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Agenda Cultural OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

Agenda Cultural · económicas e nutricionais, a auto-suficiência alimentar baseada no arroz não é possível, nem ... História da Arte: a criação artística acom-

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Agenda Cultural

O U T U B R O / N O V E M B R O / D E Z E M B R O 2 0 1 6

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Editorial

Cultura é arte, mas é também conhecimento e atitude. O modo como a comida é preparada e consumida é tão impor-tante como o acesso aos alimentos. No nosso país, muitas crianças sofrem de défice ponderal, enquanto

que muitas mães (e pais) têm excesso de peso ou são obesos. Muitas doenças crónicas graves, como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e certos cancros são provocadas por um regime ali-mentar pouco variado, com poucas fibras e dema-siado sal, gorduras e açúcares. O regime alimen-tar depende, em grande parte, dos conhecimentos e atitude das pessoas perante o consumo desses aimentos. Também do poder de compra e outros constrangimentos dos indivíduos e das famílias. Muitas vezes, sobretudo nas cidades, os pratos que denunciamos como pouco saudáveis são os mais baratos e podem ser comprados à beira da estrada, o que é prático sobretudo para os jovens.

Nesta 4ª edição da Agenda Cultural de Bissau e a última de 2016, o tema central é a alimen-tação como factor de cultura (educação, conhe-cimento, identidade e inovação). Deste modo, o(a) leitor(a) poderá encontrar nas páginas a seguir, informações sobre os traços da história da colonização e da escravatura relacionados com a cultura alimentar; uma reportagem sobre a agri-cultura peri-urbana; uma proposta de descoberta da Granja de Pessubé – laboratório de Amílcar Cabral; um roteiro pelos principais mercados e feiras da capital; e a arte culinária. Inclui ainda como é habitual informações sobre outros tipos de eventos promovidos pelos Centros Culturais.

Hoje, muito do arroz que consumimos não é o nosso arroz. É arroz importado. A mão-de-obra agrícola escasseia, enquanto o número de consu-midores continua a aumentar. As chuvas são me-nos abundantes e mais irregulares. Muitos solos estão degradados. Faltam sementes de qualidade, pois os enormes progressos da pesquisa agrícola pós-independência foram abandonados ou des-truídos. Atualmente, uma percentagem significa-tiva de guineenses tem uma única refeição diária. Entre duas colheitas, muitos camponeses passam fome. O kuntangu tornou-se o prato quase-quoti-diano de muitas famílias rurais e citadinas.

A Guiné-Bissau importa anualmente toneladas de legumes e frutas, essencialmente dos países vizinhos. Frequentemente são produtos impor-tados e reexportados por esses países que assim

arrecadam os benefícios fiscais e comerciais. Os perdedores, são os consumidores guineenses com fraco poder de compra (a maioria) e também os produtores e desempregados nacionais, mal equi-pados, capacitados e incentivados para entrar no mercado nacional e satisfazer a procura em au-mento constante. E o nosso Estado que não tem nenhum benefício fiscal dessas transações.

O argumento predileto de muitos (dentro e fora do país) é que é mais barato importar arroz e outros produtos alimentares. É um argumento falacioso, que não é baseado em nenhuma análise séria em matéria de economia e de economia política da nossa agricultura.. É uma posição ideológica e ser-ve sobretudo de justificação para o desinteresse dos poderes públicos relativamente aos agriculto-res e consumidores guineenses. A auto-suficiência alimentar é possível no nosso país. É mesmo in-dispensável para o nosso desenvolvimento, pois as divisas que gastamos com as importações podiam servir para adquirir bens de equipamento e outros bens para a economia e a sociedade.

Podemos aumentar substancialmente a produ-ção do arroz e devemos fazê-lo. No entanto, por razões ambientais, demográficas, agronómicas, económicas e nutricionais, a auto-suficiência alimentar baseada no arroz não é possível, nem indispensável. Ao lado do aumento da produção do arroz, o futuro da alimentação e nutrição está no aumento da produção e do consumo de milhos, raízes, tubérculos, frutas e legumes etc. Estes, assim como os alimentos de origem ani-mal, haliêuticos e terrestres devem estar mais presentes nos nossos pratos. Isso implica mudan-ças estruturais na nossa agricultura, economia e comércio contra as quais se elevarão várias vo-zes, sobretudo daqueles que hoje beneficiam com as importações massivas.

