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 X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                            p.1         AFINAL, ESTAMOS ENSINANDO MATEMÁTICA ERRADO?     Resumo Esse texto relata os resultados parciais de uma pesquisa que tem por objetivo apresentar e problematizar alguns casos em que livros didáticos e materiais para a formação de professores mostram compreensões e indicações questionáveis acerca da utilização de materiais manipuláveis enquanto recursos para o ensino e aprendizagem do sistema de numeração decimal e operações numéricas. Os dados foram coletados em livros didáticos de primeiro ao quinto ano do Ensino Fundamental aprovados pelo Programa Nacional do Livro Didático  PNLD/2013 , e livros ou cadernos que objetivam subsidiar a formação inicial ou continuada de professores que ensinam matemática. Os resultados mostram que em muitos desses livros ou cadernos, nos quais os dados foram coletados, apresentam compreensões equivocadas ou inadequadas acerca da utilização de materiais manipuláveis, e essas compreensões podem gerar indicações também equivocadas ou inadequadas de utilização desses materiais que chegam aos professores ou diretamente aos alunos nas salas de aula.  Palavraschave: Formação de Professores, Materiais Manipuláveis, Ábacos, Material Dourado, Livros Didáticos.   Everaldo Silveira Universidade Federal de Santa Catarina [email protected]          

AFINAL, ESTAMOS ENSINANDO MATEMÁTICA ERRADO?xanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/2011-0.pdf · quadros de pregas, sorobam (ábaco japonês), saun phan (ábaco chinês), enfim, os mais

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.1 

 

 

 

 

    AFINAL, ESTAMOS ENSINANDO MATEMÁTICA ERRADO?    

 

Resumo Esse  texto  relata  os  resultados  parciais  de  uma  pesquisa que  tem  por  objetivo  apresentar  e  problematizar  alguns casos em que  livros didáticos e materiais para a  formação de  professores  mostram  compreensões  e  indicações questionáveis  acerca  da  utilização  de  materiais manipuláveis  enquanto  recursos  para  o  ensino  e aprendizagem  do  sistema  de  numeração  decimal  e operações numéricas. Os dados  foram coletados em  livros didáticos de primeiro ao quinto ano do Ensino Fundamental aprovados  pelo  Programa  Nacional  do  Livro  Didático  – PNLD/2013  , e  livros ou cadernos que objetivam subsidiar a formação inicial ou continuada de professores que ensinam matemática. Os resultados mostram que em muitos desses livros  ou  cadernos,  nos  quais  os  dados  foram  coletados, apresentam  compreensões  equivocadas  ou  inadequadas acerca  da  utilização  de  materiais  manipuláveis,  e  essas compreensões  podem  gerar  indicações  também equivocadas ou  inadequadas de utilização desses materiais que chegam aos professores ou diretamente aos alunos nas salas de aula.  Palavras‐chave: Formação de Professores, Materiais Manipuláveis, Ábacos, Material Dourado, Livros Didáticos.  

 Everaldo Silveira 

Universidade Federal de Santa Catarina [email protected] 

     

 

 

 

 

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AFINAL, ESTAMOS ENSINANDO MATEMÁTICA ERRADO?  Everaldo Silveira 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.2 

 

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1. Introdução 

O  sistema  de  numeração  que  utilizamos  nos  dias  atuais  é  chamado  de  Indo‐

Arábico  e  recebe  esse  nome porque  foi desenvolvido  na  Índia,  tendo  nos  árabes  seus 

principais  divulgadores.  A  grande  vantagem  desse  sistema  de  numeração  é  o  fato  de 

agrupar  três  princípios  básicos,  todos  de  origem  ainda  mais  antiga  que  ele:  1)  base 

decimal; 2) uma notação posicional; 3) uma forma cifrada ou um símbolo diferente para 

cada um dos dez primeiros numerais. Para Boyer (1996) nenhum desses três princípios é 

criação original dos indianos. O autor considera que a grande contribuição daquele povo 

foi "ligar" os três princípios em um mesmo sistema de numeração. 

Com  essa  criação  os  indianos  conseguiram  a  proeza  de,  utilizando  apenas  10 

algarismos1,  representar  numericamente  qualquer  quantidade,  por  maior  que  fosse. 

Segundo  Pires  (2013),  "o  sucesso  desse  sistema  deve‐se  ao  fato  de  tornar  os  cálculos 

numéricos muito mais  fáceis, provocando uma verdadeira  revolução na aritmética."  (p. 

19). 

 Dessa forma, dado que esse sistema de numeração constitui a base sobre a qual 

está assentada a matemática que rege o cotidiano, bem como toda a matemática escolar, 

seu  ensino  e  aprendizagem  nas  escolas,  desde  a  Educação  Infantil,  é  obrigatório  e 

indispensável.  

A  reboque  da  necessidade  de  se  ensinar  o  sistema  de  numeração  decimal  nas 

escolas  surgem  as  dificuldades  dos  alunos  em  compreender  tal  sistema,  bem  como  a 

adaptação, criação e aperfeiçoamento de "aparatos" para facilitar tal compreensão. Esses 

"aparatos" ou materiais  (recursos didáticos), além de  facilitadores da  compreensão do 

sistema  de  numeração  que  utilizamos,  seriam  significadores  das  operações  de  adição, 

subtração, multiplicação e divisão.  

A  insistência na apresentação de  tais materiais pode ser comprovada em muitas 

das produções que vem sendo desenvolvidas, tanto no intuito de formar professores que 

ensinam  matemática,  como  em muitos  livros  didáticos  de  matemática  aprovados  no 

                                                            1 Segundo Pires (2013) a expressão algarismo provém de uma homenagem ao chamado "pai da álgebra", o árabe al‐Khwarizmi. 

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Programa Nacional do Livro Didático, materiais que serviram como fontes de dados para 

a pesquisa da qual apresento resultados parciais neste texto.  

Para além da discussão de serem ou não esses materiais manipuláveis importantes 

no  ensino  e  aprendizagem  de matemática,  essa  pesquisa  visou  problematizar  até  que 

ponto está claro para aqueles que propõem a sua utilização, ou seja, autores de livros ou 

cadernos para a  formação de professores bem  como autores de  livros didáticos, quais 

dos  três  princípios  apresentados  por  Boyer  (1996),  caracterizadores  do  sistema  de 

numeração Indo‐Arábico, estão contemplados em cada um desses materiais.   

