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Análise da piscicultura marinha no litoral norte do estado de São Paulo
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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAO, CINCIA E
TECNOLOGIA DE SO PAULO
CAMPUS SO ROQUE
ADELE MEGAM MASCITELLI SALUSTIANO SILVA
Anlise da piscicultura marinha no litoral norte do
estado de So Paulo
So Roque
2014
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAO, CINCIA E
TECNOLOGIA DE SO PAULO
CAMPUS SO ROQUE
ADELE MEGAM MASCITELLI SALUSTIANO SILVA
Anlise da piscicultura marinha no litoral norte do
estado de So Paulo.
So Roque
2014
Trabalho de concluso de Curso apresentado
como requisito para obteno do ttulo de
Licenciado em Cincias Biolgicas, sob a
orientao da Prof. MSc. Glria Cristina
Marques Coelho Miyazawa e co-orientador, Prof.
Dr. Carlos Suetoshi Miyazawa.
S586
SILVA, Adele Megam Mascitelli Salustiano.
Anlise da piscicultura marinha no litoral norte do estado de So Paulo / Adele
Megam Mascitelli Salustiano Silva. 2014.
55 f.
Orientador: Prof. MSc. Glria Cristina Marques Coelho Miyazawa
TCC (Graduao) apresentada ao curso de Licenciatura em Cincias
Biolgicas do Instituto Federal de So Paulo Campus So Roque, 2014.
1. Piscicultura marinha 2. Litoral norte-SP 3. Biologia Molecular 4. Estado
de So Paulo 5. Brasil I. SILVA, Adele Megam Mascitelli Salustiano. II.Ttulo.
CDD: 574
Nome: Adele Megam Mascitelli Salustiano Silva
Ttulo: Anlise da piscicultura marinha no litoral norte de So Paulo
Trabalho de concluso de curso apresentado ao Instituto
Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Estado de
So Paulo Campus So Roque, para obteno do ttulo de
Licenciado em Cincias Biolgicas.
Aprovado em: 10/12/2014
Banca Examinadora
Prof. Dr. Marcio Pereira Instituio: IFSP-So Roque
Julgamento: _____________________________ Assinatura: __________________
Prof. Dr. Sandro Gazzinelli Instituio: IFSP-So Roque
Julgamento: _____________________________ Assinatura: __________________
AGRADECIMENTOS
Primeiramente gostaria de agradecer ao IFSP- So Roque pela oportunidade
de realizar um importante passo da minha vida, a graduao.
A minha orientadora, Prof. MSc. Glria Cristina Marques Coelho Miyazawa,
que em todos os momentos me ajudou e incentivou na realizao no apenas deste
projeto mas de muitos outros de igual importncia para minha formao.
Agradecer tambm ao meu co-orientador, Prof. Dr. Carlos Suetoshi
Miyazawa, por toda a ajuda e apoio na realizao do projeto.
Aos professores Fernando Santiago, Marcio Pereira e Sandro Gazzinelli, que
alm de terem sido essenciais no meu processo de aprendizagem, tambm me
deram a oportunidade de participar de excelentes projetos, de grande importncia
para a minha formao.
A todos que me ajudaram com minhas pesquisas, Dr. Eduardo Gomes, ao
Joo Manzella da piscicultura Itapema, ao Cludio e a Luciana de Ubatuba e a
Claudia e o Pedro da Redemar Alevinos, sem eles no teria a possibilidade de
vivenciar tamanho aprendizado.
Tambm gostaria de agradecer a todos os funcionrios da instituio, que so
de fundamental importncia para o funcionamento dessa rede de ensino.
Agradecer a todos os meus familiares que sempre me apoiaram e estiveram
do meu lado me mostrando o caminho certo, em especial ao meu noivo Victor por
me ajudar e apoiar em todos os momentos, sem ele nada disso seria possvel.
No tentes ser um homem de sucesso, tenta
antes ser um homem de valor (Albert Einstein).
SUMRIO
1. INTRODUO .............................................................................................................................. 1
2. OBJETIVOS .................................................................................................................................. 3
2.1Objetivos especficos ................................................................................................................. 3
3. METODOLOGIA ........................................................................................................................... 3
4. RESULTADOS E DISCUSSO ..................................................................................................... 6
4.1 Levantamento bibliogrfico das famlias utilizadas na piscicultura marinha do litoral
norte do estado de So Paulo ........................................................................................................ 6
4.2 Levantamento bibliogrfico de pesquisas sobre piscicultura marinha no Brasil ............ 13
4.3 Visita ao Instituto de Pesca de Ubatuba .............................................................................. 20
4.4 Visitas aos criadores da regio norte do estado de So Paulo ........................................ 24
5. CONSIDERAES FINAIS ......................................................................................................... 48
6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................................ 48
Silva, A. M. M. S. Anlise da piscicultura marinha no litoral norte do estado de
So Paulo. [Trabalho de Concluso do Curso de Licenciatura em Cincias
Biolgicas]. Instituto Federal de So Paulo. So Roque, 2014.
RESUMO
No Brasil, a criao de peixes marinhos teve um incio promissor, mas
atualmente a piscicultura marinha no consta nas estatsticas de produo de
pescado do Brasil. A pesca em alta escala nos oceanos tem gerado grandes
alteraes ecolgicas e a reduo drstica dos estoques de peixes. O
desenvolvimento da piscicultura marinha pode ajudar na conservao dos ambientes
marinhos, aliviando a sobrepesca e diminuindo assim o desequilbrio gerado pela
alterao das comunidades. Considerando o nmero reduzido de estudos na rea e
a necessidade de novas formas de se adquirir o pescado, este trabalho visa analisar
a piscicultura marinha no litoral norte do estado de So Paulo. A primeira etapa do
trabalho foi desenvolvida a partir de dados obtidos por reviso bibliogrfica do
assunto, bem como por uma visita ao Laboratrio de Piscicultura Marinha do Ncleo
de Pesquisa e Desenvolvimento do Litoral Norte no Instituto de Pesca de Ubatuba,
onde foi possvel conhecer espcies com potencial de criao em piscicultura e
estudos que tentam adaptar as tcnicas envolvidas para a realidade brasileira. A
reviso bibliogrfica mostrou os principais grupos de peixes marinhos que so
criados em cativeiro. Foram realizadas visitas de campo aos criadores do litoral norte
do estado de So Paulo, onde foi possvel se ter uma ideia da realidade enfrentada
por eles. Por fim foi constatado que o litoral norte do estado de So Paulo apresenta
um grande potencial para a piscicultura marinha, devido a sua geografia e alta
demanda de mercado. Contudo a atividade ainda enfrenta problemas primrios
como falta de pesquisa na rea e de incentivos fiscais por parte do governo, uma
vez que se trata de uma atividade que exige um investimento inicial considervel.
PALAVRAS CHAVE: Piscicultura marinha, litoral norte - SP, estado de So Paulo,
Brasil.
ABSTRACT
In Brazil, the creation of marine fish had a promising start, but currently not in
marine fish farming in fish production statistics in Brazil. The full-scale fishing in the
oceans has created major ecological changes and the drastic reduction of fish
stocks. The development of marine fish farming can help in the conservation of
marine environments, easing overfishing and thus reducing the imbalance generated
by changing communities. Considering the small number of studies in the area and
the need for new ways to get the fish, this work aims to analyze the marine fish
farming on the northern coast of So Paulo. The first stage of work was developed
from data obtained by literature review of the subject, as well as a visit to the
Laboratory of Fisheries Navy North Coast Research and Development Center in the
Fisheries Institute of Ubatuba, where it was possible to know species creation
potential for fish and studies that try to adapt the techniques involved for the Brazilian
reality. The literature review showed the major groups of marine fish that are bred in
captivity. Were conducted field visits to the north coast creators of the state of So
Paulo, where it was possible to get an idea of the reality faced by them. Finally it was
found that the north coast of the state of So Paulo has a great potential for marine
fish farming, due to its geography and high market demand. However, the activity still
faces problems such as lack of primary research in the area and tax incentives from
the government, since it is an activity that requires significant initial investment.
KEYWORDS: Marine aquaculture, coastal north-SP, So Paulo state, Brazil.
1
1. INTRODUO
No incio de sua histria a humanidade era dominada pela natureza,
caadores e coletores apresentavam tcnicas rudimentares, tendo o nomadismo
sem acumulao de bens como principal modo de vida (SANTOS, 2009). Cerca de
12.000 anos atrs houve uma grande mudana, quando a humanidade passou a
cultivar plantas e animais, mudando do nomadismo para o sedentarismo, o que
levou a estratificao da sociedade e a criao de tecnologias (OSTRENSKY,2009).
A criao de organismos aquticos pelo homem surgiu na China
aproximadamente 4000 anos, com o monocultivo de carpa selvagem (CAMARGO;
POUEY, 2005). No incio a piscicultura era praticada por pessoas da classe alta para
obter peixe fresco ou por vilarejos que cultivavam para subsistncia em perodos de
escassez (SANTOS, 2009). O continente asitico se desenvolveu aprimorando suas
tcnicas, e nos dias de hoje lder na produo de organismos aquticos (peixes e
algas), sendo que grande parte produzido na China (CAMARGO; POUEY, 2005).
A partir do sculo XX ocorreram avanos significativos na piscicultura como o estudo
do controle do ciclo de vida das espcies e a elaborao de dietas artificiais, dando
base para o comeo da comercializao iniciada no sculo passado no Japo
(MELO et al., 2010).
