Adolescencia e Os Conflitos

Embed Size (px)

Citation preview

  • Resenhas

    A ADOLESCNCIA, SEUS CONFLITOS

    E SOLUES

    Adolescentes. Marta Rezende Cardoso(org.) So Paulo: Escuta, 2006, 216 p.

    Pedro Henrique Bernardes RondonPsicanalista

    Esta a terceira coletnea de trabalhossobre a adolescncia que a professoradoutora Marta Rezende Cardoso organi-za, dentro do projeto de pesquisa quecoordena sobre o tema no Instituto dePsicologia da UFRJ. Alm das duas colet-neas anteriores (Adolescncia: reflexes psica-nalticas. Rio de Janeiro: Nau/Faperj, 1999,e Limites. So Paulo: Escuta, 2004), essapesquisa tambm j rendeu um nmeroespecial sobre violncia psquica da Pul-sional Revista de Psicanlise (So Paulo, anoXV, n.163, novembro de 2002).

    Em Adolescentes, Marta reuniu artigos dediversos pesquisadores que tm se dedi-cado s questes dessa importante fasedo desenvolvimento psquico, especial-mente do ponto de vista das chamadaspatologias contemporneas.

    A clnica psicanaltica vem sendoconfrontada, na atualidade, a situaesem que predominam os quadros patol-gicos nos quais prevalecem os mecanis-mos defensivos mais arcaicos e mais ele-mentares, como as atuaes e as passa-gens ao ato. Nessa difcil ocasio em quedevem deixar a situao infantil em di-

    reo vida adulta, vivendo profundaperturbao de seu equilbrio narcsicoe pulsional, sendo-lhes impossvel reali-zar alguma elaborao psicolgica dosconflitos que causam tanto sofrimento,os jovens apelam para tais mecanismosque denunciam a precria elaborao deseu estado de desamparo e de desorien-tao subjetiva.

    Nos artigos que compem a obra soabordados diversos aspectos da adoles-cncia contempornea, estando presen-te em todos eles um importante referen-cial terico que todo o tempo mostra cla-ramente sua implicao clnica.

    A primeira parte do livro se abre comuma entrevista de Jurandir Freire Costaem que so abordadas diversas questessobre as dificuldades naturais do momen-to de transio da adolescncia na con-temporaneidade, como a do enfraqueci-mento da autoridade, tratadas no seu li-vro mais recente O vestgio e a aura: corpoe consumismo na moral do espetculo(Rio de Janeiro: Garamond, 2005).

    Em seguida, o artigo de Joel Birman(Tatuando o desamparo) trabalha aquesto das modificaes ocorridas naestruturao da sociedade, e particular-mente das famlias, desde os anos 1950,mostrando como isso resulta nafragilizao identitria da juventude, quej no conta com as definies claras delimites que vigiam na poca de seus pais.O autor mostra que, ante tal enfraqueci-mento de sua identidade, os jovens es-

    gora (Rio de Janeiro) v. IX n. 1 jan/jun 2006 145-148

  • 146 RESENHAS

    gora (Rio de Janeiro) v. IX n. 1 jan/jun 2006 145-148

    to fazendo das tatuagens e dos piercingsum meio de obter alguma singularizao,uma vez que estes reinscrevem o indiv-duo em outras linhagens e ascendnciasimaginrias, combatendo com isso seudesamparo.

    Por meio de um caso clnico em quese evidencia a necessidade de um acertode contas nas relaes com os pais do pas-sado, Elisa Maria de Ulha Cintra abordaa questo da adolescncia prolongada,afirmando que no d para viver bem esair da adolescncia sem perdoar as falhasdos pais.

    Lus Cludio Figueiredo discute algunsaspectos do filme A vida sonhada dos anjos (ErickZonca, 1998), e chama a ateno para assadas da adolescncia conforme as possi-bilidades mostradas pelas personagens dofilme. Ressalta o lado do terapeuta na rela-o com pacientes-limite, quanto apos-ta na vida e em seus milagres, oferecendo-se como mediador na procura de bonsobjetos que possam permitir a aberturade novos campos de possibilidades, bemcomo mostrando disponibilidade incan-svel aos pacientes sem esperanas como aadolescente do filme.

    Regina Herzog e Ricardo Salztragertrabalham o sentido da revolta do ado-lescente na contemporaneidade, tentan-do extrair desse sentido elementos quecontribuam para indicar a possibilidadede reinveno criativa que o adolescentecarrega consigo, algo fundamental quan-do se pretende buscar alternativa criativapara a experincia de limites e potenciais.

    Em Espao e objetos transicionais naanlise de adolescentes borderline, MarionMinerbo apresenta os casos de dois ado-lescentes cujas anlises impuseram a mo-dificao do enquadramento. Utilizandosua experincia em tratamento institu-cional de adolescentes gravemente per-turbados, a autora abriu a possibilidade

    de outras formas de expresso, fertilizan-do dessa maneira sua clnica no consul-trio. Marion mostra que o investimentolibidinal do analista em seu paciente nocampo transferencial desestabiliza umcampo afetivo cristalizado em certa posi-o sintomtica.

