições.

Segundo Carvalho (1997), há imprecisões conceituais na utilização de termos como

coronelismo, mandonismo e clientelismo da obra de Leal de 1949. O coronelismo, segundo

Carvalho, configura-se como:

(...) um sistema político nacional, baseado em barganhas entre o governo e

os coronéis. O governo estadual garante, para baixo, o poder do coronel

sobre seus dependentes e seus rivais, sobretudo cedendo-lhe o controle dos

cargos públicos, desde o delegado de polícia até a professora primária. O

coronel hipoteca seu apoio ao governo, sobretudo na forma de votos. Para

cima, os governadores dão seu apoio ao presidente da República em troca do

reconhecimento deste de seu domínio no estado. O coronelismo é fase de

processo mais longo de relacionamento entre os fazendeiros e o governo.

(Ibdem, p.2)

Ainda segundo Carvalho (2001), o poder dos coronéis teve início no período colonial.

A partir da instalação da chamada Primeira República (1889-1930), estes coronéis

incrementaram sua estrutura de poder. Assim como o coronelismo teve um início que remonta

à formação da Guarda Nacional, pode-se estabelecer um período em que este sistema chega

ao fim. Segundo Carvalho, este período “(...) morreu simbolicamente quando se deu a prisão

dos grandes coronéis baianos, em 1930” (CARVALHO, 1997, p.2).

Na delimitação dos conceitos, surge um falso entendimento de sinonímia entre os

termos coronelismo e mandonismo. O primeiro por sua vez é um momento do mandonismo,

que seria o conceito mais próximo do caciquismo. Para Carvalho, o mandonismo:

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Refere-se à existência local de estruturas oligárquicas e personalizadas de

poder. O mandão, o potentado, o chefe, ou mesmo o coronel como

indivíduo, é aquele que, em função do controle de algum recurso

estratégico, em geral a posse da terra, exerce sobre a população um domínio

pessoal e arbitrário que a impede de ter livre acesso ao mercado e à

sociedade política. O mandonismo não é um sistema, é uma característica da

política tradicional. Existe desde o início da colonização e sobrevive ainda

hoje em regiões isoladas. A tendência é que desapareça completamente à

medida que os direitos civis e políticos alcancem todos os cidadãos. (Op.

Cit., p.3)

Outro conceito também confundido com o de coronelismo é o de clientelismo. Este se

assemelha mais ao conceito de mandonismo para Carvalho (1997). Assim como o

mandonismo segue a história política do país, o clientelismo também o faz. Com um caminho

diferente do mandonismo, o clientelismo segue o seu próprio caminho , pois na medida em

que este pode mudar de parceiros, ele pode aumentar e diminuir ao longo da história, em vez

de percorrer uma trajetória sistematicamente decrescente como o mandonismo. Para Carvalho

(Op. Cit., p.4), “Os autores que vêem coronelismo no meio urbano e em fases recentes da

história do país estão falando simplesmente de clientelismo”.

O enfraquecimento do mandonismo enquanto ferramenta de controle ocorre a partir do

momento em que à medida que os chefes políticos locais perdem a capacidade de controlar os

votos da população, eles deixam de ser parceiros interessantes para o governo, que passa a

tratar com os eleitores, transferindo para estes a relação clientelística (CARVALHO, 1997).

Se o coronelismo, enquanto sistema nacional de poder acaba em 1930, com a prisão

do governador gaúcho Flores da Cunha, isto não significa que os coronéis desapareceram

(CARVALHO, 2001), mas surge um novo tipo de coronel, “que vive da sobrevivência de traços,

práticas e valores remanescentes dos velhos tempos” (Op. Cit., p.3).

