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GLOBALIZAÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL E SUA INCIDÊNCIA EM ÁFRICA Carlos Castro-Almeida Maio/2005

África e a Globalização

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GLOBALIZAÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL

E SUA INCIDÊNCIA EM ÁFRICA

Carlos Castro-Almeida

Maio/2005

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POR UMA GLOBALIZAÇÃO JUSTA

Criar oportunidades para todos

PARTE I

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A iniciativa do Director Geraldo BIT de criar a Comissãofoi uma primeira tentativa de

estudar, de uma forma sistemática, a dimensãosocial da globalização.

• o tema da dimensão social da globalização está (e estará cada vez mais) no centro da agenda tripartida a nível nacional, regional e internacional

• a OIT é hoje o único fórum internacional que reúne, num contexto tripartido, membros da OCDE, economias em transição, países emergentes e PMA

• ultrapassar o “diálogo de surdos” entre Davos e Porto Alegre - criação, em Novembro de 2001 (CA da OIT) da Comissão Mundial sobre a dimensão social da globalização

Contexto na cena internacional

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MembrosGiuliano AmatoRuth CardosoHeba HandoussaEveline HerfkensAnn McLaughlin KorologosLu MaiValentina MatvienkoDeepak NayyarTaizo NishimuroFrançois PerigotSurin PitsuwanJulio Maria Sanguinetti

Hernando de SotoJoseph StiglitzJohn J. SweeneyVictoria Tauli-CorpuzAminata D. TraoréZwelinzima VaviErnst Ulrich von WeizsaeckerMembros Ex officio Bill BrettEui-yong ChungDaniel Funes de RiojaJuan SomaviaAlain Ludovic Tou

Co-presidentesSra. Tarja Halonen, PR da FinlândiaSr. Benjamin William Mkapa, PR da Tanzânia

Membros da Comissão Mundial

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• Trabalhou entre 2002 e 2003 com total independência e liberdade de ação

• 30 debates a nível nacional, regional, sub-regional e outros

• 13 reuniões temáticas de redes de conhecimentos

• Consultas com outrasorganizações do sistema das Nações Unidas

• Relatório apresentado em Fev 2004

Comissão Mundial

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Globalização. Conceitos

Crescente interdependência de economias e sociedades, gerada pela progressiva liberalização do comércio internacional e pela integração dos mercados financeiros, e tornada possível pela

rápida e ampla evolução e difusão das tecnologias de informação e comunicação (TIC)

Ritmo de inovação tecnológica, em função da queda do preço da tecnologia:(unidade de computação) antes (1972) ....100 $

depois (1996) ....0,01 $

Internet:1996 – 20 milhões de utilizadores

2000 – 280 milhões de utilizadores

2000 – 93% dos utilizadores nos países OCDE

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revolução tecnológica

• a revolução tecnológica, iniciada pelos países industrializados, facilitou a globalização

• o desenvolvimento económico supõe cada vez mais o acesso à informação, ao saber e à tecnologia, pressupõe infra-estruturas, mas também níveis elevados de educação e qualificação e capacidades institucionais

• a revolução tecnológica tem-se processado num quadro apelidado de “fractura digital” Norte/Sul; se as TIC facilitam oacesso à informação por parte dos países do Sul, e portanto o acesso ao mercado global, estes países dispõem de uma capacidade limitada de transformar esse conhecimento em factor competitivo

• revolução tecnológica: processo assimétrico e selectivo

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impacto económico

• liberalização do comércio internacional

• expansão dos investimentos directos estrangeiros (IDE)

• emergência de fluxos financeiros transfronteiriços de grande envergadura: criação de um mercado financeiro global

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liberalização do comércio (1)

• crescimento sustentado do comércio mundial (3x), mais rápido que o crescimento do PIB mundial como resultante de: a) uma liberalização unilateral (programas de ajustamento estrutural), b) uma crescente integração regional ou sub-regional (UE, ALENA, MERCOSUL, SADC, …), c) uma liberalização multilateral (OMC)

