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Administração Pública Modelos de Cogestão Humberto Cunha

Administração-Pública- Modelos-de-Cogestão- · qualificações! que! podem! receber! e! que! as! habilitam! a ter! relações! com! o! poder! público,!recebendo!ou!partilhando!recursos!parao!desempenho!de!suas

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Administração  Pública  Modelos  de  Cogestão    Humberto  Cunha  

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Tipos  societários    

INTRODUÇÃO  

A   expressão   “sociedade   civil”   é   daquelas   cujo   uso   prolongado   e   contínuo,   em  

diferentes  épocas  e  culturas,  a  desgasta  tanto,  a  ponto  de  retirar-­‐lhe  o  sentido  original,  

o  qual,  portanto,  precisa  ser,  se  não  resgatado,  ao  menos  conhecido.  

Rodrigo   Borja,   em   sua   Enciclopédia   da   Política,   faz   um   remoto   apanhado   da  

mencionada   expressão,   identificando   sua   presença   na  Roma   antiga,   para   significar   a  

sociedade   formada   sob   a   garantia   das   leis   e   com   objeto   de   utilidade   comum.   Na  

modernidade,   confunde-­‐se   de   algum   modo   com   o   conceito   de   organização   dos  

cidadãos,  o  que  dá  condições  para  que  celebrem  “o  contrato  social”,  que  representa  a  

deliberação   consciente   e   racional   de   conviver   em   coletividade.   Em   termos   mais  

operacionais,   Antonio   Gramsci   entende   a   sociedade   civil   como   “o   conjunto   de  

organismos  comumente  chamados  de  privados”.  

Nota-­‐se,  assim,  que  a  sociedade  civil  espelha  as  formas  de  organização  e  atuação  com  

preponderância  não  estatal.  Tais  formas  de  organização  podem  ter  muitas  finalidades  

e  diferentes  destinatários.  Quando  pessoas  do  campo  privado  se  reúnem  formalmente  

em  torno  de  uma  vontade  e/ou  de  um  patrimônio  para  o  desempenho  de  atividades  

de   interesse   coletivo,   constituindo,   para   tanto,   uma   pessoa   jurídica,   genericamente  

diz-­‐se  que  se   trata  de  uma  Organização  Não  Governamental  –  ONG  que,  em  sentido  

estrito   e   atual   (o   doravante   utilizado),   agrega   a   característica   de   não   ter   fins  

econômicos.  

O  presente  texto  tem  por  objetivo  apresentar  os  dois   tipos  mais  comuns  pelos  quais  

são   constituídas  as  ONGs  –  Associações  e   Fundações   -­‐,   bem  como  duas   importantes  

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qualificações   que   podem   receber   e   que   as   habilitam   a   ter   relações   com   o   poder  

público,   recebendo   ou   partilhando   recursos   para   o   desempenho   de   suas   atividades  

:Organização   Social   –   OS   e     Organização   da   Sociedade   Civil   de   Interesse   Público   –  

OSCIP.    

O   interesse   mútuo   consiste,   por   parte   do   Estado,   em   obter   uma   atuação   de  

particulares  que  o  ajudam  a  viabilizar  certas  atividades  que,  não  lhes  sendo  exclusivas,  

ao  menos  parcialmente  são  da  sua  responsabilidade;  do   lado  das  ONG,  a  garantia  de  

recursos  e  reconhecimento  públicos.  

As  parcerias  ora  referidas  não  se  confundem  com  a  terceirização  de  serviços  públicos,  

esta   que   se   materializa   pela   transferência   de   atividades   que,   em   princípio   seriam  

executadas  pelo  próprio  Estado,  mas  que  pessoas   jurídicas  com  fins  econômicos  -­‐  ou  

que   a   estas  muito   se   assemelham   fazem  por   ele,   segundo   a   forma  de   remuneração  

que   seja   pactuada,   garantida   a   disputa   entre   os   interessados,   segundo   critérios  

definidos  em  uma  licitação.  

