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agendado setor

financeiro

Dar condições ao setor financeiro para desempenhar o papel que lhe reserva a

Constituição e que dele espera a sociedade

2015 www.cnf.org.br

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Há quem diga que, no Brasil, existem “sistemas financeiros”, ao invés de um único Sistema Financeiro Nacional. Essa percepção nasce do contato diário dos usuários com instituições financeiras modernas e eficientes, que oferecem ampla gama de produtos e serviços para satisfazer diferentes necessidades dos vários segmentos da população. São tantas as faces do Sistema Financeiro Nacional que, de fato, po-de-se pensar em muitos sistemas. O setor financeiro brasileiro oferece facilidades, tais como caixas eletrônicas (ATMs) e operações pela Internet, que, muitas vezes, não são encontráveis em países mais desenvolvidos. Um setor financeiro flexível e ágil, pronto a se adaptar às mudanças na economia e na sociedade, é também um setor financeiro complexo. Muitas vezes, por falta de informação, é apontado como responsável por distorções na economia e na sociedade.

No mundo todo, os setores financeiros têm peculiaridades que os distinguem dos demais setores da economia. Numa cadeia produtiva, diferentes setores se entre-laçam numa sequência que agrega valor às sucessivas etapas que transformam insumos em bens e serviços. O setor financeiro não se entrelaça com essas etapas: ele as permeia todas. Não há fase da produção de bens ou serviços, industriais ou agrícolas, que não dependa, em algum momento, de uma instituição ou de um produto ou serviço financeiro. Uma crise num setor da economia pode trazer con-sequências muito graves para produtores, empregados e consumidores de dado bem ou serviço; uma crise no setor financeiro pode trazer consequências ainda mais graves para todos os produtores, empregados e consumidores. Um setor fi-nanceiro saudável, sólido e transparente é benéfico para toda a economia e para todas as camadas da sociedade. Uma economia dinâmica, competitiva e sustentá-vel é benéfica para o setor financeiro.

Essa estreita relação entre o setor financeiro e os demais setores da economia pau-ta a visão de longo prazo da CNF. Em sua atuação institucional, a Confederação não se limita a defender interesses de segmentos do setor financeiro. A CNF pro-move debates e participa das grandes discussões que contribuem para o desenvol-vimento econômico e social do país. Na sua atuação, a Confederação se preocupa, permanentemente, em promover a ética e a transparência nas relações entre as instituições financeiras, bem como entre estas, a sociedade e o Estado.

Apresentação

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A Confederação Nacional das Instituições Financeiras, também designada pela sigla CNF, é uma associação civil sem fins lucrativos que congrega as entidades represen-tativas das instituições financeiras e assemelhadas, de âmbito nacional ou regional.

No Congresso Nacional, a CNF exerce prerrogativas exclusivas de entidades de clas-se de grau superior. A CNF está credenciada pelas Mesas do Senado Federal e da Câmara dos Deputados para o fornecimento de subsídios de caráter técnico, docu-mental, informativo e instrutivo aos Relatores de proposições, aos membros das Comissões, às Lideranças e aos demais parlamentares interessados e ao órgão de assessoramento legislativo. É que o dispõem o art. 259 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados (Resolução n° 10/2009) e o art. 30, §1°, do Ato da Comissão Diretora do Senado Federal n° 17/1987.

Também ao Poder Executivo a CNF está credenciada para participar de Conselhos, Comitês, Comissões e Grupos de Trabalho, como, por exemplo, o Conselho de Recur-sos Administrativos (CARF) e o Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS).

Um Sistema Financeiro Nacional sólido, moderno e eficiente que promova a ética e a transparência nas relações entre instituições financeiras, bem como entre estas e a sociedade e o Estado, com vistas ao desenvolvimento econômico e social do Brasil, harmônico em todas as regiões do país.

Orientar, coordenar, promover, defender e representar os interesses das instituições financeiras no plano nacional, com vistas ao fortalecimento e ao desenvolvimento das suas atividades, cooperando para o desenvolvi-mento econômico e social do país, observados os princípios da livre iniciati-va e da economia de mercado, voltadas para os interesses da coletividade.

VISÃO

MISSÃO

O que é e o que faz a CNF

No Congresso Nacional, as matérias que envolvem o setor financeiro são, invaria-velmente, questões técnicas. São também questões que afetam não apenas o setor, mas toda a economia e toda a sociedade. Seus aspectos econômicos, contábeis, financeiros, matemáticos, jurídicos, tributários, tecnológicos, regulatórios e de segurança são sempre complexos. Para a CNF, o correto encaminhamento dessas questões requer minucioso e aprofundado estudo de todos os aspectos envolvidos, por atores despidos de preconceitos e isentos de posições preestabelecidas.

Esse é o duplo papel da Agenda do Setor Financeiro. Por um lado, a ASF serve de catalisadora do consenso entre as instituições financeiras sobre as questões que afetam todas elas. O que segue neste documento é produto de discussões entre as instituições financeiras e representa o denominador comum do setor para am-plo espectro de temas. Por outro lado, a ASF constitui subsídio para Parlamentares, Consultores e Assessores do Congresso Nacional, entre outros, que se debruçam sobre temas ou diretamente ligados ao setor financeiro, ou vinculados a questões que afetam o ambiente de negócios em que opera o setor – tais como as trabalhis-tas, tributárias, previdenciárias, sociais, ambientais, de segurança, de direitos do consumidor e de eficiência econômica.

A Agenda do Setor Financeiro trata de 24 temas e 214 subtemas. Para cada um de-les, são alinhadas informações jurídicas, econômicas, financeiras e históricas que justificam as posições do setor – enunciadas com destaque. Do conjunto dessas posições emerge a clara percepção de que a ASF é balizada por uma orientação fundamental: dar condições ao setor financeiro para desempenhar o papel que lhe reserva a Constituição e que dele espera a sociedade.

Visite nosso portal www.cnf.org.br para melhor conhecer as contribuições que esse setor tão importante faz à economia e à sociedade brasileiras. Ao longo do ano, o portal publicará atualizações na Agenda do Setor Financeiro. A CNF está à sua dis-posição para oferecer informações adicionais.

A Agenda do Setor Financeiro

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1 Representar perante os órgãos, entidades e autoridades competentes, os inte-resses gerais das Associadas;

2 Tornar públicas posições do setor financeiro sobre questões relevantes para os objetivos sociais da CNF, sempre que solicitada por suas Associadas;

3 Indicar para eleição ou designar representantes junto a órgãos públicos de ju-risdição nacional, no interesse geral das Associadas, ressalvadas as indicações específicas da competência de cada Associada;

4 Colaborar com o Estado, como órgão técnico e consultivo, no estudo e solução dos problemas que se relacionem com as atividades e categorias econômicas coordenadas;

5 Representar as Associadas, judicial ou extrajudicialmente, independentemente de mandato, bem como requerer mandado de segurança coletivo, nos termos da legislação vigente, do artigo 5°, incisos XXI e LXX, alínea “b”, da Constituição da República Federativa do Brasil, ou outra medida judicial cabível, com vistas a defender os direitos e interesses das Associadas;

6 Acompanhar, junto ao Congresso Nacional e demais órgãos legislativos ou nor-mativos, os projetos e propostas que versarem sobre as atividades e operações dos agentes econômicos e do sistema financeiro, bem como apresentar propo-sições e sugestões de aprimoramento.

PRERROGATIVAS PREVISTAS NOS

ESTATUTOS SOCIAIS

1 Orientar, coordenar, defender e representar os interesses das instituições finan-ceiras no nível nacional;

2 Colaborar para o fortalecimento e desenvolvimento harmônico das instituições financeiras em todas as regiões do país;

3 Cooperar para o desenvolvimento econômico e social do país, observados os princípios da livre iniciativa e da economia de mercado;

4 Patrocinar a solidariedade entre as categorias econômicas do sistema financei-ro, compondo e harmonizando seus interesses;

5 Promover, perante os diversos setores de atividade econômica do País, órgãos de comunicação, usuários dos serviços das entidades filiadas e público em ge-ral, a divulgação das atividades do Sistema Financeiro Nacional no contexto social e no atendimento aos interesses da coletividade;

6 Manter relação com organizações internacionais de interesses comuns, poden-do a elas se filiar;

7 Desenvolver conjuntamente com suas Associadas programas de formação, qualificação e certificação para dirigentes e funcionários das entidades Asso-ciadas e de suas afiliadas, bem como para terceiros que tenham interesse nas atividades e funcionamento do sistema financeiro;

8 Promover e realizar eventos tais como exposições, cursos, congressos, semi-nários, colóquios, conferências, palestras e outras iniciativas, com vistas ao aprimoramento técnico e profissional dos recursos humanos que integram os quadros das instituições financeiras e do público em geral.

OBJETIVOS

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1 EDUCAÇÃO FINANCEIRA 19

2 DIREITOS DO CONSUMIDOR 232.1 Atualização do Código de Defesa do Consumidor 24

2.1.1 Superendividamento 242.1.2 Comércio eletrônico 28

2.2 Proteção dos dados pessoais 292.3 Ações coletivas 302.4 Cessão de crédito 302.5 Decisões dos Procons – Título Executivo 312.6 Cadastro Positivo 322.7 Banco de dados de inadimplentes 332.8 Boletos de pagamento 342.9 Contratos 362.10 Direito de arrependimento 362.11 Venda casada 372.12 Tempo de espera em filas 372.13 Liquidação antecipada 38

2.13.1 Devolução de valores 39

3 QUESTÕES SOCIAIS 433.1 Inclusão financeira 433.2 Agenda Nacional do Trabalho Decente 443.3 Política Nacional de Participação Social 453.4 Igualdade no mundo do trabalho 473.5 Lei Brasileira da Inclusão da Pessoa com Deficiência 473.6 Acessibilidade 483.7 Cláusula de observância de direitos humanos em contratos 50

sumário

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8 REGULAMENTAÇÃO DA PROMOÇÃO DE INTERESSES LEGÍTIMOS JUNTO AO SETOR PÚBLICO (LOBBY) 103

9 EFICIÊNCIA JUDICIÁRIA E SEGURANÇA JURÍDICA 1079.1 Reformas de códigos legais 108

9.1.1 Código Comercial 1089.1.2 Código Penal 1099.1.3 Código de Processo Penal 1109.1.4 Código do Trabalho 111

9.2 Justiça do Trabalho 1119.2.1 Execução no processo trabalhista 1139.2.2 Competência penal da Justiça do Trabalho 1149.2.3 Depósito recursal 1149.2.4 Honorários advocatícios de sucumbência 115

9.3 Ação Civil Pública (ACP) 1169.4 Desconsideração da personalidade jurídica 1179.5 Interdito proibitório 1189.6 Estratégia Nacional de Não Judicialização (Enajud) 119

9.6.1 Mediação e arbitragem 1209.7 Pacto Republicano 1219.8 Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência

dos Juizados Especiais dos Estados e do Distrito Federal 122

10 MERCADO DE CAPITAIS 12510.1 Ampliação do acesso dos investidores ao mercado

de capitais com adequada proteção 12710.2 Capital empreendedor 12810.3 Ampliação do acesso das empresas ao mercado primário de capitais 12810.4 Ampliação do acesso das empresas ao mercado secundário de capitais 12910.5 Diversificação de investidores 13010.6 Derivativos e mercados futuros 13010.7 Varas da Justiça especializadas em

matérias ligadas ao mercado de capitais 13110.8 Aceitação de garantias de investidores estrangeiros 13210.9 Utilização de recursos do FGTS para aquisição de ações 132

11 BANCO CENTRAL 13511.1 Funções de supervisão bancária 136

4 QUESTÕES AMBIENTAIS 534.1 Sustentabilidade em instituições financeiras 544.2 Responsabilidade do agente financiador (poluidor indireto) 554.3 Calamidades públicas 564.4 Compras sustentáveis 574.5 Política Nacional de Resíduos Sólidos 58

5 REFORMAS ESTRUTURAIS 615.1 Novo modelo previdenciário para novos trabalhadores 615.2 Reforma trabalhista e sindical 645.3 Reforma fiscal 65

5.3.1 Controle dos gastos públicos – Lei de Responsabilidade Fiscal 675.3.2 Mudança do indexador das dívidas dos Estados e Municípios 67

6 EFICIÊNCIA ECONÔMICA E COMPETITIVIDADE 716.1 Custo de observância 716.2 eSocial – Envio unificado de informações 736.3 Regulamentação da Lei de Combate à Corrupção 746.4 Concentração bancária 766.5 Lucro e rentabilidade bancária 776.6 Tratamento igualitário entre instituições

financeiras de capital nacional e de capital estrangeiro 786.7 Duplo registro 786.8 Correspondentes no país 796.9 Governança corporativa: responsabilidade dos administradores 816.10 Desburocratização – Simplificação do registro

e legalização de empresas e negócios 836.11 Desburocratização para obtenção de Certidão Negativa de Débito 846.12 Protesto das Certidões de Dívida Ativa 866.13 Desindexação da economia 876.14 Desoneração da folha de pagamentos 886.15 Territorialidade 896.16 Novo Marco Regulatório da Mineração 906.17 Agências reguladoras 916.18 Publicação de balanços 926.19 Microempresas e empresas de pequeno porte 936.20 Recuperação de empresas 95

6.20.1 Limites do plano de recuperação judicial 966.21 Digitalização / Arquivamento de documentos 97

7 REGULAMENTAÇÃO DO ARTIGO 192 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL 99

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16.4 Créditos tributários 18416.5 Tributação sobre ganhos de capital não realizados 18516.6 Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) 18716.7 Incidência de Imposto de Renda sobre lucros e dividendos 18816.8 Transparência de dados fiscais 18916.9 Execução fiscal 19016.10 Participação nos lucros ou resultados (PLR) 19116.11 Tributação de benefícios sem inscrição

no Programa de Alimentação do Trabalhador 19216.12 Tributação de incentivos à contratação e à produtividade 19316.13 Tributação de empresas coligadas e controladas 19416.14 Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro,

ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários (IOF) 19516.15 Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) 19616.16 Contribuições sobre Movimentação Financeira 19716.17 Tributação sobre grandes fortunas 19716.18 Encargo financeiro para exportação 19816.19 Ganhos de capital de pessoas físicas na negociação de ações 19916.20 Tributação dos títulos de renda fixa 19916.21 Tributação das operações de trocas de contratos

com fluxos de caixa (swap) 20016.22 Tributação do hedge agropecuário de pessoas físicas 20016.23 Tributação dos títulos do agronegócio 20016.24 Diferenciação entre fundos de curto prazo e de longo prazo 20116.25 Tributação do investimento de longo prazo 20116.26 Tributação de fundos de pensão 20216.27 Extinção da tributação semestral incidente

sobre a carteira dos fundos (“come-cotas”) 20216.28 Tributação na aquisição de cota de fundo de investimento imobiliário 203

17 QUESTÕES TRABALHISTAS E SINDICAIS 20717.1 Contribuição social sobre o FGTS 20817.2 Terceirização 20917.3 Criação das Juntas de Julgamento e do Conselho

Administrativo de Recursos Trabalhistas 21017.4 Tributação adicional sobre rotatividade de mão de obra 21217.5 Compensação da gratificação de função com a 7ª e 8ª horas 21317.6 Sistema Único do Trabalho (SUT) 21317.7 Capacitação e qualificação do trabalhador 215

17.7.1 Desoneração de bolsas de estudos 21617.8 Concessão de benefícios em dinheiro 21717.9 Acordo Coletivo Especial 21817.10 Equiparação de correspondentes a bancários 219

12 CRÉDITO 13912.1 Alienação fiduciária 14012.2 Crédito consignado 14112.3 Recursos de previdência complementar dados em garantia 14312.4 Crédito Direto ao Consumidor (CDC) 14412.5 Cédula de crédito bancário eletrônica 14412.6 Microcrédito 14512.7 Crédito rural 14612.8 Cooperativas de crédito 14712.9 Imóveis rurais dados em garantia 14812.10 Fundo Garantidor de Créditos (FGC) 149

13 CRÉDITO IMOBILIÁRIO 15313.1 Concentração de atos registrais na matrícula 15413.2 Portabilidade do crédito imobiliário 15513.3 Depósitos de caderneta de poupança 15513.4 Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) 156

13.4.1 Atualização dos indexadores do FGTS e FAT 15713.5 Patrimônio de afetação e regra do incontroverso 15813.6 Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS) 15913.7 Consórcio imobiliário 16013.8 Garantia hipotecária 16013.9 Impenhorabilidade do bem de família 161

14 TAXA DE JUROS E MARGENS BANCÁRIAS (SPREAD) 16514.1 Capitalização de juros para prazos inferiores a um ano 16614.2 Tabela Price 16814.3 Tabelamento de juros 16914.4 Tabelamento de margem bancária (spread) 17014.5 Limitação dos juros cobrados sobre cheque especial 17214.6 Depósito compulsório 172

15 FINANCIAMENTO DE LONGO PRAZO 17515.1 Letras Financeiras Imobiliárias e covered bonds 17615.2 Parcerias Público-Privadas (PPP) 17715.3 Privatização 178

16 QUESTÕES TRIBUTÁRIAS 18116.1 Código de Defesa do Contribuinte 18216.2 Reforma do Processo Administrativo Fiscal 18316.3 Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) 183

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20 QUESTÕES BANCÁRIAS 25920.1 Atividades bancárias como “serviços essenciais” 25920.2 Sigilo bancário 26020.3 Tarifas bancárias 26220.4 Horário de funcionamento de agências bancárias 26320.5 Cheques 263

20.5.1 Pagamento de cheques pré-datados, promissivos ou sem fundos 26420.5.2 Sustação de cheques 265

20.6 Transações eletrônicas 265

21 ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING) 26921.1 Imposto sobre Serviços de Qualquer

Natureza (ISS) sobre operações de leasing 27021.2 Valor residual garantido (VRG) 27121.3 Liquidação antecipada em contratos de leasing 272

22 MEIOS ELETRÔNICOS DE PAGAMENTO 27522.1 Cartões de crédito 27722.2 Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) e cartões de crédito 27822.3 Diferenciação dos preços em função do meio de pagamento utilizado 28022.4 Limitação dos juros sobre o crédito rotativo 28122.5 Vouchers de refeição e de alimentação 28122.6 Programas de fidelidade 28222.7 Novos arranjos de pagamento eletrônicos e moedas virtuais 283

23 PADRÕES CONTÁBEIS 28723.1 Acordo de Basileia III 28723.2 Dedutibilidade imediata da provisão de créditos duvidosos 28823.3 Harmonização de regras contábeis com padrões internacionais 291

24 QUESTÕES INTERNACIONAIS 29324.1 Brasil Investimentos e Negócios – Instituto BRAiN 29324.2 Denúncias de Tratados e Emendas à Constituição 29424.3 Prevenção bilateral à evasão fiscal:

Foreign Account Tax Compliance Act (FATCA) 29524.4 Prevenção multilateral à evasão fiscal: Convenção

sobre Assistência Mútua Administrativa em Assuntos Tributários 29624.5 Convergência regulatória entre os mercados

de capitais do Brasil e dos Estados Unidos 29824.6 Acordo para Evitar a Dupla Tributação entre

o Brasil e os Estados Unidos 29924.7 Tratados internacionais sobre serviços financeiros 30124.8 Migração de trabalhadores qualificados 30324.9 Ponto de Contato Nacional (PCN) 304

17.11 Jornada de trabalho 22017.12 Fixação de piso salarial 22117.13 Estabilidade da relação empregatícia 22117.14 Estabilidade provisória da relação empregatícia 22317.15 Sociedades cooperativas e estabilidade provisória 22417.16 Acidente de trabalho 22517.17 Adicional de penosidade 22517.18 Seguro Acidente de Trabalho (SAT) 22617.19 Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) 22617.20 Suspensão de contrato de trabalho

em caso de crise econômico-financeira 22817.21 Licença maternidade 22817.22 Outras licenças trabalhistas 22917.23 Assédio moral 23017.24 Unicidade sindical 23117.25 Acesso das entidades sindicais às informações das empresas 23117.26 Participação dos trabalhadores na gestão das empresas 23217.27 Contribuição assistencial 23317.28 Contribuição negocial 23417.29 Ultratividade das convenções, acordos

e contratos coletivos de trabalho 23417.30 Taxa de juros da mora trabalhista 235

18 QUESTÕES PREVIDENCIÁRIAS 23918.1 Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS) 24018.2 I Conferência Nacional da Previdência Social 24118.3 Fator previdenciário 24218.4 Ressarcimento ao Sistema Único de Saúde (SUS) 24318.5 Pensões e benefícios 24318.6 Reajuste dos benefícios observando o salário mínimo 244

19 QUESTÕES DE SEGURANÇA 24719.1 Uniformização da legislação sobre segurança bancária 24819.2 Crimes eletrônicos 24819.3 Combate à lavagem de dinheiro 25019.4 Definição do crime de Terrorismo 25119.5 Vigilância privada 25219.6 Caixas eletrônicos 25319.7 Agências bancárias 25419.8 Segurança do transporte de valores 25519.9 Tecnologia de segurança 255

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1CAPÍTULO 1: EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Uma educação financeira de qualidade propicia be-nefícios tanto para os consumidores quanto para as instituições com que estes se relacionam. É por essa razão que a educação financeira está no topo da Agenda do Setor Financeiro.

Para os consumidores, conhecimento de produtos e serviços, do funcionamento do sistema financeiro nacional e de princípios de matemática financeira, entre outros, facilita a identificação das melhores al-ternativas de compra a prazo, de tomada de crédito e de investimento de sua poupança. Educação finan-ceira previne contra riscos desnecessários e contri-bui para o equilíbrio das contas familiares, com foco no planejamento, no controle dos gastos e na impor-

tância de se poupar. Aliar o perfil empreendedor do brasileiro a uma educação financeira de qualidade contribui para o crescimento econômico sustentado e mitiga o superendividamento.

Para as instituições, por sua vez, a educação finan-ceira contribui para cimentar relacionamentos sóli-dos e duradouros com seus clientes, o que fomenta a bancarização e o crédito, com redução gradual da inadimplência e das margens bancárias (spread). Também contribui para o lançamento de gama mais variada de produtos financeiros, à medida que os brasileiros se voltem para o planejamento de longo prazo e recorram cada vez mais à previdência priva-da, ao crédito imobiliário, ao financiamento educa-

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia iniciativas multidisci-plinares que permeiem toda a formação do futuro consumidor. Ao mesmo tempo, defende medidas pontuais que ofereçam educação financeira ou para segmentos específicos da população, ou sobre aspectos peculiares das atividades do setor financeiro, desde que tais ações não substituam o tratamento transversal con-templado, por exemplo, pela Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF).

educação financeira

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 201520

cional de suas famílias, à formação de carteiras di-versificadas de ativos, para mencionar algumas das possibilidades.

Educação financeira pode ser oferecida em dife-rentes níveis de complexidade, para os mais varia-dos públicos. Assemelha-se, em grande medida, ao aprendizado de matemática, que permeia as mais diversas matérias acadêmicas. Assim, a educação financeira ideal não se limita a um aprendizado sim-ples, que possa ser adquirido numa disciplina espe-cífica no currículo escolar. Ao contrário, ela deveria

entremear diferentes matérias ao longo da formação do brasileiro. Essa é a orientação fundamental da Es-tratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF).

O Decreto nº 7.397/2010, que institui a ENEF, além de dispor sobre a gestão, estabelece que a execução da Estratégia dar-se-á em conformidade com diretrizes como: (i) a gratuidade das ações de educação finan-ceira; (ii) a formação de parcerias com órgãos e enti-dades públicas, bem como instituições privadas; (iii) a prevalência do interesse público; e (iv) a atuação permanente e em âmbito nacional.

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CAPÍTULO 2: DIREITOS DO CONSUMIDOR 23

2 O respeito das instituições financeiras aos direitos do consumidor está solidamente vinculado a uma relação mútua de confiança. Ao fazer um depósito, os clientes acreditam que seus recursos estarão dis-poníveis na forma e no prazo pactuados. Ao conce-der um empréstimo, as instituições acreditam que os recursos serão repagados nas condições contra-tadas. Confiança é a matéria-prima fundamental das instituições financeiras. A eventual violação dos di-reitos do consumidor enfraquece esse vínculo e afe-ta o bom funcionamento do setor financeiro.

A observação desses direitos não se confunde com eventuais erros operacionais, inevitáveis num sis-tema que gerencia mais de 142 milhões de clientes, com 103 milhões de contas correntes e 125 milhões de contas poupança (isto é, 228 milhões de contas bancárias). Resultados do balanço de instituições mais reclamadas divulgados pelo Banco Central (BACEN) em novembro de 2014 evidenciam que, ao considerar-se o número de clientes e volume de ser-viços prestados, os bancos estão entre as empresas brasileiras com o menor índice de queixas relativas.

No ranking das dez instituições (com mais de dois milhões de clientes) com maior número de recla-mações, para cada 100 mil clientes o banco mais reclamado tinha 1,27 reclamação. O número de re-clamações pode ser considerado efetivamente baixo em um sistema que lida com um assunto tão sensí-vel quanto o dinheiro e que mantém uma relação quase diária com seus clientes, processando anual-mente mais de 40,2 bilhões de transações, a partir dos inúmeros canais disponibilizados, como Internet Banking (41% das transações), caixas automáticos - ATM (23%), pontos de venda - POS (13%) e agências (10%), entre outros.

A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) do Ministério da Justiça trabalha com a possibilidade de realizar a 1ª Conferência Nacional de Defesa do Consumidor (I CONDEC) para o debate democrático de aperfeiçoamento das normas referentes às rela-ções de consumo. Esse evento, que poderá ocorrer entre 2015 e 2016, discutiria, entre outros temas: crédito e superendividamento; relacionamento do setor financeiro com seus clientes; inovações tec-

direitos do consumidor

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras acompanha com inte-resse propostas que acrescentem transparência e correção às relações de con-sumo, ao mesmo tempo em que observem tanto os benefícios aos consumi-dores quanto as implicações de custos para as empresas. Para as instituições financeiras, tais propostas devem assegurar o equilíbrio entre os direitos dos consumidores e a viabilidade econômica dos provedores de bens e serviços.

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CAPÍTULO 2: DIREITOS DO CONSUMIDORAGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 2524

nológicas e seus reflexos nas relações de consumo; consumo sustentável; prestação de serviços pela in-ternet e comércio eletrônico. A CNF está preparada para participar do evento.

2.1 ATUALIZAÇÃO DO CÓDIGODE DEFESA DO CONSUMIDOR

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras considera oportuna a revisão do Có-digo de Defesa do Consumidor, para tratar de questões como mercado de crédito, prevenção do superendividamento, comércio eletrônico, entre outras. Para a reforma do CDC, a CNF pondera que dispositivos legais que introdu-zem incerteza em relações contratuais aumen-tam o risco dessas relações e, por consequên-cia, têm reflexo no preço (tarifas ou taxas de juros, por exemplo). Por essa razão, eventuais novos dispositivos, ou alterações em regras já existentes, deveriam privilegiar a livre negocia-ção em ambiente concorrencial, no âmbito de marcos legais claramente definidos, resguar-dados os direitos dos consumidores.

Em 2010, foi instalada no Senado uma comissão de especialistas para estudar medidas que promovam a modernização do Código de Defesa do Consumidor (CDC) com o intuito de adequá-lo à dinâmica atual das relações de consumo. O Ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Herman Benjamin, um dos idealizadores do CDC, presidiu os trabalhos dessa comissão de especialistas. O grupo elaborou três anteprojetos, cuja tramitação legislativa iniciou-se em 2012, que tratam de: superendividamento, ações coletivas e comércio eletrônico.

Aos anteprojetos dessa Comissão somam-se outras iniciativas do Ministério da Justiça, além de projetos já em tramitação no Congresso Nacional que promo-vem alterações substanciais na norma.

2.1.1 SUPERENDIVIDAMENTO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que fortaleçam a legislação para evitar o superendividamento, com o propósito tanto de proteger consumido-res contra o excesso de dívidas quanto de auxili-á-los a retornarem ao mercado de crédito. Para a CNF, parte importante da solução desse pro-blema passa pela conciliação entre credores e devedores, na qual o acordo deve sempre ser obtido por meio de mecanismos de mercado, a fim de se evitar o risco moral, isto é, que consu-midores se superendividem por contarem – des-de o início – com um possível acordo posterior que reduzirá seus encargos.

Em linguagem popular, o termo “endividamento” significa muitas vezes contração de obrigações além da capacidade de pagamento. Tecnicamente, porém, o termo refere-se a evento corriqueiro na vida em sociedade: significa, na verdade, ter uma obrigação junto a um fornecedor, que pode ser um banco, um supermercado, um açougue, um locador do imóvel. O endividamento não deve ser encarado como algo necessariamente negativo, mas, sim, como instru-mento para se alcançar metas e realizações.

Já o superendividamento é a patologia do crédito. A CNF recebeu com grande interesse o Manual de Preven-ção e Tratamento do Superendividado, preparado pela professora Cláudia Lima Marques (uma das pioneiras em estudos acadêmicos sobre superendividamento no país) com o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) do Ministério da Justiça. Lançado em 2011, o Manual inicia uma série de investigações científicas sobre temas pertinentes à defesa do consu-midor. Segundo o Manual do Ministério da Justiça, o superendividamento pode ser definido como:

Impossibilidade global de o devedor pessoa física, consumidor, leigo e de boa-fé pagar todas as suas

dívidas atuais e futuras de consumo (excluídas as dívidas com o Fisco, oriundas de delitos e de alimen-tos) em um tempo razoável com a sua capacidade atual de rendas e patrimônio.

O uso indevido de produtos e serviços financeiros pode decorrer de diferentes causas, dentre as quais se destaca carência de educação financeira. Para que possam comparar as possibilidades que estão ao seu alcance, os clientes necessitam compreender as características dos diversos produtos e serviços financeiros, saber calcular e comparar os custos de cada produto, bem como determinar sua capacida-de de endividamento.

Do lado dos consumidores, o conhecimento de suas necessidades e dos instrumentos financeiros que atendem a essas necessidades é propulsor de pros-peridade e de realização de projetos. Do lado das instituições financeiras, o conhecimento de seus clientes e de suas limitações é crítico para evitar que sejam ofertados produtos e serviços inadequados. Os clientes, porém, usualmente se endividam em mais de uma instituição financeira, além de outros estabelecimentos. Assim, uma das principais causas do superendividamento é a falta de informações so-bre o conjunto dos compromissos financeiros assu-midos por determinado cliente em diferentes esta-belecimentos, em diversas praças.

A contenção do superendividamento é um esforço no qual ganham todas as partes envolvidas: a po-pulação, que passa a ter no crédito uma ferramenta para a realização de seus projetos; a sociedade como um todo, porque o uso consciente do crédito gera um consumo perene; e os bancos, com uma menor carga de inadimplência.

É preciso sempre coibir os abusos, que quando cons-tatados devem ser punidos de acordo com os precei-tos e normas já vigentes, inclusive aqueles previstos no atual Código de Defesa do Consumidor. Nesse sentido, as reformas têm que ocorrer de modo a evi-tar um aumento de custo e, consequentemente, um

aumento do preço de produtos e serviços, afetando indiretamente o consumidor.

A Confederação apoia a atualização do Código de Defesa do Consumidor para amparar, ainda mais, o hipossuficiente em defesa dos seus direitos, enten-dendo, contudo, que “a norma não é escudo para a perpetuação de dívidas”, conforme defendido pelo ex-Ministro do Supremo Tribunal Federal, Carlos Al-berto Menezes Direito.

Outro aspecto de grande importância que merece uma discussão mais detalhada refere-se à responsa-bilidade solidária/subsidiária entre o fornecedor do crédito e o fornecedor do produto/serviço. Tramitam propostas nas quais, em caso de problemas de con-sumo, tanto o concedente do crédito quanto o ofer-tante do produto/serviço passariam a ser responsá-veis na relação de consumo concretizada com o uso do instrumento de pagamento futuro. Ao avaliar tais propostas do ponto de vista econômico e prático, a conclusão é no sentido de que são inadequadas aos propósitos que as justificariam.

Do ponto de vista econômico, ao atribuir solidarie-dade na relação de consumo, impõe-se responsabi-lidade ao agente financeiro da relação, sem que este tenha necessariamente uma ação pela qual possa moldar seu comportamento. Mais especificamen-te, no caso de créditos concedidos diretamente à pessoa física, quem decide sobre a aquisição de um bem (o que comprar, onde comprar, quanto comprar e quanto pagar) e a utilização (ou não) do instrumen-to de crédito é o consumidor. Já a decisão quanto à observância dos direitos do consumidor (exceto no que tange à relação de crédito propriamente dita) é a do ofertante do produto/serviço. Em nenhum mo-mento, nesse tipo de modalidade de crédito – que inclui crédito direto ao consumidor, cartão de crédi-to, cheque pré-datado e outros –, ao financiador do produto lhe é facultado opinar sobre a compra que está sendo feita, menos ainda vetar uma determina-da operação por considerá-la prejudicial aos interes-ses do consumidor.

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CAPÍTULO 2: DIREITOS DO CONSUMIDORAGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 2726

Ao atribuir-lhe um dever adicional, o de se respon-sabilizar solidariamente/subsidiariamente pelo es-torno de recursos despendidos em compras que, ex post, revelaram-se não aderentes às regras do Códi-go de Defesa do Consumidor, implicitamente conce-de-se um direito ao concedente de crédito de sele-cionar os usuários (lojistas) que podem ter acesso ao meio de pagamento (única forma de limitar o crédi-to) por uma presunção do que pode vir a ser o com-portamento futuro deste em qualquer aspecto legal (aplicação dos direitos do consumidor incluídos).

Ora, não se deve dar essa discricionariedade a um agente econômico privado. A presunção criaria dis-criminação entre pessoas e empresas. Cabe ao Esta-do a função de adotar medidas de repressão diante do não cumprimento das leis estabelecidas, poden-do a indústria financeira (e a sociedade) colaborar nesse sentido por diversos meios, entre os quais a prestação de informações relevantes – como inclu-sive a indústria de meios eletrônicos de pagamento já o faz em aspectos como sonegação fiscal (tribu-tação), crimes relacionados à lavagem de dinheiro e redes de pedofilia – ou a facilitação de estornos. Em caso algum, a indústria deve investir-se do poder de órgão fiscalizador e/ou repressor de quaisquer con-dutas dos seus consumidores.

A análise é distinta no caso de créditos concedidos à determinada relação de consumo predefinida – le-asing, crédito habitacional, carnês de lojas, cartões do tipo private label. Nesses casos, o agente finan-ceiro efetivamente vincula a operação de crédito ao consumo de determinado bem em determinado lo-cal. E, portanto, é ele – e não o consumidor – quem escolhe em qual local e para qual(is) bem(ns) esse crédito será usado – de forma que este possui uma ação pela qual se solidarizar. Por essa razão, as pon-derações a seguir tratam apenas acerca da primeira modalidade de crédito – concessão de crédito direto ao consumidor.

Nesse primeiro grupo, a proposição de mudança fei-ta ao CDC é inadequada economicamente e caminha

em prejuízo ao consumidor, devido a, pelo menos, dois motivos:

Primeiramente, pelo incentivo negativo que gera aos agentes. Como há uma separação entre os agentes que efetivamente atuam na relação de consumo e os que arcam com o evento em caso de conflito (des-cumprimento de direitos do consumidor) e como esse conflito não é fortuito – mas é em parte resultado de decisões explícitas dos agentes econômicos –, exacer-bam-se problemas de risco moral em duas frentes:

i) O consumidor, ciente de que a operação é ga-rantida pelo seu meio de pagamento, deixa de assumir cuidados óbvios no sentido de escolher fornecedores renomados e confiáveis nas suas relações de consumo a crédito – perfazendo o risco moral; e

ii) Os próprios varejistas, cientes de que os consu-midores não os diferenciam em função do cum-primento das regras do CDC (já que a garantia, em última instância, é a mesma – o fornecedor do instrumento de crédito, normalmente o car-tão de crédito), tenderão a reduzir a vigilância no cumprimento das regras estabelecidas pelo marco legal, gerando um processo de seleção adversa no varejo.

O resultado disso é um potencial crescimento – e não redução – das ações individuais que desrespei-tam o consumidor, gerando um processo vicioso de encarecimento dos meios de pagamento – que em última instância estão arcando com o custo. A única ação possível das empresas de cartões ou de bancos concedentes de créditos pré-aprovados será limitar o acesso de lojistas aos meios de pagamento eletrônico, restringindo (ou até mesmo extinguindo) as opções de compra do consumidor e assumindo um papel, que não lhe cabe, de órgão regulador do mercado.

Em segundo lugar, do ponto de vista dos custos de transação da economia, tramitam propostas que ten-dem a elevar excessivamente o uso de instrumentos de crédito pré-aprovados. Isto porque os meios de

pagamento passariam a embutir funções outras que viabilizariam transações – no caso, a indústria pas-saria a embutir um seguro compulsório da relação de consumo contratada por agentes independentes, sem receita equivalente – com impacto evidente em seu preço. Tendo em vista que esse seguro sofreria de problemas severos associados à assimetria de infor-mação, o custo seria muito elevado, o que resultaria em um processo absolutamente indesejável para o próprio consumidor. É algo desproporcional e não ge-renciável, que apenas cria riscos para o próprio emis-sor e, dinamicamente, limita (ou encarece) o acesso do instrumento financeiro para milhões de usuários. Outra questão que deve ser igualmente discutida refere-se à conceituação de “superendividamento” e “mínimo existencial”. O Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 283/2012 introduz tais conceitos de forma ampla e sujeito a interpretações pelo Poder Judici-ário. Diferentemente do código do consumidor fran-cês, por exemplo, que estipula como mínimo neces-sário o “salário mínimo (...) a que deveria ter direito quem provê o sustento do lar, para custear despesas com acomodação, comida e educação, sujeitas a um limite a ser estabelecido por decreto”, não há, no projeto brasileiro, referência a parâmetros precisos para o estabelecimento desse valor mínimo, uma vez que este compreende “a quantia mínima desti-nada à manutenção das despesas mensais razoáveis de sobrevivência, assim entendidas as referentes a água, luz, alimentação, saúde, moradia e educação”. Acrescente-se que o PLS considera superendividado o indivíduo que não tem a capacidade de arcar com o “mínimo existencial”. Assim, não há nenhuma definição associada a esses dois conceitos, sendo absolutamente discricionária a determinação desse valor mínimo, uma vez que os conceitos de mínimo existencial e de superendi-vidamento definidos no PLS nº 283/2012 variam de indivíduo para indivíduo, já que cada um possui um mínimo existencial particular que depende, entre outros fatores, do número de dependentes, da renda total familiar e do montante dos gastos referentes a

água, luz, alimentação, saúde, moradia e educação. Essa grande variabilidade torna os conceitos de mí-nimo existencial e superendividamento imprecisos e potencialmente geradores de incerteza jurídica. Tal argumento, por si, justificaria que se fizesse constar que tais conceitos e sua aplicabilidade seriam defi-nidos em sede de decreto, seguindo o exemplo da legislação francesa acerca do assunto. Acrescente-se que a aplicação dos dispositivos ante-riormente elencados, na forma em que os mesmos se encontram, teria como provável consequência a restrição no montante de crédito a ser oferecido para consumidores de extratos sociais menos favo-recidos e uma forte elevação do spread bancário – do custo de capital –, prejudicando o próprio consumi-dor, sobretudo aquele que tem mais dificuldade de demonstrar renda e capacidade de pagamento (ge-ralmente, o menos favorecido). É de conhecimento público que tais segmentos enfrentam dificuldades para compor o seu mínimo existencial, sendo o cré-dito um importante aliado já que, graças ao próprio, consumidores desse extrato vêm conseguindo re-alizar suas transações e pagar por elas por ocasião do recebimento de seus salários. Há, assim, um seg-mento social numerosamente representativo, que não apenas usa conscientemente o crédito (ou seja, não se tornam inadimplentes), mas também o tem como um aliado, podendo inclusive tais consumido-res tornarem-se inadimplentes com a disponibilida-de de acesso ao crédito reduzido. Assim, é possível compreender que a proposta de re-forma do CDC merece maior discussão. Em primeiro lugar, a crítica reside no fato de que as figuras jurí-dicas de “superendividamento” e de “mínimo exis-tencial” foram “importadas” sem a mesma precisão característica da legislação francesa. E, em segundo lugar, o PLS nº 283/2012 não discutiu, ao contrário da legislação francesa, a questão de insolvência civil e de resgate do consumidor, com os devidos ônus e bônus que isto impõe, criando incentivos que vão atuar em sentido contrário ao da proteção que se buscou com o PLS nº 283/2012.

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CAPÍTULO 2: DIREITOS DO CONSUMIDORAGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 2928

2.1.2 COMÉRCIO ELETRÔNICO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia o aperfeiçoamento da legisla-ção referente ao comércio eletrônico e medidas que visem a fortalecer a sua aplicabilidade no ambiente virtual. A CNF reforça a necessidade de que esses aperfeiçoamentos levem em con-sideração o equilíbrio das relações de consu-mo e os custos envolvidos nos processos virtu-ais, de modo a não inviabilizar essa forma de transação, a não excluir dessa modalidade de comércio parcela de consumidores (em função de localidades e rendas diferenciadas) e a ga-rantir segurança ao consumidor.

A criação e a difusão do comércio eletrônico foram um avanço nas relações entre os fornecedores e consumidores. A disponibilidade de canais de com-pra à distância foi um grande passo para o aumento da competitividade e do acesso do consumidor aos mais diversos tipos de produtos e serviços.

Considerando a expansão dessa modalidade no país, em razão dos avanços tecnológicos, da globalização, dos novos canais de distribuição eletrônica e da inte-gração dos mercados, o Ministério da Justiça estabe-leceu, no ano de 2010, adequações a tais veículos de transações comerciais. Por meio de diretrizes para as relações de consumo estabelecidas no comércio eletrônico, o Ministério regulou: proteção paritária, transparente e eficaz; informações exatas, claras e de fácil acesso; processo de confirmação sobre a transação; garantia de mecanismos de pagamentos seguros e de fácil utilização; procedimentos eficien-tes para resolução de conflitos; e critérios objetivos de responsabilização do fornecedor.

A Confederação concorda com iniciativas que for-taleçam as diretrizes propostas, considerando que as relações de consumo realizadas por meio do co-mércio eletrônico devam ser assim norteadas para

fortalecer a confiança dos consumidores e estabe-lecer uma relação de consumo mais equilibrada nas transações comerciais eletrônicas. Contudo, a CNF entende que a ausência de definição objetiva de determinadas expressões inseridas nos projetos em discussão – tais como: “assédio de consumo”, “endi-vidamento exagerado”, “meios adequados e seguros”

– deve ser evitada, pois a falta de conceituação clara, além de gerar insegurança, tem potencial de ampliar indevidamente demandas judiciais.

As propostas que buscam permitir ao consumidor escolher o foro de sua residência, ou qualquer outro, independentemente de onde as partes pactuantes realizaram o negócio, constituem um privilégio in-justificado. O dispositivo representa cerceamento do direito de defesa dos fornecedores ao conceder um rol tão amplo de escolhas de foro competente para propositura de ações. Muitos fornecedores enfrenta-riam grandes dificuldades para exercer seu direito de defesa devido à distância, comprometendo a produ-ção de provas.

A contratação e/ou cancelamento de serviços e pro-dutos à distância é um grande avanço nas relações de consumo, conferindo agilidade tanto para o con-sumidor quanto para o fornecedor. Destaca-se, nes-ses casos, que o exercício de tal direito deve ocorrer dentro de prazos nos quais a operacionalidade pres-supõe avaliação de vários procedimentos, de forma que não seria sempre viável, por exemplo, o envio imediato de confirmações eletrônicas no caso da quitação, cancelamento ou contratação de um pro-duto ou serviço. Isso porque o meio eletrônico traz mais agilidade, porém ainda depende de outros fa-tores técnicos que visam, inclusive, a garantir a se-gurança do cliente.

No que diz respeito a produtos e serviços financeiros, a CNF entende que não podem ser devolvidos a não ser que o consumidor arque com eventuais despesas oriundas da sua utilização durante certo período de tempo. Enquanto o objeto do financiamento (dinhei-ro) ficou em poder do cliente, este o utilizou e se be-

neficiou de seu rendimento, não sendo correto o con-sumidor dele se utilizar sem remunerar o credor. Na visão da CNF, caracterizaria enriquecimento ilícito o ato de um tomador de recursos, que detém os valores por algum tempo, auferir ganhos da aplicação desses recursos e em seguida devolver o capital por arrepen-dimento. Dessa forma, só caberia o exercício do direi-to de arrependimento para os casos em que os recur-sos ainda não foram disponibilizados ao consumidor.

2.2 PROTEÇÃO DOS DADOS PESSOAIS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia projetos voltados para a pro-teção de dados pessoais que confiram efetivo controle dos cidadãos sobre o uso e a divulga-ção de suas informações, ao mesmo tempo em que impliquem custos realistas não só para os consulentes de informações – as instituições fi-nanceiras, por exemplo –, mas também para os coletores e gestores dessas informações. Com isso, busca-se criar um sistema sustentável e confiável de fornecimento de dados expressa-mente autorizados por seus titulares.

Em abril de 2014, o Ministério da Justiça anunciou que após a aprovação do Marco Civil da Internet, a lei de proteção de dados passaria a ser a nova prioridade do Governo. Esse Ministério já disponibilizou em 2011 um anteprojeto de lei que contou com sugestões de aper-feiçoamento por parte do setor junto ao Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC/MJ). Nos termos da minuta, qualquer informação pessoal só po-derá ser tratada mediante o consentimento do titular ou por expressa previsão legal. O consentimento tam-bém é necessário para usos posteriores dos dados por bancos e empresas ou repasses a terceiros. Os dados ditos sensíveis, como os fiscais e bancários, estarão sujeitos à proteção especial, com sanções ainda mais rígidas contra os infratores. No entanto, essa proposta ainda não foi formalmente enviada ao Congresso.

Paralelamente, foi apresentada no último ano propo-sição que pretende regulamentar o tema. Com texto muito similar ao anteprojeto do Ministério da Justiça, o Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 181/2014, institui marco legal para a proteção da privacidade e o con-trole de circulação de informações no país. Trata-se de proposta que disciplina de maneira mais comple-ta a temática da proteção dos dados pessoais.

O texto segue estrutura muito semelhante à adotada pela minuta apresentada pelo Ministério da Justiça e divide-se em seis partes: (i) princípios gerais, que também tratam de conceituações, direitos básicos, período de conservação de dados e disposições sobre a sua correção; (ii) regras específicas sobre o tratamento de dados, em que se prevê a responsa-bilidade objetiva no tratamento de informações; (iii) comunicação no tratamento de dados pessoais, que estabelece a responsabilidade solidária entre todos aqueles que tiverem acesso às informações que re-sultaram em dano; (iv) segurança no tratamento de dados, que versa sobre o sigilo das informações; (v) transferência internacional de dados, que prevê esse intercâmbio apenas quando envolver países que ofereçam o mesmo grau de proteção de dados conferido pela lei brasileira; (vi) tutela administrati-va, que dispõe sobre a fiscalização exercida em ca-ráter concorrente por todos os entes da Federação, bem como sobre as eventuais sanções em caso de descumprimento da norma.

Esses pontos têm o impacto de mudar significativa-mente o regime jurídico regulatório da coleta, ma-nejo e utilização de dados eletrônicos de clientes utilizados pelas instituições financeiras em relações de consumo, bem como das próprias entidades en-volvendo suas operações e a utilização de serviços eletrônicos, como cloud computing.

Uma vez que a proteção de dados pessoais não re-cebe tratamento específico no ordenamento jurídi-co brasileiro e as normas existentes são esparsas e setoriais, embora a privacidade seja uma das garan-tias fundamentais previstas na Constituição Federal,

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a CNF corrobora o entendimento do Ministério da Justiça sobre a urgência de se “conferir aos brasilei-ros uma efetiva cidadania digital, evitando que suas prerrogativas e direitos em relação a seus dados pes-soais e sua privacidade sejam menores do que aque-las de nacionais de vários outros países”.

2.3 AÇÕES COLETIVAS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que aprimorem a legislação que trata de ações coletivas com vis-tas a preservar as regras gerais de prevenção do Código de Processo Civil; a garantir a segu-rança jurídica dos atos; a resguardar o equilí-brio entre as partes; e a sustentar os princípios do contraditório e da ampla defesa.

O Código de Defesa do Consumidor (CDC) alterou a Lei nº 7.347/1985, que disciplina a ação civil pública, e ampliou o escopo de emprego dessa norma. A Lei n° 7.347 voltou-se à proteção de interesses difusos e coletivos; com o CDC passou a também tratar de in-teresses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum. É uma das razões pelas quais a norma do Direito do Con-sumidor representa uma das principais evoluções legislativas ocorridas recentemente.

A CNF entende que a atualização da norma deve pre-servar a economia processual, impedindo a trami-tação concomitante de ações coletivas que versem sobre o mesmo objeto. A Confederação pondera que devem ser observados os limites da competência territorial do órgão prolator da sentença. Dessa for-ma, é importante que se preserve as regras gerais de prevenção do Código de Processo Civil (CPC), inclu-sive como forma de resguardar a segurança jurídica.

Inserir no Código de Defesa do Consumidor normas de rito processual pode gerar antinomia entre duas

leis, no caso o CDC e o CPC. É importante que a refor-ma pretendida, ao inserir novos conceitos, traga con-sigo a especificação técnico-processual, evitando o surgimento de dúvidas semânticas que deem mar-gem a interpretações equivocadas, que gerariam in-segurança jurídica.

2.4 CESSÃO DE CRÉDITO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia medidas que favoreçam a ex-pansão do mercado de cessão de crédito, um mecanismo que, pela consolidação de dívidas isoladas, reduz a inadimplência média das carteiras, amplia a oferta de recursos para em-préstimos a consumidores e aumenta a liqui-dez do sistema financeiro. Por ser uma opera-ção típica de atacado, a cessão de crédito não se presta à quitação de dívidas individuais, para a qual existem alternativas.

A cessão de créditos auxilia no aumento de liquidez do sistema financeiro, amplia a oferta de crédito e contribui para a redução dos indicadores de inadim-plência das carteiras de crédito.

Cessão de crédito, conforme previsto nos artigos 286 a 298 do Código Civil, constitui o mecanismo pelo o qual o credor de uma obrigação (cedente) transfere a terceiro (cessionário) sua posição ativa na relação obrigacional, independente da autori-zação do devedor (cedido). Esse instituto jurídico pode ser definido como uma transmissão de obriga-ção, ou a venda do direito ao crédito, podendo ser onerosa ou gratuita.

A consolidação das normas de cessão de crédito e estabelecimento de condições, obrigações e restri-ções de cada uma das partes foram instituídas pela Resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) nº 2.836/2001.

No Brasil, o mercado de cessão de crédito teve início em 1998, sendo que o ritmo de vendas de carteiras ace-lerou a partir de 2007, atingindo montante superior a R$17 bilhões. Após a criação da Central de Concessão de Crédito, que teve o objetivo de registrar as opera-ções de cessão especificamente reguladas pela Reso-lução do CMN nº 3.998/2011, a média diária das opera-ções estimada pelo Banco Central (BACEN) foi de R$200 milhões. Ressalta-se a existência de mercado de cessão de crédito, que não tem registro na Central, a exemplo de FIDC NPL, entre outros. Portanto, pode-se observar uma forte utilização dessa alternativa de negócio. As vendas das carteiras no Brasil têm se concentrado em cartões de crédito e empréstimos pessoais, seguidos por financiamentos de veículos e faturas telefônicas.

As operações de cessão de crédito constituem impor-tante instrumento de captação de recursos para di-versos agentes que compõem o mercado financeiro, além de contribuírem para o melhor gerenciamento do balanço contábil das instituições. Por outro lado, no mercado brasileiro, em geral, instituições de pe-queno e médio porte atuam como cedentes de de-terminadas modalidades de operações enquanto as grandes instituições financeiras assumem a con-dição de cessionárias, servindo como importantes provedoras de funding para as primeiras. Assim, esse mecanismo constitui importante meio de capitaliza-ção para essas empresas.

Antes de o consumidor ser classificado como ina-dimplente perante os órgãos de proteção de crédito, o processo de cobrança de dívida pelas instituições financeiras, com duração média de 40 dias, oferece a possibilidade de renegociação/quitação do débito ao consumidor que não honrou sua obrigação nos prazos acordados: (i) o cliente é contatado por fun-cionário da instituição financeira; (ii) ocorre o acio-namento da telecobrança, (iii) envia-se a carta co-brança; (iii) são oferecidas alternativas negociadas para realinhamento do perfil da dívida, entre outras; (iv) notifica-se o registro do devedor no Serviço de Proteção ao Crédito/SERASA e/ou ocorre o envio de seu título para protesto.

O mecanismo de cessão de crédito não contempla a possibilidade de quitação isolada de dívidas. No âmbi-to da atividade bancária, os compradores de carteiras de crédito são majoritariamente investidores institu-cionais, como os FIDCs. Tal modelo de cessão permite conferir ao comprador ganhos de escala, uma vez que os créditos são adquiridos em atacado. Isso porque es-sas operações envolvem outros instrumentos, que vão além da simples compra e venda de uma operação. São negociadas também a responsabilidade pela solvência e divisão do risco de insolvência do devedor, bem como o uso de contratos derivativos envolvendo esses crédi-tos. Ademais, as operações são frequentemente secu-ritizadas. Todos esses fatores, portanto, interferem na precificação da cessão de débitos, o que possibilita ge-rar ganhos apenas por ocorrerem operações de atacado.

As operações de cessão de crédito constituem impor-tante instrumento de captação de recursos para diver-sos agentes que compõe o mercado financeiro, além de contribuírem para o melhor gerenciamento do balanço contábil das instituições. Por outro lado, no mercado brasileiro, em geral, instituições de pequeno e médio porte atuam como cedentes de determinadas modali-dades de operações enquanto as grandes instituições financeiras assumem a condição de cessionárias, ser-vindo como importantes provedoras de funding para as primeiras. Assim, esse mecanismo constitui impor-tante meio de capitalização para essas empresas.

2.5 DECISÕES DOS PROCONS – TÍTULO EXECUTIVO

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas que busquem conferir efetividade às decisões e multas apli-cadas pelos órgãos de defesa do consumidor, ao mesmo tempo em que são asseguradas as garantias do direito de defesa, do acesso ao Judiciário, do devido processo legal e da razo-abilidade, previstas na Constituição Federal.

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CAPÍTULO 2: DIREITOS DO CONSUMIDORAGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 3332

Para o bom funcionamento do Sistema de Defesa do Consumidor (SDC), é fundamental que as deci-sões dos Procons – inclusive multas – sejam acata-das. Contudo, a transformação das multas dos Pro-cons em títulos executivos extrajudiciais fragiliza o SDC, na medida em que introduz um elemento de arbitrariedade incompatível com o Estado Demo-crático de Direito.

Os títulos a que o Código de Processo Civil (CPC) atri-bui força executiva extrajudicial possuem os atribu-tos da certeza, liquidez e exigibilidade (art. 686) para que possam ser objeto de execução definitiva (art. 587). Assim, transformar as multas aplicadas pelos órgãos de defesa do consumidor em títulos executi-vos extrajudiciais significa dizer que estes só pode-rão ser questionados no Poder Judiciário quanto à sua exigibilidade, certeza e liquidez. Nesse caso, não caberia questionamento a respeito da legalidade, da razoabilidade, do valor aplicado, da competência da autoridade, da efetiva ocorrência do fato ensejador da multa, entre outras circunstâncias de fato e de direito que podem gerar legítimos questionamentos por parte das empresas multadas.

Tal limitação da possibilidade de questionamento judicial de todos os aspectos dessa multa viola a garantia constitucional do direito de defesa das em-presas, de acesso à justiça, além de violar o princípio da razoabilidade, eis que nem as multas administra-tivas impostas pelo Poder Público são consideradas título executivo extrajudicial, uma vez que estas de-pendem de inscrição na dívida ativa para a sua exe-cução, podendo ser questionadas pelos particulares.

Dispositivo dessa natureza existia no artigo 82 do Código de Defesa do Consumidor, que foi vetado pelo Presidente Fernando Collor quando lhe foi sub-metido à sanção. O veto deu-se pela improprieda-de de se equiparar compromisso executivo a título executivo extrajudicial, visto que o objeto do com-promisso é a cessação ou a prática de determinada conduta e não a entrega de coisa certa ou pagamen-to de quantia fixada.

2.6 CADASTRO POSITIVO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras entende que a Lei nº 12.414/2011 que instituiu o Cadastro Positivo contribuirá para estender a bancarização e o crédito às cama-das da população de menor poder aquisitivo, com efeitos positivos sobre o crescimento eco-nômico sustentável e a distribuição de renda. Para a CNF, a legislação não equacionou a con-tento a questão da responsabilidade objetiva e solidária dos consulentes. A Confederação apoia propostas que atribuam responsabilida-de objetiva e solidária apenas às fontes e aos gestores de bancos de dados pelos danos que possam eventualmente causar a cadastrados.

Em junho de 2011, o Poder Executivo sancionou a Lei nº 12.414/2011, que disciplina a formação e con-sulta a bancos de dados com informações de adim-plemento, de pessoas naturais ou de pessoas jurídi-cas, para formação de histórico de crédito (Cadastro Positivo). A norma teve origem na edição da Medida Provisória nº 518/2010.

A mais evidente das vantagens do cadastro positivo é a de que bons pagadores passam a se beneficiar de taxas de juros diferenciadas, com consequente redu-ção gradual do spread bancário [ver Seção 14 – Taxa de juros e margens bancárias (spread)]. Discute-se também seu impacto esperado sobre a ampliação dos serviços bancários, com benefício para a popu-lação de faixas de renda mais baixa, bem como sua contribuição para evitar o superendividamento, ao permitir aferição mais efetiva da capacidade de pa-gamento dos consumidores.

O Decreto nº 7.829/2012, que entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 2013, regulamentou a Lei nº 12.414/2011, definindo as condições para funciona-mento dos bancos de dados; as informações a serem incluídas no histórico de crédito do consumidor; os

critérios para consulta ao banco de dados; a autori-zação para abertura do cadastro pelo cliente e poste-rior compartilhamento dessas informações.

O Conselho Monetário Nacional (CMN) editou a Re-solução n° 4.172/2012, que regulamentou o repasse das informações dos clientes pelas instituições fi-nanceiras aos bancos de dados que deverão operar o histórico de adimplemento. Nos termos da refe-rida Resolução, devem ser repassadas aos bancos de dados as informações que compõem o histórico das operações de empréstimo e financiamento, de arrendamento mercantil, de autofinanciamento rea-lizadas por meio dos grupos de consórcio e de adian-tamentos e outras operações com características de concessão de crédito. O histórico será composto pela data da concessão do empréstimo ou financia-mento, o valor original total do empréstimo, valores e datas de vencimentos das prestações, bem como valores pagos. Somente os bancos de dados cujo gestor detenha patrimônio líquido mínimo de R$70 milhões poderão gerir e receber tais informações.

A regulamentação da Lei n° 12.414/2011 por Decre-to e por Resolução do CMN não superou o principal obstáculo à rápida implementação de bancos de dados, a saber, a inclusão de consulentes no rol dos responsáveis objetiva e solidariamente por eventu-ais danos causados a cadastrados, conforme expres-samente dispõe o art. 16 da Lei. A responsabilidade objetiva prescinde da comprovação de culpa, esta-belecendo a obrigação de indenizar mesmo que não se demonstre vínculo entre o dano e o agente.

Para a Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras, não é adequado colocar no mesmo patamar de responsabilidade os que coletam, geram, proces-sam e transmitem informações sobre cadastrados e aqueles que meramente consultam essas informa-ções para subsidiar decisões de crédito, sem poder verificar sua precisão ou efetuar correções. Na relação contratual que se estabelece entre, de um lado, fontes e gestores de bancos de dados e, de outro, consulen-tes, estes são consumidores e aqueles fornecedores

de serviço. Essa polarização na relação contratual de-veria refletir-se também nas responsabilidades atri-buídas a cada uma das três partes envolvidas. Não caberia aos consulentes a responsabilidade objetiva e solidária por danos causados aos cadastrados.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ), ao apreciar os Recursos Especiais (REsp) nº 1.457.199/RS e nº 1.419.697/RS, assentou que o Cadastro Positivo é um método de auferir o risco da concessão de crédito com informações precisas, o que o torna lícito, não gerando dano moral indenizável, nem havendo a ne-cessidade de prévia comunicação ao consumidor ava-liado. O STJ ressaltou que se deve sempre respeitar os princípios consumeristas e os direitos legalmente assegurados aos consumidores. Concluiu, ainda, que a responsabilidade de indenizar somente poderia ser configurada se as informações contidas no Cadastro Positivo forem excessivas e sensíveis, inexatas e não verdadeiras, afastando a responsabilidade objetiva.

A exclusão dos consulentes do rol dos agentes a quem pode ser imputada responsabilidade solidária e objetiva não afastaria sua eventual responsabilida-de direta pelo descumprimento das obrigações que lhe são cominadas pela Lei do Cadastro Positivo (Lei nº 12.414/2011) para a realização da consulta, como a obrigação de apenas consultar dados de pessoas com as quais mantém ou pretendam manter relação creditícia ou comercial.

2.7 BANCO DE DADOS DE INADIMPLENTES

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a correta inclusão de informações sobre toma-dores de crédito inadimplentes em bancos de dados (o “cadastro negativo”), bem como para a limitação do uso dessas informações à fina-lidade precípua desse tipo de banco de dados, que é a avaliação do perfil do tomador para fins

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CAPÍTULO 2: DIREITOS DO CONSUMIDORAGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 3534

A utilização do banco de dados de inadimplentes, no qual constam informações de devedores com dívidas vencidas e não pagas há mais de trinta dias, foi certamente um avanço, pois viabilizou que deci-sões sobre concessão de crédito fossem tomadas de maneira mais segura. Combinado com o cadastro positivo pode fornecer informações mais detalha-das sobre o perfil dos clientes bancários, permitindo a diminuição gradual do spread em decorrência do menor risco de crédito.

As discussões em torno do “cadastro negativo” fo-cam em quatro questões centrais. A primeira é a inclusão indevida de tomadores de crédito nesse banco de dados, seja por erro operacional, seja por pressão indevida do credor para obter o pagamento em atraso. A segunda questão está associada à difi-culdade de o cadastrado retirar seu nome do regis-tro, uma vez regularizados os débitos. A terceira está ligada ao uso indevido das informações contidas no banco de dados de inadimplentes, por exemplo, em disputas trabalhistas, uma vez que tais informações devem destinar-se exclusivamente à avaliação do perfil do tomador para fins de concessão de crédito. A quarta questão diz respeito à confidencialidade dos dados e à proteção de dados pessoais.

2.8 BOLETOS DE PAGAMENTO

Em termos operacionais, o sistema bancário avançou muito na criação de alternativas aos clientes para pa-gamentos de boletos (também chamados de “bloque-tos”), oferecendo possibilidades que são encontradas em poucos países do mundo. Canais alternativos de pagamento, como telefone, internet e caixa eletrô-nico, operam em horários mais flexíveis que os das próprias agências bancárias e permitem o pagamen-to dos boletos nas datas indicadas, mesmo em casos fortuitos ou de força maior. Quando não há acesso a esses canais, também é possível efetuar o pagamen-to em estabelecimentos não financeiros (lotéricas, supermercados, farmácias, entre outros). A compen-sação bancária, mesmo em períodos de paralisação do funcionamento de agências, é realizada normal-mente, uma vez que se trata de atividade essencial e de manutenção obrigatória (conforme dispõem os artigos 9º e 10, inciso XI, da Lei nº 7.783/1989). Mesmo assim, ocorrem casos em que instituições financei-ras são equivocadamente responsabilizadas por não alterarem as condições de pagamento contratadas entre devedor e credor; por repassarem custos vin-culados à emissão de novas vias de boletos; por não alterarem o local de pagamento da fatura; por não re-ceberem pagamentos após a data de vencimento; e por não permitirem a mudança constante da data de vencimento da obrigação contratada entre as partes.

de concessão de crédito. A CNF também apoia proposições que reforcem a confidencialidade dos dados e a proteção de dados pessoais dos cadastrados, que sejam realistas e que impli-quem custos compatíveis com as atividades das empresas operadoras desses bancos de dados.

de forma a conferir a máxima comodidade e conveniência aos consumidores, no entendi-mento de que tais propostas devam considerar: (i) a neutralidade das instituições financeiras, no papel de intermediárias da relação de con-sumo, por alterações nos termos contratados entre credor e devedor; (ii) os acréscimos de cus-tos gerados pela emissão de vias adicionais; (iii) limitações operacionais na definição de locais para o pagamento de faturas por contrato entre as partes; (iv) a liberdade de escolha do cliente quanto à data de vencimento da fatura; e (v) a manutenção, ao longo do período da operação, das datas de vencimento escolhidas.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas de aprimoramento da legislação que regula os pagamentos de boletos

A emissão de documentos de cobrança atende a uma série de dispositivos legais e está condicionada por limitações estruturais e operacionais. A introdu-ção de alterações na sistemática de cobranças sem considerar os normativos que as regem e as possi-bilidades estruturais e operacionais pode se revelar prejudicial ao consumidor. Nas relações do vende-dor ou prestador do serviço com o sacado e com a instituição financeira cobradora, os direitos e obri-gações relacionados ao boleto bancário são regidos por contrato entre as partes.

As instituições financeiras, ao receberem o paga-mento dos boletos, atuam na maior parte das vezes como prestadoras de serviços, intermediando o pa-gamento e o recebimento de valores nos termos con-tratados entre as partes. Nessa posição, os bancos não possuem poder para acordar isenções, abonos ou quaisquer benefícios relativos à cobrança. Não cabe aos bancos conceder descontos, deixar de exi-gir encargos moratórios de cobranças ou adiar o pa-gamento de boletos, pois os valores recebidos não lhes são devidos, mas sim ao cliente que contratou seus serviços. Somente os credores das dívidas é que possuem competência para permitir a alteração do pagamento.

Em qualquer atividade econômica, custos adicio-nais causados por qualquer acréscimo de obrigação transferem-se, via de regra, ao consumidor final. Não é diferente no caso dos serviços prestados por insti-tuições financeiras. Normalmente, o processamento desses serviços, com todos os custos operacionais que tal processamento implica, resulta, entre outros, na documentação da operação realizada. A emissão de segunda via dessa documentação não se consti-tui em mera cópia do boleto original, mas sim na ve-rificação de todos os passos envolvidos na operação original para emissão de nova via, com consequente acréscimo de custos.

Ocorre que os sistemas das instituições financeiras não são interligados para processamento e acesso de bases de modo on-line, o que impossibilita con-

sultas nos casos em que o pagamento do sacado é protestado no mesmo dia. Da mesma forma, o cálcu-lo dos valores devidos para pagamentos após o ven-cimento do boleto exige que sejam validadas a regra de recebimento e as condições da cobrança ante-riormente contratadas; na maioria dos pagamentos, tal validação não é realizada manualmente e requer consulta às bases de dados da cobrança quando os pagamentos ocorrem no próprio banco cedente.

Com exceção do crédito consignado, em vários ti-pos de operações, como as de crédito imobiliário, o setor financeiro já oferece aos clientes o direito de escolher a data de vencimento que melhor lhe convier. Contudo, a constante alteração da data de vencimento afeta negativamente a precificação das operações e, com isso, termina por prejudicar os consumidores. Ao lado da confiança, o tempo é outra matéria-prima fundamental dos produtos e serviços financeiros. Todas as operações financei-ras são construídas ao longo de um vetor de tempo e a regularidade de desembolsos e de recebimen-tos permite calcular variáveis financeiras chaves, tais como o valor presente de um empréstimo, o montante dos pagamentos periódicos e a taxa de juros efetiva embutida na operação. Nesse con-texto, produtos e serviços financeiros são de difí-cil precificação se a data de pagamento de faturas se altera constantemente ao longo do período da operação. Na ausência de elementos para preci-ficação adequada, o comportamento de todos os agentes econômicos – inclusive os financeiros – torna-se conservador, com tendência a se aumen-tarem defensivamente os preços. Um dos muitos complicadores de um contrato com datas de paga-mento variáveis seria, por exemplo, a impossibili-dade de se determinar a data de vencimento que seria utilizada para apuração da dívida no caso de prestações em atraso.

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CAPÍTULO 2: DIREITOS DO CONSUMIDORAGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 3736

2.9 CONTRATOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia projetos que tornem cada vez mais clara e compreensível a relação entre as instituições financeiras e seus clientes, celebra-da por meio de contratos, cuja cópia deve ser sempre fornecida ao consumidor. Para a CNF, a padronização de contratos não se deve consti-tuir em barreira à inovação e à adequação de produtos e serviços ao perfil específico e único de cada consumidor.

É necessário que os dispositivos contratuais sejam perfeitamente compreendidos pelos contratantes, com o consequente entendimento do seu signifi-cado e das obrigações pactuadas deles derivadas. Para tanto, é fundamental que o contrato seja redi-gido numa linguagem clara e facilmente perceptível quanto ao seu objeto, de modo que o cliente seja devidamente informado. Também o tamanho das letras, claramente legíveis, contribui para a eficácia dos contratos. Quanto ao conteúdo, é crítico que não incluam cláusulas abusivas que contaminem toda a relação contratual e viciem o compromisso entre as partes. Uma escolha livre e esclarecida im-plica necessariamente a prestação de informações completas, claras e compreensíveis, para que os des-tinatários possam prever e avaliar as consequências jurídicas dos seus atos.

A entrega de minuta de contrato, antes do fechamen-to de negócios, e de cópia do contrato final, após esse fechamento, tornou-se prática corriqueira, am-plamente disseminada no setor financeiro. O Código de Autorregulação Bancária lançado pela FEBRABAN, por exemplo, destina um capítulo à parte aos proce-dimentos da contratação e dispõe que:

Quando o consumidor decidir contratar produtos ou serviços, a Signatária explicará os seus direitos e responsabilidades, tais como definidos nos Termos e

Condições do contrato. Tais Termos e Condições se-rão elaborados em linguagem que facilite o entendi-mento do consumidor, com destaque nas cláusulas mais relevantes para a tomada de decisão conscien-te. Linguagem técnica ou jurídica será utilizada ape-nas quando necessário, para dar a devida exatidão e segurança ao teor do contrato. A Signatária dispo-nibilizará ao consumidor uma minuta de contrato para conhecimento prévio e avaliação.

As cláusulas, bem como as práticas abusivas, a veda-ção à veiculação de publicidade enganosa, a obriga-toriedade de que a informação seja clara e precisa, as proibições de critérios discriminatórios ou preconcei-tuosos, além de outras preocupações com os consumi-dores em relação aos contratos também estão devida-mente contidas no Código de Defesa do Consumidor.

2.10 DIREITO DE ARREPENDIMENTO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que assegurem e ampliem o direito de arrependimento, ao mes-mo tempo em que prevejam o reembolso dos custos de fornecimento de produtos e serviços. No caso de serviços financeiros, tal reembolso deveria ser realizado com o devido acréscimo de juros, taxas, tributos e demais encargos contratuais, incidentes desde a data da efetiva contratação até a data da efetiva restituição dos valores pelo consumidor.

O direito de arrependimento, previsto no artigo 49 do Código de Defesa do Consumidor, visa a proteger o consumidor, nas hipóteses em que não teve a opor-tunidade de, previamente, avaliar se o produto ou o serviço correspondem à sua expectativa e refletir, no prazo de sete dias, a conveniência de, eventualmente, desistir da contratação de produtos ou serviços, dis-pensando-se a necessidade de apresentar qualquer justificativa. No entanto, o dispositivo é aplicável

apenas para contratações realizadas fora do estabe-lecimento comercial, ou seja, por catálogo, de “porta em porta” ou via Internet, por exemplo. Nesses casos, se o consumidor exercitar o direito de arrependimen-to, o fornecedor é obrigado a aceitar a devolução e restituir o valor pago, monetariamente atualizado.

A CNF defende que, caso o direito de arrependi-mento se aplique também aos negócios que forem realizados dentro de estabelecimentos comerciais, sejam descontadas do valor total a ser reembolsado pelo fornecedor as eventuais despesas incorridas por este com fretes, taxas, encargos e impostos in-cidentes sobre o contrato. A intenção da medida é resgatar o equilíbrio das relações comerciais entre consumidores e fornecedores.

No que diz respeito a produtos e serviços financeiros, a CNF entende que não podem ser devolvidos a não ser que o consumidor arque com eventuais despe-sas oriundas da sua utilização durante certo período de tempo. Enquanto o objeto do financiamento (di-nheiro) ficou em poder do cliente, este o utilizou e se beneficiou de seu rendimento, não sendo correto o consumidor dele se utilizar sem remunerar o credor. Na visão da CNF, o ato de um tomador de recursos deter os valores por algum tempo, auferir ganhos da aplicação desses recursos e em seguida devolver o capital por arrependimento caracterizaria enrique-cimento ilícito do devedor em detrimento do credor.

2.11 VENDA CASADA

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia dispositivos que proíbam opera-ções de venda casada. Essa prática nociva não se confunde com a oferta de produtos e serviços financeiros apresentados ao consumidor como alternativas de combinações desses produtos e serviços, sem limitar as opções do consumidor àquelas apresentadas pela instituição financeira.

Entende-se por venda casada a prática comercial em que o fornecedor condiciona a venda de um produto ou serviço à aquisição de outro produto ou serviço. Em muitos casos, trata-se de uma es-tratégia de marketing corriqueira, bastante utiliza-da em diferentes países. Em outros casos, caracte-riza abuso de poder econômico ao constranger o cliente a adquirir bens e serviços não demandados originalmente.

Entretanto, em muitos casos, a venda de produto atrelada a serviço é característica do próprio negó-cio e não representa a prática “casada” nos termos vedados pelo Código de Defesa do Consumidor. É preciso cuidado para não confundir a prática de ven-da casada prejudicial ao consumidor com estraté-gias de oferecimento de conjunto de produtos e ser-viços por preço diferenciado em benefício do próprio consumidor, a quem deve ser sempre assegurada a liberdade de escolha. Venda cruzada não se confun-de com venda casada.

No caso particular de seguros, quando este é exigido pela legislação brasileira, a combinação de cobertu-ra contra riscos e determinado produto ou serviço financeiro tende a minimizar o custo total, para o consumidor, da operação.

2.12 TEMPO DE ESPERA EM FILAS

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a redução do tempo de espera em filas para atendimento em agências bancárias assentadas no estímulo à inovação tecnológica e administrativa volun-tária. A ação coordenada com outras partes envolvidas, tais como estabelecimentos comer-ciais e órgãos da Administração Pública, con-tribui para reduzir o tempo de fila por meio do escalonamento de pagamentos e recebimentos.

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CAPÍTULO 2: DIREITOS DO CONSUMIDORAGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 3938

O atendimento nos bancos costuma ser mais intenso em períodos específicos. Filas para atendimento nos caixas e nos terminais eletrônicos são mais comuns no início dos meses, por exemplo, em decorrência da grande quantidade de pessoas que recebem seus salários nesse período. São épocas em que também se verificam maiores filas nos estabelecimentos co-merciais e nas repartições públicas.

Em anos recentes, é sensível a diminuição do tempo de espera para atendimento em agências bancárias, apesar da inclusão de milhões de novos correntistas. Essa diminuição é resultado de avanços tecnológicos e de medidas administrativas orientadas para um mercado altamente concorrencial, que valoriza a sa-tisfação dos clientes. A multiplicação dos terminais eletrônicos reflete essa preocupação, bem como a proliferação de transações eletrônicas seguras e de cartões de débito e de crédito com chips de segurança.

A adoção de ferramentas corporativas que atuam no gerenciamento de atendimento de forma inteligente permite otimizar a mão de obra destinada ao atendi-mento de clientes e usuários dos serviços bancários, adequando-a aos períodos de maior demanda. Em conjunto com essas ferramentas, o processo de tria-gem de filas também contribui para a diminuição do tempo de espera, além de possibilitar a orientação ao cliente quanto à melhor forma de realizar suas transações bancárias.

Nesse sentido, as instituições financeiras têm cada vez mais ofertado aos clientes a comodidade de se re-lacionar por meio do autoatendimento. Os canais de autoatendimento tornaram-se mais completos, dis-poníveis e amigáveis, permitindo aos clientes realizar praticamente todas as transações financeiras. O fenô-meno do uso massificado dos smartphones nas cha-madas “mídias sociais” tende a ocorrer também na atividade bancária. Esse é somente um dos exemplos da “digitalização” em andamento no setor bancário, processo que ocorre paralelo à contínua melhoria do atendimento prestado nas agências bancárias.

Outro fator importante, a possibilidade de escolha do vencimento das faturas mostra-se uma ótima medida para a diminuição do tempo de espera nas filas. Medi-das bem sucedidas que contemplam diversidade de datas de vencimento poderiam ser estendidas ao pa-gamento de obrigações junto à Administração Pública, bem como ao recebimento de benefícios. O fortaleci-mento da segurança nas transações eletrônicas, pela rede de computadores, com combate aos crimes ele-trônicos, também tem contribuído para a diminuição do tempo de espera nas filas. Por fim, a expansão da rede de correspondentes no país (tais como agências dos Correios, farmácias, casas lotéricas e supermerca-dos) favorece a agilidade do atendimento na medida em que propicia a diminuição das filas nos caixas das agências bancárias e nos terminais eletrônicos.

2.13 LIQUIDAÇÃO ANTECIPADA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que aperfeiçoem a disciplina legal da liquidação antecipada de contratos de financiamento, ressalvando que mudanças em um dos parâmetros dos contra-tos (como o prazo) devem ser sempre acompa-nhadas por alterações em outros parâmetros, de maneira a não afetar o equilíbrio contratu-al, o valor presente líquido do instrumento e a compatibilização desses parâmetros com os dos demais contratos que compõem uma carteira.

O Código de Defesa do Consumidor assegura em seu art. 52, §2º, “a liquidação antecipada do débito, to-tal ou parcialmente, mediante redução proporcional dos juros e demais acréscimos”. Em 2006, o Conselho Monetário Nacional (CMN) permitiu a quitação ante-cipada por meio do recebimento de recursos transfe-ridos por outra instituição financeira (“portabilidade de crédito”). Além disso, é vedada a cobrança, pelas instituições financeiras, de tarifa de liquidação ante-

cipada nos contratos de concessão de crédito e de ar-rendamento mercantil nas operações firmadas com pessoas físicas e com empresas de pequeno porte e microempresas, definidas pela Lei Complementar nº 123/2006, desde a publicação da Resolução do CMN nº 3.516/2007. Essa mesma Resolução traz a defini-ção dos critérios que devem ser considerados para a liquidação das operações de crédito e arrendamento mercantil celebradas com pessoas físicas e empresas de pequeno porte e microempresas, devidamente ajustada nos termos das condições definidas a partir da Resolução do CMN nº 4.320/2014.

Na maioria dos casos, contratos de financiamento materializam a intermediação, que é a atividade primordial das instituições financeiras. Por trás das cláusulas de um contrato de financiamento está, por um lado, a captação de recursos junto a terceiros (a um determinado custo, por prazo estabelecido, em dada moeda), e, por outro, o repasse desses recur-sos a um tomador, (quase sempre a taxas, prazos e moedas diferentes). Além da gestão dos diferentes tipos de risco envolvidos na operação de interme-diação (como risco de inadimplência do tomador e riscos de mercado ligados a variações de taxas de ju-ros e de câmbio), a instituição financeira administra a compatibilização das muitas taxas, moedas e pra-zos de diferentes contratos de maneira a assegurar o cumprimento de todas as obrigações contratuais.

Contratos de financiamento são construídos a partir de alguns parâmetros básicos, que balizam a viabi-lidade da operação, tais como o prazo da operação, o montante do principal, o número e o valor das prestações, a periodicidade dos desembolsos, al-gum montante residual e as taxas de juros envolvi-das. Quaisquer que sejam os parâmetros adotados, todos os contratos de financiamento podem ser re-duzidos a seu valor presente líquido, o que permite comparações entre eles. Mudanças em qualquer um desses parâmetros alteram o valor presente líquido do contrato de financiamento e podem desequili-brar toda uma carteira de obrigações.

O tempo é o parâmetro fundamental de todo e qual-quer contrato de financiamento. O alongamento ou o encurtamento do prazo contratado para uma ope-ração financeira, mantidos constantes os demais pa-râmetros, altera o valor presente líquido do contrato e a compatibilização daquele instrumento contratual com outros. Por essa razão, qualquer alteração nessa variável fundamental, o tempo, deve ser acompanha-da de mudanças em outros parâmetros, de maneira a preservar o equilíbrio contratual e a higidez da insti-tuição financeira que intermediou a operação.

Ademais, muitas vezes o prazo mínimo ou máximo de uma operação financeira é definido por Lei ou por norma do Banco Central (o prazo mínimo de contrato de arrendamento mercantil, por exemplo, é de 24 meses). As diferentes modalidades de cré-dito ofertadas ao consumidor também apresentam outras peculiaridades que devem ser observadas no momento da liquidação antecipada (tais como a remuneração do crédito calculada com base na taxa de juros ou na taxa interna de retorno).

2.13.1 DEVOLUÇÃO DE VALORES

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que permitam a restituição do Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títu-los ou Valores Mobiliários (IOF) cobrado nas operações liquidadas antecipadamente, de forma proporcional ao período de tempo da antecipação, respeitadas as especificidades de cada modalidade de crédito. Uma vez que as instituições financeiras não são parte dessa re-lação jurídica tributária, a CNF sugere a imple-mentação pela Receita Federal de sistemática de devolução parcial de impostos semelhante à empregada pelas Fazendas Estaduais, Muni-cipais e Distrital.

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 201540

A restituição parcial do Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativa a Títulos ou Va-lores Mobiliários (IOF) quando da liquidação anteci-pada de operações financeiras procura corrigir uma injustiça cometida contra o contribuinte.

O amparo legal da cobrança do IOF se dá pelo Decre-to nº 7.458/2011, que estipula a alíquota em 0,0082% ao dia para as situações em que o contratante ou mutuário é pessoa física. O valor é cobrado pro rata die, em função do prazo da operação de emprésti-mo ou financiamento, observada a limitação de 365 dias estabelecida pelo § 1º, do artigo 7º, do Decreto nº 6.306/2007. Ao contratar a operação financeira, o cliente recolhe o IOF na sua totalidade. Ocorre que, por vezes, o cliente decide liquidar operação finan-ceira antecipadamente, o que gera direito a uma res-tituição proporcional ao período remanescente da operação liquidada.

O Código Tributário Nacional dispõe que:

Art. 165.O sujeito passivo tem direito, independen-temente de prévio protesto, à restituição total ou parcial do tributo, seja qual for a modalidade do seu pagamento, ressalvado o disposto no § 4º do artigo 162, nos seguintes casos:

I – cobrança ou pagamento espontâneo de tributo in-devido ou maior que o devido em face da legislação tributária aplicável, ou da natureza ou circunstâncias materiais do fato gerador efetivamente ocorrido.

A devolução do IOF incidente sobre operações liquida-das antecipadamente vincula somente a Receita Fede-ral e os contribuintes. As pessoas jurídicas, entre elas as instituições financeiras, são responsáveis tributá-rios pela cobrança e recolhimento do IOF, nos termos do art. 5º do Decreto nº 6.306/2007. Porém, as institui-ções financeiras não são parte legítima para pleitear a restituição. Nessa relação, não cabe cobrança de tari-fas por parte de instituições financeiras para a efetiva-ção da restituição ao contribuinte, uma vez que elas não são parte dessa relação jurídica tributária.

A restituição do IOF incidente sobre operações li-quidadas antecipadamente poderia ser realizada pela Receita Federal nos moldes da sistemática de devolução parcial de impostos semelhante à empre-gada pelas Fazendas Estaduais, Municipais e Distrital (“Nota Paulista”, “Nota Legal”, “Nota Carioca” etc.).

A devolução de impostos relativos à quitação anteci-pada de dívidas e outras operações financeiras não se caracteriza como uma relação consumerista, mas, sim, como uma relação jurídica tributária, isto é, ex-clusivamente entre o Fisco e o contribuinte.

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3CAPÍTULO 3: QUESTÕES SOCIAIS

As pessoas estão presentes em todas as fases das operações realizadas pelas instituições financeiras, ou como agentes, ou como usuários dos serviços prestados. Ora são funcionários, ora são clientes, ora são participantes de programas de capacitação e de inclusão, ora são partes de uma comunidade melhorada por iniciativas e projetos privados, ora são membros de uma sociedade que se beneficia de uma economia em crescimento, sustentada por um sistema financeiro saudável e sólido.

A atuação das instituições financeiras tem grande impacto sobre a vida em sociedade.

Apenas em 2014, 29 milhões de pessoas abriram con-tas bancárias. Até o final de 2014, o Brasil tinha cerca de oito milhões de contas correntes simplificadas e três milhões de contas de poupança. A própria ban-carização é uma questão social: a possibilidade de contar com uma conta bancária e ter acesso a pro-dutos e serviços, públicos e privados, veiculados por essa conta é um potente fator de inclusão e de pro-moção de cidadania.

As questões sociais não se articulam ao largo das instituições financeiras; ao contrário, tais questões as entranham, balizam seus negócios e as moldam.

Porque as instituições financeiras empregam cente-nas de milhares de brasileiros e porque viabilizam negócios que geram milhões de empregos, decisões estratégicas do setor têm grande repercussão social.

Além disso, decisões de financiamento de projetos sociais têm efeito multiplicador, contribuindo para moldar a vida em sociedade no Brasil.

3.1 INCLUSÃO FINANCEIRA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia medidas voltadas para a am-pliação do acesso ao sistema financeiro e a intensificação do uso de seus produtos e servi-ços por consumidores orientados por crescente educação financeira.

Segundo relatório do Banco Central (BACEN), inclu-são financeira é: “processo de efetivo acesso e uso pela população de serviços financeiros adequados às suas necessidades, contribuindo para sua quali-dade de vida”. A bancarização é uma das dimensões da cidadania, na medida em que permite ao cliente

questões sociais

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras acompanha com grande interes-se o impacto de proposições que, ao regulamentarem atividades do setor, transformam a vida em sociedade e buscam o desenvolvimento das potencialidades individuais.

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 4544

de uma instituição financeira exercer seus direitos (tais como receber benefícios) e honrar suas obriga-ções (tais como pagar tributos).

O usuário recorre a vários canais de acesso ao siste-ma financeiro, sejam redes de pontos físicos de aten-dimento – agências, correspondentes, entre outros

–, seja atendimento telefônico e Internet Banking. A Lei n° 12.865/2013 ampliou consideravelmente a possibilidade de uso de telefones celulares para a realização de operações bancárias (mobile payment). A capilaridade de tais canais de acesso ao sistema financeiro constitui importante indicação do poten-cial de inclusão financeira no país.

A Resolução do CMN nº 3.211/2004 simplificou o processo de abertura de contas e flexibilizou algu-mas exigências de identificação, facilitando assim o acesso ao setor financeiro por parte da população de baixa renda. Em 2013, houve um crescimento 6% em relação a 2012 no número de contas correntes, alcançando o patamar de mais de 103 milhões de correntistas. Em relação às contas poupança, hou-ve crescimento de 12% em relação ao ano anterior, chegando à marca de 125 milhões. Ainda assim, a taxa de bancarização no Brasil ainda é de apenas 56%, de forma que ainda existem aproximadamente 131 milhões de habitantes que não possuem conta corrente. Estima-se que essa parcela da população movimente aproximadamente R$665 bilhões, o equivalente ao Produto Interno Bruto de outros paí-ses como Chile ou Hong Kong.

A capilaridade do acesso ao setor financeiro e a sim-plificação da abertura de contas ampliaram o papel do crédito como eficaz instrumento de desenvolvi-mento econômico.

É o caso do microcrédito. A Lei nº 10.735/2003 de-terminou que uma parcela dos depósitos à vista dos bancos múltiplos com carteira comercial, dos ban-cos comerciais e da Caixa Econômica Federal deve, obrigatoriamente, ser aplicada em operações para o público de baixa renda. Os valores não aplicados

na atividade devem ser depositados no BACEN, sem remuneração. O direcionamento para microcrédito está voltado para dois públicos, o de baixa renda, também conhecido como microcrédito-consumo, e o microcrédito para microempreendedores. A Lei nº 12.613/2012, em seu parágrafo único do art. 1º, auto-rizou a ampliação da renda mensal para utilização dos recursos para o público de baixa renda, desde que os valores das operações sejam direcionados ex-clusivamente para adquirir bens e serviços de tecno-logia assistiva destinados a pessoas com deficiência.

3.2 AGENDA NACIONALDO TRABALHO DECENTE

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia iniciativas voltadas para a construção de um ambiente que assegure o bem-estar do trabalhador e a competitivida-de econômica do empregador. Para a CNF, o trabalho decente tem que ser produtivo e deve estar aliado à sustentabilidade da empresa. Para tanto, é fundamental o aprofundamento das discussões no âmbito de um fórum tripar-tite que contemple os interesses e as preocu-pações de todos os atores envolvidos, em deci-sões tomadas por consenso.

De acordo com o Ministério do Trabalho e Empre-go (MTE) e a Organização Internacional do Traba-lho (OIT), “o trabalho decente é considerado como aquele adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, equidade e segurança, ca-paz de garantir uma vida digna”. Em outras ocasiões, contudo, o escritório da OIT no Brasil acrescentou que trabalho decente é um trabalho produtivo, sem quaisquer formas de discriminação.

Esse é um ponto fundamental para a construção de uma visão de trabalho decente sustentável, a partir da qual seja possível estabelecer diretrizes concre-

tas e eficazes para garantir um ambiente de compe-titividade econômica e bem-estar do trabalhador.

O Trabalho Decente é o ponto de convergência dos quatro objetivos estratégicos da OIT, que tem como pano de fundo o respeito aos direitos no trabalho, em especial aqueles definidos como fundamentais pela Declaração Relativa aos Direitos e Princípios Fundamentais no Trabalho e seu seguimento adota-da em 1998: (i) liberdade sindical e reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva; (ii) elimina-ção de todas as formas de trabalho forçado; (iii) abo-lição efetiva do trabalho infantil; e (iv) eliminação de todas as formas de discriminação em matéria de emprego e ocupação, a promoção do emprego pro-dutivo e de qualidade, a extensão da proteção social e o fortalecimento do diálogo social.

Os entendimentos sobre emprego e trabalho decente estão sujeitos a um elevado grau de subjetividade, não existindo definição universalmente aceita. Por isso mesmo, é preciso tornar as discussões mais objetivas, à luz das realidades dos diferentes setores e regiões do país. O Governo brasileiro e a OIT firmaram em 2003 memorando de entendimento que previa o estabele-cimento de programa de cooperação técnica para a promoção de uma Agenda Nacional de Trabalho De-cente, por meio de consultas às organizações de em-pregadores e de trabalhadores. Essa Agenda foi lança-da em maio de 2006 e deu origem, em 2009, ao Plano Nacional de Emprego e Trabalho Decente (PNETD).

Em 2012 foi realizada a Primeira Conferência Nacio-nal de Emprego e Trabalho Decente (I CNETD). O ob-jetivo geral dessa Conferência foi contribuir para a construção, o fortalecimento e a promoção de uma Política Nacional de Emprego e Trabalho Decente a partir das prioridades estabelecidas no PNETD.

De acordo com a OIT, em muitos países existem po-líticas de trabalho decente, porém o Brasil tem sido pioneiro nas consultas e debates tripartites para a sólida construção de políticas públicas, vencendo os grandes desafios de orquestrar discussões des-

se porte envolvendo todas as esferas da Federação (Municípios, Estados e União) diante da heterogenei-dade e da extensão do país.

As Confederações patronais, o Poder Executivo e as Centrais Sindicais iniciaram em 2014 a revisão das metas e a atualização dos indicadores para aperfei-çoar a verificação dos resultados da I CNETD. Estu-dos realizados pelo MTE e pela OIT demonstram que 51,5% das metas previstas foram alcançadas. A par-tir dessa constatação foi iniciada uma revisão do Pla-no, já que o exercício de monitoramento não conse-guiu identificar elementos suficientes para verificar o cumprimento de 17 metas, ou seja, 27,4% do total.

Apesar da expectativa do MTE de realizar nova Confe-rência Nacional em 2016, representantes dos traba-lhadores e dos empregadores defendem que é preci-so antes concluir a implementação das deliberações e aprimorar o monitoramento das políticas oriundas das propostas aprovadas. Em 2015 continuarão os trabalhos para aperfeiçoar o monitoramento.

3.3 POLÍTICA NACIONALDE PARTICIPAÇÃO SOCIAL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas à demo-cratização dos debates relevantes para o país. Para a Confederação, a participação da socie-dade deve ser um elemento importante para a elaboração de políticas públicas. A CNF enten-de que a participação social deve ser conduzida de forma a se respeitar a estrutura do Estado republicano, na qual a separação dos Poderes é cláusula pétrea da Constituição, que atribui ao Congresso Nacional a competência legiferante.

A definição de Participação Social, segundo o Gover-no Federal, é

CAPÍTULO 3: QUESTÕES SOCIAIS

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 4746

A inclusão dos cidadãos e cidadãs como sujeitos de direito e titulares de interesse no processo e toma-da de decisão governamental. Envolve, portanto, a confluência entre, de um lado, os temas e assuntos da agenda estatal e, de outro, a sociedade civil or-ganizada em torno daqueles temas, na perspectiva de uma agenda pública.

O desenvolvimento da Política Nacional de Partici-pação Social (PNPS) objetiva fomentar uma sinergia entre as várias instâncias e mecanismos de partici-pação social, desenvolvendo uma ação horizontali-zada em forma de rede onde a inclusão da sociedade possa ser efetivada em todas as áreas do Governo. De acordo com a proposta do Poder Executivo, são instâncias e mecanismos de participação social: os conselhos de políticas públicas e outros órgãos cole-giados de participação social; conferências de políti-cas públicas; ouvidorias públicas do Poder Executi-vo Federal; mesas de diálogo; fóruns interconselhos; audiências públicas; consultas públicas; e interfaces e ambientes virtuais voltados ao diálogo e participa-ção social nas políticas públicas.

Entre os principais objetivos da política estão: a im-plementação de propostas aprovadas pelas conferên-cias nacionais de políticas públicas; o monitoramento e gestão das principais discussões realizadas em fó-runs, conselhos, grupos de trabalho, comissões e ou-tras formas de interação e discussão técnica entre o Governo e a sociedade civil organizada; a ampliação das formas de consulta e participação à população, incluindo o cidadão “não organizado”; e outros.

A Secretaria-Geral da Presidência da República (SG/PR) coordena, no âmbito do Governo Federal, a re-gulamentação do Compromisso Nacional pela Parti-cipação Social (CNPS) por meio da Política Nacional de Participação Social.

A CNF participa de diversos colegiados no Governo, cooperando tecnicamente em debates sobre o mun-do do trabalho, transparência e combate à corrupção, sistema financeiro nacional, matérias tributárias e

previdenciárias, meio ambiente, questões imigrató-rias, direitos de minorias, entre outros temas. Atual-mente, a Confederação conta com mais de 131 (cento e trinta e uma) representações em diversos fóruns de debate institucional no âmbito do Poder Executivo, os que possuem o papel de colaborar com a formu-lação ou implementação de políticas públicas. A Con-federação participa desses trabalhos, seja para co-laborar com a visão técnica do setor financeiro, seja para prevenir problemas decorrentes de propostas que possam impactar negativamente a economia e a competitividade das empresas brasileiras.

Além da atuação nos Conselhos, a CNF tem partici-pado de Conferências Nacionais organizadas temati-camente, que contam, em regra, com a participação de representantes do Governo e da sociedade civil. A Confederação participou, por exemplo, das Con-ferências de Emprego e Trabalho Decente (I CNETD), dos Direitos da Pessoa com Deficiência (III CNDPD) e do Meio Ambiente (IV CNMA). Atualmente, ela repre-senta o setor financeiro na Conferência da Previdên-cia Social (I CNPS).

Um estudo do Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro (Iuperj) demonstrou que, até 2010, pelo menos 3.750 projetos de lei no Congresso Na-cional guardavam afinidade com 1.937 diretrizes re-sultantes das Conferências.

Outro trabalho recorrente na CNF é a consolidação de propostas do setor financeiro para seu posiciona-mento em consultas públicas realizadas nos portais do Governo. Dessa forma, a Confederação mantém o monitoramento de questões que possam impactar não apenas o setor financeiro, mas toda a economia e o bem-estar social no país.

A formulação de políticas públicas com a partici-pação de atores da sociedade civil é salutar, desde que as propostas sejam aprovadas por consenso em colegiados no âmbito do Poder Executivo e, em se-guida, submetidas ao escrutínio da população, por meio de seus representantes no Congresso Nacional.

Para 2015, está previsto o envio de um projeto de lei de autoria do Poder Executivo para que o Congres-so Nacional discuta e regule a participação social no desenvolvimento de políticas públicas. A medida seria uma tentativa de evitar que o Congresso Nacio-nal suste os efeitos do Decreto nº 8.243/2014, que institui a Política Nacional de Participação Social e o Sistema Nacional de Participação Social. Apresen-tado pelo Poder Executivo como um instrumento de organização das várias estruturas colegiadas e con-sultivas que já existem, o Decreto tem sido duramen-te criticado por juristas e diversos partidos políticos. Segundo a Coordenação de Participação Social na Gestão Pública da SG/PR, o Governo divulgará a mi-nuta do anteprojeto de lei para que as entidades de representação se manifestem antes de encaminhar a proposta ao Congresso Nacional.

3.4 IGUALDADE NOMUNDO DO TRABALHO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia a consolidação do princípio da igualdade nas relações trabalhistas, ao mesmo tempo em que celebra o amparo cons-titucional e a legislação que asseguram maior diversidade no ambiente de trabalho. A CNF su-blinha que, no exame de casos concretos, a le-gislação considera as funções e a produtivida-de do empregado, bem como sua localidade, o que afasta comparações simplistas baseadas exclusivamente em um único critério, seja ele sexo, idade, cor, nacionalidade ou estado civil.

Não basta a lei declarar que todos são iguais, deve propiciar mecanismos eficazes para a consecução da igualdade. Assim, o princípio constitucional da igualdade não se limita à igualdade perante a lei, mas se estende a garantir iguais oportunidades para a realização dos objetivos de cada cidadão.

A isonomia salarial é uma das aplicações possíveis do princípio constitucional da igualdade, dando tra-tamento igual para os iguais. A Constituição Federal de 1988 consagrou o princípio da isonomia salarial no seu artigo 7º, incisos XXX e XXXI, que determinam a “proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critérios de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil” e a “proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de ad-missão do trabalhador portador de deficiência”. Tam-bém o artigo 5º, inciso I, da CF, estabelece que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações.

A Lei nº 9.029/1995 coíbe a adoção de qualquer práti-ca discriminatória e limitativa para efeito de acesso à relação de emprego. O artigo 373-A da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) proíbe práticas que afetem o acesso da mulher ao mercado de trabalho. Ressal-te-se que o princípio da igualdade também inspira o artigo 461 da CLT, que delimita o direito à equipara-ção salarial somente àqueles que atendam a vários critérios – todos presentes – como ter por paradigma empregado que também trabalhe para o mesmo em-pregador; incumbido das mesmas funções; com tra-balho de igual valor (leia-se, com igual produtividade e mesma perfeição técnica); e na mesma localidade.

3.5 LEI BRASILEIRA DA INCLUSÃODA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que conciliem a garan-tia de direitos das pessoas com deficiência com medidas realistas de inserção dessas pessoas no mercado de trabalho e de adaptação dos servi-ços prestados a esse público. A CNF pondera que mudanças nos critérios de avaliação da deficiên-cia devem considerar também elementos objeti-vos e suas implicações para a segurança jurídica.

CAPÍTULO 3: QUESTÕES SOCIAIS

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 4948

O Brasil promulgou em 2009 a Convenção Interna-cional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiên-cia, que tem por propósito a promoção, proteção e garantia do exercício pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência, bem como do res-peito pela sua dignidade. Contudo, inexiste no país legislação abrangente que confira um tratamento normativo adequado ao tema.

Nesse sentido, tramitam no Congresso Nacional pro-posições que visam a criar direitos e garantias para as pessoas com deficiência. Algumas dessas propos-tas pretendem estabelecer um Estatuto, como é o caso do Projeto de Lei (PL) nº 7.699/2006, que con-centra as discussões sobre a matéria. Em julho de 2013, uma minuta desse Estatuto foi disponibilizada no portal eletrônico da Câmara, para o recebimento de contribuições da sociedade civil.

A CNF sugeriu aprimoramentos nesse texto, de modo a assegurar, entre outros direitos, que a garantia de acesso à informação pelas pessoas com deficiência seja conciliada com alternativas de disponibilização dessa informação, o que dispensaria a obrigatorie-dade de mais de um meio de comunicação quando outro já for suficiente. Também é importante a par-ticipação das empresas em relação à habilitação e reabilitação profissional de pessoas com deficiência, a fim de incluir a promoção de cursos de capacitação profissional entre os meios de preenchimento das cotas de emprego destinadas a essas pessoas.

Da mesma forma, a Confederação sugeriu, com a fi-nalidade de fortalecer a segurança jurídica, medidas que exijam a comprovação da deficiência, para fins de atendimento prioritário, nos casos em que a defi-ciência não seja notória. Existem canais de comuni-cação em que não é possível ao prestador de serviço identificar pessoa com deficiência, como ocorre no atendimento telefônico. Por isso, seria adequado exigir a declaração de vontade por parte da pessoa com deficiência para receber prioridade em seu atendimento e, assim, prevenir eventuais equívocos.

Alguns pontos do Projeto de Lei Brasileira da Inclu-são da Pessoa com Deficiência merecem reflexão cuidadosa. Entre eles figura a inclusão de nova cota de empregos para pessoas com deficiência referente a empresas que tenham entre cinquenta e cem em-pregados. Diante das peculiaridades organizacionais de pequenas e médias empresas e da elevação dos custos de adequação do ambiente do trabalho, essa nova cota deve ser ponderada com a oneração dela para o empreendedor.