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liberalização do comércio (2)

• este aumento não beneficiou na mesma proporção todos os países ou grupos de países

Mais beneficiados:

• países industrializados da OCDE

• número reduzido de países emergentes (China, Coreia, Singapura, México, Malásia…)

Menos beneficiados:

• grande maioria dos países subdesenvolvidos e, em particular, os PMA

População coberta pela liberalização do comércio internacional:

antes (1977) 20% da população mundial depois (1997) 90% da população mundial

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liberalização do comércio (3)

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investimento directo estrangeiro –IDE (1)

• Desde o início dos anos 90, aumento exponencial dos IDE (20 X) como resultado da internacionalização da economia; mais de 58%, em 2000, nos países da OCDE e em crescimento nos países subdesenvolvidos

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investimento directo estrangeiro –IDE (2)

• também aqui, concentração num número reduzido de países em desenvolvimento (China, Brasil, México: cerca de 40% do total)

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investimento directo estrangeiro –IDE (3)

• para além da evolução quantitativa, notam-se mudanças estruturais nos anos recentes – a internacionalização da produção reforça as multinacionais e as redes de produção; esta tende a fragmentar-se e a deslocalizar-se devido a:

• diferenças dos custos de mão-de-obra, facilidades acordadas aos IDEs e “custos de contexto” (impostos, estabilidade política, legislação laboral…)

• diminuição dos custos de transporte e de comunicações

• revolução tecnológica (TIC) que permite a coordenação e o controlo desta produção fragmentada transnacional, segundo a melhor combinação competitiva

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fluxos financeiros (1)

• a globalização do capital financeiro constitui um dos aspectos mais espectaculares da evolução da economia mundial dos últimos 20 anos

• factores principais de integração do mercado de capitais: i) desregulação dos mercados financeiros, ii) infra-estrutura tecnológica, iii) especulação segundo o princípio do melhor rendimento e do menor risco

• rápida diversificação dos produtos (grande capacidade de inovação e adaptação: crédito, compra e venda de divisas, obrigações, acções …)

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fluxos financeiros (2)

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fluxos financeiros (3)

• o capital financeiro tem beneficiado no Norte sobretudo as grandes empresas multinacionais e no Sul alguns países emergentes (sudeste asiático)

• os fluxos financeiros privados ultrapassam amplamente os fluxos públicos (ajuda pública ao desenvolvimento – APD) actualmente em baixa

• a volatilidade e a natureza especulativa destes fluxos de capitais constituem factores de incerteza e de instabilidade (crises financeiras/crises sociais)

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Quem ganhou (e quem perdeu) com a globalização ?

no mundo desenvolvido: regiões (sectores e empresas) com forte nível de inovação tecnológica e valoracrescentado que souberam « surfar » sobre a « sociedade do conhecimento »

no mundo em desenvolvimento: regiões com grande disponibilidade de mão-de-obra, baixos salários, excepcional dinamismo económico e que fizeram, nasúltimas gerações, investimentos significativos emmatéria de capital humano

• constata-se, em geral, uma grande desigualdade no impacto da globalização tanto no interior dos países como entre os países

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um balanço possível do impacto económico

no mundo desenvolvido rico em capital, competências, tecnologias: a globalização tem funcionado como um factor de acumulação de vantagens comparativas, mas também como factor de reforço dasdesigualdades

no grupo restrito de países emergentes do mundo emdesenvolvimento: factor de crescimento a curto prazo, mas tambémde vulnerabilidade e instabilidade

• no grupo dos países menos avançados: acumulam-se, em geral, as desvantagens, o que dificulta a sua participação na globalização e cria novas clivagens e dependências

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Refere-se também ao impacto da globalização na vida e no trabalho das pessoas, das suas famílias e das sociedades

dimensão social – conceitos (1)

Refere-se à contribuição da globalização para a redução da pobreza no mundo e o desenvolvimento sustentável

