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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Instituto de Ciências Humanas Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis Monografia AÇÕES DE CONSERVAÇÃO PREVENTIVA PARA O CONTROLE DE PRAGAS NO ACERVO DA SEÇÃO DE ANTROPOLOGIA DO MUSEU ANTROPOLÓGICO DIRETOR PESTANA, IJUÍ RS. Miriam Silveira Campos Pelotas 2013

AÇÕES DE CONSERVAÇÃO PREVENTIVA PARA O … · tornasse divertido. ... Piano onde foi encontrada a ooteca ... pois é a partir do conhecimento de como se iniciou a colonização

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Instituto de Ciências Humanas

Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis

Monografia

AÇÕES DE CONSERVAÇÃO PREVENTIVA PARA O CONTROLE DE

PRAGAS NO ACERVO DA SEÇÃO DE ANTROPOLOGIA DO MUSEU

ANTROPOLÓGICO DIRETOR PESTANA, IJUÍ – RS.

Miriam Silveira Campos

Pelotas 2013

1

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE MUSEOLOGIA E CONSERVAÇÃO E RESTAURO

BACHARELADO EM CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE BENS CULTURAIS MÓVEIS

AÇÕES DE CONSERVAÇÃO PREVENTIVA PARA O CONTROLE DE

PRAGAS NO ACERVO DA SEÇÃO DE ANTROPOLOGIA DO MUSEU

ANTROPOLÓGICO DIRETOR PESTANA, IJUÍ – RS.

Miriam Silveira Campos

Trabalho de conclusão apresentado ao

Bacharelado em Conservação e Restauro de

Bens Culturais Móveis da Universidade

Federal de Pelotas, como requisito parcial à

obtenção do título de Bacharel em

Conservação e Restauro de Bens Culturais

Móveis. Sob orientação da Professora Ms.

Silvana de Fátima Bojanoski.

Pelotas - RS, Fevereiro de 2013.

2

Banca Examinadora:

Profª. Ms. Andréa Lacerda Bachettini

_________________________________________________

Profª. Ms. Silvana de Fátima Bojanoski (Orientadora)

_________________________________________________

3

Dedico este trabalho aos meus pais,

Mario e Elisete, que me ensinaram a

valorizar os pequenos detalhes da vida e

sempre estiveram ao meu lado.

4

Agradecimentos

Aos professores do Curso de Conservação e Restauro que mesmo

enfrentando algumas dificuldades se esforçaram e contribuíram para a formação

desta turma.

Aos profissionais e diretoria do Museu Antropológico Diretor Pestana, que me

receberam respeitosamente, acreditando na minha competência e permitindo que

este trabalho fosse elaborado. Principalmente à Museóloga Luciana Cardoso que

me orientou, me recebeu e confiou que este trabalho seria de grande importância

para o MADP.

Ao Professor Dr. Jaime M. Salles por ter me orientado no estágio que originou

este trabalho.

À Professora Ms. Silvana Bojanoski, não há palavras para agradecer pela

orientação neste trabalho. Foi de uma eficiência enorme em me fazer contornar

situações difíceis, teve paciência de me incentivar para que eu não desistisse e a

confiança em transmitir seus conhecimentos de maneira incontestável.

À Professora Ms. Andréa Bachettini pelo conhecimento transmitido durante

todo meu processo acadêmico, por permitir que o espaço de pintura sempre fosse

compartilhado pelos alunos, pelo incentivo e por ter aceitado o convite para avaliar

este trabalho.

Aos funcionários do curso, em especial à Keli Scolari e Jeferson Salaberry

que nunca mediram esforços para ajudar nas realizações de diversas tarefas,

mesmo que muitas vezes ocupados com suas obrigações.

Aos colegas que com o passar do tempo fizeram com que nosso convívio se

tornasse divertido. Pelas inúmeras discussões que acabaram nos tornando ainda

mais unidos e por terem feito parte de uma etapa muito importante da minha vida.

Aos que por algum motivo não conseguiram nos acompanhar até o final, mas que

marcaram nossa caminhada.

5

Em especial agradeço à Lisiane (Lisi), companheira desde o início da

faculdade que mesmo “agitadinha” soube me ouvir muitas vezes e principalmente

não me deixou desistir.

Agradeço aos meus pais, irmãos, cunhada e familiares que de forma indireta

me ajudaram a concluir este trabalho, pelas muitas vezes que souberam me

compreender e me incentivar.

Aos amigos, dentre eles da igreja e do serviço, que juntamente com meus

familiares arrancaram sorrisos do meu rosto e me fizeram prosseguir em momentos

que isto seria pouco provável.

Agradeço ainda as Museólogas Adriana Cardoso e Luciana Cardoso, por me

animarem e por estarem comigo em momentos essenciais e inesquecíveis, desde o

início da faculdade até o término. Fico feliz em saber que nossa parceria tem dado

certo e que tem contagiado pessoas, como a Rebeca e a Natália.

Ainda à Luciana Cardoso por além ter me chamado pra fazer o estágio,

compartilhou os seus conhecimentos durante todo o desenvolvimento desta

monografia. Lú e Adri, obrigado por estarem sempre ao meu lado.

Sobretudo agradeço a Deus, pelo dom da vida e por todas as pessoas que

colocou em meu caminho. Por me permitir chegar até aqui confiando que suas mãos

me fizeram e me deram força para prosseguir nesta caminhada.

6

“A partir do momento que conhecemos conscientemente e

tecnicamente nossos problemas é que poderemos encontrar

soluções compatíveis com a nossa realidade. Caminhar na

direção do ideal é um passo a mais para tentar alcançar as

condições mais adequadas.”

(Yacy-Ara Froner)

7

Resumo

CAMPOS, Miriam Silveira. Ações de Conservação Preventiva para o controle de

pragas no Acervo da Seção de Antropologia do Museu Antropológico Diretor

Pestana, Ijuí - RS. 2013. 57f. Monografia – Curso de Bacharelado em Conservação

e Restauro de Bens Culturais Móveis. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas -

RS.

A presente monografia analisará o acervo salvaguardado na Seção de Antropologia

do Museu Antropológico Diretor (MADP), monitorando as variações de umidade e

temperatura, bem como identificando a presença de agentes biológicos nos

mesmos. Tal análise se baseará em bibliografias específicas sobre diagnósticos e

ações de conservação preventiva, considerando os fatores já apontados.

Através de tal estudo objetiva-se conhecer a realidade Institucional e apontar

melhorias, buscando manter a estabilidade dos materiais, bem como apontar ações

para que se diminuam os riscos de danos ou perdas de tais acervos, causados por

infestações, afinal, os mesmos são únicos e tem a missão de manter viva a história e

memória de uma comunidade.

Palavras-Chave: Conservação Preventiva. Agentes Biológicos. Controle Ambiental.

Museu Antropológico Diretor Pestana.

8

Abstract

CAMPOS, Miriam Silveira. Ações de Conservação Preventiva para o controle de

pragas no Acervo da Seção de Antropologia do Museu Antropológico Diretor

Pestana, Ijuí - RS. 2013. 57f. Monografia – Curso de Bacharelado em Conservação

e Restauro de Bens Culturais Móveis. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas -

RS.

This monograph analyze this legislation safeguarded in Section of Anthropology

Anthropological Director Pestana Museum (MADP) monitoring the humidity and

temperature changes, and identifying the presence of biological agentsin them. Tal

analysys be based on bibliographies disgnósticos specific actions and safe storage,

considering the factors already mentioned.

Through such a study objective up to recognize the reality Institutional and

improvements point trying to maintain the stability of the materials, and actions for

pointing that decrease risk of damage or loss of such collections caused by

infestations, after all, they are unique and has a mission to keep living history and

memory of the region.

Keywords: Preventive Conservation. Biological Agents. Environmental Control.

Director Pestana Anthropological Museum.