No Brasil, a criao de peixes marinhos provavelmente teve incio no sculo
XVII no Estado de Pernambuco, quando a atividade teria sido introduzida durante o
governo holands de Maurcio de Nassau (CAVALLI; HAMILTON, 2009). Estima-se
que na dcada de 1930, a regio de Recife e Olinda - PE contava com 43 hectares
de viveiros, que produziam anualmente 25 toneladas de peixes (SCHUBART, 1936,
apud CAVALLI; DOMINGUES; HAMILTON, 2011). Apesar desse incio promissor,
atualmente a piscicultura marinha no consta nas estatsticas de produo de
pescado do Brasil, exceo feita a alguns poucos produtores de peixes ornamentais
(CAVALLI; HAMILTON, 2009).
O desenvolvimento da piscicultura marinha pode ajudar na conservao dos
ambientes marinhos, aliviando a sobrepesca de espcies de interesse e diminuindo
assim o desequilbrio gerado pela alterao dessas comunidades.
Em nosso pas durante a colonizao houve um povoamento intenso na
fachada atlntica, devido construo de portos (VESENTINI et al., 1994 apud
2
SUHOGUSOFF; PILIACKAS, 2007). No estado de So Paulo os povoamentos
litorneos se estabeleceram em geral perto de ancoradouros como o de So
Vicente, Santos, So Sebastio e Ubatuba (BARBOSA et al., 2000). Apesar das
mudanas nos modelos de desenvolvimento ocorridas ao longo da histria, os
recursos naturais sempre foram explorados sem nenhuma preocupao com a
sustentabilidade do sistema, muitas vezes exaurindo ao extremo esses recursos
(TURECK, 2003).
Desenvolvimento sustentvel considerado como o manejo e a conservao
dos recursos naturais, associados a uma mudana tecnolgica e institucional, com o
intuito de satisfazer as necessidades humanas presentes e das futuras geraes
(HENRY-SILVA, 2008). Mas com os ltimos 50 anos de atividade pesqueira em alta
escala nos oceanos, ecossistemas marinhos tm sofrido interferncias, gerando
grandes alteraes ecolgicas e reduzindo drasticamente vrios estoques de peixes
(WARD; MYERS, 2005 apud SANCHES et al., 2008). Diversos estudos apontam a
existncia de uma crise atravessada pelo setor pesqueiro e a necessidade de
opes econmicas, ambientalmente sustentveis, que visem reduzir a presso
extrativa sobre os estoques de peixes (SANCHES et al., 2006).
A aquicultura tem sido apontada como um dos caminhos mais eficientes para
a reduo do dficit entre a demanda e a oferta de pescado no mercado mundial
(CAVALLI; HAMILTON, 2009). Ela pode ser definida como sustentvel se produzir
organismos aquticos sem degradar o meio ambiente, produzindo lucro e benefcios
sociais (VALENTI, 2002). Entre os vrios segmentos da aquicultura, a piscicultura
marinha um dos setores que apresentam as mais altas taxas de crescimento em
todo o mundo (CAVALLI; DOMINGUES; HAMILTON, 2011). O Brasil possui um
grande potencial para a piscicultura marinha, devido ao seu vasto litoral de 8400 km,
sendo a maior parte da costa banhada por guas tropicais e subtropicais, possuindo
vrias espcies de alto valor comercial (LIRA JUNIOR, 2002).
Muitas das espcies da ictiofauna marinha brasileira j so criadas
comercialmente em outros pases ou esto sendo consideradas para a aquicultura
por meio de estudos, tanto no exterior como no Brasil (CAVALLI; DOMINGUES;
HAMILTON, 2011). Torna-se clara a necessidade de opes econmicas,
ambientalmente sustentveis, que reduzam a presso extrativa sobre os estoques
naturais de peixes e outros recursos do mar e forneam alternativas para as
3
comunidades pesqueiras tradicionais (SANCHES, 2008). O desenvolvimento da
piscicultura marinha dever obrigatoriamente ocorrer a partir de uma slida base
cientfica, o que s ser alcanada com o apoio governamental e a participao das
universidades e instituies de pesquisa (CAVALLI; DOMINGUES; HAMILTON,
2011).
Considerando a falta de estudos na rea e a necessidade de novas formas de
se adquirir o pescado, este trabalho analisa a situao da piscicultura marinha no
litoral norte do estado de So Paulo, apresentando um estudo aprofundado da
atividade na regio e verificao da viabilidade de sua realizao em escala
comercial.
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
- Analisar a atual situao da piscicultura marinha no litoral norte do estado de So
Paulo, a partir de dados obtidos por levantamento bibliogrfico e pesquisa de campo.
2.1Objetivos especficos
- Realizar reviso bibliogrfica referente a piscicultura marinha em geral e pesquisas
realizadas no Brasil e no estado de So Paulo;
- Traar um breve panorama das espcies utilizadas em piscicultura na regio de
interesse;
- Realizar visitas criadouros e centros de pesquisa da regio norte do estado de
So Paulo, para a partir da verificar a atual situao da piscicultura marinha na
regio.
3. METODOLOGIA
O projeto teve incio no primeiro semestre de 2014, onde foi feito um
levantamento bibliogrfico sobre a piscicultura marinha no mundo, no Brasil e no
litoral norte do estado de So Paulo. Tambm foram analisadas questes como o
4
estudo da regio de interesse, o crescimento da populao na fachada atlntica e a
demanda da pesca marinha no pas. As pesquisas foram focadas no litoral norte do
estado de So Paulo, que incluem as cidades de So Sebastio, Ilhabela,
Caraguatatuba e Ubatuba (Figura 1).
Figura 1 - Localizao do Litoral Norte do Estado de So Paulo (AMARAL; NALLIN, 2011)
Em julho de 2014, foi realizada uma visita de campo ao Laboratrio de
Piscicultura Marinha, do Ncleo de Pesquisa e Desenvolvimento do Litoral Norte, no
Instituto de Pesca de Ubatuba, com o atendimento do Dr. Eduardo Gomes Sanches,
responsvel pelas pesquisas na rea, que forneceu importantes informaes sobre a
criao de peixes, as tcnicas empregadas no cultivo, as espcies cultivadas e
mostrou a rotina de um centro de criao.
Com base nas informaes obtidas, foi realizado outro levantamento
bibliogrfico sobre as espcies de peixes cultivadas, bem como as pesquisas que j
foram desenvolvidas no Brasil sobre elas.
No segundo semestre de 2014 foram realizadas visitas a trs dos quatro
criadores existentes no litoral norte do estado de So Paulo: Centro de alevinagem
da empresa Maricultura Itapema, localizada na cidade de So Sebastio; empresa
Redemar Alevinos, no municpio de Ilhabela e um criador de Ubatuba. H tambm
um criador de beijupir na Ilha de Bzios em Ilhabela, mas no foi possvel contata-
5
lo. Durante as visitas foi utilizado um roteiro de orientao para as entrevistas com
perguntas abertas, que no foi entregue aos entrevistados. O roteiro utilizado foi:
1- Nome dos responsveis pela criao?
2- Possui quantos locais diferentes de criao?
3- Qual o nmero de funcionrios e grau de instruo (se tem formao
acadmica ou o tempo que trabalha na rea)?
4- Quais as espcies criadas (se possvel nome cientfico)?
5- Qual o tempo mdio das criaes?
6- Qual o sistema de cultivo utilizado?
7- Qual o nmero de tanques e de indivduos criados?
8- Qual a produo mensal?
9- Qual a origem dos peixes (Criao prpria, alevinos de fornecedor,
capturados no mar, outras)?
10-Se for criao prpria, qual a forma de desova (natural ou induzida)?
11-Qual o tipo de alimentao e sua origem?
12-Qual a metodologia utilizada na limpeza e manuteno dos tanques?
13-Quais as maiores dificuldades (falta de alevinos, doenas)?
14-Quais os custos da produo e valor vendido no mercado (anlise de
rentabilidade)?
15-Qual a forma de comercializao?
16-Quais as vantagens e desvantagens da criao marinha?
17-Houve dificuldades para abrir a empresa?
18-Participa ou participou de algum programa de apoio ao produtor?
19-Possui alguma parceria com instituio de ensino?
6
4. RESULTADOS E DISCUSSO
4.1 Levantamento bibliogrfico das famlias utilizadas na piscicultura
marinha do litoral norte do estado de So Paulo
Famlia Lutjanidae
Essa famlia pertence a ordem dos Perciformes, dividida em 4 sub-famlias:
Etelinae, Apsilinae, Paradicichthyinae, e Lutjaninae, que renem 17 gneros e em
torno de 100 espcies. Ocorrem em mares tropicais e subtropicais, em regies do
oceano Pacfico e Atlntico, sendo que a maioria das espcies habita profundezas
de zonas costeiras, mas tambm podem ocorrer em profundidades de at 650
metros e at em gua doce. So espcies dioicas (apresentam sexos separados em
indivduos diferentes) e no possuem inverso sexual. As espcies geralmente
formam agregaes reprodutivas, com as fmeas desovando vrias vezes durante
esse perodo (ANDERSON, 2003 apud DIAS JUNIOR, 2012). O perodo de
incubao dos ovos pode variar de 17 a 27 horas e o perodo larval entre 17 e 47
dias. Possuem o hbito alimentar carnvoro, se alimentando principalmente de
peixes e crustceos.
Considerada de grande importncia econmica, essa famlia um dos
maiores recursos pesqueiros da zona tropical e subtropical, tendo um alto valor
comercial. Segundo Claro (2008), a Amrica do Sul a regio que se obtm as
maiores capturas de representantes dessa famlia no atlntico ocidental, ao redor de
30.000 toneladas ao ano, sendo que o Brasil obtm as maiores capturas, entre
15.000 e 20.000 toneladas anuais (FAO, 2000 apud CLARO, 2008). As espcies
dessa famlia so caracterizadas por apresentarem o crescimento lento e
longevidade mdia a alta (vinte a trinta anos) o que torna estas espcies altamente
vulnerveis sobrepesca (SANCHES, 2011).
