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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE EDIFICAÇÕES E AMBIENTAL ADRIANA BUSSIKI FIGUEIREDO SANTOS AVALIAÇÃO AMBIENTAL DA MICROBACIA DO CÓRREGO TRÊS BARRAS COMO SUBSÍDIO PARA ELABORAÇÃO DE UM PROGNÓSTICO NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DA AVENIDA PARQUE EM CUIABÁ - MT CUIABÁ 2013

ADRIANA BUSSIKI FIGUEIREDO SANTOS - 200.129.241.80200.129.241.80/ppgeea/sistema/dissertacoes/56.pdf · iii adriana bussiki figueiredo santos avaliaÇÃo ambiental da microbcia do

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E

TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE

EDIFICAÇÕES E AMBIENTAL

ADRIANA BUSSIKI FIGUEIREDO SANTOS

AVALIAÇÃO AMBIENTAL DA MICROBACIA DO

CÓRREGO TRÊS BARRAS COMO SUBSÍDIO PARA

ELABORAÇÃO DE UM PROGNÓSTICO NA ÁREA DE

INFLUÊNCIA DA AVENIDA PARQUE EM CUIABÁ -

MT

CUIABÁ

2013

ii

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E

TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE

EDIFICAÇÕES E AMBIENTAL

AVALIAÇÃO AMBIENTAL DA MICROBACIA DO

CÓRREGO TRÊS BARRAS COMO SUBSÍDIO PARA

ELABORAÇÃO DE UM PROGNÓSTICO NA ÁREA DE

INFLUÊNCIA DA AVENIDA PARQUE EM CUIABÁ –

MT

ADRIANA BUSSIKI FIGUEIREDO SANTOS

PROF.ª DR.ª ELIANA BEATRIZ NUNES RONDON LIMA

CUIABÁ

2013

iii

ADRIANA BUSSIKI FIGUEIREDO SANTOS

AVALIAÇÃO AMBIENTAL DA MICROBCIA DO CÓRREGO

TRÊS BARRAS COMO SUBSÍDIO PARA ELABORAÇÃO DE

UM PROGNÓSTICO NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DA AVENIDA

PARQUE EM CUIABÁ – MT

Dissertação apresentada ao Programa

de Pós-Graduação em Engenharia de

Edificações e Ambiental, da

Universidade Federal de Mato Grosso,

como requisito parcial para obtenção

do título de Mestre.

Área de concentração:

Tecnologia Ambiental

Orientadora:

Prof.a Dr.

a Eliana Beatriz N. Rondon

Lima

Cuiabá – MT

Março – 2013

iv

v

DEDICATÓRIA

Aos meus pais, pelo estímulo e amor

incondicional de sempre;

Aos meus filhos, Daniel e Gabriel, pelo carinho e

compreensão do recesso dos momentos de lazer;

Ao meu esposo, pelo entendimento e apoio a

esses dois anos de estudo e dedicação à pesquisa.

vi

AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter concedido a oportunidade de realizar este Mestrado;

A Prof.a Dr.

a Eliana Rondon, pela fundamental orientação e apoio por ter

deslumbrado essa linha de pesquisa, ultrapassando, em muito, a função de

orientadora pelo incentivo, pela disponibilidade de tempo, independente de data e

horário, e pela amizade solidificada nos momentos de dificuldades;

Ao Prof. Dr. Ximenes, tal como é conhecido, pela prontidão em acompanhar e

direcionar a pesquisa em campo, realizando a técnica de tradagem tão necessária ao

diagnóstico, acompanhado de sua contagiante paixão pela profissão;

Aos Professores Dr. Prudêncio Castro e Dr. Antonio Oliveira, que fazem parte da

banca de avaliação, pelas sempre valiosas sugestões que valorizaram a pesquisa;

Ao coordenador e todos os professores do Programa PPGEEA por compartilharem

experiências e conhecimentos, construindo uma amizade;

Ao técnico Jonas Santos, por ter acompanhado em todas as coletas e análises da água

realizadas no laboratório físico-químico do Departamento de Engenharia Sanitária e

Ambiental- UFMT;

Ao amigo Gian Benevento, por ter contribuído com a elaboração dos mapas

temáticos, tão importantes e imprescindíveis ao desenvolvimento deste trabalho;

Aos funcionários do serviço público municipal pelas informações necessárias à

pesquisa, em especial à Tieko (Seminfe); Marcio, Abílio e Maristela (SMDU); Edio

(Sanecap) e Matoso (AMHP);

Aos meus irmãos, Erica e Zeca, pelo carinho e atendimento de emergência com as

falhas inesperadas do computador;

In memoriam, à tia-avó Aida, quem me ensinou, na meninice, a ter uma metodologia

para o estudo;

Aos colegas do curso pela amizade.

vii

“Depois de tudo, para que serve a vida se o

homem não puder escutar o grito solitário

do notibó, nem as discussões noturnas das

rãs nas margens de um rio, nem apreciar o

cheiro do vento purificado pela chuva do

meio dia, ou perfumado com o aroma dos

pinheiros. Contaminem os vossos leitos, e

uma noite morrerão afogados nos vossos

próprios detritos.”

Carta do índio Chefe Seattle, em resposta ao grande

Chefe Branco de Washington, em 1854.

viii

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 1

1.1 JUSTIFICATIVA .......................................................................................... 3

1.2 OBJETIVOS ................................................................................................. 4

1.3 HIPÓTESE DA PESQUISA .......................................................................... 5

2. ÁREA DE ESTUDO .................................................................................... 7

3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ..................................... 10

3.1 ASPECTOS GEOLÓGICOS ....................................................................... 10

3.1.1 Ocorrências Minerais .................................................................................. 11

3.2 ASPECTOS GEOMORFOLÓGICOS ......................................................... 12

3.2.1 Formas de Relevo ........................................................................................ 13

3.3 ASPECTOS PEDOLÓGICOS ..................................................................... 15

3.4 ASPECTOS DA VEGETAÇÃO ................................................................. 16

3.5 ASPECTOS CLIMÁTICOS ........................................................................ 17

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................. 19

4.1 PLANEJAMENTO SUSTENTÁVEL DE ÁREAS URBANAS .................. 19

4.2 CONCEITOS E ABORDAGENS DE RECUPERAÇÃO DE CURSOS

D’ÁGUA ................................................................................................................ 25

4.3 FERRAMENTAS DE ANÁLISES AMBIENTAIS EM MICROBACIAS

URBANAS ............................................................................................................. 32

4.3.1 Fisiografia de uma Bacia Hidrográfica......................................................... 32

4.3.2 Método de Diagnóstico VERAH ................................................................. 35

4.3.3 Método de Planejamento da Paisagem ......................................................... 37

4.3.4 Índice de Qualidade da Água – IQA ............................................................ 38

5. MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................... 44

5.1 DIAGNÓSTICO GERAL DA MICROBACIA ............................................ 46

5.1.1 Técnicas de Geoprocessamento ................................................................... 48

5.2 DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE ENTORNO DO CÓRREGO TRÊS

BARRAS COM APLICAÇÃO DO MÉTODO VERAH ......................................... 56

5.2.1 Vegetação ................................................................................................... 58

5.2.2 Erosão ......................................................................................................... 59

5.2.3 Resíduo ....................................................................................................... 59

5.2.4 Água ........................................................................................................... 60

5.2.5 Habitação .................................................................................................... 62

5.3 ANÁLISE EXPLORATÓRIA DAS CLASSES COMPONENTES DO

VERAH .................................................................................................................. 62

5.3.1 Análise Integrada dos Componentes do VERAH, Visando à Minimização dos

Impactos e Elaboração do Prognóstico .................................................................... 63

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................... 64

6.1 ANÁLISE FISIOGRÁFICA DA MICROBACIA DO CÓRREGO TRÊS

BARRAS ................................................................................................................ 64

ix

6.2 EVOLUÇÃO URBANA DA MICROBACIA DO CÓRREGO TRÊS

BARRAS ................................................................................................................ 66

6.2.1 Dinâmica do Crescimento Populacional de Cuiabá ...................................... 66

6.2.2 Uso, Ocupação e Urbanização do Solo na Microbacia ................................. 68

6.2.3 Breve Histórico de Ocupação da Microbacia do Córrego Três Barras .......... 70

6.3 INFRAESTRUTURA DISPONÍVEL NA MICROBACIA .......................... 85

6.3.1 Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário ........................................ 85

6.3.2 Pavimentação Asfáltica ............................................................................... 88

6.4 DIAGNÓSTICO GERAL DA MICROBACIA – CLASSIFICAÇÃO DE

IMAGEM ............................................................................................................... 89

6.4.1 Classes de Uso do Solo ................................................................................ 89

6.5 DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE ENTORNO DO CÓRREGO TRÊS

BARRAS, COM APLICAÇÃO DO MÉTODO VERAH ........................................ 93

6.5.1 Vegetação ................................................................................................... 95

6.5.2 Erosão ....................................................................................................... 100

6.5.3 Resíduo ..................................................................................................... 118

6.5.4 Água ......................................................................................................... 122

6.5.5 Habitação .................................................................................................. 127

6.5.6 Análise Integrada dos Componentes do VERAH, Visando à Minimização dos

Impactos ............................................................................................................... 130

7. PROGNÓSTICO ..................................................................................... 133

8. CONCLUSÕES ....................................................................................... 142

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................... 145

x

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Localização da Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai e Bacia Hidrográfica

do Rio Cuiabá e, nesta, inserida a Sub-bacia do Rio Coxipó. .....................................7

Figura 2 - Localização da Microbacia do Córrego Três Barras em relação a Sub-bacia

do Rio Coxipó. ..........................................................................................................8

Figura 3 – Localização da Microbacia do Córrego Três Barras na cidade de Cuiabá. .9

Figura 4 – Mapa geológico da microbacia do córrego Três Barras. .......................... 11

Figura 5 – Mapa de ocorrências minerais na Microbacia do Córrego Três Barras. ... 12

Figura 6 - Mapa geomorfológico da Microbacia do Córrego Três Barras. ................ 14

Figura 7 – Mapa pedológico da Microbacia do córrego Três Barras. ....................... 16

Figura 8 – Espécie vegetal encontrada com frequência na área rural da Microbacia do

Córrego Três Barras. ............................................................................................... 17

Figura 9 – Precipitações anuais para o período de 1989 à 2012. .............................. 18

Figura 10 – Distribuição do período seco entre os anos de 2009 à 2012. .................. 18

Figura 11 – Espaços Planejamento e Gerenciamento. .............................................. 23

Figura 12 - Diferenças entre os conceitos de Restauração, Reabilitação e

Remediação. ........................................................................................................... 27

Figura 13 – Roteiro Metodológico........................................................................... 45

Figura 14 – Localização dos pontos de coleta ao longo do Córrego Três Barras. ..... 48

Figura 15 – Modelo Numérico- MNT da Microbacia Hidrográfica do Córrego Três

Barras. .................................................................................................................... 50

Figura 16 - Sequência do desenvolvimento em Geoprocessamento para elaboração

dos mapas das características gerais da Microbacia do Córrego Três Barras. ........... 51

Figura 17 – Roteiro para elaboração do Diagnóstico Geral da Microbacia com

utilização de geoprocessamento. ............................................................................. 53

Figura 18 - Chaves de identificação das classes de uso de Vegetação e Solo Exposto

presentes na Microbacia do Córrego Três Barras. .................................................... 55

Figura 19 – Chaves de identificação das classes de uso de Habitação apresentadas na

Microbacia do Córrego Três Barras. ........................................................................ 56

Figura 20 – Distribuição espacial dos pontos de interesse na área de entorno do

Córrego Três Barras. ............................................................................................... 57

Figura 21 – Curvas médias de variação de qualidade das águas. .............................. 61

Figura 22 – Ordem da microbacia hidrográfica do córrego Três Barras. .................. 66

Figura 23 – Gráfico representando o crescimento populacional de Cuiabá em cinco

décadas. .................................................................................................................. 67

Figura 24 - Mapa de uso, ocupação e urbanização do solo na Microbacia do Córrego

Três Barras e localização das ZIAs 2 e 3. Escala: 1/50.000...................................... 68

Figura 25 - Corte transversal esquemático: via parque com córrego não canalizado. 70

Figura 26 - Evolução urbana dos bairros que compõem a Microbacia do Córrego

Três Barras. ............................................................................................................ 71

xi

Figura 27 - Bairros e localidades pertencentes à Microbacia do Córrego Três Barras.

............................................................................................................................... 76

Figura 28 - Ocupação do bairro Primeiro de Março e ruas consolidadas. ................. 77

Figura 29 - Bairro 1º de Março e os loteamentos que o compõem. ........................... 78

Figura 30 - Localização dos conjuntos habitacionais destinados à classe de renda

baixa na região Norte de Cuiabá. ............................................................................. 82

Figura 31 – Residencial Solar da Chapada, em construção. ..................................... 84

Figura 32 – Mosaico de fotos com localização do sistema central e ETA Tijucal, com

adutora chegando ao bairro Altos da Serra. ............................................................. 86

Figura 33 – Pontos de captação de água por poços para abastecimento na Microbacia

do Córrego Três Barras. .......................................................................................... 87

Figura 34 – Mapa das classes de usos do solo da Microbacia do Córrego Três Barras,

2012. ....................................................................................................................... 91

Figura 35 – Delimitação da área de entorno do Córrego Três Barras, com aplicação

do método VERAH. ................................................................................................ 94

Figura 36 - Mapa de Estatística do Índice de Vegetação por Diferença Normalizada –

IVDN. ..................................................................................................................... 96

Figura 37 - Estatística do índice de vegetação da microbacia do córrego Três Barras.

............................................................................................................................... 97

Figura 38 - Classes de uso e ocupação e índices do uso do solo da área não

urbanizada, zona rural da Microbacia. ..................................................................... 98

Figura 39 - Descaracterização da vegetação nativa por espécies frutíferas e invasoras

em APP do Córrego Três Barras. ............................................................................ 99

Figura 40 - Distribuição de áreas identificadas na delimitação da área de entorno do

Córrego Três Barras. ............................................................................................. 101

Figura 41 - Vias pavimentadas e não pavimentadas em áreas urbanizadas nas

vertentes do Córrego Três Barras. ......................................................................... 102

Figura 42 - Nascente intermitente, em campo úmido com Gleissolo. ..................... 103

Figura 43 - Tradagem realizada no ecossistema campo úmido. .............................. 104

Figura 44 - Material arenoso com cascalho de quartzo a 30cm (a) e a 50cm (b),

proveniente de assoreamento. ................................................................................ 105

Figura 45 - Erosão por ravinamento, observada no entorno do Campo Úmido, em

área de ocorrência de Cerrado alterado. ................................................................. 105

Figura 46 - Campo Úmido com alagamento ainda presente em período não chuvoso.

............................................................................................................................. 106

Figura 47 - Talvegue seco, e à jusante, evidências de assoreamento. ..................... 106

Figura 48 - Espécie invasora no interior do Campo Úmido. ................................... 107

Figura 49 - Ecossistema de Campo Úmido. ........................................................... 108

Figura 50 - Área com ocorrência de Campo Úmido. .............................................. 108

Figura 51 - Compartimento morfopedológico Campo Cerrado. ............................. 110

Figura 52 - Ecossistema Cerrado. .......................................................................... 110

xii

Figura 53 - Cava realizada para exploração de material para aterro – Neossolo

Regolítico. ............................................................................................................ 111

Figura 54 - Área não urbanizada com presença de Cerrado - porção em área rural,

próxima ao perímetro urbano, com existência de pequenas propriedades rurais. .... 112

Figura 55 - Tradagens confirmando a presença de Solo Gleissolo no ponto PB. .... 113

Figura 56 - Realização de tradagem no ponto P2. .................................................. 114

Figura 57 - Localização da canalização aberta tipo Gabião no ponto P3, fundo de

vale do Córrego Três Barras. ................................................................................. 115

Figura 58 - Assoreamento na porção PC do fundo de vale. .................................... 116

Figura 59 - Afloramento de rocha do grupo Cuiabá, provocada pela erosão no ponto

P4. ........................................................................................................................ 116

Figura 60 - Área de alagamento na porção urbanizada do Córrego Três Barras. .... 117

Figura 61 - Trecho com talvegue erodido à jusante do ponto P2 - área urbanizada do

Córrego Três Barras. ............................................................................................. 118

Figura 62 - Resíduos sólidos domésticos descartados nas margens do Córrego Três

Barras. .................................................................................................................. 119

Figura 63 – Acondicionamento de resíduo da construção civil – material de aterro

para a porção mais baixa do terreno. ..................................................................... 121

Figura 64 – Área de transbordo e triagem de resíduos da construção civil. ............ 122

Figura 65 - Lançamento de esgoto doméstico, sem tratamento no ponto P3. .......... 123

Figura 66 - Gráfico com resultados medianos da análise físico-química da água do

Córrego Três Barras. ............................................................................................. 126

Figura 67 - Produção de habitação irregular ao longo da Área de Entorno do Córrego

Três Barras. .......................................................................................................... 129

Figura 68 - Comportamento do leito dos córregos da Microbacia do Córrego Três

Barras. .................................................................................................................. 131

Figura 69 – Síntese da sequência da ocupação irregular em APP. .......................... 132

Figura 70 - Identificação dos pontos e trechos onde serão aplicados as abordagens

dos conceitos. ....................................................................................................... 134

Figura 71 - Seção esquemática P1: faixa de proteção a partir da delimitação do solo

hidromórfico na ocorrência de nascente – Restauração .......................................... 135

Figura 72 - Traçado da Av. Parque do Córrego Três Barras, conforme Lei no.

232/2011. .............................................................................................................. 136

Figura 73 - Corte transversal, trecho P2-P4, referente à Revitalização. .................. 137

Figura 74 - Layout do traçado da Av. Parque do Córrego Três Barras, ponto PC. .. 140

Figura 75 - Traçado da Av. Parque do Córrego Três Barras, ponto PC, referente à

Renaturalização..................................................................................................... 141

xiii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Resumo de projetos de restauração de cursos d’água urbanos em países

desenvolvidos. ........................................................................................................ 28

Tabela 2 – Métodos analíticos utilizados para cada variável. ................................... 62

Tabela 3 - Índices das classes de tipos de uso da terra da Microbacia do Córrego Três

Barras, por meio da técnica de tabulação de dados. ................................................. 90

Tabela 4 – Valores das variáveis físico-químicas e microbiológicas da água em

quatro pontos de coleta no Córrego Três Barras, Cuiabá-MT, no período de junho à

outubro de 2012. ................................................................................................... 125

xiv

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Unidades geomorfológicas da região onde se situa a Microbacia do

Córrego Três Barras. ............................................................................................... 13

Quadro 2 - Conceitos das zonas de uso e ocupação presentes na Microbacia do

Córrego Três Barras. ............................................................................................... 24

Quadro 3 – Formas de uma bacia hidrográfica. ....................................................... 32

Quadro 4 – Pesos para parâmetro de qualidade da água. .......................................... 39

Quadro 5 – Avaliação da qualidade da água em MT. ............................................... 40

Quadro 6 – Resumo de dados secundários levantados por meio de consultas

presenciais em órgãos e entrevistas. ........................................................................ 47

Quadro 7 – Localização dos pontos de coleta no córrego Três Barras, 2012. ........... 47

Quadro 8 – Padrão de qualidade para águas de Classe 2 – Resolução Conama 357/05.

............................................................................................................................... 60

Quadro 9 - Equipamentos e vidrarias utilizados para análise da água e suas funções.

............................................................................................................................... 61

Quadro 10 – Resultados da fisiografia da microbacia do córrego Três Barras. ......... 65

Quadro 11 - Índices urbanísticos para as zonas ZEX, ZUM, ZIAs e ZEIS. .............. 69

Quadro 12 - Bairros e localidades que compõem a Microbacia do Córrego Três

Barras. .................................................................................................................... 72

Quadro 13 - Abastecimento de água e coleta de esgoto na microbacia do córrego

Três Barras. ............................................................................................................ 88

Quadro 14 - Extensão e área de vias pavimentadas e não pavimentadas. ................. 89

Quadro 15 – Fatores e efeitos no processo de erosão laminar. ............................... 100

Quadro 16 - Coleta de lixo realizada por empresa privada. .................................... 120

Quadro 17 – Avaliação da qualidade da água na Microbacia do Córrego Três Barras

em Cuiabá-MT, 2012. ........................................................................................... 124

Quadro 18 – Quadro-síntese das metas e intervenções para os pontos de observação

ao longo do Córrego Três Barras. .......................................................................... 138

xv

RESUMO

SANTOS, Adriana Bussiki F. Avaliação ambiental da Microbacia do Córrego Três

Barras como subsídio para elaboração de um prognóstico na área de influência

da Avenida Parque em Cuiabá – MT. Cuiabá - MT, 2012. 168p. Dissertação

(Mestrado) – Programa de Pós-graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental,

Universidade Federal de Mato Grosso.

As médias e grandes cidades brasileiras têm em comum índices de

urbanização cada vez mais crescentes. A cidade de Cuiabá apresenta 98,1% de sua

população em áreas urbanizadas, fator que propicia uma ocupação desordenada do

solo, alicerçado em sua impermeabilização, e processos de ocupações irregulares

tanto em áreas públicas quanto em áreas privadas. A Microbacia do Córrego Três

Barras possui, como cenário, um ambiente com baixa qualidade ambiental, uma vez

que porções legais de áreas de preservação permanente são desrespeitadas, a

exemplo da supressão de áreas verdes, aterramento das margens do Córrego,

construção ilegal de habitações, bolsões de lixo e resíduo da construção civil, e

lançamento do esgoto doméstico in natura, culminando na descaracterização do

ambiente natural, ou seja, deixando de existir a APP funcional por não mais possuir o

solo hidromórfico (Gleissolo), presente em áreas de fundo de vale na porção não

antropizada. O diagnóstico na área de entorno do Córrego, representando o trecho

que receberá influência quando da implantação da avenida parque, foi fundamentado

no método VERAH, que tem como componentes Vegetação, Erosão, Resíduo, Água

e Habitação, oferecendo dados e informações capazes de contribuir na construção de

um o prognóstico com metas e intervenções necessárias à recuperação do corpo

hídrico e melhoria de índices ambientais da Microbacia.

Palavras-chave: Degradação Ambiental, Microbacia Urbana, Recuperação de Corpo

d’Água.

xvi

ABSTRACT

SANTOS, Adriana Bussiki F. Environmental Assessment of the Watershed of the

Stream Três Barras as a subsidy for development of a prognostic influence in

the area of Park Avenue in Cuiabá - MT. Cuiabá - MT, 2012. 168p. Dissertação

(Mestrado) – Programa de Pós-graduação em Engenharia de Edificações e

Ambiental, Universidade Federal de Mato Grosso.

The medium and large cities have in common indexes of urbanization

increasingly growing. The city of Cuiabá has 98.1% of its population in urban areas,

a factor that supports the disorderly occupations of land and building on its

waterproofing processes irregular occupations in public areas and in private areas

too. The Watershed of the Stream Três Barras has, as scenario, an environment with

low environmental quality, since portions of legal permanent preservation areas are

disregarded, such as the abolition of green areas, grounding the banks of the stream,

illegal construction of housing, stricken areas of garbage and construction waste, and

release of domestic sewage in nature, resulting in distortion of the natural

environment, in other words, to exist APP functional by no more owning the

hydromorphic soil (Ultisol), present in areas of valley bottom the portion not

disturbed. The diagnosis in the area surrounding the stream, representing the stretch

that receive influence when deploying Avenue Park, was founded in VERAH

method, which has components as Vegetation, Erosion, Residue, Water and Housing,

providing data and information that can help in building a prognosis with goals and

interventions necessary to the water body and improvement of environmental

indexes of the Watershed.

Keywords: Environmental Degradation, Urban Watershed, Restoration of Water

Bodies.

1

1. INTRODUÇÃO

A acelerada urbanização e o crescimento econômico por que passou Cuiabá, a

partir dos anos 70, provocaram impactos sobre os recursos hídricos, decorrente das

demandas intensificadas e diversificadas, por captação das águas de rios para os

abastecimentos nas suas diferentes categorias e consequente diluição no corpo

hídrico. Com o fenômeno da explosão demográfica, a cidade não dispunha de

estrutura suficiente para proporcionar aos milhares de migrantes que aqui chegavam.

Dentre os impactos negativos causados por esse fator identifica-se e convive-se com

frequentes e cotidianos conflitos, como o não cumprimento da legislação ambiental

acerca das áreas de preservação permanente (APP) ao longo dos corpos d’água

localizados na área urbana, contribuindo com os processos erosivos de suas margens

e deficiente qualidade da água pelos lançamentos de esgotos domésticos

clandestinos.

Segundo Jacobi (2004, apud Silva, 2005) a degradação ambiental acontece de

forma generalizada nas áreas urbanizadas, porém quando se trata de cursos d’água

estes requerem uma atenção especial por receberem 2/3 da contaminação total,

oriundos dos esgotos domésticos.

Assim, as médias e grandes cidades brasileiras vivenciam um grande desafio

no sentido de encontrar um equilíbrio na busca por um cenário de estabilidade entre

os fatores econômico, social, político e ambiental.

Atualmente 84,4% da população do Brasil ocupam o espaço urbano (IBGE,

2010). Essa acelerada urbanização, na maioria das vezes sem planejamento, acaba

por desencadear um desequilíbrio socioambiental, como a falta de moradias,

provocando um déficit habitacional crescente. Destacam-se, como consequência da

urbanização informal, as frequentes ocorrências de enchentes, a produção de

sedimentos e poluição das águas dos rios pela falta de saneamento básico,

representando graves problemas, impactando na qualidade da saúde das pessoas e da

própria água com a falta de tratamento dos despejos domésticos e industriais e, ainda,

somando-se a isso, o lançamento de cargas de pesticidas de uso agrícola.

A cidade de Cuiabá não se encontra em cenário diferente. Conforme o Censo

de 2010, a capital passa a apresentar 98,1% da população em áreas urbanizadas,

sendo que o seu crescimento urbano encontra-se alicerçado na impermeabilização do

2

solo provocada, principalmente, pelos processos decorrentes das ocupações

irregulares em áreas públicas, ou ainda privadas, com produção de habitações ilegais,

onde a classe de renda baixa passou a fazer autoconstruções e a ocupar loteamentos

clandestinos periféricos, tendo como consequência a ampliação do déficit

habitacional e o crescimento das desigualdades sociais. A falta de programas e

projetos socioambientais integrados entre as três esferas de governo é um dos fatores

que contribui para a ausência de oferta habitacional para uma classe de renda

constituída de zero a um salário mínimo, principais construtores de habitações

clandestinas. Na maioria dos casos, essa ação tem como ponto de partida as margens

dos córregos urbanos, desencadeando problemas referentes à qualidade da água desse

corpo hídrico, receptor de um efluente sem tratamento. Concomitante a essa

problemática, as construções de canalizações artificiais para o escoamento de águas

de chuva contribuem com o aumento de escassez da água em função da baixa

eficiência dos sistemas hídricos, bem como as contaminações e baixo percentual de

reaproveitamento da água.

A Microbacia do Córrego Três Barras, objeto desta pesquisa, encontra-se

localizada em uma região que possui uma situação socioambiental crítica, originada

quase que totalmente por ocupações irregulares, fato este que fragiliza o pleno

funcionamento do sistema de abastecimento de água dos bairros e loteamentos

localizados no seu entorno, os quais foram legalmente constituídos. Dessa forma,

também subtraem destes a qualidade ambiental, frequentemente provocada pela

supressão de áreas verdes e pelo lançamento de esgoto doméstico in natura. Porções

legais de APP são desrespeitadas, ocasionando o processo de aterramento do solo e

posterior construção de casas, que se voltam de costas para o córrego, fazendo deste

o caminho mais próximo para o lançamento de águas servidas in natura no corpo

d’água principal e até mesmo seus tributários.

Por outro lado, prevê-se a implantação de uma avenida-parque ao longo do

Córrego Três Barras, exigindo conhecimento mais apurado do ambiente natural e

alterado pelas formas de ocupação urbana e rural, verificadas em sua bacia

hidrográfica, de maneira a contornar os impactos ambientais atualmente existentes e

minimizar impactos futuros em consequência das obras a serem implementadas.

3

Neste sentido, visando subsidiar ações voltadas ao controle da degradação

ambiental, esta dissertação contempla o diagnóstico geral da Microbacia do Córrego

Três Barras, envolvendo análise de dados secundários existentes, sendo

complementados por pesquisas em órgãos públicos e por meio de interpretação de

imagens através da técnica de classificação visual. Análise ambiental mais detalhada

foi realizada com a aplicação do Método VERAH, identificando os componentes da

vegetação, erosão, resíduo, água e habitação, tendo como área de influência a área de

entorno do Córrego Três Barras, por meio de diagnóstico realizado em campo, com

registros fotográficos. Tal análise permitiu a elaboração de prognósticos com ênfase

nas intervenções urbanísticas envolvidas com a implantação da Avenida Parque do

Córrego Três Barras.

Essa avenida tem sua implementação assegurada pela Lei de Hierarquização

Viária municipal, Lei no. 232/2011, tendo esta o objetivo principal de integrar os

corredores ecológicos formados pelas APPs e demais zonas de interesse ambiental

(ZIA) existentes e criadas. Esse prognóstico será apresentado na forma de cortes

parciais, com sugestões pontuais das principais metas e intervenções, com o objetivo

de poder subsidiar, no futuro, os planos de bacias hidrográficas a serem implantadas

na cidade de Cuiabá, por meio de uma proposta de restauração do corpo d’água

urbano, auferindo que melhorias representariam em relação à vegetação, erosão,

resíduos, água e habitação, capazes de contribuir para uma sadia qualidade de vida e

meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações.

1.1 JUSTIFICATIVA

Durante várias décadas a Microbacia do Córrego Três Barras foi cenário de

ocupações irregulares ou, ainda, assentamentos informais, propiciando uma corrida

em desvantagem ao Município, ficando sempre aquém das demandas necessárias

para suprir a infraestrutura dos diversos loteamentos clandestinos que ali foram se

agrupando. Esse processo de ocupação desordenada sem o acompanhamento da

infraestrutura necessária tem resultado em um quadro crítico do ponto de vista do

prejuízo da qualidade da água e do desequilíbrio ambiental urbano, somando-se a

esses fatores o baixo percentual de esgoto coletado e tratado, a intermitência no

4

abastecimento nessa região, e ainda, o acúmulo dos resíduos sólidos domésticos e da

construção civil, com surgimento de bolsões de lixos, estendendo-se gradualmente na

área da microbacia e ao longo das margens do córrego. Somado a essas práticas as

ocupações indevidas de moradias em APPs, pela dificuldade existente de fiscalização

no cumprimento da atribuição do poder de polícia a ser exercido pelo Município.

Para tanto, este trabalho propõe-se a contribuir, a partir do diagnóstico

levantado, juntamente com a elaboração de um prognóstico (expresso pelo

planejamento de uso do solo), com um produto que possa colaborar com futuros

programas institucionais de ordem urbanístico-ambiental, ou, ainda, dando subsídios

para os planos de bacias hidrográficas a serem implantadas na cidade de Cuiabá.

1.2 OBJETIVOS

Tem-se como objetivo geral realizar o diagnóstico ambiental da Microbacia

Hidrográfica do Córrego Três Barras, voltado à implantação da Avenida Parque, de

maneira a subsidiar a minimização dos impactos causados pelo processo de ocupação

desordenada, em especial na área de entorno do córrego, tendo a Microbacia como

unidade de planejamento e gestão.

Para tanto, constituem-se objetivos específicos:

Caracterizar a Microbacia de acordo com a interação entre os aspectos de

vegetação, erosão dos solos, qualidade da água, assoreamento do curso d’água,

situação da habitação e urbanização, e disposição dos resíduos;

Identificar as causas dos processos de degradação ambiental da Microbacia,

que se reflete ao longo do curso d’água, e confrontá-las com as legislações

pertinentes;

Identificar a dinâmica espacial e temporal do processo decorrente de uso e

ocupação do solo, verificando a sua conformidade com a legislação pertinente;

Definir uma metodologia a partir da combinação de várias técnicas, com

definição de indicadores que permitam representar e avaliar as condições ambientais

que refletem a realidade específica da área em estudo;

Identificar os fatores determinantes para mudança desse cenário atual, por

meio do planejamento urbano, da infraestrutura existente, dos investimentos e

5

empreendimentos realizados, com proposta por meio de um prognóstico com metas e

intervenções a serem aplicadas.