Em  síntese,  passa-­‐se  a  apresentar  o  que  de  mais   importante  há  no  chamado  terceiro  

setor   (sociedade   civil   de   fins   públicos   e   não   lucrativos),   nas   suas   relações   com   o  

primeiro   setor   (o   Estado),   em  ambiente  de   relações  diferentes  da  que  este  mantém  

com  o  segundo  setor  (o  mercado),   isto  porque  os  pactos  do  Estado  com  as  ONG  têm  

por  base  interesses  convergentes,  de  atingir  fins  comuns,  com  o  máximo  de  eficiência  

e  economia;  porém,  com  o  mercado,  os  interesses  são  antagônicos,  sendo  que  a  figura  

pública  busca  o  máximo  de  economia  e  as  empresas,  o  máximo  de  lucros.  

 

   

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TIPOS  SOCIETÁRIOS  PARA  AS  ENTIDADES  CULTURAIS  SEM  FINS  ECONÔMICOS:  

ASSOCIAÇÕES  E  FUNDAÇÕES.  

Tanto  o  Estado  como  a  Sociedade  se  organizam  e  atuam  por  meio  de  pessoas  jurídicas,  

com   a   diferença   de   que   o   primeiro   o   faz   a   partir   dos   critérios   do   direito   público  

(normas   elaboradas   pelo   poder   público)   e   o   outro   do   direito   privado   (normas  

elaboradas   pelos   particulares).   Em   consequência,   as   entidades   públicas   somente  

podem  ser  criadas  por  normas   jurídicas  estatais;  e  as  privadas,  por  atos  constitutivos  

elaborados  por  seus  fundadores.  

As  pessoas  jurídicas  são,  portanto:  

• de  direito  público,  interno,  quando  atuam  apenas  no  país;  

• de  direito  público  externo,  atuantes  no  campo  internacional;  

• de   direito   privado,   cuja   abrangência   da   atuação   é   definida   no   ato   de   sua  

criação.  

São  pessoas  jurídicas  de  direito  público  interno:  a  União;  os  Estados,  o  Distrito  Federal  

e   os   Territórios;   os   Municípios;   as   autarquias,   inclusive   as   associações   públicas;   as  

demais   entidades   de   caráter   público   criadas   por   lei.   Por   outro   lado,   são   pessoas  

jurídicas  de  direito  público  externo  os  Estados  (países)  estrangeiros  e  todas  as  pessoas  

jurídicas  que   forem   regidas   pelo   direito   internacional   público,   como,   por   exemplo,   a  

Organização  das  Nações  Unidas  -­‐  ONU.  

As   pessoas   jurídicas   de   direito   privado   são:   as   associações;   as   sociedades;   as  

fundações;  as  organizações  religiosas;  os  partidos  políticos;  as  empresas  individuais  de  

responsabilidade   limitada.   Dentre   estas,   o   presente   texto   focará   as   associações   e  

fundações,   por   serem   os   tipos   societários   adequados   para   a   constituição   de   ONGs,  

compreendidas  em  seu  sentido  estrito.  

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A  ASSOCIAÇÃO  

Uma  Associação  é  constituída  pela  simples  união  de  pessoas  civilmente  capazes  que  se  

organizem  para  desenvolver  atividades  com   fins  não  econômicos.  Sua  existência   legal  

começa  com  a  inscrição  do  respectivo  ato  constitutivo,  a  ata  de  criação  e  o  estatuto  (e  

todas  as  mudanças  que  venha  a  sofrer),  no  registro,  ou  seja,  no  cartório  competente.  

Uma   Associação   é,   portanto,   uma   pessoa   jurídica,   que   usufrui,   no   que   couber,   da  

proteção  dos  direitos  da  personalidade,  tendo,  portanto,  prerrogativas  como  proteção  

do  nome  da  imagem,  integridade  moral,  respeitabilidade,  etc.  

A  ata  de  criação  é  o  documento  pelo  qual  os  associados  consolidam  sua  deliberação  de  

instituir  a  Associação,  bem  como  documentam  a  eleição  dos  seus  dirigentes,  além  de  

eventuais  outras  decisões.  Além  da  primeira,  todas  as  demais  reuniões  e  deliberações  

devem   constar   de   atas   específicas,   as   quais,   para   gerarem   efeitos   contra   terceiros,  

também  precisam  ser  registradas  em  cartório,  porque   isso  equivale  a  dar  publicidade  

ao  referido  documento.  

Quanto   ao   estatuto,   desde   que   obedeça   à   regra   geral  de   adotar   finalidades   e  meios  

lícitos,   o   seu   conteúdo   é   livre,   mas,   segundo   o   Código   Civil,   algumas   formalidades  

devem   ficar   explícitas,   em   favor   da   segurança   das   relações   com   as   outras   pessoas.  