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dimensão social – conceitos (2)

debate controverso por duas razões principais:

• mais do que a macro-economia, a dimensão social está dependente das políticas a nível nacional

• a dimensão social cruza-se com o debate político sobre as relações Norte/Sul e a governação multilateral

daí a importância da iniciativa da OIT : estabelecer um diálogo quanto à questão do impacto social que possa gerar convergências para a acção (“agir para a mudança”)

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dimensão social - pobreza (1)

pobreza: impacto difícil de avaliar

• pobreza absoluta (menos de 1 dólar por dia) diminui nos últimos 10 anos, passando de 1,23 biliões de pessoas (1990) para 1,10 biliões (2000)

• diminuição deve-se sobretudo ao decréscimo dos níveis de pobreza na China e na Índia (38% da população mundial)

• na África Subsariana, na Europa de Leste e na América Latina a pobreza aumentou respectivamente de 82, 14 e 8 milhões de pessoas

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dimensão social – pobreza (2)

• a globalização não induziu uma diminuição generalizada da pobreza apesar dos níveis acrescentados de produtividade

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dimensão social – desemprego

• o BIT estima que o desemprego aumentou a nível global nos últimos 10 anos ascendendo em 2003 a 188 milhões de pessoas

• aumento sobretudo na América Latina e no Sueste Asiático (crise financeira de 1997 que levou ao colapso dos chamados tigres asiáticos: Indonésia,Tailândia e Coreia)

• aumento do desemprego aparece como uma consequência da vulnerabilidade dos países face à: volatilidade do capital financeiro, crises económicas e financeiras internacionais, deslocalização da produção, diminuição do valor do trabalho não qualificado

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dimensão social – desigualdades (1)

• a globalização acentua as desigualdades de distribuição da riqueza entre países e no interior dos países

o diferencial entre os 20 países mais ricos e os 20 mais pobres cresceu significativamente (PIB per capita):mais pobres: 212 $ (antes) – 267 $ (depois)

mais ricos: 11,000 $ (antes) – 32,000 $ (depois)

rácio passou de 52 (antes) para 120 (depois)

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dimensão social – desigualdades (2)

• no interior dos países, as desigualdades também cresceram:

acentua-se a dispersão do leque salarial e a concentração da riqueza num grupo reduzido, detentor de um grande poder de influência

nos EUA, em 2000, 1% da população com rendimentos mais elevados possuia 17% do rendimento bruto total

acentua-se a clivagem entre as profissões qualificadas e os trabalhadores sem qualificação (desemprego, precaridade)

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65,000 empresas multinacionais, envolvendo 850,000 filiais e 54 milhões de trabalhadores, animam a globalização e são responsáveis por 1/3 do comércio mundial

nas 100 maiores economias do planeta figuram 51 empresas e 49 países (2001)

Regulação do social à escala mundial

emergência de actores supra e transnacionais

evidente défice democrático de governação do social à escala mundial

Estados-Nações confrontados com as dificuldades de gestão de uma economia global, enquanto os governos permanecem nacionais (“des-territorialização do poder”)

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Síntese das conclusões da ComissãoMundial (1)

A globalização é um facto e representa um enorme potencial de crescimento das economias

O actual modelo de globalização – integrador mas não inclusivo –apresenta um elevado risco de reforço das clivagens e da marginalização de regiões e países

Estas desigualdades são, económica e socialmente destruidoras, éticamente inaceitáveis e politicamente insustentáveis

Não é tanto a globalização em si mesma que está em causa mas o défice da governação a nível mundial

Necessidade de “mobilizar para a mudança”: abrir novas possibilidades de desenvolvimento equitativo para todos

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Síntese das conclusões da ComissãoMundial (2)

Objectivo: uma globalização mais justa

a globalização da economia deverá seracompanhada pela globalização da « agenda do trabalho digno »

respeito universal dos direitos fundamentais notrabalho consagrados na Declaração da OIT de 1998 : i) direito de associação e negociaçãocolectiva, ii) eliminação do trabalho escravo e do trabalho forçado, iii) eliminação do trabalhoinfantil e iv) igualdade de oportunidades

