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Illllllí •'¦'*' - ' ¦ "v-CÍ-^¥^'j&^-'I ." Assignaturas INTERIOR ' Trimestre. .... 28000 Adiantado ; ; * 0 ' "T-, V.'*-.- -* - LilB '-"'•''PI"'"•': " íí ¦' ¦¦ ¦ L^^l^^^^^P ee e Assignaturas EXTERIOR Vr/- Trimestre ¦.... . . 28500 SEMANÁRIO SCIÉMTIFIG0 ||LOTSRARIOAdiantado P]^PRIETARIO---AZE^lÍ| «fUNIÓR ~ DIVERSOS COLLABORAD0R1S N. 26 Publica-se todos os domingos PORTO-ALEG^È, 3 DE JÜIa#-bE «Br Anno II A mai de familia **v f (e. pblletan) Como Prometheu, com a face vol- tada para o céo, eis alli uma mulher. Na luta com o anjo da dôr, nem ama fibra deixa de estalar sob a vio- lenciá das contracções. Implora, mas a voz morre-lhe nos lábios. Estende o braço até á borda do leito, agita a mão no espaço, abre a, fecha-a, como quem vae agarrar-se a um abysmo. De tempos a tempos ergue-se violentamente, pa ra recahir n'uma espécie de entor pecimeoto. Depois, arrancada d'esse lelhargo por novo sobresalto, solta um supre- mo aer a oco. Suave bafejo roça-lhe as faces ; percofré-lhe o corpolim ligeiro tre- mor; um grito irrompe-lhe das en- traohas, grilo de victoria da alma que entra pela vez primeira na posse da existência. A'esta voz irradiada mãi uma alegria celeste, e da angus- tia da lueta, ella.extremecendo aiuda, cáe em dulcissimo repouzar. Está alli seu filho, o filho do eleito de sua alma. Uma harmonia intima quer que essa creança veja a luz n'uma como crise da natureza, e que o quê saneio da maternidade, o mais santo da terra, comece com a augus- ta voluptuosidade da dôr. Quando o raio estala sobre uma arvore, imprime n'ella vestígio da sua passagem—essa arvore torna-se sagrada. Quando o Deus da creação visita a mulher no momento em que ella concebe, elle fulmina-a no mais resondito do seu ser, para que ella conserve a lembrança do divino cho- que. A partir d'esse instante d'angustia, a mãi faz com o filho uma alliança pathelica ; d'ora avante ella ama-o duplicadamente—não por lodo o qae sonhou para elle, como por tu- do o que por elle soffreu. Por tudo o que sonhou sim ; por- que apenas senlio ella o primeiro es* tremecimento d'esta alma nova, co* Ibida nos paramos do infinito,na volu- ptuosidade d'um sonho d'amor. que a soa fronte, em que sciolillava d'an* tes a expanção da juventude, adquire para logo um ar pensativo de gravi-i* dade—o olhar vago interroga o infl nito. Ella tem a consciência de que traz assim um destino. Ora, esse destino ó a creança ago- ra adormecida no leito—um homem em germen, e talvez um homem ex- cepcional, se por ventura o acaso quizer entrar Vessa alliança. Este vinculo entre o homem e a mulher ap- proxima-os mais ; proporciona lhe um segundo amor, passada a idade do amor. Falta ao celibatario uma virtude, ou pelo menos oceasião de a mani- festar. A' noilinha entra em sua casa e não encontra, no canto do lar, uma mulher para ensinar-lhe a bondade, uma cabeça loira, ainda fresca de or- valho celeste, para ensinar-lhe can- dura. Ninguém,, em torno d'elle, pa- ra amal-o, para* ajudal--o—igftorà a alegria da dedicação; nem sequer pó- de aprendei a. Vive só, sempre sô, na fronte o lemma do seu destino na terra, em. que apenas occupa o espa- ço das salas e crê que isso é viver. A vida não o conhece,—que siga avan- te. Fora da familia, o homem é apenas o esboço do homem. Para dar a ulti- ma demão á sua existência, è neces sario quereuna em si o coração de uma filha e que d'essas graças todas, do todas essas lernuras, de todas es- sas flores d'alma, misturadas entre si, como os cachos da vinha, n'um perfume, elle se faça alma forte e boa—a alma reunida do homem e da mulher, a harmonia androgyua de Platão._% Quando o homem entra na familia, diz Bacon, expõe-se á sorte. Sim, por certo , nas eras do despotismo, elle offerece maior preza á tyranniá; po- dem feril o com tantos golpes, quão tos Olhos tem. O celibatario, não nenhuma raiz o prende ao.solo. Mar- cado por Sejano, pôde elle caminhar e passar a fronteira. Nem o receio, nem o favor o preudem, porque não tem filhos. Todavia, Bacon errou. Melhor diria elle que o homem, entrando no gre- mio da familia, previne-se contra o destino. : Que importa qae o despotismo tire ao cidadão o direito da cidade? Pôde xxpulsar o povo da praça, publica, ío poderia expulsar o pai do lar. onde o homem se mostra sempre por obras e acha a felicidade, pelo me- nos tanlo quanto tém o direito de ser feliz, quando a liberdade, se cobre com o véu de viuva, no que era ou- 1'rora pátria e hoje não passa de pri- são. Como quer que seja, o pai de fami- lia, ainda mesmo sob o império do despotismo, tem sempre alguma cou- sa a fazer —' trabalha, economisa e pelo capital que ajunta á custa de muito suor eque transmilte á sua descendência, passa por sobre o tem- po e funda uma dynastia. Todas as vezes que pozer de parte om escudo, para resgatar da miséria a familia. elle resgala na mesma oceasião a pa- tria da servidão. A independência da situação é cau- ção da independência de caracter. Ao despotismo é necessário o povo men- dicaote. Não estenda o povo a mão que implora, e o déspota deixará de reinar. Por seu lado, a mãi trabalha tam- bem. Depois de ter gerado o filho, physica, ella cria-o moralmente. A maternidade é uma creação continua. No infante, a mãi crêa o homem pela instrucção ; e para instruil-o, ella esgota a diplomacia da ternura. Foi ella a primeira que suspeitou a theoria do trabalho attractivo. Pa- recendo distrahil-a, occupa ella a creança que não lera que fazer; pra- ticando o bem ensina-lhe a pralical-o e a amar, dando-lhe o exemplo da ternura, de sorte que a mãi, na gera- ção futura, tem sempre a metade do mérito do filho. Mas, como se poderia crer, a mãi não põe a: sua dedicação a juro vita- licio ; a sua virtude reflecte-se so- bre si mesma e illumiua-a de nova belleza. Mãi e amante, ao mesmo tempo, ella tem, como a larangeira, sitnulta- neamenle flor o frueto e em redor de si esparge a dupla benção da sua oa- tureza. Quando nos approximamos (Telia, sentimos que alguma cousa mudou em nós—queremos tornar-nos melhores. A creança, comtudo, nio é um sorvedouro que tudo esconde e nada 'L *. --..

