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C ADERNOS T ERRAS Q UENTES 12 Terras Quentes - Caderno 12_09_Layout 1 20-07-2015 18:56 Page 1

ADERNOS TERRAS QUENTES...2 Cadernos “Terras Quentes” Revista da Associação de Defesa do Património Arqueológico do Concelho de Macedo de Cavaleiros “Terras Quentes” Editor

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  • CADERNOS

    TERRAS QUENTES12

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    Cadernos “Terras Quentes”Revista da Associação de Defesa do Património Arqueológico do Concelho de Macedo de Cavaleiros “Terras Quentes”

    Editor e propriedadeRevista da Associação de Defesa do Património Arqueológico do Concelho de Macedo de Cavaleiros “Terras Quentes”

    Rua D. Maria Mascarenhas escola do 30, apartado 1105340-900 Macedo de CavaleirosTel. 278448007

    Endereços eletrónicosE-mail: [email protected] E-mail: [email protected] E-mail: [email protected] E-mail: [email protected] E-mail: [email protected]

    Site: www.terrasquentes.com.pt

    DirectorCarlos Alberto Santos Mendes

    Conselho de RedacçãoJoão Carlos Senna-MartinezCarlos Alberto Santos MendesJosé Manuel Quintã VenturaManuel José de Sousa CardosoBelmira Mendes

    Colaboradores deste númeroAlexandre Carvalho NetoAntónio GradíssimoCarlos Alberto Santos MendesElsa LuísFrederico Reis MoraisHenrique FerreiraJoão Carlos Senna-MartinezLuis Miranda PereiraMiguel Sanches Baêna

    Em Capa Foto coronel Albino Pereira Lopo

    ContracapaMapa Macedo de Cavaleiros 1220-1325

    Design e grafismoCleto SaldanhaCarlos Mendes

    ImpressãoVRI- Impressores, Ldª

    Depósito Legal212756/15

    EdiçãoNº 12, Setembro 2015

    FICHA TÉCNICA

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    ÍNDICE

    5 EDITORIALDr. Manuel José Sousa Cardoso

    7 ALBINO DOS SANTOS PEREIRA LOPO;O HOMEM, A OBRA, O MILITAR, O ARQUEÓLOGODr. Luís de Miranda Pereira| Mestre Carlos Mendes

    33 25 DEABRIL DE 1974 - 40 ANOS DEPOIS.CONTRIBUTOS PARA A HISTÓRIA DE PORTUGALFrederico Carlos dos Reis Morais | Alexandre Carvalho Neto Miguel Sanches Baêna | Henrique Costa Ferreira | Carlos Mendes

    57 MACEDO DE CAVALEIROS NA IDADEMÉDIA:A REGIÃO, AS FAMÍLIAS E OS HOMENS (SÉC. XIII A 1325)António Elias Gradíssimo

    187 SOBRE AS ABERTURAS DOTÚMULO DE D. AFONSO HENRIQUES. SERIA O NOSSO PRIMEIRO REI DE PROGÉNIAALEMÃ?Miguel Sanches Baêna

    195 O SÍTIOARQUEOLÓGICO DA FRAGA DOS CORVOS(VILAR DOMONTE, MACEDO DE CAVALEIROS):A CAMPANHA 11 (2013)João Carlos Senna-Martinez | Elsa Luís

    209 NOTAS E PENSAMENTOS SOBRE O CONTRIBUTO DAARQUEOLOGIA PARA A SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

    Elsa Luís

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  • Se fizéssemos um breve exercício sobre comotudo seria se não tivesse havido até hoje a publicaçãodos Cadernos Terras Quentes (e o trabalho que lhestem estado na base) facilmente chegaríamos à con-clusão que o mundo seria diferente… para pior!Mesmo os nossos detractores não fogem a reconhe-cer que o nosso trabalho tem sido válido, muitíssimoválido! Ficando-nos como sábio o facto de que, umpouco por toda a região, surgem sintomas e exem-plos de que a nossa pedagogia (quais Verneys do sé-culo XXI!) tem frutificado de forma prolífica efacetada. Por isso surgem os casos de maior reparono património, maior cuidado na sua preservação erestauro, mais interesse na investigação e arqueolo-gia, a par de todos os numerosos trabalhos derivadosdo que os nossos tiveram por pioneirismo. Aindabem! Nada disso se consegue sem perseverança e ofacto de estarmos com o décimo segundo cadernoTerras Quentes é uma prova tangível desta necessáriaperseverança.

    Daí que seja com manifesto orgulho científico(talvez brio seja uma palavra melhor mas orgulhoexprime uma grandeza superior do brio, também!)que lemos a pergunta, magnífica pergunta de ElsaLuís no seu artigo, mas afinal para que é que serve aarqueologia?, sendo que na sua resposta nos atreve-mos a sugerir um complemento (já que as conclu-sões do artigo são “não-finais”…) como resumo decadernos anteriores: serve para nos encher as medi-das de termos trazido à luz um passado quase insus-peito e extraordinário da terra que pisamos, aqui,em Trás-os-Montes! As coisas extraordinárias nãoacontecem só no National Geographic Magazine,acontecem também por aqui e disso se sabe desdehá muito, como podemos constatar no artigo sobre

    Albino dos Santos Pereira Lopo, ou no sobre O SítioArqueológico da Fraga dos Corvos – a campanha 11(2013), de João Carlos Senna-Martinez.

    António Elias Gradíssimo aparece-nos com umanotável tese sobre Macedo de Cavaleiros na IdadeMédia: a Região, as Famílias e os Homens (Séc. XIII a1325), que impressiona pela informação e que deixaantever muitas pistas para mais trabalhos sobre omesmo tema.

    Mais uma vez, neste caderno não ficamos confi-nados a um carácter regional e vamos até a um dosmarcos insubstituíveis na nossa história, a do nossoprimeiro rei, num artigo inesperado de Miguel San-ches Baêna, Sobre As Aberturas do Túmulo de D.Afonso Henriques: Seria o nosso Primeiro Rei de Pro-génia Alemã? Se a história, mormente a curiosidadehistórica, também se faz de mistério, este artigo urdehipóteses que não deixarão ninguém indiferente.

    Tal como se não fica indiferente ao ler as páginassobre o nosso passado recente que inauguram umestilo novo na nossa publicação: conduzidos porCarlos Mendes, Frederico Carlos dos Reis Morais,Alexandre Carvalho Neto, Miguel Sanches de Baênae Henrique da Costa Ferreira dão testemunhos reaise documentais assinaláveis sobre uma fase da nossahistória em que a História ainda está, em muito, porescrever.

    Este caderno não vem apenas cumprir calendá-rio: vem acrescentar mais excelência à excelência dosanteriores. Desejo a todos excelentes momentos nasua leitura – e meditação!

    Manuel CardosoLatães, 2015

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    DR. MANUEL JOSÉ SOUSA CARDOSO

    EDITORIAL

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    Pretende-se com este artigo levar ao conheci-mento dos nossos leitores a vida e obra de um dospioneiros da arqueologia nacional. Por outro lado,justificar, a escolha da figura de Albino Pereira Lopopara patrono do Museu Municipal de Arqueologiade Macedo de Cavaleiros.

    BREVE NOTA BIOGRÁFICA

    Albino dos Santos Pereira Lopo nasceu em Estevais,no concelho de Mogadouro, em 21.10.1860 e faleceu emBragança, em 24.12 1933. Filho de João Batista Hipó-lito e de D. Maria da Conceição Pereira Lopo, proprie-tários abastados. Casado com Alice Beatriz de Miranda,fez os estudos preparatórios em Bragança, frequentou oLiceu de Braga e ingressou na Escola do Exército, con-cluindo o curso de Infantaria, em 26.12.1884. Foi aspi-

    rante no Regimento de Caçadores 3, em Bragança, co - mandou, como Tenente Coronel, o 6.° Grupo de Metra-lhadoras e, já como coronel, comandou o Regimento deInfantaria 30.

    Foi nomeado pelo Ministro da Guerra inspetor dosmonumentos militares do Norte, em Agosto de 1903. Foidirector e organizador da Carreira do Tiro de Bragança.Recebeu várias e importantes condecorações civis e mili-tares, sobressaindo a medalha de Cavaleiro de S. Bentode Avis, por serviços distintos. Foi sócio da Sociedade deGeografia de Lisboa, do Instituto de Coimbra e da Asso-ciação dos Arquitectos e Arqueólogos Portugueses.

    O artigo que se segue é a transcrição das duascomunicações feitas em 17 de Março de 2015 nociclo de conferências “Arqueólogos e Arqueologia”da Sociedade de Geografia de Lisboa, pelos respeti-vos autores.

    DR. LUÍS DE MIRANDA PEREIRA*

    MESTRE CARLOS MENDES**

    ALBINO DOS SANTOS PEREIRA LOPO;O HOMEM, A OBRA, O MILITAR, O ARQUEÓLOGO

    *. Licenciado em Direito, Bisneto do Coronel Albino Pereira Lopo. Membro da Associação Terras Quentes.**. Licenciado em Arqueologia e história, Mestre em História Regional Local, Presidente da Associação Terras Quentes.

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  • O MEU BISAVÔ ALBINO LOPO,O HOMEM E O SEU TEMPO

    Luís Miranda Pereira

    Para além do prazer pessoal que é o participar nestasessão que lembra e homenageia uma figura de relevona cultura do nordeste transmontano, meu Bisavô,pelo papel que teve, em tempos pioneiros, na desco-berta, estudo, preservação e divulgação, designada-mente, do património arqueológico daquele território,tem para mim especial significado lembrar minha Avó,Clarisse Lopo de Miranda, a filha que foi o apoio emmuitos dos trabalhos do Coronel Albino dos SantosPereira Lopo, filha que idolatrava o Pai, que ainda hojeé também ela uma referência para muitos que guar-dam a sua memória e com quem aprendi desde pe-queno a respeitar a importância e dimensão da obrado meu Bisavô e a defender o seu legado.

    Agradeço, por isso, à Sociedade de Geografia deLisboa e à sua Secção de Arqueologia, na comemo-ração dos 140 anos de vida ao serviço da ciência eda cultura de Portugal, o quererem lembrar um dosseus sócios que usava com orgulho o colar destaprestigiadíssima Sociedade.

    Em particular agradeço o convite para aqui estare a iniciativa desta homenagem aos meus ExmosAmigos, Professor Doutor Senna-Martinez e MestreCarlos Alberto Mendes que nos seus continuadostrabalhos na descoberta do nosso passado, designa-damente, no Nordeste Transmontano, fazem ques-tão de não ignorar quem, como o meu Bisavô,começou a abrir caminhos que ainda hoje são tri-lhados na descoberta das nossas raízes profundas,raízes mais ou menos enterradas pelos séculos equase sempre inscritas na quase eterna pedra.

    O Coronel Albino dos Santos Pereira Lopo foi ummilitar, com enorme orgulho nas suas origens, na suacarreira e na afirmação pública dos Lopos, dos Este-vais, a pequena e isolada aldeia de Mogadouro deonde ele e os seus provinham de famílias tradicionais,católicas, de proprietários rurais com importâncialocal, e dos quais, sem ninguém ignorar, su blinhavacom especial relevo o seu tio Cónego, que o educoue muito apoiou, e o seu Irmão magistrado.

    A vida de meu Bisavô foi dedicada às raízes e aosseus, mas sobretudo à carreira militar e ao seu sonhode descoberta e compreensão dos sinais que o pas-sado nos legara e que o amor pátrio, a curiosidadecientífica e a atitude romântica dos fins do séc. XIXacicatara em alguns dos nossos melhores.