As mudanças serão também de natureza cultu-ral. Pedir ao guineense para consumir menos ar-roz, mesmo que esta seja atualmente a realidade tangível de muitos, no campo e na cidade, é quase uma ofensa, para não dizer mais. Mas é o futuro. É possível consumir menos arroz, para continuar a consumi-lo e para viver melhor, beneficiando o máximo possível da nossa Natureza, assim como das capacidades dos nossos produtores e outros operadores nos sistemas alimentares do nosso país. A presente edição da Agenda Cultural é um convite e um desafio de diversificação da nossa produção e do nosso consumo alimentar.

José Filipe Fonseca Engº Agrónomo

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Calendário

coordenação Miguel de Barros

conselho técnico Corubal | Direção Geral da Cultura | CMB | CCP | CCBGB | CCFBG | CCJCS

supervisão geral Amélia Costa Injai

redacção António Spencer Embaló, Amélia Costa Injai, Frederico Cabral, Edison Ferreira, Fábio Sousa, Hosper Garba, Minhone Nancanha Seidi

participação especial Daniel M. Correia, David Afonso, Fernando Arlete, Fernando Perdigão, José Filipe Fonseca, Maria Abranches, Juca Delgado

foto de capa Maria Abranches

concepção gráfica Diogo Lencastre

logística Carlos José Mendonça

impressão INACEP - EP

tiragem 1000 exemplares

edição Corubal

distribuição Gratuita

financiamento Câmara Municipal de Bissau | CAMÕES - Instituto da Cooperação e da Língua

contactos [email protected]

OUTUBRO DE 2016

Agenda Culturalfinanciadores

patrocinadores

parceria

1ª QUINZENA DE OUTUBRO

EXPOSIÇÃO: “ORA DI DIRITU”

5 DE OUTUBRO, 17H30

TERTÚLIA CCP: A REPÚBLICA, DE PLATÃO

10 DE OUTUBRO, 2ª A 6ª

ABERTURA ANO LECTIVO

15 DE OUTUBRO

PRÉMIO DE JORNALISMO

16 DE OUTUBRO

DIA MUNDIAL DE ALIMENTAÇÃO

22, 24 E 25 DE OUTUBRO

IV.ª OFICINA DE ESCRITA E PRODUÇÃO LITERÁRIA

27 DE OUTUBRO A 11 DE NOVEMBRO

WORKSHOP DE PINTURA MURAL

17 DE NOVEMBRO

QUINTA-FEIRA É DIA DE TEATRO!

5 DE NOVEMBRO

DIA MUNDIAL DO CINEMA: GUINÉ-BISSAU NO FESTIVAL CLAP IVOIRE 2016

10 DE NOVEMBRO

TERTÚLIA CCP: HISTÓRIA DA ARTE

28 DE NOVEMBRO A 18 DE DEZEMBRO

EXPOSIÇÃO DO II.º CONCURSO NACIONAL DE PANO DE PENTE

1ª QUINZENA DE DEZEMBRO

QUINZENA DOS DIREITOS

2 E 3 DE DEZEMBRO

FEIRA DE ORIENTAÇÃO A PROFISSÃO

9 DE DEZEMBRO

EXPOSIÇÃO RETROSPETIVA DE FERNANDO E MANUEL JÚLIO

10 DE DEZEMBRO

EDUCAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS

20 DE DEZEMBRO

CONCURSO DE CONTOS DE NATAL

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AGENDA

5 DE OUTUBRO, 17H30

TERTÚLIA CCP: A REPÚBLICA, DE PLATÃOCENTRO CULTURAL PORTUGUÊS

O Centro Cultural Portu-guês e o grupo de Teatro Experimental de Bissau apresentam a utopia políti-ca e social da obra A Repú-blica, de Platão, com ajuda do sociólogo Dautarin da Costa. Destina-se principal-mente ao público escolar. Os professores interessados em participar com os seus alunos deverão inscrever--se através do e-mail [email protected], mas a en-trada é livre no djumbai.

