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administração Prof. Rafael Ravazolo AULA 04

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Prof. Rafael Ravazolo

AULA 04

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Administração

AULA 04

Bom dia, futuros servidores do MPU!

Bem vindos ao nosso arraiá da aprovação. Hoje é dia de festa junina aqui. (...). Pessoal do EAD, um grande beijo para vocês. (...).

Paramos na aula passada, falando da evolução do Estado Brasileiro, quando disse para vocês do patrimonialismo no Brasil, que vem desde que o Brasil foi descoberto, passou por todo Império e chegou à Independência do Brasil, ainda no Império. Depois, à república, que foi um golpe militar com o apoio das elites patrimonialistas que ficaram fazendo a política dos governadores (os governadores, que eram os presidentes das províncias, não incomodavam o presidente da república; o presidente da república não incomodava os governadores). Além disso, tinha a política café com leite, que era um presidente de São Paulo e um presidente de Minas Gerais. Algumas vezes em que era pra ser o de Minas, foi de São Paulo. Mas a grande ruptura desse modelo surge em 1929, com a crise de 29, quando o preço do café no mercado internacional desaba. Tem uma crise política enorme no Brasil, por causa do pessoal do Rio Grande do Sul unido com a Paraíba, Getúlio Vargas aqui no sul. São Paulo passa a perna em Minas, elege um presidente paulista (era a vez de eleger um presidente mineiro). Com isso o Rio Grande do Sul e a Paraíba conquistam o apoio mineiro. E mais do que isso, João Pessoa é assassinado na Paraíba. Versão oficial do assassinato: crime político, pelo que Getúlio Vargas espalhou por aí, para ter revolta. Versão extra-oficial: foi assassinado pelo marido da amante. Mas isso foi usado como desculpa, pois não se sabe até hoje se foi crime político ou não. E aí Getúlio Vargas faz a revolução, que é um golpe, em 1930. Getúlio Vargas assume o poder em 1930 e começa então a Era Vargas, que dura 15 anos, até 1945. Nesse período começa com uma ditadura, depois ele é eleito democraticamente e cria a justiça eleitoral em 1933 para fazer as eleições de 1934. Ganha as eleições de 1934 e em 1937 ele leva um golpe, dele mesmo. Então ele dá um golpe nele mesmo em 1937 e assume o poder que ele tirou dele mesmo. Porém em 1937 ele assume como ditador. Pois bem, durante todo o período Vargas, já começa uma transição no Brasil do modelo patrimonialista para o modelo burocrático de Estado.

Patrimonialista tem esse nome porque ocorre uma apropriação privada dos bens públicos. Pa-trimonialismo porque o patrimônio público é usurpado por entes privados. Quem são os entes privados? Os governantes e os seus amigos, parentes, etc.. Então o nome “patrimonialismo” surge dessa idéia, onde o patrimônio público se confunde com o privado dos governantes.

Getúlio Vargas começa a acabar com essa lógica ao implementar o modelo burocrático, pauta-do na burocracia. É um modelo pautado na racionalidade e na legalidade. Então Getulio Vargas começa a criar uma série de regras e instituições públicas, tentando barrar o patrimonialismo. Então ele começa a implantar, no Brasil, a burocracia nos moldes weberianos. Pois bem, e o que Getúlio Vargas faz? Começa a criar regras, padronização de materiais, de compras, além de criar uma série de órgãos públicos, justamente para aumentar o tamanho da máquina buro-

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crática, para dar maior controle. Porque a burocracia combate o patrimonialismo por meio de controle de processos.

Legal! Então Getúlio faz isso e em 1937, quando ele vira ditador, após derrubar ele mesmo, a reforma burocrática ganha a verdadeira força, pois em 1938 ele cria o DASP. E vocês precisam lembrar que o Brasil era, na sua linha do tempo, patrimonialista. A ruptura começa a ocorrer na década de 30. Quem era o presidente? Getúlio Vargas. E o órgão principal que conduziu essa reforma foi o DASP. Isso marca o início do modelo burocrático de Estado Brasileiro (Burocracia Estatal). Começa em 1930, mas ganha força realmente a partir de 1938.

Fazendo a linha do tempo mais simples possível, pensando nas grandes reformas, o modelo burocrático dura até 1990, quando o presidente era Fernando Henrique Cardozo. Este cria um ministério chamado “MARE”, ministério pelo qual ele conduziu a reforma do Estado. Essa seria a grande divisão, o Brasil teve duas grandes reformas. Uma reforma BUROCRÁTICA na década de 30; e uma reforma GERENCIAL, que tem esse nome porque vem da Administração Privada Gerencial. A ideia era aplicar no serviço público ideias e modelos que são inspirados nos mode-los privados gerenciais. O objetivo: combater a burocracia. Acabar com a burocracia? Não. Por quê? Porque a burocracia tem coisas boas, do tipo: meritocracia, impessoalidade, regras gerais, legalidade, racionalidade. O modelo gerencial não queria acabar com tudo da burocracia, mas sim acabar com as disfunções burocráticas, para dar maior eficiência e eficácia ao Estado. Tudo aquilo que a gente viu sobre o modelo gerencial. Reduz o tamanho da máquina do Estado. Dá mais eficiência. O Estado deixa de ser o executor direto das coisas e passa a ser mais um arti-culador. Certo?! Então essa é a linha do tempo brasileira, a mais básica de todas. Então, duas grandes reformas: burocrática e gerencial. Isso vocês precisam lembrar sempre que a questão começar: “Sobre a evolução do Estado Brasileiro...”, esse é o grande cenário.

Pois bem, mas foi tão pura e simples assim essa linha? Não. Por quê? Onde nós estamos estu-dando? Estamos, nesse momento, na década de 60. Mais ou menos do meio para o fim do mo-delo burocrático. O que acontece nesse ponto? Primeiro, quando Getúlio Vargas sai, em 1945, ele já está sendo altamente combatido. Já é o final da segunda guerra no contexto internacio-nal. Assume o Dutra, eleito. Ele é ex ministro da guerra do Getúlio. Mas ele não faz quase nada. Tanto que, em 1951, Getúlio Vargas volta, dessa vez, eleito democraticamente. Só que aqui o contexto de Guerra Fria está ainda mais forte. Então um Presidente trabalhista não é visto com bons olhos nessa ideia de combate e caça ao comunismo e capitalismo, extrema polarização mundial. Getúlio Vargas, presidente brasileiro, está onde? No quintal dos EUA, na América. E na América ninguém toca sem a autorização dos EUA. Eles iniciam uma enorme intervenção bancando uma série de ditaduras. Nessa época nós temos a ditadura chilena, a brasileira, ar-gentina. Temos também a ditadura no Panamá, Paraguai, que se não me engano foi a primeira, antes do Brasil. Então houve uma série de ditaduras bancadas pra acabar com qualquer chance

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de ter comunismo (não que fosse ter, já expliquei para vocês, era fruto da polarização). Con-tudo, o que era comunismo na época? Qualquer coisa que não fosse aquele a ideia bruta de capitalismo, etc.

“Ah, eu tenho um amigo, quero abraçá-lo”.

“COMUNISTA! Isso é socialismo, revolução!”

Qualquer coisa era mal vista na época, era uma época de polarização. Ainda bem que isso “nunca” mais aconteceu no Brasil, essa polarização meio burra (...), é cíclica, e isso nunca mais aconteceu no Brasil...

Mas então, isso em termos políticos, em termos administrativos, o que acontece, já na década de 50, depois que sai o Getúlio e assume o Kubitschek, percebe-se que a burocracia foi longe demais então o próprio JK já começa a tentar desburocratizar a coisa. Ele não faz uma grande reforma, por isso que não tem esse marco (reforma) no JK. Não existia modelo gerencial no JK, mas a ideia já existia e foram feitos estudos sobre desburocratização/simplificação administra-tiva. (...) ele tinha um plano de governo/ metas com o slogan “50 anos em 5”. Pois bem, se a administração direta é muito burocratizada e JK tinha um monte de dinheiro – já que estava pe-gando empréstimo americano – (foge do comunismo, implementa indústrias no Brasil), o que ele faz? Vamos investir por onde é mais “flexível” – ou seja, pela administração indireta, isto é, 95% de todo o dinheiro do plano de metas foi investido via contratação simplificada.

“Ah, contrata Niemeyer pra construir Brasília”, “Devemos licitar para construir mais barato Bra-sília”, “Não, eu preciso construir ela no meu governo, vamos contratar os amigos”, “fulano quer contratar o amigo: contrata o amigo”, (...). Portanto administrativamente o que começa a aconte-cer na década de 50 é essa enorme divisão, esse abismo entre a administração direta e indireta.

Na década de 50 com JK ainda é período burocrático, mas já começa uma maior divisão entre a administração direta e a indireta, com a administração indireta sendo priorizada. Investem nela, enquanto a administração direta, o pessoal concursado, fica à margem da situação.

JK também começa toda uma ideia de consultoria, tecnicismo, capacitação, cria a EBAP (Escola Brasileira de Administração Pública) e por aí vai, separa política de gestão (...).

Pois bem, depois de JK tem Jânio e “Jango”. Jânio foi eleito presidente e o vice eleito era João Goulart (Jango). Só que tem uma questão interessante, pois naquela época as pessoas votavam em presidente e vice separado – Presidente de uma chapa e vice de outra – Jânio da chapa mais apoiada que assume, mas, meio “louco das ideias”, fica oito meses e sai, então assume Jango, que era herança política de Getúlio – trabalhismo – que não era visto com bons olhos naquela época (guerra fria, década de 60, crise dos mísseis, EUA x Rússia). Então ocorre em 1962 uma

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tentativa de golpe e todo um movimento levantado aqui no RS por Brizola, chamado movimen-to de legalidade, para assumir Jango, o exército gaúcho não entra no golpe, apoia Jango, que assume o poder. Mas há uma manobra política no congresso, Jango assume o poder, porém o regime torna-se parlamentarista. Ou seja, quem manda é o congresso. Jango assumiu sem for-ça, um presidente que não consegue fazer nada.

Assim chegamos em 1964, quando os militares entram no poder.

Eles dão um golpe com todo apoio do exército, as alas que não querem o golpe são massa-cradas. Então se formos contar até aqui no Brasil já tivemos: o golpe de 1889 pra República, o golpe do Getúlio em 1930, o golpe do Getúlio nele mesmo em 1937 (coisa incrível, o cara gosta tanto de golpe que dá um nele mesmo), uma tentativa de golpe em 1962 e mais um que se efetiva em 1964. Eu sei que o pessoal está traumatizado com a palavra “golpe”. Falar de golpe, hoje em dia no Brasil, cai naquela ideia de polarização (se acha que foi golpe na Dilma, é “mor-tadela”. Se acha que não foi golpe, é “coxinha”). Como eu disse, estou usando a palavra “golpe”, porque nesse contexto que estamos vendo foi um golpe. Porque quando tu tens uma ruptura brusca na ordem democrática, tu tens um golpe.