Portanto,  o  estatuto  de  uma  associação  deve  conter:  a  denominação,  os  fins,  a  sede,  o  

tempo   de   duração;   o   nome   e   a   individualização   dos   fundadores   e   dos   diretores;   os  

requisitos  para  a  admissão,  demissão  e  exclusão  dos  associados;  os  direitos  e  deveres  

dos   associados;   o  modo   por   que   se   administra   e   representa,   ativa   e   passivamente,  

judicial  e  extrajudicialmente;  o  modo  de  constituição  e  de  funcionamento  dos  órgãos  

deliberativos;   as   fontes  de   recursos  para   sua  manutenção;  norma   indicando   se  o  ato  

constitutivo   é   reformável   no   tocante   à   administração,   e   de   que  modo;   as   condições  

para  a  alteração  das  disposições  estatutárias  e  para  a  dissolução;  deliberação  indicando  

se   os   membros   respondem,   ou   não,   subsidiariamente,   pelas   obrigações   sociais;   a  

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forma  de  gestão  administrativa  e  de  aprovação  das  respectivas  contas;  as  condições  de  

extinção  da  pessoa  jurídica  e  o  destino  do  seu  patrimônio,  nesse  caso.  

A   estrutura   organizacional   de   uma   Associação   é   livre,   mas   costumeiramente   são  

criados   os   seguintes   órgãos:   Assembleia   Geral,   que   reúne   todos   os   associados;  

Diretoria,   que   contém   a   estrutura   administrativa;   Conselho   Fiscal,   que   visa   pela  

regularidade  da  aplicação  dos  recursos  da  entidade.  

De  todos  os  possíveis  órgãos  de  uma  Associação,  o  único  que  obrigatoriamente  deve  

existir  é  a  Assembleia  Geral  –  AG  que,  inclusive,  pode  concentrar  todas  as  funções,  no  

caso   de   ser   adotada   uma   administração   coletiva.   Segundo   a   lei,   a   AG   desempenha  

privativamente   duas   importantes   funções:   destituir   os   administradores   e   alterar   o  

estatuto,   o   que   garante   estabilidade   e   mínimas   bases   democráticas,   uma   vez   que  

possibilita   o   controle   da  maioria   sobre   a   elaboração   das   normas   e   de   sua   execução.  

Contudo,  para  evitar  a  chamada  ditadura  da  maioria,  alguns  direitos  são  assegurados  à  

minoria,  como  o  de  1/5  (um  quinto)  dos  associados  promover  a  convocação  dos  órgãos  

deliberativos  da  Associação.  

Por   falar   em   tais   órgãos,   é   oportuno   dizer   que   os   mesmos   são   conduzidos   por  

administradores   eleitos,   cujos   atos   que   praticarem,   se   ficarem   nos   limites   de   seus  

poderes   definidos   no   ato   constitutivo,   não   os   obrigam  pessoalmente,   ou   seja,   quem  

responde   por   eles   não   são   as   pessoas   naturais   que   os   praticaram,   mas   a   própria  

Associação.  Todavia,  se  excederem  seus  poderes,  desviando  a  finalidade  e  confundindo  

o   patrimônio   da   Associação   com   os   próprios,   fica   caracterizado   o   abuso   da  

personalidade   jurídica,   situação  na  qual  pode  o   juiz  decidir,   a   requerimento  da  parte  

interessada,  ou  do  Ministério  Público  quando  lhe  couber   intervir  no  processo,  que  os  

efeitos   de   certas   e   determinadas   relações   de   obrigações   sejam   estendidos   aos   bens  

particulares  dos  administradores  ou  sócios  da  pessoa  jurídica.  

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Pode   ocorrer   de   a  Associação   ter   administração   coletiva;   neste   caso,   as   decisões   se  

tomarão  pela  maioria  de  votos  dos  presentes,  salvo  se  o  ato  constitutivo  dispuser  de  

modo  diverso.  Eventual  anulação  deste   tipo  de  decisão  colegiada,  por  causa  de  erro,  

dolo,   simulação   ou   fraude,   pode   ser   feita   no   prazo   de   até   3   anos   da   data   de   sua  

publicação.  