    O Coronel Albino Lopo foi isso mesmo, na suadimensão humana com fragilidades e defeitos, umdos nossos melhores, numa época de redescoberta eressurgimento dos valores pátrios. Um Homem comuma vida plena de realizações, mas com um fim devida amargurado e só.

    Albino Lopo, antes do mais, era um militar, como rigor da atitude, exigência para consigo e para comos outros, culto da disciplina, capacidade de inicia-tiva e liderança e é esse culto de virtudes militaresque o leva a uma carreira distinta desde a conclusãodo curso de infantaria em 1884, começando, emBragança, como Aspirante, depois Tenente em Ca-çadores 3, comandando, já como Tenente-coronel,o 6.º Grupo de Metralhadoras e, por fim, Coronel,o Regimento de Infantaria 30. Cria, organiza e dirigea carreira de tiro de Bragança. Para além de outrasdistinções, é-lhe concedido em 1899 o grau de Ca-valeiro da Real Ordem Militar de S. Bento de Avis.

    É esse espírito militar integrante da sua idiossin-crasia que marca também a sua obra de investigaçãoem geral e o desempenho das funções de Inspetordos Monumentos Militares do Norte e de vogal daComissão Nacional dos Monumentos Nacionais,atividades que menos se conhecem. A noção militarde exato posicionamento e orientação espacial noterreno, do levantamento de posições e do seu valorestratégico, da indicação de pontos de referência,marcam a descrição dos seus achados e são precio-síssimo elemento de referência para quem hoje lhesegue as pisadas.

    Para se tentar compreender o Homem, importa,em breves pinceladas, enquadrá-lo no tempo em queviveu, de 1860, quando nasce, a 1933, ano da mor -te, mas, especialmente, no período, desde 1884,finda a formação académica aos 24 anos, quandoinicia a carreira militar e abraça a atividade arqueo-lógica, até aos dez anos antes da sua morte.

    Estamos na última metade e fins do séc. XIX enos princípios do séc. XX, em Monarquia, na 1ª Re-pública e nos primeiros anos do Estado Novo.

    Albino Lopo cresce e vive em Monarquia, senteos efeitos da Conferência Colonial de Berlim, viveas emoções do ultimato inglês, o início dos com-boios, vê a mudança de século, acompanha as notí-cias da Exposição Mundial de Paris e vive o regicídioe o fim da Monarquia, tem 50 anos de idade na im-plantação da República, passa pelas bancarrotas dofim da monarquia e da 1.ª república, pelo sidonismoe pela monarquia do norte, assiste à primeira grandeguerra, à revolução russa e ao advento do comunis -

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  • mo, como assiste ao fim da primeira república e aoinício do Estado Novo. Morre na véspera de Natal,escassos nove meses passados sobre a entrada emvigor da constituição de 33.

    Basta este resumo para se perceber quão comple-xos foram aqueles tempos para quem vivia no nossoPortugal, mas não podemos esquecer, para além docontexto internacional onde tudo se inseria, comparticular relevo para a noção de império e da ques-tão ultramarina e as tensões dela decorrentes, a somade realidades regionais e locais que formavam ocomplexo do todo português continental.

    O fantástico mundo da globalização a que ospor tugueses deram início com a sua saga e que, hoje,nos coloca perante uma mudança total de tempos eparadigmas de vida e ação, não tinha tradução notempo de Albino Lopo dentro da vida confinadapelas nossas fronteiras continentais metropolitanas.Nem os primeiros passos da comunicação à distân-cia, que os pombos, as réguas e bandeiras maiorita-riamente garantiam, nem a rede viária ou os meiosde transporte permitiam o tipo de vida que hoje co-nhecemos – os primeiros automóveis em Bragança,que o meu Bisavô deve ter aplaudido, terão aí cir-culado nos primeiros anos do séc. XX, um delesquase lhe causando a morte em 1915.

    O interior do país particularmente de Trás-os--Montes, pelo seu extremo isolamento, regia-se porlógicas de mercado e produção económica muito emcircuito fechado onde se produzia quase tudo, oumuitas vezes só o mínimo necessário, para a subsis-tência dos habitantes locais, interior transmontanoem que, para além do aglomerado rural das aldeias,o ambiente das vilas e cidades era eminentementenão só rural mas pequeno-burguês.

    A vida social, as elites, os grupos, eram paroquiaismesmo quando regendo-se por lógicas ou eventuaisditames nacionais. As notícias demoravam dias a che-gar. O tempo de Lisboa e de Bragança era diferente.

    Hierarquias religiosas e militares com o peso dasrespetivas instituições, designadamente, semináriose quarteis, instituições e representantes da Justiça,da banca e do ensino, os poucos médicos, consti-tuíam a nata social pequeno burguesa, a quem, porúltimo mas não com menos importância, por vezespertencendo a mais de um dos grupos anteriores, sejuntavam médios e grandes proprietários (grandezaa medir pelos parâmetros transmontanos), muitosdeles representantes de uma pequena aristocraciarural, em geral, de extração liberal, senhores dascasas grandes de que dependiam o emprego e eco-

    nomia de muitas aldeias, e alguns entre estes, pelosserviços prestados, titulares e fidalgos da Casa Real.

    Dessa elite saiam os políticos locais de maior oumenor importância pública nacional, não só ao ser-viço da monarquia mas também, depois, da repú-blica e, por fim, do Estado Novo.

    É neste contexto e com essas elites que Bragança,como muitas urbes do interior, desenvolvia e manti-nha uma vida social e cultural própria que dava aointerior a capacidade de influenciar e ter voz no con-texto nacional, havendo muitas vezes tensão entreBragança e o governo central; vida social e culturalque necessariamente também conformou a vida dopioneiro militar-arqueólogo, para o bem e para o mal.

    A ação de grupos maçons e anticlericais marcatambém a sociedade brigantina do fim da monar-quia, do início da república e dos tempos que se lheseguem.

    A instauração da república é, na realidade de Bra-gança, um momento de ajustes de contas e de repo-sicionamentos sociais no contexto de uma luta maisou menos aberta que marcou o fim da monarquia ea luta entre os principais partidos republicanos jáem plena República e em que o ódio jacobino à re-ligião e à influência da Igreja, de grupos ativistas,teve papel preponderante.

    Um pequeno episódio da história familiar pas-sado com um cunhado de Albino Lopo e meu tio-bisavô, o Coronel António Sebastião do Valle, queera responsável pela junta de recrutamento militar,é ilustrativo das tensões e diferenças da época. Im-plantada a República todos os padres e bispos emidade de inspeção, que antes eram dispensados doserviço militar, foram mandados apresentar à juntade recrutamento para se submeterem à inspeção. OBispo de Bragança de então, D. José Alves Mariz,que era um homem alto e de grande nível intelec-tual, teve de apresentar-se à junta presidida pelo Co-ronel Valle. Esta, por decisão do meu Tio-bisavô,dispensou-o do serviço militar com o argumento de“de se tratar de pessoa de elevada estatura”. A for-mulação da decisão custou ao Coronel Valle o serpassado à reserva no dia seguinte. O Bispo, comooutros membros do clero pelo país, foi, em 1912,perseguido e desterrado e no desterro morre um anodepois.

    Há muitas perguntas para que não tenho respostasobre o meu Bisavô e faltam-me minha Avó e minhaMãe que a algumas dariam, por certo, resposta. Semreferir as muitas que me vêm ao espírito relativa-mente às relações familiares, interessaria saber:

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  • • Como nasceu no jovem Albino Lopo a veia doarqueólogo pioneiro? Quem o poderá ter in-fluenciado?

    • Quem o apoiou e quem o deixou cair, se assimse pode sintetizar a realidade?

    • Terá tido envolvimento na política partidáriado tempo, antes e depois da república?

    A última pergunta penso ter a resposta de que,como militar, o envolvimento direto com a políticanão existiu, mas a resposta às duas primeiras para asquais não tenho informação segura, dariam a perce-ber melhor o início e o fim da vida do Coronel.

    Militar ao serviço do poder legitimado o CoronelAlbino Lopo serviu a República, por pouco tempoembora, como havia servido a Monarquia, até deixaro exército e o comando de Infantaria 30, creio quelogo no início do novo regime. Passa à reserva em18 de Novembro de 1916.

    Pela sua educação católica – ainda hoje por von-tade escrita tem o retrato na que foi a sua Capela deNossa Senhora da Alegria, do séc. XVIII, capela sitaem terreno autónomo de uma quinta que lhe per-tenceu nos Estevais, e que continua a ser preservadae venerada como património comum da família – etambém pelas raízes familiares assentes na monar-quia, dificilmente seria um idealista republicano mi-litante (muito embora depositasse fortes esperançasna mudança que se anunciava), ou irmão de qual-quer loja, mas, pela sua modernidade e dedicaçãoao espírito científico estava perto de muitos e cor-respondia-se com muitos, com quem partilhava apertença às mesmas instituições científicas e queforam importantes defensores e representantes dosideais republicanos. Mas também isso poderia seracicate para as intrigas e acintes locais.

    As realizações e momentos mais relevantes da ati-vidade de meu Bisavô como investigador arqueológicoaconteceram antes do virar do século, pre parava-se jáo fi m da monarquia. Nos seus livros – escreve a pri-meira monografia sobre Bragança – coloca o resultadodas suas investigações e achados mas também muitodo seu pensamento e sentimentos sobre variados te-mas. É o seu legado espiritual materializado na escrita.

    Como obra física e projeto de uma vida, resul-tado essencial e continuidade necessária de uma açãodevotada e contínua em favor da descoberta e estudode objetos e sítios arqueológicos, a realização maiordo Coronel Lopo é a criação do Museu Municipal.

    O Museu nasce em 1896 e é inaugurado no anoseguinte.

    Mas é uma ideia que durante mais de dez anosantes, o Coronel Lopo havia, publicamente, acalen-tado e defendido, o que leva o Município, em 96, àdecisão fundacional e, em 97, à nomeação de AlbinoLopo como diretor.

    O então capitão organizou prontamente uma subs-crição pública para a aquisição e doação de peças mu-seológicas, com o suporte da elite da cidade, o que,com o apoio financeiro inicial da Câmara e os achadosarqueológicos que já reunira, foi a base de arranquedo Museu. Depois, este é dirigido e financiado, quasetotalmente a expensas próprias, por Albino Lopo, até1915, durante praticamente 20 anos.

    Saído da antiga casa da câmara, onde nascera efora ajudado a crescer pelo apoio da intelectualidadebragançana e do clero, dinamizado pelo entusiasmocultural do seu Bispo Alves Mariz, autor de exem-plares mensagens pastorais neste contexto, o MuseuMunicipal estava já instalado em 1912 no antigoPaço Episcopal, para onde foram transferidos váriosserviços, edifício confiscado pelo Estado à Igrejaapós a expulsão do bispo, nesse mesmo ano e ondehoje permanece o Museu Abade de Baçal.

    Em Junho de 1915, meu Bisavô sofre uma gravequeda do cavalo, que se espantou à passagem de umautomóvel na estrada do Sabor. Fica à morte e de-mora a recuperar. Como ele próprio conta, o Se-nado, aproveitando a circunstância, substituiu-o naDireção do Museu, “por um indivíduo que só tinhaque o recomendasse para tal cargo a necessidade deo socorrerem com 240 reis diários”.