A partir dos referenciais teóricos, sobre o coronelismo, mandonismo e clientelismo, os

mesmos nortearão o entendimento da obra enquanto representação do contexto histórico

social vivido pelo coronel Ponciano. Se o antigo coronel (Simeão) morre como é visto; no

início do livro, nasce então um novo coronel, o Ponciano de Azeredo Furtado, que herda a

patente do avô, perpetuando, desta forma, o poder local das famílias, neste caso, no

Sobradinho, lugar que se localizava, nos arredores de Campos dos Goytacazes, onde os

Poncianos exerciam influência. Sendo assim, traçar um paralelo da obra, que é um romance

com forte apelo, no contexto social, não é simplesmente dizer que o enredo se desenrola na

região de Campos dos Goytacazes, no Norte-Fluminense, e definir a temporalidade da obra

em meados do século XX, quando a cultura do açúcar predominava, mas perceber as marcas

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de um coronel, mesmo que de maneira cômica, como faz o JCC, que é denunciador do

sistema em que o Ponciano se desloca. Ali, a sociedade era constituída por uma justaposição

de linhagens, parentelas, sob o mando de um chefe (o coronel), consideradas como pirâmides

social e economicamente autônomas e, ao mesmo tempo, como unidades de conjuntos mais

amplos, formadas por alianças de casamentos entre seus membros, transformando os coronéis

de maior prestígio em chefes de clãs, como no caso de Sobradinho estendendo até mesmo aos

arredores da localidade.

Mas a obra sendo uma criação artística da literatura carrega em si a conotação, que

implica um universo cultural, sendo, portanto, possível partirmos do texto para o social,

observando, no texto literário, que, no caso do nosso objeto de pesquisa, é a obra de JCC O

coronel e o lobisomem. Consideremos o conceito de Proença (1997) para o caráter conotativo

da linguagem que caracteriza a obra literária. Segundo o autor, pela conotação, poderíamos

partir do texto para o social, uma vez que o texto literário envolve dimensões históricas e

ideológicas. Em O coronel e o lobisomem, podemos perceber e analisar dados que nos

remetem às dimensões históricas e ideológicas que acompanham a obra.

A primeira edição da obra de JCC foi em 1964, quando no dia 31 de março do mesmo

ano, o presidente João Goulart foi deposto por um movimento político-militar que levou o

general Humberto Castelo Branco ao poder. A obra poderia ser considerada subversiva com

relação à ordem que naquele momento foi instaurada no Brasil, a ditadura militar, entretanto,

a “peripécia” do Coronel, ou melhor, de JCC, modelou a obra de maneira a não ser agressiva

diretamente, mas cômica ao tratar o imaginário popular com suas lendas, o que tira o foco, em

primeiro momento, das denúncias histórico-sociais, sendo a comicidade que perpassa toda a

obra o seu principal aliado.“ACABARAM MEUS DIAS de vadiagem. Tomei respeito, não só

pela herança de boi e pasto, como pela patente de coronel que em seguimento recebi”

(CARVALHO, 1989, p.16).

A figura do coronel de Sobradinho é a de alguém que toma conta de tudo e resolve o

problema de todos, desde as questões naturais como “questionações do foro”, quando o

Coronel aparecia de “charuto debruçado no beiço” como quem é a autoridade maior, ou

melhor, o de maior patente, até mesmo às questões místicas como de Lobisomem e Sereia.

Ainda sobre a figura do Coronel Ponciano, observa-se algo que lhe era muito peculiar,

a capacidade de mando, em “favorecimento” da sua patente de coronel, o que lhe torna o

mandão local ou o chefe, que se enquadra dentro da teoria de Leal (1997) como um tipo de

mandonismo que mais se aproxima de caciquismo local. Desta forma, exercia o seu poder, na

região de Sobradinho em Campos, como segue no caso da onça que assolava o lugar. É

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registrado que o Coronel Ponciano recrutava todos, que estavam debaixo de seu mando, para

a empreitada, conforme o trecho a seguir extraído da obra:

Torci a barba, já arreliado, de gênio ferido. Repeli a soberba do capitão.

Ninguém no sobradinho andava atrás de tomar confiança com ninguém nem

que fosse graúdo da política, mandão no governo...”- Diga a ele que tenho

poder para tanto. É só querer. (CARVALHO, 1989, p.56)

O historiador José Murilo de Carvalho descreve assim o mandonismo:

Da imagem simplificada do coronel como grande latifundiário isolado em

sua fazenda, senhor absoluto de gentes e coisas, emerge das novas pesquisas

um quadro mais complexo em que coexistem vários tipos de coronéis, desde

latifundiários a comerciantes, médicos e até mesmo padres. (1997, p.2)

O que JCC expõe, na pessoa do Coronel Ponciano, são características deste sistema.