Não   é   raro   ocorrer   a   falta   de   administradores   (abandono   ou   outras   causas)   de   uma  

Associação;   neste   caso,   qualquer   interessado   (pessoa   prejudicada   pela   falta   de  

comando)  pode-­‐se  recorrer  ao  Judiciário,  que  pode  nomear  gestor  provisório.  

Importante  tópico  é  o  atinente  aos  direitos  e  deveres  dos  sócios.  A  regra  mais  geral  é  a  

de  que  não  há,  entre  os  associados,  direitos  e  obrigações  recíprocos,  ou  seja,  uns  não  

se   subordinam   aos   outros.   Por   conseguinte,   os   associados   devem   ter   iguais   direitos,  

porém,  a  Lei  admite  que  o  estatuto  possa  instituir  categorias  com  vantagens  especiais.  

Ademais,   a   qualidade   de   associado   é   intransmissível,   se   o   estatuto   não   dispuser   o  

contrário;   inclusive,  se  o  associado  for  titular  de  quota  ou  fração   ideal  do  patrimônio  

da   associação,   a   transferência   daquela   não   importará,   de   per   si,   na   atribuição   da  

qualidade   de   associado   ao   adquirente   ou   ao   herdeiro,   salvo,   também,   disposição  

diversa  do  estatuto.  

É  admissível  a  previsão  de  punições  para  o  associado  que  cometer   faltas,   incluindo  a  

restrição   de   direitos   e   até   a   exclusão   dos   quadros   da   Associação.   Porém,   nenhum  

associado   poderá   ser   impedido   de   exercer   direito   ou   função   que   lhe   tenha   sido  

legitimamente   conferido,   a   não   ser   nos   casos   e   pela   forma   previstos   na   lei   ou   no  

estatuto.  A  exclusão  do  associado,  por  seu  turno,  só  é  admissível  havendo  justa  causa,  

assim  reconhecida  em  procedimento  que  assegure  direito  de  defesa  e  de  recurso,  nos  

termos  previstos  no  estatuto.  

Importante  momento  de  uma  Associação  é  o  da  sua  dissolução;  quando  isso  ocorre,  o  

que  eventualmente  ainda  sobrar  do  seu  patrimônio  líquido,  depois  de  deduzidas,  se  for  

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o   caso,   as   quotas   ou   frações   ideais   dos   associados,   bem   como   restituição   das  

contribuições   feitas,  será  destinado  a  entidade  de   fins  não  econômicos  designada  no  

estatuto,   ou,   omisso   este,   por   deliberação   dos   associados,   a   instituição   municipal,  

estadual  ou  federal,  de  fins  idênticos  ou  semelhantes  ou,  não  existindo,  à  Fazenda  de  

um  dos  mencionados  entes  da  federação.    

A  dissolução  somente  se  completa  com  a  conclusão  da  liquidação,  com  a  averbação  no  

cartório   onde   foi   registrada,   promovendo-­‐se,   em   consequência,   o   cancelamento   da  

inscrição  da  pessoa  jurídica.  

 

A  FUNDAÇÃO

Se   uma   Associação   pode   ser   constituída   para   quaisquer   fins   não   econômicos,   a   Lei  

limita   o   rol   de   finalidades   de   uma   Fundação:   religiosos,   morais,   culturais   ou   de  

assistência.    

Enquanto  uma  Associação  é  criada  por  simples  vontade  dos  associados,  uma  Fundação  

o  é  por  deliberação  de  seu  instituidor,  que  pode  ser  pessoa  natural  ou  jurídica;  mas  não  

basta  a  vontade  e  a  deliberação:  é  necessário  que  o   instituidor,  por  escritura  pública  

(negócio  jurídico  entre  vivos)  ou  testamento  (vontade  de  pessoa  falecida),  realize  uma  

dotação  especial  de  bens  livres,  especificando  o  fim  a  que  se  destina,  e  declarando,  se  

quiser,   a   maneira   de   administrá-­‐la.   Pode   ocorrer   de   os   bens   destinados   serem  

insuficientes  para  constituir  a  fundação;  neste  caso,  se  de  outro  modo  não  dispuser  o  

instituidor,   tais   bens  devem   ser   incorporados   em  outra   fundação  que   se  proponha  a  

fim  igual  ou  semelhante.  