Além de problematizar a utilização proposta para os diferentes tipos de materiais 

manipuláveis, pretendo apresentar possíveis limitações em alguns desses materiais, como 

os ábacos abertos ou  fechados, por exemplo, que sofreram algumas  transformações e, 

nos dias atuais se apresentam de formas diferentes de suas concepções originais.  

Sintetizando, essa pesquisa visou apresentar e problematizar alguns casos em que 

livros didáticos e materiais para a formação de professores, apresentam compreensões e 

indicações  questionáveis  acerca  da  utilização  de  materiais  manipuláveis  enquanto 

recursos para o ensino e aprendizagem do sistema de numeração decimal e operações 

numéricas.  

 

2.  Recursos  Didáticos  para  o  ensino  e  aprendizagem  de  sistemas  de numeração e operações matemáticas fundamentais 

Segundo Boyer  (1996)  a palavra  abacus derivaria da palavra  semítica  abq ou pó 

indicando que esse  instrumento teria vindo de uma bandeja de areia usada como tábua 

de  contar. O  autor  afirma  que  "barras  verdadeiras,  de  bambu, marfim  ou  ferro,  eram 

carregadas numa sacola pelos administradores e usadas para cálculos" (p. 135). A palavra 

ábaco não se refere apenas um tipo de objeto, mas a diversos tipos de  instrumentos de 

manipulação que auxiliam em cálculos. Dessa forma, aqui estariam  incluídos também os 

quadros de pregas, sorobam  (ábaco  japonês), saun phan  (ábaco chinês), enfim, os mais 

diversos instrumentos que levam em conta a notação posicional. 

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Esses  instrumentos  foram  sendo  modificados  e  há  vários  tipos  deles  sendo 

utilizados em muitas escolas. Muitos são construídos alternativamente por professores, 

tais  como  caixinhas  de  ovos  que  viram  recipientes  para  sementes,  garrafas  pet  ou 

rolinhos de papel higiênico que viram recipientes para varetas coloridas ou não, caixinhas 

de  fósforos coladas umas às outras com quantidades  representadas por palitos, dentre 

outros.  

Outros  desses  instrumentos  são  produzidos  industrialmente  por  empresas 

especializadas  na  fabricação  de  recursos  didáticos manipuláveis.  Ábacos  fechados  ou 

abertos,  cujas  contas ganham  cores que, no  imaginário dos  fabricantes, vão divertir as 

crianças e facilitar a compreensão de sistemas de numeração, bem como das operações, 

são bastante comuns hoje em dia, sendo facilmente adquiridos. 

Outro  instrumento  cuja  utilização  tem  sido  bastante  incentivada  é  o  chamado 

"material  dourado".  Esse  nome  teria  origem  no  tipo  de matéria  prima  utilizado  pela 

inventora  desse  recurso  didático,  a médica‐psiquiatra  italiana Maria Montessori,  para 

confeccionar  o material  original,  razoavelmente  diferente  daquele  utilizado  hoje2.  Tal 

material, que nos dias atuais é  feito de madeira, é constituído por cubinhos (unidades), 

barras  (10  unidades),  placas  (100  unidades)  e  cubos  (1000  unidades),  facilitando  a 

representação  da  base  numérica  decimal.  Nesse  material  não  é  necessário  fazer 

convenções  acerca  do  valor  de  cada  peça,  dado  que  os  valores  já  estão  agregados 

segundo o modelo de cada uma. 

Outros materiais  "alternativos"  ainda  são  utilizados,  tais  como  "dinheirinho  de 

brinquedo",  fichas  coloridas  com  valores  convencionados,  palitos  de  picolé  ou 

canudinhos para  refrigerantes que  se  tornam  agrupamentos de dez ou  cem  ao  serem 

amarrados, dentre outras variações desses instrumentos que vão sendo criadas segundo 

a criatividade dos professores. 

Esses recursos didáticos, embora importantes para a compreensão do sistema de 

numeração  decimal  e  das  operações  numéricas  fundamentais,  podem,  ao  invés  de 

auxiliar, dificultar a compreensão desses conceitos e conteúdos se não forem construídos 

                                                            2 O material era constituído de contas  isoladas que eram utilizadas pelas crianças para fazerem pulseiras, 

com dez contas cada e, em seguida, colares, com dez pulseiras. 

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e/ou  utilizados  corretamente.  Discutir  e  problematizar  as  formas  de  utilização 

apresentadas, bem como a fabricação de alguns desses materiais se torna tarefa urgente, 

que começaremos a realizar nesse artigo.  

 

3. Metodologia da pesquisa 

As discussões apresentados neste artigo são resultados do piloto de uma pesquisa 

que  estou  desenvolvendo  desde  o  ano  de  2013.  Esse  piloto  foi  desenvolvido  em  três 

fases:  a  primeira  consistiu  da  busca  pelo  material  empírico  para  coleta  de  dados,  a 

segunda, na  categorização desse material e  terceira na análise do material e coleta de 

dados. 

Na primeira fase busquei livros e cadernos pedagógicos que tinham como objetivo 

subsidiar a formação inicial ou continuada de professores e que apresentavam algum tipo 

de  orientação  para  a  utilização  de  recursos  didáticos manipuláveis  para  o  ensino  de 

números e operações numéricas, bem como livros didáticos aprovados no PNLD/2013 em 

uso nas escolas. Esses materiais foram buscados em bibliotecas de escolas de Educação 

Básica, na Internet e no meu acervo pessoal. 

Na  segunda  fase  passei  a  categorizar  todo o material  localizado  para  facilitar  a 

estudo. A seguir apresento as categorias criadas: 

Livro Didático (LD): essa categoria  incorporou a maioria dos materiais discutidos 

nesse texto. Esses livros fazem parte de coleções aprovadas no PNLD/2013 para as 

séries  iniciais  do  Ensino  Fundamental,  cujos  resultados  foram  publicados  no 

documento "PNLD/2013: Alfabetização Matemática e Matemática". A maioria das 

questões levantadas nesses materiais estão relacionadas à propostas de utilização 

pelos  alunos  de  algum  recurso  didático  manipulável  para  a  compreensão  do 

sistema  de  numeração  Indo‐Arábico,  bem  como  para  a  compreensão  das 

operações de adição, subtração, multiplicação e divisão.   