3.6 ACESSIBILIDADE

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas realistas e exequí-veis voltadas para a ampliação da acessibi-lidade a instalações físicas e ao mercado de trabalho, que contribuam para a expansão do número de vagas ocupadas por pessoas com deficiência e que contemplem as dificuldades dessas pessoas não só no seu relacionamento com instituições financeiras, mas com institui-ções de todos os setores da economia.

Acessibilidade diz respeito ao acesso, ao ingresso e à permanência da pessoa com deficiência em todos os estabelecimentos e serviços públicos e privados, incluindo os das instituições financeiras, bem como o acesso ao mercado de trabalho.

A questão da acessibilidade passou a ser tratada com mais ênfase no Congresso Nacional a partir de meados da década de 90. Nesse primeiro período, a preocupação dos projetos esteve voltada para a adaptação de mobiliário e de edificações que pro-porcionasse melhor acessibilidade e atendimento aos usuários. A partir de 2000, o enfoque passou para o acesso ao mercado de trabalho e a flexibiliza-ção da jornada, com vários projetos que ora obrigam as empresas a contratarem pessoas com deficiência, ora oferecem incentivos fiscais para esse tipo de

contratação, e ainda projetos que buscam garantir jornada flexível para pais de filhos com deficiência.

O sistema financeiro envolveu-se nessa questão desde o início e foi um dos setores pioneiros na im-plementação de medidas inovadoras para o aten-dimento de pessoas com deficiência. A quantidade de terminais adaptados a pessoas com deficiência (PCD) já atinge 90% do total do parque instalado, com cerca de 150 mil terminais. Além disso, atual-mente 100% dos postos de atendimento oferecem, pelo menos, um ATM (do inglês Automatic Teller Ma-chine) adaptado para pessoas com deficiência. Além disso, o sistema bancário brasileiro disponibiliza 220 ATMs por 100 mil adultos bancarizados, um dos ín-dices mais altos do mundo, superior ao dos Estados Unidos da América (177), Alemanha (128), Reino Uni-do (127) e México (88), por exemplo.

A Lei nº 8.213/1991 (Lei de Cotas) movimentou o mercado para profissionais com deficiência e abriu mais de um milhão de vagas; no entanto, esbarrou em problemas como a falta de qualificação dos candidatos. O sistema financeiro, sob a gestão da Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN), mais uma vez inovou e lançou no segundo semestre de 2008 o Programa FEBRABAN de Capacitação Pro-fissional e Inclusão de Pessoas com Deficiência no Setor Bancário, uma parceria público-privada cujo objetivo é permitir o aprimoramento educacional e a capacitação técnica das pessoas com deficiên-cia para incluí-las no mercado de trabalho bancá-rio. Mais de 960 pessoas com deficiência já foram treinadas e integradas aos quadros de funcioná-rios dos bancos.

Além disso, o Programa FEBRABAN de Capacitação Profissional e Inclusão de Pessoas com Deficiência no Setor Bancário recebeu o Prêmio BeyondBanking 2011, uma iniciativa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) que reconhece as melhores práticas em responsabilidade social e sustentabili-dade no Caribe e na América Latina. O Programa foi selecionado pelo comitê composto por especialistas

em sustentabilidade, entre as melhores iniciativas na categoria equalBanking (estímulo à igualdade de gênero e à diversidade). Essa foi a primeira vez que uma iniciativa brasileira foi prestigiada nessa cate-goria da premiação.

Hoje, o Congresso Nacional analisa dezenas de pro-posições sobre a matéria. As diversas proposições que tratam da acessibilidade e outros direitos da pessoa com deficiência incluem a construção de rampas de acesso, adequação dos guichês de aten-dimento eletrônico e jornada de trabalho especial.

As propostas, em alguns casos, restringem-se aos bancos, desconsiderando que demais setores da economia também atendem o mesmo público. Exis-tem ainda inúmeros diplomas legais nos níveis esta-dual e municipal que tratam do mesmo tema - em sua maioria, dirigidos exclusivamente à atividade bancária. Com a popularização das transações fi-nanceiras pela internet, é falacioso o argumento de que as pessoas interagem – fisicamente – com ins-tituições financeiras com frequência maior do que recorrem a outros serviços. Também é falacioso o ar-gumento de que os resultados das instituições finan-ceiras são exagerados e justificam investimentos em acessibilidade que não são demandados de outros setores, como se vê na Seção 6.5 – Lucro e rentabili-dade bancária.

Diversos diplomas legais regulamentam a questão da acessibilidade. A Lei n° 10.098/2000 trata especifi-camente de acessibilidade de pessoas com deficiên-cia a instalações. Já a Lei nº 10.048/2000 determina tratamento diferenciado e atendimento prioritário às pessoas deficientes.

Nesse sentido, entende-se que a maioria das pro-posições em tramitação no Congresso poderiam ser atualizadas diante da legislação já existente, a que protege os direitos das pessoas com deficiência. Esse foi o entendimento predominante na III Confe-rência Nacional dos Direitos das Pessoas com Defici-ência, realizada em 2012.

CAPÍTULO 3: QUESTÕES SOCIAIS

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 5150

A Conferência organizada pelo Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CONADE), o que funciona na Secretaria de Direitos Humanos (SDH), defendeu o cumprimento da legislação e a efetivação das políticas públicas lastreadas na Con-venção da ONU, que se tornou referência de política nacional para esse público desde a promulgação do Decreto nº 6.949/2009.

3.7 CLÁUSULA DE OBSERVÂNCIA DE DIREITOS HUMANOS EM CONTRATOS

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que promovam os direi-tos humanos, no entendimento de que contratos que contenham cláusula obrigatória ligada a essa matéria definam de maneira clara e inequí-voca o que sejam violações desses direitos, de modo a garantir segurança jurídica e transpa-rência nas transações. A suspensão de contratos diante de mera suspeita, antes do trânsito em julgado de sentença condenatória, impacta a oferta e o custo do crédito. Para a CNF, as insti-tuições financeiras não podem ser responsabi-lizadas por atos de terceiros beneficiados por financiamentos concedidos mediante o cumpri-mento de todos os requisitos exigidos por lei.

Atualmente, discute-se no Congresso Nacional a obrigação de inserção de cláusulas de proteção aos direitos humanos nos contratos de financiamento. As propostas possuem a finalidade de suspender ou impedir a concessão de crédito àquele que, por ação ou omissão, violar direitos fundamentais da pessoa humana. Nesse caso, os projetos de lei preveem que o contrato ficará automaticamente suspenso até que se apurem as responsabilidades.

As instituições financeiras, sejam elas públicas ou privadas, que tenham como objetivo o fomento eco-nômico e o estímulo à atividade agrícola, comercial

e industrial deveriam, para conceder financiamento, crédito, isenção, renegociação de dívida ou quais-quer outros benefícios financeiros, avaliar se os so-licitantes cumprem toda a legislação atinente aos direitos humanos.

O tema é de grande relevância, refletindo a preo-cupação com a proteção de direitos fundamentais (à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade) e com a função social dos contratos. Contudo, a legislação brasileira sobre a matéria é esparsa e subsiste a possibilidade de cláusulas con-tratuais vagas. Ações fiscalizatórias, que devem ser realizadas por órgãos públicos, para impor a devida responsabilização civil e criminal ao empreendedor que ferir direitos fundamentais, requerem dispositi-vos contratuais precisos e inequívocos.

A introdução de cláusula obrigatória de observância de direitos humanos em contratos viria acompanha-da da obrigação dos mutuários de atenderem deter-minados requisitos legais. Uma vez demonstrado o cumprimento dessa obrigação, condição essencial para a concessão do financiamento, ficariam as ins-tituições financeiras isentas de responsabilidade por eventual violação posterior daqueles requisitos le-gais, para a qual elas não concorrem.

Além disso, existe a questão do momento em que o contrato de financiamento seria suspenso. Dispositi-vo legal que determinasse a suspensão do contrato diante de mera suspeita de violação de direitos hu-manos (já que a suspensão seria determinada antes de sentença definitiva) poderia ter sua constituciona-lidade questionada (art. 5º, LVII da Constituição Fe-deral), existindo a possibilidade, ainda, de a medida gerar prejuízos irreparáveis ao mutuário, ampliando também o risco das operações de financiamento.

A suspensão do financiamento por prazo indefini-do e sem qualquer possibilidade de compensação financeira, tal como preveem as propostas legislati-vas, geraria aumento do custo do crédito. Isso por-que as penalidades previstas no contrato somente

poderiam ser aplicadas após a sentença condena-tória definitiva, quando, então, poderia ocorrer al-gum ressarcimento. Nessa hipótese, a aprovação do crédito, ao passar por refinado sistema de con-tabilização, poderá estar vinculada ao provisiona-mento de valores em determinadas situações, o que afetaria diretamente a disponibilidade desse crédito no mercado.

Se confirmada, ao final, a violação aos direitos fun-damentais, as perdas associadas aos recursos em-prestados por meio de um contrato suspenso seriam repassadas aos demais tomadores de crédito, via encarecimento das operações envolvendo pesso-as físicas e jurídicas. Projetos de grande porte, por

exemplo, poderiam ter custos aumentados, o que reduziria investimentos em obras de infraestrutura.

A eficácia de propostas dessa natureza requer estri-ta observância da Constituição Federal e meticulosa avaliação do impacto sobre a disponibilidade e o cus-to do crédito. Ambas as condições seriam atendidas se não houvesse a necessidade de controle prévio pe-las instituições financeiras e a suspensão do financia-mento, bem como as demais penalidades (tais como multas e juros), somente fossem aplicados após o trânsito em julgado de decisão judicial que conde-nasse o tomador do crédito. Nesse caso, este seria responsável também pelo ressarcimento dos custos gerados pela suspensão de seu financiamento.

CAPÍTULO 3: QUESTÕES SOCIAIS

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4CAPÍTULO 4: QUESTÕES AMBIENTAIS

A ideia de sustentabilidade aplicada aos negócios ganhou posição de destaque na pauta tanto de consumidores quanto de empresas. No entanto, a simplificação do conceito de sustentabilidade, asso-ciado comumente com a simples preservação da na-tureza, não atende aos anseios da sociedade atual.

Em 1987, a chamada “Comissão Brundtland” (Comis-são Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimen-to), sob os auspícios das Nações Unidas, ofereceu definição de desenvolvimento sustentável. O rela-tório Nosso Futuro Comum pedia “desenvolvimen-to que satisfaça as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazerem suas próprias necessidades”. Em 1992, na Conferência do Rio, emergiu novo conceito de desenvolvimento, com três dimensões (econômica, social e ambiental). O “desenvolvimento sustentá-vel” relacionava o desenvolvimento econômico com os limites e oportunidades que os recursos naturais criam para a atividade econômica. Nesse cenário, valores como liderança, ética e confiança são aspec-tos a serem incluídos de forma permanente nas de-

cisões de negócios e essas práticas foram inseridas no dia a dia das instituições financeiras, não apenas como política compensatória.

Para as instituições financeiras, sustentabilidade não é um modismo, mas, sim, um elemento concreto nas decisões de concessão de crédito e de busca de finan-ciamento. O tempo é a matéria-prima das operações financeiras. Para um dado fluxo financeiro e certa taxa de juros, quanto mais extenso o horizonte temporal, maior será o valor presente líquido. Por exemplo, na comparação de duas empresas que solicitam crédito nas mesmas condições, a empresa sustentável tem um horizonte temporal de operações muito mais longo do que o da outra empresa que em algum mo-mento cessará suas atividades pelo esgotamento de recursos; não é surpresa que a empresa sustentável apresente maior valor presente líquido e se torne me-lhor candidata ao recebimento do crédito.

Em abril de 2010, a Federação Brasileira de Ban-cos (FEBRABAN) e o Ministério do Meio Ambiente assinaram o Protocolo de Intenções com vistas ao

questões ambientais

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas que for-taleçam práticas empresariais voltadas para a sustentabilidade das operações no tempo e o uso racional de recursos naturais, integrando aspectos econômi-cos com as dimensões sociais e ambientais em todas as decisões. Entende, ain-da, que a questão ambiental é compatível com o crescimento das operações de crédito e com o desenvolvimento econômico.

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 5554

desenvolvimento sustentável que pressuponha a preservação ambiental e uma contínua melhoria no bem-estar da sociedade. Conhecido como Protocolo Verde, declara que os bancos envidarão os melhores esforços para levar à prática os seguintes princípios:

1. Oferecer linhas de financiamento e programas que fomentem a qualidade de vida da popula-ção e o uso sustentável do meio ambiente;

2. Considerar os impactos e custos socioambien-tais na gestão de seus ativos e nas análises de risco de projetos;

3. Promover o consumo consciente de recursos na-turais e de materiais deles derivados nos respec-tivos processos internos;

4. Informar, sensibilizar e engajar continuamente as partes interessadas nas políticas e práticas de sustentabilidade das instituições, e;

5. Promover a cooperação e integração de esforços entre as instituições aderentes ao Protocolo.

Busca-se que as instituições financeiras possam desenvolver estruturas especializadas para analisar os pedidos de financiamento a projetos que envol-vam sustentabilidade e impliquem impactos sobre o meio ambiente. Muitas delas são aderentes aos Prin-cípios do Equador, ao Combate ao Trabalho Escravo e fazem parte do Índice de Sustentabilidade Empre-sarial (ISE) da BM&FBovespa.

4.1 SUSTENTABILIDADE EM INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

O desenvolvimento sustentável pressupõe a inclu-são da proteção ambiental e do eixo social no pro-cesso de crescimento econômico. Em cumprimento ao artigo 225 da Constituição Federal (CF), as insti-tuições financeiras têm o dever de defender e pre-servar o meio ambiente. Essa obrigação é reforçada pela adoção, no artigo 170, inciso VI, da CF, da defesa do meio ambiente e, no inciso VII do mesmo artigo, da redução das desigualdades regionais e sociais como dois dos princípios da ordem econômica.

Em 1999 foi criado o Dow Jones Sustainability World Index (DJSI World), indicador da bolsa de valores que avalia a desempenho empresarial quanto às suas práticas de gestão ambiental e econômica no plano global. As empresas que constam desse índice são consideradas as mais capacitadas a elevar o valor de suas ações no longo prazo, devido ao gerenciamento simultâneo de riscos associados a fatores econômi-cos, ambientais e sociais.

Em 2014, o BACEN publicou a Resolução do Conse-lho Monetário Nacional (CMN) nº 4.327/2014, que estabelece diretrizes para a implementação da Po-lítica de Responsabilidade Socioambiental (PRSA) das instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo BACEN. A Resolução é resultado do Edital de Audiência Pública nº 41/2012, que continha critérios mais específicos e que tinha como objetivo garantir maior segurança jurídica às operações e aos serviços dos bancos.

O normativo baliza a implementação de uma gover-nança pública e privada sobre a responsabilidade das instituições na gestão da política ambiental e mitiga-ção de riscos. A nova norma destaca o Brasil no cená-rio internacional no que se refere à política ambiental.

ainda, que a questão ambiental é compatível com o crescimento das operações de crédito e com o desenvolvimento econômico.

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que fortaleçam práticas empresariais voltadas para a susten-tabilidade das operações no tempo e o uso racional de recursos naturais, integrando as-pectos econômicos com as dimensões sociais e ambientais em todas as decisões. Entende,

As regras editadas pelo BACEN são genéricas e adap-táveis às características de cada instituição. O órgão definiu risco socioambiental como a possibilidade de ocorrência de perdas dos bancos e deixou sob a responsabilidade deles próprios a definição de como mitigá-lo. As instituições financeiras devem executar uma PRSA compatível com seu porte, natureza do negócio, complexidade de serviços e produtos ofe-recidos, bem como com as atividades, processos e sistemas adotados.

Segundo o texto, a implementação da Política deve seguir os princípios da relevância (grau de exposição ao risco socioambiental das atividades e das opera-ções da instituição) e da proporcionalidade (compa-tibilidade da PRSA com a natureza da instituição e com a complexidade de suas atividades).

Ainda segundo a Resolução do CMN nº 4.327/2014, as instituições devem estabelecer um plano de ação visando à implementação da PRSA. Esse plano de ação deve definir as ações requeridas para a ade-quação da estrutura organizacional e operacional da instituição. O plano deve ser aprovado pela diretoria e, quando houver, pelo conselho de administração, assegurando a adequada integração com as demais políticas da instituição, tais como as de crédito, de gestão de recursos humanos e de gestão de risco.

As diretrizes contribuirão para garantir a solidez, a higidez e a eficiência do setor financeiro brasileiro, alinhando elementos da política econômica com a proteção e a preservação do meio ambiente. Iniciati-vas como essas são importantes para as instituições financeiras na medida em que, além de preservar a imagem da instituição, mitigam perdas reais que po-dem ocorrer em operações de crédito.

Atentar para o meio ambiente não é importante ape-nas sob o aspecto de gerenciamento de risco, tam-bém representa oportunidades de negócio e pode se tornar uma vantagem competitiva tanto para as empresas quanto para as instituições financeiras.

4.2 RESPONSABILIDADE DO AGENTE FINANCIADOR (POLUIDOR INDIRETO)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o aprimoramento da legislação que trata da concessão de licenças ambientais formuladas de maneira objetiva, com base em indicadores verificáveis, de modo a garantir maior segu-rança jurídica e transparência nas transações que requeiram tais licenças. Para a CNF, a tra-mitação da concessão de licenças deve ocorrer em um intervalo de tempo compatível com o financiamento e com a realização dos projetos. A Confederação sustenta que as instituições financeiras não podem ser responsabilizadas por impactos ambientais de projetos cujo fi-nanciamento foi concedido mediante a apre-sentação de licenças e demais autorizações exigidas pelo Poder Público.

A Lei nº 6.938/1981, que estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), considera poluidor, passível de responsabilidade ambiental pela reparação dos da-nos ambientais, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamen-te, por atividade causadora de degradação ambiental.

Dispõe o artigo 12 da referida PNMA que as entida-des e órgãos de financiamento e incentivos gover-namentais condicionarão a aprovação de projetos habilitados a contratarem crédito ao licenciamento ambiental, obtido na forma da Lei, bem como ao cumprimento das demais normas, dos critérios e dos padrões expedidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).

O setor financeiro contribui para a busca da sustenta-bilidade com suas práticas de negócio. As instituições financeiras balizam a concessão de crédito pela Lei nº 6.938/1981, pela Resolução do Conselho Monetário

CAPÍTULO 4: QUESTÕES AMBIENTAIS

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 5756

Nacional (CMN) nº 4.327/2014 e pelo compromisso assumido no Protocolo Verde. Os bancos signatários passaram a incluir entre os critérios de avaliação dos riscos do financiamento, como condição para sua concessão, a verificação do cumprimento da legis-lação ambiental pelos potenciais tomadores. Para comprovar a regularidade dos projetos a serem fi-nanciados, os bancos passaram a exigir, entre os do-cumentos para acesso ao crédito, a licença ambiental expedida pelo Poder Público. A medida propicia me-nores riscos de crédito e, consequentemente, taxas, prazos e outras condições mais favoráveis a tomado-res com responsabilidade socioambiental. Empresas que não atendem à legislação ambiental ou cujos projetos apresentam potencial risco ao meio ambien-te passaram a ter dificuldades no acesso a crédito.

Em que pese a determinação da sociedade e das ins-tituições financeiras em promover a sustentabilida-de e preservar o meio ambiente, o rigor na avaliação de projetos com impacto ambiental deve ser conci-liado com a necessidade de agilidade no processa-mento das informações, uma vez que processos ex-cessivamente longos oneram as empresas e afetam sua competitividade.

O atrelamento da concessão de crédito à apresenta-ção de licença ambiental impulsiona boas práticas e contribui para que projetos não sustentáveis ou agressivos ao meio ambiente sejam inviabilizados.

Os financiamentos deverão cumprir as normas legais inerentes ao manejo adequado do meio ambiente para obter o deferimento do crédito, tal como ocor-re no âmbito do Banco Mundial. Esse dispositivo im-põe, basicamente, duas obrigações às instituições fi-nanceiras: primeiramente, condiciona a liberação de recursos à apresentação do licenciamento e, em um segundo momento, condiciona o financiamento ao cumprimento das normas administrativas ambientais.

No entanto, há divergência sobre a extensão do con-ceito de poluidor indireto, bem como dos limites da responsabilidade civil a este aplicada, dando margem

a interpretações equivocadas que tratam poluidor di-reto ou indireto de forma ampla e indistinta e que, para fins de apuração da responsabilidade, reconhecem a aplicação da teoria do risco integral, que dispensa a comprovação de nexo causal entre a ação e o dano.

Tais interpretações podem impactar negativamente a oferta de crédito, na medida em que uma instituição financeira pode ser eventualmente responsabilizada, na qualidade de poluidor indireto, pela reparação de dano ambiental decorrente da atividade financiada. Ao financiar determinado empreendimento que ve-nha a causar alguma degradação ao meio ambiente, ainda que em função de caso fortuito ou força maior, a entidade pode vir a ser obrigada a indenizar.

Nesse contexto, nos casos em que atuou de forma diligente na concessão do crédito e que o solicitan-te do crédito obteve todas as licenças ambientais e demais autorizações ordenadas pelo Poder Público, não é razoável que as instituições financeiras sejam responsáveis por eventuais degradações causadas por atividades que financiaram.

4.3 CALAMIDADES PÚBLICAS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para pre-venção e mitigação de calamidades públicas associadas a desastres naturais, bem como para rigorosa aplicação de políticas públicas formuladas para tratar das causas e consequ-ências desses desastres. Para a CNF, poderiam ser criados fundos ou seguradoras oficiais, fi-nanciados com recursos públicos, para dar co-bertura a sinistros provocados por manifesta-ções violentas da natureza. Esse tipo de seguro pode ser associado a incentivos para a oferta de serviços e de produtos financeiros diferen-ciados em condições excepcionais em bases voluntárias e concorrenciais.

No Brasil, a maioria dos casos de decretação de es-tado de calamidade pública pelos Municípios está li-gada a desastres naturais. Em muitos dos eventos re-centes, que causaram grande comoção na população brasileira, as instituições financeiras assumiram pa-pel protagonista na solução dos problemas, seja ao conceder créditos extraordinários para reconstrução de áreas e instalações afetadas, seja ainda ao atua-rem como agentes captadores de doações, na forma de depósitos ou de mantimentos e outros materiais.

Desastres naturais inspiraram diversos parlamentares a apresentarem meritórios projetos voltados para a prevenção e mitigação de calamidades públicas. Nes-ses projetos, destaca-se a adequada preocupação com a capacidade de as vítimas arcarem com pagamentos de suas contas e demais compromissos financeiros, inclusive tarifas por serviços bancários e prestações de financiamentos das mais variadas espécies, pelo menos até que se restabeleça a normalidade. Consi-dera-se acertadamente, nesses casos, que muitas das vítimas são obrigadas a abandonar seus lares, fican-do impossibilitadas temporariamente de trabalhar e, consequentemente, de honrar seus compromissos.

Em que pese o acerto dessas preocupações, elas não consideram três elementos importantes. Em primei-ro lugar, a maioria das vítimas de desastres naturais é atingida menos por manifestações violentas da na-tureza e mais pela ausência de medidas de política pública, ou pela não aplicação de medidas existen-tes. O caso mais evidente é o da ocupação irregular do solo, que pode se tornar fatal quando acontecem no Brasil enchentes de verão, que em outros países causam número menor de vítimas mesmo quando sobrevêm com igual intensidade. Em segundo lu-gar, no mundo inteiro, as companhias seguradoras ou não oferecem cobertura, ou a proveem de forma muito limitada aos chamados “atos de Deus”, isto é, a sinistros causados pela ação violenta da natureza. Por fim, as instituições financeiras não têm mandato de seus clientes para suspender cobranças feitas em favor destes, nos casos em que atuam como meras intermediárias (diferentemente da suspensão de

tarifas, taxas e juros vinculados a produtos das pró-prias instituições financeiras).

A Constituição Federal (CF) estabelece em seu artigo 182 que compete ao Poder Público ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais das cidades e garantir o bem-estar de seus habitantes. Nesse qua-dro, a inexistência de políticas públicas, a não aplica-ção de políticas existentes e sinistros causados pela natureza não podem se converter em obrigatorieda-des para setores específicos da economia. A solução correta passa pela formulação de políticas públicas voltadas para prevenção e mitigação de desastres naturais, pela rigorosa aplicação daquelas já exis-tentes (tais como ocupação do solo) e pela criação de seguros oficiais que preencham a lacuna deixada por seguradoras privadas que não têm capacidade financeira para cobrir os “atos de Deus”.

É razoável exigir que as instituições financeiras cum-pram o papel que lhes reserva o artigo 192 da CF, de

“promover o desenvolvimento equilibrado do país e a servir aos interesses da coletividade”. Para tanto, é necessário conciliar a oferta de serviços e de produ-tos financeiros diferenciados em condições excep-cionais de calamidades públicas com a viabilidade econômica das empresas que atuam no setor finan-ceiro. A melhor maneira de fazê-lo é pela criação de incentivos e pela livre concorrência.

4.4 COMPRAS SUSTENTÁVEIS

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a introdu-ção do compromisso de compras sustentáveis entre os objetivos corporativos como uma das condições para as empresas cumprirem seu pa-pel social, no entendimento de que tal compro-misso respeita o equilíbrio econômico e a com-petitividade da atividade empresarial.

CAPÍTULO 4: QUESTÕES AMBIENTAIS

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 5958

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), em conjunto com o Groupe AFNOR (Association Française de Normalisation), está formulando novas diretrizes para o processo de compras sustentáveis. O objetivo dessa reformulação é facilitar a operacio-nalização e a incorporação de valores das diversas dimensões da responsabilidade social sob parâme-tros de ordem econômica.

A ISO 26000 contém diretrizes sobre recomendações universais no domínio da responsabilidade social. De acordo com a International Organization for Stan-dardization (ISO), a responsabilidade social permite às organizações maximizar sua contribuição para o desenvolvimento sustentável e reconhecer os im-pactos de suas decisões e atividades. Assim, cresce o interesse comum de convergir no sentido da ado-ção de boas práticas para compras responsáveis que sejam universalmente reconhecidas.

Os temas que estão relacionados à Norma ISO 26000 são a governança organizacional, direitos humanos, práticas trabalhistas e comerciais justas, questões relativas ao consumidor, ao meio ambiente e, ainda, ao desenvolvimento. As compras responsáveis devem levar, ainda, à exis-tência de relações equilibradas entre clientes e for-necedores, baseadas em uma genuína preocupação com o respeito a noções de ética e boa conduta. O respeito aos direitos do consumidor deve ser obser-vado nas práticas operacionais de todas as funções de compra empresarial, pois contribuem para o su-cesso da sua atividade no longo prazo e projetam uma imagem positiva da organização. Por fim, o envolvimento comunitário e desenvolvimento local são apontados como importantes para as empresas e organizações públicas, pois as compras consti-tuem um dos meios de envolvimento com comuni-dades no seu território, permitindo que elas contri-buam para o seu desenvolvimento.

No aspecto ambiental, essas questões devem ser le-vadas em consideração na política de compras, que

deve ser um compromisso concreto de evitar a po-luição, usar recursos sustentavelmente, mitigar e se adaptar a mudanças climáticas, proteger o meio am-biente e restaurar habitats naturais. A incorporação da dimensão ambiental à política de compras de uma organização ajuda a limitar o consumo de recursos naturais e a diminuir riscos operacionais e financeiros.

4.5 POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que incentivem a efetiva implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos e que se valham do desenvol-vimento de hábitos de consumo sustentáveis como um conjunto de instrumentos que propi-ciem o aumento da reciclagem, da reutilização dos resíduos sólidos e com vias a facilitar da in-cessante atualização tecnológica acompanha-da de preocupação com o impacto ambiental de equipamentos descartados por obsoletos.

As instituições financeiras são grandes geradoras de resíduos recicláveis, principalmente papel, e em-pregam maciçamente equipamentos eletrônicos de processamento e armazenamento de dados, de comunicações e de segurança, entre outros, que re-sultam em significativo volume de resíduos tecnoló-gicos em decorrência da constante preocupação de renovação de hardware.

A Lei nº 12.305/2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), contém instrumentos im-portantes que permitem o avanço do país no enfrenta-mento dos principais problemas ambientais, sociais e econômicos decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos. A Lei tem como princípio a coope-ração entre as diferentes esferas do Poder Público, o setor empresarial e demais segmentos da sociedade, além de disciplinar a redução da geração de resíduos.

A PNRS propõe a prática de hábitos de consumo sus-tentáveis como um conjunto de instrumentos que propiciem o aumento da reciclagem, da reutilização dos resíduos sólidos (aquilo que tem valor econômi-co e pode ser reciclado ou reaproveitado) e a desti-nação ambientalmente adequada dos rejeitos (aqui-lo que não pode ser reciclado ou reutilizado).

Referida Lei prevê ainda a sistemática de acordos se-toriais (art. 33 da Lei nº 12.305/2010), ou seja, atos de natureza contratual que são firmados entre o Poder Público e o setor privado.

Outro ponto importante para o setor empresarial é a responsabilidade compartilhada (art. 30 da Lei nº 12.305/2010) pelo ciclo de vida dos produtos. Trata-se de um conjunto de atribuições do setor empresa-rial, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos com o intuito de minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como a re-dução dos impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental.

Merece destaque a política de logística reversa (art. 3º, inciso XII da Lei nº 12.305/2010) instituída por esse normativo. Essa logística é um instrumento de desenvolvimento econômico e social, cuja principal característica é a adoção de um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial. Seu objetivo final é o reaproveitamento em seu ciclo, em outros ciclos produtivos ou em ou-tra destinação ambientalmente adequada.

O Decreto nº 7.404/2010 regulamentou a Lei nº 12.305/2010 e criou o Comitê Interministerial da Políti-ca Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa, instituindo outras providências sobre a definição dos sistemas de coleta, com priorização da participação de cooperativas ou de outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis cons-tituídas por pessoas físicas de baixa renda.

Em 2013, a IV Conferência Nacional do Meio Ambien-te (CNMA) foi um dos instrumentos norteadores das discussões sobre a implementação da PNRS. Partici-param do evento 200 mil pessoas em todo o país. A finalidade da IV CNMA foi buscar cooperação técnica e financeira para a gestão integrada dos resíduos só-lidos em todo o território nacional, para a definição do papel da sociedade e do Poder Público no tema.

Para acompanhar e contribuir com a implementação das deliberações, o Ministério do Meio Ambiente ins-tituiu o “Comitê de Acompanhamento das Delibera-ções da IV CNMA”. Com reuniões semestrais ou convo-cadas em caráter extraordinário, os representantes da sociedade civil e do Poder Público se reúnem para partilhar avanços ou dificuldades de implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Os bancos em especial têm internalizado a premissa de logística reversa em sua cultura organizacional e no ambiente de negócios, principalmente no tocan-te à reciclagem de equipamentos eletrônicos e ATMs (máquinas de autoatendimento). Essas instituições destinam à reciclagem os seus resíduos eletrônicos a um processo de logística reversa, no qual, após a desmontagem dos equipamentos, os materiais (aço, plástico e componentes eletrônicos) são separados e aproveitados. O tratamento desses resíduos de forma adequada é fundamental, pois alguns de seus elemen-tos, como chumbo, mercúrio e cádmio, são tóxicos.

O Brasil produz atualmente 680 mil toneladas de re-síduos de equipamentos eletroeletrônicos por ano. Em 2013, dois dos maiores bancos do país deram a adequada destinação para mais de seis toneladas de resíduos eletrônicos, o que demonstra o compromis-so do setor financeiro com as políticas ambientais.

CAPÍTULO 4: QUESTÕES AMBIENTAIS

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5CAPÍTULO 5: REFORMAS ESTRUTURAIS

Não existe economia forte com setor financeiro fraco, tampouco há setor financeiro forte em economia frá-gil. Para as instituições financeiras cumprirem bem seu papel de promotoras do crescimento econômico e do desenvolvimento socioambiental, é importante que operem em um ambiente aberto e competitivo, que incentive a eficiência.

O Brasil passou por profundas mudanças estrutu-rais desde a promulgação da Constituição de 1988, com impacto sobre a estrutura e o funcionamento do setor financeiro. Também o cenário internacio-nal experimentou alterações radicais. Como pano de fundo, a globalização, que parecia um modismo há pouco mais de vinte anos, hoje é uma realidade concreta que afeta as vidas de milhões de brasilei-ros, suas rendas, seus empregos e a maneira como consomem bens e serviços. No curto e médio prazos, a crise financeira internacional, que se instalou a partir do segundo semestre de 2007, reclama ajustes profundos para que não seja comprometida a pers-pectiva do crescimento econômico do Brasil. Muito da legislação previdenciária, trabalhista, sindical e

fiscal não acompanhou essas mudanças, o que pode vir a se tornar barreira para um ambiente de negó-cios eficiente e competitivo.

5.1 NOVO MODELO PREVIDENCIÁRIO PARA NOVOS TRABALHADORES

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia um novo modelo previdenciá-rio para novos trabalhadores com: segregação entre Previdência e Assistência; segregação en-tre benefícios de risco e benefícios programá-veis, sendo o financiamento dos benefícios de risco em regime solidário e mutual; classifica-ção dos benefícios programáveis, ou aposen-tadoria propriamente dita, baseados em dois pilares: (i) de repartição e (ii) de capitalização; montagem de um planejamento atuarial rigo-roso e realista; estabelecimento de um modelo único e universal para todos os beneficiários

reformas estruturais

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras acompanha com inte-resse propostas de reformas estruturais nas legislações previdenciária, traba-lhista, sindical e fiscal, voltadas para maior transparência nas relações con-tratuais, para maior segurança jurídica e para simplificação de procedimentos com vistas a conferir à economia brasileira mais eficiência e competitividade.

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 6362

O novo modelo previdenciário para novos trabalha-dores não constitui uma reforma da Previdência So-cial, uma vez que os direitos dos trabalhadores em ati-vidade seriam preservados. Trata-se de uma proposta voltada apenas para os novos e futuros participantes da Previdência Social, do setor público ou privado, portanto ainda não incluídos no mercado de trabalho.

A despesa do governo com todo o sistema de Previ-dência chegou a R$446 bilhões em 2013, o que cor-responde a pouco mais de 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB). O valor da despesa total do Instituto Na-cional do Seguro Social (INSS) foi de R$398 bilhões, 12% maior que no ano anterior. Com isso, houve resultado deficitário de R$51,2 bilhões no período. No acumulado de janeiro a setembro de 2014, as despesas alcançaram mais de R$289 bilhões, sendo que a necessidade de financiamento atingiu R$48,2 bilhões. As rubricas com maior participação nas des-pesas do INSS foram aposentadorias por tempo de contribuição, pensões por morte previdenciária e aposentadorias por idade cujas participações foram de 24,1%, 21,2% e 21,2%, respectivamente.

O modelo previdenciário brasileiro está consumindo a saúde financeira e, com ela, a própria capacidade de geração de recursos do setor público. Em 2013, o de-ficit previdenciário alcançou o montante de R$112,9 bilhões, o que equivale a 2,34% do Produto Interno Bruto (PIB), sendo que o Regime Geral da Previdência Social (RGPS) registrou deficit de R$51,3 bilhões, em valores nominais, com aumento de 14,8% em relação a 2012, enquanto que o Regime Próprio de Previdên-

cia Privada (RPPS), por sua vez, apresentou deficit de R$61,3 bilhões. Isso tem importantes consequências sobre a dívida pública, a taxa de juros, o nível de in-vestimentos e as demais despesas do Estado, inibin-do, por consequência, o crescimento econômico e estabelecendo um círculo vicioso de estagnação que precisa ser rompido. As contas da previdência são agravadas pela rápida mudança demográfica em cur-so e pelas baixas idades de aposentadoria.

Quanto à Previdência pública, em uma comparação quantitativa internacional, observou-se que o Brasil, uma nação ainda jovem com aproximadamente 7,5% de sua população acima de 65 anos, gastou qua-se 7,5% do PIB em 2014, aproximadamente R$400 bilhões, chegando ao patamar de 22,7% de todo o gasto do Governo. Nos países da Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), as mesmas despesas variam de 1,5% a 9,2% do PIB.

Seria um equívoco circunscrever a crise previdenciá-ria ao mero combate ao deficit operacional. A solução passa por um novo modelo previdenciário que possa não só contemplar os direitos de todos os que são assistidos pelo sistema atual como também abrir um horizonte mais amplo para os trabalhadores que, no futuro, vierem a ingressar na Previdência Social.

Um grupo de especialistas escolhidos por diversas en-tidades representativas de segmentos econômicos e profissionais, após um exame mais profundo do qua-dro previdenciário brasileiro, ofereceu para debate uma série de itens que poderiam figurar na construção de um novo modelo previdenciário no Brasil. São eles:

■ Segregação entre Previdência e Assistência; ■ Segregação entre benefícios de risco e benefícios

programáveis, sendo o financiamento dos bene-fícios de risco em regime solidário e mutual;

■ Classificação dos benefícios programáveis, ou aposentadoria propriamente dita, baseados em dois pilares:

(i) de repartição; (ii) de capitalização.

da Previdência Social; correção dos benefícios previdenciários e assistenciais por um índice de preços; e reconhecimento dos direitos fe-mininos. Para a CNF, a participação do setor privado na gestão de fundos previdenciários é essencial não só para conferir eficiência admi-nistrativa, mas também para introduzir refe-rencial de preços (benchmark).

■ Montagem de um planejamento atuarial rigoro-so e realista;

■ Estabelecimento de um modelo único e univer-sal para todos os beneficiários da Previdência Social;

■ Correção dos benefícios previdenciários e assis-tenciais por um índice de preços; e

■ Reconhecimento dos direitos femininos.

A segregação entre previdência e assistência visa a preservar as finalidades e características do sistema previdenciário (horizonte de longo prazo e fontes de custeio contributivas), em contraste com as políti-cas assistenciais do Estado (horizonte de governo e fontes de custeio não contributivas). Também a se-paração entre eventos de risco e eventos programá-veis tem por objetivo distinguir as características e fontes de custeio próprias desses benefícios e lhes dar tratamento específico. A segregação deve ser completa, abrangendo a execução orçamentária e o registro contábil.

Esquematicamente, os benefícios assistenciais não contributivos assentam sobre um modelo de assis-tência social universal que independe de contribui-ções dos beneficiários e, por isso mesmo, cabe ao Es-tado provê-los. Já os benefícios previdenciários são contributivos e assentam sobre dois modelos: os de risco e os programáveis. Os primeiros, que incluem doença, invalidez, maternidade, reclusão e pensão, continuariam a ser tratados em regime mutualista pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Isso não significa que não haja necessidade de revê-los na busca de um melhor equilíbrio do ponto de vista de sua estrutura e gestão. Essa revisão, no entanto, não foi objeto da proposta do novo modelo previ-denciário, pois já vem sendo alvo de medidas no âm-bito do Governo. Os outros benefícios referem-se es-sencialmente à aposentadoria, cujo modelo repousa sobre a equivalência entre o valor do benefício e as contribuições do beneficiário.

A proposta de novo modelo previdenciário prevê, quanto aos benefícios programáveis, três regimes:

■ Repartição (benefício definido); ■ Capitalização (contribuição definida); ■ Capitalização facultativa.

No regime de capitalização facultativa, o beneficiá-rio utilizará a Previdência Complementar, seja aber-ta ou fechada, conforme modelo já existente.

Os benefícios programáveis serão sustentados em duas bases. A primeira corresponde ao atual Regi-me Geral de Previdência Social e assentará, por sua vez, em outros dois pilares: um, com característica de benefício definido e em sistema de repartição (solidário e mutual); e outro, de contribuição defi-nida durante o período trabalhado e em sistema de capitalização (contas individualizadas). A segunda base corresponde à atual Previdência Complemen-tar, aberta ou fechada, de caráter facultativo e que, por estar operando adequadamente, não é objeto do Novo Modelo da Previdência Social.

O projeto apresenta várias vantagens para o Brasil, entre as quais:

■ A retomada de investimentos pelo Governo. Isso não se daria pela redução imediata das despesas previdenciárias, que só serão obtidas no longo prazo, mas pela possibilidade, no cur-to prazo, de uma queda mais significativa da taxa de juros no País, graças à percepção pelos agentes econômicos da redução do risco Brasil, e pelas perspectivas de atração de maior volu-me de investimentos estrangeiros para projetos de infraestrutura;

■ Menor resistência política. Como não se trata de uma reforma previdenciária, mas sim da criação de um novo modelo para os novos trabalhado-res, a proposta não questiona nem suprime di-reitos adquiridos;

■ Inclusão social. Os trabalhadores poderiam ser incluídos nos benefícios do crescimento do País por meio da aplicação de parte de sua poupan-ça previdenciária nas empresas geradoras da ri-queza nacional;

CAPÍTULO 5: REFORMAS ESTRUTURAIS

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 6564

■ Aumento da renda. Possibilidade de os traba-lhadores obterem uma melhor remuneração na aposentadoria com a redução das obrigações do Estado brasileiro.

5.2 REFORMA TRABALHISTA E SINDICAL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras acompanha com grande interesse propostas de reforma trabalhista e sindical que assegurem a proteção dos direitos dos traba-lhadores, entre eles o de representação sindical, sem implicar custos de contratação irrealistas e exorbitantes que prejudiquem a geração de em-pregos e o crescimento econômico. A CNF apoia propostas que não criem insegurança jurídica, presente sempre que dispositivos são redigidos de maneira genérica e vaga, sem limitação dos direitos e obrigações de empregados e empre-gadores e sem previsão de sanção para o des-cumprimento por ambas as partes. Para a Con-federação, propostas de reforma sindical devem estar sempre vinculadas a propostas de reforma trabalhista, de forma a tratar simultaneamente dos interesses de empregados e empregadores e de suas respectivas representações.

Trabalhadores de todos os setores tanto mais se beneficiam quanto maior a taxa de crescimento da economia brasileira e mais acelerada a redução das desigualdades de renda. Em um cenário ide-al, crescimento econômico e distribuição de renda caminham juntamente com proteção dos direitos trabalhistas, entre eles o de representação sindical. No cenário inverso, a exacerbação desmesurada de direitos trabalhistas aumentaria exageradamente os custos de contratação e reduziria tanto a oferta de emprego quanto o próprio crescimento econômico. Uma reforma trabalhista e sindical bem sucedida conseguiria lograr o equilíbrio entre, de um lado, crescimento econômico, geração de empregos e dis-

tribuição de renda e, de outro, custos de contratação e proteção aos direitos trabalhistas.

No que diz respeito à reforma sindical, a CNF acom-panha com preocupação a proliferação de sindica-tos sem representatividade, com consequente am-pliação do número de dirigentes sindicais.

De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o país tem, hoje, 15.739 sindicatos, sendo 68% desse total da classe trabalhadora e 32% da classe patronal. Em relação ao ano passado, o avanço da quantidade de registros ativos foi de 4,8%. Mesmo assim, a quantidade de trabalhadores sindicalizados continua em tendência de queda. Hoje, são 6,32 mi-lhões de trabalhadores associados a sindicatos, ou 15,5% dos ocupados, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), de 2013, do IBGE. Há cinco anos, em 2009, os trabalhadores associa-dos contavam mais de 16 milhões de empregados, aproximadamente 17,7% da população ocupada.

O quadro foi agravado pelo advento da Portaria nº 186/2008 do MTE, que possibilitou a criação de mais de um sindicato na mesma base territorial, introduzindo a tendência de que mais sindicatos de pequeno porte sejam criados. As confederações patronais não reconhecem a legalidade dessa Por-taria Ministerial.

A fragmentação dos sindicatos está na origem de propostas de ampliação da representação sindical. A legislação atual assegura a estabilidade para até sete e, no mínimo, três membros da diretoria e um Conselho Fiscal, composto de três membros. Na vi-são da CNF, esse número de membros é suficiente para a administração do sindicato que conta, inclu-sive, com um bom quadro funcional de técnicos e assessorias para prestar assistência e defender os direitos dos seus sindicalizados. Assim, eventuais alterações na representação sindical deveriam ser tratadas no âmbito das negociações coletivas de trabalho, como já ocorre em diversas categorias que discutem e aceitam cláusulas que aumentam o nú-

mero de dirigentes sindicais. A própria Convenção 87 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que dispõe sobre a liberdade sindical e proteção do direi-to sindical, não alterou o número de dirigentes para a administração dos sindicatos, o que indica que a negociação coletiva é a forma mais apropriada para solucionar a questão.

No que diz respeito à reforma trabalhista, a CNF iden-tifica uma série de questões que poderiam ser objeto ou de regulamentação por diploma legal, ou de ne-gociação coletiva, com vistas ao estabelecimento de relações trabalhistas flexíveis, compatíveis com uma economia dinâmica e competitiva. Entre essas ques-tões estariam (numa relação não exaustiva):

■ Duração da jornada de trabalho; ■ Fracionamento de férias; ■ Proteção do mercado de trabalho da mulher; ■ Terceirização; e ■ Multa sobre o fundo de garantia do tempo de

serviço.

5.3 REFORMA FISCAL

Há hoje várias distorções no sistema tributário brasi-leiro: a carga tributária de 35,95% do Produto Interno Bruto (PIB) não é compatível com a economia de um país em desenvolvimento; os mais de noventa tribu-tos, acrescidos de obrigações tributárias acessórias, não são administráveis por pequenas e médias em-presas; as alíquotas elevadas não são proporcionais às bases tributárias reduzidas; e a superposição de impostos sobre a cadeia produtiva não afeta aqueles que podem contribuir mais.

Para agravar esse quadro, propostas de reforma tri-butária examinadas no passado incorporaram uma percepção equivocada que introduz insegurança jurídica. Essa percepção é a de que o sistema finan-ceiro extrai lucros exagerados dos demais setores da economia mediante a imposição de taxas de ju-ros excessivas. Como corolário, o setor deveria estar sujeito à tributação adicional, mesmo que esta seja inconstitucional e gere incertezas sobre uma futura extensão da diferenciação a outros segmentos, não por sua lucratividade ou resultado – base do tributo

–, mas sobre sua atividade.

A noção de que as instituições financeiras obtêm resultados exagerados vem da publicação do valor absoluto de lucros das empresas do setor. Essa di-vulgação raramente é acompanhada de informações sobre lucratividade, que permitiria comparar o setor financeiro com outros segmentos da economia bra-sileira e com os de outros países. Contudo, as insti-tuições financeiras brasileiras não apresentam lucra-tividade excepcional quando cotejadas com as de outros setores e de outros países.

Essa percepção equivocada de lucratividade exage-rada deriva, em boa medida, do fato de os bancos brasileiros atuarem em um ambiente de elevadas

cional da isonomia; para tanto deve considerar resultados (ou receitas, ou lucros) e não a natu-reza da atividade econômica.

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para maior eficácia e transparência do sistema tri-butário nacional, bem como para o equilíbrio das contas públicas. As instituições financeiras acompanham propostas de reforma tributária, preocupadas com o aprimoramento de temas que vão muito além dos assuntos tópicos di-retamente relacionados com suas operações. Para a CNF, projetos voltados para a moder-nização da legislação tributária deveriam, em princípio, evitar ser definitivos, o que lhes con-fere boa dose de realismo. A criação de novos tributos, bem como alterações no fato gerador, na base de cálculo e na alíquota daqueles já existentes, deve respeitar o princípio constitu-

CAPÍTULO 5: REFORMAS ESTRUTURAIS

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 6766

taxas de juros. Porém, os bancos não fazem os juros, talvez fosse mais certo dizer que os juros fazem os bancos. O juro é o preço que paga o tomador pela es-cassez do crédito, pela cunha fiscal e pelo desajuste nas contas fiscais do setor público. O setor financeiro não obtém lucros por meio de altas taxas de juros. Na verdade, os lucros são obtidos a partir da diferen-ça entre taxa de captação e taxa de repasse de recur-sos. Quanto maiores as taxas de juros, maior o risco de inadimplência, maiores as provisões necessárias para cobrir esse risco e menores os resultados.

Lucro alto não significa grande lucratividade – a me-dida de desempenho de qualquer empresa ou setor. Porém, a percepção equivocada dos resultados de ins-tituições financeiras, em que o lucro absoluto é confun-dido com a lucratividade relativa, conduz às propostas de tributação diferenciada do setor. A rentabilidade do setor financeiro depende menos do patamar das taxas de juros e mais da estabilidade econômica com jus-tiça fiscal. Para as instituições financeiras, o País fará grande avanço se vier a adotar sistema compatível com padrões internacionais de tributação, com redis-tribuição da carga tributária e adoção do princípio da progressividade, preservados a renda, o patrimônio e o consumo como base referencial de tributação. A simplificação, desburocratização e estabilidade da legislação tributária, com a redução da tributação em cascata, aumentariam a competitividade.

A discriminação tributária de um setor contraria os princípios da capacidade contributiva e da isonomia, ambas limitações constitucionais ao poder de tribu-tar. A Constituição Federal (CF) vincula a “capacidade econômica” ao patrimônio, rendimentos e atividades econômicas do contribuinte (CF, art. 145, §1º), não ao setor em que este opera. Tal contribuinte está sujeito apenas a impostos, não aos demais tributos (taxas, contribuições de melhoria, contribuições e emprésti-mos compulsórios). Ademais, está sujeito apenas a impostos pessoais, isto é, àqueles que incidem sobre bens, receitas e operações. O princípio da isonomia tributária (CF, art. 150, II), por sua vez, busca a igual-dade na lei e a igualdade perante a lei, ao dar trata-

mento desigual aos que são juridicamente desiguais. A Constituição cria exceções ao princípio da isono-mia, tais como os incentivos fiscais para desenvolver determinadas regiões, regime tributário favorecido para microempresas e empresas de pequeno porte, além da possibilidade de discriminar entre ramos de atividade econômica por motivo extrafiscal, desde que a distinção seja razoável (como é o caso da isen-ção de IPI para taxistas e deficientes físicos). Porém, não menciona exceções para setores específicos.

A cobrança diferenciada poderia se justificar somen-te pela adoção de alíquotas maiores em função do lucro ou da lucratividade, para todos os setores da economia. O lucro já é um critério adequado e justo para diferenciar contribuintes com capacidade con-tributiva mais elevada, para fins de incidência do Im-posto sobre a Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ). No caso do setor financeiro, ademais do desestímulo à produtividade, a tributação diferenciada não corres-ponde a uma lucratividade maior do que a de outros setores, mas pode introduzir insegurança jurídica, uma das raízes das elevadas taxas de juros no Brasil.

A CNF propõe o aperfeiçoamento do dispositivo que estabelece obrigatoriedade de lei complementar para criação de novos tributos, para que determine que a carga tributária dos impostos contemplados seja, ao final do período de transição, no máximo igual à do ano anterior às alterações promovidas pela proposta. Para a Confederação, qualquer au-mento de arrecadação deveria ser esterilizado, de modo a não financiar novas despesas, pela redução das alíquotas. A CNF também defende a preservação dos princípios da anterioridade e da noventena, que são indispensáveis para assegurar a proteção do contribuinte, ademais da vedação ao uso de medi-das provisórias em questões de natureza tributária. Propõe a redução do número de tributos e da bu-rocracia para seu recolhimento. Numa relação não exaustiva, a CNF advoga: constitucionalização das regras do Imposto sobre Serviços de Qualquer Na-tureza (ISS), de forma que sejam estabelecidas, por lei complementar, regras uniformes para todos os

municípios (notadamente no que se refere à base de cálculo, alíquota, lista de serviços, titularidade ativa, responsabilidade tributária, local do pagamento e obrigações acessórias); unificação da legislação do Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias (ICMS); desoneração dos investimen-tos; estímulo às exportações ao determinar o recolhi-mento do ICMS para o Estado de destino; eliminação do regime cumulativo da Contribuição para o Pro-grama de Integração Social (PIS) e da Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins); e a extinção tanto da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico incidente sobre as Operações realizadas com Combustíveis (Cide-Combustíveis) quanto do Salário-Educação.

5.3.1 CONTROLE DOS GASTOS PÚBLICOS – LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia projetos voltados para a con-solidação da Lei de Responsabilidade Fiscal e para o estabelecimento de limites financeiros e orçamentários claros e verificáveis para os três níveis de Governo – União, Estados e Municípios – além de empresas estatais, como instrumento de controle dos gastos públicos. A CNF repudia eufemismos como “flexibilização da LRF”, que representam retrocesso no grande avanço insti-tucional que logrou a cidadania com a aprova-ção da Lei Complementar nº 101/2000.

O controle dos gastos públicos é compromisso fun-damental do Estado com os contribuintes, não só para evitar desperdício de recursos escassos, mas também para assegurar a qualidade desses gastos e sua destinação correta. É um dos instrumentos de atuação contra a inflação e um dos alicerces da cidadania. Esse controle ganhou rigor com a apro-vação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que representou um dos maiores avanços institucionais

do Estado brasileiro e foi fundamental para a estabi-lidade econômica que permite ao Brasil trilhar a rota do crescimento sustentado.

A Lei Complementar nº 101/2000 regulamenta o ar-tigo 163 da Constituição Federal. Desde sua aprova-ção, a LRF coexiste com forças antagônicas. De um lado, os contribuintes brasileiros percebem os bene-fícios de uma gestão fiscal pautada pelo respeito a li-mites financeiros e orçamentários que impede entes do setor público de recorrer ou à União ou a fontes inflacionárias para custear desequilíbrios. De outro, entes públicos pressionam para reduzir esses limites financeiros e orçamentários e retomar velhas práti-cas que contribuíram para o período inflacionário, recorrendo muitas vezes ao eufemismo da “flexibi-lização” da LRF. No Congresso Nacional, há proposi-ções nesses dois sentidos.

5.3.2 MUDANÇA DO INDEXADOR DAS DÍVIDAS DOS ESTADOS E MUNICÍPIOS

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a estrita aplicação das normas estipuladas pela Lei de Responsabilidade Fiscal à indexação das dívidas dos Estados e Municípios junto à União, propor-cionando credibilidade fiscal perante os agentes financeiros nacionais e estrangeiros e com isso contribuindo para o crescimento da economia.

Após longo debate no Congresso Nacional, foi san-cionada pela Presidência da República a Lei Com-plementar nº 148/2014, que altera o indexador das dívidas dos Estados e Municípios junto à União. De acordo com a Lei, o Governo Federal poderá realizar a troca do indexador que tem por objetivo a corre-ção das dívidas dos Estados e Municípios. Anterior-mente, seu serviço girava entre 6 % a 9% de juros ao ano juntamente com o Índice Geral de Preços – Dis-ponibilidade Interna (IGP-DI), que é calculado pela

CAPÍTULO 5: REFORMAS ESTRUTURAIS

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 201568

Fundação Getúlio Vargas, passando a ser de 4% de juros ao ano, atrelada a taxa básica da economia, a meta do Sistema Especial de Liquidação e de Custó-dia (taxa Selic) ou ao Índice de Preços ao Consumi-dor Amplo (IPCA), dos dois o menor.

O entendimento é de que, com a redução do indexa-dor da dívida dos Estados e Municípios, será menor a arrecadação por parte do Governo Federal, com-pensada por maior autonomia para os entes subna-

cionais para futuros investimentos. Contudo, a alte-ração poderá trazer desequilíbrio às contas públicas, alterando o superavit primário da União e reduzindo a avaliação das agências de classificação de riscos.

A Confederação acompanha com preocupação me-didas que busquem alterar os indexadores aplicados a dívidas de Estados e Municípios, com efeitos retro-ativos, e que facilitem a emissão de títulos mobiliá-rios por esses entes.

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6CAPÍTULO 6: EFICIÊNCIA ECONÔMICA E COMPETITIVIDADE

A eficiência econômica é um dos princípios que norteiam a operação das empresas, em geral, e das instituições financeiras, em particular. Trata-se de otimizar o emprego de recursos escassos para obter os mesmos – ou melhores – resultados. O recurso escasso mais evidente, para os setores público e privado, é a poupança, sem a qual não se materia-liza o correspondente investimento. Para o setor fi-nanceiro, porém, outro importante recurso escasso é o tempo – muitas vezes desbaratado em proce-dimentos burocráticos. Também o espaço ocupado por instalações e arquivos tem impacto sobre efici-ência econômica.

A eficiência econômica está estreitamente vincu-lada à competitividade. Empresas - entre elas ins-tituições financeiras – que desperdiçam recursos escassos em operações que não buscam alcançar objetivos estratégicos tendem a ser menos compe-titivas e a desaparecer.

6.1 CUSTO DE OBSERVÂNCIA

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas que contribu-am para o fornecimento aos Três Poderes de farta e minuciosa informação originária do setor privado para enriquecer a formulação de políticas públicas. Para a CNF, a destina-ção de recursos escassos privados (tais como plataforma de processamento de dados) para a prestação dessas informações deve levar em consideração tanto o custo associado à implantação de novos sistemas quanto a dis-ponibilidade prévia dessas mesmas informa-ções em bancos de dados da Administração Pública. Para a Confederação, novos sistemas governamentais de informações não devem necessariamente se converter em obrigações acessórias para fins tributários e o escalona-mento da implantação desses novos sistemas contribui para mitigar custos.

eficiência econômicae competitividade

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas para a otimização do emprego de recursos escassos, tais como poupança (que financia investimentos), tempo e espaço físico, para a simplificação de procedi-mentos e para o fortalecimento da supervisão do uso desses recursos sempre que envolverem bens públicos.

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 7372

Os agentes privados em geral e as instituições finan-ceiras em particular têm grande interesse em pro-ver dados e informações precisas e confiáveis que contribuam para a formulação de políticas públicas. Iniciativas voltadas para o fortalecimento da ativi-dade econômica contribuem para um ambiente de negócios saudável, alicerce de instituições financei-ras hígidas e sólidas. Nesse cenário, o sistema finan-ceiro representa o setor da economia mais regulado e mais supervisionado pelo Poder Público. Como a recente crise internacional voltou a demonstrar, de-sequilíbrios graves no setor financeiro se espraiam por toda a economia e afetam o crescimento econô-mico, o nível de emprego e a inflação. Por essa razão, as instituições financeiras prestam farta e minuciosa informação a diferentes órgãos reguladores.

Ao contrário do que se imagina, o fornecimento de um determinado conjunto de dados e informações em di-ferentes formatos, com diversos níveis de agregação, não é tarefa simples. Apesar de a base ser a mesma, a extração de dados e informações, seguida da sua con-solidação em diferentes relatórios, tem pelo menos duas implicações importantes: consome horas-ho-mem de técnicos especializados e ocupa espaço em plataformas de processamento que são finitas. O uso desses dois recursos escassos – trabalho e espaço de processamento – é traduzido em maiores custos, o que se reflete em margem bancária (spread) mais elevada.

Os custos associados à prestação de relatórios pelo setor financeiro podem ser reduzidos pela utilização de dados e informações já disponíveis na Administra-ção Pública. O Banco Central, a Comissão de Valores Mobiliários, a Superintendência de Seguros Privados, a Receita Federal do Brasil, entre outros órgãos, con-centram praticamente todas as informações produzi-das por instituições financeiras. Contudo, proliferam iniciativas que, apesar de meritórias, não consideram o uso de informações já disponíveis e, ao contrário, demandam a preparação de inúmeros novos relató-rios. A título de ilustração, uma relação não exaustiva aponta iniciativas meritórias como o eSocial, o Sisco-serv e a Lei de Combate à Corrupção. Todas buscam

reunir informações de altíssima relevância para a Administração Pública, ao mesmo tempo em que im-põem pesados custos operacionais ao setor privado, associados a obrigações tributárias acessórias.

O Sistema de Escrituração Fiscal Digital das Obri-gações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (eSo-cial), instituído pelo Decreto nº 8.373/2014, servirá à coleta e registro das informações trabalhistas, previdenciárias, tributárias e fiscais relativas à con-tratação e utilização de mão de obra onerosa, com ou sem vínculo empregatício e também de outras informações previdenciárias e fiscais previstas na Lei nº 8.212/1991. Seu principal objetivo é unificar a captação das informações definidas no conceito do eSocial, além de racionalizar e uniformizar as obri-gações acessórias para os empregadores com o esta-belecimento de transmissão única para os diferentes órgãos de governo, usuários da informação.

O Sistema Integrado de Comércio Exterior de Servi-ços, Intangíveis e Outras Operações que Produzam Variações no Patrimônio (Siscoserv) procura monito-rar os resultados da balança comercial de serviços, seguindo orientações constantes do Acordo Geral sobre Comércio de Serviços (GATS) da Organização Mundial do Comércio (OMC). De acordo com o Mi-nistério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), esse sistema possibilitará a produ-ção de relatórios gerenciais de apoio à formulação e orientação de políticas públicas na área de comércio exterior de serviços, intangíveis e demais operações. A Lei nº 12.546/2011 instituiu a obrigação de prestar ao MDIC informações relativas a essas transações. Várias questões tecnológicas ainda estão sendo es-tudadas para viabilizar a comunicação deste com os demais sistemas já em uso pelas empresas. Atu-almente, a inclusão das informações no Siscoserv ocorre de forma manual, acarretando consideráveis aumentos de custo com recursos humanos, espaço físico e treinamento. Além das adaptações em di-versos sistemas, a aplicação da norma demanda o envolvimento de áreas distintas das empresas: con-tábil, tributária, tecnológica, entre outras.

A Lei de Combate à Corrupção, Lei nº 12.846/2013, dispõe sobre a responsabilização administrativa e ci-vil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira. Essa Lei permite a punição de empresas que pratiquem ações como oferecer vantagem indevida a agente público, fraudar licitações e financiar atos ilícitos. Pelas normas atuais, apenas as pessoas físicas fla-gradas em casos de corrupção são punidas. Com a nova lei, as pessoas jurídicas corruptoras, no âmbito administrativo, podem pagar multas de 0,1% a 20% do faturamento bruto anual ou de valores entre R$6 mil e R$60 milhões. O pagamento não isenta a pes-soa jurídica de reparar integralmente o dano causa-do, quando possível. O novo texto legal prevê o for-necimento de farta informação ao Poder Público.

O crescente ônus associado à prestação de informa-ções ao setor público recomenda que sistemas desen-volvidos para esse fim sejam implementados de for-ma escalonada. Ademais, a prestação de informações voltadas para o desenho de melhores políticas públi-cas e para o controle do cumprimento de obrigações legais não precisa necessariamente se converter em obrigações acessórias para fins tributários. Amplas consultas à sociedade e aos agentes afetados em mui-to contribuiriam para a eficácia de novos sistemas.

6.2 ESOCIAL – ENVIOUNIFICADO DE INFORMAÇÕES

O Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial) foi instituído em dezembro de 2014 pelo Decreto nº 8.373/2014. Trata-se de instrumento de unificação da prestação das informações referentes à escrituração das obrigações fiscais, previdenciárias e trabalhistas e tem por finalidade padronizar sua transmissão, va-lidação, armazenamento e distribuição, constituin-do ambiente nacional composto pela escrituração digital, contendo informações fiscais, previdenciá-rias e trabalhistas; a aplicação para preenchimento, geração, transmissão, recepção, validação e distri-buição da escrituração; e pelo repositório nacional, contendo o armazenamento da escrituração.

Segundo o Decreto, a prestação das informações ao eSocial substituirá, na forma disciplinada pelos ór-gãos ou entidades partícipes, a obrigação de entre-ga das mesmas informações em outros formulários e declarações a que estão sujeitos o empregador, o segurado especial, inclusive em relação a trabalha-dores que lhe prestem serviço; as pessoas jurídicas de direito público da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; e as demais pessoas jurídi-cas e físicas que pagarem ou creditarem por si ren-dimentos sobre os quais tenha incidido retenção do Imposto sobre a Renda Retido na Fonte (IRRF), ainda que em um único mês do ano-calendário.

Para estabelecer o prazo máximo da substituição de outros sistemas pelo eSocial, estipular diretrizes gerais e formular as políticas, bem como propor o

CAPÍTULO 6: EFICIÊNCIA ECONÔMICA E COMPETITIVIDADE

ção tanto o custo associado à implantação de novos sistemas quanto a disponibilidade pré-via dessas mesmas informações em bancos de dados da Administração. Para a Confederação, novos sistemas governamentais de informa-ções não devem necessariamente se converter em obrigações acessórias para fins tributários e o escalonamento da implantação desses no-vos sistemas contribui para mitigar custos.

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que racionalizem, automatizem e consolidem informações tra-balhistas, previdenciárias, tributárias e fiscais relativas à contratação e utilização de mão de obra onerosa, prestadas pelo setor privado ao setor público. Para a CNF, a destinação de re-cursos escassos privados (tais como plataforma de processamento de dados) para a prestação dessas informações deve levar em considera-

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 7574

orçamento e acompanhar a execução das ações, foi criado o Comitê Diretivo do eSocial. É composto pe-los Secretários-Executivos do Ministério da Fazenda; do Ministério da Previdência Social; do Ministério do Trabalho e Emprego; e da Secretaria da Micro e Pe-quena Empresa da Presidência da República.

O Sistema de Escrituração Fiscal Digital das Obriga-ções Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial), em desenvolvimento pelo Governo Federal, servirá à coleta e registro das informações trabalhistas, previ-denciárias, tributárias e fiscais relativas à contratação e utilização de mão de obra onerosa, com ou sem vín-culo empregatício e também de outras informações previdenciárias e fiscais previstas na Lei nº 8.212/1991.

As informações descritas no objeto do eSocial serão armazenadas no Ambiente Nacional do eSocial, pos-sibilitando aos órgãos participantes do projeto sua utilização para fins previdenciários, fiscais e de apu-ração de tributos e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Seu principal objetivo é unificar a captação das informações definidas no conceito do eSocial, além de racionalizar e uniformizar as obri-gações acessórias para os empregadores com o esta-belecimento de transmissão única para os diferentes órgãos de governo, usuários da informação.

As plataformas de processamento de dados das empresas privadas constituem recursos escassos, finitos e onerosos, introduzidos para a gestão em-presarial e para a oferta eficiente de bens e serviços. A destinação de parcela crescente desses recursos escassos – plataforma de processamento de dados

– para prestação de informações ao setor público representa custo que impacta os resultados dessas empresas. Por essa razão, demandas pelo setor pú-blico de informações originárias do setor privado devem ser precedidas da verificação da disponibi-lidade dessas mesmas informações nos diferentes bancos de dados de órgãos da Administração.

O crescente ônus associado à prestação de informa-ções trabalhistas, previdenciárias, tributárias e fiscais

ao setor público recomenda que sistemas desenvol-vidos para esse fim sejam implementados de forma escalonada. Ademais, a prestação de informações voltadas para o desenho de melhores políticas públi-cas e para o controle do cumprimento de obrigações legais não precisa necessariamente se converter em obrigações acessórias para fins tributários. Amplas consultas à sociedade e aos agentes afetados em mui-to contribuiriam para a eficácia de novos sistemas.

6.3 REGULAMENTAÇÃO DALEI DE COMBATE À CORRUPÇÃO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que ampliem a transparência das operações das empresas, sobretudo nas suas relações com o Poder Pú-blico. Para a CNF, a regulamentação da nova Lei de Combate à Corrupção enseja oportuni-dade de ajustes importantes para dar eficácia à prevenção e repressão de atos ilícitos con-tra a Administração Pública. A Confederação entende que a nova lei não se sobrepõe à Lei contra a Lavagem de Dinheiro, que já é aplica-da ao setor financeiro, o mais regulado e mais supervisionado da economia.

A Controladoria-Geral da União (CGU) coordena as discussões sobre a regulamentação da Lei nº 12.846/2013, que dispõe sobre a responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas pela práti-ca de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira, e dá outras providências. De acordo com a CGU, o objetivo da lei é inibir a corrupção na Administração Pública e aperfeiçoar os sistemas de controle e a transparência das empresas brasileiras.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimen-to Econômico (OCDE) defende a adoção de normas que possibilitem a punição de empresas envolvidas em casos de corrupção. O Brasil é signatário de três

importantes convenções internacionais contra cor-rupção, a saber: a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, a Convenção Interamericana contra a Corrupção e a Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais.

Entre os principais pontos sobre o debate da regula-mentação da Lei, estão: penas para empresas e diri-gentes; contratação de servidores públicos, ou seus familiares, por empresas; limites da responsabiliza-ção; instituição de órgão independente para centra-lizar o recebimento de denúncias; criação de fundo para aparelhar a fiscalização; divulgação de multas aplicadas às empresas; recompensa para delatores; e os custos da investigação.

Especialistas em compliance argumentam que o tex-to da Lei nº 12.846/2013 é demasiado abrangente, com repercussões na área penal, tributária, societá-ria, trabalhista, entre outras. Alguns setores da ad-vocacia propõem o escalonamento das penas para respeitar a proporcionalidade e a razoabilidade das multas e sanções que serão aplicadas às empresas.

Na esfera administrativa, por exemplo, serão apli-cadas às pessoas jurídicas, consideradas responsá-veis pelos atos lesivos previstos nesta lei, multa de até 20% do faturamento bruto do exercício anterior, reparação integral do dano causado e afixação da condenação no estabelecimento e no sítio eletrô-nico. Na esfera judicial, por sua vez, a condenação implica perdimento dos bens, direitos ou valores ob-tidos na infração, suspensão ou interdição parcial de suas atividades, dissolução compulsória da pessoa jurídica, e proibição de receber incentivos, subsídios, subvenções, doações ou empréstimos públicos.

A regulamentação da norma poderá introduzir ajus-tes importantes. A CGU cogita tratar da contratação de servidores públicos, ou seus familiares, por em-presas privadas. De acordo com a lei, as sociedades controladoras, controladas, coligadas ou, no âmbito do respectivo contrato, as consorciadas serão soli-

dariamente responsáveis pela prática dos atos de corrupção. Defende-se que a responsabilização se limite à relação que existir entre as pessoas jurídicas. Discute-se também a criação de um órgão colegiado centralizador para examinar as infrações, aplicar as sanções e celebrar acordos de leniência e compro-missos de cessação, semelhantemente como ocorre nos Estados Unidos da América.

Existe a possibilidade de se adotar a prática de divul-gação oficial de uma lista, anualmente, das multas aplicadas às empresas punidas. O decreto poderá estabelecer o formato dessa publicação. Está em debate a possibilidade de estabelecer recompensa para denúncias de corrupção, como forma de esti-mular a terceiros a delatarem casos de corrupção nas empresas.

Outro ponto a ser analisado é a participação das empresas investigadas no pagamento de despesas decorrentes das investigações. Não está descartada a possibilidade de a empresa investigada pagar es-tadia, passagens, entre outras despesas decorrentes do trabalho de investigação.

Na regulamentação da norma, da mesma forma, é de interesse geral e, em especial, da Ordem Econô-mica e Financeira, a instituição de mecanismos de exame e controle prévios quanto à instauração do processamento e também julgamento do processo administrativo, de forma a evitar que denúncias le-vianas sejam levadas à frente e provoquem todos os dissabores de um procedimento daí advindos, por-quanto o escopo da lei não é penalizar as empresas íntegras e corretas. Ademais, a fixação da responsa-bilidade objetiva pela lei implica redobrada atenção diante da possibilidade de ser atribuída responsabi-lidade à empresa pelo simples fato da causalidade física, sem indagar da existência de culpa da pessoa jurídica, quando se sabe da dificuldade, senão im-possibilidade, de controlar todos os seus emprega-dos em tempo integral. A empresa será responsabi-lizada ainda que proíba terminantemente o ilícito praticado por um gestor ou empregado.

CAPÍTULO 6: EFICIÊNCIA ECONÔMICA E COMPETITIVIDADE

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 7776

Assim, a exemplo das hipóteses estabelecidas nos §§ 8º e 11 do art. 17 da Lei nº 8.429/1992, em sede de re-gulamento, os Poderes Executivo, Legislativo e Judi-ciário poderiam rejeitar, em decisão fundamentada, a representação, se convencidos da inexistência do ato de improbidade, da improcedência da represen-tação ou da inadequação da via eleita. Em qualquer fase do procedimento, reconhecida a inadequação do processo administrativo de responsabilização por atos lesivos à administração pública nacional ou estrangeira, a autoridade poderia também extinguir o processo sem julgamento do mérito, sem prejuízo da previsão de recursos contra essa decisão.

A nova legislação representa grande avanço na me-dida em que contempla não só agentes corrompidos, mas também agentes corruptores – pessoas físicas ou jurídicas. Contudo, é omissa no que diz respeito ao assédio a empresas idôneas nas suas operações por parte de agentes públicos ou privados em busca de vantagens ilícitas.

6.4 CONCENTRAÇÃO BANCÁRIA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o au-mento da competitividade no setor financeiro, desde que não coloquem em risco a higidez do sistema e sejam lastreadas em sólidos funda-mentos técnicos e em extensa pesquisa sobre estruturas de mercado.

Para o setor financeiro bem desempenhar seu papel e melhor atender aos consumidores, é fundamental a manutenção de um ambiente de negócios compe-titivo, em que a concorrência estimule o contínuo aprimoramento de produtos, serviços e procedimen-tos. Frequentemente o setor financeiro, em geral, e o bancário, em particular, são descritos como merca-dos oligopolizados avessos a essa concorrência. Essa avaliação não se sustenta em fatos.

Aumentou, no passado recente, a percepção equivo-cada de que o mercado financeiro brasileiro tornou-se menos competitivo por causa da maior concentra-ção bancária. De fato, na esteira da crise financeira internacional, verificou-se um conjunto de aconteci-mentos que dão margem a essa avaliação apressada. Ocorreram importantes operações de fusão entre grandes instituições, tais como entre ABN Real e San-tander, Itaú e Unibanco, além de Banco do Brasil e Nossa Caixa. Os bancos públicos adotaram política de concessão de crédito mais agressiva como parte de uma política anticíclica voltada para a mitigação dos efeitos da crise. Ademais, bancos com menor número de agências, de pequeno e médio portes, venderam carteiras de crédito ou para bancos maiores, ou para o Fundo Garantidor de Créditos, para se capitalizar e fazer frente a desafios de liquidez. Contudo, os mais diferentes indicadores de mercado não apontam, no Brasil, que a concentração bancária seja superior à de outros países ou traga ineficiência ao sistema.

Trabalhos acadêmicos não estabelecem qualquer rela-ção entre medidas de concentração bancária e taxas de empréstimo ou spread bancário. São estudos como os de Eduardo K. Tonooka e Sérgio M. Koyama (Taxa de ju-ros e concentração bancária no Brasil, em 2003) e os de Simone Miyuki Hirakawa e Rodrigo De Losso da Silvei-ra Bueno (Does Location Matter to Explain Loan Interest Rates? Evidence from Brazilian Local Banking Markets, em 2009). No portal do Banco Central, está disponível estudo de Márcio I. Nakane que elenca e sumariza os trabalhos relevantes nessa área (Concorrência e Spread Bancário: uma Revisão da Evidência para o Brasil).

Ademais, nos últimos dez anos estudos afastam a existência de uma estrutura monopolística no setor financeiro. São os casos dos estudos de Araújo e Jor-ge Neto (Risco e competição bancária no Brasil, em 2007); Márcio Nakane e Bruno Rocha (Concentração, Concorrência e Rentabilidade no Setor Bancário Brasi-leiro: uma visão atualizada, em 2010); Marcelo Cardo-so (Regulação, Poder de Mercado e Concorrência dos Bancos no Brasil sob a Avaliação dos Conglomerados Financeiros, em 2011); e José Dantas, Otávio Medei-

ros e Edilson Paulo (Relação entre concentração e rentabilidade no setor bancário brasileiro, em 2011). Ainda assim, Thovan Caetano, em 2013, demonstra que um mercado oligopolizado não é sinônimo de ausência de competição.

Nesses estudos sobre o setor bancário brasileiro, a evidência disponível aponta para um grau significa-tivo de concorrência. Os testes rejeitam as estruturas extremas de cartel e de concorrência perfeita, con-cluindo, dessa forma, que estruturas imperfeitas de mercado são as que melhor caracterizam esse setor. Estimativas pontuais indicam uma situação mais próxima à competitiva que à cartelizada. Também não há evidências de que os níveis de concentração no segmento bancário brasileiro resultem em uma rentabilidade fora dos padrões internacionais.

6.5 LUCRO E RENTABILIDADE BANCÁRIA

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia projetos que, ao tratar da tributa-ção de diferentes setores, recorram a um critério homogêneo, aplicável a todos indistintamente e não se fundamentem na percepção equivoca-da de que as empresas do setor financeiro aufe-rem lucros excessivos e, por essa razão, devam ser desproporcionalmente oneradas, inclusive pela imposição de tributos excepcionais de constitucionalidade questionável.

Do início da década até a crise financeira internacio-nal, o mundo passou por um período de grande cres-cimento e ampliação dos lucros por parte das empre-sas. O Brasil também foi beneficiado por esse cenário.

A percepção equivocada de que os bancos obtêm re-sultados exagerados vem da publicação do valor ab-soluto de lucros das empresas do setor. Não há sen-tido em se comparar lucros nominais de diferentes setores da economia, até porque as empresas desses

setores apresentam portes variados. Uma vez que se encontram no setor financeiro algumas das maiores empresas do país, é natural que seus lucros nomi-nais estejam também entre os maiores. Em outros setores, como os de mineração e de energia, tam-bém há empresas de grande porte, que apresentam os maiores lucros do Brasil, sem que se qualifiquem tais lucros como exorbitantes. Para bem comparar o desempenho de diferentes setores da economia, há que se recorrer a um critério homogêneo, aplicável a todos indistintamente. Esse critério é o da renta-bilidade, isto é, o da razão entre lucro e patrimônio líquido. As instituições financeiras brasileiras não apresentam lucratividade excepcional quando co-tejadas com as de outros setores e de outros países.

Comparados com outros setores da economia, os bancos, ao contrário do que se acredita, não são os mais rentáveis. Uma boa fonte para essa compara-ção é o ranking trimestral de rentabilidade setorial da Austin, agência classificadora de risco. Segundo o último levantamento disponível, no 3º trimestre de 2012, com rentabilidade anualizada de 13,5%, os bancos foram o 10º setor mais rentável. Outra fon-te de dados que corrobora este dado é a publicação Valor 1000. No último levantamento do jornal Valor Econômico, feito em 2010, os bancos ocuparam a 12ª posição, com rentabilidade de 16,1% (o primeiro colocado, bebidas e fumo, apresentou rentabilidade de 32,9%). Acredita-se que no próximo levantamen-to os resultados não serão diferentes. Diferentemen-te de outros setores, as instituições financeiras não podem determinar sua estrutura de capital e, com isto, alterar a rentabilidade sobre o patrimônio líqui-do, uma vez que estão sujeitas a limites de capital em função do Acordo de Basileia. Ademais, a renta-bilidade entre os bancos varia conforme o segmento e é bastante dispersa entre as instituições.

Também ao contrário do que se propaga, os bancos brasileiros não são os mais rentáveis do mundo. Per-cebe-se isso intuitivamente pelo fato de que não há notícia de corrida de grandes bancos internacionais para o mercado brasileiro. Ao contrário, inúmeros

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grandes conglomerados, multinacionais ou regio-nais, mantêm suas operações em outros mercados tão ou mais rentáveis do que o brasileiro. Em 2010, a rentabilidade média dos maiores bancos brasilei-ros (de 16,1%) ficou abaixo da rentabilidade média dos bancos de países como o Chile (17,9%), México (19,9%), Espanha (21,5%), Turquia (22,4%), Austrália (22,7%), China (25,1%), África do Sul (30,2%), Indo-nésia (30,7%), Colômbia (31,4%) e Peru (52,5%).

6.6 TRATAMENTO IGUALITÁRIO ENTRE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS DE CAPITAL NACIONAL E DE CAPITAL ESTRANGEIRO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que buscam mate-rializar também no setor financeiro o princípio constitucional da igualdade de tratamento en-tre empresas de capital nacional e as de capi-tal estrangeiro.

Na recepção da Lei nº 4.595/1964 como Lei Comple-mentar não foram estabelecidos princípios gerais para o sistema financeiro. De toda forma, o art. 39 aplica às instituições financeiras estrangeiras as mesmas disposições aplicáveis às instituições de capital nacional.

A Constituição Federal de 1988 não estabelece qualquer diferenciação entre empresa nacional de capital nacional ou estrangeiro. Da mesma forma, as instituições financeiras estabelecidas no Brasil e, portanto, reguladas pelo Banco Central, não de-vem ter tratamento ou direitos diferenciados em decorrência da nacionalidade de seu controlador. Contudo, subsistem procedimentos que, na prática, introduzem diferenciação de tratamento entre em-presas brasileiras de capital nacional e as de capital estrangeiro.

6.7 DUPLO REGISTRO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a efetividade jurídica exclusiva do registro de alienação fiduciária de veículo em repartição competente de licenciamento para evitar o duplo registro dessa alienação também em repartição notarial, que aumenta o ônus para os consumidores, sem acrescentar segurança jurídica à relação contratual.

Tramitam no Congresso Nacional projetos de lei que podem afetar as operações de financiamento de compra de veículos ao tornar obrigatório o registro dos contratos de alienação fiduciária junto aos car-tórios de títulos e documentos. Para tanto, propug-nam, entre outras, alteração no novo Código Civil, em que é clara a distinção, no artigo 1.361, entre uma norma geral para constituição da propriedade fiduci-ária (que obriga o depósito do contrato no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do devedor) e outra especial (que constitui a propriedade fiduciária de veículo pelo seu registro na repartição de licencia-mento). Para o comprador, não haveria mais a norma especial: a constituição da propriedade fiduciária de veículos dependeria do registro do contrato no cartó-rio e também na repartição competente para o licen-ciamento. O chamado “duplo registro”.

A Deliberação nº 77/2009 e a Resolução nº 320/2009, ambas do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN), e as Leis nº 11.795/2008 e n° 11.882/2008 dispensam nas operações realizadas com veículos automoto-res da obrigatoriedade do registro dos contratos nos Cartórios de Títulos e Documentos. Contudo, existem regulações de órgãos estaduais que são di-vergentes entre si, razão pela qual se deve buscar a harmonização das regras de registro de veículos em todo o território nacional.

O principal argumento para a reintrodução do duplo registro é o da segurança jurídica: o registro notarial asseguraria tanto o arquivamento do ato quanto a disponibilização para o consumidor de cópia do con-trato de alienação fiduciária. Entretanto, o registro em repartição competente (no caso, o Departamen-to de Trânsito local, DETRAN) atende plenamente aos requisitos de arquivamento, como indica a juris-prudência do Superior Tribunal de Justiça:

O registro no órgão de licenciamento faz as vezes do arquivo no Cartório de Títulos e Documentos (RTD), por isso que, mercê de a exigência de duplo registro revelar odiosa imposição, afronta o princípio da ra-zoabilidade, posto impor desnecessário bis in idem, máxime à luz da interpretação autêntica levada a efeito pelo novel artigo 1.361 do Código Civil (REsp nº 686.932/PR, Rel. Min. Luiz Fux).

A entrega de cópia do contrato, por sua vez, é regra obrigatória sedimentada no setor financeiro (ver Se-ção 2.9 – Contratos).

Para as instituições financeiras, o duplo registro afe-ta não só medidas de redução do custo do dinheiro, mas também a melhoria da qualidade do crédito e do atendimento prestado aos clientes e consumidores.

6.8 CORRESPONDENTES NO PAÍS

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a expan-são e o fortalecimento da rede de correspon-dentes no país como importante instrumento de acesso a serviços financeiros pela população não bancarizada, que não os equiparem aos bancos para fins legais e que não lhes atribuam as funções e obrigações típicas de bancos, inclu-sive no que toca aos dispositivos de segurança.

Correspondentes no país (chamados impropriamen-te de “correspondentes bancários”) são empresas (sociedade pública ou privada) contratadas por ins-tituição financeira, segundo o previsto pelas Resolu-ções do Conselho Monetário Nacional (CMN) nº 3.954 e 3.959, ambas de 2011, para a prestação de determi-nados serviços básicos, tais como pagamentos (sa-ques e benefícios) e recebimentos (títulos, tributos e contas de consumo) etc. São correspondentes no país as casas lotéricas, agências dos correios, farmá-cias, supermercados, entre outros.

Surgiram no país no início na década passada como alternativa aos tradicionais espaços bancários e já desempenham um importante papel no desenvol-vimento socioeconômico. Entre os benefícios propi-ciados pela sua atuação, destaca-se o maior acesso da população aos serviços financeiros, especialmen-te das regiões mais afastadas, desempenhando fun-ção transformadora nessas economias.

Os correspondentes destacam-se pela quantidade ab-soluta de pontos de atendimento e por sua capilarida-de. Em termos de capilaridade, pode-se considerar que não há, no país, município algum sem ponto de aten-dimento de correspondente. De acordo com dados do Banco Central (BACEN), em janeiro de 2015, o Brasil conta com 23.127 agências bancárias e 344.703 corres-pondentes. Eles são largamente responsáveis pela in-clusão financeira da população brasileira, uma vez que, em relação a agências bancárias, atingem populações tradicionalmente carentes e isoladas, que, em muitos casos, são desassistidas de agências bancárias.

Aposentados e pensionistas da Previdência Social, sobretudo em localidades mais distantes, são espe-cialmente beneficiados pela existência de uma rede de correspondentes.

As Resoluções do CMN tratam da contratação de cor-respondente por bancos e não da atividade de corres-pondente em si, que é regulada por normas de direito

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privado. Apesar de serem contratados pelos bancos, os correspondentes no país não se equiparam às instituições bancárias, tampouco seus funcionários pertencem à categoria laboral dos bancários. Primei-ro, porque o correspondente não se inclui entre as instituições autorizadas a operar pelo Banco Central e, por essa razão, não está sob a competência regula-tória e supervisora dessa autarquia. O artigo 18 da Lei nº 4.595/1964 reza que: “As instituições financeiras so-mente poderão funcionar no país mediante prévia au-torização do Banco Central da República do Brasil ou decreto do Poder Executivo, quando forem estrangei-ras”. Em segundo lugar, porque o Conselho Monetário Nacional, em seu poder regulamentar, não autorizou banco a contratar correspondente para prestar servi-ço que se confunda com sua atividade privativa, qual seja intermediação financeira. Correspondentes no país não captam recursos tampouco concedem em-préstimos, que são atividades privativas de bancos. As relações contratuais - abertura de conta, depósito e mútuo – ocorrem entre banco e usuário.

Cuida-se aqui de uma atividade acessória, visto que a atividade principal acha-se ligada ao objeto social do estabelecimento comercial que abriga as funções de correspondente. O correspondente não faz interme-diação financeira e atua por conta e sob as diretrizes da instituição contratante, que assume inteira respon-sabilidade pelo atendimento prestado pelo corres-pondente aos seus clientes e usuários. Já no caso dos bancos, a atividade principal – privativa de instituição financeira – é a do artigo 17 da Lei nº 4.595/1964, que define instituição financeira como “Pessoas jurídicas públicas ou privadas, que tenham como atividade principal ou acessória a coleta, intermediação ou apli-cação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros”.

Os serviços dos denominados correspondentes limi-tam-se a receber e repassar, pois a análise das pro-postas de operações, assim como a efetiva abertura e movimentação de contas, continua sendo forma-lizada pelas instituições financeiras. A Resolução n°

3.954/2011 é taxativa ao prever que empresa contra-tada como correspondente está sujeita à penalidade prevista na Lei nº 4.595/1964, caso venha a praticar operação privativa de banco.

No Supremo Tribunal Federal, encontra-se em trâmi-te a Arguição de Descumprimento de Preceito Funda-mental (ADPF) nº 236, que discute a Resolução do CMN nº 3.954/2011. A Confederação Nacional do Sistema Financeiro (CONSIF) apresentou pedido de ingresso como amicus curiae, visando a subsidiar a discussão com fatos e fundamentos que apontam a legitimida-de da Resolução do CMN nº 3.954/2011, salientando que os correspondentes bancários diferem das insti-tuições financeiras e que a contratação entre ambos não constitui matéria alusiva à legislação trabalhista, além de incentivar o acesso aos serviços financeiros básicos pelas regiões mais afastadas do país.

Persistem equívocos no tratamento de correspon-dentes no país como se bancos fossem, sobretudo nas questões que envolvem segurança. O fato de receberem e de repassarem valores implica riscos de segurança menores do que os incorridos pelos bancos – que mantém depósitos em dinheiro vivo e em valores, bem como a gestão de sistemas compu-tadorizados que gerenciam e transferem valores. A exigência de que farmácias, supermercados, agên-cias de correio e casas lotéricas passem a contar com dispositivos de segurança exclusivos de bancos por força da Lei nº 7.102/1983, tais como vigilantes ar-mados e portas giratórias, representa pesado ônus nas operações e a inviabilização tanto da manuten-ção quanto da expansão da rede de atendimento em praças desassistidas de atendimento bancá-rio. No limite, tais ônus podem significar o retorno da população por eles atendida à marginalidade no acesso a pagamentos e recebimentos de valo-res. Ademais, a Lei nº 7.102 obriga a instalação em estabelecimentos financeiros e não em locais onde haja movimentação de numerário. Se assim o fosse, supermercados deveriam ter porta giratória. Deter-minante à aplicação dessa lei é ser estabelecimento classificado como financeiro; para tanto, deve pres-

tar intermediação financeira, o que não se vislumbra nos correspondentes no país.

Em 2014 foi sancionada a Lei Complementar n° 147 que, ao extinguir o inciso XI do artigo 17 da Lei Com-plementar n° 123/2006, afastou a vedação de inclu-são no Simples das empresas que prestavam servi-ços de intermediação de negócios, o que propicia o enquadramento dos correspondentes no novo regi-me tributário diferenciado.

6.9 GOVERNANÇA CORPORATIVA: RESPONSABILIDADE DOS ADMINISTRADORES

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o incentivo de boas práticas empresariais pelas companhias, aprimorando a governança cor-porativa e consolidando as hipóteses de res-ponsabilização dos administradores quando (i) o administrador agir com culpa ou dolo dentro de suas atribuições; ou (ii) agir em violação ao Estatuto ou à lei, respeitando-se, sempre, o con-traditório e a ampla defesa.

Governança corporativa é o conjunto de práticas que têm por finalidade otimizar o desempenho de uma companhia ao proteger todas as partes interessadas, tais como investidores, empregados e credores, faci-litando o acesso ao capital.

Para os investidores, a análise das práticas de governan-ça auxilia na decisão de investimento, pois a governan-ça determina o nível e as formas de atuação que estes podem ter na companhia, possibilitando-lhes exercer influência no desempenho da sociedade. O objetivo é o aumento do valor da companhia, pois boas práticas de governança corporativa repercutem na redução do cus-to de capital, o que aumenta a viabilidade do mercado de capitais como alternativa de capitalização.

Quando investidores financiam companhias, sujei-tam-se ao risco de apropriação indevida, por parte de acionistas controladores ou de administradores da empresa, de parcela do lucro do seu investimen-to. A adoção de boas práticas de governança cor-porativa constitui, também, um conjunto de meca-nismos por meio dos quais investidores, incluindo controladores, protegem-se contra desvios de ativos por indivíduos que têm poder de influenciar ou to-mar decisões em nome da empresa. Companhias com um sistema de governança que proteja todos os seus investidores tendem a ser mais valorizadas.

Ocorre que, para a boa prática empresarial, é neces-sária a formação de um Conselho de Administração e Fiscal qualificado, composto de membros alta-mente especializados e competentes que consigam convergir os atos empresariais aos objetivos da so-ciedade, solidificando o papel da companhia dentro do mercado, com a evolução da função social da empresa. Todavia, a responsabilização objetiva dos membros desses conselhos acaba afastando da ad-ministração das companhias profissionais que mui-to poderiam contribuir com o desenvolvimento das sociedades empresariais.

Preceitua o artigo 158 da Lei nº 6.404/1976 (Lei das Sociedades Anônimas), em sua primeira parte, que

“O administrador não é pessoalmente responsável pelas obrigações que contrair em nome da socieda-de e em virtude de ato regular de gestão”. Quer isto dizer que, como regra, o administrador não é pesso-almente responsável pelos prejuízos causados pela companhia a terceiros ou que ela mesma sofra em decorrência de suas próprias atividades, desde que, evidentemente, tais prejuízos decorram de atos regulares de gestão, assim considerados aqueles praticados pelo administrador dentro de suas atri-buições legais e estatutárias, com observância do objeto social da companhia.

Trata-se de uma decorrência dos princípios da auto-nomia jurídica e patrimonial das pessoas jurídicas e do caráter orgânico das sociedades.

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Ao reconhecer que a pessoa jurídica tem personali-dade própria, distinta da de seus sócios, acionistas e administradores, o Direito assegura-lhe autonomia para ser titular de direitos e obrigações, isto é, con-tratar em nome próprio bens, direitos e obrigações.

Como a pessoa jurídica não existe enquanto ente físico, tangível, ela somente consegue desenvolver suas ativi-dades por intermédio de pessoas naturais, indivíduos que ocupam seus órgãos sociais, dentre os quais estão os administradores. Esse fato, no entanto, não retira da pessoa jurídica sua autonomia, nem transforma os administradores em responsáveis pelos atos da pró-pria companhia. Quando um diretor assina, no exercí-cio de suas funções, um contrato em nome da compa-nhia, não é a pessoa física do administrador quem está praticando esse ato, mas a própria companhia.

O Conselho de Administração é órgão da companhia, sendo por intermédio dele que a sociedade expressa sua vontade. Daí, decorre o que se denomina caráter orgânico da sociedade. Isso não significa que o Con-selho esteja livre da possibilidade de ser condenado a ressarcir prejuízos causados à própria companhia ou a terceiros. Isso porque, independentemente das regras societárias, vige no Direito brasileiro a regra segundo a qual “Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”, sendo que comete ato ilícito: (i) “Aquele que, por ação ou omis-são voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusiva-mente moral” e (ii) “O titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impos-tos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”. Nesse sentido, caso um admi-nistrador, ao exercer suas funções, cometa ato ilícito, deverá ressarcir os prejuízos dele decorrentes.

O próprio artigo 158 da Lei das S/A não deixa dúvidas quanto a isso, ao dispor que o administrador respon-de civilmente pelos prejuízos que causar quando proceder, dentro de suas atribuições, com culpa ou dolo ou violação da lei ou do Estatuto.

A Lei das S/A embasa a responsabilidade dos admi-nistradores, tanto em elementos subjetivos, decor-rentes da forma como atuam (ou seja, com culpa ou dolo), quanto objetivos, como acontece nos casos de violação da lei ou do Estatuto. Não estando presen-tes nenhum desses elementos, ainda que a compa-nhia tenha sofrido prejuízo ou causado dano a ter-ceiros, não há o que se falar na responsabilidade dos administradores. Por outro lado, estando presentes quaisquer desses elementos (culpa, dolo, violação de lei ou do Estatuto), responderá o administrador com seus próprios bens pelos prejuízos que causar à companhia ou a terceiros.

Há duas hipóteses de responsabilização do membro de conselho. Na primeira, sempre que o adminis-trador agir dentro dos limites de suas atribuições, a responsabilidade será analisada de forma subjetiva, ou seja, será necessária a comprovação, por parte de quem alega ter sofrido prejuízo, dos seguintes requi-sitos, de maneira cumulativa: (i) do dano por ele so-frido; (ii) de que o dano ocorreu da ação ou omissão do administrador (nexo causal); e (iii) que a ação ou omissão do administrador tenha sido culposa ou do-losa. Ausente quaisquer dessas condições, não have-rá a responsabilidade do administrador. Na segunda hipótese, quando ficar comprovada a violação da lei ou do Estatuto, a lei presume que o administrador agiu com culpa no desempenho de suas funções e, por consequência, deve responder pelos prejuízos decorrentes. Mesmo nessa hipótese de violação da lei ou do Estatuto, a existência, ainda que presumida, da culpa ou do dolo, continua sendo absolutamente essencial para a responsabilização do administrador.

Não obstante a regra segundo a qual a culpa ou o dolo são requisitos essenciais para a responsabiliza-ção do administrador, o Direito prevê que, em deter-minadas situações, ele será responsabilizado inde-pendentemente de conduta dolosa ou culposa. É o que se denomina de responsabilidade objetiva, que, como regra, se aplica apenas a casos especificados em lei (em geral, quando a atividade normalmente

desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem).

No direito brasileiro, o Código de Defesa do Consu-midor e a Lei Ambiental preveem, de forma expres-sa, a responsabilidade dos sócios e administradores sempre que a pessoa jurídica for obstáculo ao res-sarcimento dos prejuízos aos consumidores ou ao meio ambiente. Em outras palavras, havendo dano ao consumidor ou meio ambiente e não satisfeito o dano pela própria pessoa jurídica, respondem os só-cios e os administradores. Embora não prevista em lei, a jurisprudência trabalhista tem aplicado a teoria da responsabilidade objetiva para ressarcimento de danos ao trabalhador, o que tem aumentado o núme-ro de casos de responsabilidade de administradores, mesmo sem a comprovação de culpa ou dolo.

Na área tributária, o Superior Tribunal de Justiça, ao editar a Súmula nº 430, pacificou o entendimento se-gundo o qual o inadimplemento da obrigação tribu-tária pela sociedade não gera, por si só, a responsa-bilidade solidária do sócio administrador. É possível, portanto, que também o Supremo Tribunal Federal ou os Tribunais Trabalhistas venham a firmar esse conceito no Direito do Trabalho, de modo que sejam responsabilizados apenas os administradores que agirem com culpa ou dolo ou infração da lei ou do Estatuto, não se justificando a penhora ou apreensão de seus bens fora das hipóteses legalmente previstas. Como ainda persistem decisões judiciais que abar-cam a tese de responsabilidade objetiva dos mem-bros do Conselho de Administração, a CNF entende que seria oportuna a edição de norma que venha a in-centivar a adoção de boas práticas empresariais pelas companhias, desenvolvendo a governança corporati-va, consolidando as hipóteses de responsabilização dos administradores (i) quando o administrador agir com culpa ou dolo dentro de suas atribuições ou (ii) quando agir em violação ao Estatuto ou à lei.

6.10 DESBUROCRATIZAÇÃO – SIMPLIFICAÇÃO DO REGISTRO E LEGALIZAÇÃO DE EMPRESAS E NEGÓCIOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a introdução de procedimentos simples, rápidos e baratos que poupem recursos da sociedade e que os direcionem para atividades produti-vas, sem transferir para entes privados os ônus próprios do setor público. Entre os procedimen-tos burocráticos, a CNF destaca a exigência de variadas e excessivas certidões negativas, dispositivos cartoriais incluídos em diversas propostas e obrigatoriedade de manutenção e publicação de documentos em meios físicos. Tais processos constrangem o livre exercício da atividade empresarial e, embora tenham a pretensão de criar maior segurança e transpa-rência, não trazem qualquer desses benefícios.

O desafio de uma administração pública moderna é adotar procedimentos simples, rápidos e baratos, sem afetar negativamente a segurança jurídica. A burocracia ineficiente tem impacto sobre a ativida-de econômica na medida em que subtrai recursos escassos, tais como disponibilidades financeiras e tempo, desvia recursos produtivos para áreas não produtivas e incentiva a informalidade.

No relatório Doing Business 2014 (Fazendo Negócios 2014) realizado pelo Banco Mundial, o Brasil apare-ce na 120ª posição no quesito “facilidade para fazer negócios” em um total de 189 países pesquisados. Em relação ao ano anterior, o país caiu quatro po-sições no ranking. Segundo o relatório, para iniciar um novo negócio, o Brasil ocupa a 167º posição no ranking, exigindo, em média, onze procedimentos distintos e despende 83 dias para sua realização. No quesito “alvará para construções”, o Brasil é o 174º

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do ranking, frente à 130º posição em que ocupava no ano anterior. Já no quesito “facilidade para pagar tributos”, o Brasil ocupa 177ª posição, por demandar 2.600 horas e corresponder a 69% dos lucros auferi-dos. Em 2014, o Brasil ocupava a 159ª posição.

Entre as exigências burocráticas que oneram a vida empresarial e individual, destaca-se o processo des-gastante de obtenção de certidões negativas, que envolve desde comparecimento a diversas reparti-ções públicas à inobservância de prazos pelas auto-ridades. Tal processo dificulta o livre exercício da ati-vidade empresarial e acarreta perdas substanciais à economia, na medida em que a certidão negativa se tornou pré-requisito para a maioria dos atos impor-tantes da atividade empresarial.

O Comitê para Gestão da Rede Nacional para a Sim-plificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios (CGSIM/MDIC) é um órgão colegiado, que passou a ser presidido pelo Ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa (SMPE), que tem a fi-nalidade de atuar na desburocratização de registro e legalização de empresas. De grande relevância estra-tégica, o Comitê participa dos debates relacionados à modernização dos processos de registro mercantil, como uma forma de estimular o empreendedorismo e a competitividade das empresas brasileiras, redu-zindo os custos decorrentes do excesso de burocra-cia. O CGSIM trata, por conseguinte, de questões que repercutem nas instituições financeiras.

A CNF acredita que é importante a participação das Confederações nos trabalhos desenvolvidos pelo CGSIM. Estas poderão fomentar de maneira significa-tiva os debates que visem à compatibilização, inte-gração e harmonização das regras e procedimentos do registro mercantil, de modo a evitar duplicidade de exigências, garantir a linearidade do processo e aperfeiçoar a eficiência dos trabalhos, para estimu-lar o empreendedorismo e a competitividade das empresas brasileiras, reduzindo os custos decorren-tes do excesso de burocracia.

6.11 DESBUROCRATIZAÇÃOPARA OBTENÇÃO DE CERTIDÃONEGATIVA DE DÉBITO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a simplificação e a desburocratização dos pro-cedimentos para a obtenção de Certidões Negativas de Débito com o escopo de facilitar a prática de atos necessários ao desenvolvi-mento das atividades empresariais no país, o fortalecimento das atividades produtivas e a prosperidade econômica.

