Adonias Filho - o Largo Da Palma

Embed Size (px)

Citation preview

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    1/55

    I I I U I I I I I I II I I I U00099150000001o la.yo da palma869 94 .~ 1861

    "Nesteo Largo da Palmase colhern as rnesrnas

    licoes de panicoe inconforrnisrno

    das sagas arrtertor-esdesse escritor.

    Narradas, de novo,corn a rnesrria exemplarrnestria, e regadas,

    como sernpre,de latejante

    sangue humano."

    - - t-. t

    - ' I ; :- t, ~

    jL1. ;. ~~"t1_ :

    . ~. 3,;

    Mario da Silva Brito

    IIB E R T R A N D B R A S I L o LARGODA PALMA , ,:: 1 l, -i, ".~:~..:, . . ~ ~~ ' =. ~.

    I'\U- ,- ~'" "'i~

    IS IBB ER T R A N D B RA S i l

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    2/55

    Copyr igh t 2 00 5, h er de ir os d e A d on ia s F il hoC ap a: R ac he l B ra ga

    2005Impressa no BrasilPr in t ed i n B r a zi l

    C I P - B r as il . Catalogacao-na-fonreSindicaro Nacional dos Editores de Livros, RJ

    A186L Adonia s F i lh o , 1 915 -1990o L arg o d a Palma: n o vc tu J AJ o ni J. S F ilho . - RJ o de:J a ne ir o : B e rt ra nd B r a si l, 2 0 05 .112p.

    I SBN 85 -286 -0314-8

    ;"..," ... - ::: . '". ". - . -

    1. Novel . . .brasileira. I. Ti(uio.05-1287 fo COD - 869.93C DU - 8 21 .1 34 .3 (8 1 )3

    ~,. :- - ~

    SuMAruo

    Todo s o s d ir ei ro s reservados pela:EDITORA BERTRAND BRASIL LTDA.Rua Argent ina , 171 - I~ a nd ar - S ao C ris to va o2 09 21 -3 80 - Ri o de Janeiro - R JTel. (Oxx21) 2 58 5- 20 70 - F ax : ( Ox x2 1) 2 58 5- 20 87

    ,t, t; !I

    . , . :

    A rnoca dos paezinhos de quei j0 7o largo de branco.... 29,U m avo rnu iro velho 49 ' ,

    - " .. :"

    _" .~ ~,-". . . . . . . .- ~t~i__~ r

    " ' ,. : .... :.Urn carpo sem nome ' . '71 .;. I , ... r ' ,:~ ; ,. ~ . .

    83 --",,',. ; , ~ . '! ". -, -Os e n for ca d 0s .. : . .....Aped f3. ........... , . 9 9 , ' : ' "

    , i. -" "_

    " 1,' ". - ' f,:.. ,- !. J:

    '~,',.; iI . ". . - - r ,.: : " . -: . - ' .t ::~ ~..~ ." ~", j- . ' ".~:\ . .

    , v- , : . < .I >

    Na o e perrnit ida a reproducao total au parcial desta obra. por quaisquerr ne io s, sc m a previa autorizacio por escriro da Editora.Atendemos p~1o R~~'nbolsoPostal

    ,. , ' "; . . . . .

    . - _ ..

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    3/55

    -- .~L-

    - r l : .J~i~ ' ' 1.',,-C t ,

    ~_ .~

    . . iII,IIjjI1tIIi,i,

    A MOc;A DOSPAEZINHOS DE QUEI]O

    /:.... . " r:: ;~~~~ : ; : ~lI ''l '~-It ,.,.;~ 'j.~~...

    "

    - . : .

    : L .":i;:__r :,. .~ .j 'I~ ' .: .

    ., - ~,. ~:\ ~

    , 1~,i.< ~ ;!,} ~

    \ I\

    .t~-.~.

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    4/55

    I, _.

    "E PRECISO CONHECER 0 L arg o da P alm a, taO velho qu antoS alvador) p ara saber onde fic a a elsa dos paezinhosde quel]o. c , .' . . . .Cercam-no Os casaroes antigos que abreh-t passagens para asrUJS estreiras e para u rna ladeira pequena e torta que rarnbemse cham a da P al Ina. E, SC0 larg o e J ladeira sa o da P alm a, eporque l.i esc} 3 ig reja q ue lh es en 1p reS r3 . 0 nome. Hu rn ild e ecnrugadinha, co m tres sec ulos de idade, nada al i a , conrecequenJ O testcmunhe em sua c urio sid ad e d e velha m uita velha. E ,assirn de Irentc p ara J ladeira qu e desce no c arninho da B aixad os S a p at ci ro s, vt e ouve tudo 0 que se faz e (11a na casa dos. . . . . .pic zinhos de qucijo.

    Na e sq ui na , onde a ladcira comeca, e precisamenre 3 1 qu efica J c asa dos p .iezinhos de qu eijo . A casa e c as a p orq ue arabulera, ern rinra azu l e por cim a da porta, a ch ama de casa:"A C3SJ dos P ac zinhos de Q ueijo" . Na v erdade, u ma lojinhado rarnanho de urn pequeno quarto encravada no magro ea lto so bra do d e tre s a nd are s, E, porque ali v ive u rn bocado depovo, coberras coloridas enfeiram 3S janclas, e a griraria dosradios SUfOC3 as prcgors dos vcndedorcs de fru [as da B ahia .

    IIr I

    I~" ItI It IIj Ift Ij ;:.i;,fj!

    . .l!\

    - ' _ -

    ': : ,. ~ ~... ':

    , ,

    .. _;_i7 " . ~ : ' ~.~ ,..,~ ~i."

    . . , \ " 4 .: 1~ t-, ",t, ; " I"_ .,

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    5/55

    ,- .

    ,. - 1 ;

    , - - I E " ,- , ;~~~

    "

    10 o L A R G O OA P A L M AADONIAS FllHO . ' ! tf .. . ~

    . ..;:-t_ TCll1 SUI1l rnais boni to que 0 canto do passaro.Esra voz ele

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    6/55

    ' : ; ! r ~ J J l ' : ~ l f ~o LA R GOD A PAlM A x , ' .;:"'~~i < ~ ~ ~

    .~ _" . . . . . . '

    " .' . : ' >-- .

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    7/55

    _ .--~_ . ._ ........

    14

    " \ ' , b . ..I~,...

    A DO NIA S FllHO o LARGO DA P A L M A 15para comprar os paezinhos de queijo. Aproxirna-se e, ja agora,entra com enorme decisao.

    A mo~ ali esci, no balcio, a arender a rodos com 0 mes-rno riso , B orn e 0 c heiro dos p aezinhos de q ueijo qu e impreg-na 0 a r , R e sp ir a esse a r, u rn poueo ar ras , de ixando-se f icar paraqu e seja 0 u ltim o a ser a re nd id o. O s o lh os, porern, dell nao seafastam. Parece- lhe l in d a a ss ir n, eom a b lu sa b ra nc a, 0 r is o a le -gre, as n eg ro s e ab elo s c ain do ate o s om b ro s. E quando ouve amulher que, ao receber as p aezinhos de queijo, perguntam u ito a lto :

    a m ao a boca e ja agora bastante a g it ad o, c o nc lu i qu e 0 rap az ~m udo. Log o el e confirrna p orque, sub indo a mao ao bolso da '

    - .c arn is a, p ux an do 0 lap is e 0 p equeno bloeo de anota~6es'esc rev e em letra d e i m pre ns a: "Quero me ia d iiz ia dq s -p5.~-nho s de q ueijo ." A letra e firm e, qu ase u rn desenho , ela 6bser.

    . i- l-"!" I-. .: ,: :I,~t

    , .

    va , e entao se pergunta se ele rarnbern e surdo. E, para cer-tif ic ar -s e, f al a b ai xi nh o e d iz :- O s paezinhos se acabaram . 0 soldado comprou 0

    ult imo.A g or a. a ss ir n taO p erro. sabe que a voz da rnoca do s p a e z i . ; . . . . .

    n ho s d e q ue ijo e realmenre b ela . T er n que rnante-la falando deC om o vai, Celia, com o vai?Celia, chama-se Celia! Tem po nao tern de deter-se sabre 0

    nom e porque a sala ja s e e s va z ia , Ninguern rnais, agora, a naos ec e le , 0 soldado e a ru iva tao gorda e baixota que lernb ra u rnb ar ril d e c er ve ja . Recua ur n pouco e coloca-se arras do solda-do . quase junro ao balcao, a observar a rnoca que em bru lham eia d iizia de paezinhos de queijo para a ruiva. 0 soldado qu ecom pra apenas urn e, cornendo ali m esm o, logo se retira,

    E , fin alrn en re, u rn fre nre a o o utro , de e a rnoca d os p ae zi-nhos de queijo. E rgue a cabeca e. vendo 0 rapaz com o se naoestivesse a ve-lo, e la i nd ag a :

    - Quantos paes? ; .

    ~ _" ~-q ua lq uer rn an eira e, se nao hi pies e ne m fregueses, deve apro-v eita r a oportunidade para faze-la f al ar , Ach a r id l cul o e sc r ev e r,porern, para que a rnoca leia, qu e a voz dela lhe faz tanto bern .. " ~ - ., . ( : . " :

    t_._.~~ .'::-

    J,

    qu e e m esm o com o ur n r er ne di o. A n te s d e ru do , p o re rn , d ev e .- ".e sc la re ce r q ue n ao e surdo. E , ap oiando-se no balcio, escreve:"Nao sou surdo e, po rque ouvi, se i q ue voce se chama Celia.", S -A rno ca I e e, sen tin do m a is q u e p e rc e be nd o, n ao rem diivid ade que ele ali na o fora pelos paezinhos d e q ue ij o. F ora p arad ee la ra r-se c om o u rn n arn ora do .

    E a hora de fechar a pocta, e tan to que no Largo da P alm a,sem pre m al-ilum inado que parece em penumbra , ja na o h amovirnenro . A m ae nao tardara em descer para contar a feriado dia. A lgum a c oisa a segura, porern , e im pede que recu e u rnp asso. A fasrar-se, nao p ode. P errnanec e, p ois, fasc inada p elorapaz que nao [ala e que de rosto faz lernb rar u rn dos anjos daigreja. E, com o agora repara muito inreressada, acha-o real-men te tao b oniro q uanro 0 anjo. S abe que nfio esquecera

    I nd ag ou a ss ir n, auiornaricarnenre, como indaga a qua lq u erfregues. Nao tendo a resposta, indaga novarnenre:

    - Quantos paes?A resposta nao vern e, po r isso , c onc entra a atcncao, sur-

    preendida, frenre ao ro sto c on ge stio na do . E , q ua nd o 0 v e levarlt\ I-I!

    1I,.. - ~!~

    ! - :_o:;" ;;" - _ : ' ~ , r i 1, \~-i:~ " - . , > ~ , r

    ; .~~.. ; . - . .~ : ' : . _ r li~:.)'i;.fu~~-~ .:; ~.-- ,.~\P:\ .: .-~ i,-~ (r '; . ::;:. . ;: ~J~

    , " ~.," ' ~- ~ ~ ; : . ~. - : . ~~ ~ . : J ~~ ~- - - , ,: ~ ; t '; : ;: . :. ~ ~& f 4

    , ',: ,

    . ~

    -J _. - . ,

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    8/55

    16 A DO NIA S FILH O o L A R G O D A P A L M A '~:' " .,:~ - - .

    jam ais, com os cabelos negros e os olhos cor de avel.i, 0 rosrodo rapaz que reflere enorme arnor de homern .

    A m ao no papel, a m ao de dedos longos, que escreve a p er -gunra: "Posso volrar arnanha?" U e responde qu e sirn, pedevolrar amanha. A mes qu e e1e deixe a loja , porern, conrorna 0b alc ao p ara acornpanhd-ln are a porta. Ai, ria porta. qU; lOJoque r p e rg un ra r -l h e 0 nome , lernbra-se de que el e e mudo . Diz,entao, que, vo lrando am anha, sera m elhor que a espere dola do d e fo ra . E acrescem a, em rom m uiro baixo, com o se reve-lasse urn segredo:

    - La fora, as oito da noire, no p atio da igreja.

    .p ar q ue e m u do ? N asc eu ass im? H ou ve urn ac id enr e? Doep91?Tudo que sabe e q ue ja rn ais se in rere sso u p elo s ra pa zesq ~~ aquiseram narnorar, nada senrindo m esrno , em rodos q~~brindo defeiros. Agora, porern, e c om o diria 0 velho R ~l>C rto. ..

    , . -~ ,M ilitia , seu p ai, tinha a flec ha no c orac ao,- Cuidado com a Ilecha no coracao - dizia-lhe 0 pal.- Que Ilecha?- A flecha de C up ido! - 0 p ai e xc la m av a, r in do . .. e.Falara com a mae, a n oire seg uinte, p ou co antes de~i~ '_ .....

    para encontrar-se com 0rapaz. E se a m ae p erg unra r que~~ .... ' .. : . ~ ; 1 . . " 1 ~~ ~ele e 0 que faz, como responders! Dir-lhe-a que n a o ' s~~:'~ . :

    . -: : - ~ .: . ~, " : _ .- ;. : -. : ,. . ., . :. -sequer 0 nome porque nao houve tempo para maier aproxi- , < - ': .macae. Confessara, porern, 0 d er alh e: .. El e e mudo. " I n u t H "

    . ... : . . , .. - ,

    "-

    ~~~.\ ~

    A m ae, logo rerrnina de conrar 0 dinheiro, percebe qu eC elia n ao e a m esm a. A g avera ainda aberra, 0 d inheiro no bal-c io, ro do s o s p aez in ho s d e q ue ijo v en did os. E por que a f1lhaparece distance? E par que, ao conrar 0 dinheiro, rinha asr nfi os rr ern ula s? E , s ob re ru do , par que evira os seu s olhoscom o se n el es te m es se a curiosidade? M as, porqu e rem m uiroo que fazer no andar de c im a, sobe com a filha. em s il en ci o,sern nad a p erg unrar. C elia, su bindo , nao sente 0 p eso dos ces-ro s v az io s q ue c arre ga . Os cesros que, na tarde seguinte, el atrard c heio s d e paezinhos de queijo.

