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E D I T O R I A L ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, AGOSTO/2011 - ANO XIV - N o 175 O ESTAFETA Foto arquivo Pro-Memória Mais uma vez nos ocupamos em registrar a vergonhosa cultura da corrupção que permeia diferentes áreas dos governos. Sucessivas denúncias de desvio de recursos públicos vêm sendo manchetes nos meios de comu- nicação. Do âmbito federal ao muni- cipal, novos escândalos de corrupção são descobertos quase que diaria- mente. Pior é que o dinheiro desviado por verdadeiras quadrilhas que se instalam nos governos deixa de ser aplicado em importantes setores de serviço, de maneira que saúde, educa- ção, saneamento básico, infraestrutura e defesa nacional ficam sem recursos para seus projetos. Quando assistimos aos noticiários, temos a impressão de que a corrupção vem crescendo de maneira galopante. Mas isso não é a realidade. Para espe- cialistas, a verdade é que cresceu a percepção desse fenômeno. Há uma maior capacidade de detectá-la, de maneira que ela tem aparecido mais e não aumentado. Outra causa que tem contribuído para o destaque da cor- rupção é que, nas diferentes esferas de governo, cargos importantes são lotea- dos em troca de apoios, de maneira que a maioria dos indicados para ocupá-los são pessoas sem valores e sem prin- cípios sólidos, que só pensam em se locupletar. É comum observarmos políti- cos se enriquecerem num curto espaço de tempo. Compram carros, mansões, sítios e fazendas, ostentando um patrimônio incompatível com seus ganhos. Nosso grande desafio é cons- truir instituições fortes e tomar atitudes para reprimi-la. Nos lugares onde a corrupção diminuiu ao longo do tempo, isso ocorreu pele conjugação de avanços institucionais e intolerância da opinião publica. Entre os fatores que explicam essa mudança estão democracia plena, judiciário independente, serviço público profissionalizado, imprensa livre e independente e educação. Desses fatores, o que julgamos mais importante é a educação, uma vez que, com a população mais educada e mais bem informada, diminuirá muito a passividade dos brasileiros diante da corrupção. As mudanças já estão começando. São lentas, mas irreversíveis. A corrupção tende a diminuir. Hoje já assistimos políticos corruptos perdendo seus cargos e indo para a cadeia. As mudan- ças estão aí. É uma questão de tempo. Não há nada mais nacional do que a cultura de um povo, ou seja, seu folclore. Folclore não é apenas folguedos e festas, como muitos pensam. É a história construída pelos anseios, aspirações e esperanças de um povo. É uma linguagem na qual se manifesta a unidade que mobiliza multidões, que busca sua verdade na identificação da cidadania, preservando seus valores e mantendo vivas suas raízes ao longo das gerações. Em todas as partes do mundo, cada povo tem seu folclore, sua forma de manifestar suas crenças e costumes. O folclore se manifesta na arte, no artesanato, na literatura popular, nas danças regionais, no trabalho, na música, na comida, nas festas populares como o Carnaval, nos brinquedos e brincadeiras, nos provérbios, na medicina popular, nas crendices e superstições, mitos e lendas. O folclore brasileiro é um dos mais diversificados e peculiares do mundo, pois é formado pela mistura de elementos indígenas, portugueses e africanos e da influência de imigrantes provenientes de diversos países. Assim, cada região apre- senta semelhanças e diferenças, o que torna riquíssima a cultura popular brasileira. Na área musical, por exemplo, são inúmeros e muito variados os ritmos e melodias desenvolvidos em nosso país. É o caso do frevo, do baião, do samba, do pagode, da música sertaneja... Há, ainda, as danças típicas das festas populares, como o bumba-meu-boi, o forró, o jongo, a congada, a quadrilha e – é claro – o Carnaval, verdadeiro símbolo de nosso país. Um dos aspectos mais interessantes do folclore brasileiro são os seres sobrenaturais que povoam as lendas e superstições da gente simples. O mais popular é o saci, um negrinho de uma perna só, que usa um barrete vermelho, fuma cachimbo e adora travessuras como apagar lampiões e fo- gueiras ou dar nó nas crinas dos cavalos. Mas há outros seres fantásticos em nosso folclore: o curupira, um anão de cabelos vermelhos que tem os pés invertidos; a mula- sem-cabeça, que solta fogo pelas narinas; a boiúna, cobra gigantesca cujos olhos brilham como tochas; o lobisomem, o sétimo filho homem de um casal que vira lobo nas sextas-feiras de lua cheia... Em 1965, o Congresso Brasileiro oficia- lizou o dia 22 de agosto como Dia do Folclore, numa justa homenagem à cultura popular brasileira. A palavra folclore tem origem no inglês antigo: “folk” significa “povo” e “lore”, estudo das tradições, aquilo que nasceu do povo de forma natural, espontaneamente. 22 de agosto, Dia do Folclore Conhecidos pelos nomes de jacazeiros, balaieiros ou cesteiros, os artesãos da taquara e do bambu estão cada vez mais raros na região. Usam, de preferência, a taquara-bambu e afirmam que a taquara deve ser colhida nos meses sem “erre”, o que lhes garante longa duração. Nos demais meses, só na lua minguante; do contrário, dá caruncho...