    Depois disso, parece ter havido uma retrataçãoda Câmara e um pedido para voltar, a que teráanuído, mas com efeito nulo nos desenvolvimentosdo futuro imediato.

    Cinco meses passados depois do que se relatou,por decreto lei de 13 de Novembro de 1915, dentroda política de criar em todos os distritos museus re-gionais, por influência de José de Figueiredo e muitopara enquadrar e salvar parte do espólio do paço epis-copal, foi criado um reinventado museu em Bra-gança, sob a designação de Museu Regional de Obrasde Arte, Peças Arqueológicas e Numismática de Bra-gança, museu que assumiria, segundo o Decreto, oconteúdo do Museu Municipal como acervo inicial.É nomeado diretor o jornalista Álvaro Carneiro. Ora,até que este morre, em 1925, não se dá pela sua açãonem o museu funciona, fruto das desavenças entre aCâmara e o governo e partidos respetivos, não dei-xando a Câmara que as peças do Museu Municipal

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  • fossem integradas. Salvo esporádicas e raras visitastambém o Museu Municipal passou a estar fechado.

    Só após doze anos de limbo, o reinventado mu -seu abre ao público, já depois de integrar o espóliodo espoliado Paço e o acervo do Museu Municipale nestes se basear fundamentalmente. Museu Mu-nicipal que assim é erradicado, por largo período,da memória museológica e cultural de Bragança, re-legando-se também para o esquecimento por maisde cinquenta anos o seu fundador, que em muito omantivera e desenvolvera às suas custas.

    A República tenta, como por vezes ainda hoje sefaz, com uma mudança de nome, apropriar-se doque já existia e aproveitando o Museu criar outro,só aparentemente, de âmbito mais lato, como secoisa da sua iniciativa e mérito fosse.

    Passados, pois, dez anos sobre o decreto, quem énomeado para dirigir o novo museu, que abre em27, é alguém que era tratado como amigo por Al-bino Lopo e com ele tinha relação próxima assentenos interesses comuns e que, durante anos de con-tatos e colaboração muito com ele aprendeu: oAbade de Baçal, Francisco Manuel Alves, mais novodo que o Coronel cinco anos, que esteve à frentedeste reinventado museu até 1935 e que, ao refor-mar-se, lhe vê dar o seu nome, o que, com justiça,perdura até aos nossos dias.

    Como curiosidade, refiro o teor de um esclareci-mento assinado por Albino Lopo no O ArcheologoPortuguês, em 1898, que me parece revelador da re-lação com o Abade e do nível de rigor e exigênciacom que Albino Lopo tratava as coisas do Museu eda arqueologia, diz:

    “No vol. IV, pág. 155 d’ O Archeologo Português,vem transcripta do jornal local O Norte Transmon-tano a inscripção de uma lapide funerária que omeu amigo e protector do Museu, abbade de Baçal,P.e Francisco Manuel Alves, lhe offereceu e quetinha sido encontrada no Castro de Sacoias.

    Razão tem o meu amigo Leite de Vasconcellospara duvidar da exactidão da cópia da referida ins-cripção, que a imprensa local publicou sem lhe ligartoda a importância e atenção devidas.

    Segue-se a reprodução correta da inscrição.”

    O Abade, embora nem sempre de forma clara,fez justiça e homenagem a meu Bisavô em escritosseus, designadamente e já em 1910, no vol. II das“Memórias – Arqueológicas” onde elogia o museu

    municipal como “já notável nesse tempo”. Aliás,nunca, claramente, em escrito que conheça, o Abadeseparou o Museu de Albino Lopo da génese e essên-cia do renomeado museu que vem a dirigir.

    Discretamente, no Museu Abade de Baçal du-rante anos a referência existente ao Coronel AlbinoLopo constou unicamente na secção de epigrafia aque dava o nome. Daí desapareceu na última refor -ma do museu, para ser justamente referido em pri-meiro lugar numa visível placa que é a única pistapara uma leitura integrada de toda a história doMuseu ao identificar os que o edificaram desde 1897.

    Essa história, assente em factos documentáveisestá, hoje, feita com objetividade e isenção, graças,entre outros, aos estudos patrocinados e publicadospela Câmara Municipal, em especial, a obra de Hi-rondino Fernandes e a obra coletiva “Bragança naépoca contemporânea (1820/2012) ” e antes na pu-blicação “In honorem de Belarmino Afonso” notexto sobre o Museu Municipal de Bragança de JoãoManuel Neto Jacob.

    Não obstante, se se visitar o sítio oficial do Museuna internet, é notório que a esponja foi de novo pas-sada sobre o fundador do Museu Municipal e sobreo acervo desse museu, que foi transferido para o,hoje, Museu Abade de Baçal e lhe serviu de base.

    De facto, o que aí se diz é que o museu foi fundadopor decreto-lei 2119, de Dezembro de 1915, e só.

    Ora, a criação do museu regional nada trouxe denovo em relação ao municipal e foi neste que teve osuporte para o seu início. A designação de Munici-pal, em 1896, nada mais queria dizer do que criadopela Câmara e não se contrapunha a regional. OMuseu Municipal exibia, aceitava e solicitava peçasde toda a região transmontana.

    O referido decreto foi, pois, mais um episódio dalógica do poder desses anos da República e da tensãodialética entre o poder central e local de então, paraalém dos jogos locais de influência. Ontem comohoje…

    O defender que a génese do museu é um decreto,passando-se em claro o contexto do mesmo e a rea-lidade histórica material é, a meu ver, uma lamentávelfalta de rigor quando se parece preferir, ao relato dosfactos, o recuperar da intenção republicana de 1915.

    Assim, quando se pretende vir a celebrar cemanos do Museu mais antigo de Bragança, o que secelebrará são os cem anos de um decreto da 1.ª Re-pública e não da história do museu de Bragança, queexiste desde 1886 e hoje se chama Abade de Baçal.

    Isto, para além de se ignorarem os esforços, no

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  • sentido de contar toda a história, feitos, nos últimosanos, pela cidade de Bragança, que, nos fins dosanos 80, deu o nome do Coronel Albino Lopo auma praceta junto ao Museu, bem como assumiu etem publicado textos historicamente objetivos sobreo Museu Abade de Baçal e a sua génese, reconci-liando-se, assim, Bragança, com a memória de umdos seus filhos que a honram.

    Dos relatos e da constante atitude de minha Avó,retive a sua continuada e intransigente defesa da me-mória do Pai, que sentia ter sido por muito tempointencionalmente ignorada por uma certa Bragançaherdeira dos grupos e influências da transição para arepública e do início desta que, na teia de poderes cla-ros e ocultos da época, isolaram e por vezes combate-ram alguém que era essencialmente um militar, quese movia nesse meio e que, fora dele, vivia mergu-lhado na investigação e no descobrir dos sinais da edi-ficação da nossa história primeva. O meu Bisavô era,talvez por isso e, provavelmente também, pelo feitioque tinha, que sempre ouvi dizer não era dos mais fá-ceis, um desenquadrado, sem pertença nem depen-dência relativamente aos grupos sociais e políticos quese tentavam impor na Bragança da época e, por isso,um homem de caminhada e obra solitária.

    Proprietário, nos Estevais e em Bragança, sem adimensão económica que lhe garantisse rendimentosde grande peso, os seus proventos vinham principal-mente do salário como militar, que era em grandeparte gasto com o museu e com as expedições ar-queológicas, que fazia nas folgas do serviço militare que custeava do seu bolso. Contava minha Avóque a Mãe tinha um estojo de colheres de prata quecom alguma frequência eram penhoradas para sus-tentar os jantares que meu Bisavô dava a amigos ecamaradas, sem perguntar se, para a confeção dosmesmos, havia os meios necessários…

    Espartano em muitos dos seus hábitos, seguidordos princípios da época da higiene moderna, prati-cante das lições de ginástica sueca, dormia invariavel-mente, mesmo no inverno, de janela aberta, hábitoque minha Avó, a filha mais velha, seguia. Levanta-vam-se ambos muito cedo para as deslocações para ossítios em estudo, em que minha Avó secretariava oPai, escrevia notas, fazia desenhos e auxiliava na foto-grafia, passava depois a limpo os escritos do pai queilustrava com rigor quase fotográfico.

    Sempre percebi a enorme cumplicidade de pai efilha em que esta era a assistente permanente quepunha ao serviço do Pai a enorme qualidade culturale sensibilidade estética que, desde cedo, revelou.

    Por volta de 1920, tinha minha Avó 28 anos, oequilíbrio familiar até ai mantido, desfaz-se. Tenhofotos na quinta da Penha de Águia em Bragança, anosantes, em que se percebe ser aquele um período debem-estar familiar. Como eram de bons tempos osrelatos das estadas em Lamalonga, Macedo de Cava-leiros, em casa do sogro, General Miranda, que comele colaborou em descobertas e registo das mesmas.

    Mais tarde, no entanto, questões várias, doençasda minha Bisavó e sobretudo desentendimentoscom o sogro, meu Trisavô, levaram a uma separaçãodo casal, facto que a Filha carregou sempre comenorme mágoa.

    A última colaboração do meu Bisavô no “Archeo-logo Português” está publicada no volume 24, datadode 1919/1920.

    Grave acidente, afastamento do Museu, final dacarreira militar, separação familiar, tudo acontecenum período de poucos anos e assim uma vida in-tensa de atividade e realizações muda completa-mente e marca o final do percurso de um Homem,que se apaga nos últimos dez anos de vida e quemorre só, numa véspera de Natal, depois de ter vi-vido intensamente e tudo ter dado pela sua visão daPátria Mãe onde nascera.

    Ficou a obra e o testemunho do empenho e en-tusiasmo pioneiro, da abordagem empírica e dorigor científico, do espírito de iniciativa e criação,do empenho pela causa abraçada sem olhar a custospessoais. Ficaram os escritos e ficou o Museu,chame-se municipal, regional ou Abade de Baçal.

    Bem-haja a Sociedade de Geografia por hoje que-rer lembrar o sócio que era meu Bisavô e que é figurade relevo de Bragança, das terras transmontanas eda Arqueologia portuguesa.

    A OBRA DE ALBINO PEREIRA LOPO

    Carlos Mendes

    Albino dos Santos Pereira Lopo esteve na origemda fundação e dirigiu o Museu Municipal de Bra-gança de 1896 a 1915/1925 (?).

    Investigador histórico-arqueológico reuniu noseu museu numerosas obras epigráficas e uma va-liosa e rara colecção numismática.

    Foi um dos pioneiros da arqueologia nacional.Estudioso incansável e transmontano dedicado. Foisócio da Sociedade de Geografia de Lisboa, do Ins-tituto de Coimbra e da Associação dos Arquitectose Arqueólogos Portugueses.

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  • São vários os registos de interesse que motivaramAlbino Lopo durante a sua vida; Como militar che-gou ao topo da carreira, mas foi a etnografia, a geo-logia, a sociologia, e sobretudo a arqueologia quemais ocupou o seu interesse. Partilhou os saberescom os maiores sages portugueses e estrangeiros:

    Tivemos a oportunidade de ter acesso a algumacorrespondência e apontamentos pessoais, acessoque nos foi proporcionado pelo seu bisneto, Dr. Mi-randa Pereira, sócio da Associação Terras Quentes,o que possibilitou o poder transmitir, através dafonte mais direta, aquilo que foi na vida de AlbinoLopo, a sua obra.