    Camilo Venturi, Mariana Barbosa e Te-resa Pinheiro, em seu artigo, fazem algu-mas reflexes acerca da questo da ver-gonha que na atualidade aparece ligada aquestes como a performance e a imagemde si mesmo, com excessiva preocupaocom o olhar do outro, sugerindo articu-laes com a situao dos adolescentesno contexto cultural.

    Solido isolamento na clnica daadolescncia o texto em que Ana Cec-lia Magtaz Scazufca pensa o problema dasolido como vis metodolgico para ar-ticular o pensamento metapsicolgicoe a conduo clnica da anorexia, da buli-mia e da obesidade.

    Na segunda parte da coletnea estoreunidos seis trabalhos que, como co-autora, a Marta Rezende Cardoso elabo-rou juntamente com seus alunos, estagi-rios da equipe de clnica e pesquisa quecoordena na DPA do Instituto de Psico-logia da UFRJ.

    Amanda Melo, Camila Braz Padro,Camila Haddad, Carlos Linhares VelosoFilho, Clarice Gomes Palmeira, Elisa LimaMeyerhoffer, Fabiana Lustosa Gaspar, He-lena Aguiar, Lilia Frediani Martins Mori-coni, Nataly Netchaeva Mariz, PatrciaSimon Lorenzutti, Paula Ceci Marques daSilva e Tatiana Lusa Cerqueira da Silva soesses alunos e estagirios que apresentamsuas reflexes sobre importantes aspec-tos da teoria acerca das dificuldades e dosconflitos prprios adolescncia que seexpressam na clnica em quadros diver-sos, ilustrando suas elaboraes com rela-tos de vinhetas de casos clnicos atendi-

  • RESENHAS 147

    gora (Rio de Janeiro) v. IX n. 1 jan/jun 2006 145-148

    dos no ambulatrio de Departamento dePsicologia Aplicada.

    Todos os textos esto escritos em lin-guagem clara e acessvel, de leitura agra-dvel, e certamente vo interessar aquantos se dediquem ao aprofundamen-to do estudo de questes relativas ado-lescncia e s chamadas patologias pr-prias da contemporaneidade. A forma daapresentao em textos to bem escritose mesmo didticos d coletnea o car-ter de livro que poder ser aproveitadopor estudiosos de todos os nveis, mesmopor aqueles que ainda se encontram emprocesso de formao acadmica, noscursos de graduao e ps-graduao, tan-to quanto de formao psicanaltica.

    Recebida em 26/4/2006.

    Pedro Henrique Bernardes [email protected]

    O ENSINO DA CLNICA DAS PSICOSES

    Clnica psicanaltica das psicoses.Ricardo de S, Maria Ldia Oliveira deArraes Alencar, Giselle Falbo e CludioOliveira (orgs.) Niteri: EdUFF, 2005,124 p.

    Angela C. BernardesPsicanalista, aderente da Escola Brasileirade Psicanlise-Seo Rio, professora daUniversidade Federal Fluminense (UFF)

    O que o psictico ensina quele que pra-tica a clnica psicanaltica e o que se podeensinar dessa experincia clnica so osdois eixos que orientaram a discussoproposta por integrantes do Laboratriode Psicanlise e Lao Social (Lapso), da

    Universidade Federal Fluminense. Tal dis-cusso, por sua vez, conseqncia doencontro destes professores com a clni-ca realizada na rede de Sade Mental deNiteri, atravs da associao do curso deEspecializao do Lapso/UFF com a Re-sidncia de Sade Mental da Secretariade Sade de Niteri.

    O livro composto de quatro partescom trs artigos cada, reunindo assim os12 artigos apresentados no Colquio Cl-nica psicanaltica das psicoses, realizadona UFF, em julho de 2004.

    Na primeira parte, Letcia MartinsBalbi, Paulo Vidal e Ricardo de S, abor-dam diferentes aspectos do ensino da psi-canlise com respeito clnica da psicose.Ricardo de S contrape ensino e trans-misso para propor que a perplexidadefrente psicose tem efeitos na transmis-so da psicanlise, pois esta perplexidadeadvm do encontro com uma radical alte-ridade, diferena absoluta que implica naimpossibilidade de se responder pela viada compreenso. Servindo-se de fragmen-tos clnicos trazidos a ela por alunos e resi-dentes, em orientaes e supervises,Letcia Balbi tira alguns ensinamentos dis-so. De forma clara e bem apoiada na expe-rincia, verifica que os fenmenospsicticos apontam para a estrutura signi-ficante como distinta da funo de comu-nicao e significao e para o engodo datentativa de compreender: abordar, porexemplo, as intuies delirantes pela pers-pectiva da significao , de certa forma,participar da prpria estrutura delirante.Paulo Vidal interroga, em essncia, sobreo lugar que cabe ao analista para um sujei-to que, diferentemente do neurtico, nointerroga o Outro, pois o Outro j lhe res-pondeu. Essa discusso, ilustrada por umcaso de sua clnica, vem no bojo da refle-xo sobre as possibilidades de se ensinar oque a psicanlise ensina.