Acabaram com a Constituição, fecharam o congresso (isso no primeiro ano), começaram a emi-tir um monte de leis por conta própria, nova Constituição. Isso não é uma ruptura na ordem democrática? Então, o nome disso é o golpe de 1964, por mais que aquele teu amigo alucinado diga que “não foi golpe, foi uma intervenção militar a pedido do povo”. Aham?! O povo ameri-cano pediu bastante, a América Latina toda pediu junto. Olha, eu nunca tinha visto uma união dessas do povo todo da América Latina pedindo golpes. A América Latina, nunca antes na his-tória desse país, como diria o presidente preso, esteve tão unida, pois toda ela pediu o golpe militar.

Começa, então, novamente, o período de ditadura. Como eu falei pra vocês, ditadura tem esse nome porque ela tem características semelhantes. Não importa se é ditadura de esquerda, de direita, de cima, de baixo, de centro. Ditadura é ter um governo autoritário que centraliza o po-der e que decide fazer o que quer a hora que quer. Vargas foi assim? Foi. Os militares foram as-sim? Foram. Então, são os períodos em que qualquer reforma é feita facilmente, porque quem está no poder é dono de tudo.

“Rafael, então isso é patrimonialismo?”

Não necessariamente! Porque não necessariamente ele se apropria do patrimônio público. Pode ter ditadura patrimonialista? Sim, se houver apropriação de patrimônio público. Mas nes-se caso, de 1964, tem corrupção, tem emprego de parentes, tem características do patrimonia-lismo ainda da herança cultural brasileira, mas são as mesmas que existem até hoje. O Brasil nunca acabou com isso. Não houve um momento “santo” de 1964 a 1985 em que tudo tenha acabado e aí em 1986 voltou a ter a corrupção. Não existe isso. Então, em todo o período Var-gas teve isso, antes também. Então as características patrimonialistas não tiveram ruptura. Elas se perpetuam até hoje.

Então, os militares assumem em 1964 o poder, nesse contexto, e a primeira coisa que eles que-rem fazer é marcar o governo. Então eles fazem uma reforma administrativa. Porque nós tínha-mos, nessa época, no contexto econômico: inflação, desemprego. O João Goulart queria fazer uma reforma trabalhista e não conseguiu (“ah, vamos fazer uma reforma comunista”), pois ele não tinha poder pra isso. Então quando os militares assumem, eles querem marcar. E para isso, eles começam a fazer estudos para uma reforma administrativa, para dar mais dinamismo no

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Brasil, pois ele estava estagnado. “Vamos fazer um desenvolvimentismo, por meio de muita intervenção estatal, investimento de economia, muito empréstimo externo, muito mais do que o JK fez”. No governo do JK a dívida externa já estava muito alta. Já nos governos militares ela explode no Brasil.

Assim, eles criam a Comestra – Comissão Especial de Estudos da Reforma Administrativa – e começam a fazer uma série de projetos para desenvolver o país. Lembrem que eles estão aqui para combater o comunismo, tudo aquilo que era comunista do João Goulart.

E o que eles fizeram? Pegaram os estudos que o João Goulart tinha feito, por meio da sua Co-missão, Amaral Peixoto, gostaram, apesar do comunismo, e usaram esses estudos para fazer a Reforma Administrativa do governo militar.

“Não, Rafael, isso não pode! Os militares eram comunistas então?”

Não, mas como eu disse, a polarização que nos permite olhar esse tipo de coisa. João Goulart tinha feito todos os estudos, os militares olharam: “Bá, que legal isso! Vamos fingir que não é dele e vamos pegar pra nós e vamos fazer a nossa reforma.” Basicamente, foi isso que eles fize-ram. Bem-vindos ao Decreto-Lei nº 200/67!

Esse decreto cai até hoje em alguns editais. Ele é um decreto enorme, gigantesco, e boa parte dele ainda está vigente. Quando falamos de administração financeira orçamentária, citamos ele. Quando falamos sobre uma série de coisas, como os princípios da Administração Pública, que ain-da são válidos (cinco princípios). Então, até hoje esse decreto é vigente em vários aspectos.

Então, os militares assumem em 1964 e em 1967 eles partem para essa reforma administrativa mais extensa. Alguns autores dizem que essa reforma foi tão grande que chega a ser uma tenta-tiva de modelo gerencial no Brasil. Justamente porque um dos princípios dela era a Descentra-lização, típica característica do gerencialismo. Porém, óbvio que gerencialismo ainda não era, porque ele ainda nem existia, pois só surgiu em 1978, na Inglaterra, com Margaret Thatcher. Mas algumas ideias já existiam nesse período: desburocratização, tentativa de dar uma visão mais técnica para as coisas, continua a enorme separação entre a Administração Direta e Indi-reta, bem como um maior investimento na Administração Indireta. Então os militares mantêm essa lógica, essa ideia.

Tecnicismo em vários aspectos. Os militares são conhecidos como o governo tecnocrata. Plane-jamento pela ótica tecnicista e de controle.

E a ideia deles era substituir a Administração Burocrática por uma Administração para o de-senvolvimento. Por isso que é um período nacional Desenvolvimentista. Um período autoritá-rio (ditadura), nacional (por causa do nacionalismo exacerbado. Estrangeiros pobres não eram bem-vindos, apenas os americanos. Economia nacionalista, apesar de ser tudo impresso no estrangeiro. Aquele negócio maluco).

Ao mesmo tempo em que eles buscavam uma descentralização administrativa, existiu uma concentração de poder porque era uma ditadura. Então era um negócio bipolar: “administra-tivamente, queremos descentralizar. Mas politicamente, somos uma ditadura, tem que fazer o que eu mandar. Não tem autonomia nenhuma.” Inclusive, eles que indicavam os governadores, senadores, haviam fechado o congresso e por aí vai.

Agora, os 5 princípios fundamentais lá do Decreto-Lei 200/67. E para não esquecer, quem já foi meu aluno sabe:

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P2C2D (Planejamento, Coordenação, Controle, Descentralização e Delegação)

P – Planejamento

“Ah, foram eles que criaram o PODC, Rafael?”

Não, não foram eles. Falarei sobre isso na próxima aula, provavelmente. Esse planejamento é com viés técnico, pensar no futuro de maneira técnica.

2C – Controle e Coordenação

O primeiro, CONTROLE, é o mais fácil. Porque eles eram uma ditadura, então, obviamente, ha-via muito controle. Inclusive, é um princípio burocrático também.

COORDENAÇÃO: ideia de coordenação entre diferentes níveis, diferentes organizações.

2D – Descentralização e Delegação de Competência

Esses vocês conhecem, até hoje estão ativos. Inclusive cai muito em concurso a diferença entre descentralização e delegação. Cai em provas desde que eu comecei a fazer concurso, em 2001.

“Nossa, 17 anos caindo em concurso?”

Sim! E continua caindo e todo ano tem questões sobre isso. Eles não cansam de perguntar essa diferença.

Principais pontos do Decreto-Lei 200/67: já falei pra vocês, continua a enorme distinção entre Administração Direta e a Indireta.

Direta: burocratizada, pouco investimento, salário baixo. Aqui que o serviço público começa a ser desvalorizado com muita força.

Indireta: valorizada, muito dinheiro e investimento. Por quê? Tu chama um amigo para traba-lhar. “Olha só, tem uma vaga aqui na Caixa Econômica. Nem precisa de concurso, vem aqui que eu te coloco pra trabalhar.”

Para quem diz que não teve corrupção nesse período, eu sempre digo para perguntar se não teve nenhum parente próximo de militar desempregado na época, ou um apoiador do gover-no desempregado na época. Não tinha, eles todos foram colocados na Administração Indireta, sem concurso.

Com isso havia maior autonomia da Administração Indireta, porque ela era mais ágil e flexível. E com isso, subentendam: não precisa concurso, posso contratar quem eu quiser, apontando algum argumento do tipo: “tecnicamente é melhor”.

Definição de programas plurianuais e do orçamento-programa anual. Qual é a nossa estrutura de orçamento até hoje? Não é isso? Temos um plano plurianual de 4 anos; Lei de Diretrizes Or-çamentária, que é anual; e a LOA – Lei Orçamentária Anual. Então nós temos essa ideia de que o orçamento é a base do planejamento que vem desde o DL 200/67.

Flexibilidade de aquisição e contratação de bens e serviços. Flexibilidade onde? Na Administra-ção Indireta.

E fortalecimento e flexibilização do sistema de mérito (contratação sem concurso na Adminis-tração Indireta). Como é que fortalece e flexibiliza? Fortalece no papo: “Vamos trazer quem

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realmente é bom, quem merece.”. E quem é que merece? “Olha, tem um sobrinho meu, ele não estava dando muito certo na vida. Vamos colocar ele de diretor da Caixa?”. Esse sobrinho era Aécio Neves, mas já nos anos 80. Com 24 anos ele foi colocado de diretor de loterias da caixa, recém formado. Mas aí já “são outros 500”. Já era o período “democrático”, mas já entra na conta, como ilustrativo, do que rolava antes. Então, a contratação sem concurso na Adminis-tração Indireta era a maneira de flexibilizar e “garantir” a meritocracia. “Porque tem um cara muito bom aqui, só que ele não passa em concurso. Põe ele aqui de diretor.”

Muita gente agora pensa: “bá, eu queria isso!” Não! Vocês são verdadeiros meritocratas e es-tão aqui para passar por esforço próprio, não esforço do tio, nem do primo. Beleza?!

Pois bem, os militares assumem em 60 com o apoio (mas na verdade não precisavam, porque eles impunham o apoio) e com essa hegemonia eles começam a implantar as reformas e meio que alinham o país. Pegam a inflação alta, e a inflação cai (mas “inflação cai” estamos falando de 15%. Já que 12% era inflação baixa da época), o Brasil começa a crescer, uma série de coisas. E os anos 70 ficam conhecidos como época do milagre econômico brasileiro. Lembram que vocês estudaram isso no colégio, né?! Começamos a década de 70 ganhando a Copa do Mun-do (“90 milhões em ação”, imagina!), pois já tinha perdido em 66 e os militares ficaram meio assim: “agora temos que ganhar”. Ganharam. No Brasil, a economia se desenvolvendo, muitos investimentos, repressão total a qualquer um que falasse contra. Então o cenário era: está dan-do tudo certo no Brasil. Até porque, qual o jornal que escreveria contra o regime totalitário?

“Rafael, isso não aconteceu no Brasil.”

Beleza, então vamos pegar Cuba. Teve ditadura em Cuba? Teve, era ditadura, claro que de es-querda. Beleza! O que acontecia se um jornal cubano escrevesse contra Fidel Castro? Acabava o jornal. Às vezes o jornal continuava, mas trocava o jornalista. Característica de qualquer di-tadura é caçar os contrários, e eles têm poder e hegemonia para isso, pois eles não cumprem leis, violam direitos humanos. Então, aconteceu em Cuba? Sim. (...). Vamos lá, característica de qualquer ditadura: ditadura lá de Stalin, havia jornais que podiam falar contra? Não. Na dita-dura em Cuba, havia jornais que podiam falar contra? Não. Ditadura de Pinochet, que foi uma ditadura de direita, no Chile, tinha algum jornal que falava contra? Então porque raios alguém acha que no Brasil era essa maravilha? Não era. A noção que tu tem no ambiente de ditadura é de maravilha. Por quê? Qualquer pessoa que ouse escrever contra, morre, tinha censores nos jornais. Então esse é o contexto da década de 70: a economia realmente está crescendo, o Bra-sil realmente está se desenvolvendo e parece que todo o resto está resolvido. Por quê? Porque ninguém podia escrever nada contra.