Constituída   a   fundação   por   negócio   jurídico   entre   vivos,   o   instituidor   é   obrigado   a  

transferir-­‐lhe  a  propriedade,  ou  outro  direito  real,  sobre  os  bens  dotados,  e,  se  não  o  

fizer,  serão  registrados,  em  nome  dela,  por  mandado  judicial.  

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As  pessoas  encarregadas  de  aplicar  o  patrimônio,  tão  logo  tenham  ciência  do  encargo,  

observando  e  respeitando  as  determinações  do   instituidor  devem  fazer  o  estatuto  da  

fundação   projetada,   submetendo-­‐o,   em   seguida,   à   aprovação   da   autoridade  

competente,  que   é   o   representante   do  Ministério   Público,   o   qual,   se   adotar   decisão  

contrária   aos   interesses   dos   responsáveis,   de   tal   decisão   cabe   recurso   ao   juiz.   Se,  

contudo,   o   estatuto   não   for   elaborado   no   prazo   assinado   pelo   instituidor,   ou,   não  

havendo  prazo,  em  cento  e  oitenta  dias,  a  incumbência  caberá  ao  Ministério  Público.  

Vê-­‐se   ser   de   grande   importância   a   presença   do   Ministério   Público   na   vida   das  

fundações.   Sendo   tal   instituição   muito   complexa,   em   termos   organizacionais,   para  

balizar   os   contatos   mútuos,   podem-­‐se   fazer   as   seguintes   correlações   de  

responsabilidades:  

ATUAÇÃO  DA  FUNDAÇÃO   MINISTÉRIO  PÚBLICO  RESPONSÁVEL  Em  dado  Estado  da  Federação   O  do  respectivo  Estado  No  Distrito  Federal  ou  em  Território   O  do  Distrito  Federal  Em  mais  de  um  ente  da  federação   Os  estaduais/distrital  que  atuam  em  cada  

uma    

O   estatuto   de   uma   Fundação   se   assemelha   ao   de   uma   Associação,   com   as  

peculiaridades   já   referidas   e   as   que   adiante   serão   acrescentadas.   Mudanças  

estatutárias  somente  podem  ser  levadas  a  efeito  por  dois  terços  dos  competentes  que  

gerem   e   representam   a   fundação,   não   podem   contrariar   ou   desvirtuar   o   fim   desta;  

ademais,   precisam   ser   aprovadas   pelo   Ministério   Público,   e,   caso   este   seja   contra,  

poderá  o  juiz  suprir  a  negativa,  a  requerimento  do  interessado.  Quando  a  alteração  não  

houver   sido   aprovada   por   votação   unânime,   os   administradores   da   fundação,   ao  

submeterem  o  estatuto  ao  Ministério  Público,  requererão  que  se  dê  ciência  à  minoria  

vencida  para  impugná-­‐la,  se  quiser,  em  dez  dias.  

Também   o   encerramento   das   atividades   de   uma   Fundação   tem   muitos   elementos  

comuns   com   o   exposto   para   as   Associações.   Observa-­‐se,   contudo,   a   seguinte  

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peculiaridade:   tornando-­‐se   ilícita,   impossível   ou   inútil   a   finalidade   a   que   visa   a  

fundação,   ou   vencido   o   prazo   de   sua   existência,   o   Ministério   Público,   ou   qualquer  

interessado,   lhe   promoverá   a   extinção,   incorporando-­‐se   o   seu   patrimônio,   salvo  

disposição   em   contrário   no   ato   constitutivo,   ou   no   estatuto,   em   outra   fundação,  

designada  pelo  juiz,  que  se  proponha  a  fim  igual  ou  semelhante.  

 

 

   

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Qualificações  de  ONG    

QUALIFICAÇÕES  ESPECIAIS  PARA  AS  ONGS  DA  CULTURA  E  SUAS  RELAÇÕES  COM  O  

PODER  PÚBLICO:  ORGANIZAÇÃO  SOCIAL  –  OS  E  ORGANIZAÇÕES  DA  SOCIEDADE  

CIVILDE  INTERESSE  PÚBLICO  -­‐  OSCIP.  