9

Lista de Figuras

Figura 1: Mapa do Rio Grande do Sul com localização da Cidade de Ijuí................16

Figura 2: Vista aérea da Usina Velha de Ijuí/RS ......................................................17

Figura 3: Augusto Pestana .......................................................................................18

Figura 4: Museu Antropológico Diretor Pestana .......................................................20

Figura 5: Instrumentos utilizados na agricultura .......................................................26

Figura 6: Instrumentos na marcenaria ......................................................................26

Figura 7: Acervo Ponto casa .....................................................................................27

Figura 8: Acervo Ponto casa .....................................................................................27

Figura 9: Vista lateral esquerda do Museu ...............................................................33

Figura 10: Vegetação na frente do Museu ...............................................................33

Figura 11: Detalhe de um dos jardins internos do Museu ........................................34

Figura 12: Planta baixa do Museu com Esquema ....................................................36

Figura 13: Marcas de infiltração no climatizador de ar na área de exposição...............37

Figura 14: Relógio com orifícios causados por térmitas ...........................................40

Figura 15: Sofá ao fundo com infestação de traças ....................................................40

Figura 16: Tulha com infestação de cupim no Ponto Casa .........................................41

Figura 17: Piano onde foi encontrada a ooteca ...........................................................42

10

Lista de abreviaturas

CCI: Canadian Conservation Institute

FAFI: Faculdade de Filosofia Ciências e Letras

FENADI: Feira Nacional das Culturas Diversificadas

FIDENE: Fundação de Integração, Desenvolvimento e Educação do Noroeste do

Estado

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas

ICOM: International Council of Museums

ICCROM: International Center for the Study of the Preservation and Restauration oh

Cultual Heritage

IMC: Instituto do Museu e da Conservação

MADP: Museu Antropológico Diretor Pestana

UNIJUÍ: Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

11

Sumário

Introdução ................................................................................................................12

1. O SURGIMENTO DA CIDADE DE IJUÍ – RS E A FORMAÇÃODO MUSEU

ANTROPOLÓGICO DIRETOR PESTANA .........................................................15

1.1 Ijuí e seu povoamento ....................................................................................15

1.2 Administração de Augusto Pestana .................................................................18

1.3 Museu Antropológico Diretor Pestana – MADP.................................................19

1.4 A conservação preventiva em espaços museológicos ..................................23

1.5 Materiais que compõe o acervo de antropologia ..............................................25

2. ANÁLISE DO AMBIENTE DA EXPOSIÇÃO DE LONGA DURAÇÃO E RESERVA

TÉCNICA DO MUSEU ANTROPOLÓGICO DIRETOR PESTANA E A RELAÇÃO

COM O DESENVOLVIMENTO DE PRAGAS ...........................................................29

2.1 Problemas causados por Umidade Relativa e Temperatura Incorretas ........29

2.2 Características do entorno do Museu ..............................................................31

2.3 Características do ambiente interno do Museu – exames realizados ...........35

2.3.1 Identificação dos insetos encontrados no MADP .....................................39

CONCLUSÃO ...........................................................................................................45

BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................48

ANEXOS ...................................................................................................................50

12

1. Introdução

Este trabalho desenvolveu-se com o intuito de explanar sobre a conservação

preventiva dos acervos da Seção de Antropologia do Museu Antropológico Diretor

Pestana – MADP localizado na cidade de Ijuí, região noroeste do Rio Grande do Sul.

Por intermédio da Museóloga Luciana Cardoso, foi feito o convite para realização do

estágio curricular do Curso de Bacharel em Conservação e Restauro de Bens

Culturais Móveis neste Museu. Considerando as características e importância do

acervo, e o fato de a Instituição não possuir profissional na área de conservação e

restauro, tal convite representou a oportunidade de aplicação dos conhecimentos

adquiridos durante o Curso.

A conservação preventiva é um assunto muito discutido atualmente e refere-

se às ações desenvolvidas de modo a prolongar o tempo de existência dos objetos.

Seriam ações praticadas no ambiente onde este objeto se encontra, influenciando

diretamente no comportamento dos materiais que constituem o mesmo. Segundo o

Plano de Conservação Preventiva, elaborado pelo Instituto dos Museus e da

Conservação de Portugal – IMC, “...as boas práticas de conservação preventiva

conduzem a uma maior longevidade das coleções e a uma melhor gestão de

recursos, reduzindo a necessidade de intervenções curativas onerosas e evitando

perdas patrimoniais”. (IMC, 2007, p. 7).

Foi com este olhar de conservação que passamos ao reconhecimento dos

ambientes do Museu, das divisões existentes e dos profissionais que contribuem

para o funcionamento da Instituição. No primeiro contato com o acervo, ao observar

a exposição de longa duração, foi possível compreender a maneira cronológica

como os objetos estão dispostos e organizados. A exposição é composta

principalmente por objetos da Seção de Antropologia, que ocupam também a maior

parte da reserva técnica.

A Seção de Antropologia é a que detém maiores tipologias de materiais, tais

como: madeira, cerâmica, metais, têxteis e outros. Este acervo, por suas

características e diversidade, caracteriza a ocupação da região noroeste do Rio

Grande do Sul. A maior parte deste acervo se encontra na exposição de longa

13

duração e narra a história, desde os tempos dos índios missioneiros até os dias

atuais, passando pelas várias etnias que povoaram essa região.

Durante o estágio todos os acervos da exposição foram examinados a partir

dos conteúdos e assuntos discutidos em várias disciplinas do Curso de Conservação

e Restauro como, por exemplo, a de Agentes Biológicos de Deterioração, além das

pesquisas bibliográficas sobre ambientes e conservação preventiva.

Foram identificadas degradações causadas por térmitas e a presença de

insetos em algumas áreas do Museu. Decidiu-se então fazer um estudo mais

aprofundado sobre o ambiente e a forma com que o mesmo está contribuindo para a

proliferação de pragas.

As ações destes agentes de degradação quando não controladas, alteram a

estrutura física do objeto, causando danos irreparáveis e ocasionando sua perda. Os

objetos expostos em museus são únicos, qualquer dano ocasionado, coloca o risco

de perder-se parte da história e memória de uma comunidade, por isso a

necessidade de preservá-los.

No primeiro capítulo aborda-se a história do surgimento da cidade e do

povoamento da região de Ijuí, bem como a criação do Museu Antropológico Diretor

Pestana, pois é a partir do conhecimento de como se iniciou a colonização dessa

região que se podem entender as características e significados do acervo que narra

a trajetória desta população.

Ainda no primeiro capítulo também se discute a conservação preventiva em

espaços museológicos, pensando na melhor maneira de garantir a preservação e

longevidade do acervo. E por fim, como um embasamento para a discussão do

capítulo seguinte, busca-se mostrar como a Seção de Antropologia está atualmente

organizada.

No segundo capítulo identifica-se o ambiente de exposição e guarda dos

objetos, as tipologias dos materiais que constituem o acervo, e a ação do ambiente

nestes materiais. Para isso tomou-se como base os textos disponíveis no Canadian

Conservation Institute sobre os 10 agentes de deterioração, e mais especificamente,

os textos elaborados por Stefan Michalski (2009) sobre temperatura e umidade

incorretas, onde ele explica que a variação destes dois agentes é determinante na

14

proliferação de pragas, e mostra ainda os riscos e benefícios de certas medidas de

controle de umidade e temperatura, em uma coleção com materiais variados.

A localização do edifício do Museu e o clima da cidade foram considerados no

estudo, pois exercem grandes influências sobre o ambiente das áreas de guarda e

de exposição e interfere diretamente no problema de pestes inicialmente observado.

De acordo com Lopes (2011, p. 18) a primeira barreira de proteção do acervo é o

edifício e através das análises do clima exterior e interior do mesmo, é possível

detectar possíveis causas de degradação. Daí a necessidade de um olhar criterioso

sobre o edifício e o entorno onde está localizado.

Sabendo que o desenvolvimento de agentes biológicos está diretamente

associado às condições ambientais das áreas onde o acervo é guardado ou

exposto, buscou-se analisar quais são essas condições ambientais nas diferentes

áreas do museu e de que forma estão sendo propícias para a proliferação de

pragas.

Por fim, foram identificados os insetos encontrados no Museu e

caracterizados quanto ao tipo de ambiente onde se proliferam, os danos que podem

causar e a maneira como se pode combater estas pragas.

Como conclusão, são feitas algumas considerações sobre como este trabalho

pode constituir-se em uma fonte de informações sobre as condições atuais dos

locais de guarda e de exposição, das tipologias do acervo, e de como as condições

ambientais podem estar interferindo no risco de proliferação de insetos no acervo do

Museu Antropológico Diretor Pestana.

15

CAPÍTULO 1: A CIDADE DE IJUÍ E A FORMAÇÃO DO MUSEU ANTROPOLÓGICO

DIRETOR PESTANA

O Museu Antropológico Diretor Pestana, localizado na cidade de Ijuí, na

região noroeste do Rio Grande do Sul, guarda um importante acervo

relacionado com os primeiros habitantes da região, assim como objetos

referentes à cultura e história dos vários grupos que contribuíram para o

desenvolvimento dessa região. Para que se possa entender a importância das

coleções preservadas neste Museu é preciso inicialmente apresentar um breve

histórico da formação desta região e de seu povoamento. Em seguida serão

discutidas as características e contexto de desenvolvimento das coleções,

apontando-se também as questões de conservação de seu acervo. Do mesmo

modo pretende-se apresentar o contexto ao qual o museu está inserido,

detalhando a forma de exposição dos objetos e analisando a necessidade de

conservação de seu acervo.

1.1 Ijuí e seu povoamento

O município de Ijuí atualmente é composto pelos distritos de Ijuí, Mauá,

Chorão, Floresta, Santo Antônio, Alta da União, Barreiro, Santana e Itaí,

situando-se a 395 km da capital Porto Alegre, como se pode ver na indicação

feita no mapa mostrado na figura 1. Segundo dados do IBGE - Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatísticas, em outubro de 1890 foi fundada a colônia

Ijuhy, que na linguagem guarani significa “rio das águas divinas”. Em janeiro de

1912 passou de 5º Distrito de Cruz Alta a município autônomo sob a designação

de Ijuí.