Material  Institucional  para  a  Formação  Inicial  (MIFI):  essa  categoria  comporta 

materiais, tais como  livros e apostilas, desenvolvidos por  instituições visando dar 

suporte aos alunos de cursos de Licenciatura em Pedagogia ao se depararem com 

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disciplinas de conteúdos e métodos para o ensino e aprendizagem de matemática 

nas  séries  iniciais do Ensino Fundamental. O material aqui  incluído  foi publicado 

em 2011.  

Material  Institucional para a Formação Continuada  (MIFC): aqui  foram  incluídos 

materiais,  tais  como  livros  e  apostilas,  desenvolvidos  institucionalmente  pelo 

Ministério da Educação ou subsidiados por programas de formação continuada de 

secretarias estaduais de educação, ou ainda desenvolvidos por universidades para 

programas  de  capacitação  visando  à  formação  continuada  de  professores  de 

matemática  que  atuam  nas  séries  iniciais  do  Ensino  Fundamental. Os materiais 

explorados  nessa  categoria  foram  publicados  desde  o  final  da  década  de  1990. 

Para  esse  estudo,  porém,  os materiais mais  significativos  foram  publicados  em 

2007 e 2008. 

Livro para a Formação de Professores (LFP): nessa categoria foi incluído um livro 

comumente utilizado na  formação de professores que ensinam matemática nas 

séries  iniciais  do  Ensino  Fundamental.  Embora  sua  primeira  impressão  tenha 

acontecido no final da década de 1990, ainda é possível comprar o  livro em  lojas 

físicas  e  virtuais,  bem  como  encontrá‐lo  em  bibliotecas  de  universidades.  Os 

autores afirmam que a  intenção de  tal material é oferecer uma  contribuição no 

sentido de romper os preconceitos que cercam a matemática, tais como disciplina 

difícil,  impenetrável,  repleta  de  normas  e  obscurecida  por  uma  terminologia 

incompreensível.  

Na  terceira  fase  todo o material arrolado  foi averiguado e deles  foram  retiradas 

algumas imagens que constituíram os dados analisados no piloto que relato neste texto.  

 

4. Apresentação e discussão dos dados 

Os  dados  coletados  serão  apresentados  em  dois  grupos  distintos.  O  primeiro 

deles, chamado "indicações inadequadas para a utilização de recursos didáticos", agrupa 

as situações em que se apresentam utilizações que estamos defendendo como errôneas 

desses  materiais.  O  segundo,  chamado  de  "recursos  didáticos  de  fabricação  ou 

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elaboração equivocada", agrupa situações em que os materiais apresentam, no próprio 

modelo, algum tipo de limitação ou problema. 

 

4.1. Indicações inadequadas para a utilização de recursos didáticos 

Apresento, segundo classificação por tipo de material  indicado, algumas  imagens 

provenientes dos mais diversos tipos de materiais, segundo categorização já descrita. 

 

a) Material dourado 

 

 

A  Figura  1  foi  retirada  de  um  livro  didático  da  coleção  “A  conquista  da 

Matemática”  e  a  Figura  2,  de  um  livro  didático  do  segundo  ano  da  coleção  “Saber 

Matemática”. Esses livros, assim como todos os livros didáticos pesquisados, fazem parte 

de coleções aprovadas no PNLD/2013.   

As Figuras 3 e 4  foram  retiradas de  cadernos ou  livros  institucionais produzidos 

pelo Ministério da Educação, cujo objetivo seria a  formação continuada de professores 

que ensinam matemática. 

Figura 1 ‐ LD Figura 2 ‐ LD

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A  Figura  3  faz  parte  do  caderno  TP3  do  Programa  Gestão  da  Aprendizagem 

Escolar, Gestar  I, que, segundo o documento de apresentação do programa, teve como 

uma  das  finalidades,  reforçar  a  "competência  e  a  autonomia  dos  professores  na  sua 

prática pedagógica" (BRASIL, 2007, p. 09). 

A  Figura  4  foi  retirada  do  fascículo  2  do  caderno  do  Pró  Letramento  de 

Matemática. Segundo o "Guia do curso", esse programa teve com um dos seus objetivos 

"oferecer  suporte  à  ação  pedagógica  dos  professores  das  séries  iniciais  do  ensino 

fundamental,  contribuindo  para  elevar  a  qualidade  do  ensino  e  da  aprendizagem  de 

Língua Portuguesa e Matemática" (BRASIL, 2008, p. 07). 

A Figura 5 foi retirada de Toledo e Toledo (1997), um livro dedicado à formação de 

professores que ensinam matemática. 

 

A  Figura  6  foi  retirada  de  um  caderno  pedagógico  elaborada  para  subsidiar 

disciplinas que lidam com conteúdos e métodos para o ensino de matemática no curso de 

Figura 3 ‐ MIFC 

Figura 4 ‐ MIFC

Figura 5 ‐ LFP

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Pedagogia oferecido pelo Centro de Formação a Distância – CEAD, da Universidade do 

Estado de Santa Catarina – UDESC. 

                           

O que há, afinal, de equivocado nas  indicações de utilização do  recurso didático 

"material dourado", segundo as imagens que apresentei anteriormente? 

Dentre os recursos didáticos estruturados utilizados para o ensino e aprendizagem 

de  número  e  operações,  existem  dois  tipos  básicos:  aqueles  cujo  valor  numérico  está 

agregado em algum atributo de cada uma das peças componentes do material e aquele 

em que as peças valem sempre uma unidade e adquirem valores diferentes segundo seu 

posicionamento em algum tipo de ábaco. 