AGOSTO 2011

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Ed. 175 - Ano XIV

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Page 1: AGOSTO 2011

E D I T O R I A L

ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, AGOSTO/2011 - ANO XIV - No 175

O ESTAFETAFoto arquivo Pro-Memória

Mais uma vez nos ocupamos emregistrar a vergonhosa cultura dacorrupção que permeia diferentes áreasdos governos. Sucessivas denúnciasde desvio de recursos públicos vêmsendo manchetes nos meios de comu-nicação. Do âmbito federal ao muni-cipal, novos escândalos de corrupçãosão descobertos quase que diaria-mente. Pior é que o dinheiro desviadopor verdadeiras quadrilhas que seinstalam nos governos deixa de seraplicado em importantes setores deserviço, de maneira que saúde, educa-ção, saneamento básico, infraestruturae defesa nacional ficam sem recursospara seus projetos.

Quando assistimos aos noticiários,temos a impressão de que a corrupçãovem crescendo de maneira galopante.Mas isso não é a realidade. Para espe-cialistas, a verdade é que cresceu apercepção desse fenômeno. Há umamaior capacidade de detectá-la, demaneira que ela tem aparecido mais enão aumentado. Outra causa que temcontribuído para o destaque da cor-rupção é que, nas diferentes esferas degoverno, cargos importantes são lotea-dos em troca de apoios, de maneira quea maioria dos indicados para ocupá-lossão pessoas sem valores e sem prin-cípios sólidos, que só pensam em selocupletar. É comum observarmos políti-cos se enriquecerem num curto espaçode tempo. Compram carros, mansões,sítios e fazendas, ostentando umpatrimônio incompatível com seusganhos. Nosso grande desafio é cons-truir instituições fortes e tomar atitudespara reprimi-la. Nos lugares onde acorrupção diminuiu ao longo do tempo,isso ocorreu pele conjugação de avançosinstitucionais e intolerância da opiniãopublica. Entre os fatores que explicamessa mudança estão democracia plena,judiciário independente, serviço públicoprofissionalizado, imprensa livre eindependente e educação. Dessesfatores, o que julgamos mais importanteé a educação, uma vez que, com apopulação mais educada e mais beminformada, diminuirá muito a passividadedos brasileiros diante da corrupção. Asmudanças já estão começando. Sãolentas, mas irreversíveis. A corrupçãotende a diminuir. Hoje já assistimospolíticos corruptos perdendo seuscargos e indo para a cadeia. As mudan-ças estão aí. É uma questão de tempo.

Não há nada mais nacional do que acultura de um povo, ou seja, seu folclore.

Folclore não é apenas folguedos e festas,como muitos pensam. É a história construídapelos anseios, aspirações e esperanças deum povo. É uma linguagem na qual semanifesta a unidade que mobiliza multidões,que busca sua verdade na identificação dacidadania, preservando seus valores emantendo vivas suas raízes ao longo dasgerações.

Em todas as partes do mundo, cadapovo tem seu folclore, sua forma demanifestar suas crenças e costumes. Ofolclore se manifesta na arte, no artesanato,na literatura popular, nas danças regionais,no trabalho, na música, na comida, nasfestas populares como o Carnaval, nosbrinquedos e brincadeiras, nos provérbios,na medicina popular, nas crendices esuperstições, mitos e lendas.

O folclore brasileiro é um dos maisdiversificados e peculiares do mundo, poisé formado pela mistura de elementosindígenas, portugueses e africanos e dainfluência de imigrantes provenientes dediversos países. Assim, cada região apre-senta semelhanças e diferenças, o que tornariquíssima a cultura popular brasileira.