1.3 HIPÓTESE DA PESQUISA

O processo de uso e ocupação do solo da Microbacia do Córrego Três Barras

tem gerado impactos ambientais negativos, até mesmo irreversíveis, às condições

naturais, constituindo um passivo ambiental, fruto de décadas de urbanização mal

planejada, que inclui a degradação e/ou destruição de APPs de nascentes e cursos

d’água, poluição e contaminação das águas fluviais, erosão das margens dos

córregos, disposição indevida de resíduos e comprometimento da qualidade

habitacional.

É possível elaborar um planejamento integrado, que indique as ações

necessárias para a máxima redução e mitigação dos problemas identificados, para

que a Via Parque do Córrego Três Barras seja implantada de maneira a

compatibilizar a urbanização com a conservação ambiental.

Dessa forma, a presente dissertação encontra-se organizada em oito capítulos,

a partir da introdução supra apresentada, contendo a problemática, a justificativa, os

objetivos delimitados e a hipótese de pesquisa.

O capítulo 2 apresenta a área de estudo, com respectiva localização da

Microbacia do Córrego Três Barras, sendo georreferenciada em relação às bacias

hidrográficas que banham o estado de Mato Grosso e a sub-bacia do rio Coxipó.

O capítulo 3 revela a caracterização da Microbacia quanto aos seus aspectos

geológicos, geomorfológicos, pedológicos, de vegetação e clima. Assim, expõe a

forma de relevo, as ocorrências minerais apresentadas na área de estudo, o tipo de

solo, e as principais espécies vegetais encontradas nesse habitat.

O capítulo 4 refere-se à Revisão Bibliográfica, que repousa sobre técnicas de

planejamento urbano-ambiental voltadas à sustentabilidade, abrangendo conceitos e

abordagens de recuperação de cursos d’água, assim como discorre sobre as

ferramentas de análises ambientais, tendo como princípios a visão holística e

integrada, sendo a microbacia urbana unidade de planejamento e gestão.

6

O capítulo 5 apresenta o roteiro metodológico com os respectivos materiais

utilizados, a partir do levantamento de dados secundários e primários e suas inter-

relações, demonstrando as técnicas de geoprocessamento e do método VERAH. O

primeiro aplica-se em área mais abrangente, ou seja, na microbacia como um todo, e

o segundo delimita-se a área de entorno do Córrego, o qual representa área de

influência da avenida parque, analisando aspectos ambientais quanto à vegetação,

erosão, resíduo, água e habitação.

No capítulo 6 encontram-se os Resultados e Discussão da pesquisa, referentes

à análise fisiográfica da microbacia; ao histórico da evolução urbana; a

disponibilidade de infraestrutura existente quanto ao abastecimento de água,

esgotamento sanitário e pavimentação asfáltica; o diagnóstico geral da microbacia

por meio de classificação visual de imagem; e o diagnóstico da área de entorno do

Córrego Três Barras com aplicação do método VERAH, abordando os temas de

vegetação, erosão, resíduo, água e habitação.

O capítulo 7, denominado Prognóstico, tem como objetivo apresentar um

quadro-síntese, contendo metas e intervenções que visem a minimizar os impactos

ambientais negativos existentes, contribuindo como subsídios e diretrizes para a

futura implantação da Avenida Parque do Córrego Três Barras.

Por fim, no capítulo 8 destacam-se as conclusões desta dissertação, de forma

a confirmar a hipótese da pesquisa estabelecida na introdução.

7

2. ÁREA DE ESTUDO

O estado de Mato Grosso constitui berço para três bacias hidrográficas: a

Amazônica, a do Tocantins e a do Paraguai, sendo que nesta última, a porção que,

banha o Estado assume a denominação de Bacia do Alto Paraguai (BAP) (Figura 1),

representando 4% da área total do país (PNRH, BRASIL, 2006). É na Bacia do Alto

Paraguai que se insere a Bacia do Rio Cuiabá, sendo que a região hidrográfica do

Médio Cuiabá é a que concentra grande parte da população do Estado, incluindo-se

nela sua capital (Figura 1). PCBAP (1997) apud SALOMÃO e FIGUEIREDO

(2009).

O município de Cuiabá está situado na região conhecida como “Baixada

Cuiabana”, que expressa a forma de relevo caracterizado pela “Depressão Cuiabana”,

perfazendo uma área de 36.493km2, correspondente a 7,4% do território do estado de

Mato Grosso. Assim, da área que integra a “Baixada Cuiabana”, o município ocupa

3.538 km2, sendo 254,57 km

2 correspondes à macrozona urbana de Cuiabá.

Figura 1 - Localização da Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai e Bacia Hidrográfica do Rio

Cuiabá e, nesta, inserida a Sub-bacia do Rio Coxipó.

Fonte: Adaptado do PNRH-MMA, BRASIL, 2006.

8

O rio Coxipó representa um dos principais tributários do rio Cuiabá

(SALOMÃO e FIGUEIREDO, 2009), sendo que a sub-bacia deste rio possui a maior

área de drenagem dentre todas as demais e, conforme Lima Rondon e Lima (2009,

p.142), esta é “uma das mais importantes no contexto da bacia do rio Cuiabá”, uma

vez que representa significativo potencial para a prática do ecoturismo na zona rural

e para o “abastecimento de água das populações integrantes de sua área de drenagem

como, por exemplo, a ETA Tijucal (Estação de Tratamento de Água), cuja captação

contribui aproximadamente com 30% do total da água abastecida na grande Cuiabá”,

correspondendo a 27% do total das economias de água.

Esta sub-bacia é berço da Microbacia do Córrego Três Barras (Figura 2),

com área de 22 km2, sendo 30,56% da área total inserida na zona rural da cidade de

Cuiabá.

Figura 2 - Localização da Microbacia do Córrego Três Barras em relação a Sub-bacia do Rio

Coxipó.

Fonte: A autora.

A área em estudo localiza-se nas Regiões Norte e Leste da cidade (Figura 3).

A Região Norte, na sua totalidade, é composta por dez bairros e setenta e duas

localidades e área de expansão urbana, delimitada pelo perímetro urbano, contando

com uma população total de 120.924 pessoas. A Região Leste conta com 49

(quarenta e nove) bairros e 115 (cento e quinze) localidades e área de expansão

urbana.

9

Figura 3 – Localização da Microbacia do Córrego Três Barras na cidade de Cuiabá.

Fonte: A autora.

10

3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

Este item apresenta as características gerais da Microbacia do Córrego Três

Barras, enfatizando sua localização, onde foram abordados os seguintes aspectos

com suas respectivas características: clima, geologia, geomorfologia, pedologia,

vegetação e uso do solo. Posteriormente será apresentada a evolução urbana dos

bairros pertencentes à Microbacia, por meio de seu processo histórico de uso e

ocupação da área em estudo.

3.1 ASPECTOS GEOLÓGICOS

A área urbana de Cuiabá encontra-se regionalmente inserida na sequência de

metassedimentos detríticos do Pré-Cambriano Superior que constitui o Grupo

Cuiabá, sendo representado por rochas metamórficas de baixo grau de

metamorfismo, que apresentam variedade litológica em ambiente de deposição e/ou

tectônico. RADAMBRASIL (1982).

Luz et al. (1980), apud RADAMBRASIL (1982) reconheceram no Grupo

Cuiabá nove subunidades litoestratigráficas, sendo que a área em estudo pertence à

subunidade 5 e à subunidade 6, conforme expresso na Figura 4.

11

Figura 4 – Mapa geológico da microbacia do córrego Três Barras.

Fonte: Adaptado de SIG Cuiabá (2006).

3.1.1 Ocorrências Minerais

Correa e Couto (1972) apud RADAMBRASIL (1982) observaram grande

quantidade de veios de quartzo, os quais atribuem, no município de Cuiabá, serem

estes os responsáveis pelas ocorrências de “ouro aluvionar”, fato que ocasionou, no

período entre 1983 e 1985, uma recente corrida ao ouro, levando à abertura de novas

áreas de exploração, abrindo frente ao garimpo do Mineiro e garimpo do CPA.

(SILVA et al., 2003).

O Garimpo do Mineiro, conforme Santos (2008), situa-se na porção imediata

ao aterro sanitário de Cuiabá, sendo que este se localiza no divisor de águas das

bacias do Ribeirão do Lipa, com o Córrego do Doutor e o Córrego Três Barras, e o

garimpo do CPA na região da Morada da Serra, área urbana da cidade pertencente à

microbacia do Córrego Três Barras (Figura 5).

12

Figura 5 – Mapa de ocorrências minerais na Microbacia do Córrego Três Barras.

Fonte: Adaptado de SIG CUIABÁ. V. 2. CPRM – Serviço Geológico do Brasil, 2006. (THOMÉ

FILHO, J. J. (Org.).

De acordo com Lacerda Filho et al. (2004), apud SIG Cuiabá (2006) estudos

realizados pelo DNPM e IBGE apontam que de 1986 a 1990 a produção de ouro da

região da Baixada Cuiabana foi de 14.403kg, e de 1991 a 1995 a produção

garimpeira atingiu 14.927kg, portanto superior em 4.494kg a das empresas de

mineração. Em média foram 4 toneladas/ano no período de 1991 a 1995,

correspondendo a 6% da produção aurífera brasileira.

3.2 ASPECTOS GEOMORFOLÓGICOS

A geomorfologia caracteriza-se por um ramo do conhecimento, ou das

geociências, em que se desenvolvem “métodos de análise genética próprios e tendo

como objeto de estudo as formas do relevo” (ROSS, 2001, p.357), o que a coloca

como elemento fundamental para aplicação de interesse ambiental.

As regiões geomorfológicas representam, na Depressão Cuiabana, os

domínios morfoesculturais, consistindo de grandes unidades de relevo “geradas pela

ação climática ao longo do tempo geológico, no seio da morfoestrutura”,

13

caracterizando-se nos Planaltos, Depressões e Planícies (Ross, 1992, apud SIG

Cuiabá, 2006, p.99).

A Depressão Cuiabana, inicialmente definida por Almeida (1964) como

Baixada Cuiabana, foi descrita por Ross e Santos (1982), apud SIG CUIABÁ (2006)

como uma subunidade geomorfológica da Depressão do Rio Paraguai, referindo-se à

área topograficamente rebaixada, com altitudes entre 200 e 450m, delimitada pela

Província Serrana de norte a oeste; pela Chapada dos Guimarães, Planaltos Arruda-

Mutum e São Vicente-São Jerônimo a leste; e pelo Pantanal Mato-grossense ao sul.

Conforme as unidades geomorfológicas (Quadro 1), pode-se ilustrar as

características regionais representadas pelos terrenos muito próprios da Depressão

Cuiabana, associadas à morfoestrutura (1º táxon), “que é caracterizada na escala

temporal, como algo mais antigo”, sendo a morfoescultura (2º táxon) de idade menos

antiga, uma vez que são esculpidas sobre a morfoestrutura. (ROSS, 2001, p. 358).

Quadro 1 – Unidades geomorfológicas da região onde se situa a Microbacia do Córrego Três

Barras.

Morfoestrutura

1º Táxon

Morfoescultura

2º Táxon

Região Geomorfológica

Unidade Morfológica

Faixa de Dobramentos

Paraguai – Araguaia

Depressão Cuiabana Depressão Dissecada

Fonte: Adaptado de Sistema de Informação Geoambiental de Cuiabá, Várzea Grande e Entorno – SIG

CUIABÁ. Vol. 2, Mapas. Ministério de Minas e Energia. Secretaria de Geologia, Mineração e

Transformação Mineral. CPRM – Serviço Geológico do Brasil, 2006.

3.2.1 Formas de Relevo

A Microbacia do Córrego Três Barras apresenta formas de relevo

diversificadas sobressaindo as dissecadas em Colinas Médias e Morrotes com

controle estrutural, sob influência da Faixa de Dobramentos Paraguai-Araguaia,

conforme Figura 6.

14

Figura 6 - Mapa geomorfológico da Microbacia do Córrego Três Barras.

Fonte: Adaptado de SIG Cuiabá (2006)

As Colinas Médias predominam como formas de relevo na área mapeada,

ocupando cotas entre 180 e 240 metros, onde se localiza a maior parte da área urbana

adensada. Apresentam média dissecação, pequena amplitude, declividade média de

15%, interflúvios médios, topos extensos, arredondados, perfis das vertentes

convexosas retilíneos, densidade de drenagem média, padrão sub-retangular a

dendrítico, vales abertos a fechados.

A forma de relevo caracterizada como Morrotes apresenta-se na porção

noroeste da Microbacia, sustentados por veios de quartzo, que se destacam no

interior da Depressão Dissecada, ocupando cotas de 200 a 240 metros de altitude.

Esta forma de relevo apresenta dissecação média, declividade média,

amplitude pequena a média, topos restritos e arredondados, vertentes com perfil

convexo a retilíneo, média densidade de drenagem, interflúvios médios, padrão

dendrítico e vales fechados a abertos.

15

3.3 ASPECTOS PEDOLÓGICOS

A pedologia é um ramo do conhecimento das Ciências da Natureza que tem

como objetivo o estudo dos solos.

O mapa de solos, segundo Resende (1995), apud SIG Cuiabá (2006, p. 130) é

uma “estratificação de ambientes, que possibilita separar áreas para os diversos fins,

além de fornecer subsídios para programas especiais de conservação de solos e

preservação do meio ambiente”, através de informações sobre as características

químicas, físicas, mineralógicas e ambientais dos solos.

Conforme informação geoambiental disponível em SIG CUIABÁ (2006), a

cobertura pedológica na região da microbacia hidrográfica em estudo caracteriza-se

por possuir solos com espessura relativamente pequena (Neossolos Litólicos,

Cambissolos e Plintossolos), dificultando a infiltração das águas de chuva que

tendem ao escoamento superficial, enquanto que a declividade média das vertentes,

dificilmente superior a 15%, permite controlar com relativa facilidade a energia do

escoamento das águas, especialmente quando tais áreas encontram-se cobertas por

vegetação. Entretanto, quando desprovidas da cobertura vegetal, desenvolvem-se

facilmente os processos erosivos por erosão laminar e linear, sulcos e ravinas pouco

profundas, devido à pequena espessura dos solos.

Os fundos de vales e cabeceiras de drenagem, por apresentarem surgências

d’água e lençol freático de pequena profundidade permitem, quando interceptados, a

instalação de boçorocas. (SIG CUIABÁ, 2006).

Identificou-se a ocorrência das seguintes unidades mapeadas nessa área,

conforme Figura 7.

16

Figura 7 – Mapa pedológico da Microbacia do córrego Três Barras.

Fonte: Adaptado de SIG Cuiabá (2006).

3.4 ASPECTOS DA VEGETAÇÃO

A identificação dos padrões de uso do solo e cobertura vegetal representa o

processo de adequação dos recursos naturais, “constituindo-se em importante

elemento de análise para a avaliação da qualidade do ambiente na área de estudo”.

(SIG CUIABÁ, 2006, p. 28). Dessa forma, o mapeamento desses padrões representa

a distribuição espacial das atividades econômicas desenvolvidas na região,

fornecendo subsídios básicos para o planejamento, como um instrumento para

orientar a intervenção humana no território e, preservar os maciços de vegetação

remanescentes.

Conforme RADAMBRASIL (1982), a região da Savana (Cerrado) de Mato

Grosso pode ser caracterizada como sendo uma vegetação xeromórfica, ou seja, com

grande capacidade de armazenar água, sendo sua fisionomia diversificada, variando

de arbórea densa a gramíneo-lenhosa.

As composições florísticas da Savana, originalmente, apesar de serem

bastante heterogêneas, as espécies se repetem com muita frequência na área objeto

deste estudo, porém encontra-se apenas presente na zona rural, sendo classificada

como formação Savana Arbórea Aberta ou Campo Cerrado, Figura 8.

17

O Campo Cerrado constitui-se em uma formação de fisionomia campestre,

com predominância de vegetais baixos (aproximadamente 5 metros de altura) e

estruturas abertas, de “fustes finos e tortuosos, esparsamente distribuídos sobre o solo

recoberto por um estrato graminoide contínuo, entremeado de plantas lenhosas

raquíticas e palmeirinhas acaules”. (RADAMBRASIL, 1982, p.337).

Figura 8 – Espécie vegetal encontrada com frequência na área rural da Microbacia do Córrego

Três Barras.

Essa formação ocupa áreas que representam solos areníticos concrecionários,

habitando clima tropical, onde se destaca, mais frequentemente, algumas espécies

mais encontradas: lixeira (Curatella americana), capitão do campo (Terminalia

argentea), pau-santo (Kielmeyera coriácea), ipê-caraíba (Tabebuia caraíba) e

araticum (Annona crassifólia), ipê-do-cerrado (Tabebuia caraíba), pequizeiro

(Caryocar brasiliensis), mangaba (Hancornia speciosa), muricis (Byrsonima sp).

3.5 ASPECTOS CLIMÁTICOS

Segundo Bombled (s/d) apud IPDU (2010), a cidade de Cuiabá possui um

clima essencialmente tropical continental, mas com algumas variantes típicas do

lugar, apresentando dois períodos distintos: o chuvoso, com duração de oito meses, e

o seco, com duração de quatro meses. Em especial nos primeiros meses do período

chuvoso, a temperatura é mais elevada, frequentemente começando e terminando por

ventanias violentas acompanhadas de descargas elétricas. Nessa época do ano a

pressão atmosférica mantém-se alta, permitindo suportar as temperaturas mais

elevadas, conferindo alta umidade ao ar e, assim, apresentando um clima tropical

continental úmido.

Curatella americana - Lixeira

18

É importante destacar que no período de janeiro de 2008 a janeiro de 2010 a

distribuição temporal da precipitação ocorreu de maneira diferente no município de

Cuiabá, conforme Silva (2010). O primeiro ano pode ser considerado como um ano

típico na distribuição das chuvas, porém com precipitação total abaixo da precipitação

média anual (1.077,90 mm), enquanto que o ano de 2009 foi um ano mais chuvoso que

a média histórica anual (Figura 9).

Figura 9 – Precipitações anuais para o período de 1989 à 2012.

Fonte: A partir de dados da Estação Climatológica Mestre Bombled – FAET/DESA, UFMT (2013).

Entre os meses de junho a setembro, estende-se o período seco (Figura 10),

havendo alguns anos com períodos mais prolongados e em outros casos com

antecipação do período para o mês de maio, demonstrado pela Figura 10, ano de

2010 e 2011, representando maior permanência da estiagem. Nessa situação a

umidade do ar, em certos dias, desce a uma percentagem mínima que varia de 18% a

40%, caracterizando, nesses meses, o clima como tropical continental seco. Nesse

período ocorrem as frentes frias, permanecendo poucos dias e reaparecendo a

intervalos mais ou menos prolongados.

Figura 10 – Distribuição do período seco entre os anos de 2009 à 2012.

Fonte: Estação Climatológica Mestre Bombled – FAET/DESA, UFMT (2013).

19

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Neste capítulo serão abordadas as experiências já realizadas quanto às

técnicas de planejamento voltadas à sustentabilidade, tendo como unidade de

planejamento a Microbacia Hidrográfica. Este planejamento encontra-se

fundamentado no conceito holístico de Planejamento Sustentável por meio de

Microbacia Hidrográfica como Unidade de Gestão, sendo sua prática demonstrada

por meio do subitem: Restauração de Cursos d’Água.

4.1 PLANEJAMENTO SUSTENTÁVEL DE ÁREAS URBANAS

Frequentemente, a atuação dos municípios se limitava às questões de

saneamento, com apenas o abastecimento à população urbana e a algumas iniciativas

de canalização de águas servidas. O interesse por questões mais amplas, ligadas ao

conceito de gestão por bacias hidrográficas, só começou a ocorrer depois que a

poluição e a escassez das águas levaram os municípios a índices críticos de

disponibilidade desse bem finito.

Silveira (2004) conceitua a Bacia Hidrográfica, e por extensão a Microbacia

Hidrográfica como uma área de captação natural da água da precipitação que faz

convergir os escoamentos para um único ponto de saída, seu exutório.

A ideia de gestão por bacias hidrográficas encontra-se relacionada à

sustentabilidade e, esta, à “persistência de certas características necessárias e

desejáveis de pessoas, suas comunidades e organizações, e os ecossistemas que as

envolvem, dentro de um período de tempo longo ou indefinido”. (HARDI e ZDAN,

1997, apud BELLEN, 2006, p.31). Dessa forma, para se conquistar a

sustentabilidade deve-se alcançar o “bem-estar humano e dos ecossistemas, sendo

que o progresso em cada uma dessas esferas não deve ser alcançado à custa da

outra”, quando se trata de um “processo dinâmico de evolução”. (Idem).

Para Costanza e Patten (1995), apud Bellen (2006), um sistema sustentável é

aquele que “sobrevive ou persiste”, porém só se consegue constatar isso

posteriormente.

O pensamento de Rutherford (1997), apud Bellen (2006, p.33) volta-se para a

afirmação de que “o maior desafio do desenvolvimento sustentável é a

20

compatibilização da análise com a síntese”, estimulando a construção de um

desenvolvimento em que os indicadores possam demonstrar essa tendência,

compatibilizando o “nível macro com o micro”. Assim, no primeiro entende-se a

situação do todo, de maneira geral; e o segundo é o nível onde se tomam as decisões,

contendo as informações importantes para as fundamentais modificações de rumo,

seja no planejamento ou ainda na aplicabilidade das ações. Para tanto, faz-se

necessária, nesse entendimento, uma “abordagem holística se o objetivo é a

compreensão mais clara do que seja um desenvolvimento ambientalmente

sustentável e como se devem construir seus indicadores”. (Idem)

Ross (2001, p.352) expressa essa abordagem holística a partir do plano

socioeconômico e ambiental de uma sociedade que vive em um determinado lugar,

necessitando, portanto, de um prévio conhecimento de sua história, de seus padrões

culturais, qual a dinâmica socioeconômica atual, os seus vínculos com o “mundo

externo”, quais são os recursos naturais/ambientais disponíveis e de que modo

tratam-se esses recursos (o ambiente).

Almeida e Guerra (2011) sintetizam o conceito de desenvolvimento

sustentável, por meio de uma abordagem holística com o seguinte parágrafo:

O desenvolvimento sustentável é algo mais do que um compromisso entre

ambiente físico e o crescimento econômico. Ele significa uma definição que reconhece, nos limites da sustentabilidade, origens não só naturais,

como também estruturais. Cabe, assim, reconhecer na relação homem-

natureza os processos históricos, através dos quais o ambiente é

transformado, e a sustentabilidade será decorrência de uma conexão entre

movimentos sociais, mudança social e, consequentemente, possibilidade

de políticas mais efetivas. (ALMEIDA e GUERRA, 2011, p. 253)

Entende-se, nesse caso, que toda ação em prol de um desenvolvimento

sustentável para o meio ambiente e seus habitantes inicia-se por meio de uma

pesquisa do ambiente que se quer conhecer e diagnosticar e, segundo Ross (2001),

realizando as análises ambientais, onde a natureza é observada como recurso sendo,

assim, um suporte para a sobrevivência humana, e tornando-se possível “elaborar

prognósticos aplicáveis no Planejamento”.

Isso remete ao entendimento de que toda pesquisa ambiental tem como objeto

de análise principal a sociedade entendida aqui como uma comunidade habitando

determinado território, que pode ser definido por região, bacia ou ainda microbacia

21

hidrográfica, e o modo como se apropriam dos recursos naturais disponíveis nesses

habitats.

Ross (2001, p. 353) enfatiza, sobretudo, que é por meio do entendimento do

passado que se permite uma real “radiografia” do presente, possibilitando antever o

futuro pelo quadro tendencial. Esses cenários futuros projetados vinculam-se às

“ações intervencionistas das forças integrantes que se definem por políticas atreladas

a um processo de planejamento estratégico, que contemple o desenvolvimento

econômico e social” dentro de um entendimento de conservação e preservação dos

recursos naturais disponíveis, assim como os bens naturais e culturais.

Nessa direção, alguns autores consideram a microbacia hidrográfica o espaço

territorial mais apropriado em se tratando de bacia hidrográfica urbana como unidade

de diagnóstico ambiental e, consequentemente, de planejamento, tendo como

principais vantagens os seguintes argumentos abordados por Oliveira et al. (2008),

apud Guedes (2010, p. 49):

O critério de delimitação do espaço representa o componente

(meio físico) mais permanente ao longo do tempo, pois o componente

biótico é o primeiro a sofrer alterações drásticas quando se inicia o

processo de ocupação, por meio do desmatamento, e o componente

antrópico está sempre em contínua mudança.

A microbacia delimita um terreno onde se manifesta o

comportamento da água que comanda os processos superficiais de erosão,

assoreamento, etc., que expressam uma maior ou menor estabilidade

ambiental física.

A bacia hidrográfica, como todos os sistemas, pode ser

decomposta em outras menores, ou se agregar a outras, compondo bacias

maiores. (...)

A bacia hidrográfica vem sendo considerada unidade de

planejamento para questões ambientais, destacando-se a criação e

funcionamento dos Comitês de Bacias segundo a Política Nacional de

Recursos Hídricos e os programas de Microbacias Rurais para a

conservação do solo e da água.

A microbacia independe da distribuição dos bairros, se são mais

ricos ou mais pobres, contemplando todos que estão presentes no seu

espaço, constituindo, portanto, um espaço fisicamente democrático.

Sabe-se que a ocupação urbana da microbacia pelo homem transforma

drasticamente o cenário anterior à ocupação, substituindo o seu estado natural e

transformando-o em outro ambiente, provocado por processos com impactos

negativos, conhecidos como antrópicos.

Tucci (2004) aponta que a ocupação da bacia pela população gera duas

preocupações distintas, quais sejam: o impacto do meio sobre a população através

22

das enchentes e o impacto do homem sobre a bacia, na preservação do meio

ambiente.

Assim, há de se considerar que a ação do homem no planejamento e

desenvolvimento da ocupação do espaço na Terra “requer cada vez mais uma visão

ampla sobre as necessidades da população, os recursos terrestres e aquáticos

disponíveis e o conhecimento sobre o comportamento dos processos naturais na

bacia, para racionalmente compatibilizar necessidades crescentes com recursos

limitados”. (TUCCI, (2004, p. 31).

Tomando como princípio essa visão integrada na busca por soluções que

minimizem os impactos ambientais negativos, tendo como foco o planejamento e

desenvolvimento de uma microbacia urbana sustentável, enfatizando-se a saúde da

população por meio da capacidade de retorno da vida aquática do córrego ao longo

do tempo, é que Tucci (2004, p.240) indica ser necessário desenvolver estratégias

dentro de duas plataformas principais, quais sejam:

- Controlar os impactos existentes através do cenário de ações corretivas

estruturais que tratam da gestão por sub-bacias urbanas; e

- Medidas não-estruturais que levam aos novos desenvolvimentos a

utilizarem um desenvolvimento com menor impacto e sustentável.

Tais medidas podem ser implementadas por meio do instrumento Plano

Diretor, o qual institui diretrizes por meio do estabelecimento de seus Planos

Setoriais Municipais, como os de Meio Ambiente, Drenagem Urbana, integrados

com o Plano de Saneamento e a Lei de Uso e Ocupação do Solo, onde estes

instrumentos de planejamento municipal se correlacionam com as legislações

estadual e federal. Assim, a Figura 11 identifica, em síntese, os espaços adequados

quanto à esfera municipal responsável pela elaboração do planejamento urbano e seu

consequente gerenciamento.

23

Figura 11 – Espaços Institucionais de Planejamento e Gerenciamento.

Fonte: Adaptado de Tucci (2004, p. 244).

No âmbito federal, a Lei no.

9.433, de 08.01.1997, institui a Política Nacional

de Recursos Hídricos - PNRH e cria o Sistema Nacional de Recursos Hídricos,

estabelecendo fundamentos importantes (art. 1º, §IV e V), onde dispõe,

respectivamente, que a “gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso

das águas” (consumo humano, produção de energia, transporte, lançamento de

esgotos), sendo que a bacia hidrográfica é a “unidade territorial para implementação

da PNRH e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos”,

uma vez que a lei estabelece que a água fica instituída como um recurso natural

finito.

De sorte que essa Política Nacional visa à “integração da gestão de recursos

hídricos com a gestão ambiental”, articulando, também, a gestão desses recursos com

o uso do solo, contando com a participação do Poder Público, usuários e

comunidades.

Assim, o Plano Diretor constitui um importante instrumento do planejamento

municipal de integração entre as políticas públicas, nos âmbitos federal, estadual e

municipal, conferindo ao Plano ser o instrumento básico da política e expansão

urbana, no qual os gestores públicos e a iniciativa privada encontram diretrizes que

apontam para um ordenamento e desenvolvimento urbano equilibrado, propiciando

24

uma sadia qualidade de vida à população, com acesso a condições seguras de

qualidade do ar, do solo, da água, de alimentos e de habitação em áreas livres de

resíduos e poluição.

A cidade de Cuiabá teve o seu Plano Diretor revisado em 2007, quando o

Plano Diretor de Desenvolvimento Estratégico - PDDE teve como premissa

expressar que tipo de cidade a população almejava para as presentes e futuras

gerações, levando-se em consideração a feição do ambiente construído e qual o

traçado urbano-ambiental em que a cidade deveria se transformar, refletindo,

consequentemente, na estética da cidade.

Para tanto, o PDDE definiu princípios estratégicos voltados a ações de

preservação e recuperação do ambiente natural e construído, compreendendo em

especial: a promoção da qualidade de vida; a justiça e redução das desigualdades

com inclusão social; o direito à Cidade para todos. Determinou a incorporação dos

rios e córregos do Município, suas margens e áreas inundáveis como elementos

estruturais e de composição, através de formas de uso e ocupação adequados à sua

preservação.

Assim, para a efetivação do Plano Diretor de um município, a Lei de Uso,

Ocupação e Urbanização do Solo - LUOUS constitui-se um dos principais

instrumentos, previstos no Estatuto da Cidade, capazes de alcançar tal objetivo, que,

somados a legislações de saneamento e recursos hídricos, em nível federal e estadual,

cumprem com o papel de serem promotores de uma gestão municipal integrada.

Nesse sentido, com o advento da Lei no. 9.433/1997, a unidade de gestão mais

apropriada é a microbacia urbana, para o planejamento da cidade, delimitada pela

área de drenagem.

Sendo assim, as definições legais e funções para cada zona de uso, que se

encontram inseridas na área da microbacia em estudo, estão expressas conforme

Quadro 2:

Quadro 2 - Conceitos das zonas de uso e ocupação presentes na Microbacia do Córrego Três

Barras. ZONAS CONCEITOS

Zonas de Expansão Urbana ZEX

São zonas com áreas não parceladas para fins urbanos, no interior da Macrozona Urbana, destinadas à ampliação da ocupação urbana.

Zona Urbana de Uso Múltiplo ZUM

Tem como principal função a integração dos vários usos e atividades a serem implantadas na macrozona urbana, desde que compatíveis com a vizinhança.

25

Continuação Quadro 2 – Conceitos das zonas de uso e ocupação presentes na Microbacia do

Córrego Três Barras.

ZONAS CONCEITOS

Zona de Interesse Ambiental 2 ZIA 2

São constituídas por áreas públicas ou privadas com excepcional

potencial ambiental e paisagístico, com presença de maciços de vegetação ou cursos d’água ou nascentes, e que devem ser destinadas à preservação ou conservação.

Zonas de Interesse Ambiental 3 ZIA 3

Constituídas por áreas públicas ou privadas ocupando fundos de vale, canais efêmeros, áreas de preservação permanente de cursos d’água, nascentes e áreas lindeiras às APPs, para as quais existe intenção do Poder Público de transformá-las em unidades de conservação de domínio público, ou que já sejam unidades de

conservação públicas.

Zonas Especiais de Interesse Social 1 ZEIS 1

São áreas constituídas por “parcelamentos irregulares, conjuntos habitacionais públicos ou privados irregulares, ocupados por população de baixa renda, que por seu grau de consolidação são passíveis de regularização”, sendo que, nesse caso, o morador não possui qualquer comprovante transacional em relação ao título de domínio da terra.

Zonas Especiais de Interesse Social 2 ZEIS 2

Espaços constituídos “por parcelamentos informais em áreas públicas ou particulares ocupadas por população de baixa renda, e que necessitam de estudos para verificar se são parcial ou integralmente passíveis de regularização”. Necessita de um comprovante, por meio da existência de algum documento, que demonstre o tipo de transação comercial que foi realizada.