Dentre tantas exigências da burocracia do sistema tributário, destaca-se a questão relacionada à ob-tenção de Certidão Negativa de Débito (CND), por meio da qual o contribuinte comprova a quitação de suas obrigações tributárias. A obtenção de CND é penosa para a maioria dos contribuintes, já que sua emissão depende da estrita demonstração de regularidade fiscal, que implica não ter qualquer débito, erro ou falha procedimental em relação aos tributos. A dificuldade de demonstrar essa situação é verificada, não porque exista débito, erro ou falha procedimental, mas porque comprovações docu-mentais muitas vezes são difíceis e exigem tempo que a celeridade dos negócios não admite, acarreta perdas substanciais na economia, impedindo o livre exercício da atividade empresarial.

Apesar dessas dificuldades, a CND é considerada pré--requisito legal para habilitação de empresas em pro-cessos de licitação e concorrência, para obtenção de financiamentos e empréstimos junto a instituições financeiras oficiais, para a alienação de imóveis, bem como para o bom desenvolvimento de muitas outras atividades negociais. O sistema legislativo brasileiro contém um número significativo de atos normativos sobre exigência ou regulação de CND.

A CND representa direito, garantido em lei, de o con-tribuinte comprovar o pagamento de tributos. O exer-cício desse direito, no entanto, muitas vezes submete o contribuinte aos excessos de burocracia, represen-tados pelas peregrinações por repartições públicas, entregas de documentos, pagamentos de débitos discutíveis ou em duplicidade, cumprimento de pen-dências - que, cumpridas, originam novas –, inobser-vância de prazos legais pelas autoridades e outros.

As empresas brasileiras, que necessitam de CND, es-tão sob a ameaça constante de verem seus negócios retardados e impactados, razão pela qual contratam profissionais, exclusivamente, para atender a essas exigências burocráticas e, se for o caso, recorrer ao Poder Judiciário para garantir o direito à prova de sua regular situação fiscal/tributária. Esse processo atinge diretamente o custo operacional, encarecen-do o produto final, o que se torna mais grave quando da comparação de custos de produção para os pro-dutos de exportação, já que o Brasil é um dos países de maior custo burocrático do mundo, com a conse-quente afetação de nossa capacidade competitiva no mercado internacional.

Ciente de dificuldades burocráticas que pudessem influir no livre curso de obtenção de certidões, o Có-digo Tributário Nacional (CTN) introduziu a “certidão positiva com efeitos de negativa”, aplicável a determi-nadas situações (débitos não vencidos, em cobrança, cuja exigibilidade esteja suspensa ou em que tenha havido penhora de bens), significando que há débi-to, mas é como se não houvesse, e com isso evitando prejudicar os contribuintes que precisam da CND. Nos últimos tempos, entretanto, essa alternativa também tem se mostrado incapaz de diminuir os inúmeros problemas enfrentados por aqueles que precisam da referida certidão, pois que a burocracia dificulta os caminhos de atendimento ao contribuinte.

Segundo pesquisa da PricewaterhouseCoopers, em 2012, mais de 90% das empresas no Brasil, dos mais variados portes e setores, já adiaram ou perderam negócios em função de dificuldades para obter a CND.

Não faz sentido impedir a prática de um negócio lí-cito sob o pretexto de que a sociedade envolvida na operação é devedora do Fisco. Ora, se a empresa pos-sui débito fiscal, deve o Poder Público se valer dos diversos mecanismos que a legislação lhe oferece para cobrá-la ou constranger o seu patrimônio para garantir o recebimento da dívida, dentre os quais a lei de execuções fiscais, e não se valer de artifícios que indiretamente forçam o contribuinte a pagar sua dívida fiscal, usurpando deste o direito de discuti-la.

Esse tipo de restrição também ofende o princípio constitucional do devido processo legal, pois impe-de a empresa de exercer, na sua plenitude, os seus direitos de defesa e contraditório.

Não ter a certidão à disposição não significa neces-sariamente estado de insolvência ou equivalente. Dificuldades na sua emissão podem ter inúmeras ra-zões, desde um mero erro em uma declaração até o não pagamento de um valor indevido. É sabido que muitas vezes as certidões só não são emitidas por conta da extrema burocracia e morosidade do Poder Público, situações paradoxais em que este acaba se beneficiando da própria ineficiência. A exigência da certidão não é o mecanismo mais adequado e eficaz para evitar fraudes no pagamento de tributos. Even-tual fraude será determinada pela existência ou não de patrimônio suficiente para garantir o pagamento de dívidas fiscais no momento da alienação do bem, conforme preceitua o art. 185 do CTN.

A CNF vê com simpatia a campanha da Câmara Ame-ricana de Comércio (Amcham) lançada em 2006 com vistas à simplificação do processo de obtenção da CND. As propostas apresentadas visam a melhorar o ambiente de negócios, podendo ser resumidas em: (i) estender o prazo de validade das CNDs de 180 para 365 dias, para reduzir à metade o trabalho das em-presas para obtê-las e, consequentemente, também o esforço dos órgãos responsáveis pela sua emissão; (ii) fixar o dia de protocolo do pedido da CND como data de corte das pendências que os contribuintes devem regularizar; e (iii) dar efeito suspensivo aos

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“envelopamentos”, ou seja, os envelopes em que a Receita Federal reúne os esclarecimentos dos contri-buintes sobre suas pendências, para que estes não sejam punidos pela demora da Receita para exami-nar os documentos.

A desburocratização e a simplificação da obtenção da CND contribuem para o fomento dos negócios e para atração de investimentos estrangeiros, ambas alavancas da economia brasileira.

6.12 PROTESTO DASCERTIDÕES DE DÍVIDA ATIVA

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a efetiva-ção do cumprimento das obrigações tributárias pelos contribuintes, desde que respeitados o direito ao exercício de atividades econômicas e profissionais lícitas; a proporcionalidade e a razoabilidade de medidas que se predispõem a substituir os mecanismos de cobrança de crédi-tos tributários; o devido processo legal; e que a cobrança coercitiva não seja feita em forma de “sanção política” pelos entes tributantes.

As discussões de novas formas de recuperação do crédito fiscal vêm angariando atenção. O siste-ma judicial de cobrança consubstanciado na Lei nº 6.830/1980 deu margem a propostas legislativas que visam a atualizar ou a substituir um processo judicial insatisfatório de cobrança ou ainda a estabelecer no-vos meios alternativos, a maioria deles de índole ex-trajudicial, para desafogar o Poder Judicial.

Dentro desses mecanismos alternativos que vêm sendo examinados pelas Fazendas Públicas e pelo Poder Legislativo, o protesto das Certidões de Dívida Ativa (CDA) tem papel destacado, tendo sido objeto de recente alteração legislativa realizada por meio da Lei nº 12.767/2012, que acrescentou o parágrafo

único ao art. 1º da Lei nº 9.492/1997, prevendo, de forma expressa, a possibilidade do protesto.

O protesto de CDAs vem aumentando a arrecada-ção da União e dos Estados, sendo objeto de incen-tivo pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). To-davia, o protesto de CDAs se revela como um meio de cobrança polêmico, conquanto sofre críticas relevantes de parte da doutrina especializada, que se utiliza de alguns posicionamentos jurispruden-ciais dos Tribunais Superiores para sustentar teses de inconstitucionalidade acerca da utilização desse meio indireto de cobrança.

Uma das principais alegações utilizadas pelos con-tribuintes para defender a inconstitucionalidade do protesto da CDA é o fato dessa se consubstan-ciar como “sanção política”, prática vedada em diversos julgados ocorridos no Supremo Tribunal Federal (STF), formalizado por meio do julgamento do Recurso Extraordinário (RE) nº 591.033/SP (ao qual foi atribuído a sistemática dos recursos repe-titivos, com o posicionamento de que “Não é dado aos entes políticos valerem-se de sanções políticas contra os contribuintes inadimplentes, cabendo-lhes, isto sim, proceder ao lançamento, inscrição e cobrança judicial de seus créditos, de modo que o interesse processual para o ajuizamento de execu-ção está presente”).

O STF, em julgamento realizado sob o rito do art. 543-B do CPC, fixou a invalidade do protesto das Certidões da Dívida Ativa, tendo em conta a supos-ta necessidade inafastável da execução fiscal para a cobrança dos créditos públicos. Nessa esteira, o protesto das CDAs seria via oblíqua de cobrança que coage o contribuinte ao pagamento de débitos unilateralmente formados, exigidos às margens da apreciação pelo Judiciário, consistindo, desta feita, em verdadeira sanção política, transformando o pro-testo de CDA em um meio coercitivo para cobrança de débitos fiscais, prática rechaçada pela Suprema Corte através de suas Súmulas nº 70, 323 e 547.

A utilização do protesto, além das restrições credi-tícias deletérias às atividades comerciais e civis das pessoas jurídicas e físicas, autoriza a inclusão do nome do devedor no Serasa e SPC (art. 29 da Lei nº 9.492/1997), além do Cadastro de Inadimplentes da Fazenda Pública (Cadin).

Ademais, o protesto, no caso de certidão de dívida ativa, se mostra desnecessário, porquanto já está inserida nela a inadimplência do contribuinte, con-tando a cártula, por força de lei, com a presunção de legitimidade, prescindindo do reforço do protesto para que esteja provado o inadimplemento. Por fim, essa medida se revela incompatível com a cobrança do crédito público, já que suas finalidades têm índo-le probatória e garantidora do crédito estampado na cambial em determinadas situações (requerimento de falência, falta de aceite e direito de cobrança dos coobrigados, por exemplo), imprestáveis para a CDA, que já tem muito mais garantias estabelecidas por lei.

Foi ajuizada perante o STF a Ação Direta de Inconsti-tucionalidade (ADI) nº 5.135 contra dispositivo da Lei 9.492/1997, norma que regulamenta os serviços re-ferentes ao protesto de títulos e a outros documen-tos de dívidas. Conforme a ADI, o parágrafo único do artigo 1º da lei, acrescentado pelo artigo 25 da Lei 12.767/2012, contempla expressamente, no rol dos títulos sujeitos a protesto, as certidões de dívida ati-va (CDA) da União, dos estados, do Distrito Federal, dos municípios e das respectivas autarquias e funda-ções públicas. A ADI ressalta que a Lei nº 12.767/2012 foi fruto de conversão da Medida Provisória nº 577/2012 que, juntamente com a Medida Provisória nº 579/2012, promoveu alterações nas regras do se-tor elétrico, visando à redução do custo da energia elétrica ao consumidor final. Nessa conversão foi in-cluída matéria estranha àquela tratada no corpo da Medida Provisória originária, que se destinava a tra-tar da extinção das concessões de serviço público de energia elétrica e a prestação temporária do serviço.

6.13 DESINDEXAÇÃO DA ECONOMIA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a eliminação do uso de indexadores de contratos e obrigações, no entendimento de que a com-plexidade e diversidade da economia brasilei-ra e os altos níveis de concorrência em prati-camente todos os setores recomendam a livre negociação como ferramenta adequada para reajustes de preços.

Hoje, o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) ainda corrige anu-almente as tarifas de eletricidade e, a cada quatro anos, a tarifa de cada empresa passa por avaliação detalhada, de forma a repassar para o consumidor os ganhos de produtividade. O IGP-M também rea-justa a maior parte dos contratos de aluguel. Outros contratos e obrigações de prazo superior a noventa dias são indexados à variação da Taxa Referencial (TR), que acompanha a remuneração dos Certifi-cados de Depósitos Bancários (CDBs), com poste-rior aplicação de um redutor. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e o Índice Geral de Preços

– Disponibilidade Interna (IGP-DI) são utilizados no cálculo do Índice de Serviços de Telecomunicações (IST), que corrige anualmente as tarifas de telefones fixos, calculada diferentemente para cada empresa, com desconto de ganhos de produtividade. Para o próprio salário mínimo, a correção anual é pelo Índi-ce Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do ano anterior acrescido do aumento do Produto Interno Bruto (PIB) dos dois anos anteriores, mas as centrais sindicais defendem nova regra que permita ganhos acima da inflação. O mesmo INPC baliza os reajus-tes de mensalidades escolares (ainda que as escolas tenham liberdade de determinar seus critérios de correção) e os reajustes de aposentadorias de valor superior ao do salário mínimo. Os Municípios e, no caso das regiões metropolitanas, os Estados estabe-lecem as regras de reajuste das tarifas de água.

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O emprego de indexadores em um cenário de baixa inflação passa despercebido por não introduzir dis-torções agudas nos preços relativos e não represen-tar acelerador perceptível do índice geral de preços. Contudo, representa resquícios de uma cultura infla-cionária e ameaça potencial à estabilidade econômi-ca no caso de turbulências.

6.14 DESONERAÇÃO DAFOLHA DE PAGAMENTOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que estimulem li-nearmente a competitividade das empresas e a geração de empregos formais. Para a CNF, eventuais perdas de arrecadação previden-ciária decorrentes de desonerações setoriais poderiam ser compensadas pelo corte, por parte do Governo, de outras despesas em valor igual ao transferido para a Previdência; pela contabilização da aposentadoria rural como benefício social ou outra forma de transferên-cia de renda, de natureza orçamentária; pela manutenção do fator previdenciário; e pela introdução da previdência complementar para servidores públicos.

Propostas de desoneração dos tributos que incidem sobre a folha de pagamentos das empresas levam em conta o impacto positivo que esta poderia ter na ampliação da competitividade das empresas brasi-leiras frente ao resto do mundo, na eliminação dos gargalos ao processo de desenvolvimento e na gera-ção de empregos formais.

Uma das principais propostas em debate sugere a redução da contribuição descontada hoje para a Previdência, de forma gradativa, em 2% ao ano, até que se atinja uma queda de cerca de 6%. Assim, a carga sobre a folha de pagamentos passaria dos atu-ais 20% para 14%.

A medida traz, porém, algumas resistências visto que pode prejudicar a arrecadação da Previdência e desestruturar sua sustentação. Nas avaliações apre-sentadas estima-se que cada ponto percentual de de-soneração significa um impacto de R$4 bilhões nas contas da Previdência. Para evitar reduções sensíveis no seu recolhimento e a perda de sua sustentabili-dade no longo prazo, estudam-se outras fontes para compensar a desoneração da folha de pagamentos.

Como fontes alternativas há basicamente três suges-tões: (i) cobrar contribuição sobre o lucro ou fatura-mento; (ii) retornar com a Contribuição Provisória sobre Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira (CPMF); ou (iii) simplesmente não cobrar compensação, es-perando um aumento de receitas por meio da expan-são do crescimento econômico com maior formali-zação do emprego.

Quanto à transferência da base de incidência das contribuições previdenciárias para o faturamento, cerca de 42 setores, tais como têxtil, de móveis, cal-çadista e de Tecnologia da Informação (TI), já vêm sendo beneficiados pela medida desde dezembro de 2011, em razão do Plano Brasil Maior. Essas em-presas deixaram de recolher a contribuição patronal (alíquota de 20%) ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em troca de uma tributação que inci-dirá sobre o faturamento. Os setores calçadista, de móveis, de transportes, de segurança, e têxteis, en-tre outros, passaram a recolher à alíquota de 1% e o de TI, 2%. Os primeiros resultados sugerem que a carga tributária sobre as empresas não seria de fato reduzida e determinados setores seriam beneficia-dos em detrimento de outros. Os setores industriais e de serviços, que utilizam intensamente mão de obra, seriam mais desonerados.

Penalizar proporcionalmente mais as empresas in-tensivas em tecnologia e beneficiar as intensivas em mão de obra pode criar sérios desequilíbrios econô-micos e retirar a competitividade precisamente dos segmentos que adotam tecnologia mais avançada,

além de ferir o princípio da isonomia tributária (arti-go 150, inciso II da CF). Ademais, o faturamento das empresas já é onerado, de modo direto ou indireto, pela incidência de tributos, como Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias (ICMS), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS), Contribuição para o Programa de Integração Social (PIS), Contribuição para Financiamento da Se-guridade Social (Cofins), Imposto sobre a Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).

Quanto à recriação da CPMF, esta sofre intensa opo-sição de consumidores, da maior parte do empresa-riado e de segmentos do próprio Governo.

Já a última sugestão fundamenta-se em pesquisas que apontam que a redução da carga tributária to-tal sem compensação seria a de melhor resultado no longo prazo, causando variação positiva de 5,3% no emprego formal. A desoneração com compensação, por sua vez, não altera o total de encargos que reca-em sobre o empregador e apresenta resultados de longo prazo mais modestos.

No âmbito do Ministério da Fazenda foi instituída pelo Decreto nº 7.711/2013 a Comissão Tripartite de Acompanhamento e Avaliação da Desoneração da Folha de Pagamentos, formada por representantes do Governo Federal, dos trabalhadores e empresá-rios. A Comissão desenvolve as atividades de acom-panhamento e avaliação da efetividade da desone-ração tributária da folha de pagamentos nos setores beneficiados, com base nos seus impactos econô-micos, podendo considerar a geração de emprego e renda, a formalização do trabalhador, a competitivi-dade, a arrecadação tributária, o desenvolvimento setorial, a capacitação e a inovação tecnológica.

6.15 TERRITORIALIDADE

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o fortalecimento da publicidade dos atos e negó-cios jurídicos que busquem simplificar os pro-cedimentos notariais, com redução de burocra-cia desnecessária e de custos para os usuários dos serviços cartoriais.

Discute-se no Congresso Nacional a obrigatoriedade da observância do princípio da territorialidade nas notificações e demais comunicações realizadas pe-los serviços de registro de títulos e documentos. O argumento fundamental é o de que a territorializa-ção dos atos notariais asseguraria a publicidade des-tes. Se tal princípio vier a ser adotado, os cidadãos passarão a registrar documentos e a realizar outros serviços notariais em mais de um cartório, em dife-rentes Municípios, em todo o território nacional.

O cerceamento do direito de defesa não ocorre no atu-al procedimento notificatório. Atos simples, como no-tificação extrajudicial, podem ser realizados em qual-quer localidade do país, pois as partes envolvidas são conhecidas e diretamente ligadas ao objeto do negó-cio jurídico, o que garante ampla defesa e publicidade

- sem a necessidade de um segundo registro. Ademais, o artigo 12 da Lei nº 8.935/1994, que dispõe sobre Ser-viços Notariais e de Registro, não impôs limite geográ-fico algum quanto à atuação dos oficiais do registro civil de pessoas jurídicas e de títulos e documentos. Tanto a jurisprudência quanto a doutrina entendem que a notificação extrajudicial é válida quando realiza-da por cartório distinto da comarca do devedor.

A territorialidade dos atos notariais implica sérios inconvenientes para os usuários dos serviços, tais como: (i) incentivo à burocracia, pois obriga o con-sumidor a registrar atos notariais (procurações, no-tificações extrajudiciais, escrituras públicas, auten-ticações, registros etc.) em cada um dos Municípios

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em que precisar usar os documentos produzidos fora do cartório de origem; assim, poderá ocorrer a cobrança de dois, três, ou mais emolumentos pelo mesmo serviço prestado; (ii) elevaria ainda mais os emolumentos e demais custos cartorários; e (iii) as taxas que os cartórios cobram não são unificadas, de maneira que ocorrem excessos em vários Estados.

O princípio da territorialidade é adequado apenas ao registro imobiliário. Ocorrendo qualquer negócio jurídico envolvendo o imóvel, o registro do ato nota-rial é realizado no Ofício de Imóveis de localização dessa propriedade, até pela necessidade de sua ve-rificação física.

6.16 NOVO MARCOREGULATÓRIO DA MINERAÇÃO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o me-lhor aproveitamento dos recursos minerais do país. Para a CNF, a atualização da legislação que trata de mineração deve ter entre seus ob-jetivos a atração de investimentos e promoção da negociação de títulos mobiliários em bolsa de valores no Brasil.

A demanda crescente por riquezas naturais impõe a necessidade de revisão do regime jurídico aplicável à gestão do patrimônio mineral do país, de forma a estabelecer regras claras para o processo de explo-ração e de controle das reservas minerais e evitar a extração ilegal de minérios no país.

O Poder Executivo enviou ao Congresso Nacional o Projeto de Lei (PL) n° 5.807/2013, que dispõe sobre a atividade de mineração, cria o Conselho Nacional de Política Mineral e a Agência Nacional de Mineração (ANM). Entre as propostas iniciais estão: (i) a cria-ção do Conselho Nacional de Política Mineral e uma

Agência Reguladora de Mineração; (ii) mudanças na outorga de título para exploração mineral com a finalidade de garantir melhor acompanhamento, fiscalização e gestão pelos órgãos responsáveis; (iii) participação federativa na fiscalização e gestão dos recursos minerais; e (iv) a competição entre as em-presas mineradoras por meio de licitação e chamada pública, pois atualmente a concessão de lavra segue o sistema de prioridade, em que a concessão para exploração é dada à empresa que a solicitar primei-ro, sem haver prazo para tanto.

O Governo Federal também está discutindo a refor-mulação do atual modelo de Compensação Finan-ceira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM). De acordo com o MME, o modelo vigente tem muitas fragilidades, o que justifica a apresentação de uma nova proposta que fortaleça o instituto da compen-sação, corrigindo devidamente as falhas. A proposta parte do pressuposto de que os royalties oriundos da mineração são baixos se comparados com os exi-gidos por outros países.

Debatida no Parlamento, a matéria ganhou novos contornos. Um dos pontos de discussão consiste no financiamento especial para empreendimentos destinados à utilização de rejeitos e a recuperação das áreas degradadas pela mineração, além da res-ponsabilidade da mineradora sobre essas questões. Também apresentam posição de destaque no deba-te a natureza real e autônoma dos direitos minerá-rios e seus efeitos na exploração de minérios de faixa de fronteira, bem como a concessão desses direitos apenas a empresas e cooperativas com sede e admi-nistração no país. Ademais, discute-se a possibilida-de de cessão ou transferência do aproveitamento de recursos minerais ou do contrato de concessão, as-sim como o exercício dos direitos minerários pelos financiadores do titular, com vistas a promover sua reestruturação financeira e a assegurar a continuida-de da atividade de mineração, desde que possuam capacidade técnica ou demonstrem possuir acordo com empresa que tenha essa condição.

O financiamento de atividades relacionadas ao de-senvolvimento da mina pode receber novo tratamen-to normativo. Uma das inovações é a previsão de oneração dos direitos minerários por meio de penhor ou de alienação fiduciária com escopo de garantia.

Para a CNF, as discussões sobre a atualização da legislação do setor mineral devem compreender a análise de medidas que reforcem a atração de in-vestimentos e a promoção da negociação de títulos mobiliários representativos do setor mineral em bol-sa de valores no Brasil. A nova legislação deve criar e desenvolver um ambiente favorável e sustentável para transformar o Brasil em um polo internacional de investimentos e negócios no setor de mineração.

Nesse sentido, o Congresso discute a criação de títulos de crédito minerários isentos do Imposto sobre a Renda das Pessoas Físicas e das Pessoas Jurídicas e de livre negociação nos mercados de bolsa e de balcão como ativos financeiros. Seriam exemplos desses títulos: a Cédula de Crédito à Pes-quisa Mineral (CCPM), a Cédula de Crédito à Lavra Mineral (CCLM), o Certificado de Cédula de Crédito da Mineração (CCCM) e o Certificado de Recebíveis da Mineração (CRM).

Hoje, os direitos de exploração são convertidos em títulos mobiliários negociados em bolsas de valo-res. A escolha pela praça em que títulos dessa natu-reza são negociados depende não só das condições do mercado financeiro local (liquidez, marco legal, atuação da autoridade regulatória, supervisão, política cambial, entre outros), mas também do ambiente de negócios que cerca a atividade de ex-ploração mineral. Ao Brasil interessa que os títulos relacionados a direitos de lavras brasileiras sejam negociados em praça local, e não no exterior, como acontece atualmente. O Novo Marco Regulatório da Mineração oferece oportunidade importante para se introduzir alterações no mercado financeiro e no ambiente de negócios que criem condições para a negociação local desses títulos mobiliários.

6.17 AGÊNCIAS REGULADORAS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia projetos voltados para o for-talecimento das agências reguladoras, que as-segurem indicação de pessoal qualificado, com formação acadêmica e experiência profissional relevantes na área de atuação da entidade, à qual se garanta independência, tendo como contrapartida prestações de contas que privile-giem não a criação de metas regulatórias, mas sim a estabilidade de regras e correspondente aumento dos investimentos no setor de compe-tência da agência. No caso específico do setor financeiro, a CNF acredita que as funções de re-gulação e de supervisão vêm sendo desempe-nhadas com eficiência pelo Banco Central (BA-CEN), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Superintendência de Seguros Privados (SU-SEP) e a Superintendência Nacional de Previ-dência Complementar (Previc), que funcionam como agências reguladoras, o que dispensaria a criação de nova agência específica.

As agências reguladoras são parte do arcabouço ins-titucional que dá segurança aos investidores. Um dos papéis fundamentais dessas agências é justa-mente o de assegurar estabilidade e aplicação uni-forme de regras.

No que toca especificamente ao setor financeiro, a regulação e a supervisão são pilares da confiabilida-de das instituições e da redução do risco sistêmico. As entidades que atuam como agências regulado-ras por excelência são o Banco Central (BACEN), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Superin-tendência de Seguros Privados (SUSEP) e a Superin-tendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC). Cada uma dessas entidades conta com cor-po técnico qualificado e se concentra em segmentos específicos do mercado, exercendo uma atividade

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na qual a especialização é crítica para a eficiência e a confiabilidade da regulação e da supervisão.

A CNF vê com preocupação propostas que subtraiam competência dessas quatro autarquias em matéria de regulação e supervisão e as transfiram para uma única agência específica, que se ocuparia das ques-tões de finanças e de investimentos. No passado, já se propôs nova agência que, além de regular e fisca-lizar o sistema financeiro, teria outras funções, tais como acompanhar o spread bancário e prevenir mo-vimentos especulativos. A concentração numa única agência das funções de regulação e supervisão de todo o sistema financeiro poderia engendrar uma es-trutura burocrática ineficiente, com recursos huma-nos e tecnológicos insuficientes para acompanhar as rápidas transformações por que atravessa o mercado financeiro do Brasil e do mundo. Ademais, as incerte-zas que acompanhariam a transição do atual modelo

– que se tem mostrado eficiente – constituiriam risco político que passaria a ser incluído nos cálculos de precificação de produtos e serviços financeiros.

6.18 PUBLICAÇÃO DE BALANÇOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a substituição da obrigatoriedade da publica-ção de demonstrações financeiras em Diários Oficiais pela inclusão dos dados de balanço na Central de Balanços do Sistema Público de Es-crituração Digital (Sped).

O artigo 289 da Lei nº 6.404/1976 (a Lei das S/A) pre-vê a obrigatoriedade de publicação de balanços “No órgão oficial da União ou do Estado ou do Distrito Federal, conforme o lugar em que esteja situada a sede da companhia, e em outro jornal de grande cir-culação editado na localidade em que está situada a sede da companhia”. O intuito do dispositivo legal é a publicidade das demonstrações financeiras de

companhias abertas, no interesse de seus acionistas, de investidores e da Receita Federal.

Ocorre que o Sistema Público de Escrituração Digital (Sped) mantém a Central de Balanços, um projeto cujo objetivo é reunir demonstrativos contábeis e uma série de informações econômico-financeiras públicas das empresas de capital aberto. A Central tem como objetivo a captação de dados contábeis e financeiros, a agregação desses dados e a disponibi-lização à sociedade, em meio magnético, dos dados originais e agregados.

Os registros de demonstrações financeiras na Cen-tral de Balanços atendem cumulativamente às duas características presentes no Diário Oficial: (i) livre acesso à informação pública, garantindo transpa-rência das atividades e resultados das companhias; e (ii) registro público, indelével, das informações pre-sentes no balanço social das companhias.

Mantidas em um repositório e publicadas em di-versos níveis de agregação, a Central de Balanços possibilitará que esses dados sejam utilizados para geração de estatísticas, análises nacionais e interna-cionais (por setor econômico, forma jurídica e porte das empresas), análises de risco, estudos de empre-sas, avaliações contábeis etc.

A publicação de demonstrações financeiras na Cen-tral de Balanços traz vários benefícios, entre os quais: rapidez no acesso às informações; redução de custos administrativos e do “Custo Brasil”; aumento da pro-dutividade do auditor por meio da eliminação dos passos para coleta dos arquivos; possibilidade de troca de informações entre os próprios contribuintes a partir de um formato padrão; melhoria da qualida-de da informação; possibilidade de cruzamento en-tre os dados contábeis e os fiscais; disponibilidade de cópias autênticas e válidas da escrituração para usos distintos e concomitantes; aperfeiçoamento do combate à sonegação; e redução do uso de papel-jornal, com consequente preservação do meio am-biente pela redução do consumo de celulose.

6.19 MICROEMPRESAS EEMPRESAS DE PEQUENO PORTE

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o for-talecimento das microempresas e empresas de pequeno porte e para a explicitação dos pre-ceitos da Constituição Federal de tratamento preferencial a esse segmento, assentadas nos princípios constitucionais da livre concorrência e do livre exercício da atividade econômica, in-compatíveis com a imposição a entes privados de obrigações compulsórias no seu relaciona-mento com qualquer segmento específico do setor empresarial.

A Constituição Federal assegura tratamento favoreci-do para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e ad-ministração no país (art. 170, IX). Também estabelece que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni-cípios dispensarão às microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamen-to jurídico diferenciado, visando a incentivá-las pela simplificação de suas obrigações administrativas, tri-butárias, previdenciárias e creditícias, ou pela elimi-nação ou redução destas por meio de lei (artigo 179).

A conceituação de micro, pequena e média empresa considera critérios quantitativos, como número de empregados ou faturamento anual bruto. No Brasil, a principal norma que classifica firmas segundo o porte empresarial, a Lei Complementar nº 123/2006, adota o critério de faturamento. Hoje, 99% dos es-tabelecimentos estão enquadrados na categoria de micro e pequena empresas, sendo cerca de nove mi-lhões. Estas são responsáveis por 52% dos empregos com carteira assinada e por 40% da massa salarial brasileira. Entretanto, sua participação na econo-mia corresponde apenas a 27% do Produto Interno Bruto (PIB). O Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte é a referência para a

elaboração de políticas que respeitem o tratamen-to jurídico diferenciado e simplificado. Trata: (i) da apuração e recolhimento dos impostos e contribui-ções da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, mediante regime único de arrecadação, inclusive obrigações acessórias; (ii) do cumprimento de obrigações trabalhistas e previdenciárias, inclusi-ve obrigações acessórias; e (iii) do acesso a crédito e ao mercado (inclusive quanto à preferência nas aqui-sições de bens e serviços pelos Poderes Públicos), à tecnologia, ao associativismo e às regras de inclusão.

As discussões em torno de microempresas e em-presas de pequeno porte estão centradas em várias questões, das quais se destacam três. Uma é a inscri-ção em cadastros de restrição ao crédito bem como protestos por dívidas públicas (que, por exemplo, somente poderiam ser realizados após o trânsito em julgado dos processos de execução e cobrança). Outra questão é a intermediação obrigatória do sin-dicato na contratação do trabalhador avulso. A ter-ceira questão é a alteração na ordem de preferência estabelecida na Lei nº 11.101/2005 (recuperação de empresas), para priorizar os créditos das microem-presas e empresas de pequeno porte.

Em agosto de 2014, a Presidência da República san-cionou a Lei Complementar nº 147/2014. A nova nor-ma, além de estender os benefícios para 142 novas atividades, desde a advocacia até a cartografia, unifi-ca oito impostos em um único boleto. Segundo o Se-brae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), a mudança deve alcançar mais de 450 mil empreendimentos e reduzir, em média, em 40% a carga tributária incidente sobre essas empresas.

Outra mudança pretendida é a diminuição da buro-cracia para abertura e fechamento de empresas. A estimativa de tempo de abertura da pequena em-presa também diminuiu. Com a nova legislação, deverá cair para apenas cinco dias. O tempo médio de espera no país hoje é de 107 dias. O mesmo deve acontecer com o tempo de fechamento que também ganhará agilidade e, assim, haverá, por excesso de

CAPÍTULO 6: EFICIÊNCIA ECONÔMICA E COMPETITIVIDADE

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 9594

burocracia, uma redução dos registros inativos no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ).

As microempresas e empresas de pequeno porte são a fronteira da inovação e da geração de emprego. É comum que o microempresário e o empresário de pe-queno porte não contem com experiência profissio-nal ou qualificação acadêmica para iniciar e manter um negócio. Ademais, enfrentam problemas de con-corrência, de logística e de histórico de crédito. Nesse quadro, justifica-se o preceito constitucional do favo-recimento a esse tipo de empresas. Contudo, tal fa-vorecimento está voltado preferencialmente para as relações das microempresas e empresas de pequeno porte com o Poder Público. Nas relações com o setor privado e o restante da sociedade, o interesse coletivo sobrepõe-se ao individual (como, por exemplo, o inte-resse individual dos credores). A solidez da atividade empresarial deve ser buscada para benefício de todos. Essa solidez se constrói com as práticas de mercado, sobretudo a livre concorrência e a livre negociação.

É parte dessa prática de mercado a inscrição em cadastros de restrição ao crédito de devedores ina-dimplentes, a livre contratação de empregados sem intermediação obrigatória do sindicato e o risco de transacionar com outras empresas que podem even-tualmente ir à falência, quando então os créditos prioritários atendem a imperativos sociais.

O segmento conta também com o Fundo de Garantia de Operações (FGO), fundo de natureza privada, cria-do pelo Governo Federal e cujo patrimônio é forma-do pela integralização de cotas do Tesouro Nacional e agentes financeiros. Seu objetivo é complementar em até 80% as garantias exigidas das pessoas jurí-dicas em empréstimos e financiamentos bancários, em especial às de micro e pequeno porte.

Concretamente, uma melhoria do ambiente de ne-gócios que poderia beneficiar esse segmento deve contemplar itens como: (i) universalização da Rede

Nacional para a Simplificação do Registro e da Legali-zação de Empresas e Negócios (REDESIM); (ii) criação de um balcão único reunindo procedimentos pós-

-registro da empresa, tais como as várias interações com o Programa de Integração Social (PIS), o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), sin-dicatos patronais e sindicatos de empregados; e (iii) desenvolvimento de tecnologia para tornar um pos-sível balcão único mais eficiente, permitindo o regis-tro online nos diferentes órgãos sociais e trabalhistas.

Quanto ao pagamento de impostos, os pontos mais importantes são: (i) simplificação do sistema tribu-tário, tanto em relação aos tributos federais quanto ao ICMS (imposto sobre o valor agregado estadual), eliminando impostos e racionalizando a legislação tributária – extinção de cinco espécies tributárias e criação de um novo imposto sobre o valor agregado (IVA-F); (ii) unificação das legislações de ICMS dos 27 Estados em um único diploma legal. O novo ICMS continuaria a ser recolhido pelos Estados e as alíquo-tas seriam uniformes por todo o país; (iii) fim da guer-ra fiscal entre os Estados, modificando o recolhimen-to do ICMS em transações interestaduais, de modo que o imposto seria devido no Estado de destino da mercadoria (seria necessária uma transição gradual); (iv) redução de impostos sobre a folha de pagamen-tos, cortando contribuições do empregador para o sistema de seguridade social de 20% para 14%; e (v) redução de impostos sobre investimentos, principal-mente por meio de reduções graduais no período re-querido para a recuperação dos créditos de impostos pagos nas aquisições de máquinas e equipamentos (por exemplo, período de 48 meses no caso do ICMS).

Todas essas reformas levariam o Brasil a uma legisla-ção moderna e estimuladora do empreendedorismo, fornecendo combustível para o crescimento susten-tável da economia.

6.20 RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o aprimoramento da Lei nº 11.101/2005, de Recu-peração de Empresas e Falências, com vistas a fornecer maiores garantias aos credores, sem comprometer o interesse público. Para a CNF, a ordem de classificação dos créditos na falên-cia prevista na Lei é adequada. A CNF sublinha que a dispensa de apresentação de Certidões Negativas de Débito (CND) para admissão em processo de recuperação muito contribuiria para atrair investidores.

Entre as melhorias introduzidas pela Lei de Recupe-ração de Empresas e Falências (Lei nº 11.101/2005), destacam-se duas: a maior proteção aos credores e a manutenção de empregos.

As discussões em torno da Lei de Recuperação de Empresas e Falências estão centradas na ordem de prioridade de recebimentos. Para a CNF, a definição dessa ordem de prioridade deve buscar um equilí-brio que, por um lado, não sobreponha o interesse individual dos credores ao interesse público (como é o caso dos créditos trabalhistas e previdenciários, por exemplo) e, por outro, assegure aos credores ga-rantias suficientemente sólidas não só para incenti-var a concessão do crédito, mas também para atrair investidores para participarem da recuperação da empresa. Para a CNF, a atual ordem de prioridades é adequada e não deveria ser alterada.

Não se confundem, por exemplo, a prioridade na ordem de classificação de créditos contra empresa falida e o tratamento especial que a Lei dispensa a microempresas e empresas de pequeno porte. O ar-tigo 83 estabelece a ordem de classificação dos cré-ditos na falência. Já o §1o do artigo 70 permite que as microempresas e as empresas de pequeno porte

apresentem plano especial de recuperação judicial. As prioridades ordenadas na Lei são estabelecidas em função da natureza dos créditos, e não do credor. Não há impedimento para que microempresas e em-presas de pequeno porte se habilitem para receber, por exemplo, créditos com garantia real ou créditos com privilégio especial ou geral.

Outro ponto que concentra atenções é a eventual prorrogação do prazo de 180 dias fixado pela atual redação da Lei de Falências para que ocorra a sus-pensão do curso da prescrição e de todas as ações e execuções do devedor. A norma atual não permite a extensão desse prazo, o que também vale para a apu-ração do quadro geral de credores e para a aprova-ção do plano de recuperação judicial da empresa. A finalidade dessa restrição é evitar o excessivo prolon-gamento de discussões e, assim, incentivar o cumpri-mento das obrigações da empresa em recuperação junto a seus credores. Propostas de alongamento desse prazo, portanto, prejudicarão o recebimento de créditos, afetando negativamente empresas cre-doras, bem como os credores trabalhistas.

Também se discute a possível ampliação do escopo da Lei para aplicá-la à instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, enti-dade de previdência complementar, sociedade ope-radora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras en-tidades legalmente equiparadas às anteriores (exclu-ídas pelo art. 2o, inciso II). Cuida-se aqui de empre-sas reguladas e supervisionadas por órgãos técnicos especializados da Administração Pública – o Banco Central do (BACEN), a Comissão de Valores Mobiliá-rios (CVM), a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) e a Superintendência Nacional de Previdên-cia Complementar (Previc). Tais empresas recebem tratamento diferenciado por representarem risco sis-têmico, cuja prevenção e mitigação requerem proce-dimentos especiais para não afetar toda a economia. Nesse quadro, não teria cabimento sujeitá-las aos dispositivos de uma legislação comercial.

CAPÍTULO 6: EFICIÊNCIA ECONÔMICA E COMPETITIVIDADE

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 9796

6.20.1 LIMITES DO PLANODE RECUPERAÇÃO JUDICIAL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o aprimoramento da Lei nº 11.101/2005, de Re-cuperação de Empresas e Falências, que exa-minem em profundidade os limites do plano de recuperação judicial, com o propósito de facili-tar eventual concessão de crédito para empre-sas em recuperação.

O princípio da preservação da empresa como vem sendo referido pela doutrina e nas decisões dos tribunais está previsto no artigo 47 da Lei nº 11.101/2005, que regula a recuperação de empresas e falências, conforme transcrito abaixo:

Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabi-lizar a superação da situação de crise econômico-fi-nanceira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estí-mulo à atividade econômica.

Esse princípio vem sendo utilizado para justificar a concessão da recuperação judicial, principalmente para fundamentar as concessões com base no arti-go 58 da Lei.

O instituto da recuperação judicial diverge da concor-data, previsto na antiga lei de falências (Decreto-Lei nº 7.661/1945), visto que no revogado Decreto-Lei a em-presa teria como alternativa a concordata preventi-va, o que possibilitaria a dilação dos prazos e perdão parcial da dívida quirografária limitado a 50% do seu valor. O novo dispositivo aumenta o rol dos meios de recuperação, outorgando excessiva liberdade ao devedor e seus credores para construírem um plano de recuperação judicial (PRJ) que viabilize a recupe-ração da empresa em crise. Entretanto, nada obsta

que dentre as soluções a serem empregadas estejam elencadas aquelas que podem violar os preceitos formais e razoáveis do ordenamento jurídico pátrio, bem como causar prejuízo aos credores.

Após o pedido de recuperação judicial e deferido o seu processamento, a recuperanda terá 180 dias para apresentar e aprovar o plano em assembleia geral de credores. Nesse ínterim, ficam suspensas todas as execuções em face da recuperanda.

Registre-se, que, em alguns casos, empresas bus-cam a recuperação como subterfúgio para condutas que objetivam apenas a redução de suas obrigações e dos encargos financeiros contratados. A maioria dos planos de recuperação judicial é aprovada com descontos de até 80% do valor da dívida, com carên-cia e prazos alongados. Dessa forma, planos com tais condições impõem excessivo ônus ao Sistema Finan-ceiro Nacional (SFN).

Outra prática adotada por empresas é a tentativa de inclusão de créditos não sujeitos aos efeitos da re-cuperação judicial no plano de recuperação judicial, fato este que obriga os credores a adotar medidas judiciais combatendo tal situação, cuja discussão contribui para o aumento do prazo de definição das condições de recuperação judicial.

A partir da vigência da Lei nº 11.101/2005, verifica-se aumento expressivo do número de processos de recuperação judicial. Foram requeridos 110 casos no Brasil em 2005, e desde sua criação 4.774 pedidos de recuperação judicial já foram feitos, sendo que 3.635 foram deferidos. Em 2014, 466 empresas tiveram a falência decretada.

Ressalte-se, ainda, a existência de projetos de lei com objetivo de alteração da legislação falimentar que, caso sejam aprovados, contribuiriam significa-tivamente para o aumento do público-alvo com le-gitimidade para pleitear recuperação judicial, bem como a respectiva elevação do risco de crédito.

A empresa em recuperação judicial tem o seu risco de crédito elevado, visto que, se não cumprir o plano da recuperação, o procedimento é convertido em falên-cia. Ocorre que, com elevação do risco, a empresa em recuperação judicial passa a enfrentar a falta de crédi-to. A concessão de crédito novo esbarra nas diretrizes do SFN. Para ilustrar: o Conselho Monetário Nacional, por meio da Resolução nº 2.682/1999, determinou que as instituições financeiras classificassem as ope-rações de crédito em ordem crescente de risco, ini-ciando em “AA” até “H”, devendo o tomador ser classi-ficado de acordo com informações internas e externas. Assim, a empresa em recuperação judicial tem suas as operações contratadas com sistema financeiro classi-ficadas com risco “H”, o que enseja provisão de crédito de liquidação duvidosa no valor de 100% do crédito.

A saída pode ser a criação de fundos private equities específicos para investir em companhias em recupera-ção judicial, ou fundo de aval, a exemplo do funproger.

6.21 DIGITALIZAÇÃO / ARQUIVAMENTO DE DOCUMENTOS

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que confiram segurança jurídica aos atos e negócios que envolvam do-cumentos digitalizados ao dar a estes o mesmo valor jurídico dado aos documentos originais. Para a CNF, esse propósito seria atingido pela adequação da atual legislação que trata de mi-crofilmagem a novas tecnologias de reprodução de imagem, dispensado o registro notarial.

“Digitalização” é o processo de conversão de dados de um suporte analógico para o suporte digital, que permite maior fidelidade de reprodução e maior flexibilidade para buscas, além de rapidez na atua-lização dos dados armazenados e possibilidade de

compartilhamento de informações a um número maior de interessados. Trata-se aqui de documentos digitalizados a partir de um documento original em outro suporte, o que não incluiria documentos gera-dos já em meio digital. A atividade econômica res-sente-se da ausência de regulamentação da digitali-zação de documentos, seu armazenamento em meio eletrônico (ótico ou digital) e a reprodução daqueles que foram arquivados (públicos e privados).

A microfilmagem, com armazenagem em fotogra-mas da forma e do conteúdo de documentos, aproxi-ma-se da digitalização em seus propósitos. Seu uso já tem mais de quarenta anos: a Lei nº 5.433/1968 permitiu aos Cartórios de Registro de Títulos e Docu-mentos efetuar seus registros por esse meio, o que trouxe maior segurança e agilidade aos processos.

A regulamentação da digitalização de documentos não alteraria nenhuma das legislações específicas vigentes. Por exemplo, em nada afetaria as ativida-des e as competências tanto dos tabeliães de notas e de protesto quanto dos cartórios de registro civis, de pessoas naturais ou jurídicas, de títulos e documen-tos e de imóveis, na medida em que o meio ótico ou digital simplesmente substituiria o suporte em papel dos atos e negócios jurídicos, que continuariam re-gulados pelas mesmas normas.

A Medida Provisória nº 615/2013, convertida na Lei nº 12.865, em seu art. 23, dispõe que “Nas opera-ções e transações realizadas no sistema financeiro nacional, inclusive por meio de instrumentos regu-lados por lei específica, o documento digitalizado terá o mesmo valor legal que o documento que lhe deu origem, respeitadas as normas do Conse-lho Monetário Nacional”. Contudo, uma vez que a segurança da digitalização dos documentos de instituições financeiras depende ainda da devida regulamentação do Conselho Monetário Nacional, a CNF entende que resta definir os procedimentos de digitalização.

CAPÍTULO 6: EFICIÊNCIA ECONÔMICA E COMPETITIVIDADE

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7CAPÍTULO 7: REGULAMENTAÇÃO DO ARTIGO 192 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

REGULAMENTAÇÃO DO ARTIGO 192 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

A higidez do Sistema Financeiro Nacional (SFN) é fun-damental para o desenvolvimento sustentável do Bra-sil. A estabilidade econômica é produto também da efi-ciência do sistema financeiro. A estrutura do SFN, suas regras de funcionamento, o raio de atuação da auto-ridade monetária, o papel das instituições públicas e privadas, entre outros, estão entre as questões mais relevantes da agenda nacional de desenvolvimento.

O texto estabelecido pela Constituição de 1988 dava margem a alguma insegurança jurídica, ao tratar do Sistema Financeiro Nacional em oito incisos, duas alíneas e três parágrafos. A redação dada original-

mente ao artigo 192 determinava que o Sistema Fi-nanceiro Nacional seria regulado por uma única lei complementar. Esses dispositivos foram revogados pela Emenda à Constituição nº 40/2003 e hoje, a Car-ta Magna, no seu Título VII (da Ordem Econômica e Fi-nanceira), Capítulo IV (do Sistema Financeiro Nacio-nal), artigo 192, tem uma redação concisa e objetiva:

Art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibra-do do País e a servir aos interesses da coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis com-

O art. 192 da Constituição Federal define o papel do Sistema Financeiro Nacional e determina sua regulamentação por leis complementares. Para a Confederação Nacional das Instituições Financeiras, a questão fundamental que permeia a regu-lamentação do artigo 192 é a da estabilidade jurídica para o ambiente de negócios. Para tanto, a CNF apoia projetos de regulamentação desse artigo que preservem o equilíbrio dos contratos e que não acarretem riscos derivados de insegurança jurí-dica, que se refletiriam nos preços (por exemplo, tarifas e taxas de juros). Isso pode ser alcançado pela adoção de dispositivos legais abrangentes, claros e inequívocos que, sempre que possível, remetam questões técnicas para legislação ordinária ou para decisões do Conselho Monetário Nacional. Diante do notável dinamismo dos sistemas financeiros nacional e internacional, a CNF apoia projetos de regulamen-tação do artigo 192 da Constituição Federal que evitem o possível enrijecimento de dispositivos – que podem se revelar críticos em situações emergenciais.

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015100

plementares que disporão, inclusive, sobre a parti-cipação do capital estrangeiro nas instituições que o integram.

O Supremo Tribunal Federal entendeu que a Lei nº 4.595/1964, que “dispõe sobre a Política e as Institui-ções Monetárias, Bancárias e Creditícias, cria o Conse-lho Monetário Nacional e dá outras providências” foi recepcionada pela Constituição de 1988 com o status de Lei Complementar. A legislação atual, que já cele-brou seu cinquentenário, permitiu ao país a criação e o desenvolvimento de um sistema financeiro moder-no, sólido, regulamentado e eficiente, respeitado no mundo inteiro. Contudo, o desenvolvimento da eco-nomia brasileira e as mudanças verificadas no mer-cado financeiro mundial requerem, cada vez mais, o aprimoramento desse marco regulatório.

A CNF acredita que uma discussão profunda, técnica e responsável fortalecerá ainda mais o SFN e dará impulso adicional ao crescimento econômico e à mo-dernização das relações econômicas no Brasil.

No exame da regulamentação do artigo 192 da CF, a Confederação assinala pontos para reflexão, que tra-tam, entre outros, de: abrangência da expressão “Sis-tema Financeiro Nacional”; necessidade de edição de leis complementares; conteúdo e alcance da expres-são “desenvolvimento equilibrado”; conteúdo e al-cance da expressão “atendimento aos interesses da coletividade”; estrutura e papel do Conselho Mone-tário Nacional; competência normativa do Conselho Monetário Nacional; estrutura, papel e autonomia do Banco Central; definição e papel das instituições fi-nanceiras; cooperativas de crédito; igualdade de tra-tamento ao capital estrangeiro; mercado de capitais;

seguros; capitalização; previdência privada; regras de funcionamento de agências e de atendimento a clientes; padrões e normas de segurança; direito ad-quirido em relação ao regime legal monetário ou por índices de correção monetária; neutralidade do setor financeiro e responsabilidade pelos efeitos decorren-tes da execução de políticas e normas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional; correspondentes no país; Nota de Crédito Bancário e outros títulos de crédito; tarifas bancárias; tabelamento de juros; ta-belamento de spread; comissão de permanência; ca-pitalização de juros para prazos inferiores a um ano; e tributação adicional da intermediação financeira.

Em março de 2013, foi instituída a Comissão Mista de Consolidação da Legislação Federal e Regulamenta-ção de Dispositivos da Constituição Federal (CMCLF), que se debruçou sobre a regulamentação de 25 arti-gos pendentes da Carta Magna, entre eles o art. 192. Também tramitou na Comissão de Assuntos Econô-micos (CAE) do Senado Federal o Projeto de Lei do Senado (PLS) n° 102/2007 que regulamenta a estru-tura do Sistema Financeiro Nacional. Comissão Mista semelhante poderá ser instalada na nova Legislatu-ra que se inicia em 2015, bem como o PLS 102/2007 poderá ser desarquivado. Grupo de trabalho reunido pela CNF tem-se dedicado a preparar subsídios tanto para a CMCLF quanto para a CAE do SF. Ao preparar esses subsídios, o grupo de trabalho tem dado espe-cial atenção à questão do risco sistêmico que, desde 2007, constitui o pano de fundo de grande parte das normas voltadas para o setor financeiro. O grupo de trabalho também tem-se preocupado com a manu-tenção dos avanços obtidos desde a entrada em vigor da Lei n° 4.595/1964, testados em inúmeras crises in-ternacionais ao longo de cinco décadas.

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8CAPÍTULO 8: REGULAMENTAÇÃO DA PROMOÇÃO DE INTERESSES LEGÍTIMOS JUNTO AO SETOR PÚBLICO (LOBBY )

A promoção de interesses legítimos é uma via de duas mãos. Por um lado, os setores público e priva-do podem ser afetados por decisões dos Três Pode-res que deveriam ser sempre lastreadas em conheci-mento técnico específico de determinada atividade empresarial e familiaridade com o ambiente de ne-gócios. Nesses casos, a prestação de informações pelo agente público ou privado contribui para a eficácia da política pública que se busca implemen-tar. Por outro lado, sugestões, inovações, projetos, pareceres, notas técnicas, pesquisas e outras infor-mações relevantes produzidas pelo setor público e pelo setor privado têm o condão de provocar a for-mulação de políticas públicas. Nesses casos, é a so-ciedade como um todo que se beneficia da atividade do lobby. Ou seja, o lobby se constitui em atividade lícita e legítima que favorece toda a cidadania, mes-

mo quando promove interesses específicos de algum setor da economia ou da sociedade.

A regulamentação do lobby, tanto no Brasil quanto em países europeus, tem como principal objetivo tornar pública a relação entre lobistas e autoridades. O assun-to também tem sido tema de discussão da Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE), que vem promovendo debates com intuito de sugerir parâmetros e modelos de regulamentação.

Nos Estados Unidos da América (EUA) o lobby é re-gulamentado por meio de legislação federal, desde 1946, ano em que reconheceu a prática como profis-são e instituição. O instituto legal norte-americano é voltado para tornar públicas e transparentes as infor-mações que envolvem a atividade.

REGULAMENTAÇÃO DA PROMOÇÃO DE INTERESSES LEGÍTIMOS JUNTO AO SETOR PÚBLICO (LOBBY )

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia a regulamentação da promoção de interesses legítimos tanto do setor privado quanto do público junto a órgãos do Estado, desde que baseada no tratamento isonômico do aces-so dos grupos de interesse ao processo decisório estatal e das prestações de con-tas. Para a CNF, o objetivo de tornar transparente a relação entre lobistas e au-toridades irá ressaltar a legitimidade e a licitude de uma atividade profissional que trata de questões que beneficiam toda a cidadania, ao prestar informações especializadas a autoridades e ao provocar a formulação de políticas públicas.

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015104

Na Europa, não existe equivalente do padrão nor-te-americano por lei federal de regulamentação do lobby. Embora alguns países europeus possuam regras que normatizem a atuação de grupos de in-teresse no âmbito do Parlamento, um trabalho re-alizado pela Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados, em dezembro de 2011, concluiu que na Europa nenhum país do continente possui legislação federal regulamentando a atividade.

Um dos principais desafios a serem vencidos no Bra-sil e no mundo em relação à atividade de defesa de interesses é o estigma que envolve a atividade de re-presentação, muitas vezes confundida com a prática ilícita de tráfico de influência.

Com o intuito de regulamentar o lobby no Brasil, desde 1989 uma série de proposições têm sido apre-sentadas no âmbito do Congresso Nacional, sem su-cesso. Em 2007, proposta sugerindo a definição de normas para a atividade de lobista ganhou maior simpatia do Congresso. A matéria encontra-se em apreciação pela Câmara dos Deputados. De acordo com a proposta, a Controladoria-Geral da União fi-caria responsável pelo credenciamento dos lobistas; o Tribunal de Contas da União seria responsável por receber a prestação de contas anual dos lobistas, pessoas físicas e jurídicas; o Conselho Administra-tivo de Defesa Econômica arbitraria os casos envol-

vendo abuso de poder econômico e o Ministério Pú-blico investigaria irregularidades cometidas.

O Poder Executivo também tem trabalhado com o intuito de regulamentar o lobby no Brasil. Em 2008, a discussão foi incluída na Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (ENC-CLA) com o objetivo de elaborar anteprojeto que re-gulamentasse a atividade no país.

A promoção de legítimos interesses privados junto ao setor público não tem caráter eleitoral. Isto é, des-pida de conotação partidária. Ao atuar junto a auto-ridades, os agentes privados muitas vezes levantam temas de interesse da cidadania que não são deba-tidos por pessoas físicas, tais como o princípio da livre iniciativa e a liberdade de atividade econômi-ca. Nesse sentido, equipara-se ao lobby do próprio Governo, quando o Poder Executivo também atua junto aos demais Poderes para promover temas de seu interesse.

Para ser eficaz, a regulamentação do lobby deve as-segurar isonomia tanto no acesso a agentes públicos quanto nas prestações de conta por parte de todos os grupos de interesses legítimos, ou seja, empresas e trabalhadores, setor privado e Governo, empresas e ONGs, empresas de capital nacional e as de capital estrangeiro, entre outros.

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9CAPÍTULO 9: EFICIÊNCIA JUDICIÁRIA E SEGURANÇA JURÍDICA

A maioria das operações financeiras é de natureza contratual. Ademais, as instituições financeiras en-frentam acirrada concorrência entre si, mantêm rela-cionamento com o Fisco, abrigam centenas de milha-res de funcionários e estão a serviço dos cidadãos e do Poder Público – como no caso do recolhimento de tri-butos e de depósitos judiciais, repasse dos pagamen-tos de aposentadorias, benefícios previdenciários, Programa Bolsa Família, entre outros. São sinais de um rico tecido social e de estreitos relacionamentos, durante os quais se desenvolvem posições discordan-tes. Essa teia de relacionamentos dá origem a lides ju-diciais das mais variadas, opondo instituições a clien-tes, a suas congêneres, ao Fisco, a seus empregados e aos governos federal, estadual e municipal. Por essa razão, o Poder Judiciário tem papel especialmente re-levante para as atividades das instituições financeiras. A celeridade dos processos e a segurança jurídica têm impacto direto sobre as operações financeiras, inclu-sive sobre a precificação destas, e contribuem para a ampliação da bancarização, a expansão do crédito e a oferta de ampla gama de produtos e serviços.

Por vezes, as decisões judiciais que envolvem insti-tuições financeiras padecem de falta de informação especializada e de abundância de preconceitos injus-tificados. As ações judiciais nas quais são partes as instituições financeiras têm, via de regra, objeto extre-mamente técnico. São questões que envolvem fami-liaridade, entre outros, com ramos especializados do Direito, com economia, com contabilidade (inclusive contabilidade bancária), com matemática financeira e com tecnologia da informação. Tal familiaridade não se distribui uniformemente entre os agentes do Direito, inclusive juízes. Por isso, ocorrem decisões ju-diciais não lastreadas em argumentos técnicos. Tam-bém alguns preconceitos contaminam decisões judi-ciais, entre eles a percepção, sem qualquer amparo nos fatos, de que instituições financeiras cobram tari-fas, juros e encargos abusivos e, por essa razão, aufe-rem lucros exorbitantes. Essa questão é examinada na Seção 6.5 – Lucro e rentabilidade bancária.

EFICIÊNCIA JUDICIÁRIAE SEGURANÇA JURÍDICA

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas que con-tribuam para a celeridade dos processos no Poder Judiciário, para a clareza e a precisão de sentenças judiciais lastreadas em conhecimento técnico das ques-tões afetas ao setor financeiro e para maior segurança jurídica nas relações contratuais de todas as espécies.

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 109108

9.1 REFORMAS DE CÓDIGOS LEGAIS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o aprimoramento e a atualização da legislação codificada brasileira, o aperfeiçoamento de dispositivos que geram dúvidas e a simpli-ficação do entendimento e da aplicação da norma, para maior segurança jurídica. A CNF entende que esses objetivos podem ser alcan-çados também por reformas gerais dos códi-gos, mas não exclusivamente por estas.

Estão na pauta de discussão do Congresso Nacional diversas reformas de códigos que têm como objetivo principal dar mais celeridade à justiça no Brasil. As úl-timas grandes reformas de Código realizadas pelo Le-gislativo se deram com a promulgação em janeiro de 2002 do novo Código Civil (Lei nº 10.406/2002) e com o Código de Processo Civil. No caso do Código Civil, a alteração ocorreu após mais de 25 anos da apresenta-ção da proposta original, o Projeto de Lei nº 634/1975.

Hoje, entre outras, discutem-se reformas dos se-guintes Códigos: Penal (Decreto-Lei nº 2.848/1940), de Processo Penal (Decreto-Lei nº 3.689/1941), de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/1990), de Mi-neração (Decreto-Lei nº 227/1967), Eleitoral (Lei nº 4.737/1965), Comercial (Lei nº 556/1850), bem como a codificação da Consolidação das Leis do Traba-lho – CLT (Decreto-Lei nº 5.452/1943). As propostas, em diversos casos oriundas de grupos de trabalho constituídos para apresentação de sugestão única de alteração de código específico, têm tramitação diferenciada nas Casas do Congresso Nacional.

O movimento iniciou-se com a aprovação no Senado Federal do Projeto de Lei do Senado nº 156/2009 (Có-digo de Processo Penal). Tanto Câmara como Senado vêm despendendo tempo e recursos para ampliar as discussões sobre essas reformas mais profundas por meio da criação de comissões especiais e ritos de ur-

gência. Contudo, ao lado dessas propostas, também tramitam no Congresso inúmeros projetos de esco-po mais limitado ao aperfeiçoamento de dispositi-vos específicos de cada um dos Códigos existentes.

A correção de questões pontuais percebidas pela prá-tica da aplicação da legislação em vigor é eficaz para dar efetividade maior à regra. Entretanto, em razão da evolução da sociedade, muitas das normas codifica-das passam a ser empecilho para a efetivação do di-reito. Nesses casos, amplas reformas podem ser efetu-adas para permitir uma justiça mais célere e eficiente.

Embora muitas propostas de reformas de códigos tra-mitem pelo tempo adequado para ampla discussão das alterações necessárias ao seu aperfeiçoamento, a CNF vê com preocupação iniciativas que, de manei-ra açodada, visem a impor ao Congresso e à socieda-de alterações radicais, com entendimento de grupo específico, que possam gerar mais transtornos que aprimoramentos reais para a legislação brasileira.

9.1.1 CÓDIGO COMERCIAL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras, ao apoiar a revisão da legislação comercial nos assuntos em que esta não se encontre alinhada com a realidade atual dos negócios, sublinha que a modernização de matéria dessa complexidade e alcance não requer necessariamente reforma integral, mas pode ser obtida por meio da aprovação de dispositivos pontuais, de forma a preservar o bom funcionamento dos mercados e a segu-rança jurídica.

Em 2011, iniciou sua tramitação na Câmara dos De-putados o projeto que institui um novo Código Co-mercial para o Brasil. O texto apresentado originou-

-se de minuta proposta pelo Professor Fábio Ulhoa Coelho. Em 2013, foi apresentada no Senado outra

proposta de natureza semelhante, de autoria do mesmo jurista, com texto mais extenso.

A iniciativa, conforme seu idealizador, visa basica-mente a reunir em um único diploma legal as regras comerciais esparsas, fortalecer os princípios e regras próprios do Direito Comercial, aplicáveis às relações entre empresas, bem como modernizar a legislação ante os avanços mais recentes. A ideia que orientou a construção do texto é a de que o atual Código (Lei n° 556/1850) não é mais compatível com a realidade dos negócios e a inclusão de matérias de Direito Co-mercial no âmbito do Código Civil não é adequada, pois esse, ao unificar o direito privado, tratou não só das relações entre as empresas, mas também das re-lações de consumo e de trabalho.

A iniciativa divide opiniões. Muitos apoiam a neces-sidade de codificação de modo a garantir sistema-ticidade ao Direito Comercial. Outros, no entanto, defendem melhorias na legislação vigente sem rup-turas nos institutos já bem regulados e utilizados, que trazem previsibilidade aos negócios (como a das Sociedades Anônimas - Lei n° 6.404/1976 -, a de Fa-lência - Lei n° 11.101/2005 - e a de Títulos de Crédito Comercial - Lei nº 6.840/1980-, por exemplo) e não podem ser sobrepostos pelo Código. O fato é que a interpretação de cada uma dessas leis específicas, pelos tribunais, já é conhecida dos investidores e empresários e alterações nesse entendimento sedi-mentado poderiam significar insegurança jurídica e, como efeito, empecilhos à atração de investimentos.

A proposta supera algumas lacunas na ordem jurídi-ca nacional no que concerne, por exemplo, à eficácia e executividade da documentação digitalizada e ao comércio eletrônico. Contudo, pode ser aprimorada por: (i) tratamento adequado da desconsideração da personalidade jurídica, de modo que o instituto seja utilizado apenas nos casos de comprovado mau uso da pessoa jurídica e que proteja os sócios nos casos em que não se verifiquem atos dolosos e criminosos, praticados ao abrigo da separação patrimonial; (ii) retirada das matérias sobre sociedades anônimas e

direito falimentar, pois seus valores já estão assen-tados na doutrina, jurisprudência e prática dos ne-gócios; e (iii) tratamento apropriado dos contratos bancários, de modo a subtrair imprecisões.

Destaque-se que a codificação dos princípios e re-gras empresariais pode trazer imobilidade para esse ramo do Direito, necessariamente dinâmico e que precisa adaptar-se constantemente às inovações tecnológicas e econômicas.

9.1.2 CÓDIGO PENAL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras, ao apoiar a revisão da legislação penal nos assuntos em que essa não se en-contre adequada para coibir práticas ilícitas da atualidade, sublinha que a modernização de matéria dessa complexidade e alcance não requer necessariamente reforma integral, mas pode ser obtida por meio de incrementos pon-tuais, de forma a preservar o equilíbrio da tute-la dos bens jurídicos.

O Congresso Nacional analisa a proposta de um novo Código Penal para o país. A opção por reformar re-pousa sobre a percepção de que o atual Código não contempla todas as condutas ilícitas que se verifi-cam na realidade contemporânea.

O texto em tramitação foi construído por uma comis-são composta por juristas e presidida pelo Ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Gilson Dipp. Os obje-tivos do grupo, além de modernizar o Código, resumi-ram-se em unificar a legislação penal esparsa (cerca de 120 leis), descriminalizar condutas incompatíveis com outros tipos penais existentes e com a Constituição de 1988 e, se necessário, prever novas figuras típicas.

Apresentada no Senado, a proposição foi objeto de exame por Comissão Especial. O texto aprovado nes-

CAPÍTULO 9: EFICIÊNCIA JUDICIÁRIA E SEGURANÇA JURÍDICA

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 111110

se Colegiado realiza acréscimos polêmicos, como: a ampliação das possibilidades do aborto legal e a criminalização de homicídio e lesão em razão de preconceito com orientação sexual e identidade de gênero. As controvérsias existentes, não só entre os parlamentares, mas também entre setores da socie-dade, em torno desses temas pode tornar morosa a tramitação do projeto.

Entre as inovações pertinentes ao setor financeiro, encontram-se, por exemplo: (i) a responsabilidade penal das pessoas jurídicas nos crimes contra a or-dem econômica e o sistema financeiro; (ii) o empre-go de explosivos como nova qualificadora ao crime de furto; (iii) a tipificação dos delitos eletrônicos; (iv) a responsabilização de pessoas jurídicas por atos de corrupção praticados contra a administração pública; (v) a tipificação do financiamento ao terrorismo; (vi) as alterações no tipo “gestão fraudulenta”, na parte de Crimes contra o Sistema Financeiro; (vii) a tipificação do uso indevido da informação privilegiada, como for-ma de coibir o comportamento dos “inside traders”; e (viii) a incorporação do crime de lavagem de dinheiro com eliminação do rol de crimes antecedentes.

De modo geral, o projeto avança ao incorporar os cri-mes da modernidade ao escopo do Código. No entan-to, retroage, por exemplo, ao não prever a cominação da multa a não ser em situações bastante excepcio-nais, ao estabelecer, em muitos casos, penas despro-porcionais e ao esvaziar as normas processuais.

A Confederação defende que, observados os dita-mes legais, as instituições financeiras não podem ser responsabilizadas, ainda que indiretamente, por da-nos causados por agentes que delas se utilizam para operações ativas e passivas. Recursos a serem utili-zados para atividades ilegais podem ser provenien-tes de atividades totalmente lícitas. Existe grande di-ficuldade em se estabelecer padrões para monitorar e identificar situações e pessoas que possam estar utilizando a instituição financeira como meio para o financiamento de atividades ilícitas.

9.1.3 CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras, ao apoiar a modernização do Código de Processo Penal, sublinha que a atualização de matéria dessa complexidade e alcance não re-quer necessariamente reforma integral, mas pode ser obtida por meio da aprovação de dis-positivos pontuais com vistas a um sistema ju-rídico mais acessível, ágil e efetivo, de forma a preservar os princípios básicos do devido pro-cesso legal, bem como o do contraditório. A CNF ressalta que deve ser dado tratamento proces-sual também aos casos de crimes praticados por meio da internet.

Os trabalhos de reforma do Código de Processo Pe-nal (CPP) iniciaram-se no âmbito de uma Comissão Temporária de Estudo da Reforma do Código, forma-da por juristas, criada no Senado Federal em 2008.

Entre as principais propostas de mudanças sugeridas para o CPP, merecem especial atenção as seguintes: (i) a faculdade do juiz de suspender, total ou parcialmen-te, as atividades de pessoa jurídica sistematicamente utilizada por seus sócios ou administradores para a prática de crimes contra o meio ambiente, a ordem econômica, as relações de consumo ou que atinjam um número expressivo de vítimas (quando o juiz leva-rá em conta, igualmente, em sua decisão, o interesse dos empregados e de eventuais credores e o princípio da função social da empresa, bem como a manifesta-ção do órgão público regulador, se houver); (ii) a co-municação imediata às instituições financeiras, pelo juiz, caso necessário, que deverão bloquear qualquer tentativa de retirada ou transferência de valores das contas, bem como a movimentação de aplicações fi-nanceiras porventura existentes; e (iii) a possibilidade de o juiz atribuir à instituição financeira, caso decre-tado o sequestro, a custódia legal dos valores deposi-tados em suas contas, fundos e outros investimentos.

CAPÍTULO 9: EFICIÊNCIA JUDICIÁRIA E SEGURANÇA JURÍDICA

A CNF apoia medidas que alteram o Código Penal a fim de atribuir competência à Polícia Federal para investigar crimes contra as instituições financeiras, dado o caráter interestadual da atuação das orga-nizações criminosas que praticam esses crimes. Tal medida irá interferir positivamente nos trabalhos de investigação, inibindo a atuação das quadrilhas e, consequentemente, na potencial redução de ações criminosas contra as agências e sistemas bancários.

9.1.4 CÓDIGO DO TRABALHO

Para a Confederação Nacional das Instituições Financeiras, vários aprimoramentos podem ser promovidos na legislação trabalhista, seja por meio de uma proposta de Código, seja por projetos pontuais. Tais aprimoramentos devem preservar os direitos dos trabalhadores e se pautar por contratos flexíveis, privilegiando as convenções e os acordos coletivos de trabalho, que estimulem as empresas a aumentar sua produtividade e a tornarem-se mais competiti-vas, contribuindo, assim, para a expansão dos empregos formais.

Tramita desde 2011, na Câmara dos Deputados, pro-posta que cria o Código do Trabalho. Seu objetivo é atualizar a legislação trabalhista em vigor, bem como enfeixar as normas esparsas, garantindo direitos bá-sicos, de modo a compatibilizá-la com a tendência mundial de favorecer a composição entre as partes como reguladora das relações trabalhistas.

A principal inovação do projeto é a garantia de que o negociado prevaleça sobre o legislado, respeitados os direitos irrenunciáveis dos trabalhadores previstos na Constituição Federal. Outras importantes novidades dizem respeito ao parcelamento das férias em até três períodos; à extinção da contribuição sindical; à previsão de que, independentemente de filiação, to-dos os representados pelo sindicato participem das

assembleias que tratem de convenções e acordos co-letivos e nelas votem; à extensão da licença paterni-dade, em caso de morte da mãe ou quando esta opte por renunciar a parte da sua licença e transferi-la ao pai; à possibilidade de que o contrato de terceirização aplique-se às atividades meio e fim da contratante, bem como à determinação de que a empresa contra-tante seja subsidiariamente responsável pelas obri-gações trabalhistas; à possibilidade do pagamento do vale-transporte em dinheiro, sem natureza salarial; à aplicação da legislação brasileira, quando mais favo-rável, ao trabalhador expatriado; a não incidência de encargos trabalhistas sobre a participação nos lucros ou resultados (PLR); entre outros.

Para as empresas, a proposta, ao reduzir os custos de contratação e permitir modalidades de contratos mais adaptáveis às necessidades produtivas e do mer-cado, permite ganhos de competitividade e equilíbrio nas relações. Para os empregados, a iniciativa repre-senta abertura de novos postos de emprego formais e oportunidades para negociações mais vantajosas.

9.2 JUSTIÇA DO TRABALHO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que confiram à Jus-tiça do Trabalho maior autonomia e celeridade no processamento e julgamento de ações que versem sobre relações de trabalho ou delas decorrentes sem, todavia, afrontar direitos e garantias das partes de acesso ao Judiciário, bem como outros princípios constitucionais tais como o devido processo legal, contraditório, ampla defesa e duplo grau de jurisdição. Ade-mais, a Confederação apoia proposituras que permitam aos julgadores laborais primarem o disposto em convenções e acordos coletivos e que revisem os critérios para estabelecimento de honorários advocatícios.

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A Justiça Trabalhista surgiu nos primórdios da Re-pública, com o crescente processo de urbanização em decorrência dos avanços na indústria e no co-mércio e do aumento progressivo de mão de obra livre e assalariada.

Integrada ao Poder Judiciário na Constituição de 1946, essa Justiça especializada recebeu modifica-ções estruturais ao longo do tempo. Recentemente, sob o amparo da Magna Carta de 1988, a justiça la-boral teve outra grande modificação, conferida pela redação da Emenda à Constituição n° 45/2004 ao art. 114 que ampliou a sua competência para processar e julgar ações que versem sobre relações de trabalho ou que delas decorram.

Certamente, uma das consequências principais foi o aumento do número de processos, reforçando a necessidade de novas alterações legislativas que permitissem maior celeridade no trâmite processual sem, contudo, deixar de resguardar direitos e garan-tias às partes e o respeito aos princípios constitucio-nais do devido processo legal, contraditório, duplo grau de jurisdição, entre outros.

Para a concretização dessa celeridade, a CNF apoia propostas que impeçam o uso de recursos mera-mente protelatórios, desde que os critérios sejam objetivos para essa qualificação e que, se houver ne-cessidade de aplicação de multa, não obstem a in-terposição de outro recurso e seu valor seja razoável, considerando-se a natureza e o valor da ação, as par-tes envolvidas e o depósito prévio recursal obrigató-rio (exigido somente à parte reclamada, via de regra pessoa jurídica, considerando que essa exigibilidade também deve ser revista).

Ademais, a Confederação apoia igualmente propo-sições que confiram segurança jurídica às decisões proferidas pelos julgadores trabalhistas que privile-giam as convenções e os acordos coletivos de traba-lho, sem que impliquem inovações no ordenamento jurídico, nem mesmo por meio de súmulas e orienta-ções jurisprudenciais.

Embora a Constituição Federal (CF) não tenha trazi-do uma definição jurídica sobre súmulas, deixou ex-presso, ao tratar da súmula vinculante, que ela “terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja con-trovérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegu-rança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica” (CF art. 103-A, §1º). Assim, a edição de súmula é uma das mais relevantes técnicas de uniformização jurisprudencial que tem o propósi-to especifico de remediar conflitos de interpretação.

Todavia, a Justiça Trabalhista, ao editar enunciados de súmula e orientação jurisprudencial com base em interpretação controversa ou mesmo na ausência de precedentes, compromete as negociações coletivas e as realizadas entre empregados e empresas, bem como colide com a jurisprudência do Supremo Tri-bunal Federal (STF) que trata da repartição dos Po-deres e da impossibilidade do Poder Judiciário em legislar (ADI nº 2.075-MC e Súmula 339).

Por fim, a Confederação acompanha com interesse projetos que permitam a divisão do pagamento dos honorários de sucumbência na Justiça do Trabalho entre as partes ou o abatimento do valor total julgado devido à demandada. Atualmente, esse ônus, regra geral, é exclusivo da parte reclamada, porquanto o autor da ação costuma gozar de gratuidade na justiça.

Na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 3.684, no Supremo Tribunal Federal foi concedida liminar para afastar a competência da Justiça do Trabalho para julgar ações penais decorrentes da re-lação de trabalho, conforme transcrito abaixo:

EMENTA: COMPETÊNCIA CRIMINAL. Justiça do Traba-lho. Ações penais. Processo e julgamento. Jurisdição penal genérica. Inexistência. Interpretação confor-me dada ao art. 114, incisos I, IV e IX, da CF, acres-cidos pela EC nº 45/2004. Ação direta de Inconstitu-cionalidade. Liminar deferida com efeito “ex tunc”. O disposto no art. 114, incisos I, IV e IX, da Constituição

da República, acrescidos pela Emenda Constitucio-nal nº 45, não atribui à Justiça do Trabalho compe-tência para processar e julgar ações penais.

9.2.1 EXECUÇÃO NO PROCESSO TRABALHISTA

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que tragam celeridade à Justiça do Trabalho, balizadas pelas garan-tias constitucionais do acesso à Justiça; do de-vido processo legal; e da sua razoável duração. É fundamental, no entanto, que tais alterações ocorram preservando-se os princípios constitu-cionais da ampla defesa, do contraditório, do duplo grau de jurisdição e da segurança jurídica.

A execução no processo trabalhista deve levar em conta a especificidade da tutela, ou seja, o direito que está em discussão, a duração razoável do pro-cesso, o valor constitucional fundamental e o inte-resse do credor, mas sem perder de vista a forma me-nos onerosa para o executado. Não se trata aqui de execução penal, pois não se busca punir um crimi-noso, mas sim satisfazer um credor. Havendo duas maneiras de satisfazê-lo, deverá ser adotada a que menos onera o devedor.

Até 2011, a Justiça do Trabalho não conseguia exe-cutar todos os processos que recebia por ano. Nesse ano, por exemplo, conseguiu baixar 95% das execu-ções iniciadas. Desde então, a Justiça Trabalhista passou a cumprir maior quantidade de execuções judiciais do que as iniciadas no próprio ano. Em 2012, cumpriu 106% das execuções iniciadas; em 2013, cumpriu 102,2%.

Apesar de os valores absolutos terem sido reduzidos, Anuários do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) in-dicam que a taxa de congestionamento da Justiça do Trabalho continua aumentando. Em 2013, dos

processos que tramitaram nesse ramo do Judiciá-rio, 2,7 milhões foram execuções judiciais (39,7%) e 110 mil (1,6%), execuções extrajudiciais, entre elas, fiscais e não fiscais. Apesar do baixo número de pro-cessos de execução fiscal, sua taxa de congestiona-mento é a maior de todas, em comparação com o processo de conhecimento, em todas as instâncias. Segundo o CNJ, em 2013 a taxa de congestionamen-to da execução fiscal foi de 85%, enquanto em toda a Justiça do Trabalho foi de 49%.

No que tange a alterações na execução trabalhista, o instituto da execução provisória é o que melhor atende aos preceitos constitucionais citados, pois não permite a liberação total do crédito ao recla-mante nos casos em que a decisão proferida ainda possa vir a ser reformada por instância superior. Caso o réu tenha seus bens expropriados antes que se esgotem as instâncias recursais, fica caracteri-zado o desrespeito ao princípio da ampla defesa e do contraditório, pois se admite a possibilidade de levantamento dos valores apreendidos no pro-cesso por parte do autor, mesmo havendo recurso pendente de análise. Assim, é importante assegu-rar que, em toda e qualquer reforma na execução trabalhista, não haja dano irreparável ao réu (via de regra, empresa), tampouco geração de riqueza sem causa ao autor (via de regra, empregado).

Ademais, devemos tratar com cautela o recolhimen-to antecipado de valores. Não há que se falar em de-pósito de caução, por exemplo, quando os valores em discussão tratarem de verba de caráter alimen-tar. Ora, as verbas trabalhistas são principalmente caracterizadas como de caráter alimentar. Dessa forma, estar-se-ia instituindo a execução definitiva travestida de execução provisória.

CAPÍTULO 9: EFICIÊNCIA JUDICIÁRIA E SEGURANÇA JURÍDICA

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 115114

9.2.2 COMPETÊNCIA PENAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para aprimorar o funcionamento e a estrutura processual da Justiça do Trabalho, que mantenham o entendi-mento do Congresso Nacional que preservou a competência da Justiça Federal para processar e julgar as infrações penais decorrentes das re-lações de trabalho.

A competência para processar e julgar infrações pe-nais decorrentes das relações de trabalho hoje é da Justiça Federal. Sua eventual transferência para a esfera de competências da Justiça Trabalhista agra-varia ainda mais o quadro de acúmulo de processos e tornaria mais lentas as suas decisões.

Na revisão constitucional da estrutura do Judiciário por meio da Proposta de Emenda à Constituição nº 29/2000 (que originou a Emenda à Constituição nº 45/2004), a questão da competência criminal da Jus-tiça do Trabalho em relação a crimes praticados con-tra a administração da justiça e contra a organização do trabalho foi amplamente discutida e rejeitada pelo Congresso Nacional.

Diante da redação da EC nº 45, pode-se afirmar que as proposições que versem em sentido contrário são de constitucionalidade duvidosa, pois interpretar extensivamente os incisos I, IV e IX do artigo 114 da Constituição Federal para atribuir competência ge-nérica criminal à Justiça do Trabalho fere os princí-pios da legalidade e do juiz natural.

9.2.3 DEPÓSITO RECURSAL

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a agiliza-ção de processos judiciais, que inibam o empre-go de recursos com finalidades exclusivamente protelatórias. A CNF apoia propostas voltadas para a mitigação dos efeitos punitivos do depó-sito recursal, sempre que instância inferior ado-tar decisão que divirja da jurisprudência unifor-me do Tribunal Superior do Trabalho, de forma a assegurar o princípio do contraditório.

A legislação exige depósito prévio para a interposi-ção de recursos trabalhistas. Mais recentemente, tal exigência foi estendida aos Agravos de Instrumento. Esse depósito tem o intuito principal de inibir o uso do Agravo de Instrumento como meio de protelar os processos que tramitam na Justiça do Trabalho, ad-quirindo, portanto, um caráter punitivo.

Para muitos, a exigência de depósito recursal acaba impedindo o legítimo exercício do direito de recor-rer por parte do empregador que não possui capaci-dade econômica para tal finalidade, em detrimento dos princípios constitucionais do devido processo legal, contraditório e ampla defesa.

Há situações em que o Agravo de Instrumento é o úni-co remédio processual cabível para que o recurso de revista seja apreciado pela Corte Superior. Por vezes, a “disciplina judiciária” dos Magistrados das instân-cias inferiores (TRTs) não é seguida, na medida em que a jurisprudência pacificada pelo Tribunal Supe-rior do Trabalho (TST) por meio de suas Súmulas ou Orientações Jurisprudenciais (OJs) não é observada.

Mesmo tendo a instância inferior decidido contra-riamente à reiterada jurisprudência do TST, muitas vezes é negado seguimento ao recurso de revista ajuizado, o que obriga a interposição do Agravo de Instrumento para que a matéria seja apreciada pela

Corte Maior. Nesses casos, o Agravo de Instrumento pode ser interposto sem intuitos procrastinatórios.

O setor empresarial posiciona-se favoravelmente a propostas voltadas à agilização de processos judiciais. No entanto, salienta que em certos casos o depósito re-cursal, medida para desestimular o mau uso do Agravo, assume caráter que torna ineficiente o trâmite de pro-cessos, resultando em prejuízos às partes litigantes.

9.2.4 HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a preservação dos institutos da gratuidade e da capacidade postulatória do trabalhador (jus postulandi) na Justiça do Trabalho, que fortale-çam a representação sindical ao mesmo tempo em que assegurem o compartilhamento propor-cional entre as partes dos honorários advocatí-cios de sucumbência.

Os Enunciados 219 e 329 do Tribunal Superior do Trabalho (TST) e a Orientação Jurisprudencial (OJ) 305 da Seção de Dissídios Individuais I do TST escla-recem que a parte vencida em litígio trabalhista so-mente é condenada a pagar honorários advocatícios de sucumbência quando o vencedor for beneficiado pelo instituto da justiça gratuita e assessorado por sindicato, uma vez que não há, na Justiça do Traba-lho, assistência pela Defensoria Pública. Nesse caso, quando o vencedor não tem despesas com advoga-do, condena-se o vencido em verbas honorárias, que serão revertidas em favor do sindicato.

Nos processos trabalhistas, a gratuidade na justiça deve seguir o disposto na Lei nº 1.060/1950, que colo-ca critérios objetivos para sua concessão, não sendo mais possível a mera declaração da parte, sem qual-quer prova documental para usufruir desse direito.

Embora a advocacia seja função essencial à admi-nistração da justiça, não é absoluta a assistência do profissional da advocacia em juízo, podendo a lei prever situações em que é prescindível a indicação de advogado, dados os princípios da oralidade e da informalidade adotados pela norma para tornar mais célere e menos oneroso o acesso à Justiça. Nes-se sentido, o Supremo Tribunal Federal já entendeu ser razoável, no caso dos Juizados Especiais, por exemplo, não se exigir a assistência de advogado em causas com valor inferior a 20 salários mínimos (Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.539).

Na Justiça do Trabalho, em vários processos, o valor postulado é efetivamente baixo, o que significaria que os honorários devidos aos advogados também seriam de valor baixo, muitas vezes não compensan-do financeiramente o trabalho do profissional, ao mesmo tempo em que onerariam o autor da ação.

Existem no Congresso Nacional propostas que preten-dem modificar o artigo 791 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Ao prever honorários advocatícios de sucumbência, tais propostas vedam a sucumbên-cia recíproca e proporcional, ficando os honorários advocatícios sucumbenciais arbitrados entre 10% a 20% do valor da condenação a serem pagos pela re-clamada, inclusive a Fazenda Pública, não podendo recair sobre o beneficiário da justiça gratuita.

A vedação da reciprocidade e da proporcionalidade da condenação dos honorários advocatícios sucum-benciais arbitrada nas porcentagens mencionadas não obedece ao princípio constitucional da isono-mia por conferir ônus exacerbado à reclamada e isenção total ao reclamante sem justificativa legal. Contraria ainda o disposto na legislação processual civil vigente, que determina a aplicação da sucum-bência recíproca entre os litigantes quando cabível, à luz do princípio constitucional da isonomia.

Ressalta-se que, na Justiça Trabalhista, em 2014 fo-ram pagos mais de R$13,1 bilhões aos reclamantes. Em 2013, esse valor totalizou mais de R$24,2 bilhões,

CAPÍTULO 9: EFICIÊNCIA JUDICIÁRIA E SEGURANÇA JURÍDICA

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permanecendo acima do valor total pago em 2012 (R$18,6 bilhões). Além disso, dados apontam que, em 2014, os valores pagos decorrentes de acordos judiciais representaram 56,48% do total referente àquele ano. Já os valores pagos decorrentes da exe-cução da sentença representaram 38,47%.

Ademais, a Consolidação Estatística da Justiça do Trabalho, publicada pelo TST, demonstra que, em 2013, o número de casos novos recebidos nas Varas do Trabalho aumentou em 4,7% em relação a 2012. Nos Tribunais Regionais do Trabalho, foram recebi-dos 2,9% casos a mais que em 2012. No TST, o quan-titativo de casos novos elevou-se em 30,74%.

À luz dos expressivos montantes envolvidos, sobres-sai a necessidade de justa repartição do ônus, propor-cional ao valor das condenações recíprocas. A legis-lação poderia permitir a divisão desses encargos de honorários sempre que houver condenação recíproca, mesmo que uma das partes seja beneficiária da jus-tiça gratuita. Nesse caso, poderia existir previsão de abatimento no valor da condenação a ser pago pela reclamada, inclusive se esta for a Fazenda Pública.

9.3 AÇÃO CIVIL PÚBLICA (ACP)

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia projetos voltados à facilitação do ajuizamento de Ação Civil Pública que ampliem o acesso à Justiça, favoreçam a isonomia entre as partes, promovam a economia processual e melhorem a qualidade das decisões judiciais, na medida em que tais projetos não tragam impac-tos negativos sobre a segurança jurídica para o ambiente de negócios, não politizem o Judiciá-rio, não rompam o equilíbrio entre as partes liti-gantes e não confiram poderes exorbitantes ao juiz e ao Ministério Público.

O instituto da Ação Civil Pública (ACP) propicia di-versas vantagens a seus autores e à sociedade em geral. Favorece a isonomia entre as partes, na me-dida em que um número extenso de consumidores, por exemplo, representados em juízo por entidade de classe terá mais condições de sucesso numa ação judicial contra uma grande corporação do que cada um deles isoladamente. Também amplia o acesso à Justiça, já que a defesa da coletividade inclui pes-soas que, de outra maneira, não teriam iniciativa ou condições de estar em juízo. Promove a economia processual, porque o julgamento de várias deman-das em um único processo evita a análise de uma mesma questão inúmeras vezes. A ACP contribui para melhorar a qualidade das decisões judiciais, uma vez que o julgamento conjunto de múltiplas demandas permite um exame mais aprofundado da controvérsia jurídica.

Foram formuladas propostas de readequação e mo-dernização da tutela coletiva para responder às pro-fundas transformações sociais ocorridas desde a edi-ção da Lei da Ação Civil Pública (LACP), de 1985. Foi assim, por exemplo, no II Pacto Republicano de 2009.

A intenção dessas propostas é que a ACP seja ajui-zada para garantir a proteção: do meio ambiente; da saúde; da educação; do trabalho; do desporto; da segurança pública; dos transportes coletivos; da assistência jurídica integral e da prestação de servi-ços públicos; do consumidor, do idoso, da infância e juventude, das pessoas portadoras de necessidades especiais; da ordem social, econômica, urbanística e financeira, da economia popular, da livre concor-rência, do patrimônio público e do erário; dos bens e direitos de valor artístico, cultural, estético, históri-co, turístico e paisagístico e de outros interesses ou direitos difusos, coletivos ou individuais homogêne-os. As propostas hoje em tramitação no Congresso divergem quanto à possibilidade de ajuizamento de ACP sobre questões tributárias e previdenciárias.

Hoje, ACP pode ser ajuizada pelo Ministério Público, Defensoria Pública, União, Estados, Distrito Federal,

Municípios e respectivas autarquias, empresas públi-cas, fundações e sociedades de economia mista, e tam-bém por associações constituídas há mais de um ano.

Uma das principais novidades da discussão de no-vas propostas é a ampliação do leque de propo-sitores, com possibilidade de a ACP ser ajuizada também pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), por partidos políticos e por associações civis e fun-dações de direito privado legalmente constituídas. Não obstante a relevância social dessas importan-tes entidades, a ampliação do leque de partes le-gitimadas não exige expressamente requisitos que assegurem responsabilidade e confiabilidade das associações propositantes.

Em alguns momentos, propostas de modificação da processualística da ACP exorbitam e conferem ex-cessiva competência ao juiz, que poderia, por exem-plo, alterar atos e fases do processo “para garantir a efetiva tutela do interesse coletivo”. O juiz também poderia impor multa pessoal ao agente público ou representante da pessoa jurídica de direito privado responsável pelo cumprimento da decisão que im-pôs a obrigação, o que viola o direito à ampla defesa e o contraditório, uma vez que a pessoa física não foi parte do processo, mas, sim, a pessoa jurídica.

Também se discute a execução coletiva do compro-misso de ajustamento de conduta mediante inter-venção na pessoa jurídica de direito privado. Trata-se de uma inovação preocupante, pois não estão previs-tos critérios para orientar a intervenção. Não há qual-quer referência específica a garantias constitucionais e/ou legais, nem regramento quanto ao cabimento, circunstância, forma ou prazo da “intervenção na empresa”. A intervenção é uma medida drástica, que viola o direito de propriedade, o livre exercício da ati-vidade econômica e os demais direitos econômicos previstos no artigo 170 da Constituição Federal.

Exorbitâncias dessa natureza representam retroces-so nas garantias processuais, em especial ao devido processo legal, ao contraditório, à imparcialidade do

juiz, ao juiz natural – e coloca, principalmente, o réu da ação coletiva em uma posição muito desfavorável.

A discussão foi retomada nos projetos de reforma do Código de Processo Civil e do Código de Defesa do Consumidor com sugestões preocupantes, tais como: eficácia nacional da coisa julgada e possibili-dade de execução coletiva.

9.4 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a explicitação da desconsideração da personali-dade jurídica que não introduzam insegurança jurídica nas relações contratuais, de modo que o instituto seja utilizado apenas nos casos de comprovado mau uso da pessoa jurídica e que proteja os sócios nos casos em que não se ve-rifiquem atos ilegais, praticados ao abrigo da separação patrimonial.

Ao longo da história, a constituição das pessoas jurídi-cas desenvolveu-se a partir da distinção entre a perso-nalidade jurídica destas e a dos seus sócios, o que lhes conferiu grande autonomia, na medida em que passa-ram a ser sujeitos de direitos e obrigações. Contudo, como essa separação também começou a ser utiliza-da em fraudes, criou-se a teoria da desconstituição da personalidade jurídica, que determina não prevalecer a separação patrimonial entre a pessoa jurídica e a dos seus membros nos casos em que essa distinção é desvirtuada para a prática de atos ilegais. Para tanto, a desconsideração da personalidade jurídica não impli-ca suprimir, extinguir ou tornar nula a sociedade, mas, sim, afastá-la momentaneamente para atingir seus sócios por atos fraudulentos praticados pela empresa.

Dessa forma, se, por um lado, a desconsideração da personalidade jurídica limita e coíbe o uso indevido

CAPÍTULO 9: EFICIÊNCIA JUDICIÁRIA E SEGURANÇA JURÍDICA

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 119118

da separação patrimonial, por outro, uma melhor es-pecificação das hipóteses que a permitam contribui-ria para redução da insegurança jurídica, que pode ser verificada pelo uso inadequado do instituto (a exemplo de eventual decisão judicial que atinja bens particulares dos sócios mesmo quando não se obser-va a prática de atos ilegais pelos administradores).

9.5 INTERDITO PROIBITÓRIO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que salvaguardem a função social da propriedade. A CNF, ao mesmo tempo em que defende o direito constitucional dos trabalhadores à greve, sublinha que esse direito deve ser exercido dentro dos limites da lei, sem abusos que ameacem o direito de pos-se mansa e pacífica, bem como o livre exercício das atividades empresariais.

O interdito proibitório é a medida judicial disponível na legislação processual, passível de adoção quando houver ou ameaça de perturbação, ou ofensa efetiva que impeça o exercício da posse (esbulho) contra o possuidor. O artigo 932 do Código de Processo Civil estabelece que:

O possuidor direto ou indireto, que tenha justo re-ceio de ser molestado na posse, poderá impetrar ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente, mediante mandado proibitório, em que se comine ao réu determinada pena pecuniária, caso transgri-da o preceito.

Em 2007, uma entidade de representação de traba-lhadores ajuizou a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental no Supremo Tribunal Federal (ADPF) nº 123 para que a Corte impeça magistrados da justiça comum, federal e do trabalho de aplicar o instituto do interdito proibitório, alegando viola-ção aos artigos constitucionais 1º, IV (dignidade da

pessoa humana); 9º (direito de greve); 8º (liberdade e autonomia sindical); 5º, IV (liberdade de manifesta-ção de pensamento); e 5º, II (princípio da legalidade, liberdade e autonomia de vontade). A entidade pediu ainda a concessão de liminar para suspender todas as decisões judiciais que aplicam o interdito posses-sório contra grevistas e todos os processos em curso na justiça que pedem a utilização do dispositivo.

Entretanto, contrariamente ao que foi argumentado pela arguente, o instrumento processual do inter-dito proibitório não é utilizado com a finalidade de impedir o direito inalienável ao exercício de greve, mas tão somente salvaguardar a função social da propriedade de eventuais impedimentos de acesso durante manifestação grevista. A própria Lei de Gre-ve traz expressamente ressalva quanto à garantia ao livre acesso ao trabalho e ao dano à propriedade ou pessoa (Lei nº 7.783/1989, artigo 6º, § 3º: “As manifes-tações e atos de persuasão utilizados pelos grevistas não poderão impedir o acesso ao trabalho nem cau-sar ameaça ou dano à propriedade ou pessoa”).

Nesse sentido, os estabelecimentos bancários não se restringem à oferta de bens e serviços para o merca-do, recolhimento de tributos ao Estado e geração de emprego para trabalhadores: as instituições bancá-rias devem observar as regras de tutela do consumi-dor, do meio ambiente, de segurança, bem como do direito do trabalho. Todas essas se incluem no âmbi-to do ônus do direito de posse. Um dos meios para a garantia da manutenção da posse, baseada em tais regras, é o interdito proibitório.

Embora a greve seja um direito constitucional do tra-balhador que constitui um legítimo meio de pressão social e econômica, não há, em um regime democrá-tico, direitos absolutos. Desse modo, esse instrumento não deve ser visto como forma de limitação da mani-festação de movimentos de trabalhadores organizados, mas de coibição de eventuais abusos que podem de-correr da utilização desse direito. O interdito proibitó-rio é, antes de tudo, uma forma de proteção da função social da propriedade dos estabelecimentos patronais.

CAPÍTULO 9: EFICIÊNCIA JUDICIÁRIA E SEGURANÇA JURÍDICA

9.6 ESTRATÉGIA NACIONAL DE NÃO JUDICIALIZAÇÃO (ENAJUD)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que estimulem mé-todos alternativos de solução de controvérsias, em que os próprios envolvidos, por meio de técnicas autocompositivas e de ações comuni-cativas, participativas e educativas, construam a resolução dos problemas.

O Relatório “Justiça em Números 2014” mostra que o número de processos em trâmite no Poder Judici-ário brasileiro tem crescido em média 3,4% nos últi-mos cinco anos e chegou a 95,1 milhões de ações em tramitação em 2013: 66,9 milhões de processos sobre casos pendentes e 28,2 milhões de casos novos. O to-tal de processos em tramitação cresceu, em números absolutos, quase 12 milhões em relação ao número observado em 2009, montante equivale ao acervo processual de dois dos três maiores tribunais da Jus-tiça Estadual, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) e o de Minas Gerais (TJMG).

Os dados também revelaram que, embora o Poder Judiciário conte com número cada vez maior de juí-zes e de servidores e seja mais eficiente, a litigância ainda é crescente. Isto é, a velocidade do ingresso de novos processos é maior do que o sentenciamento e a baixa dos processos já em tramitação, o que corres-ponde ao crescimento da taxa de congestionamento na maioria dos tribunais.

No sentido de desenvolver e estimular métodos al-ternativos de solução de controvérsias, em que os próprios envolvidos, por meio de técnicas autocom-positivas e de ações comunicativas, participativas e educativas, constroem a resolução dos problemas, o Ministério da Justiça desenvolveu a Estratégia Nacio-nal de Não Judicialização (Enajud).

Participam da Enajud: órgãos públicos e privados, organizações da sociedade civil, instituições nacio-nais e internacionais e os próprios cidadãos. Espera-

-se que, por meio da articulação e cooperação entre os diversos atores da sociedade, possam ser desen-volvidos e aprimorados mecanismos de prevenção e redução dos litígios judiciais, a fim de se ampliar o acesso à justiça, promover a efetividade dos direitos e garantias fundamentais e contribuir para a cons-trução de uma cultura do diálogo e da paz.

Entre as medidas de efetivação da Enajud está um Projeto de Lei que tramita no Congresso Nacional. O Projeto dispõe sobre a mediação extrajudicial. O Governo tem trabalhado para formatar a proposta legislativa de forma a estruturá-la para contemplar os seguintes pontos: dispensa de custas processuais para quem optar pela mediação, priorização das so-luções administrativas, incentivo à participação pri-vada nas câmaras de conciliação, entre outros.

A Enajud prevê a formação de Grupos Temáticos de Trabalho (GTT), compostos por representantes de entidades de cada setor (bancos, empresas de tele-comunicações, empresas de varejo e setor público) e a formalização de Acordos de Cooperação Técnica. O GTT das instituições financeiras foi criado com o intuito de implementar rotinas que estimulem o uso de métodos alternativos de solução de conflitos, tais como o estabelecimento de convênios com Tribu-nais de Justiça visando a estruturar e a operacionali-zar as autocomposições pré-processual e processual.

Outro ponto que o GTT apoia é a alteração da Lei 9.430/1996 para permitir a dedutibilidade fiscal das perdas de créditos inadimplidos sem a necessidade da propositura de ação judicial de cobrança.

Entre 2008 e 2012, quatro grandes bancos desistiram de mais de 6.500 processos que tramitavam nos Tri-bunais Superiores. As instituições financeiras estão definindo metas para a redução de recursos e dire-cionam seus esforços para melhorar continuamente o atendimento aos seus clientes, bem como estimu-

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 121120

lar a solução de lides por meio de métodos alternati-vos de solução de conflitos.

Para o início de 2015 está previsto, entre outras me-didas, o ingresso de outras entidades de representa-tividade nacional do setor financeiro na condição de apoiadores do GTT.

9.6.1 MEDIAÇÃO E ARBITRAGEM

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que estimulem o uso de meios adequados de resolução de conflitos, como a mediação, a conciliação e a arbitragem. Para a CNF, o comparecimento obrigatório à primeira audiência de mediação ou conciliação é uma forma de aliar o respeito ao princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário com a ga-rantia de eficácia dos procedimentos. Para a Confederação, uma revisão da lei de arbitragem, que amplie seu escopo sem onerar demasiada-mente esse procedimento, permitiria que as van-tagens do seu uso sejam melhor aproveitadas.

A Constituição Federal estabelece o direito funda-mental do acesso à Justiça. O art. 5º, inciso XXXV, prevê que “A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Por muito tem-po esse acesso foi interpretado de maneira restritiva, de modo a incluir apenas os processos judiciais.

A excessiva judicialização de conflitos, contudo, tem tornado a administração da Justiça quase inviável, com custos crescentes para o Poder Judiciário e para a sociedade. Considerando o total orçamentário gas-to em 2013, a despesa foi de aproximadamente R$61,6 bilhões, valor equivalente a 1,3% do Produto Interno Bruno (PIB) nacional, cerca de R$306,3 por habitan-te, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça. Somando-se a isso os gastos incorridos apenas pelas partes do processo, cerca de R$34 bilhões, os gastos

com a Justiça chegam perto de R$100 bilhões. Apesar dos esforços para aumento da eficiência, o aumento da litigiosidade supera em muito o crescimento de gastos com recursos humanos e outras despesas. Nos últimos cinco anos, o estoque processual tem cresci-do a uma taxa média anual de 3,4%. Em 2013, a taxa de congestionamento do Judiciário alcançou 70,9%, isto é, de cada cem processos que tramitaram naque-le ano, somente 29 foram baixados no período.

Essa realidade tem tornado imprescindível uma re-leitura do princípio constitucional do acesso à Jus-tiça, para incluir outras formas de atendimento às partes de um conflito, como métodos de Resolução Adequada de Disputas (RAD), entre elas, a media-ção e a conciliação, judiciais e extrajudiciais, bem como a arbitragem.

