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Edição 185 - Outubro de 2011 Vânia Marques N o início de sua carreira, nos anos 40, o professor Edmar Kiehl recebeu como material de pesquisa um tema que não despertava nem um pouco, o interesse dos pesquisadores da época. A adubação orgâni- ca. Hoje, setenta anos depois, o professor é um especialista no assunto, já escreveu seis livros, todos defendendo o uso da matéria orgãnica. Nem por isso, descarta o uso do adubo mineral. “Eliminar completamente o emprego de fertilizantes minerais é insensatez. Sem eles, seria impossível produzir alimen- tos para todos”, diz. Muito pelo contrário, fruto de seus estudos, há alguns anos, o professor vem propondo uma nova forma de adubação que Aconselhei os fabricantes de matéria orgânica, a adicionarem um pouquinho do adubo mineral fosfatado. Venderam para cafeicultores. Agora só querem essa mistura. O fósforo ajuda na orada.” O professor Kiehl esteve na Fazenda Ponto Alegre, em Cabo Verde, sul de Minas, para acompanhar a produção do fertilizante organomineral. Leia na página B4 Organomineral Uma nova forma de adubar Dentro da lei: O grande marco para os fer- tilizantes orgânicos acon- teceu em 1982, quando o professor Kiehl, acompa- nhado de um grupo de pro- dutores, foi à Brasília pedir ao ministro da Agricultura a inclusão daquela nova categoria na legislação bra- sileira. A lei dene que a mistura não pode ter menos de 50% de matéria orgânica e que cada nutriente tenha, no mínimo, o teor indicado, com tolerância de 1% na soma de N+P+K. ConƟnua na página B4. A visita à Fazenda Ponto Alegre e parte de uma entrevista com o “pai” do organomineral. valoriza a união dos dois tipos de adubos. A receita é simples: substituir a metade do adubo mineral por matéria orgânica decomposta. Pes- quisas realizadas ao longo de 10 anos, comprovaram que a mistura dos dois fertilizantes fornece à planta todos os nu- trientes que ela precisa. A ma- téria orgânica potencializa o aproveitamento dos nutrien- tes pelas plantas, pois atrai e retém todos os minerais, explica o professor. É uma mistura perfeita. Dá o mesmo resultado da adubação con- vencional”, diz. Ao reduzir pela metade, o uso do adubo mineral, o “organomineral”, como foi batizada a mistura, traz um benefício ambiental, pois utiliza resíduos para compostagem, substitui um produto que tem sua fonte esgotável e economia para o bolso do produtor. O adu- bo orgânico custa cerca de dez vezes mais barato que o mineral. “Quimicamente falando, para a planta, tanto faz o nutriente vir do fertilizante mineral ou da matéria orgânica”, diz o professor, completando: “para o produtor o que im- porta é isso, olha”. (Esfrega o dedor polegar fazendo sinal de dinheiro). Até 1982, não existia no Brasil, uma legislação para a dubação orgânica. Preparo: O preparo do fertilizante or- ganomineral tem sido feito quase que exclusivamente pelas indústrias. No Brasil, existem hoje cerca de 30 fábricas instaladas. Ape- nas três materiais são mais utilizados: turfa, linhito e cama de aviário. Entretanto, a mistura dos fertilizantes orgânicos com os minerais pode ser feita na proprie- dade agrícola, pelo próprio agricultor. Para o composto organico, o professor acon- selha utilizar as fontes, de origem animal ou vegetal, mais fáceis de se encontrar como esterco, palha de café e lixo orgânico domiciliar. A fonte não importa, o im- portante mesmo, diz, é a decomposição. O húmus é que é o segredo da matéria orgânica. As vantagens pro- porcionadas pela mistura e pelas combinações quími- cas dos dos adubos, só acon- tecem quando eles são bem incorporados um ao outro, ou seja, bem misturados. U m dos mo- mentos de maior pra- zer para o criador do organomineral, é ver a sua idéia sendo adotada por algum produtor rural. Na fazenda Ponto Alegre, mu- nicípio de Cabo Verde, no sul de Minas, o professor Kiehl teve uma destas ale- grias. Por um dia, o mestre se transformou em aluno e acompanhou atentamente, as explicações dos cafei- cultores Renato e Eduardo, 1 - Compostagem A compostagem é o segredo da matéria orgânica. Só depois que ela se transforma em húmus, é que fornece os nutrientes às raízes. A decomposição gera um calor de 60°. É preciso remexer porque a parte externa não se aquece. 2 - Mistura Segundo o professor, colocar o ferƟlizante orgânico no sulco e por cima, o mineral, não produz o mesmo efeito. E é essencial misturar bem os dois. Pois do contrário, ao se fazer a adubação no campo, a distribuição será imperfeita. A mistura pode ser manual, da mesma maneira como os pedreiros batem a mistura de cal e areia para preparar argamassa, ou mecanicamente se a propriedade dispuser de uma betoneira ou outro Ɵpo de misturador. 3 - Re no Além da mistura bem feita, é importante que o ferƟlizante orgânico esteja na- mente moído. Palha de café, folhas, pó de serra e esterco bovino se transformam em adubo orgâni- co para a mistura com o mineral: > > > Vânia Marques / Fotos: Otoniel Franco que há seis anos, foram à Piracicaba buscar as pri- meiras orientações com o professor para implantar a adubação organomineral nas lavouras de café. Hoje, não só utilizam, como pro- duzem o próprio fertilizan- te na propriedade. Para o composto, utilizam esterco animal. casca e folhas de café, pó de serra e todo o resíduo que encontram. O processo de compostagem é feito em um ano para ser usado na safra seguinte. Segundo Eduardo, utili- zando a mistura de 1,5 de orgânico para 1 de mineral, eles vêm conseguindo uma economia de R$ 800,00 por hectare. Além disso, revela que jamais conse- guiu um teor de fósforo tão elevado na análise das folhas do cafeeiro.