Fonte: Adaptado da Lei Complementar no. 231/2011. CUIABÁ (2011).

4.2 CONCEITOS E ABORDAGENS DE RECUPERAÇÃO DE CURSOS

D’ÁGUA

Frequentemente, poluentes de origem agrícola, resíduos industriais e,

principalmente, esgotos domésticos apresentam-se comuns em redes de drenagem,

que são os corpos d’água, devido à inexistência ou ineficiência da coleta e tratamento

de efluentes, comprometendo a sobrevivência dos organismos de vida aquática, mais

precisamente em áreas urbanizadas, restringindo, dessa forma, a utilização direta

para as atividades de lazer e de consumo humano.

Kondolf e Micheli (1995); Riley (1998); Benhardt et al. (2005) apud Macedo

et al. (2011, p. 127) apontam que países desenvolvidos como os Estados Unidos e a

Inglaterra vêm desenvolvendo recuperação de córregos e rios por meio de

“programas de restauração de cursos d’água há mais de trinta anos, com variados

graus de sucesso”, enquanto que no Brasil essa experiência acontece de forma

embrionária.

26

Diferentes países adotaram medidas de recuperação de corpos hídricos por

meio de conceitos distintos utilizados para designar um tratamento de combate à

degradação ambiental, conforme suas particularidades, onde se encontram

relacionados, a partir de literaturas pesquisadas por Limeira; Silva e Cândido (2010,

p. 18), a seguir:

Revitalização: Compreende o processo de recuperação, de conservação e

de preservação ambiental, por meio da implementação de ações

integradas e permanentes, que promovam o uso sustentável dos recursos naturais, a melhoria das condições socioambientais, o aumento da

quantidade e a melhoria da qualidade da água para usos múltiplos.

(MMA/FNMA 2005);

Restauração: Refere-se a ações que envolvem o objetivo de retornar o

rio à sua condição original (LWRRDC, 2000); É um complexo esforço,

que começa pelo reconhecimento das alterações naturais ou induzidas

pelo homem e são danosas à estrutura e às funções do ecossistema ou

impede sua recuperação para uma condição sustentável. (Pacific Rivers

Council, 1996, apud FISRWG, 2001);

Restauração ecológica: É o processo de ajudar a recuperação e a gestão

da integridade ecológica, que envolve uma vasta biodiversidade,

processos ecológicos, estruturas, contextos regionais e históricos, e práticas culturais sustentáveis (Society for Ecological Restoration —

SER, apud FISRWG, 2001);

Renaturalização: É a recuperação de rios e córregos de modo a regenerar

o mais próximo possível à biota natural, através de manejo regular. É

também preservar as áreas naturais de inundação e impedir quaisquer

usos que inviabilizem tal função. (BINDER, 1998);

Reabilitação: Refere-se à manutenção apenas de alguns aspectos do rio,

mas geralmente torna a sua situação mais próxima da condição natural.

(LWRRDC, 2000);

Remediação: Reconhece-se que as condições do rio foram tão alteradas

que a condição original não seria tão relevante e almejaria uma condição inteiramente nova. (LWRRDC, 2000).

O autor sugere ainda que os conceitos como reabilitação e remediação devem

ser compreendidos como ações com finalidades diferentes, podendo isso ser

observado na Figura 12, onde o “eixo X significa a Estrutura do ecossistema

associada à riqueza de espécies e o eixo Y a Função de produção de biomassas do

ecossistema”.

27

Figura 12 - Diferenças entre os conceitos de Restauração, Reabilitação e Remediação.

Fonte: Adaptado de LWRRDC (2000), apud Limeira; Silva e Cândido (2010, p. 19).

Esses conceitos também veiculam a importância oriunda de interpretações de

diferentes áreas do conhecimento, como biologia, agronomia, antropologia,

economia, entre outras, bem como as demais influências das experiências

estrangeiras com linguagens e culturas diferentes. É importante, então, associar o

termo mais adequado às características do trabalho a ser desenvolvido. (LIMEIRA;

SILVA e CÂNDIDO, 2010).

O termo Restauração é utilizado, na visão da Ecological Restoration Society,

para estabelecer o processo de “alteração intencional de um local para sua forma

natural através de processos e intervenções que levem a reestabelizar a relação de

sustentabilidade e saúde entre o natural e o cultural”. (RILEY, 1998, apud Macedo et

al., (2011, p. 128).

É sabido que retornar um curso d’água na sua condição natural exige uma

tarefa árdua, passando por dificuldades dos mais variados aspectos, envolvendo

algumas condições que vão desde o conhecimento ambiental original até os poucos

aportes financeiros. Entretanto, Macedo et al. (2011) acreditam que se deve começar

uma restauração por pequenos cursos d’água, de forma a viabilizar o processo em

termos econômicos.

28

Também compartilham desse pensamento Oliveira et al. (2008), apud Guedes

(2010, p. 50), considerando que as transformações das regiões acontecem em uma

escala menor, paulatinamente, microbacia a microbacia, de sorte que, quando se

inicia uma ação com prévio diagnóstico, tem-se a reconstrução, ao longo do tempo,

do “tecido urbano sustentável, célula a célula”.

A literatura internacional, por meio de vários exemplos, sugere que o olhar

para as questões de restauração de corpos d’água deve focar, também, a busca de um

novo equilíbrio ambiental, e não só o retorno à situação original do ecossistema

aquático. Assim, verifica-se na Tabela 1 um resumo, a partir de experiências em

restauração de corpos hídricos, contendo as principais metas, tipos de intervenções e

datas de alguns projetos dessa envergadura em relação aos cursos d’água urbanos em

países desenvolvidos. (MACEDO et al. 2011).

Tabela 1 – Resumo de projetos de restauração de cursos d’água urbanos em países

desenvolvidos.

Local Metas Intervenç

ões

Ano Fonte

Rio Don, Toronto (Canadá) (i), (ii),

(iii), (vi)

(a), (b), (c) 1990 Helfield & Diamond,

1997

Córrego Strawberry, Califórnia

(EUA)

(i), (ii),

(iii), (v)

(b), (e) 1992 Charbonneau & Resh,

1992

Córrego Baxter, Califórnia (EUA) (ii), (iii) (a), (c), (e) 1996 Purcell et al., 2002

Córrego Nottingham, Nova

Zelândia

(ii), (iii),

(v)

(e) 1996 Suren & Mc Murtrie,

2005

Córrego Accotink, Virginia (EUA) (ii), (iii), (v)

(d), (e) 2002 Selvakumar et al., 2010

Córrego Kelley, Oregon (EUA) (ii), (iii),

(v)

(a), (c), (e) 2004 Levell & Chang, 2008

Legenda: (i) melhorar a qualidade hídrica; (ii) restaurar a vegetação ripária; (iii) restaurar os hábitos físicos; (iv)

passagem de peixes; (v) estabilizar o leito e as margens; (vi) controle de enchentes; (a) descanalizar e reconstruir o leito; (b) coleta de efluentes; (c) reconstruir a morfologia fluvial; (d) intervenção nas margens; (e) revegetação. Fonte: Adaptado de MACEDO, Diego Rodrigues; CALLISTO, Marcos; MAGALHÃES JR, Antonio Pereira. “Restauração de cursos d’água em áreas urbanizadas: perspectivas para a realidade brasileira”. In: Revista Brasileira de Recursos Hídricos, v. 16, no.3. jul./set. 2011, p. 127-139.

Verifica-se que os objetivos mais comuns desses programas de restauração

em países desenvolvidos são: a) melhorar a qualidade hídrica, removendo fontes de

poluição; b) restaurar a vegetação ripária (margens do rio); c) aumentar e melhorar os

habitats físicos dentro dos cursos d’água; d) propiciar a passagem de peixes; e)

estabilizar as margens e o canal fluvial; e f) controlar enchentes. (RILEY, 1998;

BENHARDT et al., 2005; BOOTH, 2005, apud MACEDO et al., 2011). Para

alcançar tais objetivos, os projetos consistem em três fases distintas: 1ª) realizar

29

estudo detalhado do sítio a ser restaurado, para que se aplique a metodologia mais

indicada, tendo em vista as condições fisiográficas, o grau de urbanização, o uso e

ocupação do solo; 2ª) verificar quais intervenções serão adotadas; e 3ª) implantar as

intervenções propostas. (BERGHUSEN, 2004, apud MACEDO et al., 2011).

Benhardt et al., (2005), apud Macedo et al., (2011, p. 129) relatam que foram

realizados 37.099 programas de restauração de corpos d’água até julho de 2004 nos

Estados Unidos, “alguns com intervenções em poucos metros, e outros chegando a

quilômetros”, constatando que após quatro anos do processo de intervenções,

verificados por meio de avaliações, cerca de “90% dos procedimentos utilizados

ainda encontravam-se em bom estado de conservação, indicando o seu potencial de

longevidade”.

Riley (1998); Scholz et al. (2002), apud Macedo et al., (2011) atribuem essa

longevidade à conscientização dos moradores no sentido de entenderem a

importância desse tipo de intervenção, uma vez que a população local estabeleceu

uma identificação com o curso d’água, minimizando, dessa forma, o vandalismo, e

com isso maior probabilidade de que os resultados sejam duradouros. No Brasil, essa

conscientização deveria ocorrer através da Educação Ambiental - EA, a qual ainda,

de forma incipiente, começa a ter assento em algumas poucas escolas, assim como o

planejamento em prol da recuperação de cursos d’água é bastante tímido.

Barbieri (2002) acredita que, via de regra, a Educação Ambiental (EA) fica

restrita aos estabelecimentos de ensino básico, onde se destina ao setor de atuação

formal, sendo que o setor de atuação não formal, em observância à Lei no.

7888/2003, praticamente não existe nas comunidades e nas instituições de ensino

superior. Para o autor, “grande parte da EA praticada no País ainda enfatiza o meio

ambiente natural e os seus aspectos biológicos, ficando, portanto, muito distante da

abordagem socioambiental preconizada pela atual legislação brasileira”.

(BARBIERE, 2002, p. 10).

No contexto da restauração de corpos d’água, a primeira experiência

brasileira aconteceu em Curitiba, na década de 1970, criando-se parques ao longo do

córrego Barigui com o objetivo de apenas minimizar os efeitos negativos das cheias.

Em São Paulo destinaram-se objetivos mais amplos, como foi o caso do

córrego Bananal, em que sua restauração abrangeu seis metas: o controle das cheias;

30

adequação da área de várzea e implantação de parque linear; realocação de pessoas

que ocupam as áreas de risco e de preservação ambiental; educação ambiental;

controle da poluição difusa; e saneamento básico. (BARROS et al., 2007, apud

MACEDO et al., 2011).

Na cidade de Belo Horizonte, o Programa Drenurbs propôs uma ação de

restauração de rios urbanos para ser implementada em fases sucessivas, visando à

despoluição dos cursos d'água, à redução dos riscos de inundação, ao controle da

produção de sedimentos e à integração dos recursos hídricos naturais ao cenário

urbano, evitando-se as tradicionais canalizações. A área de trabalho abrange toda a

bacia de drenagem, prevendo a despoluição de suas águas, integrando serviços

urbanos como a coleta de lixo e de esgotos ao serviço de drenagem das águas

pluviais. (BELO HORIZONTE, 2012).

Em Cuiabá, o Programa de Recuperação das Áreas Degradadas do Vale do

Córrego Gumitá e Revitalização do Entorno, concebido no âmbito da Prefeitura

Municipal, teve como objetivo principal prover solução adequada e simultânea a

duas questões: precariedade nas condições de habitabilidade de parcela da população

mais carente e a deterioração do meio ambiente, produto de ocupações irregulares e

desordenadas. O Programa consistiu de um escopo que visava à adoção de um novo

tratamento urbanístico e ambiental com a finalidade de melhorar a qualidade de vida

da população, a recuperação de áreas degradadas pela erosão, a eliminação de áreas

inundáveis no período de chuva, a eliminação de focos e proliferação de doenças

hidricamente transmissíveis, bem como a remoção e reassentamento de famílias que

ocupavam as APPs ao longo do Córrego Gumitá.

Para tanto, abriram-se duas frentes em busca de aporte financeiro: uma

consistiu em empréstimo por meio do Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da

Bacia do Prata – Fonplata, com contrapartida do Município; e a outra por meio de

emenda parlamentar para viabilizar a construção das novas habitações para a

população que ocupava as áreas de APP do referido córrego.

Após cumpridas todas as etapas exigidas pelo Fonplata, havia necessidade de

aprovação, com votação por unanimidade, pelos países membros que compõem o

organismo de financiamento (Bolívia, Paraguai, Uruguai, Argentina e Brasil), a fim

de aprovar o referido empréstimo. Esse programa estava orçado em dezenove

31

milhões de dólares, dos quais 60% seriam via empréstimo e 40% a contrapartida do

Município. Nesse sentido, o município de Cuiabá, então representante do Brasil,

infelizmente não obteve sucesso para a concessão do referido empréstimo, uma vez

que o Paraguai recusou a sua aprovação, alegando se tratar de um país “rico” e,

portanto, sem prioridade para tal concessão, conforme resposta expressa pelo

Ministério do Planejamento. Ainda assim, o Município adquiriu com recursos

próprios uma área localizada na região norte de Cuiabá, onde foram construídas 183

casas com recursos oriundos de emenda parlamentar, realizando, assim, a remoção e

o reassentamento das famílias que habitavam as margens de APP desse córrego,

tendo sido construído o conjunto residencial Senador Jonas Pinheiro, autor da

emenda. Após a remoção, as casas foram demolidas e houve também a implantação

de canalização da rede de drenagem de águas pluviais nas ruas transversais ao corpo

d’água, tecnicamente necessárias. Financeiramente, o Município não suportou

sozinho em avançar com o restante do programa, uma vez que seriam necessários,

aproximadamente, US$ 702.000,00 (setecentos e dois mil dólares) somente para

realizar as ações necessárias de desapropriação entre lotes e edificações residenciais

e comerciais, que tinham interferência sobre o traçado viário da avenida parque do

córrego Gumitá.

Sustentados nesses aspectos é que se faz oportuna a presente avaliação

ambiental e prognóstico da Microbacia do Córrego Três Barras, uma vez que esta

microbacia encontra-se próxima à região do vale do córrego Gumitá, sendo limítrofe

pela sua delimitação de drenagem. Assim, identificam-se oportunidades de

recomposição do tecido urbano, por meio da criação de uma “rede” de

transformações, iniciando-se um planejamento que envolve revitalização, restauração

e renaturalização, reintegrando, pouco a pouco, microbacia à microbacia, e o seu

“tecido urbano sustentável, célula a célula”, outrora alterado pela ação antrópica ao

longo do tempo.

32

4.3 FERRAMENTAS DE ANÁLISES AMBIENTAIS EM

MICROBACIAS URBANAS

Na análise ambiental em microbacias podem ser utilizadas ferramentas

múltiplas como: fisiografia, o Método VERAH, o Método de Planejamento de

Paisagem, e o Método de Análise do Índice de Qualidade da Água (IQA).

4.3.1 Fisiografia de uma Bacia Hidrográfica

Os dados fisiográficos de uma bacia são todos aqueles que podem ser

adquiridos por meio de mapas, aerofotos, bem como imagem de satélite,

constituindo, assim, as áreas, comprimentos, declividades e, ainda, coberturas do

solo medidos diretamente ou expressos por índices. (SILVEIRA, 2004).

4.3.1.1 Área de Drenagem

A área de drenagem é a área plana de uma bacia (projeção horizontal) inclusa

entre seus divisores topográficos. A área da bacia é o elemento básico para o cálculo

das outras características físicas.

4.3.1.2 Forma da Bacia

A forma superficial de uma bacia hidrográfica é importante devido ao tempo

de concentração a partir do início da precipitação, ou seja, o tempo que leva a água

dos limites da bacia para chegar à saída da mesma (exutório). (LAZARI, 2004).

As pequenas bacias variam muito na apresentação de sua forma, conforme

demonstra o Quadro 3.

Quadro 3 – Formas de uma bacia hidrográfica.

Fonte: Adaptado de Rocha, J.P.G.; Figueiredo, D.M.; Salomão, F.X.T.(2005).

33

4.3.1.3 Coeficiente de Compacidade

O coeficiente de compacidade (Kc) é a relação entre o perímetro da bacia e a

circunferência de um círculo de área igual à da bacia. Quanto mais irregular for a

bacia, maior será o coeficiente de compacidade. Um coeficiente mínimo igual à

unidade corresponderia a uma bacia circular e, para uma bacia alongada, seu valor é

significativamente superior a 1. Uma bacia será mais suscetível a enchentes mais

acentuadas quando seu Kc for mais próximo da unidade. O Kc é determinado

baseado na seguinte equação:

A

PKc 28,0

Sendo: Kc o coeficiente de compacidade, P o perímetro (m ou Km) e A a área de

drenagem em m2 ou Km

2.

4.3.1.4 Fator de Forma

O fator de forma (Kf) é a relação entre a largura média e o comprimento axial

da bacia. Quanto mais próximo de 1, maior é a possibilidade de picos de cheia.

(ROCHA e SALOMÃO, 2005). Uma bacia com um fator de forma baixo é menos

sujeita a enchentes que outra de mesmo tamanho, porém com fator de forma maior.

O fator de forma (Kf) é determinado utilizando-se a seguinte equação:

Kf = A/ L2

Sendo: Kf, fator de forma; A a área de drenagem (m2 ou Km

2) e L o comprimento do

eixo da bacia (m ou Km).

4.3.1.5 Índice de Circularidade

Simultaneamente ao coeficiente de compacidade, o índice de circularidade

(IC) tende para a unidade à medida que a bacia se aproxima da forma circular e

diminui à medida que a forma se torna alongada. Para o cálculo desse índice utiliza-

se a seguinte equação:

IC = 12,57. A/ P2

Onde: IC é o índice de circularidade, A a área de drenagem (m2 ou Km

2) e P o

perímetro (m ou Km).

34

4.3.1.6 Índice de Declividade e Altitude

As declividades determinadas são referentes aos cursos d’água da rede de

drenagem e às vertentes. Neste caso, é necessário traçar o perfil longitudinal para

detectar trechos com declividades diferentes. (SILVEIRA, 2004)

A declividade média das vertentes pode ser calculada para uma bacia

hidrográfica pela seguinte relação:

Onde: ∆I é a diferença de altitude padrão entre duas curvas de nível; wί = largura

entre duas curvas de nível; = a área entre as curvas de nível; A=área total da bacia;

n= número de intervalos de curva de nível.

O programa ArcGis foi utilizado como ferramenta para gerar o mapa de

declividade e da altitude.

4.3.1.7 Densidade de Drenagem

O índice de densidade de drenagem (Dd) expressa a relação entre o somatório

dos comprimentos totais dos cursos d’água tributários, sejam perenes, intermitentes

ou efêmeros, e o curso d’água principal de uma bacia e a sua área total. A Dd varia

inversamente com a extensão do escoamento superficial, fornecendo, assim, uma

indicação em relação à eficiência da drenagem da bacia. Determina-se o índice

utilizando a equação:

Dd = Lt / A

Sendo: Dd a densidade de drenagem (km/km2), Lt o somatório dos comprimentos

(Km) de todos os canais da rede e A a área de drenagem (km2).

4.3.1.8 Ordem do Rio

Para o ordenamento dos canais da rede de drenagem de uma bacia

hidrográfica, existem os critérios de Horton (1945) e Strahler (1957). Neste trabalho

utiliza-se o sistema de Strahler, onde evita-se a “subjetividade de classificação das

nascentes”. Silveira (2004) relata como Strahler esclarece a atuação do sistema em

relação aos corpos d’água:

35

(...) todos os canais sem tributários são de primeira ordem, mesmo que sejam nascentes dos rios principais e afluentes; os canais de segunda

ordem são os que se originam da confluência de dois canais de primeira

ordem, podendo ter afluentes também de primeira ordem; os canais de

terceira ordem originam-se da confluência de dois canais de segunda

ordem, podendo receber afluentes de segunda e primeira ordens (...).

(SILVEIRA, 2004, P. 47).

Assim, nesse sistema, o rio principal e afluentes não mantêm o número de

ordem na totalidade de suas extensões.

4.3.1.9 Extensão Média de Escoamento Superficial

Este parâmetro constitui uma indicação da distância média do escoamento

superficial da água de chuva, expressa pela fórmula:

I = A/ 4.ƩL

Sendo: A a área da bacia; L o somatório de todos os canais e tributários da bacia.

4.3.1.10 Declividade Total do Curso Principal

É a relação entre a diferença das altitudes na nascente e na foz do curso

d’água principal da bacia e seu comprimento total.

4.3.1.11 Comprimento da Rede de Drenagem

Caracteriza-se pelo somatório das extensões equidistantes desde a linha do

divisor de águas ao primeiro afluente na bacia. Este parâmetro deve ser avaliado

comparando os resultados das bacias.

4.3.2 Método de Diagnóstico VERAH

O método VERAH nasceu do pensamento em se obter um diagnóstico dos

componentes ambientais, que culminaria em ações em prol da educação e gestão

ambiental, principalmente em áreas urbanas. Concebido pelo Prof. Dr. Antonio M.

dos Santos Oliveira, este método enfoca, em especial, os temas de Vegetação,

Erosão, Resíduos, Água e Habitação.

Oliveira et al. (2008) ensinam que os passos para a realização do VERAH

constituem-se, resumidamente em: primeiro delimita-se a microbacia por meio do

uso de planta topográfica e imagem de satélite ou foto aérea, e posteriormente o

levantamento dos temas no local para diagnóstico da microbacia em estudo. Assim, a

36

microbacia é conhecida conforme cada tema específico. Segundo, são feitas as

correlações entre os temas interdisciplinares, identificando e priorizando os

problemas geoambientais relacionados a cada tema. Por último, com o pleno

conhecimento dos problemas correlatos à microbacia, prossegue-se com a indicação

de recomendações com a finalidade de minimizar os impactos negativos causados

pela antropização.

O VERAH, conforme conceituam Oliveira et al. (2008), apud Guedes (2010,

p. 48), como método empírico é “direcionado ao diagnóstico do meio ambiente

urbano com o propósito de detectar problemas ambientais gerados pelo uso do solo

com a perspectiva de corrigi-los e/ou evitá-los”. Assim, o método abarca dois

princípios fundamentais acerca dos ganhos, tanto na formação de cidadãos advindo

da educação ambiental, quanto na escolha do ambiente, em que geralmente é

realizado, em comunidades carentes:

Primeiro Princípio: A educação ambiental só pode ser efetivada se houver

prática dos ensinamentos e se nesta prática estiver contemplada a

intervenção na realidade, ou seja, de se defrontar com os desafios de uma gestão ambiental real, comprometida com a sustentabilidade local.

Segundo Princípio: A aplicação do método deve priorizar o meio

ambiente das comunidades carentes, em geral das periferias urbanas, onde

estão os principais problemas de qualidade ambiental dos municípios. Por

duas razões principais: são as comunidades carentes que requerem mais

atenção da sociedade, porque representam um débito social, e porque

estas comunidades são, em geral, as que habitam as áreas da periferia,

onde se dão as transformações geoambientais dos espaços não-urbanos

em cidades. (OLIVEIRA et al. (2008), apud GUEDES (2010, p. 48).

Verifica-se, sobretudo, que o método envolve uma discussão sobre o meio

ambiente e seus componentes bióticos, abióticos e antrópicos, estabelecendo uma

inter-relação entre os organismos vivos, não vivos e o resultado das atividades e

ações humanas nesse meio.

Dessa forma, Oliveira et al. (2008), apud Guedes (2010, p. 49) consideram

ser o ambiente da microbacia uma porção do meio que “pode ser delimitada em certa

região e diagnosticada em separado, mantendo íntegras as relações entre os

componentes que a constituem”.

No entender de Linhares (2004, p. 2), na maioria das vezes as informações

existentes disponíveis estão referenciadas a limites político-administrativos. Dessa

forma sugere, mediante a incompatibilidade entre unidades de análise e a escassez

das mesmas, “unir as informações produzidas em pesquisas estatísticas a dados

37

produzidos em unidades ambientais usando agregados de setores censitários para

formar unidades territoriais de análise que contemplem informações

socioambientais”. Assim, a partir destes conceitos, pode-se complementar os

levantamentos de campo, em especial nas áreas de proteção permanente

diagnosticados pelo VERAH, com a pesquisa de dados secundários disponibilizados.

4.3.3 Método de Planejamento da Paisagem

O Planejamento da Paisagem, conforme propôs Nucci (1998, p.210), tem suas

características fundamentadas na “contribuição ecológica e de design para o

planejamento do espaço, em que se procura uma regulamentação dos usos do solo e

dos recursos ambientais, salvaguardando a capacidade dos ecossistemas e o potencial

recreativo da paisagem”, onde, uma vez atrelado a isso, haveria uma forma de se tirar

partido do que a vegetação pode oferecer para a melhoria da qualidade ambiental.

Assim, Cavalheiro; Oliveira e Del Picchia (1987), apud Nucci (1998),

identificaram, como principais considerações para condições básicas em

Planejamento da Paisagem, alguns importantes itens como: o respeito ao potencial do

meio ambiente e às condições culturais (sociais, econômicas, etnográficas, etc.); a

valorização das relações da natureza; atingir uma melhor integração

homem/natureza; o planejamento deve ser interdisciplinar; o projeto deve ser aberto

e sujeito a contínuo replanejamento, entre outros.

Para este método há de se analisar o ambiente levando-se em consideração

todas as suas variáveis e inter-relações para serem considerados posteriormente, na

tomada de decisões.

Seguindo esse pensamento, visualiza-se, neste método, uma forma de

diagnosticar “o outro lado do problema”, ou seja, o lado da “oferta”, uma vez que a

demanda é conhecida. Portanto, estuda-se a capacidade que o ambiente tem para

receber os diferentes usos do solo, levando-se em consideração a qualidade

ambiental em que se apresenta.

O método tem como principal objetivo salvaguardar a capacidade dos

ecossistemas e do potencial recreativo da paisagem como partes fundamentais para a

vida humana, sendo que, para tanto, constituem-se como principais metas:

38

- Salvaguardar a diversidade animal e vegetal e suas biocenoses através do desenvolvimento de uma rede interligada de áreas protegidas,

renaturalização de cursos d’água, revegetação, reflorestamento, etc. (...)

- Salvaguardar as paisagens, seus elementos e os espaços livres em áreas

urbanas para fornecer a oportunidade de contato contemplativo e

recreativo na natureza em contraste com as atividades recreativas

comerciais. (...)

- Salvaguardar o solo, a água e o clima através da regulamentação de seus

usos e regeneração dos recursos. Controle da permeabilidade dos solos,

dos aquíferos, da poluição. Utilização da vegetação como forma de

controle. (NUCCI, 1998, p.211)

A principal ferramenta para utilização desse método é a espacialização dos

atributos ambientais para posterior análise sistêmica, aglutinando o máximo de dados

cartografáveis da área em estudo para posterior cruzamento e elaboração de um

diagnóstico ambiental especializado, onde serão analisados, por meio de atributos ou

variáveis ambientais, tais como: uso do solo, densidade populacional, déficit de

espaços livres públicos, deserto florístico e, até mesmo, enchentes.

Notadamente, este método trata-se de uma complementação ao método

VERAH, a ser adotada como forma de subsídio para se proceder à elaboração de um

zoneamento que irá representar um prognóstico, a partir de levantamento das

condições ambientais encontradas na delimitação da microbacia hidrográfica, o qual

será analisado por meio de dados cartográficos e classificação de imagem

especializada, levando-se em consideração os atributos ambientais diagnosticados e

especializados de forma integrada e em escala espacial local.

4.3.4 Índice de Qualidade da Água – IQA

O Índice de Qualidade da Água foi criado em 1970, nos Estados Unidos, pela

National Sanitation Foundation. Após 1975 começou a ser utilizado pela Companhia

Ambiental do Estado de São Paulo - CETESB. A partir dessa iniciativa, nas décadas

seguintes, outros Estados brasileiros também adotaram o índice de IQA, que hoje é o

principal índice de qualidade da água utilizado no país. (BRASIL, 2009a).

O IQA foi desenvolvido para avaliar a qualidade da água bruta, visando seu

uso para o abastecimento público após tratamento. Para o cálculo deste índice são

utilizados parâmetros que demonstram indicadores de contaminação causada, em sua

maioria, pelo lançamento de esgotos domésticos, fator com importância significativa

39

na área de estudo, uma vez que constitui uma região com baixo investimento em

saneamento ambiental.

4.3.4.1 Parâmetro de Qualidade da Água

Para determinar o valor do IQA é necessário considerar, a partir de uma

média ponderada, após análise laboratorial, os seguintes fatores: oxigênio dissolvido

(OD), demanda bioquímica de oxigênio (DBO), coliformes fecais, pH, temperatura,

nitrogênio total, fósforo total, sólidos totais e turbidez, com seus respectivos pesos

(w), os quais foram fixados em função da sua importância para a conformação global

da qualidade da água (Quadro 4):

Quadro 4 – Pesos para parâmetro de qualidade da água.

Parâmetro de Qualidade da Água Peso (w)

Oxigênio dissolvido (OD) 0,17

Potencial hidrogeniônico - pH 0,12

Coliformes termotolerantes 0,15

Demanda Bioquímica de Oxigênio - DBO5,20 0,10

Temperatura da água 0,10

Nitrogênio total 0,10

Fósforo total 0,10

Turbidez 0,08

Resíduo total 0,08

Fonte: BRASIL (2009), ANA, Portal da Qualidade das Águas. Disponível em:

<http://pnqa.ana.gov.br/IndicadoresQA/IndiceQA.aspx#_ftnref10>. Acesso em 14 jun. 2012.

4.3.4.2 Cálculo de IQA

Dessa forma, o cálculo do IQA é feito por meio do produtório ponderado dos

nove parâmetros, segundo a seguinte fórmula:

Onde:

IQA = índice de qualidade da água, um número de 0 a 100;

qi = parâmetros de qualidade avaliados;

wi = peso atribuído ao parâmetro, em função de sua importância na qualidade, entre

0 e 1.

n = número de parâmetros que entram no cálculo do IQA.

Os valores do IQA são classificados em faixas, que variam entre os estados

brasileiros. Para o estado de Mato Grosso, os índices aplicados são estabelecidos

conforme Quadro 5:

40

Quadro 5 – Avaliação da qualidade da água em MT.

Fonte: Adaptado de BRASIL. Agência Nacional de Águas-ANA. Portal da Qualidade das Águas.

Disponível em: <http://pnqa.ana.gov.br/IndicadoresQA/IndiceQA.aspx#_ftnref10>. Acesso em: 14

jun. 2012.

A Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA - no.

357, de 17 de março de 2005, dispõe sobre a classificação dos corpos de água e

diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e

padrões de lançamento de efluentes. Atualmente o Estado de Mato Grosso não possui

nenhum corpo d’água enquadrado. Assim sendo, enquanto não estiverem aprovados

os respectivos estudos e propostas de enquadramentos, as águas doces situadas

dentro deste estado deverão ser consideradas como classe 2, conforme preconiza o

art.42, da respectiva resolução.

Abaixo são descritas as variáveis consideradas nesse índice:

4.3.4.2.1 Oxigênio Dissolvido (OD)

O oxigênio dissolvido é essencial para a preservação da vida aquática, uma

vez que vários organismos vivos, como os peixes, precisam de oxigênio para

respirar. As águas de rios urbanos poluídos por esgotos apresentam baixa

concentração de oxigênio dissolvido, onde as espécies mais frágeis são afetadas por

problemas respiratórios caso o OD chegue a 5mg/l, enquanto que aquelas que

apresentam maior resistência ainda sobrevivem no limite de 2mg/l. (BRASIL,

2009a).

Além da fotossíntese, o oxigênio também é introduzido nas águas através de

processos físicos, que dependem das características hidráulicas dos corpos d’água,

por exemplo, a velocidade da água.

41

4.3.4.2.2 Potencial Hidrogeniônico (pH)

A Resolução CONAMA 357/2005 estabelece que para a proteção da vida

aquática o pH deve estar entre 6 e 9. O parâmetro pH indica para um índice abaixo

de 7.0 que a água tem caráter ácido, ou alcalino se o valor de leitura estiver acima de

7.0. Para manter o equilíbrio entre as substâncias alcalinas e ácidas de um corpo

d’água é necessário que este parâmetro seja igual a 7.0, assim é considerado neutro.