Consideramos em O coronel e o Lobisomen, como autoriza Proença (1997) em relação a uma

obra literária, uma leitura das questões sociais acerca de mandos e desmandos, relações

familiares e alianças entre “coronéis” como Ponciano, o qual marca um coronelismo herdado

de seu avô, emergindo, assim, um novo tipo de coronel, logo um novo tipo de coronelismo.

Ainda sobre o coronelismo que foi um sistema de poder político que vicejou na época da

República Velha (1889-1930), caracterizado pelo enorme poder concentrado em mãos de um

poderoso do local, geralmente um grande proprietário, um dono de latifúndio, um fazendeiro

ou um senhor de engenho próspero, não só marcou a vida política e eleitoral do Brasil de

então, como fez por contribuir para a formação de um clima muito próprio, cultural, musical e

literário que fez da sua figura um participante ativo do imaginário simbólico nacional. Não só

a escrita oficial, conhecida como cientifica, mas também a escrita literária procuraram

reproduzir, em seus textos, o que era viver sob o domínio de um coronel e como suas façanhas

e seus feitos foram transmitidos ao povo.

O cenário que envolvia e promovia o coronelismo era o do mundo rural brasileiro,

dominado pelo latifúndio, pelo engenho, pela fazenda e pela estância — um universo próprio,

interiorano, bem afastado das grandes cidades, isolado do mundo. As comunicações eram

raras e difíceis, feitas por canoa, barco, balsa, carro de boi, charrete, ou na sela do cavalo,

puxando os arreios da mula ou do jerico. Na verdade, o coronel, personificação mais acabada

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do poder privado no Brasil, mandava num pequeno país do qual ele era um imperador com

poder de vida e morte sobre os seus (ainda que não reconhecido juridicamente). Os moradores

eram inteiramente obedientes a eles, poucos ousando desafiar-lhe a autoridade ou disputar-lhe

o mando, a não ser que por perto um outro coronel ousasse fazê-lo. No livro, podemos

perceber que o “coronel Ponciano” como diz o próprio “não arreda o pé para pessoa de menor

patente do que ele”, o que com clareza realça o contexto histórico do livro.

Mas, categoricamente, o coronel avança para cidade na tentativa de investir os seus

recursos em novas possibilidades que estão acontecendo na cidade, bem como auxiliar e

influenciar, na vida política, alguns dos seus mais chegados, por meio de doações de dinheiro

e prestígio próprio de coronel. Ironicamente, no capítulo 9, após a morte do major Juju

Bezerra, o coronel se desloca para a cidade, na tentativa de resolver as questões antigas de

dívidas de seu antigo amigo de patente. O coronel, ao viajar para a cidade, começa a se

envolver na vida urbana, emprestando dinheiro e investindo em açúcar, numa tentativa de

expansão da sua influência, o que sinaliza a crise instaurada do mandonismo, uma vez que a

figura do coronel está ligada à sociedade agrária.

4. A OBRA E O IMAGINÁRIO CAMPISTA

Romance escrito na primeira pessoa, conserva em primeiro plano o narrador, Coronel

Ponciano, que herdou fazendas, negociou açúcar no mercado da Bolsa, mas que, apesar de

tudo, é um tipo decadente; não em pessoa, mas porque representa uma estrutura agrária sem

saída na sua organização arcaica. A figura do avô, pecuariasta, tem as patentes da Guarda

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Nacional, titulando uma aristocracia de donos e não de usuários da terra. Morrendo, deixa a

fortuna para o neto, moço rico, que em sua pequena cidade ambientada em subserviência ao

dinheiro e ao nome, com sua mesquinhez e a sua ignorância, acaba por deixar tal riqueza

inutilizada.

A figura do coronel integra a galeria dos grandes tipos humanos da literatura nacional,

pois a crítica literária muitas vezes tem se referido a ele como um personagem que realmente

existiu. De qualquer forma, o coronel é um modelo ficcional marcado pelo estilo de José

Cândido, que se aprofunda mais na palavra, na raiz mesma do pensamento e da escrita. JCC

era filho de um ambiente cultural em que também vivera José do Patrocínio, pertencia à

cultura da cana de açúcar, embora diferente da que, no Nordeste, produzira uma literatura

também relacionada à questão canavieira. A do Norte- Fluminense, no entanto, centra-se mais

na reação do homem diante do seu ambiente e dos produtos desse ambiente.