Gnero Lutjanus
Pertencentes a famlia Lutjanidae, o gnero composto por 64 espcies,
abundantes em guas quentes (tropicais), habitando fundos rochosos e coralneos,
sendo que durante a fase juvenil, podem ocorrer em zonas estuarias ou
manguezais. O desenvolvimento do cultivo de lutjandeos e a consequente
diminuio da presso de pesca sobre os estoques naturais, em funo da oferta de
7
peixes de cativeiro, poder constituir um instrumento de preservao desse
importante grupo de peixes recifais (SANCHES, 2007 apud SANCHES, 2011).
Espcie Lutjanus analis
Conhecida popularmente como caranho vermelho, vermelho cioba e pargo,
suas principais caractersticas podem ser observadas na Figura 2. Segundo
Figueiredo e Menezes (1980), possuem nadadeiras avermelhadas, margem da
nadadeira anal angulosa, os raios mdios bem mais desenvolvidos que os demais,
placa de dentes do vmer mais ou menos triangular, em forma de crescente, com
dentes caninos relativamente pequenos, sendo os superiores pouco maiores que os
inferiores. Como todas as espcies da famlia Lutjanidae um animal carnvoro,
medem em torno de 50 cm de comprimento padro, mas podem chegar at 80 cm.
Espcie nectnica de guas rasas que habita fundos rochosos e coralneos, ocorre
com frequncia em esturios e mangues. So encontradas de Massachusets (EUA)
at o litoral sudeste do Brasil, como possvel observar na Figura 3. Considerada
uma das duas espcies da famlia mais valorizadas entre as espcies pescadas no
litoral brasileiro e, segundo Sanches (2011), no litoral do estado de So Paulo uma
das principais fontes de renda dos pescadores artesanais. A espcie encontra-se na
lista de animais ameaados de extino.
Figura 2 - Lutjanus analis (CUVIER, 1828 apud CLARO, 2004, p. 86).
8
Figura 3 - Mapa de distribuio geogrfica de L. analis (DIAS JUNIOR, 2012, p. 25).
Espcie Lutjanus synagris
Conhecida popularmente como vermelho Henrique, ariac e arioc (Figura 4).
As nadadeiras plvica e anal so amareladas, e a caudal, avermelhada. Atinge at
60 cm, chegando a 3,8 kg, com maturidade sexual entre 15 a 18 cm (SANCHES;
CERQUEIRA, 2010). Segundo Figueiredo e Menezes (1980), ocorre desde guas
litorneas at profundidades de cerca de 400 m, sendo os juvenis comuns em
recifes de coral e regies de pedra do litoral. A espcie ocorre desde o litoral dos
Estados Unidos na Carolina do Norte at o Brasil no litoral de So Paulo. um peixe
marinho de grande valor comercial que contribui para a produo pesqueira
artesanal do Brasil (Cavalcante; Oliveira; Chellappa (2012). Por ser alvo preferencial
de pescarias por todo o mundo, os estoques dessa espcie vm sendo ameaados
pela pesca intensiva.
Figura 4 - Lutjanus synagris (FIGUEIREDO; MENEZES, 1980, p.76).
9
Espcie Lutjanus cyanopterus
Conhecida popularmente como caranha (Figura 5), Carvalho (2012) cita a
espcie como o maior lutjanideo do Atlntico Oeste, podendo alcanar mais de 160
cm de comprimento padro e 57 kg. Segundo Figueiredo e Menezes (1980), a
espcie possui dentes caninos muito desenvolvidos, sendo os maiores presentes na
maxila superior e inferior, com aproximadamente o mesmo comprimento, possui
colorao acinzentada com a parte posterior do corpo avermelhada, no possui
mancha acima da linha lateral. A espcie encontrada no Atlntico Oeste das
Bahamas (EUA) ao sudeste do Brasil, em profundidades mdias, chegando a at 40
metros, sendo que as formas juvenis ocorrem em zonas litorneas.
Figura 5 - Lutjanus cyanopterus (FIGUEIREDO; MENEZES, 1980, p.77).
Famlia Serranidae
Famlia da ordem dos Perciformes, com 4 subfamlias: Anthiinae,
Epinephelinae, Grammistinae e Serraninae. Os serrandeos (famlia Serranidae,
subfamlia Epinephelinae) compreendem 159 espcies distribudas em 15 gneros
(SANCHES, 2009). Segundo Carvalho (2012), so importantes componentes da
fauna recifal e assumem importante relao com a pesca em toda sua distribuio
geogrfica. Predadores de topo da cadeia trfica, alimentando-se quando jovens,
basicamente, de crustceos e pequenos peixes e, quando adultos, de polvos e
peixes maiores (SANCHES, 2006). Apresentam crescimento lento, alta longevidade
e maturao sexual tardia (CHIAPPONE et al. 2000 apud CARVALHO, 2012). Por
apresentarem um perodo de desova bem definido e a formao de agregaes
populacionais reprodutivas, os serrandeos so muito susceptveis sobrepesca
(WHAYLEN et al., 2004 apud SANCHES 2007).
10
Sub famlia Epinephelinae
Peixes da Famlia Serranidae Subfamlia Epinephelinae so considerados
alguns dos mais importantes para a pesca costeira comercial e recreacional em
regies tropicais e subtropicais (HEEMSTRA; RANDALL, 2003 apud CARVALHO,
2012). Segundo Zabala et al. (1997 apud SANCHES; OLIVEIRA; SERRALHEIRO,
2009) as espcies dessa subfamlia sofrem o hermafroditismo protognico, e em
dado momento de seu desenvolvimento sofrem a inverso sexual para machos.
Gnero Epinephelus
Esse gnero apresenta onze espcies registradas na costa brasileira, tendo
entre elas as espcies Epinephelus marginatus e Epinephelus itajara (Rocha; Costa,
1999). So peixes de corpos robustos, com 7 a 10 raios na nadadeira anal e
nadadeira dorsal com 10 ou 11 espinhos e 14 a 18 raios.
Espcie Epinephelus marginatus
Conhecida popularmente como garoupa verdadeira (Figura 6). uma espcie
encontrada em ambos os lados do Oceano Atlntico, em todo o Mar Mediterrneo e,
contornando o sul do continente africano at Moambique e Madagascar
(HEEMSTRA; RANDALL, 2003 apud CARVALHO, 2012, p. 56). Est na Lista
Nacional das Espcies de Invertebrados Aquticos e Peixes Ameaados de Extino
do Ministrio do Meio Ambiente, sendo que no Brasil a espcie tem seu tamanho
mnimo para captura de 47cm.
Figura 6 - Garoupa verdadeira (Epinephelus marginatus) (Pescaesportiva.org Copyright, 2009).
11
Espcie Epinephelus itajara
Conhecida popularmente como mero (Figura 7). o maior serrandeo do
Oceano Atlntico, podendo atingir comprimento padro acima de 2,5 metros e peso
superior a 350 kg (SILVA et al., s. d.). Habita guas americanas desde o Sul da
costa dos Estados Unidos at o Estado de So Paulo (VAZZOLER et al., 1999 apud
LIMA, 2004) Geralmente, abriga-se em cavernas, embarcaes naufragadas e
recifes de corais a mais de 40 metros de profundidade (SILVA-OLIVEIRA et al.,
2008). uma das espcies de peixes mais ameaadas do Atlntico tropical, estando
includa na Lista Brasileira de Espcies Marinhas Ameaadas (REUSS-STRENZEL;
ASSUNO, 2008). Predador de topo de cadeia demora cerca de 8 anos para
iniciar sua fase adulta, necessita de um ambiente equilibrado e protegido para
garantir sua sobrevivncia e por isso sua presena ou ausncia pode ser um
indicador de qualidade ambiental (GERHARDINGER et al, 2006 apud ACAUAN,
2009).
Figura 7- Mero (Epinephelus itajara) (J. P. Barreiros).
Famlia Rachycentridae
Espcie Rachycentron canadum
Conhecida popularmente como bijupir, beijupir, entre outros (Figura 8).
Pertence classe dos peixes sseos, da ordem Perciformes, e a nica espcie da
famlia Rachycentridae (NUNES; MADRID; PINTO, 2014). Espcie pelgica e
migratria que possui ampla distribuio geogrfica (Figura 9), ocorre entre as
latitudes de 32N e 28S, em todos os continentes, com exceo da poro leste do
Oceano Pacfico (SHAFFER; NAKAMURA, 1989 apud PESSOA, 2011). No forma
cardumes e normalmente encontrado em grupos de no mximo oito exemplares
12
(Shaffer & Nakamura, 1989 apud CAVALLI; DOMINGUES; HAMILTON, 2011).
Podem ainda exibir comensalismo nadando prximo a tubares e raias,
alimentando-se dos organismos descobertos pelo revolvimento que as referidas
espcies fazem no solo (SHAFFER; NAKAMURA, 1989 apud ARAJO, 2013).
Sanches et al. (2008) descreve a espcie com escamas pequenas, corpo alongado
e subcilndrico com cabea grande e achatada. Sua colorao marrom escura,
sendo o ventre amarelado, apresentando duas faixas prateadas ao longo do corpo.
Em ambientes naturais, os indivduos podem atingir at 60 kg ou mais de peso e
medir dois metros de comprimento (NUNES; MADRID; PINTO, 2014). De hbito
alimentar predador, inclui na sua dieta o ncton e o zoobentos, alimentando-se
preferencialmente de peixes e crustceos, embora possa eventualmente consumir
bivalves (Meyer e Franks, 1996; Arendt et al., 2001 apud CAVALLI; HAMILTON,
2009).
Figura 8 - Rachycentron canadum (Rac South Coast Marine Co., Ltd.).
Figura 9 - Distribuio do beijupir (Rachycentron canadum) (TOSTA, 2010).