    - B oa-noire, rn aez in hn - diz apos 0 banho e a pcquenare fe i\3 0, q ua nd o se re co lh e a o q ua rro .

    Fecha a porta e logo se atira na carna . O s olhos est.io fe-chados, e verdade, m as a im agem do rapaz sub sisre na escuri-dao. C om o enrender 0 que acontece? Hom em ele jj e co m 0peiro largo e fone que e quase de u rn lu rador. Alto e belocom o um a arvore. E por que - Senhora 53nrJ da P Jlm J - e

    lJ\

    j : . ~ - 1 ~ -.~.. \~. .. :. .. .. ~}.~

    ; ~ . ? ? i ~ !. . ' .~:,;~ (~. , ' -, .. .:- : _ . .. !1 : ' .. ..\ :; - ~ ~ ~ ~ ' ~ -' .: :< - . .iscurir, procurar e xp li ca r, r en ra r j us ri fic a r . .se frenre ao espan-

    to da m a e . S ab e q ue e la ru io c orn pre en de ra , ninguern entende-ra , 0 sobrado inreiro a dizer que [em urn parafuso a menos,Urna doida, ap enas um a doida se de ix a ri a s eduzi r e fascinarpor u rn rnu do! D eira da, c om os olhos fec hados, e sp e ra q u e anoire p as se d ep ress a e ainda r n ai s d e p re ss a 0 di a seguinre, .. .~Ven de ra o s p ae zi nh os de q ue ijo c om ma io r a le gr ia porqued ev e ser m esrn o a rn or 0 q ue serite n o coracao,

    ".t . _

    ~ !~t,t ~I!'I ,. ,1,,.i Ii>jItt.

    .: " -; 1 1r :;::. '.; :.

    ~ . < . ~ ~ ~ .-- . : .~, '~. ..:.:

    , ,.: . " " ;~b. / ~ I " _ ' . 'j ~--::)_.i~t- .:~.

    :t ~;.~~",g ':ii,'':'):~lf;~' . i , j ' ~ ~ , ~ ;~ ;. ) . ": . :1 ~~ :: ;. , 'p ~~ 1-.~~ .~;. f~':;i:'tli ' .~ ~ ; , . " . ' \ J i "

    " . - . < ; ~ :~ . i, -: : .: : .'~.,

    ,

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    16/55

    32 A DO NIA S FIL HO

    c or nu rn , s air a J b a ter a porta com estupidez. Nao , nao seriaCeraldo! E , nao sendo ele, quem poderia ser? F oi quandoAlice voltou J dizer:_ t : de hom em que tern lerra b o ni ta , E li an e.

    Nao reconhecc ra a letra. E com o reconhecer a lerra deO dilon , ali, de rep enre, se nao 0 via h :i rrinta an os? U ma vid a.u inta anos. E O dilon, ra o distance h :i ram o tem po que ate:p ar ec ia m o no , salrava em frem e c om aqu e1a carta, de envelop eb ranc o, scm indicacro do remetente. Abriu 0 e nv elo pe, ra s-ando-o com nervosisroc, a c ur io sid ad e fa ze nd o 0 coracaotJb a te r f or te . F oi direta a assinarura e, lendo-a, r esm un gou p ara 'si rnesrna: "Sim, e d e Od il on ." Volrava, estava em S alvador. equeria u rn encom ro. E , com o a carta nao se arrasara , quena 0enconrro p :ua aqu e1e dia m esm o, ao rneio-dia. no Largo daPalma . E rn f re nt e, b ern em frente da igreja.

    Ele, Odilon, inforrnava q ue sa bia 0 que the aconrecera.G eraldo a expukua c , naquela idade. seria inutil tcntar novoscam inhos. "C om o sou be?" , ela se perg um ou . E le, logo estives-sern ju ntos, d iria com o soubera de rude. Im portam e, no

    1 E l ' - . . . 1 ) , . . ,n lon l en tO, era 0 encontro. Ou e a, lane, na o que ria ve - o:Trinta anos, a metade de sua vida, e trinta anos scm O dilon , 0p rim e ir o h or ne rn , 0 m arido . E de onde vinha de - Deus doceu ' - p ara ped ir u rn encom ro? E , depois de tudo que lhe, I ;> N- -f iz er a, m e sr no apos t r i n ta anos, como encara- o: ao, nao 0[ ev a r i a Jande rnorava, is so n ao ! Humi lhan t e dernais q ue t es te -m unhasse a su a pobrcza, q ua se a m i se ria , ja s em d in he iro , v eri-dcndo as ulrirnas joias para pagar 0 aluguel , 0 qu artinho na-quela casa do Bangala. P as a carra no envelope e, j:i n o q u ar to ,puardou-J n a b o ls a.b

    o L A R G O D A P A L M A 33naqu e l e espelho, f a 1 [ a r i a a coragem para 0 encontro. E p orisso, a pen as p or isso, ganh ara a ru a c o n l rapidez.

    Gasro e 0 vestido qu e u sa , fo ra d a rnoda, 0 me lhor d erodos qu e restararn. O s c ab e lo s agora brancos, s empre scdosos,nao me lho ram 0 rosto cansado. O lh os sem brilho, b oca u rnpouco murcha , as ru ga s . Esre e 0 lado, 0 lado de fora, qu e

    Odi l on vera . S ab e q u e O dilon - e seniio mudou inteirarnen-re - examinar-lhe-a 0 rosto com arencao a o bs erv ar r od os asdetalhes. Nao podera ver , porern, 0 lado de denrro, precisa-mente 0 lado da consciencia e do coracio,

    Senriu, logo transpos a porta , qu e a ru a na o era a rnesrna ecertarnenre ndo era a mesma por causa dela propr ia . Tudo, acornecar pelos objeros rnenores com o a escova de dentes e asabonereira e a terrninar p e lo q u ar ti nh o qu e a lu gara - defu nd os, rn uito u rn id o, com a pequena janela qu e mai s e um avigia d e navio -, tu do com o qu e se r ra ns fig ur ou n o mornen-to que recebeu a carta, Alice, qu e lhe sublocara 0 q u a r r o como cafe d a rnan ha, nao oc ulto u a surpresa quando disse:

    - Um a carta p a r a voce, Eliane. Ho j e , co m esta C3f tJ ,urna a lma escapa do P u rg ar orio , - E con clu iu : - E letra d ehomem.o coracao desaba lou , 0 sa ng ue su biu a cabeca, as rnaosrrernerarn. "t , letra de hornern." Quem, por Deus, a n io serGera ldo? Que d e se ja ri a s ab er ? Pergun(Jr-Ihe se ainda rinha "d in h ei ro o u p ro po r-I he ulna r ec on cilia cio ? B o ba ge rn , tolice,sonho . G era ld o a enxotara e nao evitara sequ er o s gr i ros . A spa lavra s ainda doiam n os nervo s . E le jo g ar a 0 dinheiro nacam a e , c om o se esrivesse a pag ar a v id a qUJs e inrcira em

    lI\

    --~"J -. t', 1, .

    " F.

    .-.:'t,: .~ \ :.I

    , " . ;-~~, ~, ,~~ ~~~~~

    ;,, , .~- r ~. . .

    ., '\

    :,- , ~;-,

    ~"tt(...I,..., \

    . , f\i(, ;;-J

    . . . . . . . .. i ; ; , ~ ? ~ ~ ~ ~ ~ :. . ; ; . ~

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    17/55

    35 J { / ldizer com exatidao que convive com 0 L a r g o da Pa lma ha seisrneses, urna sernana e d a is d ia s.

    C heg ou no v erao, em jan eiro . q uando so ub e qu e G eraldocancelara 0 contrato de locacao d a c as a. n os B arris . Prirneiro, e .logo qu e se deu a G era ldo com o u ma escrava , fo i 0Jardim da -Piedade com a ca sa tao pec to d a ig re ja qu e acordava co m 0s ino b ar e n do f o rre codas as rnanhas. 0 C am po Grande. as eg ui r, l ug ar de grandes a rv or es e rn uitos passaros. Depois , 0predio m agro de tres a nd ar es n a ruazinha d e ladeira, no RioVerrnelho, onde p erman ec e r i a as u lr ir no s q ui nz e anos ao ladodo mar e de G era ld o. E dali, apos v en de r o s rnoveis para apu-ra r u rn p ou eD mais de d inhe iro , dali saiu enxotada para 0Bjngala. Metade de urn ano, pais , no ve lho la rgo q ue d e t a lm odo conhece qu e sera capaz de percorre-lo com os o lho sf eehac l o s . Ha ref er enc i as , marco s d e cirnenro au rijolos, sobre-tudo, a i gr ej a, q u e, d e tao e nr ug ad in ha , p ar ec e m ais u ma dass u a s v e lh a s bearas. A pe sa r d e m en os de s er e m e se s, ah, quanto

    34

    t empo !o rem po fo i m u ito , m u iro mesm o, a tensao n er vo sa e x- . ,pu lsando -a do quarro, e mp ur ra nd o-a p ar a a rua . A rensao ner-vasa e o s o lh os d e A lice sem pre cheios d e curios idade. E , se acasa j a e taO p e qu e na , i m ag in e -s e 0 quartinho q ue o cu pa ! Naoesqueceria a hora qu e barera na parra e, atendendo-a, Aliced is se q ue mo ra va s oz in h a e 0 qua r t o e r a r e al m e nr e bo rn . Ma s ,l o go al i chegara e s e d eita ra na eam a - com a col chao chei-rando a m ofo -, a l er n br an c a fo i aque l a , s im, 0 d in heiro d eGeraldo. Es sa l er n br anc a a p er se gu iu d u ra n te bastanre t empo ,e ra c om o uma ideia f i x J , hora a ho ra a r ev er a s noras s ab r e a

    AD ONIAS F IlH O o l . o \R G O D A P A L M AVestiu-se l o go porque os nerves nao perrnirirarn qu e espe-

    rasse, no qu arro . a hora do enconrro. Meio-dia, Irenre a igreja,rinha basranre t empo. E, qu ando dob rou a esqu ina, enrrandoassirn tao c edo no Larg o da P alm a, lem brou -se dos pom bos.Rerornou a c asa p ara apanhar 0 pacore com os f ar el os d e m i-lho e, buscando os pom bos com 0 olhar, foi a des com o aa dq ui rir I orc a p ara 0encom ro. O s fardos no p asseio , os p om -bas , afasra-se com o a fugir .

    o Largo da P alm a. em junho, se rnp re espera 0 so l p araveneer 0 frio q ue so bra d a n oir e. As ru as p equ enas e estreiras,qu e 0 cercarn, tenrarn se oculrar c om o en verg on had as. Q uan -do c orneca a su bir, p ore rn, 0 so l c ria tarn an ha c la rid ad e q uelo go v en ce 0 re sto d a n eb lin a. E essa luz - os rddios abertosno sob rado de azu lejos . os vendedores de legum es e fruras jisub indo a Ladeira da P alm a - que faz da manha J. melhorhora para se andar no Larg o da P alm a.

    Ninguern o bserv a n in gu ern p orq ue, n o larg o. rodos rem 0direiro de ser com o sao. N ao foi po r ou tro rnorivo q ue E lia necortou a p ressa para avancar, agora, em seu passo rniudo elenro. N a esqu ina , dep ois de u rn p redio qu e p arece doenre develhice, v e 0 h orn em q ue, n o p atio d a ig reja , rec olh e 0 dinhei-ro das esm olas num a caixa de charuros. A vonrade e d e c or ta ro la rgo ao m eio para, alcan~ando a ig reja , dar dinheiro aohom em com o deu farc lo aos pom bos. P erm anece, porern.o nd e e sra . E sab e q ue e im possivd m esm o p en sar nas coisas erecorda- a vida, vendo 0 Largo da P alm a assirn na rnanh.i.M ora no B ang ala desd e q ue G eraldo a deix ou e. p or isso . p ode

    . -. '

    ~-- .~, , '. . ~

    -I-;.,- t_,i "I jJI

    ~: : . _, -,~; ~-f ' - .. ~1 ~L1 ~ -i t, 't,

    - ,- -. _ ~ . .. .; " 'r . : _ ,'e. : r~~.~. ~ . '

    - - ''" - ,

    "~1.~~

    " . -~ , ~ . : . . , ; . " ! " . : ._. .. ~ '"

    ":1:"-' ,~~,.,},.' '-t:/

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    18/55

    . .j :,i.I,I

    LI~!n!Irjl,, :!I,!.

    36 A D O N l; \ S F I L H O

    cama. Parecia-lhe urna coisa tao vencnosa e viva quaruo urnavlbora ou urn escorpiao. 0 dinhciro na C3.n1J, sabre 0 lencol ,nele reflerido 0desprezo do homem. E como se aquele dinhci-ro pudesse cornpensar a ingrat idao e resgarar a mocidade e avida que a e le d er a em rroca de coisa algurna. Tudo, dera rudomesmo em rroca de nada!o sol. agora. invade 0 Largo da Palma e parcce que vernpara m osrra-lo com o u rna das c oisas rnais preciosas d a B Jh iJ .Habiruara-se aos poucos com de. 0 Largo da Palma. Obscr-v ara, n o corneco, que ele rnu dava de: acordo (0110 rcnlpo, ur ndurante 0dia e outro 3 noire, se chovia jj n30 era () mcsrno ein te ir ar ne nte d if cr en re q ua nd o 0 so l 0 en ch ia d e: IUl. Prt:teri_l-oa n oi re , q u an d o 0 percorria com p assos l en ro s, contorn.mdo-opelas esquinas, indo e volrando para nele se tranq uilizar in rei-rarnenre. As pcdras, no c ha o, d ev ia rn rcr se cu lo s. E , fora asaberturas das ruas, ccrcavarn-no 0 casario baixo, 0 sobrudinhoque p arec ia j3 d esc er a ladeira cto C~SJr3U 3111Jrc:lo de cern"anos. Isolada em seu canto, de [reme para ve-lo m clhor, a igre-ja tao velha qu anto ele mesmo.