Adiantado ; ; * ~ DIVERSOS COLLABORAD0R1Smemoria.bn.br/pdf/809039/per809039_1891_00026.pdf · só fibra deixa de estalar sob a vio-lenciá das contracções. Implora, mas a voz morre-lhe

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Trimestre ¦.... . . 28500SEMANÁRIO SCIÉMTIFIG0 ||LOTSRARIO Adiantado

P]^PRIETARIO---AZE^lÍ| «fUNIÓR •~ DIVERSOS COLLABORAD0R1S

N. 26

Publica-se todos os domingos

PORTO-ALEG^È, 3 DE JÜIa#-bE «Br Anno II

A mai de familia

**v

f (e. pblletan)Como Prometheu, com a face vol-

tada para o céo, eis alli uma mulher.Na luta com o anjo da dôr, nem amasó fibra deixa de estalar sob a vio-lenciá das contracções.

Implora, mas a voz morre-lhe noslábios. Estende o braço até á bordado leito, agita a mão no espaço,abre a, fecha-a, como quem vaeagarrar-se a um abysmo. De temposa tempos ergue-se violentamente, para recahir n'uma espécie de entorpecimeoto.

Depois, arrancada d'esse lelhargopor novo sobresalto, solta um supre-mo aer a oco.

Suave bafejo roça-lhe as faces ;percofré-lhe o corpolim ligeiro tre-mor; um grito irrompe-lhe das en-traohas, grilo de victoria da almaque entra pela vez primeira na posseda existência. A'esta voz irradiadamãi uma alegria celeste, e da angus-tia da lueta, ella.extremecendo aiuda,cáe em dulcissimo repouzar.