Só que tem um detalhe importante e significativo que é para explicar justamente o fim do pe-ríodo militar, até porque se fosse essa “maravilha” toda, não teria um porquê para acabar. As-sim como, voltando na história do Brasil (é importante ter essa visão geral), o patrimonialismo acabou. Por que o modelo patrimonialista acabou? Crise política econômica. Já que quem era o dono do poder na época tinha porque pensar “vamos acabar com isso, não quero mais”? Claro que não, as elites da época tinham a hegemonia. Por que cargas d’água eles acabariam com aquilo?

“Ah, Rafael, revolução popular.”

O Brasil nunca teve, nessas revoltas populares, uma que impactou todo o Brasil, que fez mu-dança. Todas as grandes mudanças brasileiras foram apoiadas por elites que se mantiveram no poder. Todas! Independência do Brasil, República, a própria “Revolução de 30”, que foi o golpe

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do Getúlio Vargas, foi apoiada pelas elites gaúchas, mineiras, paraibanas. No Brasil, diferente-mente de outros países que tiveram realmente revoltas populares, em que o povo em algum momento se ligou e disse: “acaba essa palhaçada”, nunca houve isso, pois o Brasil sempre de-pendeu fortemente das elites.

Quando chegamos à década de 70, está todo mundo feliz, pois é a “época do milagre econômi-co brasileiro”.

E porque a ditadura vai ruir, acabar, e os militares vão sair do poder? Porque, menos de 15 anos depois: crise política e crise, principalmente, econômica.

Vamos lá, milagre econômico, muito bonito. Mas qualquer um de vocês podem fazer um mila-gre econômico hoje. Vocês querem? Eu ensino. Vai a uma financeira e faz um empréstimo de um milhão (pois na época davam). O que você faz com um milhão? Uma casa, carro, viajar, cur-tir a vida, tudo. Tua vida não é maravilhosa com um milhão? Milagre econômico! Tu não viveria um período áureo de milagre econômico com um milhão? Qual é o problema? Quando os bo-letos começarem a chegar. E foi isso que derrubou de verdade o governo militar. Foi a enorme crise econômica causada por eles mesmos.

Então, permita-me contar uma historinha:

O Brasil está alinhado, está tudo funcionando, se desenvolvendo, saindo de uma enorme crise com inflação. Finalmente o Brasil está se estabilizando. E tem um governo que está legal. En-tão surge uma crise no início da década. Aí o presidente do país vai à imprensa e diz assim: “é apenas uma marolinha. O Brasil não será afetado por isso. Vamos manter o nosso modelo de investimento do país.” E realmente, manteve-se o modelo de investimento, enquanto o mundo estava em crise, o Brasil continuou... “Estamos bem, realmente era uma marolinha”. O mundo está se ferrando, mas, por incrível que pareça, o Brasil não pertence mais ao mundo. No final da mesma década, vem a segunda grande crise. Logo, em uma única década, duas grandes crises mundiais. O que na primeira era uma “marolinha”, na segunda se tornou um tsunami econômi-co. O presidente até conseguiu colocar um sucessor. Mas quando esse sucessor assume, a in-flação começa a ficar descontrolada, a economia começa a cair, o desemprego aumenta. Todos reclamam. As pessoas começam a ir pras ruas reclamar, etc.

De que governo eu estou falando? O de agora há pouco, Lula e Dilma? Sim, também. Foi exata-mente o mesmo ciclo ocorrido na década de 70 com os militares.

Então, milagre econômico da década de 70, Brasil crescendo mais de 20% ao ano, sustentado por empréstimos externos dos famosos “Petrodólares” (dinheiro oriundo do petróleo). E por que tinha petrodólares espalhados pelo mundo sendo dados a juros baixíssimos? Porque já tinha acabado há tempos a Segunda Guerra e o mundo estava “legal”. Os países tinham se re-cuperado e estavam com grana sobrando e estavam procurando alguém para pegar. “Oh, eu te-nho dinheiro para emprestar.” Mas se vocês estão bem de dinheiro, querem dinheiro empresta-do para pagar juros? Não! Oferta e demanda: eu tenho dinheiro para emprestar, mas vocês não querem dinheiro. O que eu tenho que fazer para conseguir emprestar? Baixar os juros.

As ditaduras da América Latina serviram para injetar muito desse dinheiro que de outra forma os governos não iam aceitar. Então, mais uma vez: não tira o Brasil do mundo quando for anali-sar estruturalmente o país. Nós somos um país soberano, temos autonomia. Mas não estamos fora do planeta Terra. Se tem uma pressão internacional para pegar dinheiro emprestado, o Brasil tem uma ditadura que foi um golpe militar bancado pelos americanos...

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“Rafael, tu está inventando!”

Não, os americanos divulgaram documentos dizendo isso. Entrem no site do governo ameri-cano e baixe os documentos que falam do apoio deles ao golpe e como eles sustentaram essa situação, etc. Diante de todo esse contexto, pega dinheiro, mas os juros são baixinhos. Porém, tem um detalhe: é baixinho, mas é flutuante. Se der alguma crise, tu pegou a 1% a década, com crise ele sobe para 4% ao ano. “Ah, não vai ter crise, é uma marolinha!”. Pega mais. Pega mais...

Então, não mudou o modelo brasileiro ao longo da década. O que acontece quando vem a se-gunda grande crise mundial? Mas oh: na primeira crise, os juros já sobem. Mas tem que susten-tar o “milagre econômico” para se perpetuar no poder. Então não muda a estrutura de gastos. O povo continua achando que é uma marolinha, apesar de o mundo estar ferrado, nós estamos navegando na marolinha. Praticamente um stand up paddle: o mundo (Titanic) afundando, o Jack está ali fora, o Brasil é tipo a Rose em cima da cabeceira da cama e o resto de todo mundo está ali em baixo morrendo. Era mais ou menos isso no Brasil em 1972. Só que a Rose ficou curtindo a vida, Jack morreu e em 1978 vem a segunda grande crise do petróleo: dispara o pre-ço do petróleo e acaba o dinheiro para emprestar. E os juros? Sobem muito. Nesse momento a dívida externa brasileira explode. Porém, o crescimento brasileiro era sustentado todo por empréstimo, o Brasil não produzia suas riquezas a ponto de se sustentar entre as maiores eco-nomias (já estava entre as 10 maiores economias do mundo). Só que a base desse PIB (Produto Interno Bruto) para estar entre as maiores economias era empréstimo. É produto interno BRU-TO, tu não conta as despesas, apenas as receitas. Então, o Brasil tinha muito dinheiro, realmen-te, mas emprestado. Só que acaba o dinheiro para emprestar, então não dá mais para investir e, não conseguindo mais investir, começam a quebrar as empresas que sustentavam graças ao governo.

“Bá, Rafael, mas tu estás falando do agora, né?!”

Também! Igualzinho. Sofremos um ciclo de erros econômicos que se agravaram por crises eco-nômicas internacionais e que se transformaram em grandes problemas políticos para os gover-nantes. Então, assim como aconteceu com a Dilma, aconteceu com os militares. Eles começa-ram a perder o apoio, porque a marolinha se transformou em um tsunami.

Resultados dos governos militares:

As crises do petróleo fazem com que aquela reforma perca o poder, porque começam a se preocupar muito mais com a economia do que com as reformas administrativas. Isso porque a economia oscila demais, a inflação começa a perder o controle.

Enfraqueceram o núcleo estratégico (Administração Direta), porque eles investiam por meio da Administração Indireta.

Voltou a existir a dicotomia (que já havia em JK) – Estado tecnocrático e moderno na Adminis-tração Indireta, com altos salários e nenhum concursado, etc.. E Estado burocrático, formal e defasado na Administração Direta, que não tinha nenhum investimento.

Vocês conhecem algum servidor público antigo, da década de 60, 70 até os anos 80? Pergun-tem se era uma maravilha ser concursado nessa época.

Eu trabalho no Tribunal Eleitoral e os meus colegas mais antigos estão se aposentando. Mas tenho um grande amigo que se aposentou agora há pouco, e ele entrou em 1981. Ele entrou no tribunal um mês antes de eu nascer. Sabe o que ele, servidor público da justiça eleitoral

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(poder judiciário da União, que geralmente é um salário maior), fazia para se sustentar na dé-cada de 80, casado e com dois filhos? Sexta-feira ele batia o ponto, saía do tribunal, ia para a rodoviária e ia para o Paraguai comprar muamba para vender quando ele tivesse tempo ao longo da semana. Viajava a madrugada toda, chegava lá sábado de manhã, passava a manhã inteira comprando, voltava no sábado de tarde, via a família só no domingo. Era a maneira de sustentar a família, porque o salário era uma medíocre. E ele era concursado. Concursado no Brasil, a galera pensa que ganhava muito. Quem é que ganhava muito naquela época? O topo da Administração Indireta. Quem era concursado e começava lá embaixo, era um salário míni-mo, às vezes até menos. Essa era a realidade do serviço público totalmente defasado. Quando falarem para vocês que o serviço público é assim porque são todos vagabundos, lembrem que nós temos todo um contexto histórico de falta de apoio, falta de capacitação, falta de investi-mento. Fazer um concurso naquela época era mais desespero do que vontade de garantir uma vida boa. Hoje, felizmente, conseguimos mudar um pouco isso. Mas isso é porque a iniciativa privada brasileira fez tanta coisa errada, que hoje é vantajoso trabalhar no serviço público e não na iniciativa privada. Isso é pra ver como o Brasil é bizarro e não podemos fazer esse tipo de análise sem entender o contexto inteiro.

Em meados anos 70, trouxeram um monte de administradores públicos do exterior, com a “coincidência” que alguns eram parentes e amigos, para continuar implantando o modelo tec-nocrático no Brasil. E no final dos anos 70, lá por 78 e início dos anos 80, os militares começa-ram a criar programas de Desburocratização (assim como JK já tinha a ideia de desburocratizar) e de Desestatização.

O que é Desestatização? Um nome bonito para privatização. Então, aqui não cabe a ideia de ser contra ou a favor. A questão é que eles começaram a ideia de privatizar para reduzir o tamanho do Estado. Porque no início dos anos 80, a Inglaterra já tinha feito a sua reforma gerencial. E obviamente, isso chegou aqui, não com força ainda, mas como uma intenção.