Alterações nos valores de pH afetam o metabolismo de várias espécies

aquáticas, em decorrência do efeito de substâncias químicas que são tóxicas para os

organismos aquáticos, tais como os metais pesados, provocando até a morte dos

peixes.

4.3.4.2.3 Coliformes Termotolerantes

As bactérias coliformes termotolerantes ocorrem no trato intestinal de animais

de sangue quente e são indicadoras de poluição por esgotos domésticos. Elas não são

patogênicas (não causam doenças), mas sua presença em grande quantidade indica a

possibilidade da existência de microrganismos patogênicos que são responsáveis pela

transmissão de doenças de veiculação hídrica, como disenteria bacilar, febre tifoide e

cólera.

4.3.4.2.4 Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO)

A Demanda Bioquímica de Oxigênio representa a quantidade de oxigênio

necessária para oxidar a matéria orgânica presente na água através da decomposição

microbiana aeróbia. A DBO5,20 é a quantidade de oxigênio consumido durante 5 a 20

dias em uma temperatura de ±1°C, e representa o parâmetro mais utilizado para

determinar poluição orgânica, tanto em águas residuárias quanto em águas

superficiais, avaliando a quantidade de matéria biodegradável existente na amostra.

(LIMA; DESTRO e SILVA, 2012).

A ocorrência de altos valores deste parâmetro causados pelo lançamento de

cargas orgânicas, principalmente os esgotos domésticos, provoca uma diminuição

dos valores de OD na água, fator que pode ocasionar mortandade de peixes, bem

como eliminação de outras comunidades aquáticas.

42

4.3.4.2.5 Temperatura da Água

A temperatura da água influencia vários parâmetros físico-químicos deste

elemento, tais como a tensão superficial e a viscosidade. Fatores como a latitude e

altitude, a estação do ano, período do dia, taxa de fluxo e profundidade, também

influenciam a sua temperatura. Os organismos aquáticos, quando afetados por

temperaturas fora de seus limites de tolerância térmica, geralmente provocados por

despejos industriais e usinas termoelétricas, podem sofrer impactos negativos em

relação ao crescimento e reprodução dos peixes. (SEMA, 2006).

4.3.4.2.6 Nitrogênio Total

As fontes de nitrogênio para os corpos d’água são variadas, sendo uma das

principais o lançamento de esgotos sanitários e efluentes industriais. Em áreas

agrícolas, o escoamento da água das chuvas em solos que receberam fertilizantes

também é uma fonte de nitrogênio, assim como a drenagem de águas pluviais em

áreas urbanas.

Pelo fato de os compostos de nitrogênio ser nutrientes nos processos

biológicos, seu lançamento em grandes quantidades nos corpos d’água, junto com

outros nutrientes tais como o fósforo, provoca um crescimento excessivo das algas,

processo conhecido como eutrofização, o que pode prejudicar o abastecimento

público, a recreação e a preservação da vida aquática.

Também ocorre a fixação biológica do nitrogênio atmosférico pelas algas e

bactérias. Além disso, outros processos, tais como a deposição atmosférica pelas

águas das chuvas, também causam aporte de nitrogênio aos recursos hídricos.

4.3.4.2.7 Turbidez

Turbidez é a medição da resistência da água à passagem da luz. A turbidez é

provocada pela presença de partículas suspensas, finamente divididas, ou em estado

coloidal. O efeito dessas substâncias na água é a de que as águas tornam-se turvas e

perdem a transparência. A Turbidez também é um parâmetro de aspecto estético de

aceitação ou rejeição do produto. É encontrada em quase todas as águas de

superfície, e o seu resultado de análise expresso em Unidades Nefelométricas de

43

Turbidez – UNT. Os limites de turbidez recomendados são: valor máximo

permissível para a turbidez na água na saída da Estação de Tratamento é de 1.0 UNT,

e para a rede de distribuição é de 5.0 UNT.

4.3.4.2.8 Fósforo Total

O fósforo é um elemento essencial para o crescimento de algas e outros

organismos biológicos (METCALF e EDDY, 2003, apud CRRA, 2012).

De acordo com Cetesb (2012), o fósforo aparece em águas naturais,

principalmente, devido às descargas de esgotos sanitários, em que a matéria orgânica

fecal e os detergentes em pó utilizados domesticamente constituem a principal fonte.

O excesso de fósforo em esgotos sanitários e efluentes industriais conduz a processos

de eutrofização das águas de seu corpo receptor.

4.3.4.2.9 Resíduo Total

O resíduo total é a matéria que permanece após a evaporação, secagem ou

calcinação da amostra de água durante um determinado tempo e temperatura.

Quando os resíduos sólidos se depositam nos leitos dos corpos d’água podem

causar seu assoreamento, aumentando o risco de enchentes. A vida aquática também

se torna vulnerável, provocando danos significativos, pois ao se depositarem no leito

eles destroem os organismos que vivem nos sedimentos e servem de alimento para

outros organismos, além de danificar os locais de desova de peixes.

44

5. MATERIAIS E MÉTODOS

É importante destacar que o conceito utilizado de Microbacia foi de acordo

com os autores Lima (2008) e também Faustino (1996). O primeiro considera uma

microbacia, como sendo “bacias pequenas de 1ª a 3ª ou até 4ª ordens”; e o segundo,

atribui a nomenclatura de microbacia por esta possuir “área de drenagem inferior a

100 Km2”

, conforme sintetizam Teodoro et al. (2007).

Duas diferentes abordagens foram utilizadas tendo em vista a elaboração do

diagnóstico da área objeto.

A primeira baseou-se na caracterização da Microbacia como um todo,

expresso no item Diagnóstico Geral da Microbacia, por meio de dados secundários e

primários, sendo que, neste caso, os dados primários foram produtos de técnicas de

Geoprocessamento, tendo como instrumento identificador de análise a imagem de

satélite e sua classificação por meio de chaves de identificação.

A segunda consistiu em uma área mais restrita, a Área de Entorno do Córrego

Três Barras, conforme o item Aplicação do Método VERAH, que representa a

porção da Microbacia que terá influência direta da Av. Parque do Córrego Três

Barras, disposta na Lei municipal no . 232/2011, a ser implantada.

Realizou-se o diagnóstico dessa área com a aplicação do método VERAH. O

critério utilizado para delimitação foi o limite superior das vertentes que se dirigem

para o curso d’água principal, perfazendo uma faixa de aproximadamente 400 metros

de cada lado, a partir do eixo do córrego.

Assim, para avaliar os impactos ambientais decorrentes do processo de

urbanização desordenado, utilizou-se uma base de dados primários e secundários,

realizando também campanhas de campo para coleta e análise da água, identificando

cargas poluidoras provenientes de esgotos domésticos lançados neste córrego, bem

como se empregando técnicas de geoprocessamento. Foram realizados, também,

levantamentos de campo para checagem de dados secundários e caracterização dos

processos de degradação ambiental, envolvendo especialmente erosão e

assoreamento.

Para melhor compreensão da metodologia utilizada, apresenta-se na Figura 13

o roteiro das principais atividades.

45

Figura 13 – Roteiro Metodológico. Fonte: A autora.

46

5.1 DIAGNÓSTICO GERAL DA MICROBACIA

Inicialmente foi realizada uma revisão bibliográfica contemplando temas

ligados ao trabalho. Essa revisão consistiu em pesquisas e consultas realizadas por

meio de um levantamento bibliográfico, onde se buscou a fundamentação teórica, a

partir de literaturas especializadas e, na maioria das vezes, interdisciplinares

(urbanismo, meio ambiente, geomorfologia, recursos hídricos etc.) referentes ao tema

da pesquisa, bem como: legislações federal, estadual e municipal; artigos publicados

em seminários, simpósios, revistas científicas e periódicos, disponíveis tanto em

meio impresso quanto em ambiente cibernético. Também constam do arcabouço de

pesquisa para a revisão bibliográfica as dissertações de mestrado e teses de

doutorado.

Assim, a revisão bibliográfica constituiu-se em uma conexão entre o

desenvolvimento da pesquisa e as várias etapas dos levantamentos em campo para

elaboração do diagnóstico.

Dessa forma, concomitantemente à revisão bibliográfica, foram

desenvolvidas atividades voltadas ao diagnóstico da microbacia, com base em análise

de dados secundários e interpretação de imagem de satélite, envolvendo três etapas

de trabalho.

A primeira etapa consistiu no levantamento de dados secundários, obtidos

através de consultas de relatórios de atividade, revistas, jornais, publicações das

organizações, junto aos órgãos públicos municipais, tais como: a Companhia de

Saneamento da Capital - Sanecap, Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano

- SMDU, Secretaria Municipal de Trânsito Urbano - SMTU, Secretaria Municipal de

Infraestrutura - Seminfe e Agência Municipal de Habitação Popular - AMHP.

Também as fotografias digitais serviram para retratar a evolução da ocupação urbana

descontrolada, auxiliando como documento e instrumento de observação e análise

referentes às alterações dos aspectos físicos provocados pelo homem. Algumas

entrevistas com presidentes de associação de moradores que participaram do

processo de ocupação de tais áreas, bem como com servidores públicos da AMHP

fizeram-se necessárias para maior aprofundamento em relação à elaboração do

Histórico da Evolução Urbana da Microbacia do Córrego Três Barras. Dessa

47

maneira, pode-se identificar, no Quadro 6, tipos de dados com suas respectivas fontes

e períodos de coleta/ consulta.

Quadro 6 – Resumo de dados secundários levantados por meio de consultas presenciais em

órgãos e entrevistas.

Tipos de Dados Fonte Período

Mapa de Abairramento IPDU Março, 2012

Abastecimento de água* Sanecap Abril, 2012

Esgotamento sanitário* Sanecap Abril, 2012

Frota de veículos Cuiabá-MT SMTU Maio, 2012

Dados atualizados do Hospital e Pronto Socorro

Municipal de Cuiabá (acidentes)

SMTU Maio, 2012

Levantamento vias pavimentadas e não pavimentadas da

Microbacia

Secretaria Municipal de

Infraestrutura - SEMINFE

Junho, 2012

Levantamento volume lixo gerado na Microbacia, por

bairro

Secretaria Municipal de

Serviços Urbanos, D

Julho, 2012

Entrevistas com a Associação dos Bairros Primeiro de

Março, Jd. Brasil

Presidentes dos respectivos

bairros

Agosto, 2012

População por bairro* IBGE - Regional MT Setembro, 2012

* Os dados referentes ao abastecimento de água, esgotamento sanitário e população das localidades CPAs II, III e IV foram apresentados de acordo com o percentual da área pertencente à Microbacia do

Córrego Três Barras, sendo CPA II (10%), CPA III (25%) e CPA IV (40%), conforme IBGE (2012).

A segunda etapa repousou sobre a coleta e análise da qualidade de água ao

longo do Córrego Três Barras. Foram realizadas cinco campanhas mensais de coleta

de água com quatro pontos pré-definidos, aferindo a identificação prévia em campo,

tendo como instrumento o GPS de alta precisão, conforme descrito no Quadro 7.

Quadro 7 – Localização dos pontos de coleta no córrego Três Barras, 2012.

Pontos Descrição Coordenadas

P1

Nascente do Córrego Três Barras, localizado além-

linha imaginária do perímetro urbano de Cuiabá.

Elev.: 206 m

S 15º 30’ 41.3’’

WO 56º 01’ 28.7’’

P2 Local de coleta sobre a ponte situada sobre a Avenida 2, no bairro 1º de Março, II Etapa, a montante da foz

do Córrego Vassoural.

Elev.: 201 m S 15º 32’ 44.2’’

WO 56º 01’ 34.0’’

P3

Localizada a montante da ponte sobre a Rua 18, a

jusante da foz do Córrego Vassoural, no Bairro Três

Barras.

Elev.: 191 m

S 15º 33’ 36.3’’

WO 56º 01’ 23.4’’

P4

Ponte sobre o Córrego Três Barras, pela Avenida João

Gomes Sobrinho, divisa dos Bairros Novo Horizonte,

Altos da Serra e Dr. Fábio Leite.

Elev.: 171 m

S 15º 34’ 40.3’’

WO 56º 01’ 50.6’’

As amostras de água foram coletadas nos meses de junho, julho, agosto,

setembro e outubro de 2012, representando períodos de seca e chuva, nos pontos

localizados conforme Figura 14, sendo importante ressaltar que nesse ano ainda

ocorreram poucas chuvas no mês de junho, o qual culminou com uma brusca queda

de temperatura.

48

Figura 14 – Localização dos pontos de coleta ao longo do Córrego Três Barras.

Os procedimentos de coleta foram realizados de acordo com o Manual de

Rotinas Laboratoriais para efluentes domésticos, Centro de Referência de Reuso de

Água-CRRA, disponível no Laboratório Físico-Químico da UFMT.

A terceira etapa envolveu a utilização de técnicas de Geoprocessamento para

a elaboração de mapas temáticos acerca da caracterização da área de estudo, assim

como mapa para interpretação de imagem onde o produto final encontra-se

representado pela Classificação de Imagem da Microbacia do Córrego Três Barras.

Para a avaliação das condições gerais da cobertura vegetal apresentada na

Microbacia, utilizou-se como ferramenta de investigação a aplicação do Índice de

Vegetação por Diferença Normalizada-IVDN, originalmente conhecido como NDVI

(Normalized Difference Vegetation Index). Estas técnicas de geoprocessamento

serão detalhadas a seguir.

5.1.1 Técnicas de Geoprocessamento

As técnicas de geoprocessamento foram utilizadas com o objetivo principal

de realizar o mapeamento temático para interpretação do uso do solo e cobertura

vegetal na Microbacia do Córrego Três Barras e, dessa forma, realizar o diagnóstico

ambiental geral da Microbacia. Fez-se também necessário utilizar esta técnica para

proceder à delimitação da microbacia e seus cursos d’água, para a elaboração dos

49

mapas de Caracterização Geral da Microbacia (a partir de shapes fornecidos pelo

sistema SIG Cuiabá), bem como o mapa dos bairros que compõem a área em estudo.

O trabalho foi realizado por meio do uso de combinações de hardware, software,

dados, metodologias e recursos humanos, integrados de forma a permitir a produção

e análise das informações geográficas.

5.1.1.1 Delimitação da Microbacia e Cursos D’Água

Para delimitar a área da Microbacia e, consequentemente, os mapas que

expressam a caracterização da área em estudo, demarcando a nascente (cota máxima

da bacia 263), o curso d’água principal e seus afluentes, bem como a foz do córrego

Três Barras, representado pela cota 173, foi utilizado o Modelo Numérico de Terreno

(MNT), Shuttle Radar Topography Mission-SRTM – disponível na EMBRAPA

(Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), carta no. SD21ZC, elaborada em

escala 1:10.000, e após delimitação georreferenciada. (Figura 15).

Após a delimitação da microbacia, foram vetorizados os rios, criando-se

shapes, por meio do programa Arc Gis, versão 9.3, a partir da utilização de imagens

de satélite SPOT 5, ano 2007, disponibilizado pela Secretaria de Estado do Meio

Ambiente – SEMA/SIMLAM Técnico- Sistema Integrado de Monitoramento e

Licenciamento Ambiental do Estado de Mato Grosso, disponível em:

<http://monitoramento.sema.mt.gov.br/simlamtecnico/Index.aspx>, com imagens,

sendo 2,5 metros de detalhamento em alta resolução, colorida, onde, posteriormente,

esta imagem foi confrontada com o banco de dados de hidrografia do Estado de Mato

Grosso, vetorizando-se manualmente os cursos d’água no interior da bacia, a partir

de dados/shapes disponibilizados por esse sistema de informação.

50

Figura 15 – Modelo Numérico- MNT da Microbacia Hidrográfica do Córrego Três Barras.

5.1.1.2 Mapas Temáticos de Caracterização da Microbacia

Por meio do Sistema de Informação Geoambiental de Cuiabá - SIG CUIABÁ,

Volume 2 - Mapas (Ministério de Minas e Energia - Secretaria de Geologia,

Mineração e Transformação Mineral. CPRM – Serviço Geológico do Brasil, 2006),

criaram-se arquivos na extensão shape, por meio dos quais foram produzidos o mapa

de localização e os mapas temáticos presentes no item Caracterização da Microbacia

Hidrográfica do Córrego Três Barras, na escala 1:50.000, tais como: Geologia,

Geomorfologia, Pedologia, Topografia e Ordem do Rio.

Dessa forma, a sequência utilizada para o desenvolvimento da elaboração dos

mapas temáticos que representam as Características da Microbacia em seu “estado

natural” podem ser sintetizados de acordo com o organograma representado na

Figura 16.

51

Figura 16 - Sequência do desenvolvimento em Geoprocessamento para elaboração dos mapas

das características gerais da Microbacia do Córrego Três Barras.

Fonte: A autora

5.1.1.3 Fisiografia da Microbacia Hidrográfica do Córrego Três Barras

Após a delimitação da área da microbacia, foram obtidas as características

físicas da mesma, denominada de Fisiografia da Microbacia Hidrográfica, onde se

apresentaram os seguintes resultados: área da bacia ou área de drenagem, perímetro,

coeficiente de compacidade, fator de forma, índice de circularidade, declividade,

altitude, densidade de drenagem, ordem dos cursos d’água e, ainda, a classificação

do curso d’água conforme o seu tipo de escoamento. Essas características constituem

importantes ferramentas para análise ambiental de uma bacia hidrográfica,

permitindo identificar se as suas características físicas representam a situação real da

microbacia. Estes dados foram produzidos com o auxílio do ambiente SIG – Sistema

de Informações Georreferenciadas, por meio do programa ArcGis, versão 9.3, a

partir da imagem de satélite. Vale salientar que a precisão na definição dos valores

das características físicas de uma bacia hidrográfica depende da escala do mapa

utilizado. Para o presente estudo, a área do projeto foi delimitada na base cartográfica

escala 1:10.000 e apresentada em escala 1:36.000.

52

5.1.1.4 Mapa de Bairros e Localidades

Este mapa apresenta os bairros formadores da Microbacia do Córrego Três

Barras, sendo que inseridos neles encontram-se as localidades expressas pelos

loteamentos e conjuntos habitacionais, constituindo ainda a área de expansão urbana

e a porção rural não urbanizada. Por meio deste mapa, pode-se analisar,

concomitantemente ao item “Breve histórico dos Bairros”, a evolução urbana

ocorrida na área de estudo.

O mapa dos bairros que compõem a Microbacia foi elaborado em escala

1:10.000, e plotado em escala 1:35.000. A elaboração teve como ferramenta de

trabalho o software ArcGis, versão 9.3, delimitando-se os bairros, por meio de

georreferenciamento da imagem gerada a partir do Mapa de Abairramento da

Cidade, em ambiente DWG/Autocad 2009, disponibilizado em meio digital pela

Prefeitura de Cuiabá/ SMDU.

5.1.1.5 Mapeamento do Uso Atual e Cobertura Vegetal

Para possibilitar uma avaliação das condições gerais de cobertura vegetal

apresentada na Microbacia do Córrego Três Barras, utilizou-se como ferramenta de

investigação a aplicação do índice de vegetação NDVI (Normalized Difference

Vegetation Index). Este índice consiste na transformação matemática que identifica a

contribuição espectral das plantas em observações multiespectrais, tradicionalmente

aplicadas no monitoramento da vegetação, quando são utilizados dados de

sensoriamento remoto. (FUNCATE, 1997, apud LIMA, 2001).

Segundo Lima Rondon (2001), os valores derivam-se, principalmente, dos

dados de reflectância da banda vermelha e do infravermelho próximo. Eles operam

pela intensidade da absorção do pigmento da clorofila no vermelho, em contraste

com a alta reflectância dos materiais das plantas no infravermelho próximo.

Dessa maneira, a aplicação do Índice NDVI consiste na seguinte equação:

NDVI: IVP – V / IVP + V

Onde: IVP é o valor da reflectância da banda no infravermelho próximo e

V é o valor de reflectância da banda no vermelho

Assim, nesta etapa do trabalho em que se procedeu ao diagnóstico geral da

microbacia, por meio de imagem de satélite, não foi realizado o método VERAH,

53

sendo este aplicado apenas na área de entorno do Córrego Três Barras. Porém

utilizou-se, tanto para o diagnóstico geral quanto para o diagnóstico da área de

entorno, os mesmos temas aplicados no método VERAH, quais sejam: vegetação,

solo exposto/erosão e habitação. Dessa forma, apenas o tema resíduo foi tratado

especificamente no diagnóstico da área de entorno do córrego. (Figura 17).

Figura 17 – Roteiro para elaboração do Diagnóstico Geral da Microbacia com utilização de

geoprocessamento.

5.1.1.5.1 Pré-processamento de Imagem

Para o pré-processamento de imagem, utilizou-se imagem do satélite CBERS

2B, sensor CCD (Câmera Imageadora de Alta Resolução) do dia 12 de agosto de

2008, cena 166-117, o qual foi usado Bandas 2, 3 e 4 para composição colorida, com

resolução espacial de 20 metros. O CBERS (China-Brazil Earth Resource Satellite) é

uma parceria tecnológica entre nações em desenvolvimento. No Brasil, a imagem é

disponibilizada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE.

54

Para criação de uma imagem com resolução espacial de 2,5 metros foi

utilizada a técnica de fusão de imagem com a banda pancromática do satélite CBERS

2B da mesma data.

Após esse procedimento, esta imagem foi georreferenciada a partir da Planta

de Abairramento, gerada pela Restituição Aerofotogramétrica do ano 2006, com

atualização em 2009 em ambiente DWG (Autocad 2007), disponibilizada pela

Prefeitura de Cuiabá.

5.1.1.5.2 Classificação de Imagens

A extração de informações das imagens para geração dos mapas de uso e

cobertura do solo pode ser realizada por meio de procedimentos de interpretação

visual (ou classificação visual) ou por métodos de classificação automática de

imagens. No contexto deste tipo de mapeamento para uma cidade inteira, a adoção da

interpretação visual torna o procedimento demorado e caro, visto que mobiliza uma

grande quantidade de mão de obra especializada. (Pinho, 2005, apud LEONARDI et

al., 2009). Dessa forma, em relação a um mapeamento de área pequena, constitui-se

o método de classificação visual um eficiente instrumento para realização de

diagnóstico de classes de uso e cobertura do solo.

Assim, a classificação de imagens da Microbacia do Córrego Três Barras foi

realizada com base na técnica de Classificação Visual, com imagem de alta

resolução, não necessitando de conferência in loco em toda área da Microbacia, uma

vez que é possível identificar o alvo com nitidez na imagem de alta resolução (2,5

metros), sendo que, conforme Santos (2012, p. 33), a Classificação Visual

“possibilita a criação de mapas com maior margem de acerto, se comparado com a

classificação automática”. Dessa forma, a classificação foi elaborada na escala

1:5.000, sendo que para o mapeamento foram utilizadas chaves de identificação que

representam amostras dos diferentes tipos de uso do solo encontrados na área de

estudo.

5.1.1.5.3 Chaves de Identificação

A criação de Chaves de Identificação para cada tipo de uso possibilita a

utilização de critérios de separação das diversas classes, “permitindo uma leitura

55

mais rápida da imagem e diminuição de erros de interpretação”. (SANTOS, 2012, p.

33).

Assim, foram definidas oito classes de tipo de cobertura e uso do solo dentro

do perímetro da Microbacia do Córrego Três Barras, identificando-se as classes e

suas respectivas amostras, capturadas na escala 1:5.000, de acordo com a Figura 18.

Para o tema Vegetação foram delimitadas três tipos de classes: (A), (B) e (C),

que representam a situação encontrada, conforme identificação na imagem com as

seguintes amostras:

Figura 18 - Chaves de identificação das classes de uso de Vegetação e Solo Exposto presentes na

Microbacia do Córrego Três Barras.

Fonte: A autora.

Para o tema Solo Exposto, a identificação baseou-se conforme tipologia

encontrada de acordo com a imagem em amostra (D), (Figura 18).

Quanto ao tema Habitação, que reflete o índice de urbanização dos bairros e

localidades que compõem a Microbacia, estes foram subdivididos em três classes de

uso, representadas conforme as imagens capturadas em (E), (F) e (G). Por último,

tem-se no mosaico (H) a identificação de espelhos d’água presentes na área rural da

microbacia em estudo (Figura 19).

Vegetação Arbórea (A) Vegetação Rasteira (B)

Solo Exposto (D) Mosaico de Vegetação

Arbórea e Rasteira (C)

56

Figura 19 – Chaves de identificação das classes de uso de Habitação apresentadas na

Microbacia do Córrego Três Barras.

Fonte: A autora

5.2 DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE ENTORNO DO CÓRREGO TRÊS

BARRAS COM APLICAÇÃO DO MÉTODO VERAH

A partir da elaboração do mapa das Classes de Usos do Solo da Microbacia

do Córrego Três Barras pode-se demarcar, como pontos principais de observação,

alguns pontos e/ou porções localizados no alto, médio e baixo curso d’água do corpo

hídrico principal, definidos como “pontos de interesse” observados in loco na área de

entorno do Córrego Três Barras, conforme identificação na Figura 20.

Alta Densidade de

Habitação (E)

Média Densidade de

Habitação (F)

Baixa Densidade de

Habitação (G) Espelho d’água (H)

57

Figura 20 – Distribuição espacial dos pontos de interesse na área de entorno do Córrego Três

Barras. Fonte: A autora.

O critério utilizado na definição dos pontos de amostragem encontra-se

fundamentado nos seguintes aspectos:

1) Os pontos P1, P2, P3 e P4 foram definidos como pontos para coleta de amostra da

análise de água, por representarem em (P1) área de ocorrência da nascente principal

do córrego; em (P2) encontra-se a estaca divisória dos diferentes funcionamentos da

APP; em (P3) a contribuição de três afluentes; e em (P4) a montante do exutório,

antes da contribuição de tributário pertencente a outra bacia, e com contribuição de

afluentes localizados na porção menos urbanizada da microbacia.

2) Para os pontos PA a PF, segue a seguinte lógica: o ponto (PA) representa o limite

da área de entorno delimitada para a elaboração do diagnóstico VERAH, coincidente

com um tributário; o ponto (PB) representa a porção limite entre área urbanizada e

área não urbanizada; o ponto (PC) expressa uma área densamente urbanizada, onde o

fundo de vale encontra-se totalmente descaracterizado e a sua montante foi cenário

de inundação no ano de 2001; os pontos (PD) e (PE) constituem-se por altos índices

58

de ocupações irregulares em APP urbana; e, por último, o ponto (PF) representa uma

porção localizada à montante do vértice do perímetro urbano, na imediação da área

rural da microbacia hidrográfica.

Para a realização desta etapa utilizou-se os seguintes materiais para a

confecção dos mapas: um computador Core i7 - Windows 7, com programa ArcGis

9.3, e uma máquina fotográfica digital modelo Cyber-shot, 16.2 megapixels, marca

Sony. Para coleta e observação de dados em campo foram utilizados: um

equipamento de GPS, marca Etrex, trado manual e caderneta de campo.

As atividades em campo proporcionaram a observação dos elementos naturais

e o processo das ações antrópicas identificadas por meio do diagnóstico do real uso

do solo em relação aos temas analisados frente ao Método VERAH, ou seja,

Vegetação, Erosão, Resíduo, Água e Habitação, e a forma imprópria de sua

ocupação.

5.2.1 Vegetação

O diagnóstico que proporcionou o índice de vegetação existente foi realizado

conforme a descrição mencionada anteriormente, por meio da classificação de

imagens e as correspondentes chaves de identificação. Assim, foram atribuídos

índices relacionados à presença de vegetação: Arbórea, Rasteira, e o Mosaico de

Vegetação Arbórea e Rasteira, sendo ordenadas segundo o grau de maior existência

de mancha arbórea.

Primeiramente, procedeu-se à técnica do NDVI - Normalized Difference

Vegetation Index, ou seja, Índice de Vegetação por Diferença Normalizada – IVDN,

que representa o índice de vegetação encontrado na microbacia em estudo. De forma

mais específica, este índice se traduz por um indicador numérico que pode ser

utilizado para analisar dados de sensoriamento remoto e determinar se o alvo

observado contém vegetação densa ou não. Neste caso, verificou-se a existência e

qual a situação da cobertura vegetal nos bairros e localidades que constituem a

Microbacia.

Após essa análise em ambiente de geoprocessamento, procedeu-se à

observação em campo. As atividades em campo foram desenvolvidas por meio da

observação dos “Pontos de Interesse” pré-definidos e mapeados ao longo do curso

59

d’água principal e vertentes, nos quais se verificou a situação real da área de entorno

do Córrego Três Barras mediante a anotação da existência das espécies de árvores

nativas, frutíferas, invasoras ou ainda a supressão de vegetação, permitindo, dessa

forma, a elaboração do diagnóstico e caracterização da cobertura vegetal.

5.2.2 Erosão

Neste tema elaborou-se o mapa das ocorrências erosivas, por meio da

classificação e interpretação de imagem, e levantamento em campo.

O trabalho em campo consistiu em descrever essas ocorrências erosivas no

entorno do corpo hídrico e, principalmente, na área de ocorrência da nascente

principal, por meio de investigações guiadas por GPS, anotações em caderneta de

campo, fotografias digitais e, sobretudo, na realização de técnicas de tradagem

manual, para identificar o tipo de solo e o nível do aquífero freático.

O critério utilizado na caracterização das ocorrências erosivas baseou-se,

notadamente, na erosão causada por água de chuva, a erosão pluvial, onde se buscou

uma avaliação qualitativa do comportamento dos terrenos, verificando de que forma

ocorre o escoamento superficial ao longo das vertentes, e caracterizando, dessa

forma, os pontos de interesse, quanto à suscetibilidade à erosão laminar, em sulco,

ravina ou boçoroca. Assim, esses pontos foram estudados em função do

funcionamento hídrico das águas infiltradas e escoadas, bem como a presença de

aquífero freático.

Esse diagnóstico constituiu em importantes subsídios para a realização de um

prognóstico, visando metas e intervenções voltadas ao controle de erosão na

Microbacia.

5.2.3 Resíduo

O diagnóstico do resíduo abordou, especificamente, os resíduos sólidos

domésticos produzidos pelas residências e comércios locais, bem como foram

pontuadas as deposições de resíduos da construção civil na Área de Entorno do

Córrego Três Barras.

60

Para a área delimitada da Microbacia, foram utilizados dados secundários

referentes à coleta de lixo efetuada na região de estudo, disponibilizados pela

Prefeitura de Cuiabá.

Contudo, maiores enfoques foram conferidos à Área de Entorno do Córrego

Três Barras, ao longo das vertentes demarcadas, onde se pode investigar acerca das

principais ocorrências em relação à prática inadequada da deposição de lixo e

resíduos da construção civil, descrevendo, dessa forma, como está sendo realizada e

aceita a coleta de lixo pela população. Isso possibilitou demonstrar o processo de

ocupações irregulares, característico da evolução urbana da Microbacia, percorrendo

e observando em campo os “pontos de interesse”, resultando na sequência de

registros fotográficos.

5.2.4 Água

O índice utilizado para avaliar a qualidade da água baseou-se no método IQA

– CETESB, com principais indicadores de qualidade da água, sendo consideradas 9

(nove) variáveis, conforme limites mínimos e máximos expressos no Quadro 8.

Quadro 8 – Padrão de qualidade para águas de Classe 2 – Resolução Conama 357/05.

Parâmetros Limites

Oxigênio Dissolvido (OD) > 5,0 mg/L

Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) Até 5,0 mg/L

Potencial Hidrogeniônico (pH) 6,0 – 9,0

Temperatura da Água < 40ºC

Turbidez ≤ 100 NTU

Nitrogênio Total (NTK) – para ambientes lóticos pH ≤ 7,5 = 3,7

7,5 < pH ≤ 8,0 = 2,0 8,0 < pH ≤ 8,5 = 1,0

pH ≥ 8,5 = 0,5

Fósforo Total Até 0,1 mg/L

Sólidos Dissolvidos Totais 500 mg/L

Coliformes Termotolerantes (fecais) ou Escherichia coli 1.000 VMP/100 mL

Coliformes Totais 1.000 VMP/100 mL

Fonte: Resolução Conama 357/2005.

O estado ou condição de cada parâmetro apresentado são sintetizados em um

conjunto de curvas médias, com respectivos pesos, expressos na Figura 21.

61

Figura 21 – Curvas médias de variação de qualidade das águas.

Para realizar as análises da água, foram utilizados os seguintes equipamentos,

assim como para proceder à análise da água em laboratório foram utilizadas as

seguintes vidrarias, conforme Quadro 9:

Quadro 9 - Equipamentos e vidrarias utilizados para análise da água e suas funções.