Está alli seu filho, o filho do eleitode sua alma. Uma harmonia intimaquer que essa creança veja a luzn'uma como crise da natureza, e queo quê saneio da maternidade, o maissanto da terra, comece com a augus-ta voluptuosidade da dôr.

Quando o raio estala sobre umaarvore, imprime n'ella vestígio dasua passagem—essa arvore torna-sesagrada. Quando o Deus da creaçãovisita a mulher no momento em queella concebe, elle fulmina-a no maisresondito do seu ser, para que ellaconserve a lembrança do divino cho-que.

A partir d'esse instante d'angustia,a mãi faz com o filho uma alliançapathelica ; d'ora avante ella ama-oduplicadamente—não só por lodo oqae sonhou para elle, como por tu-do o que por elle soffreu.

Por tudo o que sonhou sim ; por-que apenas senlio ella o primeiro es*tremecimento d'esta alma nova, co*Ibida nos paramos do infinito,na volu-ptuosidade d'um sonho d'amor. quea soa fronte, em que sciolillava d'an*tes a expanção da juventude, adquire

para logo um ar pensativo de gravi-i*dade—o olhar vago interroga o inflnito. Ella tem a consciência de quetraz assim um destino.

Ora, esse destino ó a creança ago-ra adormecida no leito—um homemem germen, e talvez um homem ex-cepcional, se por ventura o acasoquizer entrar Vessa alliança. Estevinculo entre o homem e a mulher ap-proxima-os mais ; proporciona lheum segundo amor, passada a idade doamor.

Falta ao celibatario uma virtude,ou pelo menos oceasião de a mani-festar. A' noilinha entra em sua casae não encontra, no canto do lar, umamulher para ensinar-lhe a bondade,uma cabeça loira, ainda fresca de or-valho celeste, para ensinar-lhe can-dura. Ninguém,, em torno d'elle, pa-ra amal-o, para* ajudal--o—igftorà aalegria da dedicação; nem sequer pó-de aprendei a. Vive só, sempre sô,na fronte o lemma do seu destino naterra, em. que apenas occupa o espa-ço das salas e crê que isso é viver. Avida não o conhece,—que siga avan-te.

Fora da familia, o homem é apenaso esboço do homem. Para dar a ulti-ma demão á sua existência, è necessario quereuna em si o coração deuma filha e que d'essas graças todas,do todas essas lernuras, de todas es-sas flores d'alma, misturadas entresi, como os cachos da vinha, n'umsó perfume, elle se faça alma forte eboa—a alma reunida do homem eda mulher, a harmonia androgyua dePlatão. _%

Quando o homem entra na familia,diz Bacon, expõe-se á sorte. Sim, porcerto , nas eras do despotismo, elleofferece maior preza á tyranniá; po-dem feril o com tantos golpes, quãotos Olhos tem. O celibatario, não —nenhuma raiz o prende ao.solo. Mar-cado por Sejano, pôde elle caminhare passar a fronteira. Nem o receio,nem o favor o preudem, porque nãotem filhos.

Todavia, Bacon errou. Melhor diriaelle que o homem, entrando no gre-mio da familia, previne-se contra odestino.: Que importa qae o despotismo tireao cidadão o direito da cidade? Pôde

xxpulsar o povo da praça, publica,ío poderia expulsar o pai do lar.

onde o homem se mostra sempre porobras e acha a felicidade, pelo me-nos tanlo quanto tém o direito de serfeliz, quando a liberdade, se cobrecom o véu de viuva, no que era ou-1'rora pátria e hoje não passa de pri-são.

Como quer que seja, o pai de fami-lia, ainda mesmo sob o império dodespotismo, tem sempre alguma cou-sa a fazer —' trabalha, economisa epelo capital que ajunta á custa demuito suor eque transmilte á suadescendência, passa por sobre o tem-po e funda uma dynastia. Todas asvezes que pozer de parte om escudo,para resgatar da miséria a familia.elle resgala na mesma oceasião a pa-tria da servidão.

A independência da situação é cau-ção da independência de caracter. Aodespotismo é necessário o povo men-dicaote. Não estenda o povo a mãoque implora, e o déspota deixará dereinar.