Sempre se liguem nisso: nunca dissociem o Brasil do resto mundo. Às vezes fica muito mais fácil de entender o Brasil pelo que acontece no mundo do que ficar na análise: “Ah, mas é o PT ou PSDB?” Cara, tem mais de 30 partidos, para com isso! “Ah, mas roubou da Petrobrás!” Desde a década de 50 roubam da Petrobrás! Isso significa que eu estou absolvendo o governo do PT quando eu digo que os outros também roubaram? De forma alguma, para com isso! Então sempre que vocês pensarem nisso, para entender esse tipo de matéria, fica muito mais fácil aprender ela e acertar uma questão quando pegamos o contexto geral. Sem o contexto fica muito mais difícil. A história fica muito mais prazerosa e de mais fácil entendimento quando contextualizamos tudo.

Nos anos 80 (1985) acontece a REDEMOCRATIZAÇÃO – Nova República. (...)

“Então, professor, quando eles perdem força?”

No final dos anos 70, em 78. Tanto que em 78 assume o último presidente militar, o Figueire-do. E qual o discurso de quando ele assume? Começaremos uma transição lenta e gradual de volta a democracia. Por que raios surgiria a ideia de transição para a democracia se estava tudo uma maravilha? Não estava mais. Eles já iniciaram a ideia de pular do barco. Perderam o apoio americano, ditadura já não estava pegando tão bem... “Vamos pular do barco, porque ele vai afundar!”. Eles foram os primeiros a pular do barco. Então eles fazem essa transição e quando o Figueiredo sai em 1984, o Brasil está afundado. E olha que bizarro: década de 70, conheci-da como o milagre econômico e 80 é conhecida como a década perdida. E como que sai do milagre econômico para a década perdida em tão pouco tempo? Olha para hoje: anos 2000 a

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2010/2012 foi uma maravilha e agora o que é essa década que estamos vivendo no Brasil, no contexto geral? Uma década perdida. Volta no tempo e analisa isso: tu passa de um milagre econômico (em que se realizaram políticas erradas) para uma década perdida, por culpa só do Brasil? Não! Duas crises na década de 70, e quais foram as duas crises dos anos 2000? A pri-meira, no início da década dos anos 2000, crise internacional das empresas .com, que era uma bolha econômica, pessoal investindo em empresa digital e subiram o preço das ações, mas por ser uma bolha, não tinha sustentação. Lá pelas tantas, estourou a bolha, que era relativamente pequena. Para sair dessa crise, o que o Banco Central Americano fez? Começou a desregula-mentar para as pessoas poderem criar títulos para venderem no mercado de ações. E aí come-çam a criar os títulos imobiliários podres, de alto risco, etc.. Então, de uma bolha pequena, para sair da crise criaram outra bolha que estourou em 2008. E até hoje, 10 anos depois, o mundo ainda não se recuperou da bolha imobiliária americana. E o Brasil está dentro do planeta Terra. Então, óbvio que se continuasse com aquele modelo dos anos 2000 de gastar mais do que ar-recada sem gerar uma sustentação, uma base para isso, na hora que faltasse o dinheiro, que os investidores se mandassem, o Brasil iria quebrar.

Uma das grandes diferenças: estrutura da dívida. Naquela época (70), a dívida era externa. Ago-ra a dívida interna é maior: ações, títulos do governo para serem pagos. Mas é um empréstimo de qualquer jeito, é o governo devendo para alguém. Logicamente, a mesma estrutura: o go-verno não tem dinheiro, ele pega um empréstimo com alguém. E quem está sempre lucrando com isso, não importando se há crise ou não? O mercado financeiro.

“Então, professor, as crises são cíclicas?”

Sim. Quando falamos que as crises são cíclicas, não podemos dizer: “tenho certeza que daqui a 5 anos teremos uma crise”. Não é essa a lógica. Mas são ajustes do mercado. Se formos ana-lisar o histórico, é cíclico: crises, evoluções, crises, crescimento,... Mas porque em períodos de evolução são cometidos erros, e quando ocorre uma crise e afunda demais é preciso se rees-truturar.

Vamos lá, vocês são concurseiros e eu posso falar isso que vocês entenderão: quem é que sal-vou os EUA de quebrar quando ocorreu a grande crise de 2008?

a) Donald Trump

b) As empresas privadas

c) O empréstimo de mais de um trilhão do próprio governo americano

Olhem, o mercado imobiliário totalmente desregulamentado, totalmente privado, ultra liberal, pressionando o governo para apoiar leis que desregulamentasse mais ainda e deixasse vender títulos podres, que é uma coisa absurda. E aí eu pergunto pra vocês: quando a criançada faz besteira, pra quem é que eles correm? Para os pais! Então eles foram implorar para o Obama para que não deixasse quebrar. Assim, o governo deu subsídios e dinheiro (eu não lembro em quanto fechou o volume total, mas o primeiro empréstimo foi de mais de um trilhão). Vejam o tamanho da crise que eles geraram. E foram pedir para o governo, para o Estado, mais de um trilhão. Então eu pergunto? Quem é que pagou isso? Saiu do bolso do Obama? Não. O governo é quem? O povo. O povo bancou o mercado financeiro que havia quebrado. Se você é um pé de chinelo que tem uma quitanda e quebra, ao pedir ajuda ao governo para não quebrar, o que o governo faz contigo? Te vira! Mas se tu fores um banco bilionário e está quebrando, ao pedir ajuda, o que ele faz? Take my money!

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Mais uma vez: quando fazemos uma análise política e histórica, temos que pensar nos atores e seus poderes. Não descontextualiza, não analisa o “casinho do fulaninho”, porque tu vai errar! Analisa o contexto amplo. Quem tem poder? Quem tem dinheiro. E no Brasil também sempre foi assim. Então, obviamente, as elites apoiaram a ditadura militar no início. E por que elas pu-laram fora no fim? Porque elas estavam tendo prejuízo porque não era o que elas queriam com o Jango e então os militares colocaram as coisas em ordem, com o milagre econômico, muita grana e felicidade, parecia que não havia crime. Por quê? Porque havia censura. Porém, no final da década de 70 não há mais como esconder, pois o mundo está quebrado. Começam as pres-sões e a vazam as notícias, finalmente, de tortura, assassinato, crise econômica. Não havia mais como mentir. Logo, os militares perdem o apoio de quem os colocaram lá, que eram os que estavam perdendo dinheiro. E é por isso que, de novo, o regime militar cai. (...)

Assim, começam as campanhas “diretas já” e etc.. “Diretas já” é uma das campanhas que eu acho mais engraçada. Porque quando a gente lê sobre ela, que foi nos anos 80, quando o povo foi às ruas pedir eleições diretas (porque no regime militar as eleições eram indiretas, o que significava que só tinha dois partidos: o MDB, “oposição” permitida/possível - porque os ou-tros opositores ou eram assassinados ou jogados para fora do país), e a Arena, apoiadora do regime. Iniciam-se os pedidos de eleições diretas. Quando estudei isso na escola fiquei: “Uau! O povo foi às ruas e exigiu eleições diretas!”. Depois que fiquei mais velho fui ler... Teve elei-ções diretas? Não teve. Tancredo foi eleito com eleição indireta. O povo foi para a rua, maior manifestação popular da história desse país não conseguiu nada. Nem com isso o congresso fez alguma coisa. Tancredo não assumiu porque morreu, e quem assumiu? O cara da Arena, Sarney. Olha que lindo! Então eu pergunto: apesar da transição da ditadura para a democracia, houve uma transição política? O Sarney já apoiava os militares. Vocês conhecem o Sarney, né?! Aquela família gente boa, super queridos e trabalhadores. Amam tanto o que fazem no serviço público que toda a família trabalha no serviço público. (...). A família Sarney já estava no poder há décadas e se perpetuou no poder. Sarney vira o primeiro presidente da volta da democracia brasileira que persiste até hoje.

“Professor, mas ele não foi eleito democraticamente?”. Democraticamente ele foi, mas indire-tamente. Não foram os militares que colocaram eles, até porque Sarney não era militar. Foi um presidente civil eleito indiretamente pelo partido que apoiava os militares. O Tancredo também foi eleito democraticamente, mas pelo congresso, indiretamente. É um tipo de decisão demo-crática. O Sarney era o vice do Tancredo.

Então, após o movimento “diretas já”, não houve eleições diretas. A primeira eleição direta do Brasil elegeu o Collor, de outra família tradicional muito conhecida por roubar.

Sarney assume e começa com as tentativas de reforma porque os militares saem do poder e deixam o Brasil quebrado (estamos falando de inflação de 180% ao mês). Quem viveu e traba-lhou naquela época lembra que as pessoas recebiam o salário e deixavam no banco, porque ha-via o “over night” (cobria a inflação durante a noite). Aí tu pensa: “como assim inflação durante a noite, Rafael?! A inflação no Brasil, hoje, é 2.8% ao ano. Se dividir isso por 365 dias, o leite vai subir, sei lá, um centavo à noite. Por que deixariam o dinheiro no banco por causa de um centa-vo?!” Não. Vocês não estão entendendo, era 180% ao mês. Em uma quinzena, dobra de preço. De um dia para o outro, era 10% e dependendo do produto podia ser 50% mais caro de um dia para outro. Então, ou as pessoas deixavam o dinheiro no banco ou, o que era muito engraçado, pegavam um bolo de dinheiro no banco e saíam correndo para o supermercado. Quanto mais demorasse entre o banco e o supermercado, mais se perdia dinheiro, porque o dinheiro estava desvalorizando. Ao chegar ao supermercado faziam o rancho para o mês, comprando tudo que

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coubesse em casa, porque o leite que se pagava em um dia, no final do mês já podia estar o dobro, só que o salário não aumentava. Ou seja, com o dinheiro que se comprava no início do mês 10 caixas de leites, ao final do mês comprava-se apenas 3.

O símbolo da época era a máquina de remarcação de preços dos supermercados. A única cria-tura que nunca estava desempregada nessa época era o remarcador de preços. Havia um por corredor. Eu era criança e achava o máximo, meus pais com os carrinhos lotados e eu pensava que era rico. Não! Eles não eram ricos. Eles estavam pegando todo o dinheiro do mês e com-prando de uma vez só. E havia um remarcador de preços por corredor. Quando acabavam o corredor, voltavam para o início para remarcar o novo preço. Os produtos vinham com 4, 5 etiquetas, uma em cima da outra. Isso tudo em um dia! Percebam a loucura que era economi-camente o Brasil.

Então, quem diz que hoje o Brasil está vivendo a maior crise de sua história, e eu não estou defendendo o Temer e nem o PT com isso, de jeito nenhum, mas quem fala isso não sabe o que foram os anos 80, a década perdida e o fim do regime militar. E se você culpa o PT hoje por ter quebrado o país, culpe também os militares porque o ciclo de erros econômicos foi igual.

Não pensem que eu estou defendendo ninguém. Pelo contrário, estou criticando. Estou falan-do mal de todo mundo aqui. Por isso que o Brasil não arrumou ainda. Porque todo mundo fica assim: “Ah, é culpa tua!”, “Ai, o fulano matou!” “Mas o outro também matou!” Ah ta, então porque um matou o outro pode matar agora? Não. Um erro não justifica o outro.