Na área musical, por exemplo, sãoinúmeros e muito variados os ritmos e

melodias desenvolvidos em nosso país. É ocaso do frevo, do baião, do samba, dopagode, da música sertaneja... Há, ainda, asdanças típicas das festas populares, comoo bumba-meu-boi, o forró, o jongo, acongada, a quadrilha e – é claro – o Carnaval,verdadeiro símbolo de nosso país. Um dosaspectos mais interessantes do folclorebrasileiro são os seres sobrenaturais quepovoam as lendas e superstições da gentesimples. O mais popular é o saci, umnegrinho de uma perna só, que usa umbarrete vermelho, fuma cachimbo e adoratravessuras como apagar lampiões e fo-gueiras ou dar nó nas crinas dos cavalos.Mas há outros seres fantásticos em nossofolclore: o curupira, um anão de cabelosvermelhos que tem os pés invertidos; a mula-sem-cabeça, que solta fogo pelas narinas; aboiúna, cobra gigantesca cujos olhosbrilham como tochas; o lobisomem, o sétimofilho homem de um casal que vira lobo nassextas-feiras de lua cheia...

Em 1965, o Congresso Brasileiro oficia-lizou o dia 22 de agosto como Dia doFolclore, numa justa homenagem à culturapopular brasileira. A palavra folclore temorigem no inglês antigo: “folk” significa“povo” e “lore”, estudo das tradições,aquilo que nasceu do povo de forma natural,espontaneamente.

22 de agosto, Dia do Folclore

Conhecidos pelos nomes de jacazeiros, balaieiros ou cesteiros, os artesãos da taquara e do bambuestão cada vez mais raros na região. Usam, de preferência, a taquara-bambu e afirmam que a taquaradeve ser colhida nos meses sem “erre”, o que lhes garante longa duração. Nos demais meses, só na luaminguante; do contrário, dá caruncho...

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Foto Arquivo Pro-Memória

Sob a direção artística da ProfessoraNely Quadrado e a produção geral do MajorAlberto Lessa Bastos, idealizadores doGrupo A.R.T.E. (Artistas Reunidos do TeatroExperimental), de Piquete, a peça IaiáBoneca, encenada no Cine Estrela, em 1957,foi um estrondoso sucesso de público e decrítica. Essa mesma acolhida pôde serobservada nas cidades vizinhas onde atroupe se apresentou. Isso fez com que osjovens e talentosos atores que constituíamo grupo A.R.T.E. se entusiasmassem com oresultado da primeira peça de seu repertório,principalmente após o reconhecimentopúblico manifestado por Ernane Fornari,autor de Iaiá Boneca, que veio do Rio deJaneiro especialmente para assistir à mon-tagem do grupo de Piquete.

Em 1958, a Prof. Nely e seu marido, MajorAldyr Quadrado, deixaram Piquete rumo aNova York. Foram estudar na Universidadede Columbia: ele, assuntos técnicos; ela,assuntos pedagógicos. No entanto, osjovens atores não ficaram órfãos. Assumiua direção do A.R.T.E. o Major Lessa Bastos,que passou a ensaiar quase todas as noites,no Casino da Estrela, uma nova peça. Assim,no dia 30 de abril de 1958, a principal casade diversão de Piquete, o Cine Estrela, maisuma vez ficou superlotada para a apre-sentação de “As Solteironas dos ChapéusVerdes”, da escritora francesa GermaineAcremant. A expectativa do público era

grande, principalmente devido ao sucessoalcançado por Iaiá Boneca. Às 21h preci-samente abriram-se as cortinas para que oMajor Lessa Bastos fizesse a apresentaçãoda peça. O romance “Les Dames AuxChapeaux Verts”, escrito em 1921, é umasátira à vida provinciana e obteve grandesucesso, reeditado inúmeras vezes e tradu-zido em mais de 25 línguas. Por todo omundo, a peça extraída desse romanceagradou. A história se passa numa pequenae antiga região de Artois, no extremo norteda França, no Departamento de Pas-De-Calais. Conta a vida, paixões, raiva e outrossentimentos vividos por mulheres da famíliaD’Anvers, ao mesmo tempo tão juntas e tãoseparadas. Toda essa história é contadanuma peça constituída por três atos e umquadro.

Patrocinada pela FPV, a montagem de AsSolteironas dos Chapéus Verdes, em Pi-quete, contou com um selecionado elencoformado por Mariza Mazza, Orquideia Ban-goim, Dinah Encarnação, Lucy Mesquita,Suely Teixeira, Reginato Carvalho, MirthesMazza, Carlos Ramos da Silva, OswaldoPeixoto, Nino Soares da Costa e CézarDamico. Apesar de o palco do Cine Estrelanão ser adequado para teatro, em que osmovimentos de cenários, contra-regras,orientadores, artistas e outros exigemespaços maiores, a equipe contornou essasdificuldades. O incansável Major Lessa A Redação não se responsabiliza pelos artigos assinados.

Diretor Geral:Antônio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsável:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Máximo Ferreira NettoRedação:Rua Coronel Pederneiras, 204Tels.: (12) 3156-1192 / 3156-1207Correspondência:Caixa Postal no 10 - Piquete SP

Editoração: Marcos R. Rodrigues RamosLaurentino Gonçalves Dias Jr.