    Entendemos que a figura de Albino Pereira Lopoterá que fazer parte do panteão dos pioneiros da ar-queologia portuguesa. Nesse sentido achámos porbem propor à Câmara Municipal de Macedo de Ca-valeiros o seu nome para patrono do Museu de Ar-queologia do concelho, pedido que foi bem recebido.

    Percorramos então a documentação a que se teveacesso dando conhecimento público desta e come-çando, por ordem cronológica, por alguma da cor-respondência trocada entre Albino Lopo e diversaspersonalidades do saber das ciências humanas:

    1895Carta onde Leite de Vasconcelos (referindo Lino

    de Assumpção, amigo comum) solicita a AlbinoLopo a cedência de algumas peças de Castro de Ave-lãs e de outras localidades, para o Museu Etnográ-fico Português.

    1896Carta enviada pelo camarada de armas, Lino da

    Assumpção, a solicitar a Albino Pereira Lopo, umafotografia de uma moeda “bem nítida”, para publi-cação no 2º volume da História do exército.

    1897Carta do Bispo de Bragança, D. José Alves de

    Mariz, após a visita ao Museu de Bragança, a agra-decer a forma amável como foi recebido pelo Coro-nel Albino Pereira Lopo.

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  • 1897Carta enviado por Luciano Cordeiro, na quali-

    dade de Presidente da Comissão dos MonumentosNacionais, a dar conhecimento ao Coronel AlbinoLopo da sua nomeação para Vogal da direcção daComissão.

    1897Carta régia emanada da secretaria de Estado dos

    Negócios das obras públicas a nomear o “tenente”Albino Lopo como vogal da direcção da Comissãodos Monumentos Nacionais.

    1897Carta do camarada e amigo Assumpção, regis-

    tando a dádiva de várias peças para o museu de bra-gança:

    Uma espada medievalUmas moedas de CondeixaUma pistolaUm punhalUma adaga, etc.

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  • 1898Foi vária a correspondência trocada entre Albino

    Lopo e Albano Ribeiro Bellino, figura incontornávelda arqueologia portuguesa do virar do século XIXpara o século XX – Existe hoje no museu MartinsSarmento o legado do seu trabalho, sobre as “anti-gualhas” de Braga, mormente, Bracara Augusta.

    1898Carta enviada ao Tenente Albino Lopo, assinada

    pelo presidente da Direcção da Sociedade MartinsSarmento, Dr. Joaquim José de Meira, em agrade-cimento ao texto escrito sobre a figura do sócio nº1 da instituição, Martins Sarmento, na data do seufalecimento.

    1898Carta enviada pelo Prof. Henrique Pinheiro a dar

    instruções a Albino Lopo como se devia proceder aodecalque de inscrições:

    Era assim as instruções sobre como fazer o decal-que de inscrições:

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  • - O papel deve ser almaço, consistente e a ponto desofrer as pancadas da escova, não se deve expor ao solnem antes nem depois….

    No final da carta dá a entender que são instruçõesrecolhidas junto do epigrafista Emil Hubner.

    1898Carta enviada por Luciano Cordeiro a Albino

    Lopo solicitando o envio de material para publica-ção no boletim da Sociedade de Geografia.

    No final da carta, em nota lê-se: Lembro que talvezpossa melhor intitular o trabalho – Bragança e Ben-querença.

    Tenho a honra de participar a V. Exa que foieleito sócio ordinário da Sociedade de Geographiade Lisboa na sessão de 5 de Dezembro de 1898 sobproposta dos Exmºs

    Sócios; António Júlio de Sousa Machado, Lu-ciano Cordeiro e F. Paula e Mello.

    1898São várias as cartas trocadas com Emil Hubner,

    um dos melhores epigrafistas de todos os tempos,sobre várias interpretações Epigráficas.

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  • 1898Carta trocada com Emil Hubner, sobre a inter-

    pretação do miliário de Babe.

    1899Postal recebido de Emil Hubner, sobre a inter-

    pretação do Miliário de Gimonde:

    Mais alguns exemplos de cartas e postais que nosanos de 1898,1899 e 1900 são trocadas entre AlbinoPereira Lopo e Emil Hubner;

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  • Outro grande apoio para o esclarecimento de dú-vidas encontrou Albino Lopo em José Leite de Vas-concelos:

    1899Postal escrito por José Leite de Vasconcelos, en-

    viado a Albino Lopo, de Paris, onde se encontrava aestudar filologia e epigrafia, dando conhecimentoque se iria fixar mais tarde, temporariamente, emBerlim.

    1900Postal de Leite de Vasconcelos informando Al-

    bino Pereira Lopo da publicação de um artigo noArcheologo Português 30 de Julho de 1900.

    Era também amigo pessoal de Rocha Peixoto, di-rector da revista Portugália, director do museu doPorto entre outras actividades;

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  • Albino foi colaborador ativo na revista Portugália:

    Rocha Peixoto exultava o trabalho de Albino Pe-reira Lopo em prol da arqueologia Brigantina:

    Em artigo assinado por Rocha Peixoto, afirmavaeste, sobre Albino Pereira Lopo:

    “No entusiasmo inaugural a Câmara de Bra-gança votou uma verba inicial de duzentos mil reispara costeamento do museu. Mas em breve se es-tancou este manancial, sempre fruste, que borbulhae surde às vezes nas corporações Administrativas.Depois começou a manter-se com os recursos pes-soais de Albino Lopo.”

    Será pela mão de Bernardino Machado (Presi-dente da República portuguesa em dois mandatos;6 de Agosto de 1915 a 5 de Dezembro de 1917 e de11 de Dezembro de 1925 a 31 de Maio de 1926destituído pela revolução militar de 28 de maio de1926, que instituirá a Ditadura Militar e abrirá ca-minho à instauração do Estado Novo) que AlbinoPereira Lopo em 1901 se torna sócio do Instituto deCoimbra. Eram sócios dessa agremiação entre ou-tros; Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Ri-cardo Jorge, Eugénio de Castro, António EgasMoniz, Reinaldo dos Santos, Sidónio Pais, VitorinoNemésio, Miguel de Unamuno.

    Em documentos arquivados na Universidade deCoimbra dá-se nota da proposta de admissão de as-sociado de Albino Pereira Lopo.

    Instituto de CoimbraPROPOSTAS DE SÓCIOS Datas de produção - 1901 Âmbito e conteúdo - Propostas de candidatura a

    sócio que contêm o relatório e parecer positivo darespetiva Classe.

    Sócios propostos: Carlos Zeferino Pinto Coelho,José de Sousa Machado e Vasconcelos, Sebastião daSilva Leal, António Miguel da Costa de AlmeidaFerraz, Pedro Augusto de Melo de Carvalho Mon-teiro, Roberto Cito di Torrecuso e Albino dos San-tos Pereira Lopo

    O que foi o Instituto de Coimbra: O Instituto de Coimbra estabelece-se como aca-

    demia científica e literária em 1851. Dissidentes daAcademia Dramática, os sócios fundadores do Ins-tituto de Coimbra abandonam a tradição teatral dainstituição antecessora, assumindo como missão odesenvolvimento e a cultura das ciências e letras.

    A seleção criteriosa dos sócios pelos seus méritosacadémicos e científicos e a ligação à Universidade

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  • tornaram a sociedade conhecida em Coimbra peloClube dos Lentes.

    Em 1873, foi constituída a Secção de Arqueolo-gia, criando o Museu de Antiguidades, cujo espóliovem a ser incorporado no Museu Nacional Machadode Castro, de Coimbra, em 1912. A Universidade deCoimbra reúne antigos diretores do Instituto em2004 e 2005, sem o resultado esperado. Desativadoo “Instituto de Coimbra”, em 2005, foram os seusbens incorporados na Universidade sendo esse factoestabelecido por disposição estatutária.

    1901Carta de agradecimento do rei D. Carlos pelo

    envio do livro de Albino Lopo, Bragança e Benque-rença.

    1903Carta de nomeação de Albino Pereira Lopo para

    o cargo de Inspetor dos Monumentos NacionaisMilitares da circunscrição do Norte emanada doMinistro da Guerra e assinada pelo Conselheiro JoséThomaz Ribeiro Fortes em 12 de Agosto de 1903.

    1903Cartas enviadas do parque aerostático de Guada-

    lajara, assinadas pelo tenente-coronel chefe do Par-que, Pedro Nunes. Assunto: Pombos e Pombaismilitares.

    1919Carta de Albino Lopo endereçada à sua filha Cla-

    risse em 22 de Abril de 1919, onde lhe pede paraguardar o manuscrito: Diz a determinado espaço:Guarda essa exemplar, pois vejo que é o espelho daminha alma. O que eu fui cá neste mundo está ahi.

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  • 1947Revista Stella nº 131 Novembro 1947.Artigo de sua filha Clarisse “ Faúlhas…de toda

    a parte”. Diz:

    “Constituiu ‘nota do dia’ na Emissora Nacionalo falecimento do arqueólogo brigantino Abade deBaçal. Todos os Jornais lhe teceram os devidos pane-gíricos pois de facto, foi um sacerdote dedicado às ar-queologias e investigador de documentos colecionadose reunidos na publicidade de vários volumes.

    Morreu com 82 anos. Embora já tenham pas-sado mais de quarenta, parece que estamos a vê-lo, no escritório do organizador e fundador deMuseu na Câmara Municipal de Bragança,atento e venerador às lições paleolíticas do que

    então foi seu amigo e mestre. Não admira – é a lição dos tempos – que pas-

    sados tanto anos, quando se faz justo elogio do dis-tinto arqueólogo, se esqueça sempre umareferência ao seu iniciador e fundador do primi-tivo Museu Brigantino – o já falecido Inspectordos Monumentos Militares do Norte do País – Co-ronel Albino Lopo”.

    1897Manuscrito “A Quinta de Bemquerença ou a ci-

    dade de Bragança”.

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  • Nota 3 – Ao mandar imprimir este trabalho, queera acompanhado por mais de quarenta estampas,foi alterado o seu titulo de Quinta de Benquerença– para o de – Bragança e Benquerença – 14/11//1898 Albino Pereira Lopo, Tenente de Caçadores 3.

    Nota da primeira página; Será Sancho I que enviapara a Quinta da Bemquerença uma colónia a que deuprivilégios especiais com o fim de a desenvolver e tornarimportante a cidade, hoje, Bragança.

    Albino Pereira Lopo expressa na sua obra não sóuma qualidade técnica dos seus desenhos, comotambém é um dos percursores na georreferenciaçãodos locais citados.

    Desenho da vista geral da cidadela de Bragança. Pelouri-nho de Bragança.

    ASSUNTOS TRATADOS NO LIVROBRAGANÇA E BENQUERENÇA

    – Natureza do solo, sua produção e clima.– Industrias – O fabrico da seda.– Brazão de armas – Monumentos e edifícios no-

    táveis.

    Diversos;– Armas actuais – Picota ou pelourinho (Foto)– Antiga casa da Câmara (foto)– Igreja de Santa Maria– Convento de Santa Clara.– Colégio de Jesus dos padres da companhia– Mosteiro de S. Bento– Convento de São Francisco– Recolhimento do Loreto (Beatas)– Igreja do Senhor Jesus de S. Vicente.– Santa Casa da Misericórdia.– Capelas e ermidas da cidade e seu termo.

    Patrono e santos que se dizem nascidos ou mor-tos em Bragança

    – S. Jorge patrono desde 879 (23 de Abril)

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  • – Santo Arcádio bispo da cidade aqui martiri-zado a 4 de Março do ano 60.