O Sarney assume, começa uma tentativa de reforma, mas o Brasil está quebrado economica-mente. Então, estavam preocupados com reforma administrativa? Não! Estavam preocupados em estabilizar a moeda. Surgem cruzeiro, cruzado, cruzeiro I, plano verão, plano inverno, plano primavera. Vários planos econômicos como tentativa de tirar o Brasil daquela crise gigantesca.

Sarney inicia a tentativa de fortalecer a Administração Direta. Cria a ENAP – Escola Nacional de Administração Pública, para capacitar dirigentes.

E então vem o grande marco, a Constituição Federal de 1988, devido à outra preocupação da época: acabar com a Constituição do Regime Militar.

Pense no rolo político e econômico que era o Brasil: crise enorme, o governo tentando estabi-lizar o país e, além de tudo, tinha sido eleita uma Assembleia Constituinte porque deveria ser feita uma nova Constituição Federal, a lei máxima do país.

Assim começa a redemocratização, com a Assembleia Constituinte para aprovar a Constituição Federal, que passará a valer a partir de 1988.

Então, relembrando: nesse período de transição democrática, sai Figueiredo, último presidente militar, é eleito, indiretamente, Tancredo Neves, que morre e então Sarney assume. Em qual contexto Sarney assume? Em uma profunda crise política e econômica. Ele tenta estabilizar a moeda por meio de uma série de instrumentos e planos econômicos, mas não consegue. Admi-nistrativamente, cria a ENAP e tenta fortalecer a Administração Direta, porém, não era o foco, pois este era o quesito econômico, pois o país estava quebrado, e também político, que era aprovar a Constituição Federal.

Vamos agora para a Redemocratização do país na Constituição de 1988. E aí todo mundo olha para a CF e pensa: “é o símbolo da democracia, constituição cidadã”. Maravilhosa, linda a Cons-tituição, quem dera ela fosse respeitada. Mas, administrativamente falando, aparecerá uma pa-

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lavra na prova que a maioria vai se assustar, menos vocês. A banca vai falar que a Constituição Federal de 1988 representa um RETROCESSO BUROCRÁTICO/ADMINISTRATIVO. Isso porque, o que estava acontecendo a partir da década de 50, 60 e 70? Uma tentativa de desburocratiza-ção, separação da Administração Direta e Indireta, flexibilidade para a Administração Indireta. A Constituição de 1988 implanta o Regime Jurídico Único, todas as carreiras passam a ter entra-da por meio de concurso público, exceto cargos de chefia e assessoramento. Mas a regra é: to-das as carreiras, concurso público! Porém, surge um problema. Já tinha uma galera trabalhando que não havia feito concurso. O que se faz com essas pessoas? Mandam embora? Mandam fazer concurso e recomeçar tudo do zero? Perde tudo que a organização tem de histórico? Não. A Constituição Federal foi feita em um “grande acordo nacional” do “centrão”. O que é centrão? Aquele que não é “esquerdão”, nem “direitão”. É aquele que fica no meio vendo quem paga mais. Esquerda está pagando mais? Sou de esquerda. Direita paga mais? Sou de direita. Sabem esse monte de partidinhos que há por aí que têm umas eleições bizarras: em uma defendem o liberalismo e na eleição seguinte lutam pelo comunismo? É mais ou menos assim, quem paga mais tem o centrão.

Então eles tentavam agradar todo mundo, pois isso era politicamente interessante para eles. Então, o que fizeram? Não pode detonar o servidor público, logo, tem um monte de benesses para o servidor público. “Bá, mas como que vou mandar embora meus apadrinhados que estão trabalhando na Administração Indireta sem concurso?” Solução genial da Constituição: quem está dentro, fica. Todos que estavam trabalhando na Administração Indireta sem concurso, se tornaram, automaticamente, estatutários. Ou seja, houve a conversão de celetistas para esta-tutários. Isso foi em 88, há 30 anos, para se aposentar precisa de mais ou menos 35 anos. Logo, até hoje tem gente trabalhando no serviço público brasileiro sem ter feito concurso, porque pegou essa benesse do “já estava, então fica!”.

O centrão, coalização política populista no congresso que se vende e oferece apoio para qual-quer lado. Para mim, o símbolo do centrão é o PMDB, que apoiou o Collor, o Fernando Henri-que, o Lula, agora com o Temer, que é o próprio partido, mas metade do próprio partido não apóia o Temer. Isso para mim é a definição de centrão. São meio bipolares, apoiam coisas bi-zarras, não apoiam eles mesmos de vez em quando e é o único partido que sempre esteve no poder desde a redemocratização. E é a maior bancada do congresso.

O centrão levou ao descontrole econômico. Porém, já havia um descontrole. E o que acontece quando há essa falta de controle e vem uma Constituição te obrigando a ter mais gastos ainda? Agrava a crise.

Então, a CF, por princípio, ela é muito boa. Procura desenvolver o país socialmente. Porém, no contexto da época, não havia dinheiro para pagar a conta e isso agravou a crise financeira do Brasil. Já havia uma crise fiscal, a CF agravou. Havia uma liberdade de contratação, ela jogou todos na conta estatutária, aumentando o gasto estatal. Aumentou o custo de um Estado que já tinha um custo maior do que poderia ser pago, aumentando o déficit público. Por isso que a partir de 88, em 89, tivemos o plano verão, plano cruzado, vários planos econômicos tentando ajustar essa situação.

Em 1989 realmente ocorre a primeira eleição direta no Brasil. E quem o Brasil elege? Fernando Collor de Mello, de uma tradicional família alagoana. São parceiros dos Sarney em vários Esta-dos. Eles se espalham, tanto que o Sarney se elegeu senador a última vez pelo Piauí. Sarney é do Piauí? Não, ele é do Maranhão. E como se elegeu pelo Piauí? Poder político. A família Collor também é “dona” de Alagoas e espalha seu poder para os Estados aos lados.

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Collor se elege como novidade. Político jovem, bonito, bem afeiçoado, andava de Jet Sky, bi-cicleta, corria, etc.. Havia um trauma, elegeram o Tancredo, que morreu, então esse não iria morrer, pois era jovem. Sobre o Collor, vou usar as mesmas expressões que usei para o Getúlio, apesar de politicamente não chegar aos pés do Getúlio na capacidade de articulação, tanto que sofreu impeachment, mas não tem essa de “anjo ou demônio”. Corrupção? Sim, ficou marcado pela corrupção, impeachment, etc.. Ao mesmo tempo, ele que começa a abertura econômica brasileira. Não sei se vocês lembram dessa época, mas quem lembra, os carros brasileiros eram: brasília, fusca, Gurgel. Quem é que tinha computador no Brasil? Não tinha, era um negócio ab-surdo. Todos os equipamentos de ponta, de boa tecnologia eram de fora. Porém a taxação era tão grande que era impossível trazer, só quem era muito rico conseguia comprar. E a indústria nacional era péssima porque não tinha concorrência, pois a tributação era tão alta em relação ao produto importado, que podia se vender um carro horrível no Brasil que, ainda assim, valia mais a pena do que comprar um carro importado.

Então, com a abertura econômica, o Collor baixa essa taxação, tirando uma série de barreiras de importação. Isso está dentro contexto da globalização. Abrem-se as fronteiras brasileiras. Gera muito desemprego aqui? Sim, mas ao mesmo tempo tem o lado positivo de gerar maior concorrência e desenvolver a indústria nacional de verdade. Logo, há um certo jogo um pouco complexo de entender. Vejamos o que o Trump está fazendo nos EUA agora, está baixando ou subindo as barreiras? Subindo as barreiras de importação porque ele quer desenvolver a indús-tria nacional. Só que ele já tem uma indústria de ponta, nós não tínhamos. Não estou apoiando o Trump, estou falando mal de todo mundo, mas ele pode subir as barreiras hoje? Pode, por-que ele já tem uma indústria de ponta e poder suficiente para impor isso e as empresas acei-tam porque todo mundo quer vender para os EUA, pois é a maior economia do mundo, mas a China vem aí para passar eles em breve. E o Brasil, tinha a capacidade de ter barreira alta na época? Não. Aqui nós estávamos andando de carroça, de fusca, passat, chevette, etc.. Naquela época, o carro oficial do governo era o Opalão 4.1, que bebia gasolina que era um terror. Depois o Collor leiloou todos esses carros. Se você ver um Opalão preto andando por aí hoje, pode ter certeza que era carro do governo nos anos 80. O carro de luxo dessa época era o Opala Como-doro. Quem é jovem: coloquem no Google (...). E quando o Collor baixa as barreiras, começa a aparecer o que no Brasil? Mustang, Mitsubishi Eclipse e lojas de 1,99, etc..

Collor tentou fazer um ajuste fiscal. Mas isso é contraditório, pois tu corta gastos, porém libera para os parceiros, amigos, para a corrupção.

Ocorreu um problema, ele era tão mimado e acostumado a ser o centro do universo que ele co-meteu um erro estratégico: não dividiu o que ele roubou. E assim perdeu o apoio do congresso, que o derrubou.

“Mas Rafael, não foram os caras pintadas que derrubaram o Collor?” Hahaha.

“Mas eu tenho um tio que era cara pintada e ele disse que derrubou o Collor.” Hahaha. Coitado! Não, não foi teu tio que derrubou o Collor, eu te garanto. Fala pra ele: tio, foi muito legal tu te-res manifestado, mas manifestação popular no Brasil não derruba ninguém. O que derruba são os “grandes acordos nacionais”.

E nesse caso, o Collor tinha um grande acordo que o elegeu, não cumpriu o acordo e então foi decepado por causa de uma Elba. A Dilma, por causa de uma pedalada. E o Collor, por conta de uma Elba. Coloca no Google aí: caso do Fiat Elba. Vejam como o Brasil é bisonho: um Fiat Elba derruba um presidente; uma pedalada fiscal, que não era crime antes e jamais será depois, por-que modificaram a lei, derruba a presidente. Mas em compensação,

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Temer não derruba, apesar das denúncias. Olhem como os grandes acordos de elites susten-tam governos e também derrubam governos quando perdem apoio. Então, essa é a história brasileira.

Vamos brincar com questões e depois falaremos sobre o período gerencial no Brasil.

Essas questões eu coloquei em homenagem à prova da Polícia Federal, porque eu sei que al-guns que estão estudando irão fazer e também porque o edital continua igual. Toda essa aula cai na PF. Vejam o que caiu na última prova.

Vamos lá, na primeira questão:

“De acordo com Bresser Pereira, boa parte do treinamento administrativo e de consultoria dos anos 50 do século passado foi influenciada pelo racionalismo em busca de eficiência e eficácia e pela clara distinção entre política e administração.”

O símbolo dos anos 50 é JK, quando começa a desburocratização, aquela parte tecnicista, sepa-ração da Administração Direta e Indireta, criação da EBAP (Escola Brasileira de Administração Pública), consultorias técnicas, etc.. Então está correta a questão.

“O Decreto-Lei 200/1967, estatuto da reforma administrativa do governo militar, reafirmou a importância do planejamento entendido sob uma ótica tecnicista.”