16

Figura 1. Mapa do Estado do Rio Grande do Sul com esquema de Localização da cidade de Ijuí

Fonte: Site BrasiLocal1. Esquema da Autora, 2013.

De acordo com o livro “Nossas Coisas e Nossa Gente” (Marques e Brum,

2004), a colonização desta região foi incentivada pelo governo do Estado

principalmente para quem possuía conhecimentos em agricultura. A população

ijuiense é formada por muitos povos: indígenas, afro-brasileiros, espanhóis,

portugueses, alemães, franceses, italianos, poloneses, holandeses, austríacos,

suecos, japoneses, russos, lituanos, libaneses, árabes, ucranianos, dentre outros.

Por ter seu povoamento composto de muitas etnias, a cidade ficou conhecida como

“Terra das Culturas Diversificadas”. A Colônia Ijuí foi fundada por José Manuel de

Siqueira Couto, também chefe da Colônia Silveira Martins em Santa Maria. Em 1890

José Couto, acompanhado de um grupo de italianos, começou a demarcação dos

terrenos da nova colônia.

Ainda conforme Marques e Brum (2004, p.141), a estrada de ferro vinha de

Porto Alegre até o município de Santa Maria, onde chegavam através do Serviço de

Comissão de Terras os imigrantes e suas famílias, tornando a Colônia Silveira

Martins o centro de distribuição dos imigrantes pelas zonas a serem colonizadas. Ijuí

tornou-se o primeiro município gaúcho a ter uma colonização de etnias

diversificadas, sendo povoada de maneira lenta e trabalhosa. Primeiramente,

1Disponível em: <http://www.brasilocal.com/rio_grande_do_sul.html>. Acesso em 02-01-

17

chegavam os homens, derrubavam o mato, abriam estradas, construíam os

barracões e então traziam as famílias. (Marques e Brum, 2004, p. 134)

Sobre as características geográficas da cidade, conforme dados disponíveis

no site da Prefeitura de Ijuí2, sua vegetação procede das florestas subtropicais,

embora tenha sofrido algumas modificações com a urbanização. O clima é

subtropical com invernos secos e frios, e o verão muito quente. A temperatura tem a

média anual de 20ºC, as chuvas são bem distribuídas e as quatro estações do ano

são bem definidas. A cidade esta localizada a uma altitude de 380 m acima do nível

do mar e o seu solo é formado por basalto-arenítico, terreno característico do

Planalto Meridional da região Sul do Brasil.

Em pesquisa realizada por alunos do Curso de Engenharia Civil da UNIJUÍ3 e

publicada na Revista Teoria e Prática na Engenharia Civil, Nº12, o solo é rico em

minerais e ferro, fértil, não permeável e com tom avermelhado, comprovando o

potencial para o desenvolvimento da agricultura nesta região. A cidade é cortada

pelos rios Ijuí, Conceição e Potiribú, fazendo com que a região tenha um grande

potencial hidrelétrico, abrigando a hidrelétrica mais antiga do Estado, ainda em

funcionamento, chamada de Usina Velha (fig. 2).

Figura 2. Vista aérea da Usina Velha de Ijuí/RS

Fonte: Site Ijuí - RS - Memória Virtual4.

2Disponível em: <http://www.ijui.rs.gov.br/prefeitura/index/2>. Acesso em: 03-01-2013. 3Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. 4Disponível em:<http://ijuisuahistoriaesuagente.blogspot.com.br/2011/01/historia-da-energia-eletrica-em-ijui.html>. Acesso em 04-01-2013.

18

Pela forma de desenvolvimento de Ijuí, sua localização e população composta

por vários grupos étnicos, a cidade é conhecida como “Terra das Culturas

Diversificadas”, “Terra das Fontes de Águas”, “Colmeia de trabalho” e ainda como

“Cidade Universitária”. A fim de divulgar a diversidade e riqueza que caracterizam a

região de Ijuí, acontece anualmente no Parque de Exposições de Ijuí, a FENADI,

Feira Nacional das Culturas Diversificadas, onde são relembradas as tradições

culturais de cada grupo que chegou até a região e contribuiu para a formação desta

cidade.

1.2 Administração de Augusto Pestana

A Colônia Ijuí foi administrada por quatro diretores, sendo o último deles, o

Engenheiro Augusto Pestana (fig. 3). Assumindo a Colônia em janeiro de 1899,

encontrou períodos de grandes dificuldades, pois desde que se proclamou a

República, o Estado do Rio Grande do Sul teve vários governos. Por quase 14 anos

Pestana esteve à frente da Colônia exercendo o trabalho de estimular os colonos,

apaziguar conflitos entre federalistas e republicanos e cuidar do bem estar de todos5.

Figura 3. Augusto Pestana

Fonte: Site da Prefeitura de Ijuí6.

5 Disponível em: <http://www.ijui.rs.gov.br/prefeito/ex>. Acesso em 03-01-2013. 6 Disponível em: <http://www.ijui.rs.gov.br/prefeito/ex>. Acesso em 03-01-2013.

19

Durante sua administração o Diretor Pestana proporcionou meios de

subsistência adequados para os colonos, disponibilizando sementes para o plantio,

pagando aqueles que trabalhavam na construção das estradas e incentivando a

pecuária. Desta forma conseguia atrair um número cada vez maior de imigrantes.

Em uma aula proferida pelo Doutor César Pestana, filho de Augusto Pestana,

na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ijuí, em 10 de março de 1962, fica

clara a admiração que o último Diretor da colônia conquistou durante seu governo,

através da seguinte afirmação,

Contou com o apoio incondicional da população desta terra, justamente porque viram que as suas intenções eram realmente de procurar fazer de um torrão ainda principiante, uma base para a fertilidade do futuro que reafirmasse a passagem aqui de homens que de fato vieram ajudar. (MARQUES, BRUM, 2004, p.188).

Augusto Pestana tornou-se uma pessoa respeitada pela população ijuiense,

tendo seu nome homenageado em ruas, distrito, colégio, comunidade evangélica,

museu e municípios do Rio Grande do Sul. Teve seu trabalho reconhecido em junho

de 1912 pelo Diretor Geral do Ministério da Agricultura, que julgou sua administração

como modelar para todo o país. Por fim, foi nomeado como Intendente Provisório

quando houve a emancipação da Colônia, tornando-se em seguida o primeiro

prefeito de Ijuí.

Foi durante a administração de Augusto Pestana que pontes foram

construídas e a Estação Ferroviária de Ijuí foi inaugurada em 1911, facilitando assim

o acesso entre os municípios desta região do Estado e consequentemente

contribuindo para o desenvolvimento econômico da cidade. Casas comerciais foram

surgindo e muitas empresas foram criadas, sendo adotado pela população o nome

“Colmeia de Trabalho” como representação daquele momento de expansão e

crescimento da cidade. Pestana permaneceu como prefeito apenas por alguns

meses, deixando o cargo em 1912, mesmo ano de emancipação da cidade. Sua

administração marcou um período de desenvolvimento e crescimento da cidade.

20

1.3 Museu Antropológico Diretor Pestana - MADP

O Museu Antropológico Diretor Pestana (fig. 4) foi criado em 25 de maio de 1961

pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ijuí - FAFI, que passou a se

denominar Fundação de Integração, Desenvolvimento e Educação do Noroeste do

Estado - FIDENE. O nome da Instituição homenageia o Diretor da Colônia Ijuí,

Augusto Pestana, que como mostrado anteriormente, foi uma figura importante na

colonização, crescimento e desenvolvimento da cidade de Ijuí.

Figura 4. Museu Antropológico Diretor Pestana

Foto da autora, 2012.

Ao longo de 50 anos já passaram pela direção do Museu os diretores Martín

Fischer (1961 – 1969), Maria Helena Abrahão Schorr (1970 – 1973), Jaeme Luiz

Callai (1973 – 1975), Danilo Lazzarotto (1975 – 1978), João Wanderley Gerald (1978

– 1980), Leonilda Maria Preissler (1980 – 2007) e Stela Mariz Zambiazi de Oliveira

que ocupa o cargo desde o ano 2007. A equipe técnica, responsável pelas

atividades de organização, exposição e manutenção do acervo que se encontra sob

a guarda do MADP é formada pelos seguintes componentes: museólogo, arquivista,

educador, fotógrafo, assistentes de pesquisa, secretário, estagiário e funcionário de

limpeza.

O acervo do Museu é organizado em três grandes divisões. A Divisão de

Museologia é responsável pela manutenção da exposição de longa duração e

21

elaboração/montagem das exposições temporárias, tendo seu acervo composto por

mais de 29 mil peças museológicas.

Já a Divisão de Documentação é composta por documentos textuais,

bibliográficos e iconológicos que resgatam aspectos significativos do município e da

região.