    Eliane. dercndo-se para aquecer-se, esrnorcce os passes.L a , no quarrinho onde mora. 0 sol nio enrra. A parcde grossado predio vizinho, a dois metros de distancia, e a unica coisaqu e enxerga atraves da janela. Parede lisa qu e a chuva escure-ceu e rnais parece muro de presidio. Na verdade, pensandobern. mora nurna gaiola de pouco ar e quase scm luz . Devagar, POlS, v al m u rr e devagar p ara res pira r m elh or e currie a sol. Eta~ devagar vai que. ao passar pela igreja, observa urn grupo defrelras que sai naquele jusro mornemo. "Ainda falrarn duas

    t I\

    . ,: J : i ~ . ..,'

    . ; l t ~ J,. :~, ...,; (,. I, ; : ; > : J ~ t .

    . ',r . ~~ U . ' " - : ... _-t _

    i~ r"1 . . , ~~ . ~~ , ~""_"""""""" "v.:\.~;tf ' ;;.. if } '~I Y - ; ' . :. ..', ,t, < ;:~. , .;.~ .];, . ~

    ",.

    , ; _ ~~ h. ; ; " . _.-" ,: ~~.o L A R G O D A P A L M A 37- - _ -

    ho ras e rnc ia" , d iz a si m esrna, baixinho, a apertar a bolsa coma mao. No Largo da Palma, porern, sobretudo quando 0 sol sef az f o rt e p3ra criar 0 morrnaco, 0 r empo nao anda,

    Quando n30 hd 0 qu e olhar e ouvir e, embora 0 povop Jr e< ;a te r r na is an imo e coragem, a vida nao p ed e p re ss a. o,pe s se arrastam, levando-a com preguica, como a p ou p a . .lapara 0 enconrro com Odilon. E, por isso, 0 passinho e rniudo.P udesse falar, c onfessar-se a alg uem , d ir ig ir -s e-i a a o p r6 pri oc orac io. H a 0 c er eb ro , p o re rn , 0 cerebra e a mem6ria . E, se apcrguntJ fe z a coracfio disparar - "Que Odilon quer com i- .go?" -, J imagem e tfio poderosa que a obriga a fechar oso lh os . E nc os ra-s e n um a p ared e, tres se gu nd os a pen as. E, logoabre os olhos, nao pode d izer se am a 0 Largo da P alm a p orcaUSJ d a rn an ha au se am a a rnanha par causa do Largo daPalma.

    -_ -~.

    ~ .

    "Ceu imenso, (JO azu l, sem nu vens. V e-lo assirn ao so l,carrcgado de luz, bclo c manse. 0 r os ro n fi o desce para que osolhos n ao 0 p erc anl. Muira coisa do m undo na tarde do par- . . . . .que. Hi rnesrno vente a r ne xe r C011 as arvores. Vendedores dep ip oc as, sorv etes e b alas. H ornern do rea lc jo, 0 macaquinhoarnesrrado, 0 p eriq uiro d a sorre, C rianc as de rodas as idadesq ue c orr em , saltarn e gritam. E foi quando, sentindo a mao doavo na cabeca, escurou 0 q ue e le d is se :- V am os, E liane, ternos que vol ta r cedo.

    A c asa n ao fic a lo ng e, p equ eno e esrreiro jardim em f re nt e,a porra e as janelas p intadas de verde. C asa de ru a sem salda,igual a s outras vinte, dez de cada la do , c om os mesmos apo-

    "

    l. :;.,)~

    -~

    J

    _ . ;" 1 "_ ~ ~, , - . "_ . . ,

    II

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    19/55

    de J oan i ta . Fa z 0 trabalhao d a c asa, p orern , c om o a se d iv ertir ..Lava, cozinha, cosrura. E inventa 0 tem p o p ar a a ju d ar a s fi~~n a p re pa ra~ 5.o d as lic oe s. t: . com o se soubesse u rn pouc() derude, a m ae, ern bo ra ap ren desse ali m esm o, n aq uele momen-to, nos p rop rios livros escolares. E nao p erg um a ao m arido 0q ue n ao ap ren de n os liv ro s. E le, 0 r na ri do , s em p r e chega no ir eadentro, r nu i to c a ns ad o . 0 cigarro na b oc a, o s dedos suj~s den ic oti na . N 5 .o e p elo c an sa co , p ore rn , q ue n ao in cia ga. E porquede tern pou ca instru cio e rao p eq ue no fu nc io na rio c ia P re fe i-rura que rodas as noires, para au mem ar dinheiro, t rabalhac om o v ig ia n o p on o. 1 3 d is se a s i m e sr na inurneras v ez es q ue d ee um pobre h orn ern , v az io d e e sp iriro . se m c urio sid ad e pdascoisas do m undo. B orn. m uito b orn m esrno, b orn e fraco.

    Facil p er ce be r q u e 0pa i e rnu iro m ais velho que a m ae. Epor que ela, Joana. se casou com urn hom em assim ? Nao,jam ais c eria u ma resp osta. C ulp a d a ino cen cia da ju vem ud e o uralvez alg um a c oisa .q ue se o cu lra em g rand e m isrerio . Obser-va , a proporcao q ue p as sa 0 tem p o, q ue 0 pa i se to rn a cad a v ezrnais calado. E v erd ad e qu e as filh as c resc eram tan to q ue seradifici l 0 diilogo de am igam em e. E , com o que se sentindoinferior, encolhe-se de tal m odo que 0 riso e a aleg ria de Jo ananfio 0 com ag iam . Unico hom em na casa - ap6s a rnorte doavo -, p an:ce nao em ender a m ulher e as filhas. Nao tentau m a ap ro xim ac ;ao, u rn esclarec im en w, nad a. C alad o, rn etid on os c an tos, sem pre a fu m ar.

    Mai s tarde, c ad a v ez mai s tarde, ja entrando em casa pelam a dr ug ad a. E , f in al m em e , e bebado que chega em um a daque-las m ad ru gad as. F ala alto . tropeca n os rn ov eis . o s p ala vrO es .

    38 A D O N I A S r u uo o LARG0 DA PAl~tA 39

    , ,: !.I;i! ;.I

    senros e a rn esm a p ob reza. 0 p.ieio d e c irn en to q ue, p artin doda rUJ, internando-se, acaba na pcdreir.; qu e e Un1J rnontanhaaos fundos. 0 beco onde, noires adentro, s e r eu ne rn rnuirosdo s gatos de Irapagipe.

    - E, vovb, p or qu e volrar tao cedo?- Hoje, Eliane, e u rn dia especial ,- Especial, VQVQ, por que?, )

    ; tI. 'r :... ,t;I,

    i

    o avo nao responde, m as, logo entrarn na sula, v2 J mac .S en rad a n a cad eira d e b alan ce, aleg re c om o sern pre. os cabelosneg ro s e 501[05. T ern n os br3C;OS u rn a c oisin ha en vo lv ida em 13q u e, l og o e nr ra rn , c omo se as esp erasse , ch ora rn uito alto. E raaqui la, 0 regresso da m ae com 0 b eb e, q ue levara 0 JVO a f ~l arde urn dia especial . Aproxirna-se, e a rn .ie, disrendendo os bra-cos, rnostra a i rma . V errnelhinh a, rech on chu da, olhin ho s azu isde boneca."

    "Ndo e grande a d iferen ca d e id ade entre el3 C 3 i rma.Cinco anos, apenas. E, me smo en) cursos a ss irn d is tan tes - Jirma in gre ss an do n o prirnario qu ando ela inicia 0 gjnisio -,enrendem-se rnu iro b ern. A i rma, alias, sempre l he p J .r ~c c r: 1u rn b rinquedo vivo. N o berco au na C3m3, JO lad o d a SUJ, noquarrinho pinr~do de azul. E sobrerudo no pequeno jardirnonde a vi : brincar corn a terra, as formigas e as llores. ChJ.111J-J30S g ritos, p rocu r.m do-a na cozinha ou I1J sal.i:

    - joanita!,'i~!

    , Ff, .I.1I!, tI, ~ t

    , 'I ! "...

    t ; i1 1 . 1, ,

    . , . .o m esrno nom e da mac , Joana, a qu~ resolve e decide: dasc o is as . A l eg re , por vezes J canrar e J s or ri r, a qu el a ITl.Je qu ep arece jarnais ter c horado em coda J su a vida. r . f Jg ri n h a, un sb rac inh os de na da , tao miudas as m ios que sao quase com o as\\,

    .- ,

    .

    .e~~f: - ' _ - ". . . rl.' . - ~ - . . . -: ...-' ." . ~ : J o" . . _ ! r ; . . ., ~~

    .1;[1 ';ii' !1 . " . " ,fI .}'.

    \

    ,

    -. ;

    i

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    20/55

    . : ':~.

    40 ADONJAS FllHO o LARGO DA PALMA 4 1Joana, a m ae, fecha urn p ou co 0 rosro, m as na o perde a riso.A bebedeira se repete, u rna vez por sernana no corneco, dedais em d ais d ia s a s eg u ir , d ia ri ar ne nre a go ra . 0 v izinh o de p a-rede-m eia, que por ser da Policia j ul ga c o nh ec er as vicios dac id ad e, n ao carda a d izer qu e aquila v ern d o pocro, do porto edo s navios.

    - P or causa do porto - d i z co m 0 olhar parade - ja vim uiro ch efe d e fa m il ia a ca ba r n os e sg oro s,o pai , porern, nao acaba nos esg oros. Dificil p recisar osano s q ue tran sc orrerarn , a alegria sum indo do rosro da mae) acasa cad a vez rnais p ob re, en orm e 0 esforco para que a irm ana o abandonasse 0 g i na si o. L emb ra -s e e de tal modo lernbraqu e e c om o se esriv esse a aconrecer ag ora. A irm a grira, ela e am ae correm para a sala, l a esrd 0 pai, D eirado no chao, de bru-~OS, sangrando, c om o urn morro."

    "A am bu lanc ia arrai os vizinhos, tantos e tanros, qu e saocom o as moscas da rU3. I nrerro gam -s e, q ue re rn sa be r, a c urio -s id ad e m a n re ndo -o s a esp era, do lado de fora. Enqu anto isso,n a sa la, 0 me di co e xa rn in a 0 pai, ja deirado ria m aca. Ha 0medico e dois enfermeiros, e v erd ad e. E 0 esrudanre baixore egordo que sernpre apru rna os 6cu los no nariz co m a s r n.i osp eq ue na s. F eio , rn uiro fe io , e la as sim 0 ac ha. A m ae e a i rma, 0pai e a m ac a, 0 medico e as enferm eiros. 0 vozerio vern da-rua, invade a casa, chega a sala, EI a senre, p ore rn , q ue 0 esru-dam e de tal m aneira a olha com o se nada rnais h ou ve ss e. N er npessoas e n ern ru ldo s. A pen as ela, E liane. E guarda 0 nomequando 0 medico 0 chama:

    - Odilon!

    Na o escuta 0 di.ilog o, em rom b a ix o , e n tr e 0 medico e 0esrudante. Os enlcrmeiros erguem a m ac a, transportam 0 pai,ela e a mae agora na p orra da rua. Os vizinhos e seu vozerio. E,quando as en fe rm eiro s e ntram n a am h ulan cia , 0 medico osseguindo, 0 esrudante ree ua u rn p ou co e d el as s e a p ro x im a .

    - A scnhora podera ir - d iz, d irig indo-se a mae, logoacrcscenrando: - M as, se quiscr f ic a r, n ao se preocupe.- Nao sei, nao sei - e rudo 0 que a m a e c on se gu e dizer,as sim m es mo gaguejando rnui to.

    - Nao, nao se p reocu pe! 0 caso e d eli ca do , s em duvida,m as nao e g rave - ele prosseg ue, rem os 6culos na m ao, a vozcom o a pedir: - Fique em casa, com su as filhas, qu e cuidareide ru do e darei noricias. I sr o e u p ro rn e ro !

    Rerorna a ta rd e p ara d iz er qu e 0 pa i sofreu ur n derrame e,apos urna sernana no hospi tal , ali esra ra p ara 0 rratamenro nap ro pria c as a. L ev a-la s-ia , d ia seguinre, para qu e 0 vi ssem. Sen-rado ao lado da mae no velho sofa de molas g asr as , f al andoc orn len rida o, exp lic a qu e n ao tarda a forrnarura. Em treS mesess er a u rn medico e faz questao - questao f ec ha da - de assisrir fl.o doenre.

    - E le ja na o pode trab alhar e, p or isso , cu idern da ap o-sentadoria.