O material  dourado  é  um  tipo  de  recurso  estruturado  cujo  valor  numérico  das 

peças está agregado no atributo "forma" de cada uma delas. Assim, diante de algumas 

peças do material, uma criança não terá grandes dificuldades para entender, a partir do 

cubinho que vale uma unidade, que uma barra equivale a dez cubinhos e que uma placa 

equivale a dez barras ou cem cubinhos. Utilizando‐se dessa noção acaba por determinar 

que o cubo é composto por mil unidades cubinhos. 

Ao trabalhar com o material dourado o professor enfatiza com seus alunos o valor 

de  cada  uma  das  peças  no material  dourado, mesmo  porque,  para  que  se  avance  na 

compreensão do sistema de numeração decimal, é preciso que as crianças saibam com 

certa  segurança, o número de unidades  componentes de  cada peça. Assim,  é possível 

supor que quando uma criança, digamos, do terceiro ano, se depara com uma atividade 

em que precisa determinar qual é o número representado por algumas peças de material 

dourado, ela não terá dificuldades para encontrar essa resposta,  independente de como 

Figura 6 ‐ MIFI

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.10 

 

X A

nped Sul

as  peças  estiverem  dispostas,  já  tem  o  conhecimento  de  que  o  valor  das  peças  é 

agregado à forma de cada uma delas, e não à posição que ocupam, conforme o exemplo 

da Figura 7. 

 

Por outro  lado, o ábaco de papel ou Quadro Valor de Lugar  (QVL), assim  como 

todo ábaco, funciona como uma máquina de multiplicar e somar. Unidades absolutas, ao 

serem posicionadas no ábaco, sofrem  imediata multiplicação por potências da base em 

questão, assumindo valores relativos, ou seja, valores que diferem do seu valor absoluto. 

O exemplo seguinte apresenta esse processo com um número escrito na base decimal. 

 

    

Figura 7 

Figura 8 

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X A

nped Sul

Ao  lado  das  letras  C,  D  e  U  que  significam  Centenas,  Dezenas  e  Unidades, 

respectivamente,  identifiquei  a  quantidade  pela  qual  as  unidades  absolutas  são 

multiplicadas ao serem inseridas na "máquina". Percebemos que o valor absoluto escrito 

na  ordem  das  centenas  é  3,  mas  ele  é,  automaticamente,  multiplicado  por  100  no 

momento em que é  inserido naquele espaço, passando a valer 300.  Isso é  inevitável em 

um  ábaco.  Finalmente,  todos  os  números  que  surgem  a  partir  das multiplicações  dos 

valores  absolutos  por  potências  de  10  são  somados,  dando  origem  ao  número  em 

questão. No caso anterior temos 300 + 30 + 3 = 333. 

Se  ábacos  ou  QVL  são  "máquinas"  de  multiplicar  e  somar,  o  que  a  imagem 

seguinte nos sugere? 

 

           

 

É sabido, conforme discutimos anteriormente, que as peças do material dourado 

possuem valor agregado na sua forma, ou seja, cada placa, independente da posição que 

ocupa,  possui  valor  agregado  de  100  unidades.  Dessa  forma,  desenvolvendo  a 

representação anterior, temos os seguintes resultados: 

Figura 9 

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X A

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A Figura 10 apresenta a  inadequação que defendi anteriormente. Os QVL sempre 

funcionam multiplicando os valores que são inseridos em seu interior. Quando uma peça 

de material dourado é inserida em seu interior, seu valor absoluto não é anulado, ou seja, 

a placa composta por 100 unidades não deixa de valer 100 unidades e passa a valer uma 

unidade. As peças do material continuam valendo exatamente o que sempre valeram, ou 

seja, aquele valor que o professor repetiu inúmeras vezes na sala de aula. 

Uma saída igualmente equivocada pode ser pensada no sentido de trocar o ábaco 

por um quadro, conforme apresentado na Figura 11. 

 

 

 

Considero outro equívoco porque, como já explanado anteriormente, as peças de 

material dourado continuam tendo o seu valor agregado no modelo, ou seja, cada placa 

Figura 10

Figura 11 

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X A

nped Sul

continua  valendo  100  unidades,  cada  barra  continua  valendo  10  unidades,  e  assim 

sucessivamente. Portanto, o quadro está informando que existem 300 placas, 30 barras e 

3  cubinhos.  Nesse  sentido,  essa  forma  de  pensar  a  utilização  do  material  dourado 

continua inadequada. 

Apresento,  porém,  duas  maneiras  possíveis  para  se  trabalhar  com  o  material 

dourado e o QVL ou ábaco de papel, ao mesmo tempo. A primeira delas é utilizando os 

dois recursos separadamente, ou seja, um de um lado e o outro do outro lado da mesa. A 

criança  manipula  o  material  dourado  livremente  e,  sem  enquadrá‐lo  em  tabelas  ou 

quadros3,  determina  a  quantidade  de  cada  tipo  de  peça  possui  e,  em  seguida,  faz  a 

equivalência esperada entre placa e  centena, barra e dezena e  cubinhos e unidades, e 

registra no QVL utilizando algarismos Indo‐Arábicos, conforme apresento na Figura 12: 

 

 

Nesse  caso,  para  o  professor  que  acha  adequado  que  os  alunos  tenham  a 

possibilidade usar um quadro para que organizem melhor o material dourado de forma a 

facilitar  a  contagem  das  peças,  isso  é  possível,  desde  que  o  quadro  não  tenha  outras 

inscrições.  

 

Poderia ser pensado da seguinte forma: 

 

                                                            3 Mais adiante apresento uma forma possível para que se utilizem quadros para organizar as peças. 

Figura 12

Figura 13 

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X A

nped Sul

 A  outra  forma  possibilita  que  as  peças  do  material  dourado  sejam  colocadas 

dentro do QVL, mas apenas os cubinhos. Nesse caso, as demais peças componentes do 

material  não  serão  aproveitadas.  Isso  é  possível  porque  cada  cubinho  de  material 

dourado equivale a uma unidade. Para representar 333 dessa forma, teremos a seguinte 

configuração: 

 

 

No caso apresentado na Figura  14, qualquer outro  tipo de material manipulável, 

desde que com unidades bem definidas, poderia ser utilizado. Apenas para citar alguns 

desses materiais alternativos, poderiam ser usados: sementes, palitos de picolé, palitos 

de fósforo, canudos para refrigerantes (conforme exemplo que apresentarei adiante) etc. 

  b) Palitos de picolé ou canudos para refrigerantes4 

                      

A  Figura  15,  também  retirada  do  fascículo  2  do  caderno  do  Pró  Letramento  de 

Matemática,  apresenta  um  problema  relacionado  às  indicações  inadequadas  para  a 

utilização de  recursos didáticos muito parecido  com o  caso do material dourado. Para 

representar os agrupamentos, os professores costumam amarrar  10 palitos ou canudos 

com uma borrachinha e, em seguida, dez grupos de dez palitos ou canudos com outra 

borrachinha. Embora as unidades não estejam coladas umas às outras, como no caso do 

material dourado, elas são amarrados de  forma a constituírem uma nova peça, ou seja,                                                             4 Chamarei no texto apenas de canudos. 