A Divisão de Imagem e Som guarda um acervo de mais de 300 mil imagens,

constituído por diferentes suportes como discos, fitas cassetes, videocassetes e

microfilmes. A forma como cada uma das Divisões está subdivida é mostrada a

seguir.

A Divisão de Museologia se subdivide nas seguintes seções:

Seção Arqueológica

Seção Antropológica

Seção Numismática

Seção Filatelia

A Divisão de Documentação está organizada nos seguintes Arquivos e

Coleções:

FIDENE

Ijuí

Cooperativismo

Sindicalismo

Regional

Kaigang/Guarani/ Xetá

Hemeroteca

Por fim, a Divisão de Imagem e Som é formada pelas seguintes áreas:

Arquivos Fotográficos7

Discoteca

7O Arquivo Fotográfico é formado pelas seguintes coleções: FIDENE, Ijuí, Cooperativismo,

Sindicalismo, Regional, Indígena, Nacional e Internacional.

22

Fitoteca

Filmoteca/Videoteca

Além do espaço museológico a Instituição também abriga um Arquivo,

sendo o acesso independente entre os dois espaços. O espaço museológico é

formado pela sala da Divisão de Museologia, cozinha, reserva técnica, exposição

de longa duração, sala de higienização, e no subsolo, o auditório e a sala de

exposição temporária. Já o Arquivo é composto por salas de pesquisas, duas

áreas de guarda e ao fundo, a Divisão de Imagem e Som com quatro pequenas

salas.

As características e diversidades dos grupos que conformaram a ocupação da

cidade de Ijuí, já apontadas na primeira parte desse texto, se refletem nas coleções

que formam o acervo do MADP. A exposição de longa duração do Museu é formada

por objetos que mostram desde a presença dos índios pré-missioneiros na região, a

formação da Colônia Ijuí, a vida e subsistência dos primeiros habitantes da cidade,

seus objetos de trabalho e religiosos. O acervo é formado pelos objetos doados pela

população local, que deseja resgatar os costumes antigos e manter viva a memória

de seus antepassados.

Ao estudar a história da cidade de Ijuí, entende-se que o município formou-se

através da união e do trabalho de diversas etnias que enfrentaram dificuldades para

chegar até esta região e para ali sobreviver. Ainda hoje, é notório o prazer e orgulho

que a população ijuiense sente em relembrar sua história. É com a finalidade de

manter este passado vivo, que o Museu recebe, cuida e expõe o seu acervo,

mantendo o passado sempre presente na vida das pessoas que vivem na região,

permitindo aos que chegam de longe vivenciar a sua história.

Pode-se comprovar a afirmação feita anteriormente através do discurso de

Martin Fischer, o primeiro diretor da instituição, em um capítulo do livro lançado em

homenagem aos 40 anos do Museu em 2002, no qual defende que o acervo desta

Instituição representa a história e cultura das diversas etnias que povoaram a região

noroeste do Estado e que conservar estes objetos é a maneira de relembrar seus

primeiros habitantes.

23

Nas palavras de Fischer,

O Museu será uma documentação viva da cultura do nosso lavrador rural, do nosso colono, e dos que trabalham no comércio e na indústria e, outrossim, será uma documentação viva da organização administrativa, da vida espiritual e social: em suma, uma síntese geral da evolução da nossa região pela mão do nosso homem... (COLEÇÃO MUSEU ANTROPOLÓGICO DIRETOR PESTANA, 2002, p. 35).

Ao se referir ao Museu como uma “documentação viva”, Fischer demonstra o

desejo de que a instituição se torne um lugar de referência para pesquisas e estudos

sobre a história desta região. Pode-se notar que este objetivo tem sido alcançado,

pois através do levantamento feito no Livro de Visitações do Museu, no ano de 2011

foram registrados 5.207 visitantes, sendo que destes, 4.569 são estudantes do

ensino médio e ensino superior8, fato que demonstra o interesse dos mais jovens em

conhecer parte do seu passado.

As palavras de Fisher também indicam qual é a missão do Museu

Antropológico Diretor Pestana. A clara percepção de qual é a missão de um museu

é fundamental para definir as suas políticas de preservação e atuação. De acordo

com Edson (2004, p. 151), a missão de um museu “...deve ser simples mas escrita

cuidadosamente, descrever o que o museu é, o que faz, como opera, como

coleciona, onde opera, onde coleciona e por que razão coleciona”. Este autor conclui

que, estas ações quando documentadas e exercidas, determinam o objetivo do

museu, facilitando no acolhimento de acervos que caracterizem a identidade da

instituição.

Conforme o Regimento do MADP, a missão do Museu é descrita como forma

de “recolher, estudar, analisar, catalogar, conservar em exposição permanente, ou

em seus arquivos, objetos e documentos referentes à história do homem da região.”

(REGIMENTO MADP, 2002, p.49). É possível assim relacionar os objetivos do

Museu ao seu próprio nome, que ao se denominar “museu antropológico”,

demonstra que seu acervo está vinculado à cultura e história dos homens que

ocuparam, viveram e trabalharam para o desenvolvimento da cidade de Ijuí.

8 Levantamento feito pela Museóloga Adriana Silveira em 2012. 9 Esse Regimento Interno do Museu que foi consultado, segundo a museóloga da Instituição Luciana Cardoso, está em fase de atualização, pois o mesmo se encontra defasado.

24

1.4 A Conservação preventiva em espaços museológicos

Sabendo da importância deste acervo para a população de Ijuí e também

para a região que se encontra ali representada, é primordial preservar esses objetos

como garantia de que se mantenha a sua integridade física, permanência e

durabilidade. Segundo Medeiros (2005), qualquer objeto que represente uma história

pode ser considerado um patrimônio, por isso a necessidade de preservá-lo.

Conforme a autora,

A importância de conservar um objeto que consideramos parte de um patrimônio está no fato deste se constituir registro material da cultura, da expressão artística, da forma de pensar e sentir de uma comunidade em determinada época e lugar, um registro de sua história, dos saberes, das técnicas e instrumentos que utilizava. Para termos esse registro da cultura é imprescindível a existência de um suporte material, como um objeto, uma construção ou um documento. (MEDEIROS, 2005, p.1).

Pensando na melhor maneira de preservação do acervo do MADP, pretende-

se neste trabalho analisar e propor soluções a partir dos princípios da conservação

preventiva. Essa abordagem preventiva está colocada em várias publicações

atuais10. Optou-se aqui em seguir as orientações do Instituto dos Museus e da

Conservação – IMC, que constam na publicação intitulada “Plano de Conservação

Preventiva”. A referida publicação indica que a conservação preventiva é baseada

em normas e procedimentos de avaliações a serem realizadas periodicamente e por

profissionais conhecedores do assunto. Também destaca que todo museu deve

possuir seu próprio Plano de Conservação, de acordo com seu ambiente de guarda

do acervo.

Os procedimentos recomendados pelo IMC são avaliação dos riscos e

elaboração de ações, a fim de prevenir degradações causadas pelo ambiente,

retardando o processo de envelhecimento dos materiais que constituem os objetos.

Cabe salientar que as condições ambientais exercem grandes influências sobre o

acervo, através das variações de umidade e temperatura que atuam de diferentes

formas sobre os materiais causando dilatações e contrações, fragilizando seu

suporte. A umidade elevada acelera as reações químicas nos materiais e quando

10

Como por exemplo: Carvalho, Claudia. O Projeto de Conservação Preventiva do Museu

Casa de Rui Barbosa; Lopes, Ana. CONSERVAÇÃO PREVENTIVA: Construção de uma “Checklist” apliacada às áreas de Exposição e Reserva; Alarcão, Catarina. Prevenir para Preservar o P atrimônio Museológico; MAST. Conservação de Acervos (2007).

25

acompanhadas de altas temperaturas, desenvolve um ambiente que favorece a

proliferação de insetos e fungos.

O desenvolvimento de agentes biológicos pode causar danos que requerem

intervenções para restauração do suporte ou danos irreparáveis, resultando até

mesmo na sua perda total. Deste modo, pode-se afirmar que as ações de

conservação preventiva, quando colocadas como prioridade e voltadas para

melhoria das condições do objeto e do ambiente, garantem uma longevidade maior

ao acervo.

Além de a conservação preventiva assegurar a estabilidade do acervo, ela

influência também na redução de gastos por parte da instituição em intervenções e

restauros, sempre dispendiosos. A implementação de ações de conservação deve

ser feita por uma equipe devidamente treinada, porém acima de tudo deve ser

entendida como uma prática multidisciplinar que depende da atuação de todos os

funcionários e técnicos de uma instituição, incluindo desde o pessoal da limpeza, da

administração e também da diretoria da instituição. Atuando desta maneira, os

museus terão a salvaguarda dos objetos garantida, reduzindo assim

significativamente os riscos de perdas e danos no seu acervo.