    E na enferm aria do hospi tal , dia seg uinte, q ue o bserv aO dilon de rnais p erro. O s doenres 0 conhecern, chamarn-no, arodos arende com 0 mesmo interesse, Urn homem a servir osoutros e em lura contra a dor e a morre, Dirige-se a s enfermei-r as , fa z r ec or ne nd ac oe s, o bs er va as doenres. E rudo com o se 0te mp o n ao c on ta sse , incansavel, sem perder par u rn s eg u nd o

    ~.: ,

    .~

    ~'.'.i.1 - :._. : -.' ,! ! :: . . . - .' { .. .'J

    ~!t.,1

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    21/55

    42 AOONIAS FllHO o LARGO DA PALMA 43sequer a calma e a boa vontade. Nao, e la c on cI ui, O Jilo n nJDe u rn hom em cornurn! E continua a obscrv.i-]o, scrnanasdepois, quando e le r er ir a 0 pa i d a a r nbu l an c ia , de volta J CJ.SJ. n

    "A mae . J oa na , p er de u d ef in i[ iv ame n[ e 0 riso. [oanira, airm a, pareceu ourra com os livros fechados. E I a . [ ii ln e. p ar ri-cipou da preocupacao da m ae e da irm a porque 0 pai p iorara econtinuava a piorar a cada dia que passava. E, n.io fosse Odi-I on , tu do a li f al ra ria . dinheiro, rem edies e ace rnesrn o a (ami-da. Urna casa rao pobre - com 0 pai irnovel e a gem er nacarna - que chegou a ser rn iserdv el. E (50 grJndes as necessi-dades e a p em iria que 3. mor r e do pai foi rcalrnenre u rn a liv io ..,Sofreu m u iro , g ern en do , como : : I . espcrar pcla fO rm l[UrJ deOdilon. E s er na na s a p os 0 enrerro sob reveio a confirrnacao deque de nao conseguiria afasrar-se dela. E ra urna coisa que deta l m od o en rra va pelos oihos que a m ae sem pre the diz ia :

    - E le e d oid o p or voce.Na f ormar ur a, 30 rornar-se m ed ic o, O dilo n Ji nJJ. disfJf-

    cava. Com 0 tcrm om erro na mao . entrando e saindo do qUlr-to, era como se apenas 0 doente exisrisse. E I J , E l iJ n c , jj senriano fundo do coracdo que de a queria rnuiro, CenezJ. porern,teve apenas quando - apos a rnorte do pai - ele conrinuou Jfrequenrar a casa sem Ialrar u rn dia. E r an ra s 3 q ti eb s visiras,agora J ocupar 0lugar do pa i na mesa de janrar, que 1000 osvizinhos 0 cham avam para urn ou ourro caso de docnca. Aren-dia a rodos, p resrarivo. selllp rc c om a m aior boa \'oIH JJ e. E .como se todos soubcssenl 0 qu e havu entre elcs. inurnerosd aq u el es v iz in ho s l he d is se ra m , excl . imando:

    ..

    - Teu no ivo e u rn s an to !o C3SJnlen[O [oi [30 simples que nao houve sequ er u rnb olo. E le p cdira qu e n30 se a nu nc ia sse e, par isso, na h ora c er-ra, estava no Forum apenas com a mae , a i rma e dais colegasqu e servirarn de te sr ern un ha s, T ud o rnuiro r ap id o , a p re ss ad ornesrno, 0 juiz preocupado com os casais que, no salao, aguar -davarn a propria vet: jarnais esqueceria , como nao esqueceu, asderalhes: ele tinha a g ravJta com 0 la co q ua se a be rto , a c am is aur n p ou co su ja e 0 colarinho p uid o. V erific aria , c om 0 (empo,qu e c le er a assirn rncsmo. Desajeitado, usando a roupa que est i-vesse 30 alcance da mao, [30 indiferenre a si p ro pri o q ue muirasvezes nao se lernbrava de alim enrar-se. V ivia na casa e andavaentre os rnoveis c os objeros como se nao os visse,

    E la, E liane, log o enrendera qu e, com o rnarido, tinha ur nhornem inreirarnenre deslig ado do m undo. Os a c on re c ime n -[as em volta, efe riv am en re , n ao lhe inreressavam. E, se nao liaos jornais e nao ouvia 35 r ad io s, s e nao se preocupava .corn asrevo lu cocs e 35 g revc s, qu e d izer entao da s COiS3S comuns derodos a s d ia s! A v id a, se p odia c ha rn ar a qu ila de vida, era para

    ... .,o ho sp i ta l, 0 a rn bu la ro rio e os doentes. E chegava ao ponto de ,em bora sabendo da pobreza da fam ilia dela - J mae e a irmascm pre a pedirem dinheiro -, com prar rem edio e raupas paramuiros daqueles doenres. 0 relogio, no pulso, nao s er vi a p a ranada porque esquccia as horas se as doenres dele precisavarn.

    Feio, dcsajeirado e deslig ado do m undo, assim er a Od i I on .Nao podia neg ar, p orcrn , qu e a trarava co m carinho, colocan-dO-J m esm o acim a dos doentcs. 1 \ 1 3 5 , s em p re s ern rernpo. rarasJS n oires q ue n5 0 chegava muir o tarde do hosp ital. Isro, scm

    "

    . . L :t .

    , . . ; : -. : > ~ .. . ~-'1

    J r:.

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    22/55

    - - ,;!I: : \ '\I~If

    ,jIII"f i.j

    4 4 ADONIAS FILHO

    ro u que ele se aproximasse. EIc, qu e ja ma is rea gia, p erm anen ..terncntc conrrolado, sempre a pedir com a voz mansa:

    - M e perdoe, E liane.Nao, nao esp erou que ele se aproxim asse! A briu a p oc[a do

    quarto, saindo , e a fechou pelo Iado de fora, batendo-a com[ o rc a . T r an s pos 0 p eq ue no c orre dor , m uito a p re ss ad a , n ec e ss i . ..tada de ar livre. E , porque era cedo e 0 hocelzinho fic av a p r6 . ..xirno a p raia, ainda viu 0 s ol n as c en d o sabre 0 m ar. Nao v iu ,porern, a brancura d as n uv en s porque, n o j ar dim cao cheio dep a lr ne ir as , e nt re 0 hotel e a praia, 0 homcm p re nd eu -l he to daa atencao. Alto, as ornbros largos, as cabelos alourados, asolhos quase da cor do azulao do ceu, 0 ca lc ao co lo ri d o, nu dacinrura p ar a c ir na , os pe s d es ca lc os . E tao bonito Ihe pareceuq ue p en so u nurn a rtista d e c in em a. Diferente, r nu it o d if er en tem esrno do m arido. A verdade era que, cornp arado a ele, Odi-I on n. io paSS Jva de u rn su jeito deseng onc ;ado, feio e r idicule .

    N50 pede p rosseg uir na c ornp arac ao p orq ue p erc ebeu q ueo homern a esper3.va no passeio, fumando, os olho s p re so s nelac om o hip norizados. Q uis recu ar, ja na o pede. E , q ua n~ o sedereve, ele se ap roxim ou e ta o perro que the sentiu a respira-< ; " 5 0 calma e f or te . Ergueu 0 rosro, fir an do -o , e , e m bo ra 0 dese-jassc, n50 teve cOf3gcnl de a fa st5 -lo . F oi assi m que Ceraldoenrro u ern su a vida. n

    o L A R G O D A P A LM A 45falar nos p la nr oe s e no s charnados que n.io p ou pa va nl se qu eros dorningos. A razao, feirJ.s as contas, estava (0111 joanita, Airm a, ern bora em [am de brincadeira, senlpre lh e dizia:

    - Voce, E liane, c asou c om u rn hosp ital.N o corneco, logo que alug ararn a casa cercada de jardins e

    rn uro s alto s, a in da a lr no ca vam juntos. E havia 0 d iilo go, q ueacabou par f al ra d e a ss un to , ji qu e ele, fora dos doerucs e dosrem edies, p or nada se inreressav a. NlO enrendia, e nr.io, q ueurn homem e como e e tern ur n modo proprio de gosrar. 0dialogo e os alm ocos, pois, findaram ao rnesrno ten1po. E,com o ele jantava no hosp ital, acabou sozinha a buscar 0 qu ~fazer, cosru rando e lendo, a cu idar rnesrno do jardirn para gas-tar 0 t empo . Ur n JnDau rn ais as sirn v iv eu ate que soube, peloproprio rnarido, da impossibilidade de ter ttlhos. jarnaisesqueceria as palavras d e Od il on :

    - Voce n ao ser d mae. O s e xa rn es f or ar n p os itiv es .o choque fo i de [31 m odo que obrigou mesmo OJilon ase afastar do hospital por uns dias. Tres dias, precisarnente,sibado, dom ingo e scgunda-feira. E e ss es (r25 d ia s, q ue PJ.SSJ-ram num horelzinho na Ilha de Irap aric a, basraram p Jra con-vence-la de que - se 0 rnarido rnuiro a arnav a e era visivel qu e-a arnava dernais - dele se sentia cJ .UJ. vet. mais distance. Per-guntava-se , vendo-o assirn [ao inreressado par SU3 saude, se al ie sr av a o r na rid o au 0 m edic o. N ao [Dram poucas J.Sv ez cs q ue ,nervosa e irritada, fechados no qUJrto. 0 ofcndeu ate compalavroes. E e lc , incapaz de zang3r-se au perder J calma, sern-pre a rrar.i-la corn 0 rnaior carinho. No ulrimo Jilt porcrn,quando 0 agrediu aos g r ic o5 n a que la s e gu l lJ J .f c :i ra , nio c:spc-

    Os olhos, agora, eS[30 be m abertos. 0 sol com o que se fazrnais forte para aquecer 0 seu proprio coracio. E , c a lc u la ndocerro, d ev c I alrar rncia hora para 0 cnconrro con) Odilon.Refaz 0 carninho em rorno do Largo da Pa}m3J passo a passo,

    l1\

    ,1\,, t

    - '

    - . ~ - : ; \ - .

    i, t- f. '1Ir

    "~!i- )i'j. t!. -I- ~: ;;

    ;1,t-

    ...~i; ~

    ,

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    23/55

    \

    t

    t~

    - 1,I- i. ,~

    i

    ~

    ~ , f~

    P!~~

    ~I, ,~,~t

    J ,,lfI, f"

    ?i,!,'., 't

    46 ADONIAS FllHO o LAR GO DA P ALM ." '. 47

    a senrir urn pouco de fom e e a pensar que talvez esrivesse aber-ta "'A Casa dos Paezinhos de Qucijo". Vai assim, muiro deva-g a r, r odando 0 largo. Vi: os pombos no b ei ra l d a igreja e pensaq ue a li e sra o p ar a te sr er nu nh ar 0 encontro, M as e por que naoconsegue rerornar 0 passado? A memor ia , como quercndo pro-tege-Ia e nela exringuir 0 tempo que v ive u c om Ceraldo, e ur nbloco de pedras que r ud o I ec ha . A merade de urna vida, e ver-dade, com o se nao houvesse exisrido.o pouco de frio que sente, naquele morrnaco, deve seruma ponca de febrea Ji nao tern idade, nern nerves, para tarna-nha expectativa. 0 coracao, pulsando acelerado, parece querers air d o peiro. L at ej ar n a s t em p o ra s, dor de cabeca, a b oc a arnar-ga. Que deseja Odilon, de onde vern apes trinta anos, naoseria u rn fantasrna? C entenas de vezes, a rnedida que os lacescom Geraldo se rompiam, nele pensara como a culpar-se nofundo do rernorso. E, indagando-se por que ele sum ira detudo e de (ados, esrava cerra de que se mudara de Salvadordesde a separacao. "Calma, calma", di z a si me s rn a , d e te ndo -s epara enxugar 0 suor do rosto com urn l en co , " ca lm a , que na oposso chorar ria rua." Os pbrnbos voarn agora. no alto, comose a ouvissern e quisessem alegrar 0 largo da Palma.

    E a corneco da ladeira, agora. Espera que 0 carninhaos ub a , i nv a di nd o 0 largo e espantandb as p ornb os, p ara trans-po...a .. E, apesar de andar rnuito devagar, sente crescer a in-quietacao quanta m ais se ap roxirna do patio da ig reja, 0 lugardo enconrro. M inu eos. falram ap enas alg uns minutes! Perro

    frouxa em dobras sabre as pernas, 0 1 3 < ; 0 da gravac3 quase nopcito, vclho e su jo 0 chap eu de felrro .. E , talvez p ar cau sa dobuque de rOSJS verrnclhas que tern na m ao, p arece ur n palhacode c i reo. t . ele, O dilon, nao ha duvida. O s cabelos grisalhos,b as ra nre en velh ec id o, m as 0 m esrno hom em de sernpre.

    Enorme 0 esforco de E liane para que nfio chore e as maosn io trcrnarn, agora, quando rccebe as rosas, Ele, com a faceseria e rranquila, rnantern-se em silencio por um minute. Se-gurar 0 brace da m ulher e rudo 0 que faz. E, com o se nadahouvesse a co nr ec id o n aq u el es rrinta anos, desde que se separa ...ram , ele Jpenas diz:

    - Vam os, E lia ne , v am os para elsa.Ergue 0 rosro e , v en do 0 sol que rudo inu nda, nao sabe

    p or qu e se lernb ra dJS r ua nh .is d e ChUV3 q ue s em p re escurecemo L arg o da Pa lma . Agora, como a vingar-se daquelas manhas,o sol ajuda 0 ceu rio azul. E E li an e, a in da com 0 c orac ao abater rnu iro forte, nao tern duvida de que '0 seu velho larg o,como num dia de [esta, e st a v e st id o de branco.

    1,

    muuo perto mesmo, ja na escadaria que leva ao patio, vi:Odilon. Esta de pe , 0 palero chegando aos joelhos. a calca

    1 I\

    - -..__.- ... -- . . . . ,

    t:!It

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    24/55

    ~f,t 1'Ir!

    i

    ,_,_'

    UM A v o MUlTO VELHO . _". ~

    , . . - - : - ., " , . . . . .-.; .;..~:

    IlI II1.. \

    .~. : _ .":, ~:

    i,!I"'_

    IIt:::I 'It(I.I,

    II\i I;ii1I

    ~ ,~

    ft

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    25/55

    ~

    ~~tttt~

    ,,I t

    i'" ,,,f,'II

    ,!,:ilI~

    Il ,t

    \I.~~r"I

    o \'ELi-~OQUANDO AQUILO ACONTECEU, tran co u-se em simesrno. Nao era hornern de conversas, sempre calado em seucanto, m orando no quarto dos funclos que 0 pequeno quintalsep3.rJVl do carpo d a c asa . A li fic av a 0 dia inreiro, no quarto eno quintal, a tOC3r a sua sanfona, com o a esperar a rnorte eq ue ro do s 0 e sq ue ce ss em . S aia a noitinha, dep ois da janra, a r-ras ran do o s pe s na alpercara de couro, para 0 passeio no Largoda P alm a. A casa, quase n a c urv a d o C ra va ta , fic av a a algunsm etros do larg o. C heg ava sem preSS3, p asso a p asso , c om o seC US [Jsse levar 0 corpo m agro e leve. Respirava forte para sentiro cheiro do incense que, vindo da i gre ja , s e rn is tu ra va c om 0d os p ae zin ho s d e q ueijo . E ra ao re to rn ar, la p elas oito ho ras d anoire, qu e dernorava u rn pouco na casa, com o a visirar a f il hae 0 genro na sala de janrar,

    - E P inrinha? - sempre perguntava.M en rira seria d izer q ue ele, 0 velho neg ro L oio, nao tin haa s m aio re s afe ic oe s p ar Pinrinha, a nera. Muiras v ezes, ind o evolrando em torno do largo, nela pensava a lernb rar-se dequando rinha apenas dois anos de idade. A pretinha viva e

    ,

    .,. ~ -r

    ,I~ 1I\

    :_. ,"~".. . ~ . . . ; < : , .f . . ; : . : ~ ~~- ~ : - : ": ..~ .-" ~ .