Figura 14 

Figura 15 ‐ MIFC 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.15 

 

X A

nped Sul

uma  dezena.  Nesse  caso  temos  também  um  material  cujo  valor  de  cada  peça  está 

agregado na "forma".  

Todas  as  observações  feitas  para  o material  dourado  valem  para  esse  caso. Os 

palitos ou canudos, quando agrupados, não devem ser trabalhados dentro do ábaco, pois 

cada  amarrado  de  dez  palitos  ou  canudos  possui  um  valor  agregado  de  10  unidades. 

Como  o  valor  é  agregado  ao  objeto,  esse  amarrado  sempre  valerá  10  unidades, 

independente do  local que  ele  for  colocado. A  Figura  15 mostra dois  amarrados de  10 

unidades cada na ordem das dezenas em um QVL ou ábaco de papel. O que obtemos a 

partir dessa configuração é o seguinte cálculo: 20 x 10 = 200. Embora a provável intenção 

dos autores seja representar o número 25, estão representando o número 205. 

Da mesma forma que defendi para o trabalho com material dourado, defendo que 

há duas possibilidades para se trabalhar com esses materiais, por exemplo, com canudos, 

utilizando QVL. A primeira delas é utilizando os dois  recursos  separadamente, ou  seja, 

cada um em um lado da mesa. A criança manipula os canudos e os amarrados de canudos 

livremente,  sem enquadrá‐los em  tabelas ou quadros, determina a quantidade de cada 

tipo  de  peça  possui  e,  em  seguida,  faz  a  equivalência  esperada  entre  o  material 

manipulado  e  os  algarismos  Indo‐Arábicos,  registrando  apenas  os  segundos  no  QVL, 

seguindo a mesma ideia apresentada nas Figuras 12 e 13.  

    A segunda possibilidade é que se utilizem apenas unidades soltas de canudos. 

Essas unidades podem ser colocadas dentro do ábaco sem problemas, pois cada canudo 

equivale a uma unidade. Assim, ao representar o número 333, teremos o seguinte:  

 

                     

 

 

Figura 16 

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X A

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  c) “Dinheirinho”  

     

A  Figura  17  faz  parte  do  caderno  TP3  do  Programa  Gestão  da  Aprendizagem 

Escolar, Gestar I, e a Figura 18, de Toledo e Toledo (1997).  

 

                        

As  Figuras  19  e  20  foram  retiradas  do  livro  didático  do  quinto  ano  da  coleção 

“Fazer, compreender e criar em Matemática”. 

 O  “dinheirinho”  é  um  tipo  de  recurso  didático  manipulável  estruturado  de 

extrema valia para o ensino e aprendizagem de números e operações numéricas, pois faz 

parte do cotidiano das crianças. Esse material  também possui valor agregado. No caso 

Figura 17 ‐ MIFC  Figura 18 ‐ LFP

Figura 19 ‐ LD 

Figura 20 ‐ LD 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.17 

 

X A

nped Sul

das coleções que apresentam apenas notas, o valor está agregado na “decoração” e/ou 

na “cor” de cada nota. No caso das coleções que apresentam notas e moedas, o valor 

está agregado no “modelo”, na “decoração” e/ou “cor” de cada peça. 

É evidente que notas ou moedas possuem valor agregado. As notas mantêm o seu 

valor independentemente da forma como são guardadas ou arrumadas. Dessa forma, as 

Figuras  17,  18,  19  e  20  acabam  por  se  configurar  como  Indicações  inadequadas  para  a 

utilização  de  recursos  didáticos,  pois  se  as  notas  possuem  valor  reconhecível  em  seu 

modelo, decoração e/ou cor, no caso da Figura  17, ao  tentar  representar R$ 200,00, os 

autores acabaram por representar R$ 200,00 x 100 = R$ 20.000,00. 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ábacos  de  papel  ou  QVL  podem  ser  utilizados  conjuntamente  com  o  recurso 

didático  “dinheirinho”.  Novamente  há  duas  possibilidades  para  que  isso  ocorra.  A 

primeira delas é que o “dinheirinho” seja manipulado separadamente do QVL e apenas os 

algarismos que  representam às quantidades de notas de cada valor seja  registrado nos 

espaços  adequados,  ou  seja,  a  quantidade  de  notas  de  R$  100,00  será  registrada  na 

ordem das  centenas, a quantidade de notas de R$  10,00  será  registrada na ordem das 

dezenas e assim por diante, seguindo a mesma estratégia apresentada na Figura 12.  

A outra forma seria trabalhar apenas com notas de R$ 1,00, colocando‐as no QVL. 

Porém, julgo que esse tipo de atividade retiraria o sentido de lidar com o dinheiro. Penso 

que a forma anterior seja a mais indicada. 

Figura 21 

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X A

nped Sul

  d) Figuras com valor convencionado  

                                   

A  Figura  22  foi  retirada  do  livro  didático  do  terceiro  ano  da  coleção  “Ápis 

Matemática”. Notamos que foi convencionado pelo autor que os retângulos quadrados5 

valem 100 unidades, os retângulos não quadrados6 valem 10 unidades e os círculos valem 

1 unidade. Esse material não corresponde a objetos manipuláveis, embora os professores 

possam, em se julgando necessário ou adequado, reproduzir em cartolina ou papel cartão 

esse material. São apenas figuras utilizadas pelo autor para representar quantidades. 