1.5 Materiais que compõe o acervo de antropologia

É especialmente na Seção de Antropologia do MADP que o acervo

caracteriza-se mais claramente como uma narrativa das ocupações humanas da

região. Esculturas, cestarias, instrumentos de trabalho relacionados às várias

atividades ali desenvolvidas, mobiliário e vários outros objetos possibilitam

rememorar a colonização, a imigração, os vários grupos formadores, a história e a

cultura regional. A Seção de Antropologia também é a que possui o maior número

de coleções e objetos, grande parte deles na exposição de longa duração e ainda

uma parte significativa das obras guardadas na reserva técnica.

A fim de conservar este acervo e manter viva a história dos antepassados de

Ijuí e região, é que se realizou alguns exames nos objetos, como será visto no

próximo capítulo. A exposição de longa duração tem seu acervo organizado de

forma a representar os períodos da vida desta população, divididos por temas. São

eles: Índio Pré-Missioneiro, Índio Missioneiro, Índio Atual, Agricultura, Trabalho,

26

Transporte, Comunicação, Indústria, Prestação de Serviço, Ensino, Armas, Religião,

Casa e Espaço Ijuí Hoje.

Grande parte do acervo é constituída de madeira, como pode ser visto no

Ponto Agricultura (fig. 5) e no Ponto de Trabalho (fig. 6).

Figura 5. Instrumentos utilizados na agricultura

Foto da Autora, 2012.

Figura 6. Instrumentos utilizados na marcenaria

Foto da Autora, 2012.

27

Enquanto no Ponto Casa é possível identificar uma maior diversidade de

materiais, pois além dos objetos em madeira existem têxteis, metais, louças entre

outros, conforme pode ser visto nas imagens abaixo (fig. 7) e (fig. 8).

Figura 7. Acervo Ponto casa

Foto da Autora, 2012.

Figura 8. Acervo ponto casa

Foto da Autora, 2012.

28

Considerando a reserva técnica, a mesma abriga todas as tipologias de

materiais, desde cerâmica, cestarias, têxteis, madeira, metal, louça, couro, pinturas,

entre outros. Por ser numeroso, o acervo é organizado em armários pequenos, em

cima de bancadas e em um armário deslizante. No armário deslizante o acervo é

organizado por tipologias e separado nas estantes dos módulos.

A proposta deste trabalho de conservação preventiva é reconhecer o acervo e

o seu ambiente de guarda, para então avaliar ocorrências de proliferação de pragas.

Sabendo da importância deste acervo, é fundamental considerar os riscos a que

pode estar exposto. Apenas através da conservação é que se pode garantir a

preservação dos bens de uma instituição, mantendo a sua história a disposição hoje,

e também ao alcance de futuras gerações.

Foi pensando na garantia da permanência física deste acervo que se iniciou a

análise do monitoramento do ambiente, tanto na reserva técnica quanto na área de

exposição. O acervo foi também examinado e higienizado para identificação

constatação de proliferação de pragas, como será visto no capítulo a seguir.

29

CAPÍTULO 2: ANÁLISE DO AMBIENTE DA EXPOSIÇÃO DE LONGA DURAÇÃO E

RESERVA TÉCNICA DO MUSEU ANTROPOLÓGICO DIRETOR PESTANA E A

RELAÇÃO COM O DESENVOLVIMENTO DE PRAGAS

Quando se faz um diagnóstico de conservação é necessário observar e

identificar as situações que podem colocar o acervo em risco. O CCI- Canadian

Conservation Institute, juntamente com o ICCROM - International Centre for the

Study of the Preservation and Restoration of Cultural Heritage, desenvolveu a

metodologia de gerenciamento de riscos através da “Ferramenta Conceitual dos 10

Agentes de Deterioração”, com a qual é possível identificar os riscos que atingem as

coleções. Os 10 agentes são especificados como forças físicas, atos criminosos,

fogo, água, pragas, poluentes, luz e radiações ultravioleta e infravermelho,

temperatura incorreta, umidade relativa incorreta e dissociação. (Spinelli e Pedersoli

Jr., 2010, p. 26).

A ação desses 10 agentes constitui-se na causa da degradação e resultam

em grandes danos aos acervos. A identificação de quais agentes estão colocando

em risco um determinado acervo exige um estudo criterioso e por vezes demorado.

Dentro do escopo desse trabalho optou-se em priorizar as condições ambientais

associadas com a temperatura e a umidade, as quais estão diretamente

relacionadas com o surgimento de insetos nos acervos. Esse recorte foi necessário

devido às restrições de tempo para desenvolver um trabalho mais abrangente, mas

principalmente, considerando que a biodeterioração foi a questão abordada no

período de estágio curricular realizado anteriormente no MADP.

Desta forma serão analisadas as condições ambientais do Museu incluindo

temperatura, umidade, presença de vegetação, rotas de entradas e presença de

alimentos que possam atrair insetos para assim verificar a vulnerabilidade da

Instituição quanto ao risco de pragas.

2.1 Problemas causados por Umidade Relativa e Temperatura Incorretas

A umidade relativa, segundo Ogden (2008, p. 23) é a medida da capacidade

do ar de segurar a umidade. Ou seja, é a quantidade de água contida no ar do

ambiente que se está controlando. Quando se fala sobre umidade, deve-se observar

que a mesma não age sozinha sobre o ambiente e objetos, mas está sempre

30

relacionada com a temperatura. Quando o ambiente atinge uma baixa temperatura,

a umidade aumenta. Caso a temperatura aumente, a umidade diminuirá. Desta

forma nota-se que a umidade e temperatura são medidas inversamente

proporcionais, sendo que ambas estão associadas com a velocidade da degradação

dos objetos.

Alguns dos danos causados pela umidade e temperatura foram abordados no

texto “Prevenir Para Preservar o Patrimônio Museológico”, de Alarcão (2007, p.25).

Essa autora afirma que a umidade incorreta pode causar o envelhecimento dos

materiais através dos efeitos de dilatação e contração alterando as propriedades

físicas dos materiais, diminuindo sua resistência estrutural e conferindo rigidez aos

materiais. O enfraquecimento dos materiais podem causar rachaduras e

empenamentos no caso de objetos em madeira, desprendimento da camada

pictórica e craquelês em objetos com pintura e ruptura das fibras em caso de papéis.

No caso de objetos em cerâmica não revestida e couro, quando expostos em

umidade baixa os materiais ressecam. O couro torna-se quebradiço e a cerâmica

tende a desintegrar-se. Se os objetos estiverem com acúmulo de poeira e sujidades

como excrementos de insetos, podem ocorrer reações químicas causando manchas

e até corrosão dos materiais quando a umidade for absorvida. Desta forma é

possível afirmar que a umidade associada com a temperatura, são agentes

importantes nas alterações dimensionais dos objetos, causando danos estruturais e

estéticos nos materiais.

Por último, um dos danos mais problemáticos ao acervo e decorrentes da

umidade e temperatura incorreta, é o surgimento de pragas. A temperatura alta

propicia o aparecimento de insetos e micro-organismos que se desenvolvem em

ambientes com umidade também alta. Pode-se dizer que é um dos danos mais

problemático, pois dependendo da gravidade do ataque, pode acarretar até a perda

total do objeto.

Os textos sobre umidade relativa e temperatura incorretas de Michalski

(2009)11 são os mais atualizados sobre os danos que os materiais podem sofrer com

11 Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0018/001847/184713por.pdf>. Acesso em 21 Jan, 2013.

31

as variações destes dois agentes de degradação. Deve-se considerar também que a

definição de parâmetros de temperatura e umidade em um acervo torna-se mais

complexa em coleções compostas por tipologias de materiais diversificados (IMC,

2007, p. 60), sendo que o acervo do MADP é justamente caracterizado pela

diversidade de tipologias.

O Plano de Conservação do IMC indica que os objetos devem ser

examinados cuidadosamente para identificar os danos que possam estar ocorrendo.

Caso seja avaliado que os objetos não têm sofrido alterações estruturais com

a temperatura e umidade a que estão expostos, as mesmas devem ser

mantidas, monitorando para que não ocorram mudanças climáticas bruscas,

nem oscilações de umidade superior a 10% no mesmo dia, pois esses dois

fatores são os causadores de todos os danos anteriormente citados.

Como neste trabalho o assunto específico é o controle de pragas

seguiremos as recomendações de Michalski (2009, p.15). O autor ressalta a

necessidade da identificação específica das condições ambientais para cada

tipo de acervo, e ainda, que as coleções mantém sua estabilidade em clima

frio e com umidade relativa moderada, como já citado na introdução desta

monografia.

2.2 Características do entorno do museu

Em uma análise das condições de um acervo o edifício é considerado a

primeira barreira de proteção às coleções. De acordo com o Manual do IMC

(2007, p. 14), deve-se observar o clima, a localização geográfica e o entorno

do edifício, pois estes interferem no clima do ambiente interno, através de

chuva, riscos de inundações, infiltrações nas paredes, umidade externa e

massas de água próximas ao museu. Todos estes são fatores que podem

contribuir para variações climáticas no ambiente interno, e consequentemente,

o desenvolvimento de pragas.