Os meios autocompositivos, isto é, aqueles que con-tam com a participação ativa das próprias partes afe-tadas pela disputa, como a mediação e a conciliação, são mais eficazes, pois, como nesses casos a solução para o problema é construída pelo consenso e não imposta por um terceiro, a chance de cumprimento do acordado é maior. Ademais, trata-se de meios mais eficientes, visto que apresentam encerramento mais breve e envolvem custos significativamente menores.

Para haver uso desses benefícios, no entanto, o com-parecimento à primeira audiência de mediação ou conciliação deve ser obrigatório, como ocorre na Argentina e na Itália. Nessa hipótese, as partes não estariam obrigadas a solucionar o conflito na audi-ência de mediação, mas tão somente a tomar conhe-cimento dos eventuais benefícios do procedimento. Caso não acordem, estariam livres para propor me-dida judicial. Dessa forma, conciliar-se-ia o respeito ao princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário com a plena eficácia de um eventual marco jurídico da mediação judicial e extrajudicial. Do contrário, te-me-se que a lei se transforme em letra morta.

Nesse mesmo sentido, é salutar que a mediação e a conciliação sejam incentivadas também na resolu-

CAPÍTULO 9: EFICIÊNCIA JUDICIÁRIA E SEGURANÇA JURÍDICA

ção de problemas nas relações de consumo. Ganham os consumidores que terão suas expectativas atendi-das, uma vez que o componente humano do conflito, em contraposição ao viés estritamente jurídico do processo judicial, é muito melhor tratado pelas RADs. Ganham as empresas com celeridade, redução de custos e melhoria da imagem perante seus clientes. Por isso, é descabido vedar a utilização da mediação e da conciliação nas relações consumeristas.

A arbitragem, apesar de consistir em meio de reso-lução de conflitos em que um terceiro impõe uma decisão, também apresenta suas vantagens em relação à jurisdição estatal, benefícios muito apro-veitados quando se trata de questões de maior com-plexidade técnica, que fogem à rotina das causas judiciais. Há também maior informalidade de pro-postas, menor rigor quanto ao procedimento, o que não significa violação de direitos das partes, como o do contraditório. A liberdade de escolha do julgador que apresente maior conhecimento técnico, além de conferir maior confiança às partes na justiça da decisão, contribui para cumprimento voluntário das decisões. Ainda que haja custo para o estabeleci-mento do procedimento de arbitragem, o uso desse método compensa pelos retornos com segurança jurídica, celeridade e acurácia técnica das decisões. Por essas razões, é bem-vinda a atualização da lei de arbitragem que resulte na ampliação do seu escopo.

9.7 PACTO REPUBLICANO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras está alinhada com os princípios que norteiam os Pactos Republicanos e acompanha com grande interesse as propostas que deles emanam, no entendimento de que tais propos-tas se circunscrevem à ampliação e facilitação do acesso à Justiça, bem como ao seu aprimo-ramento processual.

O movimento por um Judiciário mais rápido e re-publicano iniciou-se em dezembro de 2004, com a promulgação da Emenda à Constituição nº 45. O Executivo passou a envolver-se mais nessa questão, por meio da Secretaria de Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça. Desde então, os Três Poderes têm procurado sistematizar propostas de aperfeiço-amento normativo e de acesso à Justiça, com refor-mas processuais e atualização de normas legais.

O Pacto Republicano não se limita a melhorias ad-jetivas na forma de funcionamento da Justiça, mas tem alcance mais amplo, para fortalecer a proteção aos direitos humanos, à efetividade da prestação ju-risdicional, ao acesso universal à Justiça e também ao aperfeiçoamento do Estado Democrático de Direi-to e das instituições do Sistema de Justiça.

Ao reduzir a morosidade da Justiça, os Pactos já fir-mados geraram outros problemas, quais sejam: con-centração do poder decisório nos Tribunais Supe-riores, por meio da súmula vinculante, repercussão geral, recursos repetitivos, transcendência jurídica e orientações jurisprudenciais; normas processu-ais que privilegiam o Poder Público nas demandas judiciais; em muitos casos, o encarecimento do processo; insegurança jurídica principalmente ao flexibilizar garantias de contraditório e ampla defesa asseguradas no processo judicial; entre outros.

No mesmo sentido, sustentam alguns juristas que há um excesso de novas leis que pretendem ajustar o ordenamento jurídico brasileiro, e os Pactos Re-publicanos com as reformas que pretendem realizar apenas contribuem com essa “inflação normativa”. Para eles, mais adequado seria exigir o efetivo e fiel cumprimento das legislações vigentes.

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9.8 TURMA NACIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS DOS ESTADOS E DO DISTRITO FEDERAL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia a proposta de criação da Tur-ma Nacional de Uniformização de Jurispru-dência dos Juizados Especiais dos Estados e do Distrito Federal. As instituições financeiras entendem que esse órgão assegura o respeito à função institucional do Superior Tribunal de Justiça na uniformização da interpretação das leis federais, bem como preserva a finalidade dos Juizados Especiais, regidos pelos princípios da celeridade, informalidade e simplicidade.

A criação de uma Turma Nacional de Uniformização (TNU) dos Juizados Especiais Estaduais e do Distrito Federal é essencial para garantir a uniformidade da interpretação da legislação federal.

O Sistema dos Juizados Especiais dos Estados e do Dis-trito Federal não possui estrutura que possibilite a uni-formização de jurisprudência, seja entre turmas recur-sais de um mesmo Estado, seja entre turmas recursais de estados diferentes. Nem mesmo há possibilidade de padronização de decisões tomadas entre turmas de uniformização estaduais, as quais, resultantes de ini-ciativa do próprio Conselho Nacional de Justiça (CNJ), têm sido criadas pelos Tribunais de Justiça estaduais.

A falta de uma Turma Nacional de Uniformização de jurisprudência da legislação federal provoca insegu-rança jurídica e implica incompletude na prestação jurisdicional, pois inexiste mecanismo processual para fazer prevalecer o entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a Corte responsável por dar entendimento unívoco à legislação federal.

A proposta de criação da TNU para estados e Distri-to Federal visa não somente a reduzir o volume de ações, que chega ao STJ por meio de reclamações, como também a evitar a perpetuação de decisões di-vergentes da jurisprudência da Corte Superior.

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10MERCADO DE CAPITAIS

Diversas medidas já foram propostas ao Governo para o desenvolvimento do mercado de capitais.

Em 2002, por iniciativa de um conjunto represen-tativo de entidades do setor privado, foi lançada a primeira versão do Plano Diretor do Mercado de Ca-pitais (PDMC), resultado da formação de consenso sobre a necessidade de se criar e manter as condi-ções para o mercado de capitais brasileiro cumprir com eficiência sua missão. O PDMC busca: (i) ofe-recer as condições financeiras necessárias para a sustentação do crescimento econômico, a geração de empregos e a democratização de oportunidades e do capital; (ii) mobilizar recursos de poupança oferecendo alternativas de investimento seguras e rentáveis, para servir também de base para planos de previdência pública e privada complementar; e (iii) direcionar esses recursos para financiar os in-vestimentos mais produtivos e socialmente dese-jáveis, inclusive infraestrutura, habitação e empre-sas emergentes, em condições competitivas com o mercado internacional.

Em 2003, foi criado no Ministério da Fazenda o Grupo de Trabalho do Mercado de Capitais e da Poupança de Longo Prazo. Como resultado, houve a promoção da institucionalização de um processo de coope-ração e diálogo entre os setores público e privado, numa experiência bem sucedida. Balanço realiza-do em 2008, quando da atualização do PDMC 2002, revelou que 44 das 50 ações específicas propostas haviam sido total ou parcialmente implementadas, criando as condições institucionais para o desenvol-vimento do mercado nesse período.

No ano seguinte, um marco importante no mercado de capitais foi a criação conjunta do BEST (Brazil: Excellence in Securities Transactions), com entidades do setor junto ao Tesouro Nacional, Banco Central e CVM, cujo objetivo é promover o mercado financeiro e de capitais brasileiro para a comunidade de inves-tidores internacionais.

Após o I Fórum do Mercado de Capitais, em 2007, o Plano Diretor passou a uma nova etapa a partir da instituição do Comitê Executivo e do Comitê Técni-

CAPÍTULO 10: MERCADO DE CAPITAIS

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia proposições volta-das para a criação de condições para que o mercado de capitais cumpra com eficiência sua missão de mobilizar recursos de longo prazo e financiar o cresci-mento econômico sustentável.

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 127126

co (COMEDEC) como instrumentos para atuação. A partir daí, grandes avanços ocorreram no setor, em matéria de regulação, em termos de governança cor-porativa em empresas abertas e novos mecanismos de financiamento de projetos (tais como securitiza-ção de recebíveis, fundos de investimento em direi-to creditórios (FIDCs), fundos de investimento em participações (FIP), desenvolvimento de mercados secundários etc.).

Mesmo com a ampliação dos recursos públicos em reforço à capacidade de financiamento do Banco Na-cional de Desenvolvimento Econômico e Social (BN-DES), tem sido reconhecida pelo Governo a necessi-dade de o sistema financeiro privado aumentar sua participação e ocupar papel central na mobilização e oferta de recursos de longo prazo para o financia-mento dos investimentos.

Enquanto o número de empresas listadas em bolsa no mundo cresceu 1,9% entre 2011 e 2012, no Brasil esse número vem caindo. Dados mais recentes de um le-vantamento do Banco Mundial constataram que o Bra-sil terminou o ano de 2012 com apenas 353 empresas listadas em bolsa, ocupando a 23ª posição no ranking global. Em primeiro lugar está a Índia, com 6.838 em-presas listadas, seguida pelos Estados Unidos, com 4.102. Apesar de o país ter registrado o maior encolhi-mento no número de empresas listadas em 2012, em janeiro de 2015 esse número já havia subido para 516 empresas, o que representa um aumento de 46%.

Em 24 de fevereiro de 2011, o Ministério da Fazenda editou a Portaria Interministerial nº 68, que subordi-nou à Secretaria Executiva o Grupo de Trabalho so-bre Mercado de Capitais e Poupança de Longo Prazo.

Várias das nove Diretrizes do Plano Diretor do Merca-do de Capitais constam de outras partes desta Agen-da do Setor Financeiro. São estas as nove Diretrizes:

1 Papel prioritário do mercado de capitais no fi-nanciamento da economia;

2 Ações concertadas para redução do custo de ca-pital [ver Seções 2.6 – Cadastro Positivo, 15 – Fi-nanciamento de longo prazo, 12 – Crédito e 14

– Taxa de juros e margens bancárias (spread)];

3 Isonomia competitiva na tributação da ativi-dade econômica e do mercado de capitais [ver Seções 5.3 – Reforma fiscal, 16 – Questões tribu-tárias , 16.14 – Imposto sobre Operações de Cré-dito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários (IOF), 16.15 – Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), 16.16 – Con-tribuições sobre Movimentação Financeira , e 16.17 – Tributação sobre grandes fortunas];

4 Novo regime previdenciário com equilíbrio entre regimes de repartição e capitalização (ver Seções 5.1 – Novo modelo previdenciário para novos trabalhadores e 18 – Questões previdenciárias);

5 Ampliação do acesso dos investidores ao merca-do de capitais com adequada proteção;

6 Ampliação do acesso das empresas ao mercado

de capitais;

7 Fortalecimento e atuação harmonizada de re-guladores e autorreguladores (ver Seções 6.17 – Agências reguladoras, e 23.3 – Harmonização de regras contábeis com padrões internacionais);

8 Esforço conjunto das entidades privadas em fa-vor da educação financeira e previdenciária, na promoção da cultura de mercado de capitais (ver Seção 1 – Educação financeira); e

9 Contínuo aperfeiçoamento do PDMC assentado no caráter permanente da parceria das entida-des subscritoras do Plano Diretor em favor do mercado de capitais brasileiro por meio do Co-mitê para o Desenvolvimento do Mercado de Capitais (CODEMEC) e do Comitê Executivo do Plano Diretor.

Como reação à crise financeira e para que o sistema financeiro aumentasse sua participação no mer-cado de capitais, foi editada a Medida Provisória nº 651/2014, convertida na Lei nº 13.043/2014, que trouxe importantes inovações à normatização do mercado de capitais, especialmente no que se refere ao aprimoramento da legislação tributária.

As alterações referem-se: (i) à atribuição de responsa-bilidade tributária ao administrador que receber os ativos no caso de integralização de cotas de fundos ou clubes de investimento; (ii) criação dos fundos de índi-ces de renda fixa (ETF Renda Fixa); (iii) instituição de re-gime tributário específico ao reembolso pelo tomador dos valores equivalentes aos proventos de tributos nas operações de empréstimo de ações e de outros títulos; e (iv) isenção do de Imposto sobre a Renda na aliena-ção de ações de pequenas e micro empresas (PME).

Em 2015 a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA) apre-sentou ao Governo sua agenda para o mercado de capitais (Mercado de Capitais: uma agenda para de-bates), com a proposição de iniciativas com vistas ao fortalecimento do mercado de capitais no Brasil, em especial, do segmento de títulos corporativos de dívi-da. A Associação entende que um mercado de títulos privados com profundidade e liquidez no país propi-ciará condições mais adequadas para o financiamen-to do investimento e o crescimento da economia.

O documento apresenta um resumo das iniciativas mundiais com vistas ao fortalecimento das fontes privadas de longo prazo para o financiamento de investimentos, em particular o de infraestrutura, defende as condições essenciais que deveriam ser consideradas na elaboração das propostas para au-mentar a liquidez do mercado secundário e incenti-var o processo de ofertas e apresenta propostas de alteração da regulamentação vigente, bem como da tributação desse mercado, visando a permitir ao emissor captar a um custo mais baixo e aos diferen-tes investidores tomarem decisões mais balizadas pela atratividade do ativo, definida pela taxa ofe-

recida pelo emissor vis-à-vis o seu risco de crédito. Na parte tributária, apresenta princípios (adoção de simetria de regras, simplicidade, alongamento de prazos e educação financeira do investidor) que de-veriam nortear uma reforma tributária mais ampla e gradual, simplificando a tributação dos produtos do mercado de capitais e, com isso, incentivando a par-ticipação de novos emissores e investidores, criando um ciclo virtuoso para o desenvolvimento do mer-cado de capitais como uma das principais fontes de financiamento no Brasil.

10.1 AMPLIAÇÃO DO ACESSO DOS INVESTIDORES AO MERCADO DE CAPITAIS COM ADEQUADA PROTEÇÃO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a ampliação do acesso de investidores ao mer-cado de capitais, com isonomia de acesso a todas as informações e prevenção ou punição de negociação com informações privilegiadas.

O crescimento e o fortalecimento do mercado de ca-pitais também dependem da ampliação do acesso de amplas camadas da população, com adequada pro-teção aos investidores, por meio da adoção das me-lhores práticas de governança corporativa pelas em-presas do mercado, da gestão de riscos, da geração de produtos financeiros e de comunicação ajustados às características e às necessidades de cada segmen-to de investidores. Os procedimentos que garantem a equidade no tratamento das informações são com-ponentes primordiais na elaboração de uma Política de Divulgação que possibilite que tais informações sejam prestadas com qualidade, transparência, ve-racidade, completude, consistência e tempestivida-de. Deve-se assegurar a todos os investidores igual acesso a todas as informações, coibindo-se de modo eficaz a negociação com informações privilegiadas (o insider trading) e assegurando-se a efetiva aplicação

CAPÍTULO 10: MERCADO DE CAPITAIS

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das leis, regulamentos e contratos, inclusive median-te aplicação e divulgação de medidas punitivas que venham a ser aplicadas.

10.2 CAPITAL EMPREENDEDOR

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para o incremento de investimentos empresariais em companhias de capital fechado com alto po-tencial de crescimento, com estímulo à intro-dução de inovações que se multipliquem por toda a cadeia produtiva e consequente aumen-to de produtividade.

O capital empreendedor, ou capital de risco, é uma forma de investimento empresarial de médio e de longo prazos com o objetivo de viabilizar crescimen-to de companhias de capital fechado com alto poten-cial, permitindo o desinvestimento na companhia após um crescimento acelerado da investida. Essas empresas investidas possuem projetos de risco com elevada expectativa de retorno. Em alguns casos, os investidores se tornam gestores ativos das empre-sas, tomando decisões estratégicas e influenciando a governança coorporativa das empresas investidas.

Esse capital apresentou expressiva expansão. Em 1999 representava 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB) e em 2013 passou para 2,1%, segundo dados do Centro de Estudos Estratégicos (CEDES), da Câmara dos Deputados. Nos Estados Unidos da América e Reino Unido, esse volume chega a 3,7% e 4,7% do PIB, respectivamente.

Em dezembro de 2014, a Câmara dos Deputados publicou, por meio do CEDES, várias propostas com vistas a melhorar o ambiente de negócios no Brasil, com foco na expansão do capital empreendedor. O estudo destaca dezessete deficiências e iniciativas que devem ser enfrentadas para ampliação do aces-

so de investidores ao mercado de capitais. Entre elas, destacam-se: ausência de conceituação em lei de investidores-anjo e aceleradores de empresas; insuficiência legal a investidores que direcionem recursos a participações temporárias em empresas de capital fechado (ver Seção 9.4 – Desconsideração da personalidade jurídica); e ausência de incentivos tributários adequados para alocação de capital em-preendedor em empresas incipientes.

Ademais, a melhora do acesso de investidores ao mercado de capitais aumenta a capacidade de pe-quenas e médias empresas que, em virtude de sua maior flexibilidade e agilidade, podem ser capazes de introduzir inovações quando participam de cadeias produtivas ou arranjos produtivos locais, conforme dispõe o Mapa Estratégico da Indústria (2013-2022) elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Assim, é preciso criar mecanismos cada vez mais eficientes de apoio institucional, via compras governamentais, por exemplo, e de apoio financeiro, via mecanismos de financiamento adequados (capi-tal semente, venture capital ou private equity).

10.3 AMPLIAÇÃO DO ACESSO DAS EMPRESAS AO MERCADO PRIMÁRIO DE CAPITAIS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para am-pliação do acesso das empresas aos recursos do mercado primário de capitais. A CNF en-tende que a remoção de entraves a essa maior participação das companhias pode ser alcan-çada mediante maior tempo destinado à distri-buição de ativos no mercado, maior agilidade no processo de ofertas públicas e ampliação de estímulos ao financiamento de longo prazo por parte dos investidores.

O mercado primário de títulos e valores mobiliários é caracterizado pela captação direta de recursos por parte das empresas junto aos agentes do mercado de capitais, com a finalidade de viabilizar investimen-tos corporativos. Nele, as empresas emitem títulos e valores mobiliários posteriormente subscritos por investidores. Nesse relacionamento direto entre companhias e investidores, o sucesso de um está necessariamente vinculado ao bom desempenho do outro. Em um cenário de maiores restrições ao mer-cado de crédito, o mercado de capitais se destaca como alternativa de financiamento das empresas.

Contudo, o mercado brasileiro de capitais ainda está aquém do seu potencial: poucos são os tipos de emissores de títulos e valores mobiliários que dele participam, bem como pouco variadas são as carac-terísticas dos ativos financeiros que o compõem. Em consequência, a homogeneidade da oferta afeta ne-gativamente a demanda, pois potenciais investido-res se mantêm à margem do mercado por inexistir ativo que atenda a seus interesses específicos.

Essa situação pode ser solucionada por meio de me-didas que, por um lado, retirem obstáculos às em-presas no tocante à emissão de títulos e otimizem procedimentos operacionais e regulatórios já vigen-tes, e que, por outro, concedam estímulos ao finan-ciamento de longo prazo e permitam investimentos nos mais variados segmentos da economia. Dessa forma, haveria o fomento da diversificação da car-teira de ativos, bem como da base de investidores.

Nomeadamente, seguem nessa direção as seguintes propostas: ampliação dos benefícios concedidos hoje apenas aos emissores com grande exposição ao mer-cado (EGEM), para maior agilidade nas captações de recursos; dispensa da análise do material publicitário de ofertas públicas, com a finalidade de conferir maior celeridade à emissão de títulos e valores; ampliação dos prazos destinados à distribuição dos ativos no mercado, para otimização do processo de ofertas; am-pliação dos benefícios fiscais hoje restritos às emis-sões do setor de infraestrutura para qualquer emissão

vinculada a financiamento de investimentos, o que favorece aqueles de longo prazo e diversifica os ativos do mercado de capitais; e, no sentido de buscar maior eficiência, padronização dos procedimentos de apro-vação por parte dos órgãos do Poder Executivo relati-va às emissões de Sociedades de Propósito Específico (SPE), no âmbito das Parcerias Público-Privadas.

10.4 AMPLIAÇÃO DO ACESSO DAS EMPRESAS AO MERCADO SECUNDÁRIO DE CAPITAIS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a ampliação do acesso de empresas ao mercado secundário de capitais, mediante a redução dos custos, a securitização de ativos e a utiliza-ção de derivativos.

Um importante fator de crescimento e de fortale-cimento do mercado de capitais é a ampliação do acesso do maior número possível de empresas não financeiras a produtos do mercado secundário. Isso se daria mediante a adoção, entre outras, de medi-das que reduzam os custos e facilitem o acesso das empresas, inclusive as de capital fechado, ao merca-do de capitais. Esse objetivo poderia ser alcançado diretamente por intermédio de fundos focados no direcionamento de recursos a empresas emergen-tes. Ademais, contribui para o fortalecimento do mercado de capitais a difusão do uso da securiti-zação, bem como a utilização de derivativos como instrumento de gestão de riscos nas atividades ope-racionais e financeiras.

Um avanço na ampliação do acesso de pequenas e micro empresas ao mercado de capitais decorre da isenção de Imposto de Renda sobre rendimentos na alienação de ações emitidas, inclusive em fundos de investimentos constituídos com essas ações. A medida, decorrente da Lei nº 13.043/2014, ganha

CAPÍTULO 10: MERCADO DE CAPITAIS

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relevância ao ampliar o incentivo à captação de re-cursos por empresas de pequeno e médio porte, e consequentemente, à sua capitalização. Adicional-mente, a criação de condições mais atrativas para aquisição de ações pelos investidores viabiliza a captação de recursos em bolsa de valores.

10.5 DIVERSIFICAÇÃO DE INVESTIDORES

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que, ao incentiva-rem a diversificação da base de investidores no mercado de capitais, fomentem ambiente favorável à liquidez de títulos e valores mobili-ários. Para a CNF, a heterogeneidade de inves-tidores com diferentes portes, perfis de risco, motivações de investimento e tradições de ne-gociação dinamiza as transações realizadas no mercado de capitais e pavimenta o caminho à eficiência na alocação de recursos financeiros.

O mercado secundário de títulos e valores mobiliá-rios constitui-se em arena na qual investidores tran-sacionam entre si títulos e valores mobiliários emiti-dos por companhias. Esses ativos podem apresentar características diferenciadas, com destaque para os prazos de resgate, preferências, remunerações e direitos por eles gerados, como de participação. Os investidores, por sua vez, também são diferentes a partir, por exemplo, do volume de recursos que mo-vimentam, da visão de rentabilidade que possuem em relação a um determinado ativo, da aversão a risco, da motivação que os impulsiona a negociar no mercado, bem como da tradição de negociação que preservam ao longo do tempo.

Nem todo ativo no mercado de capitais atende aos interesses específicos de um certo investidor, o que é potencialmente rentável a um pode não ser a outro, de acordo com as necessidades e anseios de cada um. Por isso, quanto maior a diversidade de investi-

dores atuantes em um mercado de capitais, maiores as chances de sucesso das mais diferentes estraté-gias de investimento. Em outras palavras, a diversifi-cação de investidores é condição para a liquidez de valores mobiliários.

Fundos de investimento, entidades fechadas de pre-vidência privada e investidores estrangeiros podem contribuir bastante para essa diversificação. Por se-rem geridos por profissionais com expertise na de-finição de estratégias de investimento e com poder discricionário para a seleção de ativos, além de mo-bilizarem grandes volumes de recursos, os fundos de investimento são uma alternativa especial para in-vestimentos no setor produtivo, por exemplo. Entida-des fechadas de previdência complementar, por sua vez, ao estarem vinculadas a passivos caracterizados por longo prazo para resgate, representam segmen-to de agentes com grande potencial de investimento em valores mobiliários igualmente de longo prazo, o que vai ao encontro do financiamento de projetos no setor de infraestrutura, por exemplo. Já investidores estrangeiros estão sujeitos a contingências diversas daqueles nacionais, o que os equipa com uma visão diferente acerca dos custos, riscos e rentabilidade dos investimentos no mercado brasileiro.

A CNF sublinha que medidas tomadas em prol da maior participação desses três agentes, aliadas ao incentivo aos investimentos realizados por pessoas físicas, que adicionam pulverização de motivações para a negociação de ativos, têm a virtude de fomen-tar o desenvolvimento de um mercado de capitais hígido e dinâmico.

10.6 DERIVATIVOS E MERCADOS FUTUROS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para o fortalecimento da regulação e da supervisão

A crise financeira internacional de 2008 alterou a per-cepção do papel e da importância das operações com derivativos e dos negócios em mercados futuros. Deri-vativos e mercados futuros passaram a ser associados a operações fraudulentas e a operações de alto risco (alta alavancagem) que fragilizam o setor financeiro. De fato, derivativos e mercados futuros operados de maneira irresponsável podem ter profundas implica-ções negativas para todo o sistema financeiro. Contu-do, seu papel, se adequadamente regulado e supervi-sionado, continuará a ter grande importância.

Derivativos são direitos negociáveis lastreados em ativos reais, tais como commodities, ações ou quo-tas de imóveis. Por terem prazo de vencimento, são negociados em mercados futuros, nos quais a con-clusão das operações que envolvem esses direitos é fixada em data futura e os preços dos direitos variam em função da convergência entre as cotações desses direitos e o preço nos mercados à vista dos ativos re-ais que os lastreiam. O propósito fundamental dos derivativos e dos mercados futuros é o de oferecer proteção contra flutuações de preços de ativos (hed-ge) e de criar alternativa de aplicação de poupança. Assim, um comprador de commodity que pretende liquidar a compra em data futura tem a alternativa de também comprar um derivativo (no caso, adquirir uma opção de compra) que fixe o preço que pagará à vista quando do vencimento da operação. Já um investidor poderá vender um direito sobre ativo real que possua ou que possa comprar (no caso, lançar uma opção de compra), fixando a cotação desse di-reito de tal maneira que sua materialização (o exer-cício da opção de compra) propicie retorno à taxa compatível com o de alternativas de investimento.

de derivativos e de mercados futuros que limi-tem o impacto destes sobre o risco sistêmico, a exemplo da Central de Exposição de Derivativos (CED), ao mesmo tempo em que não inviabili-zem o emprego desses importantes instrumen-tos de proteção contra flutuações de mercado.

10.7 VARAS DA JUSTIÇA ESPECIALIZADAS EM MATÉRIAS LIGADAS AO MERCADO DE CAPITAIS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a criação de Varas da Justiça especializadas em matérias específicas do mercado de capitais, que propiciem o exame técnico em profundida-de dos aspectos complexos de operações finan-ceiras que são objeto de lides judiciais.

As operações do mercado de capitais se beneficiariam grandemente de maior celeridade das decisões judi-ciais que envolvem matérias ligadas a investimentos de longo prazo e a questões societárias. Para tanto, seria adequada a criação de Varas da Justiça especia-lizadas em matérias específicas do mercado de capi-tais, cobrindo as questões da área financeira, societá-ria e de títulos e valores mobiliários, com o objetivo de agilizar e aumentar a eficácia do Poder Judiciário no julgamento das ações e execução da lei nessas áre-as, como forma de tornar mais efetiva a aplicação da legislação, minimizar riscos, reduzir spreads e o custo de capital. Com o mesmo objetivo, recomenda-se es-timular a utilização de Câmaras de Arbitragem.

Com isso, a CNF reforça que não se pode perder de mira as lições de Nelson Eizirik, destacando a singu-laridade e especialização afetas às operações cursa-das no mercado de capitais que revolvem natureza e cenário de

Risco, uma vez que os investidores não têm qualquer garantia quanto ao retorno dos seus investimentos, que dependerá dos resultados do empreendimento econômico desenvolvido pela companhia. Embora as operações constituam investimento de risco, são, usualmente, dotadas de liquidez, isto é, podem ser rapidamente transformadas em dinheiro, particu-larmente quando admitidas à negociação na bolsa de valores.

CAPÍTULO 10: MERCADO DE CAPITAIS

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Os princípios da transparência (full disclosure) e da efetiva observância da boa governança corporativa (que se consolida a partir da aplicação cotidiana das melhores práticas em prol dos investidores e do ni-cho mercadológico) investiram a Comissão de Valo-res Mobiliários (CVM), como agência reguladora (Lei nº 6.385/1976), de poderes para regular, fiscalizar e sancionar todas as atividades que tratem da emis-são, distribuição, negociação, intermediação, admi-nistração de carteiras, custódia, auditoria das com-panhias abertas, os serviços de consultor e analista de valores mobiliários, sem prejuízo da organização e funcionamento das Bolsas de Valores, clearings e demais agentes que atuam no segmento do merca-do de capitais.

Por fim, segundo o entendimento da maioria dos doutrinadores e com estribo em diversas publica-ções e artigos, as operações estruturadas segundo os institutos que permeiam a seara do mercado de capitais ainda não foram devidamente assimiladas e compreendidas no âmbito do Poder Judiciário, no-tadamente nas unidades federativas em que ainda não foram criadas Varas especializadas no segmento mercadológico.

10.8 ACEITAÇÃO DE GARANTIAS DE INVESTIDORES ESTRANGEIROS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a constituição de garantias para operações no mercado de capitais brasileiro utilizando ati-vos financeiros de alta liquidez mantidos por investidores no exterior.

Garantias desempenham papel fundamental em muitas operações financeiras. De maneira geral, a avaliação de garantias considera essencialmente sua liquidez e os procedimentos – administrativos ou ju-diciais – para executá-las. Nesse quadro, é indiferen-

te para o agente financeiro se a garantia é prestada por investidores nacionais ou estrangeiros, se man-tidas no Brasil ou no exterior. O afluxo de recursos internacionais para o mercado de capitais brasileiro seria grandemente aumentado por meio de ajustes na regulação, de forma a permitir que investidores estrangeiros possam constituir garantias para suas operações no Brasil utilizando ativos financeiros de alta liquidez por eles mantidos no exterior.

10.9 UTILIZAÇÃO DE RECURSOS DO FGTS PARA AQUISIÇÃO DE AÇÕES

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a autorização do uso do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para aquisição de par-ticipação acionária em companhias abertas, a qualquer tempo e a critério do trabalhador, como medida para estimular o crescimento do mercado de capitais e aumentar o retorno dos recursos depositados no FGTS.

Na Constituição Federal, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) constitui reserva sobre a qual se aplicam multas rescisórias e à qual o traba-lhador pode recorrer seja para custear suas despe-sas enquanto busca recolocação profissional, seja para formação de patrimônio (como compra de imó-vel para uso próprio).

Como reserva, o FGTS poderia ter também outras destinações que atendessem aos mesmos objetivos de indenização e de formação de patrimônio. Entre essas destinações, destaca-se a aquisição de partici-pação acionária em companhia abertas. No Brasil, a transparência das demonstrações financeiras – que atendem aos mais sofisticados padrões internacio-nais –, a publicidade dessas demonstrações e a efi-cácia das autoridades reguladoras na supervisão das companhias de capital aberto limitam o risco

de investimentos em ações dessas empresas. Numa perspectiva de longo prazo, como é a do FGTS, esse risco diminui ainda mais, chegando a equiparar-se, por exemplo, ao risco de desvalorização de imóvel adquirido com recursos do Fundo. Ademais, a ren-

CAPÍTULO 10: MERCADO DE CAPITAIS

tabilidade de longo prazo do mercado acionário ex-cede historicamente a remuneração do FGTS, hoje calculada à Taxa Referencial (TR) mais 3% ao ano, conforme estabelece a Lei nº 8.036/1990.

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11CAPÍTULO 11: BANCO CENTRAL

BANCO CENTRAL

Bancos centrais acumularam experiência de sécu-los que permite identificar quais funções bem-suce-didas se coadunaram com seu papel de agente do Estado e quais, fracassadas, representaram retro-cesso. Desde a primeira instituição que atuou como banco central (o Banco da Inglaterra, em 1694), pas-sando pelo Banco da República Oriental do Uruguai (o primeiro Banco Central latino-americano, de 1896) e pelo Banco do Brasil (que, entre 1808 e 1964, executou várias das atividades de banco central), foram muitas as instituições que desempenharam a grande função desse tipo de autarquia estatal: a busca da estabilidade, seja macroeconômica (pelo exercício das políticas monetária e cambial), seja microeconômica (pela regulação e supervisão do sistema financeiro).

O Banco Central (BACEN), criado pela Lei nº 4.595/1964, é hoje responsável pela formulação, execução e acompanhamento da política monetá-ria; pelo controle das operações de crédito em to-das as suas formas, no âmbito do sistema financei-ro; pela formulação, execução e acompanhamento

da política cambial e de relações financeiras com o exterior; pela organização, disciplinamento e fisca-lização do Sistema Financeiro Nacional, do Sistema de Pagamentos Brasileiro e do Sistema Nacional de Habitação, e ordenamento do mercado financeiro; bem como emissão de papel-moeda e de moeda metálica, além da execução dos serviços do meio circulante. Também desempenha outras funções de normatização, autorização e fiscalização que en-volvem sociedades administradoras de consórcios, sociedades de arrendamento mercantil, sociedades de crédito imobiliário, as associações de poupança e empréstimo, o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), as cooperativas de crédito e fomento mer-cantil (factoring). Ademais, tem importante papel de assessor econômico do Governo e de fonte de in-formações para o público, tanto de caráter técnico quanto de orientação.

Hoje, as discussões sobre o Banco Central tratam, entre outros assuntos, das questões da missão e da estrutura da autarquia.

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas para o fortalecimento das funções atuais do Banco Central (BACEN), de autori-dade monetária, de supervisor e regulador do Sistema Financeiro Nacional, ao abrigo de uma única autarquia, ao mesmo tempo em que recomenda cautela no exame de novas missões tais como a de fomentador do crescimento econômico e da geração de empregos, que extrapolem o mandato hoje exercido pelo BACEN.

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Quanto à missão, a experiência internacional e, so-bretudo, a experiência inflacionária brasileira reco-mendam cautela na discussão de outros mandatos para o Banco Central que excedam a busca da esta-bilidade da moeda e a regulação do Sistema Finan-ceiro Nacional. No caso do Brasil, o papel de “ban-queiro do Governo” ficou muito além do que seria adequado para uma sociedade que procura preser-var o valor da moeda. Também ficaria além o papel de fomentador do crescimento econômico, uma vez que função dessa natureza daria à autarquia a mis-são de buscar três objetivos – controle da inflação, indução da atividade econômica e geração de em-pregos – que nem sempre são compatíveis no curto prazo. O papel de depositário exclusivo das reservas internacionais, por sua vez, fica aquém do que se espera em matéria de gestão prudente de recursos públicos, ao induzir a concentração, numa única ins-tituição, de recursos que obteriam mais segurança e melhor rentabilidade se aplicados em várias outras instituições semelhantes. Igualmente aquém está hoje o papel de “banco dos bancos”, ou emprestador de última instância, uma vez que é o Fundo Garanti-dor de Créditos, uma entidade privada, que, em boa medida, passou a exercer essa função [ver Seção 12.10 – Fundo Garantidor de Créditos (FGC)].

Quanto à estrutura do BACEN, as funções de auto-ridade monetária e de órgão regulador foram abri-gadas numa única instituição, que deu resposta

adequada à crise e minimizou seus efeitos. A expe-riência internacional que isolou essas funções em duas instituições distintas (os chamados twin peaks) não se mostrou especialmente robusta para prevenir e mitigar a crise financeira internacional.

11.1 FUNÇÕES DE SUPERVISÃO BANCÁRIA

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras acredita que a função de supervisão ban-cária deva ser deixada a cargo do Banco Central, autarquia que conta com pessoal qualificado e instrumental adequado para coletar e analisar as informações relevantes que indicam a sol-vência de instituições financeiras específicas e o nível de risco sistêmico no setor financeiro.

A higidez do Sistema Financeiro Nacional é resul-tado direto de uma supervisão bancária eficiente, balizada por regras claras e inequívocas, às quais é dada a devida publicidade. A crise financeira in-ternacional de 2008 demonstrou a importância de uma supervisão bancária eficaz por parte de agên-cia estatal competente. No Brasil, o Banco Central tem desempenhado com eficácia essa função, sem prejuízo de sua missão maior, que é a de preservar o valor da moeda.

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12CAPÍTULO 12: CRÉDITO

O crédito no Brasil passa por transformações estru-turais profundas, que resultam em aumento do vo-lume ofertado, ampliação do prazo médio e redução da margem bancária (spread).

O estoque total de empréstimos e financiamentos do sistema financeiro, compreendidas as operações com recursos livres e direcionados, atingiu R$3 tri-lhões em dezembro de 2014, observando expansões de 11,3% no ano. O crescimento resultou dos incre-mentos, no acumulado do ano, de 16,8% nas cartei-ras com recursos direcionados e de 3% no crédito com recursos livres. Os saldos referentes aos crédi-tos para pessoas jurídicas e para pessoas físicas cres-ceram 1,8% e 4,9%, respectivamente, totalizando, na ordem, R$1,6 trilhões e R$1,4 trilhões. Em decor-rência, a relação crédito/Produto Interno Bruto (PIB) alcançou 58% em novembro de 2014, ante 58,9% em novembro de 2013.

O saldo total da carteira de recursos direcionados au-mentou em mais de 270% nos últimos cinco anos, de R$515 bilhões para R$1,4 trilhão, enquanto que o sal-do da carteira de recursos livres acumulou R$1,57 tri-lhão, embora as operações tenham desacelerado em 2014. Isso quer dizer que para cada R$1 concedido pe-los bancos em modalidades de crédito livres, R$0,91 são obrigatoriamente destinados às modalidades direcionadas. A concessão de financiamentos a taxas subsidiadas para determinados segmentos implica custos para o setor financeiro, uma vez que tais taxas são inferiores aos custos de captação e não cobrem despesas operacionais e de pessoal. Esses custos são diluídos na carteira total de operações de financia-mento, com o que são elevadas as taxas que incidem sobre as modalidades de financiamento que não se beneficiam de subsídios. Essa tem sido uma das prin-cipais causas da elevação das margens bancárias, contra a tendência observada nos últimos anos.

crédito

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia projetos voltados para a ampliação do acesso de pessoas físicas e jurídicas às diversas modalida-des de crédito. Para tanto, é essencial a expansão da bancarização, acompanha-da de educação financeira que contribua para o crédito consciente, a implemen-tação do cadastro positivo e a redução dos fatores que condicionam as margens bancárias (tais como tributação sobre intermediação financeira e depósito com-pulsório). Para a CNF, a expansão do crédito deve se dar em um ambiente concor-rencial de livre negociação em condições de igualdade para todas as instituições autorizadas a operar pelo Banco Central.

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 141140

Considerando-se as operações de crédito por ativi-dade econômica, o setor privado apresentou saldo de R$2,8 trilhões em 2014, com expansão de 10,2% em doze meses. As operações na indústria, comér-cio e outros serviços indústria atingiram, respecti-vamente, saldos de R$552 bilhões, R$249 bilhões e R$451 bilhões. No setor público, o saldo das opera-ções de crédito atingiram R$196 bilhões, crescimen-to de 30,5% no ano, resultante das elevações respec-tivas de 2,6% e 1,9% nas operações com estados e municípios e com entidades do governo federal.

A taxa média de juros das operações de crédito do sistema financeiro, computadas as contratações com recursos livres e direcionados, atingiu 20,9% a.a. em dezembro. As margens bancárias (spreads) das operações de crédito fecharam 2014 em 12,15 pontos percentuais (p.p.). Apesar do resultado ser maior do que o verificado em 2012 e em 2013, em média 11,5 p.p., a tendência de queda continua se observados os cinco anos precedentes, cuja média situou-se em 22,8 p.p. O spread médio das opera-ções com pessoas física situou-se em 18,21p.p. em dezembro. Em comparação, o spread relativo às operações para pessoas jurídicas manteve-se prati-camente constante em 7,37 p.p. em 2014. O spread das operações com recursos livres fechou o ano de 2014 em 20,42 p.p. enquanto que nas operações com recursos direcionados foi de 2,74 p.p..

Do lado das operações ativas dos bancos, houve um aumento progressivo dos prazos, em grande medida como resposta à disponibilização de novas modalida-des de operações (por exemplo, a do crédito consig-nado) e, ainda, como resultado do próprio processo de estabilidade econômica. Em 2014, o prazo médio geral das operações de crédito para pessoas físicas alcançou 48,9 meses. Em especial, as operações de crédito pessoal e de arrendamento mercantil foram os principais responsáveis por esse movimento.

12.1 ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a ex-pansão do instituto da alienação fiduciária, de maneira a ampliar o leque de modalidades de crédito que poderiam se beneficiar de redução das taxas de juros, bem como para o aprimo-ramento do marco regulatório desse instituto, sem trazer ônus adicionais aos tomadores (tais como a criação de novos trâmites para registro de bens móveis e/ou imóveis e de entraves bu-rocráticos desnecessários).

O instituto da alienação fiduciária constitui-se na transferência da propriedade de um bem móvel ou imóvel do devedor, ou fiduciante, para o credor, ou fiduciário, a fim de garantir a liquidação de uma dí-vida ou obrigação. Ocorre quando da aquisição de bens a crédito, sendo o bem a própria garantia. O arcabouço da alienação fiduciária reduziu a inadim-plência e com isso promoveu aumento na concessão de crédito, principalmente o imobiliário.

Com o advento da Lei n° 9.514/1997, a alienação fiduciária deixou de ser exclusividade de bens mó-veis e passou a incluir os bens imóveis no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação. Desde então, o regime fiduciário tem estado presente na legislação voltada ao setor imobiliário, como é o caso da Lei n° 10.931/2004, que instituiu o Patrimônio de Afetação.

Outra importante inovação legal diz respeito à Lei nº 13.043/2014, que modificou o Decreto-Lei nº 911/1969, reduzindo os entraves na reintegração de posse de veículos para proprietário fiduciário ou cre-dor vender a coisa a terceiros, resguardando ainda a obrigatoriedade do pagamento de seu crédito e das despesas decorrentes com o preço da venda.

Uma discussão importante que envolve esse instituto trata da extinção do contrato de alienação fiduciária

quando houver o desaparecimento ou perecimento da coisa objeto do acordo, por motivo de força maior ou caso fortuito (como roubo ou furto). Com isso, o con-trato de alienação fiduciária seria equiparado ao con-trato de depósito. Ocorre que o perecimento da coisa alienada já foi devidamente regulado no Código Civil em seu artigo 1.436, no qual se estabelece os casos de cessação da propriedade fiduciária. Também o Supe-rior Tribunal de Justiça (STJ) firmou posicionamento no sentido de que o perecimento da coisa depositada exclui a obrigação do depositário de restituir o objeto do depósito, eximindo-o da conduta infiel, sem, con-tudo, excluir sua responsabilidade pelo débito.

12.2 CRÉDITO CONSIGNADO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a ampliação do acesso a todas as modalida-des de crédito, inclusive o consignado, que contemplem: livre fixação das taxas de juros; medidas de incentivo para redução das taxas de juros assentadas sobre livre concorrência, que impliquem igualdade de tratamento e de condições para instituições financeiras (inde-pendentemente de seu porte e da natureza do controle de seu capital); liberdade de contra-tação por todos os segmentos da população; e exame cuidadoso dos impactos de outras consignações. A CNF também apoia propostas de educação financeira direcionadas para os segmentos da população que fazem maior uso do crédito consignado.

O crédito consignado compromete parcela da renda dos tomadores para pagamento direto das presta-ções, por meio da cobrança da parcela em folha de pagamento, o que contribui para dar mais garantia à intermediação financeira e reduzir o custo do cré-dito. Essa modalidade, além de ampliar o acesso dos trabalhadores ao crédito com condições mais favo-

ráveis, contribui para o crescimento do mercado de consumo. Por ser uma modalidade recente, ainda carece de aprimoramentos.

Esse instrumento de crédito, principalmente depois da inclusão dos trabalhadores sob regime da Con-solidação das Leis do Trabalho (CLT) em 2003 e dos aposentados e pensionistas em 2004, tornou-se uma das modalidades de empréstimo que mais cresce no mercado brasileiro. Dados do Banco Central (BA-CEN) mostram que a participação relativa desses empréstimos no total do crédito pessoal concedido pelo mercado, é de aproximadamente 71,15%, o que totaliza um montante de R$252 bilhões. Comparado com o ano anterior, o volume dessa modalidade de empréstimo apresentou um crescimento de 13,2%. Por se tratar de uma alternativa de dívida mais bara-ta, houve uma forte migração dos contratos de crédi-to pessoal a favor dos empréstimos em consignação, com uma grande concentração dessa operação para funcionários públicos e pensionistas do Instituto Na-cional do Seguro Social (INSS), representando 61,8% e 30,6% do total, respectivamente.

As discussões sobre o consignado estão centradas, sobretudo, nas seguintes questões: o patamar das taxas de juros cobradas, apesar de serem as mais atrativas; a margem de consignação; a exclusividade de alguns bancos para concessão dessa modalidade de crédito a segmentos específicos (tais como servi-dores públicos); requisitos para obtenção do crédito (como a presença física do cliente para contratação); e extensão da consignação para outras obrigações contratuais, (por exemplo, aluguel e plano de saúde).

A limitação das taxas de juros é inócua, porque a re-dução dessas taxas passa pela construção de condi-ções que propiciem o aumento da oferta de crédito. Para tanto, a concorrência é fator fundamental tan-to para redução dos custos quanto para ampliação da base de clientes.

Um caso específico de limitação de taxas de juros diz respeito a aposentados e pensionistas. Dispositivos

CAPÍTULO 12: CRÉDITO

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 143142

legais dificultam a equiparação das taxas de juros cobradas desses tomadores de crédito consignado às cobradas de trabalhadores da ativa. Norma do INSS induz todas as instituições financeiras a sem-pre aplicarem, para dada unidade da Federação, as taxas de juros mais elevadas (§ 11 do artigo 1º da Instrução Normativa INSS/DC n° 121/2005). Por força da norma, os custos mais altos de originação cons-tituem o parâmetro para toda e qualquer operação de crédito no mesmo Estado para beneficiários do INSS; cria-se a situação curiosa em que o teto se con-verte em um piso de taxa de juros a ser aplicada a operações com aposentados e pensionistas - a taxa de juros para esse segmento, em um mesmo Estado, passa a ser a taxa mínima que é oferecida a todos os beneficiários do INSS.

Sobre a margem de consignação, a legislação prevê um teto de 30% da remuneração e dos benefícios do consignante, seja para trabalhadores do setor priva-do (Lei n° 10.820/2003), seja para servidores públicos (Decreto n° 6.386/2008 que regulamenta o art. 45 da Lei n° 8.112/1990). Esse teto está alinhado com a prática internacional e constitui-se em freio para o superendividamento, no caso de consignantes me-nos familiarizados com operações financeiras ou mais propensos ao descontrole orçamentário. Nesse sentido, proliferam proposições tanto para elevar o teto, quanto para reduzi-lo. Tais proposições refle-tem a conjuntura econômica do momento em que são apresentadas, sempre cambiante. A alteração do teto por lei ordinária introduz rigidez que não é compatível com um cenário econômico em constan-te mutação. Também o Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem exarado decisões no sentido da manuten-ção do teto de 30% da remuneração ou dos benefí-cios para assegurar o mínimo existencial, noção re-sultante dos princípios constitucionais da isonomia e da dignidade da pessoa humana, consubstanciado nas normas dos artigos 1°, inciso III, e 3°, inciso III, da Constituição Federal.

Quanto à concentração dessa modalidade de crédito em alguns bancos, sejam instituições oficiais, sejam

instituições com capital superior a determinado pa-tamar, esse tipo de reserva de mercado foi vedada a partir de 1° de janeiro de 2012 pela Resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) n° 3.424/2006. No âmbito judicial, o Supremo Tribunal Federal (STF) tem decidido pelo fim da exclusividade na concessão do crédito consignado ao funcionalismo público dos Estados. Em 2012, dois decretos estaduais, um da Bahia e outro do Mato Grosso do Sul, foram objetos de decisões monocráticas da Presidência da Corte que, ao negarem procedência à suspensão de segu-rança solicitada pelos Governos desses dois Estados, liberou a concessão de empréstimo consignado aos servidores públicos desses Estados a todas as insti-tuições financeiras. Na fundamentação dessas deci-sões, afirmou-se que a vedação à exclusividade está em consonância com os princípios constitucionais da ordem econômica, entre eles o da livre iniciativa (ar-tigos 1º, IV, e 170, caput) e da livre concorrência (art. 170, IV). Sendo assim, os entes públicos têm-se posi-cionado pela não exclusividade de convênio de crédi-to consignado com as instituições financeiras, firman-do parcerias que garantam a ampla concorrência.

No que toca aos requisitos para obtenção de crédi-to, os projetos que tramitam no Congresso Nacional cobrem situações diversas como presença física do cliente para contratação com vedação para consigna-ção por meio de caixas automáticos, necessidade de registro notarial de operações, exigência da presença de familiares quando da contratação de empréstimo por idosos, para mencionar alguns casos. O traço co-mum desses projetos é a preocupação com a preven-ção de fraudes e a coação de tomadores hipossufi-cientes, ambas previstas no Código Penal. Entretanto, proposições nesse sentido requerem cautela na me-dida em que podem afetar a capilaridade na distri-buição dos recursos e o volume de crédito ofertado.

Por fim, a extensão da consignação a, por exemplo, aluguel e plano de saúde se, por um lado, simplifica procedimentos operacionais e poupa tempo aos con-sumidores, por outro lado, introduz outras obrigações contratuais que concorrerão com o consignado de cré-

dito pela mesma garantia lastreada na renda do toma-dor. Como resultado, pode ocorrer o encarecimento dessa modalidade, o que requer exame cuidadoso.

As operações com empregados do setor privado ain-da mostram um modesto desempenho em relação ao seu potencial e ao setor público. Nesse sentido, a CNF entende ser necessário não apenas reduzir os custos das empresas que descontam prestações de consignado, mas também conferir maior segurança às instituições financeiras (como, por exemplo, evi-tar que empregadores retenham o valor referente ao pagamento mensal do consignado de seus emprega-dos e não repassem esse montante ao banco credor). Outro desafio é a expansão do setor junto a peque-nas e médias empresas, que, por não possuírem ga-nhos em escala e por haver relativo custo adminis-trativo associado a operações de controle, retenção e repasse de valores, possuem poucos incentivos para oferecer tais serviços aos seus funcionários.

Com a finalidade de superar esses obstáculos, a CNF apoia alterações na Lei nº 10.820/2003, para desbu-rocratizar as operações relacionadas ao crédito con-signado junto a empresas privadas, por meio da par-ticipação facultativa dos sindicatos de trabalhadores nos contratos de consignação realizados entre essas companhias, seus trabalhadores e instituições finan-ceiras. A obrigatoriedade dificulta a oferta de consig-nado para empresas cujos empregados ou não con-tam com um sindicato representativo, ou apresentam baixo número de funcionários de uma mesma catego-ria, ou possuem diversos sindicatos representativos.

No tocante ao setor público também há iniciativas se-melhantes, que visam a ganhos de eficiência na tro-ca de informações entre os agentes participantes da estrutura do crédito consignado, as instituições finan-ceiras e o INSS. Um exemplo é o Sistema ECO (Emprés-timo Consignado Online), desenvolvido pela Empresa de Tecnologia e Informação de Previdência Social (Da-taprev) e que aguarda sua implementação pelo INSS. Segundo a nova estrutura, beneficiário da Previdência poderá obter o empréstimo consignado de duas ma-

neiras: (i) com margem consignável obtida exclusiva-mente nas agências da Previdência Social, isto é, man-têm-se as regras atuais de tomada de crédito, sem alteração dos parâmetros de margens consignáveis; ou (ii) de maneira direta nas instituições financeiras, contratadas ou conveniadas, o que pode ser realizado mediante caixa eletrônico dessas instituições.

12.3 RECURSOS DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR DADOS EM GARANTIA

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a presta-ção de novas garantias que facilitem o acesso a diversas modalidades de crédito, que contem-plem: livre fixação das taxas de juros; medidas de incentivo para redução das taxas de juros assentadas sobre livre concorrência, que impli-quem igualdade de tratamento e de condições para instituições financeiras (independentemen-te de seu porte e da natureza do controle de seu capital) e liberdade de contratação por todos os segmentos da população. A CNF apoia projetos voltados para o uso de recursos de previdência complementar como garantia fiduciária para um amplo leque de modalidades de crédito.

Em um cenário de crescente demanda por serviços bancários e de estímulos à expansão do crédito no Brasil, aumenta a necessidade de diversificação das modalidades de garantia ao crédito e de fortaleci-mento da segurança nas transações. Um dos fatores que influenciam o custo do crédito no país é o risco potencial de inadimplência por parte dos tomadores.

Atualmente, a Lei nº 11.196/2005, em seu capítulo XII, artigo 84, permite ao participante de plano de previ-dência complementar oferecer como garantia fiduci-ária, nas operações de financiamento imobiliário, as quotas de sua titularidade em fundos de investimen-tos e seguros de vida com cobertura por sobrevivên-

CAPÍTULO 12: CRÉDITO

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 145144

cia. No entanto, tal possibilidade ainda não foi regu-lamentada para as demais modalidades de crédito.

A ampliação do rol de garantias dadas em operações de empréstimos e financiamentos implicaria signifi-cativo incremento na oferta de crédito, acarretando maior competição por taxas e condições mais favorá-veis ao tomador de empréstimos. A prestação dessa nova modalidade de garantia serviria de estímulo à inclusão financeira e fomentaria o crédito sustentá-vel, sem os efeitos colaterais do superendividamen-to ou comprometimento excessivo da renda.

12.4 CRÉDITO DIRETOAO CONSUMIDOR (CDC)

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a amplia-ção do acesso ao crédito direto ao consumidor e o aumento do volume de recursos ofertados nessa modalidade que se assentem nos princí-pios constitucionais da livre concorrência e da liberdade para atividade econômica, com livre renegociação de dívidas e livre pactuação de taxas de juros. Para a CNF, o segmento de to-madores de CDC constitui público prioritário para programas de educação financeira.

O CDC, por não contar com garantias reais, é uma mo-dalidade que será particularmente beneficiada pelo histórico de adimplemento dos tomadores (o cadas-tro positivo) acessível a todos os fornecedores de cré-dito, de maneira a incrementar as vendas de bens de consumo duráveis, com consequente estímulo para a atividade econômica e a geração de empregos.

Apesar da intensa expansão da modalidade do con-signado e a forte migração do crédito direto ao con-sumidor para essa carteira, essa modalidade tem apresentado um modesto crescimento em seu saldo total. Em dezembro de 2014, o montante total era de

R$102 bilhões, resultado 4% maior que em 2013 e 13% maior em relação a 2012.

12.5 CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO ELETRÔNICA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que buscam con-ferir eficácia de documento físico à Cédula de Crédito Bancário emitida por meio eletrônico. Os títulos de crédito em geral têm como requisi-to da sua validade a emissão na forma escrita, porém a evolução da tecnologia digital torna possível a criação da Cédula de Crédito Bancá-rio Eletrônica, ideia amparada pela doutrina.

A Cédula de Crédito Bancário é um título de crédito estrito senso, emitido por pessoa física ou jurídica em favor de instituição financeira ou entidade a esta equiparada, dotado de cartularidade, literalidade e autonomia, transmitido por meio de endosso em preto, ao qual se aplicarão, no que couberem, as nor-mas de direito cambiário.

Quanto à confecção do título, entende-se como des-necessária a exigência da emissão em papel, conside-rando que todas as relações entre o credor e o deve-dor podem ser documentadas, independentemente do meio físico. Para o Professor Fábio Ulhôa Coelho:

Se o documento nem sequer é emitido, não há sen-tido algum em se condicionar a cobrança do crédito à posse de um papel inexistente. Representa uma dispensável formalidade exigir-se a confecção do tí-tulo em papel, se as relações entre credor e devedor documentaram-se todas independentemente dele (Curso de Direito Comercial. 9ª ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2005, v. 1, p. 385).

Os títulos de crédito em geral têm como requisito da sua validade a emissão na forma escrita. Porém, com

a evolução da tecnologia digital, tornou-se possível a Cédula de Crédito Bancário Eletrônica que, mesmo desprovida de forma física, teria a mesma eficácia do documento em papel.

O melhor meio para a criação dessa nova modalidade de Cédula de Crédito Bancário seria a alteração do art. 29, da Lei nº 10.931/2004, para conferir eficácia de do-cumento físico à cédula emitida por meio eletrônico.

12.6 MICROCRÉDITO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a am-pliação do acesso ao microcrédito e o aumento do volume de recursos disponíveis para essa modalidade, assentadas no princípio constitu-cional da liberdade econômica, que assegurem igualdade de condições a todas as instituições dispostas a operar esse tipo de financiamento e liberdade para fixação de taxas de juros e de limites financeiros para os tomadores.

O microcrédito é uma modalidade de financiamento de baixos montantes a micro e pequenos negócios. Proporciona acesso ao crédito a pequenos empreen-dedores que, por comumente não contarem com ga-rantias reais para empréstimos, têm dificuldade para obter financiamento nas modalidades tradicionais. O capital obtido com o empréstimo é geralmente usado para modernizar ou ampliar os instrumentos de trabalho. De maneira geral, os repagamentos de empréstimos são canalizados para outras operações de microcrédito, para tomadores da mesma comu-nidade. Com isso, a solidariedade e a coesão social desempenham papel crítico no funcionamento das carteiras de microcrédito, que normalmente apre-sentam taxas de inadimplência muito baixas.

Em 2014, a demanda por microcrédito no Brasil per-maneceu com um ritmo de crescimento intenso. Se-

gundo dados do Banco Central (BACEN), essa moda-lidade de operação alcançou o montante de R$5,4 bilhões, o que representa um aumento de 10,5% em relação ao ano anterior. Entretanto, estima-se que apenas 25% dos clientes potenciais tenham acesso a essa modalidade de crédito, o que demonstra ser ain-da necessários aprimoramentos no sistema de conces-são do microcrédito. Estima-se que existam mais de 17 milhões de clientes potenciais, com um faturamento bruto anual de aproximadamente R$120 milhões.

Por outro lado, a demanda por crédito das micro e pequenas empresas foi a que mais aumentou: 7,5% na comparação com janeiro de 2014 e 13,1% em re-lação à dezembro. Além disso, a pontualidade no pagamento das dívidas atingiu a segunda melhor posição no ranking de 2014, desde a criação da série temporal, em 2006. De acordo com a Serasa Expe-rian, neste ano, de cada mil pagamentos realizados, 95,6% foram quitados à vista ou com atraso máximo de sete dias. Em 2013, quando o índice atingiu o me-lhor resultado, ficou em 95,7%.

O microcrédito proporciona acesso ao crédito para empreendimentos que, dada sua simplicidade, têm dificuldade para obter financiamento nas modali-dades tradicionais, comumente desenhadas para atender empresas de maior nível de faturamento anual. O capital obtido com o empréstimo visa à aquisição de equipamentos e instalações, a moder-nização e ampliação da capacidade produtiva e de-mais necessidades relacionadas à atividade empre-endedora. A atuação em microcrédito conta ainda com metodologia própria que garante a orientação e acompanhamento dos recursos aplicados durante a vigência do financiamento.

Em 2005, foi promulgada a Lei n° 11.110, que insti-tui o Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO), com os objetivos de: incentivar a geração de trabalho e renda entre os microempre-endedores populares; disponibilizar recursos para o microcrédito produtivo orientado; e oferecer apoio técnico às instituições de microcrédito produtivo

CAPÍTULO 12: CRÉDITO

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 147146

orientado, com vistas ao fortalecimento institucio-nal destas para a prestação de serviços aos empre-endedores populares. O Banco Central, também em 2005, publicou a Resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) n° 3.310, que estabelece que os ban-cos múltiplos com carteira comercial, os bancos co-merciais e a Caixa Econômica Federal devem manter aplicados em operações de microcrédito destinadas à população de baixa renda e a microempreendedo-res, valor correspondente a, no mínimo, 2% dos sal-dos dos depósitos à vista captados pela instituição. Caso a instituição não aplique esses recursos em operações de microcrédito, será obrigada a recolher esses recursos compulsoriamente sem remuneração junto ao BACEN.

O microcrédito é relevante como política pública para inclusão produtiva e fomento do empreende-dorismo no país, com o incentivo do Governo para dinamizar a ampliação do acesso ao crédito e esti-mular o desenvolvimento dos empreendimentos for-mais e informais do mercado.

São necessários aprimoramentos no microcrédito para ampliar tanto o acesso de tomadores quanto o volume de recursos colocados à disposição destes. Para as instituições financeiras, os custos operacio-nais e financeiros muitas vezes superam largamente a receita oriunda do financiamento de pequeno va-lor, a taxas de juros reduzidas, vinculadas gratuita-mente a assessoria técnica ao cliente.

Por fim, as instituições que operam o microcrédito sob o amparo do Programa Crescer contam com o auxílio da subvenção econômica do Governo Federal, para cobrir parte dos custos financeiros e operacio-nais do MPO, cuja taxa de juros é fixada em 5% ao ano.

12.7 CRÉDITO RURAL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a ampliação do acesso de produtores rurais ao crédito e o aumento do volume ofertado para essa modalidade de financiamento que se as-sentem no cumprimento das políticas públicas, no desenvolvimento do país, na geração de di-visas e no fomento da renda no campo. A CNF sublinha que subsídios concedidos a operações de crédito direcionadas devem ser utilizados de forma a propiciar custos compatíveis com as especificidades da atividade agropecuária e sua geração de receitas nos empreendimen-tos agropecuários. Além disso, deve-se buscar a ampliação da oferta de recursos nas moda-lidades livres para atendimento das deman-das de crédito dos diversos elos da cadeia do agronegócio, bem como a definição e inclusão de dispositivos contratuais da adoção de ins-trumentos de mitigação dos riscos atinentes à atividade agropecuária. Para a Confederação, os tomadores de crédito rural se beneficiariam grandemente da inclusão de disciplinas de edu-cação financeira no sistema de educação rural.

No Congresso Nacional, existem dezenas de projetos que tratam de crédito rural. A maioria deles propõe o alongamento e a renegociação de dívidas, enquanto outros tratam da impenhorabilidade do maquinário agrícola, da liberação de garantias hipotecárias e da inexigibilidade de seguros. Seriam oportunos tam-bém projetos e propostas relacionados à proteção da renda dos produtores rurais, mitigação dos riscos, ampliação da assistência técnica, regulação das re-lações contratuais, simplificação de processos e re-dução de custos operacionais.

A participação da atividade agrícola no Produto In-terno Bruto (PIB) brasileiro encerrou 2014 próxima de 23%, sendo responsável por cerca de um terço

dos empregos no País. A importância desse setor fica ainda mais evidente diante das contas externas. Em 2014, as exportações do agronegócio totalizaram US$96,7 bilhões, resultando no saldo positivo de US$80,1 bilhões na balança comercial do setor. Em 2014, os estoques de operações com pessoas físicas e jurídicas avançaram 18,2%. Demonstra-se, assim, a necessidade da continuidade e ampliação de polí-ticas de apoio, a exemplo dos recursos direcionados e da implementação de programas como o Progra-ma Agricultura de Baixo Carbono (ABC), o Progra-ma de Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), o Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica na Produção Agropecuária (Inovagro), o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e o Programa Nacional de Apoio aos Médios Produtores Rurais (PRONAMP) propiciam a sustenta-ção e fixação do homem no campo com dignidade e renda, bem como a ampliação do uso de novas tec-nologias no agronegócio brasileiro.

Já sobre a suspensão ou prorrogação de obrigações financeiras na ocorrência de condições climáticas ad-versas, doenças ou ataques de pragas tecnicamente incontroláveis, bem como flutuações dos preços dos produtos agropecuários, discute-se na verdade uma apólice de seguro. Operações de financiamento não se confundem com apólices de seguro, que preveem a cobrança de um prêmio ao qual corresponde in-denização na hipótese de ocorrer o sinistro coberto pelo contrato. Os riscos envolvidos numa operação financeira não são os de ocorrência de sinistros, mas, sim, os ligados a descasamentos de taxas, de prazos e de moedas, bem como os vinculados à capacida-de de adimplemento do tomador. A inclusão de um seguro implícito nas operações de financiamento, sem o correspondente prêmio oneraria ainda mais a operação, com reflexos sobre o volume de crédito ofertado e as margens bancárias de outras modali-dades de financiamento. Deve-se buscar ampliação ou criação de outros instrumentos de mitigação de riscos para proteção contra intempéries agrícolas e oscilações de preços das commodities. Mecanismos como Seguro Rural, Proagro, Contratos Futuros, de

Opções ou a Termo, Seguros de Faturamento, entre outros. A utilização de mitigadores de risco minimi-za a perda de renda por parte dos produtores rurais, mesmo que ocorra algum tipo de intempérie, tais como secas, pragas, incêndios, alagamentos, e ou-tras, além de prover os produtores rurais de meca-nismo de proteção contra oscilações de preço dos produtos agropecuários, tais como contratos futuros e opções na bolsa de valores.

A popularização das Letras de Crédito do Agronegó-cio (LCAs), inclusive como lastro de fundos de inves-timentos, oferece alternativa de financiamento de longo prazo a custos compatíveis com o retorno da atividade agropecuária.

12.8 COOPERATIVAS DE CRÉDITO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a expansão e o fortalecimento da rede de coo-perativas de crédito, importante instrumento de bancarização e de ampliação do acesso a fi-nanciamentos, que preservem o caráter solidá-rio de operações passivas e ativas limitadas aos cooperados, no entendimento de que a equipa-ração das cooperativas de crédito a instituições bancárias, sem a correspondente regulação e supervisão, introduz grave risco sistêmico que afeta a economia como um todo.

Recentes alterações na legislação introduziram pro-fundas mudanças no sistema de crédito cooperativo para flexibilizar a prestação de serviços de nature-za bancária aos associados. A Lei Complementar nº 130/2009, e a Resolução do Conselho Monetário Na-cional (CMN) nº 3.859, de maio de 2010, trouxeram inovações que aproximam cada vez mais os regula-mentos legais das cooperativas de crédito às normas bancárias. Essas inovações vão desde a criação de novas hipóteses de captação de recursos até a auto-

CAPÍTULO 12: CRÉDITO

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rização para que as cooperativas possam fazer distri-buição de cotas de fundos de investimento.

A estrutura do cooperativismo de crédito também vem sendo organizada no âmbito sindical. Em 2010, o sistema confederativo de representação sindical das cooperativas reunia mais de quarenta entidades com registro no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Neste ano, o MTE reconheceu a criação da Confedera-ção Nacional das Cooperativas (CNCOOP), que agre-ga, entre outras cooperativas, as de Crédito.

Dados de 2014 do Banco Central (BACEN) indicam que, embora ainda ocupem um espaço pequeno no Sistema Financeiro Nacional (SFN), o segmento das cooperativas de crédito vem apresentando expres-sivo crescimento, não apenas em volume, mas tam-bém em percentual de participação na área bancária. No final de 2014, o BACEN registrava a existência de 1.146 cooperativas de crédito no Brasil, que adminis-tram ativos totais acima de R$138 bilhões. Em junho de 2014, as operações de crédito totais dessas coope-rativas atingiram R$80 bilhões, representando 2,78% do total do Sistema Financeiro Nacional, enquanto os depósitos representavam R$91 bilhões, o equivalente a 4,73% de todo o SFN.

No Congresso Nacional, tramitam diversos projetos de lei no sentido de incentivar ainda mais o desenvolvi-mento do setor cooperativista. As proposições apre-sentadas pretendem, em grande parte, a isenção de tributos, a autorização de utilização dos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e o recebimen-to de repasses de recursos dos Fundos Constitucio-nais. Outros projetos pretendem autorizar a prestação de serviços pelas cooperativas, que hoje somente são realizados pelos bancos ou correspondentes no país.

As cooperativas de crédito passaram a ter papel mais relevante na ampliação da bancarização, sobretudo pela identificação de novos nichos de mercado. A ampliação do escopo de atividades das cooperativas de crédito terá implicações positivas para diluição da concentração bancária, diversificação do leque de

instituições, aumento da concorrência e lançamento de novos produtos, entre outros.

12.9 IMÓVEIS RURAIS DADOS EM GARANTIA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que esclareçam de maneira definitiva que os imóveis rurais tam-bém podem ser objeto de garantia de opera-ções bancárias realizadas por instituições fi-nanceiras de capital estrangeiro. Tais medidas poriam fim à insegurança jurídica sobre o as-sunto, contribuindo para a redução do spread bancário e, ao permitir maior concorrência no mercado, a queda nas taxas de juros pratica-das aos produtores rurais e ao agronegócio.

A Lei nº 5.709/1971, que regula a aquisição de imóvel rural por estrangeiro residente no país, estabelece res-trições quanto ao tamanho do bem que pode ser de propriedade de pessoa jurídica estrangeira autorizada a funcionar no Brasil. O disposto nessa Lei é anterior à Constituição Federal, que estipula isonomia de trata-mento entre instituições financeiras de capital nacional e as de capital estrangeiro, bem como à disciplina legal da alienação fiduciária, dada pelo Código Civil de 2002.

Sob alegação do respeito ao disposto na Lei nº 5.709/1971, alguns cartórios resistem a registrar imó-veis com garantias em que constam como credora instituição financeira nacional de capital estrangeiro. O Parecer da Advocacia-Geral da União AGU/LA-04 es-clareceu que o §1º do art. 1º da Lei 5.709/1971 não foi recepcionado pela Constituição Federal, com base na interpretação dos artigos 171 e 190 da Constituição Federal e no entendimento de que as empresas bra-sileiras de capital estrangeiro não estariam sujeitas às restrições aplicáveis a pessoas jurídicas estrangeiras. Tal entendimento foi ratificado novamente pela AGU no Parecer GQ 181/1998, emitido em razão da pro-

CAPÍTULO 12: CRÉDITO

mulgação da Emenda à Constituição nº 6/1998 e da revogação do artigo 171 da Constituição. Em 2008, a Advocacia Geral da União emitiu o Parecer CGU/AGU 01/2008, que alterou seu entendimento a respeito da aquisição de imóveis rurais por sociedades brasilei-ras controladas por estrangeiros. De acordo com esse parecer, as empresas brasileiras que tenham maioria estrangeira do capital estão sujeitas às restrições pre-vistas na Lei nº 5.709/1971. Por outro lado, o Parecer não trata das operações realizadas por instituições financeiras de capital estrangeiro.

Pareceres da AGU não possuem caráter vinculante para os tabelionatos de notas e registros de imóveis, havendo risco de tais órgãos aplicarem entendimen-tos distintos. Por essa razão, em julho de 2010, a Corre-gedoria do Conselho Nacional de Justiça determinou que os tabelionatos de notas e os registros de imóveis passassem a observar integralmente o regime da Lei nº 5.709/1971, sob pena de responsabilidade.

A Lei nº 13.097 /2015 introduziu importante inovação ao permitir o recebimento de bens imóveis situados em faixa de fronteira por instituições financeiras de capital estrangeiro. A insegurança jurídica que envolve imóveis rurais também dificulta a prática bancária de obtenção de boas garantias às operações financeiras, que cola-bora para a higidez do sistema como um todo e a di-minuição do spread bancário. Aliás, essa recusa não encontra respaldo no tratamento apropriado dos dis-positivos legais atualmente em vigor que versam so-bre a regulação do setor financeiro e sobre garantias, como propriedade fiduciária e a hipoteca.

A Lei nº 4.595/1964, que regula o Sistema Financeiro Nacional, é clara ao estabelecer, em seu art. 35, que é vedada às instituições financeiras a aquisição de bens imóveis não destinados ao próprio uso, salvo os rece-bidos em liquidação de empréstimos de difícil ou duvi-dosa solução, caso em que deverão vendê-los dentro do prazo de um ano, a contar do recebimento, prorro-gável até duas vezes, a critério do Banco Central.

Além disso, o Código Civil veda o pacto comissório na alienação fiduciária, isto é, o credor não pode fi-car com o bem que lhe foi dado em garantia. A pro-priedade inerente à alienação fiduciária em garantia é resolúvel, estando limitada ao exercício do direito de garantia. Por isso, em nenhuma hipótese a insti-tuição financeira poderá ter a propriedade do imóvel em sua plenitude. Estabelece o art. 1.365 do Código Civil que “É nula a cláusula que autoriza o proprietá-rio fiduciário a ficar com a coisa alienada em garan-tia, se a dívida não for paga no vencimento”.

Da mesma forma, o art. 27 da Lei nº 9.514/1997, que trata da alienação fiduciária em bens imóveis, ao prescrever o procedimento para a excussão da ga-rantia, estabelece que “uma vez consolidada a pro-priedade em seu nome, o fiduciário, no prazo de trin-ta dias, contados da data do registro de que trata o § 7º do artigo anterior, promoverá público leilão para a alienação do imóvel”. O mesmo ocorre com a hipote-ca. Diz o art. 1428 do CC que “É nula a cláusula que autoriza o credor pignoratício, anticrético ou hipote-cário a ficar com o objeto da garantia, se a dívida não for paga no vencimento”.

12.10 FUNDO GARANTIDOR DE CRÉDITOS (FGC)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a am-pliação da cobertura do Fundo Garantidor de Créditos que mantenham o seu caráter privado e seus objetivos estatutários atuais, bem como confiram à gestão do Fundo total autonomia para fixar a natureza e os limites das garantias, cujo financiamento por meio de recolhimento de fração do saldo das modalidades cobertas possa ser suspenso sempre que o patrimônio do FGC atingir patamar compatível com seus propósitos.

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015150

O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) é uma enti-dade privada, sem fins lucrativos, com o objetivo de administrar recursos destinados à proteção dos titulares de créditos contra a insolvência bancária. Sua missão é contribuir para a proteção do peque-no poupador, promover a estabilidade do Sistema Financeiro Nacional e prevenir contra uma possível crise bancária sistêmica.

O Fundo foi criado em 1995 pela Resolução do Con-selho Monetário Nacional (CMN) n° 2.197. Hoje, o valor máximo da garantia proporcionada pelo FGC está estabelecido em R$250 mil, ou ao saldo da con-ta, quando o valor for inferior a esse limite.

No ano de 2008, o FGC teve papel importante no sen-tido de amenizar a crise, quando passou a comprar carteiras de crédito em um cenário de redução de li-quidez. Ao longo de seus anos de existência, o Fundo foi-se adaptando às mudanças da economia nacio-nal, tornando-se um instrumento de apoio ao crédi-to, com capacidade de mitigar cenários de estresse.

O patrimônio do FGC, de mais de R$40 bilhões, ali-mentado por contribuições mensais privadas das instituições financeiras, já atingiu um patamar ade-quado para proporcionar a diminuição ou a sus-pensão das contribuições, nos termos do art. 3º do Anexo II à Resolução do CMN n° 4.087/2012 – Regula-mento do Fundo Garantidor de Créditos.

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153

13CAPÍTULO 13: CRÉDITO IMOBILIÁRIO

O crédito imobiliário passou por uma grande expan-são na última década. Em 2014, o estoque total de operações para financiamento imobiliário avançou 27,1% em relação ao ano anterior, sendo a modali-dade de crédito que apresentou maior expansão. A partir da definição de um modelo que trouxe susten-tação e garantias ao crédito imobiliário, aliado ao crescimento do investimento governamental e da implementação de políticas públicas de habitação mais modernas, essa modalidade não parou de cres-cer. As leis que instituíram a alienação fiduciária, a se-curitização de recebíveis imobiliários, o Patrimônio de Afetação e a regra do incontroverso ofereceram o arcabouço institucional necessário para alavancar o setor. Antes desse marco, não havia estímulos às instituições financeiras, já que o risco era excessiva-mente elevado para o retorno das operações.

O Brasil vive um momento de estabilidade política e econômica que muito contribui para a expansão do crédito imobiliário. Existe uma confiança maior no mercado e um crescente acesso ao crédito por parte

da população, especialmente a de baixa renda. O mer-cado também tem atraído investidores estrangeiros.

A expansão do setor não impede que certas preocu-pações sejam revisitadas. O provimento de recursos de longo prazo (funding), ainda muito dependentes dos depósitos de poupança, cria a necessidade de se desenvolver um mercado secundário de recebíveis imobiliários, que responderá pelo volume de recur-sos necessários à continuidade do crescimento.

A Letra Financeira Imobiliária (LFI) e a Letra Imobi-liária Garantida (LIG), como títulos de longo prazo, são alternativas de funding que poderão substituir a poupança e os recursos do FGTS no crédito imobili-ário. Para a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (ABECIP), a LFI e a LIG são versões dos Covered Bonds, títulos emitidos por bancos com a garantia de carteiras de crédito imobiliário, no mercado de capitais brasileiro, que se pretende criar por meio de legislação.

CRÉDITO IMOBILIÁRIO

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas tanto para a inovação e diversificação de fontes de financiamento para o crédi-to imobiliário quanto para o aprimoramento dos instrumentos para concessão desse tipo de crédito, bem como para a assunção de obrigações, pelos toma-dores, por meio de contratos claros e transparentes que ofereçam segurança jurídica a todas as partes envolvidas.

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 155154

Além disso, ainda é preciso expandir o instituto da alienação fiduciária, aprimorar o patrimônio de afe-tação, desburocratizar as transações pela concentra-ção de atos registrais na matrícula do imóvel e pro-mover a dedutibilidade de juros do financiamento imobiliário do Imposto sobre a Renda.

13.1 CONCENTRAÇÃO DE ATOS REGISTRAIS NA MATRÍCULA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a simplificação dos procedimentos e registros notariais, na medida em que tais propostas representem economia de tempo e de recursos para as partes envolvidas, reforcem a seguran-ça jurídica das relações contratuais e facilitem, também pelos termos e expressões emprega-dos, a clara compreensão pelos mutuários de seus direitos e obrigações.

O princípio da concentração dos atos registrais na matrícula do imóvel passou a ser realidade em 2014 com a edição de Medida Provisória, convertida na Lei nº 13.097/2015, que, entre outras providências, esta-beleceu mecanismos de proteção aos adquirentes e aos recebedores de direitos reais de garantia que ce-lebrem negócios jurídicos com base nas informações contidas nos assentos de registros de imóveis.

O texto proposto pelo Executivo e aprovado pelo Legislativo prevê procedimento desburocratizado e seguro para negócios imobiliários em geral. Isso faci-lita a concessão de crédito, com a redução de custos e celeridade, pois, num único instrumento (matrí-cula do imóvel), o interessado em adquirir ou rece-ber terá acesso a todas as informações que possam envolver o imóvel. Isso dispensa a busca e o exame de várias certidões e, principalmente, afasta o po-tencial risco de atos de constrição oriundos de ações que tramitem em comarcas distintas da situação do

imóvel e do domicílio das partes. Permite visualizar em um único documento (a certidão da matrícula do imóvel) todas as informações que conduzam à segurança jurídica de uma transação imobiliária, dispensando a obtenção de certidões judiciais em nome dos vendedores e dos que lhes antecederam na propriedade do imóvel.

Um dos principais benefícios é a garantia dada ao comprador nas transações imobiliárias, já que a par-tir do momento em que ele retirar a certidão atua-lizada e verificar que não há nenhuma ação contra seu proprietário averbada, terá a segurança de que o imóvel não será requerido por demandas judiciais originadas antes da compra.

A concentração dos atos registrais na matrícula não só facilita os trâmites, como também proporciona redução do tempo de espera nos processos de finan-ciamento e nos custos incorridos pelo tomador, já que bancos e instituições financeiras não precisarão exigir tantas certidões antes de conceder o crédito. A concentração da matrícula também contribui para a modernização tecnológica da sociedade brasileira, que caminha para a informatização de processos e procedimentos. Confere maior agilidade à consulta e preservação mais segura da informação, além da unificação de dados, o que permite uma gestão da informação mais eficiente.

Não faria sentido falar-se em concentração da matrí-cula se o processo de registro notarial da transação imobiliária tivesse de desdobrar-se em várias provi-dências cartoriais, com ônus para o tomador tanto financeiro quanto no uso do seu tempo.

13.2 PORTABILIDADE DO CRÉDITO IMOBILIÁRIO

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a simplifi-

CAPÍTULO 13: CRÉDITO IMOBILIÁRIO

Em agosto de 2012 foi sancionada sem vetos a Lei n° 12.703/2012, decorrente da Medida Provisória nº 567/2012, que trata da caderneta de poupança e da alienação fiduciária de coisa imóvel. A lei introduziu a questão da portabilidade do crédito imobiliário, deixando sua regulamentação para o Conselho Mo-netário Nacional (CMN).

O setor de crédito imobiliário, apesar de entender que a referida lei simplifica o processo de portabilida-de dessa modalidade, acredita que a ausência de re-gulamentação traz incertezas aos agentes financeiros.

Entre as dúvidas quanto aos efeitos da portabilidade está o impacto nas operações de securitização, que têm importância crescente para o funding do crédito imobiliário. Se a portabilidade provocar o pré-paga-mento em massa dos contratos em vigor, os instru-mentos securitizados perderão lastro, com impacto sobre os preços, o que imporá um aumento do prê-mio de risco cobrado dos tomadores. Outra dúvida diz respeito à necessidade de atualização constante dos títulos dados em garantia, o que também pode-ria afetar o sistema e encarecer a operação.

Também o custo da originação do crédito imobiliá-rio é afetado pela portabilidade. Esse custo envolve a identificação do cliente, a sua avaliação de crédito, a avaliação do valor de mercado do imóvel, despe-sas cartorárias e de assistência jurídica, entre outros. Hoje, ele é recuperado ao longo do contrato, mas, na hipótese de transferência prematura da operação de um agente financeiro para outro, o retorno desse custo não acontece.

13.3 DEPÓSITOS DE CADERNETA DE POUPANÇA

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para o equilí-brio econômico e financeiro entre mutuários de crédito imobiliário e poupadores. Para a CNF, tais propostas poderiam visar à expansão do saldo de depósitos em caderneta de poupança por meio da livre negociação de taxas de juros, acompanhada da criação de instrumentos de captação de longo prazo destinados ao finan-ciamento do crédito imobiliário, compatíveis com os custos desse financiamento.

As discussões sobre depósitos em caderneta de pou-pança e financiamento imobiliário estão centradas em duas questões, a saber: a possibilidade de os recursos de poupança serem insuficientes para ge-rar fundos destinados ao financiamento imobiliário e a perspectiva de a remuneração da caderneta de poupança situar-se acima de outras aplicações fi-nanceiras, à medida que caem as taxas de juros, o que encareceria o crédito imobiliário.

Os financiamentos imobiliários, que representaram 30,5% do total do crédito a pessoas físicas, registra-ram desembolsos de R$493,4 bilhões nos onze pri-meiros meses de 2014, o que representa um aumento de 8,6% em relação a igual período do ano anterior. As expectativas eram de que crescessem entre 15% e 20%, o que não ocorreu devido à queda do cresci-mento econômico. Entretanto, o estoque de opera-ções contratadas de crédito imobiliário representam 9,7% do Produto Interno Bruno (PIB), ante o resulta-do de 8% em 2013. Para 2015, a Associação Brasilei-ra das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (ABECIP) espera que a expansão seja superior àquela prevista para 2014, puxado pelo crédito à aquisição.

Os depósitos em caderneta de poupança no Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) apre-

cação do processo de portabilidade do crédito imobiliário e vê como positivas as iniciativas que buscam regulamentá-lo. Para a CNF, propostas de regulamentação dessa portabilidade devem levar em consideração as particularidades de um contrato de financiamento imobiliário, so-bretudo a garantia e os custos de originação.

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 157156

sentaram saldo de R$522 bilhões ao final de 2014, com aumento de 11,4% em relação ao saldo dispo-nível no início do ano. Apesar disso, a insuficiência de direcionamento de crédito para financiamentos imobiliários chegou a R$191 milhões em novembro de 2014. Mesmo sendo o menor valor desde feverei-ro de 2013, mantém-se a preocupação sobre a dis-ponibilidade de recursos utilizados como fonte de direcionamento para esse setor, uma vez que os de-pósitos de poupança constituem o principal funding para o setor, sendo destinados 65% de seu total.

Sobre a remuneração dos depósitos de poupança, por sua vez, as regras atuais estabelecem que sem-pre que a taxa básica de juros, estiver em 8,5% ao ano ou abaixo desse patamar, o rendimento da pou-pança será 70% da meta do Sistema Especial de Li-quidação e de Custódia (taxa Selic) mais a Taxa Refe-rencial (TR). Quando a Selic for superior a 8,5%, vale a regra antiga de reajuste pela TR mais 0,5%. Mesmo com isenção do Imposto sobre a Renda, os rendi-mentos da poupança têm-se distanciado daqueles que também rendem taxa Selic. Isso porque desde agosto de 2013 a Selic supera 8,5%, repercutindo na remuneração desvinculada a ela: TR mais 0,5%. Entretanto, desde a reformulação da metodologia da TR, em 2007, esta taxa encontra-se entre 0% e 1%. Em 2014, de janeiro a abril a captação da caderneta de poupança foi negativa, e em agosto, foi registra-da a menor entrada de recursos para o mês em nove anos. Assim, as remunerações abaixo da correção in-flacionária e dos rendimentos das demais aplicações têm sido um obstáculo à expansão desse fundo.

Entre as aplicações concorrentes com a caderneta de poupança estão as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), bem como os fundos de investimento vinculados ao Certificado de Depósito Interbancário (Fundos DI), por serem uma opção conservadora de investimen-to. Esses fundos aplicam seu patrimônio em títulos públicos. Redução no patrimônio desses fundos im-plica menor disponibilidade de recursos para finan-ciamento de títulos da dívida pública, o que pode

introduzir um piso para a queda dos juros, já que o Governo só continuaria a captar se emitisse títulos com rendimento maior que o da poupança.

Por um lado, a migração de montantes dos fundos DI para a poupança aumentaria os recursos à disposi-ção do crédito imobiliário. Por outro, o custo de cap-tação do financiamento imobiliário passaria a estar entre os mais altos do mercado, o que encareceria as operações na ponta do tomador de empréstimo.

13.4 FUNDO DE GARANTIA DO TEMPO DE SERVIÇO (FGTS)

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras, ao mesmo tempo em que apoia propos-tas para o aprimoramento do uso de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço para financiamento imobiliário, acompanha com in-teresse iniciativas de mudança no FGTS que po-dem afetar a segurança jurídica dos contratos, na medida em que somente um setor imobiliá-rio sólido propiciará a garantia que está na raiz da função social do FGTS.

O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a caderneta de poupança são hoje as duas princi-pais fontes de recursos para a habitação no país. Em 2013, somados os recursos da poupança, cujo saldo do ano anterior foi de R$473 bilhões, e do FGTS, que alcançou um ativo de R$365 bilhões, foi liberada para o setor habitacional a quantia recorde de R$88 bilhões. Esse resultado, segundo dados da ABECIP, é 34% maior do que o registrado em 2012.

O Conselho Curador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço aprovou, dentro do orçamento financeiro para o exercício de 2015, a aplicação de R$56,5 bi-lhões na área de habitação. Em 2014, o valor efetiva-mente aplicado no setor foi de R$57,8 bilhões. Com a expectativa de insuficiência dos recursos da pou-

CAPÍTULO 13: CRÉDITO IMOBILIÁRIO

pança para funding do crédito imobiliário em rápida expansão, aumenta a importância do Fundo na pro-visão de recursos para a construção.

No Congresso Nacional, existem diversas discussões a respeito de mudanças no FGTS. Um importante ponto objeto de alteração é a ampliação das hipóte-ses de saque nas contas vinculadas.

Outra questão bastante debatida é a remuneração do fundo. Atualmente, os depósitos nas contas vin-culadas são remunerados, na quase totalidade dos casos, à Taxa Referencial (TR) mais 3% ao ano, con-forme estabelece a Lei nº 8.036/1990. Diversos pro-jetos de lei sugerem a substituição da TR pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Os autores das propostas legislativas afirmam que a rentabilidade obtida com a TR sequer repõe a in-flação e, sendo assim, defendem o reajuste do sal-do do fundo por um índice oficial de inflação e uma taxa de juros. No entanto, especialistas defendem que uma mudança na correção pode desequilibrar o sistema e iniciar uma avalanche de ações judiciais daqueles que se sentirem lesados e quiserem uma eventual revisão de contratos.

Outra discussão trata de tornar o FGTS vantajoso e atraente ao trabalhador cotista. Para tanto, propõe-se que a rentabilidade do Fundo seja baseada nos mol-des do que foi feito com a poupança, ou seja, quando a meta do Sistema Especial de Liquidação e de Custó-dia (taxa Selic) estiver acima de 8,5 % a rentabilidade seria de 4,5% + TR, ficando abaixo de 8,5% o Fundo renderia TR + 50% da Selic. Mudança dessa nature-za também teria impacto sobre contratos (ver Seção 13.4.1 - Atualização dos indexadores do FGTS e FAT).

Uma quarta questão é a da distribuição dos resul-tados obtidos pelo Fundo com a aplicação de seus recursos. Metade do lucro anual seria distribuída aos trabalhadores com a possibilidade de ser saca-do. Desse modo, os trabalhadores seriam verdadei-ramente considerados “cotistas”, sem desequilibrar as contas do Fundo.

Propostas no Congresso Nacional sugerem ainda que os trabalhadores possam realizar depósitos voluntá-rios à sua conta do FGTS e que 10% de todas as apli-cações do FGTS sejam disponibilizados como linha de crédito ao trabalhador, sem destinação específica, sendo que cada cotista só poderia pegar emprestado até dez vezes o valor do saldo em conta, com juros.

13.4.1 ATUALIZAÇÃO DOS INDEXADORES DO FGTS E FAT

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que conservem o equilí-brio econômico, contábil e financeiro entre, por um lado, fundos indenizatórios com destinação obrigatória de recursos dos trabalhadores, e, por outro, projetos em investimentos de longo prazo lastreados nesses mesmos recursos a ta-xas de remuneração já estabelecidas.

O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) constituem importantes sistemas de canalização de poupança, com vistas ao cumprimento de garantias trabalhis-tas. O primeiro objetiva principalmente formar um fundo de indenização trabalhista, que protege o trabalhador regido pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) contra demissões sem justa causa, além de funcionar também como a possibilidade de o trabalhador ter acesso à casa própria. O segundo, por sua vez, destina-se ao custeio do programa de seguro-desemprego e do abono salarial.

Além de cumprirem a função de seguro social, esses fundos funcionam como mecanismos de poupança interna e de acumulação de capital, constituindo importantes meios de funding para programas de desenvolvimento econômico que resultam na gera-ção de emprego e renda. O FGTS e o FAT, assim, pos-suem grande importância para o funding de investi-mentos de longo prazo, como, por exemplo, Minha

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 159158

Casa Minha Vida e operações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Sua relevância reside na viabilização de empréstimos de longo prazo que sejam compatíveis com o tempo de maturação do investimento.

A forma de remuneração desses depósitos, entre-tanto, vem enfrentando inúmeras contestações por meio de ações revisionais de correção do FGTS. Os depósitos do FGTS, de acordo com a regra atual, são remunerados pela Taxa Referencial (TR), como índice de atualização monetária, mais 3% ao ano, correspondente ao juro real, sem capitalização. En-tretanto, desde 1999, a TR tem ficado abaixo dos ín-dices de inflação, e desde setembro de 2012 a taxa tem apresentado valores entre 0% e 1%. Ressalta-se ainda que no ano de 2014, a TR acumulou variação de 0,81%, enquanto o INPC e o IPCA registraram no mesmo período variação de 6,23% e 6,41%, respecti-vamente. Estima-se, assim, que a perda real ocasio-nada aos depósitos em decorrência da atualização vigente seja de mais de 50%, desde 1999.

O STF no julgamento das Ações Diretas de Inconsti-tucionalidade (ADI) nº 4.357/DF, ADI nº 4.425/DF, ADI nº 4.372/DF, ADI nº 4.400/DF, em março de 2013, de-clarou inconstitucional a expressão “índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança” (referindo-se à TR) constante do parágrafo 12 do art. 100 da CF, como fator de correção monetária para os precatórios de natureza tributária.

Em relação ao FAT, 40% dos seus recursos são repas-sados ao BNDES para fornecimento de empréstimos subsidiados. Ao final de 2014, o saldo dos recursos do FAT ordinariamente transferidos ao BNDES superou o montante de R$178 bilhões, remunerados pela TJLP e taxa de juros do mercado internacional (FAT- cambial). Pela legislação atual, a taxa de remuneração do fun-do é definida por normas instituídas pelo Conselho Deliberativo do FAT, gestor do fundo, composto por centrais sindicais e patronais e pelo Governo. A remu-neração dos recursos do FAT aplicados no BNDES está indexada a três indicadores: TJLP (80% do total), va-

riação na taxa de câmbio (11%) e a meta do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (taxa Selic, 9%). A maior parte dos recursos, portanto, também é re-munerada a um valor inferior à inflação, uma vez que a TJLP situou-se me 5% a.a. durante 2013 e 2014.

Há um custo social relevante para a manutenção de fundos de investimento de longo prazo. Por um lado, não se pode penalizar os trabalhadores pela remune-ração de fundos indenizatórios a taxas inferiores à de inflação. Por outro, trata-se aqui do maior mecanismo de funding de longo prazo existente no Brasil sobre o qual se assentam importantes projetos de ampliação e modernização de infraestrutura. Isto é, eventual al-teração da remuneração desses fundos não se cons-titui em ato isolado, mas sim na mudança de um dos termos da equação do crescimento econômico, o que recomenda cautela. Mudanças retroativas na remune-ração desses fundos teriam impacto ainda maior, na medida em que criariam passivos para os quais não existem provisões adequadas, reduzindo assim enor-memente a taxa interna de retorno desses projetos de infraestrutura a ponto de inviabilizar muitos deles.

13.5 PATRIMÔNIO DE AFETAÇÃO E REGRA DO INCONTROVERSO

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas de aprimoramento dos instrumentos que visam a dar mais segurança aos contratos imobiliários, sobretudo daqueles instrumentos que minimizem conflitos judiciais e incrementem a atividade produtiva.

O patrimônio de afetação baseia-se na concepção de que determinados bens e direitos passam a vincu-lar-se a um fim específico. No caso da incorporação imobiliária, o objetivo é evitar que o incorporador utilize recursos de um empreendimento em outras iniciativas, de forma a resguardar os recursos apli-cados pelos adquirentes das unidades imobiliárias

CAPÍTULO 13: CRÉDITO IMOBILIÁRIO

e o regular andamento do empreendimento afetado. Dentro desse regime, em caso de falência da empre-sa incorporadora, a Comissão de Representantes dos adquirentes assumirá a administração do em-preendimento imobiliário e prosseguirá a obra. Cabe ao incorporador optar pelo regime da afetação, por intermédio do “termo de afetação”, que deverá ser averbado no Registro de Imóveis.

Por outro lado, a Regra do Incontroverso estabelece que nas ações judiciais que tenham causa de pedir relacionada a obrigação decorrente de empréstimo, financiamento ou arrendamento mercantil, o autor deverá discriminar na petição inicial, dentre as obri-gações contratuais, aquelas que pretende controver-ter, quantificando o valor incontroverso, sob pena de inépcia, nos termos do artigo 285-B do Código de Processo Civil. O parágrafo primeiro do retrocitado artigo, por seu turno, determina que, o valor incon-troverso deverá continuar sendo pago no tempo e modo contratados. O objetivo dessa norma é fazer com que a parte, durante a tramitação do processo, atenda às disposições que por ela não foram ques-tionadas na petição inicial, em observância à boa-fé contratual (art. 422 do Código Civil). Além de dinamizar o crédito no país, tais instrumen-tos contribuem para viabilizar um fluxo constante de recursos para novas operações. Contudo, ainda podem ser aperfeiçoados, para benefício dos toma-dores de crédito imobiliário.

13.6 FUNDO DE COMPENSAÇÃO DE VARIAÇÕES SALARIAIS (FCVS)

O Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS) foi criado pela Resolução nº 25/1967 para, entre outras atribuições, absorver eventuais saldos devedores residuais, provocados pelo descompas-so entre, por um lado, a periodicidade de aplicação dos índices de correção monetária aos saldos deve-dores e às prestações e, por outro, dos índices de reajuste dos salários, após decorrido o prazo con-tratual do financiamento.

A assunção desses compromissos pelo Poder Público ocorreu ao longo do tempo sem a imprescindível co-bertura de recursos orçamentários. Com isso, o FCVS passou a assumir, desde sua criação, responsabilida-des crescentes, incompatíveis com o seu patrimônio e seu fluxo de caixa, acarretando o acúmulo de dívi-da ao longo do tempo. As sucessivas postergações do pagamento das obrigações do Fundo foram também decisivas para o alcance do nível de desequilíbrio ora existente entre o ativo e o passivo do FCVS.

Diante da absoluta incapacidade financeira do FCVS de honrar as obrigações que assumiu junto às insti-tuições financeiras, a Medida Provisória nº 1.520/1996 estabeleceu a assunção pela União, mediante nova-ção, das dívidas de responsabilidade do Fundo.

Ao assumir as responsabilidades financeiras dos sal-dos devedores, a União propôs a novação da dívida, com pagamento por meio de títulos da dívida pú-blica, o que foi aceito pelas instituições financeiras. Essa opção pela novação remonta à Medida Provi-sória nº 1.520/1996 e foi exercida pela maioria das instituições financeiras credoras do FCVS.

Hoje, os financiamentos imobiliários não mais se uti-lizam da cobertura do FCVS, e sim da alienação fiduci-

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a resolu-ção do problema do Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS) que não onerem indevidamente os financiadores e os mutuários adquirentes de boa-fé. Para a CNF, a resolução

extrajudicial de conflitos ligados a operações de crédito imobiliário passa pela conciliação como forma de garantir aos mutuários e às institui-ções financeiras a realização de seus direitos.

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 161160

ária como forma de garantia do contrato. No entanto, muitos contratos firmados no passado estão sendo encerrados nos dias atuais, fazendo com que os con-flitos sobre a cobertura do FCVS sejam revisitados.

Um dos problemas que ainda pede solução é a questão da cobertura do Fundo para mais de um financiamento. Muitas instituições financeiras que financiaram com co-bertura do Fundo, ao pedir a quitação da dívida, depa-ram-se com a existência de um segundo financiamento em nome do mutuário, que não havia sido comunica-do. O Superior Tribunal de Justiça por meio de Recurso Repetitivo (REsp nº 1.133.769/RN) firmou a orientação de que a cobertura do saldo devedor pelo FCVS é ad-missível aos contratos firmados até 05/12/1990, que constituem a grande massa de contratos com direito ao Fundo. Resta ao Governo adotar administrativa-mente o entendimento do Poder Judiciário.

O Governo tem mostrado interesse em dar solução às questões que envolvem o FCVS. Em dezembro de 2010, foi editada Medida Provisória n° 513/2012, transforma-da na Lei n° 12.409/2011, que autoriza o Fundo a assu-mir, na forma disciplinada em ato do Conselho Curador do Fundo de Compensação de Variações Salariais (CC-FCVS), direitos e obrigações do Seguro Habitacional do Sistema Financeiro da Habitação (SH/SFH), e a oferecer cobertura direta a contratos de financiamento habita-cional averbados na Apólice do SH/SFH.

13.7 CONSÓRCIO IMOBILIÁRIO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a equiparação das regras de consórcio imobiliá-rio às de financiamento imobiliário, não só para imóveis adquiridos, reformados ou construídos no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação, mas também para os imóveis enquadrados no Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo.

O consórcio imobiliário constitui mais uma alterna-tiva de financiamento para compra, construção ou reforma da casa própria a custo financeiro reduzido. A exemplo do financiamento imobiliário, o consórcio também inclui cláusula de alienação fiduciária que permite a redução da taxa de juros embutida na ope-ração. Ademais, permite o uso do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço para amortizar saldo, quitar o total da dívida ou abater até 80% das prestações.

13.8 GARANTIA HIPOTECÁRIA

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que contribuam para um ambiente de negócios saudável ao assegurar a celeridade dos processos, a clareza e a precisão de sentenças judiciais e uma maior segurança jurídica nas relações contratuais de todas as espécies. A CNF entende que as modalidades de cobrança extrajudicial estão devidamente regulamentadas e recepcionadas pelo direito brasileiro. Em casos que envolvem garantias, o Judiciário tem assegurado a defesa do devedor e a observância do devido processo legal.

Discute-se no Supremo Tribunal Federal (STF) a constitucionalidade do Decreto-Lei nº 70/1966, que dispõe sobre a execução extrajudicial de hipotecas e permite o leilão do imóvel por meio de um agente fiduciário credenciado pelo Banco Central.

A dispensa da via judicial e a consequente possibili-dade de um imóvel ir a leilão sem passar pelo crivo do Poder Judiciário têm, desde a publicação do De-creto-Lei, gerado interpretações jurisprudenciais e doutrinárias distintas sobre sua constitucionalidade. Há divergências sobre a recepção ou não da norma pela Constituição Federal de 1988, haja vista a ale-gação de que a execução extrajudicial violaria, entre outros princípios, o do devido processo legal.

CAPÍTULO 13: CRÉDITO IMOBILIÁRIO

No início da década de 1970, os inúmeros questio-namentos judiciais que alegavam a inconstitucio-nalidade desse Decreto-Lei levaram o legislador a elaborar a Lei nº 5.741/1971, que estabeleceu um rito especial, supostamente mais célere, para a exe-cução de dívidas de financiamento no Sistema Fi-nanceiro de Habitação (SFH), ficando assim à opção do credor o procedimento para execução da dívida. Na prática, o procedimento judicial revelou-se mo-roso, dificultando, senão inviabilizando, a efetiva recuperação do crédito.