    – Santa Aquilea ou Aquila e os seus companhei-ros Domicio e Eparchio que foram martiriza-dos a 23 de Março do ano 300.

    – João e Paulo, dos irmãos que foram com Gal-laciano para Roma, onde João foi mordomo deConstância filha do imperador Constantino ePaulo seu secretário. Foram mandados degolarem 26 de Junho de 372.

    – Fr Filipe Dias, da ordem menor de S. Fran-cisco, morre no convento de Salamanca comfama de santidade em 9 de Abril de 1600.

    – Fr. Hierónymo, castelhano ingressou no con-vento de S. Francisco onde morreu, tornando-se notável pelas muitas virtudes.

    – Fr. Francisco de Santa Bárbara, natural deCoimbra, morreu no Convento de S. Franciscocom cheiro de santidade.

    – Fr. Luís da Cruz, Frade de S. Francisco. 1663– Bispo D. António Luís da Veiga Cabral e Câ-

    mara. 1819 – Faleceu nesta data e é tido contade um dos mais preclaros e venerados bisposque teve a Diocese.

    Varões notáveis nas ciências letras e armas:– Francisco de Morais; autor do célebre “Palmei-

    rim de Inglaterra”– António Pires da Silva, Médico e filósofo.– António Pereira e Pona; Escritor e Juriscon-

    sulto.– José de Barros Moraes e Pona, filho do António

    Pereira, formado em direito, mestre de equita-ção, autor da obra “Arte Real da Cavalaria”.

    – Lázaro Jorge de Figueiredo Sarmento; Alcaide-mor em 14 de Junho de 1714.

    – Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda; Preponde-rante nas invasões Francesas, 1808 – procla-mou a revolução contra o exército francês e fezhastear nos baluartes da velha cidade a bandeiraPortuguesa.

    Erecção do Bispado de Bragança.– Extinção do Convento de Castro de Avelãs– Criação do Bispado de Miranda.– Criação do Bispado de Bragança Miranda pela

    bula de Clemente XIV – Romanus Pontifex.

    A Sua História (Bragança)– A nossa Quinta de Bemquerença, pouco tem -

    po depois de receber a colónia de Sancho I passou a

    chamar-se Bragança. Outras opiniões: Teria existidoum oppidum denominado Brigantia ou Brigatium.Outros que o nome provém de “Brigo” 4º Rei deHespanha (1900 a.C) que fundou a cidade.

    – Leite de Vasconcelos, que o nome de Brigantiase formou em época luso-romana tendo tido primei-ramente a forma intermédia de “Brégança”.

    – Outros nomes: Juliobriga; Zelobriga/Coelio-briga; Britonia

    Época pré-romana e o segredo de Donai.Mamoa e povoado fortificado

    Estela funerária: DEO AERNO ORDO ZOE-LAR Ex-voto

    – Castro de Sacoias pág. 54

    – Castro da Devesa de Vila Nova pág. 55

    – Castro de Avelãs – Tumulo do Conde de Ariãesou Arias Nunes NÃO. É do Nuno Martins deChacim.

    – … Viveu um PROCVLEIO GRACILI, e ou-tros sobre a protecção do DEO AERNO, a quem atribu Celtica dos ZOELAS, tributava culto como ocomprovava a já mencionada inscrição de uma lá-pide quadrada de jaspe que ainda há cinquenta anoslá se via que era um precioso e único monumentoepigráfico peninsular que foi mutilada pela mão cri-minosa de um selvagem!

    Pág 57 – Vêm-se também os sinais de uma forti-ficação no sítio chamado a Torre Velha e de umamplo castro no alto do Cabeço do Castro (Castrode Avelãs)

    Pág. 58 - Importância da Brigantis e os vestígiose os vestígios arqueológicos de Rebordãos e Babe.

    – Castelo de Rebordãos = Pontas de setas, espo-ras, e outros objectos que costumam existir em obrasdesta natureza. Diz a tradição que este castelo foramansão de um régulo Mouro a quem as povoaçõespagavam de tributo certo número de donzelas….Os habitantes da serra dessa época são pois dignosde figurar nas crónicas a par dos que na planície deChacim se bateram por causa idêntica, dando mo-tivo ao milagre de NS de Balsemão (Fábula do Ca-ramouro).

    …Outro castro a que chamam o Cercado quedomina para norte o vale onde existiu a igreja de S.Pedro Velho, cujas ruínas ainda há pouco desapare-ceram. Em redor das ruínas desta igreja foram en-

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  • contrados importantes monumentos – que eu fui oprimeiro a tornar conhecidos – Lápide funerária –marco miliário epigrafado –

    Desde a invasão dos bárbaros até à fundação danossa monarquia

    Monarquia portuguesa.

    O Ducado – Após D. João I – D. Afonso filho bastardo de D. João I, casa com D. Brites filha deNuno Álvares Pereira.

    Pág. 72 – Túmulo do primeiro duque de bra-gança – Aqui jaz D. Afonso filho de J. João I de glo-riosa memória primeiro duque de Bragança. –Convento de S. Francisco.

    PARTE II – Bragança e Bemquerença Militar.

    – Na colina da Vila a velha cidadela – Castelo.– Castros de Saperia em Babe; Samil e Fromil.– Castro Maquieiros em Godezende onde desco-

    bri durante a impressão deste trabalho numa fragamolar uma curiosa e linda inscrição que mandeipara ser publicada no Archeologo Português ao ilus-trado sábio Dr. José Leite de Vasconcellos que medisse considerar uma escultura pré-histórica.

    Pág 80 – A situação da Bemquerença comoponto estratégico.

    Pág 81 – Durante a impressão deste trabalho en-contrei mais um monumento que confirmam a pas-sagem por aqui da estrada militar de Chaves aAstorga – um cipo cilíndrico de cantaria grosseiraque descobri em Gimonde a 6km a nordeste de Bra-gança por informação do meu ilustrado amigo PadreFrancisco Manuel Alves que francamente mo indi-gitou sem ainda o conhecer. Foi achado há mais devinte anos a nordeste da povoação junto do caminhovelho que é de tradição ter sido a antiga estrada realque vai para Babe. Sobre este monumento diz-me osábio berlinês E. Hubner a quem mandei a inscriçãoIMP (eratore) MAR (co) AVRELIO CARO. O cipojá está no museu.

    Ainda na mesma povoação de Gimonde descobriabundantes vestígios de uma estação romana nosítio a que chamam arrabalde.

    Pág 82 – III A Colina da Vila como ponto táctico.

    – Planta Geral da cidadela de Bragança 1897(Foto)

    Pág 83 – A fortificação Medieval. – Traçado econstituição. – Descrição

    Pág. 87 – A sua história – As armas existentes nomiradoiro nordeste do Castelo.

    Pág 91 – Vista oeste de Bragança no século XVI– Duarte de armas.

    Pág 92 – Outras fortificações – A cintura d ci-dade – Planta geral do forte de São João de Deus,1897.

    Pág 93 – Atalaia da Candaira. A 3km a norte datorre de menagem, uma pequena fortaleza ou atalaiaque pelos restos que ainda se veem mostra que eracomposta de um fosse quadrangular de lados curvi-líneos que tinha 144mts de perímetro…

    Pág 95 – Factos militares mais notáveis sucedidosem Bragança.

    1199 – Não levou a bem D. Sancho I que AfonsoIX de Leão repudiasse a sua irmã D. Teresa. –Guerra entre eles um dos episódios foi o cerco deBragança.

    – D. Afonso IV mandou desterrar e confiscar osbens a seu irmão Afonso Sanches que residia emCastela que reuniu gente entro em Portugal por ter-ras de Bragança queimando e destruindo tudo.

    – D. Fernando versus D. Henrique que tomouBragança.

    – Ainda no reinado de D. Fernando o Sr. DeBragança o Conde de Gijon e D. Fernando deu apraça a Afonso Pimentel que era Sr. De Vinhais.

    – D. João I – Nuno por Castelãos via Bragançapor Afonso Pimentel.

    Pág 98 – Encontro D. João Duque de Lencastre– Assinatura em Babe com a Filipa o Termo de de-sistência dos seus direitos sobre portugal.

    – Guerra da aclamação D. João IV

    –1710 – O duque de Hijar pôs cerco a Bragança

    –1808 – Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda le-vantou grito contra os Franceses.

    –1810 – Transmontanos são os primeiros a apo-derarem-se do trofeu que para os franceses simboli-zava a vitória – “A águia do batalhão suíço”

    Pág 109 – Da índole guerreira dos transmonta-nos – A dança dos paulitos – tipo mirandês – Mi-randa arqueológica.

    “Os escritores falando desta gente dizem que elas épela maior parte robusta e corpulenta, as pessoas nobresmuito honradas, valentes dotadas de grande brio e pri-

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  • mor; eram aptos para a guerra com muitos exercíciosde brida e da gineta, em que faziam sumptuosas festas.São muito devotos e conservam amizades sendo com osestranhos atenciosos. As mulheres nobres tem grande re-colhimento e as outras ajudam a cultivar as terras aosmaridos trabalhando às vezes mais que eles”.

    Um Opúsculo quase livro. “ Os meus amores da Quinta da Penha d’aguia,

    junto ao rio Sabor em Bragança”

    Opúsculo dedicado à memória seu bom tio Dr.José Maria Pereira Lopo, cónego da Sé de Bragança– Quem me educou. (carta nº 4).

    44 Páginas, duas partes;– Lendas e narrativas transmontanas.– Cartas ao amigo Nêscampo

    Primeira parte:Uma excursão archiologica à Senhora da Serra.Origem lendária da cidade de Bragança.A Linda princeza moura de pernas de cabra,O rei orelhão e Santa Comba.Conde de Ariães.

    – Algumas lendas e narrativas colhidas nas minhasinvestigações sobre os vestígios do passado; e algumasconsiderações sobre diversos assuntos que se prendemcom a riqueza e vida social do nosso povo.

    Subamos todos ao monteDebalde aqui ninguém vem

    A serra a todos encantaCom as delícias que tem”.

    Na página 19 do manuscrito Albino Lopo ma-nifesta o seu ponto de vista sobre o estado da regiãoonde vive, palavras que ainda hoje são expressas pelamaioria dos seus habitantes “ Vivo numa minúsculavivenda coberta de lousa beijada pelas águas do Sabora 3Km de Bragança … malfadada região que tão cri-minosamente tem sido esquecida e abandonada…. Isto

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  • meu amigo (Nêscampo) provem unicamente da faltade educação do nosso povo e do desprezo a que o estadoaté hoje tem votado este ramo importantíssimo da ri-queza pública”.

    “…No campo onde se vive a verdadeira vida natu-ral, cheia de ar, luz e liberdade, condições indispensá-veis à nossa existência e felicidade. Pudera eucontinuamente viver nele para ter sempre presente osseus quadros tão múltiplos e variados, cheios de encantoe poesia, que não há pincel que os copie nem pena queos descreva”.

    “…Região até agora esquecida e abandonada, lem-brada só para a exigência dos tributos e em ocasião decrises nacionais para lhe pedir sacrifícios…É uma in-justiça tão flagrante, um procedimento tão criminoso,um desespero tão aviltante, que só na reconhecida do-cilidade destes povos, no seu caracter altamente ordeiroe respeitador é que se pode explicar o não se terem in-surgido contra essa cáfila de exploradores políticos quedesde há tanto tempo até hoje os tem ludibriado comfalsas e mentirosas promessas”.