    . ' : ~ " I : ;. . ' ~ .;.: . , ~~ : j , . .~~ .

    If1i,

    I!

    'I,o LARGO DA PALMA

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    26/55

    !Ip\I,Jr,I i{,,, I,

    , I, ,,

    . . i :, i" t, 1,;I~ ,I

    . !; !.. j

    jI;1

    I,:II. J(!,

    52 ADOt'JAS FllH O 5 3 I~i,\esperra, a rnostrar as denrinhos no ris e -alcgre, J fJ IJ f p clo s

    c oto ve lo s n a lin gu a ernbrulhada, er a J g rande alegria do pai,Ch i co Tim6reo, da mae, M 3riJ Ep onina, e dele proprio) 0 ve -tho negro loio. E, porque 0 genro jj vinha rrabalhando comele h d muiros a nos , p a s sa r a- lh e 0 p eq ue no n eg oc io qu e possuiano Mercado Modele. Tornou-se, assirn, urna espccie de lpO-sentado com casa, corn ida e roupa la va da . H..c ce bia a in da , nofim do m es, 0 dinheiro que vinha do lucro da vendinha.

    - P ara 0 fu rno do c ac him bo e a s f es [J s da C idade B aixa- dizia.

    Mas, e pr incipalmenrc, tinha J ncta e J. sanfona. Tardescornp ridas, a li no qu in tal, com a nerinha a brincar muiro per-to , de ta l m odo p uxava 35 rn us ic as q ue a s an fo na parecia cho-rar, A m ae diria rnais tarde que ela , de [30 agarrJJa ao avo,n as cera a o sam da sanfona. E nasccra fl1t:S[110, C:SL.l3. v crdadc .E tanto esra a verdade que 0 velho negro Loio, quando se deupor ele, viu que P intinha ji n ' ~ o pedia para que J ievasse aoLargo da Palm a. Em urn salto, de r ep en te , d ei xa ra de ser apequenina que, no larg o, corria arras dos pom bos e cornia aspaezinhos de queijo. E tamanho 0 salro qu e chegou 0 tempoda escola.

    - Voce, p ai, le va e traz Pinrinha da e sc ola - ~13.riJ Epo-nina, a mae, deterrninara.

    T od os sa be rn em S alvador da B ahia qu e, apesar da idade,a ntig o d e m u ic os s ec ulo s, 0 Largo da Pa lma te rn b oa memoria.E como esquecer 0 velho neg ro Loio, nas manh is de: s ol au dechuva, a levar a n era p ara as aulas? L e va va . .a e 3 trazia de volta,pela mao, ambos numa conversa in re rr nin dv el. ~ c on ve rs e [.10

    iruerrninavel quanta a curiosidade que a fazi C I "_: 'd 1 -ra ra ar as icoes,tudo querendo saber, as razoes da s coisas e d ad U dia VI a. m uia,porern, colegas vierarn busci-Ia e desde entao I' , passou a ve- acomo alguem que ja nao precisava dele. E dali, para tornar-sem oc in ha, fo i o utro salto. A mae cornecou a dizer:

    - N JO tarda a rer namorado.o n arn or ad o, p ore rn , era etc, 0 avo. Nos momentos livres,quando nao esrava no Ginisio ou nao preparava as li~oes,

    po~eriam procura-ia no quintal ou no quarto do velho negroLoio, Ao lado do avo, sempre e sempre, horas inreiras juncosscm que se soubesse quem mai s queria urn ao ourro. Ela quemarru rn ava os objeros no quarto, c uidav a das r ou p as e f az ia -I hea carna. Frirava as bananas-da-rerra de que ele ramo gosrava,n a c oz in ha da c as a, p ar a 0 cafe da rnanha. A melhor mae dom undo nao rcria tanto cuidudo con) 0 filho. E , se adoecia,U013 g rip e a u 0 q ue f os se , n JO s e a fa sr av a a rc ve-lo born. MariaEp onina, a m ae, d izia com sa[isfa

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    27/55

    -.- -..

    54 A D O r . . ; I A S F I l H O o LARGO O A PALMA 55. .doce, sorriso alegre e meiguice nos gescos. Tudo, efetivamcnte,era muito Iindo no rosto prero: as o lh os r Js ga oo s, a boca [11J-cia e os dentes fortes na brancura do leite. E ainda rnais lindoo carpo enxuro de c in ru ra e sr re ir a e c o xa s r ol ic a s. Os peque-nos seios salravarn como querendo rasgar a blusa. Ligeiro ba -lance, quando andava, como nurna leve danca.

    - Nao rarda a casar - rodos diziam .As co is a s, i n cl u si v e 0 c asarnc nro, ac onrc cem na hera c erta.

    A ss im p en sa va a velha n eg ro L oio , a lern bra r-se d e P in rin ha , jaa caminho de casa, ria esqu ina m esm a do Largo da P alm a.Noire de lu a rao c heia n a Bahia que v on ra de r iv er a de ap JgJf asluzes. 0 largo nao escureceria porque a lua, fazendo recuar 0t empo , r no s rr ar ia 0 casario, a i g re ja , as sob ra dos e 0 calcamentod e p ed ra s la rg as. E ta lv ez volrasse a ser como 0 fora h a s ec u lo s,assirn triste na noire, mas em paz no silencio. Tolices aquelasideias qu anro rnais qu e 0 largo ficarl arras e ji [fanSpUsera aesquina. La esrava Maria Eponina, na janela, com o a esper.i-lo.

    Nos passeios de codas as noires, ao rodear 0 Largo da Pal-ma - ja fechada a igreja e ainda aberta "ACasa dos Paezinhosde Queijo" -, sempre se revia, menino, solro no grandeMercado. 0 pai, pescador de oficio, rinha uma perna so, que aoutra perdera no mar, e, como de mesmo dizia, na guerra comos tubarocs. Vcndera 0 saveirinho e, comprando urna porta,cornecou a vender charuros com ta rn an ha s orre que em pou-c os a no s ji n cg oc ia va e m b iro sc a propria co m c o rne rc i o va ri a-do. E , se 0 paj nao se afasrava da b irosca, preso ao balcaoc om o u rn c ond en ad o, na o l ir ni ta va a l ib er da de dele, a negri-nho senhor das ruas e do Mercado. V ir a, p ois , 0 que havia

    j1, !II.: t\t,.

    .p ara s er visro.- 0 homem das cobras!Era como se novarnenre estivesse a ouvir 0 homem que,

    aos g rj [OS, com duas j iboias no chao, anunciava 0 e l i x i r dasaude. Qual 0 que! Esrava mesmo era no Largo da Palma, que.de tao tranquilo, talvez se preparasse para dormir. Vez porD utra, e rn c erras no ires, lembrava-se de Aparecida e e precisodizer qu e dc la se lcrnbrava c om rn uita saudade. Para de, qu eacabara de Circf JCI.OilO anos, aquc]a mulhcr fo ra tu do aun1C:SIllO (l"1l1PO: Il11c, ~lIlljgj e arnanre. Negra como cle, maisvclha que de doze anos, de tantas coisas cnrendia que era a sa-b cdoria ern pl"SSU~. SJnfoneira, jog adora de baralho e dados,c.mto ra 1l~1~ru. is do L ai ~. p U la ao~ sji>JJus, cartotn.mtc c rC-L;}-de ir a, r nu l he r sc m pouso cerro que apenas rinha de seu 0 maiercoracao da Bahia.

    - Eu goS[O e JJ gandaia! - exclam ava, os olhos acesos,a s l .i bi os c ar nu do s.

    o velho negro Loio tinha u rna cspccic de s cx ro s en rid oqu e 0 Iazia p crceb cr, de longc, os acoruccirncruos. FIe: mcsrnoachava que aquilo era U01J conscqucncia d3 vclhicc, p uis v iv c-fa tanto que ar e podia dizer qu e vivera dcrnais. E , Jc :sJe que seenrendia como gente, vivera scmprc na mdhor c~(Ob do mun-do, lIlle era p rccisa 111

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    28/55

    Enconrraram-se num dos portocs de Frenre do Mercado,qu ase no comeco da noire, a tocar a sanlo nu, 0 povo em voilaap la udin do e jog and o dinheiro, e m nO [;} 5e moedas, n a r oa lh acolorida. Ele de pc, venda e o uv in do , e nc a nt ad o, Quando elafinalrnenre parou de canrar , e rodos s e a fa sta ra rn e s air ar n, fo io u nic o qu e a li s e r na nte ve . Encant3.do d ern ais p ar a mover-se,de pe , como se estivesse [renrc a urna assornbracao. Aqucleespanto a seduziu no instance em qu e se ergueu, apos recolhero dinheiro e po-lo na balsa, ja com a sanfona env olra na toalhacolorida, E c om a sanfona no ornbro, a saia verrnelha, a blusap rera, as sandalias de pele de cobra, 0 colar e as pulseiras deconchas do mar, aproximou-se para pergunrar:

    - Quem e esse preto taO linda?E nrreg ou -lh e a sanlona e, rornando-o pelo brace, alasta-

    ram-se do Mercado como se fossem velhos conhecidos. Dei-xou-se levar para a ladeira da Montanha e, li rnuito no alto,entrararn num sobradinho que de tio antigo e estr~g3do n.ios e s ab ia como ainda nao caira. E , sem pre a conduzi-lo. elJ serneteu corredor adentro e escada acim a a buscar u rn dos qu ar-tos de fundo ..A briu a porta e, l ogo en rr a ra rn , e le v iu J Can1J decasal, um a cadeira, a m esinha COOl a m oringa e 0 pequenoarrndrio. A briu tarnb ern a janela para que 3. brisa, vinda domar, abrandasse 0 mormaco.

    - Aparecida! - murn1urou, baixinho, con10 se ten1esseser ouvido.Agora, no Largo da P alm a, era (On10 sc a m em or ia es[ivcs- ,se no coracio, C ansado ou enfraquecido, assirn apes sercntaanos, dora ainda 0 velho coracio quando de Aparecida se lern-

    brava. E, mesmo COIl1 os pe s n o L arg o da Palma, ja recolhidosos pornbos I1J g Jl hJ ria d as arvores, mesmo com a noire clara equ cnrc arejada p clos v enros da B ahia, m esm o assirn 0 coracdodoia 30 l em b ra r . .. e de A pa re cid a. A a le gr ia , 0 riso e a coragemrio partes d cl a q u an to o s s ei os redondos e duros. Urnida a luzdo s olhos, a voz metalica, a s c o xa s r na c ia s . .E dc sde aqu ela noi-r c, q ua nd o d av a- lh e 0 carpo e c x ig i a 0 dele, urn posse do outre,elc a b eij.i-la na b oc a enos seios, 0 nom e que ela gritou ficoup ar a s em p rc :

    - M enino!o pai, preocupado com a birosca, apenas no corneco seinreressara em saber quem era a m u lher por quem 0 filho seernbcicara. Loio, a 1 n 3 1 , era p raricarnente urn hornem. E, doque dependera dele, denrro do posslvel, cum prira as obriga-< ; 6 e s de p l i o Colocara-o na escola publica e tanto q u e a p re nd e-ra a le r, e screve r e con tar. Que agora se solrasse com um a m u-lher, nela agarrado todos os dias, nada tinha a ve r com seme-l ha nr e g am a < ;J o. S ab ia , p or o uv ir d izer, qu e a s anf ona as unira,o lIho, alias, de t31 rnaneira nascera com aquela m ania dem usica que, ainda rnenino, ali m esm o no Mercado, aprendeua rocar a sanfona. E 0 seu professor foi urn dos majores, 0grande M anuel de Deus, rn es tr e n os choros e n as v als as ,

    -. O s sanfoneiros! - 0 povo pobre, d a C id ad e Baixa,J Po nt3 \'J -O S n as r ua s.

    Um a s an fo na s o para 0 a rn or s er n rarnanho de dois coracoesigu3is . E r jo i rn en so arnor q ue, rne srn o ao s s dbados , Apa re c id aja n io Iazia vida de pura. Preferia abrir 0 baralho, sentada nochao com 0 s eu p ri nc ip e negro ao lado - ele, 0 Menino -)

    - ~\I\,

    11

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    29/55

    S9

    I, I, I

    'IiI

    d iz er d o destine, sernpre dando m elh or sorre JOS pescadores ern arin he iro s q ue pJg;}Vlrn bern. Muiro seria, 0 xale b r.in co riacabeca, 0 semblance con cc nrrad o c om o se estivessc J ve r rCJI-mente 0 fu tu ro . C on ven cia , ro do s acred iravarn , 0 dinheirochovendo . E ele, Loio, rarnb ern ele convencido dos poderes dam ulher, p ed iu certa vez:

    - V eja 0 qu e sera de mime E m e digl 0 meu amanh. i .Pensao nao mui ro lan ge d o porto, rnarinheiros dos savei-

    ros do Reconcavo as seus h osp cd es , ali rn orav arn ele e Apa-recida. Estavarn no quarto, acesa a ldmpada que p endia do fio,deirados na carna, E , ao ouv ir 0 p edido, levan rand o-se p araapanhar 0 baralho, indagou c o m e : a cerrificar-se:

    - Quer m esm o saber? - E, ja corn 0 baralho [1;1mao,voltando-se para ele, parecendo hesirar, acrescentou: - Naote rn m e do ?