A alegação de inconstitucionalidade baseou-se na ausência de intervenção do Poder Judiciário no pro-cesso de execução extrajudicial. Porém, em reitera-dos julgamentos, o STF entendeu que em qualquer momento do procedimento está assegurado ao mu-tuário ingressar no Judiciário, seja para questionar os aspectos formais do procedimento em si, seja para discutir outras questões resultantes do financiamen-to. Embora tradicionalmente considerasse o Decreto-

-Lei recepcionado pela Carta Magna, o STF iniciou o julgamento de dois Recursos Extraordinários em que aponta para possível mudança de posicionamento.

A importância da recepção do Decreto-Lei pela Cons-tituição de 1988, além da sua clara aplicação ao SFH, é que existem outros procedimentos análogos de execução extrajudicial que podem ser decretados inconstitucionais caso o Decreto o seja.

Sendo assim, é preocupante a possibilidade de declaração de inconstitucionalidade do Decreto-

-Lei n° 70/1966 uma vez que tal fato poderia reper-cutir em outros procedimentos como a Comissão de Representantes no Patrimônio de Afetação (Lei n° 10.931/2004), a usucapião administrativa (Lei n° 11.977/2009) e, principalmente, na realização da ga-rantia de alienação fiduciária (Lei n° 9.514/1997).

Dos procedimentos citados, para o setor imobiliário, o principal é o da alienação fiduciária. A sua execu-ção na forma extrajudicial se dá de modo semelhan-te ao previsto no Decreto-Lei nº 70/1966, havendo

prévia audiência das partes para apresentação de defesa, com a presença do binômio cientificação e possibilidade de argumentação, em respeito ao prin-cípio constitucional do contraditório. Em qualquer das modalidades extrajudiciais de cobrança, o Judi-ciário tem garantido a defesa do devedor e a obser-vância do devido processo legal, tendo, por diversas vezes, anulado leilões e vendas realizadas em discor-dância com a legislação vigente.

13.9 IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas lastreadas em princípios constitucionais que garantam o equilíbrio das relações entre, por um lado, os direitos dos con-sumidores e, por outro, a viabilidade econômica dos provedores de bens e serviços. Interpretações equivocadas acerca desses princípios podem elevar o risco das operações de financiamento e gerar o encarecimento do crédito em consequên-cia da inevitável elevação das taxas de juros.

A Constituição Federal, no caput do seu art. 6º, garante a todo cidadão o direito social à moradia. Com o in-tuito de fornecer um dos instrumentos legislativos que possibilitem a consecução do referido direito, foi edita-da a Lei nº 8.009/1990, que dispõe sobre a impenhora-bilidade do bem de família. A lei, no entanto, traz sete exceções a essa impenhorabilidade, como é o caso da execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar.

O oferecimento de imóvel como garantia hipotecária tem a faculdade de descaracterizá-lo como bem de família, sujeitando-o à penhora para satisfação da dívida afiançada. Isso também se refere ao instituto da alienação fiduciária, que desde o advento da Lei n° 9.514/1997 passou a ser a principal forma de garantia nos contratos de financiamento do Sistema Financeiro

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da Habitação. Por meio desse instrumento, a pessoa só terá direito à propriedade quando terminar de pagar as prestações do financiamento. Até lá, o imóvel fica em nome da instituição financiadora, o morador só tem direito à posse e, em caso de atraso no pagamento das prestações, o direito permite o penhor do imóvel.

Mas, apesar de consolidadas no ordenamento jurí-dico brasileiro, as exceções à impenhorabilidade do bem de família têm sido alvo de diversas propostas legislativas que visam a extingui-las, o que reduziria o leque de garantias. O mercado financeiro equili-

bra-se pela garantia associada ao cumprimento das obrigações avençadas, em nada contribuindo para o incremento da atividade produtiva uma possível de-soneração das obrigações assumidas pelo devedor.

Além disso, a redução das exceções à impenhorabilida-de dos bens dados em garantia inviabiliza as modalida-des mais usadas nas operações de crédito imobiliário, o que elevaria o risco dessas operações, encarecendo os empréstimos em consequência da inevitável eleva-ção das taxas de juros, diretamente atreladas aos ris-cos de crédito que as operações envolvem.

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14TAXA DE JUROS E MARGENS BANCÁRIAS (SPREAD )

O juro é o preço que paga o tomador pela escassez do crédito, pela cunha fiscal e pelo deficit nas contas fiscais do setor público, entre outros.

No Brasil, a taxa básica de juros é a meta do Siste-ma Especial de Liquidação e de Custódia (taxa Se-lic) estipulada pelo Banco Central (BACEN) em 1979, que dava suporte às operações de mercado aberto com títulos públicos. A meta da taxa Selic é fixada oito vezes por ano pelo Comitê de Política Monetá-ria (COPOM), o órgão decisório da política monetá-ria do Banco Central responsável por estabelecer a meta para a taxa básica de juros e as diretrizes da política monetária.

Em qualquer economia, a taxa básica de juros é composta por uma taxa de juros real ajustada por expectativas inflacionárias e por preferências de li-quidez. A taxa de juros real flutua conforme a oferta e demanda por fundos (por exemplo, um supera-vit comercial aumenta a oferta de fundos e reduz a taxa de juros real). Para fixar a taxa básica de juros, os membros do COPOM consideram algumas variá-

veis, entre elas, as projeções de inflação, o volume de moeda em circulação, a evolução do crédito e a velocidade de crescimento da economia. O setor fi-nanceiro não tem controle sobre nenhuma das vari-áveis consideradas pelo Comitê para fixação da taxa básica de juros.

Independentemente da taxa básica de juros, as ins-tituições financeiras podem aplicar taxas de juros diferentes a pessoas jurídicas, a pessoas físicas ou ao Governo em função de diferentes custos e riscos

– ainda que, para o fornecedor de crédito, a rentabi-lidade dessas operações, eliminados os custos e ris-cos, seja praticamente a mesma.

Um fator determinante da taxa de juros aplicada pe-las instituições financeiras é a escassez de recursos. Um banco só pode emprestar livremente cerca de 20% dos depósitos à vista. O restante é destinado a aplicações cujo rendimento é inferior à taxa de capta-ção do sistema, tais como depósito compulsório em espécie no Banco Central, depósito em títulos, micro-crédito e crédito rural. Não é incomum os depósitos

CAPÍTULO 14: TAXA DE JUROS E MARGENS BANCÁRIAS (SPREAD)

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas para a ampliação do acesso ao crédito e a expansão do volume ofertado, em todas suas modalidades, que tratem das causas fundamentais que respondem pelas elevadas taxas de juros no Brasil, tais como a necessidade de financia-mento do setor público, as expectativas de inflação, o saldo de transações com o exterior e o depósito compulsório.

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compulsórios no BACEN superarem o total de em-préstimos à indústria. Crédito escasso é crédito caro.

Outro limitador importante do volume de crédito ofertado por uma instituição financeira, com impac-to sobre a taxa de juros, é o seu capital, uma vez que acordos internacionais (como as regras de Basileia) e regulamentos brasileiros limitam a alavancagem, isto é, a relação entre o total de créditos concedidos e o capital. Ao realizar operações rentáveis, as ins-tituições financeiras auferem lucros que permitem que elas se capitalizem e assim possam aumentar o volume de crédito, investir em tecnologia e aumen-tar seu poder de competição no mundo globalizado.

14.1 CAPITALIZAÇÃO DE JUROS PARA PRAZOS INFERIORES A UM ANO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a re-gulamentação da capitalização de juros para prazos inferiores a um ano, no entendimento de que capitalização de juros não é sinônimo de anatocismo, ou seja, do duplo encargo de juros sobre uma mesma base, mas, sim, uma prática internacionalmente aceita de atualiza-ção de valores financeiros que acrescenta ou encargos, ou remunerações em diferentes pe-ríodos com base no saldo do período imediata-mente anterior.

Muitas vezes, toma-se equivocadamente como co-brança de juros sobre juros o que na verdade é a in-cidência de juros ou sobre saldo devedor ao qual é somada parcela não paga, ou sobre capital aplicado ao qual foi acrescentado rendimento auferido em período anterior.

A capitalização de juros se aplica a cadernetas de pou-pança, fundos de investimentos em renda fixa, fundos

de previdência, fundos de pensão, Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), títulos de capitalização, títulos de renda fixa privados e todos os títulos da dí-vida pública federal, estadual e municipal, sejam eles com taxas pré ou pós-fixadas, crédito pessoal parce-lado, financiamento de veículos, todas as formas de crediário de lojas, empréstimos para aposentados, fi-nanciamentos e repasses de recursos feitos pelo Ban-co Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), todas as modalidades de financiamentos habitacionais realizados dentro e fora do Sistema Fi-nanceiro de Habitação (SFH) e muitos outros.

As práticas internacionais no mercado financeiro e de capitais, a quase totalidade das operações finan-ceiras realizadas no mundo, bem como todos os es-tudos de viabilidade econômico-financeira são efeti-vados com base no critério de juros compostos, ou capitalização composta. No Brasil, existe questiona-mento legal para uma modalidade de capitalização de juros, comumente referida como anatocismo. O Supremo Tribunal Federal (STF) adotou a Súmula nº 121/1963, cuja redação é a seguinte: “É vedada a ca-pitalização de juros, ainda que expressamente con-vencionada”. É possível que a Súmula nº 121 tenha se inspirado na expressão “É proibido contar juros dos juros”, contida no artigo 4º da Lei de Usura, cujo texto reproduz o já revogado artigo 253 do Código Comercial Brasileiro de 1850. Este, por sua vez, foi di-retamente influenciado pelo artigo 1.154 do Código Civil Francês, de 1804, e pelo artigo 286 do Código Comercial Português, de 1833, os quais não vedam a utilização do critério de juros compostos.

Em outubro de 2009, a publicação de um Manifesto assinado por 32 professores especialistas em mate-mática financeira reacendeu os debates. O Manifesto, intitulado “Declaração em Defesa das Ciências Eco-nômica, Financeira e Jurídica” expressa preocupa-ção com a Súmula n° 121.

A Lei de Usura (Decreto nº 22.626/1933) singulariza a situação dos bancos e remete para legislação específi-

ca - que seria a Lei nº 4.595/1964, que é omissa quanto à questão da capitalização. Solução foi dada pela Me-dida Provisória nº 1.963-22/2000, que tratou, em seu artigo 5°, da capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano nas operações ativas e passivas re-alizadas pelas instituições integrantes do Sistema Fi-nanceiro Nacional. A partir da edição da MP e daquela que a sucedeu, a Medida Provisória nº 2.170/2001, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) muitas vezes recor-reu ao dispositivo para negar provimento a ações que questionassem a prática da capitalização de juros. Em junho de 2012, o STJ pacificou por meio de recur-sos repetitivos, ao julgar o Recurso Especial (REsp) nº 973.827/RS, o entendimento de que “É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano em contratos celebrados após 31 de março de 2000” (quando foi editada a MP nº 1.963-22/2000).

Ocorre que foi ajuizada Ação Direta de Inconstitu-cionalidade (ADI) junto ao STF que questiona a lega-lidade do dispositivo da Medida Provisória n° 2.170-36/2001 (antiga MP nº 1963-22/2000). As decisões de Tribunais Superiores a favor da capitalização para prazos inferiores a um ano se escoram assim em uma Medida Provisória que pode ser revogada pelo Supre-mo Tribunal Federal. Decisão que suspenda os efeitos da MP, com efeito retroativo, terá o condão de revol-ver milhões de contratos, com imprevisível impacto no sistema financeiro e também nas contas públicas.

Também há no Congresso projetos de lei contrários à capitalização por prazo inferior a um ano que, se apro-vados, introduziriam grande insegurança jurídica nas relações das instituições financeiras com seus clientes.

Não se sustenta o argumento de que a extinção da capitalização contribuiria para a redução das taxas de juros. Na eventualidade da extinção da capitali-zação de juros, uma taxa mensal de, por exemplo, 2,00% ao mês — que corresponde a uma taxa anual efetiva de 26,82% — seria convertida em taxa nomi-nal de 2,23% ao mês (a qual, multiplicada linearmen-te por 12, resultaria na mesma taxa anual de 26,8%).

Ademais, os intermediários financeiros aplicam tal mecanismo em suas fontes de captação, de forma que a impossibilidade de aplicação na ponta ativa os levaria a rever suas margens, a fim de se obter re-sultado idêntico ao que se teria com a capitalização.

Corrobora essa visão o fato de que as instituições fi-nanceiras são obrigadas a informar nos contratos fir-mados com os clientes a taxa efetiva e o Custo Efeti-vo Total (CET), parâmetros que nortearão a cobrança de encargos independentemente de capitalização.

Na verdade, a capitalização em prazo inferior a um ano produz impacto financeiro relevante em função do patamar de taxas de juros.

Em países de economia estável, a capitalização men-sal produz efeitos pouco significativos, motivo pelo qual tal tema deixa de ter importância. Mais relevan-te que vedar esse mecanismo, seria a condução da economia a um nível mais estável e com taxas com-patíveis com as de países desenvolvidos.

O STJ, ao analisar o REsp nº 1.333.977/MT, sob o efei-to de recurso repetitivo, pacificou o entendimento de que, nos termos do enunciado 93 da Súmula do STJ, admite-se a pactuação de cláusula que preveja a capitalização mensal dos juros, nos contratos de crédito rural. Ao analisar o Recurso, o STJ fixou a tese de que “A legislação sobre cédulas de crédito rural admite o pacto de capitalização de juros em perio-dicidade inferior à semestral”, que deverá ser segui-da pelos demais Tribunais. No início de fevereiro de 2015, o STF, ao analisar o Recurso Extraordinário (RE) nº 592.377, entendeu pela constitucionalidade da MP nº 2.170/2001, concluindo que o diploma norma-tivo cumpriu as exigências de urgência e relevância para a sua edição, o que, provavelmente, ensejará a improcedência da ADI proposta sobre o tema.

CAPÍTULO 14: TAXA DE JUROS E MARGENS BANCÁRIAS (SPREAD)

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14.2 TABELA PRICE

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para ma-nutenção do uso da Tabela Price, no entendi-mento de que esse sistema de amortização de empréstimos não caracteriza anatocismo, ou seja, duplo encargo de juros sobre uma mesma base, mas, sim, uma prática internacionalmen-te aceita de atualização de valores financeiros que acrescenta ora encargos, ora remunera-ções em diferentes períodos com base no saldo do período imediatamente anterior.

A intermediação realizada pelas instituições finan-ceiras entre o conjunto de depositantes e investido-res, de um lado, e o de tomadores de recursos, de outro, tem por objetivo promover a alocação e a dis-tribuição ótima de recursos. Essa atividade requer mecanismos que se mostrem tecnicamente aptos a proporcionar a manutenção – tão exata quanto possível – do necessário casamento entre os ativos e passivos envolvidos.

Nessa perspectiva, é da natureza das operações bancá-rias a adoção de mecanismos reguladores desse equilí-brio, entre os quais se inclui, com destaque pela nature-za técnica de que se reveste, a Tabela Price. Trata-se de um dos principais métodos para cálculo de prestações de dívidas de longo prazo, caracterizado por buscar: (i) o equilíbrio entre ativos e passivos do agente financei-ro e (ii) a uniformidade nas prestações, garantindo ao tomador do empréstimo a previsibilidade necessária à assunção das suas obrigações de pagamento.

A Tabela Price é um sistema de amortização que re-sulta em um número de prestações de igual valor, compostas de parcelas variáveis de amortização do capital e de juros que remuneram a dívida. Nesse sis-tema, o valor das prestações só se altera se ocorrer re-pactuação ou de saldo devedor, ou de taxas de juros, ou de tempo de maturação do contrato.

A discussão judicial sobre a legalidade da Tabela Pri-ce diz respeito, na essência, ao suposto anatocismo nela embutida, que não se confunde com a capitali-zação de juros adotada internacionalmente em várias aplicações periódicas de recursos, como cadernetas de poupança, fundos de investimentos em renda fixa, fundos de previdência e outros.

No caso da Tabela Price, em cada prestação a parcela de amortização é abatida do saldo devedor e os juros são calculados sobre o valor remanescente da dívida. No período subsequente, nova parcela de amorti-zação reduz o saldo devedor, sobre o qual voltam a incidir os juros. Ao final do prazo, a dívida estará in-tegralmente resgatada e os juros terão sido sistema-ticamente calculados sobre o saldo remanescente

– jamais sobre juros de períodos anteriores. Isto é, os juros são mensal e diretamente pagos ao credor, não sendo nunca acrescidos ao saldo devedor. Este, por sua vez, é amortizado a cada pagamento. Prestação e saldo são atualizados pelo mesmo índice. Não há débito de juros no saldo devedor, o que caracterizaria acumulação e, consequentemente, anatocismo.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) firmou, em 2009, o entendimento, baseado na Lei dos Recursos Repe-titivos (Lei n°11.672/2008), de que nos contratos cele-brados no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) é vedada a capitalização de juros em qualquer periodicidade e que a lei regente do SFH não estabele-ce limitação de juros remuneratórios. De acordo com o entendimento daquela Corte, “A capitalização mensal dos juros é possível quando pactuada nos contratos celebrados a partir de 31/3/2000, data de publicação da MP nº 1.963-17, reeditada sob o nº 2.170-36 (Agra-vo Regimental no Recurso Especial nº 1.052.336/MS)”. Portanto, nos contratos posteriores à vigência da MP nº 1.963-17 já não se poderá arguir a ilegalidade da ca-pitalização de juros nos financiamentos contratados com instituições financeiras nacionais.

Ademais, a Lei nº 11.977/2009, introduziu na Lei nº 4.340/1964, a lei básica do SFH, os seguintes arts. 15-A e 15-B:

CAPÍTULO 14: TAXA DE JUROS E MARGENS BANCÁRIAS (SPREAD)

Art. 15-A. É permitida a pactuação de capitalização de juros com periodicidade mensal nas operações realizadas pelas entidades integrantes do Sistema Financeiro da Habitação – SFH.Art. 15-B. Nas operações de empréstimo ou finan-ciamento realizadas por instituições integrantes do Sistema Financeiro da Habitação que prevejam pagamentos por meio de prestações periódicas, os sistemas de amortização do saldo devedor poderão ser livremente pactuados entre as partes. ...§ 3° Nas operações de empréstimo ou financiamento de que dispõe o caput é obrigatório o oferecimento ao mutuário do Sistema de Amortização Constante

- SAC e de, no mínimo, outro sistema de amortização que atenda o disposto nos §§ 1° e 2°, entre eles o Sis-tema de Amortização Crescente – SACRE – e o Siste-ma Francês de Amortização (Tabela Price).

Nesse sentido, se a legislação vigente admite a capitali-zação de juros e se a Justiça já decidiu que ela é permi-tida desde 31 de março de 2000, não faz sentido banir a Tabela Price sob o argumento de que a capitalização de juros é imprópria no mundo jurídico brasileiro.

O STJ analisou o REsp nº 1.124.552/RS, em que se discutia se o uso da Tabela Price para o cálculo de juros em contratos caracteriza ou não capitalização. A decisão da Corte Especial, que é o colegiado que reúne os ministros mais antigos do tribunal, respon-sável por definir a interpretação sobre a legislação federal, foi no sentido de que não cabe ao STJ aferir se há ou não capitalização de juros na utilização da Tabela Price, devendo essa aferição ser analisada no caso concreto com perícia.

14.3 TABELAMENTO DE JUROS

A percepção equivocada de que as instituições finan-ceiras auferem maiores lucros quanto mais altas as taxas de juros deriva da experiência de indivíduos e de empresas como aplicadores de recursos. Uma pes-soa física ou jurídica que aplica seus recursos em ren-da fixa terá maior retorno quanto mais altas as taxas de juros. A esse retorno para o aplicador corresponde um custo para o tomador de poupança – que no caso da renda fixa pode ser o Poder Público, emitente de títulos que lastreiam fundos de investimento. Ocorre que as instituições financeiras não são apenas aplica-doras de recursos, tampouco apenas tomadoras da poupança de terceiros, mas, sim, as intermediárias entre esses dois agentes. Para o intermediário, a taxa de juros é, em princípio, neutra.

Na realidade, essa neutralidade é relativa. Os bancos não têm interesse na manutenção de elevados cus-tos para o tomador final. Ao contrário. Taxas elevadas para o tomador de crédito não só aumentam o risco de inadimplência, mas também desestimulam a ati-vidade econômica, com reflexos negativos sobre os resultados da intermediação financeira. Os resultados dos bancos derivam tanto do repagamento de em-préstimos quanto de uma economia sólida, em cres-cimento sustentado. Juros altos beneficiam o capital dos bancos e remuneram aplicações que as institui-ções fazem por conta própria. Esses rendimentos, po-rém, não são a principal fonte de seus resultados (ver Seção 6.5 – Lucro e rentabilidade bancária).

constitucionais da liberdade da atividade eco-nômica e da isonomia, que tratem das causas fundamentais que respondem pelas elevadas taxas de juros no Brasil, tais como a necessida-de de financiamento do setor público, as expec-tativas de inflação, o saldo de transações com o exterior e o depósito compulsório. Para a CNF, a aplicação de tetos artificiais para taxas de juros introduz distorções na economia, sem sanar es-sas causas fundamentais.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a redução das taxas de juros, assentadas nos princípios

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A despeito do que se pensa, a queda dos juros tende a aumentar o lucro dos bancos, porque atraem mais to-madores de crédito; reduzem a inadimplência e, com ela, as provisões para devedores duvidosos; aumen-tam a escala das operações (com diluição dos custos fixos por um número maior de clientes); e aceleram o giro dos negócios, com recebimento mais rápido da parcela da margem (spread) que corresponde à receita.

14.4 TABELAMENTO DE MARGEM BANCÁRIA (SPREAD)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a redução das margens bancárias (spread) as-sentadas nos princípios constitucionais da liberdade da atividade econômica e da isono-mia, com os quais conflitam os tabelamentos de taxas e a incidência de contribuições adicio-nais. Para a CNF, a agenda para maior redução do spread passa por: (i) desoneração fiscal; (ii) redução da inadimplência e custos associados a ela; (iii) redução do compulsório; e (iv) queda dos custos administrativos, inclusive os asso-ciados à regulação.

A questão da margem bancária (ou spread) não é simples. O spread tem sido apresentado como a sim-ples diferença entre a taxa de captação e a taxa de empréstimo dos bancos. É apontado como abusivo porque os bancos captariam à taxa meta do Siste-ma Especial de Liquidação e de Custódia (taxa Selic), cuja média da taxa real anual foi de 11% em 2014, e emprestariam a taxas médias de 21%, de modo que o spread médio das operações de crédito situa-se em torno de dez pontos percentuais (p.p.). Ademais, as operações de carteira de crédito livre também são penalizadas pela destinação obrigatória da carteira de crédito direcionado. As operações de crédito di-recionado apresentaram em 2014 taxas de juros mé-dias de 7,9% e spread de 2,8p.p., enquanto na car-

teira de crédito livre, a taxa média das operações de crédito foi de 33%, e o spread situou-se em 21,2p.p. Nesse raciocínio, há equívocos tanto conceituais quanto metodológicos.

Há, antes de tudo, alguma confusão entre patamar da taxa básica de juros e spread. Nos dois casos, os bancos são apontados como responsáveis pelas ta-xas de juros elevadas e pelas margens amplas. Porém, o setor financeiro não tem controle sobre nenhuma das variáveis consideradas pelo Comitê de Política Monetária (COPOM), do Banco Central, para fixação da taxa básica de juros.

Já no que toca ao spread, há três equívocos funda-mentais que contaminam a discussão e impedem que as partes interessadas busquem soluções ino-vadoras e eficazes. O primeiro equívoco é o de que os bancos auferem lucros excessivos, obtidos a partir de spreads amplos. O segundo é o de que os spreads praticados no Brasil são absurdamente mais amplos do que os verificados em outros países. O terceiro equívoco é o de que os bancos controlam todas as va-riáveis que determinam o spread e assim procuram manter as margens deliberadamente amplas.

Comparados com outros setores da economia, os bancos, ao contrário do que se acredita, não são os mais rentáveis. Diferentemente de outros setores, as instituições financeiras não podem determinar sua estrutura de capital e, com isso, alterar a rentabili-dade sobre o patrimônio líquido, uma vez que estão sujeitas a limites mínimos de capital em função do Acordo de Basileia. Também ao contrário do que se propaga, os bancos brasileiros não são os mais rentá-veis do mundo. Percebe-se isso intuitivamente pelo fato de que não há notícia de corrida de grandes ban-cos internacionais para o mercado brasileiro (ver Se-ção 6.5 – Lucro e rentabilidade bancária).

O segundo equívoco, o de que os spreads praticados no Brasil são muito mais amplos do que os de outros países, nasce da comparação simplista de dados do Banco Central com dados internacionais. Não é cor-

CAPÍTULO 14: TAXA DE JUROS E MARGENS BANCÁRIAS (SPREAD)

reto tomar-se a amostragem do Banco Central como medida do spread brasileiro para compará-lo com o de outros países, uma vez que o BACEN considera em seus cálculos menos da metade das operações de cré-dito realizadas no Brasil, em volume. Isso é válido tan-to para pessoas físicas quanto para pessoas jurídicas.

Para pessoas físicas, as operações de crédito utiliza-das pelo Banco Central para a mensuração do spread representam 53,1% do total das operações de crédito do segmento. Os cálculos da autoridade monetária consideram apenas cheque especial, crédito pesso-al, aquisição de veículos e aquisição de outros bens. O BACEN não considera segmentos importantes, em alguns dos quais o spread é muito inferior: financia-mento habitacional, cartão de crédito não-financia-do, leasing, cartão de crédito, crédito a cooperativas e outras operações. Para pessoas jurídicas, por sua vez, as operações registradas pelo BACEN corres-pondem a 38,6% do total das operações de crédito. O Banco Central considera apenas desconto de du-plicatas, desconto de notas promissórias, capital de giro, conta garantida, aquisição de bens, “vendor”, adiantamentos sobre contratos de câmbio e repas-ses externos. O Banco Central, na sua estimativa de spread para pessoas jurídicas, não considera emprés-timos do Banco Nacional de Desenvolvimento Eco-nômico e Social (BNDES), repasses do BNDES, crédi-to rural, leasing cartão de crédito não financiado e outras operações. Incluídas as demais operações no cálculo do spread, estima-se uma redução em aproxi-madamente cinco pontos percentuais.

Por fim, o terceiro equívoco, o de que os bancos con-trolam todas as variáveis que determinam o spread, está na raiz da falsa percepção de que o lucro das instituições será tanto maior quanto mais largas fo-rem as margens. Qualquer que seja a margem ban-cária, os bancos têm algum controle sobre apenas um dos fatores que determinam o spread: os custos administrativos. Os bancos não têm controle algum sobre as demais variáveis que compõem o spread bancário. Entre os outros fatores, a inadimplência é o de maior impacto. Também tem grande peso a tribu-

tação sobre a intermediação financeira, quesito em que o Brasil é uma exceção no cenário internacional. Impostos sobre intermediação financeira, diretos e indiretos (IOF, Cofins, PIS, CSLL e IR), respondem por larga parcela do spread. Depósito compulsório junto ao BACEN e créditos de destinação obrigatória repre-sentam outro fator que determina o spread. O Brasil recolhe os maiores depósitos compulsórios do mun-do: 44% sobre depósitos à vista, indo na contramão da política monetária adotada pelos pares na Améri-ca Latina, com recentes cortes do compulsório. Como anomalia, recolhe-se no Brasil depósito compulsório também sobre depósitos a prazo, de 20%. Desde 2011 o Banco Central tem realizado cortes nas taxas de compulsório, entretanto, o país ainda possui um dos maiores montantes no panorama internacional.

Se os bancos não obtivessem nenhum lucro, se a taxa básica da economia (taxa Selic) fosse zero, se os depositantes abdicassem de seus rendimentos e se o crédito fosse perfeito, ainda assim o tomador de empréstimos arcaria com uma taxa de quase 30% ao ano por conta de impostos, contribuições, Fundo Ga-rantidor de Créditos (FGC), compulsório e destinação obrigatória de recursos.

O “Relatório de Estabilidade Financeira” publicado pelo Banco Central em 2014, (disponível no endere-ço eletrônico: http://www.bcb.gov.br/htms/estabili-dade/2014_03/refP.pdf ) informa que, pelas análises realizadas até 2014, a continuidade nos aumentos da taxa Selic constitui o principal fator que pressiona a elevação das margens bancárias (spread). Mesmo assim, o material de apoio que serviu para a prepa-ração do relatório (disponível no endereço eletrôni-co: http://www.bcb.gov.br/?RELESTAB201403 no link

“Base de Dados”, gráfico 2.4.3 informa que a média nos últimos doze meses da rentabilidade das opera-ções de crédito entre bancos públicos e privados era de 14,8% a.a. e o custo de captação era de 7% a.a., ambos menores do que os valores apresentados no ano anterior, de 16,27% e 7,36%.

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 173172

14.5 LIMITAÇÃO DOS JUROS COBRADOS SOBRE CHEQUE ESPECIAL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a redução das taxas de juros de todas as moda-lidades de financiamento, inclusive do cheque especial, centradas na redução da assimetria de informação que prevalece em operações de crédito que não contam com garantia. Para a CNF, a imposição de limites, em violação ao princípio constitucional da liberdade da ativi-dade econômica, induz à contração do volume de crédito disponível em dada modalidade.

A oferta de cestas de produtos variados, que aten-dam a diferentes necessidades dos clientes, é um dos elementos essenciais para que o mercado satis-faça com eficiência toda a sorte de demandas, evite a queda do consumo e contribua para o crescimento econômico. O cheque especial é parte dessa cesta.

O cheque especial é uma operação de crédito emer-gencial que não conta com qualquer tipo de garantia. As taxas de juros que incidem sobre essa modalida-de são mais elevadas porque se caracteriza uma si-tuação típica de assimetria de informação, na qual o devedor conhece sua situação financeira, mas dela não dá a conhecer ao credor. Ademais, os bancos de-vem manter recursos ociosos disponíveis para saque, o que encarece a operação.

A inadimplência responde por cerca de 33% da mar-gem bancária (spread). Na categoria do cheque es-pecial a inadimplência é ainda maior que em outras modalidades. A média da inadimplência em 2014 para a categoria foi de 9,4%, ficando atrás apenas das categorias cartão de crédito (24,6%) e arrendamento mercantil para veículos (11%). Em carteiras de crédito com alta inadimplência, os custos operacionais e as perdas são distribuídos pelos clientes adimplentes, que, por essa razão, arcam com taxas mais elevadas.

Não faz sentido para o tomador utilizar o limite de cheque especial para, por exemplo, comprar bens de consumo duráveis. Para esse tipo de operação ele pode recorrer ao crédito direto ao consumidor ou ao arrendamento mercantil (leasing) a taxas mais reduzidas. Assim, o uso correto do cheque especial também depende do conhecimento dos produtos e serviços financeiros, isto é, de educação financeira.

14.6 DEPÓSITO COMPULSÓRIO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a re-dução dos níveis de recolhimento de depósitos compulsórios, bem como para a flexibilização do emprego e da liberação desses depósitos na ocorrência de oscilações acentuadas de li-quidez que possam representar risco sistêmico para os fornecedores de crédito.

A crise financeira internacional de 2008 ilustrou a importância do recolhimento de depósitos compul-sórios no Banco Central (BACEN). Na pior fase da crise, a liberação de parcelas do compulsório para compra, pelos bancos de maior porte, de carteiras de empréstimos foi essencial para injetar liquidez na economia e resguardar a saúde financeira das insti-tuições de menor porte, evitando-se assim uma crise sistêmica. Contudo, esse não é o papel primordial do recolhimento de depósitos compulsórios.

Como instrumento de política econômica, o reco-lhimento de depósito compulsório presta-se, sobre-tudo, à execução da política monetária. O depósito compulsório destina-se a reduzir o multiplicador bancário, reduzindo a base monetária, a partir da desaceleração da criação de moeda decorrente dos encaixes fracionários. Assim, atua com o mesmo efeito que teria uma elevação das taxas de juros sem, entretanto, onerar os agentes tomadores de crédito.

A manutenção de níveis elevados de depósitos com-pulsórios representa uma restrição à expansão das carteiras creditícias, uma vez que as instituições financeiras, em virtude dos riscos intrínsecos à sua atividade, necessitam manter uma reserva de liqui-dez sob a forma de títulos livres. Quanto menor essa reserva, maior o risco de liquidez e menor a possibili-dade de alocação de recursos às operações de crédi-to. A liberação dos depósitos compulsórios propicia a expansão do crédito.

O recolhimento de compulsório assemelha-se à im-posição de um tributo porque a remuneração dos depósitos pelo Banco Central é feita, em alguns ca-sos e para a maioria dos bancos, a taxas inferiores às praticadas no mercado, o que transfere para a autoridade monetária a diferença entre essa remu-neração e a taxa de aplicação dos bancos. O compul-sório dos depósitos de poupança, que representam 29% do saldo total recolhido, por exemplo, são re-munerados pela mesma regra que as aplicações na caderneta. Em 2014, portanto, sendo a Selic maior que 8,5%, a remuneração dessas reservas foi de Taxa Referencial (TR) mais 6,17%, correção inferior à mé-

dia da taxa de inflação, de 6,39%. Os recursos à vista, que representam 21% do total, não são remunera-dos. No início de 2015, o montante de recursos depo-sitados na reserva do compulsório não direcionado chegou a R$484 bilhões.

A manutenção de elevados níveis de compulsório aumenta as margens bancárias (spread), diminui a oferta de crédito e pressiona a taxa de juros básica real, com impacto negativo sobre o crescimento eco-nômico. O Brasil recolhe os maiores depósitos com-pulsórios do mundo: 45% sobre depósitos à vista, indo na contramão da política monetária adotada pelos pares na América Latina, com recentes cortes do compulsório. Como anomalia, recolhe-se no Bra-sil depósito compulsório também sobre depósitos a prazo e depósitos de poupança, de 20%, exigibilida-de adicional e garantias realizadas. Portanto, medi-das que flexibilizem o cumprimento do compulsório em operações de crédito ou possibilitam a liberação seletiva de recursos são positivas, tanto por confe-rirem maior liquidez à economia, como por reduzir o custo de oportunidade das instituições em mante-rem essas reservas.

CAPÍTULO 14: TAXA DE JUROS E MARGENS BANCÁRIAS (SPREAD)

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175

15FINANCIAMENTO DE LONGO PRAZO

A consolidação da estabilidade econômica no Brasil lançou luz sobre a importância crescente de recursos e de instrumentos de financiamento de longo prazo. Para a economia brasileira sustentar crescimento econômico de 5% ao ano, serão necessários recursos de poupança que elevem investimentos (formação bruta de capital fixo) a um patamar superior a 22% do Produto Interno Bruto (PIB). Tais investimentos deverão ser dirigidos, sobretudo, a obras de infraes-trutura que solucionem os gargalos que impedem ganhos de produtividade de todos os setores da eco-nomia. São obras de longa duração, às quais corres-pondem financiamentos de longa maturação.

Hoje, financiamentos de longo prazo estão prati-camente restritos às linhas de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que conta com empréstimos do Tesouro Nacional, com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e com o repagamento de opera-ções de longo prazo vincendas, entre outros. Ne-nhuma outra instituição financeira tem acesso a fundos dessa natureza.

Há ainda outros instrumentos hoje disponíveis para captação pelas instituições financeiras no mercado interno, como, por exemplo, os CDBs subordinados (Resolução do CMN nº 3.444/2007), as operações com-promissadas (Resolução do CMN nº 3.339/2006), as Letras de Crédito do Agronegócio (Lei nº 11.076/2004), as Cédulas de Debêntures (Lei nº 6.404/1976, art. 72), com limitações semelhantes às dos CDBs, inclusive por um mercado secundário restrito, e Letras Imobili-árias Garantidas (LIGs).

O mercado financeiro internacional dispõe de diver-sos instrumentos de captação já utilizados atualmen-te pelos bancos brasileiros. As instituições nacionais têm facilidade em emitir esses ativos no exterior (bonds). Em geral, esse é um mercado com bom nível de liquidez e com preços formados em diversos am-bientes de informação e negociação.

Hoje, cerca de 19% da dívida pública federal ainda é remunerada pela meta do Sistema Especial de Liqui-dação e de Custódia (taxa Selic), bem como em tor-no de 89% da dívida privada está representada por

CAPÍTULO 15: FINANCIAMENTO DE LONGO PRAZO

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas de criação de instrumentos de captação de recursos de longo prazo, ao mesmo tempo em que sublinha a importância da criação concomitante de mercado secundário líquido para esses instrumentos, no entendimento de que as operações dar-se-ão por livre negociação, no âmbito de um arcabouço legal que ofereça segurança jurídica.

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 177176

ativos atrelados ao Depósito Interfinanceiro (DI). A cultura de curto prazo dos agentes econômicos do-mésticos funciona como um desincentivo à amplia-ção da maturidade dos títulos emitidos. Essa questão de vital importância - e que precisa ser debatida de forma ordenada entre emissores, intermediários, in-vestidores e gestores de portfólio – está ligada à exis-tência de diversos ativos e operações que combinam liquidez e relação risco/retorno em condições extre-mamente desfavoráveis ao alongamento dos prazos.

Outro aspecto a ser considerado nessa discussão diz respeito às regras de tributação aplicáveis aos títulos e valores mobiliários de renda fixa, que tam-pouco contribuem para o incentivo ao mercado se-cundário de títulos.

A oferta de financiamento de longo prazo no Brasil passa pela criação de instrumentos de captação de longa maturação, de um mercado secundário com ampla liquidez e pela construção de um arcabouço que confira garantia jurídica às operações. Nesse ce-nário, os investidores institucionais – fundos de pen-são, seguradoras e fundos de investimento, por exem-plo – adquirem especial importância como agentes e o mercado de capitais torna-se crítico como o local em que as operações vão se realizar.

O Ministério da Fazenda anunciou em 2013 a possi-bilidade de fundação de um sindicato de bancos que teria a função de criar um fundo com recursos de ins-tituições financeiras públicas e privadas para finan-ciamento de concessões de rodovias. De acordo com o Governo, essas concessões envolverão investimen-tos de R$50 bilhões. Em 2014, O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Ban-co do Brasil e Caixa Econômica assinaram uma carta onde se comprometeram a financiar até 70% do total dos investimentos, em operações que terão prazo de 25 anos, dos quais cinco anos serão de carência, e taxa em torno de 7% ao ano, Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) mais 2%. Na mesma carta foi oferecida remuneração especial para os bancos privados parti-ciparem do investimento.

15.1 LETRAS FINANCEIRAS IMOBILIÁRIAS E COVERED BONDS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a criação de instrumentos financeiros inovado-res que permitam aos agentes do crédito imo-biliário captar recursos de longo prazo a taxas reduzidas para financiar o acesso de número cada vez maior de brasileiros ao mercado de imóveis. A criação da Letra Imobiliária Garanti-da ampliará o leque de instrumentos financei-ros inovadores.

Criada em 2014 por meio da Medida Provisória (MP) n° 656, que foi convertida na Lei nº 13.097/2015, a Le-tra Imobiliária Garantida (LIG) é lastreada no patri-mônio da própria instituição financeira, porém, dife-rentemente de uma Letra de Crédito Imobiliário (LCI, em que o ativo fica dentro do patrimônio da institui-ção), a LIG fica apartada dos ativos, mas a instituição financeira continua responsável pelo papel. A LIG é um título executivo extrajudicial, a instituição emis-sora deve instituir regime fiduciário sobre a Carteira de Ativos LIG, que será instituído mediante registro em entidade qualificada como depositário central de ativos financeiros, e deve conter a constituição de patrimônio de afetação, a afetação dos ativos e a nomeação do agente fiduciário.

Ao instituir a LIG, o texto da MP submeteu-a ao regi-me fiduciário, por força do qual o mercado investi-dor é protegido contra os riscos do patrimônio geral da instituição emissora. Essa proteção patrimonial tem como precedente legislativo o regime fiduciá-rio instituído pelos arts. 9º a 16 da Lei nº 9.514/1997 para proteção dos créditos que lastreiam a emissão de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI). De acordo com o art. 11 dessa lei, “Os créditos objeto do regime fiduciário: I - constituem patrimônio separa-do, que não se confunde com o da companhia secu-ritizadora; II manter-se-ão apartados do patrimônio

CAPÍTULO 15: FINANCIAMENTO DE LONGO PRAZO

da companhia securitizadora até que se complete o resgate de todos os títulos da série a que estejam afetados.” Incumbe à securitizadora manter regis-tros contábeis independentes em relação a cada patrimônio de afetação e publicar as respectivas de-monstrações financeiras (art. 12).

As garantias da LIG estão baseadas na carteira de ativos submetida ao regime fiduciário e a instituição emissora responde pelo adimplemento de todas as obrigações decorrentes da LIG, independentemente da suficiência da carteira de ativos. Desse modo, tan-to a LIG e os ativos que lastreiam sua emissão quanto o CRI e os créditos imobiliários que o lastreiam são blindados contra os riscos do patrimônio geral da instituição emissora. São destinados por força de lei, exclusivamente ao resgate dos títulos e ao pagamen-to das obrigações a eles vinculadas, que integram o passivo do patrimônio separado. No entanto, algum avanço seria desejável: que também os contratos ce-lebrados no mercado de balcão fossem elegíveis para compor a Carteira de Ativos da LIG, atribuindo-se ao Conselho Monetário Nacional (CMN) a competência para regulamentar a utilização desses contratos.

A LIG deverá trazer maior segurança jurídica aos fi-nanciamentos de longo prazo, redução dos custos financeiros na aquisição de imóveis, além de atrair investidores estrangeiros, uma vez que a LIG possui padrão internacional e cria um recurso adicional para o mercado de crédito imobiliário.

15.2 PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS (PPP)

O instituto das Parcerias Público-Privadas, ou PPPs, foi introduzido no Brasil pela Lei nº 11.079/2004, que estabeleceu normas gerais para licitação e contra-tação no âmbito da administração pública. Trata-se de contrato administrativo de concessão, com duas modalidades: a concessão patrocinada, na qual se acrescenta à tarifa cobrada dos usuários uma con-traprestação pecuniária do parceiro público ao par-ceiro privado; e a concessão administrativa, na qual o parceiro privado presta serviços de que a Adminis-tração Pública seja usuária direta ou indireta, ainda que envolva execução de obra ou fornecimento e instalação de bens.

A regulamentação das PPPs passa por temas con-troversos, tais como os procedimentos licitatórios; a origem dos recursos públicos destinados ao Fundo Garantidor das Parcerias Público-Privadas (artigo 16 da Lei nº 11.079/2004); a precedência de liquidação das obrigações financeiras decorrentes das PPPs; o papel das Sociedades de Propósito Específico (SPE) no empreendimento; as limitações impostas pela Lei de Responsabilidade Fiscal; e a possibilidade de se adotar a arbitragem como mecanismo de solução de controvérsias das parcerias público-privadas.

Três razões justificam o fortalecimento de PPPs no Brasil: (i) a necessidade de aumentar o montante de investimentos; (ii) o fato de o Estado contar com res-trições fiscais para elevar sua participação em investi-mentos; (iii) acréscimo de eficiência por meio da par-ticipação de agentes privados em serviços essenciais ao desenvolvimento nacional, para melhoria da pres-tação dos serviços, inovação tecnológica e de gestão, bem como transparência na execução de projetos.

A Lei nº 12.766/2012 introduziu importantes altera-ções: (i) ampliou definitivamente o limite percentu-al de comprometimento da receita corrente líquida

do financiamento e da gestão de projetos e de serviços de interesse da população.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que busquem dar efeti-vidade à legislação que trata das parcerias pú-blico-privadas de maneira a incentivar a adesão voluntária de entes privados ao compartilha-mento de riscos com o Poder Público, por meio

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 179178

dos Estados, Distrito Federal e Municípios com des-pesas em contratos de PPP (para efeito de concessão de garantias e realização de transferências voluntá-rias pela União); (ii) permitiu aportes do ente públi-co contratante para o parceiro privado ainda que durante a fase de investimentos, diminuindo riscos e tornando o contrato de PPP mais seguro e atrati-vo, prevendo a possibilidade de aplicação de um re-gime tributário diferenciado para essa situação; (iii) reduziu o prazo mínimo em que o parceiro privado poderá acionar o fundo garantidor da PPP, de modo a ampliar a liquidez da garantia; (iv) tratou do nível de detalhamento dos estudos de engenharia para PPP; (v) aprimorou as disposições relativas ao Fundo Garantidor das PPPs (FGP); e (vi) permitiu o recolhi-mento diferido de PIS, Cofins, IR e CSLL incidentes sobre os aportes de recursos do parceiro público re-lativos à construção ou aquisição de bens reversíveis.

A Lei nº 12.409/2011 promoveu importante altera-ção na Lei nº 11.079/2004. Com a nova redação do artigo 18, o estatuto e o regulamento do FGP devem deliberar sobre a política de concessão de garantias, inclusive no que se refere à relação entre ativos e passivos do Fundo.

Existem iniciativas de aperfeiçoamento institucional que visam a facilitação de Propostas de Manifesta-ção de Interesse (PMI), mecanismo por meio do qual podem ser viabilizados estudos ou levantamentos que sirvam para modelagem de projetos de PPPs por agentes privados.

15.3 PRIVATIZAÇÃO

Apesar das frequentes críticas ao processo de privati-zação ocorrido no Brasil, é verificável a eficiência que introduziram em diversas atividades econômicas, seja em termos de produtividade, de maior geração de empregos, de maior retorno aos acionistas, seja pela oferta de mais e melhores produtos e serviços, seja ainda em termos de aumento de arrecadação de tributos. Na maioria dos casos, todas as partes envolvidas ganharam com os processos de privati-zação – trabalhadores, acionistas, consumidores e o Fisco. Contribuíram para ganho de competitividade do país e para o desenvolvimento de outros setores diretamente ou não ligados àqueles que passaram pelo processo de privatização.

É falsa a percepção de que as privatizações consisti-ram em meras vendas de ativos públicos para gerar recursos destinados ao custeio de gastos correntes – a troca de patrimônio pelo simples pagamento de fa-turas vincendas. Também é falsa a percepção de que consistiram na troca de benefícios que eram gerados para toda a sociedade por lucros canalizados exclu-sivamente para grupos privados. Na verdade, muitas das companhias privatizadas, por serem deficitárias, absorviam recursos públicos que hoje têm melhor destinação e oferecem maior retorno social na forma de saúde, educação e segurança pública, por exem-plo. Privatizadas, tais companhias não só deixaram de drenar esses recursos, como também passaram a contribuir com tributos – diretamente – e a estimular outras atividades que também passaram a arrecadar mais tributos – indiretamente. O preço de venda das companhias foi estabelecido de maneira rigorosamen-te técnica para refletir o valor presente dos fluxos de caixa projetados para elas, associado a ativos intangí-veis, tais como fundos de comércio e valor das marcas.

zação patrimonial das empresas e serviços pú-blicos privatizados, para a geração de empre-gos, para oferta de mais e melhores produtos e serviços, para ganhos de produtividade e para maior arrecadação de tributos.

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a pri-vatização de companhias estatais e de serviços públicos que, conduzidas em processos transpa-rentes, estabeleçam preços de venda a partir de critérios verificáveis e rigorosamente técnicos. Do mesmo modo, devem contribuir para valori-

CAPÍTULO 15: FINANCIAMENTO DE LONGO PRAZO

O sucesso do programa brasileiro de participação privada em infraestrutura, por exemplo, criou em 2004 o cenário para um importante passo: a sanção da Lei de Parcerias Público-Privadas (PPPs).

Em 2007, o programa de concessões de serviços de infraestrutura à iniciativa privada demonstrou uma mudança cultural e o abandono de uma posição ideológica, em favor do aumento de eficiência da gestão das infraestruturas e de novos investimentos.

O Governo Lula privatizou, por exemplo, cerca de 2,6 mil quilômetros de rodovias federais, que foram a leilão em 9 de outubro de 2007, e realizou a con-cessão por trinta anos de 720 quilômetros da Fer-rovia Norte-Sul para a Vale do Rio Doce pelo valor de R$1,4 bilhão. Na mesma época foram também privatizados o Banco do Estado do Ceará, o Banco do Estado do Maranhão, o Banco do Estado do Piauí, o Banco do Estado de Santa Catarina, a Hidrelétri-ca Santo Antônio, a Hidrelétrica Jirau e a Linha de transmissão Porto Velho (RO) – Araraquara (SP). Pri-vatizações ocorreram também no âmbito de Esta-dos da Federação, inclusive na forma de PPPs.

Em agosto de 2012, a Presidência da República anunciou pacote de concessões no total de R$370 bilhões. Em 2013, segundo o Governo Federal, fo-ram contratados investimentos de R$80,3 bilhões pelos próximos 35 anos em concessões de rodovias, aeroportos, terminais portuários de uso privado, in-clusive exploração de blocos de petróleo e gás natu-ral, e da geração e transmissão de energia elétrica. Considerando a limitação da capacidade de endivi-damento de agentes do setor de infraestrutura, em razão de operações de financiamento anteriores

com garantias corporativas, a viabilidade de gran-de parte dessas concessões ocorreu em razão da estruturação do Project Finance Non Recourse, mo-dalidade de financiamento que tem como principal garantia as receitas futuras dos projetos.

Para o ano de 2014, o Governo Federal espera con-tinuar a execução do Programa de Investimento em Logística (PIL), que prevê contratações de obras de infraestrutura no país no valor de R$253 bilhões em 30 anos. Estão previstas as concessões de ferrovias, destaque para os trechos entre Lucas do Rio Verde (MT) e Uruaçu (GO) e entre Estrela D’Oeste (SP) e Dourados (MS).

Sobretudo em razão do restrito espaço fiscal para investimentos diretos pelo Governo, é imprescin-dível a ampliação da participação privada na reali-zação dos investimentos, inclusive do mercado de capitais no financiamento de longo prazo. Entretan-to, o sucesso dos leilões previstos e da iniciativa de envolver o capital privado no financiamento desses projetos depende de segurança jurídica e de uma clara distribuição de riscos entre os setores público, privado e os agentes financiadores.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estima que sejam destinados aos in-vestimentos em infraestrutura R$4,1 trilhões no pe-ríodo de 2015 a 2018, impulsionados principalmente por meio do PIL, cujos recursos devem superar R$209 bilhões no período. Esse montante representa um aumento real de 17,1% em relação aos investimen-tos previstos para o período de 2010 a 2013, e caso sejam efetivados, o setor de infraestrutura passará a representar 2,6% do Produto Interno Bruno (PIB).

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16QUESTÕES TRIBUTÁRIAS

No Brasil, há que se aperfeiçoar a tributação de modo a estimular a racionalidade e a competitivida-de, com respeito à isonomia. O país contém uma das maiores cargas tributárias do mundo, e em relação à América Latina, ocupa a segunda posição do ranking, cuja carga corresponde a 36,3% do PIB (Revenue Sta-tistics Latin America 2014). Após a instauração do sis-tema fiscal federativo, o sistema tributário tornou-se ainda mais complexo, por causa da variedade de tributos, inclusive com incidência sobre o mesmo fato gerador, da imposição de obrigações acessórias excessivas sobre os contribuintes (e responsáveis tributários) e das mudanças frequentes de regras e normas. Além da alta carga tributária, o Brasil caiu da 159ª para a 177ª posição no quesito “facilidade de apuração de tributos” (Doing Business 2014).

Quanto à racionalidade, o sistema tributário brasi-leiro dá margem a insegurança jurídica, por causa da variedade de tributos, da imposição de inúmeras obrigações acessórias sobre os contribuintes (e res-ponsáveis tributários), bem como das mudanças fre-quentes de regras e normas. Um sistema tributário

complexo demanda a criação de onerosas estruturas burocráticas nas empresas, que se refletem no custo e nos preços dos bens e serviços prestados à população.

Quanto à competitividade, por sua vez, o sistema tributário brasileiro onera excessivamente os investi-mentos, as exportações e a intermediação financeira. O Brasil é dos poucos países que tributam bens de capital e ativos fixos, o que desestimula investidores. Também as exportações brasileiras, na contramão da prática internacional, incorporam tributos que preju-dicam sua competitividade no exterior. Um sistema tributário complexo, com marcadas diferenças em relação aos de outros países, dificulta ainda mais as operações internacionais das empresas brasileiras.

A esses problemas acrescenta-se a tributação em cascata, que muitas vezes implica dupla tributação incidente sobre um mesmo bem ou serviço. Um exemplo dessa distorção é a tributação sobre a in-termediação financeira. Não se encontra exemplo internacional de país que arrecade Imposto sobre a Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ), Contribuição

CAPÍTULO 16: QUESTÕES TRIBUTÁRIAS

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas para a simplificação da tributação, o respeito à isonomia e a desoneração fiscal que contribuam para a racionalidade do sistema tributário, para o aumento da competitividade das empresas e para a eliminação de tributação em cascata, sobretudo a que incide sobre a intermediação financeira.

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 183182

Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) - maior do que a que incide sobre outros setores da economia -, Con-tribuição para o Programa de Integração Social (PIS), Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários (IOF) e, em alguns casos, Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) sobre opera-ções financeiras. Essa cascata de impostos reflete-

-se numa maior margem bancária (spread), à qual corresponde maior custo para o tomador de crédito. Com um custo maior, o tomador apura resultados menores e, em consequência, recolhe menos tribu-tos sobre esses resultados. Além da complexidade operacional do recolhimento dessa profusão de tri-butos, sobressai-se o encarecimento de crédito em um país que, cada vez mais, precisa de recursos para financiamento de projetos que gerem empregos e produzam riquezas.

A CNF entende que o tratamento jurídico tributá-rio de pessoas físicas e jurídicas que se encontrem na mesma situação deve observar a isonomia em todas as relações, bem como que a simplificação no cumprimento das obrigações tributárias é uma meta a ser buscada.

16.1 CÓDIGO DE DEFESA DO CONTRIBUINTE

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia a criação de um código com regras específicas para a defesa do contribuin-te, que assegure tributação livre de qualquer arbitrariedade e garanta a todos o princípio da segurança jurídica, ao dar ao contribuinte condições de conhecer seus direitos tributários, que devem decorrer de Lei igual para todos.

O contribuinte brasileiro está sujeito a quase uma centena de diferentes tipos de tributos. A legislação

que rege esses tributos estabelece parâmetros bási-cos de taxação (como fato gerador, alíquota e base de cálculo), mas também destaca direitos do con-tribuinte. Nesse cenário, há mérito em propostas que busquem enfeixar, numa única lei, todos esses direitos que hoje se encontram dispersos por vários dispositivos legais. Essa única lei, ao atender dois aspectos fundamentais – os direitos do contribuinte e a busca da justiça fiscal – trataria de normas ge-rais sobre direitos e garantias aplicáveis na relação tributária do contribuinte com a administração fa-zendária da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

A experiência internacional caminha nessa direção. Há hoje tratados internacionais sobre os direitos básicos do contribuinte, bem como leis nacionais (como a “Taxpayer Bill of Rights II” dos Estados Uni-dos da América, de 1996, e a “Ley de Derechos y Ga-rantias de los Contribuyentes” da Espanha, de 1998).

Um código dessa natureza consolidaria direitos do contribuinte, tais como: formular alegações e apre-sentar documentos antes do julgamento adminis-trativo; fazer-se assistir por advogado; receber com-provantes de material entregue ou apreendido pela fiscalização fazendária; ser informado de prazos para pagamento de prestações, inclusive multas e acessórios; receber resposta fundamentada a pleito administrativo que haja formulado, em prazo cer-to; ter ciência formal da tramitação dos processos administrativo-tributários cuja decisão possa, de qualquer forma, atingi-lo pessoal ou patrimonial-mente por efeito direto ou indireto, assegurando-se vista dos autos, obtenção das memórias de cálculo e cópias que requeira; conhecer formalmente as de-cisões nelas proferidas; ter unificados os prazos re-cursais no âmbito do processo administrativo fiscal; e ter acesso a todas as fases de julgamento adminis-trativo, especialmente em primeira instância.

16.2 REFORMA DO PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas a instituir nor-mas gerais sobre o processo administrativo fis-cal no âmbito das administrações tributárias da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-nicípios, visando a disciplinar a garantia consti-tucional do contraditório e da ampla defesa.

O processo administrativo fiscal é um instrumento que o Direito Tributário assegura ao contribuinte para que ele se defenda de eventual excesso de exa-ção contido no lançamento. Sua função de aperfeiço-ar o lançamento é reconhecida na Súmula Vinculante nº 24, do Supremo Tribunal Federal, que não admite a tipificação de crime material contra a ordem tribu-tária antes do lançamento definitivo do tributo. O lançamento só é definitivo quando não mais couber recurso no âmbito do processo administrativo fiscal.

Não há dúvidas quanto à importância de se suprir lacuna hoje existente, que leva cada ente federado, isoladamente, com base no arts. 24, § 3º, ou no art. 30, II, da Constituição Federal, a fazer uso da com-petência legislativa plena, ante a inexistência de lei federal sobre normas gerais que regule o processo administrativo fiscal. Essa profusão de normas, so-mada à baixa padronização, coordenação e coopera-ção entre os diversos níveis de governo, acarreta um custo adicional para os contribuintes, notadamente as empresas, que precisam ter equipes jurídicas es-pecializadas, orientadas para cada um dos diversos ritos esparsamente distribuídos por União, Estados, Municípios e o Distrito Federal.

Tramitam no Congresso Nacional alguns projetos que visam ao aperfeiçoamento do Processo Admi-nistrativo Fiscal, com escopo de assegurar as prer-rogativas dos tribunais administrativos tributários, que estão vocacionados para acentuar o papel de

analista mais qualificado e especializado das quere-las tributárias entre o Fisco e os contribuintes.

A CNF entende que a unificação das regras do Pro-cesso Administrativo Fiscal assegura o direito ao contraditório e à ampla defesa, especifica quais os recursos que estarão à disposição dos contribuintes, os prazos para acesso a cada recurso, as regras para decisões definitivas, as prerrogativas dos órgãos julgadores e a previsão de súmulas vinculantes, tra-zendo maior segurança jurídica e construindo um sistema tributário mais harmônico, eficiente e res-peitoso dos direitos dos contribuintes e da função arrecadatória da Fazenda Pública.

16.3 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS (CARF)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras, que tem a prerrogativa de indicar Conselheiros para o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), apoia propostas que visem ao aperfeiçoamento do controle de legalidade dos lançamentos tributários para assegurar imparcialidade e justiça fiscal. A CNF apoia o aperfeiçoamento dos procedimentos administrativos daquele órgão colegiado para dar maior transparência aos julgamentos, bem como o fortalecimento das prerrogativas dos Conselheiros e da autonomia do órgão.

O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) é um órgão colegiado paritário, integrante da estrutura do Ministério da Fazenda, que tem por finalidade julgar os recursos de ofício, voluntários e especiais, que versem sobre a aplicação da legisla-ção referente a tributos administrados pela Secre-taria da Receita Federal do Brasil (SRF). Decisões do CARF favoráveis aos contribuintes são definitivas (à Receita fica vedado recurso), ao passo em que de-cisões favoráveis ao Fisco podem ser objeto de pro-

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 185184

cesso judicial movido por contribuintes. As decisões do CARF são particularmente importantes porque, quando sumuladas, têm efeito vinculante em rela-ção à administração tributária federal e subsidiam decisões do Judiciário.

O CARF propicia acórdãos marcados por riqueza dou-trinária e jurisprudencial que solucionam divergên-cias sobre a interpretação das leis tributárias. Durante quase noventa anos, desde a instituição do Conselho, a estrutura e a competência do colegiado sofreu mo-dificações, com impacto sobre a quantidade de pro-cessos para julgamento e a necessidade de maior especialização de seus Conselheiros. O CARF busca a promoção da imparcialidade e da justiça fiscal, além de oferecer maior celeridade à solução das lides.

As decisões do Conselho ajudam a diminuir a judi-cialização de temas tributários, bem como fortale-cem ainda mais a solução de conflitos nas instân-cias administrativas.

Tramitam no Congresso Nacional propostas que buscam agilizar e simplificar os procedimentos ad-ministrativos fiscais. Também tramitam projetos que vulneram os contribuintes, em contraste com a pro-teção que oferecem ao CARF. Para a CNF, o cerne de novos projetos com foco no CARF deveria consistir no fortalecimento das prerrogativas dos Conselhei-ros e da autonomia do órgão.

16.4 CRÉDITOS TRIBUTÁRIOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que regulamentem a utilização de créditos tributários, de maneira a permitir que direitos e obrigações tributários se realizem dentro do mesmo horizonte tempo-ral, como forma de promoção de justiça fiscal.

Após a edição da Lei nº 11.051/2004, o Fisco consi-dera “não declarada a compensação” nos casos em que os créditos sejam de terceiros, crédito-prêmio IPI, títulos públicos, que sejam decorrentes de decisões judiciais que não estejam transitadas em julgado ou que não sejam tributos e contribuições administra-dos pela própria Receita Federal.

Esses créditos eram utilizados na declaração eletrô-nica de compensação, com recurso ao processo ad-ministrativo nos casos em que não fossem aceitos pela Receita, o que implicava postergação do paga-mento dos tributos até que houvesse uma decisão final desse processo administrativo. Ademais, a mul-ta pelo não pagamento de tributos, no caso de uti-lização de créditos tributários, era de 20% do valor do débito por tratar-se de pagamento espontâneo e discutível. Após a Lei nº 11.051, a compensação pas-sou a ser considerada como não declarada e a multa pode chegar a até 150% do débito. Na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 4.905, o Supremo Tribunal Federal discute em que medida a imposição dessa multa não violaria direito de petição, previsto no art. 5º, inciso XXXIV da CF.

Por um lado, a vedação do uso de créditos tributários extinguiu práticas incompatíveis com a boa gestão pe-las empresas de suas obrigações tributárias. Por outro, não ofereceu solução para contribuintes que devem honrar essas obrigações tributárias no curto prazo, ao mesmo tempo em que são detentores de direitos tribu-tários – contra o Fisco – de restituição, no longo prazo.

Em 2014 foi editada a Medida Provisória nº 651/2014, convertida na Lei nº 13.043/2014, que determina o aproveitamento de créditos fiscais no pagamento de débitos e demais disposições sobre parcelamen-tos. Segundo a lei, poderão ser utilizados os créditos de prejuízo fiscal e base negativa de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) tanto da própria empresa quanto de coligadas e controladas para as empresas com parcelamento de tributos federais que quiserem antecipar sua quitação, com a condição de serem pagos à vista 30% deste valor.

16.5 TRIBUTAÇÃO SOBRE GANHOS DE CAPITAL NÃO REALIZADOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que afastem a in-cidência de tributos sobre ganhos de capital que não se realizaram, tal como se discute, por exemplo, nas operações de “desmutualização” da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), ocorrida em 2007.

A tributação sobre ganhos de capital só se concreti-za uma vez verificada sua realização, com casos em que se verifica acréscimo patrimonial. Contudo, ope-rações societárias complexas podem dar margem a dúvidas quanto à legalidade da cobrança de tributos. Discute-se, por exemplo, a exigência de pagamento de Imposto de Renda sobre ganhos de capital, su-postamente obtidos pelas instituições detentoras de títulos patrimoniais da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) no contexto do chamado processo de “des-mutualização” das bolsas, ocorrido no ano de 2007.

Na visão dos contribuintes, trata-se de tema de grande apreensão, seja pela ilegalidade da preten-são do Fisco de tributar ganhos de capital não rea-lizados, seja pela fragilidade jurídica da premissa que fundamenta a interpretação da Administração Fiscal para essa pretensão.

Até 2007, a Bovespa e a BM&F eram associações sem fins lucrativos, regidas por seus respectivos estatutos e pelos artigos 53 e seguintes do Código Civil, com seus patrimônios representados por títulos de pro-priedade detidos pelos associados. Durante aquele ano, a Bovespa e a BM&F foram objeto de processos de (i) “desmutualização”, assim designada a “trans-formação” de associações integradas exclusivamente pelos membros registrados em sociedades anônimas; seguida da (ii) abertura do capital das companhias re-

sultantes da referida “transformação” para a negocia-ção das respectivas ações em bolsa de valores.

A “desmutualização” da Bovespa ocorreu em 28 de agosto de 2007 e envolveu as seguintes etapas, to-das realizadas na mesma data: (i) cisão parcial da Bovespa, com a versão das parcelas de seu patrimô-nio em duas sociedades: Bovespa Holding e Boves-pa Serviços S.A. (“Bovespa Serviços”); e (ii) incorpo-ração das ações da Bovespa Serviços ao capital da Bovespa Holding (nos termos do artigo 252 da Lei nº 6.404/1976). A “desmutualização” da BM&F seguiu idêntico modelo jurídico, em 20 de setembro de 2007.

Em decorrência das operações em questão, os anti-gos detentores de títulos patrimoniais da Bovespa e da BM&F passaram a ser titulares de ações repre-sentativas do capital da Bovespa Holding e da BM&F Holding, as quais, por sua vez, passaram a ter como subsidiárias integrais, respectivamente, a Bovespa Serviços e a BM&F Serviços.

A Receita Federal do Brasil (RFB) exige Imposto sobre a Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) sobre a atualiza-ção dos títulos patrimoniais detidos pelas Corretoras, sob a alegação de que, quando da transformação desses títulos em ações, teria ocorrido a “devolução do patrimônio investido”, o que justificaria a incidên-cia dos referidos tributos sobre o ganho de capital, nos termos do artigo 17 da Lei nº 9.532/1997.

As associações Bovespa e BM&F não foram extintas, motivo pelo qual não teria havido qualquer “devo-lução de patrimônio” passível de tributação, mas mera transformação dos títulos em ações das socie-dades anônimas que incorporaram parcelas cindi-das das associações.

O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) negou provimento aos recursos voluntários nos casos que foram julgados, firmando posição contrária aos contribuintes. O principal fundamen-to utilizado nos votos vencedores foi o artigo 61 do

CAPÍTULO 16: QUESTÕES TRIBUTÁRIAS

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 187186

Código Civil, que, de acordo com a interpretação de alguns Conselheiros, não apenas vedaria a cisão e incorporação de entidades sem fins lucrativos, mas também estabeleceria a ocorrência de dissolução das associações no caso concreto, bem como, conse-quentemente, a devolução do patrimônio investido. Os Conselheiros vencidos consignaram que as ope-rações de cisão e incorporação das associações são expressamente autorizadas pelo artigo 2.033 do Có-digo Civil e, além disso, o citado artigo 61 não seria aplicável ao caso. As decisões não são definitivas, ca-bendo recurso especial à Câmara Superior do CARF.

As corretoras de valores mobiliários, setor que após as operações de 2007 viu o seu número de autua-ções aumentar em 69%, participaram ativamente dos debates. Entre os 143 processos de corretoras em tramitação no CARF, 35 deles correspondem aos julgamentos a respeito da desmutualização da bol-sa, o que representa 19% do total. A maioria desses processos encontra-se com Recurso Especial para a Câmara Superior de Recursos Fiscais, colegiado res-ponsável por dirimir conflitos de jurisprudência en-tre as turmas ordinárias e especiais.

Outro ponto que merece destaque é o evento da incorporação de ações da Bovespa Holding S.A. na Nova Bolsa S.A. A controvérsia, em síntese, limita-se à necessidade de identificar se, na referida opera-ção, houve ou não ganho de capital das instituições financeiras, quando tiveram suas ações da Bovespa Holding substituídas por ações da BM&FBovespa, em decorrência da incorporação daquelas.

A incorporação de ações é uma operação prevista no artigo 252 da Lei nº 6.404/1976. Trata-se de ne-gócio jurídico realizado entre duas sociedades por meio do qual a totalidade das ações de uma é incor-porada pela outra, o que resulta na criação de uma subsidiária integral.

Tendo em vista que o tema possui repercussão no setor financeiro como um todo, em 2014 a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), mediante solicitação

do Sindicato das Corretoras de Valores do Estado de São Paulo (SINDCOR), concluiu que: (i) na incor-poração de ações, não existe alienação das ações pelos acionistas da incorporada; (ii) na incorporação de ações, há mera substituição das ações da incor-porada pelas ações da incorporadora, não havendo que se falar em alienação de ações da empresa que é incorporada para posterior compra de ações da incorporadora; e (iii) no momento da incorporação de ação, há mera substituição das ações da incor-porada pelas ações da incorporadora na proporção determinada por meio da avaliação contratada para esse fim, respeitados o protocolo e a justificação nos termos dos arts. 224 e 225 da Lei nº 6.404/1976 (Lei das Sociedades por Ações).

Em 2014 foi aprovado o texto da Medida Provisória (MP) nº 656, convertida na Lei nº 13.097/2015, que visa a eliminar as multas e juros incidentes sobre esses lançamentos à data em que o ativo se tornou disponível para ser comercializado na BM&F Boves-pa, ao contrário do valor atribuído pela sociedade no momento da operação de incorporação. Segundo o texto, os débitos com a Fazenda Nacional relativos ao IRPJ e CSLL decorrentes do eventual ganho de ca-pital ocorrido até 31 de dezembro de 2008, poderão ser: (i) pagos à vista com redução de 100% das multas de mora e de ofício e de 100% dos juros de mora; ou ser (ii) parcelados em até 60 prestações, sendo 20% de entrada e o restante em parcelas mensais, com re-dução de 80% da multa isolada e das multas de mora e de ofício, bem como de 40% dos juros de mora.

Ainda segundo a MP, o IRPJ e a CSLL incidem sobre a parcela do eventual ganho de capital relativa à dife-rença entre o valor atribuído à ação na subscrição de capital e considerado na apuração do referido ganho e o valor verificado na data de início das negociações da ação na bolsa de valores.

Também em 2014, no Conselho Administrativo de Re-cursos Fiscais (CARF) iniciou-se a análise do processo que envolve divergência temporal referente à ocor-rência do fato gerador do Imposto de Renda. Ao pas-

CAPÍTULO 16: QUESTÕES TRIBUTÁRIAS

so em que a autoridade fiscal entendia que o momen-to da ocorrência do fato gerador do imposto seria na época da incorporação de ações (quando foram as-sinadas as atas da assembleia geral), o contribuinte pleiteou o reconhecimento do efetivo fato gerador apenas no momento da efetiva venda das ações.

O relator do processo deu provimento ao recurso do contribuinte sob o argumento de que o fato de os laudos de avaliação apontarem para um determi-nado valor não imputa às ações a liquidez e certeza próprias da disponibilidade jurídica, requisito es-sencial para a tributação sobre a renda. Ele concluiu também que o fato gerador do Imposto de Renda é a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica de renda ou proventos de qualquer natureza e não a mera expectativa de ganho futuro ou potencial.

As autoridades tributárias, ao onerar esse tipo de operação com a eventual incidência de Imposto so-bre a Renda, desestimulam as transações baseadas em ações entre empresas e colocam as companhias brasileiras em desvantagem em relação a suas con-correntes internacionais.

16.6 IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA (ISS)

O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), em seu art. 88, estabelece que, enquanto lei complementar não disciplinasse o Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS), esse imposto teria alíquota mínima de 2%, ressalvadas as exce-ções previstas na lei que viesse a discipliná-lo. Ade-mais, estabelece que não poderiam ser concedidas isenções, incentivos e benefícios que resultassem, direta ou indiretamente, na redução dessa alíquota mínima. A Lei Complementar nº 116/2003, que regu-lamenta esse tributo, não inovou o disposto no ADCT no que diz respeito à alíquota mínima.

Proposições legislativas que tratam do recolhimento do ISS buscam harmonizar a sistemática de arrecada-ção desse tributo pelos municípios, ao mesmo tempo em que procuram fortalecer o pacto federativo pelo aumento de arrecadação tributária municipal. Contu-do, tais proposições introduzem distorções tanto na relação tributária entre o contribuinte e o ente arreca-dador quanto na sistemática de recolhimento do ISS.

Quanto à relação tributária entre o contribuinte e o ente arrecadador, o inciso III do §3º do art. 156 da Constituição Federal (CF) permite que os Municípios promovam reduções nas alíquotas, ao atribuir com-petência à lei complementar para regular a forma e as condições pelas quais serão concedidos e revoga-dos benefícios e isenções. Dessa forma, municípios podem atrair investimentos por meio da diminuição de custos oferecidos aos prestadores de serviços. No entanto, algumas propostas legislativas proíbem conceder isenções, incentivos e benefícios tributá-rios, o que contraria o disposto na CF. Trata-se de contrassenso jurídico inadmissível, na medida em que poderia limitar a autonomia legislativa dos en-tes municipais. Por essa razão, são equivocadas pro-postas que preveem a cobrança por outro ente muni-cipal de eventual diferença entre a alíquota imposta

elevado custo operacional que oneraria de so-bremaneira o tomador final.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para mudanças nas regras de recolhimento do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) que promo-vam maior segurança jurídica nas operações e que estejam assentadas na livre negociação de taxas e redução de custos. Entre esses custos fi-gura o de tributação de algumas operações de intermediação financeira, sobre as quais incide ISS recolhido no Município da sede das empre-sas. Para a CNF, eventual mudança no local de recolhimento do ISS para os 5.570 Municípios em que podem ser realizadas operações implicaria

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 189188

pelo município em que ocorre a prestação de serviço e a alíquota constitucional de 2%.

No que diz respeito à sistemática de arrecadação, por sua vez, não se concebe a multiplicação nem de sujeitos ativos nem de locais físicos para recolhi-mento de tributos após a ocorrência do fato gerador. Este é a prestação do serviço e, como regra geral, o sujeito ativo (arrecadador do tributo) é o município onde foi prestado o serviço. A Lei Complementar nº 116/2003 estabelece, em seu artigo 3º, que o serviço considera-se prestado e o imposto devido no local do estabelecimento prestador, considerando-se este, pelo artigo 4º, o local onde o contribuinte de-senvolva a atividade de prestar serviços, de modo permanente ou temporário. O próprio artigo 3º ex-cetua, nas hipóteses previstas nos incisos I a XXII, quando o imposto será devido no próprio local da prestação de serviços. O intuito da Lei Complemen-tar n° 116/2003 foi o de solucionar os conflitos de competência existentes entre os municípios. É no critério material da relação tributária que se extrai a quem deverá o contribuinte recolher o tributo com a ocorrência do fato gerador. Por consequên-cia, qualquer alteração desse critério após a realiza-ção do fato gerador pelo contribuinte é carente de constitucionalidade, passível de questionamento perante o Supremo Tribunal Federal. Propostas le-gislativas se equivocam ao preverem o surgimento de um segundo sujeito ativo (outro município) que arrecadaria todo ou parte do tributo depois de ter ocorrido o fato gerador.

No caso do setor financeiro, o serviço de instituições de pagamento, tais como arrendamento mercantil e empresas de cartão de crédito, é integralmente pres-tado em suas sedes, localizadas em um único muni-cípio onde se encontram todos os meios essenciais para tal prestação (como avaliação do histórico de crédito do cliente, processamento, custos notariais, arquivo de documentos e todos os serviços envol-vidos na operação geradora de um serviço). Ali se localizam todos os seus funcionários, sistemas e es-trutura física. O recolhimento de ISS constitui-se em

custo não só pelo montante pago, mas também pe-las despesas operacionais envolvidas na apuração e quitação do tributo. Tanto a majoração de alíquota do ISS quanto a dispersão do recolhimento desse tributo por milhares de municípios onde residem os tomadores de crédito elevariam esse custo a ponto de tornar proibitiva as atividades.

16.7 INCIDÊNCIA DE IMPOSTO DE RENDA SOBRE LUCROS E DIVIDENDOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que evitem trata-mento privilegiado a determinados setores e distorções arrecadatórias, tais como cobran-ças repetidas sobre o mesmo fato gerador (bis in idem), ao mesmo tempo em que estimulem o investimento.

Tramitam no Congresso Nacional projetos que ob-jetivam alterar o artigo 10 da Lei nº 9.249/1995 para permitir a cobrança do Imposto sobre a Renda das Pessoas Físicas (IRPF) ou das Pessoas Jurídicas (IRPJ), domiciliadas no Brasil ou no exterior, sobre o recebimento de lucros e dividendos que lhes são distribuídos pelas empresas em razão da condição de sócios e/ou acionistas.

As propostas invocam a necessidade de alteração do dispositivo com a justificativa de que este estabele-ceu tratamento tributário privilegiado a alguns sem o devido fundamento constitucional. Além de violar os princípios da capacidade contributiva e da isono-mia, o artigo teria incentivado a remessa de lucros e dividendos ao exterior, o que estaria prejudicando os números do Balanço de Pagamentos do país.

O fato, no entanto, é que permitir a incidência de Im-posto sobre a Renda sobre a distribuição de lucros ou dividendos provocaria, no mínimo, dois problemas.

CAPÍTULO 16: QUESTÕES TRIBUTÁRIAS

O primeiro seria a cobrança repetida sobre o mesmo fato gerador (bis in idem), pois as corporações são tribu-tadas após a apuração contábil, sendo sua distribuição ao sócio resultado do capital próprio da pessoa jurídica, isto é, de seu patrimônio líquido. A lógica que orienta a Lei nº 9.249/1995 é de que a distribuição de lucros ou dividendos ao sócio pressupõe, necessariamente, que o pagamento do Imposto de Renda sobre os rendimen-tos brutos da empresa já teria sido efetuado. Se apro-vada a alteração proposta, os dividendos pagos aos acionistas seriam novamente tributados. A doutrina e a jurisprudência confirmam esse entendimento.

A tributação realizada antes da distribuição ou inte-gralização do lucro não se dá unicamente por inter-médio do Imposto de Renda (à alíquota de 15%), mas também por meio de adicional de 10%, na hipótese de lucro real, presumido ou arbitrado, que exceder a R$240 milhões anuais e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), cuja taxa é de ao menos 9%.

O segundo problema provocado pela incidência de IR sobre a distribuição de lucros ou dividendos seria a inibição ou a diminuição dos investimentos, tanto nacionais quanto estrangeiros, tendo em vista a am-pliação da carga tributária. A medida teria efeitos econômicos deletérios, impactando negativamente a arrecadação, cujo aumento está vinculado a um ciclo virtuoso de crescimento.

16.8 TRANSPARÊNCIA DE DADOS FISCAIS

Discute-se no Congresso Nacional a ampla divulga-ção dos dados fiscais do contribuinte. A previsão é de que seja criado um banco de dados com informações relativas, no caso de pessoas jurídicas, ao valor do patrimônio líquido, total da receita anual passível de tributação e tributos pagos. Tal base de dados ficaria acessível, a qualquer tempo, a qualquer interessado.

A administração tributária no tratamento das infor-mações do contribuinte deve guiar-se pelo dispos-to no art. 198 do Código Tributário Nacional (CTN), respeitando o sigilo dos dados, salvo nos casos de requisição por autoridade judiciária e de solicitação por autoridade administrativa, comprovada a ins-tauração regular de processo administrativo. Mesmo quando a troca de informações fiscais dos contribuin-tes é permitida entre a Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (art. 199 do CTN), esta deve pautar-se pela garantia de sigilo. Assim, não parece razoável permitir que terceiros não integrantes da relação jurídica tributária acessem as informações constantes do mencionado banco de dados, exceto nas situações excepcionais já estabe-lecidas. Inclusive, a divulgação dos dados sigilosos constitui crime previsto no art. 325 do Código Penal.

O que se pretende coibir (omissão sobre rendas, bens ou fatos, e a prestação de informações falsas à auto-ridade fazendária) já está tipificado na legislação pe-nal e tributária, que pune condutas criminosas, entre elas as que atentem contra a Ordem Tributária, disci-plinadas na Lei nº 8.137/1990.

Ademais, medidas dessa natureza não demonstram o efetivo benefício social proveniente da divulga-ção de tais dados à população em geral. Quando a Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011), por exemplo, obriga a divulgação do salário dos servido-res públicos e a disponibilização do banco de dados a qualquer pessoa, há um interesse coletivo e geral no acompanhamento dessas informações, visto que a população contribui com o pagamento dos servi-dores por meio de tributos. No entanto, quando se objetiva obrigar a divulgação de dados privados que

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que ampliem a transparência das informações sobre as quais há interesse geral em sua obtenção e que permi-tam maior controle social das contas públicas. A liberação de informações privadas a terceiros, no entanto, deve ser protegida pelo sigilo fiscal, salvo nas hipóteses já previstas em lei.

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 191190

somente importam às partes envolvidas na relação jurídica tributária, o interesse que se pretende tutelar é privado e não público, não fazendo sentido, portan-to, ferir o direito ao sigilo.

16.9 EXECUÇÃO FISCAL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a transparência das execuções fiscais que asse-gurem igualdade de tratamento ao Fisco e ao contribuinte, bem como o direito à ampla de-fesa e ao contraditório na fase administrativa, considerando que tais direitos são garantidos plenamente somente no âmbito do Judiciário.

O Congresso Nacional discute a criação de um arca-bouço legal que trate da Execução Administrativa da Dívida Ativa da União e da Penhora Administrativa, permitindo-se a constrição dos bens na instância ad-ministrativa, cabendo ao Judiciário o mero controle de legalidade dessa constrição.

Essa forma não é apropriada para a cobrança dos cré-ditos tributários. A inovação seria inconstitucional por conferir tratamento diferenciado ao permitir a execu-ção administrativa apenas quando o Fisco for o credor. Violaria, ainda, o inciso LIV do artigo 5º da Constituição Federal, o qual assegura que ninguém será privado de seus bens sem o devido processo legal. Em um Estado Democrático de Direito, o Judiciário deve ser o único caminho para a busca da constrição dos bens dos ci-dadãos, pois nessa via o contraditório é plenamente garantido, já que no processo administrativo não se pode questionar constitucionalidade de lei ou ato administrativo. Retirada a mencionada atribuição do Judiciário, estaria configurada a usurpação de compe-tência, em clara afronta à tripartição de poderes.

Propostas em tramitação pretendem autorizar a Fa-zenda Pública a requisitar informações sobre quais-

quer bens e direitos dos devedores na fase adminis-trativa do procedimento. A ausência de autorização judicial pode configurar violação do sigilo bancário e fiscal prevista na Constituição quando houver fun-dadas suspeitas de delito.

Tais propostas contêm aspectos meritórios. A oferta de garantias extrajudiciais na esfera administrativa para se obter certidão positiva com efeitos de nega-tiva; e o pagamento de créditos públicos por meio de leilão administrativo de bens e dação em paga-mento constituem um avanço. Também o recurso à transação para encerrar litígios tributários é positivo, sobretudo se puder envolver multas e juros da dívi-da ao lado do crédito tributário e a simplificação das exigências para a recuperação tributária da empresa.

Em 2014 foi editada a Medida Provisória nº 651/2014, convertida na Lei nº 13.043/2014, que determina o aproveitamento de créditos fiscais no pagamento de débitos e demais disposições sobre parcelamen-tos. Segundo a lei, poderão ser utilizados os créditos de Prejuízo Fiscal e Base Negativa da CSLL tanto da própria empresa quanto de coligadas e controladas para as empresas com parcelamento de tributos fe-derais que quiserem antecipar sua quitação, com a condição de serem pagos à vista 30% desse valor.

Além disso, a nova Lei alterou diversos dispositivos. Na Lei nº 6.830/1980, que dispõe sobre a cobrança judicial da dívida ativa da Fazenda Pública, as altera-ções da Fazenda passaram a aceitar o seguro garan-tia como forma de assegurar as execuções fiscais. O prazo para o executado oferecer embargos à execu-ção será o mesmo estipulado para aquele que apre-sentar fiança bancária (30 dias a contar da juntada da prova). A Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) regulamentou o uso de seguro garantia em 2009, por meio da Portaria PGFN nº 1.153/2009, que foi reeditada em março de 2014, pela Portaria PFGN nº 164/2014.

O uso do seguro garantia como meio de caução de créditos fiscais representa benefícios tanto para o

CAPÍTULO 16: QUESTÕES TRIBUTÁRIAS

contribuinte quanto para a União, na medida em que, admitida mais essa modalidade de garantia dos créditos fiscais, diminui-se o risco de inadim-plemento dos débitos perante a União. Isso também representa uma flexibilização dos critérios de aceita-ção de outros meios de garantia à execução que, por consequência, beneficia o contribuinte.

16.10 PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS OU RESULTADOS (PLR)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas de aprimoramento da regulamentação de participação dos traba-lhadores nos lucros ou resultados das empresas que contemplem pelo menos três elementos fundamentais, a saber: a PLR (i) deve ser um ins-trumento de integração entre capital e trabalho; (ii) deve servir como incentivo à produtividade; (iii) e não deve constituir base para qualquer en-cargo trabalhista ou previdenciário.

Não existe Convenção da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre participação nos lucros ou resultados (PLR). Em vários países, a participação nos lucros ou resultados é concedida ou por nego-ciação coletiva, ou por decisão da empresa. Os crité-rios de concessão são díspares e seu impacto sobre a volatilidade do nível de emprego é incerto.

Está hoje em vigor a Lei n° 10.101/2000, que dispõe em seu artigo 2º que a PLR seja negociada entre a empresa e seus empregados. Reitera que a PLR não substitui ou complementa a remuneração devida, nem constitui base de incidência de qualquer en-cargo trabalhista. Também estabelece “mediação” e

“arbitragem de ofertas” como mecanismos de solu-ção de controvérsias.

Os problemas associados à PLR estão ligados, so-bretudo, à incidência ou não da contribuição social

previdenciária e encargos trabalhistas. Até a Cons-tituição de 1988, a participação nos lucros paga ao empregado integrava o salário e consequentemente implicava incidência de encargos (Consolidação das Leis do Trabalho, art. 457, §1º). A Constituição de 1988 estabeleceu em seu art. 7º, XI: “Participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empre-sa, conforme definido em lei”. O dispositivo constitu-cional, apesar de desvincular expressamente a PLR do salário, ainda necessitou de regulamentação pela Medida Provisória nº 794/1994. A Lei n° 9.711/1998 incorporou alguns dos dispositivos daquela MP, tais como a desvinculação da PLR da remuneração.

Em junho de 2013, a Lei n° 12.832/2013 alterou alguns dispositivos da Lei nº 10.101/2000, estabelecendo no-vos critérios importantes para que os pagamentos de PLR sejam isentos de tributos. Dentre eles, destacam-

-se: (i) intervalo mínimo entre os pagamentos que era de um semestre civil, passa para um trimestre civil (continua mantido, porém, o limite de até no máxi-mo dois pagamentos por ano civil); (ii) sobre a com-posição da comissão formada por representantes dos empregados e do empregador para negociação da PLR, que não era regulada, passa a ser obrigatória a participação paritária de empregados e emprega-dores, além do representante indicado pelo sindica-to dos empregados; (iii) o empregador fica obrigado a prestar aos representantes dos trabalhadores na comissão paritária todas as informações que colabo-rem para a negociação; (iv) os critérios e condições para apuração da PLR não podem envolver metas referentes à saúde e a segurança do trabalhador; (v) quanto à solução de impasses na negociação da PLR, ficou estabelecido que as partes devem utilizar, no que couber, a Lei da Arbitragem (Lei 9.307/1996); (vi) a nova Lei converte a Medida Provisória nº 597/2012, que já havia instituído tabela progressiva especial de Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) isentando os trabalhadores que receberem PLR até o limite atu-al de R$6.270,00, teto previsto para 2014. Com a nova redação, a partir do ano-calendário 2014, inclusive, os valores da tabela progressiva anual serão reajus-

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 193192

tados no mesmo percentual de reajuste da Tabela Progressiva Mensal do Imposto de Renda incidente sobre os rendimentos das pessoas físicas. Acima do teto estabelecido não haverá isenção, sendo a PLR calculada de forma escalonada.

De acordo com o art. 3º, a Lei entra em vigor na data de sua publicação (20 de junho de 2013), produzin-do efeitos retroativos, a partir de 1º de janeiro de 2013. Isso poderá gerar discussões a respeito da va-lidade dos acordos firmados entre 1º de janeiro e 20 de junho de 2013.

O Supremo Tribunal Federal, em outubro de 2014, ao julgar o Recurso Extraordinário (RE) nº 569.441/RS com repercussão geral reconhecida, entendeu que incide contribuição previdenciária sobre parcela re-lativa à participação nos lucros ou resultados no pe-ríodo posterior à promulgação da Constituição Fede-ral de 1988 e anterior à entrada em vigor da Medida Provisória nº 794/1994, que regulamentou a matéria.

Tramita no Senado Federal Projeto que visa alterar a Lei nº 10.101/2000 para tornar obrigatório o pa-gamento da participação nos lucros ou resultados (PLR) das empresas. De acordo com o texto, se a em-presa não formalizar a PLR até 30 de junho de cada ano, terá que reservar 5% do lucro líquido obtido no ano anterior para o pagamento, que por sua vez, deverá ocorrer, anualmente, no mês de julho. Ainda segundo a proposta, a empresa que reiteradamen-te, por mais de dois anos, negar-se a fixar para seus empregados a participação nos lucros, por meio de acordo ou convenção coletiva, poderá ser punida com suspensão do acesso a crédito junto a institui-ções financeiras federais pelo prazo de dois anos.

No âmbito administrativo, o Conselho Administra-tivo de Recursos Fiscais (CARF) vem interpretando a Lei nº 10.101/2000 para julgar a clareza de regras e critérios para aferição do desempenho; a PLR di-ferenciada para cargos de direção; e as convenções coletivas de trabalho com termos genéricos.

Para a CNF, a participação nos lucros ou resultados deve ser decidida à luz dos princípios constitucio-nais da autonomia coletiva e da valorização da nego-ciação coletiva, previstos nos artigos 7º, XXVI, e 8º da Constituição Federal.

16.11 TRIBUTAÇÃO DE BENEFÍCIOS SEM INSCRIÇÃO NO PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia medidas que busquem afastar a tributação de parcelas pagas aos trabalha-dores com vistas a estimular a produtividade e ressarcir despesas decorrentes da execução do contrato de trabalho, por possuírem caráter puramente indenizatório.

O auxílio-alimentação e o vale-refeição são benefíO auxílio-alimentação e o vale-refeição são benefícios concedidos aos trabalhadores pelos empregadores, podendo ser pagos in natura, mediante entrega de cartão ou em pecúnia. Por essa razão, muitas dúvi-das surgem quanto à tributação desses benefícios em cada uma dessas formas de pagamento quando a em-presa não está devidamente inscrita no Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), instituído pela Lei nº 6.321/1976 e regulamentado pelo Decreto nº 5/1991.

A concessão do benefício in natura, ou seja, quan-do a alimentação é fornecida pela própria empre-sa não é alvo de controvérsias, mesmo que o em-pregador não esteja inscrito no PAT, pois a própria Procuradoria da Fazenda Nacional, no Parecer nº 2.117/2011, firmou entendimento de que não in-cide contribuição previdenciária nesse caso. A ju-risprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) também é pacífica nesse sentido.

Quando o pagamento é feito por meio de cartão sem inscrição da empresa no PAT, as turmas do CARF têm

CAPÍTULO 16: QUESTÕES TRIBUTÁRIAS

decidido que deve haver a incidência de contribui-ções previdenciárias. O mesmo ocorre quando o be-nefício é concedido em pecúnia.

Contudo, tal entendimento não está pacificado, pois já existem decisões proferidas a favor dos contri-buintes. Nesse sentido, os julgados defendem que

Qualquer que seja o modo, não há como desnaturar o caráter indenizatório de um benefício que, em sua essência, nada mais é do que uma antecipação ao trabalhador para utilização efetiva em despesas de alimentação que garanta o seu sustento e fiel cum-primento de suas atividades dispostas no contrato de trabalho (Acórdão nº 2403-002.322).

A jurisprudência também já possui precedente nes-se sentido, no qual o STJ adotou o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) em caso análogo re-ferente ao vale-transporte pago em dinheiro. Nesse precedente o STJ reconheceu que

A remuneração para o trabalho não se confunde com o conceito de salário, seja direto (em moeda), seja indireto (in natura). Suas causas não são remunera-tórias, ou seja, não representam contraprestações, ainda que em bens ou serviços, do trabalho, por mú-tuo consenso das partes (REsp nº 1.185.685/SP).

O pagamento do auxílio-alimentação ou do vale-re-feição é feito exclusivamente em razão do contrato de trabalho, com o fim de aumentar a produtividade e eficiência dos funcionários, além de ressarcir as despesas do trabalhador com alimentação, sendo concedido “para” o trabalho e não “pelo” trabalho, sendo irrelevante a inscrição da empresa no PAT.

Qualquer forma de pagamento dessa verba não afe-ta a natureza indenizatória do benefício, devendo ser adotado nesse caso o mesmo entendimento dado pelo STF ao vale-transporte pago em pecúnia (RE nº 478.410/SP), afastando-se a incidência de contribui-ções previdenciárias.

16.12 TRIBUTAÇÃO DE INCENTIVOS À CONTRATAÇÃO E À PRODUTIVIDADE

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a re-gulamentação da incidência de tributos sobre mecanismos utilizados pelas empresas para atrair novos talentos e incentivar a produtivi-dade de seus funcionários, como Hiring Bonus e Stock Options Plan. Para a CNF esses incenti-vos não devem resultar em mais encargos tra-balhistas e previdenciários.

O dinamismo da economia brasileira acirra a con-corrência entre as empresas. Nesse cenário, a fim de atrair trabalhadores qualificados, as empresas têm buscado implementar novos mecanismos para aten-der às suas demandas por mão de obra especializada, bem como por maior produtividade. Entre esses me-canismos, o Hiring Bonus e o Stock Options Plan figu-ram como os dois maiores exemplos para a captação de novos talentos e manutenção de trabalhadores.

Hiring Bonus, ou bônus de contratação, são valores ofer-tados pelas empresas aos futuros empregados, previa-mente à efetivação do contrato de trabalho. O objetivo desse instrumento é indenizar o trabalhador pelos ris-cos da mudança de emprego: deixar a estabilidade de um antigo posto de trabalho e enfrentar as incertezas de um novo cargo. Já Stock Options Plan constitui-se no contrato a ser firmado entre a empresa e seus funcioná-rios com o objetivo de permitir que estes tenham direito a exercer o poder de compra de ações da empresa a um preço pré-fixado. Ao converter funcionários em acionis-tas da empresa, o principal objetivo desse mecanismo é estimulá-los a se comprometer cada vez mais com o negócio em que estão inseridos, seja alinhando-os com as metas e a missão da empresa, seja auxiliando na fi-delização das relações trabalhistas.

Na esfera tributária, esses métodos de atração de talentos e incentivo à produtividade vêm gerando

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 195194

controvérsias acerca da sujeição à incidência das contribuições previdenciárias. Por um lado, o Fisco entende haver incidência, visto que tais mecanismos se revestiriam de caráter remuneratório. Por outro, ar-gumenta-se que, embora representem uma forma de ganho financeiro ao trabalhador, esses mecanismos têm natureza indenizatória e, portanto, desvinculada do salário, o que afastaria a incidência de contribui-ções previdenciárias.

No Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), há decisões favoráveis aos contribuintes quanto à incidência de contribuições previdenciárias sobre Hiring Bonus e Stock Options Plan.

Nas decisões que adotaram o entendimento dos con-tribuintes, o CARF reconheceu a não incidência do tributo nos casos em que o Hiring Bonus é pago sem qualquer vinculação a metas ou a prazo de permanên-cia do trabalhador na empresa, bem como quando o pagamento é feito anteriormente ou no momento da contratação, em uma única vez e em valor aproximado ao da rescisão do trabalhador com a antiga empresa.

Já para afastar a tributação do Stock Options Plan, o CARF considerou que o plano oferecido pela empre-sa representa uma oportunidade de investimento do colaborador na própria empresa, sendo que o valor pago pelas ações era o próprio valor de mercado, tra-tando-se, assim, de negócio de compra e venda de di-reitos acionários, regulado pelo Direito Civil.

Mais do que uma questão tributária, diante do atual cenário mundial de crise econômica e do aumento da demanda por talentosos funcionários, o tema se re-veste de tom econômico. Tributar essas indenizações e esses incentivos financeiros erige obstáculos ao di-namismo necessário ao crescimento da economia.

16.13 TRIBUTAÇÃO DE EMPRESAS COLIGADAS E CONTROLADAS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que afastem a in-cidência de tributos sobre ganhos de capital que não se realizaram, tal como se discute, por exemplo, nas operações de lucro não efetiva-mente disponibilizado por empresas coligadas e controladas sediadas no exterior.

A discussão sobre a tributação dos lucros auferidos no exterior por sociedades controladas e coligadas é um tema de grande relevância no cenário brasileiro, haja vista que atinge diversas empresas sediadas no Brasil que possuem investimentos em sociedades estrangei-ras que caracterizam relação de controle e/ou coligação.

A referida tributação era tratada pela Lei n° 9.532/1997, que condicionou o pagamento do tributo à ocorrên-cia de efetiva disponibilização jurídica e econômica da receita. Essa sistemática sofreu profunda altera-ção com a edição da Medida Provisória (MP) n° 2.158-35/2001, que, em seu artigo 74, estabeleceu a tributa-ção das empresas coligadas e controladas quando da apuração de seus resultados, independentemente de sua disponibilização jurídica e econômica.

O tributo seria devido mesmo nas hipóteses em que o pagamento ou crédito de lucro do exterior não seja dis-tribuído em razão de decisões empresariais legítimas tais como: opção pela formação de reservas e capitali-zação, aquisição ou ampliação de outros negócios.

A generalidade da tributação de controlada ou coliga-da no Brasil, por lucro auferido no exterior por contro-lada ou coligada, é indicativo claro de que não se pre-tendeu apenas evitar elisão fiscal, mas sim majorar resultado da arrecadação sem considerar aspectos subjetivos e objetivos do regime tributário.

CAPÍTULO 16: QUESTÕES TRIBUTÁRIAS

A questão foi levada ao Supremo Tribunal Federal, que: (i) afastou a aplicação retroativa do artigo 74 da MP n° 2.158-35/2001 em todas as hipóteses, (ii) de-clarou a inconstitucionalidade do artigo 74 da MP n° 2.158-35/2001 em relação aos lucros gerados em so-ciedades coligadas sediadas em países que não se-jam paraísos fiscais; e (iii) reconheceu que a questão do conflito do artigo 74 da MP n° 2.158-35/2001 com o texto dos Tratados para Evitar a Dupla Tributação da Renda ainda deverá ser analisada pelos tribunais.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ), em abril de 2014, analisou Recurso Especial (REsp) que versava sobre o reconhecimento da supremacia dos tratados internacionais sobre as normas internas (nacionais) de tributação. Ou seja, discutiu-se a aplicação dos tratados internacionais para se evitar a dupla tri-butação sobre os lucros auferidos por subsidiárias sediadas em países com os quais o Brasil assinou os referidos acordos. No julgamento, o STJ decidiu que não são tributados os ajustes de investimentos de empresas brasileiras decorrentes da apuração de lucros por suas subsidiárias estrangeiras situadas em países com os quais o Brasil possui tratado para evitar a dupla tributação. No mesmo processo, por consequência, restou definido que devem ser tribu-tados esses mesmos ajustes quando essas empresas localizarem-se em países com os quais o Brasil não assinou o referido tratado.

A CNF entende que há a necessidade de norma legal que possibilite maiores investimentos de empresas brasileiras no mercado externo, sem, contudo, con-figurar uma receita tributária quando não verificada a realização do ganho de capital ou acréscimo patri-monial por parte do investidor.

16.14 IMPOSTO SOBRE OPERAÇÕES DE CRÉDITO, CÂMBIO E SEGURO, OU RELATIVAS A TÍTULOS OU VALORES MOBILIÁRIOS (IOF)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras entende que a criação ou a majora-ção de tributos deva ser vinculada a uma am-pla proposta de reforma tributária. Questões dessa natureza devem ser tratadas em con-junto com outras matérias, cuja solução possa proporcionar racionalidade da tributação no Brasil e redução da carga tributária. A tribu-tação da intermediação financeira contribui para o aumento da margem bancária (spread) e resulta no encarecimento do crédito. Para a CNF, tributos devem incidir sobre os resultados obtidos pelas empresas, independentemente do setor da economia em que operam, e não sobre percepções equivocadas de lucrativida-de de qualquer setor específico.

O Decreto nº 6.306/2007, que regulamenta o Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou rela-tivas a Títulos ou Valores Mobiliários (IOF), viola o prin-cípio constitucional da isonomia tributária e a função extrafiscal desse tributo, destinado não à arrecadação, mas, sim, à regulação da atividade econômica.

Em janeiro de 2008, o Poder Executivo Federal ele-vou de modo geral as alíquotas do IOF incidentes so-bre as operações de crédito, bem como instituiu um adicional de 0,38% nessas operações (Decretos nº 6.339/2008 e nº 6.345/2008). Tais alterações, segun-do o Governo, tiveram o objetivo de compensar as perdas da União decorrentes do fim da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).

A discriminação indevida entre tomadores viola o ar-tigo 150 inciso II da Constituição. Na sua versão ori-ginal, o Decreto nº 6.306/2007 determinava que, em operações de idênticos valores e condições, o crédito

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 197196

tomado por pessoa física é mais oneroso do que o to-mado por pessoa jurídica. Essa disparidade foi corrigi-da pelo Decreto nº 6.691/2008, mas segue em aberto a possibilidade de o Governo vir a alterar as alíquotas e reintroduzir quebra de isonomia entre contribuintes.

Ademais, um imposto destinado a ser regulador, com alíquota a ser alterada em função da conjuntu-ra econômica, não deveria ser usado para aumentar arrecadação.

A tributação representa cerca de um quarto das mar-gens bancárias (spread). A consequência direta no setor bancário brasileiro de um aumento na alíquota do IOF é um aumento na taxa de juros e/ou uma re-dução na oferta de crédito; ao onerar os tomadores de crédito, aumenta as despesas incorridas por es-tes, diminui os lucros e, em consequência, reduz a arrecadação de impostos sobre resultados.

A incerteza das instituições financeiras acerca da pos-sibilidade de mudanças repentinas da alíquota do IOF e os esforços necessários para a sua adaptação contínua às novas regras incrementam o custo ope-racional, o que também impacta o spread bancário.