Tiragem: 1000 exemplares

O ESTAFETAFundado em fevereiro / 1997

As Solteironas dos Chapéus VerdesBastos com seu dinamismo e entusiasmoarrastou uma excepcional equipe de cola-boradores: a montagem coube ao ProfessorCésar Dória, os cenários a Mendes Bastose Mário Mendes, o maquinário a Willy Vieth,a parte de carpintaria a Benedito Souza,Romeu Dotta e Ércio Molinari, a parte elétricaa José S. Barbosa, os figurinos à Myrthesde Oliveira, a maquiagem a Alberto Lessa,os desenhos a Geraldo Nascimento e JoséP. Masiero. Foi assistente de direção AldaVital Brasil. A contadora, a professora OdaísaFrota, e o ponto coube a José P. Masieroque, mais tarde, se destacaria como diretorde teatro. Ao término do espetáculo, osaplausos incessantes da plateia coroaram ogrupo A.R.T.E.

Imagem - Memória

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O ESTAFETA

GENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

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OlegárioA conversa começou despretenciosa e

terminou em boas risadas, animada que foipelo bom humor do mineiro de Liberdade,Olegário Alves Pereira, que, aos 77 anos,fica com os olhos brilhantes quando lembramomentos da infância passada em Piquete,onde está desde 1939... “Eu era terrível...Conhecia todos os arredores de Piquete...Saía pela manhã e só voltava ao final datarde... Íamos caçar...”. Perguntado sobrealguns colegas “terríveis”, cita GustavoEcklund e Oyama. Daí a conversa tomaoutro rumo, para lembrar as famílias deamigos e as personalidades folclóricas do“Piquete antigo”: Dondoca, Salgado,Substância, Pingo de Ouro, Zé Ovo...

“Eu me tornei o caçula dos quatro filhoscom a morte de um irmão mais novo...”, fazquestão de lembrar. Em Piquete, a mãe, JosinaAlves Pereira, ele e os irmãos foram levadospelo pai, Luiz Antônio Pereira, que já estavana cidade, para o Hotel das Paineiras, deMaria Eufrázia, onde residiram por cerca dedois meses. Depois de curta temporada numacasa na Praça da Bandeira mudaram para aVila Duque. “Aquele local era ótimo... De láficávamos sabendo de tudo o que acontecia.Vi muitas brigas na Praça da Bandeira...”.Conta que ainda não existia na cidade pontealguma de alvenaria: “Não tinha nada...Muitas das vilas e ruas atuais ainda nãoexistiam, eram morros e barrancos cheios demato... No Bambuzinho eram poucas casas...Até mesmo na Praça da Bandeira só haviauns casarões velhos... A Praça 9 de Julhoainda era o Morro da Miquelina... Atrás doatual cinema era um brejo imenso, ondeíamos caçar coelhos”. Seu pai, Luiz AntônioPereira, empreeiteiro e dono de uma frota decarroças, foi o responsável por boa partedas mudanças que ocorreram na cidade apartir do início da década de 1940: realizou amaioria das terraplanagens do município,além da abertura da rodovia Lorena-Itajubáe de obras na área industrial da FPV.

Cursou o Grupo Escolar da FPV, ondefoi aluno das professoras Nina Cunha e

Genésia: “D. Nina dava para levar, mas D.Genésia era brava...”, conta. Cita algunscolegas de escola: Beni, Sebastião Ferreira,Vera Meirelles. Em seguida, cursou Mecâ-nica na Escola Industrial, finalizada em 1952com os colegas Luizinho (da Farmácia),Beni, Gentil Pascoal, José Pedro Nunes, JoséEmílio... Destacou deste período os profes-sores Caio Fox, em Desenho e em Tecnolo-gia, Willy Wieth e Eurico Fernandes. Foicontratado, então, pela FPV, para trabalharno Departamento Educacional, mas ficoupouco tempo, transferindo-se, em 1957, parao Exército. Cursou a Escola de Material Béli-co, especialidade Armamento Pesado. Em1984 aposentou-se: “Entre os períodos civile militar foram 32 anos...”.

Do “Piquete do seu tempo”, Olegário dizque “havia mais aconchego, as pessoas setratavam melhor... Com o crescimento, issodiminuiu... Aí veio a televisão e contribuiuainda mais para o afastamento das pessoas”.

Olegário mora atualmente no Bairro dosMarins, zona rural de Piquete, no sítio São

Francisco, onde man-tém criação de gado,porcos e galinhas...“Lá é tranqüilo. Oclima é mais frio –não gosto muito docalor... Durante asemana somos eu aAna de Lourdes,esposa há 53 anos,desde 26/07/1958.Mas, nos finais desemana, sempre‘baixam’ por lá al-guns dos sete fi-lhos... Isso semfalar nos 16 netose 3 bisnetos”.