13
4.2 Levantamento bibliogrfico de pesquisas sobre piscicultura marinha
no Brasil
No Brasil existem diversas publicaes referentes a pesquisas sobre a
criao de peixes marinhos. Apesar de tantos estudos, a piscicultura marinha
brasileira no atinge o nvel comercial. Dentre as espcies estudadas para o cultivo,
destacam-se o Rachycentron canadum, Epinephelus marginatus e Lutjanus analis,
possuindo diversas pesquisas que apontam a viabilidade de suas criaes. Sobre as
espcies Epinephelus itajara, Lutjanus synagris, Lutjanus cyanopterus, existem
poucos estudos referentes a criao, mas ainda assim aparecem na literatura.
Dados sobre as espcies Mycteroperca bonaci e Mycteroperca microlepis pouco so
encontrados.
Cavalli e Hamilton (2009) analisaram a piscicultura marinha no Brasil com
nfase na produo de Rachycentron canadum e destacaram diversas
caractersticas positivas para sua criao, como sua alta taxa de crescimento,
facilidade de desova em cativeiro, relativa tolerncia a variao na taxa de
salinidade, resposta positiva a vacinao, adaptabilidade ao confinamento, aceitao
de dietas extrusadas e carne de excelente qualidade. Cavalli, Domingues e Hamilton
(2011) descrevem a falta de estudos sobre o ciclo reprodutivo da espcie, estrutura
laboratorial para a produo e engorda de alevinos e definio de exigncias
nutricionais para a formulao de dieta especfica para a espcie.
Severi e Cavalli (2013) discorrem sobre a biologia e aquicultura da espcie se
referindo a ela como uma excelente opo para o desenvolvimento da piscicultura
marinha brasileira, contudo destacando o pouco conhecimento que se tem da sua
biologia no pas, havendo diversos estudos sobre sua criao em outros pases e
deixando claro, a necessidade de maiores estudos que se adequem a nossa
realidade.
Um tema bastante difundido nas pesquisas sobre a espcie Rachycentron
canadum a alimentao, pelos problemas existentes em relao a formulao
ideal ou ao manejo adequado. Arajo (2013) atravs da avaliao histolgica do
fgado e intestino e da hematologia do beijupir, alimentados com dietas base de
diferentes nveis de incluso de farelo de soja, analisou diferentes formulaes em
busca de uma dieta adequada e especfica para a criao da espcie, concluindo
que o farelo de soja pode ser utilizado substituindo 12% da farinha de peixe dietria,
14
o que corresponde a 24,6% composio dietria, sem danos significativos sade
dos juvenis da espcie. Pessoa (2011) tambm desenvolveu estudos sobre a
frequncia alimentar e o desempenho de juvenis da espcie (Rachycentron
canadum), tratando a falta de conhecimento nessa rea como questo prioritria
para estabelecer essa nova indstria de cultivo. Tosta (2010) em seu trabalho sobre
nveis de oferta de rao para beijupir em cercados instalados em viveiros
escavados, discute um manejo alimentar adequado, sendo este manejo fundamental
para o sucesso na criao, melhorando o desempenho zootcnico e reduzindo
custos como rao e manuteno dos tanques. Silva Junior et al. (2011) discutem
uma forma alternativa para a reduo de custos na alimentao da espcie, citando
como resultado de seu trabalho a possibilidade de substituio de at 50% do leo
de peixe por leo de soja em dietas para juvenis do beijupir.
Tambm h estudos sobre a criao de juvenis da espcie Rachycentron
canadum como no trabalho de Sanches, Tosta e Souza-Filho (2013), onde atravs
da anlise de investimento realizada por meio da elaborao de fluxo de caixa e
determinao de indicadores de viabilidade econmica, foi possvel mostrar a
rentabilidade da rea, provando sua viabilidade econmica. Farias (2011) estudou o
efeito da salinidade na osmolalidade plasmtica em juvenis do beijupir, concluindo
que os juvenis da espcie apresentam uma eficiente regulao hiperosmtica com
ampla variao na salinidade, entretanto necessita-se de mais estudos sobre o
desempenho da espcie em termos de sobrevivncia e crescimento a mdio e longo
prazo.
Domingues (2012) analisou a viabilidade econmica do cultivo do beijupir em
mar aberto, onde relata que a anlise de custos torna-se importante para a
determinao da viabilidade da operao e direcionamento de pesquisa para
aumento da rentabilidade. E concluiu que devido ao alto investimento e necessidade
de tcnica especfica, alm de apresentar grande sensibilidade no preo de venda
do peixe e de produtividade, este tipo de projeto no indicado a pequenos
produtores.
No livro Ensaios com o Beijupir: Rachycentron canadum, foram publicados
diversos trabalhos relacionados a criao da espcie, os autores discutem fatores
como a criao de peixes marinhos no Brasil e no exterior, alimentao, alevinagem,
engorda, taxa de salinidade, enfermidades e qualidade da carne.
15
Referente ao cultivo de serradneos, Sanches (2006) trata de assuntos como
espcies de interesse e perspectivas para o cultivo no Brasil, ressaltando a falta de
pesquisas na rea.
Silva (2006) e Sanches et al. (2006) discutiram em seus trabalhos
viabilidade econmica da criao da garoupa verdadeira (Epinephelus marginatus)
em tanques-rede na regio sudeste do Brasil, e apontaram a atividade como
rentvel. Borges et al. (2010) realizaram pesquisas sobre alimentao, analisando
a anatomia e histologia gastrintestinal da garoupa-verdadeira, para tentar
compreender a fisiologia nutricional da espcie, sendo a falta de estudos nessa
rea citada como fator limitante para a produo da espcie. Contudo nota-se
avanos em pesquisas na rea, onde Sanches et al. (2007) realizaram estudos
sobre a criao da garoupa-verdadeira alimentada com rejeito de pesca e rao
mida em tanques-rede, buscando uma forma de alimentao alternativa e
economicamente vivel para a criao da espcie. Tambm existem trabalhos
sobre diferentes tipos de dietas para tentar desenvolver uma formulao adequada
para a espcie Epinephelus marginatus, onde Ramos et al. (2012) avaliou o
desempenho da espcie submetida a diferentes dietas.
Com relao a patologias encontradas em garoupas verdadeiras, Sanches
(2008) descreve testes de diferentes tratamentos para combater a Neobenedenia
melleni, uma parasitose que pode trazer prejuzos ao cultivo da espcie em
questo.
Com relao a reproduo da espcie Epinephelus marginatus, Sanches,
Oliveira e Serralheiro (2009a) desenvolveram um protocolo de crioconservao do
smen da espcie. Sanches, Oliveira e Serralheiro (2009b) tambm desenvolveram
estudos sobre a inverso sexual da garoupa-verdadeira, onde avaliaram a inverso
sexual de fmeas por meio de induo hormonal. Sanches (2008) ainda
desenvolveu estudos sobre a induo da inverso sexual da garoupa verdadeira
com o uso de hormnio masculinizante e crioconservao do smen, onde discute
a dificuldade na obteno de machos funcionais na natureza, e baseia seu estudo
na avaliao sexual de fmeas atravs de induo hormonal, definindo um
protocolo de crioconservao do smen dos peixes invertidos para a manuteno
da viabilidade dos gametas por longo perodo.
16
Sobre as espcies da famlia Lutjanidae, Sanches (2011) avaliou a criao da
espcie Lutjanus analis submetido a diferentes dietas, em um estudo realizado em
Ubatuba/SP. Sanches cita que h diversos trabalhos que apontam os lutjandeos
como uma das principais famlias de peixes marinhos exploradas comercialmente.
Os resultados desse trabalho mostram que, considerando os valores de
crescimento de outras espcies de lutjandeos alimentados com diferentes fontes
alimentares, o desempenho produtivo de L. analis apresentou resultados
superiores, demonstrando sua aptido para cultivo intensivo. Sanches e Cerqueira
(2011) apontam em seu trabalho sobre preservao de smen refrigerado de cioba
(Lutjanus analis) com diluentes e atmosfera modificada, que cultivos experimentais
em outros pases vm mostrando o potencial dessa espcie para a piscicultura
marinha, entretanto, a dificuldade na obteno de formas jovens o principal fator
limitante para seu cultivo, sendo necessrio o desenvolvimento de pesquisas na
rea de reproduo dessa espcie, em busca de tecnologias que viabilizem sua
criao.
Embora a piscicultura marinha no conste nas estatsticas de produo de
pescado do Brasil, exceo feita a alguns poucos produtores de peixes
ornamentais (CAVALLI; HAMILTON, 2009), as pesquisas realizadas at o
momento demonstram o potencial de criao de diversas espcies brasileiras para
o litoral norte de So Paulo, que tem um grande potencial para a prtica dessa
atividade devido a sua localizao e formao geogrfica privilegiadas. Por ser
uma rea com estudos muito recentes, necessrio que se invista em novas
pesquisas para assim sanar as lacunas que ainda existem.
Na Tabela 1 observam-se todos os artigos utilizados no levantamento
bibliogrfico do presente trabalho.
Tabela 1 Levantamento Bibliogrfico
Espcies Trabalhos Referncias
Rachycentron canadum Biologia e aquicultura do beijupir: uma
reviso
HAMILTON; SEVERI;
CAVALLI, 2013
Rachycentron canadum Piscicultura marinha no Brasil com
nfase na produo do beijupir
CAVALLI; HAMILTON,
2009
Rachycentron canadum Desenvolvimento da produo de
peixes em mar aberto no Brasil:
CAVALLI;
DOMINGUES;
17
possibilidades e desafios HAMILTON, 2011
Rachycentron canadum Avaliao histolgica do fgado e
intestino e hematologia do beijupir,
Rachycentron Canadum, alimentados
com dietas base de diferentes nveis
de incluso de farelo de soja
ARAJO, 2013
Rachycentron canadum Frequncia alimentar e desempenho de
juvenis do beijupir (Rachycentrum
canadum) Linnaeus, 1766
PESSOA, 2011
Rachycentron canadum Nveis de oferta de rao para bijupir
Rachycentron canadum (Linnaeus,
1766) em cercados instalados em
viveiros escavados
TOSTA, 2010
Rachycentron canadum Substituio do leo de peixe por leo
de soja em dietas para beijupir
SILVA JUNIOR et al.,
2011
Rachycentron canadum Viabilidade econmica da produo de
formas jovens de bijupir
SANCHES; TOSTA;
SOUZA-FILHO, 2013
Rachycentron canadum Juvenis de bijupir Rachycentron
canadum criados em salinidade
reduzida: a adio de NaCl na dieta
pode afetar o desempenho do
crescimento e a osmorregulao?