16.15 CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO (CSLL)

dependentemente do setor da economia em que operam, e não sobre percepções equivocadas de lucratividade de qualquer setor específico.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras entende que a criação ou a majoração de tributos deva ser vinculada a uma ampla propos-ta de reforma tributária. Questões dessa nature-za devem ser tratadas em conjunto com outras matérias, cuja solução possa proporcionar ra-cionalidade da tributação no Brasil e redução da carga tributária. A tributação da intermediação financeira contribui para o aumento da margem bancária (spread) e resulta no encarecimento do crédito. Para a CNF, tributos devem incidir sobre os resultados obtidos pelas empresas, in-

A Lei nº 11.727/2008 aumentou de 9% para 15% a alí-quota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) que incide sobre as instituições financeiras, as empresas de seguros privados e as de capitalização, como uma das providências para compensar o fim da arrecadação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).

O aumento da CSLL deu-se pela percepção equivo-cada de que as instituições financeiras auferem lu-cros exorbitantes, muito superiores aos dos demais setores da economia. Comparar lucros absolutos de empresas e de setores é um equívoco, uma vez que tais comparações só são precisas quando utili-zam medidas relativas. Nesse caso, a medida rela-tiva adequada é a lucratividade das empresas, isto é, a razão entre os lucros e o patrimônio líquido. Em diferentes comparações que utilizam lucratividade das empresas, o setor financeiro não aparece como o mais lucrativo da economia brasileira. Essa ques-tão foi discutida na Seção 6.5 - Lucro e rentabilidade bancária desta Agenda do Setor Financeiro.

A tributação representa cerca de um quarto das margens bancárias (spread). A consequência direta no setor bancário brasileiro de uma ampliação na alíquota da CSLL é um aumento na taxa de juros e/ou uma redução na oferta de crédito; ao onerar os tomadores de crédito, aumenta as despesas incorri-das por estes, diminui os lucros e, em consequência, reduz a arrecadação de impostos sobre resultados.

A majoração da CSLL das instituições financeiras afronta preceitos constitucionais já consagrados pela doutrina e jurisprudência, não podendo a alíquota da contribuição ser aumentada por Medida Provisó-ria, ainda que posteriormente convertida em lei, por padecer de vício formal (não haveria urgência para a

CAPÍTULO 16: QUESTÕES TRIBUTÁRIAS

utilização de MP) e material (o aumento da alíquota não poderia ser vinculado por MP). Além disso, ao instituir a diferenciação de alíquotas em razão da ati-vidade da empresa, há violação ao princípio da isono-mia, que deve reger as relações jurídicas tributárias.

16.16 CONTRIBUIÇÕES SOBRE MOVIMENTAÇÃO FINANCEIRA

Para a Confederação Nacional das Instituições Financeiras, os desafios de áreas específicas da administração pública devem ser tratados por meio de melhoria na qualidade dos gastos pú-blicos e na gestão, com recurso ao orçamento federal, sem imposição de novos tributos. A tri-butação da intermediação financeira contribui para o aumento da margem bancária (spread) e resulta no encarecimento do crédito.

A criação de tributos sobre movimentação financeira tem implicações fiscais e jurídicas. Do ponto de vista fiscal, existem no Brasil centenas de tributos e o bra-sileiro trabalha em média mais de um terço do ano para pagar impostos. A cobrança de tributos sobre movimentação financeira aumentaria ainda mais a carga tributária e oneraria o custo dos negócios, indo na contramão do crescimento econômico e da geração de empregos. Do ponto de vista jurídico, tri-butos dessa natureza deveriam ser introduzidos por emenda à Constituição e não por lei complementar. A Contribuição Provisória sobre Movimentação Fi-nanceira (CPMF), por exemplo, fora criada em 1996 pela Emenda à Constituição nº 12, com a finalidade de levantar recursos adicionais para a saúde, em substituição ao Imposto Provisório sobre a Movi-mentação Financeira (IPMF).

Ficou demonstrado que tributos como a CPMF, des-tinada a financiar a saúde, foram aplicados para ou-tros fins. Esse poderia ter sido o destino de outros tributos semelhantes, como a frustrada proposta de

criação de uma Contribuição Social para a Saúde (CSS). A saúde não é a única área crítica da adminis-tração pública que merece atenção especial. Tam-bém a educação e a segurança, para mencionar ape-nas outras duas, são áreas que justificariam tributos específicos para financiá-las, o que tornaria ainda mais complexo o já emaranhado sistema tributário e aumentaria ainda mais a carga tributária.

16.17 TRIBUTAÇÃO SOBRE GRANDES FORTUNAS

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras entende que a criação de novos tributos deva ser vinculada a uma ampla proposta de reforma tributária que trate a questão em con-junto com outras matérias, cuja solução possa proporcionar efetiva melhoria na qualidade da tributação no Brasil e redução da carga tribu-tária, evitando-se cobranças repetidas sobre o mesmo fato gerador (bis in idem), pois impos-tos dessa natureza incidem sobre patrimônios que já foram tributados por ocasião de sua for-mação. Há que se assegurar, também, o respei-to ao princípio constitucional da isonomia.

A Constituição Federal (CF) prevê a criação de um im-posto sobre grandes fortunas, em artigo que carece de regulamentação (art. 153, VII). Essa regulamen-tação forçosamente definirá o patamar patrimonial acima do qual se caracterizam grandes fortunas, a alíquota a ser aplicada sobre essa base de cálculo e a natureza dos contribuintes sujeitos ao imposto (pes-soas físicas e jurídicas, domiciliadas no Brasil ou no exterior, e o espólio, por exemplo). Ressalte-se que a regulamentação do imposto previsto na CF não se confunde com a criação de novos tributos, tais como contribuições e taxas, que requerem a aprovação de emenda à Constituição.

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 199198

Há dificuldade na definição do conceito de gran-des fortunas, isto é, do conjunto de bens e direitos com valor superior a determinado patamar. Esse conceito incorre em vários equívocos, de natureza jurídica e econômica.

Do ponto de vista jurídico, muitas propostas de tri-butação sobre grandes fortunas confundem-na com o imposto sobre ganho de capital, que é matéria afeta ao Imposto de Renda. Trata-se da tributação de estoques, como ativos financeiros e patrimônio, e não de fluxos de renda, que ocorrem quando o patrimônio gera riqueza. Impostos dessa natureza também implicam bitributação, pois incidem sobre patrimônios que já foram tributados por ocasião de sua formação. Um dos grandes equívocos desse imposto é o fato de ele incidir sobre valores que já sofreram tributação direta, como o Imposto de Ren-da sobre rendimentos do trabalho e do capital, e dos impostos sobre o patrimônio, causando um reprová-vel bis in idem. Ao tratar as pessoas físicas e jurídicas da mesma forma, pode ser declarado um imposto inconstitucional, por ferir o princípio da isonomia, tratando igualmente os desiguais.

Do ponto de vista econômico, o imposto introduz dis-paridade entre empresas brasileiras, sujeitas a essa tributação, e estrangeiras, cujos titulares não são contribuintes no Brasil, com evidente vantagem para os domiciliados no exterior. Com isso, o resultado fi-nal com a criação do novo imposto seria o inverso daquele pretendido, ou seja, o tributo acabaria por provocar a fuga de investidores para outros países, com diminuição da poupança interna. O Governo seria induzido a aumentar os juros para manter os investimentos no país, a fim de compensar o tributo que sobre estes incidirá. Incentivaria a informalida-de, a busca por “planejamentos tributários criativos” e a constituição de holdings por valores históricos.

16.18 ENCARGO FINANCEIRO PARA EXPORTAÇÃO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que visem à extin-ção dos encargos financeiros sobre contratos de câmbio previstos na Lei nº 7.738/1989 para incentivar investimentos estrangeiros e expor-tação de bens e serviços.

A Lei nº 7.738/1989 definiu normas complementares à Lei nº 7.730/1989, que instituiu o Cruzado Novo, de-terminou o congelamento de preços e estabeleceu regras de desindexação da economia, além de outras providências. Entre essas normas complementares, foi estabelecida a cobrança de encargo financeiro, calculado com base no rendimento acumulado da Letra Financeira do Tesouro (LFT) sobre o valor em moeda nacional correspondente à parcela de con-tratos de câmbio cancelados ou baixados, relativos a transferências financeiras do exterior e a contratos de câmbio de exportação de mercadorias e serviços.

O encargo financeiro criado pelo do artigo 12 da Lei nº 7.738/1989, assim como da Lei nº 9.813/1999, constitui um ônus para os exportadores de bens ou serviços que, por qualquer razão, não conseguem concluir o negócio mediante ou o embarque das mercadorias, ou a prestação dos serviços contra-tados, ou ainda a transferência financeira. A arre-cadação desse encargo aumenta os custos e riscos das operações envolvidas, o que torna o produto nacional menos competitivo, com redução de expor-tações e consequente diminuição na arrecadação de tributos sobre exportação.

Hoje, em um cenário muito diverso daquele ambien-te inflacionário que levou à criação do Cruzado Novo, a aplicação do encargo financeiro constitui fator inibidor do acesso ao financiamento e, por conse-guinte, da própria atividade exportadora. Na atual conjuntura econômica, não mais ocorre a manobra

CAPÍTULO 16: QUESTÕES TRIBUTÁRIAS

especulativa de cancelamento ou baixa de contratos de câmbio para que detentores de promessas de dis-ponibilidade futura de moeda estrangeira pudessem vendê-las antecipadamente e aplicar o montante correspondente em moeda nacional no overnight, com elevados juros diários. Assim, não mais se justi-fica o ônus dos encargos financeiros.

Não há necessidade de manutenção do encargo fi-nanceiro ao disciplinamento e eficiência da sistemá-tica vigente de financiamento às exportações, pois os bancos brasileiros, para a correta aplicação dos recur-sos, realizam criteriosa análise de limite de crédito de seus clientes, em que considera o nível do risco atri-buído ao cliente e sua capacidade econômico-finan-ceira, bem como o estudo da performance cambial da empresa, mitigando-se o risco de uma instituição financeira conceder crédito com destinação indevida.

16.19 GANHOS DE CAPITAL DE PESSOAS FÍSICAS NA NEGOCIAÇÃO DE AÇÕES

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a simplificação da tributação sobre ganhos de capital de pessoas físicas na negociação de ações e a criação de mecanismos que estimu-lem o reinvestimento dos ganhos de capital.

A compra de ações por pessoas físicas é dificultada pela complexidade dos procedimentos tributários. De janeiro a agosto de 2014, foram fechadas 38.157 contas de pessoas físicas, segundo dados divulgados pela BM&FBovespa. A participação no mercado dos investidores individuais segue em 15% do volume financeiro, perto do nível de 2013, mas abaixo dos 17,9% de 2012.

Recomenda-se simplificar a tributação sobre ganhos de capital de pessoas físicas na negociação de ações e criar mecanismos que estimulem o reinvestimen-

to dos ganhos de capital, aproximando o modelo de tributação de ações do modelo de tributação de ganhos de capital na alienação de imóveis, inclusive pela elevação do limite de isenção para alienações de ações dos atuais R$20 mil para R$35 mil.

16.20 TRIBUTAÇÃO DOS TÍTULOS DE RENDA FIXA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a tributação dos títulos de renda fixa na nego-ciação a alíquotas equivalentes às da tributa-ção na hipótese de aquisição e manutenção do título até o vencimento, bem como para a tributação do pagamento de cupom periódico à alíquota de 15%.

O mercado de capitais também negocia títulos de renda fixa de longo prazo, que, ao lado das ações, constituem opção de diversificação de carteira, com aumento da expectativa de retorno e redução do risco dessa carteira. Para o emissor desses títu-los, representam fontes de recursos de longo prazo obtidos a taxas de juros inferiores às aplicadas aos instrumentos de prazo mais curto, com a vantagem adicional de cobrirem o hiato temporal entre fontes de financiamento, ciclo operacional e respectiva ge-ração de receitas. Porém, a rentabilidade desses tí-tulos é afetada pela tributação de sua aquisição e de pagamento do rendimento (cupom) periódico, o que limita a expansão desse mercado.

Apesar dos avanços na tributação dos títulos de ren-da fixa introduzidos pela Lei nº 12.431/2011, ainda há distorções a serem resolvidas. Nesse contexto, propõe-se alterar o regime de tributação de títulos de renda fixa de forma a que: (i) a tributação dos títu-los na hipótese de negociação não seja superior à tri-butação na hipótese de aquisição e manutenção do título até o vencimento; e (ii) o pagamento de cupom

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 201200

periódico seja tributado à alíquota de 15%, comple-mentando o imposto devido com base nas alíquotas previstas no artigo 1º da Lei nº 8.033/2004, caso o tí-tulo seja alienado em prazo inferior a 720 dias.

16.21 TRIBUTAÇÃO DAS OPERAÇÕES DE TROCAS DE CONTRATOS COM FLUXOS DE CAIXA (SWAP)

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia proposições voltadas para tribu-tação das operações de trocas entre contratos com fluxos de caixa (swap) somente no evento da cessão ou liquidação definitiva desses con-tratos, com a tributação incidindo em função do efetivo prazo de permanência na operação.

Swaps são operações privadas entre duas empresas para troca de contratos com fluxos de caixa deriva-dos de diferentes instrumentos financeiros, para re-dução de risco. Assim, duas empresas podem trocar, por exemplo, contratos de taxas de juros fixas e flu-tuantes ou contratos em diferentes moedas estran-geiras para obter fluxos de caixas mais adequados à sua gestão de caixa e de ativos financeiros.

Hoje, ocorre tributação durante o período de vigên-cia dos contratos e considera-se o período total des-ses contratos, ao invés do período da operação, o que distorce os seus resultados e fragiliza a proteção que se busca ao trocar esses contratos. A tributação das operações de troca entre contratos com fluxos de caixa (swap) deveria ocorrer somente no evento da cessão ou liquidação definitiva do contrato, com a tributação incidindo em função do efetivo prazo de permanência na operação.

16.22 TRIBUTAÇÃO DO HEDGE AGROPECUÁRIO DE PESSOAS FÍSICAS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a inclusão de ganhos e perdas decorrentes de operações de hedge nos resultados da ativida-de rural de pessoas físicas para fins de incidên-cia do Imposto de Renda.

Pessoas físicas também podem comprar e vender instrumentos financeiros nos mercados futuros para obter proteção contra flutuações de preços nos mer-cados à vista (hedge). Tais operações são particular-mente importantes para produtores rurais, na me-dida em que funcionam como um seguro que cobre os resultados da atividade rural, sujeitos a variáveis climáticas, de mercado e financeiras – sobre as quais o produtor não tem controle –, que afetam produtos agropecuários e insumos. Contudo, os ganhos e per-das decorrentes dessas operações não são conside-rados nos resultados da atividade rural de pessoas físicas, produtores rurais, para fins de incidência do Imposto de Renda.

16.23 TRIBUTAÇÃO DOS TÍTULOS DO AGRONEGÓCIO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para al-terações no regime de tributação dos títulos do agronegócio de forma a equalizar esses títulos com outros instrumentos financeiros negocia-dos no mercado de capitais.

Os títulos ligados à atividade agropecuária estão sub-metidos a condições tributárias que os colocam em desvantagem em relação a outros instrumentos do mercado de capitais e restringem a obtenção de recur-

CAPÍTULO 16: QUESTÕES TRIBUTÁRIAS

sos para financiamento do agronegócio. Para equali-zar esses títulos com outros instrumentos financeiros negociados no mercado de capitais, recomenda-se promover ajustes no regime de tributação dos títulos do agronegócio, estabelecendo: para os títulos vincu-lados ao valor do produto, isenção de Imposto de Ren-da (IR) para investidores estrangeiros e tributação dos demais investidores segundo as normas aplicáveis à renda variável; para os títulos remunerados por taxa de juros, tratamento semelhante aos títulos de ren-da fixa; e para todos os títulos, isenção de IR sobre os rendimentos e ganhos de capital auferidos por pessoa física e para pessoas jurídicas; contabilização como atividade rural do resultado da primeira negociação de título liquidável por meio da entrega de produto.

Em 2015 foi editada a Lei nº 13.097/2015, que traz algumas mudanças para o setor. Segundo o art. 97 caberá ao Conselho Monetário Nacional (CMN) re-gulamentar as disposições da Lei nº 11.076/2004 referentes ao Certificado de Depósito Agrário (CDA), ao Warrant Agropecuário (WA), ao Certificado de Di-reitos Creditórios do Agronegócio (CDCA), ao Certifi-cado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e à Letra de Crédito do Agronegócio (LCA), podendo inclusive estabelecer prazos mínimos e outras condições para emissão e resgate desses títulos, bem como diferen-ciar tais condições de acordo com o tipo de indexa-dor adotado contratualmente.

Anteriormente, ao CMN cabia apenas expedir as ins-truções que se fizessem necessárias à execução das disposições legais referentes a tais títulos.

16.24 DIFERENCIAÇÃO ENTRE FUNDOS DE CURTO PRAZO E DE LONGO PRAZO

dos de Renda Fixa (para fins tributários), preser-vada apenas a tributação em função do prazo de permanência do cotista.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia proposições voltadas para o fim da diferenciação entre fundos de curto e longo pra-zos, de forma que passaria a haver apenas Fun-

As diferentes alíquotas que incidem sobre fundos de curto e de longo prazo introduzem distorções no mer-cado e dão origem a operações de arbitragem entre essas duas modalidades. Uma vez que ambos os tipos de fundos de investimento são lastreados em ativos semelhantes, com diferentes participações relativas em função da probabilidade de resgate de cotas, não existe diferença fundamental entre eles, com exceção do tempo de permanência dos cotistas. Por essa razão, recomenda-se o fim da diferenciação dos fundos de curto e de longo prazo, de forma que passaria a haver apenas Fundos de Renda Fixa (para fins tributários), preservada apenas a tributação em função do prazo de permanência do cotista, com intervalos semestrais decrescentes, indo de 22,5% a 15% (como nas alíquo-tas aplicáveis aos atuais Fundos de Longo Prazo).

16.25 TRIBUTAÇÃO DO INVESTIMENTO DE LONGO PRAZO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para a tributação com alíquotas regressivas em fun-ção do prazo para Fundos de Investimento em Participações (FIP e FIC-FIP), Fundos de Investi-mento em Empresas Emergentes (FIEE e FIC-F-MIEE) e Fundos de Investimento em Empresas Emergentes Inovadoras (FMIEE- Inovadora e FIC-FMIEE Inovadora).

A Instrução Normativa (IN) nº 1.022/2010 da Receita Federal do Brasil consolidou as normas que disci-plinam a cobrança e o recolhimento do Imposto de Renda incidente sobre os rendimentos e ganhos au-feridos nos mercados financeiros e de capitais, por

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 203202

investidores residentes ou domiciliados no país e no exterior. A norma, que revogou a IN nº 25/2001, en-tre outros normativos que tratavam da matéria, foi organizada em três capítulos dispondo sobre a tri-butação das aplicações: em fundos de investimento, por residentes ou domiciliados no país; em títulos ou valores mobiliários de renda fixa ou de renda variável, por residentes ou domiciliados no país; e em fundos de investimento e em títulos ou valores mobiliários de renda fixa ou de renda variável, por residentes ou domiciliados no exterior.

A IN nº 1.022 não previu a tributação com alíquotas regressivas em função do prazo para Fundos de In-vestimento em Participações (FIP e FIC-FIP), Fundos de Investimento em Empresas Emergentes (FIEE e FIC-FMIEE) e Fundos de Investimento em Empresas Emergentes Inovadoras (FMIEE- Inovadora e FIC-F-MIEE Inovadora). Tributação dessa natureza seria condizente com o propósito de se obter recursos de longo prazo para os tipos de operação que lastreiam esses fundos específicos.

Recomenda-se a edição de normativo estabelecen-do alíquotas regressivas em função de prazo, na se-guinte proporção:

Prazo entre o investimento e o resgate (ganho de capital)

FIP e FIC-FIP

FIEE e FIC-FMIEE

FMIEE – Inovadora (e FIC-FMIEEinovadora)

Até 36 meses 15% 10% 5%

36 a 60 meses 10% 5% Isento

60 a 84 meses 5% Isento Isento

+ de 84 meses Isento Isento Isento

16.26 TRIBUTAÇÃO DE FUNDOS DE PENSÃO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições que concedam aos participantes de fundos de pensão a liber-dade de escolha entre as tabelas regressiva e progressiva do Imposto de Renda apenas ao final do ciclo contributivo.

O aumento dos recursos angariados pelos fundos de pensão é hoje limitado, entre outros, pela forma de tributação no final do ciclo contributivo, quando o participante passa a usufruir o principal e os rendi-mentos do patrimônio que acumulou. O crescimento dos fundos seria beneficiado pela possibilidade de se conceder aos participantes de fundos de pensão a liberdade de escolher entre as tabelas regressiva e progressiva do Imposto de Renda apenas ao final do ciclo contributivo, no momento em que se prepara para começar a receber os benefícios previdenciários a que tem direito. O exercício dessa opção ao final da vida laboral funciona como um novo incentivo para a escolha de planos de benefícios, evitando a neces-sidade de uma decisão com antecedência de muitos anos. Além disso, a maior mobilidade nas carreiras impõe fortes mudanças na vida das pessoas ao longo de sua trajetória profissional, ou seja, uma flexibilida-de de trajetória que não condiz com escolha rígida de regime tributário, feita com tanta antecipação.

16.27 EXTINÇÃO DA TRIBUTAÇÃO SEMESTRAL INCIDENTE SOBRE A CARTEIRA DOS FUNDOS (“COME-COTAS”)

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia proposições que extingam a ante-cipação da tributação semestral do Imposto de Renda (IR) sobre fundos mútuos de investimento

(“come cotas”). Para a CNF, essa extinção traria simetria entre os diversos investimentos de ren-da fixa, bem como maior competitividade entre os produtos disponíveis no mercado de capitais. Além disso, com o alongamento das carteiras e o aumento da volatilidade, essa antecipação do IR pode se tornar indevida.

Atualmente, os fundos mútuos de investimento são tributados pela Receita Federal do Brasil (RFB) em dois momentos: quando há o resgate da aplicação e a cada seis meses sobre os valores que permanecem aplicados, no último dia útil dos meses de maio e no-vembro. A alíquota do Imposto sobre a Renda (IR) se-mestral é de 20% sobre os rendimentos para os fun-dos de curto prazo e de 15% para os de longo prazo. O IR é pago na forma de diminuição da quantidade de cotas que o investidor possui no fundo. O valor da cota não se altera, mas, sim, o número de cotas do investidor. É por essa razão que o recolhimento semestral de IR é conhecido como “come-cotas”.

Para efeitos de recolhimento de IR, os fundos são classificados em três categorias: fundos de ações, fundos de curto prazo e fundos de longo prazo. En-quanto nos fundos de ação o IR é pago apenas no resgate e calculado com base em uma alíquota fixa de 15%, nas duas outras categorias o recolhimento é feito na fonte e as alíquotas variam de acordo com o prazo em que os recursos forem aplicados. Contudo, o “come-cotas” é calculado tomando como base a menor alíquota de cada tipo de fundo – 20% para os fundos de curto prazo e 15% para os de longo prazo.

Os fundos de investimento são os principais deten-tores de títulos públicos federais. Esses veículos também atuam como importantes adquirentes de títulos corporativos, o que tende a se ampliar com os desafios impostos à indústria, na busca pela ren-tabilização de suas carteiras. São, portanto, atores potencialmente decisivos no estímulo ao mercado secundário desses ativos.

O “come-cotas” gera um custo operacional para a indústria de fundos de investimento (registro e co-brança) e reduz a rentabilidade do cotista. Com a sua extinção, o efeito capitalização fica acrescido da parcela que seria retida a título de antecipação, se-mestralmente, aumentando o ritmo de crescimento da indústria, e, portanto, o seu potencial arrecada-tório. Por outro lado, os fundos de varejo, que hoje representam a principal fonte de arrecadação do “come-cotas”, ganharão competitividade (inclusive em relação a outros produtos de renda fixa de mes-ma natureza que não possuem a incidência dessa antecipação tributária), podendo, com isso, refor-çar a arrecadação projetada desse segmento. Nesse sentido, outra assimetria gerada pelo “come-cotas” está no fato de que os fundos de índice (Exchange Traded Funds - ETFs) de renda fixa, criados pela Lei nº 13.043/2014, não sofrem tal antecipação.

A extinção do “come-cotas” não deve representar queda de arrecadação no longo prazo, embora seja esperado impacto nos fluxos de caixa associados à tributação dos fundos. Nesse caso, uma das alterna-tivas seria a redução gradual das alíquotas do come--cotas, até sua extinção, amortecendo-se os efeitos sobre os fluxos de arrecadação.

16.28 TRIBUTAÇÃO NA AQUISIÇÃO DE COTA DE FUNDO DE INVESTIMENTO IMOBILIÁRIO

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF) apoia propostas que bus-quem reconhecer a aplicação da isenção de Imposto sobre a Renda (IR), prevista na Lei nº 8.668/1993, incidente sobre os fundos de inves-timento que adquirem cota de fundo de investi-mento imobiliário (FII), no mercado secundário de valores mobiliários.

CAPÍTULO 16: QUESTÕES TRIBUTÁRIAS

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 205204

O fundo de investimento imobiliário (FII) é uma comu-nhão de recursos captados por meio do sistema de distribuição de valores mobiliários. Partem da premis-sa de que a junção do patrimônio de diversas pesso-as permite a obtenção de melhores resultados para o todo em relação aos que seriam obtidos isoladamente. Ao mesmo tempo, representam um novo canal de in-vestimento, em especial para pequenos investidores, que passam a ter acesso aos mais variados produtos financeiros, que de outra forma seriam inacessíveis.

Fundos desse tipo são destinados à aplicação em em-preendimentos imobiliários e em títulos e valores mo-biliários de emissores cujas atividades sejam prepon-derantemente ligadas ao setor imobiliário ou, ainda, em títulos de dívida privada com lastro imobiliário. Trata-se também de um importante instrumento de financiamento no mercado de capitais, o que benefi-cia o setor imobiliário como um todo, com expansão desse segmento tão relevante para a economia.

No Brasil, os FII já viabilizaram diversos projetos imobiliários. Até 2013 registrou-se o número de 223 FIIs em mercado, sendo que 79% deles possuíam patrimônio líquido de até R$250 milhões e, em 70% deles, o valor das cotas era de no máximo R$1 mil. Os fundos imobiliários, junto aos fundos de partici-pações, foram os que mais cresceram na categoria de estruturados, com expansão de 59,6% em 2012 em relação a 2011.

O FII foi criado por meio da Lei nº 8.668/1993, que dispõe sobre a constituição e o regime tributário desses fundos. Atualmente no Brasil, além da referi-da norma, a Instrução da Comissão de Valores Mobi-liários (CVM) nº 472/2008, modificada pela Instrução da CVM nº 478/2009, também estabelece critérios referentes à estruturação do fundo. De acordo com aquela Instrução, os FIIs podem aplicar seus recur-sos em valores mobiliários e outros ativos ligados ao setor imobiliário, tais como ações, debêntures, notas promissórias, quotas de FIDCs, CRIs, CEPAC, letras hipotecárias, letras de crédito imobiliário e até quotas de outros FIIs.

De forma geral, tanto a carteira do fundo quanto os cotistas, no momento da distribuição dos rendimen-tos e na negociação no mercado secundário, estão sujeitos à tributação de Imposto sobre a Renda (IR) à alíquota de 20%.

Os rendimentos e ganhos líquidos auferidos pelos FIIs em aplicações financeiras de renda fixa ou de renda variável sujeitam-se à incidência do Imposto sobre a Renda Retido na Fonte (IRRF), observadas as mesmas normas cabíveis às aplicações financeiras das pessoas jurídicas, conforme o artigo 16-A da Lei nº 8.668/1993. No entanto, o §1º desse mesmo arti-go determina que não estão sujeitas à incidência do IRRF tanto a remuneração produzida por letras hipo-tecárias (LHs), Certificados de Recebíveis Imobiliá-rios (CRIs) e Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) quan-to os rendimentos distribuídos por FIIs cujas cotas sejam admitidas à negociação exclusivamente em bolsa de valores ou mercado de balcão organizado.

Dessa forma, em princípio, nos termos do caput do artigo 16-A da Lei nº 8.668/1993, caso um FII adquira cotas de outro FII, a tributação seria aplicável tanto aos ganhos líquidos na venda das cotas quanto aos seus rendimentos.

A Receita Federal do Brasil (RFB), ao interpretar a legislação na Solução de Consulta nº 181, entendeu que, no caso do fundo de investimento imobiliário que se coloca na posição de investidor em outro fundo de investimento imobiliário (investido), o §1º do artigo 16-A da Lei nº 8.668/1993 não estabelece isenção de imposto de renda sobre rendimentos e ganhos líquidos decorrentes de aplicações efetua-das pelos fundos de investimento imobiliário nos ativos de que tratam os incisos II e III do artigo 3º da Lei nº 11.033/2004.

Para a RFB, o referido §1º afasta apenas a incidência do IRRF para os rendimentos distribuídos pelos FII cujas quotas sejam admitidas à negociação exclu-sivamente em bolsas de valores ou no mercado de balcão organizado. Prevaleceu, assim, a interpreta-

CAPÍTULO 16: QUESTÕES TRIBUTÁRIAS

ção de que o citado dispositivo não isenta o recolhi-mento de IR na alienação de quotas de FII, por seguir as regras dos ganhos de capital ou ganhos líquidos auferidos em operações de renda variável, para os quais a tributação não se dá na fonte.

Esse entendimento restritivo, entretanto, pode não ser a melhor opção a ser adotada. A CNF entende

que a isenção prevista aos FIIs no artigo 16-A, §1º, da Lei nº 8.668/1993 deveria ser estendida também aos ganhos auferidos pelos fundos de investimentos imobiliários nas negociações com cotas de outros FIIs, pois isso não apenas facilitaria a gestão de tais fundos, como também incentivaria o investimento nesses veículos, em benefício de toda a economia.

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17QUESTÕES TRABALHISTAS E SINDICAIS

A modernização da legislação trabalhista brasileira é fundamental e o debate sobre sua extensão, sua rigidez e os seus reflexos sobre produtividade e am-pliação do número de vagas formais de emprego é continuamente alimentado por agentes das mais diversas perspectivas. A adequação do sistema regu-latório dos contratos; a garantia de maior liberdade para o estabelecimento de normas coletivas de tra-balho; a introdução de mecanismos de solução de conflitos; e o empenho do Legislativo em prol da ela-boração de normas que garantam maior segurança jurídica às empresas e aos trabalhadores são pontos comuns nas discussões quando o objetivo é tanto a ampliação da oferta de produtos e serviços quanto o estímulo à oferta de empregos formais.

A rigidez do mercado de trabalho subtrai importan-tes elementos para a competitividade das empresas, em um momento em que o setor privado se expõe como nunca à concorrência internacional. Propos-tas são muitas vezes míopes ao ignorar os ônus que acarretam para as empresas e negligenciar o efeito deletério desse ônus para a geração de mais e me-lhores empregos ao longo do tempo. Propostas vol-tadas para o curto prazo não ajudam a manter os trabalhadores em seus postos, mas, pelo contrário, estimulam a informalidade e desestimulam a gera-ção de novos empregos.

A ausência de uma proposta consolidada e coesa de reforma trabalhista, que poderia ser preparada tam-

CAPÍTULO 17: QUESTÕES TRABALHISTAS E SINDICAIS

Para a Confederação Nacional das Instituições Financeiras, podem ser introduzi-das profundas melhorias na legislação que rege as relações de trabalho, ou por meio de uma proposta de reforma trabalhista, ou por intermédio de projetos pon-tuais. Tais melhorias, sem reduzir os direitos dos trabalhadores, devem estar vol-tadas para relações de trabalho transparentes, lastreadas em segurança jurídica para todas as partes e flexíveis, que estimulem as empresas a inovar, a aumentar sua produtividade, a se tornarem mais competitivas e a crescer. Com isso, gera-se maior número de empregos formais e promove-se o trabalho decente e produtivo, a extensão da proteção social, bem como o fortalecimento do diálogo social. Os instrumentos mais adequados para atingir esses objetivos são as convenções e os acordos coletivos de trabalho, ao lado de dispositivos legais que incentivem a concessão voluntária de direitos trabalhistas por parte dos empregadores.

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 209208

bém pelo Poder Executivo, estimula o intenso afluxo de proposições pontuais de cunho trabalhista.

17.1 CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O FGTS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que explicitem o caráter provisório da contribuição de 10% so-bre a multa rescisória do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), bem como esta-beleçam prazo limite para a sua cobrança. A CNF sublinha que os recursos acumulados pela arrecadação dessa contribuição devem ser destinados exclusivamente aos propósitos originais previstos em lei. A Confederação en-tende que a extinção da contribuição reduzirá a carga tributária das empresas, contribuindo para a geração e formalização do emprego, e, consequentemente, para a competitividade da economia brasileira.

A contribuição social devida pelo empregador em caso de despedida sem justa causa foi criada em 2001 pela Lei Complementar (LC) n° 110 com a fina-lidade de pagar parte das despesas do Governo com o ressarcimento aos trabalhadores das perdas nas contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) causadas por planos econômicos. Estima-se que a implementação dos Planos Verão e Collor I, em 1989 e 1990, respectivamente, criou um passivo do FGTS da ordem de R$42 bilhões, o que provocou a necessidade de geração de patrimônio do Fundo em igual montante. A contribuição tem alíquota de 10% sobre o valor dos depósitos do FGTS devidos durante a vigência do contrato de trabalho, acrescida das re-munerações aplicáveis aos saldos das contas.

A LC n° 110/2001, também com o intuito de recompor os recursos do Fundo, criou uma contribuição mensal de 0,5% sobre a remuneração dos empregados. Essa

contribuição foi extinta no final de 2006. Já para a con-tribuição adicional de 10%, a ser paga na demissão sem justa causa, a LC não deixou explícito o seu cará-ter provisório, pois não definiu prazo para sua vigência.

Apesar do veto da Presidente da República ao Pro-jeto de Lei Complementar nº 200/2012, em julho de 2013, persistem no Congresso Nacional outros proje-tos que pretendem sanar tal omissão. Tais propostas extinguem a contribuição, tendo em vista o reconhe-cimento do caráter temporário da necessidade de se recompor os recursos do FGTS e o elevado ônus para os empregadores.

De fato, não se justifica a perpetuação do acrésci-mo de 10% sobre a multa rescisória. Há indicações de que os recursos do Fundo já foram recuperados. A Caixa Econômica Federal (CEF), seu agente opera-dor, tem divulgado os ótimos resultados das contas do FGTS, a ponto de o Poder Executivo ter promo-vido o pagamento antecipado dos complementos de atualização por meio da Lei n° 10.555/2002, que autorizou a CEF, às expensas do próprio Fundo, a efetivar o crédito de valores iguais ou superiores a R$100 nas contas vinculadas. Em 2013, o total de ativos do FGTS montava a R$365,3 bilhões, supe-rando largamente o passivo do Fundo oriundo dos Planos Econômicos.

A subsistência da contribuição adicional onera a carga tributária das empresas, refletindo negativa-mente sobre a competitividade e inibindo a forma-lização do emprego. No exercício de 2013, ano em que o Projeto de Lei Complementar nº 200/2012 foi vetado, o setor privado contribuiu com R$3,7 bilhões adicionais, em razão da contribuição social. Ade-mais, existe a possibilidade de esses recursos virem a ser direcionados para outra finalidade que não a determinada pela LC n° 110/2001, perpetuando as-sim uma contribuição que se supunha provisória.

Em outubro de 2013, Confederações Patronais ajui-zaram Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADI nº 5.050, ADI nº 5.051 e ADI nº 5.053) no Supremo

Tribunal Federal (STF) pretendendo o reconheci-mento da inconstitucionalidade da Contribuição Social sobre o FGTS.

17.2 TERCEIRIZAÇÃO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para re-gulamentação da terceirização que definam regras claras e contribuam para a melhoria das relações do trabalho e do ambiente de ne-gócios no país. Tais regras devem: conceder às empresas ampla margem para decidir quais atividades terceirizar; atribuir responsabilida-de subsidiária aos contratantes pelas obriga-ções trabalhistas de serviços contratados; ga-rantir os direitos trabalhistas e previdenciários desses trabalhadores terceirizados; admitir a hipótese de empresas contratadas prestarem serviços especializados não limitados a um único objeto social; e prever o recolhimento de contribuições sindicais vinculadas a categorias econômicas e profissionais nos termos do art. 511 da Consolidação das Leis do Trabalho.

Terceirização consiste em transferir a pessoas jurí-dicas distintas da organização contratante a reali-zação de tarefas para as quais a relação custo/be-nefício da execução interna não é vantajosa, seja do ponto de vista financeiro, seja de qualidade, ou mesmo de especialidade. Faz parte da divisão e especialização do trabalho, constituindo fator es-sencial no processo de produção e prestação de serviços. Sua prática gera maior produtividade e competitividade, estimula investimentos e cria em-pregos formais.

A terceirização não se confunde com mera interme-diação de mão de obra. Trata-se de uma parceria co-mercial entre prestador e tomador de serviços com vistas à produção de bens e serviços para o mercado.

Nessa parceria comercial, as partes são sujeitos ca-pazes, idôneos, o objeto é lícito e aplica-se formas contratuais prescritas ou não defesas em lei, não existindo elementos que caracterizem relação de emprego. Ou seja, exercita-se a liberdade de con-tratar que está no âmago da livre iniciativa, um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, prevista no inciso IV do artigo 1° e no artigo 170 da Constituição Federal. Ao firmarem contrato de ter-ceirização, contratante e contratada exercem direito fundamental prescrito no artigo 5°, inciso II do mes-mo diploma legal. A rigor, não haveria necessidade de lei específica so-bre terceirização, por ser relação contratual de natu-reza privada regulada pelo Código Civil no Livro que trata de Direitos das Obrigações. Contudo, a ausên-cia de lei específica dificulta a compreensão dos be-nefícios dessa prática e cria insegurança jurídica tan-to para as empresas quanto para os trabalhadores. Hoje, a terceirização é regida pela Súmula 331/1993 do Tribunal Superior do Trabalho (TST), cuja inter-pretação vem variando ao longo das últimas déca-das, com prejuízos para as relações de trabalho.

Nessa matéria, as discussões se dão principalmen-te em torno: da determinação das atividades que se podem delegar para serem executadas por con-tratadas; da responsabilidade das empresas contra-tantes com os direitos trabalhistas e previdenciários, em relação aos funcionários da empresa contratada; obrigatoriedade de objeto social único mesmo para empresas que, ao desempenhar uma atividade prin-cipal, também se dedicam a atividades acessórias de interesse do público; e da possibilidade de recolhi-mento de contribuição sindical por parte dos traba-lhadores contratados para sindicato da categoria da empresa contratante.

Quanto ao que delegar, a Súmula 331 estabelece que a terceirização só pode ser aplicada nas áreas da or-ganização definidas como atividade meio, ou seja, aquelas em que não há participação direta dos em-pregados terceirizados na formação do produto ou do

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serviço final da empresa contratante. A determinação, no entanto, dá margem a diferentes interpretações em razão da dificuldade de definir o que são as ativi-dades meio e fim nos complexos processos produti-vos atuais. A terceirização está presente em todas as áreas de atuação, tanto a meio quanto a fim. Ademais, as empresas estão mais bem posicionadas para deci-dir que atividades terceirizar, à luz de sua cultura insti-tucional, de seu plano estratégico e da confiança que depositam no fornecedor de serviços contratados.

Quanto à responsabilidade do contratante, por sua vez, poderá ser subsidiária sempre que a empresa fis-calize periodicamente o fiel cumprimento das obri-gações trabalhistas e previdenciárias por parte da contratada. Na ausência dessa fiscalização, poder-

-se-ia admitir a responsabilidade objetiva solidária.

No que diz respeito à exigência de objeto social úni-co, propostas em tramitação no Congresso Nacional podem resultar na extinção da prestação de serviços essenciais a significativa parcela da população bra-sileira, tal como a atividade de correspondente no país. Por um lado, a explicitação do objeto no contra-to social contribui para evitar a precarização da mão de obra. Por outro, a limitação da gama de serviços oferecidos em função de um único objeto social não impede necessariamente tal precarização, mas pe-naliza o consumidor. No caso do setor financeiro, a regulamentação que rege a atividade de correspon-dente no país (Resolução do Conselho Monetário Nacional nº 3.954/2009) veda que essa atividade se constitua em objeto social único.

Com relação às contribuições sindicais dos empre-gados da empresa contratada, deve prevalecer o princípio da associação a sindicatos considerando a categoria profissional e econômica do prestador. O fato de o trabalhador prestar serviços em diferentes empresas não altera sua categoria em função da ati-vidade das empresas às quais serve. Nesse quadro, não faria sentido o trabalhador contratado contribuir para sindicatos que não representem sua categoria, mas, sim, a de empregados da empresa contratante.

Para a CNF, deve imperar o disposto no artigo 511 da Consolidação das Leis do Trabalho, que vincula asso-ciação sindical à categoria profissional ou econômica em virtude de identidade, semelhança ou conexida-de de interesses econômicos, de condições de vida oriundas da profissão ou do trabalho em comum, de profissões ou funções diferenciadas, em uma homo-geneidade que torna a associação natural.

O Plenário Virtual do Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a existência de repercussão geral da ter-ceirização de mão de obra no Agravo em Recurso Ex-traordinário (ARE) nº 713.211. Posteriormente, hou-ve a apresentação da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 324 para o reco-nhecimento da inconstitucionalidade de interpre-tação adotada “em reiteradas decisões da Justiça do Trabalho” relativas à terceirização, tomadas, no seu entendimento, “em clara violação aos preceitos constitucionais fundamentais da legalidade, da livre iniciativa e da valorização do trabalho”.

17.3 CRIAÇÃO DAS JUNTAS DE JULGAMENTO E DO CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS TRABALHISTAS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas de criação de um conselho administrativo de recursos em maté-rias trabalhistas por entender que órgão dessa natureza propiciaria acórdãos marcados por riqueza doutrinária e jurisprudencial que solu-cionariam divergências sobre a interpretação das leis trabalhistas. Para a CNF, esse novo tri-bunal administrativo deveria buscar a promo-ção da justiça e do rigor técnico, bem como ofe-receria maior celeridade à solução das lides.

É cada vez maior a importância dos tribunais ad-ministrativos, enquanto instâncias de apurada e

especializada técnica jurídica, dedicadas ao cum-primento do papel constitucional de julgamento de litígios. A valorização dos meios administrativos de solução de litígios representa também economia de recursos públicos, uma vez que seria estimula-da a redução da litigiosidade na máquina judiciária, sempre mais onerosa.

O artigo 10 da Constituição Federal (CF) assegura “A participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação”. A participação de entidades de representação de trabalhadores e empregadores nas discussões técnicas em conse-lhos tripartites e em tribunais administrativos é uma oportunidade de refletir as demandas da sociedade e reforçar o embasamento técnico e jurídico das de-cisões desses colegiados, o que poderá evitar que as matérias desaguem no Judiciário.

Atualmente, as empresas autuadas pela fiscalização trabalhista podem recorrer, na esfera administrativa, apenas ao próprio Ministério do Trabalho e Emprego. Portanto, a mesma estrutura que autua a empresa é também responsável pelo julgamento dos pro-cessos de quem recorre. O art. 638 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) prevê que “Ao Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio é facultado avocar ao seu exame e decisão, dentro de noventa dias do despacho final do assunto, ou no curso do processo, as questões referentes à fiscalização dos preceitos estabelecidos nesta Consolidação”.

Na sistemática atual de julgamentos administrativos dos autos de infração, pela qual a autoridade estatal julga monocraticamente, a existência de apenas um ponto de vista limita o enquadramento legal aplicá-vel ao tipo de infração eventualmente cometida pelo empregador, registrada na lavratura do auto de in-fração, e a ampla defesa do autuado.

A Confederação entende que devem ser aplicados os princípios de direito que garantam de forma justa a

discussão administrativa das penalidades impostas, conferindo, inclusive, de forma efetiva, o controle de legalidade dos atos emanados da fiscalização. A Lei nº 9.784/1999, que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal, deter-mina em seu artigo 2º que a “Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalida-de, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcio-nalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência”.

Nesse sentido, a criação das Juntas de Julgamento, nos Estados e no Distrito Federal, e do Conselho Ad-ministrativo de Recursos Trabalhistas, que seriam integrados, paritariamente, por representantes in-dicados pelas representações dos trabalhadores e pelas confederações sindicais de empregadores, em listas tríplices a serem encaminhadas ao Ministro do Trabalho, a quem compete a escolha dos compo-nentes do órgão e a designação de membro para a presidência dos trabalhos, é vista de forma positiva pela Confederação.

Alguns Ministérios criaram sistemas de julgamento das autuações ou de decisões exaradas pelos seus órgãos, os quais contam com a participação de repre-sentantes dos setores que possuem interesse na dis-cussão dos temas levados a julgamento. É o caso do:

a) Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF): órgão paritário que funciona no âmbito do Ministério da Fazenda, com atribuição de jul-gar autuações fiscais, em que há a participação de representantes dos contribuintes. Nos cole-giados em que se discute a contribuição social previdenciária, a composição inclui Conselheiros indicados pelos sindicatos de empregados, res-tando na seguinte composição: (i) representan-tes do Governo; (ii) representantes dos contri-buintes; (iii) representantes dos trabalhadores;

b) Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS): trata-se de órgão colegiado, integrante da estrutura do Ministério da Previdência Social,

CAPÍTULO 17: QUESTÕES TRABALHISTAS E SINDICAIS

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que tem como função principal julgar os litígios entre segurados e o INSS; a composição, que é paritária, inclui representantes dos trabalhado-res e das empresas;

c) Conselho de Recursos do Sistema Nacional de Seguros Privados, de Previdência Privada Aberta e de Capitalização: órgão colegiado paritário, in-tegrante da estrutura do Ministério da Fazenda, destinado a julgar em última instância adminis-trativa, os recursos de decisões da Superinten-dência de Seguros Privados – SUSEP.

Os citados órgãos foram criados no intuito de asse-gurar aos administrados a observância dos princí-pios e garantias fundamentais, assim como o devido processo legal, o contraditório, a ampla defesa, a ra-zoabilidade, a proporcionalidade, entre outros, bem como servem para democratizar o sistema decisório do Poder Público no país.

17.4 TRIBUTAÇÃO ADICIONAL SOBRE ROTATIVIDADE DE MÃO DE OBRA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que estimulem a qualificação do trabalhador, ao mesmo tempo em que desonerem as empresas para que es-tas possam investir na constante melhoria das condições de trabalho. Para a CNF, propostas dessa natureza contribuem para reduzir a ro-tatividade nos postos de trabalho, o que é de interesse tanto de trabalhadores quanto de empregadores.

De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego, rotatividade é o fenômeno social em que ocorre a substituição de um ocupante de um posto de tra-balho por outro empregado, ou seja, uma demissão seguida de uma contratação.

A rotatividade pode ter implicações negativas tanto para trabalhadores quanto para empresas. Para o trabalhador, pode representar período passageiro de desemprego. Para as empresas, pode implicar pesa-das despesas de seleção, treinamento e avaliação de recém-contratados, periodicamente. A rotatividade afeta a produtividade e competitividade da empresa.

Taxas elevadas de rotatividade também afetam os investimentos do Governo. Parte significativa dos recursos empregados em obras de infraestrutura é lastreada no Fundo de Garantia do Tempo de Ser-viço (FGTS) e no Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). O uso recorrente desses recursos pelos assala-riados demitidos reduz o montante disponível para uso em obras públicas.

Preocupados com os efeitos da rotatividade no país, o Ministério da Fazenda e o Conselho Deliberativo do FAT (CODEFAT) estudam a criação de um novo tribu-to ou nova multa para as empresas que possuírem elevados índices de rotatividade. A Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, por sua vez, considera que a solução decorrerá de investimentos na qualificação do trabalhador e na melhoria do ambiente de trabalho.

Para a CNF a criação de mais um ônus para o em-pregador representa um grande retrocesso. Os em-pregadores, que já suportam uma elevada carga tributária e pesados encargos trabalhistas, não se beneficiam de altas taxas de rotatividade. A criação de mais tributos diminuiria os investimentos e teria efeito nocivo sobre a criação de novas vagas, uma vez que o empregador deverá analisar o risco de ser multado por eventuais contratações baseadas em projeções de mercado que podem não se confirmar.

17.5 COMPENSAÇÃO DA GRATIFICAÇÃO DE FUNÇÃO COM A 7ª E 8ª HORAS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que permitam que o valor da gratificação de função concedida a bancários com jornada de trabalho de oito horas diárias seja abatido dos valores eventu-almente devidos a trabalhador reenquadrado na jornada de seis horas diárias, como meio de conservar o equilíbrio contratual entre empre-gadores e empregados.

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) dedica dispositivos específicos à disciplina do trabalho dos bancários. Uma das mais importantes particulari-dades concedidas a essa categoria é a jornada de trabalho de seis horas diárias, perfazendo o máximo de trinta horas semanais. No entanto, a CLT contém previsão de prorrogação da jornada de trabalho do bancário para oito horas diárias, o que corresponde a quarenta horas semanais, desde que satisfeitas duas condições: o exercício de função de confiança e o pagamento de gratificação de função não inferior a um terço de seu salário.

Dessa forma, é mantido o equilíbrio e a isonomia no contrato de trabalho, pois, aumentada a remunera-ção em no mínimo um terço, aumenta-se também a jornada de trabalho em um terço (de seis para oito horas). O maior valor agregado pelo empregado à instituição que o emprega é contraposto pela maior remuneração. A ausência da gratificação implicaria enriquecimento injustificado do empregador.

Contudo, bancários que cumprem jornada de oito horas diárias e quarenta semanais pleiteiam em ju-ízo o reconhecimento da jornada de seis horas diá-rias e trinta semanais, sob o argumento de que não desempenham função de confiança. Solicitam que a sétima e oitava horas de trabalho diárias sejam re-muneradas como horas extraordinárias. Pleiteiam,

portanto, o salário correspondente a essas duas ho-ras, acrescido do respectivo adicional de hora extra.

Ocorre que, uma vez remunerada a gratificação de função, na extensão da jornada de seis para oito ho-ras diárias, o pagamento da sétima e oitava horas como horário extraordinário resulta em dupla remu-neração por essas horas trabalhadas. Como conse-quência, desequilibra-se o contrato de trabalho em desfavor do empregador.

Nesse contexto, a Confederação entende oportuno aperfeiçoamento da CLT que permita o abatimento no valor da gratificação de função dos valores even-tualmente devidos ao trabalhador reenquadrado na jornada de seis horas diárias e trinta semanais (ho-ras extras). Essa alteração manteria o equilíbrio do contrato de trabalho, em consonância com os princí-pios da boa-fé e da função social do contrato.

17.6 SISTEMA ÚNICO DO TRABALHO (SUT)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o fortalecimento da proteção de direitos traba-lhistas por meio de sistemas que incorporem os mais recentes desenvolvimentos tecnoló-gicos uniformes para atender os três níveis da Federação. Para a CNF, as proposições preci-sam respeitar os direitos dos trabalhadores e, ao mesmo tempo, estimular a competitividade das empresas, seu contínuo crescimento bem como o fortalecimento da sua produtividade.

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) traba-lha para criar o Sistema Único do Trabalho (SUT) em substituição ao atual Sistema Nacional do Em-prego (SINE). O SUT será um sistema mais amplo, com seis principais atribuições, enquanto o SINE possui como finalidade promover a intermediação de mão de obra, implantando serviços e postos de

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atendimento que organizam um sistema de infor-mações sobre o mercado de trabalho, identifican-do o trabalhador por meio da Carteira de Trabalho e Previdência Social e fornecendo subsídios ao sis-tema educacional.

Segundo o MTE, as novas atribuições do SUT serão: ge-ração de trabalho, emprego e renda; proteção e apoio ao trabalhador; relações do trabalho; política salarial; formação e desenvolvimento profissional; migração laboral; economia solidária, cooperativismo e as-sociativismo; e mobilidade da força de trabalho no território nacional. Os quatro principais objetivos do novo sistema são (i) promover o trabalho produtivo, adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, equidade e segurança, capaz de garan-tir uma vida digna ao trabalhador; (ii) combater os efeitos negativos da segmentação no mercado de tra-balho; (iii) combater o assédio moral e sexual e todas as formas de desigualdade e discriminação no traba-lho, dentre elas as de gênero, raça, etnia, faixa etária, condição social, pessoas com deficiência, orientação e identidade sexual; e (iv) fortalecer os processos par-ticipativos dos atores sociais na sua gestão.

No que se refere às ações e serviços essenciais do SUT, podemos verificar: (i) concessão dos benefícios Seguro Desemprego e Abono Salarial; (ii) interme-diação de mão de obra; (iii) qualificação profissional; (iv) registro profissional; (v) aprendizagem profissio-nal e estágio; (vi) fomento ao empreendedorismo individual, coletivo e solidário e ao microcrédito pro-dutivo orientado; (vii) classificação de ocupações; (viii) inspeção do trabalho; (ix) assistência à homolo-gação, à mediação de conflitos e à negociação coleti-va; (x) registro sindical; (xi) concessão de autorização de trabalho para o imigrante; (xii) negociação coleti-va e mediação pública de conflitos trabalhistas; (xiii) elaboração, de forma participativa, do Planejamen-to Estratégico Nacional do SUT, do Orçamento do SUT e do Plano Nacional de Ações e Serviços do SUT (PNAS-SUT), em cooperação técnica com entes fede-rados, observadas as suas características regionais e territoriais peculiares; (xiv) participação, com órgãos

afins, da definição de normas e de mecanismos de controle de agravo sobre o meio ambiente e meio tecnológico ou deles decorrentes que tenham reper-cussão no âmbito do trabalho; e (xv) regulação e fis-calização da intermediação privada de mão de obra.

O Ministério também busca criar o Fundo Nacional do Trabalho (FNT), de natureza contábil e financeira, destinado ao financiamento dos programas, proje-tos, benefícios, ações e serviços do SUT. Os recursos do FNT serão oriundos do Fundo de Amparo ao Tra-balhador (FAT) após a sua extinção; multas trabalhis-tas; repasses fundo a fundo pactuados entre os en-tes federados; outros recursos do Tesouro Nacional; doações; produtos da aplicação de seus próprios re-cursos; arrecadação da contribuição adicional pelo índice de rotatividade (dependente de projeto de lei); e outros recursos que lhe sejam destinados.

A intenção do MTE é que o SUT opere desde o início em um conjunto de sistemas informatizados integra-dos sob a responsabilidade da União, com a coopera-ção dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, no que couber. Os aspectos operacionais deverão ser discutidos e pactuados entre os entes federados nas Comissões Intergestoras Bipartite e Tripartite (CIB e CIT), exceto quanto às ações e serviços executados pela União em caráter de exclusividade.

De modo geral, as Confederações têm apresentado questões importantes ao Ministério, alertando o Po-der Executivo para pontos sensíveis com o fim de: evitar a contaminação da proposta com inconstitu-cionalidade formal pela desatenção aos comandos do artigo 61 da Constituição Federal (CF); prevenir o esvaziamento das competências de conselhos em funcionamento; vedar a destinação de recursos do fundo sem fins expressamente previstos em lei; res-peitar os institutos da negociação coletiva e media-ção pública, já que a CF destina essas funções aos sindicatos e veda a participação do Poder Público; e corrigir a presença de expressões genéricas no texto que podem causar insegurança jurídica, entre outras questões.

Após concluir o debate sobre a criação do Sistema, com as Confederações Patronais e as Centrais Sin-dicais, o MTE encaminhará a matéria à Casa Civil da Presidência da República com o objetivo de que seja editado um anteprojeto de lei a ser oportunamente enviado ao Congresso Nacional.

17.7 CAPACITAÇÃO E QUALIFICAÇÃO DO TRABALHADOR

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para o aperfei-çoamento pessoal e profissional dos trabalha-dores, na medida em que essas propostas não considerem como período de serviço efetivo o tempo despendido pelo empregado em progra-mas de capacitação e qualificação, ainda que estes sejam requisito para promoção, ou repre-sentem vantagem remuneratória, tampouco estendam o benefício a pessoas que não par-ticipam diretamente da relação de trabalho. O tratamento normativo do benefício recomenda cautela para não desestimular os empregado-res a capacitar e qualificar trabalhadores.

O aperfeiçoamento profissional é exigência do mer-cado de trabalho que constantemente busca a ex-celência na produção e na prestação de serviços. A concorrência acirrada requer profissionais capaci-tados para o desempenho das atividades e funções para as quais foram contratados. Assim, o benefício alcançado pela capacitação do empregado é mútuo.

O fato de haver interesse das empresas no aperfei-çoamento profissional de seus funcionários, contu-do, não transforma o tempo dispensado pelo em-pregado em curso ou evento em tempo à disposição do empregador. Também há interesse por parte do empregado, que aprimorará seus conhecimentos, adquirindo maior capacidade para competir no mercado de trabalho.

A participação voluntária do empregado em cursos de formação, aperfeiçoamento, desenvolvimento e qua-lificação profissional, mesmo que custeados integral ou parcialmente pelo empregador, não deve gerar o direito ao recebimento de horas extras sob pena de desestimular o empregador a fazer o investimento.

Entende-se por serviço efetivo o período em que o empregado fica à disposição do empregador aguar-dando ou executando ordens, salvo disposição es-pecial expressa. Trata-se de definição trazida pelo artigo 4º da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que é essencial para a análise do direito à percepção de horas extras quando a jornada de trabalho con-tratada é extrapolada.

Atualmente, muitas empresas concedem bolsas de es-tudo para seus funcionários, com incentivos parciais, dependendo da área de conhecimento escolhida. No entanto, propostas legislativas buscam estender tais benefícios aos dependentes desses funcionários, o que, além de trazer um maior impacto financeiro, po-deria descaracterizar a política de capacitação.

É previsão constitucional que a educação é dever do Estado e da família, não havendo como transferir essa responsabilidade ao empregador, que teria que fornecer bolsa de estudos aos dependentes de seus empregados. Portanto, não é possível que a empre-sa seja onerada por uma obrigação que não lhe diz respeito. Além do mais, as empresas já contribuem com o salário educação que representa a sua parcela de colaboração para este fim.

Proposta positiva seria a vinculação legal de recur-sos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) a pro-gramas de capacitação e qualificação profissional, o que poderia representar importante estímulo à for-mação dos empregados.

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17.7.1 DESONERAÇÃO DE BOLSAS DE ESTUDOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que incentivem a concessão, pelo setor privado, de bolsas de es-tudo para trabalhadores que facilitem o aces-so a todos os graus de escolaridade, inclusive para ensino superior e para cursos técnicos de curta duração. Eventuais incentivos fiscais para a promoção de educação nas empresas não devem estar restritos a determinadas mo-dalidades de educação profissional ou regular, tampouco devem estar limitados a percentual da remuneração do empregado.

A educação é responsabilidade do Estado e direito constitucional de cada cidadão. Para os trabalhado-res, a concessão de bolsas de estudo facilita o acesso à educação, chave para seu aperfeiçoamento profis-sional e realização pessoal. Para as empresas, essa concessão contribui para ampliar a oferta de mão de obra qualificada que concorre para aumentar a com-petitividade e a produtividade.

A questão da incidência de tributos sobre bolsas de estudo ganhou relevo a partir da sanção da Lei nº 12.513/2011, que instituiu o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Esse programa tem como objetivo principal expan-dir, interiorizar e democratizar a oferta de cursos de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) para a po-pulação brasileira.

Apesar dos efeitos positivos para o ensino técnico, a norma trouxe inovações tributárias com externalida-des negativas. A imposição do limite de 5% do salá-rio bruto do empregado para concessão de bolsas de estudo com isenção implica significativa redução no número de bolsas de estudo ofertadas por emprega-dores, sobretudo para ensino superior e para cursos técnicos especializados de curta duração.

Tramitam no Congresso Nacional propostas que bus-cam a eliminação de qualquer limite aos valores con-cedidos a título de auxílio educação ao trabalhador. Entende-se que a legislação vigente já prevê tal limite ao estabelecer que os gastos com bolsa de estudo só serão isentos da contribuição previdenciária se não forem utilizados em substituição à parcela salarial.

O Fisco, por sua vez, tem reconhecido que a própria Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em seu inci-so II do §2º do art. 458 determina que o auxílio edu-cação não integra o salário do empregado.

Nesse sentido foi publicada a Solução de Consulta nº 74 da Receita Federal do Brasil, a que considera que os únicos pressupostos a serem observados no pa-gamento do auxílio educação, para que tais valores não integrem o salário educação são (i) que o valor destinado ao benefício deve ser aplicado na edu-cação básica (ensino fundamental e médio) ou em cursos de capacitação e qualificação profissionais que estejam relacionados às atividades desenvolvi-das pela empresa; (ii) que o plano educacional ou o auxílio educação não substitua parcela salarial; e (iii) que o acesso ao plano educacional ou ao auxílio educação seja estendido para todos os trabalhado-res e diretores da empresa, sem nenhuma distinção.

Para o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), ressalvadas as hipóteses em que a autorida-de fiscal identifica nítida substituição de parcela sa-larial, basta que o benefício seja estendido a todos os funcionários para ser excluído da base de cálculo das contribuições previdenciárias.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) é uniforme no sentido de que os valores pagos pela empresa aos seus empregados a título de bolsa de estudo não possuem natureza salarial e, por consequência, não incide contribuição social previdenciária. Para o STJ, a bolsa de estudo, embora contenha valor econômi-co, constitui investimento na qualificação de empre-gados, não podendo ser considerado como salário.

17.8 CONCESSÃO DE BENEFÍCIOS EM DINHEIRO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a ampliação do poder discricionário dos traba-lhadores no uso de benefícios trabalhistas, tais como o pagamento de vale-transporte em dinheiro, no entendimento de que a concessão desses benefícios em pecúnia mantém seu ca-ráter indenizatório e, portanto, não os incorpo-ra a salários e demais remunerações, inclusive para fins de incidência de contribuição previ-denciária e de Imposto de Renda. O custeio de benefícios trabalhistas tais como o vale-trans-porte cabe tanto ao empregador quanto ao empregado, ainda que este seja o único benefi-ciário da medida.

As discussões no Congresso Nacional sobre propos-tas que tratam do vale-transporte estão centradas na conveniência de seu pagamento em dinheiro, na re-partição do custeio do benefício entre empregadores e trabalhadores e também na concessão do benefício por meio do incentivo à utilização de bicicletas.

Sobre o pagamento do vale-transporte em dinheiro, persiste a preocupação, entre outras, de que o benefí-cio venha a ser incorporado ao salário. Nas discussões, argumenta-se ainda que o trabalhador utilizaria o di-nheiro para outros fins, desvirtuando o propósito do benefício, e que se perderia o reajuste automático nas tarifas de transporte subsidiadas pelo empregador.

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em março de 2010, que não incide contribuição previdenciária sobre vale-transporte pago em dinheiro aos traba-lhadores. O plenário do STF, por maioria de votos, firmou o posicionamento de que o auxílio transpor-te pago não integra o salário do empregado consti-tuindo, assim, uma verba de natureza indenizatória e não remuneratória. Para o STF, o fato de o vale-

-transporte ser pago mediante dinheiro não é sufi-ciente para descaracterizar a natureza do benefício e entender de forma diversa acarretaria a cobrança de tributo sem previsão legal. Na decisão, o STF es-tabeleceu que o vale-transporte, por sua natureza in-denizatória, não se incorpora à aposentadoria, nem mesmo à pensão, bem como não incide Imposto de Renda sobre seu pagamento em dinheiro.

No plano administrativo, a Súmula 89/2012 do Con-selho Administrativo de Recursos Fiscais pacificou entendimento de que não incide a contribuição pre-videnciária sobre os valores pagos a título de vale-

-transporte em pecúnia.

No passado, a concessão de vale-transporte físico deu margem à comercialização ilegal do benefício, ao nascimento de uma indústria de falsificações e a roubos e assaltos nas empresas de transportes e nas empresas autorizadas a comercializar o benefício.

Além do exposto, a Lei nº 7.418/1985 não traz efeti-vamente a vedação do pagamento em dinheiro e, no que tange às instituições financeiras, a sistemática é regrada também por instrumento coletivo da cate-goria, no qual há previsão específica para concessão em dinheiro do vale-transporte.

Sobre o custeio do benefício, por sua vez, tramitam no Congresso Nacional projetos que buscam lançar o ônus integral do vale-transporte sobre os empre-gadores. Propostas dessa natureza não só violam o espírito original da concessão de um benefício in-denizatório, aproximando-o de um benefício remu-neratório, como também aumentam ainda mais o custo trabalhista que tolhe a geração de mais e me-lhores empregos formais.

Há proposições no Congresso Nacional que tem por objetivo instituir o “Auxílio-Transporte”, proporcio-nando ao empregado a faculdade de aderir a bene-fício pecuniário no caso de escolha da bicicleta como meio de locomoção. Modalidades de transporte como esta são positivas ao meio ambiente e tem como obje-

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tivo a melhoria da qualidade de vida, porém, trazem riscos maiores tanto aos empregados quantos aos empregadores, que terão maior insegurança devido à utilização de bicicletas no percurso até o trabalho.

Outro ponto significativo é a dificuldade em contro-lar e fiscalizar o repasse e a efetividade do benefício pecuniário, visto que o auxílio poderá ser utilizado de outra forma, deixando de ter seu objetivo princi-pal, além de não ter a capacidade de controlar se o trajeto percorrido se faz por meio da bicicleta. Pro-postas com esse mérito devem possuir maior segu-rança jurídica ao empregado e ao empregador, bem como incluir incentivos fiscais, visto que implicam aumentos de custos para o empregador.

17.9 ACORDO COLETIVO ESPECIAL

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia iniciativas voltadas para o fortaleci-mento da livre negociação de convenções, acor-dos e contratos coletivos de trabalho que reforça a competitividade das empresas e que contribui para a geração de empregos formais, buscando, assim, equilíbrio das posições negociais, com benefícios para empregados e empregadores.

No período compreendido entre 2003 e 2014, o total de instrumentos coletivos registrados no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) aumentou 198%, passando de 15.797 para 47.149, o que reforça a ideia de que a negociação tem servido para solucionar os conflitos coletivos de trabalho.

Discute-se no Poder Executivo minuta de anteprojeto de lei que traz algumas inovações para estabelecer o Acordo Coletivo Especial como instrumento normativo. Por meio desse instrumento, o sindicato profissional e uma empresa do correspondente setor econômico poderiam estipular condições específicas de trabalho, aplicáveis apenas no âmbito

da empresa, considerando suas peculiaridades, a vontade expressa de seus empregados e a possibilidade de adequação à legislação trabalhista.

Outra inovação do anteprojeto seria a necessidade de prévia habilitação de sindicatos de trabalhadores pelo MTE, o qual, com base em critérios objetivos, credenciaria o exercício regular de práticas sindicais qualitativamente diferenciadas como condição indispensável para que as entidades celebrem Acordo Coletivo de Trabalho com Propósito Específico. Conforme o anteprojeto, deve ser valorizado nas negociações de cláusulas o princípio da boa-fé. Outro ponto destacado na proposta é a criação do Comitê Sindical de Empresa, obrigatoriamente reconhecido pelo empregador como base de representação sindical no local de trabalho, cuja organização e funcionamento devem ser disciplinados exclusivamente pelo estatuto do sindicato profissional.

A fiscalização da aplicação do Acordo Coletivo Especial seria realizada pelo Ministério do Trabalho. As regras para lavratura dos autos de infração também seriam alteradas para assegurar a plena defesa por parte das empresas na instância administrativa. O anteprojeto também prevê que as partes poderão fixar no Acordo Coletivo de Trabalho com Propósito Específico multas recíprocas para o caso de descumprimento de suas cláusulas.

Para alguns sindicatos de empregados, o projeto valoriza a negociação coletiva como um melhor mecanismo para a resolução de conflitos que são naturais da relação capital-trabalho. Para essas entidades, o acordo fortalece o movimento sindical e moderniza as negociações dos trabalhadores com as empresas.

Entidades de representação dos empregadores acreditam que essa iniciativa pode representar um avanço para as relações de trabalhistas por buscar maior segurança jurídica nas relações que envolvem as empresas e a garantia das condições de trabalho, saúde e proteção para os empregados.

Para a CNF, o anteprojeto de lei deve conter em seu texto regras claras e inequívocas que fortaleçam a negociação coletiva e possibilite, também, a negociação de cláusulas com benefícios contidos no artigo 7º da Constituição Federal.

17.10 EQUIPARAÇÃO DE CORRESPONDENTES A BANCÁRIOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a ex-plicitação da relação contratual exclusivamen-te comercial que se estabelece entre bancos e correspondentes no país, entre os quais não há qualquer vínculo trabalhista, bem como para a reiteração da competência normativa do Con-selho Monetário Nacional, tal como disposta na Lei nº 4.595/1964.

Os correspondentes destacam-se pela quantidade absoluta de pontos de atendimento e por sua capi-laridade. Em termos de capilaridade, pode-se con-siderar que não há, no país, município algum sem ponto de atendimento de correspondente. De acor-do com dados do Banco Central (BACEN), em janeiro de 2015, o Brasil conta com 23.127 agências bancá-rias e 344.703 correspondentes. Eles são largamente responsáveis pela inclusão financeira da população brasileira, uma vez que, em relação a agências ban-cárias, atingem populações tradicionalmente caren-tes e isoladas, que, em muitos casos, são desassisti-das de agências bancárias.

Em que pese a importância dos correspondentes para a distribuição de serviços e produtos financei-ros, existe alguma confusão sobre a situação traba-lhista desses profissionais, que são por vezes equivo-cadamente equiparados à categoria dos bancários.

A Resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) nº 3.954/2011 altera e consolida as normas que dis-

põem sobre a contratação de correspondentes no país. Algumas proposições argumentam que esse normativo amplia o rol de atribuições dos correspon-dentes, colocando em risco o futuro da categoria ban-cária e precarizando seu trabalho. Valem-se de dois argumentos: o de que o Conselho Monetário Nacio-nal não pode editar normas para o sistema financeiro (sobretudo as que veem como de natureza trabalhis-ta) e o de que correspondentes são empregados de instituições financeiras. Ambos os argumentos não encontram amparo nem na Lei nem nos fatos.

O primeiro argumento equivocado é o de que a Reso-lução do CMN nº 3.954/2011 violaria o princípio cons-titucional da legalidade estrita (art. 5º, inciso II da CF): o processo legislativo estabelecido na Constituição Federal seria o único meio legítimo de estabelecer regras coercitivas gerais e abstratas (isto é, leis), não havendo norma no ordenamento jurídico que autori-ze o CMN ou o BACEN a dispor sobre a matéria com a generalidade e abstração verificadas na espécie. Po-rém, a competência do CMN está claramente disposta na Lei nº 4.595/1964, que foi recepcionada pela Cons-tituição Federal com status de lei complementar. Essa capacidade normativa está definida no art. 4º, inciso VIII, da Lei nº 4.595/1964, que assim estabelece:

Compete ao Conselho Monetário Nacional, segundo diretrizes estabelecidas pelo Presidente da República, regular a constituição, funcionamento e fiscalização dos que exerceram atividades subordinadas a esta lei, bem como a aplicação das penalidades previstas.

O segundo argumento equivocado é o de que a Reso-lução do CMN nº 3.954/2011 representaria violação à reserva legal da União para legislar sobre Direito do Trabalho (art. 22, inciso I da CF), na medida em que institucionalizaria a criação de “bancários informais”, realizando as mesmas atividades, mas sem contar com as proteções legais e os direitos da categoria. Ocorre que a Resolução do CMN não fere a reserva legal da União porque ela não trata de matéria tra-balhista, mas, sim, de contrato comercial entre uma instituição financeira e um correspondente. O corres-

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pondente não é, de forma alguma, uma instituição financeira, mas apenas o elo entre o cidadão comum e a instituição, uma vez que atua por conta e sob as diretrizes da instituição contratante, que assume in-teira responsabilidade pelo atendimento prestado pelo correspondente a seus clientes e usuários; a ati-vidade de correspondente não se confunde com os serviços bancários que ele distribui. As relações con-tratuais – abertura de conta, depósito e mútuo – são sempre entre banco e usuário. Ao contratar o corres-pondente, o banco não o subcontrata para realizar sua atividade privativa de intermediação financeira, não havendo, assim, terceirização de atividade-fim. O correspondente não tem como foco a intermedia-ção financeira, mas, sim, a prestação de serviços por conta e ordem da instituição financeira. É por essa razão que a Resolução do CMN nº 3.954/2011 é mui-to clara em seu artigo 1º ao tratar o correspondente como prestador de serviços contratado para “ativi-dades de atendimento a clientes e usuários da insti-tuição contratante”, sem jamais vincular o contrata-do à atividade financeira nem estabelecer qualquer vínculo trabalhista entre as duas partes.

17.11 JORNADA DE TRABALHO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia projetos voltados para o for-talecimento de negociações coletivas transpa-rentes que determinem a redução da jornada de trabalho de forma a beneficiar empregados ao mesmo tempo em que não vulnerem em-pregadores. Para a CNF, eventual redução da jornada de trabalho deve ser objeto de nego-ciações setoriais, com vistas a manter a com-petitividade e a produtividade que asseguram a geração de novas vagas de emprego formal. O adicional pago a título de horas extras tam-bém deve ser mantido, uma vez que a legis-lação trabalhista já determina corretamente esses valores.

É marcante a tendência de redução da jornada de trabalho por meio de negociação coletiva. Para os setores em que essa redução é possível, tem sido negociada uma carga horária adequada que satisfaz às demandas dos trabalhadores sem comprometer a eficiência e a competitividade das empresas. Essa tendência já resultou em jornadas diferenciadas em vários setores. Como regra geral, empregados de ins-tituições financeiras já cumprem jornada de traba-lho igual ou inferior a 40 horas.

Os impactos da redução da jornada de trabalho não podem ser avaliados por cálculos matemáticos simplistas, pelos quais, por exemplo, uma redução de jornada de 44 horas semanais para 40 horas (ou 9,1%) alavancaria automaticamente crescimento de 10% no número de vagas formais. Esse raciocínio equivocado supõe que empresas que contratam dez empregados passariam a necessitar de um décimo primeiro funcionário para cumprir as 44 horas que requer o seu ciclo produtivo. Tais cálculos negligen-ciam vários outros fatores da equação de produção de uma empresa, que inclui, por exemplo, aumento de preço do produto final causado por redução da oferta, compra de equipamentos e ampliação do treinamento da mão de obra para aumentar a pro-dutividade, ou mesmo desinvestimento para reloca-ção em mercado no qual as normas trabalhistas se-jam mais flexíveis. A negociação coletiva é a maneira de empregados e empregadores ponderarem todos esses fatores na equação da produção.

Além do mais, atrelar a redução da jornada de tra-balho ao aumento do adicional pago pelas horas extras trabalhadas, de 50% do valor normal para 75%, conforme consta de propostas legislativas em tramitação, aumentaria o custo com a mão de obra e, consequentemente, desestimularia a criação de empregos formais.

A jornada de trabalho da mulher também é tema de discussão. Em novembro de 2014, os ministros do Supremo Tribunal Federal reconheceram, sob a sis-temática da repercussão geral, que a norma prevista

no artigo 384 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que concede quinze minutos de intervalo para a trabalhadora mulher antes do início da jornada extra-ordinária, foi recepcionada pela Constituição Federal.

17.12 FIXAÇÃO DE PISO SALARIAL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para o estabelecimento de pisos salariais que consi-derem de maneira realista as discrepâncias entre regiões geográficas do Brasil e entre dife-rentes setores da economia, balizadas não por exames superficiais de rentabilidade desses se-tores econômicos, mas, sim, pela necessidade de se assegurar remuneração adequada àque-las categorias laborais cuja natureza exija qua-lificações específicas e desempenho singular.

O chamado piso salarial ou salário profissional é aquele estabelecido para os profissionais que exer-cem uma determinada atividade em razão da sua natureza e desempenho laboral, das qualidades exi-gidas para a sua execução e, também, das possibili-dades econômicas das empresas da respectiva cate-goria econômica.

A reivindicação para a fixação de piso salarial para as categorias profissionais tem sido objeto de diversas proposições em tramitação no Congresso Nacional. Entretanto, a matéria deve ser objeto de estudos mais aprofundados, pois o Brasil apresenta enormes diferenças regionais.

Estabelecer uma remuneração mínima pode funcio-nar como elemento contrário à pretensão dos proje-tos de lei, pois determinadas categorias, em Estados de menor atividade econômica, deixariam de conse-guir reajustes maiores aos do piso salarial em suas negociações coletivas.

17.13 ESTABILIDADE DA RELAÇÃO EMPREGATÍCIA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a fle-xibilização das relações de trabalho, seja pela consolidação do sistema indenizatório para demissões imotivadas disposto no artigo 7° da Constituição, seja pelo fortalecimento das convenções e acordos coletivos que tratam da questão, para estímulo da competitividade e da inovação de empresas, bem como para au-mentar a geração de empregos formais.

Uma das discussões mais importantes para a econo-mia brasileira trata do engessamento do mercado de trabalho pela proibição das demissões imotivadas. O instituto da estabilidade foi derrogado pela legisla-ção que implantou o sistema do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), um sistema de proteção ao trabalhador baseado em quatro pilares: aviso prévio, indenização de 40% sobre o saldo do FGTS, o próprio Fundo e o seguro-desemprego. Há também uma série de outros mecanismos, tais como verbas rescisórias e restrições em casos especiais, ao lado daqueles esta-belecidos por convenção ou acordos coletivos (como proteção para os que estão próximos da aposentado-ria, os que são arrimo de família, os que têm muitos dependentes, as gestantes e os acidentados).

A discussão sobre proibição de demissões imotiva-das avança no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Congresso Nacional, com implicações muito graves. No coração dessa discussão, está a prerrogativa de o Governo denunciar uma convenção internacional trabalhista sem passar pelo crivo do Congresso Na-cional: ou o Brasil continuará a denunciar tratados por ato do Executivo, como vem fazendo há déca-das e como se faz em muitos países, ou o Governo passará a submeter ao Congresso a denúncia de tratados internacionais.

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Em junho de 1982, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) aprovou a Convenção n° 158, que li-mita a dispensa de empregados por “justa causa” e proíbe a demissão imotivada.

Há conflito entre a Convenção OIT n° 158 e a Constitui-ção Federal (CF), cujo artigo 7°, inciso I prevê o direito a uma “relação de emprego protegida contra despe-dida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensa-tória, dentre outros direitos”. O Congresso Nacional aprovou o texto da Convenção da OIT em setembro de 1992, pelo Decreto Legislativo n° 68. Em 20 de no-vembro de 1996, o Poder Executivo expediu o Decreto n° 1.855, que deu entrada à Convenção no direito po-sitivo interno do Estado brasileiro. Os Decretos do Le-gislativo e do Executivo haviam introduzido o próprio texto da Convenção, em conflito com o dispositivo constitucional que determina a promulgação de Lei Complementar para regular a matéria. Essa anomalia deu origem à ADI n° 1480, proposta pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) e pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ao julgá-la, o STF decidiu que, além de o texto da Convenção não poder substi-tuir a lei complementar prevista na CF, tal lei comple-mentar não poderia alterar a sistemática da garantia de indenização compensatória. Foi essa decisão que levou o Poder Executivo a denunciar a Convenção n° 158 em dezembro de 1996, nos termos previstos na própria Convenção, pelo Decreto n° 2.100, “Visto ha-ver sido denunciada por Nota do Governo brasileiro à Organização Internacional do Trabalho”.

A partir desse ponto, a discussão tomou dois rumos, um no Supremo Tribunal Federal e outro no Congres-so Nacional. Enquanto o STF examina a constitucio-nalidade do Decreto do então presidente Fernando Henrique Cardoso, a Câmara dos Deputados é cha-mada a se pronunciar sobre a Mensagem n° 59/2008, do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que propõe nova ratificação da referida Convenção. Forma-se o quadro preocupante em que a Convenção n° 158 pode vir a ser restaurada em sua eficácia seja por de-cisão do STF, seja por aprovação do Congresso.

Caso o STF decida que a Convenção jamais foi denun-ciada, ou caso o Congresso Nacional decida ratificar novamente a matéria, sobrevirá um custo enorme para todos os setores da economia brasileira e para o próprio Governo (União, Estados e Municípios), que é grande empregador. Impedidos de demitir, os em-pregadores terão seus custos com a manutenção dos postos de trabalho aumentados significativamente e serão inibidas novas contratações, com reflexos so-bre o desemprego. Esses impactos serão particular-mente negativos sobre micro e pequenas empresas, que constituem os maiores empregadores do país, e sobre os jovens, que registram taxas de desemprego muito mais altas do que aquelas da população aci-ma de 24 anos. O setor financeiro terá dificuldade para conceder crédito a empresas que, para justificar demissões imotivadas, aleguem problemas financei-ros, o que agrava ainda mais o impacto negativo da Convenção sobre a atividade econômica.

No que diz respeito às consequências do julgamento no STF e da tramitação da Mensagem n° 59/2008 no Congresso, os impactos negativos projetam-se para o passado e para o futuro: cria-se insegurança jurí-dica acerca das demissões imotivadas desde 1996 e reduz-se a criação de novos empregos pelo enges-samento do mercado de trabalho. A economia bra-sileira seria fortemente atingida pelos próximos três anos, uma vez que o artigo 17, item 1 da Convenção OIT n° 158 dispõe que esta só pode ser denunciada a cada dez anos da data inicial de sua vigência, em 1985. Significa que a próxima denúncia só poderá ocorrer em 2015. No que tange à alteração das rela-ções entre Poderes, tanto o resultado do julgamento do STF quanto o trâmite da Mensagem n° 59/2008 no Congresso têm o poder de deslocar o Brasil do grupo dos países cuja Constituição é omissa sobre o papel do Legislativo na ratificação de denúncias de trata-dos para o grupo dos países em que o Parlamento tem papel crítico nessas denúncias.

Ademais, discute-se no Supremo Tribunal Federal a obrigatoriedade ou não de motivação nos desligamen-tos de empregados celetistas que laboram em empre-

sas com capital do Governo, ou seja, em sociedades de economia mista (BB) e empresas públicas (CEF). O STF, inclusive, emitiu recente decisão analisando processo contra dos Correios (ECT) nos autos do RE nº 589.998/PI reconhecendo naquele caso a necessidade de motivação. A CNF apoia que eventual regulamenta-ção inclua as empresas públicas e sociedades de eco-nomia mista que exercem atividade econômica, nos termos do artigo 173 da Constituição Federal.

17.14 ESTABILIDADE PROVISÓRIA DA RELAÇÃO EMPREGATÍCIA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o for-talecimento da garantia de emprego aos tra-balhadores que não passam necessariamente pela ampliação do leque de alternativas para a concessão de estabilidade provisória. Essas alternativas devem ser assentadas em rigoro-sos estudos que mensurem seu impacto econô-mico, em contraste com o ônus da estabilidade provisória e a rigidez que esta introduz numa economia competitiva. Considerando que a le-gislação atual contempla garantias provisórias de emprego que abrangem diversas situações, a Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras entende que compete às partes, por meio de Convenções Coletivas de Emprego, es-tabelecer outras de conformidade com as pecu-liaridades de cada categoria.

No período de estabilidade provisória o empregado não pode ser dispensado por vontade do emprega-dor, salvo por justa causa ou força maior. Há duas categorias de estabilidade: (i) aquelas previstas em lei; e (ii) aquelas previstas em convenções e acordos coletivos, nos quais os sindicatos, com a intenção de assegurar aos empregados garantia de emprego e salário, determinam alguns casos de estabilidade, tal como para o empregado em vias de aposentadoria.

No ordenamento pátrio, vislumbram-se algumas hi-póteses de estabilidades provisórias, entre as quais as mais comuns nas relações empregatícias são: (i) da gestante (artigo 10, II, b, do ADCT – CF/1988); (ii) do acidentado (Lei n° 8.213/1991, art. 118); (iii) a do dirigente sindical (art. 8º, VIII, CF/1988 e artigo 543, §3º. CLT); e (iv) dos membros eleitos da CIPA (arts. 163 a 165 da CLT).

A produção legislativa deve considerar a sustentabi-lidade das empresas e o estímulo à geração de em-pregos, especialmente no momento de crise atual. No Congresso Nacional, contudo, são discutidas proposi-ções que tratam de estabilidade que, recorrentemen-te, pretendem inovar o ordenamento sem conceder incentivos fiscais ou de qualquer natureza. Contraria-mente, trazem mais um ônus trabalhista, devendo o empregador, caso queira manter suas atividades, ade-quar-se por meio da redução da lucratividade, quan-do possível, ou, ainda, da majoração do valor final dos produtos ou serviços comercializados. Ademais, o ar-tigo 7º da Constituição Federal, ao tratar da proteção da relação de emprego contra a despedida arbitrária ou sem justa causa, afirma que esta será instituída por meio de lei complementar. Por essa razão, determina-dos projetos de lei que tramitam no Congresso Nacio-nal possuem vícios de constitucionalidade.

Dentre essas proposições, figuram a estabilidade para o alcoolista, trabalhador com esposa gestante, membros de Conselho Fiscal de sindicatos, trabalha-dor que retorna de férias ou de afastamento involun-tário, trabalhador às vésperas de se aposentar, bem como a vedação da demissão coletiva.

Propostas com o intuito de inibir a demissão coletiva não consideram a potencial desaceleração da ativi-dade econômica e o desestímulo ao surgimento de novas vagas de emprego, como já ocorre, sobretudo, em alguns países europeus. A demissão coletiva é uma medida extrema a que recorrem as empresas em casos de grave crise conjuntural. A inviabilização da atividade econômica pela imposição de ônus tra-balhista exagerado levaria, no limite, à extinção da

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empresa e com ela de todos os empregos, além de afetar todos os parceiros com quem a empresa man-tinha relações comerciais e creditícias.

17.15 SOCIEDADES COOPERATIVAS E ESTABILIDADE PROVISÓRIA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a explicitação da situação jurídica de emprega-dos que sejam eleitos diretores de sociedades cooperativas criadas por eles próprios no sen-tido de negar a esses empregados estabilidade provisória equiparada à de dirigentes sindicais.

A Lei das Sociedades Cooperativas (Lei nº 5.764/1971, que “define a Política Nacional de Cooperativismo, institui o regime jurídico das sociedades coopera-tivas, e dá outras providências”) define essas enti-dades como um contrato de sociedade de nature-za civil, com forma e natureza jurídica próprias, de pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma ativi-dade econômica de proveito comum, sem objetivo de lucro, não sujeitas a falência. As sociedades coo-perativas poderão adotar por objeto qualquer gêne-ro de serviço, operação ou atividade em benefício de seus associados, assegurando-lhes o direito exclusi-vo e exigindo-lhes a obrigação do uso da expressão

“cooperativa” em sua denominação.

Na economia brasileira, cooperativas têm desem-penhado papel cada vez mais relevante na promo-ção do desenvolvimento, inclusive para o aumento da oferta de crédito a taxas de juros competitivas (ver Seção 12.8 – Cooperativas de crédito). Em que pese esse papel importante, há registro de criação de cooperativas com o único intuito de obter para seus Diretores estabilidade equiparada à do diri-gente sindical.

Essa desvirtuação do papel das entidades decorre de dispositivo da Lei nº 5.764/1971, que vem geran-do controvérsia sobre a estabilidade de empregados de empresas que sejam eleitos diretores de socieda-des cooperativas pelos mesmos criadas, já que estes, nos termos do artigo 55, gozariam das garantias as-seguradas aos dirigentes sindicais pela Consolida-ção das Leis do Trabalho (CLT), previstas no artigo 543 do Decreto-Lei nº 5.452/1943. Entre essas garan-tias figura a vedação de dispensa do empregado, até um ano após o final do seu mandato, salvo se come-ter falta grave devidamente apurada.

Não se justifica a existência de tal estabilidade equi-parada à do dirigente sindical, uma vez que a prote-ção contra despedida imotivada dada a esse tipo de dirigente, assim como a de integrante de Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), tem como fundamento permitir que ele exerça sua função em sua plenitude, sem estar sujeito a, em tese, eventu-ais represálias por empregador arbitrário, diante do escopo de atuação do dirigente na relação emprega-do e empregador. Não se vislumbra tal prerrogativa para o diretor de cooperativa, já que não há por par-te dele qualquer atuação contra interesses do em-pregador que justifique tal garantia legal.

Além disso, depois da promulgação da Constituição de 1988, a estabilidade de diretor de cooperativa equi-parada à de dirigente sindical perdeu amparo legal.

Recentes acórdãos de alguns tribunais do trabalho defendem que diante da supremacia do artigo 8º, inciso VIII, da Constituição Federal (CF), o direito à estabilidade provisória de que trata o artigo 543, da CLT restou assegurado exclusivamente aos dirigentes sindicais, pois o artigo 8º, inciso VIII, da CF e o artigo 10, inciso II, do ADCT fazem alusão expressa ao diri-gente sindical, à gestante e ao membro eleito a cargo de direção da CIPA, mas não mencionam o diretor da sociedade cooperativa, o que permite concluir que a nova Ordem Constitucional não recepcionou diversos dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho e da legislação infraconstitucional que dis-

ciplinavam a estabilidade. Com isso, o artigo 543 da CLT destina-se exclusivamente a dirigentes sindicais, não mais subsistindo a proteção contra a dispensa imotivada do diretor de associação profissional, nem qualquer outra estabelecida na legislação periférica.

17.16 ACIDENTE DE TRABALHO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a ampliação dos direitos trabalhistas, tais como o direito à indenização pública nos casos de acidente de trabalho e de estabilidade de em-prego temporária para trabalhadores aciden-tados, que resguardem os empregadores de demandas de má-fé cujo ônus pode afetar ne-gativamente a capacidade de competição e de inovação das empresas.

Já há previsão legal para a proteção do trabalhador nos casos em que ocorre afastamento por motivo de acidente de trabalho (como o inciso XXVIII do artigo 7º, o artigo 194 e o inciso I do artigo 201 da Constituição Federal).

A Justiça do Trabalho é competente para julgar as ações sobre reparação decorrentes de acidente de trabalho ou doença ocupacional, cabendo à Justiça Especializada somente a adoção supletiva de nor-mas do processo civil em caso de omissão da Con-solidação das Leis do Trabalho (CLT). Não havendo omissão na CLT, não cabe discussão sobre compati-bilidade entre a norma trabalhista e o processo civil.

O artigo 118 da Lei nº 8.213/1991 assegura garantia de emprego de doze meses após a cessação do auxílio-

-doença acidentário e veda a dispensa do empregado a partir do 16° dia do afastamento, quando o contrato de trabalho fica suspenso. O auxílio-doença será de-vido ao acidentado que ficar incapacitado para o seu trabalho por mais de quinze dias consecutivos.

Ocorre que o empregador arca com os custos da li-cença mesmo nos casos em que o afastamento do trabalhador se dá por conta de qualquer outra do-ença que não guarde nexo causal com o trabalho realizado. O empregado não pode ser dispensado por usufruir garantia do emprego sempre que esse afastamento ocorrer por um período superior a quinze dias. Nesses casos, o empregador incorre no ônus da não prestação do serviço, por força do afastamento previdenciário, para em seguida arcar com o custo adicional da estabilidade ou garantia do emprego.

Nesse quadro, não merecem prosperar as proposi-ções legislativas que pretendem aumentar o prazo de estabilidade no emprego, bem como transferir para os empregadores ônus maior com a manuten-ção do Seguro de Acidente do Trabalho.

17.17 ADICIONAL DE PENOSIDADE

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que remetam à livre negociação entre os empregadores e as enti-dades de representação de categorias expos-tas a desconforto físico ou psicológico intenso relativas a questões de adicional de penosida-de. Essas propostas devem buscar precisão na caracterização das condições de penosidade, circunscritas às normas de segurança e saúde no trabalho editadas pelo Ministério do Traba-lho e Emprego, bem como à prevenção de des-confortos inerentes a certas atividades, excluí-das questões de segurança pública.

Adicionais constituem acréscimos de remuneração aos trabalhadores que exercem funções que lhes causem um dano efetivo ou potencial. O adicional de penosidade é um direito constitucional garantido aos trabalhadores, que carece de regulamentação. Na Constituição Federal (CF), encontra-se ao lado

CAPÍTULO 17: QUESTÕES TRABALHISTAS E SINDICAIS

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 227226

dos adicionais de insalubridade e de periculosidade (art. 7º, XXIII, da CF).

O adicional de penosidade não se confunde com o de insalubridade e o de periculosidade. Condições penosas não expõem o trabalhador a riscos de saú-de ou a riscos para sua incolumidade, mas causam desconforto físico ou psicológico mais intenso do que o provocado por atividades ou ambientes de trabalho normais.

A caracterização de trabalho penoso está sujeita a boa margem de imprecisão. Tal imprecisão é acen-tuada ao se tratar da base de cálculo do adicional de penosidade. Em julho de 2009, o Supremo Tribunal Federal entendeu que o adicional de insalubridade deve ser calculado sobre o salário mínimo. O enten-dimento do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Re-gião, porém, é de que a base de cálculo do adicional de penosidade seja o salário contratual.

17.18 SEGURO ACIDENTE DE TRABALHO (SAT)

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia proposições voltadas para o aper-feiçoamento do sistema de proteção à saúde do trabalhador no local de trabalho, pela introdu-ção de medidas de prevenção de sinistros e de indenização proporcionais ao risco, ao grau de exposição dos trabalhadores e à gravidade das lesões decorrentes de acidentes.

A Constituição Federal garante ao empregado o Seguro Acidente de Trabalho (SAT), custeado pelas empresas mediante o pagamento de um adicional sobre folha de salários.

A Lei nº 8.212/1991, que definiu as alíquotas do SAT de acordo com uma graduação de riscos, bem como delegou a regulamentação a ato normativo

infralegal (regulamento), estabeleceu os dados ne-cessários à configuração da hipótese de incidência da Contribuição Social. A alíquota foi estabelecida em 1%, para as empresas em cuja atividade prepon-derante esse risco seja considerado leve, de 2% para risco médio e de 3% para as de risco grave. Com o Decreto nº 2.173/1997 a atividade preponderante passou a ser considerada aquela que, na empresa, ocupa o maior número de trabalhadores.

O Decreto nº 6.957/2009 alterou o Regulamento da Previdência Social (Decreto nº 3.048/1999) quanto à aplicação, ao acompanhamento e à avaliação do Fator Acidentário de Prevenção (FAP). Consiste em um multiplicador variável calculado de acordo com o grau acidentário no ambiente de trabalho. O FAP é aplicado à respectiva alíquota de 1%, 2% ou 3% de contribuição para o SAT, o que deverá aumentar ou reduzir o percentual, de acordo com o grau de inci-dência de acidentes de trabalho.

O multiplicador variável introduzido pela nova legis-lação acarretou alteração drástica na classificação de diversos setores da economia, que passaram da contribuição mínima à máxima, mesmo não haven-do equivalência na gravidade dos acidentes com os setores que já contribuíam com a alíquota de 3%.

A mudança introduzida pela nova legislação pode ser inconstitucional por se basear em um critério de presunção, já que não é mais necessário verificar se o funcionário de fato exerceu atividades que causa-ram a doença, bastando que esta esteja classificada como de alta incidência naquele ramo empresarial.

17.19 FUNDO DE AMPARO AO TRABALHADOR (FAT)

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia iniciativas que revejam a destina-ção e verifiquem a eficiência da aplicação dos re-

O Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) consiste em um fundo especial vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego, instituído em 1990 para o cus-teio do Programa do Seguro-Desemprego, do Abono Salarial, o financiamento de Programas de Desen-volvimento Econômico e qualificação profissional.

Os recursos do fundo originam-se principalmente das Contribuições para o Programa de Integração Social (PIS) e para o Programa de Formação do Patri-mônio do Servidor Público (PASEP). A partir da vigên-cia da Constituição de 1988 e da instituição do FAT, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) passou a gerir permanentemente re-curso que corresponde a, pelo menos, 40% do que é arrecadado com as Contribuições ao PIS/PASEP.

Atualmente, os repasses do FAT ao BNDES, integra-dos pelo FAT Constitucional e o FAT Depósitos Es-peciais, constituem uma de suas mais importantes fontes. Em dezembro de 2013, o saldo total de recur-sos repassados atingiu a marca de R$156,5 bilhões, ampla parcela do funding do banco.

Para a implementação de uma sólida política de fortalecimento da economia e do mercado de tra-balho nacional, é de grande importância o acompa-nhamento da aplicação desses recursos para que sejam definidos métodos de alocação e estabeleci-

das prioridades que se coadunem com os objetivos essenciais do FAT e do BNDES. Essa é a responsabi-lidade do Conselho Deliberativo do FAT (CODEFAT), criado pelo mesmo marco legal que deu origem ao FAT. Trata-se de órgão colegiado de caráter triparti-te que possui como suas principais funções a elabo-ração de diretrizes para programas e para alocação de recursos; o acompanhamento e a avaliação do impacto da aplicação de tais recursos, bem como a função de propor o aperfeiçoamento da legislação referente às políticas públicas de emprego e renda, e a fiscalização da administração do FAT. Em feve-reiro de 2015, a composição do CODEFAT não con-tava com ampla participação patronal de âmbito nacional representativa.

No âmbito do Congresso Nacional, várias proposi-ções objetivam alterar critérios e definir novos parâ-metros que balizem a alocação de recursos do FAT pelo seu Conselho Deliberativo. Também tramitam projetos que pretendem condicionar a concessão de benefícios (como o seguro desemprego e ações como a qualificação profissional de trabalhadores desempregados) à frequência de empregados nos cursos oferecidos.

A vinculação legal de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) a programas de capacitação e qualificação profissional poderia representar impor-tante estímulo à formação dos empregados.

CAPÍTULO 17: QUESTÕES TRABALHISTAS E SINDICAIS

cursos do FAT, sem, contudo, reduzir a alocação dos recursos ao amparo do trabalhador desem-pregado. Entre essas iniciativas, a CNF endossa aquelas voltadas para o preparo de mão de obra para um mercado de trabalho que demanda profissionais qualificados. Sobre o Conselho De-liberativo do FAT (CODEFAT), a Confederação de-fende a constituição de um órgão colegiado de efetiva representatividade, que reúna entidades patronais de âmbito nacional constituídas na forma da lei, sobre as quais não pese qualquer dúvida quanto à sua legalidade.

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17.20 SUSPENSÃO DE CONTRATO DE TRABALHO EM CASO DE CRISE ECONÔMICO-FINANCEIRA

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a introdu-ção na Consolidação das Leis do Trabalho de dis-positivo que permita a suspensão do contrato de trabalho, mediante previsão em convenção ou acordo coletivo e aquiescência formal do empre-gado, sempre que a empresa não puder manter o nível da produção e o fornecimento de serviços em razão de crise econômico-financeira.

Na suspensão do contrato de trabalho, o pacto labo-ral deixa de produzir efeitos tão logo ocorra a causa suspensiva e desaparece temporariamente. No perí-odo negociado, o empregado não tem obrigação de trabalhar, ao mesmo tempo em que o empregador não arca com salário e encargos sociais.

O debate acerca da flexibilização do direito do traba-lho no Brasil ressurgiu com a crise de 2008, quando inúmeras empresas nacionais, dos mais variados setores, foram absorvidas pela crise econômico-fi-nanceira internacional. Portanto, para a redução dos seus custos e a manutenção dos empregos, muitas companhias viram na flexibilização da legislação tra-balhista uma saída para essa emergência conjuntural.

Flexibilizar pressupõe a manutenção da intervenção estatal nas relações trabalhistas estabelecendo as condições mínimas de trabalho, mas autorizando, em determinados casos, exceções ou regras menos rígidas, de forma a possibilitar a manutenção da em-presa e dos empregos.

O artigo 476-A da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) prevê suspensão do contrato de trabalho para participação do empregado em curso ou programa de qualificação profissional oferecido pelo empregador, com duração equivalente à suspensão contratual.

Discute-se no Congresso Nacional a introdução na CLT de dispositivo semelhante ao artigo 476-A, para criar mais uma hipótese de suspensão do contrato de trabalho, mediante previsão e convenção ou acordo coletivo e aquiescência formal do empregado, quan-do a empresa não puder manter o nível da produção e o fornecimento de serviços em razão de crise econô-mico-financeira.

Para que a flexibilização das leis trabalho possa ser validada, a Lei nº 4923/1965 deve ser observada, sob pena de nulidade da negociação. A empresa que pas-sa pela crise deverá comprovar a dificuldade econô-mica, conforme o artigo 2º de mencionada lei para poder, assim, reduzir em no máximo 25% o salário dos empregados, com a redução da jornada, por um período não excedente a três meses, que poderá ser prorrogado, desde que comprovadas as mesmas con-dições financeiras. A redução de direitos somente pode ser tolerada como medida de caráter excepcio-nal e temporária, em virtude de ocasional dificuldade financeira ou operacional enfrentada pela empresa.

A suspensão constitui-se em alternativa à dispensa de mão de obra e às demissões coletivas durante crises. Para os empregados, haveria a vantagem da manuten-ção da relação trabalhista. Para os empregadores, ha-veria o benefício da redução temporária de custos para recuperação da atividade empresarial e evitaria custos de formação e de reposição de mão de obra qualificada.

17.21 LICENÇA MATERNIDADE

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a prorrogação da licença maternidade que não imponham ônus exagerados aos empregado-res, mas, sim, que os incentivem a conceder essa prorrogação de forma voluntária, inclusi-ve por meio de isenções tributárias, ou que re-metam a questão para acordos coletivos.

A Constituição Federal de 1988 admitiu as disposi-ções da Convenção nº 103 da Organização Interna-cional do Trabalho (OIT) e passou a assegurar à ges-tante, sem prejuízo de emprego e salário, 120 dias de licença, além de vedar sua dispensa arbitrária ou sem justa causa a partir do momento da confir-mação da gravidez e até cinco meses após o parto (art. 7º, XVIII e art. 10, II, b, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias). O benefício é estendi-do aos casos de adoção também concedendo à mãe adotante estabilidade temporária.