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Síntese das conclusões da ComissãoMundial (3)

Para atingir este objectivo, importa:

a nível nacional/local: criar oportunidades de diálogosobre os efeitos sociais da globalização

a nível internacional: reformar o sistema multilateraltornado-o mais participado, transparente e responsável

• reformar o sistema multilateral consiste, antes de mais, em reforçar o multilateralismo

• consiste, paralelamente, em reforçar a coerência das políticas económicas, financeiras, comerciais, sociais e ambientais: tirar partido dos ganhos da globalização e eliminar as clivagens e iniquidades que ela gera

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Benjamin William Mkapa, Presidente da Tanzânia

Tarja Halonen, Presidente da Finlândia

Síntese das conclusões da ComissãoMundial (4)

A OIT propõe a realização de uma série de iniciativas:

« Iniciativas para a coerência das políticas » no seio do sistema multilateral

« Diálogos multi-partes para a definição de políticas »

« Fórum sobre a globalização » a criar no seio das Nações-Unidas, que elaboraria regularmente um « Relatório sobre a situação da globalização »

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ÁFRICA FACE À GLOBALIZAÇÃO

Situação e perspectivas

PARTE II

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Situação (1)Bloqueios persistentes :

10% da população mundial (780 milhões de habitantes) mas:

1% do PIB mundial; 2% do comércio mundial; 1% dos IDEs

2,8% de crescimento anual da população (PED: 1,9%); 5,4% de taxa de fertilidade (PED: 2,9%)

33 PMAs num total de 48 países mais pobres a nível mundial; 34 PPME (países pobres mais endividados) num total de 42

32 países com um “desenvolvimento humano baixo” (IDH do PNUD, 2004) num total de 36

20 milhões de pessoas com VIH/Sida num total de 42 milhões de pessoas infectadas

40% de trabalho infantil (grupo etário 5/14 anos)

60 % da população activa ocupada no sector informal

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Situação (2)

Bloqueios persistentes :

estes indicadores traduzem uma situação continuada de estagnação, senão regressão, a nível socio-económico:

• explosão demográfica

• fraco dinamismo e produtividade da agricultura

• industrialização embrionária

• endividamento externo insustentável

• marginalização relativamente aos fluxos comerciais e financeiros globais (“desconexão”)

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Situação (3)

evoluções positivas, numa visão centrada não só nos aspectos macro-económicos mas também nas dinâmicas sociais:

capacidade de inovação e adaptação no modo como as populações –e, em particiular, as mulheres – têm sabido criar actividades ligadasàs necessidades essenciais

progressiva constituição de uma sociedade civil, capaz de incorporar os grupos marginais no processo político e produtivo

integração regional incipiente, mas com sinais de dinamização (criação de pólos de desenvolvimento regional)

iniciativas endógenas para o desenvolvimento e a convergência política

• 2001: transformação da OUA na União Africana - UA

• 2002: lançamento da “Nova Parceria para o Desenvolvimento de África” - NEPAD

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África: globalização vs marginalização (1)

Comércio internacional:

participação da África nas exportações mundiais em baixa

1980: 6%

2000: 2%

concentração em produtos primários (mais de 70% das receitas em divisas), com fraco valor acrescentado e muito dependentes da instabilidade dos mercados internacionais (“especialização regressiva”)

Cacau: 40% da produção mundial (Costa do Marfim)

Algodão: 70% da produção mundial concentrada na região do Sael (Mali, Benim, Burkina Faso, Chade)

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África: globalização vs marginalização (2)

Comércio internacional:

mesmo em relação a estes produtos primários ( com exclusão do sector do petróleo) a África tem vindo a perder quotas de mercado emrelação aos outros países em desenvolvimento, em particular, os da Ásia

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África: globalização vs marginalização (3)