Ponto de CulturaJongo de Piquete, um

Novo OlharO Ponto de Cultura “Jongo de Piquete,

um novo olhar” chega à metade dosegundo ano. Nesse período foram rea-lizadas seis oficinas de áudio-visual e deidentidade negra. Também foram ad-quiridas, com recursos do governo federalpor meio do programa Cultura Viva, câmerafotográfica digital e filmadoras visando aregistrar essa manifestação cultural. Estãoprogramadas para este ano ainda umamostra de vídeos, publicação de um livroe produção de um CD.

Coordenado em Piquete pela FundaçãoChristiano Rosa, o Ponto de Cultura“Jongo de Piquete, um novo olhar” temcomo objetivo ampliar os meios de fruição,produção e difusão cultural do Jongo,garantindo à comunidade o acesso a eles.

Por meio deste Ponto de Cultura estãosendo estabelecidos pactos com atoressociais que visam ao desenvolvimentohumano sustentável, no qual a cultura sejaa forma de construção e expressão daidentidade, incorporando referênciassimbólicas e linguagens artísticas noprocesso de formação da cidadania. Comisso, amplia-se a capacidade de apro-priação criativa do patrimônio cultural.

Potencializar energias sociais e cul-turais, dar vazão à dinâmica própria dacomunidade e entrelaçar ações e suportesdirigidos ao desenvolvimento de umacultura cooperativa, solidária e transfor-madora não pode ser mais ativo do quequando seus fazedores e brincantes –neste caso o Jongo de Piquete – se vêemcomo protagonistas dessa ações. Tenta-se, assim, criar uma onda de trans-formação, de invenção do fazer e refazer,que envolva a todos, permitindo a ex´-ploração dos códigos de diferentes meiose linguagens artísticas nos processoseducacionais e uma reflexão crítica sobrea realidade em que os cidadãos se inserem.

Geração de RendaO Ponto de Cultura “Jongo de Piquete,

um novo olhar” vem possibilitando ageração de renda, já que a maior parte dosrecursos fica na cidade. Por meio do Jongo,Piquete tem recebido vários turistas, quechegam por conta dessa atração cultural ese encantam com o poder de nossahospitalidade: em maio, recebemos acomunidade de São Carlos; em junho, foia vez do Jongo da Lapa (RJ) e de Embudas Artes (SP). Os grupos adquiriramlembranças, doces e artesanatos, além deconhecer o Bairro dos Marins.

Grupo de alunos da Escola de Material Bélico, no Rio de Janeiro

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O ESTAFETA Piquete, agosto de 2011Página 4

No capítulo das rupturas e conti-nuidades, o processo histórico segue seucurso marcado pelos acontecimentos, suasefemérides, seus significados e signi-ficantes na constituição do discurso dasnarrativas. Marca-se o tempo contido noespaço, dinamizando-se os dois na efer-vescência das conquistas humanas, ehistórias de vida são relatos para o registrodas memórias.

Assim, a tradicional e histórica FarmáciaSão Miguel transformou-se em FarmáciaSanto Antônio, onde os conceitos detradição e modernidade se conjugaram paracontinuar uma trajetória bem recebida pelopovo de Piquete, iluminada pelo fundadorJoãozinho (João Ramos da Silva) e continu-ada felizmente pelo filho Luciano. Joãozinho,o apelido carinhoso, de sorriso semprepronto, a fala calma, a sabedoria da práticado manuseio dos medicamentos era figuraquerida de todos nós. Ao lado da esposaTerezinha, caríssima amiga de infância,constituía um casal presente e atuante nosnossos encontros sociais. Luciano, aocontinuar o trabalho com o pai, fez oaprendizado certo para o atendimentosempre solícito e prestimoso.

Pois bem. No dia 9 de julho deste 2011,deu-se a inauguração da mudança da antigafarmácia da família Ramos da Silva, paracontinuar a mesma no mesmo endereço da

A Farmácia São MiguelA farmácia dos piquetenses, um bem patrimonial e memorialístico

Avenida Luiz Arantes Júnior frente à praça9 de julho, e a bênção da nova modalidade.O evento ocorreu no dia da data magna dospaulistanos pela Revolução de 1932. Amanutenção dos armários e prateleiras e osbalcões ao lado de novos arranjos, e ainvocação de Santo Antônio (na conti-nuidade da proteção de São Miguel),passaram a codificar uma mentalidade queprecisava se ajustar aos novos propósitos.Lá estão guardadas caras memórias doPiquete, cujo povo recebia o atendimentopersonalizado do “seu Joãozinho” noestabelecimento, ou de bicicleta, a correrpressuroso as ruas da pequena cidade, semesmorecer nem desprezar ninguém.