1ª QUINZENA DE OUTUBRO

EXPOSIÇÃO: “ORA DI DIRITU” CASA DOS DIREITOS , RUA GUERRA MENDES/BISSAU VELHO

Exposição sobre direitos das mulheres e crianças, realizado no quadro de projectos financiado pela UE e cofinanciado pelo Camões, desenvolvido pela ACEP, AMIC, LGDH e Tiniguena.

07 a 16 de OUT

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15 DE OUTUBRO

PRÉMIO DE JORNALISMOCASA DOS DIREITOS RUA GUERRA MENDES/BISSAU VELHO

Observatório dos direi-tos vai fazer a abertura da terceira edição do prémio jornalismo e Direitos Hu-manos. que visa reforçar o papel dos jornalistas en-quanto agentes preponde-rantes para uma mudança de mentalidade na socieda-de guineense participada na construção de uma cultura democrática e cívica com vista à promoção e à defesa dos direitos humanos.

10 DE OUTUBRO, 2ª A 6ª

ABERTURA ANO LECTIVOCENTRO CULTURAL JOSÉ CARLOS SCHWARZ BÔR, RUA SPORTING

O centro Cultural vai contar com aulas de Piano, Viola, Bateria, percussão, Oficina de dança Tradicional africa-na, (com monitores de grupo cultural Netos de Bandim).Aulas de artes plásticas com professor Felisberto Pereira cá (Botodjo).Centro introduziu novas aulas com instrumentos de sopro: Trompete, saxofone, trombone, clarinete.Aulas de teatro com moni-tores de grupo cultural os Fidalgos.O centro conta ainda com estúdio de gravação profis-

sional com produtor Naty Pró, salas de espetáculo ao vivo, exposições, lançamen-tos de livros, atividades lú-dicas e recreativas, seminá-rios, palestras etc…Para mais informações con-tactar o centro em horário expediente.

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AGENDA

16 DE OUTUBRO DE 2016DIA MUNDIAL DE ALIMENTAÇÃO

22, 24 E 25 DE OUTUBRO, 9H30

IV.ª OFICINA DE ESCRITA E PRODUÇÃO LITERÁRIACENTRO CULTURAL PORTUGUÊS

As Edições Corubal e o Centro Cultural Português organizam mais uma Ofi-cina de Escrita e Produção Literária em Bissau, com o objetivo de incentivar no-vos escritores guineenses e divulgar as técnicas e os truques da escrita criativa. O escritor convidado é o Rui Cardoso Martins, autor do romance E se Eu Gostasse Muito de Morrer, fundador das Produções Fictícias, ar-gumentista do programa Contra Informação e jorna-lista em Portugal.

27 DE OUTUBRO A 11 DE NOVEMBRO, 16H30

WORKSHOP DE PINTURA MURALCENTRO CULTURAL PORTUGUÊS

A MONTE e a Câmara Mu-nicipal de Bissau, com apoio da Embaixada de Portugal e do Camões IP, promovem no CCP um workshop sobre técnicas de pintura mural e urbana que terminará com a realização efetiva de uma pintura coletiva, sobre o tema da proteção da biodi-versidade da Guiné-Bissau, no muro adjacente ao Par-que Urbano de N’Batonha. O curso é gratuito e os in-teressados poderão inscre-ver-se enviando apenas um desenho original através do e-mail [email protected] ou no CCP.

PROGRAMA PROVISORIO

11/10/2016

“Djumbai” temático: local a confirmar

Apresentação de 3 temas: – Alterações Climáticas, – Agricultura e Segurança alimentar– Meio ambiente.

Apresentação de 3 documentários: – Reabilitação de bolanhas (da ONG VIDA), – Agricultura em geral (ESSOR-KAFO) – e Resíduos Urbanos (LVIA/Procivicus).