Esse decreto é da época militar, o planejamento é um dos princípios do Decreto e os militares faziam um governo tecnicista. Assertiva correta.

“A CF de 1988 rompeu com o retrocesso burocrático que até então prevalecia, ao conceder autonomia ao Poder Executivo para tratar da estruturação dos órgãos públicos e proporcionou flexibilidade operacional aos entes da Administração Indireta.”

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Rompeu com o retrocesso burocrático? Não, pelo contrário: ela trouxe o retrocesso burocráti-co. Ela rompeu com a desburocratização que estava ocorrendo na separação direta e indireta. Logo, está errada a questão. Essa questão também vem do Bresser Pereira.

“O Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP) iniciou um movimento de profissio-nalização do funcionalismo público, mediante a implantação de sistema de ingresso competiti-vo e de critérios de promoção por merecimento.”

Falou em DASP, lembra quem? Getúlio. Reforma burocrática. Profissionalização do funciona-lismo é burocratização? Sim. Implantação de sistema competitivo através de concurso público e promoção por merecimento. Mérito é um dos princípios burocráticos. Logo, burocratização, profissionalização, meritocracia, impessoalidade... Barbada! Correta a assertiva.

“Será que tem outra reforma em vista, professor?” Por enquanto, não. As pessoas falam agora em neoburocracia em um modelo mais atual. Seria uma volta da burocratização porque per-deram o controle. Mas isso eu acho que caiu uma vez só em concurso. Não é uma tendência ainda. As bancas continuam cobrando mais isso que estamos analisando.

(Pergunta inaudível)

Resposta: Não! A do Fernando Henrique foi bem clara, ele criou um ministério para isso, com esse objetivo. Do Getúlio, não teve um documento norteador. A reforma gerencial teve um do-cumento, que foi o plano diretor da reforma. Então é bem clara a intenção e o que é feito. Pro Getúlio não tem um documento. Foi mais uma transição mesmo, não tão perceptível, talvez.

“O Decreto-Lei 200/1967, na tentativa de modernizar a gestão pública no Brasil, estabeleceu como princípios fundamentais o planejamento, a organização, o treinamento e a direção.”

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Decreto-Lei 200, quais são os princípios? P2C2D. É isso que está na questão? Não. Portanto, errada. O certo é: planejamento, coordenação e controle, descentralização e delegação.

“O DASP foi criado com o objetivo de aprofundar a reforma administrativa destinada a organizar e racionalizar o serviço público no país.”

Qual reforma? Burocrática. E qual o objetivo da burocracia? Organizar e racionalizar o serviço público no país. Correta.

“As grandes reformas administrativas do Estado Brasileiro, ocorridas após 1930, foram a do tipo patrimonialista, burocrática e gerencial.”

Errada. Por quê? Patrimonialismo não é uma reforma, é um modelo de Estado que foi combatido pela reforma burocrática e depois veio a reforma gerencial. Então, as duas grandes reformas foram duas: burocrática e gerencial.

“A reforma administrativa iniciada pelo DASP, instituiu o Estado moderno no Brasil, com vistas ao combate ao patrimonialismo e à burocracia estatal.”

Até “patrimonialismo” a assertiva estaria certa. O erro está no final. Pois essa reforma implantou a democracia.

“A reforma burocrática mais recente na Administração Pública seguiu um modelo cujos pilares envolvem conceitos de impessoalidade, profissionalismo e formalidade.”

Qual foi a reforma burocrática mais recente? Getúlio! “Mas Rafael, faz quase 100 anos.” Sim, mas foi a reforma burocrática mais recente. Essa é a pegadinha. Assertiva correta.

Agora chegamos ao tio FHC. Pois bem, contexto histórico para vocês entenderem: crise, crise, crise, todos os anos 80 e início dos anos 90. Com a saída do Collor, quem assumiu? “Ah, FHC!”. NÃO! Quem assumiu com a saída do Collor foi o vice, Itamar Franco, que nomeou sua equipe econômica, chefiada por Fernando Henrique Cardozo, que criou e implantou o plano real. E isso, finalmente, gera estabilidade econômica para o Brasil. Controla a inflação, gastos, deixa de ter aquela coisa maluca de oscilação econômica. O Brasil consegue uma estabilidade financeira, depois de quase 15 anos.

Bresser Pereira narra o contexto. Ele que foi ministro quando o FHC foi presidente. Década de 80 e 90: crise econômica. Qual era o contexto mundial? Reforma gerencial. Lembrem de quando estudamos o gerencialismo. Qual era a primeira fase? Estado mínimo. Então essa era a visão que chegou ao Brasil: o chamado Consenso de Washington que era a visão neoliberal ao extremo. Estado mínimo, ajuste fiscal, liberação comercial, redução de gastos públicos, estabilização monetária e privatização de empresas estatais. “Mas Rafael, tem um monte de coisa legal aqui.” Não tem um monte de coisa boa aqui? Ajuste fiscal: não pode gastar mais do que arrecada; liberalização comercial: o governo não precisa intervir tanto na economia; reduzir gastos públicos. É legal. Porém, quando feito corretamente, e a visão, nessa época, era extremista. Como se o extremo fosse resolver todos os problemas. E isso estava se mostrando esgotado historicamente, tanto que no resto do mundo, quem tinha começado com essa visão, já estava transitando para as outras duas fases do gerencialismo. E aqui queriam implantar o radical. Isso foi na década de 90, o gerencialismo já tinha evoluído no resto do mundo, saindo daquele modelo de Estado mínimo para um modelo de Estado com maior qualidade, que olha para a população. Legal, reduz gastos, reduz o tamanho estatal, mas onde realmente ele deve ser reduzido e não de qualquer jeito.

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Então quando Bresser Pereira faz a justificativa para a reforma gerencial, esses são os argumentos que ele usa: tem um contexto de crise, mas esse modelo mínimo já está esgotado também, pois o gerencialismo já evoluiu no mundo. Precisamos de um modelo evoluído, o Estado fazer o que deve ser feito. Reduzir? Sim! Mas fazer o que precisa ser feito.

Pois bem, FHC era ministro quando foi criado o plano real e isso deu para ele o impulso político para que ele concorresse nas eleições de 1994 e se elegesse presidente. Imagina, era o ministro do plano real. Quando ele sai da equipe econômica para poder concorrer, desincompatibilização, assume o Sepúlveda Pertence e depois o Ciro Gomes, que faz a transição final do plano real.

Quando o FHC vira presidente de muita popularidade, com todo o apoio, pois finalmente o Bra-sil saiu da crise. Então ele aproveita isso para fazer a sua reforma, a gerencial.

Finalmente a reforma gerencial chega ao Brasil, com FHC como presidente, que cria um minis-tério para fazer a reforma – MARE (Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado) e coloca nesse ministério o Bresser Pereira. Este que é o autor predileto da banca, quando se fala em evolução do Estado Brasileiro. Até hoje, a maioria das questões do Cespe vem dos textos do Bresser Pereira, que é possível baixar gratuitamente no site dele. O principal: Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado.

Então, lembrem da linha do tempo que passei para vocês: anos 90, FHC era o presidente, Bres-ser Pereira era o ministro, e o MARE era o Ministério criado para fazer a Reforma Gerencial.

O resultado desse levantamento de Estado foi que Bresser Pereira reuniu uma série de espe-cialistas e fez um plano com as diretrizes, intenções, para reformar o Estado, no sentido de im-plementar o modelo gerencial no Brasil. Este é o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Es-tado, que é um documento orientador, oriundo do diagnóstico do contexto histórico do Brasil, inclusive do modelo burocrático de Getúlio Vargas. A banda cobra questões sobre burocracia copiando do plano diretor. O plano faz esse contexto histórico desde a burocracia até chegar ao modelo gerencial. Além de dizer que o Brasil deve mudar em três dimensões: dimensão institucional-legal (instituições e leis), cultural (a cultura ainda tinha vestígios patrimonialistas e burocracia) e gestão (porque mudava a administração). É uma reforma administrativa, portanto envolve mudança de gestão. Modelo gerencial que tem esse nome porque implanta no serviço público ideias e instrumentos adaptados da Administração Privada/Gerencial. Essa é a ideia de gestão: indicadores de desempenho, planejamento estratégico, gestão da qualidade. Aliás, a gestão de qualidade, no Brasil, nasce com o Collor. O primeiro programa de qualidade brasileiro é de 92. Depois esse programa mudou de nome duas vezes com FHC, e, sucessivamente, com Lula, que passou a se chamar “Gespública”. E aí veio o Temer, ano passado e baixou um decreto acabando com o Gespública, que era o programa de qualidade que veio sendo aplicado desde o governo Collor.

Quando caía questão sobre excelência no serviço público, a banca perguntava sobre o Gespú-blica. Hoje, estamos órfãos. Eles podem perguntar historicamente, porque ele não está mais vigente. E então surge a pergunta: “Rafael, por que o Temer acabou com o Programa de Qua-lidade no serviço público? Quanto é que ele gastava nesse programa?” Nada! Porque era tudo voluntário. Eu, inclusive, era voluntário, dava treinamento de graça. “Então, qual o objetivo de fazer isso?”. Para contratar consultoria dos parceiros. Pra que dar consultoria de graça se eu posso pagar uma fortuna para os amigos para fazer a mesma coisa. Então, atualmente acabou e estão realizando parcerias com entidades privadas para fazer o que era feito gratuitamente. Mais uma vez: resquícios de patrimonialismo até hoje.

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Qual era o diagnóstico para a reforma gerencial? Crise do Estado. Crise fiscal, pois estava gas-tando mais do que arrecadava; falência do modelo intervencionista do Estado, o Estado inter-vinha demais, tinha que reduzir, realmente, o tamanho da máquina estatal; e ineficácia buro-crática, tinha que combater as disfunções burocráticas. Esse era o diagnóstico para ser atacado.

Objetivos globais do plano diretor:

Aumentar a governança. Lembram de quando falamos de governança no modelo gerencial?! O que é governança? Usei uma expressão para vocês... Era a capacidade de implementar políticas públicas. Quem disse isso? Bresser Pereira. Então, aumentar a capacidade administrativa de go-vernar com efetividade eficiência, voltando à ação dos serviços do Estado para o atendimento dos cidadãos.

Limitar a ação do Estado, ou seja, reduzir o tamanho do Estado para aquelas funções que são essenciais, para parar de intervir tanto.

Transferir da União para os Estados e Municípios, ou seja, delegar ou descentralizar, as ações de caráter local.

Transferir parcialmente da União para os Estados as ações de caráter regional.

O que ele está fazendo? Descentralizando. O governo federal não tem capacidade de fazer tudo. Então, passa para os Estados as ações de interesses regionais e para os Municípios as ações de interesses locais.