SANCHES, 2011
Rachycentron canadum Efeito da salinidade na osmolalidade
plasmtica em juvenis do beijupir,
Rachycentron canadum (LINNAEUS,
1766)
FARIAS, 2011
Rachycentron canadum Nveis de oferta de rao para bijupir
Rachycentron canadum (Linnaeus,
1766) em cercados instalados em
viveiros escavados
DOMINGUES, 2012
Rachycentron canadum O cultivo de peixes marinhos tropicais,
com nfase no beijupir, Rachycentron
canadum
NUNES; MADRID;
PINTO, 2014
Rachycentron canadum O cultivo do beijupir, Rachycentron
canadum, no Vietn: Lies para o
Brasil
MADRID; NUNES, 2014
Rachycentron canadum Implantao e validao de uma
unidade experimental para pesquisas
de nutrio com juvenis de peixes
NUNES, et al., 2014
18
marinhos no LABOMAR/UFC
Rachycentron canadum Transporte e aclimatao em
laboratrio de alevinos de beijupir,
Rachycentron canadum
NUNES, et al., 2014
Rachycentron canadum Reduo do custo da composio de
dietas balanceadas para o cultivo de
beijupir, Rachycentron canadum,
atravs de aminocidos sintticos e
misturas alimentares com perfil
nutricional melhorado
PINTO, et al., 2014
Rachycentron canadum Contedo e disponibilidade de
nutrientes em ingredientes proteicos
para dietas de beijupir, Rachycentron
canadum: Desenvolvimento de
metodologia in vitro e aplicao com
matrias-primas regionalmente
disponveis
YASUMARU, et al.,
2014
Rachycentron canadum Influncia da salinidade no
desempenho do beijupir,
Rachycentron canadum (LINNAEUS,
1766) e avaliao da engorda em
viveiros escavados
RIBEIRO, et al., 2014
Rachycentron canadum Investigao histopatolgica do fgado
e intestino e hematologia de juvenis de
beijupir, Rachycentron canadum,
alimentados com crescentes nveis de
incluso de farelo de soja em dietas
prticas
ARAUJO, et al., 2014
Rachycentron canadum Estabelecimento de procedimentos de
diagnsticos padro e principais
enfermidades em juvenis do beijupir,
Rachycentron canadum (LINNAEUS,
1766)
ANDRADE, et al., 2014
Rachycentron canadum Rendimento de cortes e qualidade da
carne do beijupir, Rachycentron
canadum, sujeito a diferentes
gradientes de salinidade da gua do
cultivo
GONALVES, et al.,
2014
Rachycentron canadum Tcnicas de processamento e
beneficiamento visando agregao de
valor do beijupir, Rachycentron
GONALVES, et al.,
2014
19
canadum
Rachycentron canadum Aproveitamento da pele do beijupir
cultivado, Rachycentron canadum,
visando agregao de valor
GONALVES;
FRANCO, 2014
Rachycentron canadum Viabilidade tcnico-econmica na
engorda do beijupir cultivado,
Rachycentron canadum
MADRID; NUNES, 2014
Rachycentron canadum Anlise da aceitao do beijupir
cultivado, Rachycentron canadum, no
mercado local
MADRID, et al., 2014
Rachycentron canadum Boletim informativo Beijupir News:
Uma ferramenta de promoo e
divulgao sobre o cultivo de beijupir
MADRID, 2014
Epinephelus itajara,
Epinephelus marginatus,
Mycteroperca bonaci e
Mycteroperca microlepis
Boas perspectivas para o cultivo de
meros, garoupas e badejos no Brasil
SANCHES, 2006
Epinephelus marginatus Viabilidade econmica da piscicultura
marinha da garoupa Epinephelus
Marginatus (Lowe, 1834) (Pisces,
Serranidae) em tanques-rede na regio
Sudeste do Brasil
SILVA, 2006
Epinephelus marginatus Viabilidade econmica do cultivo da
Garoupa Verdadeira (Epinephelus
marginatus) em tanques-rede, regio
sudeste do Brasil
SANCHES et al., 2006
Epinephelus marginatus Anatomia e histologia gastrintestinal da
garoupa-verdadeira
BORGES et al., 2010
Epinephelus marginatus Criao da garoupa-verdadeira
alimentada com rejeito de pesca e
rao mida em tanques-rede
SANCHES; AZEVEDO;
COSTA, 2007
Epinephelus marginatus Crescimento de juvenis da garoupa-
verdadeira submetidos a diferentes
dietas
RAMOS et al., 2012
Epinephelus marginatus Controle de Neobenedenia melleni em
garoupa- verdadeira, cultivada em
tanques-rede
SANCHES, 2008
Epinephelus marginatus Crioconservao do smen da SANCHES; OLIVEIRA;
SERRALHEIRO, 2009,
20
garoupa-verdadeira a
Epinephelus marginatus Inverso sexual da garoupa-verdadeira SANCHES; OLIVEIRA;
SERRALHEIRO, 2009,
b
Epinephelus marginatus Induo da inverso sexual da
Garoupa verdadeira com o uso de
hormnio masculinizante e
crioconservao do smen
SANCHES, 2008
Lutjanus analis Criao do vermelho-cioba (Lutjanus
analis) submetido a diferentes dietas
SANCHES, 2011
Lutjanus analis Preservao de smen refrigerado de
cioba com diluentes e atmosfera
modificada
SANCHES;
CERQUEIRA, 2011
4.3 Visita ao Instituto de Pesca de Ubatuba
O Laboratrio de Piscicultura Marinha do Ncleo de Pesquisa e
Desenvolvimento do Litoral Norte no Instituto de Pesca de Ubatuba tem como
principal objetivo desenvolver tecnologias para os criadores de peixes da regio. O
laboratrio dirigido pelo doutor em aquicultura, Eduardo Gomes Sanches. No local
atualmente so desenvolvidos trs projetos: Meros do Brasil, Serrandeos do
Brasil e Laboratrio Pblico para criao de sementes.
O projeto Meros do Brasil, atua atravs de uma rede formada por instituies
de ensino e pesquisa distribudas pelo litoral brasileiro, tendo como principal objetivo
a pesquisa e conservao da espcie Epinephelus itajara, que est classificada
como espcie criticamente ameaada pela Unio Internacional para a Conservao
da Natureza (UICN, 2006). Esse projeto est inserido em sete estados brasileiros:
Santa Catarina, So Paulo, Rio de Janeiro, Esprito Santo, Bahia, Pernambuco, e
Par. As aes de pesquisa e conservao do projeto tem as atividades focadas em
Biologia Pesqueira, Gentica, Conhecimento Ecolgico Local, Aquicultura Marinha,
Educomunicao, Educao Ambiental e Mergulho cientfico em nove estados
litorneos do pas. O Laboratrio de Piscicultura Marinha do Instituto de Pesca o
ponto principal desse projeto no estado de So Paulo, onde os trabalhos com o
mero foram iniciados em janeiro de 2012. O laboratrio passou por adequaes nas
instalaes para trabalhar com esta espcie (que pode atingir mais de 200 kg). As
21
pesquisas so desenvolvidas por meio do patrocnio do Programa Petrobrs
Ambiental, sendo que a pesquisa com a reproduo dos meros em cativeiro
indita no mundo.
O projeto Serrandeos do Brasil foi criado em 2005 a partir da preocupao
com a conservao dessa famlia, sua importncia econmica e a possibilidade de
gerao de tecnologia de cultivo, considerando o excelente potencial do litoral norte
paulista e litoral sul fluminense para o desenvolvimento do cultivo de peixes
marinhos e a presena de diversos serrandeos (garoupas, badejos, meros e
chernes) de alto valor de mercado nessa regio. A primeira espcie de serrandeo a
ser estudada pelo projeto foi a garoupa-verdadeira, possibilitando a elucidao de
importantes questes do ponto de vista de manejo desta espcie e propiciando a
formao de um banco de reprodutores que permitiu iniciar pesquisas de inverso
sexual, congelamento de smen, reproduo induzida e produo de formas jovens,
visando a realizao dos primeiros ensaios de engorda em escala massiva de
serrandeos no Brasil. Estes estudos conseguiram, de forma indita, obter e
crioconservar, com sucesso, o smen da garoupa-verdadeira, sendo considerado
histrico para a piscicultura marinha brasileira, tanto pelo valor econmico deste
serrandeo como por seu potencial para cultivo, possibilitando a primeira produo
de formas jovens de garoupa no Brasil. Atualmente, o Instituto de Pesca a nica
instituio, no Brasil, a manter um banco de smen de serrandeos, contribuindo
assim para a preservao destes peixes para as geraes futuras.
O projeto Laboratrio pblico para criao de sementes est no incio de seu
desenvolvimento, onde est sendo construdo um tanque de concreto (Figura 10)
para instalar a criao de alevinos para que os piscicultores da regio possam ter
uma fonte de sementes (alevinos), que a principal dificuldade deles.
22
Figura 10- Construo de tanque de concreto para criao de alevinos.