12/10/2016

Visita às atividades da agricultura familiar periurbana em Bissau: Bolanha de Antula, CEDAVES, Centro de transformação de produtos, Loja “Sabor da Tabanca”

18:00 Debate no Programa “Nô Labur” da TVGB

14/10/2016

16:00 Torneio de futebol. Local onde será realizado o ato central do Dia Mundial de Alimentação 2016

15/10/2016

6h00 Marcha desportiva: Rotunda do aeroporto/Praça dos Heróis Nacionais– Teatro na rua, depois da chegada da marcha desportiva. Praça dos Heróis

Nacionais– Marcha dos agricultores do Sector Autónomo de Bissau. Praça dos Heróis

Nacionais/Praça Mártires de Pindjiguiti– Feira de produtos locais- Praça Mártires de Pindjiguiti

09H00 Debate radiofónico. RND em cadeia com a Rádio Sol Mansi e outras rádios da capital

16/10/2016:

Ato Central: local a confirmar

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5 DE NOVEMBRO, 19H30

DIA MUNDIAL DO CINEMAGUINÉ-BISSAU NO FESTIVAL CLAP IVOIRE 2016CENTRO CULTURAL PORTUGUÊS

No Dia Mundial do Cinema, o Centro Cultural Por-tuguês estreia as duas obras que representaram a Guiné-Bissau na última edição do Festival Clap Ivoi-re e que receberam menção honrosa: o documentário “Maimuna”, de Atcho Express, e a curta-metragem “Floresta Espinhada”, de Rui Manuel da Costa (Rui Pape di Nha Raça). Entrada livre.

17 DE NOVEMBRO, 18H30

QUINTA-FEIRA É DIA DE TEATRO!CENTRO CULTURAL PORTUGUÊS

A partir de 17 de Novembro e até ao final do ano, sem-pre à 5.ª feira, sem inter-rupções, o Centro Cultural Português e o Teatro Expe-rimental de Bissau repõem uma nova adaptação de O Inominável, de Beckett, e encenam outras adaptações originais de alguns textos importantes da literatura portuguesa, guineense e es-trangeira: Os Pobres (Raul Brandão), Fogo Fácil (Ma-rinho de Pina), Contos de Maldoror (Lautréamont), O Aleph (Jorge Luís Borges) e As Orações de Mansata (Ab-dulai Silá). Entrada livre.

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10 DE NOVEMBRO, 17H30

TERTÚLIA CCP: HISTÓRIA DA ARTECENTRO CULTURAL PORTUGUÊS

O Centro Cultural Português e o grupo de Teatro Experimental de Bissau falam de História da Arte: a criação artística acom-panha a história do pensamento humano, da tecnologia, da produção económica e das ideias políticas em cada momento. In-fluenciam-se reciprocamente. Conhecer o pensamento subjacente aos principais es-tilos e movimentos artísticos ajuda-nos a perceber as ideologias de organização des-sas sociedades, tanto as que pertencem ao passado como as que estão ainda em for-mação. A tertúlia destina-se principalmen-te ao público escolar. Os professores inte-ressados em participar com os seus alunos deverão inscrever-se por e-mail [email protected], mas a entrada é livre.

AGENDA

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1ª QUINZENA DE DEZEMBRO

QUINZENA DOS DIREITOSCASA DOS DIREITOS RUA GUERRA MENDES/BISSAU VELHO

apresentações de livros, exposições, debates, pré-mios de jornalismo, tudo subordinados ao tema dos direitos humanos. Inicia-tiva promovida pela Casa dos Direito e organizações membros, com colaboração de outras instituições na-cionais e da cooperação in-ternacional.