Equipamentos Funções

Peagâmetro – PHS 3B Medir o pH

Bureta automática multi-Burett, modelo E185 Medir a Alcalinidade

Turbidímetro TB 1000p, marca MS Tecnopon Verificar a Turbidez

Multiparâmetro HQ 40, modelo HACH Medir OD, pH e Temperatura

Autoclave Vertical, modelo CS, marca Prismatec Medir Fósforo Total

Destilador de Nitrogênio MA-036, marca Marconi Leitura de Nitrogênio (NTK)

Digestor de Nitrogênio MA 056, marca Marconi Digerir amostra e analisar

Nitrogênio

Vidrarias Funções

Erlenmyr Leitura de Nitrogênio

Tubo Hack Leitura de Fósforo

Tubo Kajeldhll Digestão de Nitrogênio

Ressalta-se que para a coleta das amostras no corpo d’água foram utilizados

frascos de polietileno e, conforme abordado anteriormente, os procedimentos de

coleta foram realizados de acordo com o Manual de Rotinas Laboratoriais para

efluentes domésticos, Centro de Referência de Reuso de Água-CRRA (2012),

1 10¹ 10² 10³ 104

105

C. F. # / 100 ml

Nota: se C. F. > 10 , q = 3,05

1

q1

100

90

80

70

60

50

40

30

20

10

0

Coliformes Fecaispara i = 1

w = 0,151

2

q2

100

90

80

70

60

50

40

30

20

10

0

pHpara i = 2

pH, Unidades

Nota: se pH < 2,0, q = 2,02

se pH > 12,0, q = 3,02

3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

w = 0,122

0

q3

100

90

80

70

60

50

40

30

20

10

0

Demanda Bioquímica de Oxigêniopara i = 3

DBO , mg/l5

Nota: se DBO > 30,0, q = 2,05 3

5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

w = 0,103

0

q4

100

90

80

70

60

50

40

30

20

10

0

Nitrogênio Totalpara i = 4

N. T. mg/l

Nota: se N. T. > 100,0, q = 1,04

10 20 30 40 50 60 70 80 100

w = 0,104

0

q5

100

90

80

70

60

50

40

30

20

10

0

Fósforo Totalpara i = 5

PO - T mg/l4

Nota: se Po - T > 10,0, q = 1,054

1 2 3 4 5 6 7 8 10

w = 0,105

-5

q6

100

90

80

70

60

50

40

30

20

10

0

Temperatura(afastamento da temperatura de equilíbrio)

para i = 6

Nota: se t < -5,0 q é indefinido 6

0 5 10 15 20

w = 0,106

At, °C

se t > 15,0 q = 9,0 6

0

q7

100

90

80

70

60

50

40

30

20

10

0

Turbidezpara i = 7

Turbidez U. F. T.

Nota: se turbidez > 100, q = 5,07

10 20 30 40 50 60 70 80 100

w = 0,087

0

q8

100

90

80

70

60

50

40

30

20

10

0

Resíduo Totalpara i = 8

R. T. mg/t

Nota: se R. T. > 500, q = 32,08

100 200 300 400 500

w = 0,088

0

q9

100

90

80

70

60

50

40

30

20

10

0

Oxigênio Dissolvidopara i = 9

O.D. % de saturação

Nota: se OD. %sat. > 140, q = 47,09

40 80 120 160 200

w = 0,179

62

disponível no laboratório Físico-Químico da UFMT. Assim, os métodos utilizados

para análise de cada variável encontram-se descritos na Tabela 2, sendo que a DBO

só pode ser efetuada em um mês, devido a problemas laboratoriais existentes nesse

período.

Tabela 2 – Métodos analíticos utilizados para cada variável.

5.2.5 Habitação

Este tema foi diagnosticado por meio da classificação de imagem, compondo

as seguintes classes distintas: 1) Alta Densidade de Habitação; 2) Média Densidade

de Habitação e 3) Baixa Densidade de Habitação; conforme descrito no item Chaves

de Identificação, em Classificação de Imagens, anteriormente abordado.

Para a área de entorno do córrego, houve a conferência de existência de

habitações que se encontram constituídas em áreas impróprias para sua edificação,

localizadas em “pontos de interesse” na Área de Entorno do Córrego Três Barras,

onde foram mapeadas as áreas com ocupação irregular em APP, verificando, ao

longo desses pontos delimitados, a existência de construção verticalizada ou térrea,

com predominância ao uso residencial ou comercial. Essas porções mapeadas foram

apresentadas por meio de fotografias digitalizadas.

5.3 ANÁLISE EXPLORATÓRIA DAS CLASSES COMPONENTES DO

VERAH

A análise exploratória consiste no estudo e interpretação dos dados a partir de

informações estatísticas por meio de gráficos, capturados do mapa de classes de usos

do solo da Microbacia, e apresentadas em números em forma de tabela.

Variáveis Métodos Analíticos

DBO DBO 5 20 (Diluição e incubação a 20oC e 5 dias)

OD Método de Winkler modificado pela azida sódica

Fósforo Total Método do Persulfato e leitura colorimétrica

Nitrogênio Total Kjeldahl-NTK Kjeldahl macro

Sólidos Totais Gravimétrico

Turbidez Eletrométrico

pH Eletrométrico

Temperatura

Coliformes Termotolerantes

Coliformes Totais (E coli)

Termômetro digital

Teste do Substrato Enzimático – Colilert

Teste do Substrato Enzimático - Colilert

63

A análise exploratória das classes de usos desenvolveu-se por meio do

seguinte roteiro: após ter realizado a classificação visual da imagem e,

consequentemente, seu mapeamento pelo software ArcGis 9.3, procedeu-se o cálculo

dos tipos de usos. Para este cálculo, verificado em cada bairro que compõe a

Microbacia, foi utilizada a técnica de Tabulação de Dados. A tabulação serve para

calcular o percentual das várias classes delimitadas pelos respectivos tipos de usos. A

partir de então foram descritos os resultados por meio de uma tabela-síntese, onde

foram apresentados os resultados e, na sequência, a análise e discussão dos dados.

5.3.1 Análise Integrada dos Componentes do VERAH, Visando à Minimização

dos Impactos e Elaboração do Prognóstico

Apresentou-se uma síntese referente aos temas diagnosticados da Microbacia,

destacando-se os aspectos mais relevantes que se correlacionam entre os mesmos.

A partir disso, identificaram-se os trechos a serem restaurados conforme os

conceitos de restauração, revitalização e renaturalização, coincidindo com os pontos

de interesse diagnosticados. Assim, foi elaborado um prognóstico a partir de um

quadro de metas e intervenções que permitiu apresentar propostas relacionadas às

medidas mitigadoras mais adequadas no processo de restauração desse corpo hídrico

ou trecho dele, a fim de minimizar os problemas ambientais diagnosticados,

promovendo correções ou ainda prevenções quanto à qualidade socioambiental na

Área de Entorno do Córrego Três Barras e, consequentemente, na Microbacia como

um todo.

Para tanto, realizou-se a elaboração de um esboço, em forma de zoneamento e

cortes esquemáticos interceptando os pontos de interesse, servindo como subsídio

para o planejamento da Microbacia. Foram utilizados como ferramentas vários

softwares: ArcGis 9.3 - para processamento da imagem, a extensão DWG- Autocad

2009 - para desenho dos cortes esquemáticos nos pontos de intervenções, e imagem

Google Earth para layout da proposta. O produto gerado representou o prognóstico

para a área da Microbacia, referente à implantação do corredor ecológico - Via

Parque, auferindo melhorias em relação à vegetação, erosão, resíduos, água e

habitação capazes de contribuir para uma sadia qualidade de vida e meio ambiente

ecologicamente equilibrado.

64

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este capítulo aborda os resultados obtidos com base no diagnóstico realizado

na Microbacia do Córrego Três Barras. Assim, serão apresentados os seguintes

aspectos: a Análise Fisiográfica da Microbacia; a Evolução Urbana da Microbacia; a

disponibilidade de infraestrutura existente quanto ao abastecimento de água,

esgotamento sanitário e pavimentação asfáltica; o Diagnóstico Geral da Microbacia,

por meio da classificação visual de imagem; e o Diagnóstico da Área de Entorno do

Córrego Três Barras com aplicação do Método VERAH.

6.1 ANÁLISE FISIOGRÁFICA DA MICROBACIA DO CÓRREGO TRÊS

BARRAS

A microbacia do Córrego Três Barras apresenta uma área de drenagem de 22

km2, com um perímetro de 22,11 km, sendo que o comprimento do rio principal, o

Córrego Três Barras, é de 8,45 km. As altitudes da Microbacia variam entre 263m

(máxima), representando a sua nascente principal, e 173m (mínima), representando o

ponto mais baixo, ou seja, o seu exutório. Apresentam-se, no Quadro 10, os

resultados das principais características físicas da Microbacia.

Conforme os resultados pode-se afirmar que a microbacia do Córrego Três

Barras, em condições naturais, apresenta situação pouco favorável a ocorrência de

enchentes, quando considerados o coeficiente de compacidade (Kc = 1,32). Porém,

embora não tão distante da unidade (1,00), estabelecendo uma relação de conforto

quando analisado concomitante ao índice de circularidade (Ic = 0,56) e ao fator de

forma baixo (Kf = 0,30), confirmando sua forma alongada. A forma da microbacia

em seu estado natural caracteriza-se como uma forma não suscetível a enchentes,

portanto, não indicando tendências a inundações. Porém com a acelerada ocupação

urbana nesta área de estudo, seus aspectos físicos naturais foram alterados,

contribuindo com o aumento da vazão pluvial, sobrecarregando o sistema de

drenagem, quando existente. Nesse sentido, Porto et al (2000) apud Oliveira e

Mendes endossam que em uma “bacia urbanizada, o pico da cheia pode chegar a ser

seis vezes maior do que o pico dessa área geográfica em condições naturais”.

65

Quanto à densidade de drenagem encontrada na microbacia do Córrego Três

Barras foi de 1,055km/km2. De acordo com Sthraler (1957), apud Lima (2008), as

bacias que apresentam Dd até 5,0 km/km2 são classificadas em baixas densidades,

indicando, assim, que a microbacia em estudo possui baixa capacidade de drenagem.

Valores baixos de densidade de drenagem estão geralmente associados a regiões de

rochas permeáveis e de regime pluviométrico caracterizado por chuvas de baixa

intensidade.

Quadro 10 – Resultados da fisiografia da microbacia do córrego Três Barras.

Características Físicas Valores Unidades

Comprimento do Rio Principal 8,45 km

Área de Drenagem 22,00 km2

Perímetro da Bacia 22,11 km

Coeficiente de Compacidade (Kc) 1,32 kc

Fator de Forma (Kf) 0,30 kf

Desnível Total do Curso Principal 90 m

Declividade Média da Bacia 1,05 %

Comprimento da Rede de Drenagem 23,22 km

Ordem da Bacia 3a

Densidade de Drenagem (Dd) 1,055 km/km2

Coeficiente de Manutenção 952,38 km2/km

Índice de Circularidade (Ic) 0,56 IC

Altitude Máxima 263 m

Altitude Mínima 173 m

Altitude Média 218 m

Extensão Média do Escoamento Superficial 0,30 km

Nota-se pelos resultados apresentados que a ordem do curso d’água principal

é de grandeza 3, observando suas ramificações de acordo com a Figura 22. Assim, a

3a ordem é formada por dois ou mais cursos de 2

a ordem. Para uma bacia

hidrográfica, a sua ordem é definida como a ordem principal do respectivo canal, ou

seja, a microbacia em estudo também se configura de 3ª ordem.

66

Figura 22 – Ordem da microbacia hidrográfica do córrego Três Barras.

Fonte: A autora.

6.2 EVOLUÇÃO URBANA DA MICROBACIA DO CÓRREGO TRÊS

BARRAS

Neste item, será abordada a evolução urbana da Microbacia do Córrego Três

Barras, onde será traçado um breve histórico dos bairros que compõem a área de

estudo. E também o quadro atual em que se encontra a microbacia, do ponto de vista

da infraestrutura existente nesses bairros, como: abastecimento de água, coleta e

tratamento de esgoto, vias pavimentadas e não pavimentadas, e a coleta de resíduos

sólidos.

6.2.1 Dinâmica do Crescimento Populacional de Cuiabá

A cidade de Cuiabá nasceu da expansão das Bandeiras na busca de riquezas e

na conquista de novas fronteiras. Desde o início da sua evolução urbana teve como

cenário marcante os cursos d’água, pois a ocupação da região central da cidade teve

início à margem direita do córrego da Prainha. Assim, foram surgindo ruas paralelas

67

a esse córrego, e nelas levantadas as primeiras habitações que consolidariam o seu

espaço urbano. (IPDU, 2010).

A cidade representou um dos principais pólos de desenvolvimento da Região

Centro-Oeste do Brasil. A dinâmica do crescimento populacional pelo qual passou a

cidade verifica-se a partir da década de 1960, com o início da construção da Rodovia

Cuiabá - Porto Velho, quando a capital é transformada em base urbana regional de

apoio ao processo de expansão, provocando altas taxas de crescimento populacional,

ocasionando fluxos migratórios intensos. Assim, foi-se estabelecendo como “Portal

da Amazônia”, deixando de ser uma cidade de “fim- de- linha” para assumir a

posição de medianeira urbana do projeto de integração nacional da Amazônia

meridional. (FREIRE, 1997).

Verifica-se no gráfico abaixo, Figura 23, uma linha quase que verticalizada

entre as décadas de 1970 a 1980, representando uma variação populacional de 111%,

e entre 1980 e 1991 a variação da população atinge 89% em onze anos. Dessa forma,

começa a se estabelecer a consolidação de um cenário com desequilíbrio urbano-

ambiental e social provocado pelas correntes migratórias, especialmente as de baixa

renda. Apesar dos esforços do poder público, não foi possível atender à demanda, o

que resultou no agravamento do processo de invasão de áreas públicas e privadas, a

partir da década de 1970. Passou-se, então, de uma situação estável para outra de

intenso dinamismo, sendo que esta transformação não recebeu a contrapartida dos

poderes públicos no que diz respeito à infraestrutura, organização da cidade e,

particularmente, na questão habitacional, trazendo consequências negativas tanto

para o meio ambiente natural quanto o ambiente construído e seus habitantes.

Figura 23 – Gráfico representando o crescimento populacional de Cuiabá em cinco décadas.

Fonte: A partir de dados de IPDU (2010).

57860 100865

212984

402813 483346

530308

0

200000

400000

600000

1960 1970 1980 1991 2000 2010

PO

PU

LAÇ

ÃO

ANO

Crescimento Populacional de Cuiabá

POPULAÇÃO

ANO

68

Sem uma política habitacional para a baixa renda que fosse consistente e

integrada entre as três esferas dos poderes públicos, uma parte dessa clientela acabou

fixando moradia às margens dos vários córregos situados dentro da malha urbana de

Cuiabá, abundante em recursos hídricos.

6.2.2 Uso, Ocupação e Urbanização do Solo na Microbacia

Na área da microbacia hidrográfica em estudo, o zoneamento é representado

por seis classes de zonas: a Zona de Expansão Urbana (ZEX); a Zona de Uso

Múltiplo (ZUM); a Zona de Interesse Ambiental 2 (ZIA 2); a Zona de Interesse

Ambiental 3 (ZIA 3); a Zona Especial de Interesse Social 1 (ZEIS 1); e a Zona

Especial de Interesse Social 2 (ZEIS 2), conforme apresenta-se na Figura 24.

As ZIAs são áreas de fundamental importância para o equilíbrio ecológico e a

harmonia urbanístico-ambiental, para o saneamento ambiental; para a preservação da

flora e da fauna; na proteção dos recursos hídricos; e na minimização do impacto

negativo sobre o clima da região, refletindo, dessa forma, na melhoria da paisagem e

estética urbana, bem como na saúde das pessoas que habitam as áreas de entorno

destas zonas. (Figura 24).

Figura 24 - Mapa de uso, ocupação e urbanização do solo na Microbacia do Córrego Três

Barras e localização das ZIAs 2 e 3. Escala: 1/50.000.

Fonte: Adaptado a partir da Lei municipal no. 231/2011.

69

A ZIA 3 foi fruto da revisão da Lei de Uso e Ocupação do Solo, a partir de

um diagnóstico ambiental sobre as APPs realizado pelo Instituto de Pesquisa Mato-

grossense – IPEM. Na área da Microbacia, identificou-se um perímetro, que

consistiu no conglomerado de áreas destinadas à área verde, proveniente do

somatório de áreas livres com destinação ao uso público derivadas dos Conjuntos

Habitacionais Residencial Buriti e Ilza Therezinha Pícoli Pagot, limitando com o

Residencial Jonas Pinheiro, desenhando uma poligonal de 14,23 hectares, conforme

Figura 24. A oeste da Microbacia, também se encontra a ZIA 2 do Serra Dourada,

situada no alinhamento da Avenida Brasil, em frente ao loteamento Nova Conquista,

perfazendo uma área aproximada de 7,55 hectares. (Figura 24).

Assim, essas duas áreas mapeadas como ZIAs 2 e 3 têm o propósito de

figurar como zonas de proteção e preservação ambiental em situação constituída,

predominantemente, por habitações de baixa renda ou, ainda, localizadas em zona

especial de interesse social.

Para a edificação nessas áreas, conforme cada tipo de zona faz-se necessário o

atendimento aos índices urbanísticos que se encontram expressos no Quadro 11,

onde para cada caso se admitirá índices mais ou menos restritivos:

Quadro 11 - Índices urbanísticos para as zonas ZEX, ZUM, ZIAs e ZEIS.

Índices Urbanísticos

Zonas

Coeficiente

de

Ocupação

(CO)

Cobertura

Vegetal

Paisagística

(CVP)

Cobertura

Vegetal

Arbórea

Coeficiente

de

Permeabilidade

Potencial

Construtivo

(PC)

Limite de

Adensamento

(LA)

Potencial

Construtivo

Excedente

ZEX 0,15 0,20 0,85 0,85 0,15 0,15 0,00

ZUM 0,50 0,20 0,05 0,25 1,00 2,00 1,00

ZIA 2 0,05 0,05 0,85 0,90 0,50 0,50 -

ZIA 3 0,05 0,00 0,95 0,95 0,50 0,10 -

ZEIS 1 0,70 0,20 - 0,20 2,00 2,00 0,00

ZEIS 2 0,70 0,20 - 0,20 1,00 1,00 0,00

Fonte: Lei complementar no. 231/2011. CUIABÁ (2011).

Outro instrumento que auxilia na eficácia das ações sobre o desenvolvimento

urbano é o controle de usos pelo sistema viário, determinando e organizando a

estrutura da cidade. Assim sendo, para acompanhar as necessidades da cidade frente

às transformações ocorridas em relação à expansão territorial, é necessário que os

municípios adotem uma política de mobilidade urbana inspirada na diminuição de

“viagens motorizadas, posicionando melhor os equipamentos sociais,

70

descentralizando os serviços públicos, ocupando os vazios urbanos, consolidando a

multicentralidade, como forma de aproximar as possibilidades de trabalho e a oferta

de serviços dos locais de moradia” (BRASIL, 2007), consolidando, dessa forma, os

subcentros.

Esse pensamento de ordenação e otimização do espaço territorial concedeu à

nova Lei de Hierarquização Viária (Lei no. 232/2011) uma possibilidade legal quanto

à criação de Vias Parques acompanhando o desenho dos cursos d’água, como é o

caso da Avenida Parque do Córrego Três Barras.

As Vias Parques são classificadas como Vias Estruturais, formadas por vias

de tráfego rápido, permitindo o atravessamento da cidade com alta capacidade de

tráfego e, como tal, possuem o Padrão Geométrico Mínimo (PGM) de caixa viária,

que é a “largura mínima real ou prevista para cada classe de via” de 50 metros, sendo

determinado “a partir do eixo geométrico da via, medindo-se a metade do seu valor

para cada lado” (CUIABÁ, 2011). No caso das Vias Parques (Figura 25), quando se

tratar de córregos não canalizados, será o seguinte: “A metade do Padrão Geométrico

deve ser medida a partir do meio fio da calçada que margeia a Área de Preservação

Permanente ou da faixa de área destinada ao calçamento”, conforme preconiza a Lei

no. 232/2011, § 5º, art.180.

Figura 25 - Corte transversal esquemático: via parque com córrego não canalizado. Fonte: Adaptado a partir de IPDU (2010).

6.2.3 Breve Histórico de Ocupação da Microbacia do Córrego Três Barras

A Microbacia é composta por 5 bairros e nestes inseridos 13 localidades, e

mais a área de expansão urbana contando com 16 localidades, tendo sido

constituídas por meio de loteamentos regulares e clandestinos; assentamentos

informais; núcleos habitacionais; condomínios e parcelamento por meio de

desmembramentos. (Figura 26).

71

Inicialmente, a ocupação dessa região deu-se por meio da transferência da

sede do governo do Estado, a partir de 1974, para a localidade denominada Centro

Político Administrativo (CPA). Esta mudança estimulou o Estado a promover a

construção de conjuntos habitacionais destinados aos servidores públicos do governo

e à população de baixa renda. Assim, iniciou-se a urbanização por meio de

loteamentos planejados a partir de 1979, com a implantação do CPA I, obtendo

maior intensidade no período de 1980 a 1985, quando foram implantados os CPAs II,

III e IV, área abrangente da microbacia, observada na Figura 26.

Figura 26 - Evolução urbana dos bairros que compõem a Microbacia do Córrego Três Barras. Fonte: A autora.

A partir desse cenário, tem-se início a propagação dos assentamentos

informais e ocupações irregulares em áreas públicas e áreas de fundo de vale, sendo

ocupadas pela população recém-chegada, contribuindo, dessa forma, para o aumento

da demanda por moradias, apresentando-se, nesse contexto, como um dos maiores

problemas da cidade. Como consequência desse tipo de ocupação, aumenta-se a

necessidade por equipamentos urbanos e comunitários, ampliação dos serviços e

72

atendimento nos setores de saúde, educação, cultura e lazer, bem como a ampliação

da infraestrutura das redes de distribuição de água e, especialmente, no que tange ao

saneamento básico.

Os bairros situados no alto, médio e baixo curso do Córrego Três Barras

representam fatores de influência direta à qualidade do corpo d’água, em especial

aqueles que se estendem até as margens de APP do referido córrego.

O Córrego Três Barras é o limite físico-natural que delimita alguns bairros e

localidades que se encontram implantados na Microbacia, sendo em sua grande

maioria oriundos de ocupações irregulares pretéritas que foram preenchendo áreas

vazias e próximas à infraestrutura disponibilizada a partir da implantação do bairro

Morada da Serra, computando 14.689 domicílios particulares permanentes, e ainda

área de expansão urbana, conforme se apresenta no Quadro 12.

Quadro 12 - Bairros e localidades que compõem a Microbacia do Córrego Três Barras.

Bairros Localidades População/Dom. Situação

Nova Conquista Jardim Nova Conquista 855/272 Assentamento informal

Primeiro de Março Jd. Primeiro de Março 7.457/2.422 Desmemb. regularizado1

João Bosco Pinheiro 885/279 Loteamento

São Tomé 752/242 Loteamento

Morada da Serra CPA II 1.099/439* Núcleo habitacional

CPA III 3.920/1.568 Núcleo habitacional

CPA IV 7.169/2.867* Núcleo habitacional

Jardim Brasil 2.273/710 Lot. regularizado

Ouro Fino 1.086/342 Desmem. regularizado

parcialmente1

Novo Horizonte Novo Horizonte 2.951/949 Loteamento

Três Barras Três Barras 9.926/3.531 Loteamento

Jardim Umuarama II 1.060/775 Loteamento2

Altos da Glória 445/176 Loteamento

regularizado2

Área de expansão urbana

Jamil Boutros Nadaf N.I Conj. habitacional

Residencial Buriti 663/2.012 Conj. habitacional

Res. Ilza Therez. Picoli

Pagot

1.039/425 Conj. habitacional

Res. Wantuil de Freitas 3.221/3005 Loteamento

Conj. Hab. Sen. Jonas

Pinheiro

882/314 Loteamento e conj.

habit.

Jardim das Aroeiras 2.224/766 Loteamento

Jardim Aroeira II 1.556/492 Loteamento

Residencial Ana Maria 383/1.212 Condomínio horizontal

Residencial Pádova 721/322 Loteamento

Residencial Solar da

Chapada

Em construção Loteamento

73

Continuação Quadro 12 - Bairros e localidades que compõem a Microbacia do Córrego Três

Barras.

Bairros Localidades População/Dom. Situação

Área de expansão

urbana

Serra Dourada 2.674/896 Assentamento Informal

Dr. Fábio I e II 7.932/2.868 Assent. Irreg./ parte

regul.

Altos da Serra 445/176 Assent. Irreg./ parte

regul.

Jd. Paraná/ Cel.

Torquato

s/ informação Lot. e Conj.

Habitacional

Nova Canaã I e II

1.060/775 Lot. e conj. habitacional

(1) Loteamento aprovado na modalidade de desmembramento. (2) Localidade pertencente a mais de um bairro.

* População/domicílio- refere-se à estimativa da área pertencente à Microbacia do Córrego Três

Barras (IBGE-MT, 2012)

N.I – Não informado

Fonte: Adaptado de Composição de Bairros. CUIABÁ, 2012.

6.2.3.1 Morada da Serra

Do bairro Morada da Serra, as partes pertencentes à Microbacia são as

seguintes localidades: 10% do CPA II, 25% do CPA III e 40% do CPA IV e, ainda, o

Jardim Brasil e o Ouro Fino (Figura 27).

6.2.3.1.1 CPA II, III e IV

A urbanização dessa região teve início a partir da implantação dos Núcleos

Habitacionais CPA I, II, III e IV e do Núcleo Habitacional Coophas (conhecido por

Morada do Ouro), sendo que estes empreendimentos foram realizados pela

Companhia de Habitação Popular do Estado de Mato Grosso - COHAB-MT. A

implantação do CPA II ocorreu em 1981 e a do CPA IV em 1985. Os núcleos

habitacionais foram projetados, a princípio, com o objetivo de atender aos servidores

públicos do governo do estado, sendo entregues com abastecimento de água tratada e

esgoto com rede de coleta, sendo lançados para tratamento na Lagoa de Estabilização

do CPA III, atualmente conhecida como Lagoa Encantada. Ocorre que, no pretérito,

estes núcleos serviram como pólo de atração para o estabelecimento de habitações às

margens do córrego, uma vez que o entorno já dispunha de toda a infraestrutura

urbana necessária para os novos moradores. Esses núcleos pertencem à classificação

de Zona Urbana ZUM.

74

6.2.3.1.2 Jardim Brasil

O Jardim Brasil foi fundado em 1987, sendo a área ocupada pelos operários

que construíram casas do CPA IV-4ª etapa, conforme Pires (2012)1. O assentamento

informal foi implantado parcialmente sobre as áreas de preservação permanente dos

córregos Vassoural e Três Barras e sob as linhas de transmissão de energia elétrica

da Eletronorte, numa área de propriedade do Governo Estadual, regularizado

parcialmente pelo Instituto de Terras de Mato Grosso-Intermat.

A localidade encontra-se distribuída em uma área de 40,93 hectares, com 949

lotes implantados, com configuração espacial alongada, estreita e irregular (Figura

27).

Segundo Topanotti (2002), o bairro foi parcialmente regularizado em 1992,

contrariando as recomendações da Carta Geotécnica que classificou 25% do seu

relevo como áreas de Várzeas, sujeitas a alagamentos, e 75% em áreas de Colinas. A

regularização do Jardim Brasil foi feita através de um convênio estabelecido entre o

Governo Estadual e a Prefeitura Municipal, o qual previa a retirada das famílias

situadas em áreas de risco e de preservação permanente, fato que ocorreu em 2001,

através do programa BID Brasil, financiado pelo Banco Mundial e implantado pelo

Município.

Atualmente, a localidade já possui prédio próprio da Associação de

Moradores, mas ainda existem áreas de APP ocupadas de forma irregular, sendo que

um dos maiores anseios da comunidade é a regularização fundiária e urbanística,

uma vez que o Jardim Brasil configura na zona Urbana ZEIS 2, com o objetivo de

realizar a regularização fundiária.

6.2.3.2 Bairro Nova Conquista

O Bairro Nova Conquista possui uma área de 15 hectares, com população de

855 habitantes, contando com 3,65 pessoas/dom. ocupado, e uma densidade

populacional de 57 hab./ha, conforme o Censo 2010. O bairro cresceu na última

década 8,77% em população e são computados 211 domicílios particulares

permanentes (CUIABÁ, 2012).

1 Entrevista pessoal realizada com Edson Pires, Presidente da Associação dos Moradores do bairro

Jardim Brasil, em 10 de agosto de 2012.

75

O Nova Conquista nasceu de assentamento informal em busca do sonho da

maioria dos brasileiros, a casa própria. É fruto de uma ocupação sem conflitos

ocorrida no ano de 1991, onde a área era de domínio público, motivo que facilitou a

sua legalização em 1992. Dois córregos banham seu território: o Vassoural e o Ouro

Fino, afluentes do Córrego Três Barras (Figura 27). Os equipamentos públicos são

escassos, sem área de lazer conta apenas com o centro comunitário onde a população

organiza reuniões.

Atualmente, pertence à zona urbana ZEIS 2, com configuração espacial muito

estreita e alongada.

6.2.3.3 Bairro Novo Horizonte

O histórico do bairro Novo Horizonte se fundamente também pela conquista

da habitação para famílias desprovidas de moradia ou ainda que vivem de aluguel.

O Bairro pertence à Região Leste da cidade, localizando-se à margem direita

do Córrego Três Barras. Possui uma área de 43,46 hectares, com queda na população

residente do ano 2000 para 2010, quando apresentava 3.745 habitantes, e dez anos

depois, conforme o Censo 2010, contava com 2.951 habitantes. Em decorrência

dessa diminuição, sua densidade populacional passou de 86,17 hab./ha para 67,90

hab./ha. Parte dessa queda deve-se ao reassentamento da população que habitava

uma porção da APP do córrego Gumitá e foi transferida para o Conjunto

Habitacional Sen. Jonas Pinheiro, parte da ação prevista pelo Programa de

Recuperação das Áreas Degradadas do Vale do Córrego Gumitá e Revitalização do

Entorno, realizado pela Prefeitura de Cuiabá. O Novo Horizonte caracteriza-se por

pertencer à Zona Urbana de Múltiplo Uso – ZUM, possuindo 942 domicílios

particulares permanentes.

Em 1987 foram regularizados 832 lotes pertencentes ao loteamento urbano

Novo Horizonte, pelo Programa Terra da Gente – Protege, CUIABÁ (2012).

76

Figura 27 - Bairros e localidades pertencentes à Microbacia do Córrego Três Barras.

77

6.2.3.4 Bairro Primeiro de Março

Sua denominação inicial era “Morrinho”, local destinado a realizar reuniões

em prol da posse da terra, uma vez que, no passado, o seu uso era destinado a

atividades do garimpo. Mesquita (20122

relata que a área era de propriedade

particular da Colonizadora Bandeirantes, e a ocupação ocorreu em 1º de março de

1991 por um grupo de pessoas que se uniram e eram parentes de famílias que não

receberam casas no recém-criado bairro Três Barras, por pessoas que desocuparam

uma área protegida denominada de “Cantinho do Céu”, e ainda por membros de

famílias que viviam de aluguel no bairro Alvorada, unindo-se, assim, para abrir a

primeira rua (Figura 28) e formar o bairro Primeiro de Março, denominação eleita

pela comunidade.

A abertura do loteamento clandestino não ocorreu de forma pacífica, houve

conflitos estabelecidos entre a polícia e os invasores, decorrente da ação de

reintegração de posse. Caminhos foram bloqueados para evitar novas tentativas de

desocupação da área por parte de policiais que cumpriam ordem judicial. Por meio

de um parlamentar foi apresentado, no Legislativo Estadual, um projeto de lei que

autorizava o poder Executivo a desapropriar a área e indenizar a proprietária legal do

imóvel. A extinta Cohab acabou negociando com a Colonizadora, adquirindo a área e

elaborando um projeto de loteamento.

Figura 28 - Ocupação do bairro Primeiro de Março e ruas consolidadas.