    Pág 30 afirma: Fundei a desenvolvi, quási que sóhá minha custa o Museu Municipal cuja história dafundação vem no Archeologo portuguez V. III pág. 48a 58 feito pelo Dr. José Leite de Vasconcelos.

    Em 5 de Junho de 1915 um cavalo em que vinhamontado espanta-se a um automóvel na estrada doSabor quando recolhia a casa da quinta donde eu es-crevi estas cartas; lança-me por terra e sou arrastado,preso pelo estribo, mais de 100 metros. Ninguém mejulgou a vida. Pois durante essa desgraçada doença omencionado senado faz-me substituir no Museu de queera director fundador e organizador havia perto de 20anos, por um individuo que só tinha que o recomen-dasse para tal cargo a necessidade de o socorrerem com240 reis diários.

    APONTAMENTOS ARQUEOLÓGICOS(Prefácio de Francisco Sande Lemos)

    179 Páginas.

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  • Referência FSL:(O manuscrito que serviu de base a esta edição é

    propriedade da Senhora D.ª Maria Luísa Lopo Mi-randa Sousa Pereira, neta de Albino Pereira Lopo,que reside em Lamalonga).

    Nota: FSL – escrita de Clarisse de Miranda Lopoletra bem desenhada a pena – a caligrafia do AlbinoLopo era mais desordenada – A Clarisse fez tambémalguns desenhos.

    Como disse a sua filha Clarisse “…Talvez detodos os trabalhos, o mais precioso, e de maior valor,por se referir a dez dos doze concelhos (excepçãoFreixo Espada à Cinta e Torre de Moncorvo) do dis-trito de Bragança.

    - …Imprimir todas essas observações seria au-mentar o volume da obra para o dobro, seria, ao fime ao cabo, publicar uma nova carta dos sítios arqueo-lógicos do nordeste transmontano.

    “Nota do Autor”Estes apontamentos arqueológicos provém quase

    todos das visitas que fiz a vários pontos, nas folgasdo desempenho dos meus serviços militares.

    E agora seguirei os conselhos do erudito publi-cista francês Paul-Louis Courier (de Méré): “ Em-bora vos acusem, vos condenem, vos prendam e vos

    enforquem; publicai sempre os vossos pensamen-tos. O fazê-lo não é um direito, mas um dever; ob-rigação restrita é, para todos os que tem ideias, ocomunica-las aos outros, para o bem comum. A ver-dade inteira pertence a todos: o que entenderdes queé útil, podeis sem receio publicá-lo. (Edward) Jen-ner, que achou que a vacina seria um achado patifese guardasse segredo, sobre isto uma só hora quefosse; e como não há ninguém que não creia que assuas ideias são proveitosas, ninguém deixou de serobrigado a comunicá-las e espalhá-las por todos osmeios possíveis*

    ASSUNTOS CONSTANTES NOS APONTA-MENTOS ARQUEOLÓGICOS

    Distrito Bragança – Todos os Concelhos à excep-ção de Torre de Moncorvo e Freixo de espada àcinta.

    Distrito de Vila Real – Alijó, Chaves, Sabrosa,Vila Pouca de Aguiar e Vila Real

    Refere-se ainda aos Castelos de Vila da Feira e deArnoia (Celorico de Basto)

    – Como militar APL não se esqueceu de carto-grafar os sítios que descobriu e visitou, intercalou ostextos com pequenos mapas, ficando perfeitamentedefinido os sítios arqueológicos – Note-se que esteescrúpulo cartográfico era pouco habitual no seutempo.

    – Essa aplicação sistemática do Coronel, em po-sicionar os sítios, valoriza muito a sua obra. Sítiosreferenciados na obra:

    DISTRITO DE BRAGANÇA

    ALFÂNDEGA DA FÉ– Castelo– Fraga das sete Fontes– Penedo de Tábias

    BRAGANÇA:– Terronha de Quintela– O Castelo de Alfenim– A Senhora da Veiga– Donai e as suas antiguidades– O Alto do Carocedo– O Castro do Cabeço de S. João– Os Castro e monumentos de Babe– As Lápides e o castelo de Rebordãos

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  • – Os miliários S. Cláudio de Gostei– O Castro de Sacoias– O Castro e a torre de Rabal– Vila Nova de S. Jorge e a sua devesa– O Castro de Carrazedo– O Castro de Lombeiro– A Senhora da Hedra– O Castro de Samil– Antiguidades de Milhão– O Miliário de Gimonde– As encostas do Penacal– A Cividade de Parada– Indícios Arqueológicos, nas margens do sabor– A Cidade de Bragança– Uma inscrição em Lagomar– O Castro do Lombeiro– Curiosidades de S. Seris– Parada dos sete infantes

    CARRAZEDA DE ANSIÃES– O Castelo– Origens e vestígios de épocas diversas– A Senhora da Graça– Samorinha– Zedes e Alto da Paranheira

    MACEDO DE CAVALEIROS– A Igreja de Castro Roupal– Lamalonga Arqueológica– O lagar e a fraga de Vila Nova– A Penha Mourisca de Bouzende– A Terronha de Pinhovelo– S. Cristóvão do Monte ou Malta– S. Jusenda em Vale Prados

    MIRANDA DO DOURO– O Castro de Picote– Lápides de Aldeia Nova– Noticias arqªs de Malhadas– Palaçoulo

    MIRANDELA– O Cabeço de S. Brás– O refúgio do rei Orelhão– O Paço dos Távoras– O Castelo Velho– S. Martinho de Cima– Mourel– Estação arqueológica de Vale de Telhas

    MOGADOURO– O Castelo– Rochedos de S. Cristóvão e Zava– Igreja matriz de Azinhoso– A ermida da Srª do Carrasco– O Castelo de Penas Roias– A Capela de S. Gonçalo– Os monumentos de Algosinho– Os antigos vestígios de Estevais– Curiosidades de Bemposta.

    VIMIOSOAchados e notícias arqueológicas de ArgozeloNotícias arqueológicas de Angueira

    VILA FLORO Cabeço de S. Pedro em S. Paio Vilariça

    VINHAISVestígios no cerro de Penhas Juntas

    DISTRITO DE VILA REAL

    ALIJÓ– Castelo de Vilarelhos– -Senhora da Cunha– Ruínas de S. Domingos– As muralhas do Pópulo

    CHAVES– Outeiro Seco

    SABROSA– A Fraga redonda– O Castelo– Veiga de Lamaçães– Estrada Mourisca– O Castelo dos Passos– A Senhora da Azinheira– Cemitério lusitano ou celta

    VILA REAL– Vestígios de Panoias

    OUTROS DISTRITOS

    CELORICO DE BASTO– O Castelo– Mosteiro de Arnoia

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  • VILA DA FEIRA– O Castelo

    VILA POUCA DE AGUIAR– Castelo de Aguiar– S. Miguel de três minas– Cidadelhe.

    Outros apontamentos/notas arqueológicas en-contrados em agendas pessoais

    Agenda pequena: Arco de Valdevez; Melgaço; Caminha; Amarante;

    Bouças; Gaia; Gondomar; Felgueiras; Maia; SantoTirso; Vila do Conde; Leça do Bailio; Castelo doQueijo

    Agenda média:Sabrosa; Alto do Criveiro; Carrazeda de Ansiães;

    Chaves; Vila Pouca de Aguiar; Celorico de Basto;Alijó; Murça; Chaves; Castelo de Aguiar; Celorico;Alijó; Balsa; Saborosa; Algosinho; Vila Flor; Alfân-dega da Fé; Penhas Roias; Zedes;

    Agenda grande: Penas Roias; Alfaião; Alimonde; S. Martinho de

    Angueira; Angueira; Adeganha; Argozelo; Azinhoso;Calvelhe; Carrocedo; Carvalho Egas; Carviçais; Cas-telo Branco; Bemposta; Ervedosa; Argana; Gi-monde; Sacoias; Palaçoulo; Lamas de Orelhão;Constantim; Panóias; Outeiro; S. Frutuoso.

    BIBLIOGRAFIA

    – LOPO, Albino dos Santos Pereira, “Os meus amo resda Quinta da Penha D’aguia, junto ao rio sabor emBragança. Escrito em 1913 editado pela TipografiaAdriano Rodrigues, Bragança, 1919. 44 Páginas. Emmemória de seu bom tio Dr. José Maria Pereira Lopo,cónego da Sé de Bragança. Dedicado também à suafilha Clarisse, que escreveu o manuscrito e ao seu genroBernardino (nota manuscrita pelo autor).

    – LOPO, Albino dos Santos Pereira, Bragança e Ben-querença, Edição fac-similada datada de 1900, extraídado Boletim da Sociedade de Geografia, nº 3 e 4 de1898-1899. Editada pela Imprensa Nacional-Casa daMoeda, Lisboa 1983.

    – LOPO, Albino dos Santos Pereira, A Quinta de Ben-querença ou a cidade de Bragança – Benquerença eBragança 1897 – A partir do Manuscrito original.

    – LOPO, Albino dos Santos Pereira, Apontamentos Ar-queológicos, Instituto Português do Património Cul-tural, composta e impressa na Silva Pereira, Braga,Julho de 1987.Museu Municipal de Bragança. Volume 5, 1899-1900,p336.

    – Elementos para a solução de um problema arqueoló-gico. Volume 5, 1899-19009, pp184-187.

    – Estevais do Mogadouro. Volume 5, 1899-1900, pp249-253 .

    – Arqueologia Transmontana, Volume 5, 1899-1900,pp. 290-295.

    – Gimonde. Ruínas – Um marco Miliário. Volume 5,1899-1900, pp 136-138.

    – Aula de Arqueologia no Seminário Diocesano de Bra-gança, Volume 5, 1899-1900, pp 44-46.

    – Museu Municipal de Bragança. Volume 6, 1901,pp95-98.

    – Arqueologia Bragançana, Volume 6, 1901, pp 146-156.

    – Notas e considerações sobre Bragança. Volume 7,1902, pp14-17.

    – Picote (Miranda do Douro). Volume 5, 1899-1900,p57.

    – S. Jusenda. Volume 5, 1899-1900, pp114-115.– Torre de D. Chama, Ruínas de S. Brás. Volume 5,

    1899-1900, pp279-280.– O Alto do Carocedo ou Carrocedo, Volume 7, 1902,

    p.70-74.– O cerro de Penhas Juntas. Volume 7, 1902, pp101-

    102.– Arqueologia do Distrito de Bragança, Volume 8, 1903,

    pp 248-250.– Archeologo Português. Volume 8, 1903, pág. 326.– Fraga da Moura em Vila Nova da Torre de D. Chama.Volume 10, 1905 pp 239-241.

    – Vestígios romanos em Bragança. Volume 11, 1906,pp83-84

    – Dois Miliários inéditos. Volume 12, 1907, pp.162-164.

    – Antigualhas Transmontanas, Volume 12, 1907,pp307-310.

    – Archeologo Português. Volume 12, 1907, pág. 310.– Antigualhas Transmontana, Volume 13, 1908, pp 248-

    252.– Vila Nova de S. Jorge (Bragança). Volume 13, 1908,

    pp313-314.– Archeologo Portugues. Volume 13, 1908, pág. 403.– As Ruínas da Devesa de Vila Nova. Volume 14, 1909,

    pp51-55.– Notas arqueológicas e lendárias das margens do sabor.Volume 15, 1910, pp317-321.

    – Uma jornada arqueológica. Volume 15, 1910, pp328-333.

    – Uma excursão arqueológica a Roios. Volume 16, 1911pp 48-51.