Por seu lado, a mãi trabalha tam-bem. Depois de ter gerado o filho,physica, ella cria-o moralmente. Amaternidade é uma creação continua.No infante, a mãi crêa o homem pelainstrucção ; e para instruil-o, ellaesgota a diplomacia da ternura.

Foi ella a primeira que suspeitoua theoria do trabalho attractivo. Pa-recendo distrahil-a, occupa ella acreança que não lera que fazer; pra-ticando o bem ensina-lhe a pralical-oe a amar, dando-lhe o exemplo daternura, de sorte que a mãi, na gera-ção futura, tem sempre a metade domérito do filho.

Mas, como se poderia crer, a mãinão põe a: sua dedicação a juro vita-licio ; — a sua virtude reflecte-se so-bre si mesma e illumiua-a de novabelleza.

Mãi e amante, ao mesmo tempo,ella tem, como a larangeira, sitnulta-neamenle flor o frueto e em redor desi esparge a dupla benção da sua oa-tureza. Quando nos approximamos(Telia, sentimos que alguma cousamudou em nós—queremos tornar-nosmelhores.

A creança, comtudo, nio é umsorvedouro que tudo esconde e nada

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restitue—antes contribuo poderosa-mente para o Éden intimo do lar, en-che-o, anima-o, com os seus brin-quedos infantis. Conteute com; vivere sempre prompta a mostral-o, dir-se hia, vendo-a comer, a alegria vi-va do lar. Esquecemo-nos da injosti-ça da vida, só comb ouvir a deliciosapoesia do seu tagarelar.

Ha em redor d'ella, um ciciar d'inoocencia que purifica d'alguma fórmao ambiente. E' um testemunhosempre vivo ; o seu olhar .cândidoparece o olhar da consciência : se fi-zeres mal, esse será o ten remorso.Um homem derribou outro e apon-tou-lhe á garganta a faca humici-da—« Desgraçado, disse a victima,se teu filho te visse » 1 O assassinoarrancou de si o ferro e fugiu.

Acreança ensina o homem a con-tar com o tempo e a sacrificar aoeterno om quarto d'hora, formandoincessantemente do trabalho o qui-nhão do futuro e collocando religio-samente um segundo soldo sobre oprimeiro. A vbia tem tanto mais me-rito, quanto mais participa do éter-oo.

Onde está a superioridade da eco-oomia sobre o prazer, a não ser queeste representa o minuto—aquella aduração?

O pai faz mais do que viver; revi-ve no filho, passa a hora que decor-re para entrar com elle no futuro.D'ora avante tem comsigo um talis-man-quem prova, a morte? Entreesta e elle, ha esta cabeça querida,e é a ella que elle invoca na oceasiãoda prova.

Depois da conquista da índia, Affonso de Albuquerque voltava para aEuropa. Impellido por ligeira briza,navegava elle por um mar chão ; des-fraldavam se todas as velas ; recon-dúzia á sua pátria a victoria de ummundo sobre outro.

De repente, porém, nas alturas doGabo da Boa Esperança, um pontonegro fluetua ao largo ; a manchaaugmenta no céo, e pouco a poucocobre o todo ; sobrevoai as trevas empleno dia, n'um mar negro, envoltoem espuma.

Ataca a procella o navio ; em cima,estala o raio ; ruge a vaga embaixo.No meio das chammas, fluetua o na-vio sobre o abysmo. Já não segue,'porém, a sua derrota, e a cada iostan-te ameaça sossobrar.

O capellão dirige á Virgem umaprece ; o vento, sibilanlo, abafa lhea voz, e as ondas passam varrendoo convez; volta, torna a passar, co-

à tempestade. Albuquerque arràoca-odos braços da mãi e eleváhdo-o emdirecção ao raio, disse:

á -Oh Deus I salva-nos por estacreaoça. » H

Ouviu ò réo a supplica ; o ventoacalma ; o mar socega por sua vez; onavio segue de novo a sua derrota eganha em paz o porto de abrigo.

S. de Aguiar.

¦ .-:

- -

mo a leoa que lambe a presa antes dea devorar : — uma vaga parle o lerme, nas mãos do capitão.