28 DE NOVEMBRO A 18 DE DEZEMBRO

EXPOSIÇÃO DO II.º CONCURSO NACIONAL DE PANO DE PENTECENTRO CULTURAL PORTUGUÊS

A Embaixada de Portugal e o Camões IP, em parceria com o Ministério do Comér-cio e Artesanato, organizam o II.º Concurso Nacional de Pano de Pente e expõem no CCP as obras recebidas. Mais informação sobre condições de participação junto daquele Ministério, na Secretaria do CCP ou por e-mail: [email protected]

2 E 3 DE DEZEMBRO

FEIRA DE ORIENTAÇÃO A PROFISSÃO BAIRRO DE AJUDA

2ª Edição da Feira de Orientação a Pro-fissão, Emprego e Auto- emprego e a Conferência Nacional sobre a Formação Profissional e Inserção no mercado de Trabalho.Iniciativa que prevê complementar o trabalho do Governo e de outras enti-dades não estatais, no âmbito da polí-tica do emprego e da formação profissional e visa, entre ou-tros objectivos, conscienciali-zar a comunidade e os jovens em especial, na necessidade de olhar a formação e o empreen-dedorismo como instrumento capaz de promover a redução do desemprego e da pobreza.Iniciativa promovida pela ES-SOR em colaboração com o

Ministério da Função Publica, através da Direção Geral do trabalho e For-mação Profissional e outros parceiros membros da Rede Nacional da Forma-ção e Inserção Profissional ( RENAFIP).Organizações interessadas em partici-par como expositores contactar: [email protected]

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9 DE DEZEMBRO, 18H

EXPOSIÇÃO RETROSPETIVA DE FERNANDO E MANUEL JÚLIOCENTRO CULTURAL PORTUGUÊS

AGENDA

Exposição de desenho, pin-tura e fotografia de Fernan-do e Manuel Júlio. Há quase cinco décadas que os dois irmãos gémeos interpretam a vida na cidade e a identida-de guineense, com diferen-tes técnicas mas sempre com uma visão sin-gular. Esta exposição procura reconhecer o lugar fundamen-tal dessa visão

na história da arte da G u i n é --Bissau.

OFERTA DE CURSOS DO CCP

CURSO DE LÍNGUA PORTUGUESANíveis I, II e III. Duração 9 meses. Custo 15.000 Xof por trimestre. Informação e inscrições no CCP, sala de aula da AJALV, todos os dias a partir das 14h.

CURSO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA ESTRANGEIROSDiversos níveis. Informação e inscrições com a Professora Sandra Mula. E-mail: sandra.mula@

gmail.com

CURSO DE KORANível de iniciação. Com professor Demba Ga-

lissa. Informação e inscrições na Secreta-ria CCP e por telefone (+245955307733),

entre as 8h e as 16h, ou por e-mail ([email protected]).

10 DE DEZEMBRO, 10H

EDUCAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS

CENTRO CULTURAL PORTUGUÊS

No dia em que se cele-bra a assinatura da De-claração Universal dos Direitos Humanos, o Centro Cultural Portu-

guês organiza atividades de animação para os mais pequenos sobre o tema dos direitos, com profissionais de Educação de Infância. A entrada é livre.

20 DE DEZEMBRO, 17H30

CONCURSO DE CONTOS DE NATALCENTRO CULTURAL PORTUGUÊS

A Embaixada de Portugal e o Centro Cultural Portu-guês promovem um curso de contos literários infantis sobre o tema do Natal, em língua portuguesa, destina-do aos alunos das escolas do ensino básico. A redação é livre e haverá prémios para os alunos e um projeto de equipamento até 1.500.000 FCFA para a escola vence-dora. Os contos deverão ser entregues até dia 15 de dezembro no CCP e no dia 20 serão lidas as melhores histórias.