Comércio internacional:

obstáculos principais no acesso ao mercado internacional:

• tarifas e direitos aduaneiros aplicados, pelos países da OCDE, aos produtos agrícolas são em geral mais elevados (por comparação com os produtos manufacturados) – 11% produtos agrícolas, 4% produção industrial em média nos países do Quadrilátero (UE, Canadá, EUA, Japão)

• subsídios: em 2002, preço do algodão – mais importante produto de exportação dos países da CEDEAO: entre 5 e 10% do PIB, 15% das exportações mundiais – teria sido 25% superior sem subsídios dos EUA aos seus produtores

EUA: 3,9 milhões de Usd de subsídios em 2001, para uma produção que representa 30% do total (primeiro exportador mundial)

EUA/UE/China: subsídios atingiram, em 2001, 4,9 mil milhões de Usd

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África: globalização vs marginalização (4)

Comércio internacional:

obstáculos principais ao acesso ao mercado internacional:

• instabilidade dos preços e degradação dos termos de troca: variações bruscas e muito marcadas dos preços devido a factores climatéricos e à saturação estrutural do mercado

no rasto da crise financeira asiática de 1997/99: 20% de queda dos preços dos produtos primários face a uma baixa dos produtos manufacturados de 5%

2001:

Café (principal produto de exportação de 5 PPME): 35%

Algodão: 19%

Peixe: 21 % (Senegal, Mauritânia)

Castanha de caju: 69% (Moçambique, Tanzânia)

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África: globalização vs marginalização (5)

Comércio internacional:

liberalizar os mercados dos produtos agricolas primáriose semi-industriais por parte dos países OCDE

eliminar os subsídios (em relação, em particular, a produtos como o algodão, o açúcar, o amendoim…com grande peso nas economias africanas)

• negociações no quadro da OMC: liberalizar o comércio internacional dos produtos dos países em desenvolvimento (ronda de Doha), iniciadas em 2001, sem resultados práticos

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África: globalização vs marginalização (6)

Dívida externa:

a degradação dos termos de troca contribuiu para o forte endividamento da maioria dos países africanos

• 2002: subsídios dos EUA e da UE aos seus produtores de algodão, levaram a uma baixa de 300 milhões Usd nos rendimentos do continente africano

• iniciativa do BM/FMI (PPME reforçada) para aliviar a dívida de 9 países exportadores de algodão da Africa Central e Ocidental ascendeu a 230 milhões Usd

• rácio divída externa/PIB:

Africa Subsariana - 1975: 15,3%; 2000: 71,3%

Mali – 2000: 96,1%

Países em desenvolvimento – 1975:13,3%; 2000: 39,1%

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África: globalização vs marginalização (7)

Dívida externa:

a iniciativa PPME reforçada conduziu a uma ligeiradiminuição da dívida externa dos países africanoselegíveis (24 dos 34 PPME do continente participamneste programa; só 7 concluíram o processo)

dívida externa - iniciativa PPME reforçada:

•1995 : 32 biliões Usd

•2001 : 26 biliões Usd

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África: globalização vs marginalização (8)

Integração regional

nível limitado de integração regional, apesar da criação de múltiplas organizações destinadas a promover o comércio intra-africano

cooperação regional entravada designadamente por:

sobretudo, resistência política no sentido da convergência das políticas económicas entre países vizinhos, por vezes em conflito ou concorrentes em relação aos mesmos produtos

peso da burocracia e má governação (dificuldade em harmonizar as regras aduaneiras…);

debilidade das infra-estruturas de transportes e comunicações;

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África: globalização vs marginalização (9)

Integração regional

dinamização, nestes últimos anos, da integração regional

UEMOA (União Económica e Monetária da África Ocidental, 1994, 5 países): eliminação dos direitos de alfândega, harmonização das políticas macro-ecómicas e financeiras

• trocas intra-regionais na zona CEDEAO representam apenas 10,4% das exportações e 12,3% das importações