No Laboratrio de Piscicultura Marinha do Ncleo de Pesquisa e
Desenvolvimento do Litoral Norte so desenvolvidas pesquisas com as espcies
Epinephelus marginatus, Mycteroperca bonaci, Mycteroperca microlepis,
Epinephelus itajara, Lutjanus analis, Lutjanus synagris, Lutjanus cyanopterus e
Rachycentron canadum. Os peixes so criados em tanques de recirculao
construdos com lona ou fibra de tamanhos variados. O abastecimento dos tanques
realizado atravs da captao da gua do mar por uma bomba de 6 hps. O
laboratrio tambm possui tanques de armazenamento de gua do mar com
capacidade para 10 toneladas (Figura 11), onde esto sendo realizadas reformas
para dobrar a capacidade de armazenamento (Figura 12).
Figura 11 - Tanque de armazenamento de gua do mar com capacidade para 10 toneladas.
23
Figura 12 - Reforma para implantao de novo tanque de armazenamento de gua do mar com
capacidade para 20 toneladas.
A manuteno dos tanques ocorre atravs da troca de 10% da gua dos
tanques semanalmente, que tambm passam por filtros mecnicos, sifonagem
diria, tratamento com oznio e filtros ultravioleta. Realiza-se a anlise diria da
gua, onde so avaliados o pH, a incidncia de luz, a salinidade, a temperatura e a
oxigenao.
A alimentao feita por organismos vivos criados no local, rao e resduos
de pesca. A rao comprada pronta com custo em torno de R$ 5,00 o quilo ou
realizada a compra da formulao bsica que manipulada a fim de se adequar s
diferentes dietas, para analisar a eficincia das formulaes os peixes so pesados
mensalmente. O perodo de engorda leva em torno de um ano, sendo finalizada com
o perodo de reproduo. As pesquisas no mar so feitas junto aos criadores da
regio.
Atualmente est sendo desenvolvido um prottipo de suporte para
alimentao via satlite (Figura 13), que pode ser monitorado por computadores a
distncia. Esse alimentador automtico facilita o processo de alimentao que
muitas vezes pode ser dispendioso devido distncia e acessibilidade,
programando o tempo e a quantidade especfica de alimento para cada tanque.
24
Figura 13 - Prottipo de suporte para alimentao via satlite (alimentador automtico).
Segundo o Dr. Eduardo Gomes, as vantagens da piscicultura marinha seriam
o padro da qualidade do pescado e a diminuio da sobrepesca, evitando gerar
maiores desequilbrios no ambiente marinho. Como fatores limitantes, ele apontou
dificuldades para o licenciamento de empresas podendo levar de 2 a 3 anos, falta de
incentivo do governo, que limita o acesso ao crdito apenas para licenciados, falta
de sementes (alevinos), dificuldade em se adquirir uma localizao a beira mar, falta
de mo de obra especializada. Contudo ele acredita ser uma atividade rentvel, pois
o custo da engorda de 1kg de peixe em mdia R$ 12,00 a 15,00, podendo ser
vendido a R$ 40,00/kg, devido seu alto padro de qualidade.
4.4 Visitas aos criadores da regio norte do estado de So Paulo
Na visita de campo realizada Maricultura Itapema, as informaes foram
fornecidas pelo gerente de produo Joo Manzella, engenheiro de pesca, que um
dos proprietrios e responsvel pelas criaes. A empresa teve incio em 2010 em
Ilha Bela, hoje em dia possui 2 sedes uma em So Sebastio, na Praia Grande
(Figura 14) onde foi feita a visita e 1 em Ilha Bela na Praia do Poo, onde ficam
instalados os tanques rede, que no foi visitado neste trabalho. O grupo conta com
14 funcionrios que foram capacitados pelo gerente, que no perodo de 2007 a 2010
trabalhou com criaes de peixes marinhos em uma empresa no Recife.
25
Figura 14 - Sede da empresa Maricultura Itapema localizada em So Sebastio.
A empresa trabalha apenas com a espcie Rachycentron canadum
(beijupir), onde na sede em So Sebastio feita a parte de reproduo e
maturao dos alevinos. A reproduo feita a partir de 23 matrizes vindas de
criaes em Canania, que tm em mdia 12/15 Kg (Figura 15), armazenadas em
dois tanques de lona de 70 mil litros (Figura 16) e que so alimentadas com
sardinhas e lulas compradas de fornecedores. Os peixes atingem a fase reprodutiva
com 4 Kg, o que leva em mdia um ano. O ciclo de reproduo anual e a
temperatura ideal de 26 a 28C, sendo a fertilizao e a desova so naturais sem
qualquer induo para que ela ocorra, onde cada desova gera em mdia um milho
de ovos. Nos tanques onde ficam armazenadas as matrizes esto instalados
sistemas de captao de ovos fertilizados (Figura 17). Na Figura 18 observa-se a
entrada da gua no sistema de canos, na Figura 19 podemos ver sua sada e, em
seguida a gua passa por um tanque com filtro, como mostra a Figura 20, que
impedem que os ovos passem, ficando armazenados no local. Em seguida os ovos
so coletados e levados para a incubadora (Figura 21). Na incubadora a densidade
de estocagem de 5 a 10 larvas por litro mantidas a uma temperatura de 27 a 28C,
que gera uma taxa de sobrevivncia de 10 a 15%. Na figura 22 podemos observar
larvas de beijupir. Com at 3 dias as larvas ainda se alimentam do saco vitelnico, a
partir da comea-se a introduzir o alimento vivo, que so rotferos criados no local
(Figura23). Da larva at o alevino leva em torno de 30 dias para o desenvolvimento.
26
Quando o alevino atinge a faixa de 5 gramas ele vai para a engorda, que leva em
torno de 40 a 60 dias aps o perodo da desova.
Figura 15 - Matrizes de Beijupir (Rachycentron canadum).
Figura 16 - Tanques de lona de 70 mil litros.
27
Figura 17 - Tanque de lona com sistema de captao de ovos fertilizados.
Figura 18 - Estrutura montada para a captao de ovos fertilizados.
28
Figura 19 - Sada do sistema de captao de ovos fertilizados.
Figura 20 - Tanque de filtragem dos ovos fertilizados.
29
Figura 21 - Incubadoras de mil litros.
Figura 22 - Larvas de beijupir (Rachycentron canadum).
30
Figura 23 - Tanque de criao de rotferos.
A empresa tambm conta com cinco tanques de lona para alevinagem
(Figuras 24), que se encontram dispostos em um galpo junto a larvicultura e a
criao de rotferos (Figura 25), e cinco tanques de apoio (Figura 26), onde no dia da
visita, em um dos tanques estava um casal de beijupir (Figura 27).
Figura 24 - Tanques para alevinagem.
31
Figura 25- Galpo com tanques de larvicultura, alevinagem e criao de rotferos.
Figura 26- Tanques apoio.
Figura 27- Casal de matrizes de beijupir (Rachycentron canadum).
32
A manuteno dos tanques feita atravs de filtrao mecnica (Figura 28) e
sifonagem. O abastecimento dos tanques feito atravs da captao da gua do
mar por bombas de 5 cavalos de potncia (HP) ou aproximadamente 3.729 W, no
local eles possuem quatro bombas (Figura 29) mas mantm de 1 at 3 (em alta de
estoque) funcionando. A captao feita atravs de uma ponteira de captao que
se localiza em mdia 30 metros dentro do mar (pode variar conforme a altura da
mar), ento a gua direcionada aos tanques de circulao aberta.
Figura 28 - Filtros mecnicos.
Figura 29 - Bombas de 5 cavalos ~3.729 W.
33
Em Ilha Bela feita a parte da engorda, onde a empresa conta com 6 tanques
rede com 15 metros de dimetros a uns 100 metros da costa, a alimentao feita
atravs de rao comprada de fornecedores. A empresa conta com dois barcos, um
de 15 metros e uma lancha sendo que o transporte dos alevinos feito em uma
caixa dgua de mil litros com bombas de oxignio atravs da lancha at o local
onde esto instalados os tanques rede e o barco maior utilizado para o transporte
dos pescados, os peixes so coletados e no mesmo dia so congelados e
transportados. O gasto com a produo de 2,5 Kg de rao (custo mdio do Kg da
rao de R$5,50) para 1Kg de carne, mais os custos de mo de obra, transporte e
impostos.
A empresa no conta com programas de apoio ao produtor, mas o terreno em
So Sebastio cedido pela prefeitura onde em troca eles ajudam com palestras de
educao ambiental nas escolas, com visitas ao centro de produo, tambm
ocorrendo esporadicamente cursos gratuitos no local sobre a criao marinha
Na visita de campo ao casal de criadores de Ubatuba, foi possvel conhecer
uma criao de peixes em tanques rede prximos a costa de Ubatuba (Figura 30).
Os responsveis pela criao so o pescador e maricultor Cludio Batista de
Oliveira e a veterinria Luciana Yuri Sato. A criao de peixe teve incio a 4 anos,
tendo como nica sede a criao na Praia da Lagoinha em Ubatuba, Cludio j
criava mariscos e ento ampliou o negcio e comeou a criar beijupir
(Rachycentron canadum) (Figura 31). A alguns meses eles contrataram um
funcionrio sem experincia na rea que auxilia nos servios gerais. A criao feita
em 6 tanques rede de nilon de monofilamentos com estruturas inox de 5m5m e
3m de profundidade (Figura 32), cada um com 200 peixes, sendo a densidade de
estocagem de 7 a 10 Kg por metro cbico. Na Figura 33 possvel observar os
peixes dispostos em um tanque rede. O tempo mdio de criao de um ano e os
peixes normalmente so vendidos com cerca de 3 a 4 Kg. A produo semanal de
6 a 12 peas vendidas para restaurantes da regio, normalmente para comida
japonesa. O custo do quilo do peixe sai por R$35,00, o abate feito com choque
trmico e vendidos frescos no dia. Os alevinos so comprados da empresa Redemar
alevinos de Ilha Bela, onde o preo se encontra na faixa de R$4,00 por alevino. A
taxa de mortalidade por ser uma criao em local aberto de 30%. A engorda feita
atravs de rao e pescados comprados de fornecedores, a rao tem o custo
34
mdio de R$120,00 o saco com 25 Kg, que so armazenados em um galpo a beira
mar, sendo a alimentao feita uma vez ao dia, com o auxlio de uma lancha para
transporte. A manuteno dos tanques feita atravs da troca das redes nilon de
monofilamento a cada 30 dias, onde as redes retiradas so lavadas e reutilizadas. A
criao no tem problemas com doenas, apesar de j ter ocorrido problemas com
infestao de neobenedenia (platelminto que ataca peixes marinhos), onde os
peixes foram tratados com banhos de gua doce em caixas dgua de mil litros por
cinco minutos, controlando a doena que no voltou a aparecer.