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Fonte: livro"Da Mesa à Horta"

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crónica

Perguntaram ao pai do campeão olím-pico jamaicano Usain Bolt as razões do sucesso do filho. A resposta foi de

que Usain, começou a comer inhame muito cedo. Penso que essa resposta, tinha mais a ver com a cultura e a História do que com as virtudes nutricionais do inhame, embora estas também sejam importantes. A maioria da população da Jamaica e das Caraíbas é descendente de escravos africa-nos e consideram as plantas alimentares de origem africana como um elemento im-portante da sua identidade. Além do inha-me, a África deu às Américas e ao mundo o sorgo, o milho miúdo, o tamarindo, o gengibre, o baguitche, o quiabo (candja), o óleo de palma, o café, a noz de cola e o arroz. Da noz de cola extrai-se um dos dois principais ingredientes da coca-cola. O ou-tro é extraído da coca, uma planta amerín-dia. Coca-cola é a bebida mais vendida no mundo e está presente na cultura urbana de todos os continentes.

Na alimentação, como noutros domínios, cultura é dar e receber. Os africanos deram ao mundo várias plantas, mas receberam outras como a mandioca, o milho, a batata, a batata doce, a banana, etc. Adaptámos estes alimentos, tão perfeitamente que pensamos que sempre existiram em África.

JFF

HISTÓRIA E CULTURA DO ARROZ

A ARTE CULINÁRIA

A arte culinária guineense compõe--se das artes das diferentes etnias e regiões. A gastronomia nacional

é fruto dessa diversidade, que deve ser protegida, e também dos contactos com os povos vizinhos e do mundo. A arte culiná-ria possibilita e reforça o convívio familiar e social, a hospitalidade, o sentimento de pertença a uma comunidade. Podemos

“Da noz de cola extrai-se um dos dois principais ingredientes da coca-cola. O outro é extraído da coca, uma planta ameríndia. Coca-cola é a bebida mais vendida no mundo e está presente na cultura urbana de todos os continentes”

receber condignamente e sem complexos, quaisquer visitantes, da pessoa mais hu-milde ao chefe de Estado estrangeiro.

JFF

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Dos alimentos de origem africana, o arroz é o mais emblemático de to-dos, pelo seu simbolismo cultural

e pelo seu papel na subsistência de milhões de pessoas pelo mundo fora. O arroz foi o primeiro alimento exportado em grande escala a nível mundial a partir sobretudo do Sul dos Estados Unidos, enriquecendo os proprietários de escravos e os seus des-cendentes. Graças, em grande parte, ao tra-balho e conhecimentos dos escravos. Durante a sua emigração forçada para as Américas, os escravos guineenses e de ou-tros lugares da África Ocidental levaram consigo não só o material genético (semen-tes), mas também técnicas de produção e descasque e a própria gastronomia do ar-roz. Para os escravos e as suas famílias, o arroz representava a subsistência, não só física mas também mental. O arroz era a sua História, as suas raízes, a sua cultura, a sua identidade. Ainda hoje, um dos pratos que representa a gastronomia do Maranhão (Brasil) é o arroz de cuxá (baguitche em Mandinga). O arroz e o baguitche foram levados por escravos guineenses que foram os primeiros a cultivá-los e a cozinhá-los nesse país. Além do arroz e do baguitche, introduziram no Maranhão pratos na base do cacre das bolanhas, como no seu país de origem. Um outro exemplo vem do México. Neste país, principalmente no Estado de Vera Cruz, os escravos da Senegâmbia (que na altura, ia da Gâmbia à Serra Leoa e englo-bava a Guiné-Bissau) deixaram como legado a cultura e a gastronomia do arroz, não só na cidade Mandinga como noutros lugares. Na cidade de Vera Cruz, existe um famoso

restaurante chamado Mandinga, em recor-dação e homenagem aos escravos africanos.O arroz foi domesticado na África Ocidental há 3500 anos. Quando os portugueses trou-xeram o arroz asiático para a Guiné-Bissau, nós já dominávamos a orizicultura há cerca de 30 séculos. Para os guineenses, o arroz é o alimento de base, mas também a sua ma-neira de estar no mundo, seja onde se encon-tram. Mas a nossa gastronomia não é só o arroz. No nosso país, a grande diversidade de produtos cultivados e não-cultivados, de espécies animais e de produtos do mar e dos rios constitui a base material da nossa gas-tronomia. Temos capacidade e produtos tão vastos que nos permite ter uma roda alimen-tar diversificada e rica. Uma base importan-te e imprescindível na saúde e bem estar.