Como narrava José Cândido?

Concordamos com o acadêmico Antônio Olinto que discorrendo sobre a obra diz:

Desde as primeiras palavras de seu romance, como dono de seu gênero. Seu

livro tem uma arquitetura própria e, junto com ela, uma qualidade que

define todo bom romancista: a concepção, o ter um padrão pelo qual sua

narrativa segue, o produzir o sentimento do pathos, isto é, aquele oculto

desespero que mora no fundo de cada ser humano. Contudo, seu livro O

coronel e o lobisomem não deixa de ser alegre, com uma utilização das

palavras como significando mais do que parecem capazes. Surrealista?

Claro, mas de um surrealismo que não se esconde que se apossa das

palavras e joga-as para o ar, funâmbulo que, por brincar com elas, domina-

as. (2004, p.1)

A linguagem de Ponciano é o próprio Ponciano. A partir de um lastro regional, José

Cândido de Carvalho empreendeu a mesma experiência de Guimarães Rosa com o jagunço

Riobaldo. E venceu com méritos iguais.

Podemos observar no livro que o Coronel Ponciano é um excêntrico, ou seja, um tipo

fora da norma, como constatamos em uma de suas falas:

A bem dizer, sou Ponciano de Azeredo Furtado, coronel de patente, do que

tenho honra e faço alarde. Herdei do meu avo Simeão terras de muitas

medidas, gado mais gordo, pasto do mais fino. Leio na corrente da vista e

até uns latins arranhei em tempos verdes da infância, com uns padres-

mestres a dez tostões por mês. Digo, modéstia de lado, que já discuti e

joguei no assoalho do Foro mais de um doutor formado. Mas disso não faço

glória, pois sou sujeito lavado de vaidade, mimoso no trato, de palavra

educada...(CARVALHO, 1989, p.3)

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O livro traz sensivelmente as questões de caráter social, como a vida no campo, sua

organização, as questões da cidade, a vida política e suas nuances. Além, dessas questões

sociais da esfera material, podemos observar que o livro é carregado de lendas e mitos, nos

remetendo a uma esfera psicológica definida, que é o trato das questões do imaginário do

povo, em acontecidos como os do Coronel Ponciano com a sereia, com o lobisomem, a

surucucu que briga até a morte com um galo, o caso do ururau (o grande jacaré). Nesses

episódios, o personagem está retratando as histórias ouvidas e contadas por tantas outras

pessoas segundo o próprio José Cândido numa entrevista transcrita por Avelino Ferreira em

que o mesmo afirma: “é um prazer que eu tenho: conversar com gente da rua. A gente

conversa com pessoas na rua, geralmente elas são muito supersticiosas, e eu também sou”.

(FERREIRA, 2004, p.121).

O discurso que segue no livro é também o discurso de dois mundos culturais, um do

campo e o outro da cidade, um dos mitos e lendas e outro das letras, do comércio e da

política. Nesta encruzilhada, entre esses dois tipos de cultura, que se ignoram mutuamente, é

o coronel — por ser aquele que vive a passagem dilacerante de um mundo a outro — o único

que se conscientiza da situação dizendo “já morreu o antigamente” ( CARVALHO, 1989, p.3)

e sente que precisa encontrar uma saída. Será uma tentativa desesperada de (re)compor sua

identidade. Assim, o romance inicia pela afirmação, em primeira pessoa: "A bem dizer, sou

Ponciano Azeredo Furtado, coronel de patente, do que tenho honra e faço alarde ". ( Idem,

p.3)

Assumir a narração em primeira pessoa é característico do discurso de afirmação

identitária. Deste modo, logo nos primeiros parágrafos, Ponciano apresenta-se ao leitor pela

patente (coronel), pela loquacidade ("faço alarde", "sou invencioneiro e linguarudo") e

também pela sua formação letrada ("leio no corrente da vista e até uns latins arranhei").

Contudo, sabe que "já morreu o antigamente em que Ponciano mandava saber nos ermos se

havia um caso de lobisomem a sanar " (Idem, p.3). Reconhece, pois, não sem uma certa

nostalgia, que o saber popular está morrendo, que o pensamento mágico está restrito aos

"ermos" (lugar sem habitantes, deserto, descampado) dos currais do Sobradinho.