E também em seguida, do Luciano, queguardou do pai e da avó a ternura do olhar ea atenção sempre disponível ao solicitado.O Joãozinho, fundador da Farmácia SãoMiguel, emparelhava-se ao Dr. Amoroso, oqual reconhecia nele um eficaz fornecedorde remédios e poções. Recomendava atéprocurar pelo Joãozinho em sua ausência,tal a confiança nele depositada, e nãodesmerecida. Nosso farmacêutico eracuidadoso e muito sério. No imagináriopopular essas referências estão fixadas.

Tratamos aqui de um tempo que seprolongou nos meados do século XX, atéas décadas finais. A mudança de endereçodo local mais acanhado na Rua Dr. Américo

Brasiliense, numa esquina plenamenteidentificável, para o mais amplo, que é oatual, na Luiz Arantes Júnior, retratou umaprimeira ruptura que se conjuga com a deagora, para trocar de nome (ou de referência),mas continuar um caminho bem sinalizado.A harmonia desse sentido é prerrogativa dosdetentores de posse.

Afinal, os seres humanos buscam ummergulho em suas interioridades, provo-cados pelas alterações dos sistemas deprodução e trocas, para realizar a açãosimbólica das proposições espaço-temporais que enlaçam objetivamentesuas formas de existência. Recriam-seprojetos, mantêm-se os propósitos.Emblematicamente, os mais velhos, comoeu, lembraremos sempre do Joãozinho anos transmitir segurança e confiança,enquanto os remédios se aplicavam emsuas funções, e da missão continuada doLuciano, que tem impregnada a indelévelmarca paterna.

A Farmácia de São Miguel deve conterum imenso cabedal de histórias dramáticase jocosas que animam suas memórias,principalmente por abordar a parte sensívelde nossos corpos – a saúde.

Quem dela partilhou sabe o sabor desseinestimável relicário. Nós, o povo, somamo-nos nelas.

Dóli de Castro Ferreira

Pela segunda vez o grupo de Jongo dePiquete participou do Festival do Folclorede Olímpia, que aconteceu em julho.

O Festival de Folclore é um evento dacultura popular brasileira que, além depreservar e manter a cultura popular, fomentao comércio, o turismo e os serviços dacidade de Olímpia e de toda região noroestede São Paulo. Olímpia mantém e incentivadurante todo o ano grupos folclóricos locais.O estudo do folclore nesse município fazparte do currículo nas escolas públicas eprivadas, e trabalha-se a criação da Univer-sidade Livre de Folclore.

Como nas edições anteriores, o 47ºFestival objetivou resgatar, preservar edivulgar as diferentes manifestações

O Festival de folclore de Olímpiatradicionais de todas as regiões do país,proporcionando a interação entre osparticipantes. A troca de informações e asoportunidades de pesquisas durante ofestival são de grande importância para ocrescimento e fortalecimento dos gruposque nele se encontraram, vindos de norte asul do país. Procurou-se, com isso, formar aconsciência para a cultura e a paz.

Estudiosos, pesquisadores e amantes dacultura encontraram neste festival con-dições para execução de seus trabalhosacadêmicos e pesquisas. Em decorrência demuitas manifestações folclóricas estarem emvias de extinção, vários grupos veem noFestival de Olímpia motivação para semanterem vivos, atuantes e, dessa forma, a

tradição e a cultura popular se mantêmpreservadas.

Milhares de estudantes de todos osníveis escolares aproveitam a oportunidadedo Festival do Folclore como fonte depesquisa e desenvolvem o espírito decidadania e civismo por meio do conhe-cimento de suas raízes.

O grupo de Jongo de Piquete, como emtodos os lugares por onde se apresentou,atraiu os olhares curiosos de muitos quenão conhecem essa manifestação da culturanegra. Logo a curiosidade se transforma emmotivação para que entrem na roda einterajam com os jongueiros. As palmas, oscantos e os sons do tambu e do candon-gueiro seduzem e mexem com todos.

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O ESTAFETA Página 5Piquete, agosto de 2011

Em 1839, o Diario do Comércio, do Riode Janeiro, noticiava a invenção do daguer-reótipo – aparelho capaz de fixar imagensem placas de cobre cobertas com sais deprata –, o primeiro aparelho a fixar a imagemfotográfica e também o primeiro processofotográfico reconhecido mundialmente,criado pelo frances Louis Jacques MandéDaguerre (1787-1851).

No Brasil, a fotografia chegou no dia 16de janeiro de 1840, pelas mãos do abadeLouis Compte, capelão de um navio-escolafrancês (corveta franco-belga L’Orientale),que aportou de passagem pelo Rio deJaneiro.

