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O Romance Dramático de Adonias Filho Recepção e análise Marcus Mota Universidade de Brasíl

Romance Dramático de Adonias Filho

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palestra sobre Adonias Filho Universidade de Lisboa.

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O Romance Dramtico de Adonias Filho

O Romance Dramtico de Adonias FilhoRecepo e anliseMarcus MotaUniversidade de BrasliaAdonias Filho (1915-1990)Imaginao e Morte

Trilogia do Cacau4Servos da Morte- CapasMemrias de Lzaro- CapasCorpo Vivo - CapasAnncio do livroCorreio da Manh. 14 julho de 1946. Vida Literria. Jos Cond."Servos da Morte". Ser lanado amanh o romance de estria de Adonias Filho. "Os Servos da Morte". Figura das mais expressivas da nova gerao de autores nacionais, Adonias Filho desde h muito conhecido do pblico como jornalista e crtico literrio. Nascido em Ilhus, Bahia, em 1915, ainda muito moo participou, na capital bahiana, do movimento intelectual que deu ao Brasil alguns de seus melhores escritores atuais. No romance "Os Servos da Morte" Adonias Filho exprime sua experincia interior, sua inquietao psicolgica consequncia de sua posio em face dos problemas espirituais.

Jos Cond 18/08/1946"Os Servos da Morte", de Adonias Filho, recentemente lanado, um resultado desse desejo de novas experincias. Para o jovem escritor baiano, o romance tem, antes de tudo, que "se relacionar com as zonas indescobertas do homem". E nesse sentido seu trabalho de estria. Embora situando a histria e personagens nas terras do cacau - em ambiente rural do nordeste, portanto - Adonias Filho supera o regional, apresentando-nos obra de carter universal. que acima da paisagem e dos costumes tpicos da regio, o romancista situa o homem: seus conflitos e dramas interiores - e que isto d a amplitude da obra do artista.

Pior romance de 1946

Adonias Entrevista I Entrevista a Danilo Gomes Suplementos Literrio MG. 24/09/1977.Difcil dizer como em tornei escritor j que, logo aprendi a escrever, comecei o que sempre foi o trabalho de minha vida. Lembro-me a escrever, pois, desde a infncia. Mas, tempos afora, quantas experincias e influncias! Direi que, e ainda hoje, tenho os trgicos gregos, sobretudo Sfocles, como leitura obrigatria. Citarei tambm Shakespeare. E romancistas, como Dostoievski, Tolstoi, Wassermann e Faulkner. A influncia literria, alis, sempre me pareceu uma resultante das afinidades de um escritor para outro escritor.

Adonias entrevista IIEntrevista a Gunter Lorenz. Dilogo com a Amrica Latina.(So Paulo: E.P.U. , 1975): tenho grande preferncia pelos gregos, Sfocles, por exemplo, e Eurpides. Imediatamente depois vm os clssicos como Shakespeare ou Racine (p. 372).

Adonias Entrevista III Entrevista a Maria Amelia Mello Suplemento Tribuna da Imprensa 14-15 de Fevereiro de 1976,(p.8)."Quando cheguei ao Rio, aos 20, j trazia "Os Servos da Morte" esboado, que seria meu livro de estria... A influncia resulta de afinidades. Li muito os trgicos gregos, Shakespeare , Faulkner. Gosto de ler teatro e creio que minha obra seja muito marcada pelo teatro clssico.

Adonias Entrevista IV Conferncia pronunciada no Simpsio de Literatura Brasileira, em Braslia, promovido pela Fundao Cultural do Distrito Federal - VIII Encontro Nacional de Escritores, 1973."Um romance ajudava o outro, temos que repetir, no sentido da experincia sempre em processo.(...) aps a publicao de Os Servos da Morte, no se tornou fcil a primeira verso de Corpo Vivo. O romancista estreante, a buscar um caminho na cobertura crtica que se fizera em torno do seu livro, no teve como ignorar o lado discutvel de Os Servos da Morte: precisamente o lado que, sendo arquitetnico, abrangia a construo como uma carpintaria.Confessa hoje, tanto anos depois, que a primeira verso de Corpo Vivo j estava escrita quando a conscincia crtica interferiu para exigir a reviso. Pareceu-lhe que muito de Os Servos da Morte, sobretudo a carreira episdica que a imaginao tangera sem qualquer medida, pareceu-lhe que no aceitaria isso um romance com a problemtica de Corpo Vivo. E, na primeira verso, apesar do esforo para afast-lo de Os Servos da Morte, o segundo romance quase se identificava com o romance de estria. Decidiu queim-lo, em consequncia, quando mais j se encontrava seduzido pela ideia e o plano de Memrias de Lzaro. (...)