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  • – Uma estação arqueológica em Mirandela. Volume 16,1911, pp96-100.

    – Monumento funerário de Pinhovelo. Volume 24,1919-1920, pp.240-241.

    OUTRAS PUBLICAÇÕES:

    Revista Portugália, Porto: – Inscrições Brigantinas. Volume 2, 1908, p127.– Inscrição de Miranda do Douro. Volume 2, 1908,

    p289.Instituto de Archeologia do Porto, Portugália. Volume26, pág.99.

    OUTROS– Boletim Architectonica e d’archeologia. Volume 4 Pág. 2.– Boletim Architectonica e d’archeologia. Volume 10

    Pág. 601.– Revista de História. Volume 1, Empresa Literária Flu-

    minense, 1921, pág. 52– Estudos de Philologia Mirandense. Volume 2, 1901,

    pág. 7.– The Geographical Journal. Volume 17 – Royal Geo-

    graphical Society, 1901, pág. 207.– O Instituto-Revista científica e literária, Volume 78,

    1929, pág. 593.– História Orgânica e política do exército português. Vo-

    lume 2, Imprensa nacional, 1898, pág.358.– Origens – Imprensa Nacional, 18998, pág. 358.– Revista Guimarães. Volume 73, 1963, pág.142.– Revista do Instituto de Archeologia da FLUP. 1910,

    pp328-333.

    NÃO PUBLICADA

    – Monumentos Militares do Norte (Manuscrito proprie-dade da família)

    3 Livro editados1 Livro não editado49 Artigos no Arqueólogo Português3 Artigos na revista Portugália10 Artigos em diversas revistas

    PANTEÃO DA ARQUEOLOGIA PORTUGUESA

    Século XVIAndré de Resende – 1500/1573Francisco d’Holanda – 1517-1585

    Século XVIII

    Frei Cenáculo Villas-Boas – 1724-1814Século XIX Possidónio da Silva – 1806-1896 Carlos Ribeiro – 1813-1882 Estácio da Veiga – 1828 -1880Francisco Martins Sarmento – 1833-1899 — NeryDelgado –1835-1908 — Bernardino Machado – 1851-1944Leite de Vasconcelos – 1858-1941 — Francisco ManuelAlves, Abade de Baçal – 1865-1947Mendes Correia –1888-1960 — Abel Viana – 1896-1964ALBINO DOS SANTOS PEREIRA LOPO (1860-1933)

    TÁBUA CRONOLÓGICA DA BIOGRAFIA DEALBINO PEREIRA LOPO

    1860 – 21OUT – Nasce em Estevais Albino Pereira Lopo.1884 – 26DEZ – Termina o curso de Infantaria na Es-

    cola do Exército.1895 – Carta de Leite de Vasconcellos.1896 – 4OUT – Data da fundação do Museu de Bra-

    gança.1896 – 10 AGO – Carta de Lino Assunção.1897 – Carta do Bispo de Bragança1897 – 5FEV – Carta da C.M. Bragança a nomear di-

    rector do Museu de Bragança.1897 – 15 MAR – Carta de Luciano Cordeiro nomeação

    para Vogal da Comissão dos Monumentos Nacionais.1897 – 16 MAR – Carta Régia a dar conta da nomeação

    para vogal da Comissão Monumentos Nacionais.1897 – 31OUT – Carta de Lino Assunção.1897 – 14NOV – Data do manuscrito do livro “Bra-

    gança e Benquerença”1898 – 29/MAR – Carta de Albano Ribeiro Bellino1898 – Carta da Sociedade Martins Sarmento de agra-

    decimento.1898 – 4JUN – Carta do seu professor Henrique Pi-

    nheiro sobre decalques.1898 – 12JUN – Carta Luciano Cordeiro solicitar ma-

    terial para publicação.1898 – 8DEZ – Carta a informar que é sócio da Socie-

    dade de Geografia.1898- 5JUL – Carta de Emil Hubner sobre interpretação

    epigráfica.1898 – 20NOV – Carta de Emil Hubner sobre interpre-

    tação epigráfica.1899 – 19JUN – Carta de Albano Ribeiro Bellino.1899 – 29JAN- Carta de Emil Hubner sobre interpreta-

    ção epigráfica.1899 – 20JUN – Carta de Emil Hubner sobre interpre-

    tação epigráfica.1899 – 8JUL – Carta de Emil Hubner sobre interpreta-

    ção epigráfica.

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  • 1899 – 12SET - Carta de Emil Hubner sobre interpre-tação epigráfica.

    1900 – 30JUL – Postal de Leite de Vasconcellos1900 – 20DEZ – Carta de Rodrigues Peixoto1901 – 19JUL – Carta Régia de agradecimento1903 – 12AGO – Carta do Ministro da Guerra nomea-

    ção Inspetores dos Monumentos Nacionais do Norte.1903 – Nomeação para Inspector dos Monumentos Mi-

    litares do Norte.1903 – 4NOV – Carta Coronel chefe do parque aeros-

    tático.1913 – Data do livro “Os meus amores da quinta da

    penha d’aguia”.

    1915 – 5JUN – Acidente com o cavalo.1919 – 22ABR – Carta de Albino Lopo para a filha Cla-

    risse para guardar manuscrito.1933 – 24DEZ – Morre Albino dos Santos PereiraLopo.

    1947 – NOV – Artigo da Clarisse da revista Stella.1987 – JUL – Publicação do Livro “Apontamentos Ar-

    queológico ippc.

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    Um dos patrimónios mais valiosos que possui aAssociação Terras Quentes são os seus associados e co-laboradores, pelo seu ecletismo pela sua diversidadede pensamento, pelas suas experiências de vida. Noano em que se comemorou o quadragésimo aniver-sário do 25 de Abril de 1974, pensámos reunir, emboa hora, nas nossas Jornadas de Primavera XII doano que passou, um punhado de associados, que deuma forma directa ou indirecta foram protagonistasdeste riquíssimo, mas também controverso, mor-mente os momentos subsequentes, pe da ço da históriado nosso país que foi a revolução do 25 de Abril.

    Não foi difícil consultar o echeiro de associadose encontrá-los, entre outros:

    — Frederico Carlos Reis Morais, sócio nº 71, Li-cenciado em Sociologia, Capitão de Abril, fezparte da força do MFA que esteve na tomadada Emissora Nacional. Actualmente Tenente--Coronel reformado.

    — Alexandre Carvalho Neto, sócio fundador nº8, Licenciado em Direito, Subtenente daMarinha, Fez parte do gabinete pessoal doMarechal Spínola na antiga província daGuiné. Em 25 de Abril era secretário pessoaldo Presidente do Conselho, Marcelo Cae-tano em S. Bento.

    — Miguel Pereia Coutinho de Sanches de Baê -na, sócio nº 46, doutorado em história, Di -plomata de carreira, fez parte dos gabinetesda Presidência da República de MarechalCosta Gomes e do General Ramalho Eanes.

    — Henrique da Costa Ferreira, sócio fundadornº 5, doutorado em Filosoea. Em abril de1974, Alferes miliciano, encontrava-se colo-cado no Centro de Instrução de Comandos,

    na secção de acção psicológica, amigo pessoaldo coronel Jaime Neves.

    Moderou o debate, Carlos Mendes, sócio fun-dador nº 1, Presidente da Direcção.

    Antes do debate foi exibido o elme/documentário“O grande lagar da Ira” produzido pela radiotelevisãoPortuguesa, sendo realizador Doutor António Faria,Operador de câmara Manuel Patrício e assistenteLuís Corte Real, entre outros técnicos, em cooper-ação com a Associação dos Deecientes das Forças Ar-madas, sendo seu representante Carlos Mendes quedá conta de 167 entrevistas realizadas a outros tantosdeecientados, em combate, nas três ex-províncias ul-tramarinas, com o objectivo de passar no programa“Lugar da História” da RTP-2. Programa coordenadoe editado pela Drª Júlia Fer nandes sendo a produçãoentregue a Maria João Rolão Preto.

    O Filme/documentário “O grande Lagar da Ira”,nunca chegou a passar pelos ecrãs televisivos, sendocensurado, tendo a RTP usado como argumento,que se tratava de um excelente trabalho cinema to -gráeco, mas que não tinha linguagem televisiva. Háépoca revindicou-se as cassetes que continham 170horas gravadas, mas as mesmas tinham desaparecidodos arquivos da RTP:

    Nelas se trataram de temas ainda hoje são “tabus”para a sociedade Portuguesa, como por exemplo “oshomens cesto” ou “os caixões de pedra”.

    O artigo que se segue é a transcrição corrigida dodebate “40 anos depois. Contributos para a históriade Portugal”, realizado no Centro Cultural deMacedo de Cavaleiros, no decorrer das XII Jornadasda Primavera levadas a efeito pela Associação TerrasQuentes no dia 31 de Maio de 2014. Os artigos

    TENENTE-CORONEL FREDERICO CARLOS DOS REIS MORAIS

    DR. ALEXANDRE CARVALHO NETO

    PROF. DOUTOR MIGUEL SANCHES BAÊNA

    PROF. DOUTOR HENRIQUE COSTA FERREIRA

    MESTRE CARLOS MENDES

    25 DE ABRIL DE 1974 - 40 ANOS DEPOISCONTRIBUTOS PARA A HISTÓRIA DE PORTUGAL

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    foram coligidos, corrigidos e/ou alterados por cadaum dos participantes, cabendo a cada um dos partici -pantes a responsabilidade sobre opiniões produzidas.

    MESTRE CARLOS SANTOS MENDES

    O Tenente-Coronel Frederico Carlos Reis Moraisna madrugada de 25 de Abril de 1974 tinha o postode Capitão. Fez parte das tropas que tomaram as in-stalações da Ex-Emissora Nacional, na Rua do Que-lhas em Lisboa.

    Há uns anos que pertence ao quadro dos sócios daAssociação Terras Quentes. Começava por perguntarao Sr. Tenente-Coronel o seguinte: Sei que estavacolocado na Carreira de Tiro da Carregueira, gosta -ria que nos contasse como se processou a arre gi men -tação do seu pessoal nessa madrugada mas tam bémde uma maneira geral quais as causas que mais con-tribuíram para o 25 de Abril, se as causas politicas seo enfraquecimento do dispositivo militar.

    TENENTE-CORONEL REIS MORAIS

    É difícil objectivar concretamente as causas quelevaram ao 25 de Abril. Podemos analisar para já asmilitares.

    A tropa combatente ia do Continente. A partirde 1970 dá-se a chamada “mesclagem”, ou seja, 42militares da Província integravam cada companhiaque ia da Metrópole. Porquê? A Metrópole estavaexaurida e quem virar a cara a esta realidade é nãoquerer encarar a própria realidade. Inclusivamentehouve um Alferes da Província, que quando foi mo-bilizado para o Norte me perguntou: “então vocêsjá não têm mais ninguém para ir lutar tenho que sereu, um individuo da Província, temos de ser nós?”

    Eram os oeciais do QP (Quadro Permanente),não que fossem melhores, eu contactei oeciais mili-cianos que me mereceram admiração pois emborado quadro complemento tinham grande capacidadede comando, mas eram os do QP que davam a esta-bilidade e mantinham a estrutura a andar, pois co-

    ordenavam toda a logística, a instrução, etc..Entre comissões, estavam na metrópole meia dú -

    zia de meses e depois voltavam de novo, emboraproessionais das Forças Armadas o cansaço foi sendofundamental no que respeita á vontade de combater,sendo, por isso, impossível manter a mesma energiae mesma força, anos e anos sucessivos, quer quei -ramos quer não. Isto é clarinho como a água por-tanto no Exército, eu falo do Exército porque era doExército, pouco mais podia durar.