Acabado étudo— só resta morrer.Uma mãi aperta, n'este m ornou to. ofilhinho de encontro ao seio; a meiga I

GAZHELROMANCE ORIGINAL

DE

LÜIZÀ LEONARDOi. _

A sala de jantar do banqueiro Ber-nardo Lauzan, na noite de 5 de Fe-vereiro de 1865, tinha um aspectoencantador, sereno.

A' roda da grande meza de carva-lho reuniam-se quatro personagens:Sr. Lauzan, D. Angélica, sua espo-sa, Gazhel, menina de 5 annos, fra-cto único de nm amor casto e fundo,eo Sr. Laurens, amigo de infaucia dobanqueiro.

Esperavam o café que lentamentecoava pelo filtro de uma machina 'de

prata, aos cuidados de D. Angélica.Era ella que todas aá tardes preparava a bebida aromatica. Servia-a aomarido em pequenina chicara de lou-ça da China.

Gazhel, feliz, risonha,buliçosa, di-rigia ao pai mil perguntas aéreas,com um tom faceirinho, altivo.

Sentava-se em seus joelhos beijan-do-lhe as faces.

De repente voava ao collo da mãe;puchava-lbe os pingeutes dos brincosde ouro.

Aborrecia-se.Abria os grandes olhos, como

quem rellecto com a vista. Sacudia acabecinha e marinhando pelas pernasdo amigo velho, ajoelhava se, quasisobro o proeminente abdômen do pa-calo burguez. Ahi, rindose, brinca-va com a cabelleira artista delle. A-chava-a longa.

Depois tle fazer quanta traquinicepôde imaginar, disse, explicando-sebem»

—Ora. Laurens lem uma cabeçacomo aquelle pintor que está na sa-la.

—Qual, Gazhel?—Aquelle que tem om chapéu mai

lo grande... um pouco do lado.Ah ! Rubens, disse Bernardo

rindose.—Esse mesmo, ajuntou Gazhel.

Achas que me pareço com el-le ? perguntou Laurens.

*¦- Muito.creancinha, qne tudo ignora, sorria I — Como te eoganas I quizera ter

o seu- talento pára poder pintar a tuacabecinha seduetora, em algum qua-dro religioso. Faria de ti um lindoanjinho.

Tu não fazes quadros, nem fa-zes anjinhos, mas trazes me brinque-dos tao bonitos...

Minha travessa, já vejo quegostaste da lua boneca

Muito, respondeu Gazhel dis-trahidamente.

E mudando de tom rapidamente,diri-se ao pai. ~

—«Papá, eu quero que me man-de fazer um vestido de anjinho e que-ro que dês um baile de creanças.

Para que, -filha ?...Porque eu quero dançar.

—Gazhel, interrompeu I). Angeli-ca, deitando o café nas chicaras epassando-as, as meninas da tua ida**de não faliam em dançar .

Porque, mama ?Porque devem primeiro apren-

der a lêr, e muitas outras cousas ne-cessarias.

Pois bem, hoje é quinta feira,sabbado papá tomará as minhas li-ções e se ellas estiverem boas, do-miogo terei o baile.

Dizendo isto, Gazhel correu para opai, passou-lhe os bracinuos em tor-no do pescoço e dando-lhe um beijo,longo, demorado, perguntou-lhe,com voz carinhosa :

—Sim, papá ?—Oh ! minha filha, minha venlu-

ra, tudo, todo quanto queiras, disseBernardo aperlando-a ao coração.

Bernardo, tu perdes esta cre-anca, murmurou D. Angélica.

—Mama, não seja má, disse Gazhei, quasi a chorar.

—Não chora, minha filha. Repara,Angélica, ella disse que o baile seriaa recompensa das suas boas lições,e depois...não vejo nada de mal....Qne dizes, Laurens ?

Sim... Sim... respondeu Lau-rens, deixando cahiros cantos do la-bio inferior e lançando a I). Angeli-ca, um olhar qne parecia traduzir —ainda é tempo, salve sua filha.

Teráso baile, querido anjo, edepois, Angélica, continuou Bernar-do, não quero negar-lhe nada no diado anniversario de nosso casamento.

. — Um vestido de anjinho, um ves-tido de anjinho, repetia Gazhel, ba-teodo as mãosinhas e correndo de umlado para o outro.