A localização geográfica do MADP é em uma região alta da cidade,

distante de cursos d’água. Descarta-se, portanto, os riscos de inundações por

fortes chuvas ou enchentes, ou mesmo aumento da umidade resultante de

massas de água nas proximidades. Dessa forma, sob alguns aspectos, reduz-

32

se os riscos de proliferação de fungos por influências de fontes de umidades

externas.

Como mostrado no capítulo anterior, o clima da cidade é subtropical bem

definido, com inverno rigoroso e verão quente e seco. Segundo a Estação de

Meteorologia Augusto Pestana, a média mensal de temperatura é de 20,5ºC e

umidade 77%12. Essas características climáticas externas agem sobre o

edifício fazendo com que haja variações nas condições ambientais internas.

Para avaliar de forma mais criteriosa essas condições é necessário o

monitoramento do clima interno para que se definam quais medidas de

controle serão necessárias.

O edifício é cercado por árvores de grande e médio porte a poucos

metros de distância do mesmo. A vegetação próxima de um edifício pode

diminuir a incidência de radiação solar, tornando mais fácil reduzir a

temperatura do ambiente interno do prédio. Já referente às massas de ar, a

vegetação protege de ventos fortes os quais podem carregar poluentes ao

interior do prédio juntamente com poeiras (IMC 2007, p. 17). O que também

favorece no bloqueio dessas massas é a boa vedação das janelas e portas, o

que não ocorre corretamente no MADP já que se observou o acúmulo de

poeira, folhas e pequenos insetos mortos nos peitoris internos de algumas

janelas.

Um fator negativo ocasionado pela vegetação de grande porte quando

próxima aos edifícios são os riscos de galhos se soltarem das árvores ou

quebrarem durante fortes ventos e atingirem o telhado.

Analisando ainda o entorno, verifica-se não somente cobertura vegetal

de grande porte, como também a existência de vegetação de menor porte

próximo às paredes do Museu (fig. 9). Esta vegetação está disposta ao redor

de todo edifício em forma de jardins (fig. 10), mas devido à falta de

manutenção, como cortes e limpeza destas áreas, as plantas alcançam a

altura das janelas do Museu, acumulando restos de folhas e insetos mortos

nas bordas das janelas.

12 Dados repassados pela Professora Cleusa Kruger da UNIJUÍ.

33

Figura 9: Vista lateral esquerda do museu

Foto da Autora, 2012.

Figura 10. Vegetação na frente do museu

Foto da Autora, 2012.

34

De acordo com Ogden (2001, p. 9) e Froner e Souza (2008, p.3), a

proximidade da vegetação implica no risco do surgimento de insetos ou outras

pragas que possam ocasionar danos para o acervo, caso migrem para dentro do

edifício. No caso do Museu em estudo, e como visto nas figuras 9 e 10 os jardins

são fontes potenciais de umidade que podem se infiltrar pelas paredes, atrair insetos

que se alimentem de corpos em decomposição, facilitando a proliferação de pragas

no Museu.

Além das áreas de vegetação no entorno do edifício o MADP possui ainda

seis jardins internos como pode ser visto na figura 11 e na planta baixa do Museu

(fig.12) sendo que apenas um desses jardins não possui vegetação e serve como

espaço para eliminação da água de alguns climatizadores. Todos os jardins internos

não possuem cobertura, são envidraçados com acesso através de pequenas portas

(fig.11) e com cortinas persianas que bloqueiam entrada de luz natural nos

ambientes internos, com exceção do jardim próximo ao Ponto Casa, que fica ao lado

da escada e não possui cortinas.

Figura 11: Detalhe de um dos jardins internos do Museu

Foto da Autora, 2012.

35

2.3 Características do ambiente interno do Museu - exames

realizados

Muitos dos problemas de degradação dos materiais estão relacionados às

más condições dos ambientes que os envolve. A umidade e a temperatura,

como mencionadas acima, são agentes de degradação que colocam o acervo

em risco quando não controladas, pois além de acarretar vários danos ao

acervo, também favorecem a proliferação de pragas, como se verá a seguir.

Como já foi dito, o trabalho de análise do acervo museológico do MADP

começou durante a realização do Estágio Curricular. Todos os espaços foram

analisados e se constatou a presença de insetos tanto no Museu quanto no

Arquivo. Foram realizados exames visuais nos acervos com o auxílio de

instrumentos como espátula odontológica, lupa e lanterna com o intuito de

identificar a presença de agentes biológicos. Com o conhecimento já adquirido

em sala de aula e em pesquisas de materiais bibliográficos sobre ambiente e

conservação13, pôde-se confirmar a presença de insetos no acervo e no edifício

ao serem encontrados excrementos, asas de cupins, ootecas14 e baratas

mortas.

A partir desta comprovação decidiu-se analisar o ambiente que abriga

este acervo, optando-se por restringir este trabalho às áreas de exposição e

reserva técnica, conforme marcação na figura 12. Estas áreas guardam e expõe

os acervos museais da Seção de Antropologia, que como abordado no primeiro

capítulo, possui grande significado histórico para a cidade e região. O intuito da

análise realizada no estágio, como já foi dito, era verificar de que maneira o

ambiente favorece no aparecimento dos agentes biológicos.

13 Como por exemplo: Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos cadernos 14 a 17 e 26 a 29 sobre Meio Ambiente e Emergência com Pragas (2001). Tópicos em Conservação Preventiva cadernos 5 e 7 sobre Controle Ambiental e Controle de Pragas (2008). Canadian Conservation Institute caderno 5, 8 e 9 sobre Pestes, Temperatura Incorreta e Umidade Relativa Incorreta (2009). 14 Estojo que agrega vários ovos de baratas.

36

Figura 12: Planta Baixa do Museu com Esquema indicando a área de observação e os

jardins internos

Fonte: Acervo MADP. Esquema da autora, 2012.

37

O Museu possui o Sistema de Monitoramento Térmico Climus, desenvolvido

pelo professor Saulo Guths da Universidade Federal de Santa Catarina, e instalado

no MADP a pedido da arquivista do Museu. Este Sistema capta e armazena em sua

base de dados, informações sobre umidade e temperatura através de sensores. A

área delimitada para análise dispõe de quatro sensores do Climus, sendo dois na

exposição, um na reserva técnica e outro na parte externa do edifício. O controle de

temperatura é realizado por seis aparelhos de ar condicionado na exposição e um

na reserva técnica. Não existem equipamentos para controle de umidade.

Como visto anteriormente sobre a localização do Museu, as massas de água

e as inundações estão descartadas. Já como fontes de umidade foram observados

três pontos com goteiras na área de exposição. Infiltrações decorrentes de dois

climatizadores de ar (fig. 13) foram constatadas devido à falta de manutenção nas

mangueiras, onde sujeiras são acumuladas impedindo a saída da água, assim a

mesma acaba escorrendo pelas paredes. Também devido à falta de reparo, dois

climatizadores se encontram sem funcionar na área de exposição.

Figura 13: Marcas de infiltração no climatizador de ar na área de exposição

Foto da Autora, 2012.

38

Durante o período de estudo no Museu, o climatizador da reserva técnica

congelou por duas vezes. Isso ocorre quando a temperatura externa aumenta e o

climatizador é forçado a resfriar mais para manter a temperatura interna. Por não

haver circulação de ar no ambiente, o climatizador retém a umidade e devido ao ar

frio que o mesmo produz, acaba formando uma camada de gelo que ao descongelar

é expelida juntamente com o ar.

Segundo dados do Climus a temperatura manteve a variação entre 3 e 5ºC

por dia, normalmente a Exposição pela manhã marcava 20ºC e a tarde 23ºC, só

aumentando no caso de muita movimentação de visitantes. Já na reserva técnica a

temperatura pela manhã se mantinha em 20ºC e no final da tarde 22ºC. Observou-

se o aumento de temperatura durante o período que estava sendo realizada a

organização do armário deslizante, pois com a movimentação de pessoas no espaço

as condições ambientais tendem a se alterar.

Pelos gráficos em anexo é possível identificar as variações de umidade e

temperatura. A temperatura se mantém entre 20 e 25ºC na maioria dos meses,

tendo variações nos meses mais quentes ou mais frios, sendo que a reserva técnica

é o espaço que mais apresenta variações. Da mesma maneira a umidade em meses

quentes com a mínima de 35% e com a máxima ultrapassando os 70% em meses

frios.

Com a análise destes dados verifica-se que o acervo está exposto a grandes

riscos devido ao controle apenas da temperatura. Como já mencionado no início

deste capítulo, a temperatura e umidade se alteram inversamente, mas trabalham

juntas. Manter o ambiente climatizado para que a temperatura seja adequada às

coleções, requer que se que controlem também a umidade.

Ao falar sobre umidade incorreta, Michalski (2009 p.1) diz que este é um

agente de deterioração que não pode ser evitado. Os valores baixos ou altos sempre

vão causar algum dano aos objetos mais sensíveis, mas o que mais prejudica as

coleções é a oscilação da umidade, caso que pode ser observado claramente nas

condições ambientais do MADP.