Esse é um tipo de material cujo valor está agregado na “forma” da figura. Nesse 

caso não há relação de composição de algumas figuras a partir da aglomeração de outras, 

como no caso, por exemplo, do material dourado em que as barras são formadas a partir 

da junção de unidades. Nesse caso o valor é atribuído arbitrariamente, segundo o desejo 

de quem criou a convenção. 

Porém, em momento algum se modifica essa convenção. Cada quadrado vale 100 

unidades em  todas as atividades que exploram a  convenção. O mesmo ocorre  com os 

retângulos  que  sempre  valem  10  unidades  cada,  bem  como  os  círculos,  que  valem  1 

unidade cada.    

Quando o autor insere essas figuras com valor convencionado dentro do ábaco de 

papel ou do QVL, essas figuras não perdem o valor que a elas foi atribuído. Dessa forma, 

cada quadrado na ordem das centenas equivale a 10.000 unidades, ou seja, 100 x 100 = 

10.000.  Estamos  diante  de  um  situação  parecida  com  o  caso  do material  dourado. As 

                                                            5 Doravante serão chamados de quadrados. 6 Doravante serão chamados de retângulos. 

Figura 22 ‐ LD 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.19 

 

X A

nped Sul

formas de trabalhar adequadamente com essas figuras e com o ábaco poderiam se dar de 

duas maneiras diferentes. 

Na  primeira,  as  figuras  apareceriam  de  forma  solta  na  página,  ou  seja,  não 

inseridas em grades ou quadros e, a partir da contagem de cada tipo de figura, a criança 

registraria no QVL os algarismos  correspondentes  a  tais quantidades. A quantidade de 

quadrados seria registrada na ordem das centenas, a quantidade de retângulos, na ordem 

das dezenas e assim sucessivamente, conforme apresento na Figura 23. 

 

   

A segunda forma seria utilizar apenas os círculos para representar quantidades de 

“uns” nas diversas ordens do QVL. Para  registrar o número 213, conforme apresentado 

anteriormente, teríamos:  

 

         

Com  isso,  fecho  essa  categoria,  em  que  apresentei  algumas  situações  que 

conceituei  como  indicações  inadequadas  para  a  utilização  de  recursos  didáticos, 

discutindo como seria a forma correta de se trabalhar com esses materiais e situações. De 

aqui por diante passo a discutir a segunda categoria. 

4.2. Recursos didáticos de fabricação ou elaboração equivocada 

Até aqui me limitei a apresentar algumas situações em que as indicações de uso de 

recursos didáticos manipuláveis para o ensino de números e operações numéricas feitas 

Figura 23 

Figura 24 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.20 

 

X A

nped Sul

por profissionais que produzem materiais didáticos ou para a  formação de professores, 

foram  inadequadas ou equivocadas. Daqui por diante apresento situações em que, por 

algum motivo, autores de  livros,  cadernos pedagógicos etc., bem  como  fabricantes de 

alguns recursos didáticos manipuláveis, elaboram ou fabricam esses recursos ou materiais 

didáticos também de forma inadequada ou equivocada. 

Os  principais  representantes  de  recursos  ou materiais  didáticos  que  atendem  a 

essa  categoria  são  os  ábacos  abertos  ou  fechados,  segundo  apresentados  nas  figuras 

seguintes: 

  

A Figura 25 foi retirada de um livro didático da coleção “Fazer, compreender e criar 

em Matemática”. A Figura 26, faz parte de um livro didático da coleção “a escola é nossa ‐ 

Alfabetização matemática”. 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 25 ‐ LD Figura 26 ‐ LD

Figura 27 ‐ LD

Figura 28 ‐ LDFigura 29 ‐ LD

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AFINAL, ESTAMOS ENSINANDO MATEMÁTICA ERRADO?  Everaldo Silveira 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.21 

 

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Todas  essas  figuras  também  foram  retiradas  de  diferentes  coleções  de  livros 

didáticos aprovadas pelo PNLD/2013. A Figura 27 foi retirada de um livro de quarto ano da 

coleção “Saber Matemática”, a Figura 28, de um  livro do segundo ano componente da 

coleção “Fazer, compreender e criar em Matemática” e, finalmente, a Figura 29, coletada 

em um livro de quinto ano da coleção “Novo bem‐me‐quer”. 

A  Figura  30  está  incluída  na  categoria  Material  Institucional  para  a  Formação 

Inicial. Ela foi retirada do caderno pedagógico utilizado pelo CEAD – UDESC.  

                                   

                            

As Figuras 25, 29 e 30 parecem ser fotografias, as demais, são gravuras baseadas 

em  ábacos  abertos  ou  fechados.  Todas  as  figuras  representam  o  mesmo  problema, 

exceto  a  Figura  27,  que  poderá  resultar  em  problema  diferente  dos  demais. Discutirei 

primeiramente  as  questões  comuns  à maioria  das  imagens  para,  finalmente,  falar  da 

confusão que pode ser alavancada por indicações de uso segundo a Figura 27. 

Os  ábacos,  segundo os modelos utilizados por diversas  civilizações  antigas, não 

possuíam anilhas7 coloridas com diferentes cores, excetuando‐se raros casos em que as 

quintas e sextas anilhas em todas as ordens eram coloridas com cor diferente da demais. 

A questão é tentar entender porque as anilhas não eram e não devem ser coloridas. 