Adonias Entrevista VEntrevista a Edla van Steen (Viver &Escrever (V.3) Porto Alegre: L&PM,2008)."Ao me transferir-me para o Rio de Janeiro, em 1936, trazia na mala os textos inacabados de Os Servos da Morte e Corpo Vivo. E, se ousei a publicao de Os Servos da Morte em 1946, embora reconhecendo srio defeitos de construo, foi porque necessitava de um teste pblico - e particularmente da crtica, para Corpo Vivo, o romance que me acompanhava desde a adolescncia. O interesse da crtica por Os Servos da Morte foi to imprevisto que me levou a examinar e reexaminar inteiramente a engenharia e a fabulao de Corpo Vivo. (...) Ao destruir a verso original de Corpo VIvo , em 1938, no o retomei seno dezesseis anos depois, isto , em 1954. Todos aqueles anos- de 1938 a 1954- foram aborvidos pela crtica literria e jornalismo. E tambm , e sobretudo, pelo romance Memrias de Lzaro. E, sem esquecer Corpo Vivo, preocupado mais com o romance como uma obra de arte e atento, por isso mesmo, sua configurao arquitetnica, foi lentamente que trabalhei Memrias de Lzaro. Escrevendo-o ,revendo-o pgina a pgina, pensava em COrpo Vivo. Publicado em 1952, Memrias de Lzaro deu-me a certeza de que poderia retornar a Corpo Vivo, embora convencido de que o rigor comigo mesmo no deveria ceder uma polegada. (...) trabalhei o romance durante oito anos, que, afinal veio a ser publicado em 1962.

Ronaldes de Melo e SouzaRomance Dramtico de Adonias Filho BsB-Letras, Braslia, 26/08/1990. SOUZA, R. M. . A trilogia romanesca de Adonias Filho. In: Wellington de Almeida Santos. (Org.). Outros e outras na literatura brasileira: ensaios. 1ed.Rio de Janeiro: Editora Caets, 2001, pp. 111-128.

Os romances que se intitulam Os Servos da Morte, Memrias de Lzaro e Corpo Vivo constituem uma trilogia romanesca, que caracterizamos como "O persquito dos mortos". Do dilogo intertextual com a tragdia grega, a que se reporta a apropriao romanesca do princpio arquitetnico da trilogia de squilo, resulta a revoluo a revoluo estrutural a que o romancista submeteu a tradio do romance brasileiro. (...)

Abertura Memrias de Lzaro"Infinita a estrada com suas curvas, suas colinas e suas rvores. No uma estrada como outra qualquer, com pssaros e ladeada de grama, mas uma linha sinuosa no cho avermelhado e seco. Onde comea, ningum sabe. Onde termina, ningum sabe tambm. To ntima quanto os rudes objetos das habitaes primitivas, para ns que a conhecemos desde crianas, existe quase como uma criatura humana. Insensvel, acolhe-nos com desprezo, sem bondade. Ficssemos cegos e localizaramos com facilidade todos os cactos que a tornam agressiva, perdssemos o tato e diramos sem esforo qual da suas pedras a mais spera. Para os outros, os viajantes que por milagre a atravessassem sem conseguir filar os seus segredos, seria apenas uma estrada.Para ns, gente do vale, que a limpamos todos os dias com os nossos ps, que sobre ela suportamos o sol e toleramos a chuva, o mundo que liga a nossa vida e une as nossas esperanas e sofrimentos. (...) Mas, o que caracteriza esse vale aps este cho, quase uma lava que no esfriou inteiramente, o que caracteriza em todas as partes o vento perdido.(...) provvel que venha das montanhas. Sobre a chapada, eco por assim dizer da garganta que separa o vale da montanhas, seu rudo no spero, mas tambm no rouco. Um lamento que assusta e provoca o endurecimento dos nervos. Em criana, amei-o. Odiei-a seguir. Hoje, no poderia compreender o vale e juro que seria impossvel admitir a estrada sem suas rajadas. ADONIAS FILHO 1978