Adubação Organomineral - Folha Agrosul

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Adubação Organomineral - Folha Agrosul

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Page 1: Adubação Organomineral - Folha Agrosul

Edição 185 - Outubro de 2011

Vânia Marques

No início de sua carreira, nos anos 40, o professor Edmar Kiehl

recebeu como material de pesquisa um tema que não despertava nem um pouco, o interesse dos pesquisadores da época. A adubação orgâni-ca. Hoje, setenta anos depois, o professor é um especialista no assunto, já escreveu seis livros, todos defendendo o uso da matéria orgãnica. Nem por isso, descarta o uso do adubo mineral. “Eliminar completamente o emprego de fertilizantes minerais é insensatez. Sem eles, seria impossível produzir alimen-tos para todos”, diz. Muito pelo contrário, fruto de seus estudos, há alguns anos, o professor vem propondo uma nova forma de adubação que

“Aconselhei os fabricantes de matéria orgânica, a adicionarem um pouquinho do adubo mineral fosfatado. Venderam para cafeicultores.Agora só querem essa mistura. O fósforo ajuda na fl orada.”

O professor Kiehl esteve na Fazenda Ponto Alegre, em Cabo Verde, sul de Minas, para acompanhar a produção do

fertilizante organomineral. Leia na página B4

Organomineral Uma nova forma de adubar

Dentro da lei: O grande marco para os fer-tilizantes orgânicos acon-teceu em 1982, quando o professor Kiehl, acompa-nhado de um grupo de pro-dutores, foi à Brasília pedir ao ministro da Agricultura a inclusão daquela nova categoria na legislação bra-sileira. A lei defi ne que a mistura não pode ter menos de 50% de matéria orgânica e que cada nutriente tenha, no mínimo, o teor indicado, com tolerância de 1% na soma de N+P+K.