    - Dig a, diga! - ele exc larnou , rep etindo-se .- Pense bern porque nao posso rn en rir - dissc, como a

    recear alg um a coisa, - Nao, Menino, nao posso esconder 0q ue v ejo !

    Sentou-se e espalhou as cartas n a c arn a. C on cen rro u-s ecomo sem pre fazia , m as, tendo o~ olhos n as c arta s, p are ciafora do rnundo, 0 rosto sefeehou, franzida a t es ta , o f eg a n re .

    - Que foi? - ele indagou , erguendo-se de u rn salro,

    Aparecid.i . 0 ep isod ic das cartas, as p aiavrJs da m ulher _"urn.i mont : na s IllJOS" -. rude uquilo subm erg ia no coracao,era verdadc , m as nao su rn ira no esqu ec im em o. E nao foi poucoo que aconreccu dcpo is, naqu eles anos de v ida. c am as e cam asco isas que nern de rcdas rc cordava. O s passes lento s n o i.a~g oda Palma, a c ab ec a b aix a, era cerro qu e nas no ires de rnorrnacoo COf .IS -jo ~ l."m pre s c abria p ara qu e a m em oria pudcsse sair. .

    A ll esrava no Largo da P alm a. a m em oria. livre e an irnadacomo a vcnro.

    .~

    , \-,!.- .... tI

    - . \_t: 1' - - j: - - J:1

    ;

    !,

    , ;; i!,I

    , ,

    . .mquieto.- Voce [em um a rnorte nas nlJO S - ela disse , f;11ando

    depressa , rnuiro baixo.A memoria no coracio e 0 velho negro L oio a s en rir qu e ele

    p uls av a rn ais forte rodas as vezes em qu e se lernbrava de

    EIJ , Aparccida, nao rinha com o durar rn uiro . M en os de[res rn es es e ja deixava 0 seu M enin o dias seg uido s, ganhandoas rUJS da C idade B aixa, sum indo com o por milagre. Ndos ab ia v iv cr fo ra d os cabares, no s becos, a jog ar e a beber, Ma-rafon:! q ue se v en dia a h om ens q ue n.io falravam . L em brava-seagora daquela rnanha de dom ingo, 501 e g rand e claridade, S a l - ' -vader da B ahia ouv ia a rm isic a dos sinos. B a[eram na porra doquarto e alg ucrn exc larn ou C om J vo z pesada:

    - E a Po l ic i a!Levararn-no e nao [eve corag em de indagar por que 0 fa -

    z ia rn . P o li ci a e p olic ia , e p ro nto . 0 beeo e srre ito e umido fediaa urina, m ais raw s que hom ens. Aparec ida no chao . a po'S a doproprio sangu e. m ona. Abarida a facadas. nao se sab ia porquem e p or que, 0 ro sro v olrad o p ara a p eq uen a rnulridao. Nasjanelas do s sobrados, q ue e ra rn p ar di eir os , r nu lh ere s s er nin ua s,f ala nd o a lto , c om e nr av ar n 0 acom ecido . Fechou os olhos, jachorando, para nao conrinu ar vendo. Sem iu . porem , um amJO no ornbro e log o ouviu a voz do pai .

    -,I,!

    I. \

    , '1, !tj. Iii1I),

    ,t:

    ,IIiIIIIi, :,,

    I\

    i~

    II, 1I,.~I

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    30/55

    it,(.Ii,;~r :j";~. ;:1 1.1'.'il., '!i ... i! 'I'It I.IIJ,It ' ~)j} ' i:t:1 :1II,- - ) :

    ,I. I. I1:1II

    "II"

    60 ADO NIA 'S FILH O o L A R G O D A P A L M A 61_ r : . m eu filho - 0 pa i expl ic o u, d ir ig in do -s e JOS policiais.as anos corrcrarn, dez anos de rrabalho duro ali no !\ler-c ado M odelo, ao lado do pai, na b irosc a. C orn panlu as, se teve,, (oram duas: a sanlona e a saudade de A pa re cid a. N oire s vaziasem que, a tocar a sanfona, venc ia a solidao e senria a rnulherra D perro como sc csrivessc viva. E [oi cnt.io q UL 0 p.ri rnorreucom dores no peito e como afogado no seco. 0 pai, urn sujei-[0 b orn ! B orn e rra balhad or, u m pouco sovina, qu e l he d ei xo ude heranca a b irosca , um bocado de dinheiro e ur n terrene noRio Vermelho. COIn p3.r[c do dinhciro, COlnprOll a birosca dov iz in ho , ju neo u a s d ua s, fe z. ur n p eq ue no a rrn az em . E , c o rn o lise d izia n o M erc ad o, ro rn ou -se u rn n eg oc ia nte rc m ed i.id o.

    A sanfona, que m uitas vezes (0(3V3 ali m esmo, nJS horusde folga, nos fundos do armazem, n.io c on seg uiu leva-lo isfestas da B ahia. N ao falt3ram convires p3rJ tocar er n cordoes.no c arnaval, ou partic ipar dos festejos do S enhor do B onfirn.Urn hornern arredio, porern, que n ii o g o st aV J de : festas c p re f e-ria se entocar com a sanfona em seu qU3rro, cnsirnesrnado.C inem a e c irco, sim , erarn as suas diversoes. E fo i nurn circe,o "Grande Circa Europeu", ja cornecando a surgir um au ou-tro cabelo branco porque aos quarenrJ anos de idade, quec on he ce u V eri nh a. Miudinha e alegre , negrinha que sabia sor-rir e sonhar, a bondade em pessoa.

    - Eu sou Verinha - ela disse.Conhecerarn-se na a rq ui ba nc ad a, s en ta do s urn 30 LIdo do

    ourro, viarn as loucuras do trapezista que volreava no Jr. E derepen(e, oscilando com o se fosse cair, fez com o_ue rodos selevantassern, nervosos. Ela, no insranre, segurou 0 brace dele.

    .i1li(

    ~

    E , c on vc rsa p uxa ndo c on versa, ju ntos sa irarn d o circo, come -ram p ip oc as, b eb erarn aguJ de coco, tornararn-se namorados .Acabou par leva-Ia em casa , no I t Jpagipe, ja sabendo que erau rna c osru reira e rnorava c om a m ae viu va . 0noivado nao tar-d ou , c lc ap arec ia todas as noires com a sanfona, a mae e osvizinhos gost3vam de ouvi-lo roc ar. E , m enos de dais m eses, acasarnenro.

    - Quer morar com a genre? - V erinha perg untou . _A qu i, n es ra CJSJ, camigo e m am ae? \!1{!1.o Largo da P alm a, a noire merna, 0 velho negro Loioanda \'3. passe J. pJ.SSO~ L ern bra va -s e ta o fo rrem en re d e V crin haque chcgava a escurar-lhe a voz e a via rnesmo, como numretraro, em seus o lhos cansados. 0 p roprio Largo da P alm a, eassim clc se l cmbrava da r nu lh er , p ar cc ia c orn ov er -s e. D u vid ajarnais rivera de que, se a rranquil idade 0 e nv o lv ia , e ra porqueVcrinha nele habitava. E la quem respirava na brisa [aD leve en5 0 seria im possivel qu e - m orra ha rantos anos - rudoacalrnasse para que as afvores e as pombos dormissem em paz .A c erteza absolura era que V erinha, e c om o 0 fiz era em v id a,scmpre esrava J se u la do , a li, no L arg o da P alm a.

    - 0 largo, Verinha, e tao seu quanto da Santa.I ss o d is se ra r nu ita s vezes, logo vendeu 0 terreno do R io

    Vcrrnelho e c om p ra ra a casa no Cravara, a rn ulh er ja gravidade ~[aria E po riin a. N a casa, com a m ae de V erinha , viverarnan os, rnais J~ dc z anos, se n ao c rrava nos c dlc ulo s. A filh a,Maria Eponina, nasceu no quarto em que agora dorrnia comChico Tirnoteo, 0 marido. E, tardes c noires sern conta, corn a

    .i,

    .,.:

    I !\

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    31/55

    62 A D O N l A S FllHOo LARGO DA PALMA 63

    ~ mulher e a menina. esreve no Largo da Palma. 0 sino. ah , 0~ velho sino da igreja! Como esquece-Io? Os repiques, que c~e- gavam a casa, convidavam para as missas. A vida correu assirn, boa e tranquila, ate que Verinha adoeceu. A febre alta. 0 enfra-quecimemo, era 0 tifo.- Acabou de morrer! - 0medico exclamara.t Tudo rnuito rapido, em dias, a surpresa da rnorre penur-Ibando-o inteiramente. A filha, Maria Eponina. taO inconsola-t vel quanto a avo, a mae de Verinha. E de proprio, Loio, bus-tcara no trabalho urn pouco de esquecimento. permanecen~o

    no a rm a z er n ate a noire, a arrumar e d esarru rn ar a rnercadoria.A vida foi isso, apenas isso, a provar que os anos passam de-pressa. E, quando a mae de Verinha rnorreu, rao velha que naose levan cava da cama, descobriu que ela, Maria Eponina, ja erauma rnoca. E tao dona-de-casa como outra nao exist ir ia noL arg o d a P a lm a .

    - t. u rn- rap az e ranro - ela d is se , n o elog io - e nao epor ser meu filho. A verdade, porern, e a verdade.

    - Eu sei, e u sei - Loio cancordou.- Tern pratica de balcao - ela p rossegu iu - e ja tr ab a-

    lhou ar e em casa de ferragens. Nao, nao e por ser meu filho!V osm ec e ex peri rn en te C hic o T irn oteo e me d ig a dep ois se es-r ou me n ti nd o .

    M aria E clea n ao se en gan ara. C hic o T irn oteo tan to era u rnrapaz e tanto que, em tres anos, tudo fazia e providenciava CO~rno se fosse urn socio. Homem d e b er n, devoto de Conceicaod a P raia como a mae, sobreru do urn hom em de paz. Muitosentira a m orre da m ae) qu e) tarnb ern vitirna do t i fo, morreucomo urn passarinho. E, porque a confianca nele era enorrne eja qu e nao tinha M aria E clea p ara p rep arar-Ihe 0 feijao, fe z 0

    .cony) te:- Veriha comer com a genre , l a em casa, na Palma.- t: rnu ito trabalho - ele disse, c om o a d es cu lp ar- se ,- P anela que coz inha para dais tarnbern pede cozinhar

    para tres - Loio 0 i rucrrornpcu, dccidindo.E, SI! ja c onh cc ia M aria E ponin a h a a nos, p ois ela sempre

    cStJYJ no MCfCJdo c elc scnlprc ia ~ casa do negro Loio, asr ef ei co es e a s e nc on tro s d ia rie s a ca ba ra rn p or fazer a q ue codosprcviarn. Narnoro, noivado, casamento. Cedera a casa a fi lha eao genro e, passando a rnorar no quarto dos fundos - juntoao qu inta l -, senriu -se m eio ap osentado. E Pinrinha chegara ,logo crescendo, um a bonequinha negra. L ev av a-a p el a mao ,c od as as ta rdes, a p ass e ar no L arg o da P alm a. Ali, n a i gr ej a, ela

    o negocio que tinha no Mercado Modelo ganhou tama-nha freguesia que necessirou de urn ernprelrdo. Irnposslvela te nd er a [ados e tudo re so lv er s oz in ho . P en sa va m e srn o a m -pliar 0 arrnazern, mas nada podia faz.erse~ urn empregadoborn e de confianca, 0 primeiro que contratou foi urn desas-tre, 0 seg undo, com rnenos de : quinze dias, g3.tunava em suapropria cara. E ja desanirnava quando. em conversa com MariaEcl61, que vendia re nd as d o Ceara e do Maranhao, sobreveiouma esperanca, A mulher, negra de nao rnentir e carola desacristia c ia Igreja d e Con c ei c ao da Praia, ofereceu 0 fi lho.

    .:. 'I, . ~~ ~:_:

    \

    , .

    t ,\. tt

    _ ~ h

    .,I

    _ ..,

    ,,r,j

    . .- . ,

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    32/55

    .........

    64 A DO N IA S F IL HO 65dos alu nos, filhos de p escadores e muito pobres, quase todosnegros. P acienre e bondosa, a ensinar a cartilha e a tabuada,tan to co nq uistara a afeicao d os m enin os q uanta do s propriospais. E, v ez es s em c on ta , rec eb ia peixes e fruras d aqu el a po br egenre.

    - C om o VJO os m eninos? - ele, 0 velho negro Loio,indagava.

    - M uito bern, bern-bern - a resposta de Pint inha er asem pre a m esm a ..

    S aia c ed o e d es cia a l ad ei ra p ar a p eg ar 0 onibus d e Am a ra -l in a . Vo lt av a a n oire, ai p elas o ito horas, e tanto que a mae lheguardava 0 p ra to fe iro . U rn p ou co antes, ao regressar do pas-seio sem pre em torno do L argo da P alm a, 0 av o perguntava:

    - E P inrinha?- Esta chegando - M aria Eponina respondia.Ela assim tambern respondeu naquela noire, P inrinha a

    c ornp leta r u rn ana na escola de A rn ar alin a, tu de na retinade rodos os dias. 0 prato feito , Chico Tirnoteo a le r 0 jornal ,Maria Eponina a espera-la na janela . E ele, 0 velho negroL oio , co mo sem p re fazia, rransp os 0 quintal. E, quando ems eu q ua rto , n os fu nd os , d eito u-s e m e sm o v es rid o para rever asre vis ta s q ue P in tin ha s em p re tra zia . C o ch ilo u, a r ev is ta c ai u ,adorrneceu. Acordou co m as gri tos da filh a, M aria E po nin a, e,s alra nd o d a c arn a, c orre u a sala. La e sta varn o s v iz in ho s e d oispoliciais q ue c on ve rs av arn c om Chico Tirnoreo. V en do -o e n-trar, evidenremenre fora de sit a f il ha p ar ec eu -I he tee enlou-quec ido.

    se batizara. E desde enrfio, ano apos ano, enchera-lhc J. vida decal modo que se tornou mesmo a sua propria vida.