Certo, então vamos acabar com a descentralização. E aí, para ficar mais fácil de entender isso, essa história de forma de administrar, o que é que tem que fazer, quem é que vai ficar como dono de que, o que o Estado pode ou não pode fazer. Para facilitar ele criou essa ideia aqui:

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Está no plano diretor um desenho parecido com esse. É o seguinte: vamos fazer uma reforma gerencial, o que nós temos hoje “o Estadão” – está tudo lá – o que ele fez para propor a refor-ma: “Vamos pegar esse Estadão e separar em quatro segmentos: tu tem o Estado em si (que é a razão de ser dele, o que ele é e nunca vai deixar de ser) que é o núcleo estratégico – legislativo, judiciário, cúpula do executivo (essencialmente a administração direta), a essência do Estado; além disso, tem as atividades que são típicas e exclusivas do Estado que vocês estudam como Poder extroverso, Poder de Polícia, que é aquilo que só o Estado pode fazer: regulamentação, fiscalização, fomento, segurança pública, seguridade social básica. Quem garante isso? O Esta-do. É dever do Estado. São atividades exclusivas do Estado.

Além do núcleo estratégico e das atividades que são exclusivas que o Estado presta, existem certas atividades que o Estado até presta, mas que também há empresas privadas prestando. Então ele presta meio que em um regime de concorrência se formos pensar. São os serviços não exclusivos do Estado. O Estado faz, mas não tem o monopólio. Exemplo de atividades: hos-pitais (há públicos e privados), universidades, centros de pesquisas, museus, etc.. Daí surge a pergunta: “Rafael, se isso não é exclusivo, por que o Estado faz?” Constituição federal! Quem é que tem que garantir saúde, educação, etc.? Logo, para assegurar as garantias constitucionais e infralegais, o Estado tem que realizar esses serviços. Só que ele não faz com exclusividade, ele tem concorrentes privados.

E o último, o que ele chamou de produção para o mercado. Reparem no nome: produção para o mercado. É do governo? Não, isso vai para o mercado. E o que é mercado? Empresas priva-das. São coisas que o Estado faz hoje, mas segundo ele, não deveria estar fazendo, pois está “se metendo onde não deve”.

Para cada um dos 4 segmentos ele previu: quem vai ser o dono (propriedade). Núcleo estratégi-co, quem é o proprietário? O Estado. Atividades exclusivas, o dono é o Estado. Serviços não ex-clusivos são de interesse público, mas não necessariamente precisa ser o Estado para realizar, isso é chamado de propriedade pública não estatal. Por isso que se criou a Lei das OS (Organiza-ções Sociais). As organizações sociais cumprem exatamente o papel de publicização. Exemplo: hospitais públicos atuais. Quem comanda os hospitais públicos? Organizações Sociais. Quem banca? O governo, por meio de um contrato de gestão (que também foi um instrumento legal criado para a reforma gerencial) e a organização que gerencia tem que cumprir uma série de metas e prestar contas pelos resultados. Isso se chama publicização. Os hospitais não foram privatizados, eles continuam sendo públicos. Porém, quem gerencia são entidades que não são públicas, organizações sociais. Então, a lei que criou as organizações sociais e o contrato de ges-tão, foi editada no Brasil justamente no contexto da reforma gerencial para cumprir a parte dos serviços não exclusivos.

E aquilo que o Estado está fazendo, mas segundo ele, não deveria fazer, tem que passar para a propriedade privada. Nome disso? Privatização. Cuidado: não confundam publicização, quem mantém sendo público não estatal, com privatização, que deixa se der de propriedade estatal e passa a ser de propriedade privada. Quando foi a onda de privatizações no Brasil? Final dos anos 90. Telefonia, energia elétrica, estradas, pedágios, etc..

No quadro há também a forma de administração. E aí vem aquilo que eu já falei para vocês sobre a reforma gerencial: ela buscava acabar de vez com a burocracia? Não, ela queria apro-veitar as coisas boas. E o quadro mostra isso. Qual o nome da reforma? Gerencial. Logo, como tem que ser a forma de administração em todos os 4 segmentos? Obviamente, gerencial. Po-rém, em uma delas, além de gerencial, é preciso ter os princípios burocráticos: racionalidade,

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legalidade, etc.. Eu pergunto: onde são feitas as leis? Legislativo. Qual é a razão de ser do Esta-do, onde tudo tem que funcionar de acordo com regras, processos, procedimentos? O núcleo estratégico. Por isso que o núcleo estratégico é o único segmento que vai permanecer com a administração burocrática, além da gerencial.

Esse quadrinho vive caindo em prova. E como vai cair? Em texto corrido. Como:

“O segmento de produção para o mercado deve ser publicizado.” Não, produção para o merca-do, pelo nome, deve ser para o mercado, privatizado.

“O núcleo estratégico do Estado é o único segmento que deve ser exclusivamente de adminis-tração gerencial.”. Errado. Ele é o único que permanece burocrático e gerencial. Todos os de-mais são exclusivamente gerenciais.

Logo, esse quadro é a forma de organização do plano diretor. Todo o plano serve pra explicar esse quadro em vários momentos.

As estratégias, como eu já tinha falado para vocês, que são as três dimensões: institucional-legal, cultural e gestão. E o plano prevê que, ainda que sejam dimensões com certa independência, elas precisam atuar de forma conjunta. Ou seja, até se pode começar uma mudança cultural antes de iniciar a mudança de gestão. Porém, se não fizer as três ao mesmo tempo, não dará certo. Então, o plano queria mudar as três dimensões ao mesmo tempo. O ideal era que a cultural começasse antes, pois mudando-a, apoiaria as outras. Todavia, o exigido era as três andarem juntas.

Sobre a dimensão institucional-legal, a banca falará em leis e instituições públicas. Exemplo: “Na dimensão institucional-legal podemos citar a criação da lei das OSCIPs, da lei das organiza-ções sociais e dos contratos de gestão.”.

Dimensão cultural: acabar com o patrimonialismo e fazer uma transição burocrático-gerencial.

Dimensão gestão: colocar em prática, governança, gestão, capacidade administrativa e de go-vernar, excelência, qualidade, etc..

Quanto aos resultados, o plano diretor começou a ser implantado por 97/98. Começou funcio-nando muito bem, porém, teve um problema: em 98 teve eleição. E uma característica do Brasil é que em ano eleitoral o país para. O presidente precisa de apoio para se reeleger, mas havia outro obstáculo para FHC: a CF de 88 não previa a reeleição. Então houve uma agravante, pois ele precisava aprovar uma emenda constitucional. Vamos lá, momento André Vieira: quanto que é preciso do congresso para aprovar uma emenda constitucional? Ele precisava do apoio de 3/5 do congresso para aprovar uma emenda constitucional para aprovar a reeleição. É fácil conseguir o apoio de 3/5 do congresso? Esse foi o primeiro grande escândalo de corrupção do governo FHC: ele comprou os deputados para votar a emenda da reeleição. “Rafael, tu estás fa-zendo uma acusação grave.” Eu não, abra qualquer jornal da época que existem deputados que deram entrevista dizendo que receberam 100, 200 mil para votar a favor da reeleição.

Contudo, mesmo sendo o primeiro grande escândalo de corrupção do governo FHC, qual era o contexto do Brasil na época? A economia estava bem, o dólar estava controlado, a moeda es-tava controlada, estava tudo legal. Logo, FHC se reelegeu em primeiro turno, esses escândalos surgidos não foram suficientes.

Quando FHC se reelege, a primeira coisa que ele faz é acabar com o controle do dólar, que era artificial, pois o governo bancava para que o dólar ficasse parecido com o real. Quando o plano real iniciou, na década de 90, o real valia mais que o dólar. Com noventa e poucos centavos de

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real, comprava-se um dólar. Depois equilibrou, ficou na faixa de um para um. Entretanto, era o governo que fazia isso por meio do mercado financeiro. Pegavam as reservas financeiras do país e compravam ou vendiam dólar para mexer no preço. Se o preço estava subindo, o gover-no injetava um monte de dólar no mercado. E isso causava o excesso de dólar, fazendo com que ele ficasse mais baixo. Quando o dólar estava caindo, o governo comprava dólar. Ou seja, tira dólar do mercado, fica mais escasso, sobe o preço. Essa era forma que o governo fazia e a Argentina estava fazendo isso até pouco tempo atrás. E isso quase acabou com as reservas do Brasil e da Argentina.

Quando o governo do FHC se reelege, ele tira esse “freio” e o dólar dispara. E isso é bom para os exportadores, mas é péssimo para os importadores. Fica caro para comprar de fora, e o Brasil dependia muito de produto externo, e fica barato para exportar. Então, vantagem para as empresas que exportavam e desvantagem para as empresas que dependiam de coisas de fora. “Mas para a balança comercial era bom?”. Para a balança comercial, sim, porque isso fa-zia o ajuste fiscal funcionar legal. Em compensação, para a indústria nacional acarretava esses problemas. A partir de um certo nível era vantajoso para a indústria nacional, pois ficando caro para comprar de fora, fica mais fácil de vender dentro do país. Porém, isso gerou uma série de problemas muito mais fiscais do que econômicos. Visto que economicamente não foi tão ruim. Boa parte dos economistas até recomendam que o real seja defasado em relação ao dólar para a economia funcionar. Porém, os problemas fiscais acabam gerando outras decorrências, prin-cipalmente quando começam a surgir as crises internacionais. E é isso que acaba derrubando o candidato indicado pelo FHC em 2002. O Lula só consegue assumir porque começa a ocorrer um descontrole da inflação, por causa da primeira crise mundial (descontrole da bolsa de valo-res das empresas de tecnologias) e do medo da volta da crise dos anos 80.

Mas o Lula se elege como? Com o discurso que vai mudar a economia? Não! Ele só conseguiu se eleger porque o discurso dele foi de manter a política econômica que está dando certo.

Voltando ao período da reeleição do FHC, em troca do apoio no congresso, ele abre mão de uma série de coisas do plano diretor. “Quem é que está dizendo isso, é tu, Rafael?” Não! O pró-prio Bresser Pereira tem certa mágoa e escreve isso, que na verdade o plano foi abandonado pelo FHC porque ele focou na estabilização econômica e no apoio do congresso para se reele-ger. Então, na negociação com o congresso ele abriu mão de uma série de itens da reforma que eram necessários. Por isso que a reforma gerencial não foi completa.

Se a banca falar assim: “A reforma gerencial no Brasil foi completa...”, nem precisa continuar. Ela não foi completa, por causa de acordos políticos.

Logo, como um total, o plano diretor não foi implementado. A reforma não foi completa. O Brasil, hoje, é gerencial? Sim. Historicamente estamos vivendo o modelo gerencial? Sim. Assim como antes estávamos o modelo burocrático. Mas posso dizer que acabou o patrimonialismo? Não. Posso dizer que a burocracia e suas disfunções burocráticas foram superadas? Não.

Então, a realidade do Brasil na atualidade é o Estado gerencial com cultura burocrática e patri-monialista.

E aqui outros resultados, privatizações na década de 90 – o Estado reduz seu papel como pre-cursor direto, mas se mantém como promotor/regulador. Venderam as empresas de telefonia, mas criaram a Anatel; Venderam as empresas de água, mas criaram a ANA; Fizeram pedágios nas estradas, mas criaram a ANTT; Então o Estado deixa de ser o executor direto, mas se man-tém como fiscalizador.