Ele trouxe a novidade de Paris para acidade, introduzindo a daguerreotipia nopaís. Realizou três demonstrações dofuncionamento do processo e apresentou odaguerreótipo ao imperador D. Pedro II. Foia primeira demonstração no Brasil e naAmérica Latina. O cronista do Jornal doComércio de 17 de janeiro daquele anoregistrou a facilidade como era possívelobter “a representação dos objetos de quese desejava conservar a imagem...” e seguiunarrando as proezas do vistoso instrumentoque, em poucos nove minutos, registrara ochafariz do Largo do Paço, a Praça do Peixe,o Mosteiro de São Bento... E todos os outrosobjetos circunstantes se acharam repro-duzidos com tal fidelidade, precisão eminuciosidade, que bem se via que a cousatinha sido feita pela própria mão da natureza,e quase sem a intervenção do artista”.

A fotografia no BrasilEm 21 de janeiro de 1840, D. Pedro II,

aos 14 anos de idade, entusiasmado com anova invenção apresentada por Compte,encomendava um equipamento de daguer-reotipia em Paris. Em março de 1840, adquiriuum aparelho comprando-o diretamente deFelício Luzaghy, por 250 mil réis. Esta era,possivelmente, a primeira máquina desta arteem mãos brasileira.

Tornou-se, assim, o primeiro fotógrafobrasileiro com menos de 15 anos de idade.Mais tarde, já grande colecionador everdadeiro mecenas dessa arte, atribuiutítulos e honrarias aos principais fotógrafosatuantes no país. Promoveu a arte foto-gráfica brasileira e difundiu a nova técnicapor todo o país.

O maior e mais diversificado acervo defotografias oitocentistas constituído por umparticular é, justamente, a coleção que foireunida durante vários anos pelo ImperadorD. Pedro II. Oficialmente, ele é consideradoo primeiro daguerreotipista brasileiro; faziaimagens de paisagens e de pessoas. A partirda segunda metade do século 19, com aevolução da técnica da fotografia, ela foiarrebatando interessados por todo o país.Surgiram oficinas que tiravam e vendiamretratos.

Quando D. Pedro II adquiriu sua câmera,tornou-se o primeiro brasileiro, e, pos-sivelmente, o primeiro monarca do mundo atirar fotos. D. Pedro investiu muito nessacoleção. Mandava comprar tudo que sereferia à fotografia. Ganhava ou compravafotografias em suas viagens, tanto no Brasilquanto no exterior. Com o 15 de novembro eo banimento da família imperial pelo regimerepublicano, o monarca doou seu acervofotográfico à Biblioteca Nacional. A únicaexigência foi de que mantivessem a unidadesob o nome da Imperatriz: “Coleção D.Thereza Cristina Maria”. É a maior coleçãode documentos fotográficos brasileirosexistentes numa instituição pública do Bra-sil.

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Fotos Arquivo Pro-Memória

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O ESTAFETA

Edival da Silva Castro

Página 6 Piquete, agosto de 2011

Crônicas Pitorescas

Palmyro MasieroFórmula empregatícia...

O nó da gravata

Anos atrás, puxava uma condenada deuma situação em São Paulo procurandoemprego e nada conseguia. Passava horasem filas e, quando atendido, a velha históriade deixar nome, endereço, que seria cha-mado caso fosse selecionado. Meu domi-cílio estava mais na praça que pulga emcorpo de vira-lata.

Num encontro, desabafei-me com oTrotipe, que me esculhachou:

– Como é que você quer arrumar algumacoisa? Vai com essa cara de mendigoimplorando a porcaria do emprego!

– E como é que você quer que eu vá seestou matando muriçoca a grito?!

– Ignorância dói... Espero que não sejapegativa! Me passa aí o jornal.

Abriu na página de empregos e começoua ler.

– Este está bom. Uma firma do Rio, derepresentações, vai abrir uma filial em SãoPaulo e quer um gerente. Entrevistas amanhãcom o senhor Pereira, a partir das oito horas,na rua...

– Você vai me arrumar este emprego?– Te manca, maninho... Teu pai, de

saudosa memória, já morreu... Vou ensinarcomo se faz e tu que te vires depois... Vê sete arrumas como gente, que amanhã passopara te apanhar ali pelas nove horas...

Quando se está por baixo, sapo é caviar!O bandido começou pela inversão do meuprocesso. Quando marcavam oito horas, euchegava lá às seis e nunca consegui ser oprimeiro da fila. E ele iria me apanhar às nove!