O  princípio  básico  comum  a  todos  os  ábacos,  e  que  está  na  base  de  seu 

funcionamento, é a organização segundo uma notação posicional. Dessa forma, mesmo 

                                                            7 Optei por utilizar a palavra anilha, mas as peças também são chamadas de contas, bolas, fichas etc. 

Figura 30 ‐ MIFI

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.22 

 

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utilizando, por exemplo, pequenos discos de madeira8 muito parecidos entre si, tanto na 

forma e na cor, quanto em outros possíveis atributos, é uma tábua de contar9, ou seja, 

um ábaco, foi possível, na antiguidade, representar determinada quantidade sem utilizar 

tantos discos quanto objetos que se desejava contar. Apenas para exemplificar, podemos 

pensar em representar 1.123 ovelhas com esses discos. Se a representação depender de 

uma  correspondência  um‐a‐um  entre  ovelhas  e  discos,  teremos  uma  pilha  enorme 

contendo 1.123 discos. Se utilizarmos uma tábua de contar, serão necessários apenas sete 

discos para fazer toda a contagem, ou seja, um disco posicionado na ordem das unidades 

de milhar,  um  disco  posicionado  na  ordem  das  centenas,  dois  discos  posicionados  na 

ordem  das  dezenas  e,  finalmente,  três  discos  posicionados  na  ordem  das  unidades. A 

Figura 31 apresenta essa ideia: 

            

O sistema de numeração que utilizamos também é posicional. A grande diferença 

é que não utilizamos discos de madeira para representar quantidades e sim, 10 símbolos 

que representam quantidades. Esses símbolos são os algarismos 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9. 

Para nós é sempre possível contar qualquer coleção, independentemente da quantidade 

de objetos contidos nela. Isso é porque podemos repetir esses algarismos em diferentes 

posições na nossa tábua de contar, ou seja, no QVL. Vejamos um caso em que represento 

o número 3.333: 

 

 

                                                            8 Ou qualquer outro  tipo de material, desde que os discos, ou  seja  lá  a  forma que  tenha o objeto, não possuam aspectos significativos que os diferenciem uns dos outros. 9 Seria algo como um QVL desenhado em uma tábua ou em uma placa de argila, por exemplo. 

Figura 31 

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Eu decidi representar o 3.333 porque ele é formado pela repetição de um mesmo 

símbolo.  Não  existem  diferenças  entre  cada  um  dos  algarismos  3  utilizados 

anteriormente. O valor absoluto de cada um deles é  idêntico, ou seja,  três unidades. O 

que  diferencia  um  do  outro  é  o  princípio  da  notação  posicional.  Um  “3”  que  está 

posicionado na ordem das centenas passa a valer uma quantidade diferente de um “3” 

que está posicionado na ordem das dezenas ou das unidades.  

Os  ábacos  são  utilizados  na  escola  como  um  recurso  didático  para  auxiliar  na 

compreensão  do  sistema  de  numeração  Indo‐Arábico  e  nas  operações  numéricas  de 

adição,  subtração,  multiplicação  e  divisão.  Quando  o  professor  apresenta  um  ábaco 

aberto, por  exemplo,  como  aquele da  Figura  25,  e  ensina  aos  alunos  a  representar  as 

quantidades e operar com ele, seu objetivo não é que os alunos aprendam simplesmente 

a contar e operar com anilhas e sim, que compreendam o sistema de numeração e suas 

operações  numéricas,  conseguindo  passar  da  utilização  do  ábaco  ao  pensamento 

abstrato, tornando o objeto desnecessário. 

Assim, como  todos os algarismos “3” no número 3.333 são  idênticos entre si, as 

anilhas de um ábaco também devem ser. Em contrário, corre‐se o risco de que os alunos 

atribuam valores às anilhas segundo suas cores, e passem a utilizá‐las com valor agregado 

na  “cor”.  Se  ocorrer  isso,  as  anilhas  passam  a  ter  valores  diferenciados  e  perdem  o 

princípio posicional, já que não será mais necessário inserir as anilhas nas hastes do ábaco 

para saber o valor final. Vejamos um caso em que o professor passa a utilizar o exemplo 

apresentado na Figura 25, usando o ábaco sempre com a configuração apresentada na 

imagem.  

Figura 32 

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Nesse caso, antes de inserir as anilhas no ábaco para representar o número 154, as 

crianças podem decidir selecionar as anilhas, conforme a Figura 25, e só depois passarem 

a inseri‐las em suas posições, já sem sentido. 

 

 

Por  outro  lado,  isso  gera  um  novo  problema,  pois,  se  o  aluno  insere, mesmo 

depois de agregar valor ao atributo “cor”, uma anilha que está convencionada para valer 

100 unidades na haste das centenas no ábaco, o valor da anilha é multiplicado por  100, 

pois é assim que funciona um ábaco, passando a representar 10.000.  

Nos ábacos fechados, as cores também não são bem vindas, pois podem ajudar a 

desenvolver  nas  crianças  a  noção  de  que,  no  caso  de  um  número  com  algarismos 

repetidos,  esses  algarismos  devem  apresentar  alguma  diferença,  pois  no  ábaco,  por 

exemplo, no número 55, o “5” da casa das unidades foi representado com anilhas de uma 

cor e o “5” da casa das dezenas, com anilhas de outra cor. Ao se deparar com a escrita 

numérica  utilizando  algarismos  Indo‐Arábicos,  as  crianças  podem  ter  dificuldades  para 

aceitar que determinadas quantidades são registradas com algarismos que são idênticos 

entre si. 

Figura 33 

Figura 34 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.25 

 

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Mas como resolver esse problema se as indústrias de materiais didáticos decidiram 

fabricar ábacos com anilhas coloridas em diferentes cores e as escolas possuem vários 

desses materiais? 

Primeiramente  é  importante  que  se  resolva  a  questão  da  utilização  desses 

materiais  em  sala  de  aula.  Dessa  forma,  há  duas  possibilidades:  a  primeira,  que  se 

recolham as anilhas de  todos os ábacos que a escola possui e as  redistribua, deixando 

cada ábaco com anilhas de uma única cor. A segunda possibilidade, no caso de não ser 

possível realizar a primeira, pode‐se apenas misturar as anilhas, insistindo que as crianças 

sempre usem anilhas de diferentes cores em uma mesma haste. Dessa forma o professor 

define com os alunos que qualquer anilha, independentemente de sua cor, sempre valerá 

uma  unidade.  O  livro  do  quarto  ano  da  coleção  “Saber  Matemática  –  Alfabetização 

Matemática” apresenta uma figura em que essa ideia é posta em ação, segundo segue: 

 

                         

No  caso  da  figura  27,  é  apresentada  uma  soma  em  que  uma  parcela  é 

representada no ábaco com anilhas amarelas e a outra parcela é representada no ábaco 

com anilhas verdes. A parcela representada em amarelo é 145 e a parcela representada 

em verde é 386. Notamos que, serão empilhadas 11 anilhas na ordem das unidades e 12 

anilhas  na  ordem  das  dezenas.  Nesse  caso  acontecerá  um  “vai  um”,  ou  seja,  um 

reagrupamento em que se retirarão 10 das 11 anilhas que estão na ordem das unidades, 

representando essa quantidade com uma anilha na ordem das dezenas. Pergunta‐se: qual 

será  a  cor  da  anilha  que  irá  representar  a  dezena  do  reagrupamento  na  ordem  das 

dezenas? Qual será a cor da anilha que sobrará na ordem das unidades? O resultado da 

conta será uma mistura dessas anilhas? 