Em  princípio,  as  Associações  e  Fundações  se  organizam  e  atuam  livremente  segundo  as  

deliberações  de  seus  fundadores  e  instituidores;  do  mesmo  modo,  ao  se  constituírem,  

devem  indicar  ou  destinar  as  fontes  de  recursos  e  os  bens  capazes  e  suficientes  ao  

cumprimento  de  seus  objetivos.  Ocorre  que  muitas  vezes  buscam  auxílios  e  parcerias  

com  o  poder  público,  de  maneira  a  ampliar  e  viabilizar  suas  atividades.  

Para  pleitear  referidas  parcerias  é  necessário  que  obtenham  uma  qualificação  especial  

de  Organização  Social  –  OS  ou  de  Organização  Social  de  Interesse  Público  –  OSCIP.  As  

entidades  interessadas  em  qualquer  das  duas  qualificações  têm  sua  liberdade  

organizacional  sensivelmente  diminuída,  pois  devem  adaptar  seus  estatutos  segundo  

certos  ditames  que,  em  gênero,  ampliam  os  controles  sobre  alterações  estatutárias,  

gestão  da  entidade  e  destinação  dos  seus  bens,  em  caso  de  extinção;  tudo  isso  em  

nome  da  prevalência  do  interesse  público  sobre  o  interesse  privado.  

Adiante,  são  apresentados  quadros  comparativos  formulados  com  base  nas  leis  

federais  que  disciplinam  as  OS  as  OSCIP.  

   

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DIPLOMA  LEGAL  

OS   OSCIP  Lei  nº  9.637,  de  15  de    maio  de  1998.     Lei  nº  9.790,  de  23  de  março  de  1999.    

 

ENTIDADES  PASSÍVEIS  DA  QUALIFICAÇÃO  

OS   OSCIP  Pessoas  jurídicas  de  direito  privado,  sem  fins  lucrativos,  cujas  atividades  sejam  

dirigidas  ao  ensino,  à  pesquisa  científica,  ao  desenvolvimento  tecnológico,  à  proteção  e  preservação  do  meio  ambiente,  à  cultura  e  à  saúde.  

Pessoas  jurídicas  de  direito  privado,  sem  fins  lucrativos,  que  observem  o  princípio  da  universalização  dos  serviços  e  atuem  

em  pelo  menos  um  dos  seguintes  campos:  assistência  social,  cultura,  educação,  saúde,  alimentação,  meio  ambiente,  voluntariado,  combate  à  

pobreza,  desenvolvimento  econômico,  social  e  democrático,  combate  à  pobreza,  assessoria  jurídica  popular,  tecnologias  alternativas  e  experimentação,  não  lucrativa,  de  novos  modelos  sócio-­‐

produtivos  e  de  sistemas  alternativos  de  produção,  comércio,  emprego  e  crédito.  

 Exceções:  organizações  laborais,  

religiosas,  partidárias,  de  benefício  mútuo  e  restrito  aos  sócios,  que  desenvolvam  

atividades  não  gratuitas,  OS,  cooperativas,  fundações  públicas,  

entidades  de  direito  civil  criadas  pelo  poder  público  e  organizações  creditícias.    

   

   

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REQUISITOS  ESSENCIAIS  

OS   OSCIP  Constam  dos  Art.  2º  a  4º  e,  em  síntese,  

são:  

-­‐  Controles  sobre  o  ato  constitutivo,  com  destaque  para  previsão  expressa  de  a  entidade  ter,  como  órgãos  de  deliberação  superior  e  de  direção,  um  conselho  de  administração  e  uma  diretoria,  asseguradas  àquele  composição  e  atribuições  normativas  e  de  controle,  além  de  participação  obrigatória  de  representantes  do  Poder  Público  e  de  membros  da  comunidade,  de  notória  capacidade  profissional  e  idoneidade  moral,  em  percentuais  fixados  na  Lei;  -­‐  Rígido  controle  sobre  a  finalidade  não  

lucrativa  e  a  destinação  dos  bens  em  caso  

de  dissolução;  

Constam  do  Art.  3º,  4º  e  5º  e,  em  síntese,  

são:  

-­‐  Controles  sobre  o  ato  constitutivo,  com  destaque  para  previsão  expressa  de  a  entidade  ter,  como  órgão  de  controle  um  conselho  fiscal  ou  assemelhado,  com  a  possibilidade  de  participação  de  servidor  público,  desde  que  sem  remuneração.  Destaca-­‐se  a  possibilidade  remuneração  dos  dirigentes  que  atuem  efetivamente  na  gestão  executiva  e  para  aqueles  que  a  ela  prestam  serviços  específicos,  respeitados,  em  ambos  os  casos,  os  valores  praticados  pelo  mercado,  na  região  correspondente  a  sua  área  de  atuação.  -­‐  Rígido  controle  sobre  a  finalidade  não  lucrativa  e  a  destinação  dos  bens  em  caso  de  dissolução;  