Souza (2008, p.3) também é enfático em dizer que a conservação dos

materiais está ligada à estabilidade do ambiente que o envolve, e reforça ainda que

39

é com a oscilação da umidade que a estrutura física dos materiais se altera e

que possibilita a infestação de pragas nas coleções.

2.3.1 Identificação dos insetos encontrados no MADP

A área de exposição foi o primeiro local examinado, não apenas o acervo,

mas também as vitrines, janelas e proximidades dos jardins internos. Como já

dito anteriormente, nos peitoris das janelas e próximo aos jardins foram

encontradas acúmulo de poeira, pequenas folhas e insetos mortos (moscas,

mariposas e baratas) e teia de aranha.

No Ponto Casa como visto na figura 7, os objetos encontram-se fora de

vitrines e na maioria deles foram encontradas poeiras, excrementos de moscas

e cadáveres de moscas. Alguns móveis e objetos como o Relógio (fig. 14)

possuíam orifícios causados por xilófagos15, mas sem sinais de atividade

biológica atual. Na parte de baixo do sofá (fig. 15) foram encontradas muitas

traças de roupas (Tineola uterella). O único objeto com infestação de cupins

nesta área foi a uma Tulha16 (fig. 16) onde foram encontrados excrementos e

asas. Esta tulha foi levada para a Sala de limpeza, onde por orientação da

Restauradora Keli Scolari, recebeu a aplicação de um Piretróide17 de uso

comercial (JIMO) e foi envolvida por um saco plástico, retirando-se o máximo de

ar para permanecer em anóxia18. O acervo retornou para o seu lugar quarenta

dias após a desinfestação. O monitoramento realizado pela Museóloga da

Instituição mostra que não mais foram encontrados sinais de infestações neste

objeto.

15

Insetos que se alimentam de madeira: Cupins e Brocas. 16

Caixa de madeira para armazenamento de cereais e outros alimentos. 17 Produto utilizado para combater insetos em madeira. 18 Ambiente com ausência de oxigênio.

40

Figura 14: Relógio com orifícios causados por térmitas no ponto casa

Foto da Autora, 2012.

Figura 15: Sofá ao fundo com infestação de traças

Foto da autora, 2012.

41

Figura 16: Tulha com Infestação de Cupim no Ponto Casa

Foto da Autora, 2012.

Ao continuar os exames foram encontrados sinais de infestações no Ponto

Trabalho onde estão os equipamentos de marcenaria. A mesa de serra e o torno

apresentaram muitos orifícios causados por xilófagos, mas nenhum sinal de

infestação atual. As esculturas no Ponto Índio foram examinadas, apresentam as

mesmas características dos equipamentos de trabalho e mesmo estando dentro

de vitrines, encontram-se empoeiradas.

Por último na Exposição foi encontrada uma ooteca desovada dentro da

parte superior do Piano (fig. 17), no Ponto Bandas e Músicas. Também foi

encontrada uma barata morta próximo ao jardim interno ao lado do instrumento

piano.

42

Figura 17: Piano onde foi encontrada a Ooteca

Foto da Autora, 2012.

Na análise da reserva técnica foram encontradas as mesmas sujidades da

Exposição. Ao lado e atrás do armário deslizante foi constatada a maior

concentração de poeiras pequenos insetos mortos. Durante a realização do

estágio todo o acervo do armário deslizante estava sendo higienizado e

reorganizado por tipologias nas prateleiras. Neste acervo que estava sendo

reorganizado, apenas uma cesta de madeira possuía indícios de infestação,

apresentando túneis cavados por térmitas, porém não apresentava

excrementos, asas e nem insetos mortos, sendo constatado que eram sinais de

uma infestação anterior.

Os insetos são considerados causadores de danos intensos em um

período curto de tempo. Podem se infiltrar no edifício por janelas, portas, ralos,

forro e até mesmo através de acervos que chegam infestados na instituição.

Segundo Ogden (2001, p. 11), a cozinha é um local com grande risco de atração

de insetos por conter restos de alimentos e lixeiras. Como pode ser observada

na planta baixa (fig. 12), a cozinha do MADP fica localizada em frente a reserva

43

técnica, sendo considerada uma zona de risco quanto ao aparecimento de

agentes biológicos.

As baratas são insetos de hábitos noturnos, durante o dia se escondem em

lugares obscuros de preferência quentes e úmidos saindo a noite para procurar

alimentos. De acordo com Froner e Souza (2008, p.10), elas se alimentam de

insetos mortos e materiais proteicos como restos de alimentos, dentre outros. A

evidência de presença deste inseto pode estar nas marcas deixadas ao roer papéis,

têxteis, manchas causadas pelo vômito e depósitos de fezes que atraem

microorganismos, ou ainda pela presença de ootecas.

No caso do MADP, o local onde foi encontrada a ooteca está próximo ao

jardim interno que pode servir como abrigo, fonte de alimentação e rota de entrada

para o edifício. Para controlar este tipo de infestação recomenda-se vedar as

aberturas com protetores de borrachas, eliminar fontes de água e de alimentos e

reduzir a umidade e temperatura do ambiente.

Os cupins têm como principal fonte de alimentação a madeira e o papel. São

insetos que causam grandes estragos, danificando a estrutura física dos abjetos

através da abertura de galerias ou túneis no interior da madeira. Os indícios de

infestação são orifícios na superfície do objeto, excremento em formato de grânulos

e asas que aparecem em épocas de revoadas, desenvolvendo-se também em locais

úmidos.

Por terem sido identificados vestígios pontuais de cupins no MADP, acredita-

se que as peças possam ter chegado ao Museu já infestadas. No caso de

infestações de cupins, deve-se ter o cuidado de primeiramente isolar o objeto e

posteriormente tratá-lo. Este tipo de inseto é muito resistente aos tratamentos, por

isso devem ser feitas inspeções principalmente em épocas de revoadas (setembro a

dezembro), para se certificar que houve o controle desta praga.

Já as traças de roupa tem seu desenvolvimento propiciado em ambientes

úmidos e escuros. Alimentam-se de fibras têxteis como vestuário, tapeçarias,

estofamentos, documentos e livros produzidos com linho ou algodão. Causam danos

como buracos irregulares nos tecidos. As pequenas mariposas depositam os ovos

entre as fibras dos tecidos, quando eclode a lagarta já começa a se alimentar

44

tecendo uma espécie de casulo, que segundo Froner e Souza (2008, p. 14), é

construído com restos dos ovos, materiais aglutinados e sujeiras. A maneira de

eliminação destes insetos é o controle e a simples limpeza periódica dos ambientes.

Em todos os vestígios de insetos identificados no MADP pode-se observar um

fator em comum: os ambientes úmidos. Como pôde se verificar através dos dados

coletados pelo Sistema Climus (tabelas em anexo), as variações de umidade são

mais recorrentes que a oscilação da temperatura. Assim como há o controle de

temperatura, deve também haver o controle da umidade, com equipamentos

apropriados e manutenção nas fontes de umidade como os jardins e infiltrações.

Como já abordado anteriormente, os riscos de danos causados por não haver o

controle deste agente de degradação, são na maioria das vezes irreversíveis.

Por fim, identificou-se também a ocorrência de sujeira como poeiras, restos

de folhas e pequenos insetos mortos no edifício, que podem não interferir

diretamente nos objetos, mas como visto, são fontes de alimentos para insetos

maiores. Assim como no caso das traças, a forma de controle é apenas a limpeza do

ambiente e inspeção periódica. Conforme Ogdem (2001, p.11) as áreas de guarda

de acervos devem ser inspecionadas ao menos uma vez no mês, os objetos devem

ser examinados para confirmação se há indícios de infestações, as proximidades de

janelas e portas devem ser verificadas e em caso de sujeiras devem ser limpas

imediatamente e por último, todas as áreas devem ser limpas frequentemente. São

estas ações mais simples que podem preservar o acervo de danos irreparáveis.

Buscou-se nesse capítulo mostrar como as características do entorno de um

edifício de museu pode interferir nas condições ambientais das áreas internas e na

preservação do seu acervo. Da mesma forma defendeu-se que a avaliação e

controle dos riscos que atingem as coleções é fundamental para que haja uma

conservação adequada dos acervos salvaguardados nas instituições museológicas.

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Conclusão

Como apontado e analisado, este trabalho teve como objetivo discutir ações

de Conservação Preventiva no controle de pragas, a fim de garantir a preservação

do acervo da Seção de Antropologia do Museu Antropológico Diretor Pestana, na

Cidade de Ijuí-Rs.

Entende-se como fundamental que os profissionais que trabalham com a

conservação tenham conhecimento sobre do histórico da formação do acervo, para

que se possa entender o seu significado e a representatividade que possui diante de

determinada população. Considera-se também necessário que se tenha clareza de

qual é a missão do museu para que se possa entender como o acervo foi

constituído, qual o seu público e o uso que se faz desses objetos salvaguardados

pela instituição.