Figura 35 ‐ LD 

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É possível usar esse tipo de estratégia, mas é preciso que se faça um acordo muito 

bem  feito com os alunos antes. É  importante que haja uma “regra”, por exemplo, que 

sempre  será  utilizada  na  elevação  uma  anilha  da  cor  predominante  entre  aquelas  que 

estão empilhadas. No caso do exemplo que estamos utilizando, a anilha da elevação seria 

verde, já que temos cinco unidades de cor amarelo e seis unidades de cor verde na ordem 

das unidades. 

 

5. Algumas considerações para finalizar 

A pesquisa  cujos  resultados parciais estão  sendo  apresentados nesse  texto  tem 

como  objetivos  apresentar  e  problematizar  alguns  casos  em  que  livros  didáticos  e 

materiais  para  a  formação  de  professores,  apresentam  compreensões  questionáveis 

acerca  da  utilização  de  materiais  manipuláveis  enquanto  recursos  para  o  ensino  e 

aprendizagem do sistema de numeração decimal e operações numéricas, e problematizar 

a fabricação ou elaboração de instrumentos como o ábaco aberto (ou ábaco de pinos) e o 

ábaco fechado, bem como a produção e utilização de ábacos de papel nos anos iniciais do 

Ensino Fundamental. 

Busquei, por meio de alguns dados apresentados no texto, levantar e discutir uma 

série de questões que  julgo problemáticas, no que concerne à utilização de alguns tipos 

de  recursos  didáticos manipuláveis  visando  ao  ensino  e  aprendizagem  do  sistema  de 

numeração decimal, bem como, das quatro operações numéricas.  

Apresento,  portanto,  essa  discussão,  de  forma  objetiva,  à  comunidade  de 

educadores  matemáticos,  bem  como  à  comunidade  de  professores  que  ensinam 

matemática,  como  uma  espécie  de  convite  para  que  possamos  debater  sobre  essas 

questões e buscarmos uma melhor compreensão acerca delas. 

Reitero que está pesquisa não tem o objetivo de tentar demonstrar se as formas 

de  ensinar  que  apresento  como  inadequadas  de  fato  causam  problemas  para  a 

compreensão  das  crianças.  Tenho  uma  hipótese  de  que  os  modelos  de  utilização 

daqueles materiais, conforme apresentados nos diversos materiais pesquisados por mim, 

podem causar alguns obstáculos didáticos em algumas crianças. Penso que essa é uma 

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demanda para novas pesquisas, que deixo em aberto para pesquisadores que se sentirem 

atraídos pelo tema. 

Por  fim,  acredito  ser  importante  um  olhar  atencioso  às  utilizações  e  indicações 

para uso de materiais manipuláveis com o objetivo de ensinar matemática em todos os 

níveis  escolares, pois,  em muitos  casos,  ao  invés de  ajudar,  esses materiais, ou  alguns 

usos que  se  fazem deles, podem  criar barreiras para  a  aprendizagem dos  alunos. Não 

significa que devemos eliminar  tais materiais, significa que precisamos olhar com muito 

cuidado para essas utilizações e para a aceitação dos alunos de acordo com cada tipo de 

material que apresentarmos ou nos propormos utilizar para uma melhor efetivação da 

educação matemática. 

 

 

6. Referências 

BOYER, C. B. História da matemática. São Paulo: Edgard Blucher, 1996. 

BRASIL, Ministério da Educação. Guia de  livros didáticos: PNLD 2013: Matemática. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2012. 

BRASIL. Ministério  da  Educação  e  Cultura.  Rede  nacional  de  formação  continuada  de professores de educação Básica. Orientações Gerais. Brasília: MEC/SEB, 2005. 

BRASIL.  Ministério  da  Educação,  Secretaria  de  Educação  Básica.  Pró‐Letramento: programa  de  formação  continuada  de  professores  dos  anos/séries  iniciais  do  Ensino Fundamental: matemática. Brasília, 2008, 308 p. 

BRASIL. SEF. Programa Gestão da Aprendizagem Escolar GESTAR  I: Matemática – Caderno de teoria e prática 3: operações com números naturais. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007.  

DANTE, L. R. Ápis matemática, 3: Ensino Fundamental. São Paulo: Ática, 2011. 

GIOVANNI JR., J. R. A conquista da matemática, 2: Ensino Fundamental. São Paulo: FTD, 2011.  

LUIZ, L. S; MUSSE, J. O. Conteúdos e metodologias do ensino de matemática  I: caderno pedagógico. Florianópolis : UDESC/CEAD/UAB, 2011. 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.28 

 

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MUNHOZ, A. S. F. et al. Fazer, compreender e criar em matemática, 5: Ensino Fundamental. São Paulo: IBEP, 2011. 

MUNHOZ, A. S. F. et al. Fazer, compreender e criar em matemática, 4: Ensino Fundamental. São Paulo: IBEP, 2011. 

PIRES, C. M. C. Números naturais e operações. São Paulo: Melhoramentos, 2013. 

REGO, A. L. B. et al. Novo bem‐me‐quer, 5: Ensino Fundamental. São Paulo: Editora do Brasil, 2011. 

SANTOS, F. V. et al. A escola é nossa, 2: Ensino Fundamental. São Paulo: Scipione, 2011. 

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SMOLE, K. S. et al. Saber matemática, 4: Ensino Fundamental. São Paulo: FTD, 2011. 

TOLEDO, M. Didática da matemática: como dois e dois: a construção da Matemática. São Paulo: FTD, 1997.