JFF

O ARROZ: DA ÁFRICA PARA AS AMÉRICAS

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Crónica

Outrora uma relíquia com história. Um espaço densamente arboriza-do, um autêntico jardim botânico

com viveiros de plantas exóticas das mais diversas proveniências, além de toda a es-sência florestal nacional, mas hoje, um ter-reno baldio como qualquer. Implantação anárquica de casas de habitação, a tomar contornos de novos bairros.Criada em 1948, a Granja de Pessubé pos-suía uma área inicial de 120 hectares, dos quais só restam hoje cerca de 45. Estava dividida em partes distintas:

– a primeira comportava o Departamen-to de Hidráulica e Solos, Laboratório Nacional de Sementes, Departamento de Equipamento e Máquinas, Serviços de Proteção Vegetal, Cintura Verde de Bissau.

– segunda integrava a Direção dos Ser-viços Pecuários e a Empresa Suinave para a produção de frangos e suínos. Chegaram a passar por lá várias es-pécies de fauna selvagem do país em quarentena e trânsito para o exterior, algo que constituía um enorme fascí-nio e atração para a população juvenil de Bissau.

O ponto mais alto do seu valor histórico foi o facto de ter servido de base logística ao projeto de recenseamento agrícola ou do desenvolvimento rural, levado a cabo por Amílcar Cabral nos anos 60. Cabral por residir na Granja, também se dedicava a es-tudo de solos e experimentação de plantas exóticas, tendo deixado variedades de pal-meiras de dendém.Na atualidade, no seu interior, vimos nas-cer iniciativas populares levadas a cabo por mulheres que permitiram a integração no local da produção hortícola um centro de formação profissional e as instalações edu-cativas da Aldeia SOS. Vozes públicas da Sociedade Civil guineense advogam a con-versão da Granja num centro universitário e de pesquisa científica aplicada.

FP/MB

GRANJA DO PESSUBÉ

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roteiro dos mercados

MERCADO DE CARACOL

ESTATUTO: Mercado Popular

ANO DE REABILITAÇÃO: 2001

LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA: Bandim-1

HISTÓRICO: O mercado, ou feira de caracol como é vulgarmente conhecido iniciou-se como um beco entre 1981 e 1986 e começou a transformar-se em feira a partir de 1987.

A feira de Caracol passou a mercado no ano de 2001 no âmbito do Fundo Europeu para países em desenvolvi-mento.

O principal motivo da sua construção está relacionado com a lotação do mercado de Bandim e a proliferação de cacifos de venda de roupas, calçados e outros artigos de beleza e cosmética sem um planeamento territorial.

A aposta neste segmento do mercado em detrimento de bens de primeira necessidade acabou por motivar a

venda ambulante nos passeios que se foi estendendo até ao local onde presentemente está estabelecido o mercado de Caracol.

Projetado e construído o mercado de Caracol passou a albergar pavilhões e bancadas próprias para a venda de carne, peixe, legumes etc...

PRINCIPAIS PRODUTO: Atualmente o mercado de Caracol é conhecido como a feira dos legumes e hortaliças. Em termos de fluxo é considerado o segundo mercado mais visitado e fun-ciona como um mercado abastecedor de outras feiras.

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FEIRA DE ANTULA

NOME POPULAR: Feira de Antula

ESTATUTO: Mercado

ANO DE CONSTRUÇÃO: 1994

LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA: Antula-Bono

HISTÓRICO: A construção do mercado de Antula enquadra-se no Projeto de viabilização do Bairro de Antula Bono.

Os motivos principais que levaram a sua projeção e construção foi o aumento da capacidade de procura consequente da crescente procura de espaços de comercialização de produtos no mercado de Bandim que obrigou a um desmantelamento dos cacifos erguidos de forma anárquica. Por outro lado projetou-se o mercado devido ao crescimento do Bairro de Antula e a necessidade do abasteci-mento deste bairro.