Hoje, pouco menos de 50% das pessoas que lutaram pela conquista da terra

permanecem no local, ocupando uma área de 134 hectares, com população de 7.457

2 Entrevista pessoal realizada com Leonel Mesquita, Presidente da Associação dos Moradores do

bairro Primeiro de Março, em 11 de agosto de 2012.

78

habitantes, sendo cadastrados 1.812 domicílios particulares permanentes, com 3,51

pessoas/dom.oc., e com uma densidade populacional de 55,65 hab./ha, conforme

Censo de 2010 (CUIABÁ, 2012). Em relação a sua população, o Primeiro de Março

cresceu, nos últimos 10 anos, cerca de 6,59%.

Este bairro pertence à Zona Urbana de Uso Múltiplo – ZUM, cuja

regularização se deu por meio de desmembramento da área, abrigando duas

localidades: o loteamento João Bosco Pinheiro (Figura 29), pertencente à Zona

Urbana ZEIS 1, e o loteamento São Tomé, integrante da Zona Urbana ZEIS 2.

Figura 29 - Bairro 1º de Março e os loteamentos que o compõem.

Fonte: A autora.

O João Bosco Pinheiro foi implantado no ano de 1996, onde foram

construídas 33 eco-moradias por meio de um Programa Emergencial de Habitação,

decorrente da enchente de 1995. O loteamento foi projetado pela extinta COHAB, e

sua denominação foi em homenagem a um ex-contador da Companhia de Habitação.

Após a implantação dessas moradias, pouco a pouco foram sendo construídas outras

habitações não incluídas no Programa. Já o loteamento São Tomé teve aprovação em

12/12/2002, sendo implantados 333 lotes que ainda não se encontram regularizados,

conforme Cuiabá (2012).

79

6.2.3.5 Bairro Três Barras

O Bairro Três Barras possui uma área de 127,29 hectares, com população,

conforme Censo 2010, de 9.926 habitantes, representando um acréscimo de 53,13%

de pessoas que fizeram desse bairro sua opção de morada. Assim, a densidade

populacional subiu de 50,92 hab./ha, na década de 2000, para 77,98 hab./ha em 2010.

O Bairro nasceu de um empreendimento realizado pelo Município,

caracterizado como loteamento popular, com o objetivo de transferência de famílias

de outras localidades residentes em áreas de risco e APP. Em 1988, o Três Barras

possuía 1.295 lotes urbanos regularizados pelo Programa Terra da Gente (Protege),

sendo que em 2000 expediram-se cartas de aforamento, somando um total de 1.637

domicílios particulares permanentes.

Em abril de 2001, segundo relato de moradores, um temporal atingiu 150

famílias, deixando 22 delas desabrigadas, residentes principalmente às margens do

córrego Três Barras. Criou-se, após o ocorrido, a Associação dos Moradores em Área

de Risco de Cuiabá, quando foram apontados alguns fatores determinantes da

tragédia, em documento intitulado “Carta dos Desabrigados de Cuiabá,” como: a

ocupação de área de preservação permanente, a precariedade na coleta de lixo,

inexistência de política ambiental, carência de políticas públicas de habitação popular

e de ocupação do solo, associados à existência de represas e taludes construídos sem

orientação técnica.

Assim, conforme Cuiabá (2012), foram criados programas emergenciais, por

meio de recursos federais, destinados à construção de casas para os desabrigados do

temporal supra relatado, com previsão de recebimento de recursos do Programa

Habitar Brasil/BID para o ano de 2002. Dessa forma, construíram-se, com fontes do

PHBB, 186 unidades habitacionais no Jardim Umuarama II e 163 no Conjunto

Habitacional Jardim Paraná, uma vez já aprovados 273 lotes, em 20/12/2000,

recebendo a denominação de Residencial Coronel Torquato, entregues no ano de

2007. Em 1996, o Jardim Umuarama já se encontrava com 497 lotes regularizados,

enquanto que o Jardim Umuarama II, no ano de 1999, contava com 620 lotes

regularizados, ambos pelo Programa Terra da Gente (Protege). Esses conjuntos

habitacionais foram entregues com infraestrutura instalada (abastecimento de água,

80

drenagem e pavimentação das vias, coleta e tratamento de esgoto interligado na

Estação do Três Barras).

6.2.3.5.1 Altos da Glória

Segundo Topanotti (2002), o processo de ocupação irregular da localidade

Altos da Glória teve início em 1996, estimulada por pessoas de bairros vizinhos

como Três Barras, Jardim Brasil e alguns outros da região norte da cidade, que

invadiram uma área de 61,16 hectares. Nesse período, situava-se em uma área

caracterizada pela Lei de Uso de Solo no. 103/03 como Zona de Expansão Urbana -

ZEX, e, dessa forma, foi parcelada em 586 lotes de 200 m2 cada.

Porém, a invasão teve início em uma área maior denominada Jardim

Umuarama II, “cuja autenticidade do título de propriedade, em nome de uma

empresa imobiliária da cidade, estava sendo questionada pelos ocupantes, motivo

que levou a empresa a abrir mão de uma parte da área, onde está localizado o bairro”.

(TOPANOTTI, 2002, p. 84)

Somente no ano de 2007 é que os 586 lotes urbanos foram regularizados no

loteamento Altos da Glória, encontrando-se o bairro, hoje, cem por cento

regularizado.

Atualmente, com a Lei no. 231/2011, o Altos da Glória tem em seu

zoneamento a caracterização de Zona Especial de Interesse Social 1- ZEIS 1.

Quanto ao planejamento urbano destinado a esse bairro, está prevista, na

Hierarquização Viária municipal, a implantação de Vias Coletoras, realizando a

ligação com a Via Parque Planejada do Córrego Três Barras. Pela própria localização

do bairro, ou seja, o seu limite coincide com a linha limítrofe do perímetro urbano de

Cuiabá, verificando-se uma proximidade considerada com a projeção do Rodoanel,

fator que requer uma especial fiscalização de agentes municipais no sentido de evitar

novos assentamentos informais em direção à nova rodovia e com isso ampliar,

desnecessariamente, o perímetro urbano da cidade.

6.2.3.6 Área de Expansão Urbana

A Área de Expansão Urbana - AEU não se caracteriza como bairro.

Atualmente, nesta região em estudo, as áreas remanescentes de expansão urbana

81

pertencem à Zona Urbana de Uso Múltiplo - ZUM, abrigando diversos conjuntos

habitacionais destinados à baixa renda, aprovados principalmente após a década de

2000.

O Censo de 2010 aponta um crescimento populacional de 247,14 % nas áreas

de expansão urbana, uma vez que saltou de 3.216 habitantes em 2000 para 11.164

habitantes em 2010. Esse número traduz o acréscimo no adensamento populacional

da AEU de 10,83% a mais, em especial nas regiões Norte e Oeste da cidade, onde se

concentra a maioria dos empreendimentos relacionados à edificação de conjuntos

habitacionais destinados à classe de renda baixa na região Norte e os diversos

condomínios horizontais implantados na porção Oeste da cidade, reservados para a

classe de renda alta, ocupando, dessa forma, os espaços vazios nas AEUs (Figura

30).

Fazem parte desse novo cenário urbano na região Norte os conjuntos

habitacionais: Senador Jonas Pinheiro, Resid. Ilza Therezinha Picoli Pagot,

Residencial Buriti, Jamil Boutros Nadaf, Jardim das Aroeiras, Jardim Aroeira II,

Residencial Ana Maria, Residencial Pádova, Residencial Solar da Chapada (Figura

30).

O conjunto habitacional Senador Jonas Pinheiro (1ª Etapa) e o loteamento que

recebe o mesmo nome foram concebidos através do Plano de Governo Municipal, em

2006, quando da elaboração do Programa de Recuperação das Áreas Degradadas do

Vale do Córrego Gumitá e Revitalização do Entorno, tendo como um dos objetivos o

reassentamento da população que habitava áreas de risco e APP nas margens do

córrego Gumitá. O município adquiriu a área com recursos próprios, em zona de

expansão urbana, localizado dentro do perímetro urbano, com aprovação do

empreendimento em 18/11/08, onde foram projetados 534 lotes e construídos 196

unidades habitacionais, recursos oriundos de emenda parlamentar federal, pelo

Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social – FNHIS, sendo que as casas foram

entregues em 2010. A partir da Lei no. 231/2011 integram a Zona Urbana Especial de

Interesse Social 2 (ZEIS 2).

82

Figura 30 - Localização dos conjuntos habitacionais destinados à classe de renda baixa na região

Norte de Cuiabá. Fonte: A autora, a partir de planta de abairramento disponibilizada pela Prefeitura de Cuiabá, 2012.

Os conjuntos habitacionais Resid. Ilza Therezinha Picoli Pagot, Residencial

Buriti, Jamil Boutros Nadaf e Wantuil de Freitas compartilham da mesma

localização poligonal que o Res. Jonas Pinheiro, mais especificamente no vértice

norte da linha imaginária do limite do perímetro urbano de Cuiabá. O Residencial

Ilza Therezinha Picoli Pagot e o Wantuil de Freitas tiveram o início das obras em

2007, ambos viabilizados pelo Programa de Arrendamento Residencial – PAR, sendo

que o primeiro conta com 482 unidades habitacionais e o segundo com 428 unidades.

O Residencial Buriti foi construído em 2008, ofertando 486 unidades

residenciais pelo Programa PAR. Em 2009 deu-se a construção do Residencial Jamil

Boutros Nadaf, pelo Programa Habitacional Minha Casa Minha Vida, onde foram

entregues 322 unidades habitacionais.

83

Quanto à infraestrutura, esses conjuntos habitacionais possuem vias

pavimentadas, calçadas, iluminação pública, abastecimento de água pelo Sistema

Tijucal, rede coletora de esgoto que é conduzida para uma estação de Tratamento de

Esgoto em comum, do tipo RAFA - Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente (reator

fechado), edificada na área do Conjunto Habitacional Sen. Jonas Pinheiro, onde,

depois de tratado, é lançado no Córrego Três Barras.

O Conjunto Habitacional Jardim das Aroeiras foi construído em 2003, pelo

Programa Habitar Brasil/BID (PHBB), constituindo um total de 406 unidades

habitacionais, com fossa filtro tratada e rede coletora de esgoto. Este Conjunto faz

parte do Programa Emergencial, oriundo de recursos federais justificados pela

necessidade de construção de casas para os desabrigados da enchente de 2001, que

habitavam áreas de risco, principalmente às margens do Córrego Três Barras

(CUIABÁ, 2012). O Jardim Aroeira II teve a aprovação do loteamento em

7/10/2003, com 360 lotes.

O Residencial Ana Maria constitui um condomínio particular fechado, com

infraestrutura, sendo o sistema de tratamento de esgoto em fossa e filtro

independentes.

O loteamento Residencial Pádova trata-se de um empreendimento particular,

construído pela construtora Lumen, em 2004, por meio do Programa PAR, onde se

encontram 237 casas edificadas. Também possui infraestrutura básica, com esgoto

coletado, tratado e lançado no córrego Vassoural.

O Serra Dourada constitui um assentamento informal, onde a área pública do

Instituto de Terras de Mato Grosso-Intermat foi ocupada no ano de 2007. Apesar de

não ter sido realizada a regularização fundiária, e sem infraestrutura básica, teve em

sua “invasão” princípios de um movimento “organizado,” uma vez que suas vias

foram abertas a partir de algum projeto de loteamento que serviu como modelo

àquela ação. (AMHP/ entrevista)

Residencial Solar da Chapada é um loteamento aprovado em 7/6/2010, com

370 lotes, registrados entre os meses de setembro e outubro de 2010. Refere-se a um

condomínio particular de casas térreas e sobrados, sendo um empreendimento

privado que foi notificado e autuado pela Prefeitura por estar lançando esgoto in

natura no córrego Vassoural, conforme entrevista concedida pela AMHP.

84

Atualmente, encontra-se em construção, após aquisição e regularização realizada por

outra empresa de construção civil, (Figura 31).

Figura 31 – Residencial Solar da Chapada, em construção.

Fonte: A autora.

6.2.3.6.1 Dr. Fábio e Altos da Serra

O Bairro Dr. Fábio Leite foi fundado através de assentamento informal,

popularmente conhecido como invasão ou grilo, onde a área “grilada” era de

propriedade particular da viúva do doutor que empresta o seu nome ao bairro. Com a

ocupação já consolidada, a área de 200 hectares foi desapropriada pela Prefeitura e

adquirida com recursos próprios, implantando-se, conforme Cuiabá (2012), 4.090

lotes, abrindo frente a um novo loteamento popular. Esses lotes foram regularizados

no ano de 2000 pelo Programa Terra da Gente (Protege) e, com a enxurrada de 2001,

foram construídos no Dr. Fábio Leite 150 casas de alvenaria pelo Programa

Emergencial de Habitação, com implantação em 2004.

Basicamente, a história do Dr. Fábio e do Altos da Serra são únicas, uma vez

que toda a área foi registrada como Dr. Fábio, havendo, em razão disso, a divisão do

território com o intuito de se criar a Associação de Moradores de Bairro do Altos da

Serra. Mais tarde, em 2007, o Dr. Fábio e o Altos da Serra foram contemplados com

38 unidades habitacionais, tendo como origem de financiamento o recurso do Fundo

Nacional de Habitação de Interesse Social-FNHIS.

Quanto à Zona Urbana que configura a margem esquerda do Córrego Três

Barras, encontra-se delimitada pela ZEIS 1, com os bairros Altos da Serra, Dr. Fábio

I e II, Jd. Umuarama e Altos da Glória, sendo que os demais constituem Zona

Urbana de Uso Múltiplo-ZUM.

85

6.2.3.6.2 Nova Canaã

O loteamento e conjunto habitacional Nova Canaã-1ª etapa, teve seu

empreendimento aprovado em 5/6/2009, e o Nova Canaã- 2ª etapa em 16/11/2009,

sendo edificadas 499 casas em cada Conjunto, por meio do programa habitacional

Minha Casa Minha Vida, entregues com infraestrutura (asfalto, abastecimento de

água, iluminação pública, rede coletora de esgoto e seu tratamento operacionalizado,

por meio da Estação de Tratamento do Bairro Três Barras, onde foi realizada a

ampliação de mais um módulo do tipo RAFA, para suportar o aporte do volume

produzido).

6.3 INFRAESTRUTURA DISPONÍVEL NA MICROBACIA

Ressalta-se que para o diagnóstico da Microbacia utilizaram-se também dados

secundários disponíveis nos órgãos e secretarias da Prefeitura de Cuiabá quanto à

existência de infraestrutura disponível na área de estudo, onde foram verificados:

abastecimento de água, esgotamento sanitário, vias pavimentadas e não

pavimentadas e serviços de coleta de lixo.

6.3.1 Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário

O tratamento de água em Cuiabá é do tipo ETA (Estação de Tratamento de

Água) e em algumas localidades por simples desinfecção. (PMSB, 2011).

A natureza do prestador de serviço até 15 de abril de 2012 era pública, na

modalidade Sociedade de Economia Mista, por meio da Sanecap. A partir de então,

com a concessão da empresa, passou a operação para a iniciativa privada.

O abastecimento para esta região, que faz uso de mananciais superficiais, é

realizado por sistemas operados do Tijucal, sistema Central e poços tubulares, que se

apresentam na Figura 32, representando as principais fontes de abastecimento da

Microbacia do Córrego Três Barras.

86

Figura 32 – Mosaico de fotos com localização do sistema central e ETA Tijucal, com adutora

chegando ao bairro Altos da Serra.

Conforme levantamento em campo, a Microbacia se apresenta como uma

região predominantemente residencial, onde a economia comercial encontra-se

representada por pequenos comércios varejistas, como bares, mercados de secos e

molhados, lojas de vestuário etc.

O abastecimento de água tratada na Microbacia reflete uma situação crítica,

uma vez que o atendimento do serviço é disponibilizado de maneira intermitente.

Assim, por se tratar de uma região com abastecimento intermitente, esses

sistemas tornam-se insuficientes, levando-se em conta um cenário de constante

adensamento populacional e sua forma irregular de ocupação. Como consequência, é

preciso tirar partido da exploração de poços tubulares profundos para abastecimento

de parte da população que habita alguns bairros e localidades, conforme ilustra a

Figura 33.

87

Figura 33 – Pontos de captação de água por poços para abastecimento na Microbacia do

Córrego Três Barras.

Fonte: CUIABÁ. Prefeitura. Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB), 2011. Abastecimento

de Água/Esgotamento Sanitário. Captações em Poços.

Nesse caso, faz-se necessário propiciar melhorias nesse setor, promovendo a

universalização da água, onde a intenção da administração pública deve ser no

sentido de que, gradativamente, esses poços vão sendo retirados de operação, à

medida que o sistema da ETA Tijucal conclua a implantação das adutoras para

abastecimento dos bairros programados para esse sistema.

Em relação ao Esgotamento Sanitário, da mesma forma que a água, a

natureza do prestador de serviços passa a ser privada a partir de 2012, sendo que

conforme PMSB (2011), os índices de coleta de esgoto em Cuiabá representam 38%

e o tratamento apresenta com índice de 29%.

O Quadro 13 auxilia no entendimento do universo de abastecimento de água,

bem como coleta e tratamento de esgoto, uma vez que são apresentados os totais de

economias de água e esgoto dos bairros e localidades que compõem a Microbacia do

Córrego Três Barras.

88

Quadro 13 - Abastecimento de água e coleta de esgoto na microbacia do córrego Três Barras.

Bairros/Localidades Pess./

Dom*

Total

Econ.

Água

Total

Econ.

Esgoto

Total Econ.

Água com

Hidrômetro

Altos da Glória 2,52 516 - -

Altos da Serra 2,52 820 - -

CPA II 2,50 614 600 548

CPA III 1,37 509 502 448

CPA IV 2,50 1640 22 1549

Doutor Fábio I 2,76 1505 - 15

Doutor Fábio II 1,70 588 - 20

Primeiro de Março 3,08 1444 - 103

Jd. Aroeiras 2,90 409 406 370

Jd. Umuarama I 1,37 251 1 30

Jd. Umuarama II 1,37 458 3 44

João Bosco Pinheiro I 3,17 505 - 95

João Bosco Pinheiro II 3,17 02 - -

Jd. Brasil 3,20 1013 90 383

Lot. São Tomé 3,10 21 - 4

Nova Conquista 3,06 425 - 63

Novo Horizonte 3,11 874 766 706

Ouro Fino 3,17 690 242 424

Res. Ilza Therez. Picoli 2,45 484 - 483

Três Barras 2,81 1518 189 616

Wantuil de Freitas 1,07 428 428 428

Fonte: Sanecap. Relatório Geral de Consumidores por Bairros, 2011. *Dados atualizados conforme IBGE-MT, 2012.

Assim, quando se compara o total de economia de esgoto com o total de

economia de água, para os mesmos bairros, verifica-se uma elevada necessidade por

melhorias e ampliações do serviço de esgotamento sanitário, uma vez que o índice de

abastecimento de água na Microbacia representa 72% da população atendida,

enquanto que rede e tratamento de esgoto refletem apenas 16% de atendimento na

Microbacia.

6.3.2 Pavimentação Asfáltica

Quanto à infraestrutura de pavimentação asfáltica, a Microbacia possui quatro

bairros que se encontram 100% (cem por cento) asfaltados: Jd. Brasil, CPA II, CPA

III e CPA IV, sendo que em outros bairros foi realizado esse tipo de investimento nos

últimos anos, conforme se verifica no Quadro 14. No ano de 2011 não houve

investimentos nesse setor na área da Microbacia.

89

Quadro 14 - Extensão e área de vias pavimentadas e não pavimentadas.

Bairros

Vias pavimentadas

Vias não pavimentadas

Extensão (m)

Área (m2)

Ano Extensão (m)

Área (m2)

Ano

Jardim Brasil

4.149,00 26.638,00 2005 1.647,00 9.739,00 2005

1.151,00 6.779,00 2008 496,00 2.960,00 2008

709,00 4.205,00 2009/2010 0 0 2009/2010

Umuarama 3.130,00 23.220,00 2005 8.520,00 60.490,00 2005

Altos da Glória 680,00 5.440,00 2005 7.990,00 57.000,00 2005

Três Barras 3.351,00 25.825,00 2005 7.340,00 52.220,00 2005

552,00 3.864,00 2008 6.788,00 48.356,00 2008

Primeiro de Março

2.200,00 16.900,00 2005 8.820,00 61.740,00 2005

3.535,00 24.745,00 2008 5.285,00 36.995,00 2008

1.046,20 7.323,40 2009/2010 4.238,80 29.671,60 2009/2010

Novo Horizonte 5.010,00 29.740,00 2005 3.260,00 21.430,00 2005

Altos da Serra 1.940,00 13.580,00 2005 19.930,00 139.510,00 2005

Dr. Fábio Leite

3.820,00 26.740,00 2005 18.540,00 129.780,00 2005

682,00 4.774,00 2009/2010 17.858,00 125.006,00 2009/2010

Nova Conquista 1.305,00 9.135,00 2008 N.I N.I

Total 33.260,20 228.908,40 2010 110.712,80 774.897,60 2010

Fonte: Elaborado a partir de Levantamento de Vias Urbanas. Prefeitura de Cuiabá. Secretaria

Municipal de Infraestrutura. Diretoria de Viação de Obras Públicas, 2012.

6.4 DIAGNÓSTICO GERAL DA MICROBACIA – CLASSIFICAÇÃO DE

IMAGEM

O diagnóstico geral da Microbacia, por meio da classificação de imagem, tem

como resultado a apresentação do mapeamento das classes de uso do solo e seus

índices, conforme os itens a seguir.

6.4.1 Classes de Uso do Solo

Os resultados demonstram, conforme se observa no mapeamento das classes

de uso, que a maior concentração de habitação da Microbacia encontra-se na porção

sudoeste, confirmando o histórico da evolução urbana dos bairros, onde as primeiras

ocupações irregulares tiveram início logo após a implantação do núcleo habitacional

CPA IV. Assim, as classes mapeadas em cor vermelha, que representam Alta

Densidade de Habitação, direcionaram a sua ocupação no sentido sul-norte do

Córrego Três Barras, do ponto P4 em direção ao ponto P2. (Figura 34).

Essa densidade pode ser verificada por meio da técnica de Tabulação de

Dados, em que é calculado o percentual das várias classes de tipos de usos, nas

90

porções dos bairros pertencentes à Microbacia, de acordo com a Tabela 3. É

importante destacar que para o cálculo de áreas e percentuais das classes de usos do

solo, quando não se encontra expressa a localidade, ou seja, o nome do loteamento

ou conjunto habitacional, significa que essa localidade se encontra representada nos

bairros a que pertencem, portanto os dados estão computados em bairros.

Tabela 3 - Índices das classes de tipos de uso da terra da Microbacia do Córrego Três Barras,

por meio da técnica de tabulação de dados.

Fonte: A autora.

Apresenta-se, na Figura 34, o mapa de classes, demonstrando as oito classes

de uso e cobertura do solo da Microbacia do Córrego Três Barras, classificando

quanto ao tipo de cobertura vegetal, a presença de solo exposto, a surgência de

espelhos d’água e a concentração de densidade habitacional, inserida dentro do

perímetrourbano.

91

Figura 34 – Mapa das classes de usos do solo da Microbacia do Córrego Três Barras, 2012.

Fonte: A autora.

92

Na porção sudoeste da Microbacia, os maiores índices de alta densidade de

habitação encontram-se representados por parcelas dos núcleos habitacionais CPA

IV (82%), CPA III (94%), CPA II (66%). O Novo Horizonte (52%) e o Jardim Brasil

(25%), que se encontram integralmente na área da Microbacia, possuem histórico de

ocupação irregular, conforme já mencionado em capítulo anterior, com índices

relevantes de densidade de habitação em relação à superfície do território.

Mais a noroeste do ponto P2, situam-se localidades com alta densidade de

habitação, oriundas de loteamentos e conjuntos habitacionais, como o Resid. Ilza

Therezinha Picoli (61%), Wantuil de Freitas (85%), Conj. Habitacional Aroeiras

(48%) e Resid. Sen. Jonas Pinheiro (52%), enquanto que, a oeste do ponto P2, com

classe de alta densidade de habitação (63%), desponta o bairro originado por

ocupação clandestina, o Serra Dourada.

Verifica-se uma relação direta entre o índice de Densidade de Habitação e o

índice de Vegetação Arbórea, uma vez que os percentuais mais baixos de vegetação,

ou ainda inexistentes do ponto de vista da presença de maciços de vegetação,

representam os mesmos bairros e localidades mapeadas na Microbacia, onde a classe

densidade de habitação demonstrou um número bastante elevado. Dessa forma,

fazendo-se uma analogia entre um lote e um bairro, a cobertura de vegetação arbórea

encontra-se aquém do índice urbanístico determinado pela lei de uso, ocupação e

urbanização do solo de Cuiabá (Lei no. 231/2011) para terrenos localizados em Zona

de Uso Múltiplo (ZUM), em que pelo menos 5% da área total deveria ser provida de

cobertura arbórea.

Assim, no cômputo do cálculo de cobertura vegetal arbórea em ZUM,

subtraindo a zona rural e a área de expansão urbana, onde ainda não foi realizado o

parcelamento do solo, encontra-se a seguinte proporção: dentre os bairros e

localidades que compõem a Microbacia, 16 deles não se enquadram dentro do índice

estabelecido pela LUOUS, tendo o CPA II, o CPA III e o CPA IV um cenário mais

crítico nessa comparação. Entretanto, apenas 4 atingem os patamares exigidos, e

entre estes estão os bairros: Três Barras, Novo Horizonte, Res. Solar da Chapada, e

Lot. Conj. Hab. Nova Canaã. Obviamente quando se considera o índice de vegetação

recomendado pela Organização Mundial de Saúde, que estabelece o mínimo de 12

m2 por habitante, a situação apresenta-se de maneira ainda mais crítica.

93

Já nas Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS 1 e ZEIS 2), encontram-se

implantados 10 bairros/ localidades, sendo estes isentos, por lei, da obrigatoriedade

de áreas destinadas à cobertura vegetal arbórea, mas obrigados a reservar 20% do

terreno à cobertura vegetal paisagística. Assim, da mesma forma comparativa,

somando-se os índices de Vegetação Rasteira com os índices do Mosaico de

Vegetação Arbórea e Rasteira, tem-se como resultado que 50% dos

bairros/localidades encontram-se abaixo do ideal proposto por lei.

Na classe de uso identificada como Vegetação Rasteira, mais especificamente

na zona rural, pode-se verificar a prática de queimadas da vegetação nativa ocorridas

no pretérito, dando lugar ao plantio de pasto para criação bovina nas pequenas

propriedades existentes.

As áreas destinadas às ZIA 2 e ZIA 3 apresentam-se livres de ocupações

clandestinas, porém com cobertura vegetal arbórea aquém da determinada à função

de proteção e preservação ambiental , uma vez que, conforme a classificação de

imagem, estas porções encontram-se caracterizadas como “Mosaico de Vegetação

Arbórea e Rasteira”, com esparsa presença de árvores nativas do Cerrado.

6.5 DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE ENTORNO DO CÓRREGO TRÊS

BARRAS, COM APLICAÇÃO DO MÉTODO VERAH

O diagnóstico com aplicação do Método VERAH foi realizado na área de

entorno do Córrego Três Barras.

Justifica-se a necessidade da delimitação da área de entorno pelo fato de ser

objeto da presente dissertação o diagnóstico ambiental em função da implantação,

prevista em lei, da Avenida Parque do Córrego Três Barras, com subsídios para

minimizar os impactos negativos causados pelo processo instalado de ocupação

desordenada, principalmente ao longo do corpo d’água.

O critério utilizado para delimitação da área de entorno, em que foi aplicado o

Método VERAH, representou a área de influência direta da Avenida Parque, ou seja,

o limite das vertentes que se dirigem para o curso d’água principal, o Córrego Três

Barras, perfazendo uma faixa de aproximadamente 400 metros de cada vertente, a

partir do eixo do Córrego (Figura 35).

94

Figura 35 – Delimitação da área de entorno do Córrego Três Barras, com aplicação do método

VERAH.

Fonte: A autora.

A Figura 35 apresenta a Microbacia do Córrego Três Barras, a faixa de

abrangência do estudo aplicando-se o VERAH, a área de ocorrência da nascente

principal, a mancha urbanizada da microbacia, o traçado do limite do perímetro

urbano, delimitando a porção urbanizada e da área rural. Localiza, também, o

córrego principal Três Barras e seus afluentes, bem como as manchas de vegetação

ainda existentes.

Assim, para cada porção definida houve um ponto de interesse demarcado em

números ou letras. Os números se relacionam tanto com o levantamento de campo

quanto com os pontos de coleta e análise da água, realizados durante as campanhas

de campo, enquanto que se atribuem letras aos pontos de interesse delimitando-se a

porção representativa de cada amostragem da área e seus bairros, realizando-se o

levantamento de campo, seguido da tradagem manual.

É importante destacar que cada componente do VERAH foi caracterizado em

nível de diagnóstico, tendo em vista o atendimento ao objetivo da pesquisa em

95

realizar uma análise ambiental, frente ao processo de uso e ocupação do solo. Este

método foi aplicado, especificamente, na área delimitada ao longo do curso d’água,

podendo refletir a realidade da área de estudo.

6.5.1 Vegetação

“Existe um fator que não permite uma maior eficiência da política ambiental,

que é a falta de critérios necessários para a avaliação da qualidade ambiental”. Com

essa afirmação, Nucci (1998, p. 210) aponta que, após a elaboração da carta de

classificação ou “distribuição”, é possível perceber e identificar os “desertos

florísticos”, que são as áreas que se “apresentam sem nenhuma mancha de verde”, ou

ainda as áreas representadas pelo solo exposto. Em seu trabalho, onde referencia Oke

(1973, apud LOMBARDO, 1985, p.3), ensina que estes consideram um “índice de

cobertura vegetal na faixa de 30% como sendo o recomendável para proporcionar um

adequado balanço térmico em áreas urbanas, sendo que áreas com um índice de

arborização inferior a 5% determinam características semelhantes às de um deserto”.

Já a Organização Mundial de Saúde atribui o valor de 12 m2 por habitante de

área verde do tipo arbóreo como sendo o mínimo necessário para o equilíbrio

ambiental.

Após ter realizado a classificação da Microbacia e percorrido a nascente e

vários pontos mapeados ao longo da APP do Córrego Três Barras, verificou-se que a

cobertura vegetal urbana do tipo arbórea encontra-se escassa, principalmente em

decorrência do processo de crescimento desordenado da região. Assim, a flora nativa

foi erradicada e alterada, sendo substituída por espécies frutíferas em decorrência da

ocupação às margens da APP, com indícios das primeiras erradicações no ano de

1987. Hoje, o quadro que se instala é de grandes vazios de vegetação, com tendência

a “desertos florísticos”. (Figura 36).

Utilizando-se a ferramenta de Estatística do Índice de Vegetação por

Diferença Normalizada – IVDN, capturado a partir do mapa que se apresenta na

Figura 36, pode-se ter a confirmação de índices de vegetação bastante baixos na

Microbacia, uma vez que quanto maior a intensidade da cor verde mais a presença de

maciços de vegetação, e quanto mais intensa a cor roxa, mais elevada se apresenta a

supressão de vegetação.

96

Figura 36 - Mapa de Estatística do Índice de Vegetação por Diferença Normalizada – IVDN.

Fonte: A autora.

De maneira geral, de acordo com o IVDN, a média de áreas com cobertura

vegetal, em uma escala de 0 (zero) a 10 (dez), a Microbacia como um todo obteve a

média 4 (quatro), conforme Figura 37. Representando situação abaixo desta média

encontram-se os bairros: Nova Conquista, CPA II, CPA III, CPA IV, Residencial

Pádova, Residencial Ilza Therezinha Picoli, Residencial Wantuil de Freitas,

Residencial Ana Maria, Conjunto Habitacional Aroeiras e Altos da Colina.

Verifica-se também, conforme Figura 37, que apesar do bairro Jardim Brasil

ter tido uma nota alta, a variação entre as linhas de máximo/mínimo são altas

também, indicando uma tendência à existência de vegetação em áreas mais

concentradas numa determinada porção do bairro. Por outro lado, o gráfico permite

97

analisar que o Residencial Solar da Chapada possui menor área de cobertura vegetal

que o Jardim Brasil, porém mais bem distribuída no território.

Figura 37 - Estatística do índice de vegetação da microbacia do córrego Três Barras.

Fonte: A autora.