É pertinente e oportuna a discussão sobre a amplia-ção do direito por mais sessenta dias, o que atende às recomendações da Organização Mundial de Saú-de (OMS) de as mães proverem aleitamento durante os seis primeiros meses de vida de seus filhos. No Brasil, a legislação concede à mãe lactante o direito a dois descansos especiais, de meia hora cada um, durante a jornada de trabalho, para aleitamento, até que seu filho complete seis meses de idade (ou mais, se houver necessidade médica - art. 396, da CLT).

Para a CNF, o direito à licença maternidade e as dis-cussões em torno de sua eventual dilatação aproxi-mam-se do espírito da Lei n° 11.770/2008, que criou o Programa Empresa Cidadã. De acordo com a nor-ma, as empresas que voluntariamente aderem ao programa e concedem o benefício às funcionárias são beneficiadas com incentivos fiscais. Nele, os pri-meiros 120 dias de licença maternidade continuam a ser custeados pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e a empresa arca com os dois meses se-guintes. A beneficiária recebe seu salário integral ou, no caso de valores variáveis, a média dos ganhos nos últimos seis meses. O total da remuneração integral pago nos sessenta dias de prorrogação da licença maternidade pode ser isentado de tributação.

17.22 OUTRAS LICENÇAS TRABALHISTAS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que justifiquem as hipóteses de ausência, desde que estabeleci-das por meio de negociação coletiva e que não se convertam em incentivo ao absenteísmo.

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em seu artigo 473, estabelece rol de hipóteses em que o empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem que haja prejuízo do salário ou do gozo das fé-rias. São casos que ensejam ausência justificada: (i) falecimento de cônjuge, ascendente ou descenden-te, irmão ou pessoa que viva sob sua dependência econômica; (ii) doação voluntária de sangue devi-damente comprovada; (iii) alistamento eleitoral; (ix) cumprimento de exigência do Serviço Militar; (x) participação em processo seletivo para ingresso em estabelecimento de ensino superior; (xi) para comparecimento em juízo; (xii) exercício de man-dato de representante sindical; e (xiii) nascimento de filho. A CLT ainda estabelece prazos específicos para cada um dos casos de ausência justificada, de modo a assegurar ao trabalhador tempo hábil para o cumprimento de obrigações junto ao Estado, além de prover oportunidade ao empregado para resolver questões atinentes ao seu círculo familiar.

Discussões relacionadas ao rol supracitado e à am-pliação dos prazos de ausência justificada têm sido desenvolvidas nos âmbitos dos Três Poderes. No Con-gresso Nacional, elevado número de proposições visa à modificação do art. 473 da CLT. No Executivo a Con-ferência Nacional do Trabalho Decente, (ver Seção 3.2

– Agenda Nacional do Trabalho Decente) organizada por comissão tripartite, é um dos fóruns de discussão dessa temática e de outras relacionadas ao cotidiano de trabalhadores e de empregadores. O Judiciário, por sua vez, tem sido provocado a se manifestar sobre as hipóteses de ausência e licença do trabalhador, tal como no caso do Mandado de Injunção nº 4.408, impe-

CAPÍTULO 17: QUESTÕES TRABALHISTAS E SINDICAIS

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trado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS), por meio do qual a entidade requer a regulamentação do inciso XIX do artigo 7º da Cons-tituição Federal, que trata da hipótese de ausência do trabalhador em caso de nascimento de filho.

No que concerne à licença em caso de nascimento de filho, há propostas que, por exemplo, visam à regulamentação da licença paternidade e que suge-rem a ampliação da abrangência do Programa Em-presa Cidadã, estendendo sua cobertura à licença paternidade. Atualmente, tal licença é concedida ao pai pelo período de cinco dias imediatamente após o nascimento da criança, conforme previsto na Consti-tuição Federal, Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, art. 10, § 1º.

O prazo do art. 473 da CLT destinado à recuperação do trabalhador em caso de falecimento de parentes, conhecido como licença nojo, é comumente questio-nado. A legislação vigente prevê a possibilidade de ausência justificada por dois dias de trabalho.

Tramitaram em 2014 no Congresso Nacional mais de trinta proposições referentes ao disciplinamento da falta justificada. Os projetos apresentados nes-se intuito dispõem que além das faltas justificadas já existentes na CLT, essas serão expandidas e terão anexados novos motivos para que o trabalhador dei-xe de comparecer ao trabalho. Computando apenas os projetos que possuem prazo determinado de afas-tamento, ficariam concedidos ao empregado 77 dias durante o ano para ausentar-se por motivos varia-dos, excetuando-se os feriados nacionais e estaduais.

A matéria principal sobre “falta justificada” na Câmara dos Deputados é o Projeto de Lei (PL) n° 3.662/2012 (PLS 220/2011 no Senado). O projeto alte-ra a Consolidação das Leis do Trabalho para permitir que o empregado deixe de comparecer ao trabalho por até oito horas para submeter-se a provas de con-curso público em um período de um mês. Apensa-do ao PL nº 3.662/2012, encontram-se 21 propostas, entre elas as que determinam como ‘falta justificada’

o afastamento de dois a seis dias para doação de ór-gãos e tecidos; o afastamento de até seis dias duran-te a gravidez para o acompanhamento de pré-natal; afastamento para realização de exame preventivo de câncer, por quantos dias forem necessários; afasta-mento por prazo indeterminado para doação de me-dula; além de licença por prazo indeterminado para práticas esportivas no âmbito da seleção brasileira. Outras proposições legislativas objetivam assegurar ao trabalhador a possibilidade de afastamento de suas atividades para fins de qualificação. Não obstan-te o apoio a iniciativas que visem ao fomento de polí-ticas de incentivo ao estudo, a Confederação Nacional das Instituições Financeiras prima pela autonomia co-letiva dos agentes econômicos e pelos instrumentos coletivos de trabalho quando da discussão de políti-cas referentes à educação profissional continuada.

17.23 ASSÉDIO MORAL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que visem a estabe-lecer critérios objetivos para fixação de indeni-zação em caso de ocorrência de assédio moral.

Entende-se como assédio moral a prática, manuten-ção ou exposição de empregados (as) a situações vexatórias, por várias vezes, no exercício das ativida-des e funções, que tenham origem não só de chefias, mas também de pessoas com posição hierárquica igual ou inferior.

O assédio moral deve ser combatido de todas as ma-neiras possíveis. Em que pese à gravidade do proble-ma e a necessidade de duras medidas de prevenção e punição de atos dessa natureza, o conceito de assédio moral não pode ser genérico: sua indefinição gera in-segurança jurídica, na medida em que o empregador desconhece qual comportamento seu poderá vir a ser interpretado como assédio pela Justiça do Trabalho.

Ademais, não basta a comprovação de culpa (em sen-tido amplo) do empregador para que o empregado tenha direito à indenização. Incumbe à vítima a prova de nexo causal e efetivo dano, o que é dificultado pela ausência de clara definição do que seja assédio moral.

O artigo 483 da Consolidação das Leis do Trabalho elenca as hipóteses de rescisão indireta, dentre as quais não figura o assédio moral. Contudo, eventos comprovados de assédio moral habilitam os empre-gados a pleitear indenização por danos morais, à qual não se soma indenização rescisória. Eventual acumulação de indenização rescisória com indeni-zação genérica por danos morais caracterizaria bis in idem, ou dupla indenização, pois a origem da repara-ção seria a mesma: eventuais danos originados pelo assédio moral.

É preciso cautela para evitar que ações judiciais sir-vam para fomentar a chamada “indústria da indeni-zação”, já que as empresas acabam arcando com pe-sados valores advindos de condenações a título de dano moral, possivelmente sem fundamento.

A cláusula preventiva de assédio moral que consta de convenções coletivas firmadas pela categoria dos bancários tem-se mostrado eficaz e contribui para enriquecer a discussão sobre o tema.

17.24 UNICIDADE SINDICAL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o fortalecimento do princípio constitucional da unicidade sindical e repudia normativos de hie-rarquia legal inferior que ferem esse princípio.

A Constituição Federal, em seu artigo 8º inciso II, veda a criação de mais de uma organização sin-dical representativa de categoria profissional ou

econômica, em qualquer grau - ou seja, também no grau superior das federações e confederações. Essencialmente, o dispositivo assegura o princípio da unicidade sindical, o sistema confederativo da representação sindical e a não interferência e não intervenção na organização sindical.

A Portaria nº 186/2008 do Ministério do Trabalho possibilitou a criação de mais de um sindicato na mesma base territorial, introduzindo a tendência de que mais sindicatos de pequeno porte sejam cria-dos. As confederações patronais não reconhecem a legalidade dessa Portaria Ministerial. O artigo 13 do normativo fere o princípio constitucional da unici-dade sindical ao apontar para o pluralismo da repre-sentação de sindicatos.

No plano judicial, há quatro Ações Diretas de Inconsti-tucionalidade ajuizadas no Supremo Tribunal Federal contra a Portaria n° 186 (as ADIs nº 4.120; nº 4.126; nº 4.128; e nº 4.139). A ADI n° 4.120 foi impetrada por onze confederações de trabalhadores, ao passo em que as demais foram impetradas por confederações patro-nais. Em janeiro de 2009, parecer do Procurador-Geral da República acatou parcialmente os argumentos das ADIs. No plano legislativo, o Projeto de Decreto Legis-lativo n° 857/2008 busca sustar a Portaria n° 186.

17.25 ACESSO DAS ENTIDADES SINDICAIS ÀS INFORMAÇÕES DAS EMPRESAS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras acompanha com interesse as pro-postas que assegurem aos trabalhadores o preceito constitucional do direito à informação, ao mesmo tempo em que considera dispensável o fornecimento de dados das empresas direta-mente aos sindicatos seja por serem essas infor-mações de domínio público, seja por tal presta-ção constar de dispositivos legais já existentes.

CAPÍTULO 17: QUESTÕES TRABALHISTAS E SINDICAIS

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Propostas em tramitação no Congresso Nacional su-gerem alteração da Consolidação das Leis do Traba-lho para obrigar empresas a prestar informações ao sindicato laboral, para fins de negociação coletiva, acerca de sua situação econômica e financeira – me-diante compromisso de sigilo por parte dos sindicatos.

A Confederação não considera adequado que em-presas submetam aos sindicatos laborais informa-ções confidenciais sobre sua condição econômica e financeira, na medida em que já existem disposi-tivos legais que obrigam a divulgação e definem os limites da publicidade das informações financeiras dessas instituições, para o mercado, os acionis-tas, os investidores e os fornecedores. Entidades constituídas sob a forma de Sociedades por Ações devem elaborar e publicar duas demonstrações fi-nanceiras anualmente, conforme determina a Lei nº 6.404/1976 – Capítulo XV - Exercício Social e Demons-trações Financeiras. Para as instituições financeiras, o dever de elaborar e publicar suas demonstrações financeiras é semestral (Lei nº 4.595/1964, art. 31).

Entre outras informações pretendidas pelos sindica-tos, consta a relação de salários (Relação Anual de Informações Sociais – RAIS), cadastros dos empre-gados, comunicações de dispensa e requerimentos de seguro desemprego. Todas essas informações são transmitidas pelas empresas ao Ministério do Trabalho. Ocorre que os próprios empregados já possuem acesso aos dados pretendidos pelos sindi-catos. No caso das empresas, por exemplo, é impos-ta pelo artigo 22 da Lei n° 8.213/1991 a comunicação de acidente de trabalho também aos sindicatos. A Constituição Federal assevera que “todos têm o di-reito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado” (art. 5º, XXXIII). A outorga de tal prerrogativa a sindicatos é portanto dispensável.

17.26 PARTICIPAÇÃO DOS TRABALHADORES NA GESTÃO DAS EMPRESAS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia proposições voltadas para o estabelecimento de boas regras de governan-ça das corporações que não confundam cole-giados dedicados à fiscalização de atividades e à formulação estratégica com colegiados voltados para negociações trabalhistas. Para a CNF, deve-se aplicar idêntico tratamento jurí-dico a todos os conselheiros de administração.

A participação de empregados em Conselhos de Ad-ministração é tema amplamente debatido e objeto recorrente de proposições legislativas. No âmbito do Congresso Nacional, há atores que vislumbram be-nefícios tanto para trabalhadores quanto para em-pregadores, ao passo em que outros expressam não acreditar nos resultados esperados pelos primeiros.

O artigo 142 da Lei nº 6.404/1976 fixa as atribuições do Conselho de Administração. Segundo o disposi-tivo, compete ao colegiado fixar a orientação geral dos negócios da companhia; eleger e destituir dire-tores das companhias e fixar-lhes atribuições; fis-calizar a gestão dos diretores; examinar, a qualquer tempo, os livros e papéis da companhia; solicitar in-formações sobre contratos celebrados ou em via de celebração; e quaisquer outros atos. Conforme pre-vê a Lei nº 6.404/1976, em seu artigo 140, o Conse-lho de Administração será composto por, no mínimo, três membros eleitos pela Assembléia Geral e por ela destituíveis a qualquer tempo. No entanto, no Direi-to brasileiro, o Conselho apenas é obrigatório para companhias de capital aberto e as de capital auto-rizado, sendo a sua adoção facultativa para compa-nhias fechadas, de capital não autorizado.

A possibilidade de participação dos trabalhadores na gestão das empresas para contextos “excepcionais” traduz o entendimento dos constituintes quanto ao papel dos trabalhadores na adoção de medidas de orientação e desenvolvimento das companhias. Infe-re-se do inciso XI, do artigo 7º da Constituição Fede-ral, assim como de outras previsões constitucionais vinculadas, que a participação dos trabalhadores prevista não se confunde com o estabelecimento de mecanismos de cogestão, que concederiam aos tra-balhadores abertura à codecisão.

A reforma legal realizada por meio da Lei nº 10.303/2001 inovou de modo significativo as Leis nº 6.404/1976 e nº 6.835/1976, admitindo a participa-ção de representantes de empregados no Conselho de Administração das companhias.

Como estabelece a Lei nº 10.303/2001, a participação de representantes dos empregados nos Conselhos de Administração estaria condicionada a previsões esta-tutárias adequadamente aprovadas em Assembleia Geral de acionistas. Ao órgão deliberativo também cabe a destituição de conselheiros a qualquer tempo.

Já no caso das companhias públicas e sociedades de economia mista, com vistas à adequação das regras que balizam a gestão dessas entidades aos efeitos da Lei nº 10.303/2001, o Poder Executivo capitaneou no âmbito do Legislativo a aprovação do Projeto de Lei nº 3.407/2008, que regulamentou a eleição e a participação de representantes de trabalhadores nos Conselhos de Administração de tais companhias.

A CNF observa que Conselhos de Administração, por se-rem essencialmente fiscalizadores e formuladores de políticas gerais, não constituem fóruns de negociação entre as partes das relações de trabalho. Para a Con-federação, deve prevalecer igual tratamento entre os conselheiros de administração, inclusive no que toca à responsabilização dos autores de ações culposas ou dolosas que violem a lei ou o estatuto da empresa, de modo a não discriminar conselheiros representantes dos trabalhadores daqueles eleitos pelos acionistas.

17.27 CONTRIBUIÇÃO ASSISTENCIAL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o fortalecimento da representatividade sindical, assentadas nos dispositivos constitucionais que asseguram liberdade de filiação sindical, in-compatíveis com a compulsoriedade da contri-buição assistencial incidente sobre não filiados.

A contribuição assistencial, também conhecida como taxa assistencial, é amparada pelo art. 513 da Consolidação das Leis do Trabalho, que dispõe en-tre as prerrogativas dos sindicatos a capacidade de impor contribuições a todos aqueles que participam das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais representadas.

Comumente disposta em convenções, acordos ou sentenças normativas de dissídios coletivos, a con-tribuição assistencial somente será devida por aque-les que participam na condição de sócios ou associa-dos de entidade sindical, conforme entendimento dominante dos tribunais.

A Constituição Federal, em seus artigos 5º, XX, e 8º, V, assegura o direito de livre associação, além de proi-bir a filiação obrigatória dos profissionais que não formalizarem consentimento. Tais dispositivos cons-titucionais sinalizam o caráter ofensivo de cláusulas contratuais constantes de acordo, convenção coleti-va ou sentença normativa que imponham pagamen-to de contribuição assistencial pelos trabalhadores não sindicalizados.

Decisões judiciais proferidas têm sublinhado a in-compatibilidade de um pagamento compulsório com o direito de livre associação, situado no topo do orde-namento jurídico brasileiro. Ademais, a contribuição assistencial, ao contrário da contribuição sindical e fe-derativa, tem natureza contratual, de modo que o seu pagamento somente se torna devido se a empresa for

CAPÍTULO 17: QUESTÕES TRABALHISTAS E SINDICAIS

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filiada à entidade sindical que pleiteia esse pagamen-to, prevalecendo o princípio da liberdade de filiação sindical. Os tribunais têm manifestado entendimen-to de que esse princípio deve ser permanentemente considerado, consistindo a liberdade de contribuição decorrência imediata do direito de associar-se ou não, como prevê o artigo 8º da Constituição Federal.

17.28 CONTRIBUIÇÃO NEGOCIAL

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o estabelecimento de contribuições livremente determinadas por associados de sindicatos, que assegurem o ato voluntário da associação sindical e cujo recolhimento se restrinja ao uni-verso de trabalhadores sindicalizados.

Na proposta de reforma sindical do Governo Lula foi sugerida a fixação de apenas duas contribuições sindicais: a associativa, devida apenas pelos sócios do sindicato, e a negocial, que é decorrente da ne-gociação coletiva, ainda que por meio de sentença proferida pela Justiça do Trabalho. A contribuição negocial teria natureza privada, pois nenhuma parte da exação iria para o ente público, como ocorre com a contribuição sindical. Além disso, por ser obrigató-ria, impediria o não sindicalizado de se opor a ela.

A Convenção nº 87 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) não prevê contribuição obrigatória. A OIT admite apenas que haja a estipulação de uma contribuição de solidariedade, por meio de conven-ção coletiva que a preveja, em razão da aplicação erga omnes de suas vantagens a toda a categoria, sendo paga exclusivamente pelos não associados. Seu desconto não pode, porém, ser superior a dois terços do valor devido pelos associados.

O tema é objeto de intensos debates entre entidades de representação de empregadores, centrais sindi-

cais, Governo e Congresso Nacional. A dificuldade na aprovação dessa matéria decorre da modificação das receitas sindicais.

17.29 ULTRATIVIDADE DAS CONVENÇÕES, ACORDOS E CONTRATOS COLETIVOS DE TRABALHO

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para o forta-lecimento da livre negociação de convenções, acordos e contratos coletivos de trabalho, no en-tendimento de que a aprovação de leis trabalhis-tas reduz o espaço para esses acordos e introduz rigidez nas relações de trabalho que afeta a com-petitividade das empresas e a geração de empre-gos. Convenções, acordos ou contratos coletivos de trabalho não se incorporam definitivamente aos contratos individuais de trabalho por consti-tuírem pactos de vigência limitada, cujas cláusu-las vigoram por um tempo determinado.

O artigo 613 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) dispõe que: “As Convenções e os Acordos deve-rão conter obrigatoriamente: ... II - prazo de vigência (...); IV - condições ajustadas para reger as relações in-dividuais de trabalho durante sua vigência”. Também o Decreto nº 908/1993, que fixa as diretrizes para as negociações coletivas de trabalho das empresas públicas, sociedades de economia mista e demais empresas sob controle direto ou indireto da União, reafirma a temporalidade e relatividade do conteú-do das convenções ou acordos coletivos de trabalho no parágrafo único do artigo 2º, que reza que todas as cláusulas do acordo coletivo vigente deverão ser objeto de negociação a cada nova data-base.

O Tribunal Superior do Trabalho (TST) determinava na Súmula nº 277 que: “As condições de trabalho al-cançadas por força de sentença normativa, vigoram no prazo assinado, não integrando, de forma defini-

tiva, os contratos”. Em setembro de 2011, o TST revi-sou essa súmula para decidir em sentido contrário. Por ocasião da Segunda Semana do TST a CNF se opôs a esse entendimento e, desde então, vem se manifestando pela não ultratividade.

Argumenta-se por vezes que o artigo 468 da CLT pre-vê que as disposições da norma coletiva são inalte-ráveis, ao estabelecer que “nos contratos individu-ais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim, desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia”. Porém, esse ar-tigo encontra-se no capítulo da CLT que versa sobre Direito Individual do Trabalho e não no que trata do Direito Coletivo do Trabalho.

As convenções, acordos ou contratos coletivos de trabalho são regulados pela Lei nº 10.192/2001, cujo parágrafo 2º do artigo 13 dispõe:

Art. 13. No acordo ou convenção e no dissídio, cole-tivos, é vedada a estipulação ou fixação de cláusula de reajuste ou correção salarial automática vincula-da a índice de preços. .....§ 2o Qualquer concessão de aumento salarial a tí-tulo de produtividade deverá estar amparada em indicadores objetivos.

Discutem-se no Congresso Nacional propostas que alteram esse parágrafo da norma trabalhista para estabelecer a chamada “ultratividade dos acordos, convenções e contratos coletivos de trabalho”, pelas quais as cláusulas ajustadas nesses instrumentos passarão a integrar os contratos individuais de tra-balho e somente poderão ser reduzidas ou suprimi-das por posterior acordo, convenção ou contrato co-letivo de trabalho.

A aprovação de uma lei trabalhista retira uma das mais importantes funções dos sindicatos: a negocia-ção. Cada vez que se engessa a legislação, diminui-

-se o espaço para se fortalecer os sindicatos, sejam eles de trabalhadores, sejam de empregadores. Tam-bém se aumenta ainda mais a complexa estrutura legal trabalhista já existente.

Propostas dessa natureza dificultam as negociações coletivas, pois as eventuais vantagens obtidas, tanto pelos trabalhadores quanto pelas empresas, decor-rentes do bom momento econômico, passam a ter enorme dificuldade de serem negociadas, dado o ris-co de serem perenizadas nos contratos individuais – o que introduz grande rigidez nas relações de trabalho.

17.30 TAXA DE JUROS DA MORA TRABALHISTA

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que busquem manter o equilíbrio financeiro implícito nas relações tra-balhistas, bem como incentivar o cumprimento tempestivo das obrigações laborais. Para tanto, a CNF respalda projetos que prevejam taxa de juros moratórios nas lides trabalhistas equiva-lente à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic).

A legislação brasileira prevê taxas de juros moratórios. O Código Civil de 1916 previa taxa de juros moratórios de 6% a.a., enquanto o Código Civil atual, de 2002, pre-vê taxas idênticas às aplicadas pela Fazenda Nacional. Para esta, o Código Tributário (art. 161, §1º) prevê tam-bém a taxa de mora de 1% a.m. No âmbito trabalhista, a Lei nº 8.177/1991 prevê juros de 1% a.m. (art. 39).

Essas taxas foram estabelecidas em contexto econô-mico distinto do atual, caracterizado pelas altas taxas de juros básicos que marcaram a economia brasileira em décadas recentes, especialmente por conta das dificuldades inflacionárias. No entanto, no atual con-texto de estabilidade econômica, essas taxas se tor-nam excessivamente elevadas.

CAPÍTULO 17: QUESTÕES TRABALHISTAS E SINDICAIS

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015236

Altas taxas de juros moratórios causam graves dis-torções. Em primeiro lugar, incentivam a litigiosida-de e tornam-se um empecilho para acordo. A parte hesita em encerrar um processo no qual obtém re-muneração muito superior à de qualquer outra apli-cação financeira. Também, sobrecarregam o custo das empresas reclamadas, que têm que arcar com uma taxa que não se equipara àquela que obtêm no desempenho ordinário de sua atividade econômica. Portanto, por um lado podem causar enriquecimen-to injustificado dos autores e, de outro, aumentam o chamado Custo Brasil.

Sensível a essa nova realidade, a Lei nº 9.065/1995, em seu artigo 13, determinou que os juros de mora aplicáveis quando do inadimplemento de tributos e contribuições sociais arrecadados pela Secretaria da Receita Federal corresponderão à taxa referen-cial do Sistema Especial de Liquidação e de Custó-dia (Selic).

A taxa Selic já contém, em sua formação, as expec-tativas inflacionárias, o que torna desnecessário o cômputo de qualquer outro acréscimo a título de correção monetária (conforme decisão do Superior Tribunal de Justiça em Recurso Repetitivo, REsp 1.102.552/CE). Assim, uma mesma taxa abrangerá a correção dos valores no tempo e a indenização e compensação pelo atraso.

Seria recomendável que a legislação trabalhista também fosse adequada a esse novo cenário eco-nômico. A estipulação dos juros moratórios como sendo equivalentes àqueles recebidos pela Fazenda Pública protege os credores, dado que eventuais al-tas inflacionárias, ou eventual novo cenário de insta-bilidade acarretarão os devidos e necessários ajus-tes, prevenindo desequilíbrios. Por essa razão, a CNF apoia propostas que estipulem a taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) como taxa de juros moratórios em lides trabalhistas.

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18QUESTÕES previdenciárias

Não há como assegurar os direitos relativos à saú-de, à previdência e à assistência social de maneira sustentada sem o equilíbrio financeiro e atuarial da Previdência Social. Esse truísmo econômico é tam-bém um imperativo constitucional. O artigo 201 da Constituição Federal (CF) dispõe que a Previdência Social será organizada observando-se critérios que preservem seu equilíbrio financeiro e atuarial, de sorte que os gastos a serem suportados presumam a correspondente constituição de reservas. Também o artigo 195, § 5º, da CF estipula que “Nenhum bene-fício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total”. Esse equilíbrio financeiro não significa apenas que receitas deverão ser iguais ou superiores às despesas, mas, sim, que deverão ser constituídas reservas para o desembolso de todos os benefícios.

O Brasil precisa aumentar seus gastos sociais nas áreas de saúde, educação e segurança, bem como aumentar seus investimentos, mas, ao contrário mantém uma política previdenciária socialmente in-justa que privilegia uma população de aposentados

jovens e de mais alta renda em prejuízo de mais in-vestimentos, geradores de postos de trabalho, para os jovens desempregados.

A partir da análise das alterações demográficas da po-pulação brasileira é possível constatar que a taxa de fecundidade por mulher manteve-se praticamente estável, com 1,74 filhos por mulher em 2014, frente à taxa de 1,77 em 2013. Com isso, estima-se pelo Insti-tuto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que o crescimento populacional atingirá seu máximo entre 2030 e 2040. Associado a isso, as mudanças na distri-buição etária da população (segundo as quais haverá crescimento do percentual de idosos juntamente com o aumento da expectativa de vida), projeta-se uma expansão gradual das despesas da Previdência Social.

Em termos relativos, o Brasil é hoje o país que apre-senta mais despesas com benefícios previdenciários (inclusive do setor público) no mundo. Dados mais recentes mostram que a quantidade de novos be-nefícios concedidos em setembro de 2014 foi de 511 mil, aumento de 6,5% frente ao mesmo período de

CAPÍTULO 18: QUESTÕES PREVIDENCIÁRIAS

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia projetos que bus-quem alcançar e manter o equilíbrio financeiro e atuarial da Seguridade Social para que possa prover ao trabalhador brasileiro os benefícios de saúde, previ-dência e assistência social previstos na Constituição.

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 241240

2013. Todos os grandes grupos apresentaram cres-cimento: os benefícios previdenciários aumentaram 5,8% (24,5 mil benefícios), os benefícios acidentários, 6,9% (dois mil benefícios), e os benefícios assisten-ciais, 14,8% (4,6 mil benefícios). O orçamento para o exercício de 2015 prevê gastos da ordem de R$255 bilhões, no pagamento de pessoal (ativos, inativos, pensionistas da União), de encargos sociais e de sen-tenças judiciais (inclusive precatórios e requisições de pequeno valor), o que representa crescimento de 5,78% em relação a estas despesas para o exercício de 2014, no montante de R$242 bilhões.

Os gastos públicos do Governo Federal com bene-fícios previdenciários são 150% maiores do que as despesas com saúde, educação, segurança e investi-mentos. Comparados esses gastos em termos per ca-pita, os números tornam-se mais alarmantes. A isso acrescentam-se os benefícios assistenciais ou subsi-diados que pagam um salário mínimo, os quais não constituem propriamente aposentadoria, mas, sim, transferência de renda e, por essa razão, deveriam ser contabilizados no Orçamento Geral da União.

18.1 CONSELHO DE RECURSOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL (CRPS)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras, que tem a prerrogativa de indicar Conselheiros para o Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS), apoia propostas que visem ao aperfeiçoamento do controle jurisdi-cional das decisões do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) nos processos referentes a benefícios, a fim de assegurar imparcialidade. A CNF apoia o aprimoramento dos procedimen-tos administrativos do CRPS para dar maior transparência aos julgamentos, bem como o fortalecimento das prerrogativas dos Conse-lheiros e da autonomia do órgão.

O Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS) é um colegiado integrante da estrutura do Ministério da Previdência Social (MPS), formado por órgão de composição tripartite, com quatro Câmaras de Jul-gamento (CAJ) localizadas em Brasília e com jurisdi-ção em todo o território nacional, que julgam em se-gunda e última instância matéria de benefício, e por 29 Juntas de Recursos (JR) nos diversos Estados que julgam em primeira instância. O CRPS encontra-se em fase de reestruturação e trata de questões que afetam diretamente não só as instituições financei-ras, mas também o ambiente de negócios.

A Lei nº 8.213/1991, no art. 126, previu que, das de-cisões do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) nos processos de interesse dos beneficiários e dos contribuintes da Seguridade Social, cabe recurso para o CRPS. O órgão tem, entre outras, a finalida-de de evitar aumento de demandas judiciais desne-cessárias contra o Instituto, bem como privilegiar o poder de reforma da própria Administração Pública.

Cada vez mais o CRPS trata de questões previdenci-árias de grande importância. Por exemplo, recente-mente, o INSS passou a intensificar o uso de ações judiciais para responsabilizar empresas públicas e pri-vadas pelo ressarcimento ao SUS (Sistema Único de Saúde) por despesas decorrentes de acidente de tra-balho ou doença ocupacional, o que torna essencial a discussão técnica no CRPS sobre a caracterização dos acidentes do trabalho. Espera-se que já a partir de 2015 o CRPS comece a julgar questões ligadas ao Fator Acidentário de Prevenção (FAP), em processos administrativos que envolverão montantes elevados.

Não se pode equiparar o CRPS a outros órgãos ou entidades vinculadas ao Poder Executivo, os quais exercem atividades burocráticas típicas de um ente administrativo.

A existência do CRPS somente se justifica se respeita-das as características inerentes a sua natureza como ente essencial à solução de conflitos, bem como a sua independência institucional, pois são elas que, de

fato, o diferenciam. Isso porque, se assim não fosse, bastaria ao Estado criar uma instância recursal den-tro do próprio INSS, ou do Ministério, para somente chancelar as suas decisões. Essa não foi intenção do legislador ao garantir constitucionalmente, aos liti-gantes, tanto em processos judiciais quanto em pro-cessos administrativos a aplicabilidade de princípios como contraditório, ampla defesa e livre convenci-mento do julgador (art. 5º inciso LV e art.10 da CF).

Acompanham o CRPS princípios próprios de órgão jurisdicional, tais como observância obrigatória aos princípios do devido processo legal, da imparcialida-de e livre convencimento do juiz natural, segurança jurídica, bem como a autonomia em sua decisões em relação a administração, uma vez que atua como instrumento de autocontrole dos atos da própria ad-ministração. Assim, a atribuição de natureza jurisdi-cional, a imparcialidade, a isenção, a autonomia e a composição tripartite do órgão devem ser exercidas sem qualquer embaraço do Ministério da Previdên-cia Social, até por que a própria Lei nº 8.213/1991 ao se referir ao CRPS não o qualificou como sendo um órgão vinculado, mas sim como “colegiado integran-te da estrutura do MPS”. Esses serão elementos fun-damentais a balizar o Grupo de Trabalho tripartite que será instituído em 2015 para propor medidas de modernização do órgão.

É positiva a aproximação de entidades de representa-ção para participar das discussões técnicas do Conse-lho, por ser uma oportunidade de refletir as deman-das da sociedade e reforçar o embasamento técnico e jurídico das decisões do colegiado, o que poderá evitar que as matérias deságuem no Judiciário, forta-lecendo o papel desse tribunal administrativo.

18.2 I CONFERÊNCIA NACIONAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia iniciativas voltadas para o fortaleci-mento da Previdência Social. Para a CNF, a I Con-ferência Nacional de Previdência Social será um importante fórum de debates para a formulação de propostas que busquem alcançar e manter o equilíbrio financeiro e atuarial da Seguridade Social para que possa prover ao trabalhador brasileiro os benefícios de saúde, previdência e assistência social previstos na Constituição.

O Ministério da Previdência Social (MPS) coordena a realização da I Conferência Nacional de Previdência Social, com o objetivo de promover o intercâmbio de experiências entre profissionais que atuam na gestão da seguridade social, bem como elaborar propostas para a melhoria da Previdência Social.

Antes do debate nacional dos temas serão realizadas conferências regionais, ocasião em que poderão ser aprovadas propostas de alterações na legislação pre-videnciária.

A CNF é membro da Comissão Organizadora Nacional, grupo responsável pela coordenação geral do evento. A Confederação possui representantes também nas de-mais comissões que apoiarão a realização dessa Con-ferência: (i) Comissão Executiva - de perfil operacional, que terá a função de apoiar os trabalhos de todos os demais grupos do evento; (ii) Comissão da Articulação e Mobilização - responsável por mobilizar a participa-ção da sociedade em todos os eventos regionais, para a eleição dos delegados para a etapa nacional; (iii) Comissão de Comunicação - com o papel de produzir a comunicação oficial do evento; (iv) Comissão de Re-latoria – responsável pelo documento final com os re-sultados da Conferência; e (v) Comissão Científica: de perfil mais técnico, responsável pelo documento base da Conferência e pelo regimento interno.

CAPÍTULO 18: QUESTÕES PREVIDENCIÁRIAS

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 243242

Os debates acontecerão ao longo de quatro eixos temáticos: (i) Políticas de Previdência Social; (ii) Ou-tros Regimes da Previdência Social Brasileira; (iii) Diálogo Social, com destaque para o papel delibe-rativo do Conselho de Recursos da Previdência So-cial; e (iv) Gestão Previdenciária, com destaque para a questão da responsabilidade dos trabalhadores e empregadores na redução dos acidentes de trabalho.

A CNF acompanha as discussões dos temas com inte-resse, notadamente no que diz respeito aos regimes próprios de previdência social e as regras de previ-dência complementar, de maneira a evitar que pro-postas de alteração legal possam prejudicar a opera-cionalização dos benefícios previdenciários.

18.3 FATOR PREVIDENCIÁRIO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o fortalecimento da Previdência Social ou pela manutenção do Fator Previdenciário, ou pela adoção de mecanismo que desempenhe idên-tico papel de democratizar a distribuição dos benefícios por todas as faixas de renda da po-pulação e de liberar recursos públicos para gas-tos sociais com saúde, educação e segurança.

A eventual extinção do Fator Previdenciário, com al-terações no cálculo do benefício da aposentadoria pela média de alguns meses anteriores, não só é um retrocesso na busca da redução das despesas com benefícios previdenciários no país, mas também tem impacto negativo sobre a função social do sis-tema previdenciário brasileiro. À luz das alterações demográficas por que passa a população brasileira, a eliminação do Fator Previdenciário, com alteração na forma do cálculo do benefício da aposentadoria, ampliaria ainda mais o deficit das contas previden-ciárias, com drenagem de recursos orçamentários que teria forte impacto negativo na capacidade de

atendimento da crescente demanda das despesas com saúde, educação e segurança. Além disso, a al-teração na forma de indexação dos benefícios previ-denciários seria danosa às contas públicas.

O público afetado pelo Fator Previdenciário concen-tra-se nas faixas superiores da distribuição de renda per capita: 80,8% estão entre os 50% de maior renda. Segundo a Previdência, somente 3,2% das pessoas afetadas pelo fator previdenciário estariam entre os 20% mais pobres, ou seja, a eliminação do Fator Previdenciário é altamente elitista, beneficiando os trabalhadores de renda mais alta do país, que são aqueles que mais cedo se aposentam: nessa faixa de renda, as mulheres se aposentam em média aos 51,4 anos e os homens aos 54,4 anos. Enquanto isso, os trabalhadores mais pobres só conseguem se apo-sentar por idade aos 65 anos. O Fator Previdenciário, que buscou corrigir uma parte dessa injustiça social para com todos os trabalhadores, produziu nos seus primeiros dez anos de vigência uma economia de R$10,1 bilhões e estimulou uma parcela dos traba-lhadores a adiar o seu processo de aposentadoria.

O fator previdenciário, em média, reduz a aposenta-doria por tempo de contribuição em até 35%.

Segundo dados do Ministério da Previdência Social, a economia da previdência resultante da utilização des-se fator, desde sua implantação em 1999, foi de apro-ximadamente R$80 bilhões. Por outro lado, com o fim do fator previdenciário o governo passaria a gastar mais 11 bilhões por ano. O deficit do INSS, de janeiro a novembro de 2014, chegou a R$58,4 bilhões. Isso re-presenta um aumento de R$3,1 bilhões se comparado com o mesmo período de 2013. A projeção do IBGE para 2050 é de que os idosos acima de 65 anos repre-sentem 22,6% dos brasileiros. Hoje eles são 7,5%.

18.4 RESSARCIMENTO AO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o for-talecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) que considerem as contribuições diretas que já são feitas por empresas ao financiamento do SUS, de forma a evitar cobranças repetidas so-bre o mesmo fato gerador (bis in idem).

A Constituição Federal assevera que o Sistema Único de Saúde (SUS) será financiado por toda a sociedade, de forma direta e indireta. Contudo, a obrigação de as empresas ressarcirem ao SUS as despesas decorrentes da assistência prestada aos seus empregados vítimas tanto de acidente do trabalho quanto de doença profis-sional ou do trabalho deve ser analisada em conjunto com as normas existentes que tratam do tema.

As empresas já participam do financiamento do SUS, mediante o recolhimento de contribuições sociais inci-dentes sobre a folha de salários, sobre o faturamento e sobre o lucro. Há ainda contribuição adicional, con-forme o grau de risco da atividade desenvolvida pela empresa, para o custeio de aposentadorias especiais e demais benefícios concedidos em razão de incapacida-de laboral dos trabalhadores. Eventual ressarcimento pelas empresas ao SUS de assistência prestada a tra-balhadores onera ainda mais a folha de pagamentos.

A Lei n° 8.212/1991, em seu art. 22, fixa a contribuição da empresa para o custeio da Seguridade - 20% sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a qualquer título, durante o mês, aos segurados em-pregados e trabalhadores avulsos; e 15% sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura de prestação de serviços, relativamente a serviços que lhe são prestados por co-operados por intermédio de cooperativas de trabalho. Outras contribuições a cargo da empresa destinadas ao financiamento da Seguridade Social são as inciden-tes sobre o faturamento (2% sobre sua receita bruta)

e sobre o lucro (10% sobre o lucro líquido do perío-do-base, antes da provisão para o Imposto de Renda).

À luz desse ônus excessivo sobre a folha de paga-mento, alterações nas regras e no custeio do Sistema Único de Saúde, no que se refere às contribuições para Seguridade Social, devem evitar cobranças re-petidas sobre o mesmo fato gerador (bis in idem).

18.5 PENSÕES E BENEFÍCIOS

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que revejam os critérios de elegibilidade e as condições de concessão de pensões e benefícios pagos pela Previdência So-cial. Para a CNF, a limitação dos critérios de con-cessão corrigiria distorções e reduziria o deficit previdenciário. Tal limitação poderia passar por: evitar a acumulação de pensões com aposenta-dorias e outros benefícios; abreviar o tempo de recebimento do benefício, com critérios de pro-porcionalidade; restringir hipóteses de percep-ção do valor integral do benefício; e determinar tempo mínimo de contribuição para o recebi-mento da pensão, com período de carência.

A Previdência Social tem por finalidade e princípio bá-sico assegurar aos seus beneficiários, mediante con-tribuição, meios indispensáveis de manutenção em caso de incapacidade, desemprego involuntário, ida-de avançada, tempo de serviço, encargos familiares e prisão ou morte daqueles de quem dependiam econo-micamente. Nesse quadro, a Previdência oferece dez modalidades de benefícios, além da aposentadoria.

O deficit na Previdência, acumulado até novembro de 2014, soma R$58,4 bilhões. Isso se deve em grande parte ao formato do sistema previdenciário brasilei-ro, em que as contribuições dos trabalhadores ativos financiam as aposentadorias da geração precedente, em detrimento dos regimes de capitalização.

CAPÍTULO 18: QUESTÕES PREVIDENCIÁRIAS

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 245244

A Lei nº 8.123/1991 prevê que o Regime Geral de Pre-vidência Social (RGPS) também compreende a pres-tação de benefícios e serviços a dependentes, por meio de pensão por morte. O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) concede mais pensões por mor-te a dependentes do que benefícios de aposentado-ria por tempo de serviço. Dados de setembro de 2014 mostram que, no acumulado do ano, foram concedi-das 311.356 pensões em razão de morte de segurado, contra 235.756 benefícios por tempo de serviço do trabalhador contribuinte. Quando da criação de tal benefício, as mulheres não possuíam um papel tão ativo na composição da renda familiar. Hoje, mais de 50% das mulheres trabalham fora. No acumulado de 2014 até setembro, a Previdência Social gastou R$391,4 bilhões com seus segurados, enquanto a arrecadação foi de R$340,5 bilhões. Em virtude des-sa disparidade, ao final de 2014 o Governo Federal procurou por meio da edição de medidas provisórias tornar as regras de concessão desses benefícios mais rígidas, prevendo economizar cerca de R$18 bilhões.

O Governo iniciou o ano de 2015 com alterações fei-tas por meio da Medida Provisória (MP) nº 664/2014 para diminuir o deficit da Previdência. Entre as alte-rações, destacam-se as que modificam os benefícios do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e da Pre-vidência Social de forma não retroativa. No que toca ao seguro-desemprego, o empregado deverá passar a trabalhar pelo menos dezoito meses para auferir o benefício, diferente dos seis meses previstos na regra anterior. Com relação ao auxílio-doença, caberá ao empregador arcar com os custos dos primeiros trinta dias (quinze a mais que anteriormente) com teto de gastos fixado com relação à média dos salários-con-tribuição pagos à Previdência Social no ano anterior.

Mudanças também foram feitas com relação às pen-sões. O benefício vitalício para cônjuges com idade inferior a 44 anos de idade e com expectativa de vida de 35 anos passará a não mais existir. Nos casos de beneficiário com idade superior a 44 anos, o benefí-cio existirá, mas de forma temporária, dependendo

da expectativa de vida do pensionista, com o piso de remuneração de um salário mínimo. Porém, para receber a pensão, passa a ser necessário que o segu-rado tenha contribuído com pelo menos dois anos para a Previdência Social, excetuando-se os casos em que o beneficiário tenha sofrido acidente de tra-balho ou doença profissional.

A Medida Provisória editada em dezembro de 2014 deverá passar pelo crivo do Congresso Nacional, podendo ser modificada ou rejeitada. Propostas que limitam as pensões devem ser discutidas pelo Parlamento com o intuito de não aumentar o deficit previdenciário, levando em consideração que a pirâ-mide etária brasileira está em transformação, com o crescimento no número de idosos.

Nos Estados Unidos da América, por exemplo, cônju-ges com menos de sessenta anos não ganham pensão por morte. De acordo com a Organização Internacio-nal do Trabalho (OIT), na maioria dos países a conces-são só vem após um tempo mínimo de casamento e, muitas vezes, é temporária. Em outras partes do mun-do, a faixa etária e a dependência econômica também entram como fatores limitadores desse direito.

18.6 REAJUSTE DOS BENEFÍCIOS OBSERVANDO O SALÁRIO MÍNIMO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que preservem o poder aquisitivo de aposentados e pensionistas da Previdência Social, na medida em que os reajustes atendam às restrições orçamentárias da União, de Estados e de Municípios. A vincu-lação de reajustes de benefícios previdenciários ao salário mínimo pode implicar ganhos reais para aposentados e pensionistas que não se justificam, porque não refletem ganhos de pro-dutividade da economia.

O reajuste de benefícios da Previdência Social, pre-visto na Constituição Federal, tem a preocupação fundamental de preservar o poder de compra dos beneficiários. Já o salário mínimo é fixado em fun-ção de políticas trabalhistas, com regras previstas na legislação, sem se ater exclusivamente ao poder de compra da moeda (na medida em que os reajustes consideram também a produtividade e o crescimen-to da economia). Assim, não existe razão econômica que justifique a vinculação dos benefícios previden-ciários aos reajustes do salário mínimo.

A União, os Estados, os Municípios e o Distrito Fe-deral são grandes empregadores e contam com nú-mero expressivo de aposentados e pensionistas. A vinculação da correção dos benefícios ao salário mínimo acarreta ônus excessivo nos orçamentos pú-blicos federal, estaduais e municipais, com redução da capacidade de investimento em rubricas como educação, saúde e segurança.

CAPÍTULO 18: QUESTÕES PREVIDENCIÁRIAS

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247

19CAPÍTULO 19: QUESTÕES DE SEGURANÇA

A imagem das instituições financeiras está fortemente ligada a questões de segurança. Por transacionarem a mais fungível de todas as commodities – o dinheiro – e operarem com bens e valores, instituições financeiras, no mundo inteiro, adotam as mais avançadas medi-das de segurança física e de proteção de dados e de informações. Esse sofisticado aparato de segurança está na raiz da percepção de que a proteção é voltada para as próprias instituições. Nada mais equivocado.

O corolário dessa percepção equivocada é o de que as instituições financeiras se preocupam com segurança para evitar perdas, na medida em que os custos de medidas preventivas de proteção seriam inferiores aos prejuízos potenciais de atos de violência e outros delitos cometidos contra as empresas. Ocorre que tais perdas, mesmo quando expressivas, são mitiga-das por diversas modalidades de provisões, de reser-vas e de apólices de seguro. A verdade é que medidas de segurança adotadas por instituições financeiras cobrem três objetos: os empregados, os clientes e a confiança entre estes e as empresas.

Os funcionários de instituições financeiras são objeto das medidas de segurança não só pela proteção de sua incolumidade física, no caso de atos de violên-cia, mas também pela responsabilidade que com-partilham no manuseio de valores e de informações sigilosas. No caso de atos criminosos contra institui-ções financeiras, com ou sem emprego de violência, sobressai a preocupação com a proteção das pessoas que executam as mais variadas tarefas nas instala-ções das empresas do setor.

Quanto aos clientes, essa preocupação começa pela incolumidade física das pessoas que frequentam ins-talações de instituições financeiras, tais como agên-cias bancárias e caixas automáticos. Porém, estende-

-se também às transações. Na verdade, os produtos e serviços ofertados pelo setor incorporam, no sentido mais amplo, um elemento de segurança: a certeza de que a transação será finalizada e liquidada nos termos contratados, sem prejuízo para os clientes. É nesse quadro que ganha importância a proteção de dados e de informações confidenciais.

QUESTÕES DE SEGURANÇA

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas para o aumento da proteção das instalações físicas, dos procedimentos e das in-formações das empresas do setor financeiro que ampliem a segurança de funcio-nários e de clientes, bem como fortaleçam a confiança que alicerça as operações financeiras. Para a CNF, propostas realistas e exequíveis implicam custo ao qual deve corresponder efetivo aumento da segurança.

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 249248

Por fim, a matéria-prima básica das instituições finan-ceiras é a confiança. As empresas do setor compram e vendem promessas de pagamentos e de recebimen-tos que só se materializam nos prazos acordados, nos termos acertados, porque prevalece a confiança mú-tua entre pessoas – físicas e jurídicas – e instituições. Problemas de segurança podem afetar essa confian-ça e, com ela, a solidez das empresas.

19.1 UNIFORMIZAÇÃO DA LEGISLAÇÃO SOBRE SEGURANÇA BANCÁRIA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que uniformizem medidas, equipamentos e instalações de segu-rança em todos os estabelecimentos bancários do território nacional, lastreadas em avalia-ções técnicas minuciosas que evidenciem efeti-vo ganho de proteção para funcionários, clien-tes, informações e valores. Tal uniformização deve preservar graus de liberdade na escolha de especificações de forma a não inibir o uso de tecnologias inovadoras.

A legislação em matéria de segurança bancária afeta vários aspectos da atividade, entre eles a arquite-tura das agências, seu horário de funcionamento, o trânsito e estacionamento de veículos de transporte de valores, os dispositivos eletrônicos de segurança, bem como o número e a disposição de vigilantes, para mencionar alguns.

As práticas de segurança adotadas pelos bancos não variam de localidade a localidade, tampouco são es-pecíficas de determinadas regiões ou Estados. Trata-

-se de oferecer a funcionários e a clientes de bancos medidas de proteção eficazes, de dissuasão da ativi-dade criminosa – com ou sem emprego de violência – e de minimização de possíveis consequências desses crimes para a incolumidade física e para a integridade patrimonial das pessoas. Tais medidas de proteção

são onerosas, porque envolvem elevados e contínuos investimentos em sofisticada tecnologia, treinamen-to de pessoal, construção de instalações especiais e emprego de vigilantes, entre outros. A introdução de inovações deve, por isso, atender a critérios técnicos que evidenciem efetivo ganho de proteção.

Desde que não se converta em barreira ao desenvol-vimento de tecnologias inovadoras, a uniformização da segurança bancária propiciaria grande ganho de escala que permitiria estender medidas mais efica-zes a um número maior de estabelecimentos, para benefício de funcionários e de clientes.

19.2 CRIMES ELETRÔNICOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o aprimoramento da legislação que introduziu a tipificação penal de crimes eletrônicos, seja para evitar a prejudicialidade de tipos penais já existentes, seja para ampliação de seu esco-po para incorporar serviços de utilidade públi-ca prestados por entidades privadas.

Crimes eletrônicos, tais como acesso não autorizado a portais para movimentar contas correntes e clona-gem de cartões, não são cometidos contra institui-ções financeiras: suas vítimas são os usuários dos serviços, isto é, a sociedade. O número de operações e o volume financeiro associados a crimes eletrôni-cos vêm crescendo exponencialmente. Há indica-ções de que o Brasil já é o primeiro país do mundo nessa modalidade criminosa. Os crimes eletrônicos constituem-se, cada vez mais, em importante fonte de financiamento do crime organizado.

Levantamento feito em 2014 pelo Centro de Estu-dos Estratégicos (CSIS), situado nos Estados Unidos da América (EUA), aponta que os crimes eletrôni-cos custam em média, por ano, um prejuízo global

de US$445 bilhões (aproximadamente R$1 trilhão), chegando ao patamar de 0,5% a 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. No que tange aos pre-juízos decorrentes de “furto de propriedade intelec-tual”, os valores superam a marca de US$160 bilhões (aproximadamente R$415 bilhões). Com relação aos crimes ligados a cartões de crédito os valores se aproximam da perda de US$150 bilhões ao ano (aproximadamente R$380 bilhões). Porém, é neces-sário avaliar que os valores podem ser maiores, visto que não existem meios institucionais que permitam contabilizar e divulgar os dados no Brasil. Há indica-ções de que US$1 investido em segurança tecnológi-ca previne a perda de US$1,50 decorrente de crimes eletrônicos. O crime eletrônico está em terceiro lugar no ranking de delitos, atrás do narcotráfico e da fal-sificação de marcas.

No Brasil, a cada R$100 roubados R$95 são decorren-tes de fraudes eletrônicas feitas por internet banking ou cartões. Em 2013, as fraudes eletrônicas provoca-ram prejuízos entre R$18 bilhões a R$20 bilhões no país. Apenas no primeiro semestre de 2013, 131 mil pessoas foram vítimas de fraude.

Em dezembro de 2012, foi publicada a Lei n° 12.737, que trata da tipificação de crimes eletrônicos e al-tera o Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848/1940). Na mesma ocasião, também foi publicada a Lei nº 12.735/2012, que tipifica condutas praticadas me-diante uso de dispositivos eletrônicos ou similares que sejam praticadas contra sistemas informatiza-dos. A legislação preencheu a lacuna da inexistência de uma norma específica para os crimes na internet, oferecendo à sociedade uma alternativa equilibrada de repressão a condutas socialmente indesejáveis, sem, no entanto, operar a criminalização excessiva.

A Lei n° 12.737 criminalizou a invasão de “dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de com-putadores, mediante violação indevida de mecanis-mo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização ex-pressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar

vulnerabilidades para obter vantagem ilícita”. Tam-bém incorre em crime “quem produz, oferece, dis-tribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de computador” com o intuito de permitir tal invasão (com pena agravada se houver divulgação, comer-cialização ou transmissão a terceiro, a qualquer tí-tulo, dos dados ou informações obtidos). Introduziu tipo penal para “quem interrompe serviço telemáti-co ou de informação de utilidade pública, ou impede ou dificulta-lhe o restabelecimento” e equiparou os cartões de crédito e de débito a documentos particu-lares na tipificação do crime de falsificação. A Lei nº 12.735, por sua vez, criminalizou a cessação de trans-missões radiofônicas, televisivas e eletrônicas, além de determinar que “os órgãos da polícia judiciária estruturarão, nos termos de regulamento, setores e equipes especializadas no combate à ação delituosa em rede de computadores, dispositivo de comunica-ção ou sistema informatizado”.

Ao mesmo tempo em que celebra a publicação de normas penais para coibir os crimes eletrônicos, a Confederação Nacional das Instituições Financeiras indica que o texto legal pode ser ainda mais eficaz por meio de aprimoramentos em dois pontos.

O primeiro ponto encontra-se no artigo 2º da Lei n° 12.737/2012, que inclui a expressão “para obter van-tagem ilícita”. Essa expressão concorre para a preju-dicialidade de tipos penais existentes, a saber: este-lionato (art. 171 do Código Penal) e furto (art. 155), na medida em que repete as previsões desses dispo-sitivos, porém atribui a ambos penas menores (além de tornar desproporcional o estelionato eletrônico diante do estelionato comum). Com essa expressão, o estelionato eletrônico se torna um crime de menor potencial ofensivo, de competência do Juizado Es-pecial Criminal, que ficará sobrecarregado e no qual não se admite produção de prova pericial da invasão e da obtenção de vantagem ilícita.

O segundo ponto encontra-se no artigo 3º da Lei n° 12.737/2012, que altera o parágrafo 1º do artigo 266 do Código Penal, que passa a ter a seguinte redação:

CAPÍTULO 19: QUESTÕES DE SEGURANÇA

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“Incorre na mesma pena quem interrompe serviço telemático ou de informação de utilidade pública, ou impede ou dificulta-lhe o restabelecimento”. A alteração introduzida pela nova Lei limita o ato cri-minoso à interrupção de serviços, excluindo do tipo penal a perturbação desses mesmos serviços – que muitas vezes têm consequência tão danosa quanto a interrupção. Ademais, pode limitar seu escopo aos serviços públicos, ignorando que outros serviços também podem ser considerados de utilidade públi-ca e essenciais para consumidores/cidadãos.

19.3 COMBATE À LAVAGEM DE DINHEIRO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que tornem cada vez mais transparentes as operações finan-ceiras, de maneira a identificar casos de ins-trumentalização de empresas do setor por agentes criminosos envolvidos em lavagem de dinheiro, no entendimento de que os sigilos bancário, fiscal e de informações de clientes e de funcionários serão sempre resguardados nos limites de Lei Complementar. Nesse senti-do, a CNF acredita que a nova legislação sobre lavagem de dinheiro (Lei nº 12.683/2012) pode ser aprimorada.

Para o Conselho de Controle de Atividades Financei-ras (COAF), o crime de lavagem de dinheiro caracte-riza-se por um conjunto de operações comerciais ou financeiras que buscam a incorporação na economia de cada país, de modo transitório ou permanente, de recursos, bens e valores de origem ilícita.

Em julho de 2012, foi sancionada a Lei nº 12.683, que torna mais eficiente a punição aos crimes de lava-gem de dinheiro. A legislação inova quanto à carac-terização anterior do crime, que se configurava em circunstâncias em que o dinheiro tivesse origem em atividades ilícitas, tais como o terrorismo, o tráfico

de drogas, o sequestro e o contrabando de armas, além de condutas culpáveis contra a administração pública e o Sistema Financeiro Nacional. A nova le-gislação passou a conceituar lavagem de dinheiro como qualquer recurso com origem ilícita ou oculta, enrijecendo as punições à conduta culpável. Foi es-tabelecido no texto da nova lei que o Poder Judiciá-rio pode acolher denúncias do crime mesmo em cir-cunstâncias de prescrição e insuficiências de provas, bem como realizar o confisco prévio dos bens dos denunciados. Outra inovação é a inserção de apre-ensões de bens em nome de terceiros, contrapondo-

-se à legislação anterior, que previa a apreensão de valores e bens tão somente em nome do acusado de crime de lavagem de dinheiro.

As instituições financeiras receberam com satisfa-ção a sanção da Lei nº 12.683/2012. Para a Confe-deração Nacional das Instituições Financeiras, a eliminação do rol de crimes antecedentes, previstos na legislação anterior, amplia o escopo da norma e aumenta sua eficácia.

A legislação reserva papel protagonista das institui-ções financeiras no combate à lavagem de dinheiro. O setor financeiro constitui um elo crítico da cadeia de atos ilícitos que caracterizam crimes de lavagem de dinheiro. Mesmo que os autores desse crime re-alizem operações financeiras lícitas, a legislação envolve o setor financeiro na detecção da lavagem dinheiro e no seu combate. As instituições devem dispensar especial atenção às operações que pos-sam apresentar sérios indícios de lavagem de di-nheiro e comunicá-las às autoridades competentes, sem dar ciência desse ato a seus clientes, tais como transações que ultrapassarem limite fixado por es-sas autoridades, bem como proposta ou realização de transações com fortes indícios de lavagem de dinheiro. As instituições financeiras sujeitam-se a penalidades administrativas pelo descumprimento dessas obrigações. Já o Banco Central deve manter registro centralizado formando o cadastro geral de correntistas e clientes de instituições financeiras, bem como de seus procuradores. Há indicações de

que o setor vem desempenhando esse papel a con-tento: só no ano de 2012, o COAF recebeu 1.587.450 comunicações sobre lavagem de dinheiro.

Ao introduzir novas rotinas e procedimentos, a nova legislação também criou implicações que nem sem-pre são evidentes. A redação anterior, a da Lei nº 9.613/1998, artigo 1º, parágrafo 2º, inciso I, rezava que: “Incorre, ainda, na mesma pena quem: I - utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, direitos ou valores que sabe serem provenientes de qual-quer dos crimes antecedentes referidos neste artigo”. Já o artigo 1º, parágrafo 2º, inciso I, da nova Lei nº 12.683/2012 passou a dispor que: “Incorre, ainda, na mesma pena quem: I - utiliza, na atividade econômi-ca ou financeira, bens, direitos ou valores provenien-tes de infração penal”. A retirada da expressão “que sabe serem” pode ter sérias consequências.

Ao assumir que as instituições financeiras conhecem sempre, de maneira integral e exaustiva, a origem dos recursos que recebem, a nova Lei as torna objeti-vamente responsáveis. Os termos “deveria saber” ou

“deve saber” constam dos artigos 130, 140 e 180 do Có-digo Penal, sendo longa a discussão no meio jurídico a respeito de o “deve saber” ser uma forma de dolo eventual ou de uma conduta culposa. A exata compre-ensão jurídica é importante, pois o “deve saber” não se aproxima de dolo eventual, mas de culpa stricto sensu, já que no dolo eventual o agente sabe e, prati-cando determinada conduta reprovável, assume intei-ramente o risco de produzir o resultado. Para o crime de lavagem de dinheiro o “deveria saber” somente é previsto na forma dolosa, considerando, concreta-mente, que a pessoa busca exatamente dar aparência de licitude a um bem, direito ou valor oriundo de infra-ção penal. Ou seja, um crime doloso só é punido nos casos em que o agente tem conhecimento da origem criminosa e pratica um ato inerente a esse processo.

Em princípio, a retirada da expressão “que sabe se-rem” sujeitaria à pena de três a dez anos um profis-sional idôneo que, atuando dentro das normas do Banco Central, recebesse para fins lícitos depósito

ou aplicação de recursos oriundos de infração penal que esse profissional não tem como verificar. O arti-go 9º estende o rol de sujeitos também às pessoas físicas. Um gerente de banco ou um administrador de fundo de investimento, por exemplo, não conta com meios de verificar a origem de recursos oriun-dos de evasão fiscal ou de jogos de azar, a não ser mediante violação ilegal da privacidade do deposi-tante ou aplicador. No caso da sonegação fiscal, em especial, as atividades são complexas e, às vezes, de difícil percepção por aqueles que trabalham direta-mente em setores nos quais há operações intrinca-das. Um advogado, um agente de seguros, um cor-retor de imóveis, um funcionário de uma instituição financeira, por exemplo, teriam que analisar todos os aspectos da vida do cliente, com o risco de ofen-der sua privacidade e sua intimidade. A Lei Comple-mentar nº 105/2001, que ampliou o acesso do COAF a informações bancárias, não derrogou o sigilo fiscal e bancário de que gozam depositantes e aplicadores.

19.4 DEFINIÇÃO DO CRIME DE TERRORISMO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que visem a comba-ter o crime de terrorismo, bem como ações vol-tadas para a sua prevenção. A Confederação defende ainda propostas que garantam a pre-servação dos ativos dos cidadãos, confiados a instituições financeiras, além da preservação da incolumidade de agências e caixas eletrôni-cos em todo território nacional.

O Congresso Nacional instalou, em março de 2013, Comissão Mista Especial com o intuito de consolidar a legislação federal e regulamentar dispositivos da Constituição. Entre os assuntos tratados na Comis-são encontrava-se Projeto de Lei que define o crime de terrorismo e as circunstâncias em que tal crime se configura.

CAPÍTULO 19: QUESTÕES DE SEGURANÇA

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 253252

A proposta determinava pena de reclusão de quinze a trinta anos a quem oferecer, obter, guardar, man-ter em depósito, investir ou contribuir de qualquer modo para a obtenção de ativo, bem ou recurso fi-nanceiro com a finalidade de financiar, custear ou promover prática de terrorismo.

Dispositivo similar também está sendo tratado na discussão da reforma do Código Penal em exame pelo Senado.

Recursos mobilizados para o financiamento do ter-rorismo deverão, em algum momento, transitar pelo sistema financeiro. As instituições financeiras contam com sofisticados procedimentos de de-tecção da origem ilegal de recursos. A CNF vê com preocupação os dispositivos supracitados, uma vez que o eventual trânsito por instituição financeira de recursos destinados ao financiamento do terrorismo pode acarretar culpa para agentes que, no exercício de boa fé de suas funções, não contam com meios de verificar nem a origem nem a destinação dos trilhões de reais que circulam no mercado.

De modo a tornar aplicável a responsabilidade das instituições financeiras, a Confederação apoia a inclu-são de dispositivos que estabeleçam nexo verificável e irrefutável entre a conduta destas ou de seu agen-te administrador e a observância de regras claras de compliance estabelecidas pela autoridade monetária.

A discussão de uma nova lei sobre combate ao terro-rismo enseja exame de questões novas. Uma delas é a inclusão da atividade bancária no rol dos serviços essenciais previstos na lei, para que sejam tipifica-dos como terrorismo os crimes contra as instituições financeiras. Os assaltos contra bancos e os arrom-bamentos de caixas eletrônicos são cometidos me-diante uso de armamento pesado, violência e grave ameaça, inclusive com o uso de explosivos, causan-do pânico e terror nas comunidades, expondo grave-mente a integridade física das pessoas. Nesse con-texto é oportuna a discussão, também, da inclusão de um código químico em explosivos que identifique

toda sua circulação do produtor ao usuário final, permitindo traçar sua origem.

O Grupo de Ação Financeira Internacional (GAFI) é um grupo intergovernamental estabelecido em 1989 pelos ministros de seus membros fundadores. O GAFI tem desenvolvido uma série de recomendações que são reconhecidas como padrões internacionais no combate à lavagem de dinheiro, ao financiamento do terrorismo e à proliferação de armas de destrui-ção em massa, além de buscar sua implementação efetiva de parâmetros legais, regulatórios e opera-cionais nos países participantes. Elas formam a base de uma resposta coordenada para a integridade dos sistemas financeiros e asseguram condições de con-corrência adequadas entre as instituições financeiras.

O GAFI, tendo o Brasil como membro, espera que país aprove essa nova legislação com o objetivo de contri-buir para o combate ao financiamento de atividades terroristas por meio de crimes de lavagem de dinheiro transnacionais. A não aprovação dessa nova legislação tem efeitos sobre a economia brasileira e, especial-mente, sobre as atividades das instituições financei-ras que operam no país devido às restrições impostas internacionalmente (que encontrariam dificuldades e impedimentos em suas operações transacionais como captações, investimentos, câmbio e remessas, por exemplo). O GAFI deu ao Brasil o prazo de dezembro de 2014 para que a lei fosse aprovada, sob pena de decla-rar o país como um não cooperante ao regime interna-cional de lavagem de dinheiro e combate ao terrorismo.

19.5 VIGILÂNCIA PRIVADA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas realistas que au-mentem a eficácia da vigilância privada pelo uso de soluções tecnológicas que minimizem o porte de armas letais em agências bancárias e o número de profissionais de vigilância expos-

No Brasil, o efetivo de vigilantes privados supera o das Forças Armadas. A categoria presta relevantes serviços aos funcionários e clientes de instituições financeiras, ao contribuir para a incolumidade física e a integridade patrimonial dessas pessoas. Por essa razão, deve ser incluída no rol de atividades essen-ciais previstas na Lei nº 7.783/1989.

Na Câmara dos Deputados uma Comissão Especial analisa mais de cem propostas que de alguma manei-ra pretendem disciplinar a obrigatoriedade da adoção de alguns procedimentos/mecanismos relacionados à vigilância privada. Com intuito de conferir seguran-ça à sociedade, os legisladores propõem medidas que, embora veiculem a legítima intenção de prote-ger o cidadão, são muitas vezes inadequadas aos fins que perseguem. Proliferam dessa forma normas inó-cuas, que oneram o setor com a adoção de medidas paliativas que não oferecem soluções efetivas.

Para ser mais eficaz, a vigilância privada bancária deve dispor de equipamentos e soluções eletrônicas capazes de garantir a segurança de pessoas e am-bientes. A utilização de armas letais deve ser evitada. O simples aumento da quantidade de vigilantes ar-mados não torna mais eficiente a vigilância bancária. Essa eficiência pode ser aprimorada na medida em que vigilantes sejam submetidos a constante treina-mento para aperfeiçoar sua qualificação.

19.6 CAIXAS ELETRÔNICOS

O Brasil é um dos países pioneiros no uso de ter-minais automáticos, com tecnologia sofisticada de operação e medidas de segurança que são o estado da arte. Há no país quase duzentos mil terminais au-tomáticos, que representam poderosa ferramenta não apenas para facilitar o relacionamento de clien-tes com instituições bancárias, mas também para estender a própria bancarização.

Os caixas eletrônicos, terminais automáticos, ou ATMs (do inglês Automatic Telling Machine), apresen-tam implicações de segurança, tanto no seu funcio-namento quanto no ambiente que os cerca.

Quanto ao funcionamento, a evolução tecnológica, que, por exemplo, incorporou chips nos cartões de débito e de crédito, torna cada vez mais difícil a ati-vidade criminosa de subtrair informações de contas correntes e de clonagem de cartões. Apesar desse avanço, as instituições financeiras mantêm pesados investimentos em tecnologia para continuar redu-zindo esse tipo de fraude. Contudo, a destruição do produto de roubos a terminais automáticos (isto é, das cédulas) ainda é objeto de controvérsias, o que impõe um limite às soluções tecnológicas para dis-suadir a violação desses equipamentos.

Já as questões de segurança do ambiente que cerca os equipamentos são mais complexas. Os aparelhos são bastante uniformes em seu modo de opera-

CAPÍTULO 19: QUESTÕES DE SEGURANÇA

tos à violência, pelo constante treinamento dos profissionais de vigilância e pela inclusão da ca-tegoria no rol de atividades essenciais previstas na Lei nº 7.783/1989.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para o fortaleci-

mento de medidas de segurança das operações e do uso de caixas eletrônicos, no entendimento de que tais propostas não imputam a agentes privados os ônus que a Constituição Federal destina ao Poder Público para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. Para a CNF, o rastreamento de explosivos utilizados contra esses equipamentos e a inclusão dessa modalidade criminosa no rol de crimes contra o Sistema Financeiro Nacional contribuiriam para dissuadir práticas delituosas.

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 255254

ção – e, portanto, uma solução tecnológica serve a milhares deles – ao passo em que sua localização se dá nos ambientes mais diversos: dentro de agências bancárias, nos shopping centers, nos corredores de aeroportos, em estabelecimentos comerciais, por exemplo. São ambientes sobre os quais as institui-ções financeiras não têm controle algum, estando na jurisdição do Poder Público já que, nos termos do ar-tigo 144 da Constituição Federal, a segurança pública

“é dever do Estado, direito e responsabilidade de to-dos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”.

Uma medida que poderia acrescentar segurança ao funcionamento de caixas eletrônicos e ao ambiente que os cerca seria a identificação da origem dos ex-plosivos empregados em ataques contra esse tipo de equipamento, bem como de todas as transações comerciais que envolveram esses explosivos. Outra medida seria a inclusão dessa modalidade crimino-sa no rol dos crimes contra o Sistema Financeiro Na-cional, previstos na Lei nº 7.492/1986.

19.7 AGÊNCIAS BANCÁRIAS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que uniformizem os requisitos básicos para o desenho arquitetôni-co e construção de todos os estabelecimentos bancários no território nacional, lastreadas em avaliações técnicas minuciosas que eviden-ciem efetivo ganho de proteção para funcioná-rios, clientes, informações e valores.

Agências bancárias são instalações meticulosamen-te desenhadas para propiciar a funcionários e a clien-tes as melhores condições possíveis de conforto e de segurança. Contudo, as instituições bancárias têm dificuldade em otimizar os recursos destinados à se-gurança de suas agências dada a ampla diversidade de regras de construção e de funcionamento. Tais

regras estão sob competência dos 5.570 Municípios brasileiros, o que torna o simples acompanhamento desses dispositivos bastante complexo e oneroso.

Na Câmara dos Deputados, desde que foi apresenta-da, em julho de 2012, proposta que fixa piso salarial dos vigilantes, grande parte das matérias relaciona-das aos mais diversos temas afetos a agências ban-cárias têm sido apensadas a esse projeto. São mais de cem sugestões de lei que tratam de temas que vão desde normas trabalhistas, específicas da cate-goria dos vigilantes até adaptação de sistemas e dis-positivos de segurança, passando pelo uso de celular em agências bancárias.

Regulamentações sobre padronização de agências bancárias, editadas por meio de distintas legislações estaduais e municipais, tais como: instalação de divi-sórias em caixas, blindagem de fachadas, manuten-ção das filmagens, bloqueio de sinal de celular, obri-gação de porta giratória, ou mesmo a instalação de banheiros, mostram-se destituídas de uniformidade e muitas vezes são inexequíveis ou até ilegais, como é o caso do bloqueio de sinal de celular.

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) es-tabelece que o bloqueio de celular deve ser restrito aos estabelecimentos prisionais e nunca interferir em serviço de radiocomunicação fora de tais limites. A instalação e uso de equipamento bloqueador de sinais de radiocomunicações em outros locais é con-siderada atividade clandestina e constitui infração a Lei Geral de Telecomunicações. Além disso, os apa-relhos que realizam tais bloqueios possuem longo alcance, não existindo possibilidade de controlar a sua área de abrangência de forma tão precisa.

A blindagem de agências, por exemplo, é de eficácia discutível na medida em que não se tem notícia de criminosos que disparem de fora para interior da agência; disparos internos, se ocorrerem, poderiam ricochetear na blindagem e atingir inocentes. A blin-dagem pode prestar-se a proteger criminosos abri-gados nas agências bancárias.

19.8 SEGURANÇA DO TRANSPORTE DE VALORES

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o fortalecimento das medidas de segurança do transporte de valores, inclusive pela digitali-zação de documentos usualmente transporta-dos. Para a CNF, o ônus da segurança pública não deve recair sobre entes privados. Ademais, a uniformização das regras de trânsito e esta-cionamento de carros-fortes contribuiria para maior segurança no transporte de valores.

Veículos de transporte deslocam não apenas dinheiro em espécie, mas também objetos de valor, tais como metais e pedras preciosas, bem como documentos, inclusive cheques. Os riscos de segurança inerentes ao transporte de valores podem ser imediatamente mitigados pela exclusão dos cheques da carga des-ses veículos de transporte. Para tanto, a digitalização de documentos, examinada na Seção 6.21 – Digitali-zação / Arquivamento de documentos, representaria importante avanço também em termos de segurança.

As implicações de segurança para os vigilantes priva-dos que acompanham o transporte de valores estão estreitamente vinculadas à formação e qualificação desses profissionais, examinada na Seção 19.5 – Vi-gilância privada.

Já no que diz respeito à segurança da população, os veículos de transporte de valores circulam e estacio-nam em vias e áreas públicas sobre as quais as insti-tuições financeiras não têm qualquer controle, já que se aplica aqui o artigo 144 da Constituição Federal, que reza: “A segurança pública é dever do Estado, di-reito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”. Nesse caso, a competência é predominantemente dos Municípios, o que dificulta às instituições bancárias a uniformização de procedi-

mentos, com ganhos de escala que poderiam ser re-vertidos em maiores investimentos em segurança.

Propostas que tramitam no Congresso Nacional vi-sam a estabelecer obrigatoriedades quanto à ativida-de de transporte de numerário, tais como a existência de estacionamento próprio, a determinação de horá-rio especial para esse transporte e o deslocamento intermunicipal com presença mínima de vigilantes.

No caso de estacionamento próprio para o transpor-te de valores, por exemplo, há inúmeros obstáculos no plano urbanístico que embaraçam mudanças súbitas, como o posicionamento da edificação e a existência de espaço físico contíguo para tal fim; es-tabelecimentos financeiros em prédios tombados pelo patrimônio público que impede alterações em suas estruturas; agências localizadas em andares su-periores; e ainda instalações que se dão em centros comerciais, edifícios em condomínio, que, por suas características peculiares, não permitem a criação das áreas privativas propostas.

19.9 TECNOLOGIA DE SEGURANÇA

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas de incentivo à adoção e à modernização de tecnologias de segurança por instituições financeiras, no en-tendimento de que tais propostas não interfe-rem na liberdade de escolha dos produtos e ser-viços de segurança que melhor se adaptam às necessidades de cada instituição e não impõem os ônus da segurança pública a entes privados.

Os equipamentos de segurança empregados por ins-tituições financeiras são estreitamente vinculados à tecnologia da informação. Por isso, sofrem atualiza-ções permanentes, tanto de base física (hardware) quanto de programas (software), ao mesmo tempo em que são lançadas inovações.

CAPÍTULO 19: QUESTÕES DE SEGURANÇA

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015256

Para a Associação Brasileira de Empresas e Sistemas Eletrônicos (ABESE), 85% do consumo de equipa-mentos de segurança eletrônica são demandados pelo setor não-residencial. Dados da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) apontam uma movimentação de R$4,6 bilhões no mercado de segurança eletrônica em 2013. A Associação Brasilei-ra da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) aponta para um crescimento no ramo da segurança eletrô-nica de 19% em 2013, atingindo um faturamento de R$1,2 bilhão. De acordo com a Security Industry Association (SIA), o mercado de Equipamentos de Segurança Eletrônica (ESE) no Brasil tem previsão de

crescer R$1,8 bilhão até 2016, representando um au-mento anual de 17,36%.

A imposição de regras para balizar o uso, por institui-ções financeiras, de equipamentos de segurança vai de encontro a esse vibrante mercado e amputa possibili-dades de inovação e de atualização tecnológica. A livre escolha dos equipamentos e da tecnologia que melhor se adaptam às necessidades de segurança das institui-ções financeiras é a melhor maneira de assegurar, num mercado altamente competitivo, que estas emprega-rão o estado da arte na proteção de seus funcionários, seus clientes, suas informações e instalações.

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20CAPÍTULO 20: QUESTÕES BANCÁRIAS

A intermediação financeira viabiliza e concretiza a conjunção de interesses e necessidades dos agentes econômicos, fazendo confluir (no tempo, no volume e nos preços) os fluxos de recursos daqueles que acumulam poupança (agentes superavitários) para os que deles necessitam para a realização das suas atividades (agentes deficitários).

No mundo todo, operações bancárias se revestem de grande complexidade. As implicações das questões bancárias são muito próprias do setor, que é possi-velmente o mais regulado, supervisionado e fiscaliza-do da economia. Isso se explica pelo impacto poten-cial sobre toda a economia de eventuais problemas nos bancos, sejam tópicos, sejam sistêmicos.

O tratamento de questões afetas a bancos demanda, na maioria das vezes, profundo e minucioso conhe-cimento de todas as suas dimensões – legais, regula-tórias, contábeis, fiscais e operacionais. Não é inco-mum questões bancárias serem tratadas de maneira superficial, negligenciando-se o impacto de propos-tas sobre o acesso ao crédito, o custo dos financia-

mentos, a oferta de serviços, a geração de empregos e a confiança no sistema bancário.

20.1 ATIVIDADES BANCÁRIAS COMO “SERVIÇOS ESSENCIAIS”

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a ampliação da lista de atividades considera-das essenciais previstas no artigo 10 da Lei nº 7.783/1989. Para a CNF, o rol de atividades essenciais não deveria ser exaustivo, mas, sim, acompanhar a evolução econômica e social. A inclusão das atividades bancárias nesse rol recomenda-se pela sua interdependência com atividades já consideradas essenciais na legis-lação e pelo intenso processo de bancarização.

Atividades essenciais são aquelas consideradas im-prescindíveis para o efetivo funcionamento de uma

QUESTÕES BANCÁRIAS

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas para a consolidação da higidez e da solidez do sistema bancário baseadas em exame profundo e minucioso de todas as suas implicações legais, regulatórias, contábeis, fiscais e operacionais, bem como do impacto dessas propostas, entre outros, sobre o acesso ao crédito, o custo dos financiamentos, a oferta de servi-ços, a geração de empregos e a confiança no sistema bancário.

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sociedade. A definição de serviços e atividades es-senciais é expressa na Lei nº 7.783/1989 e inclui: as-sistência médica e hospitalar; tratamento e abaste-cimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis; distribuição e comercia-lização de medicamentos e alimentos; serviços fu-nerários; transporte coletivo; captação e tratamento de esgoto e lixo; telecomunicações; guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares; processamento de dados liga-dos a serviços essenciais; controle de tráfego aéreo; e compensação bancária.

O atual momento de estabilidade econômica vivido pelo Brasil, com redução do desemprego, aumento da renda, queda de juros e maior acesso ao crédito, estimula a bancarização no país. Cada vez mais pes-soas e empresas contam com os serviços bancários para agilizar o seu dia a dia e promover seus negócios.

A bancarização manteve o ritmo de crescimento nos últimos anos, alcançando 57% em 2013, um aumen-to de 4% em relação ao ano anterior. O número de contas correntes subiu de 97 milhões para 103 mi-lhões no período, o que representa aumento de 6%. Mantida essa tendência, há projeções para que ape-nas em 2023 o Brasil atinja o nível de países desen-volvidos, como o Reino Unido, que possui um índice de 97%. A maior bancarização, por sua vez, impacta positivamente na eficiência do sistema bancário bra-sileiro e favorece a economia como um todo.

Há obrigações que devem ser cumpridas de modo inadiável pelos cidadãos e usuários dos bancos, nos respectivos vencimentos, sob pena de graves pre-juízos que podem resultar do desrespeito a prazos legais ou contratuais. A paralisação de agências ban-cárias, por exemplo, gera prejuízos a toda socieda-de, notadamente à expressiva parcela da população que ainda não tem acesso aos canais alternativos de atendimento de serviços bancários, honrando seus compromissos e recebendo seu salário ou benefícios diretamente nos caixas das instituições.

Considerando que as transações bancárias fazem parte da vida de um número crescente de cidadãos brasileiros, afetando inclusive o bom funcionamento de outras atividades essenciais (como telecomuni-cações, transporte e energia elétrica), o serviço es-sencial - que pode ser entendido como aquele cuja prestação é indispensável à dignidade, à saúde e à se-gurança dos consumidores - deveria incluir todo ser-viço bancário, salvaguardando-se, assim, o interesse maior da coletividade de acesso a esses serviços.

A CNF entende que é necessária ampla discussão sobre o tema de caracterização da atividade bancá-ria como serviço essencial, da mesma forma que é necessária avaliação cuidadosa sobre outras ativi-dades que também mereceriam sua inclusão no rol de serviços essenciais: serviços postais, lavanderias hospitalares, serviços de previdência e assistência social, educação, segurança pública e privada.

20.2 SIGILO BANCÁRIO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a explicitação dos artigos 5° e 6º da Lei Comple-mentar n° 105/2001, que trata do sigilo ban-cário, para pacificar o entendimento de que apenas decisão judicial poderá determinar o acesso às informações de movimentação ban-cária de pessoa física ou jurídica e assim justifi-car a restrição do direito fundamental à priva-cidade em prol do interesse público.

O sigilo bancário constitui-se em obrigação para os bancos e em direito para os correntistas. É a obriga-ção que têm os bancos de não revelar, salvo nas for-mas previstas em lei, informações que venham a ob-ter em virtude de suas operações. Sua violação é uma afronta ao direito à privacidade por revelar preferên-cias pessoais e atos particulares que integram a per-sonalidade dos detentores de depósitos. A patologia

do direito à privacidade é o uso de má-fé para ocultar por trás do sigilo bancário movimentações ilegais, ou com uso de recursos obtidos de forma ilícita.

As discussões em torno do sigilo bancário são centra-das no uso indevido desse direito à privacidade para fins ilícitos e estão balizadas pela busca do equilíbrio entre, por um lado, maior fiscalização, controle e re-gistro das operações financeiras e, por outro, respeito à privacidade individual. A quebra do sigilo bancário sempre será possível quando houver fortes indícios materiais de condutas ilícitas. É assegurado o contra-ditório, sem prejuízo da indenização por danos à par-te lesada. Nessa discussão, emerge a questão da ca-pacidade interventiva do Poder Público por meio de decisões administrativas de iniciativa da Receita Fe-deral, do Ministério Público e de Tribunais de Contas.

A Constituição Federal prevê no artigo 5º, incisos X, XII e XIX, a tutela e proteção à violação de correspon-dências e informações. A doutrina e a jurisprudência compartilham o entendimento de que a inviolabili-dade do sigilo bancário deva estar assegurada com base nesses dispositivos constitucionais. O Supremo Tribunal Federal mais de uma vez afirmou que o sigilo de dados de operações financeiras é o desdobramen-to do direito à privacidade assegurado no dispositivo constitucional, cuja violação requer ordem judicial.

A regulamentação do dispositivo constitucional foi feita por meio da Lei Complementar nº 105/2001, que dispõe sobre o sigilo das operações de instituições fi-nanceiras, e pela Lei nº 9.613/1998 (atualizada pela Lei n° 12.683/2012), que dispõe sobre os crimes de

“lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valores.

A Receita Federal argumenta que deve prevalecer o interesse público sobre o privado para justificar a quebra do sigilo bancário do contribuinte. Para tanto, a Receita, com base na Lei Complementar nº 105/2001 e no Decreto nº 3.724/2001, expede as

“Requisições de Informações sobre Movimentações Financeiras” (RMF) e solicita, no âmbito administra-tivo, extratos de contas bancárias e de aplicações

financeiras, relativos ao período fiscalizado de contri-buinte pessoa física ou jurídica, sob pena de agrava-mento de multas onerosas.

Ainda que seja justificável que tenha o Fisco acesso às informações relativas a movimentações bancárias, para fins de tributação, esse acesso deve ser assegurado sem prejuízo dos direitos individuais do contribuinte, como sublinha o artigo 145, §1º da Constituição, que reza:

Sempre que possível, os impostos terão caráter pes-soal e serão graduados segundo a capacidade eco-nômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os ren-dimentos e as atividades econômicas do contribuinte.

O conflito entre o interesse do Fisco e o direito à pri-vacidade do contribuinte requer uma terceira pessoa, imparcial, na figura do juiz, para determinar se docu-mentos bancários sigilosos são ou não indispensáveis.

Apesar de carregarem implicações constitucionais, tem crescido o número de iniciativas que ampliam a capacidade interventiva da Receita Federal e de ór-gãos como o Ministério Público e os Tribunais de Con-tas, por exemplo. Entre essas iniciativas, destacam-se propostas legislativas que permitem o acesso a dados bancários sigilosos por determinados órgãos.

Atualmente, tramitam no Supremo Tribunal Fede-ral (STF) seis Ações Diretas de Inconstitucionalidade contra a Lei Complementar nº 105/2001, que ampara a quebra de sigilo por requisição administrativa para apuração de ocorrência de qualquer ilícito, em qual-quer fase do inquérito ou do processo judicial, tendo ainda a Suprema Corte reconhecido, em 2009, a Re-percussão Geral do tema no Recurso Extraordinário (RE) n° 601.314/SP — que versa sobre o assunto — ain-da não julgado.

No entanto, atualmente, a maioria dos Tribunais vem confirmando o posicionamento adotado pelo STF a

CAPÍTULO 20: QUESTÕES BANCÁRIAS

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respeito do tema, ressaltando que o acesso direto pelo Fisco aos dados financeiros, por meio de extratos ban-cários, é inconstitucional. Ao analisar o RE nº 398.808/PR, não afetado pelo instituto da repercussão geral, o STF apontou a ilegalidade a respeito da falta de autori-zação para o acesso a dados sigilosos, “Assentando que preceitos legais atinentes ao sigilo de dados bancários hão de merecer, sempre e sempre, interpretação, por mais que se potencialize o objetivo, harmônica com a Carta da República”. A ementa afirma:

Conforme disposto no inciso XII do artigo 5º da Cons-tituição Federal, a regra é a privacidade quanto à cor-respondência, às comunicações telegráficas, aos da-dos e às comunicações, ficando a exceção – a quebra do sigilo – submetida ao crivo de órgão equidistante – o Judiciário – e, mesmo assim, para efeito de investiga-ção criminal ou instrução processual penal. SIGILO DE DADOS BANCÁRIOS – RECEITA FEDERAL. Conflita com a Carta da República norma legal atribuindo à Receita Federal – parte na relação jurídico-tributária – o afas-tamento do sigilo de dados relativos ao contribuinte.

Com o desiderato de harmonizar a segurança jurídica dos correntistas, seria de todo oportuna a edição de norma geral abstrata que pacificasse o entendimento sobre a imprescindibilidade de autorização judicial para a quebra de sigilo bancário.

20.3 TARIFAS BANCÁRIAS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para maior transparência na cobrança de tarifas bancá-rias e na fixação de seus valores, assentadas nos princípios constitucionais da livre concor-rência e da liberdade de exercer atividade eco-nômica, que incentivem a autorregulação e a ampliação do acesso de clientes a informações sobre serviços bancários e as correspondentes tarifas que os remuneram.

Tarifa é a contrapartida da prestação de um serviço e, por essa razão, equivale a um preço. Reflete a remu-neração dos custos envolvidos na prestação do servi-ço e sofre variações em razão de mudanças nos níveis de oferta e demanda associados ao serviço oferecido.

O Conselho Monetário Nacional (CMN) emitiu nor-mativos com vistas a regular a cobrança de tarifas pelas instituições financeiras. Entre eles, a Reso-lução n° 3.518/2007 (atualizada pela Resolução n° 3.919/2010) padronizou as tarifas bancárias e esta-beleceu a gratuidade para diversos serviços, como: fornecimento de cartão de débito; até dois extratos por mês no terminal de autoatendimento; emissão de cheques independente de valor; compensação de cheques; e duas transferências. As tarifas tam-bém não poderão ser cobradas de clientes com in-suficiência de saldo. Além dessas medidas, a norma estabeleceu que a criação de uma nova tarifa será submetida à análise prévia do Banco Central e os reajustes nos preços dos serviços bancários só pode-rão ocorrer a cada 180 dias.

O setor bancário adotou um amplo programa de autorregulação, com o intuito de dar mais transpa-rência à cobrança de tarifas, padronizá-las, satisfazer seus clientes e diminuir as reclamações. Evidente-mente, os bancos são os maiores interessados em proporcionar a seus clientes um atendimento que não só atenda às suas expectativas como seja, tam-bém, fator de fidelização desses clientes e, portanto, de sustentabilidade de seus negócios.

Para tanto, a Federação Brasileira de Bancos (FEBRA-BAN) desenvolveu um sistema de registro e divulga-ção das tarifas bancárias: o STAR - Sistema de Divul-gação de Tarifas de Produtos e Serviços Financeiros, disponível no portal eletrônico da entidade no ende-reço: http://www.Febraban-star.org.br. O programa permite aos clientes consultar, por exemplo, as tari-fas vigentes no dia, sua evolução com base no último dia do mês anterior e a comparação entre as tarifas praticadas pelas instituições financeiras.

Desde a criação do STAR e a publicação da Resolução do CMN n° 3.518, o setor bancário se tornou ainda mais competitivo, a padronização das tarifas facili-tou a vida dos clientes e as tarifas estão mais baixas.

O debate em torno da questão está centrado na atua-ção do Banco Central e na limitação tanto de cobran-ça de tarifas quanto do próprio valor dessas tarifas. Algumas propostas, meritórias pelo intuito de favo-recer os clientes bancários, caminham no sentido contrário, na medida em que podem reduzir, entre outras coisas, a capacidade do setor bancário de ofe-recer maior diversidade de serviços que viabilizem as transações, aumentem a segurança destas e tragam mais comodidade aos clientes.

20.4 HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO DE AGÊNCIAS BANCÁRIAS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a ex-plicitação da competência exclusiva da União na definição do horário de funcionamento das agências bancárias.

A Constituição Federal (CF) prevê no caput do seu arti-go 48 que cabe ao Congresso Nacional, com sanção do Presidente da República, dispor sobre todas as maté-rias de competência da União, especialmente: “Art. 48... XIII - matéria financeira, cambial e monetária, institui-ções financeiras e suas operações”. Muitas das exigên-cias estabelecidas em leis municipais sobre o funcio-namento das agências bancárias ferem a Carta Magna.

A norma fundamental que rege a atividade dos ban-cos é a Lei nº 4.595/1964, recepcionada como Lei Complementar pela Constituição Federal. Entre as demais normas de Direito que regem os Bancos, des-tacam-se a Lei nº 4.728/1965, que disciplina o merca-do de capitais e estabelece medidas para o seu desen-volvimento; e as Leis n° 7.102/1983 e nº 9.017/1995,

que tratam de segurança bancária. Nenhuma dessas normas outorga a Estados e Municípios competência para legislarem em matéria de horário de funciona-mento de agências bancárias.

Relativamente à fixação do horário de funcionamen-to de instituições financeiras, o artigo 4°, inciso VIII, da Lei n° 4.595/1964, atribui competência privativa ao Conselho Monetário Nacional para dispor a res-peito, encontrando-se o assunto regulamentado pela Resolução n° 2.301/1996.

Muitos Municípios tentam regular matéria bancária. Porém, os Tribunais Regionais, assim como os Tribu-nais Superiores, são unânimes em reconhecer que compete exclusivamente à Lei Federal estabelecer as regras sobre o horário de funcionamento dos bancos.

20.5 CHEQUES

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que fortaleçam a segurança jurídica no uso de cheques e que es-tejam em harmonia com instrumentos interna-cionais dos quais o Brasil é signatário.

A emissão, regulamentação e restrição ao uso do cheque tem sido objeto de debates. O cheque é um título revestido de formalidade legal e uma ordem de pagamento à vista, ou seja, ordem de pagamento em dinheiro, emitido a débito de uma conta corren-te mantida em banco ou instituição financeira que lhe seja equiparada e necessita serem observados os requisitos legais.

Em 2011, o Banco Central publicou a Resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) n° 3.972, que dispõe sobre cheques, devolução e oposição ao seu pagamento. Estabelece controles de segurança na utilização desse instrumento de pagamento, de forma a reduzir os custos dos bancos e do comér-

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cio com problemas, tais como: emissão fraudulenta de cheques roubados, suspensão indevida de paga-mento ou o extravio de folhas de cheques, emissão de cheques sem fundos etc.

A função do cheque em todo o mundo é regulada por instrumentos internacionais, dos quais o Brasil é signatário, sobretudo a “Convenção para adoção de uma Lei Uniforme sobre cheques” assinada em Genebra, em 1931. Com isso, alterações na legisla-ção que trata do assunto (por exemplo, para criar instrumento que legalize o cheque pré-datado) po-dem violar esses instrumentos internacionais e ferir regras consolidadas, praticadas ao redor do mundo.

20.5.1 PAGAMENTO DE CHEQUES PRÉ-DATADOS, PROMISSIVOS OU SEM FUNDOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que mantenham o caráter de ordem de pagamento à vista dos cheques, ao explicitar a exigência de disponibi-lidade de fundos mesmo para os cheques pré--datados e ao vedar o pagamento de cheques pela instituição financeira do sacado sempre que não houver ou fundos imediatamente dis-poníveis, ou um contrato anterior que preveja o pagamento nos casos de carência de fundos.

O artigo 4º da Lei do Cheque (Lei nº 7.357/1985) de-termina que “O emitente deve ter fundos disponíveis em poder do sacado e estar autorizado a sobre eles emitir cheque, em virtude de contrato expresso ou tácito”. A provisão de fundos deve, pois, existir an-tes da emissão do cheque e deve resultar de um contrato preliminar que autorize o emitente a dispor desses fundos por meio desse instrumento. Mesmo assim, difundiu-se no Brasil o uso do cheque pré-da-tado, que se assemelha mais a um título de crédito do que a uma ordem de pagamento.

Dados da Serasa Experian indicam um percentual de cheques sem fundo (devolvidos pela segunda vez por falta de fundos) da ordem de 2,04% (mais de 15,4 milhões, em números absolutos) em 2014, manten-do-se próximo do valor observado em 2013 (2%). O percentual é maior desde 2010 quando, por reflexo da crise internacional em 2009, foram devolvidos 2,15% dos cheques por ausência de fundo.

O uso difundido desse instrumento pode introdu-zir incertezas quanto ao caráter de ordem de paga-mento à vista dos cheques. Por exemplo, o Superior Tribunal Justiça aprovou a Súmula nº 370/2009, que reza: “Caracteriza dano moral a apresentação ante-cipada do cheque pré-datado”.

Esse tipo de incerteza tem inspirado no Congresso Na-cional a criação de ordens de pagamento que, apesar de serem títulos para liquidação à vista, conteriam promessa de liquidação futura. O “cheque promissi-vo” seria a regulamentação dos cheques pré-datados.

A popularização do uso de ordem de pagamento à vista para liquidar compromissos futuros viola não só a Lei do Cheque, mas também o art. 28 da “Con-venção para adoção de uma Lei Uniforme sobre cheques”, de 1931, assinada em Genebra, que tem o Brasil como signatário. Proposta de alteração legis-lativa pode obrigar o Governo Brasileiro a denunciar a referida Convenção.

O sistema financeiro oferece uma gama de produ-tos e serviços que se prestam à liquidação futura de compromissos sem violar legislação vigente. Entre eles, cartões de crédito e DOCs pré-agendados cum-prem esse papel. Ademais, o volume de cheques emitidos vem caindo, substituído por cartões de débito e por aplicativos instalados em dispositivos móveis, o chamado mobile payment.

20.5.2 SUSTAÇÃO DE CHEQUES

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para evi-tar fraudes e dar maior segurança jurídica ao uso de cheques, inclusive pela manutenção na legislação vigente de dispositivo que requer a apresentação de Boletim de Ocorrência nos ca-sos de sustação de cheques.

A sustação de cheques é um ato previsto na Lei nº 7.357/1985 e pode ocorrer de duas formas: ou a re-vogação (também chamada de contra-ordem), ou a oposição (suspensão) – que se excluem mutua-mente. A primeira (contra-ordem) é ato exclusivo do emitente do cheque e somente tem vigência depois de expirado o prazo de apresentação. Já a oposição pode ser efetuada tanto pelo emitente quanto pelo beneficiário ou portador e tem vigência imediata.

O artigo 36 da Lei nº 7.357 prevê a sustação do che-que “fundada em relevante razão de direito”, sendo que “não cabe ao sacado julgar da relevância da razão invocada pelo oponente” (§ 2º). A sustação de cheques, sem razões de fato ou de direito que a autorizem, constitui ilícito penal, tipificado como es-telionato, e pode resultar em processo criminal e na condenação do emitente.

Ocorrem casos em que emitentes e beneficiários de cheques se valem de má-fé na sustação para se eva-direm de compromissos liquidados por esse meio de pagamento. A princípio, a sustação de cheques deve-ria ser ordenada – por emitentes ou por beneficiários

– como medida preventiva nos casos de subtração ilí-cita do documento (furtos, assaltos, extorsões) e de extravios decorrentes de atos involuntários (como acidentes). A Resolução do Conselho Monetário Na-cional n° 3.972/2011 considerou esses eventos, que podem ser objeto de diligência policial, para deter-minar a apresentação de Boletim de Ocorrência no ato da sustação de forma a desestimular eventuais

fraudes, já sujeitas a muitas penalidades, e para re-forçar a segurança jurídica desse meio de pagamento.

20.6 TRANSAÇÕES ELETRÔNICAS

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a equipa-ração das transações eletrônicas às transações físicas em tudo o que diz respeito aos efeitos jurídicos dessas operações, bem como as volta-das para o incremento da oferta de informações claras, em linguagem simples, sobre produtos e serviços disponíveis em meio eletrônico.

O aumento do número de transações financeiras implica redução dos custos operacionais ligados à geração, transporte e armazenamento de informa-ções registradas em papel. Além dos benefícios am-bientais que oferecem, transações eletrônicas tam-bém barateiam tarifas ligadas a produtos e serviços. Contudo, o crescimento dessas operações é, muitas vezes, limitado pela exigência de registros em papel.

Em cada quatro brasileiros, três possuem ao menos um meio eletrônico de pagamento. É o que indica a Pesquisa ABECS/Datafolha 2013, divulgada no 8º Congresso de Meios Eletrônicos de Pagamento (CMEP). Conforme demonstrado nesse levantamen-to, cerca de 20 milhões de brasileiros já possui algum meio eletrônico de pagamento.

O mobile e o internet banking já respondem por mais de dois terços das operações bancárias no Brasil, conforme levantamento da Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária, com cinco bancos – Banco do Brasil, Bradesco, HSBC, Itaú Unibanco e Santander. Em 2013, a participação média mensal dos canais internet e mobile foi de 58,5% e 9,8%, respectiva-mente. Destaca-se o avanço desse último canal de transação, que registrou crescimento anual de 146% e superou 2,33 bilhões de transações. Em 2013, 11,7

CAPÍTULO 20: QUESTÕES BANCÁRIAS

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milhões de contas correntes já estavam aptas a re-alizar transações por meio desse canal, correspon-dendo a 11,3% do total. Além disso, a quantidade de clientes com conta corrente que utilizam internet banking também aumentou de 37% para 41,8%, um crescimento de 13%.

As transações financeiras por meio eletrônico pro-piciam facilidade aos consumidores de produtos e serviços bancários, com segurança e agilidade.

Contudo, em alguns casos requerem dos usuários conhecimento sobre esses produtos e serviços, que é suprido ou por informações nos próprios portais eletrônicos, ou por contatos com gerentes de conta e demais profissionais do setor. Por um lado, cabe ao usuário avaliar sua familiaridade com produtos e serviços financeiros disponíveis em meio eletrônico. Por outro, cabe ao setor financeiro promover edu-cação financeira e oferecer informações sobre o uso adequado desses produtos e serviços.

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21 No contrato de arrendamento mercantil (leasing), instituído pela Lei n° 6.099/1974, o proprietário de um bem, também chamado de arrendador, cede seu direito de posse a um arrendatário por meio do rece-bimento de contraprestações periódicas. O contrato poderá prever a opção de compra do bem pelo arren-datário, a renovação do contrato ou a devolução do bem ao final do período de pagamento das parcelas.

A Resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) nº 2.309/1996 é o instrumento que disciplina e con-solida as normas relativas às operações de arrenda-mento mercantil.

A operação de leasing é fundamentada na concepção econômica de que o fato propulsor de rendimentos para uma empresa é a utilização e não a propriedade de um bem. Nesse sentido, esse instrumento de crédi-to tem contribuído para fomentar o crescimento eco-nômico pela ampliação e renovação do parque produ-tivo e tecnológico brasileiro. É uma alternativa não só para a aquisição, mas também para a modernização de máquinas e equipamentos, tais como computado-res, veículos, imóveis e aeronaves, entre outros bens.

O arrendamento mercantil apresenta a vantagem de não imobilizar todo o capital que seria demandado no caso da compra, melhorando, dessa forma, o fluxo de caixa da empresa. Pelo mecanismo de valor residual, que pode ser negociado em cada contrato, a empresa tem a opção da troca de modelo antigo por outro mais recente, mantendo-se atualizada tecnologicamente.

Tem outra vantagem se comparado a outras linhas de crédito destinadas a pessoa jurídica: propicia dedutibilidade às empresas tributadas pelo critério de Lucro Real, pois permite que as contraprestações sejam contabilizadas como despesas operacionais, o que reduz a base para a tributação do Imposto de Renda (IR). Não há incidência do Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários (IOF), mas incide o Imposto Sobre Serviços (ISS).

O número de contratos passou de 1.482.329 em 2013 para 791.178 em 2014. O valor presente desses con-tratos passou de R$28,9 bilhões em 2013 para R$22,4 bilhões em 2014.

CAPÍTULO 21: ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING)

ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING)

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas para a ampliação do acesso a operações de arrendamento mercantil (leasing) e para o aumento do volume de crédito ofertado por essa modalidade, assentadas nos princípios constitucionais da livre concorrência e da liberdade de exercício da atividade econômica, que contribuam para a formação de capital e a moder-nização tecnológica das empresas brasileiras, sobretudo as de menor porte.