“O trabalho de rememoração, da memória individual e da memória coletiva,

desenvolve-se através de 13 capítulos” (BERND, 1997) e percebe-se como que na criação do

romance a imaginação do próprio JCC é permeada por acontecimentos que estão além

daqueles que o próprio autor vivenciou. Conforme Pollak isto se dá devido ao fato de aqueles

acontecimentos terem marcado a população daquela região:

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São acontecimentos dos quais a pessoa nem sempre participou mas que, no

imaginário, tomaram tamanho relevo que no fim das contas, é quase

impossível que ela consiga saber se participou ou não. (...) podem existir

acontecimentos regionais que marcaram tanto uma região ou grupo, que sua

memória pode ser transmitida ao longo dos séculos com altíssimo grau de

identificação. (1992, p.201)

Esse imaginário do homem do campo envolto de lendas, leva-nos a pensar sobre as

questões relativas ao medo em vários aspectos como ao medo daquilo que é real. Neste ponto

pensamos nas questões da herança cultural escravista, em que o medo dos senhores era

tamanho que o capitão do mato bem como o senhor do engenho eram vistos como pessoas de

outro mundo, como alguém que um ser (escravo) sozinho não pode lidar.

No estudo sobre a inscrição do oral e do popular nos romances, Bernd (1997) diz que a

inserção da cultura oral e popular cria na obra de JCC, O coronel e o lobisomem, uma escrita

híbrida do cruzamento do popular e do erudito. E por hibridização, conforme esclarece

Canclini, entende-se a diversidade intercultural presente na obra, que lhe atribui uma

identidade tão heterogênea e diversa (APUD Bernd,1997). Ainda segundo esta autora, há em

O coronel e o lobisomem as marcas do folclore brasileiro. Ressaltamos que os mitos e as

lendas permeiam o universo campista e isto é inserido pelo autor na obra. Conforme Bernd

(1997):

(...) o fato é que as recordações do coronel são entremeadas dos mitos mais

consagrados do folclore brasileiro e universal como o da sereia, o da onça e

o do lobisomem, com a particularidade de que o narrador torna-se o herói

destas histórias inventadas a partir dos modelos populares.(1997, p. 154)

A trajetória do personagem narrador é marcada pelo contraste que se estabelece entre

os espaços por ele habitados ao longo de sua vida: de um lado, a cidade de Campos dos

Goitacazes, ambiente definido pelos esquadros da urbanização crescente e pela efervescência

das atividades comerciais que impulsionavam o desenvolvimento econômico dos grandes

centros; de outro, o Sobradinho, símbolo e templo de uma estrutura agrária cuja decadência

chega às últimas conseqüências com o enfraquecimento do poder local e o esfacelamento de

uma política econômica ultrapassada que se invalidou juntamente com a ruína do sistema

coronelista.

Transitando entre essas duas esferas, Ponciano tenta manter, por meio de um discurso

matreiro e exagerado, uma imagem de imponência que contrasta com a sua ruína pessoal,

inevitável na medida em que se manifesta como conseqüência de uma inadequação do velho

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coronel aos novos contornos da sociedade que o envolve. Nessa relação, o princípio da

trajetória de decadência do personagem revela a já aludida tenuidade do fio que promove a

separação entre o cômico e o trágico, promovendo a fusão do efeito risível decorrente das

manobras retóricas do Coronel a certo compadecimento por sua condição, identificação que

tem suas origens na reflexão impulsionada pelos movimentos do próprio protagonista. Assim,

na medida em que a enxurrada de perdas toma maior força e leva Ponciano em suas águas, o

leitor mergulha na atmosfera de declínio que passa a envolver o protagonista e não é capaz de

se livrar dela com o mesmo riso que outrora surgia da desmistificação dos exageros do

discurso enviesado do Coronel.

Riso encharcado por lágrimas, o humor toma conta das páginas de José Cândido de

Carvalho e desenha, com seu rastro de crítica e sutileza, o ataque à sustentação da sociedade

agrária cuja decadência crescia vertiginosamente a partir da segunda metade do século XX. A

crise do açúcar derruba os negócios do Coronel Ponciano, que não ouviu os conselhos do

amigo João Fonseca e manteve no mercado suas especulações, comprando a safra inteira de

um produtor com o intuito de recompor os prejuízos ocasionados, no Sobradinho, pela força

das chuvas.