Quanto à área não urbanizada, situada na zona rural, identificam-se nela três

tipos de vegetação: o Campo Úmido, o Campo Cerrado e o Cerrado. O Campo

Cerrado representa sua maior porção, 36% da área, seguido do Cerrado, com 32% de

proteção no entorno da nascente. O Campo Úmido, ambiente onde ocorrem as

nascentes difusas, representa 1% do território da área não urbanizada, localizada na

zona rural, representado pela Figura 38.

98

Figura 38 - Classes de uso e ocupação e índices do uso do solo da área não urbanizada, zona

rural da Microbacia.

Fonte: A autora.

Ao longo das margens do Córrego Três Barras, na APP, a situação se

encontra em estado mais preocupante. Por meio do processo de urbanização ocorrido

pela ocupação desordenada, espécies nativas foram desmatadas e, em certos pontos,

substituídas por vegetação própria da ocupação com árvores frutíferas, como

mangueiras, bananeiras, cajueiros, identificados na Figura 39, com isso

descaracterizando a vegetação nativa própria dos fundos de vale com solos

hidromórficos.

Assim, a arborização urbana, de acordo com Dantas e Souza (2004), é fator

determinante da salubridade ambiental, por ter influência direta sobre o bem-estar do

homem, em virtude dos múltiplos benefícios que proporciona ao meio, pois, além de

contribuir à estabilização climática, equilibrando a umidade do ar, a infiltração de

água nos solos, nas bacias, e a presença de microrganismos necessários no ambiente,

embeleza pelo variado colorido que exibe, fornecendo abrigo e alimento à fauna e

proporcionando sombra e lazer nas praças, parques e jardins, ruas e avenidas de

nossas cidades.

99

Figura 39 - Descaracterização da vegetação nativa por espécies frutíferas e invasoras em APP do Córrego Três

Barras.

Fonte: A Autora.

99

100

6.5.2 Erosão

A erosão é um processo natural que, ao longo de milhares de anos, molda as

paisagens. A intensidade e a taxa dessa erosão podem ser muito ampliadas pelo ser

humano, especialmente por meio do uso e manejo incorretos da terra que expõem o

solo ao sol, ao vento e à chuva, levando à sua degradação. (EMBRAPA, 2012).

No presente diagnóstico, o tema Erosão será abordado na área objeto dos

terrenos existentes na área de entorno do Córrego Três Barras, notadamente a erosão

causada por água de chuva (erosão pluvial), buscando-se uma avaliação qualitativa

do comportamento dos terrenos.

A erosão pluvial é o processo causado pela água das chuvas que tem

abrangência em quase toda a superfície terrestre, em especial nas áreas com clima

tropical, onde os totais pluviométricos são bem mais elevados do que em outras

regiões do planeta. (GUERRA, 2012).

Salomão (2012) ensina que os tipos de erosão pluvial dependem da forma em

que se dá o escoamento superficial ao longo da vertente, podendo-se desenvolver:

erosão laminar, erosão em sulcos, erosão em ravina e erosão em boçoroca.

Assim, na área de entorno do Córrego, a suscetibilidade à erosão foi estudada

e caracterizada conforme critério de classificação de suscetibilidade apresentada por

Salomão (2012). Essa caracterização foi realizada em diferentes áreas, destacadas em

função do funcionamento hídrico das águas infiltradas e escoadas, bem como a

presença de aquífero freático. Identificou-se, dessa maneira, a suscetibilidade à

erosão laminar e linear.

As erosões laminares são comandadas por diversos fatores relacionados às

condições naturais dos terrenos, destacando-se: a chuva, a cobertura vegetal, a

topografia e os tipos de solos. Em função da ocupação do solo, esses fatores

encontram-se constituídos, resumidamente, conforme Quadro 15:

Quadro 15 – Fatores e efeitos no processo de erosão laminar.

Fatores Efeitos

Chuva

Provoca a erosão laminar por meio do impacto das gotas sobre a superfície do solo,

caindo com velocidade e energia variáveis, e por meio do escorrimento da enxurrada.

Sua ação erosiva depende da distribuição pluviométrica, mais ou menos regular, no

tempo e no espaço, e sua intensidade. Quando causada por escoamento difuso das

águas de chuva, resultam na remoção progressiva e relativamente uniforme dos

horizontes superficiais do solo.

101

Continuação Quadro 15 – Fatores e efeitos no processo de erosão laminar.

Fatores Efeitos

Cobertura

Vegetal

É a defesa natural de um terreno contra a erosão. Entre seus principais efeitos,

destacam-se: proteção contra o impacto direto sobre as gotas de chuva; dispersão e

quebra da energia das águas de escoamento superficial; aumento da infiltração pela

produção de poros no solo por ação das raízes; aumento da capacidade de retenção de

água pela estrutura do solo por efeito da produção e incorporação de matéria orgânica.

Topografia

A influência da topografia do terreno na intensidade erosiva verifica-se principalmente

pela declividade e comprimento de rampa (comprimento da encosta). Esses fatores

interferem diretamente na velocidade das enxurradas.

Solos

Constitui o principal fator natural relacionado à erosão. Sua influência deve-se às suas

propriedades físicas, principalmente textura, estrutura, permeabilidade e densidade, e

às suas propriedades químicas, biológicas e mineralógicas.

Fonte: Adaptado de Salomão (2012).

Os pontos de interesse apresentados na área de entorno do Córrego Três

Barras foram identificados com base no reconhecimento em campo, e posteriormente

abordados os principais comportamentos erosivos, identificando-se: área urbanizada;

área de ocorrência da nascente principal; área de cerrado; área de campo úmido; e

área de fundo de vale, conforme se apresenta na Figura 40.

Figura 40 - Distribuição de áreas identificadas na delimitação da área de entorno do Córrego

Três Barras.

Fonte: A autora.

6.5.2.1 Áreas Urbanizadas

As áreas mais urbanizadas se encontram localizadas do ponto P2 para jusante

do Córrego, constituindo os bairros anteriormente apresentados no capítulo

“Evolução Urbana da Microbacia”.

Antes da ocupação, nessa região da cidade, eram comuns atividades

mineradoras, “onde o solo passava por constantes retiradas das camadas superficiais,

fator que ainda favorece os processos erosivos e o assoreamento dos córregos”

(TOPANOTTI, 2002, p. 84).

102

Essas áreas urbanizadas localizam-se em porções de vertentes de colinas com

declividade relativamente pequena, não superior a 6%, comportando solos rasos,

constituídos por Neossolos Litólicos e Plintossolos Pétricos. Nestas áreas, a malha

viária se encontra quase que totalmente com pavimentação asfáltica, restando apenas

0,545km2, da área parcelada, ainda não pavimentada, constituindo, portanto, solos

impermeáveis. (Figura 41).

Figura 41 - Vias pavimentadas e não pavimentadas em áreas urbanizadas nas vertentes do

Córrego Três Barras.

Fotos: A autora.

Nos bairros e localidades que apresentam suas vias pavimentadas, as águas de

chuva praticamente não se infiltram, escoando-se pelas ruas em fluxos concentrados

que se dirigem para o talvegue do Córrego Três Barras.

Nas ruas providas de obras de drenagem pluvial, as águas de chuva são

escoadas por tubulações enterradas e ao longo de sarjetas.

Ocorrências erosivas na forma de sulcos foram observadas apenas ao longo

de ruas não pavimentadas, que se dirigem vertente abaixo em direção ao fundo de

vale do Córrego Três Barras, conduzindo para o curso d’água sedimentos e resíduos

descartáveis e não coletados, especialmente plásticos.

103

6.5.2.2 Área de Ocorrência da Nascente Principal

Entende-se por nascente o afloramento do lençol freático, que vai dar origem

a uma fonte de água de acúmulo (represa), ou cursos d’água (regatos, ribeirões e

rios). (CALHEIROS et al., 2004).

A nascente principal do Córrego Três Barras situa-se em uma área de Campo

Úmido, que é um tipo de ecossistema que se forma quando a inundação, periódica ou

permanente, favorece a ocorrência de solos que passam por processos anaeróbicos

tendo a biota, principalmente as plantas com raízes adaptadas para suportar essa

inundação. (KEDDY, 2000, apud MEIRELLES, 2002).

Percebeu-se in loco que se tratam de nascentes intermitentes, com surgências

d’água que ocorrem durante o período chuvoso do ano, e que se manifestam numa

área com ocorrência de Gleissolo, conforme Figura 42.

Figura 42 - Nascente intermitente, em campo úmido com Gleissolo.

Fotos: A autora.

Gleissolos, conforme Embrapa (1999) são solos:

constituídos por material mineral com horizonte glei imediatamente

abaixo do horizonte A, ou de horizonte hístico com menos de 40cm de

espessura; ou horizonte glei começando dentro de 50cm da superfície do solo; não apresentam horizonte plíntico ou vértico, acima do horizonte

glei ou coincidente com este, nem horizonte B textural com mudança

textural abrupta coincidente com horizonte glei, nem qualquer tipo de

horizonte B diagnosticado acima do horizonte glei. (EMBRAPA, 1999, p.

139).

Neste ambiente de Campo Úmido é perceptível a surgência d’água, sendo

comprovado por intermédio da técnica de tradagem.

Nascente difusa Solo hidromórfico - Gleissolo

Localização da nascente principal

104

A primeira tradagem, Figura 43, foi realizada no limite do Campo Úmido

com a vegetação de Cerrado. Até 30cm de profundidade foi encontrada uma camada

de material proveniente de assoreamento, constituída por sedimento argilo-arenoso

de cores variadas, com predominância de cinza claro e vermelho-amarelado, com

vestígios de filito alterado. Esse material encontra-se em transição abrupta com

horizonte argiloso de coloração cinza-escuro, com vestígios de matéria orgânica,

tratando-se de restos de horizonte A do Gleissolo soterrado por material de

assoreamento, produto de erosão.

Figura 43 - Tradagem realizada no ecossistema campo úmido.

Fotos: A autora.

Abaixo do horizonte A, encoberto por material de assoreamento, foi

identificado horizonte argiloso, de cor cinza escurecido, com vestígios de matéria

orgânica e de gleização, não sendo possível aprofundar a tradagem para obter outra

coleta de amostra, tendo em vista a presença d’água do aquífero freático.

A segunda tradagem foi realizada um pouco mais abaixo, ou seja, à jusante e

dentro da área de ocorrência do Campo Úmido, onde o assoreamento ocorre com

50cm de profundidade. Esta amostra (Figura 44) representa, em superfície, material

arenoso com cascalhos de quartzo, produto de alteração da rocha, proveniente do

assoreamento, passando para material argiloso de cor cinza-amarelado, que se trata

do início de Gleissolo alterado pelo assoreamento.

Amostra de horizonte gleizado de textura argilosa Primeira Tradagem

105

Figura 44 - Material arenoso com cascalho de quartzo a 30cm (a) e a 50cm (b), proveniente de

assoreamento.

Fotos: A autora.

É importante destacar que essas tradagens realizadas dentro do ambiente

Campo Úmido permitiram verificar a presença de assoreamento proveniente de

erosão (Figura 45), alterando parcialmente o funcionamento das nascentes.

Figura 45 - Erosão por ravinamento, observada no entorno do Campo Úmido, em área de

ocorrência de Cerrado alterado.

Fotos: A autora

Mais ao interior da área de Campo Úmido observou-se a presença de

alagamentos, muito embora já tivesse cessado o período chuvoso, em 25/7/2012

(Figura 46), o que permitiu confirmar que se tratam de áreas de ocorrência de

nascentes.

Erosão em Ravina Sedimento proveniente da erosão que se

dirige para a área de Campo Úmido

a

a (b) (a)

106

Figura 46 - Campo Úmido com alagamento ainda presente em período não chuvoso.

Fotos: A autora.

À jusante da ocorrência do Campo Úmido, parcialmente alagado, observou-se

a presença de um talvegue estreito, com largura máxima de 40cm, e profundidade

média de 30cm. Esse talvegue encontrava-se seco, durante o trabalho de campo, e,

mais à jusante, observou-se a presença de assoreamento (Figura 47). Essa observação

permitiu concluir que as nascentes que ocorrem de forma difusa na área de

acontecimento do Campo Úmido são do tipo intermitente.

Figura 47 - Talvegue seco, e à jusante, evidências de assoreamento.

Fotos: A autora.

Observou-se também, por evidências de campo, que essa área encontra-se

realmente alterada, sendo verificadas no interior do Campo Úmido espécie de

Alagamento

Solo exposto, evidenciado rebaixamento

do aquífero freático

107

vegetação invasora (Figura 48), causada pela perturbação de um ecossistema natural,

como a prática de queimada para manuseio do solo, bem como pela presença de

assoreamento.

Figura 48 - Espécie invasora no interior do Campo Úmido.

Fotos: A autora.

Confirmou-se, no entorno dessa área de Campo Úmido, a ocorrência de três

ambientes distintos, facilmente distinguidos por se constituirem de diferentes

ecossistemas, ou seja, conjuntos de seres vivos e de fatores ambientais de

determinada área que, interagindo em equilíbrio, realizam trocas de energia e de

matéria (Geo mundo, 2012). Assim, foram identificados os seguintes ambientes, que

apresentam formas de relevo, solos, cobertura vegetal e funcionamento hídrico bem

definidos, interagindo nas áreas de: Campo Úmido, Campo Cerrado e Cerrado, os

quais serão descritos a seguir.

6.5.2.2.1 Ecossistema Campo Úmido

Constituído por relevo aplainado e em rampas, com declividade máxima de

3%, com solos do tipo Gleissolo. O lençol freático ocorre em superfície do terreno

durante período chuvoso e em subsuperfície a pequenas profundidades durante o

período não chuvoso do ano. Neste caso, as águas de chuva praticamente não se

infiltram, acumulando-se na forma de alagamentos. É exatamente neste ecossistema

que acontece a ocorrência de nascentes difusas (Figura 49).

108

Figura 49 - Ecossistema de Campo Úmido.

Fotos: A autora.

Trata-se de área de agradação, com escoamento difuso das águas acumuladas,

sendo não suscetível à erosão laminar e muito suscetível à erosão por ravinas e

boçorocas, condicionadas por diferentes formas de ocupação. O simples pisoteio

nesse ambiente, formando trilhas, podem provocar escoamentos concentrados,

originando sulcos e ravinas que, ao interceptar o aquífero freático, à pequena

profundidade, pode ativar fenômenos de “piping”, causando erosão interna e

colapsos do terreno, fenômenos próprios de boçorocas.

A caracterização dos diferentes ambientes que se situam na área de ocorrência

da nascente principal do Córrego Três Barras permite concluir que a maior

contribuição de recarga das nascentes provém das águas de chuva, provenientes do

escoamento das áreas de entorno do Campo Úmido. As águas de chuva acumulam-se

na porção do terreno de ocorrência do Campo Úmido, abastecendo, dessa forma, o

seu aquífero freático. Durante o período chuvoso, o aquífero freático encontra-se na

superfície, e durante o período não chuvoso ocorre o rebaixamento deste lençol, com

possibilidades de desaparecimento (Figura 50).

Figura 50 - Área com ocorrência de Campo Úmido.

Fotos: A autora.

109

6.5.2.2.2 Ecossistema Campo Cerrado

Campos Cerrados são as formações campestres com áreas contendo

predomínio absoluto de espécies herbáceas e algumas arbustivas, faltando árvores na

paisagem. “Quando naturais, são delimitadas pelas áreas encharcadas das depressões.

Pode também ocorrer em solos rasos, com presença de afloramentos de rochas,

possuindo uma composição diferenciada de espécies, com plantas adaptadas a esse

ambiente.” (EMBRAPA, 2012, p. 2).

Na área de entorno do Campo Úmido, constituída por Campo Cerrado, foi

observado a presença de um solo raso do tipo Neossolo Litólico e afloramentos de

rocha caracterizada por Filito do Grupo Cuiabá. O Neossolo Litólico é expresso por

solo com: horizonte A ou O hístico com menos de 40cm de espessura, assente

diretamente sobre a rocha ou sobre um horizonte C ou Cr ou sobre

material com 90% (por volume), ou mais de sua massa constituída por fragmentos de rocha com diâmetro maior que 2mm (cascalhos, calhaus e

matacões) e que apresentam um contato lítico dentro de 50cm da

superfície do solo. Admite um horizonte B, em início de formação cuja

espessura não satisfaz a qualquer tipo de horizonte B diagnóstico.

(EMBRAPA, 1999, p. 142).

Neste ecossistema, o relevo apresenta-se em rampa, com declividade máxima

de 6%, com solo do tipo Neossolo Litólico e afloramento de rochas. Observa-se solo

raso, que impede a infiltração das águas de chuva e ausência de aquífero freático.

Neste caso, as águas de chuva praticamente não se infiltram, escoando-se em

superfície em direção à porção rebaixada do terreno, onde se encontra o ecossistema

de Campo Úmido. Nas elevações de colina com topos estreitos e localizados na

forma de “cocoruto”, o relevo encontra-se ressaltado, onde ocorrem veios de quartzo

com menor quantidade (Figura 51). Apresenta moderada suscetibilidade à erosão

laminar, suscetível a sulcos e ravinas, porém não suscetível a boçorocas.

110

Figura 51 - Compartimento morfopedológico Campo Cerrado. Fotos: A autora.

6.5.2.2.3 Ecossistema Cerrado

Este ecossistema é constituído por relevo de colinas amplas (Figura 52), com

vertentes pouco declinosas (máximo de 6%), com solos do tipo Neossolo Regolítico

e rochas do tipo Metarenito com veios de quartzo. Não foi observada a presença de

lençol freático, com base nas investigações realizadas com tradagem.

Figura 52 - Ecossistema Cerrado.

Fotos: A autora.

O horizonte A encontra-se pouco percebido, mas apresentou um horizonte C

muito espesso, num local onde ocorre talude, proveniente de escavação para

exploração de material para aterro (Figura 53), com ocorrência de horizonte C,

produto de alteração de rocha subjacente constituída por Metarenito, com veios de

quartzo, pertencente ao Grupo Cuiabá.

111

Figura 53 - Cava realizada para exploração de material para aterro – Neossolo Regolítico.

Fotos: A autora.

O solo do tipo Neossolo Regolítico apresenta textura arenosa, com cascalhos

de quartzo e profundidade superior a 2m, sendo muito erodível. Neste caso, as águas

de chuva infiltram-se com relativa facilidade até encontrar a rocha. Observam-se,

assim, poucas possibilidades de escoamento das águas de chuva nas condições

naturais do terreno, moderadas suscetibilidades à erosão laminar e por ravinas, e se

apresenta não suscetível a boçorocas.

Os processos erosivos manifestam-se com relativa facilidade quando esse

ecossistema é ocupado de forma desordenada, permitindo a concentração do

escoamento das águas de chuva, por exemplo, por caminhos, estradas e ruas. O solo,

de constituição arenosa é muito erodível, permitindo, mesmo por escoamentos de

pequena intensidade, a remoção de partículas de areia, favorecendo erosão em sulcos

e em ravinas.

6.5.2.3 Áreas Não Urbanizadas com Presença de Cerrado

As áreas de Cerrado não urbanizadas ocorrem em porções de vertentes de

colinas, apresentando declividades não superiores a 6% e solos rasos constituídos por

Neossolos Litólicos e Plintossolos Pétricos. As águas de chuva infiltram-se

parcialmente no horizonte superficial (horizonte A antropizado) de constituição

areno-argilosa e muito cascalho. Em subsuperfície, com profundidade não superior a

30 cm, observa-se presença de rocha alterada, constituída por Filitos, ou a presença

de couraça ferruginosa nesses horizontes subsuperficiais, a água de chuva,

112

parcialmente infiltrada, permanece retida, favorecendo o escoamento superficial.

Trata-se de área de moderada suscetibilidade à erosão laminar, suscetível a ravinas e

não suscetível a boçorocas. Nesse ambiente, observa-se a presença de pequenas

propriedades rurais, muito próximas ao perímetro urbano (Figura 54).

Figura 54 - Área não urbanizada com presença de Cerrado - porção em área rural, próxima ao

perímetro urbano, com existência de pequenas propriedades rurais.

Foto: A autora.

6.5.2.4 Áreas Não Urbanizadas com presença de Campo Úmido

Estas áreas apresentam relevo aplainado e em rampa, com declividades não

superiores a 3% e solos saturados em água durante o período chuvoso, constituídas

por Gleissolos e Plintossolos Pétricos.

As águas de chuva praticamente não se infiltram, acumulando-se e formando

alagamentos que se mantêm durante o período chuvoso. Apresenta em subsuperfície

aquífero freático suspenso, que aflora durante o período de chuva, evidenciando

nascentes e escoamentos difusos.

Apresentam baixa suscetibilidade à erosão laminar, e muito suscetível a

boçorocas. A possibilidade de desenvolvimento de boçoroca deve-se à interceptação

do aquífero freático por ravinas, quando manifestado à pequena profundidade,

especialmente durante o período chuvoso.

Pode-se afirmar que o ponto P2 representa uma estaca divisória de

funcionamento: deste ponto, à montante, em direção à nascente, o ambiente

encontra-se preservado; deste ponto à jusante, esta porção encontra-se totalmente

assoreada, proveniente da erosão que ocorre ao longo das margens do curso d’água,

Cascalheira Cerrado Res. Buriti

113

causada pela associação com o desmatamento das margens dos caminhos que descem

escoando a água e levando material de aterro para o seu leito.

Muito provavelmente, no pretérito era uma área de várzea, com indicação do

solo Gleissolo, que foi sendo parcialmente modificado pelo processo de aterro,

utilizando-se material oriundo de resíduo da construção civil. E, em consequência

dessa ação antrópica, as margens do Córrego Três Barras foram sendo erodidas e ele

teve entalhado o seu curso d’água.

Este acontecimento pode ser comprovado pela tradagem realizada a 20cm,

onde aparece o horizonte de solo gleisado (Figura 55), e mais 40cm, e a terceira

amostra a 50cm onde se encontra o horizonte C – Plíntico.

Figura 55 - Tradagens confirmando a presença de Solo Gleissolo no ponto PB.

Fotos: A autora.

Por outro lado, a tradagem realizada no ponto P2, imediatamente à jusante do

ponto PB, demonstra, a 80cm de profundidade, um horizonte C Plíntico, com restos

de carvão proveniente de queimada de resíduos sólidos, não chegando ao nível da

água. A uma profundidade de 100cm aparece plintita e concreções, e após 20cm, ou

seja, tradagem realizada a 120cm, atinge a couraça, porém não encontrando o nível

114

d’água. Portanto não existindo mais a formação do aquífero (Figura 56). No período

chuvoso pode ser que ainda haja vestígios de alagamento, mas no período de seca o

terreno já se encontra alterado.

Figura 56 - Realização de tradagem no ponto P2.

Fotos: A autora.

6.5.2.5 Áreas de Fundo de Vale do Córrego Três Barras

As áreas de fundo de vale do Córrego Três Barras encontram-se muito

alteradas por erosão, assoreamento e contaminação por águas servidas, esgoto e

resíduo sólido doméstico nas porções urbanizadas.

Na porção P3 observa-se que a energia de escoamento das águas de chuva das

ruas acaba por provocar erosão e entalhamento do canal. Assim, o Córrego Três

Barras foi erodido, rebaixado e entalhado. Sua APP funcional não existe mais,

encontra-se totalmente descaracterizada do ponto P2 à jusante, uma vez que as

margens do canal receberam muito volume de aterro. As águas que correm nesse

trecho não são mais as que drenam da nascente, mas sim água servida proveniente do

esgotamento sem tratamento da população que foi ocupando as margens de APP.

a) Tradagem a 80 cm com

Horizonte C Plíntico.

b) Tradagem a 100 cm com

plintita e concreções.

c) Tradagem a 120 cm de

profundidade, atingindo a couraça.

(a) (b)

(c)

115

Na Figura 57 observa-se a tentativa, muito provavelmente dos próprios

moradores, em evitar a erosão do solo, uma vez que o muro de arrimo encontra-se

edificado em alvenaria.

Figura 57 - Localização da canalização aberta tipo Gabião no ponto P3, fundo de vale do

Córrego Três Barras.

Fotos: A autora.

Na porção estendida do ponto P3, próximo à foz do Córrego Vassoural

(Figura 57), o Córrego Três Barras encontra-se com canalização aberta do tipo

gabião, que consiste em um tipo de estrutura armada, flexível, drenante e de grande

durabilidade e resistência, e, neste caso, produzida com malhas de fios de aço

galvanizado, preenchida com seixos, configurando a forma de caixa que tem formato

de prisma retangular, tendo como principal função a contenção de erosão.

Na porção PC do Córrego Três Barras verifica-se a ocorrência de

assoreamento (Figura 58), resultante dos resíduos orgânicos e de resíduos da

construção civil, provenientes da urbanização, onde o fundo de vale encontra-se

totalmente descaracterizado. Esses resíduos acumulam-se na passagem de água sob a

ponte, dificultando, em certo momento, a drenagem da água. Notadamente, nesta

porção do território existia o solo Neossolo Litólico ou Plintossolo Pétrico,

caracterizados por serem solos rasos com evento próximo à margem do Córrego.

Muro de alvenaria para contenção do

aterro no fundo de vale, porção P3.

Canalização aberta tipo Gabião, ponto P3.

116

Figura 58 - Assoreamento na porção PC do fundo de vale.

Fotos: A autora.

Verifica-se, também, mais especificamente no Ponto P4, a existência de

rochas do Grupo Cuiabá na porção do baixo curso do Córrego Três Barras, onde

muito provavelmente, no pretérito, encontrava-se recoberto pelo solo Gleissolo, e

que devido ao processo de ocupação desordenada e ao assoreamento das margens

propiciou o evento da erosão, fazendo com que aflorassem essas rochas, apresentadas

na Figura 59.

Figura 59 - Afloramento de rocha do grupo Cuiabá, provocada pela erosão no ponto P4.

Fotos: A autora.

Observações realizadas em campo permitiram constatar a presença nas

margens do Córrego Três Barras de solos característicos de áreas sujeitas a

alagamentos (Figura 60a), constituídos por Gleissolos e Plintossolos que se

encontram alterados por erosão, assoreamento, e aterros. Estas áreas sujeitas a

alagamentos são facilmente identificadas, uma vez que se situam sob as torres que

conduzem as linhas de transmissão de alta tensão, onde deveria ser respeitada a faixa

de servidão de quinze metros, além da própria APP do Córrego Três Barras. A

Porção baixo curso do córrego com

existência de rochas do grupo Cuiabá Assoreamento- solo alterado, que

recobria rocha do Grupo Cuiabá

117

ocupação urbana em área imprópria culminou por dificultar a infiltração das águas de

chuva, o que propicia fluxo de águas na superfície, o que, segundo moradores,

provocou uma grande inundação advinda do alto curso do Córrego Três Barras,

fazendo com que essa comunidade, ora instalada irregularmente, deixasse suas

moradias, havendo até mesmo vítimas pela enchente do ano de 2001, abordada no

capítulo de Evolução Urbana dos Bairros da Microbacia.

Figura 60 - Área de alagamento na porção urbanizada do Córrego Três Barras.

Fotos: A autora.

Esse processo também se percebe em vista da deficiência da rede pluvial,

que, além das águas de chuvas, sistematicamente recebe os esgotos domésticos da

Microbacia. Entretanto, essas áreas encontram-se parcialmente preservadas na

porção superior do Córrego Três Barras, constituída por porção da microbacia ainda

não urbanizada, distribuída entre sua nascente principal e a divisa dos bairros Altos

da Glória e Primeiro de Março, tendo como boa referência a Avenida Auta de Souza,

também conhecida como Avenida 2.

A partir desse local para setores de jusante do curso d’água observam-se

alterações significativas dos ambientes causados pela ocupação urbana desordenada,

permitindo, também, identificar entalhes profundos do talvegue por erosão

promovido pelo escoamento concentrado do curso d’água do Córrego Três Barras

(Figura 61).

2

1

3

3

1- Córrego Três Barras, 2- Torre de Transmissão de Alta Tensão, 3- Área de Inundação.

(a)

118

Figura 61 - Trecho com talvegue erodido à jusante do ponto P2 - área urbanizada do Córrego

Três Barras.

Fotos: A autora.

6.5.3 Resíduo

Durante a pesquisa em campo, verificou-se que um dos maiores problemas

encontrados em todos os pontos representativos das amostras diagnosticadas - no

alto, médio e baixo curso do córrego principal -, consiste no descarte do resíduo

sólido doméstico (lixo) e também na prática de acondicionar os resíduos da

construção civil ao longo do Córrego Três Barras, bem como nos terrenos baldios

próximos ao corpo d’água (Figura 62). Esses resíduos acabam por encobrir o antigo

solo Gleissolo, provocando o assoreamento do canal e culminando na erosão do solo.

119

Figura 62 - Resíduos sólidos domésticos descartados nas margens do Córrego Três Barras.

Fotos: A autora

6.5.3.1 Coleta de Lixo

A grande Morada da Serra e a Microbacia do Córrego Três Barras possuem o

serviço terceirizado de coleta de lixo, sendo realizada três vezes por semana

(segundas, quartas e sextas-feiras) no período diurno, das sete às dezessete horas,

tendo como trajeto as ruas pavimentadas e não pavimentadas, conforme informado

pela Secretaria Municipal de Serviços Urbanos.

A média do peso coletado de resíduos domésticos na grande Cuiabá é de

550.000 (quinhentos e cinquenta) toneladas por dia, sendo que o volume de resíduos

gerado e coletado nos bairros que compõem a área da Microbacia em estudo chega a

Ponto P2 - 07.08.2012 Ponto P2 - 02.09.2012

Ponto P3 - 07.08.2012 Ponto Pc - Área de inundação, com

torres de transmissão de energia

elétrica

Ponto PA - APP afluente do córrego Três Barras - 02.09.2012 Ponto P4 - 02.09.2012

120

aproximadamente 606 toneladas por mês (DELTA, 2012), representando 0,11% do

total da cidade. (Quadro 16).

Quadro 16 - Coleta de lixo realizada por empresa privada.

Bairros Segunda-feira

(tonelada)

Quarta-feira

(tonelada)

Sexta-feira

(tonelada)

Total

(tonelada)

Altos da Serra 8 4 5 17

Dr. Fábio I e II 2 1 1 4

Três Barras 12 8 9 29

Altos da Glória 5 3 4 12

Umuarama I e II 5 3 4 12

Jd. Paraná 4 2 3 9

Lot. Conj. Hab. Nova Canaã 2 1,5 2 5,5

Primeiro de Março 15 9 10 34

Jd. Brasil 1 1 1 3

Novo Horizonte 3 1,5 2 6,5

João Bosco Pinheiro 2 1,5 1,5 5

São Thomé 1,5 1 1 3,5

Res. Sen. Jonas Pinheiro 2 1 1 4

Res. Buritis 1 1 1 3

Res. Therezinha Ilza Picoli 2 1 1 4

Total coletado por semana 151 Fonte: Delta, 2012.

Em relação à limpeza urbana, nesta Microbacia caracteriza-se a formação de

“bolsões de lixo”, onde são removidos, aproximadamente, três vezes ao ano, resíduos

da construção civil, e coletados móveis usados, eletrodomésticos e eletroeletrônicos

em desuso (geladeira, fogão, computador etc.), animais mortos, misturados com o

lixo orgânico doméstico. Esses bolsões, após coletados, são destinados ao aterro

sanitário de Cuiabá, localizado na estrada do Balneário Letícia, antiga estrada do

Coxipó do Ouro.

6.5.3.2 Resíduos da Construção Civil

Os resíduos da construção civil, conforme visto no tema erosão são

acondicionados nas partes mais altas do terreno, onde já existe algum tipo de

ocupação. Assim, os moradores que permitem e cedem parte do seu lote para a

guarda do material, culminam por aproveitá-lo e efetuar o aterro das áreas com cotas

mais baixas, alterando, com essa ação, o solo Gleissolo existente e promovendo

novas ocupações e construções de moradias irregulares (Figura 63).

121

Figura 63 – Acondicionamento de resíduo da construção civil – material de aterro para a porção

mais baixa do terreno.

Esse problema pode ser agravado uma vez que ainda existem alguns

“caçambeiros” irregulares junto à prefeitura de Cuiabá, que não são cadastrados e

efetuam o serviço de forma irregular, levando para a periferia os resíduos da

construção civil coletados, ao invés de destinarem junto à Área de Transbordo e

Triagem de Resíduos de Construção Civil (ATT), conforme preconiza a Lei

municipal no. 4.949, de 5/1/2007, que institui o sistema de gestão sustentável de

resíduos da construção civil e resíduos volumosos e o plano integrado de

gerenciamento de resíduos da construção civil, nos termos da Resolução CONAMA

no. 307/2002.