Figura 30 - Criao de beijupir (Rachycentron canadum) e mariscos na Praia da Lagoinha em
Ubatuba.
Figura 31 - Criao de beijupir (Rachycentron canadum) em tanques rede e mariscos.
35
Figura 32 - Tanque rede de nilon de monofilamentos com estrutura de inox de 5m5m e 3m de
profundidade.
Figura 33 - Beijupirs (Rachycentron canadum) dispostos em tanque rede.
Como dificuldades foram citadas a falta de pesquisas na rea, principalmente
relacionadas a doenas e espcies com vantagens de criao, a dificuldade e
demora de se conseguir a licena para criao no mar, a falta de incentivo do
governo, o alto preo dos alevinos, a dificuldade de se conseguir gelo para o abate
durante a temporada de frias e dificuldade em se obter rao de qualidade, onde
36
ocorre muita variao na formulao e qualidade da rao que alm de tudo feita
para peixes de gua doce por no existir um comrcio significativo de peixes
marinhos. A desvantagem da criao marinha citada pelos criadores o pioneirismo
nessa rea to pouco estudada no pas. As vantagens seriam a garantia de
frequncia e qualidade, a atividade ser sustentvel e no depender da pesca, alm
de ser uma regio privilegiada com gua limpa e baas com mars mais mansas. A
criao no conta com apoio do governo, havendo inclusive a falta de interesse por
parte deste em incentivar essa forma de criao, sendo o nico incentivo oferecido o
acesso ao crdito. Os criadores no possuem parcerias com instituies de ensino,
mas incentivam pesquisas realizadas na rea. No dia da visita de campo tambm
haviam estudantes do Instituto Oceanogrfico da USP-Ubatuba que estavam
fazendo anlises do solo para estudar o impacto da criao de peixes marinhos no
ambiente marinho. Eles tambm auxiliam pesquisas realizadas pelo Instituto de
Pesca (IP) de Ubatuba e de So Paulo, onde o IP de So Paulo est com um tanque
rede para estudar a criao de uma espcie de robalo.
Na visita a empresa Redemar Alevinos, localizada no Bairro do Bexiga em
Ilhabela, as informaes foram fornecidas pela veterinria, mestre em Fisiologia,
Cludia Ehlers Kerber e o mitilicultor e pescador, Pedro Antnio dos Santos. Alm
dos responsveis pela empresa que cuidam diariamente da criao, eles contam
tambm com a ajuda de dois funcionrios, sendo um tecnlogo formado na rea que
cuida da criao de rotferos e um responsvel pela manuteno dos equipamentos.
No local so criadas as espcies Epinephelus marginatus (garoupa verdadeira),
Mycteroperca bonaci (badejo quadrado), Mycteroperca microlepis (badejo branco) e
Rachycentron canadum (beijupir), onde os alevinos so comercializados para
criadores da regio ou para pesquisas. A produo anual de 20 mil alevinos,
sendo metade destinada a pesquisa e metade destinada a criadores do Rio de
Janeiro e So Paulo.
A empresa possui 2 tanques de lona de 20 mil litros para reserva de
produtores, no dia um deles estava vazio e o outro com algumas matrizes de
beijupir e garoupa verdadeira (Figura 34), 2 tanques de alvenaria cobertos com
lona de 80 mil litros onde esto a maior parte das matrizes. A Figura 35 mostra o
tanque com matrizes de badejo e a Figura 36 com matrizes de beijupir, sendo que
o nvel da gua estava baixo porque estava sendo feita a limpeza do tanque.
37
Tambm contam com 8 tanques de 5 mil litros para a separao de lotes por
tamanho (Figura 37), 2 incubadoras de mil litros e 4 tanques de concreto armado de
14 mil litros para suporte, sendo que todos os tanques so de recirculao.
Figura 34 - Tanques de lona de 20 mil litros, um deles com algumas matrizes de beijupir
(Rachycentron canadum) e garoupas (Epinephelus marginatus).
Figura 35 - Tanque de alvenaria coberto com lona de 80 mil litros com matrizes de badejos
(Mycteroperca bonaci e Mycteroperca microlepis).
38
Figura 36 - Tanque de alvenaria coberto com lona de 80 mil litros com matrizes de beijupir
(Rachycentron canadum).
Figura 37 - Tanques de 5 mil litros para a separao de lotes por tamanho.
A empresa conta com 30 matrizes da famlia Serranidae dos gneros
Mycteroperca e Epinephelus, alguns foram pescados em Ubatuba mas, a maioria
veio da regio de Ilhabela. Na Figura 38 podemos observar uma das matrizes, um
badejo quadrado batizado de Giorgio que mostrou muita afinidade com a dona. Na
Figura 39 podemos ver o tanque com matrizes de badejo. A empresa participa do
Projeto Garoupas do Brasil da Petrobrs, onde criam alevinos para soltura, sendo os
animais chipados, permitindo o monitoramento de suas rotas para estudo de sua
39
ecologia e observao da taxa de sobrevivncia para analisar a eficincia do
repovoamento. Eles so o nico laboratrio com pesquisas de garoupas verdadeiras
do Brasil, tendo conseguido a primeira garoupa criada em cativeiro. A figura 40
mostra aproximadamente 50filhotes de garoupa de 1 ano em uma caixa dgua de 2
mil litros. As desovas ocorrem de forma natural no perodo de novembro a abril. Os
alevinos so vendidos com 1,5g com cerca de 70 dias.
Figura 38 - Giorgio, o badejo quadrado (Mycteroperca bonaci) de estimao.
Figura 39 - Tanque com matrizes de badejos (Mycteroperca bonaci.e Mycteroperca microlepis).
40
Figura 40 - Caixa dgua de 2 mil litros com filhotes de garoupa (Epinephelus marginatus) de 1 ano,
nota-se adereos postos para servir como tocas.
Tambm possuem no local 22 matrizes de beijupir, onde apenas um foi
capturado no mar e os outros vieram das empresas Lanan, Bahia Pesca e Aqualider
que criavam a espcie. As matrizes crescem muito rpido e quando atingem um
certo tamanho eles so trocados para no influenciarem na densidade de
estocagem, que de 7 a 10 quilos por metro cubico. Na Figura 41 observam-se
matrizes de beijupir, que no dia anterior a visita haviam desovado e na Figura 42
observam-se os ovos fertilizados de peixe em um bquer, boiando, mostrando a alta
taxa de fertilizao. Na Figura 43 possvel observar as larvas dentro dos ovos,
vistos em microscpio ptico com aumento de 40x. As desovas ocorrem de forma
natural no perodo de novembro a abril, gerando em mdia 2 a 3 milhes de ovos,
sendo 500 ovos por grama, com taxa de fertilizao de 90% e 10% de
sobrevivncia, o que uma grande vantagem da criao tendo em vista que em
ambientes naturais atingem apenas de 0,5 a 2% de sobrevivncia. Os alevinos so
vendidos com 1,5 g que leva em torno de 30 a 50 dias, sendo vendidos por unidade
a R$ 4,00. No perodo de venda os alevinos so separados em lotes por tamanho
para evitar o canibalismo.
41
Figura 41- Matrizes de beijupir (Rachycentron canadum).
Figura 42- Bquer com ovos de beijupir (Rachycentron canadum).
42
Figura 43- Ovos de beijupir (Rachycentron canadum) vistos no microscpio ptico em aumento de
40x.
As matrizes so alimentadas com peixes e moluscos comprados de
fornecedores, sendo necessrio para alimentar toda a criao 10 Kg ao dia. Os
alevinos so alimentados com rotferos e artmias marinhas criados no local.
O abastecimento dos tanques feito atravs da captao da gua do mar,
direcionada a uma caixa dgua de 10 mil litros, que em seguida passa por filtros de
areia de 50 microns de dimetro e ento direcionada aos reservatrios que so 2
caixas dgua de 20 mil litros e 1 de 10 mil litros que passa por tratamento UV para
ser utilizada na larvicultura. A gua vai para os tanques por gravidade, os tanques
so de recirculao com filtro de 38 microns de dimetro para evitar parasitas. A
manuteno dos tanques feita atravs de sifonagem quatro vezes por semana e
uma vez ao ms feita a troca da gua. A Figura 44 mostra funcionrios fazendo a
limpeza e manuteno dos tanques. Todos os sistemas de manuteno dos tanques
(filtros, bombas, sistema de oxigenao, etc.) possuem backup do sistema geral
(como o sistema de oxigenao, o sistema de recirculao, entre outros) para
manuteno ou emergncia.
43
Figura 44 - Funcionrios fazendo a limpeza e manuteno dos tanques.
A criao no enfrenta problemas com doenas hoje em dia, apenas antes de
ser instalada a recirculao apresentaram problemas com Neobenedenia spp
(platelminto parasita de peixes marinhos) e Caligus spp (crustceo parasito de
peixes marinhos). Segundo os criadores os peixes necessitam de gua limpa e taxa
de densidade baixa, principalmente o beijupir por ser uma espcie migratria.