De repente, pára em frente do pai,pega-lhe as barbas com as duas mão-sinhas côr de rosa, setineas, e apon-ta:

—Papá, eu quero ver os quadrosde anjinhos aotes do baile.

Nas...minha filha...Meu querido papá, é muito

importante, é preciso que o meu ves-lido seja muito bem feito.

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___^__^_\^^^^^^^!t?y-'in^^:•-¦ f!Ít;r/."' ll*-•_*'-$ I

,\__\^^ ' _____

;—E*s faceira a este ponto, minhaGaztaôl?

—. 0 que é ser faceira, mama :E' uma cousa muito feia, res-

pondeu D. Angélica, eu sstiraava quecuidasses mais dos teus estudos doque das toilettes. Já solelraste o teuconto .

Gazhel perturbou-se, corou, e todavermelhinha correu para a mãe:

Querida mama, prometto le queamanhã èíle estará soletrado; masbem sabes que é o piano que me ti-raotempoe depois... o lenço queestou marcando para o papá.

Pois bem, perdôo-te; mas amanha espero que a tua lição estejasabida.

r— E em recompensa, accrescen-tou Bernardo, irás commigo ao Lou-vre para veres os quadros de Rubens,

—Oh! papásinho, com certezasaberei minha lição.

Gazhel, alegre, tonta de satisfação,lançou-se sobre o pai. fazendo-lhecarinhos.

Neste momento enlrou o creadoa inundando as Sras. Belmont e asSras. Fonlâne que vinham felicitarAngélica e passar a noite em sua ca-sa

O banqueiro dirigiu-se com Lau-rens para o seu gabinete particular,onde os deixaromos conversar larga-mente, em um desleixo; abandonado,emquanto as fumaças de seus cha-rutos desenham no ar, espasmosphantasticos, ülagráneos, aéreos.

( Continua)

bello sexo a importância que dispeu-sou ao seu convite desprelencioso.

Andava perdidinho , n'uma doba-doira: ora estava na porta , ora nocorredor , ora no salão , ora dandoordens á musica — que não tocassesem élle dar o signal; emfim , anda-va por toda á parte, por todos os es-caqinhos para que não faltasse nadaao brilhantismo da festa.

Lá dentro, no salão, n'aquelle pa-raizo, via se um sarilho de meus pec-

Um dia olvidou-se da contempla- ca(jos; parecia que se tramava umação : passou indifferente pela frente|COnspiração cupidiana — tudo fallava,do painel. [tudo sorria com satisfação , alé as

Não pedio ás illusõessorrisos, nem I respeitaveis matronas se considera-ás Alusões chamou. _ vam felizes.

O namoro

—Minhas illusõès; sorride-me!E as . Hlus.es como que sorriam.—Minhas illusOes, seg.ui-mè !E como que as illusões se desfa-

ziam.Franz era preso de vertiginosa

hallucinação. _.>:••',"Querer que a chimera tome corpo,

que o volúvel seja couslante; que amentira seja eterna! ? ...

Transviamento da imaginação—a-berração do espirito!

IllusõesE no clher, quo cm notas se perfuma,As vis5e_ se alterando uma por uma...

V5o desfilando assim! ....Castiio alves

O quadro ficara na officina orphãodas cai leias do progenitor ingrato

Lisbelh, que amava a Franz, èn-trou e vio o quadro.

Pensamento caprichoso, havia na-quella tela imagens de belleza ange-lica.

Lisbeth," anjo também, quiz ren-der-lhe preito e, d'elle aproximou-se,quiz devorar em beijos aquelles pri-mores.

Os beijos da virgem desfizeram asimagens. ¦£_.

Mais tarde entrou oa officina Fnlz,louco, e indo ao quadro n*ejle im-

primio uma camada de linta'; preta,etinegrecèndo-o completamente.

Quando Franz voltou vio o seuquadro inulilisado.

Copioso pranto lhe inundou as fa-ces.

E em seguida uma estripitosa gar-galhada lhe.partio dos lábios.

Franz estava doido !

¦ ¦ ¦ .

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.

M

Franz era um pintor allemão:—pintor e poeta a um tempo.

Pobre de amores, mas rico de cren-ças, imaginou um quadro.