• trocas intra-regionais representam apenas 15,6% das exportações e 8,4% das importações;

CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, 1975/1993, 15 países): para além da integração económica e monetária (Franco CFA), tem hoje intervenções de mediação e preservação da paz na região;

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África: globalização vs marginalização (10)

Integração regional

dinamização, nestes últimos anos, da integraçãoregional

SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, 1992, 14 países): marcada pelo papel da Africa do Sul como pólo regional (79% das exportações da zona) tem oscilado entre as atribuições de um organismo de integração económica (união aduaneira, livre circulação de pessoas e capitais, gestão das migrações) e as de um organismo de união política

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África: globalização vs marginalização (11)

Novas tecnologias da informação e da comunicação (NTIC)

o impacto da revolução tecnológica em África é ainda muitolimitado: custo elevados das comunicações, caudais fracos, poucos utilizadores, concentração espacial e social

Utentes de internet (por mil pessoas):

OCDE – 1990: 2,8; 2001: 332,0

África subsariana – 1990: - ; 2001: 7,8

Mali – 2001 : 2,9

A. Sul – 2001 : 64,9

A. Latina e Caraíbas – 1990: - ; 2001: 49,0

Chile – 2001 : 65,6

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África: globalização vs marginalização (12)

Novas tecnologias da informação e da comunicação (NTIC)

Custos de utilização:

África – 60 usd por 5 horas de internet

EUA – 29 Usd por 20 horas de internet

A. Subsariana – 1990: - ; 2001: 28

Mali – 2001: 4

Assinantes de telemóveis (por mil pessoas):

OCDE – 1990: 10; 2001: 539

A. Sul – 2001: 242

A. Latina e Caraíbas – 1990: - ; 2001: 160

Chile – 2001: 342

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África: globalização vs marginalização (13)

saltos tecnológicos com potencialidades elevadas (grande capacidade das elites em se adaptarem à modernidade); mas o efeito do contexto económico-social faz com que o acesso àsNTIC em África esteja concentrado nas capitais e cantonado numnúcleo muito reduzido da população;

fraco efeito multiplicador sobre o desenvolvimento e a competitividade, e portanto sobre a inserção na globalização; para superar estes bloqueios:

PNUD e BM iniciaram em 1997 o programa UVA –Universidade Virtual Africana – cujo objectivo é diminuir a fractura digital e contribuir para a formação científica e técnica

PNUD lançou, em 2003, um programa específico para o continente denominado “Internet Initiative for Africa”

Novas tecnologias da informação e da comunicação (NTIC)

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África: globalização vs marginalização (14)

Ajuda pública ao desenvolvimento (APD)

os países da África Subsariana mantêm-se dependentes da ajuda externa para fazer face à pobreza e integrar a economia mundial

APD em % do PIB – países em desenvolvimento:

A. Subsariana – 1990: 6,13%; 2001: 4,55%

A. Latina e Caríbas – 1990: 0,48%; 2001: 0,32%

Ásia do Sul – 1990: 1,18%; 2001: 0,84%

APD em % do PIB – países doadores:

1990: 0,33%; 2001: 0,22%

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África: globalização vs marginalização (15)

Ajuda pública ao desenvolvimento (APD)

Declínio da APD que afectou sobretudo as zonas e países mais pobres (A. Subsariana e Ásia)

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África: globalização vs marginalização (16)

Ajuda pública ao desenvolvimento (APD)

consenso de Monterrey - Conferência Internacional sobre o Financiamento do Desenvolvimento (México, 2002): compromisso dos países doadores – atingirem até 2015 a meta dos 0,70% do PIB (0,15% a 0,20% para os PMA)

se o conjunto dos países do CAD (Comité de Assistência ao Desenvolvimento) da OCDE aplicassem o consenso de Monterrey, a APD atingiria o montante de 165 mil milhões Usd/ano – 3 X o nível actual

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África: globalização vs marginalização (17)