Con nua na página B4. A visita à Fazenda Ponto Alegre e parte de uma

entrevista com o “pai” do organomineral.

valoriza a união dos dois tipos de adubos. A receita é simples: substituir a metade do adubo mineral por matéria orgânica decomposta. Pes-quisas realizadas ao longo de 10 anos, comprovaram que a mistura dos dois fertilizantes fornece à planta todos os nu-trientes que ela precisa. A ma-téria orgânica potencializa o aproveitamento dos nutrien-tes pelas plantas, pois atrai e retém todos os minerais, explica o professor. “É uma mistura perfeita. Dá o mesmo resultado da adubação con-vencional”, diz. Ao reduzir pela metade, o uso do adubo mineral, o “organomineral”, como foi batizada a mistura, traz um benefício ambiental, pois utiliza resíduos para compostagem, substitui um produto que tem sua fonte esgotável e economia para o

bolso do produtor. O adu-bo orgânico custa cerca de dez vezes mais barato que o mineral. “Quimicamente falando, para a planta, tanto faz o nutriente vir do fertilizante mineral ou da matéria orgânica”, diz

o professor, completando: “para o produtor o que im-porta é isso, olha”. (Esfrega o dedor polegar fazendo sinal de dinheiro).

Até 1982, não existia no Brasil, uma legislação para a dubação orgânica.

Preparo: O preparo do fertilizante or-ganomineral tem sido feito quase que exclusivamente pelas indústrias. No Brasil, existem hoje cerca de 30 fábricas instaladas. Ape-nas três materiais são mais utilizados: turfa, linhito e cama de aviário. Entretanto, a mistura dos fertilizantes orgânicos com os minerais pode ser feita na proprie-dade agrícola, pelo próprio agricultor. Para o composto organico, o professor acon-selha utilizar as fontes, de origem animal ou vegetal, mais fáceis de se encontrar como esterco, palha de café e lixo orgânico domiciliar. A fonte não importa, o im-portante mesmo, diz, é a decomposição. O húmus é que é o segredo da matéria orgânica. As vantagens pro-porcionadas pela mistura e pelas combinações quími-cas dos dos adubos, só acon-tecem quando eles são bem incorporados um ao outro, ou seja, bem misturados.

Um dos mo-mentos de maior pra-zer para o criador do

organomineral, é ver a sua idéia sendo adotada por algum produtor rural. Na fazenda Ponto Alegre, mu-nicípio de Cabo Verde, no sul de Minas, o professor Kiehl teve uma destas ale-grias. Por um dia, o mestre se transformou em aluno e acompanhou atentamente, as explicações dos cafei-cultores Renato e Eduardo,

1 - CompostagemA compostagem é o segredo da matéria orgânica. Só depois que ela se transforma em húmus, é que fornece os nutrientes às raízes. A decomposição gera um calor de 60°. É preciso remexer porque a parte externa não se aquece.

2 - MisturaSegundo o professor, colocar o fer lizante

orgânico no sulco e por cima, o mineral, não produz o mesmo efeito. E é essencial misturar

bem os dois. Pois do contrário, ao se fazer a adubação no campo, a distribuição será imperfeita. A mistura pode ser manual, da

mesma maneira como os pedreiros batem a mistura de cal e areia para preparar argamassa, ou mecanicamente se a propriedade dispuser de

uma betoneira ou outro po de misturador.

3 - Refi noAlém da mistura bem feita, é importante que o fer lizante orgânico esteja fi na-mente moído.

Palha de café, folhas, pó de serra e esterco bovino se transformam

em adubo orgâni-co para a mistura com o mineral:

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Vânia Marques / Fotos: Otoniel Franco

que há seis anos, foram à Piracicaba buscar as pri-meiras orientações com o professor para implantar a adubação organomineral nas lavouras de café. Hoje, não só utilizam, como pro-duzem o próprio fertilizan-te na propriedade. Para o composto, utilizam esterco animal. casca e folhas de café, pó de serra e todo o resíduo que encontram. O processo de compostagem é feito em um ano para ser usado na safra seguinte. Segundo Eduardo, utili-

zando a mistura de 1,5 de orgânico para 1 de mineral, eles vêm conseguindo uma economia de R$ 800,00 por hectare. Além disso, revela que jamais conse-guiu um teor de fósforo tão elevado na análise das folhas do cafeeiro.