Ao estirar a tela disse elle :—Ponhamos em acção os nossos

sonhos ?E a voz do gênio segredou-lhe ao

ouvido:—Dorme e não sonhes; se sonha-

res não despertes !Franz não ouvio as faltas do gemo

e começou do trabalho.Erguia-se do leito ao surgir da au-

rora : tomava a palheta e... eil o natarefa.

Ao Qm do tempo necessário esta-va concluído o quadro: e Franz tinhaauto os olhos um primor d'arte.

Elle era pintor e poeta: a cabeçaconcebia e o braço executava.

Eextatico ante o frueto do labor,horas ehoras passavaeljemurmúrio-do:

O trabalho do poeta, frueto dos sonhos, inulilisado pela innpcencia ecompletamente destruído pela loucu-ra, estava reduzido ao nada das cou-sas mundanas. #j

Franz perdia se nó rir dos doudosquando o geoio, estreitandoo eotreos braços, murmuriva-lhe ao ouvi-do:

—Poéla soohador, piotor iraagi-nario, dorme e não sonhes: e se sp-nhares não despertes t...

Th C.

como sempre, grau-dioso, impagável.

N'está comedia , tinha lugar sali-ente o director, o que distribuio asallianças ás suas queridas comore-compensa aos trabalhos que presta-ram. Nunca o vimos assim , estavade uma pertinácia inquebrantavel.

Os demais , faziam a sua perna ;andavam também irriquietos.

X

Recorramos á memória, por exempio -

O Antonino , aquelle que mesmonão sendo Faust , não deixava deadorar a sua Margarida;

OJovino que desejou ptovar evi-dentemente as suas idéas matrimo-niaes *

O Fialho— todo mottido a Romeo,fazendo roda a uma encantadora Ju-lieta , valendo-se de todos os meiosa seu alcance ;

O João Gonçalves, pensando retra-lar por meio do processo instantâneoaquella romântica Rachel que nemparece ter nascido na Terra.

O Alfredo Gomes, todo dissimula-do , muito pensativo , idealisandouma viagem a mostardas ;

O Üornelles. supplicando a santaClemência que lhe amenisasse o sof-frimento que o dilacerava ;

O Steinmetz, muito satisfeito emuito alegre, rendendo praito á suaChiquinha idolatrada;

Finalmente, uma porção; uma por-ção de adoradores.

Isto foi o que eu vi apenas.

RECREIO COMMERCIAL.

(A VÔO DE PASSAKO)

O Marcos, o amável Marcos, aquelle das loterias, era o general em che-fe'— estava com a pastado director.

Logo à entrada , encoatraya-se el-le , todo risónho, a agradecer ao

X

Houve eleição da nova directoria eo que eu desejo e mesmo estimo éque ella nos proporcione algumasnoites agradáveis — não faltando acerveja, o pão de ló e mais accesso-rios que constam do programma.

Agora, chegue-se cá, amigo Mar-

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cos; tome lá um abraço e receba osmeus agradecimentos.

Extinguio-se o gaz.Rivaròl.

BimbalhadasVerdades que parecem menti-

ras

Dizerem que a Gazeta de PortoAlegre é o jornal mais germânico emaispositivista que tem apparecidoultimamente. *

*

Negar a superioridade dos lauda-torios artigos do Sr. Koseriiz.

*

0 Século passar a ser impresso emtypographia própria.*

Affirmar que o autor d'este traba-lhinho é o circumspecto Decio de Li-

. ma.Ego

Cousas insuportáveis

Aturar um palaqueiro que a for-«ortquer ser alistado.

Ver um enxame-de cadellos e ca'-dellas. povoando as ruas, em com-tnunidade còm os fiscaes, a quem dãoexemp!o de alta moralidade.

Ouvir vociferar um descontenteignorante, contra os chefes de soupartido.

Ir todos os dias e a todas as horasá casa de um honrado devedor, e vol-tar com cara de cão que comeu bola.

Attender com pacieucia e resigua-ção a qualquer respeitável ereaturaque nos vem pedir dinheiro eaipreslado.

Ser pilhado de surpreza por umcredor exigente.

Ter na visinhança uma creançaque berra noiteedia por vicio oupor falta de carinhos.

Aturar um patrão grosseiro e semeducação.

Viver com mulher feia e ciumentaem companhia de sogra que lhe fazcoro.