    A s an fo na s em p re te ve P in rin ha a se u favor. E is so porque,nos grandes aconrecimentos de sua via~ com o em todos asaniversdrios, 0 av o L oi o j arn ai s e sq ue ce ra d e fe ste ji -l os c omm u sic as . F oi a ss im q ua nd o s e r na tr ic ulo u n o G in dsio . n a E sc o-la N orm al e rec eb eu 0 dip lom a d e professora. E s em p re r ec or -clava 0 dia em qu e, vo lrando da r u a, a n un c ia v a co m voz a le g re :

    - J a estou norneada. Agora sou p r of es so ra d e v er da d e.H ora do jan rar e, como a sop a de arroz acabara de ser ser-

    vid a, ain da fu meg av a n os pratos. 0 pai, a m ae e 0 avo, senra-dos, em torno da m esa redonda. A con versa em tom baixo,p ais era sem pre assim nas re feic oes. Reperiu a noricia, agoram a is a lto , se m d ete r 0 riso:- A p ro fesso ra esc d n o rn ead a!

    Todos se ergueram, com anirnacio, falando ao mesmotempo. A m ae ret irou os praros apos 0 janrar, e 0 p a i p c rm~ n e-ceu na sala para ler os jornais, 0 velho negro Loio, entao, pu-xou aneta p elo b rac e e a l ev ou para 0 q uin ta l. E , p orq ue v is seestrelas no ce u e achasse que os olhos de P in ri nh a b ril ha va rnm ais q ue as pr6prias estrelas, foi ao quarto e retornou com asan fo na. T oc ou e {OCOll rnuiro a re noire alta.

    - Voce e a sanfona - ele disse. - M eus dois Jm or~s.A e sc ola o nd e a p us era m n ao fic av a p erro . E, porque pro-fessora nova qu e inic iav a a c arrc ira cinha d e cornecar e rn b ai rr odistanre, c ol oc ara m -n a e m A rn ar al in a. N a sc er a mesma para pro-f essora , P in t inha . C heg ava com as liv ro s e as cadernos, f~IJ.\"a

    -~ ~ . "- ..~.~f>

    .f.~T,.

    i. ~~

    v

    ~ -

    \tI!,I,,t.

    . a. ' "

    - J~~~ , . \ , ~ ~

    - ':-) :.;' - "

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    34/55

    ..,.......'-----. . . ..... . . .--I~

    .e'_.

    o LARGO O A P A LM A~.,

    A OO NIA S F lLHO68 69pais P inrinha nao devia ficar sozinha 0 fc filh' . g enro ora, a 1 a narUJ) el c e P inrin ha. O s o lh os unlidos e 0 co - -1 c._ , raque rem a lepra. Coirado!o farrnaceurico n5.o tin ha c om o de sc onfiar do vclho negroLoio. Conhecia-o ha rnais de trinra anos, ur n dos raros qu eprog redira no M ercado, hornern de bern e serio. E par issoencregou ..lhe 0 veneno, f az en do c err as recornenducoes, ensi-nando como aplici-lo, que 0 rnanrivesse sobretudo em lug3.fseguro.

    - M ara m ais rapido que qualquer bala no corac .ioFel lcio concluiu, rindo-se.Nao perdeu tempo, regressando logo, r nu ir o a p rc s sado , co-mo se urn minute J m a is p eS JS SC no sofrimenro da neta. Emcasa, ao chegar, a fi lh a 0 esperlVl. I r i a a rUJ por I1n1 insran re e,se 0 marido estava a trabalhar no M ercado, que clc nJ Q saisse,

    .. J,,,;1}\I; '1, .~ri,-

    , , ~ _ I'~"I i

    I\

    I\

    , ~. . . . .:'

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    35/55

    "!

    UM C O R PO SEM NOM E

    " ~

    " : ' 1 : : :;,~. ". ;'~{: ~- .~'-~ :.~~~::::

    ~ 1

    , ~ : ,< l ' ~ (

    .~

    ,,

    _ r

    ~'c

    ,j

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    36/55

    t - -...._ .~

    E u A \'EjO E PARECE QUE VEM DE LONGA VlAGEM. 0L arg o da Palma, taO quiero e assim vazio de g enre, t al vez s e jaagora 0 ma i s t ra nqu il o recanro de Salvador da B ahia .. A tardes e a c ab a , e verdade, m as a noire ainda nao chegou . E p or q uem e encontro aqu i, quem sou , isro na o importa. 0 qu e real-m ente c oru a e qu e estou na esquina do Bfingala, de p e e afurnar , b usc an do rraz er a paz do largo p ar a r nirn mesmo ..Asa rv ore s. a s larnpadas frac as nos postes de cirnen to e' 0 ventemanse . 0 la rg o s eri a J pC n 3S i ss o n5 0 fo ss e a mulher que~vemrrop ccando m uiro, ralvez bebada au um a e p ile p ri ca , q ua se aalc an car a esc adaria do p atio da ig rc ja . C ai, estrernecendo, emsilencio.

    - --: M is eric or dia ! - exclarno, j a a c orr er , aprox imando-me .E , m al m e debruco para ac udi-Ia, nao tenho diiv ida de qu e

    e sc i m o rr en do , D ais au tres m inu ros de vida, no maximo. Ep enso que, se renrar ergu e-la, rnorrera em meus braces. De-b ruce-m e u rn pouco m ais, esforcando-rne p or lev an rd -la . O so lh os s e e sc an ca ra rn , a r es pir ac ao falra, u ma g olfada de sangueprero . E, porque sei q ue esra rnorra, recoloco ... no chao, com

    {

    t : o l.:\ R GOD A P .o\ l M AOO~IAS ~JLHO74 75,I,d..-it

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    37/55

    ......--1 l i i i e_.~. . . ........... . . . ....--....~...

    dentes. Os DrJ\OS tao secos quanro os seios e as pernas, 0ves-tido t.io irnundo que dificil e saber se azul au cinza, enorm e elrouxo 11 3 cintura, d csc osid o n as mangas. Tudo is so me d iz q u ehouvc loruc e Il1UttO c an sac o .

    - E pa r que a I'ollcia demora ranro? - A vo z qu e escutoe de 01ulher,Escuto J VOl, e vc rdade, m as e como se nao a ouvisse, A

    rnorra, ali no chao, m e leva tao longe no tempo qu e revejo 0corredor, estreiro e comprido, na penumbra . 0 fio vinha d oalto e 3 larnpada tao fraea que era menos que a luz deurna ;vela. Oito ou dcz qU3HOS. de urn e de ourro lado, como c l r c ;~ . . ' .r e s nU013 p r is .i o. Ali as mulheres se deiravarn co m os homense , q ua nd o 0 colega do arrnazern m e levou pela prirneira vez-par3 que, pela primeira vez, me ro rn as se h om e m n o c orp o deurna mulher -, vi alguern com o esta que acabou de m orrerno G rgo da Palma. I\ude, rnuiro r nai s ve lho do q ue e u, a qu elec oleg a. E par is so v ei o s em preparacio 0 co n vice que m e fez:

    - Voce qu er ir J u ma casa de mu lhe re s?

    cuidado, como SC tcmessc fcri- lJ .. En(;lO, ergucndo-rne. sernsaber como se lormou e de: onde [~n[JS PC:SSOJS rcri.im vindo,vejo a pequena multid.io.

    - Que foi? C om o foi? - as perguntJs qu e esc uro .

    "

    ..~ possivel que coda aquela genre esrivesse ria igrcja. Ernui to passivel parque, ao correr para socorrc r a rnu lher, noLargo da Palm a nao havia m ais que duas au tres pt.:SSOJS. Sim,sairarn da igreja e tanto assirn que rodas as sU;J.S porras esr.ioab ertas, E a rn aio r p rov a e que, agora ao rneu lado, a propriopadre acaba de chegar, Vendo a niulher d ei ta da , r no rt a, pede a"um velhore - 0 sacristao, ralvez - que: V J b usc ar a lg um asv elas . A qu i p erm an e< ;o , sc [n pre a fu m ar, a espera d;JS vel.is e daPolicia. So u a testernunha e, se ela m orreu er n rn eu s b ra co s,ren ho qu e dizer c om o ac on rec eu .

    Hd a b olsa de couro, no chao , ao I J.J o d o corpo. USJda,gasra, suja, Ai, junto aos pes, e como urna p3rre do c orpo qu edeve guardar as perrences da m ulher. L enco, barorn, penrc,perfume e rnesrno algum dinheiro. A carteira dt; idcntidade,certarnenre. 0 endereco, c laro . A m inha c uriosidadc , p orc rn,na o sera sarisfeira en qu anto a P olic ia n5 0 chegar. E, se renhoqu e espera-la, r ev ej o m a is urna vet; co m deralhes, 0 qu e ji vi: 3m ulher no calcarnenro, morra, indilerenre 30mundo.o silencio, agora. Calararn-se as radios e, na mulrid.io emre do r, n in gu ern I ala . t: a morre, eu sei, a rnorre qu e sen1preassusra os vivos. E, porque as pornbos c as JfVOrCS esr.io quie-ros, 0 proprio Largo da P alm a p ar ec e r es pe ir ar a rnorra. Asvelas, ja acesas, em torno d o c orp o. f\;I Jg ro C 0 rosto, ;1S orbit,isfundas, os cab elos g risalhos, a boca rnu rc ha c orn t rc s CJCOS de :

    o p equeno sal.io ernbaixo, a escada que le va va a o corredore JOS quar tos no andar de cim a, rudo num sobradinho da Aju-d a. G o rd al ho n a e esb ranqu icada, sem pre com um a rosa ver-m elha nos cabelos com pridos e ru ivos, cercada e proregida po rt res g randalhoes. aquela dona rnandava na casa com o um a rai-nha. Explorava 35 mulhercs c as bebidas. Ao chcgarrnos, logonos ScnrJn10S C bcb iam os a cc rveja ja co m duas mulheres emn OS SJ m esa, a pobre veio dos fundos. Ulna pobre dentre asrnais pobrcs no m undo , eu pensei.

    IlI\

    ilia--" . "_

    I ' . :

    IJ A DO NI :\S FllH O o L A R G O D A P A L M A6

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    38/55

    -----.----------.._ .--~

    --

    Irodos tinharn mulheres nas mesas. E os que ndo rinharn, q ll q . .do de ornbros, mal se moveram nas cadeiras. A pobre, de ~.Pxale em rorno do pescoco, quanto rnais se esfor~ava para c o n . .rer a tosse, rnais rossia como uma tisica. Nao, eu na o podia d l -zer que Fosse urn homem! Nao podia mesmo porque acabarade fazer dezoiro anos.

    - Va, va embora! - a caferina exclarnou, expulsando-a.Dezoiro anos, pois, a minha idade. JUnto, abra~ando-me,

    a mulher que me levaria ao quarto e tao jovem que ceria aminha idade. Loura e bonita, as cabelos corridos, os ldbiosfines, os seios pequenos e chcios, muiro azul nos olhos. Nao avi, nem a ela e nem ao amigo, quando me levanrei, E, ao l e -

    .Tinha precisarnente esre corpo e esre rosro, 0 rnesrno vesn-do e os mesrnos sap3.[OS, em tudo igual a morta que aqui esrana s pedras do Largo da P alm a. Tinha urn poueo rnais, e c err o .E isso porque, se tinha urn xale em torno do pcsco

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    39/55

    -codes os lados - das ruas rnais perro , dos becos e das ladeiras_ para a griraria nas brincadeiras. Compram paezinhos dequeijo, salrarn e corrern, subsrituem os pombos no patio dai gr ej a. A g or a, porern, a marta n o c alc arn enro a s ex pu lsou e,sem as criancas, como que ocupa 0 largo inteiro.

    - A Polic ia esrd chegando - alguern avisa.A pequena r nu lti da o r ec u a, 0 clrculo e 0 mesrno, a curiosi-

    dade em todos os olhares. Apresenco-me aos policiais porquesou a testem unha. E digo que vi quando ela enrrou no Largoda Palma, tropecando, para morrer em meus braces. 0 inspe-tor ordena que a ponham no rabecio e pede-me para acorn-panha-lo ao necroterio e a Policia. Desfaz 0 pedido, porern, aosaber quem eu sou. Nao hd necessidade em acornpanhd-Io e.ja que me apresentara como testernunha, seria avisado, qual-quer dia, para 0 depoirnenro ..Afinal , como era facil verificar,urn caso tao simples que nao chegava mesmo a ser urn C3.5O.

    - Eu a vi cair e m orrer - digo, espacando as palavras,como a convencer 0 in sp ero r, - Tenho, agora, a minha curio-sidade e, par isso, goscaria de ir com 0 senhor.

    - Isro nao cusra nada - o J nsperor responde. - Vamos !Aqui estarnos, agora, no necroterio. 0 medico, que ve a

    rnorra ainda na m ac a, fita-a com curiosidade rnuiro maier qu ea minha. E, como a adiantar 0 exarne e 0 laude, observa seca-mente:- T6xico.

    - Foi no que pensei - 0 insperor diz. - E no que pen-sei lo go a v i, la, n o L arg o da P alm a.

    Nua na mesa de rnarrnore. 0 insperor, para buscar-lhe 0nom e e insc reve-la no regisrro do necrorerio, abre a balsa decouro. A rnu lh er , a sua bolsa, urn caso simples. 0 caso poderaser simples, mas, para rnim, nao h a vidas simples. Nao e im -provavel, p ois, qu e renha havido alg um a coisa m aravilhosa,mesmo fanr:istica, 03 vida que se acabou 00 Largo da Palma. Eralvez as revelacoes, cornecando com a idemidade, se amplicmno que 0 insp eror p ossa en co nrrar na b olsa .