A aparente indiferença de Ponciano em relação ao escoamento de sua fortuna e ao

declínio de sua imagem acentua o tom de humor de que se reveste a narração, principalmente

quando se leva em consideração que, na fase em que vivia no Sobradinho, as mentiras

serviam ao propósito de criar uma imagem imponente que proporcionasse respeito e

admiração por parte de seus criados e, no momento do declínio, o coronel não apenas mentia

para lutar contra a rejeição da sociedade, como também criava um universo imaginário que o

livrava da decadência, fugindo de sua própria derrota. O personagem Ponciano nos remete a

postura que os “coronéis” deveriam manter para suportar a imagem que o homem local possui

sobre os mesmo que era a de pessoas imponentes, admiráveis e que deveriam ser aceitas por

todos.

Sem dinheiro, depois de vender o escritório, a casa de Mata-Cavalos e a Casa da Rua

da Jaca, diluído o respeito dos habitantes da cidade por sua imagem, o coronel Ponciano parte

de volta ao Sobradinho curvado pelo peso dos impostos, levando apenas uma gaiola com um

sabiá-laranjeira, herança deixada pelo amigo João Fonseca. O retorno do protagonista ao

espaço rural revela não apenas sua inadequação ao pólo urbano, mas também o esmagamento

da esfera agrária e da influência outrora exercida pelos "coronéis" nos caminhos tomados pela

política local: Ponciano agencia a agonia de um mundo, mas não é só isto: sobrevivendo ao

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colapso da sociedade agrária, não consegue se encaixar na sociedade que a substitui. Daí o seu

quixotismo, eis por que vive cervantinamente a experiência de caballero como loco.

Se o coronelismo foi marcado por um poder de mando dos coronéis nas suas regiões

(mandonismo), o Coronel Ponciano, no livro, vai além do simples mando, na comicidade

produzida por JCC, o coronel não é somente senhor do mundo dos vivos; mas também do

mundo da imaginação, aquele que assume as possibilidades de acabar com tudo aquilo que

possa amedrontar o povo, como que somente ele fosse a pessoa corajosa e com poder

suficiente para lidar com “coisa de outro mundo”. O personagem do coronel assume um

caráter mítico no livro, redentor das impossibilidades humanas de lidar com aquilo com que

um homem qualquer “sem patente” não pode lidar. Até na sua morte, o coronel não se

enquadra dentro daquilo que seria uma pessoa normal.

Lá vai o Coronel Ponciano de Azeredo Furtado em sua mulinha de

desencantar lobisomem. Vai para a guerra do Demônio, que o coronel não

tem medo de nada.(...) Sem medo, peito estofado, cocei a garrucha e risquei

roseta, a barriga da mulinha de São Jorge. (CARVALHO, 1989, p.303 e

304).

Enquanto todos os homens comuns do campo ou da cidade tinham o medo em suas

vidas, o Ponciano era desprovido de qualquer temor. Desta forma, torna-se perceptível o

enquadramento da obra dentro de um imaginário rico e contextualizado, tanto na esfera social,

quanto na esfera psicológica retratando tanto os medos de uma sociedade de mudança do seu

locus social, isto é, no rompimento com os mandos e desmandos de um mandonismo ainda de

coronéis como o Ponciano, bem como dos mitos e lendas que fazem parte do universo rural, o

que confere ao coronel o título de Salvador dos medos e “coisas de outro mundo” como

afirma o próprio Ponciano, por ser entendido do assunto. No imaginário psicológico, ainda

podemos observar o papel da religião (católico no caso em questão) com todos os seu heróis

(santos): Jorge, Onofre, José e tantos outros. Todos socorredores contra aquilo que não é

material. Essa devoção também marca a vida do homem no livro. Entre medo e devoção, a

figura do Coronel é sempre a mesma: alguém que pode intervir em todas as questões.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tentamos expor, na presente pesquisa, as possibilidades do trabalho em conjunto da

literatura e memória individual/social. Os caminhos para o diálogo e suas possibilidades são

inúmeros, cabendo ao pesquisador explorar a obra literária, não somente como uma criação

paralela ao mundo real, mas sim entender que mesmo uma obra de ficção carrega marcas das

“muitas vozes” contidas num discurso veiculado numa determinada sociedade e num

recortado espaço temporal.