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Uma especificidade dessa modalidade é a duração mínima do contrato exigida por norma. Os contratos de arrendamento mercantil financeiro, segundo a Resolução do CMN nº 2.309, devem prever prazo mí-nimo de 24 meses de vigência, nos casos em que o bem arrendado tiver vida útil igual ou inferior a cinco anos (art. 8º, inc. I). Tal norma foi emitida pelo CMN a partir da atribuição legal dada pela Lei nº 6.099/1974.

Em regra, os contratos de arrendamento mercantil não preveem a rescisão antecipada do contrato por liquidação em prazo inferior a 24 meses. A finalida-de do prazo mínimo contratual é afastar a descarac-terização do contrato firmado com o consumidor, conforme determinado pela Resolução do CMN nº 2.309/1996. Isso não visa a coibir a liquidação anteci-pada em si, mas tão somente garantir o cumprimen-to do prazo mínimo contratual, uma vez que o bem foi adquirido sob a escolha do arrendatário.

21.1 IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA (ISS) SOBRE OPERAÇÕES DE LEASING

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o au-mento da segurança jurídica nas operações de arrendamento mercantil. Para tanto, há neces-sidade de clareza sobre o local de recolhimento do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natu-reza (ISS) no Município da sede das empresas de leasing. Para a CNF, eventual mudança com a transferência do recolhimento do ISS para os 5.570 Municípios em que poderiam ser realiza-das as operações implicaria elevação do custo ao tomador final, já que a maioria preponde-rante desses Municípios fixam alíquotas supe-riores à mínima legal estabelecida para este tipo de operação, que é de 2%.

O Supremo Tribunal Federal (STF), em 2010, decidiu pela incidência do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natu-reza (ISS) sobre as operações de leasing, que ocorrem, na maior parte dos casos, nos financiamentos de veícu-los. O STF entendeu que no contrato de arrendamento mercantil o núcleo é o financiamento, não uma presta-ção de dar e que financiamento é serviço (RE 592.905).

A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu no final de novembro de 2012 que o Município sede do estabelecimento prestador do serviço é o sujei-to competente para cobrar ISS sobre operações de lea-sing. A decisão do STJ passou a orientar os processos que tratam do mesmo tema nas instâncias inferiores.

Com receio de serem obrigados a ressarcir os valores de depósitos judiciais já apropriados, os Municípios tentaram a modulação dos efeitos da decisão profe-rida pelo STJ. Posteriormente, apresentaram Recurso Extraordinário (RE) contra essa decisão, argumentan-do que o STJ usurpou tanto a função legislativa do Congresso Nacional, legislando positivamente, quan-to a prerrogativa do Supremo Tribunal Federal, ao in-terpretar o conceito de serviço.

O STF em apreciação do RE interposto pelos Municí-pios tem reafirmado o entendimento de que o assun-to corresponde ao tema 287 da sistemática da reper-cussão geral, cujo paradigma é o AI 790.283 (DJE de 02/09/2010), com a seguinte ementa:

ISS. Competência para tributação. Local da prestação do serviço ou do estabelecimento do prestador do serviço. Matéria Infraconstitucional. Repercussão geral rejeitada.

A Lei Complementar nº 116/2003 estabelece, em seu artigo 3º, que o serviço considera-se prestado e o im-posto devido no local do estabelecimento prestador, considerando-se este, pelo artigo 4º, o local onde o contribuinte desenvolva a atividade de prestar servi-ços, de modo permanente ou temporário. O próprio artigo 3º excetua, nas hipóteses previstas nos incisos I a XXII, quando o imposto será devido no próprio local da prestação de serviços.

Uma vez que o arrendamento mercantil não foi en-quadrado pelo legislador nas hipóteses excetuadas pelo artigo 3º da Lei Complementar nº 116/2003, a questão do local onde as sociedades arrendadoras exercem as suas atividades foi objeto de apreciação pelo Judiciário. Nesse sentido, o STJ definiu que

O serviço ocorre no local onde se toma a decisão acerca da aprovação do financiamento, onde se concentra o poder decisório, onde se situa a direção geral da instituição. O fato gerador não se confunde com a venda do bem objeto do leasing financeiro, já que o núcleo do serviço prestado é o financiamento (REsp 1.060.210/SC).

A existência no Congresso Nacional de projetos de lei alterando o local da prestação do serviço e, por consequência, a relação jurídica tributária para efei-to de recolhimento do ISS nas operações de arrenda-mento mercantil tem causado profunda insegurança jurídica ao mercado de leasing.

A adequada configuração do marco legal das ope-rações de leasing, de forma a propiciar o necessá-rio ambiente de segurança jurídica para o setor, é de grande importância para a economia do País. A discussão a respeito do recolhimento do ISS sobre leasing afeta negativamente uma opção importante para a viabilização de investimentos produtivos de médio e longo prazos, que concorre com as tradicio-nais fonte de financiamento sobre os quais incide o Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Segu-ro, ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários (IOF).

21.2 VALOR RESIDUAL GARANTIDO (VRG)

Nos termos da Portaria nº 564/1978 do Ministério da Fazenda, Valor Residual Garantido (VRG) é o

Preço contratualmente estipulado para exercício da opção de compra, ou valor contratualmente garantido pela arrendatária como mínimo que será recebido pela arrendadora na venda a terceiros do bem arrendado, na hipótese de não ser exercida a opção de compra.

O pagamento antecipado do VRG não caracteriza exer-cício de opção de compra. Sobre a relação entre VRG e opção de compra, a Resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) nº 2.309/1996, que disciplina e consoli-da as normas relativas às operações de arrendamento mercantil, estabelece no seu artigo 7º inciso VII alínea “a” que: “A previsão de a arrendatária pagar valor residual garantido em qualquer momento durante a vigência do contrato, não caracterizando o pagamento do valor resi-dual garantido o exercício da opção de compra”. Acres-centa que “O preço para o exercício da opção de com-pra seja livremente pactuado, podendo ser, inclusive, o valor de mercado do bem arrendado” (art. 5º, inciso III).

Também a Súmula nº 293/2004 do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que “A cobrança antecipada do valor residual garantido não descaracteriza o con-trato de arrendamento mercantil”. Tal entendimento é consentâneo com as operações de leasing, uma vez que o pagamento parcelado do VRG não configura o exercício da opção de compra, já que essa só pode ser exercida ao final do contrato de arrendamento.

O pagamento antecipado do VRG também não confi-gura restituição devida ao arrendatário nos casos em que esse pagamento foi parcelado. Ocorrendo a devo-lução do bem objeto de arrendamento ao arrendador, este será vendido no mercado pela melhor oferta e o

CAPÍTULO 21: ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING)

do VRG não caracteriza exercício de opção de compra e também não configura restituição devida ao arrendatário nos casos em que esse pagamento foi parcelado.

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para expli-citar a destinação do valor residual garantido (VRG) em operações de arrendamento mercan-til (leasing) que estabeleçam que o pagamento

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015272

valor obtido será utilizado para amortizar ou liquidar as parcelas vencidas e não pagas, além das eventuais despesas (administrativas e/ou judiciais). Restando saldo positivo, a diferença será devolvida ao arren-datário. Assim, pela condição acima estabelecida, os valores residuais pagos parceladamente no curso do contrato de arrendamento não comportam qualquer restituição ao arrendatário, exceto na hipótese de sal-do positivo remanescente. Ocorrendo a renovação do arrendamento ou o exercício de compra, o valor pago a título de VRG poderá ser utilizado para tais efeitos.

Nesse sentido, o STJ reafirmou o entendimento de que

Nas ações de reintegração de posse motivadas por inadimplemento de arrendamento mercantil financei-ro, quando o produto da soma do VRG quitado com o valor da venda do bem for maior que o total pactuado como VRG na contratação, será direito do arrendatá-rio receber a diferença, cabendo, porém, se estipulado em contrato, o prévio desconto de outras despesas ou encargos contratuais (REsp nº 1.099.212/RJ).

21.3 LIQUIDAÇÃO ANTECIPADA EM CONTRATOS DE LEASING

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que aperfeiçoem a disciplina legal da liquidação antecipada de contratos de crédito e de arrendamento mer-cantil, respeitando a duração mínima da ope-ração, determinada pelas normas, e os parâ-metros de avaliação da taxa de desconto.

O Código de Defesa do Consumidor, desde sua edição, em 1990, assegura em seu art. 52, §2º, “A liquidação antecipada do débito, total ou parcialmente, mediante redução proporcional dos juros e demais acréscimos”.

As diferentes modalidades de crédito ofertadas ao consumidor devem proporcionar a liquidação ante-cipada do débito, total ou parcialmente, mediante redução proporcional dos juros e demais acrésci-mos. No caso do arrendamento mercantil, essa re-dução deve ocorrer mediante adequado uso da taxa equivalente ao custo da operação para fins de liqui-dação antecipada.

Os contratos de arrendamento mercantil, segundo a Resolução do CMN nº 2.309/1996, devem prever prazo mínimo de 24 meses de vigência, nos casos em que o bem arrendado tiver vida útil igual ou inferior a cinco anos (art. 8º, inc. I). Tal norma foi emitida pelo CMN, a partir da atribuição legal dada pela Lei nº 6.099/1974.

Os contratos de arrendamento mercantil não pre-veem a rescisão antecipada em prazo inferior a 24 meses. A finalidade do prazo mínimo contratual é afastar a descaracterização do contrato firmado com o consumidor, tendo em conta que o bem foi adquiri-do sob a escolha do arrendatário.

A proposta de alterações na regra de liquidação de operações de arrendamento mercantil deve preser-var o direito adquirido e oferecer a necessária segu-rança jurídica aos agentes nacionais e estrangeiros que atuam com arrendamento mercantil, como for-ma de garantir expressamente o cumprimento das disposições pactuadas livremente pelas partes.

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22CAPÍTULO 22: MEIOS ELETRÔNICOS DE PAGAMENTO

Os meios eletrônicos de pagamento, além de consti-tuírem forma de quitação prática, ágil e segura, são uma facilidade incorporada ao cotidiano de milhões de pessoas em todo o mundo. Fazem parte desse segmento os diversos tipos de cartões, de crédito, de débito e pré-pagos, as possibilidades de pagamento via internet (e-commerce) e telefone (mobile com-merce), vouchers de refeição e de alimentação.

No Brasil, o setor apresenta trajetória ascendente. Enquanto dados do Banco Central apontam para a queda no número de cheques compensados, núme-ros de 2014 da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) apontam para aumento no número de operações envolvendo meios eletrônicos de pagamento, com redução no tí-quete médio deflacionado (isto é, a quantidade mé-dia gasta em cada transação com meios eletrônicos

de pagamento). Ou seja, os meios eletrônicos de pa-gamento são utilizados cada vez mais, inclusive para quantias de menor valor. Em 2014 as transações com cartões de crédito e de débito ultrapassaram a marca de R$890 bilhões. Em 2015 espera-se que essa cifra alcance R$1 trilhão. Há tendência de con-tinuidade de crescimento. No Brasil, já existem qua-tro milhões de terminais de transação (POS - Point of sale) e 1,7 milhão de pontos NFC - tecnologia que permite a transmissão segura e sem fio de informa-ções com a proximidade de dispositivos eletrônicos. Em comparação, nos Estados Unidos da América existem apenas 400 mil pontos NFC.

Os meios eletrônicos de pagamento são protagonis-tas de mudanças de paradigmas na experiência do consumidor com sua administração financeira. Em passado recente, o sistema de pagamentos era mar-

MEIOS ELETRÔNICOS DE PAGAMENTO

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia medidas que esti-mulem a inovação nos meios eletrônicos de pagamento, com crescente acesso a novos usuários e segurança para todas as partes envolvidas. Para a CNF, os grandes avanços recentes em matéria de autorregulação não prescindem de su-pervisão da autoridade monetária, uma vez que meios eletrônicos de pagamen-to cada vez mais substituem meio circulante e ordens de pagamento. Tal supervi-são também é necessária porque o sistema é um conjunto complexo de contratos, manuais, normas, políticas, procedimentos, equipamentos, softwares, empresas e pessoas, todos interligados, voltados para inovações em meios eletrônicos de pagamento que acompanham a evolução das novas formas de comércio.

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 277276

cado pela inovação incremental e estruturada do plástico, focado na disponibilidade 24 horas e sete dias por semana, na padronização de operações, ali-cerçado na segurança de dados para autenticação (biometria). Hoje, os avanços tecnológicos propi-ciaram a inovação disruptiva baseada na experiên-cia em aplicativos com foco na usabilidade (várias formas de usar uma mesma ferramenta, diversas formas de conexão com o ambiente virtual), com grande capacidade de personalização e voltada à proteção da informação.

Com os avanços em tecnologia e a popularização de dispositivos eletrônicos conectados a internet – por exemplo, em 2016 estima-se que 94% dos brasileiros deverão ter um celular conectado à internet –, ocorre uma tripla democratização de acesso: à internet, à in-formação e ao empreendedor digital global. Há escala instantânea de transações, com barreiras de entrada baixas e custo marginal de distribuição zero. Há busca por redução de tempo, espaço e dinheiro. Em suma, há procura constante por aumento da eficiência.

Nessa esteira, reinventa-se também o comércio. Es-tatísticas da Shoppertrak revelam que o foot traffic (visita às lojas física) tem caído pela metade nos úl-timos quatro anos nos Estados Unidos da América, mas as vendas aumentaram mais de 15% no mesmo período. Diversos aplicativos e tecnologias oferecem novas formas de interação nas relações de consumo, como as carteiras virtuais (mobile wallets), tecnolo-gias peer-to-peer, os dispositivos biométricos e “ves-tíveis” (wearables and biometric apps). Até mesmo as próprias marcas tentam participar diretamente do processo de transação, por meio de seus próprios aplicativos (branded apps). Outras inovações tomam carona nesse processo, como a criação de moedas alternativas e virtuais. Ao passo em que novas em-presas surgem e crescem de maneira exponencial no mercado virtual, novas mecânicas de pagamen-to são criadas e estruturadas para atender cada vez mais às necessidades do consumidor e dos es-tabelecimentos comerciais, como as tecnologias de compras instantâneas (instant buys) e de entregas

automatizadas (from craddle to grave, search, find, pay and deliver), o que se reflete na busca por simpli-cidade, precisão, segurança e eficiência.

Em consequência, há necessidade de adaptação por parte das empresas: a recusa dessa revolução digi-tal causa sua obsolescência. Nesse sentido, restam desafios a serem superados pelo setor de meios de pagamento, como o de expor a estrutura do sistema de cartão, seus sujeitos e seu funcionamento à socie-dade para que haja maior consciência das vantagens sociais e econômicas dos meios eletrônicos de paga-mento, bem como das implicações de mudanças em uma ou outra relação das diversas que integram a rede. O sistema de cartão obedece a uma lógica em que todos os agentes que nele operam – portadores, credenciadores, emissores, administradoras, esta-belecimentos credenciados, bandeiras, processado-ras e fornecedores – estão interligados por relações contratuais que resultam em um desenho estrutural de rede. Por isso, toda mudança que afete algum desses liames acaba por reverberar em toda cadeia e transações nela realizadas.

Outro desafio é crescer o uso de meios eletrônicos de pagamento por parte de microempreendedores individuais e profissionais autônomos, bem como sua utilização nas relações comerciais entre empre-sas. Além disso, outros segmentos também apre-sentam baixa penetração do setor de cartão, como os setores de educação e de saúde.

Também podem ser traçadas rotas para o amadu-recimento do setor: (i) abertura do mercado de cre-denciamento, com entrada de novos credenciadores; (ii) surgimento de novas bandeiras; (iii) manutenção da concorrência pela relação com os consumidores finais, sejam portadores (emissores) ou lojistas (esta-belecimentos credenciados); (iv) aumento da pene-tração nas classes de menor renda, rumo à substitui-ção da utilização do papel-moeda; (v) penetração em cidades pequenas, de baixa densidade populacional.

22.1 CARTÕES DE CRÉDITO

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a ampliação do acesso a cartões de créditos, im-portante instrumento de bancarização, e para o aumento do volume de crédito ofertado por essa modalidade, assentadas em sólidos fun-damentos técnicos e que considerem a estrutu-ra da indústria de cartões. A CNF sublinha que o Código de Autorregulação dessa indústria é uma poderosa ferramenta de defesa do consu-midor e de defesa da concorrência no setor.

O cenário econômico, com ampliação da renda dos trabalhadores e redução dos níveis de pobreza, criou condições para as instituições financeiras e ou-tras empresas oferecerem crédito com menor risco e mais benefícios para o tomador. Entre as modali-dades mais acessíveis, dinâmicas e seguras, está o cartão de crédito, um importante instrumento de democratização do acesso ao crédito e de bancariza-ção das camadas de renda mais baixa. Os números evidenciam um aumento da população bancarizada, que usa cada vez mais esse meio de pagamento em substituição ao cheque e ao dinheiro.

A cultura do uso dos cartões de crédito e débito no Brasil vem se desenvolvendo e se aperfeiçoando ao longo dos últimos vinte anos, encontrando-se atual-mente sedimentada com estrutura e características próprias de um mercado determinado, tendo mere-cido recentemente, além de autorregulação do pró-prio setor, a edição da Lei nº 12.865/2013.

O Código de Ética e a Autorregulação da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Ser-viços (Abecs), dentre outros tópicos, zela pelas boas práticas comerciais.

O segmento vem apresentando crescimento robus-to, tanto no volume financeiro como no número de

transações. No Brasil, metade de todas as compras com cartão de crédito foi feita na modalidade “par-celado sem juros”. O volume de crédito disponível tem crescido a taxas elevadas nos últimos anos. Em 2013, o faturamento de cartões de crédito subiu 14,7%, alcançando R$534 bilhões, enquanto os car-tões de débito avançaram 23,4%, para R$293 bilhões, segundo dados do Banco Central. O número de car-tões de crédito ativos aumentou 7,3%, alcançando 87,5 milhões, ainda em 2013.

O uso de cartões de crédito é incentivado pelo prazo de até quarenta dias dado ao portador para pagar a fatura sem cobrança de encargos. Esse benefício re-duz o custo financeiro dos consumidores, pois per-mite aquisição de bens e serviços nesse período sem incidência de taxa de juros. É incentivado também pela possibilidade de concentrar todos os gastos mensais em uma única data, a de vencimento da fa-tura, o que facilita a organização financeira do porta-dor, além de permitir a aquisição de bens e serviços sem a necessidade de pronto pagamento.

O lojista, por sua vez, recebe os recursos geralmente em até trinta dias após a venda e não corre o risco da inadimplência, que é integralmente assumido pelo emissor do plástico. Além disso, beneficia-se da se-gurança de não ter que administrar altos valores em numerário no seu estabelecimento.

O segmento de cartões também colabora para o aumento da formalidade na economia, pois desesti-mula a ilegalidade pelo simples fato de que os dados de todas as transações nos estabelecimentos comer-ciais ficam à disposição dos órgãos de fiscalização.

Além disso, o cartão é um moderno instrumento de pagamento aceito em todo o mundo, de alta tecno-logia, que tende a substituir os tradicionais meios de pagamento, principalmente o cheque e a moeda em espécie, o que repercute positivamente em termos de redução de custos. O reflexo disso é sentido no quanto se gasta, não somente os particulares como o Governo, com o custeio da logística dessa moeda e

CAPÍTULO 22: MEIOS ELETRÔNICOS DE PAGAMENTO

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do cheque. Apenas para exemplificar alguns desses custos, é possível elencar os gastos com segurança, impressão, transporte, distribuição e recolhimento da moeda e inadimplência. É menor o custo ope-racional desse meio de pagamento em relação ao cheque e ao papel-moeda, no âmbito do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB).

As discussões em torno de cartões de crédito estão centradas na diferenciação de preços, nas formas de pagamento e na redução dos juros para o consumi-dor que utiliza crédito rotativo. Outras questões de-batidas são a entrada de novas empresas no merca-do, bem como a promoção da educação financeira.

A diversidade de componentes na estrutura da in-dústria de cartões, constituída por emissores, cre-denciadores, bandeiras e processadores, precisa ser levada em conta para a produção legislativa. Muitas iniciativas legislativas poderiam ser enriquecidas pela observância de princípios técnicos importantes para o desenvolvimento sustentável desse mercado. Ademais, muitas propostas, por desconhecimento da estrutura dessa indústria, associam cartões aos bancos e tratam da matéria ao lado de questões tipi-camente bancárias, como tarifas e spread.

A postura do Banco Central (BACEN) em relação à regulamentação do setor de cartões de pagamento busca referência nas discussões sobre a matéria no âmbito internacional.

No Acordo Geral sobre Comércio de Serviços (GATS), que entrou em vigor em janeiro de 1995, o setor de cartões de crédito é uma modalidade de serviço fi-nanceiro, como pode ser verificado no anexo sobre serviços financeiros, em seu capítulo 5º, parágrafo 8º. O GATS foi um acordo celebrado no âmbito da Rodada Uruguai, finalizada em 1994, para regula-mentar o comércio de serviços em âmbito mundial. Esse acordo conta com a adesão de todos os países membros da Organização Mundial do Comércio (OMC), inclusive o Brasil.

Nesse contexto, após a edição da Lei nº 12.865/2013, que dispõe sobre os arranjos de pagamento e as ins-tituições de pagamento integrantes do Sistema de Pa-gamentos Brasileiro, o Conselho Monetário Nacional (CMN) vem editando resoluções, complementadas por circulares do BACEN, instituindo o marco regulatório inicial que disciplina a autorização e o funcionamento de arranjos e instituições de pagamentos com cartões pré-pagos e de crédito, mais moedas eletrônicas.

De acordo com o Banco Central, “Trata-se de regu-lação mínima para o setor, sem prejuízo de novas ações regulatórias posteriores”, que permitem o desenvolvimento efetivo de pagamentos. O marco regulatório estabelece regras que permitem ao cida-dão fazer pagamentos independentemente de insti-tuições financeiras, com redução de custos e maior conveniência, mas a autoridade monetária informa que o crescimento do setor também implica riscos a serem mitigados por ações regulares de fiscalização.

O Judiciário brasileiro, por sua vez, também se posi-cionou sobre o tema, perfazendo o entendimento de que as operadoras de cartão de crédito são institui-ções financeiras como reiteradamente decidido pelo Superior Tribunal de Justiça, para o fim de garantir a elas a possibilidade de cobrança de juros sem os limi-tes da legislação de usura. Nesse sentido, foi editada a súmula 283 do STJ, indicando que “As empresas ad-ministradoras de cartão de crédito são instituições fi-nanceiras e, por isso, os juros remuneratórios por elas cobrados não sofrem as limitações da Lei de Usura”.

22.2 IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA (ISS) E CARTÕES DE CRÉDITO

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a amplia-ção do acesso a cartões de pagamento que propi-ciem a redução de custos e facilitem o acesso ao

O cartão de crédito/débito é um meio utilizado para facilitar as transações financeiras, nas operações comerciais e de serviços, e também utilizado para saques de dinheiro a vista ou a crédito. A administra-dora serve de intermediária entre o titular do cartão e a empresa, fornecedora de bens e serviços, assu-mindo o risco do crédito perante esta.

O titular do cartão paga para integrar o sistema e adquirir o cartão de crédito/débito, desembolsa a anuidade para a instituição de pagamento e, de pos-se do cartão, não necessita levar consigo altas somas em moeda e estará preparado para aquisição de produtos e serviços com segurança e tranquilidade. Uma das principais vantagens é a possibilidade de liquidar compras em faturas posteriores, em média, trinta dias, podendo inclusive ter acesso ao crédito, visto que, na data do vencimento da fatura poderá optar pelo parcelamento da mesma.

As empresas prestadoras de bens e serviços, por sua vez, ao se filiarem às instituições de pagamento cre-denciadoras, desembolsam a taxa de administração (a chamada taxa de afiliação ou taxa de desconto, bem inferior aos custos com a logística de aceitação do cheque e do dinheiro). Em contrapartida, aufe-rem garantia de recebimento das vendas, eliminan-do risco de inadimplência, reduzindo custos com se-gurança, cobrança e transporte de valores, além de ser beneficiado com a atração de clientes por meio do marketing do cartão.

A Lei Complementar nº 116/2003, que regulamenta a cobrança de Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS), estabelece, em seu artigo 3º, que o serviço é prestado e o imposto é devido no local do estabelecimento prestador, considerando-se este, pelo artigo 4º, o local onde o contribuinte desenvolva a atividade de prestar serviços, de modo permanente ou temporário. O próprio artigo 3º excetua, nas hipó-teses previstas nos incisos I a XXII, quando o imposto será devido no próprio local da prestação de serviços.

Uma vez que as operações de cartão de crédito não foram enquadradas pelo legislador nas hipóteses excetuadas pelo artigo 3º da Lei Complementar nº 116/2003, as atividades com cartões de crédito são desenvolvidas nas sedes das administradoras. Do elenco de hipóteses excetuadas pelo artigo 3º da Lei Complementar nº 116/2003, fica evidenciado que a incidência no local da prestação é estabelecida na norma, diante da impossibilidade e da inadmissibi-lidade de tais serviços não serem executados direta-mente no próprio local.

No Congresso Nacional, as discussões estão centra-das na incidência do ISS sobre a atividade de cartão de crédito e o local de sua arrecadação. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), não seria correta a inci-dência de ISS nas operações de cartões de crédito no local da compra do bem ou serviço, o que teria consequências graves para o setor. Para a entidade, a incidência desse tributo faria com que as empresas de cartões de crédito tivessem que se adaptar às le-gislações de todos os municípios brasileiros, além de atender as suas particularidades de alíquotas, mo-delo de emissão de nota fiscal e registro de CNPJ por município. Todas essas medidas potencializariam o aumento dos custos de operação das administrado-ras, encarecendo os serviços para o consumidor final.

As consequências dessa tributação seriam inúme-ras. Os custos das administradoras seriam repassa-dos ao consumidor final e desestimulariam o uso dos cartões de crédito. Haveria também o risco de

crédito, para a continuidade da expansão do se-tor. Entre esses custos figura o de tributação da in-termediação financeira, que inclui o recolhimento do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) no Município da sede das empresas admi-nistradoras de cartões. Para a CNF, eventual mu-dança no recolhimento do ISS para os 5.570 Mu-nicípios em que podem ser realizadas operações implicaria elevado custo operacional que onera-ria de sobremaneira empresas e consumidores.

CAPÍTULO 22: MEIOS ELETRÔNICOS DE PAGAMENTO

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bi ou tri tributação por parte dos municípios sobre as administradoras.

O desestímulo às operações financeiras com cartões de crédito diminui a arrecadação do Estado. Com as operações mais caras, os consumidores voltariam a utilizar outros meios de pagamento, como o dinheiro e o cheque, implicando inadimplência e insegurança. A tributação das operações de cartões de crédito se opõe à política de bancarização e inclusão financeira defendida pelo Governo brasileiro.

Essas questões são críticas para a adequada confi-guração do marco legal das operações de cartão de crédito, de forma a propiciar o necessário ambiente de segurança jurídica para o setor, de grande impor-tância para a economia do país. O recolhimento do ISS sobre as operações com cartões de crédito afeta negativamente uma opção importante para a viabi-lização do consumo e acesso ao crédito dos consu-midores brasileiros.

22.3 DIFERENCIAÇÃO DOS PREÇOS EM FUNÇÃODO MEIO DE PAGAMENTO UTILIZADO

A Confederação Nacional das Instituições fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a manutenção da igualdade de preços entre compras à vista, com dinheiro ou cheque, e compras por meio de cartões de crédito, como forma de fortalecer a segurança das relações comerciais, formalizar transações de compra e venda com correspondente recolhimento de tributos e ampliar o uso de cartões, com os cor-respondentes benefícios da bancarização.

Com características próprias e únicas, na forma como foi concebido, o cartão é um moderno instru-mento de pagamento aceito em todo o mundo, de alta tecnologia, que tende a substituir os tradicio-

nais meios de pagamento, principalmente o cheque e a moeda em espécie, o que repercute positivamen-te em termos de redução de custos. O reflexo disso é sentido no quanto se gasta, não somente os parti-culares como o Governo, com o custeio da logística dessa moeda e do cheque. Apenas para exemplificar alguns desses custos, é possível elencar os gastos com segurança, impressão, transporte, distribuição e recolhimento da moeda e inadimplência.

A prática comercial de cobrança de preço diferenciado em razão da forma de pagamento, ao favorecer as com-pras com dinheiro, desestimula a utilização de cartões pelos consumidores que os possuem. Na direção con-trária, observa-se um movimento de substituição pau-latina do dinheiro vivo e do cheque pelo cartão. A maior penetração dos cartões de crédito junto à população de baixa renda contribui para esse movimento. A Lei nº 12.865/2013, que dispõe sobre os arranjos de pagamento e as instituições de pagamento integrantes do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), estabelece em seu artigo 7º, incisos III e IV os seguintes princípios:

(i) acesso não discriminatório aos serviços e às infra-estruturas necessários ao funcionamento dos arran-jos de pagamento e (ii) atendimento às necessidades dos usuários finais, em especial liberdade de escolha, segurança, proteção de seus interesses econômicos, tratamento não discriminatório, privacidade e pro-teção de dados pessoais, transparência e acesso a informações claras e completas sobre as condições de prestação de serviços (art.7, inciso IV).

Reduzir a utilização do cartão de crédito é negar to-dos os benefícios que este proporciona a comercian-tes e a consumidores. Por um lado, os fornecedores, ao se filiarem às credenciadoras, desembolsam a taxa de administração (bem inferior aos custos com a logística de aceitação do cheque ou do dinheiro); por outro, têm ganhos de segurança, seja porque dei-xam de manter dinheiro vivo em seu estabelecimen-to, seja porque o risco de inadimplência é transferi-do para o banco emissor do cartão, podendo contar

também com a redução de custos com cobrança e transportes de valores. Já os consumidores para in-tegrar esse sistema e adquirir o cartão de crédito/dé-bito, desembolsam a anuidade perante a instituição de pagamento e, de posse do cartão, não necessitam levar consigo altas somas em moeda e estarão pre-parados para a aquisição de produtos e serviços com segurança e tranquilidade.

Ademais, a opção de pagar com desconto quando a compra for feita com dinheiro pode estimular a informalidade e, em alguns casos, a sonegação de impostos. Todas as operações com cartões são re-gistradas, possibilitando seu controle pelas Fazen-das Estaduais e Federal.

Em face do esforço de anos de trabalho na estrutu-ração do mercado de cartões, hoje equilibrado, mo-derno e no qual estão sendo criadas novas tecnolo-gias de inserção social, como o mobile payment, que possibilita a inclusão financeira, a instituição da prá-tica de diferenciação dos preços em função do ins-trumento de pagamento escolhido pelo consumidor configuraria um verdadeiro retrocesso nas relações de consumo. Além disso, referida prática, muito pro-vavelmente, não se reverteria em benefício algum para o consumidor, correndo-se o risco de majora-ção dos preços dos produtos e serviços.

22.4 LIMITAÇÃO DOS JUROS SOBRE O CRÉDITO ROTATIVO

É frequente a crítica de que, no Brasil, as taxas de juros que incidem sobre o crédito rotativo são mais elevadas do que as cobradas em outros países. Ocorre que a indústria de cartões de crédito brasileira tem duas características que a diferenciam do resto do mundo. A primeira, é dado ao portador um prazo de, em geral, até quarenta dias para pagar a fatura sem cobrança de encargos. Cerca de apenas 5% dos portadores de cartões recorrem ao crédito rotativo; a maioria, ao honrar a fatura integralmente na data do vencimento, não incorre em encargo algum. A segunda característica é que metade de todas as compras com cartão de crédito são feitas na modalidade “parcelado sem juros”. Não há notícia de país em que compras parceladas no cartão de crédito sejam isentas de quaisquer encargos.

Não é prática dos emissores de cartão estimular o uso do crédito rotativo do cartão, uma vez que, em geral, possuem portfólio com linhas de crédito ao consumo mais adequadas, com melhores condições e que possibilitam a inibição da inadimplência.

22.5 VOUCHERS DE REFEIÇÃO E DE ALIMENTAÇÃO

princípios da igualdade e da liberdade da ativi-dade econômica, e a adoção do cadastro positi-vo muito contribuem para a redução das taxas de juros sobre operações com cartões de crédito.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para o estabe-lecimento de adequada taxa de juros sobre o crédito rotativo dos cartões, levando em consi-deração o modelo desse negócio no Brasil, que deve incluir, dentre outras variáveis, o risco da operação e o período de carência entre a com-pra e o pagamento da fatura. Para a CNF, o es-tímulo à concorrência no setor, assentada nos

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que aperfeiçoem o Progra-ma de Alimentação do Trabalhador (PAT), visando à flexibilização das normas de concessão do be-nefício e à ampliação da oferta de serviços pelo sistema de voucher de alimentação. A CNF enten-de que a subordinação desse setor de benefícios de refeição e alimentação ao arcabouço regula-

CAPÍTULO 22: MEIOS ELETRÔNICOS DE PAGAMENTO

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 283282

O sistema de refeição e alimentação, balizado pelo Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), en-volve a gestão de benefícios, bem como questões relacionadas à qualidade de vida, ao bem-estar e ao desempenho de empregados. Ampara-se no uso de vouchers e cartões adquiridos por empregadores e distribuídos aos seus trabalhadores para acesso a produtos e serviços em estabelecimentos comer-ciais conveniados pelas empresas operadoras do sistema. As vantagens do sistema consistem no di-recionamento de recursos e na capacidade de movi-mentação de economias locais. O Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), instituído pela Lei nº 6.321/1976 e regulamentado pelo Decreto nº 5/1991, se estrutura de maneira tripar-tite, entre Governo, empresas e trabalhadores, sendo gerido pela Secretaria de Inspeção do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego (SIT/MTE). Trata-se de um programa do Governo Federal de complemen-tação alimentar que tem o objetivo de melhorar as condições nutricionais do trabalhador, gerando saú-de, bem-estar e maior produtividade. Segundo os últimos dados publicados pelo MTE, mais de dezoito milhões de trabalhadores são beneficiados pelo PAT, por meio de mais de 205 mil empresas beneficiárias inscritas. Entre os beneficiados, 82,7% dos trabalha-dores ganham até cinco salários mínimos.

Os recentes avanços tecnológicos permitem a am-pliação dos meios de oferta de serviços por parte das empresas operadoras do sistema. Há, com isso, ten-dência para a utilização de smartphones, por exem-plo, para a concessão de benefícios e atendimento de outras necessidades do trabalhador, como acom-panhamento nutricional – no PAT, há mais de 20 mil profissionais habilitados em nutrição.

No entanto, a implementação dessas atualizações depende de uma revisão da Lei do PAT, bem como de mudanças operacionais no segmento, decorrentes da aplicação da Lei nº 12.865/2013, a Lei de Arranjos de Pagamentos. Um exemplo de mudança que pode ser realizada em prol da nova regulação é a alteração no prazo de reembolso a lojistas. No entanto, o assunto requer cautela para que não haja descasamento de prazos e exige tempo para adaptação por parte dos operadores do sistema. Outras práticas poderiam ser revistas, observando o caráter pré-creditado das ope-rações, como prazo para pagamento por parte das empresas-clientes (grande parte do Poder Público).

22.6 PROGRAMAS DE FIDELIDADE

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o aperfeiçoamento de programas de fidelidade que considerem o caráter mercadológico dos sistemas de recompensa, que se caracterizam como beneficio concedido aos usuários cujo caráter unilateral não viola dispositivos do Có-digo de Defesa do Consumidor. A CNF sublinha que eventuais alterações impostas a progra-mas de fidelidade afetam não só a estratégia empresarial do fornecedor, mas também a es-trutura de custos dos meios eletrônicos de pa-gamento a eles vinculados.

Os programas de fidelização são iniciativas voltadas para o relacionamento com o cliente que oferecem vantagens e benefícios àqueles que deem preferên-cia a seus produtos ou serviços, baseados em siste-ma de recompensas. Programas de fidelidade são cada vez mais comuns nas relações de consumo, oferecidos não só por instituições financeiras, como também nos diversos segmentos do comércio, com-panhias aéreas, farmácias, livrarias, padarias e res-taurantes, entre outros.

tório da Lei nº 12.865/2013, que trata dos arranjos de pagamento, confere segurança e robustez ao segmento, com observância das especificidades do setor, como os prazos de desembolso.

Basicamente, os programas de fidelidade são sus-tentados: no relacionamento, ao se estabelecer ca-nal de comunicação direta com o cliente; no reco-nhecimento, na oferta de benefícios que diferencie o cliente dos demais; e na recompensa, que oferece prêmios proporcionais ao consumo.

Atualmente, um dos principais desafios dos progra-mas de fidelidade é a eficaz utilização de seus sis-temas de relacionamento com o cliente - Customer Relationship Management (CRM), a fim de, munido de informações confiáveis de usuários, nos diversos canais de venda, ser capaz de analisar e segmentar essas informações, para ter visão completa das prefe-rências, transações e comportamentos dos clientes, a fim de oferecer produtos ainda mais personalizados.

Outro desafio diz respeito a propostas que proíbem a prescrição do direito do consumidor, aos pontos acumulados nos programas de fidelidade, a exem-plo da que tramita na Câmara dos Deputados. A CNF defende que, por ser um benefício, que não repre-senta qualquer ônus para o consumidor, o fornece-dor pode estipular regras de utilização, como é o caso do prazo de validade desses pontos. O prazo de expiração é uma das regras definidas pelo emissor do cartão e, desde que expressamente previsto nos regulamentos dos programas, não há qualquer des-cumprimento das normas do Código de Defesa do Consumidor (CDC) no estabelecimento desse prazo.

Isso significa dizer que, na hipótese de os pontos de programas de recompensas não mais expirarem, o emissor teria que provisionar o valor dos pontos acumulados por período indeterminado, o que en-careceria muito o programa de recompensas. Tama-nho encarecimento no custo do emissor traria duas prováveis consequências para os consumidores: (i) aumento na tarifa de anuidade, pois o custo do emissor para gerenciar o programa de recompensas seria extremamente mais alto; ou (ii) extinção dos programas de recompensas, em razão de seu custo inviabilizar a sua existência.

22.7 NOVOS ARRANJOS DE PAGAMENTO ELETRÔNICOS E MOEDAS VIRTUAIS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para es-treita cooperação internacional em matéria de regulação e de supervisão de novos arran-jos de pagamento e de novas moedas virtuais, seja para proteger os sistemas financeiro e monetário, seja para evitar ilícitos como la-vagem de dinheiro e financiamento do crime organizado e do terrorismo.

Para o Banco Central (BACEN), o “Sistema de Paga-mentos Brasileiro (SPB) compreende as entidades, os sistemas e os procedimentos relacionados com o processamento e a liquidação de operações de transferência de fundos, de operações com moeda estrangeira ou com ativos financeiros e valores mobi-liários”. Integram o SPB os serviços de compensação de cheques, de compensação e liquidação de ordens eletrônicas de débito e de crédito, de transferência de fundos e de outros ativos financeiros, de compen-sação e de liquidação de operações com títulos e va-lores mobiliários, de compensação e de liquidação de operações realizadas em bolsas de mercadorias e de futuros, e mais recentemente os arranjos e as instituições de pagamento (desde a promulgação da Lei nº 12.865/2013). O Comunicado BACEN nº 25.164/2014 enumera os sistemas de compensação e de liquidação, depósito centralizado e registro de ativos financeiros e de valores mobiliários, agrega-dos em Sistemas de transferências de fundos e Siste-mas de liquidação de operações com títulos, valores mobiliários, derivativos e câmbio.

A internet oferece plataforma que viabilizou a cria-ção de novos arranjos de pagamento, tais como PayPal e Payoneer, bem como a criação de moedas virtuais, como os Bitcoins, que não são contempla-dos pelo SPB. Esses novos arranjos de pagamento e essas novas moedas virtuais não integram as infra-

CAPÍTULO 22: MEIOS ELETRÔNICOS DE PAGAMENTO

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015284

estruturas do mercado financeiro, não estando por essa razão sujeitos às regras que asseguram qualida-de e continuidade dos serviços prestados pelas de-mais instituições participantes.

Esses novos meios de pagamento e novas moedas virtuais têm implicações ainda mal compreendidas tanto para a estabilidade financeira e os canais de transmissão da política monetária quanto para a prática de ilícitos tais como lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo.

No que diz respeito aos impactos financeiros e mo-netários, as operações realizadas por meio de novos arranjos de pagamento ainda não são relevantes, o que as mantêm enquadradas art. 6º, § 4º da Lei nº 12.865/2013, que afasta do alcance da legislação os arranjos de pagamento que “Não forem capazes de oferecer risco ao normal funcionamento das transa-ções de pagamentos de varejo”. Contudo, a própria arquitetura da rede mundial de computadores é pro-pícia ao crescimento exponencial dessas operações, que podem atingir quantidades e montantes signifi-cativos em intervalo de tempo muito curto.

Essa preocupação é especialmente dirigida às moe-das virtuais. O Banco Central, no Comunicado BACEN nº 25.306/2014, faz distinção entre “moedas virtuais” ou “moedas criptografadas” e a “moeda eletrônica” de que trata a Lei nº 12.865/2013. As “moedas virtu-ais” são denominadas em unidade de conta distinta das moedas emitidas por governos soberanos e não

transitam por dispositivos ou sistemas eletrônicos para armazenamento em reais. Nada assegura a conversão e o valor das moedas virtuais em moeda de curso legal, de tal modo que seu uso depende exclusivamente da aceitação pelos usuários. As flu-tuações de preço dessas moedas são muito bruscas, ainda que as transações sejam insignificantes.

No que diz respeito à prática de ilícitos, por sua vez, existem ao menos dois tipos de riscos. O primeiro é o de utilização de arranjos de pagamento e de mo-edas virtuais não regulados e não supervisionados para praticar lavagem de dinheiro e para canalizar recursos ao financiamento do crime organizado e do terrorismo. O segundo tipo de risco é aquele a que está sujeito o detentor de boa-fé de moedas virtuais e o usuário legítimo de arranjos de pagamento, que, na ausência de regulação e de supervisão, podem ser vítimas de criminosos eletrônicos (hackers), com subtração de ativos.

Para a CNF, existe um conflito latente entre, por um lado, a multiplicação de novos arranjos de pagamen-to eletrônicos e moedas virtuais e, por outro, a neces-sidade de rápido estabelecimento de mecanismos internacionais de regulação e de supervisão dessas inovações. Por serem recentes, ainda não existe con-senso internacional sobre as formas de tratamento dos novos meios de pagamento eletrônico, em geral, e das moedas virtuais, em particular, que não são re-gulados nem supervisionados por autoridades mo-netárias de qualquer país.

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23CAPÍTULO 23: PADRÕES CONTÁBEIS

Consolida-se a tendência de definição de padrões contábeis internacionais associados tanto à formu-lação de políticas macroprudenciais orientadas para a estabilidade do sistema financeiro quanto à com-paração de balanços contábeis de empresas de todo o mundo para balizar decisões de investimento. Para o Brasil, após ter alcançado o grau de investimento, essa tendência é crítica para permitir a inserção di-nâmica da economia nos fluxos internacionais de bens, serviços e capitais.

23.1 ACORDO DE BASILEIA IIIO Comitê de Supervisão Bancária de Basileia reúne autoridades para estabelecer padrões de conduta, melhorar a qualidade da supervisão bancária e for-talecer a solidez e segurança do sistema bancário internacional. Reúne-se no Banco de Compensações Internacionais, em Basileia, Suíça.

O primeiro conjunto de recomendações do Comitê, ou “Acordo de Basileia” (International Convergence of Capital Measurement and Capital Standards), de

PADRÕES CONTÁBEIS

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas para a regulamentação de medidas macroprudenciais que considerem especi-ficidades do Sistema Financeiro Nacional e para a internalização no Direito bra-sileiro de padrões contábeis internacionais que facilitem o acesso de empresas brasileiras ao mercado financeiro internacional em condições mais vantajosas.

dez e higidez do sistema financeiro, as peculiari-dades do setor financeiro brasileiro (em particu-lar, a contabilização de créditos tributários) e o fato de os bancos brasileiros já se enquadrarem em muitos dos limites determinados pelo Acor-do. A CNF sublinha a importância da competên-cia legislativa residual do Conselho Monetário Nacional na formulação dessas propostas.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a regula-mentação dos novos parâmetros definidos pelo “Acordo de Basileia III” assentadas em critérios rigorosamente técnicos que considerem a soli-

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 289288

1988, foi ratificado por mais de cem países e procu-rou reforçar a solidez do sistema bancário mundial e restabelecer a competitividade entre as principais instituições financeiras. Em 2004, para lidar com a crescente complexidade dos produtos financeiros e a capacidade inovadora das instituições financeiras, o “Acordo de Basileia II” definiu três pilares – capi-tal; supervisão e transparência; e disciplina de mer-cado – e 25 princípios básicos sobre contabilidade e supervisão bancária.

Em julho de 2010, o Comitê de Basileia de Supervi-são Bancária anunciou algumas diretrizes do que será o “Acordo de Basileia III”. No comunicado, foi su-blinhada a necessidade de efetiva melhora da qua-lidade, da quantidade e da consistência do capital das instituições financeiras; da redução do viés pró-cíclico da regulação; e da limitação da alavancagem, com fortalecimento da liquidez. O novo Acordo tra-tará do capital das instituições financeiras, de limites mínimos para reservas e para liquidez, de limites de alavancagem e do risco moral que representam as grandes instituições. Porque as medidas terão im-pacto contracionista sobre o crédito e o crescimento econômico, deverão ser implementadas de forma gradual até 2018.

Espera-se que o Comitê proponha medidas para tra-tar dos bancos sistemicamente importantes (too big to fail), que se beneficiam de desigualdade competi-tiva por serem candidatos a recursos oficiais subsi-diados em caso de turbulências graves.

Os bancos brasileiros enquadram-se nos parâme-tros que se discute para o “Acordo de Basileia III”, em especial nos limites de capital e de alavanca-gem. Contudo, as instituições financeiras brasileiras apresentam especificidades tais como índice de ala-vancagem, liquidez e participação de créditos tribu-tários no total de ativos que as distinguem de suas congêneres internacionais. A conclusão do Acordo ensejará novas normas do Banco Central e possivel-mente inspirará propostas de iniciativa parlamentar.

23.2 DEDUTIBILIDADE IMEDIATA DA PROVISÃO DE CRÉDITOS DUVIDOSOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a simplificação do processo de cobrança e rene-gociação das operações de crédito por meio de sua “desjudicialização”, isto é, por renego-ciação voluntária, mediação e arbitragem, que evitem impacto negativo sobre tributação da renda dos credores. Para a CNF, a Lei nº 9.430/1996, que dispõe sobre a dedutibilidade das perdas com operações de crédito, pode-ria abater como despesa para determinação do Lucro Real e da Base de Cálculo da Contri-buição Social sobre o Lucro Líquido as perdas com os créditos (de acordo com os prazos e os limites fixados por lei) independentemente de qualquer medida de caráter judicial para o re-cebimento desses créditos.

Sob determinadas condições, créditos não honrados no prazo acordado são incluídos em provisão que re-duzirá o resultado das instituições financeiras e, por consequência, os tributos que estas recolhem sobre esses resultados – a “provisão para devedores duvi-dosos” (PDD).

Muitas vezes, a renegociação de inadimplência em operações de crédito interessa tanto ao devedor quanto ao credor. Em renegociações dessa nature-za, busca-se o equilíbrio entre, por um lado, a ca-pacidade de pagamento do devedor e, por outro, a rentabilidade desejada pelo credor. Para obter esse equilíbrio, o credor pode considerar a concessão de desconto de seus créditos, levando em conta: as relações comerciais e de negócios com o devedor; o retorno do capital aplicado; os custos envolvidos no processo de cobrança e recuperação; e a possibi-lidade de insolvência ou falência do devedor, entre outros. Havendo alternativa de renegociação, a re-cuperação do crédito pela via judicial não é, neces-

sariamente, a decisão mais eficiente do ponto de vista empresarial e de negócios.

Ocorre que as instituições financeiras, por razões tri-butárias, raras vezes contam com essa alternativa de renegociação. A dedução das perdas com créditos na apuração do Imposto sobre a Renda das Pessoas Ju-rídicas (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), relativas aos valores das operações, às respectivas garantias e ao prazo de inadimplência, está associada à cobrança administrativa ou judicial, com as condições previstas na Lei nº 9.430/1996, espe-cialmente no seu artigo 9º. As instituições financeiras são obrigadas a recorrer à Justiça para viabilizar a de-dutibilidade fiscal de eventual abatimento concedido, mesmo para as situações em que a probabilidade de recebimento do crédito é baixa ou mesmo remota.

A Lei nº 9.430/1996 estabelece que: (i) as receitas e encargos incidentes sobre o crédito vencido e não pago poderão ser excluídos na apuração do IRPJ e da CSLL, desde que haja abertura de processo judi-cial para o recebimento do crédito (§ 1º e caput do artigo 11); (ii) os descontos concedidos somente po-dem ser deduzidos na apuração do IRPJ e da CSLL se o acordo for homologado em sentença judicial (§ 3º do artigo 10); e (iii) na ocorrência de desistência da cobrança pela via judicial, antes de decorrido o pra-zo de cinco anos do vencimento do crédito, a pessoa jurídica deve adicionar à base de cálculo do IRPJ e da CSLL a perda eventualmente registrada com a opera-ção inadimplida (§ 1º do artigo 10).

A exigência de medidas judiciais de cobrança para dedução da provisão de devedores duvidosos pode não ser de interesse nem dos credores, nem dos de-vedores, nem ainda do Poder Judiciário.

Para os credores, a renegociação voluntária, a me-diação e a arbitragem têm o condão de obter ao menos parcela de créditos inadimplidos que cubra o custo de oportunidade do capital empregado e os custos operacionais envolvidos no empréstimo. Por meio da renegociação, a instituição financeira pode

manter a solvência do devedor e dar continuidade à relação comercial que mantém com este.

Para os devedores, a exigência de medidas judiciais de cobrança aumenta o custo para quem pretende li-quidar sua dívida por acordo. Pode, inclusive, resultar em eventual insolvência ou mesmo falência do de-vedor. Ademais, a inadimplência e a carga tributária aumentam os custos imputados na margem bancária (spread): juntos, representam aproximadamente me-tade da composição do spread total, o que encarece as operações de crédito para todos os tomadores.

Para o Poder Judiciário, por sua vez, a exigência de medidas judiciais sobrecarrega os tribunais. O Rela-tório “Justiça em Números 2014” mostra que o nú-mero de processos em trâmite no Poder Judiciário brasileiro tem crescido em média 3,4% nos últimos cinco anos e chegou a 95,1 milhões de ações em tra-mitação em 2013: 66,9 milhões de processos sobre casos pendentes e 28,2 milhões de casos novos. O total de processos em tramitação cresceu, em núme-ros absolutos, quase 12 milhões em relação ao nú-mero observado em 2009, montante que equivale ao acervo processual de dois dos três maiores tribunais da Justiça Estadual, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) e o de Minas Gerais (TJMG).

Visando simplificar o processo de cobrança e rene-gociação das operações de crédito, propõe-se a sua

“desjudicialização”, mediante as seguintes alterações na Lei nº 9.430/1996: (i) que os valores registrados na conta redutora do crédito possam ser baixados defini-tivamente em contrapartida à conta do credor que re-gistre a operação, a partir do período de apuração em que se completar cinco anos do vencimento do crédi-to sem que o mesmo tenha sido liquidado pelo deve-dor; (ii) que a pessoa jurídica devedora possa adicio-nar ao lucro líquido, para determinação do Lucro Real e da Base de Cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, os encargos incidentes sobre o débito vencido e não pago que tenham sido deduzidos como despesa ou custo, incorridos a partir da data do ven-cimento; (iii) que as instituições financeiras possam

CAPÍTULO 23: PADRÕES CONTÁBEIS

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 291290

excluir para determinação do Lucro Real e da base de cálculo da CSLL o valor dos encargos financeiros inci-dentes sobre o crédito contabilizado como receita, a partir da data do vencimento, independentemente de qualquer medida de caráter judicial para recebimento do crédito; (iv) que os bens recebidos a título de quita-ção do débito possam ser escriturados pelo valor do crédito ou pelo valor definido na negociação que te-nha determinado sua incorporação ao patrimônio do credor; e (v) que nos casos de renegociação de dívida, o reconhecimento da receita para fins de incidência de imposto sobre a renda da pessoa jurídica e da CSLL ocorra no momento do efetivo recebimento do crédito.

A CNF recebeu com satisfação as atualizações da Lei nº 9.430/1996, como as mudanças promovidas pela Lei nº 13.097/2015, que permitiu o registro, como perda de créditos, dos contratos de crédito contra devedores em recuperação judicial, bem como da-queles inadimplidos a partir de 7 de outubro de 2014, independentemente de iniciados os procedimentos judiciais para o seu recebimento e observados pra-zos mínimos, que vão de seis meses a dois anos.

23.3 HARMONIZAÇÃO DE REGRAS CONTÁBEIS COM PADRÕES INTERNACIONAIS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para o aprimoramento da Lei nº 11.638/2007, de for-ma a prever a publicação de demonstrações contábeis também pelas sociedades limitadas de grande porte, ou na mídia impressa, ou na internet, em sítios indicados pelos órgãos pú-blicos competentes (tais como as Juntas Co-merciais e a Comissão de Valores Mobiliários), assentadas na clara definição de parâmetros do que sejam “sociedades limitadas de grande porte”, calcados em critérios objetivos tais como faturamento anual ou número de empregados.

A adoção dos padrões internacionais de contabilida-de pelo Brasil foi condição fundamental para o país obter o status de grau de investimento.

A Lei nº 11.638/2007, que entrou em vigor em 1º de janeiro de 2008, teve como principal consequência a atualização das regras contábeis brasileiras e a harmo-nização dessas regras com os pronunciamentos inter-nacionais, especialmente os emitidos pelo Comitê de Normas Internacionais de Contabilidade (International Accounting Standards Board - IASB), por meio dos Pa-drões Internacionais de Demonstrações Financeiras (International Financial Reporting Standards - IFRS).

A convergência das normas contábeis nacionais para o padrão internacional de demonstrações financei-ras possibilita aos investidores estrangeiros, sobretu-do os investidores institucionais, avaliar corretamen-te e comparar os balanços das empresas de qualquer parte do mundo. Assim, ao viabilizar essa convergên-cia internacional, a Lei nº 11.638/2007 possibilita o benefício do acesso das empresas brasileiras a capi-tais externos a uma taxa de risco menor e, logo, a um custo também menor.

Posteriormente, em maio de 2014, foi promulgada a Lei nº 12.973, que trouxe novas regras de tributação dos lucros de controladas e coligadas no exterior, a ins-tituição e reabertura de parcelamento de débitos tri-butários e a instituição de novas regras de tributação corporativa, pondo fim a um regime intitulado tempo-rário, mas que já perdurava há mais de cinco anos.

Com efeito, ao extinguir o Regime Tributário de Tran-sição (RTT), a Lei nº 12.973/2014 estabeleceu uma nova realidade de tributação corporativa no Brasil, na qual a legislação societária, alterada pelas regras e padrões contábeis internacionais, introduzidos ini-cialmente pela Lei nº 11.638/2007, passa a ser o ponto de partida para a apuração do Imposto sobre a Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ), da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), da Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e da Contribuição ao Programa de Integração Social (PIS).

Essencial, portanto, que se verifiquem as caracte-rísticas fundamentais das aludidas regras e padrões contábeis que, com o advento da Lei nº 12.973/2014, passam a influenciar diretamente a realidade tribu-tária das empresas brasileiras a partir do início da produção de efeitos da nova legislação.

Em um momento em que a neutralidade tributária assegurada pelo RTT é deixada de lado, é importante a reflexão quanto aos aspectos positivos e negativos de tal regime, especialmente no que se refere à inde-pendência por este assegurada às normas fiscais e le-gais perante os mandamentos contábeis desde 2008. Até porque, a referida independência se mantém em determinados comandos das novas regras de tribu-tação corporativa instituídas pela Lei nº 12.973/2014.

Além disso, a nova legislação contábil produz maior transparência das demonstrações financeiras em ge-ral, inclusive em relação às chamadas sociedades de grande porte não constituídas sob a forma de socie-dade por ações.

Mesmo com os benefícios advindos da nova legis-lação, melhorias podem ser buscadas. Tramitam no Congresso Nacional propostas que alteram a Lei nº 11.638/2007 no sentido de conferir maior segu-rança jurídica, estabelecendo, de modo explícito, a compulsoriedade da publicação das demonstrações contábeis pelas sociedades limitadas de grande por-te, bem como propiciar que essas publicações sejam feitas sem burocracia pela rede mundial de compu-tadores (ver Seção 6.18 – Publicação de balanços).

CAPÍTULO 23: PADRÕES CONTÁBEIS

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24CAPÍTULO 24: QUESTÕES INTERNACIONAIS

A solidez e a sofisticação do setor financeiro brasileiro contribuem para a inserção dinâmica e competitiva da economia do Brasil nos fluxos internacionais de bens, serviços e capitais. Essa inserção promove opor-tunidades, como a criação de uma rede de negócios regional na América Latina, e esbarra em alguns obs-táculos, como a ausência de um acordo para se evitar a dupla tributação com os Estados Unidos da América

– praticamente o único grande país desenvolvido que não mantém acordo dessa natureza com o Brasil.

24.1 BRASIL INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS – INSTITUTO BRAIN

O fortalecimento da rede de negócios da América La-tina e do papel do Brasil na mesma levou à criação da Brasil Investimentos e Negócios (BRAiN) como o veículo para catalisar sua implementação.

A América Latina tem a oportunidade de transfor-mar e aperfeiçoar sua ainda incipiente arquitetura de rede de negócios. A região possui tamanho e po-tencial de crescimento que vêm chamando a aten-ção de todo o mundo, porém os vínculos entre seus polos de negócios locais são muitas vezes interme-diados por polos como os de Nova Iorque e Londres. Este é o momento para a América Latina alavancar seu grande potencial e suas importantes vantagens estratégicas, como seu peso no comércio internacio-nal e suas multilatinas, para criar uma rede mais co-

QUESTÕES INTERNACIONAIS

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas para facilitar a inserção dinâmica e competitiva da economia brasileira nos flu-xos internacionais de bens, serviços e capitais, seja ao fornecerem amparo legal para iniciativas com esse objetivo, seja por removerem obstáculos a ele.

polos regionais e beneficiando toda a região, conforme a visão do Instituto BRAiN.

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a formação de uma rede regional de negócios na América Latina, tendo o Brasil como um dos

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 295294

nectada entre países, minimizando intermédios ao acesso aos capitais e gerando novas oportunidades de negócios, renda e emprego por meio de vínculos diretos fortalecidos com outras redes regionais.

O Brasil reúne as qualidades necessárias para se tor-nar também um dos polos dessa nova arquitetura re-gional. O país tem um papel importante no continente e deve crescer com vigor nesta década, fortalecendo seus vínculos com os países vizinhos e com o mundo. A visão do Instituto BRAiN é consolidar o Brasil e a Amé-rica Latina como polos regionais de investimentos e negócios com conectividade global que, junto com outros países da região, atue na criação de uma rede regional fortalecida e mais conectada com o mundo.

Um setor financeiro desenvolvido é vital para catali-sar a formação dessa rede, atraindo investidores ex-ternos, trazendo liquidez de capitais e financiando o crescimento de toda a região. A força e a solidez do sistema bancário e do mercado de capitais de alguns dos países latino-americanos servem de ponto de partida nessa caminhada.

A visão de uma rede de negócios com o Brasil como um de seus polos não requer movimentos artificiais de liberalização e exposição imprudentes. Não é pre-ciso ser inconsistente com o perfil dos países da região, com economias sólidas, diversificadas e com crescen-te projeção internacional. Por exemplo, não se trata de um projeto que requeira total conversibilidade cam-bial ou vantagens fiscais. A visão é de uma economia com rápida capacidade de recuperação, adaptável e diversificada, com um setor de serviços internaciona-lizado que suporte a projeção das multilatinas e gere benefícios para os diversos setores da economia e da sociedade da América Latina como um todo.

O BRAiN busca preencher a atual lacuna de coorde-nação entre os representantes dos setores público e privado, tarefa que já é cumprida por entidades equivalentes em outros países.

24.2 DENÚNCIAS DE TRATADOS E EMENDAS À CONSTITUIÇÃO

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia alterações constitucionais que for-taleçam a representação e o poder negociador do Governo brasileiro em fóruns internacionais, bilaterais e multilaterais, desde que harmôni-cas com o regime presidencialista consagrado pela Constituição Federal de 1988.

A Constituição Federal dispõe, em seu art. 49, que é competência exclusiva do Congresso Nacional “Re-solver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais”. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) sublinha ser necessária a con-firmação do Parlamento acerca de um tratado apro-vado e assinado pelo Poder Executivo, no entanto esse entendimento não inclui a denúncia feita pela Presidência da República.

Sobre o assunto, o texto literal da Constituição pode dar margem a questionamentos. Enquanto o art. 49 diz que cabe ao Congresso resolver definitivamen-te, o art. 84, VIII, diz que é competência privativa do Presidente da República celebrar tratados e atos internacionais. Em momento algum o Texto Cons-titucional veda a participação do Congresso na de-núncia de tratados.

Proposta que tramita no Congresso Nacional preten-de responder à questão sobre a necessidade, ou não, de aprovação do Legislativo acerca do ato do Poder Executivo que extingue a participação do Estado em um determinado tratado, ao acrescentar ao inciso I do art. 49, que estabelece a competência para “re-solver definitivamente sobre tratados”, a expressão

“especialmente sobre sua internalização e denúncia”.

O Supremo Tribunal Federal também discute a ques-tão nos autos da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 1.625, ajuizada em junho de 1997. Nesse pro-

cesso, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) ques-tiona a constitucionalidade do Decreto nº 2.100/1996, que denunciou a Convenção 158 da OIT, a qual, por sua vez, exige motivação para rescisões contratuais pelo empregador (vedação à demissão imotivada).

A ratificação pelo Congresso Nacional também de de-núncias de tratados internacionais é típica de países que adotam regime parlamentarista. Nos países de regime presidencialista, como o Brasil, o Poder Exe-cutivo tem a competência constitucional de iniciar e extinguir obrigações no plano externo, cabendo ao Parlamento aprovar apenas a internalização no Direi-to Objetivo doméstico das obrigações internacionais firmadas pelo Governo. Eventual alteração no Texto Constitucional para conferir ao Congresso Nacional a prerrogativa de também deliberar sobre ratificação de denúncias introduz balbúrdia institucional que subtrai graus de liberdade do Poder Executivo, que é quem tem personalidade jurídica internacional.

24.3 PREVENÇÃO BILATERAL À EVASÃO FISCAL: FOREIGN ACCOUNT TAX COMPLIANCE ACT (FATCA)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a prevenção da evasão fiscal, da lavagem de dinheiro, do financiamento ao terrorismo e ao crime organizado assentadas em acordos inter-nacionais bilaterais, no entendimento de que tais acordos não violem legislação brasileira, observem os sigilos fiscal e bancário e sejam fir-mados com base em reciprocidade.

Em 18 de marco de 2010, o Congresso dos Estados Unidos da América (EUA) aprovou o Foreign Accou-nt Tax Compliance Act (FATCA), uma lei federal que possui implicações de caráter extraterritorial e que pretende gerar efeitos em todos os países do mundo. Em vigor desde 1º de janeiro de 2013, seu objetivo

é “detectar, deter e desencorajar a evasão fiscal” de norte-americanos por meio de instituições financei-ras e não financeiras fora dos EUA, incluindo aquelas em funcionamento no Brasil.

A definição do que é instituição financeira é ampla, engloba: entidades que se dediquem ao investi-mento no mercado de títulos e valores mobiliários, a atividades bancárias em geral, ou à custódia, in-termediação, corretagem e detenção de investi-mentos em favor de terceiros, incluindo fundos de investimento, seguradoras, empresas de previ-dência, de capitalização, de consórcio, cartões de crédito e cooperativas de crédito. De acordo com a lei, todos os produtos financeiros que possibilitem acumulação são passíveis de reportes aos EUA pe-las instituições financeiras.

A Lei do FATCA se aplica às chamadas US persons, isto é, pessoas com nacionalidade norte-america-na, nascidas nos EUA ou com pais norte-americanos, pessoas com visto de permanência nos EUA (green card), ou residentes nos EUA, independentemente de serem residentes fiscais ou de terem também nacionalidade em outro país. De acordo com a Lei, quando as US persons detiverem mais de 10% de participação direta ou indireta no capital ou lucro de quaisquer empresas, inclusive brasileiras, tais em-presas serão consideradas US persons, independen-temente de serem constituídas ou residentes fiscais em seus países de origem. Essa Lei também se aplica aos equiparados às US persons que serão aqueles que possuem saldo bancário superior a US$50 mil no dia 31 de dezembro do ano anterior.

Os impactos dessa legislação para o Brasil são, de acordo com o capítulo 4 do Código Tributário dos EUA, no qual o FATCA está incluído, que todas as ins-tituições financeiras que operam no Brasil passem a identificar as US persons em sua base de clientes para que suas informações sejam repassadas às autorida-des competentes nos EUA. Até junho de 2014 todas as contas de pessoas físicas já deveriam ter sido diligen-ciadas e, até dezembro de 2014, as das pessoas jurí-

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dicas. Esses prazos para a realização da due diligence foram estabelecidos porque até o dia 30 de junho de 2015 todos os clientes com saldo superior a US$ 1 milhão deverão ser reportados ao Internal Revenue Service (IRS), a Receita Federal norte-americana. Até o dia 30 de junho de 2016, todas as demais contas an-tigas, independente do saldo, deverão ser reportadas ao IRS para que, a partir de 1º de janeiro de 2017 as contas, novas e antigas e todas as suas informações, passem a ser reportadas periodicamente.

Os Governos do Brasil e dos EUA assinaram o Intergo-vernmental Agreement (IGA) que normatizou o pro-cesso de envio de informações de modo recíproco e sanou a questão do sigilo bancário (troca de informa-ções entre países e não entre uma instituição finan-ceira e o Governo norte-americano), da retenção (eli-minou a figura do cliente “recalcitrante”, já que todas as informações tornaram-se passíveis de reporte, via Receita Federal do Brasil) e a questão jurídica discri-minatória (o FATCA previa a identificação dos clientes US persons e o reporte de suas informações). Há dois modelos de IGA sendo assinados entre os EUA e diver-sos países. A diferença dos dois modelos é somente a reciprocidade da troca de informações entre as par-tes. O modelo assinado pelo Brasil é o de número 1, que prevê a reciprocidade, enquanto que países como Áustria, Japão, Suíça e Chile assinaram o de número 2.

O FATCA possui um fluxo de implementação que se finaliza no reporte das informações. São cinco eta-pas nomeadas por due diligence nas Contas Antigas, Registro dos US persons, Cadastro de Novos Clientes, Reporte das Informações e Retenção dos Recursos. De maneira geral, a aprovação do Tax Information Ex-change Agreements (TIEA), em 2007, dá substância e atribui uma previsão ao IGA por meio da autorização da troca de informações para fins tributários, inclusi-ve de modo automático.

Caso algum banco brasileiro se recuse a adotar as medidas de identificação dos US persons poderá so-frer severas restrições. A instituição financeira ficaria sujeita à retenção na fonte de imposto de renda nos

EUA à razão de 30% sobre quaisquer rendimentos, ganhos ou proventos brutos da venda ou liquidação de ativos capazes de gerar juros e dividendos de fon-tes norte-americanas.

Também teria grande dificuldade para participar do mercado financeiro nacional e internacional, já que muitas instituições financeiras norte-americanas ou estrangeiras podem deixar de negociar contratos ou ainda podem aumentar custos e taxas de con-tratação, dadas as obrigações inerentes ao FATCA. Ademais, uma instituição financeira brasileira não poderia ter, em seu grupo econômico, empresas que sejam instituição financeira participante do FATCA como controladoras, coligadas, afiliadas, controla-das e subsidiárias. Isso significa que uma instituição brasileira não aderente ao FATCA será não partici-pante em qualquer lugar do mundo. Assim, os custos financeiros e a perda de competitividade de uma ins-tituição financeira não participante afetariam todo o seu grupo econômico financeiro. Como os EUA são o maior mercado financeiro do mundo, a legislação significa, na prática, que todos os bancos brasileiros devem aderir ao FATCA.

No dia 12 de fevereiro de 2015, o Poder Executivo enviou o IGA para Congresso Nacional, por meio da Mensagem nº 36/2015, com a Exposição de Motivos, assinada pelos Ministérios das Relações Exteriores (MRE) e da Fazenda (MF). A Mensagem Presidencial foi recebida pela Câmara dos Deputados e, se aprovada, será enviada para a deliberação do Senado Federal.

24.4 PREVENÇÃO MULTILATERAL À EVASÃO FISCAL: CONVENÇÃO SOBRE ASSISTÊNCIA MÚTUA ADMINISTRATIVA EM ASSUNTOS TRIBUTÁRIOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a prevenção multilateral da evasão fiscal, da

CAPÍTULO 24: QUESTÕES INTERNACIONAIS

Em 2011, o Brasil aderiu à Convenção sobre Assis-tência Mútua Administrativa em Assuntos Tributá-rios como resultado das discussões que já vinham sendo realizadas no âmbito do grupo wp10 na Or-ganização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

A Convenção visa a promover a cooperação em ma-téria fiscal no âmbito multilateral, equilibrando o intercâmbio de informações entre as autoridades tributárias signatárias com rigoroso respeito aos direitos fundamentais do contribuinte. Referido ato é, também, instrumento para a aplicação efetiva da legislação brasileira, permitindo a obtenção de in-formações necessárias à comprovação de ilícitos tri-butários previstos no ordenamento jurídico pátrio.

A Convenção não só prevê a possibilidade de inter-câmbio de informações, mas amplia o espaço para a cooperação entre as administrações tributárias quanto às práticas de fiscalização, respeitados os limites das respectivas legislações nacionais.

A implementação do acordo foi impulsionada após a aprovação do Foreign Account Tax Compliance Act (FATCA) pelo Congresso dos Estados Unidos da América (EUA), o que fez com que os países aderen-tes passassem a trocar informações fiscais com a autoridade competente norte-americana.

A partir da assinatura da Convenção no Fórum Glo-bal, foram estabelecidos dois prazos para os países signatários tornarem a norma efetiva. O ano de 2017

é o primeiro prazo. Assim, as nações que optaram por esse primeiro prazo precisam internalizar os as-pectos abordados na Convenção, melhorando sua imagem perante a comunidade internacional como países cooperantes com a transparência global.

O prazo final para a implementação é 2018, opção escolhida pelo Brasil. O país ainda precisa aprovar a Convenção no Congresso Nacional para, posterior-mente, aderir ao Common Response Standards (CRS) e assinar o Competent Authority Agreement (CAA). O CRS será uma espécie de sistema informatizado para a troca automática de informações básicas so-bre os contribuintes de cada país signatário e o CAA, que pode ser comparado com o Intergovernmental Agreement (IGA) do FATCA, que contém as medidas que regulamentam, normatizam e operacionalizam a troca de informações entre as partes.

A OCDE possui listas que classificam os países de acordo com o grau de transparência e cooperação previstas em suas legislações. Existe também a pre-visão de sanções para os países classificados pela entidade como pouco transparentes e não coope-rantes com os esforços internacionais para aumen-tar a transparência quanto às informações fiscais das pessoas físicas e jurídicas. A classificação dos países quanto à adesão aos instrumentos inter-nacionais de transparência está sendo feita, pela OCDE, em três etapas.

Na primeira etapa, avalia-se a legislação interna dos Estados. A OCDE analisa se o país já possui uma le-gislação robusta que seja compatível com os arran-jos e instrumentos internacionais acerca da troca de informações entre as partes da Convenção. Caso o país não possua, é feita uma recomendação para que se aprove e, assim, se evite impedimentos à adesão aos instrumentos internacionais. O país só é autorizado a avançar para a segunda etapa quando a primeira estiver completamente finalizada a con-tento da própria OCDE. Nesse cenário, o Brasil será instado a alterar a legislação que trata de sigilo ban-cário e as normas de sigilo fiscal.

lavagem de dinheiro e do financiamento de atividades ilícitas que integrem o Brasil nos arranjos tributários de cooperação interna-cional. Contudo, essas proposições precisam estar assentadas em acordos internacionais firmados com base em reciprocidade e que não violem a legislação brasileira sobre sigilos fiscal e bancário.

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Já na segunda etapa, a OCDE analisa a aplicação da Convenção. A organização busca avaliar e identificar os problemas da legislação vigente, além de propor modificações para que se torne célere o processo de troca de informações. A adoção de uma legis-lação que permita a troca de informações interna-cionais, além de normatizar sua operacionalização, tem como objetivo sanar possíveis problemas no funcionamento propriamente dito da troca e, con-sequentemente, minorar as inseguranças jurídicas e a incompatibilidade de normas entre as partes da Convenção. Somente depois de concluída a se-gunda etapa, as partes são autorizadas a iniciar as tratativas da terceira etapa do processo de adesão.

Por fim, na terceira etapa, o que se busca é viabilizar a troca de informações. A última etapa ainda não foi iniciada, ou seja, até o momento, nenhum país solicitou sua entrada na terceira etapa do processo. Essa fase da adesão será o funcionamento da troca de informações entre as partes e a sua operacionali-zação. De acordo com a OCDE, essa etapa ainda está em fase de formação.

Para a CNF, é positiva a evolução da legislação inter-nacional para melhorar a transparência, seja para buscar o aperfeiçoamento da arrecadação tributá-ria do Estado, seja para evitar o financiamento de atividades ilegais. Contudo, vislumbra-se no curto prazo conflito entre, por um lado, a necessidade de alinhamento do Brasil às melhores práticas interna-cionais que tratam de combate à evasão fiscal e, por outro, a vigência de legislação no nível de lei com-plementar que resguarda os sigilos bancário e fiscal.

24.5 CONVERGÊNCIA REGULATÓRIA ENTRE OS MERCADOS DE CAPITAIS DO BRASIL E DOS ESTADOS UNIDOS

Nos anos 1980, os governos de Ronald Reagan e Mar-garet Thatcher, respectivamente nos Estados Unidos da América (EUA) e no Reino Unido, trabalharam pela desregulação dos mercados financeiros inter-nacionais. Após a crise financeira internacional de 2008, o governo dos EUA iniciou uma série de nego-ciações com o objetivo de regula-lo novamente. Esse processo resultou na aprovação do Dodd-Frank Act, editado em 2010, e conhecida como uma das “Nor-mas Anticrise”.

O Dodd-Frank Act busca implementar algumas regu-lações e reformas ao setor financeiro norte-america-no, principalmente no tocante à proteção e à trans-parência ao consumidor. Um dos seus principais objetivos é minimizar a dependência do Governo Fe-deral dos bancos, submetendo-os a uma série de re-gulações para minimizar a quebra das empresas too big to fail (grandes demais para falir – tradução livre).

Ela também criou o Financial Stability Oversight Cou-ncil (FSOC; Conselho de Supervisão da Estabilidade Financeira – tradução livre), composto por diversas agências para servir como um sistema de aviso pré-vio para problemas no sistema financeiro; o Consu-mer Financial Protection Bureau (CFPB; Bureau de Proteção Financeira ao Consumidor – tradução livre) que visa proteger os consumidores de bancos gran-des e não regulados; e a Securities and Exchange Commission (SEC; equivalente norte-americana da Comissão de Valores Mobiliários do Brasil) com três novos departamentos trabalhando na supervisão

convergência regulatória entre o Brasil e os Es-tados Unidos da América (EUA) para reconhe-cimento mútuo da regulação dos mercados de capitais entre ambos os países, de suma im-portância para o setor financeiro porque con-tribuem para o aprimoramento do ambiente de negócios entre os países, para a interna-cionalização dos mercados e das instituições financeiras brasileiras.

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a

das agências de rating e na proteção ao consumidor. Essa nova lei também estipula um novo Departa-mento no Tesouro Nacional que, por sua vez, passa-rá a ter diversas atribuições regulatórias, incluindo a avaliação de risco sistêmico até a supervisão da indústria de seguros.

Não obstante a divulgação das regras norte-ameri-canas, falta de harmonização regulatória com de-mais setores econômicos, no caso dos mercados financeiro e de capitais, tem como efeitos, além da duplicação de exigências, de supervisão e a possibi-lidade de quebra de sigilo de informações de clien-tes, também a possibilidade de interpretações errô-neas ou descumprimento de normas em função de dúvidas jurídicas e a ocorrência de um processo de fragmentação dos mercados em nível global.

No âmbito do Poder Executivo Federal, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) solicitou informações sobre possíveis difi-culdades de acesso ao mercado norte-americano, relacionadas ao cumprimento de normas técnicas ou padrões regulatórios internacionais. Entretanto, há a demanda de que questões relacionadas ao se-tor financeiro sejam incorporadas no levantamento do Ministério devido ao caráter industrial presente na consulta realizada pelo MDIC. Outras frentes de negociação internacional sobre o tema poderão ser iniciadas pelo Ministério da Fazenda, pelo Itamaraty e outros órgãos.

A inclusão do setor financeiro nas negociações de convergência regulatória entre o Brasil e os EUA é importante porque as regulações elaboradas pela SEC, derivadas do Dodd-Frank Act, possuem con-sequências para além das fronteiras dos EUA. Elas estabelecem que quaisquer transações que sejam conduzidas ou envolvam alguma contraparte ame-ricana (US person), direta ou indiretamente, devem observar e obedecer à regulação americana. Essa exigência se dá em dois níveis: no das transações, associado ao registro dos contratos derivativos e ao local de liquidação dos mesmos; e no das insti-

tuições, envolvendo o registro como swap dealer ou major swap participant, caso a entidade em questão ultrapasse o teto (limiar de minimis) e os requeri-mentos de margem e capital igualmente estabeleci-dos pela lei norte-americana.

A aprovação dessa reforma de modo unilateral e não harmonizada com as normas já existentes em outros mercados mundiais trouxe impactos diretos não só para as instituições financeiras norte-americanas, mas para os mercados financeiros e de capitais de todo o mundo. Análises e pareceres prévios de fó-runs multilaterais como o Grupo dos Vinte (G20), o Financial Stability Board (Comitê de Estabilidade Financeira – tradução livre) e a International Organi-zation of Securities Commission (Organização Inter-nacional das Comissões de Valores – tradução livre) poderiam ter evitado questões e impactos para os negócios e serviços financeiros internacionais. Essa regulação gerou uma série de críticas internacionais das autoridades competentes de Hong Kong, Cinga-pura, Austrália e União Europeia.

24.6 ACORDO PARA EVITAR A DUPLA TRIBUTAÇÃO ENTRE O BRASIL E OS ESTADOS UNIDOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a viabilização da assinatura de um Acordo para Evitar a Dupla Tributação entre o Brasil e os Es-tados Unidos da América, balizado pelo rigoro-so respeito ao ordenamento jurídico brasileiro, em particular no que diz respeito ao resguardo dos sigilos fiscal e bancário, e que considere, antes de qualquer coisa, a conciliação de po-sições divergentes sobre cláusula de crédito tributário (tax sparing).

Há no mundo dois modelos principais de Acordos para Evitar a Dupla Tributação entre os países. O mais

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antigo foi publicado em 1963 pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), elaborado pelo seu Comitê Fiscal. O outro modelo é o da Organização das Nações Unidas (ONU), elaborado e divulgado em 1979. Ambos os modelos são atua-lizados periodicamente, mas o da ONU, especifica-mente, busca refletir a preocupação de que o modelo da OCDE poderia não ser utilizado em um acordo en-tre um país desenvolvido e um em desenvolvimento devido à assimetria nas atividades comuns.

Um acordo com essa finalidade entre o Brasil e os Estados Unidos da América (EUA) tem como objetivo reduzir a insegurança jurídica e aumentar o fluxo de investimentos entre os países. Entretanto, as tenta-tivas anteriores de assinatura de um acordo nesse sentido não prosperaram em virtude de divergências quanto à cláusula de crédito tributário (tax sparing). O modelo brasileiro se baseia no elaborado pela OCDE, mas incorporou elementos do modelo da ONU.

A dificuldade para que prospere esse tipo de acordo com países que possuem sistemas tributários dife-rentes do brasileiro, cujos fluxos de investimentos são assimétricos, está relacionada à presença da cláusula de tax sparing. No caso norte-americano, essa cláusula não é aceita, dificultando ainda mais a conclusão do possível acordo.

O Brasil possui em vigor 32 Acordos para Evitar a Du-pla Tributação, sendo que o firmado com a Alema-nha foi denunciado pelo país europeu em 2006. O primeiro a ser concluído foi com o Japão, em 1967. Na década de 1970, foram ratificados oito acordos (Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Itália, Luxemburgo e Suécia), enquanto que na década de 1980 foram apenas quatro (Argentina, Canadá, Equa-dor e Noruega). Já nos anos 1990 foram concluídos nove acordos (China, Coreia, Eslováquia, Filipinas, Finlândia, Hungria, Índia, Países Baixos e República Tcheca). A partir dos anos 2000 foram ratificados dez (África do Sul, Chile, Israel, México, Peru, Portugal, Trinidad e Tobago, Turquia, Ucrânia e Venezuela).

Desde 1967, nas negociações com o Brasil, os EUA têm manifestado interesse por evitar a dupla tri-butação sobre pessoas físicas e jurídicas; conciliar conceitos de renda tributável e despesa dedutível (price transferring); e trocar informações contra eva-são fiscal. A legislação fiscal americana, mesmo na ausência de um acordo que evite a dupla tributação, permite o crédito fiscal de impostos pagos na fonte no exterior. O Brasil, por sua vez, tem interesse na atração de investimentos, razão pela qual seus acor-dos que evitem a dupla tributação preveem redução do Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF). Para assegurar que o benefício fiscal seja repassado ao investidor, os acordos contêm: (i) cláusula de isen-ção, que obriga o país do investidor a não tributar receitas de lucros e dividendos; e (ii) cláusula de cré-dito tributário (tax sparing), que permite dedução de IRRF brasileiro – com a alíquota anterior à do acordo, mais alta – da tributação sobre juros, royalties, assis-tência técnica e licenças.

Pelo menos 32 acordos para evitar a dupla tributação assinados pelo Brasil contêm a cláusula de tax spa-ring que, por sua vez, não aparece em nenhum dos acordos assinados pelos EUA. Se o Brasil assinar um acordo com os EUA sem essa provisão, países que fir-maram com o Governo brasileiro poderiam denunciar seus respectivos acordos. Tal possibilidade de renún-cia consta, por exemplo, de acordos firmados com alguns dos maiores investidores no Brasil, tais como Holanda (art. 11, 12 e 23 do Decreto nº 355/1991), Es-panha (art. 11 e 12 do Decreto nº 76.976/1976), Fran-ça (art. 11, 12 e 22 do Decreto nº 70.506/1972), Portu-gal (art. 11, 12 e 23 do Decreto nº 4.012/2001), Canadá (art. 11, 12 e 22 do Decreto nº 92.318/1986), Japão (art. 10, 11 e 22 do Decreto nº 61.899/1967), Itália (art. 11, 12 e 23 do Decreto nº 85.985/1981) e Luxemburgo (art. 11, 12 e 24 do Decreto nº 85.051/1980).

A cláusula de tax sparing também consta do acor-do do Brasil com a China (artigos 11, 12 e 23 do De-creto nº 762/1993). Já no caso do acordo dos EUA com a China, assinado em 1996, há provisão que denuncia o tratado automaticamente no caso de a

diferença entre alíquotas superar 5%, ou no caso de os EUA assinarem um acordo com a cláusula de tax sparing com um terceiro país. A Receita Federal do Brasil (RFB) ainda busca uma solução para o caso da cláusula em questão. Segundo a RFB, o Ministério da Fazenda estuda um mecanismo, a ser aprovado, que possibilite a coexistência entre os acordos que contém e não a cláusula de tax sparing e, assim, via-bilize a conclusão das negociações entre o Brasil e o governo norte-americano.

24.7 TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE SERVIÇOS FINANCEIROS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia a participação do Brasil em negociações internacionais, tanto multilate-rais como bilaterais, que envolvam, direta ou indiretamente serviços financeiros. Para a CNF, a abertura econômica e a intensificação das trocas comerciais contribuem para a moderni-zação, ganho de competitividade e crescimen-to da economia brasileira, na medida em que inserem o Brasil nos principais arranjos produ-tivos internacionais.

O incremento do comércio do Brasil com as diversas partes do mundo tem inúmeras consequências para a economia do país. Além de fomentar o desenvolvi-mento, o ganho de competitividade e o crescimento econômico, a maior participação do Brasil no co-mércio internacional pode diminuir a sua vulnerabi-lidade externa frente a possíveis crises. A dinâmica comercial é usualmente acompanhada de maiores fluxos financeiros para o país, via exportações e prestações de serviços, contribuindo para o aumen-to de suas reservas internacionais. Os três principais acordos comerciais que atualmente estão em fase de negociação são: a Rodada Doha, o Tratado de Livre Comércio Mercosul-União Europeia e o Acordo de Comércio em Serviços (TiSA). Em todos eles, há

importantes implicações para questões ligadas a serviços financeiros.

A Rodada de Doha, que se estende por mais de dez anos, iniciou-se no Qatar, em novembro de 2001, du-rante a IV Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC). Inicialmente prevista para serem concluídas em três anos, as negociações, supervisionadas pelo Comitê de Negociações Comer-ciais, subordinado ao Conselho Geral da OMC, tiveram uma agenda negociadora ambiciosa que superou a cobertura de temas da Rodada Uruguai, a mais com-plexa negociação da história do General Agreement on Tariffs and Trade (GATT). A Rodada Doha tem como motivação inicial a abertura de mercados agrícolas e industriais com regras que favoreçam a ampliação dos fluxos de comércio dos países em desenvolvimento. Entretanto, o impasse nas negociações está relacio-nado ao comércio agrícola, serviços e bens industriais. Enquanto os países em desenvolvimento buscam maior acesso aos mercados dos países desenvolvidos para seus produtos agrícolas, os países desenvolvidos querem maior abertura dos mercados em desenvolvi-mento para seus produtos industrializados e serviços.

De acordo com a pauta, há previsão de liberalização do setor de serviços financeiros, com medidas rela-cionadas aos fluxos de investimentos e à atuação de instituições financeiras sem presença física no ter-ritório de determinado país. As negociações encon-tram-se em discussões exploratórias em Genebra so-bre a formulação do novo cronograma de trabalhos. O êxito dos Acordos de Bali, Indonésia, fez emergir um ímpeto nos países membros da organização em retornar a rodada de negociações e tentar destravar seus pontos mais polêmicos.

Já as negociações entre o Mercosul e a União Europeia (UE) sobre um acordo de livre comércio (denomina-do Acordo de Associação Bi-Regional) foram lançadas em 1999, mas interrompidas em 2004. Há diversos impactos para o setor financeiro brasileiro caso haja uma possível liberalização de atividades do setor. São dois os pontos mais relevantes. O primeiro é quanto à

CAPÍTULO 24: QUESTÕES INTERNACIONAIS

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permissão de se comercializar os produtos financei-ros de instituições financeiras localizadas no territó-rio da outra parte do acordo; e o segundo ponto a ser observado é a adoção de medidas de transparência e regulação de quatro acordos internacionais: (i) o Co-mitê de Basiléia “Core Principle for Effective Banking Supervision”, (ii) a Associação Internacional de Su-pervisores de Segurança “Insurance Core Principles”, (iii) a Organização Internacional das Comissões de Segurança “Objectives and Principles of Securities Re-gulation” e (iv) o 40 + 9 Recomendações do “Financial Action Task Force on Money Laundering and the Inter-national Financial Reporting Standards”. Outros efei-tos do Tratado, contudo de caráter mais operacional, são a permissão da transferência de dados entre as regiões partes do acordo e a proibição da não diferen-ciação de exigências de funcionamento e operação das instituições financeiras nacionais e estrangeiras.

Em 2010, as negociações foram relançadas e, desde então, foram realizadas oito reuniões do Comitê de Negociações Bi-Regionais (CNB), a mais recente em Bruxelas, em março de 2012. As negociações têm-se concentrado na elaboração de um marco normativo que regulará o acesso a mercado de bens, a defesa comercial, a solução de controvérsias, a concorrên-cia, os investimentos, os serviços, as barreiras téc-nicas, as medidas sanitárias e fitossanitárias, entre outros. No último CNB, as partes demonstraram interesse em avançar nas negociações de aspectos cruciais do marco normativo, de modo a se criar as condições necessárias para a definição de data para o intercâmbio de ofertas.

De acordo com o mecanismo de negociação do Mer-cosul, em que os países devem dialogar em conjunto, o bloco deve fazer uma oferta unificada na negocia-ção, ou seja, deve chegar a um mínimo denominador. Não há possibilidade de se fazer ofertas em separa-do. Os problemas cambiais e econômicos de alguns membros do Mercosul têm dificultado um possível acordo entre o bloco do Cone Sul e a União Europeia (UE). Esse tratado tem como objetivo alavancar o co-mércio bi-regional e aproximar economias de grande

caráter complementar. A última tentativa de troca de ofertas ocorreu em março de 2014 em Bruxelas. Nes-sa reunião ficou constatado que o percentual ofereci-do, conjuntamente pelo bloco, não tinha alcançado a meta de 90% da pauta comercial. O Governo brasilei-ro esperava concluir a troca de ofertas até o final de 2014, após finalizar a proposta sul-americana.

Por fim, o Acordo de Comércio em Serviços (Trade in Services Agreement – TiSA em inglês) está sendo nego-ciado multilateralmente fora da Organização Mundial do Comércio (OMC). As primeiras negociações ocorre-ram entre os EUA e Austrália e logo ganharam diversos adeptos ao redor do planeta. As reuniões debateram os mais variados temas e modalidades de comércio de serviços, incluindo serviços financeiros. As partes negociantes já representam cerca de 70% do comér-cio mundial de serviços e procuram expandir a parti-cipação no tratado para outros membros da OMC. O TiSA irá cobrir todos os setores de serviços e busca es-tabelecer um novo patamar na questão de comércio de serviços, capturando os progressos alcançados em liberalizações unilaterais e em tratados de livre comér-cio realizados fora do sistema multilateral da OMC.

A última reunião realizada foi na Austrália entre os dias primeiro e cinco de dezembro de 2014. Foram feitos progressos nos temas de comércio eletrônico, telecomunicações, regulação doméstica, transparên-cia, serviços financeiros, entrada temporária de cida-dãos e serviços aéreos e marítimos. Entre os tópicos relacionados aos serviços financeiros, os pontos que estão em negociação são arrendamento mercantil, se-guros e seguros relacionados a serviços, setor bancá-rio e outros serviços financeiros excluídos os seguros.

A importância do TiSA está relacionada ao seu poten-cial de incremento no comércio mundial de serviços, além do seu impacto nas economias dos países parti-cipantes. Ele é um tratado que se dispõe a ser amplo e abrangente, promovendo uma grande e robusta liberalização entre os setores de serviços dos seus Es-tados parte. Também é de interesse das economias desenvolvidas devido à sua alta competitividade do

setor terciário da economia, o que contribuiria para o incremento de suas taxas de expansão econômica.

24.8 MIGRAÇÃO DE TRABALHADORES QUALIFICADOS

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas que facilitem a con-tratação de mão de obra estrangeira qualifica-da para o mercado brasileiro com o propósito de suprir a demanda interna, bem como apoia a simplificação dos procedimentos de regulari-zação de trabalhadores estrangeiros no Brasil.

O Brasil atravessa um período de carência de mão de obra qualificada no mercado especializado de traba-lho, devido ao crescimento econômico e social, com entraves profissionalizantes em diversas áreas. A im-plementação de um ambiente de negócios favorável à inovação pode ser realizada por intermédio da sim-plificação dos mecanismos de contratação de profis-sionais estrangeiros qualificados para os postos de trabalho carentes de mão de obra capacitada.

Diante da situação internacional e da alta oferta de mão de obra estrangeira disposta a vir para o mer-cado de trabalho brasileiro, a legislação nacional vai contra a facilidade da vinda desses profissionais, sen-do necessária a diminuição da burocracia e a moder-nização do processo de concessão de vistos.

A maioria dos setores tem tido dificuldades para con-tratação de mão de obra qualificada no país, inclusive o setor financeiro. Em uma análise mais detalhada, hoje, no Brasil, há, por exemplo, aumento da demanda do grupo de “técnicos de seguro, câmbio e serviços fi-nanceiros”. Apesar desse cenário de procura por profis-sionais, um estrangeiro capacitado demoraria em tor-no de seis meses para conseguir estar apto a trabalhar legalmente no país, já que o mero agendamento para pleitear o visto de trabalho demora cerca de três meses.

Atualmente, algumas normas dificultam a vinda de estrangeiros. Por exemplo, um estrangeiro não pode imigrar para o Brasil para prospectar empregos aqui, por ser necessário um contrato de trabalho fechado. Outro caso é o empregado estrangeiro que trabalha numa filial e precisa mudar-se para outra; hoje, é necessário refazer todo o processo no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

A vinda desses profissionais estrangeiros não ame-açaria ou comprometeria o oferecimento de vagas disponíveis para os trabalhadores brasileiros; pelo contrário, essa oferta estimula o crescimento econô-mico e a competitividade dos setores produtivos nos mercados interno e externo.

Nesse sentido, o Ministério da Justiça, o Ministério do Trabalho e Emprego, o Ministério das Relações Exte-riores e a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Pre-sidência da República (SAE) estudam propostas para ampliar a entrada de mão de obra estrangeira qualifi-cada no Brasil e aumentar a competitividade do país, suprindo a escassez de profissionais em áreas estra-tégicas e criando ambientes de intercâmbio de tecno-logias e conhecimentos. Uma reforma mais ampla de legislação brasileira que trata de questões migratórias já está em discussão no Congresso Nacional. Assim, o Poder Executivo avalia se prepara um novo projeto de lei, ou se aproveita as discussões a respeito de maté-ria já em tramitação para enviar as propostas do gru-po de trabalho interministerial ao Legislativo.

Para a SAE, o texto precisa prever pelo menos: (i) am-pliação do leque de atividades para visto de negócio, com previsão de visto de trabalho; (ii) mudança do rito do visto para que a fiscalização ocorra a poste-riori, pois o modelo de pré-análise é oneroso, buro-crático e lento; (iii) facilitação da mobilidade ocupa-cional; (iv) permissão de trabalho para familiares; (v) facilitação do trabalho de estrangeiros concluintes de graduação; (vi) cotas para imigração humanitária (limite e regulamentação); e (vii) criação de agência (autarquia) para concentrar as várias atividades de concessão de vistos imigratórios.

CAPÍTULO 24: QUESTÕES INTERNACIONAIS

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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2015 305304

Nesse sentido, a SAE estuda propostas para ampliar a entrada de mão de obra estrangeira qualificada no Brasil e aumentar a competitividade do país, suprindo a escassez de profissionais em áreas es-tratégicas e criando ambientes de intercâmbio de tecnologias e conhecimentos.

A Brasil Investimentos & Negócios (BRAiN Brasil) tem articulado com o Governo a facilitação da vinda de pessoas capacitadas para suprir a demanda de mão de obra interna, comparando o sistema atual com os de outros sete países relevantes e analisando a oferta nacional. Entre as medidas propostas, estão: (i) o aprimoramento do processo de concessão de vistos de trabalho tipo v; (ii) a criação de uma regula-mentação da concessão de vistos temporários a es-tudantes de cursos superiores no exterior em busca de experiências profissionais durante as férias (situ-ação conhecida como summer job); e (iii) a criação de cadastro de profissões carentes de especialistas no mercado de trabalho brasileiro a fim de incentivar a vinda de estrangeiros com essas formações.

A CNF é membro do Conselho Nacional de Imigração (CNIG) desde o ano de 2000 e participa intensamente dessas discussões no âmbito governamental.

24.9 PONTO DE CONTATO NACIONAL (PCN)

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia iniciativas institucionais como o Ponto de Contato Nacional que contribuam para a implementação e a divulgação de di-retrizes internacionais voltadas para a condu-ta responsável das empresas multinacionais, com implicações sociais, ambientais, de direi-tos humanos e consumeristas, entre outros.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimen-to Econômico (OCDE) estabelece diretrizes para em-

presas multinacionais que consistem em recomen-dações, apoiadas pelos Governos, para a conduta responsável em suas atividades no mundo inteiro. Entre as recomendações figuram: direitos humanos, emprego, meio ambiente, transparência, combate à corrupção, à solicitação de suborno e à extorsão, interesses do consumidor, ciência e tecnologia, con-corrência e tributação.

As Diretrizes da OCDE para as Empresas Multina-cionais visam a assegurar que as operações dessas empresas estejam em harmonia com as políticas governamentais; fortalecer a base da confiança mú-tua entre as empresas e as sociedades onde ope-ram; ajudar a melhorar o clima do investimento es-trangeiro; e aumentar a contribuição das empresas multinacionais para o desenvolvimento sustentável. As Diretrizes são parte integrante da Declaração da OCDE sobre Investimento Internacional e Empresas Multinacionais, cujos outros elementos são relacio-nados a tratamento nacional, obrigações conflitan-tes impostas às empresas e incentivos e desincenti-vos ao investimento internacional.

Essas Diretrizes fornecem princípios e padrões volun-tários para uma conduta empresarial consistente com as leis adotadas e os padrões reconhecidos internacio-nalmente. Os países aderentes às Diretrizes assumem um compromisso vinculante de implementá-las em conformidade com a decisão do Conselho da OCDE.

Em 27 de junho de 2000, o Brasil se comprometeu a implementar e a divulgar as Diretrizes da OCDE, com o intuito fornecer princípios e padrões voluntários para uma conduta empresarial responsável. O Pon-to de Contato Nacional (PCN) é o fórum permanente responsável por disseminar no Brasil essas Diretrizes. No PCN, a CNF tem acompanhado as “Alegações de Inobservância das Diretrizes da OCDE” em relação ao setor financeiro. O PCN foi instituído no Brasil pela Portaria do Minis-tro da Fazenda nº 92/2003. O PCN foi concebido para contar com a participação de representantes de vá-

rios Ministérios: da Fazenda; das Relações Exteriores; do Planejamento, Orçamento e Gestão; do Trabalho e Emprego; da Justiça; do Meio Ambiente; de Ciência e Tecnologia; do Desenvolvimento, Indústria e Co-mércio Exterior; da Agricultura, Pecuária e Abaste-cimento; além do Banco Central. A Coordenação do PCN fica a cargo da Secretaria de Assuntos Interna-cionais do Ministério da Fazenda (SAIN/MF).

A importância do PCN reside em sua capacidade de articular diferentes atores púbicos e privados para execução e divulgação de diretrizes internacionais que podem se traduzir em políticas públicas com potencial de afetar, direta e indiretamente, o se-tor financeiro. A implementação das Diretrizes da OCDE contribui para a construção da imagem do Brasil no exterior.

CAPÍTULO 24: QUESTÕES INTERNACIONAIS

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CONSELHO DE REPRESENTANTES

PresidenteLuiz Carlos Trabuco CappiVice-PresidenteÉrico Sodré Quirino Ferreira

Membros Natos (em ordem alfabética por Associada)

Presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC)Manoel Felix Cintra Neto

Presidente da Associação Brasileira das Entida-des de Crédito Imobiliário e Poupança (ABECIP)Octavio de Lazari Junior

Diretor Presidente da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (ABECS)Marcelo de Araújo Noronha

Presidente da Associação Brasileira das Empresas de Leasing (ABEL)Osmar Roncolato Pinho

Presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (ACREFI)Érico Sodré Quirino Ferreira

Presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA)Denise Pauli Pavarina

Presidente da Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos de Valores, Câmbio e Mercadorias (ANCORD)Carlos Alberto Botelho de Souza Barros

Presidente da Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN)Murilo Portugal Filho

Membros EleitosLuiz Carlos Trabuco Cappi e Ney Castro Alves

FICHA TÉCNICA

DIRETORIA EXECUTIVA

Diretor PresidenteLuiz Carlos Trabuco Cappi

Vice-PresidenteOswaldo de Assis Filho

Vice-Presidente ExecutivoJosé Ricardo da Costa Aguiar Alves

Diretores Executivos (em ordem alfabética)Carlos Alberto Marcondes Machado (ACREFI)Carlos Eduardo Sampaio Lofrano (ABBC)Filipe Ferrez Pontual Machado (ABECIP)José Carlos Halpern Doherty (ANBIMA)José Ricardo da Costa Aguiar Alves (Art 13, inc IV e Art 18, inc II, dos Estatutos Sociais)Luis Fernando Staub (ABEL)Oswaldo de Assis Filho (FEBRABAN)

ASSESSORIA

Gerentes de Relações InstitucionaisDamião Cordeiro de MoraisMarconi Edson Borges MachadoPedro Henrique Pessanha RochaRicardo Magaldi MessettiRoberta Jacarandá Moreira Azevedo

AssessoresAngra Máxima BarbosaDéurick Grégory Rodrigues da MotaEliel Miranda da SilvaGuilherme de França TeixeiraHenrique Souza BorgesIraciara Almeida SouzaJuliano Santos de LimaKelly Dantas da SilvaMariana de Oliveira SinícioThaline de Souza Lima

APOIO ADMINISTRATIVO

Gerente AdministrativoSenhorinha Leite Bécio

Apoio AdministrativoAndré Luiz Santana SilvaSara Maciel Bezerra Diniz

ORGANIZAÇÃO E EDIÇÃO

Henrique Souza Borges

REVISÃO

Adriano Pereira Bastos

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO

Estúdio Marujo

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Agenda do setor financeiro 2015. ― 1. ed. ― Brasília, DF : Confederação Nacional das Instituições Financeiras, 2015.

ISBN 978-85-64465-05-3

1. Agenda legislativa 2. Instituiçõesfinanceiras 3. Sistema financeiro – Brasil.

15-00721 CDD-338.0981

Índices para catálogo sistemático:1. Agenda legislativa do setor financeiro : Brasil : Economia338.0981

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