    - E enrao? - eu pergunto ao insperor,Estamos na anre-sala onde 0 medico realiza a auropsia, 0

    insperor, e nq u an ro a g ua rd a 0 resulrado, abre a b als a e a e sv az ia ,pondo rodos os objeros na mesa. Nao, nao ha c arreira oudocumenro que esrabeleca a idenridade da morral Nao e pou-

    I .c o, p o re rn , 0 qu e se encon tra. U rn p ente , u rn lenco de linho,u rn rnaco de cigarros e u rna nota de dez cruzeiros. E nioep ou co p orq ue ta rn be rn aqui estao um a c aixa de f6sforos e um ~sabonereira de plastico. Na caixa de fosforas urn po branco queo insperor logo recoohece como cocaina. E, para nossa surpre-sa, rnais de de z dentes de criarura humana na sabonereiradeplastico.o memento exato em que, abrindo a porta, 0medico rea-p arece. T ern as rnao s nas lu va s d e b orracha e nao esconde asJrisfar;ao por ter acertado, a prirneira vista , ser aquele urn casode texico. Aproxirna-se e, ao ver a caixa de fosforas com 0 pona m ao do inspetor, diz sem hesitacao:- Toxico - e repere -, foi 0 roxico,o in sp er or r ep oe as pertences da rnorra na bolsa d e c ou ro

    e . le va nd o-a c on sig o, p ed e a o m e dic o q ue n ao d ern ore e m e nv ia r

    L .. " .~. ~. .~, ;., ~ .,. . ~)~-

    . ' . ~- , ~ . - {N- _. , ~:.. " ... /_ ~~-, _ .~,:t,. . ~~I, .; -~~

    . _ " .. ~ 7 ' ""

    ,.,,~.,

    , ,1.,ii1j ,~'..

    " - ;?):. . .~~~

    tJ _;;.}J;.d1 - " . : .

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    40/55

    - - I1 ~-..............,.. if..._ ._ .,......

    - E que m ais? - eu indaguei. - C om o se chamava?A lg uern a reconheceu?

    - N Jo, ninguern a reconheceu! Fo i para 0 c em i te ri o c omoa m arta do L argo da P alm a. A penas isso,

    Calou-se, 0 inspetor, p or u rn m em en to . F ito u-m e n os olhos,u rn p ou co d es co nfia do , como se eu ja n ao ti ve ss e percebldoqu e ele pinrava as c ab elos. U rn policial idose, quase n a a po -s en ta do ria e q u e, p o r i ss o m e smo , d ev er ia r er l on ga c on viv eJl-c ia c om 0 m undo e os rn isterios. Urn hom em dos detalhes,sem duvida. E tanto qu e, sem qu e eu p erg untasse, esclareceua s d uv id as q ue su bsistia rn .

    - E la rinha 0 toxico em todos os poros - el e di sse . . - 0texico qu e c orria no s an g u e . .Uma v ic ia da !

    E ) p ar rem er q ue e le esq uec esse. inda gu ei:- E a sabonereira com todos aqueles dentes? Voces. da

    Policia, conseguiram decifrar 0 enigma?- Ah , sirn, a sabonereira!- Decifraram ? - perguntei novamenre, insistindo. ~- O s dentes erarn dela m esm a e isso ficou p rov ado - 0

    inspetor respondeu, - 0 que jam ais se s ab e ra , p o re rn , erapar que os tornava ao d en ti sr a para coleciona-los. Os seus pr6-p rio s d en r es !

    E , desped indo- se , acrescenrou:- Foi rude 0 q ue c on se gu im os a pu rar,A go ra , d es fe ira a le rn br an ca do insperor, fechada "A Casa

    dos Pacz inhos de Queijo", ja 0 incense n50 escapando da igre-ja, a noire avancou tanto, que os garos nfio rardararn a apare-cer. Eu os conheco, esses gatos. No verao, quando 0 rnorrnaco

    oficialrnente 0 laude. Antes de sair, tendo-rue ao lado, avisaao s funcionarios do necroterio que , por fal ta de idenridade, 0corpo deve permanecer na ge la dei ra para 0 reconhecirnento.

    - No gelo, pais, ate 0 pr~o da lei - esras, exararnente,as p alavras do insperor, ~

    H oje , d ois meses ap6s a rn orr e d a rnulher, 0 L arg o da P al-m a ja a esqueceu porqu e. velho com o e , na o c er n m em or iapara [ados os a con te c imen t os, Nao deve sequer lernbrar-se dequ ando levanraram as casas rnais b aix as e e srreitas , e sra s derelhas tao pretas quanto 0 tempo, com 0verde e 0 azul em tin-tas fortes oculrando as cicatrizes e as ru ga s* E , certamenre, naose lem bra de qu ando foram p lantadas as drvores e c he ga ra rn a sp ri m ei ro s p om b os , V e nd o -o agora, nesta p en um bra qu e sem preavisa a ap roxirnacio das noires na B ahia. com a igreja vazia e ossobradinhos em silencio, p enso na m ulher qu e rnorreu em m eusb ra ce s. E la , a pobre, pareceu-me qu e vinha de l on ga v ia gern .

    Mu ito p erto e sto u de "A C asa d os P a ez in ho s d e Quei jo" e,ta lv ez p or is so , 0 ar cheira a trigo. Hi, porem, 0 inc en so q uevern da ig reja .. E nfio tenho duvida de que esra rn is tu ra d e rrigoe incenso foi 0 que arraiu a m ulher para rnorrer, aqui, noLargo da P alm a. Ontern, quando reencontrei 0 insp eror naR ua Chile) quase dais meses apes a rneu dep oirnenro na D ele-g ac ia de P ollc ia, ele m e inform ou das p r in c ip a is c o nc lu s 6e s doinqueriro.

    - E ra aqu ila nlcsmo - 0 insperor disse . .- Um a viciadaem toxico.

    t I\

    . - . - > ~ ' " ~ :-: ' ,),~~~!~

    ~~rIi -~. . - ~

    -,;;

    . . . . . . tL~.- "

    -."_ '.,

    _ - " - ~ ~_.'.~ ,: ...r.: : : .:- - j ; ; ~ , ~" . : r : - . / ~ ~

    - ~--~ < > ~. ~r:~,~

    " . . . . .- -." ,

    \ A DONIAS FIlHO82

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    41/55

    --............ . . .'......--._ .

    Os ENFORCADOSt~ ~' .~I\,

    ,OJ

    . ,:l

    baiano m e acorda rnu ito antes da madrugada, venho a janelapara ve-los. E naque l as paucas horas se tornarn os donos dolargo porque os homens e os pombos estao dormindo. Sim,eles, os gatos, estao chegando agora. S aem das esqu inas e dealg un s telh ad os p ara 0 encontro de todas as noires. E a ss ir n,vendo-os do m eu canto, m ais um a vet. penso n a m o rta .P arec eu -m e q ue , a o e ntra r n o la rg o, v in ha d e lo ng a v ia ge m .Cerreza tenho agora de qu e vinha de (aO longa viagem, m as detaO longa viagem que a morte nao a in te rro m pe u. E m d eliri o,ja criarura de urn mundo que nao 0 nosso, entre cores e luzes,a rnorte nao a rnarou porque morreu fora do corpo. E, porisso , nao m orreu no L arg o da P alm a .

    .I

    ,_f

    lI\

    -.: . : ..~ ' h

    ;.;~~\,

    - _ , ; , \ . -. . - .. ,

    o f . , _ ~

    . '.': : .": . , . ' . ~ ' : .

    ,.., ~,i.,,\

    , ...~

    ,i, ~

    , , " . ; :. ~ ~f ~ 1 ~ : . :. - : . ; ...~

    . - ~. '

    \;,!\',, ,,

    < : { \ ~ ~- : . : ..- ~~.f"- . . ; ~ ~: ~- , -," ? - . . . / . - . . . . . ."Ii.._ ; ' _ '~ . .~ i "">?

    A DO NIA S F (LHO92 IIljo L A R G O D A P A L M A 93demincia para qu e apenas os camurnbernbes S e queirnassern

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    46/55

    ...........-

    .t

    !.. ;.:

    - - :" . ; . - - . ~ : .. I~.~... :~:~. - r ~t

    : ' .~i, i < . :_ . ~ . ... ' ~~ . . I f: -~ :.

    . _- :,\:~"....~~::i~~~.v:~./ ~ ~ : . j

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    47/55

    apenas aqueles pobres de Deus. Dois soldados rasos e daisa lf ai a re s, t odo s p ard os p ara na o dizer mulatos ..

    - Exem plo de merda! - exclarnou.- Que foi? - V alentirn pergunrou com o se desper ta sse . .- Nada! - ele respondeu.o cortejo, a [orca, 0 carrasco, 0 governador da B a hi a, D .

    Fernando Jose de Portugal e Castro, sabia como fazer para quese re spe i rasse E I-R ei. A c hib ata , os g ri lh oe s, a f or ca , 0 esquar-tejarnento. E mais na o pede pensar porque, ouvindo ordensde cornando aos soldados e 0 alarido do pavo, logo entendeuq ue o s c on de na do s chegavam a Piedade. E r gu e nd o -s e, V a le n -r im d is se :

    - Esr30 chegando.

    _ 1 : . de arrebentar 0 coracao - 0 ceguinho da Palmadisse.,. 0 cortejo, naquele arrastar de pes, nao chegaria tao cedoao C am po da P iedade. E, se nao cinham par que acornpanha-lo,o melhor seria espera-lo frenre a forca, l a , antes que 0 pOVO0lorasse. A mao no brace do cego, conduz indo-o e andandosem pressa, Valenrirn ul trapassou S ao P ed ro para d ere r-s e n olargo tao c heio de genre qu e p arec ia em dia de festa . O bservoum esm o qu e, se fu nc ionarios idosos usavam c asa ca s, a s su as m u -Iheres e x ib i ar n co lo ri d os vesridos d om i ng ue iro s. E sc ra vo s a pa re ..ceram com rabuleiros de frutas e doces e vendiam-nus a mandodos donos. No centro do campo, porern, e st ab e le c en d o e norm ec l rc u lo , d e ze n as d e s ol dados de Artilharia isolavarn a Iorca. P a-receu a Valentini q ue a qu ela forca era como u r na e s rr anh a drvo-r e s cm g alh os e f olh as . E , d iri gin do -s e :10 cego. preveniu:

    - Ternes que esperar.Podia valer-se do p ovo assirn cornovido para esmola r . To-

    dos c ertarnente dariam dinheiro e talvez junrasse em urna horao que, na Igreja da Palma, levava d ia s p ar a receber, N50, n.iopediria! A quele the p are ci a m a is qu e u rn dia santo porque er amesmo 0 dia do s enforcados. Manreve-se, pais, ao lade deValentini, que, sentado na grama como elc , p arec ia triste eacabrunhado. E , com os ouvidos aberros a C3prJf rudo queescurava, p en sa va n os infelizes que , a rra sra nd o o s grilh6es, ca -da vez rnais se ap roxim avarn da forca e d a rn or re . Aquila er a 0exernp lo p ara qu e a pavo aprendesse a l i < ; a o . E, como J cordasem pre arreb enta do lado m ais fr3.c o, p ara 0 cxcrnplo fic3ran1

    --..-..~'

    ~"...._., "

    Manuel, Lucas, Luis e joao, as condenados. 0 povo, ap6so a la ri do que p rovoc ou ao mover-se para ver 0 correjo, ~e[or-no u ao silencio, Todos os olhos na forca de m adeira de Je Lenorrne, rnuiro alta. N ing uern, nem m esm o u rn anaozinho,rinha c om o perder 0 esp cra cu lo . E 0 cego, sentindo 0 so l nap ele, c om 0 rosro suado pelo calor, de rudo tornava conheci-m ento pela voz de V ale nrir n. A voz de urn homem emociona-do, scm duvida, que gaguejava urn pouco, mas ainda assirn avoz de V alentim . E ra ele, afinal, qu em via.

    - M anuel e 0 prirnciro e tern 0 laco no pescoc;o. Pronto,pronto! 0 corpo e a corda , Manuel esra morto. Deus louvado!o ceguinho da Palm a parecia rer febre no sangue. AquiloIazia mal, doia no coracio, a cabeca pesada,

    ,.

    r\

    ,

    ~~~, < ~. ,!.~

    " . ~. -r:

    _ "",.,: - , 4 t ! ' " -

    : .~~

    - .. .~.. ~

    j,JijIi

    i~

    , :..'0,_ - " , - ,:~:

    . -:

    t .,~~ o LARGO DA P A L M A 9796 A D O N IA S F l L H O

  • 5/16/2018 Adonias Filho - o Largo Da Palma

    48/55

    o Largo da Palma, porque sem povo e movirnenro, seria pou-pado. Ajoelhou-se, entao, pondo as rnaos na porta da igreja.

    E, unica vez em roda a v id a , ag rad eceu a Sanra da Palmar ef fi ca do c eg o.

    .'..'. . ..

    _ Lucas, agora! - Valentim exclarnou.Rapido, tao rapido que Valenrirn rnais n.io disse, a mao

    urn pouco trernula no brace dele, 0 cego. Sabia que eSCJV3 alicercado de povo, denrro da rn ultid ao , g en re par (ados oslados. E, embora Valenrim the aperiasse 0 brace, sentia-se taos 6 q ua nro Manue l e Lucas, os enforcados. A f eb re , c ad a ve zr na is , q u eimav a 0 sangue. E , c ad a v ez m ais, 0 c ora ca o d ol a.

    - Lues, agora e L ufs! - novarnente Valentirn exclarnou .Fosse 0 que fosse, talvez a preSS3.em acabar J matanca ou 0

    nojo qu e aring ia 0 proprio carrasco, a corda ainda b 3 . I 3 n c ; 3 . \ ' 3 .no ar qu ando 0 u ltim o c ondenado su biu 30 p arib ulo. U rn m i-nu to e ja V alen tirn , a ba ix an do a v oz, d is se:

    - Tres horas da tarde e [oao acaba de rnorrer - e foirudo 0 q ue c on se gu iu d iz