As possibilidades de trabalhar as obras literárias e suas leituras são muitas, mas não

podemos nos esquecer de que toda literatura é criação e deve ser vista como tal. Mas como

diz Proença (1997, p.32) : “É preciso considerar ainda que só há literatura onde existe um

povo e, conseqüentemente, o desenvolvimento de uma cultura”. É para essa produção cultural

que devemos atentar. Esse deve ser o nosso alvo, o de escavar as pérolas necessárias para o

trabalho desejado, pois elas estão lá, talvez intocadas ou, quem sabe, ainda não muito

exploradas. Consideremos uma visão diferente da chamada visão tradicional oferecendo um

desafio na quebra de um paradigma, como foi o nosso, no projeto de trabalhar a memória

social e o imaginário numa obra literária, tão rica e aclamada como já foi falado, mas que

também é um documento do ponto de visto da historiografia do tempo presente. Vale ressaltar

a dificuldade no material que abordasse a questão do imaginário e da memória social numa

obra literária, mas que também consistiram num desafio a ser vencido.

Atentamos na obra para a figura do narrador, o próprio coronel Ponciano, que faz das

suas lembranças e memória as lembranças e memórias dos outros, se nenhuma memória é só

do indivíduo e não se mantém impermeável às lembranças dos outros, à imaginação. Se a

memória do homem é constitutivamente social, histórica, cultural, simbólica; na memória do

narrador do livro, esse aspecto social é ainda mais forte. Ele tem a função social de narrar a

forma de vida desse grupo. Os velhos, segundo Bosi (1987), têm a função social de lembrar. E

já foram bem mais valorizados por ela (sociedade), num tempo em que se tinha mais tempo

para ouvir as lembranças alheias.

A obra O coronel e o lobisomem de José Cândido de Carvalho, que foi a nossa fonte

de pesquisa (prefiro chamar fonte documental, uma vez que procurei extrair da mesma as

pegadas deixadas e as possibilidades de leitura dos discursos e seus enunciadores) já foi muito

elogiada e, ainda, é. Tanto pelo seu caráter peculiar da linguagem regional, bem como pela

capacidade de criar e adequar novas palavras que tanto são as palavras do homem do campo,

como também são criações próprias que dão vida ao Coronel Ponciano.

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No prefácio da 39° edição, Raquel de Queiroz deixa o seguinte comentário:

E tem mais: se a criação literária de J.C.C é importante, importantíssimo igualmente é

o homem na sua linguagem, de tal jeito importante que não sei de ninguém, no

momento, que renove o idioma como o renova ele. Vira e revira a língua, arrevesa as

palavras, bota-lhes rabo e chifre de sufixos e prefixos, todos funcionando para uma

complementação especial de sentido, sendo, porém que nenhum provém de fonte

erudita, ou não falada: nenhum é pedante ou difícil, tudo correntio, tudo gostoso,

nascido de parto natural, diferente só para maior boniteza ou acuidade especifica.

Os comentários da Raquel de Queiroz enobrecem a obra colocando o escritor numa

esfera privilegiada de escritores e a obra numa espécie de áurea, faça-se jus à capacidade de

JCC de escrever uma obra de ficção que envolva tantos elementos da realidade histórico-

social.

Tomando uma certa distância do texto (que também é proximidade) e voltando ao seu

autor, causa-nos perplexidade o fato de JCC expressar, no seu romance, não somente as suas

vivências, mas as vivências de seu povo, pois no processo de criação dos personagens e da

sua história muito do que imaginou ou conheceu, ele não viu, mas ouviu contar.

Pensamos agora no poder da palavra e da memória coletiva, que nos permitem estar

em outros tempos, em outros lugares, viver outras vidas, outros outros.

Aproximando-nos de novo do romance (e às vezes, por isso mesmo, ficando tão perto

de nós que dele nos distanciamos), percebemos com clarareza a relação entre memória,

Literatura, imaginário e consciência.

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