Os criadores citaram vantagens da regio como a conformao do litoral
privilegiada para criao, alm de estar do lado dos grandes consumidores que
esto localizados na cidade de So Paulo. Uma desvantagem da regio seria a
temperatura da gua que diminui a taxa de crescimento, onde na regio a taxa de
2 Kg/ano, sendo que no nordeste chega a 6 Kg/ano por possuir uma temperatura da
gua mais elevada. A empresa no encontrou dificuldade para conseguir a licena
para criao. As maiores dificuldades na rea relatadas pelos criadores a falta de
alimento de qualidade, sendo difcil conseguir pescados de qualidade por um bom
preo. As raes muitas vezes so processadas com pescados estragados e ao
esterilizar perde protenas e leos essenciais. Por falta de rao, muitas vezes os
criadores acabam tendo que processar rao para peixe de gua doce junto com
sardinha para poder oferecer uma alimentao com a formulao adequada para
peixes marinhos. Alm disso, citaram o problema do alto custo dos equipamentos
para esse tipo de criao, que tornam-se mais caros se forem em tanques no mar,
pois necessitam de equipamentos como barco e guincho para manuteno. Os
44
criadores quando deram incio as pesquisas de produo de sementes (termo usado
pelos produtores para produo de alevinos) acreditavam que ao fornecer os
alevinos teriam mais criadores entrando para rea, mas devido ao alto custo da
produo e dificuldades como conseguir a outorga da rea marinha, falta de
profissionais na rea entre outros problemas, no cresceu significativamente o
nmero de criadores.
A empresa no possui nenhum auxlio ou incentivo do governo, mas faz
parcerias com diversas instituies de ensino e pesquisas, como o Instituto
Oceanogrfico da USP, o CEBIMar da USP, o Instituto de Pesca de So Paulo e de
Ubatuba, a Universidade Federal do Rio Grande, a Universidade Federal do Cear,
a Universidade Federal de Pernambuco, a Universidade do Vale do Itaja, a
Universidade Federal de Santa Catarina, a UNESP de Jaboticabal, entre outras.
Eles contribuem fornecendo material e ajudando a expandir as pesquisas. Alm de
incentivar pesquisas na rea a empresa tambm auxilia com seus conhecimentos
sobre o assunto e incentiva criadores da regio.
Um resumo comparativo dos resultados obtidos entre os criadores visitados,
baseados nos principais tpicos do roteiro mostrado na Tabela 2.
Tabela 2- Comparao entre os criadores
Maricultura
Itapema
Criao em
Ubatuba
Redemar Alevinos
N de locais de
criao
2 1 1
N de
funcionrios
14 1 2
Espcies
criadas
Rachycentron
canadum
Rachycentron
canadum
Rachycentron canadum
Epinephelus itajara,
Epinephelus
marginatus,
Mycteroperca bonaci e
Mycteroperca microlepis
Sistema de
cultivo
Tanques de
recirculao
e tanques
Tanques rede Tanques de
recirculao
45
rede
N de tanques 12 tanques
de
recirculao
e 6 tanques
rede
6 tanques rede 16 tanques de
recirculao
Origem dos
peixes
Criao em
cativeiro
Criao em
cativeiro
Criao em cativeiro e
pesca
Forma da
desova
Natural --- Natural
Tipo de
alimentao
Pescados,
rotferos e
rao
Rao e
pescados
Pescados, rotferos e
artmias
Origem do
alimento
Comprados
de
fornecedores
e criados no
local
Comprados de
fornecedores
Comprados de
fornecedores e criados
no local
Produo 400
Kg/semana
6 a 12
peas/semana
20 mil alevinos por ano
Valor vendido
no mercado
R$ 32,00
R$ 64,00 por
Kg
R$35,00 por Kg R$ 4,00 por alevino
Compradores Restaurantes Restaurantes da
regio
Produtores e
pesquisadores
Vantagens da
criao marinha
- Produo
de protena
de qualidade;
- Forma de
cultivo
sustentvel;
- Garantia de
frequncia e
padro de
qualidade.
- Garantia de
frequncia e
padro de
qualidade;
- Atividade
sustentvel;
- Independncia
da pesca;
- Regio
privilegiada.
- Regio privilegiada;
- Acesso fcil aos
grandes consumidores
de So Paulo.
46
Dificuldades No relatou
- Pioneirismo;
- Falta de
pesquisas na
rea;
- Dificuldade para
se conseguir a
licena;
- Falta de
incentivo do
governo;
-Alto preo dos
alevinos;
- Dificuldade para
conseguir rao
de qualidade.
- Falta de alimento de
qualidade;
- Alto custo dos
equipamentos.
Programa de
apoio ao
produtor
Nunca
participou
Nunca participou Nunca participou
Parcerias com
instituies
---- IP e IO/USP IO/USP, IP,
CEBIMar/USP,
UNESP/Jaboticabal,
Univali, UFC, UFPE,
FURG, UFSC
Ao comparar os criadores nota-se que as formas de criao so bem
diferentes de um local para o outro. As empresas Maricultura Itapema e Redemar
Alevinos possuem criaes que se assemelham em alguns pontos, mas, ainda
assim, so bem diferentes. A empresa Maricultura Itapema muito bem estruturada,
conta com a ajuda de 14 funcionrios e possui 2 sedes, sendo uma sede com 12
tanques de recirculao em uma estrutura a beira mar em So Sebastio,
responsvel pela alevinagem e uma sede em Ilhabela onde possuem 6 tanques rede
no mar para a parte da engorda. A empresa trabalha apenas com a espcie
Rachycentron canadum, sendo que as matrizes reprodutivas tiveram origem de
outros criadores. Comparada s outras criaes tem uma grande produo,
produzindo em torno de 400 kg semanais e o quilo do peixe vendido de R$32,00 a
47
R$64,00 quando incluso o transporte, tendo como principais compradores
restaurantes de So Paulo. Tem o objetivo totalmente comercial, o que se difere da
empresa Redemar Alevinos, que est mais na linha de pesquisa, possuindo parceria
com diversas instituies de ensino e participando de projetos de cunho ambiental.
A empresa Redemar Alevinos tambm possui uma estrutura bem adequada
para a criao de peixes marinhos, contando com a ajuda de 2 funcionrios. Possui
uma nica sede onde esto instalados 16 tanques de recirculao. A empresa
trabalha com alevinagem das espcies Rachycentron canadum Epinephelus itajara,
Epinephelus marginatus, Mycteroperca bonaci e Mycteroperca microlepis, sendo a
criao com a maior variedade de espcies. As matrizes reprodutivas tiveram origem
de outros criadores e de pesca. A empresa tem uma demanda de 20 mil alevinos ao
ano vendidos ao preo de R$4,00 cada, sendo metade vendida para criadores da
regio e a outra metade para pesquisas.
A criao de Ubatuba difere bastante das outras criaes, sendo uma criao
menor que trabalha apenas com a parte da engorda da espcie Rachycentron
canadum. Nota-se o potencial da espcie que est presente em todas as criaes.
Os criadores possuem uma sede de criao com seis tanques rede e contam com a
ajuda de um funcionrio. A produo de 6 a 12 peas por semana vendidas por
R$35,00 o quilo, podendo ser considerada uma produo pequena se comparada a
empresa Maricultura Itapema que tambm trabalha com a engorda.
Quanto a alimentao, as empresas que trabalham com larvicultura e
alevinagem tem criao prpria de rotferos (Rotifera), sendo que a empresa
Redemar Alevinos tambm cria artmias marinhas (Crustacea), j para as matrizes
reprodutivas as duas empresas compram pescados frescos. Na parte da engorda as
2 criaes utilizam rao comprada de fornecedores.
A empresa Maricultura Itapema no relatou nenhuma dificuldade, j a
empresa Redemar Alevinos e os criadores de Ubatuba relataram dificuldade em
conseguir rao de qualidade. Os criadores de Ubatuba tambm relataram
dificuldade devido ao pioneirismo na rea, ressaltando a falta de pesquisas na rea,
a dificuldade de se conseguir a licena para criao, a falta de incentivo do governo
e o alto preo dos alevinos. As vantagens da criao marinha citadas tanto pelos
criadores de Ubatuba quanto pela empresa Maricultura Itapema foram a garantia de
frequncia e padro de qualidade e ser uma atividade sustentvel, sendo que os
48
criadores de Ubatuba e a empresa Redemar citaram a regio como privilegiada para
essa forma de criao.
Podemos perceber com a empresa Redemar Alevinos que possvel fazer
piscicultura marinha no tendo uma viso apenas comercial e pensando em qual a
rentabilidade do pescado, mas pensando em pesquisas que auxiliem de fato a
diminuir problemas com pesca exploratria de algumas espcies que hoje fazem
parte da lista de espcies ameaadas de extino e contribuindo para o
desenvolvimento da regio uma vez que com a produo de alevinos possibilita a
existncia de outras empresas que fazem a engorda dos peixes como o caso dos
criadores de Ubatuba.
Este trabalho mostra tambm a importncia das parcerias entre instituies
de ensino/pesquisa com empresas que tem o material biolgico, mas no tem muita
mo de obra especializada para fazer pesquisas, sendo tambm fonte futura de
empregos e estgios para distintos alunos de diferentes instituies no s do
estado de So Paulo, mas de todo o pas.
5. CONSIDERAES FINAIS
O litoral norte do estado de So Paulo apresenta um grande potencial para a
piscicultura marinha, devido a sua geografia e alta demanda de mercado. Contudo a
atividade ainda enfrenta problemas primrios como falta de pesquisa na rea e de
incentivos fiscais por parte do governo, uma vez que se trata de uma atividade que
exige um investimento inicial considervel.
6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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