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Metas de inflação, que é um dos tripés da economia (mas tem candidato que não sabe o que são os tripés da economia), a inflação não pode passar de tal nível, com a crise de agora da Dil-ma no final (do mandato) tinha ultrapassado esse nível. A meta de inflação tem uma margem, tem que estar dentro de uma certa faixa, com a Dilma chegou a estar um pouco acima e com o Temer está um pouco abaixo. “Então o Temer é muito bom? Não, ele só está abaixo por causa do excesso de crise, porque simplesmente teve deflação”. “Ah então o preço abaixou, isso é bom? Não, isso é sinal que a economia está caindo, que as pessoas não têm dinheiro para com-prar ao ponto que quem vende têm que abaixar o preço”. E também teve deflação por causa das super safras, etc. então isso é muito mais complexo do que “Temer melhor que Dilma ou Dilma melhor que Temer”, têm todos os aspectos econômicos. Portanto as metas de inflação é uma das decorrências da reforma gerencial do ajuste fiscal que mantém a estabilidade econô-mica do país.

LRF é de 2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal que limita o teto dos gastos, que proíbe de gas-tar mais de tantos por cento com folha de pagamento, etc.

Se vocês abrissem em 1989 a Constituição, e fizessem um concurso, iam perguntar assim: “Os quatro princípios básicos contidos no artigo 37?” A resposta seria “L I M P”, o E de eficiência do LIMPE foi incluído em 1998 pela Emenda Constitucional 19 – Reforma Gerencial. O Bresser Pereira tem um texto muito interessante, eles estavam em dúvida sobre em “o que colocar” entre qualidade e eficiência, discutiram e decidiram com pompa por eficiência. (...) Portanto o princípio da Eficiência entrou apenas em 1998 com a Reforma gerencial. E a avaliação de desempenho dos servidores e demissão por baixo desempenho, antes dela só demitiam o ser-vidor público por crime, etc. Desde então o servidor pode ser demitido por baixo desempenho desde que em avaliações sucessivas seja recorrente o baixo desempenho. “Ah, mas isso não acontece? Acontece, eu conheço casos, vários por sinal”.

Reforma da Previdência: FHC fez, Lula fez, Dilma fez, todos eles fizeram um pouquinho e agora o Temer quer fazer de novo, então todo governo desde então fez uma mini reforma na previ-dência. Então esse negócio de que a previdência nunca muda é mentira, todo governo fez uma mini reforma.

A lei que criou as Organizações Sociais e os Contratos de Gestão que viabilizam a publicização de serviços – propriedade pública não estatal – Lei 9.637 de 1998. As OSCIPs – Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – Lei 9.790 de 1999. E as PPPs – Parceria Pública-Privada – Lei 11.079 de 2004. Todas essas leis na “esteira” da reforma gerencial, mesmo mudando agora para o governo Lula continua a ideia de parceria público-privado, gerencialismo, etc.

Então esses são os resultados do plano diretor e aqui, já que vocês têm tempo até o concurso, está a bibliografia básica que eu usei. Desses abaixo o único pago é o Manual de gestão pública, mas não precisa comprar já que o meu material é feito em boa parte com esse manual do pro-fessor José Matias Pereira. Esse manual é muito legal, cai bastante em concurso. E ele tem esse texto (Reforma do Estado, transparência e democracia no Brasil) que é bem legal, explica bas-tante sobre a reforma também. E, os dois textos do Bresser Pereira: o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado e a Reforma da Administração Pública. Os dois são bem legais também e o que mais cai é o Plano Diretor. Por fim, o do Fernando Abrúcio, que é uma visão um pouco mais crítica, que às vezes a Cespe cobra quando quer pegar um pouco mais pesado.

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Essa bibliografia é bem interessante para entender o Brasil e sua história, eu devoro e releio só para dar risada de vez em quando. Obviamente eu leio muitos outros, já que não são só esses que explicam a história do Brasil, mas “Por que eu trago só esses para vocês?" Porque o que interessa para vocês é o que a banca cobra, e esses são os principais textos cobrados pela banca, com grande destaque para o próprio PDRAE.

Agora vamos brincar de questão para acabar a aula.

“Rafael, tu dá essas aulas, mas duvido que ainda caia isso? (aponta questão que caiu no ano de 2017 – TCE-PE).”

Depois, eu não vou fazer isso agora, mas eu quero que vocês identifiquem que tem questões cobrando exatamente a mesma coisa em anos diferentes, elas sempre se repetem.

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“O movimento conhecido como nova gestão ública foi introduzido no Brasil pelo governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) com o objetivo de tornar a administração pública mais efetiva, embora menos eficiente.”

Pergunto: FHC introduziu a nova gestão pública no Brasil? Certo. Também conhecido como administração gerencial, nova administração pública, nova administração pública modelo pós--burocrático. Tornou ela mais efetiva? Sim. E menos eficiente? Não. Então o finalzinho tornou a questão errada (leiam Cespe até o fim).

“A adoção de procedimentos sistemáticos para contratações públicas foi introduzida, no Brasil, juntamente com a nova administração pública, na década de 90 do século passado, seguindo--se a lógica do new public management, adotada na Inglaterra na década anterior.”

Bom: que governo adotou os procedimentos sistemáticos para contratações públicas? FHC? “Não”. Quando foi que começou isso? “Getúlio!” Então surgiu na nova administração pública esses procedimentos sistemáticos para contratações públicas? “Claro que não, já tinha desde o GV.” Então olhe que a banca às vezes faz umas viagens para que a galera fique pensando “será?” e na hora da prova o aluno começa a viajar. “Professor, e na última parte, na década de 90 do século passado, seguindo-se a lógica do new public management, adotada na Inglaterra na década anterior?” Na verdade, desconsidera a transição 70-80 e foi realmente adotada na década de 80, então isso aqui eles podem falar que está correto porque até não estaria errado. Até não brigaria por isso. Só que obviamente isso não tem nada a ver com procedimentos siste-máticos para contratações públicas.

(...)

O que vocês têm que procurar nas alternativas? “Uma que fale de leis ou instituições públicas (Institucional-legal)” Qual delas faz isso? “Letra D?” É a única que fala em agências executivas e regulatórias, é a única que fala em instituições, mudanças de lei (marca a alternativa D como correta). Alternativa A: governabilidade: gestão. Alternativa B: suprimir elementos patrimonia-

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listas: cultural. Alternativa C: mudar a mentalidade: cultural. Vocês se lembram as três dimen-sões: cultural, gestão e institucional-legal. Alternativa E: gestores: gestão. Portanto, alternativa D é a única que fala em instituições e leis.

(...)

Estão aprendendo a extrair as palavras chaves para caracterizar e as trocas que a banca faz para tornar errado? Para tornar errado ela vai misturar modelos, misturar conceitos.

“O modelo atual que caracteriza a gestão pública no Brasil é patrimonialista, pois o Estado pos-sui direitos de propriedade sobre os bens que administra.”

Vamos resolver: o modelo atual do Brasil é patrimonialista? Não, o Brasil é gerencial. Questão está errada. E até a justificativa está péssima, como se possuir direitos de propriedade sobre os bens que administra fosse a definição de patrimonialista.

“A partir do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, a relação entre a administração e o usuário cidadão passou a pautar-se notadamente por dimensões de excelência na prestação de serviços públicos com a participação de entidades da sociedade civil.”

Vamos resolver: Plano Diretor: reforma gerencial, flexibilidade, qualidade, descentralização. Então, a partir do plano diretor, a relação entre administração e o usuário-cidadão passou a pautar-se notadamente por dimensões de excelência na prestação de serviços públicos com a participação de entidades da sociedade civil. “A busca por excelência e a participação de enti-dades são características do plano gerencial? Tudo certo. Questão está certa. (...)

“Depois da reforma gerencial do Estado, adotou-se o controle por resultados nos serviços públi-cos, fato que acarretou aumento do grau de centralização das atividades exclusivas do Estado.”

Depois da reforma gerencial do Estado, adotou-se o controle por resultados: se tivesse acabado ali estaria tudo certo, entretanto é a Cespe, vamos continuar lendo até o fim. A reforma geren-cial acarretou aumento da centralização das atividades? Não, pelo contrário, descentralização. Está errado.

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“Apesar de ainda estar vigente no Estado brasileiro, a administração pública burocrática é um modelo já ultrapassado e, portanto, deve ser suplantado por completo pelo modelo de admi-nistração pública gerencial, que tem por objetivo principal a efetividade das ações governa-mentais e das políticas públicas.”

Apesar de ainda estar vigente no Estado brasileiro, a administração pública burocrática é um modelo já ultrapassado e, portanto deve ser suplantada por completo? Não, lembram do qua-drinho? Ela deve permanecer no núcleo estratégico do Estado, então não deve ser suplantada completamente porque alguns princípios dela funcionam.

“Após a reforma ocorrida na década de 90 do século XX, o Estado brasileiro superou o paradig-ma burocrático, adotando, com êxito, o modelo gerencial.”

(...) Após a reforma gerencial o Estado brasileiro superou o paradigma burocrático, adotando, com êxito, o modelo gerencial? Não, na prática não. Superou o paradigma burocrático? De jeito nenhum.

“De acordo com o plano diretor de reforma do aparelho do Estado (PDRAE), O Estado pode ser dividido em quatro setores: núcleo estratégico, atividades exclusivas, serviços não exclusivos e produção para o mercado. Em três desses setores, a forma de administração resulta da combi-nação do estilo burocrático com o gerencial.”

De acordo com o Plano Diretor de Reforma do Aparelho do Estado, o estado pode ser dividido em quatro setores: núcleo estratégico, atividades exclusivas, serviços não exclusivos e produ-ção para o mercado. Até aí está correto, mas a questão continua, e Cespe sendo Cespe: em três deles a forma de administração é a combinação do burocrático com o gerencial? Na verdade é o inverso disso. Em um deles é burocrático com gerencial e em três é apenas gerencial.

E se a banca colocasse algo do tipo “nos quatro segmentos deve haver administração do tipo gerencial?” Deve ter, não deve? “Ah, mas tem que ter os dois?” Beleza, eu não estou descartan-

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do, mas deve ter o tipo gerencial, não deve, nos quatro? Portanto é assim que a banca costuma trabalhar, a mesma questão é transformada, eles vão fazer a mesma lógica mudando nomes, jogando entre eles (...).

“Bresser Pereira trouxe conceitos inovadores com sua reforma administrativa. A publicização e a privatização fazem referência ao tamanho da máquina pública e de sua força de trabalho.”

Bresser Pereira trouxe conceitos inovadores para a reforma gerencial. “Publicizar e privatizar é? Reduzir o tamanho do Estado” Portanto fazem referência ao tamanho da máquina pública e da sua força de trabalho? Sim, são dois instrumentos para reduzir o tamanho do Estado. Essa questão está certa. (...)

Então pessoal muito obrigado pela aula. Pessoal do EAD: dúvidas, críticas e sugestões deixem lá no fórum e na próxima aula falaremos sobre processo organizacional, planejar, organizar, dirigir e controlar que também vive caindo nas provas.