No caso do MADP, o acervo é formado por objetos que representam o

passado do homem da região noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. O Museu

também define como sua missão conservar suas coleções para as futuras gerações.

Para isso, o mesmo deve garantir ambientes que mantenham a estabilidade física

dos materiais que constituem seu acervo, prevenindo ataques biológicos, garantindo

assim a permanência dos objetos que formam a sua coleção.

Através do monitoramento feito pelo Sistema Climus no MADP, foi possível

observar oscilações significativas de umidade e temperatura, o que torna o ambiente

suscetível à presença de insetos e microorganismos. Fato este comprovado durante

a análise das áreas de Exposição e da Reserva Técnica do Museu, quando foi

possível detectar a presença de insetos como baratas, cupins e traças. Como

abordado anteriormente, estes insetos se proliferam em ambientes quentes e

úmidos, onde não há uma rotina de limpeza, e onde tenham condições propícias

para viverem e se reproduzirem.

Muitas instituições direcionam sua atenção e esforços para implantar a

climatização do seu acervo. No entanto, equivocadamente, instalam aparelhos de ar

condicionado que controlam apenas a temperatura, entretanto esquecem que a

umidade relativa oscila e aumenta quanto menor for a temperatura. O resultado é

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um ambiente inadequado para os acervos, com baixas temperaturas e elevados

níveis de umidade.

No caso do MADP, a falta de um controle da umidade dos ambientes

representa um problema para a conservação do seu acervo, sendo uma das

causas prováveis da presença de insetos identificados na avaliação. Conforme

Michalski (2009, p.15) a umidade relativa incorreta é um dos agentes que mais

propicia a degradação de acervos tanto em museus grande quanto em

instituições menores, por não receber a atenção adequada. Ele diz ainda que é

mais fácil as instituições considerarem a necessidade de controlar da umidade,

do que assumir um risco que pode levar a perda dos acervos, devendo assim não

medir esforços para que se consiga reduzir e manter os valores de umidade.

Sobre as condições ambientais do MADP, a recomendação seria rever seu

sistema de controle ambiental, instalando equipamentos que possam manter não

somente a temperatura, mas também a umidade relativa, dentro de parâmetros

adequados para a conservação do seu acervo. Para tanto é necessário que haja

um profissional da conservação-restauração que possa avaliar e indicar quais

seriam as condições ideais para a preservação do acervo. Como o

monitoramento já está sendo realizado pelo Sistema Climus, caberia um estudo

mais aprofundado para definir esses parâmetros nas diferentes áreas e acervos

do Museu. Trabalho esse a ser realizado necessariamente por um conservador-

restaurador, devidamente qualificado.

Outro fator importante para prevenção contra os ataques de pragas, e que

deveria ser implantado no MADP, rotinas como o controle da entrada de acervos

adquiridos ou recebidos pelo museu. É fundamental avaliar cada objeto para

verificar se os mesmos se encontram livres de infestações de agentes biológicos

e constatar a sua integridade física, para que nenhum objeto contaminado

coloque em risco o acervo já existente.

Cabe à Instituição que salvaguarda as coleções, criar e executar ações de

conservação de acordo com os recursos disponíveis e da conscientização dos

profissionais que estão em contato com as coleções. Pensando desta forma,

pode-se recomendar que os profissionais da limpeza sejam sensibilizados sobre

a importância da conservação e recebam treinamentos para que saibam

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identificar os vestígios destes agentes nos ambientes e quais as formas de

prevenir a sua proliferação. Em geral, algumas medidas simples como limpeza

adequada, restrições de consumo de alimentos nesses ambientes, retirada de

lixeiras ao final do dia resolvem vários problemas da proliferação de insetos

dentro das instituições. Segundo Froner e Souza (2008, p.16), pessoal da limpeza

deveria ser informado a não remover indícios de infestações, mas comunicar aos

responsáveis pelo acervo para que possam ser tomadas as medidas cabíveis de

tratamento do acervo.

Ao abordar o Controle Integrado de Pragas, Ogden (2001, p.9) defende que é

imprescindível a identificação da rota de entrada dos insetos no edifício. As portas,

janelas, fendas nas paredes e aberturas de canos, facilitam o acesso de pragas

devendo ser fechadas ou vedadas. O edifício deveria manter a vegetação cerca de

30 cm afastada das paredes. Como no MADP isso não é possível, se recomenda

então limpezas e manutenções rotineiras nos jardins como meio de afastar os

insetos das rotas de entrada.

É necessário também estabelecer regras sobre o consumo de alimentos e

informar a todos que trabalham ou circulam na instituição que não devem consumir

alimentos em espaços de guarda e exposição do acervo, evitando-se assim que

restos alimentares sirvam como atração para os insetos. É essencial o diálogo entre

profissionais da Instituição para que o risco de infestações seja reduzido e até

mesmo eliminado.

Espera-se que as informações levantadas neste trabalho, ainda que parciais,

possam contribuir para o início de discussões sobre as ações preventivas que

poderiam ser implantadas no MADP, com a finalidade de conter as degradações em

andamento e também problemas futuros. É somente dessa forma que se pode

garantir a preservação de um acervo tão significativo para a comunidade na qual o

Museu Antropológico Diretor Pestana está inserido.

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Referências

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do Museu Municipal de Faro. n.2, p.08-34, 2007. BRUM, A. J. MARQUES, O. M. Nossas coisas Nossa gente. Ed.Unijuí, 263 p. Ijuí, 2004 FRONER, Yacy-Ara. SOUZA, Luiz Antônio. Controle de Pragas. Belo Horizonte:

LACICOR. EBA. UFMG, 2008.

GÜTHZ, Saulo. CARVALHO, Claudia de. Conservação Preventiva: Ambientes

Próprios para coleções. IN MAST Colloquia. Conservação de Acervos. V.9, p.25-

43, Rio de Janeiro, 2007.

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Aplicada às Áreas de Exposição e Reserva. 2011. 105f. Dissertação(Mestrado em Museologia). Departamento de História, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2011. MICHALSKI, Stefan. Humedad Relativa Incorreta. Ed. Canadian Conservation

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18p. Canadá, 2009.

Museu Antropológico diretor Pestana: 40 anos de História. Ed.Unijuí, 56 p. Ijuí, 2002.

OGDEN, Sherelyn. Meio Ambiente: Conservação Preventiva em Bibliotecas e

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SOUZA, Luiz Antônio. Conservação Preventiva: Controle Ambiental. Belo

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STRANG, Tom. KIGAWA, Rika. Combatiendo las plagas del patrimonio cultural.

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Referências Eletrônicas

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DIEMER, Franciele. RAMBO, Dimas. SPECHT, Luciano P. POZZOBOM, Cristina E. Propriedades Geotécnicas do Solo Residual de Basalto da Região de Ijuí/RS. Revista Teoria e Prática na Engenharia Civil, n 12, p. 25-36, Outubro, 2008.

Disponível em <http://www.editoradunas.com.br/revistatpec/Art3_N12.pdf>. Acesso em 05 Jan. 2013.

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Kruger, C. A. M. B. Informações Climatológicas Ijuí. [mensagem pessoal] Mensagem recebida por <[email protected]> em 19 Fev. 2013.

MEDEIROS, Gilca F. de. Porque Preservar, Conservar e Restaurar? Minas Gerais, 2005. Disponível em: <http://www.conservacao-restauracao.com.br/por_que_preservar.pdf>. Acesso em 14 Jan. 2013.

Prefeitura de Ijuí – Poder Executivo. Histórico. Disponível em: <http://www.ijui.rs.gov.br/prefeitura/index/2>. Acesso em 03-01-2013.

50

ANEXOS

Anexo 1: Gráfico de Temperatura da Exposição

Fonte: Base de Dados do Climus.

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Ano_2012

Temperatura Exposição

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Anexo 2: Gráfico de Temperatura do Espaço Ijuí Hoje

Fonte: Base de Dados do Climus.

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Ano_2012

Temperatura Espaço Ijuí Hoje

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Anexo 3: Gráfico de Temperatura da Reserva Técnica

Fonte: Base de Dados do Climus.

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dia do ano

Ano_2012

Temperatura Reserva Técnica

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Anexo 4: Gráfico de Temperatura do Ambiente externo

Fonte: Base de Dados do Climus.

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dia do ano

Ano_2012 Temperatura Externa

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Anexo 5: Gráfico de Umidade Relativa da Exposição

Fonte: Base de Dados do Climus.

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Ano_2012

Umidade Relativa Exposição

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Anexo 6: Gráfico de Umidade Relativa Espaço Ijuí Hoje

Fonte: Base de Dados do Climus.

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dia do ano

Ano_2012

Umidade Relativa Espaço Ijuí Hoje

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Anexo 7: Gráfico de Umidade Relativa da Reserva Técnica

Fonte: Base de Dados do Climus.

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dia do ano

Ano_2012

Umidade Relativa Reserva Técnica