    É claro que com o decorrer da guerra, politica-mente fomos aprendendo qualquer coisa. Por exem-plo eu em Angola tinha a Sul da zona de acção daminha Companhia uma herdade chamada “Cou -tada do Mucusso” e quando se entrava na “Coutada”deixava de haver guerra. Chegavam de avião e par-ticipavam nas caçadas para eles preparadas. Saíamosda “Coutada” e começávamos logo a “comer” istoera como um milagre. Dentro da minha zona deacção havia guerra, para Sul deixava de haver. É claroque isto acontecia porque de alguma maneira erampagos por convir a certos interesses que efectiva-mente ali se pudesse caçar e passear.

    Nós militares temos uma frase que é assim: “é páexplica lá isso clarinho, clarinho para militar perce-ber” mas isto era tão claro que os militares perce-biam logo sem explicação.

    A aprendizagem continuou até que surge a per-gunta: Com é que isto vai acabar? O que fazer? Éverdade que houve inicialmente um movimentocorporativo, porque para arranjar capitães coman-dantes de companhia foram buscar indivíduos que,sem me pronunciar sobre o seu valor, não é isso, éque tinham assentado praça depois de mim e emtermos de carreira já estavam á minha frente, querdizer, ou eu não era suecientemente bom ou eleseram excepcionais. Nós que os conhecíamos chegá-vamos à conclusão que não era bem assim. Essa faseevoluiu e a única resposta que tivemos foi em 1972,quando os Capitães foram aumentados substancial-mente. Não era aquela solução que nos interessavae apercebemo-nos que estávamos num beco semsaída, pelo menos militarmente. A saída só podia serpolítica.

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    DOCUMENTO PARA A HISTÓRIA DO MOVIMENTO DAS FORÇAS ARMADAS

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    DOCUMENTO DA CONFIRMAÇÃO DO INÍCIO DAS OPERAÇÕES MILITARES DO 25 DE ABRIL

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    MESTRE CARLOS SANTOS MENDES

    Nós, ali no elme, ouvimos o Frederico falar naprimeira vaga e na segunda vaga e ouvi também, hádias, numa entrevista que deu à Maria Flor Pedrosoda RDP em que fala nos bons e naqueles que nãoeram bons. A pergunta que eu queria colocar era aseguinte: na madrugada do dia 25 de Abril quandotocou à porta para entrar na Emissora essa fragili-dade militar também se fez sentir no recrutamentoque fez, nos homens estarem preparados, nãoestarem preparados, conte-nos lá o que se passounessa madrugada.

    TENENTE-CORONEL REIS MORAIS

    Começarei pelas primeira e segunda vaga e de-pois esclarecer o toque da campainha. Mas antesquero esclarecer que o MFA enquanto movimentoantes do 25 de Abril, nunca escolheu o GeneralSpínola como chefe ao contrário do que se diz.

    Voltando então à pergunta, eu estava no Campode Tiro da Serra da Carregueira (CTSC), que eracomo o próprio nome indica, um campo de tiro quedava apoio a uma carreira de tiro. Tínhamos duasCompanhias de Instrução e uma Companhia deComando e Serviços que como o próprio nome diz,servia ou seja, era constituída pelos soldados especia -listas como os mecânicos, cozinheiros enfermei ros,etc.. Tínhamos também o problema de falta de alo-jamento, o que impedia que todas as praças pron tasou seja com a instrução concluída pernoitassem naunidade. A população em geral tem a ideia de quenas unidades militares havia muito militar mas talnão era verdade pois a prioridade era o Ultramar epor isso tí nhamos muitas carências. Acresce que naUnidade os Oeciais e Sargentos estavam poucotempo.

    Eu e o meu camarada Capitão Pimentel, no dia16 de Março de 1974 fomos para a Carregueira forade horas, o que não era normal e isso levantou algu-mas suspeitas. No dia 17 Março de 1974 um dosAlferes veio ter comigo e disse “se vocês tiveremproblemas nós (Oeciais Milicianos) temos hipótesede vos criar um caminho seguro para fuga” só a par-tir daqui tivemos coneança sueciente para os con-tactar e propor a sua entrada na conspiração. Foramnove Oeciais contactados. Dos quais 4 por razõesvárias não foram connosco. Nenhum Sargento foicontactado porque como não os conhecíamos o su-

    eciente e não íamos arriscar a segurança dos mil-itares já aderentes do Movimento dizendo a um Sar-gento com quem tínhamos falado meia dúzia devezes, “olha lá não queres ir ali abaixo tomar opoder?”

    Como nos tínhamos comprometido a ocupar aEmissora Nacional levámos o pessoal que estava naUnidade. Os Soldados que saíram connosco foramrecrutados da seguinte forma: á meia-noite fomos ácaserna gritámos “a pé, formar lá em baixo, armar evamos embora.” Na sua maioria os soldados eramcozinheiros, pedreiros, mecânicos, telefonistas, etc..

    Agora o problema da campainha: saíram doCTSC 3 viaturas um Jeep e duas Morris com cercade 40 militares. Parámos e estacionámos na Rua doQuelhas a 150 ou 200 metros da porta da EmissoraNacional. Ao sair da viatura vimos 2 polícias de ca-pacete e armados com pistola-metralhadora. Ficá-mos admirados e até julgámos ter havido uma fugade informação e que o Governo se antecipara. Naaltura não sabíamos que por ter havido uma greveestudantil no ISEG, que era mesmo ao lado daEmissora Nacional, aquele estava ocupado porforças policiais por ordem do Governo. Antecipada-mente prevendo qualquer percalço nós tínhamos emnosso poder uma guia de marcha forjada e assinadapor nós na qual constava a missão de tomar contada Emissora Nacional. Mostrámos a guia de marchaaos polícias e dissemos “temos ordens para ir ocupara Emissora Nacional” e eles responderam: “é já aíem baixo” e nós fomos. Não ganhávamos nada emhostilizar os polícias. Portanto agradecemos e fomosaté à porta da Emissora Nacional. Mas que equeclaro que quando toquei à campainha já tínhamostrinta e tal indivíduos com as posições todas ocu-padas uma vez que a Emissora Nacional, para quemnão conhece, na Rua do Quelhas tinha um va -randim que facilmente se subia e permitia a subidaaté ao telhado. Toquei à campainha e dissemos “vie -mos ocupar a Emissora Nacional”; responderam--nos: “faz favor de entrar”. Entrámos e estava lá umpolícia a quem pedimos a arma, ele não a quis dar,mas como tínhamos um Oecial com 1 metro e no -venta e tal atrás dele e quando ele não concordoufez-lhe uma gravata obrigando-o a render-se e a en-tregar a arma. Foi a única reacção que tivemos, em-bora, por acaso soube este ano que a 200 metros daEmissora, havia uma Esquadra de Polícia, (nós sa -bíamos da sua existência) um pouco abaixo e elesan davam a coberto dos carros a espiar para ver o quese estava a passar. Então um dos Alferes pegou numa

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    lança granadas e disse a um Soldado: “É pá mete issoaí de fora para verem o tubo bem” e foi quanto bas-tou para os polícias desaparecerem de imediato. Estaesquadra já não existe pois construíram no local aentrada principal do ISEG que agora ocupa tambémtodas as instalações da antiga Emissora Nacional.

    A Emissora Nacional não era um alvo prio ritário,nem nunca foi pensado como órgão difusor de men-

    sagens do 25 de Abril. O escolhido foi a Rá dio ClubePortuguês porque em Lisboa era o único que tinhagerador e acontece que lhes cortaram mesmo a ener-gia e tiveram de por o gerador a funcionar. A nós,Emissora, cortaram-nos a emissão em Monsantocomo já esperávamos e, por isso, só difundimos umcomunicado às 8 horas da manhã do dia 25.

    COMUNICADO EMITIDO NO DIA 25 DE ABRIL AOS MICROFONES DA EMISSORA NACIONAL

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    RELATÓRIO FEITO PELA FORÇA QUE OCUPOU A EMISSORA NACIONAL

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    MESTRE CARLOS SANTOS MENDES

    Obrigado Frederico, eu passava agora a palavra aoAlexandre para lhe colocar a seguinte questão: oFrederico falou, de facto, da “persona non grata” queera o General Spínola nas Forças Armadas. O Ale -xandre conviveu de perto com o Marechal. Eu, aquina sua biograea ligeiríssima, que fui apanhar à inter-net, não sei se isto é verdade ou é mentira o que estápara aqui, mas dá a entender que havia um grandeentendimento entre o Marechal Spínola e MarceloCaetano tanto é assim que aqui diz que quandoMarcelo Caetano no Carmo preso, acantonado, elepõe 3 hipóteses: a 1ª era sair, fugir para Angola, a 2ªera entregar o poder ao General Spínola e a 3ª eradar um tiro na cabeça. Não sei se isto será verdademas o Alexandre melhor do que nós saberá dizer isso.

    DR. ALEXANDRE CARVALHO NETO

    Antes de mais, começando pelo General Spínolaque eu conheci como Brigadeiro ainda na Guiné ecom quem trabalhei de perto, homem que eu ad-mirei sempre, muito pela tenacidade, pela capaci-dade de dinamização das pessoas, eu conheci-o. Ogeneral Spínola era tudo menos uma pessoa consen-sual. Não era um homem para contemporizar, eraaquilo que eu chamo em gíria agrícola, é como um

    tractor que lavra a direito, se encontra a parede deitaa parede abaixo, não há discussão possível, era umho mem realmente teso, corajoso. Já, num outro dia,perguntaram-me se eu achava que ele era corajoso,eu não sei exactamente o que quer dizer corajoso,eu acho que boa parte da coragem tem a ver comum certo estado de loucura, quer dizer, uma capaci-dade realmente de enfrentar uma realidade queparece adversa e conseguir ou não vencê-la, mas en-frentá-la e nisso o General Spínola, posteriormenteMarechal Spínola, na altura Brigadeiro, era efecti-vamente era um homem capaz.

    Ele era da arma de Cavalaria. Rodeou-se muitode oeciais de Cavalaria, que eu conhecia e comquem me dava bem e não era consensual a sua po -sição dentro das Forças Armadas, admito, porquevou contar uma ou duas cenas e sucedeu mais doque uma vez. A certa altura, há um ataque, não merecordo onde, eu precisava de um mapa porque aminha memória andava um bocadinho distraída.No mapa eu dizia: houve um ataque, há mortos,houve rebentamentos, morteiros em cima do quar-tel, morreram, eu penso, uma ou duas praças mes -mo na cama, portanto, aquilo foi lançado muitoper to do quartel e, nesse mesmo dia, o Governadorda Guiné e Comandante-Chefe das Forças Arma das,avança sobre o dito local, faz um brieSng, cons tata oque se passa, considera que é uma in com petência ob-jectiva do major comandante do Batalhão e não está

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    com mais, vira-se para o Major e diz: o senhor temmeia hora para fazer as malas porque vai ser imedi-atamente substituído e segue direitinho para a Me -trópole. Isto em termos de tradição do Exército nãoera corrente, aliás, eu diria, era francamente hetero-doxo. De seguida pôs a comandar o dito batalhãoum simpático furriel que ou era capaz ou que lhepareceu ser a pessoa ade