Tendo em conta a sua localização geo-gráfica e considerado na altura muito longe do centro, após a sua construção houve muita resistência em termos de ocupação por parte dos vendedores por não favorecer o negócio.

Só passados 10 anos, a partir de 2004, começou a ser utilizado. A estratégia utilizada para a sua valorização foi a realização de lumus1 semanais.

Esta atividade acabou por dar a conhecer o mercado e os vendedores acabaram por se fixar.

PRINCIPAIS PRODUTOS: Atualmente este mercado detém um importante papel no abastecimento em termos de alimentos de primeira necessidade contribuindo deste modo para a re-tenção da população que não necessita deslocar-se para longe para fazer as suas compras e ainda para o aumento de renda dos vendedores da zona.

É considerado o mercado mais bem or-ganizado e bem projetado em termos de infra-estruturas de apoio.

1 Lumus, são feiras locais e de proximidade. Tem permitido uma redução considerável em termos de preços, uma vez que não há intermediários no proces-so da venda, o produto final é vendido diretamente do produtor para o consumidor e ou em regime de permuta. Permite ainda a compra em grandes quanti-dades que podem ser estocados ou revendidos.

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MERCADO DE BANDIM

NOME: Feira de Bandim

ESTATUTO: Mercado

LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA: Mindará

ANO DE CONSTRUÇÃO: Dédada de 60

HISTÓRICO: O mercado de Bandim surgiu no início da década de 60. O seu surgimento não está na sequên-cia de uma planificação urbanística, sendo que inicialmente se chamava o beco de Bandim. Com o passar dos anos o fluxo comercial aumentou e passou a denominar-se feira da curva de Bandim.

Com a aglomeração das pessoas e a intensificação das trocas comerciais devido a sua localização no coração da cidade, foi projetada a sua expansão e infraestruturação para o local onde atualmente se encontra o mercado de Bandim, abarcando parcialmente o Alto Crim e o bairro de Mindará.

PRINCIPAIS PRODUTOS: Atualmente o mercado de Bandim ocupa o primeiro lugar no fluxo comercial e financeiro da capital guineense no que concerne a aglomeração de pessoas, diversidade de produtos, serviços e todos os trans-portes urbanos coletivo de passageiros passam por este mercado.

Na verdade, pode-se comprar pratica-mente tudo no mercado de Bandim.

roteiro dos mercados

MERCADO CENTRAL

ESTATUTO: Mercado

LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA: Chão de Papel

ANO DE CONSTRUÇAO: Era colonial, década de 60.

HISTÓRICO: O mercado Central de Bissau, vulgarmente conhecido como Feira da Praça, data da era colonial.

O mercado original sofreu um primeiro incêndio em 1998 na sequência dos Bombardeamentos que ocorreram a du-rante o conflito armado de 7 de Junho de 1998/99. Foi reabilitado em 1999 e em 2006 sofreu um segundo incêndio que destruiu totalmente o mercado.

Inicialmente, os vendedores, que tudo tinham perdido improvisaram um mer-cado alternativo nas calçadas próximas às ruinas do mercado onde colocaram as suas bancadas e deixaram-se ai estar por aproximadamente 4 anos.

O “mercado” provisório foi transfe-rido e instalado na Rua Lamine Injai

em 2010 para fazer face as condições precárias e sem segurança em que operavam os vendedores.

Em 2012 iniciaram as obras de cons-trução de um novo mercado, mas tudo ficou paralisado devido ao golpe de Estado militar de 12 de Abril de 2012, não havendo até a data uma previsão para a sua conclusão.

PRINCIPAIS PRODUTOS: Atualmente o provisório mercado Central de Bissau carece de infraestruturas, mas desfrui de um estatuto privilegiado, uma vez que se situa no centro de Bissau. Nele podemos encontrar uma seleção de topo dos mais variados tipos de legu-mes, hortaliças, frutas e ainda pescado da melhor qualidade.

A forma de apresentação dos alimentos aliada qualidade dos mesmos faz deste “mercado” provisório o preferido para a classe média e alta residente na nossa capital, bem como os cooperantes.

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