 

CRITÉRIO  PARA  O  RECONHECIMENTO  

OS   OSCIP  Discricionário,  ou  seja,  organizar-­‐se  segundo  o  modelo  determinado  não  garante  a  qualificação,  pois  dependem  

dos  juízos  de  oportunidade  e  conveniência  de  autoridades  públicas.  

Vinculado,  ou  seja,  organizar-­‐se  segundo  o  modelo  determinado  garante  a  

qualificação.  

 

   

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INSTRUMENTO  DE  PACTUAÇÃO  COM  O  PODER  PÚBLICO  

OS   OSCIP  Contrato  de  Gestão  

Objetivo:  formação  de  parceria  para  fomento  e  execução  de  atividades  

Método:  elaborado  de  comum  acordo,  com  subsequente  aprovação  ministerial.  Conteúdo:  discriminação  das  atribuições,  

responsabilidades  e  obrigações  das  partes,  especificando  o  programa  de  

trabalho  e  a  remuneração  dos  dirigentes.  Acompanhamento:  fiscalização,  prestação  

de  contas  e  avaliação.                    

Termo  de  Parceria  Objetivo:  formação  de  vínculo  de  

cooperação  para  o  fomento  e  a  execução  das  atividades  de  interesse  público.  

Método:  elaborado  de  comum  acordo,  com  anterior  consulta  aos  conselhos  de  

políticas  públicas.  Conteúdo:  direitos,  responsabilidades  e  obrigações  das  partes,  especificando  o  programa  de  trabalho  e  a  remuneração  

dos  dirigentes,  empregados  e  consultores.  Acompanhamento:  fiscalização,  prestação  

de  contas  e  avaliação.    

FOMENTOS  ADICIONAIS  

OS   OSCIP  -­‐Automaticamente   declaradas   de  interesse   social   e   utilidade   pública,   para  todos  os  efeitos  legais;  -­‐  A  elas  poderão   ser   destinados   recursos  orçamentários  e  bens  públicos  (cessão  de  uso)   necessários   ao   cumprimento   do  contrato  de  gestão;  -­‐   Possibilidade   de   receber   servidores  cedidos   pelo   poder   público,   inclusive  verba  para  complementação  salarial;  

Sem  expressa  previsão  na  Lei.  

 

   

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CONCLUSÃO  

Do  texto  que  vem  de  ser  apresentado  conclui-­‐se  ser   livre  a  organização  de  grupos  da  

sociedade   para   o   desempenho   de   atividades   lícitas,   as   quais,   quando   de   interesse  

coletivo,  podem  receber  apoio  e  parceria  do  poder  público,  se  a  entidade  criada  para  

tal  mister  se  habilitar  e  efetivamente  receber  qualificação,  para   tanto,  nos   termos  da  

legislação  vigente.  

Esse   exercício   de   qualificarem-­‐se   como   OS   ou   OSCIP   tem   um   preço,   o   da   limitação  

drástica  de  sua  liberdade  de  auto-­‐organização  e  livre  disposição  dos  bens,  o  que  pode  

ser   traduzido  em  máxima  da   lavra  de  Norberto  Bobbio:  quanto  mais  direitos,  menos  

liberdade.  

Conhecer   tal   equação   é   o   passo   básico   para   decidir   os   rumos   das   Associações   e  Fundações,  tão  fartas  no  Brasil.  

 

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Bibliografia    

Di  Pietro,  Maria  Sylvia  Zanella:  Direito  Administrativo.  São  Paulo:  Atlas,  2013.  

Pereira  Júnior,  Jessé  Torres;  Dotti,  Marinês  Restelatto:  Gestão  e  probidade  na  parceria  entre  

Estado,  OS  e  OSCIP.  São  Paulo:  NDJ,  2009.  

Torres,  Ronny  Charles:  Terceiro  Setor:  entre  a  liberdade  e  o  controle.  Salvador:  JusPodivm,  2013.