Isso jà não é insuportável, é hor-ri vel.

Ter negócios com escrivães e sò-licitadores do foro.

Lidar ou tratar com gente estupi-da.

QUE MEGERA !...

Com afTagos reprehendia AntonioA Innocencio, seu filho pequenino...E a madrasta gritava : Olha, demônio,— Quem dá o pão, dá o ensino...

*

¦

—- O que pensa das mulheres, seuDoutor?

¦— Penso que são, salvo honrosasexcepções, uma imitação do homem.

O MUNDO ESTA' DESGRAÇADOOtrjmuodo emfim 'stá

perdidoNinguém o pôde end'reitar!Caminha tudo invertido !Não sei onde isto ha de ir dar tCede a razão á toleima !A honra já não ateimaEm sustentar seu reinado !A moral já tem peçonha !Meu Deus ! que pouca vergonha !« O mundo está desgraçado !... »

Reina a inveja, reina a intriga,Iteioa a impostura voraz;Anda qualquer rapariga,Atrás de qualquer rapaz !Já sem o pai as filhinhasAndam nas ruas sósiohasSempre d'um p'ra outro ladoA todos rendeudo lérias IJesus ! meu Deus! que misérias !«O mundo está desgraçado!...»

Caminha tudo ás avessas, -Anda tudo aos trambulhões !Andam a pé as condessas,Os viscondes e os barões !Emquanto que os taberneiros,Marçanos e al bardei ros,Andam de carro estufado !Caminha ludo invertido!Meu Deus I 'stá tudo perdido !« O mundo está desgraçado ! »

Sabe hoje qualquer fedelhoGrego, latim e francez ;Mas afinal chega a velhoSem saber o portuguez ;Ha hoje tantos litfratosComo no janeiro os gatosA miarem uo telhado ;Tantos sábios ! tantos poetas!Jesus ! meu Deus ! que patetas!« O mundo está desgraçado !... »

Hoje quem fôr estouvadoEimponha de sabichão, •Alcança ser deputado,Visconde, conde ou barão IA ministros sobem todos,Que saibam pregar engodosCom chôcho palavriado,Que tenham finura e ronha.Meu Deus ! que pouca vergonha I« O mundo está desgraçado !.... »

Ha milheiros de fajardos,Cãozeiros aos pontapés ;Se Deus a estes moalardos

¦/

Fizesse ter quatro pés...Difterençavam-se da gente ;Mas esta raça indecente,Tem sempre engodo estudado,Tem manhosa aleivosia ;Meu Deus ! que patifaria !« O mundo está desgraçado !... »

Ha usurarios aos centos,Jogadores aos milhões:Ha chupistas fraudulentosQue são mesmo uns paparrões :Não faliam os moriolasOs vadios, os carolas ;Nem o charlatão desregrado ;Nem o voraz maldizente ;Meu Deus ! que gente I que gente !«O mundo'eslá desgraçado !... »

Neste século das luzesCaminha ludo a vapor !Nunca vi tantos lapuzes !Louvado seja o Senhor !Qualquer sem saber grammatica,Anda a estudar mathematica.No latim matriculado ISoffre no grego um martyrio !Jesus ! meu Deus ! que delírio !« O muudo está desgraçado !... »

Nas côries Iodos desejam,Sobre o poleiro cauiar.:Todos uma pasta invejam,Um osso para chupar ;Hfje em milhões de gazetas,Não se encontram senão tretasMentiras de rabo alçado #Verriuas de regateira !Meu Deus ! meu Deus ! que cegueira!« O mundo está desgraçado !... »

Qualquer garoto de escolaSem saber lêr nem contar,Já no bilhar á c'rambolaPassa os dias a jogar .-Mesmo até qualquer donzellaSe lhe dizem :—E's tão bella !—'Stou por li enamorado...Ella perde logo a bola !Meu Deus! que gente tão tola !« O mundo está desgraçado !... »

O mundo emfim.'stá perdidoNinguém o pôde ind'reilar!Caminha tudo inverlido INão sei onde isto ha de ir dar!Cede a razão á toleima !A honra já não ateimaEm sustentar seu reinado ! vA moral já tem peçonha !Meu Dous! que pouca vergonha !« O mundo eslá desgraçado!... »

Souza Macario.^

Typ. do Mercantil¦

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