A ATT é uma área que deve ser usada, sem causar danos à saúde pública e ao

meio ambiente, para triagem de resíduos recebidos, eventual transformação e

122

posterior remoção para adequada disposição, conforme especificações da norma

brasileira NBR 15.112/2004-ABNT.

Em Cuiabá, a empresa responsável pela ATT situa-se na rodovia Emanuel

Pinheiro, (Figura 64), onde a expectativa de recebimento de resíduos da construção

civil era de 20.000 m3, sendo que na realidade receberam no pátio apenas 12.000m

3

de resíduos das Classes A e Classe B (madeira), demonstrando um volume bem

aquém do previsto para o ano de 2011 (ECO Ambiental, 2011), podendo ser

interpretado pela ação clandestina da destinação dos transportadores, uma vez que,

conforme relatório da empresa, das vinte e cinco transportadoras cadastradas em

2011, apenas oito deram a destinação correta dos resíduos da construção civil.

Figura 64 – Área de transbordo e triagem de resíduos da construção civil.

6.5.4 Água

As metas do milênio propostas pelas Nações Unidas em relação às águas

urbanas dizem respeito à redução da falta de água potável, e coleta e tratamento de

esgoto em 50% até o ano de 2015.

As principais causas da poluição hídrica do Córrego Três Barras estão

relacionadas ao lançamento de esgotos domésticos sem tratamento, advindos dos

bairros que foram surgindo de forma desordenada no entorno de seu curso d’água

principal (Figura 65).

123

Figura 65 - Lançamento de esgoto doméstico, sem tratamento no ponto P3.

A cidade de Cuiabá possui 38% de coleta de esgoto, conforme o PMSB

(2011), sendo que 16% da Microbacia possui cobertura de esgoto tratado,

basicamente relativo aos conjuntos habitacionais implantados.

Esse quadro pode contribuir como sendo fonte de transmissão de doenças por

meio da água, assim como deterioração do ambiente natural. O número de

substâncias que compõem os esgotos sanitários é muito grande e diversificado,

apresentando inúmeros micro-organismos vivos, tais como bactérias, vírus, vermes e

protozoários que, na maioria das vezes, são liberados junto com os dejetos humanos

e de animais. Algumas doenças que podem causar a morte, principalmente infantil,

são transmitidas pela disposição inadequada dos esgotos, como é o caso de

disenterias, hepatite infecciosa, cólera e epidemias de febre tifoide. Também podem

conter substâncias constituídas por matéria orgânica biodegradável, nutrientes

(nitrogênio, fósforo), óleos, graxas e detergentes. (BRAGA et al., 2005).

Dessa forma, a investigação da qualidade, realizada por meio da análise dos

nove parâmetros, constitui, segundo Porto e Tucci (2009), uma das maiores

vantagens, pois se utiliza a qualidade da água como instrumento de gestão,

colocando, dessa forma.

o foco da gestão na qualidade da água sobre os problemas específicos a

serem resolvidos na bacia, tanto no que se refere aos impactos causados

pela poluição, como nos usos futuros que possam vir a serem planejados. Este enfoque é correto inclusive por estabelecer uma visão de conjunto

dos problemas da bacia e não uma visão individualizada que leve a

soluções apenas locais, poluidor a poluidor, com pouca significância

sobre o todo.

(PORTO e TUCCI, 2009, p. 24)

124

Diante o exposto, optou-se pelo diagnóstico por meio do IQA, que foi

desenvolvido para avaliar a qualidade da água, de forma a verificar o grau de

comprometimento para os seus diversos usos.

Os resultados de IQA obtidos nos quatro pontos amostrados demonstram que

a qualidade na nascente principal, no ponto P1, já se configura como uma qualidade

razoável (Quadro 17), e isto decorre da vulnerabilidade encontrada no uso e

ocupação do solo, que se caracteriza pela presença da retirada de cascalho, onde no

pretérito ocorria atividade garimpeira, além das pequenas propriedades rurais com

uso do solo para pastagem e atividades de piscicultura.

Quadro 17 – Avaliação da qualidade da água na Microbacia do Córrego Três Barras em

Cuiabá-MT, 2012.

Pontos Notas Avaliação da

Qualidade da Água

Parâmetro em

MT

P1 54,07 RAZOÁVEL 51 – 70

P2 20,71 PÉSSIMA 0 - 25

P3 18,40 PÉSSIMA 0 - 25

P4 18,67 PÉSSIMA 0 - 25

A partir do ponto P2, a qualidade se apresenta, em níveis de avaliação, como

péssima (Tabela 4), e isto é causado pelo impacto da baixa cobertura de esgoto

tratado na Microbacia, associado a outros fatores antrópicos.

Alves (2009) realizou um monitoramento no período de abril de 2007 a

dezembro de 2008, encontrando índice de qualidade da água no Córrego Moinho,

que tem o Três Barras como contribuinte, variando entre qualidade ruim a péssima.

Ainda outros tributários do Córrego Moinho, como o Castelhano, também

apresentaram qualidade similar.

Observando o comportamento de cada variável, individualmente, pode-se

verificar como cada variável que integra esse índice se comporta em relação ao

padrão de qualidade estabelecido pela Resolução CONAMA 357/2005 apresentado

na Tabela 4.

125

Tabela 4 – Valores das variáveis físico-químicas e microbiológicas da água em quatro pontos de

coleta no Córrego Três Barras, Cuiabá-MT, no período de junho à outubro de 2012.

Em relação às condições de oxigênio disponível no meio aquático, verifica-se

que há um decaimento dos seus teores no sentido montante- jusante e, ainda,

observa-se que os valores, com exceção do ponto P1, encontram-se abaixo dos

limites estabelecidos pela Resolução, atingindo no ponto 4 níveis de oxigênio

próximo a 1mg/l, o que demonstra condições bastante restritivas à biota aquática.

Esse consumo de oxigênio é utilizado pelas bactérias para degradar a matéria

orgânica presente. Neste caso, a DBO apresenta concentrações crescentes no sentido

montante-jusante. Apenas no ponto P1 as concentrações estão dentro do limite

estabelecidos pela Resolução CONAMA de 5 mg/l. Nos demais pontos verifica-se a

presença dos esgotos domésticos lançados in natura no corpo receptor. Apesar dessa

variável ser analisada em apenas uma campanha, este resultado refere-se ao mês mais

crítico, onde não ocorreu eventos de chuva por aproximadamente três meses, porém

considera-se relevantes os valores obtidos, pois, a partir do ponto 2, as concentrações

se elevam para mais de 100mg/l, o que pode ser considerado um esgoto com fraca

concentração.

Verifica-se, na Figura 66, os gráficos referentes aos resultados de análise

físico-química realizada nos quatro pontos do Córrego.

126

Figura 66 - Gráfico com resultados medianos da análise físico-química da água do Córrego Três

Barras.

Os teores de nutrientes apresentados na forma de NTK e Fósforo Total

revelam a presença do esgoto doméstico, que é rico em nutrientes. Os valores de

NTK e Fósforo são menores no ponto P1, e encontram-se abaixo dos limites

estabelecidos pela Resolução, que podem variar de 0,5 a 3,7 em função do pH. A

partir do ponto P2, onde ocorre a densidade de habitação crescente, em função da

área apresentar ocupações irregulares, a variável Fósforo e NTK não demonstraram

teores muito elevados. Em relação ao pH, os valores mínimos foram de 6,34, e os

OD (mg/L) DBO (mg/L) NTK (mg/L)

FÓSFORO (mg/L) pH SÓLIDOS TOTAIS (mg/L)

TURBIDEZ (UT) COL. TOTAIS (NMP/100ml) E. coli (NMP/100ml)

127

máximos de 8,90, sendo que os limites, segundo a Resolução CONAMA, variam de

6 a 9 para rios de classe 2, apresentando-se dentro dos padrões permitidos.

Quanto aos teores de Sólidos e Turbidez na nascente principal os valores são

baixos, sendo que no ponto P2 há uma forte alteração que pode ser atribuída às

condições precárias no processo de uso e ocupação que facilitam o carreamento de

material em suspensão para dentro do Córrego, devido à supressão da vegetação de

suas margens, associado aos processos erosivos.

Quanto aos Coliformes Totais e E. coli verificam-se baixos teores na

nascente, e ainda dentro dos limites da Resolução Conama, e a partir do ponto P2

esses valores aumentam consideravelmente em decorrência dos esgotos lançados in

natura no córrego.

A temperatura da água variou entre 23 e 29,8o C, sendo que o menor valor foi

atingido no mês de junho, onde se registraram baixas temperaturas.

De acordo com os resultados obtidos, verifica-se que apenas a nascente

atende os limites estabelecidos para o rio classe 2; os demais pontos se mostram

fortemente impactados pela presença dos esgotos domésticos.

6.5.5 Habitação

De acordo com Tuan (1977), apud Nucci (1998), o padrão de densidade

populacional recomendável pela Associação Norte-americana de Saúde Pública é de

32 m2/hab, ou seja, 312,5 hab/ha. Porém Santos (1994), apud Nucci (1998), afirma

que o razoável em todo o mundo seria uma densidade de 100 a 120 hab/há, levando-

se em conta o aspecto da infraestrutura urbana. Assim, considera que uma densidade

populacional acima de 400 hab/ha pode representar fatores diminuidores da

qualidade ambiental urbana.

A habitação tem grande correlação com as causas e consequências da erosão.

A degradação se dá por invasão nas áreas de fundo de vale, as quais deveriam ser

protegidas por meio da fiscalização. Assim, conforme observado no tema erosão, o

aterramento e entalhamento do canal, pela concentração de água de chuva, acaba por

drenar o solo que era naturalmente saturado em água (Gleissolo). O desmatamento

praticado pela população, com o objetivo de facilitar essa ocupação, aumenta o

volume de água de chuva e água servida oriundas das habitações já instaladas,

128

gerando, dessa forma, a energia de escoamento concentrada, provocando erosão ao

longo do leito do corpo hídrico, propiciando o entalhamento do canal. Com o

entalhamento, ocorre a drenagem do solo Gleissolo, que existia no passado em suas

margens. Essa dinâmica facilita a invasão dessas áreas, uma vez que já se encontram

drenadas e secas. Assim, paralelo ao processo de invasão, são providenciados os

arruamentos, deixando de existir a APP funcional, descaracterizada, principalmente,

pela ausência do solo hidromórfico úmido, o Gleissolo, pela baixa qualidade da água,

pelo reduzido índice de vegetação e pela descontrolada ocupação em área protegida

legalmente.

Dessa forma, o quadro instalado no tema habitação também é crítico.

Observa-se, ao longo da APP do Córrego Três Barras, construções de alvenaria

consolidadas, consistindo em ocupações irregulares, em todos os pontos de

observação, assim como o descarte clandestino de lixo em suas margens, conforme

Figura 67.

O processo de produção de habitação na Microbacia, em especial na área de

entorno do Córrego Três Barras, configura-se na irregularidade em dois pontos

distintos, mas que se inter-relacionam: o primeiro, pela abertura de ruas clandestinas

em desconformidade com a legislação federal, o Código Florestal, Lei no. 4.771/65,

que estabelece faixa marginal de proteção, constituindo APP, com largura mínima de

trinta metros para os cursos d’água com menos de dez metros de largura. Nestes

pontos de interesse observados, o desenho urbano configura-se a partir do

arruamento realizado de forma empírica, em decorrência das ocupações irregulares,

adentrando de quando em quando na APP legal, Figura 67.

O segundo processo de irregularidade diz respeito à legislação municipal de

uso e ocupação do solo urbano, onde só existe permissividade para se edificar em um

lote quando apresentar disponibilidade de infraestrutura urbana existente na via

pública em que se irá construir. Assim, para os pontos de interesse observados ao

longo da área de entorno do Córrego, a referida lei classifica como “inabitável” os

padrões de vias existentes nessa delimitação, conforme art. 147 da Lei no. 231/2011,

que dispõe sobre o limite de adensamento, de acordo com o padrão de via pública.

129

Figura 67 - Produção de habitação irregular ao longo da Área de Entorno do Córrego Três Barras.

Fonte: A Autora.

129

130

6.5.6 Análise Integrada dos Componentes do VERAH, Visando à Minimização

dos Impactos

Após ter realizado o diagnóstico, abordando os aspectos relacionados aos

processos erosivos e de assoreamento, foi possível levantar considerações

envolvendo significativas alterações no funcionamento do curso d’água principal da

microbacia, o Córrego Três Barras:

O ponto P2, apresentado na Figura 61, atua como um divisor de

funcionamento da APP, o que possibilita demonstrar a alteração do funcionamento

entre a APP funcional, ou legal, e a APP disfuncional ou real;

A partir do ponto P2, onde foi realizada a tradagem, à jusante deste não existe

mais APP funcional. Neste local inicia-se o processo de aterramento que proporciona

a ocupação urbana desordenada;

À montante do ponto P2 ainda é possível identificar a APP funcional, pela

presença do solo Hidromórfico em funcionamento, com nascentes difusas, o que não

ocorre mais à jusante deste ponto, onde também foi realizada a tradagem. Verificou-

se, dessa forma, que à jusante do P2 deixa de existir a APP funcional, pela ação

iniciada frente ao processo de aterramento da área, proporcionado pela ocupação

urbana desordenada. Após isso, o lençol freático vai rebaixando em decorrência do

entalhamento do curso d’água ao longo do canal, provocando assoreamento e erosão,

provenientes da prática descontrolada de aterro de áreas para construção, deixando,

assim, de existir o solo na sua forma natural, ou seja, o Gleissolo, passando a assumir

características de um solo raso e disfuncional. Esse fato também pode ser confirmado

de acordo com o mapa de composição do leito dos corpos hídricos que formam a

Microbacia do Córrego Três Barras, podendo ser observadas as situações distintas

quanto à classificação em córrego perene, do ponto P1 ao P2, e córrego perene com

esgoto, a partir do ponto P2. (Figura 68).

131

Figura 68 - Comportamento do leito dos córregos da Microbacia do Córrego Três Barras. Fonte: IPEM, 2008.

Em síntese, o processo pelo qual se pode afirmar que somente existe a APP

funcional do ponto P2 à montante, caracteriza-se pelo seguinte:

Existe uma sequência de processos que vão se efetivando até chegar ao

“ponto da invasão”, desenhando-se em um processo quase que “natural”. Assim, o

solo hidromórfico, que ainda ocorre funcionando naturalmente no ponto PB e à

montante deste, vai sendo alterado e substituído gradativamente.

Do ponto P2 à jusante, onde existia o solo hidromórfico, o corpo d’água

encontra-se, hoje, entalhado em decorrência do aumento da ocupação irregular, da

urbanização muito próximo a suas margens, e ainda contando com a dinâmica da

água de chuva que não se infiltra, uma vez que esta atinge a margem com grande

volume d’água, provocando um processo erosivo, pois a carga encontra-se muito

além da sua capacidade estrutural de sustentação, fato que culminou no entalhamento

do curso d’água. Dessa forma, onde o solo entalhou e existia predomínio do solo

Hidromórfico, em especial nas margens, este acaba por secar completamente, uma

vez que o nível d’água rebaixa e, assim, deixa de funcionar como um solo Gleissolo,

132

descaracterizando-o deste tipo por desaparecerem as ocorrências de nascentes. Uma

vez drenado o rio, o próprio leito entalhado drena o solo hidromórfico das margens.

Uma vez drenado, sem ocorrência de água, principalmente no período da

seca, os moradores que já ocuparam as regiões mais altas permitem e cedem parte do

seu terreno para o recebimento e acondicionamento de resíduos da construção civil

nesta porção mais alta do lote, para que se possa aproveitá-lo e efetuar o aterro das

áreas mais baixas, decretando, com essa ação, o fim da existência do solo Gleissolo

nas margens de APP do Córrego Três Barras, e assim iniciando-se novos processos

de ocupações irregulares, transformando uma APP funcional, onde existia uma

correlação morfopedológica, em uma APP com solo inteiramente alterado, não sendo

mais possível trazê-lo à sua forma original e natural.

Resumidamente, pode-se interpretar essa ação na sequência quase que natural

da ocupação irregular em APP, expresso no desenho Figura 69:

Figura 69 – Síntese da sequência da ocupação irregular em APP. Fonte: A autora.

Na ilustração (1) ocorre a deposição de resíduo da construção civil, com o

aval dos moradores daquele lote. Em (2) inicia-se o processo de aterramento do nível

mais baixo do terreno, e, na sequência (3) a ocupação sobre o platô implantado, com

construção da casa e lançamento do esgoto doméstico in natura no Córrego.

133

7. PROGNÓSTICO

O prognóstico ambiental, geralmente, é realizado tendo por objetivo antecipar

a situação ambiental futura com a implantação de um empreendimento, por meio dos

programas necessários à mitigação dos impactos decorrentes de sua implantação e

operação. No entanto, a presente dissertação não tem por objetivo a formulação de

hipóteses de probabilidade de ocorrência de impactos futuros, ou seja, decorrentes da

operação da avenida, mas sim a formulação de um quadro-síntese, apresentando

metas e intervenções capazes de mitigar os impactos negativos existentes,

propiciando subsídios concretos que permitam a futura implantação da Av. Parque

do Córrego Três Barras, levando-se em consideração os impactos ambientais já

existentes, a partir dos diagnósticos apresentados.

Para tanto, após a realização do diagnóstico ambiental, foram identificadas as

principais intervenções em prol da recuperação do corpo d’água, distribuídas dentro

dos conceitos apresentados na revisão bibliográfica, conforme: renaturalização,

restauração e revitalização. Essas ações, notadamente, serão voltadas para o

saneamento ambiental, com coleta e tratamento de esgoto e o reassentamento de

famílias que habitam áreas irregulares e APPs, procedendo à regularização fundiária,

para que a intervenção urbana não estrutural, como é o caso da implantação do

parque linear da avenida, possa ser implementada na cidade.

O Córrego Três Barras possui 8,5 km de extensão, dos quais 4,1 km são o

trecho onde será implantada a via parque, correspondendo ao segmento dos pontos

P2-P4, onde, para a recuperação do Córrego, dever-se-á aplicar o conceito de

Revitalização. A Restauração irá atingir 3,62 km do ponto P1 ao P2, porém não mais

com traçado da via parque. Em seguida, a porção PC, somando 780 metros lineares,

incidirá sobre o conceito da Renaturalização.

Dessa forma, destacam-se, na Figura 70, os trechos e pontos mapeados ao

longo da área de entorno do Córrego Três Barras onde serão aplicados tais conceitos

e ações de planejamento.

134

Figura 70 - Identificação dos pontos e trechos onde serão aplicados as abordagens dos conceitos. Fonte: A autora.

O trecho P1-P2 compreende a ação de Restauração, ou seja, é possível o

retorno à condição natural do Córrego, restituindo a APP funcional nesse trecho do

corpo hídrico, uma vez que ainda existe a presença do solo Gleissolo e a qualidade

da água ainda se apresenta dentro dos padrões ambientais vigentes. Para o ponto P1,

delimitar uma faixa de proteção com raio de 100m (cem metros) para a área da

nascente principal, a partir do limite do espaço de ocorrência de solos hidromórficos,

com revegetação nativa nesse entorno. Sugere-se, nesse caso, a criação de uma

unidade de conservação em forma de parque municipal ou estadual, como forma de

proteção do ecossistema. (Figura 71).

135

Figura 71 - Seção esquemática P1: faixa de proteção a partir da delimitação do solo

hidromórfico na ocorrência de nascente – Restauração Fonte: A autora.

O trecho do córrego P2-P4, abrange o conceito de Revitalização, pelo qual

será possível a recuperação e posterior conservação, por meio de implementação de

ações integradas e permanentes, que promovam o uso sustentável dos recursos

naturais, a melhoria das condições socioambientais, o aumento da quantidade e da

qualidade da água para usos múltiplos.

Neste caso, difere-se da Restauração pelo motivo de não ser mais possível o

retorno à condição natural do Córrego, uma vez que não existe mais a APP funcional

nesse trecho, onde o solo hidromórfico foi alterado e substituído pelo aterro

proveniente da ocupação desordenada, ao longo de décadas.

É neste trecho, da Revitalização, que se encontra planejada, por lei, a Av.

Parque do Córrego Três Barras, iniciando na Avenida Brasil e estendendo-se até a

foz do Córrego, conforme traçado que se verifica na Figura 72. A figura apresenta,

também, os pontos de interesse relacionados a cada tipo de recuperação.

136

Figura 72 - Traçado da Av. Parque do Córrego Três Barras, conforme Lei no. 232/2011.

O perfil parcial, Figura 73, expressa um corte transversal nos trechos onde se

procederão à Revitalização, constando de elementos com calçadas de 4m de largura,

pistas de ciclovia com largura variável, faixas destinadas à APP, conforme preconiza

a legislação federal e pistas de rolamento da avenida. Neste caso, o PGM aplicado

será de 25 metros, em atendimento à lei de hierarquização viária Lei no 232/2011.

Para as faixas destinadas à APP faz-se necessário a remoção e posterior

reassentamento da população que habita, de forma imprópria, essas áreas. Locais

próximos à área, irregularmente ocupada mas já com vínculo social constituído,

deverão ter prioridade na escolha para o novo conjunto habitacional que envolverá

esse programa de Revitalização, podendo o Município, para tanto, lançar mão do

instrumento de planejamento urbano intitulado de Direito de Preempção, onde o

mesmo terá preferência para aquisição de imóvel urbano em áreas delimitadas para

execução de programas e projetos habitacionais de interesse social, conforme prevê o

Plano Diretor de Desenvolvimento Estratégico de Cuiabá.

Figs. 74/ 75

P2, P3, P4

PA, PD, PE

Fig. 73

PC

Fig. 71

P1

137

Figura 73 - Corte transversal, trecho P2-P4, referente à Revitalização.

Fonte: A autora.

138

Confrontando o diagnóstico ambiental com a infraestrutura disponível na

Microbacia, apresenta-se um quadro-síntese, Quadro 18, contendo 7 (sete) metas e

14 (catorze) intervenções para o planejamento da Microbacia, capazes de minimizar

os impactos negativos existentes, propiciando subsídios concretos que permitam a

mitigação de danos porventura causados pela futura implantação da Av. Parque do

Córrego Três Barras.

Quadro 18 – Quadro-síntese das metas e intervenções para os pontos de observação ao longo do

Córrego Três Barras.

Pontos Conceito Metas Intervenções

P1 Restauração (5), (7) (d), (m)

P2 Revitalização (1), (2), (4), (5), (6),

(7)

(a), (b), (c), (d), (f), (h), (l), (k), (m), (n)

P3 Revitalização (1), (2), (4), (5), (6),

(7)

(a), (b), (c), (e), (h), (j), (k), (m), (n)

P4 Revitalização (1), (2), (4), (5), (6),

(7)

(a), (b), (c), (d), (e), (f), (h), (i), (j), (k),

(m), (n)

PA Revitalização (1), (2), (4), (6), (7) (a), (b), (c), (d), (h), (j), (k), (m), (n)

PB Restauração (1), (5), (7) (a), (b), (d), (m), (n)

PC Renaturalização (1), (2), (3), (4), (6),

(7)

(a), (b), (c), (g), (h), (j), (l), (m), (n)

PD Revitalização (1), (2), (4), (6), (7) (a), (b), (c), (d), (h), (i), (j), (k), (m), (n)

PE Revitalização (1), (2), (4), (6), (7) (a), (b), (c), (d), (h), (i), (j), (k), (m), (n)

PF Restauração (7) (m), (n)

Metas:

(1) Melhorar a qualidade da água;

(2) Estabilizar o leito e as margens;

(3) Controle de enchentes;

(4) Regularização fundiária;

(5) Controle de erosão;

(6) Controle de resíduos;

(7) Ações voltadas à prevenção.

Intervenções:

(a) Implantar rede coletora de esgoto;

(b) Tratamento de esgoto;

(c) Substituição do abastecimento por captação de poços tubulares pelo

sistema da ETA - Tijucal;

(d) Revegetação das margens ao longo da APP;

(e) Contenção de erosão com canalização aberta do tipo Gabião;

(f) Implantação de drenagem pluvial;

(g) Implantação de bacia de detenção integrada à paisagem;

139

(h) Desocupação das áreas de risco e APP, com reassentamento populacional;

(i) Levantamento topográfico-cadastral da área, com elaboração de estudo de

viabilidade urbanística ou projeto com diretrizes urbanísticas;

(j) Definição de planos de regularização fundiária, de acordo com a

instituição da Zona Especial de Interesse Social- ZEIS 2;

(k) Melhoria dos serviços de limpeza e coleta de lixo;

(l) Criação de eco-pontos na Microbacia;

(m) Atuação da fiscalização dos órgãos municipais: fiscalização planejada

com exercício do poder de polícia administrativo;

(n) Programa de educação ambiental para a comunidade.

A Renaturalização, ponto PC, localizado no trecho P2-P4, propõe a

preservação das áreas naturais de inundação, impedindo quaisquer usos que

inviabilizem tal função.

Mota (1999), apud Schmidt e Nucci (2010), aponta que em áreas semelhantes

a essa devem ter uso controlado. Sendo assim, os terrenos próximos às margens do

corpo d’água com histórico de inundação não devem ser ocupados, mantendo, dessa

forma, a vegetação natural, e, nessas áreas propícias à inundação, haverá de ter usos

que resultem em taxas mínimas de ocupação, indicando-se, para tanto, a implantação

de parques, áreas de esporte, campos de golfe, agricultura controlada, etc.

Neste caso, será implantado um parque linear para proteção contra a

inundação da área e compensação de faixas em APP que poderão ter suas margens

reduzidas em certos trechos, visando minimizar os altos custos de implantação da

obra.

Assim, apresenta-se, na Figura 74, o layout desse trecho, referente à ação de

Renaturalização com zoneamento, esquemático, demonstrando o traçado viário onde

será utilizada parte da Rua Nova República, existente.

140

Legenda

Figura 74 - Layout do traçado da Av. Parque do Córrego Três Barras, ponto PC. Fonte: A autora.

Para a área de preservação e parque linear serão destinadas faixas de 30

metros. Assim, propõe-se a implantação de uma bacia de detenção como um espaço

multifuncional, onde sua função técnica para minimizar os impactos causados pelo

evento da inundação encontra-se integrada com a paisagem. Dessa forma, fora do

período chuvoso o espaço pode ser utilizado para o lazer, como campo de futebol e

ainda sendo a área inundável limitada em ambas as margens por pista de caminhada,

proporcionando a prática de atividades físicas aos moradores da região, conforme

desenho do perfil esquemático, na Figura 75).

Bacia de Detenção

Reassentamento das

famílias que ocupam faixas

de APP e áreas localizadas

sob torres de transmissão de

energia elétrica de alta

tensão

Córrego Três Barras

Traçado Viário

Tributários

µ

141

Figura 75 - Traçado da Av. Parque do Córrego Três Barras, ponto PC, referente à Renaturalização. Fonte: A autora.

Bacia de detenção

142

8. CONCLUSÕES

A análise ambiental da Microbacia do Córrego Três Barras proporcionou

algumas conclusões relevantes neste contexto.

• O processo de evolução urbana verificado na Microbacia baseou-se em um

modelo calcado na ilegalidade e informalidade, favorecendo uma ocupação

desordenada, sem contar com acompanhamento dos serviços de forma

estruturada e ainda, subtraindo dos bairros do seu entorno, legalmente

constituídos, o suprimento de água o que ocasionou o desabastecimento e a

intermitência no sistema, provocando conflitos e prejuízos à essas

comunidades;

• Somam-se a isso os impactos relacionados à supressão de vegetação das áreas

verdes e APPs, as quais se constituíram em áreas de ocupação irregular,

decorrentes da produção de habitação clandestina, resultando em condições

ambientais bastante restritivas obtendo índices de vegetação caracterizados

como “deserto florístico”, conforme classificado por Nucci (1998);

• Constata-se ainda que a Lei de Uso, Ocupação e Urbanização do Solo de

Cuiabá o qual destina áreas de ZIAS 2 e 3, que tem como objetivo garantir

zonas de preservação e proteção ambiental, apesar de não terem sido

ocupadas, foram suprimidas suas características, revelando a dificuldade do

poder público na fiscalização e manutenção dessas áreas, no sentido de

garantir a consolidação desse bem ambiental de uso comum do povo;

• Embora a forma da Microbacia em seu estado natural ter sido caracterizada

como não suscetível a enchentes, não indicando tendências a inundações, esse

aspecto físico foi alterado em decorrência da acelerada ocupação urbana de

maneira irregular. Isso vem contribuindo com o aumento da vazão pluvial,

sobrecarregando o sistema de drenagem, quando existente, provocando,

conforme a intensidade das precipitações, inundações em porções mais

baixas, como ocorreu em 2001;

• Esse cenário desordenado resultou, também, no aumento dos processos

erosivos das margens do Córrego, na deterioração da qualidade da água,

colocando em risco os recursos hídricos e promovendo a degradação

143

ambiental da Microbacia, com consequente impacto na qualidade de vida da

população;

• A metodologia aplicada nesta pesquisa, envolvendo a combinação de

métodos e ferramentas, permitiu uma integração de base de dados múltiplos,

otimizando tempo, custos e recursos humanos, propiciando uma análise

ambiental integrada da Microbacia, com subsídios para elaboração de um

prognóstico, que contemplou conceitos e medidas de recuperação do corpo

d’água, de acordo com cada trecho e situação diagnosticada;

• A recuperação do Córrego Três Barras, tecnicamente por meio de

Restauração, Revitalização e Renaturalização é viável, priorizando um

planejamento integrado de ações, envolvendo várias áreas do conhecimento,

assim como se utilizando de metodologias como as apresentadas nesta

dissertação;

• A Restauração compreende a área que envolve a nascente principal (P1), que

ainda se encontra preservada, recomendando a elaboração de um plano que

permita a proteção e revegetação do seu entorno, de forma a garantir que o

crescimento urbano futuro atenda a diretrizes sustentáveis;

• A Revitalização se aplica nos trechos onde não é mais possível o retorno à

condição natural do Córrego (trecho P2-P4), uma vez que as características

do solo já se encontram alteradas, sendo que esse processo contempla ações

estruturais e não estruturais. Dentre as ações estruturais destacam-se as

medidas relacionadas ao saneamento ambiental, como: a substituição

gradativa do abastecimento de água que hoje se dá por poços tubulares pelo

sistema superficial, ETA-Tijucal; implantação de rede coletora de esgoto e o

devido tratamento; e o gerenciamento dos resíduos sólidos e da construção

civil. Paralelo a essas medidas de saneamento reforça-se a necessidade de

reassentamento das famílias que habitam áreas impróprias e de proteção

ambiental. Como medidas não estruturais enfatiza-se a necessidade de

revegetação das áreas de APP com consequentes implicações no aumento da

permeabilidade do solo e microclima da região;

• A Renaturalização (porção PC) identifica-se por apresentar uma área propícia

à inundação, que requer a implantação de rede de drenagem de águas pluviais

144

e de bacia de detenção. Estas medidas constituem, também, como elemento

de proteção das torres de transmissão de energia elétrica existentes, bem

como se destinam a espaços de lazer para a comunidade;

• Dentro dessa perspectiva a implantação da Avenida Parque do Córrego Três

Barras pode desempenhar o papel de salvaguardar as APPs, utilizando-se da

proteção física linear da própria via, em prol da preservação dos fundos de

vales, assim como também induzir a ligação paisagístico-ecológica entre os

parques urbanos existentes e os previstos por lei a serem implantados, e o seu

próprio parque linear;

• Assim sendo, quando se busca aplicar essas medidas de recuperação de

corpos hídricos, dentro de uma visão integrada e holística, é possível obter

ganhos que atinjam todas as dimensões que visem a um planejamento

sustentável, como: socioeconômico, ambiental, e tecnológicas, com impactos

positivos na melhoria da qualidade de vida da população;

• Por fim, devem-se adotar ações preventivas, adicionando-se programas que

visem ao monitoramento contínuo, em tempo real, proporcionando medidas

preventivas dessas áreas de proteção de forma a promover uma fiscalização

efetiva com poder de polícia administrativa dos órgãos públicos, aliados a

programas de educação ambiental, que sensibilizem a comunidade quanto aos

danos ambientais e inúmeros prejuízos à qualidade de vida dessa população.

145

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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