Ajuda pública ao desenvolvimento (APD)

necessidade reorientar objectivos e métodos da APD:

• passar da assistência condicionada a relações de parceria

• harmonizar objectivos dos países doadores e objectivos dos países receptores segundo as prioridades definidas por estes últimos (ajuda deve acompanhar e reforçar dinâmicas internas)

• parceria público - privado

• definir/implementar políticas estratégicas e coerentes

• princípio de subsidariedade: APD deve completar e não substituir-se às funções dos Estados e actores nacionais

• atenção especial aos “bens essenciais” (Rawls e Sen) -respondem a necessidades de base e geram liberdade e justiça social (agenda de “trabalho digno” da OIT)

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África e globalização: perspectivas possíveis (1)

dos PAS ao NEPAD : por uma inserção positiva de África numa globalização justa

PAS, anos 80 e 90: instituições de Bretton Woods lançam políticas de ajustamento estrutural (liberalização dos preços, liberalização do do sector bancário, desregulamentação do comércio…)

é ponto assente que os PAS, centrados numa política a curto prazo de estabilização económica, não produziram os efeitos macro-económicos esperados quanto ao crescimento e tiveram custos sociais elevados

1999: BM e FMI iniciaram um conjunto de programas de redução da pobreza nos PMA, designados por PRSP (Documentos de Estratégia de Redução da Pobreza); integrados nos “Objectivos deDesenvolvimento do Milénio” – NU, 2000 – representam uma mudança de paradigma: promover um desenvolvimento sustentado com base na participação das populações

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África e globalização : perspectivas possíveis (2)

dos PAS ao NEPAD : por uma inserção positiva de África numa globalização justa

2002: lançamento do NEPAD – “ New Partnership for African Development” no quadro da UA (fusão de 3 iniciativas africanas sob a égide do PR Argélia: Plano Omega - Senegal; Projecto de Renascimento Africano –África do Sul; Plano Director para África - Nigéria)

NEPAD: uma visão endógena e estratégica para o desenvolvimento de África, articulada em torno de 10 objectivos, com mecanismos de acompanhamento e avaliação dos resultados

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África e globalização : perspectivas possíveis (3)

dos PAS ao NEPAD : por uma inserção positiva de África numa globalização justa

NEPAD - uma visão alternativa:

• responsabilização/compromisso dos africanos quanto aos destinos do continente

• ultrapassar dois paradigmas paralisantes: Estado centralizador omnipresente; liberalismo redentor

• evitar o panafricanismo de uma só África: tónica na África das regiões e territórios e no reforço da regionalização

• objectivo de topo: assegurar a boa governação e reforçar a capacidade reguladora e distributiva do Estado

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África e globalização : perspectivas possíveis (4)

dos PAS ao NEPAD : por uma inserção positiva de África numa globalização justa

NEPAD - uma visão alternativa:

• forte prioridade: reforçar e modernizar as infra-estruturas (transportes, energia, água, telecomunicações…)

• promover parcerias público/privado

• reforçar a coerência das políticas a nível nacional, regional e local, evitando a fragmentação das intervenções e dos recursos

• reforçar as parcerias com as Organizações do sistema multilateral e com os doadores bilaterais

Page 57: África e a Globalização

África e globalização : perspectivas possíveis (5)

a título de conclusão

nem afro-pessimismo, nem afro-optimismo; mas a constatação de sinais de uma outra dinâmica interna, vinda dos próprios africanos e com um grande valor simbólico no campo da acção prática: um compromisso dos africanos –em parceria com os doadores externos – para uma África mais democrática, mais estável, mais equitativa, mais e melhor inserida na economia global

“ É necessário impor uma verdadeira revolução copérnica, a tal ponto está enraizado [na Europa] o hábito de agir por nós, de pensar por nós, de pôr e dispor por nós, em suma o hábito de contestar que tenhamos direito à iniciativa, que o mesmo é dizer o direito à nossa personalidade própria”

Aimé Césaire, 1956