Faltavam uns quinze minutos para as dezquando o Tro chegou, no dia seguinte.Trajava-se impecavelmente. Entrei e odebochado deu uma examinada na minhaestampa, fez um muxoxo, um tanto peloreprobatório. Quase o mandei para aquelelugar... Patife!

Chegamos ao destino, lá pelas bandasdo Ipiranga, e avistamos a fila que pareciauma cobrona. Estacionou, apanhou noporta-luvas um envelope fechado. Mostrou-me. Estava sobescritado a máquina “Ao Sr.Responsável da Distribuidora...”. Embaixo,

o endereço dali e, em vermelho, com letrasmaiúsculas, num canto, “CONFIDENCIAL”e, um pouco mais à frente, entre parênteses,“Deverá ser entregue em mãos pelo por-tador”. Chegamos à porta, onde um homemsegurava a cabeça da fila:

– Quero falar com o responsável da firmaaqui em São Paulo...

Antes que o funcionário abrisse a boca,o Trotipe apresentou-lhe o envelope. Osujeito ali leu e indicou um outro a quemnos dirigimos, e que, em seguida, nosconvidou a acompanhá-lo até o andarsuperior. Entrou em uma sala, logo retor-nando, mandando-nos para dentro. Nissosaía um provável pretendente ao cargo.Levantou-se o homem atrás da escrivaninha,cumprimentou-nos, indicou-nos cadeiras, eos três nos sentamos. Abriu o envelope.Dentro, apenas uma folha onde se lia: “Souo homem certo para o cargo” e a assinatura.No canto direito, o nome completo do Tro,endereço e telefone.

– Mas o que quer dizer isso? – per-guntou o senhor Pereira, surpreso.

– Doutor, desculpe-me o método nãomuito ortodoxo, mas sou de ação e jamaispoderia perder tempo em filas. Tenhoambição, iniciativa e pressa em subir na vida.Vou fazer esta filial ficar maior do que amatriz.

– Mas foi uma atitude desonesta de suaparte, retrucou o contratante.

– Creio que inteligente seria o termo maisexato. Pode não ser muito formal, mas omundo evoluiu pela ação dos não-conformistas.

– O senhor preenche todos os re-quisitos?

– Todos os pedidos e mais alguns, chefe.– Qualquer coisa, lhe informamos.Despedimo-nos do cara lá e, já na rua, o

Tro olhava o pessoal da fila com um ar depiedade que só ele sabe demonstrar.

Tiro e queda! À tarde do mesmo dia otelefone dele tocou. Da firma. Convocando-o. Até hoje, se não conseguiram outrogerente, estão esperando por ele...

Um lavrador pediu a São Pedro para teruma audiência com Deus. Precisava expor-Lhe algo importante.

O benevolente São Pedro agilizou aaudiência e avisou o velho lavrador.

– Deus, tenho muitos anos de expe-riência na lida com a lavoura. Estou notandoque ultimamente o Senhor tem falhado nocontrole do tempo. Eu plantei uma enormehorta, e quando ela estava no ponto decolher e vender os produtos, o Senhormandou uma terrível chuva de pedra eacabou com tudo. Logo depois plantei trigo,feijão... O Senhor mandou pouca chuva emuito sol. Colhi muito pouco... Parte daplantação morreu por falta d’água. Eu tenhomuita experiência com as lavouras. Vejaminhas mãos... Estão calejadas pelo caboda enxada. São tantos e tantos anoscuidando da plantação, e vejo que o Senhornão tem tanta experiência assim. Gostariaque me permitisse controlar o tempo, nemque seja somente na minha fazenda. Tenhocerteza de que tudo vai mudar para melhor.

– Meu filho, vou atender ao seu pedido.De agora em diante, passará a controlar otempo. Porém, somente em sua gleba de terra.

– Tá bem, Deus. Então quero umachuvinha somente para molhar a terra, paraque possa passar o arado. Vou plantar milho.

A chuvinha caiu conforme o pedido dolavrador.

– Agora quero um dia de sol para o milhogerminar.

E o sol brotou.E assim foi... Uma vez pedia chuva, outra

pedia sol. Sol e chuva, chuva e sol...A lavoura pendoou. O milho produziu

espigas viçosas. Aí, exclamou o lavrador:– Viu, Deus? Como valeu a experiência!O homem colheu as espigas e as arma-

zenou.Passados alguns dias, foi tratar dos

animais. Pegou uma espiga e viu quesomente existia o sabugo. Pegou outra, eoutra... Não havia nenhum grão de milho.Voltou a procurá-Lo.

– Senhor, onde errei? Eu controlei tudocertinho...

– É! Mas duma coisa você se esqueceu.Pediu sol e chuva, chuva e sol... Deixou depedir o que jamais poderia faltar: o vento.Eu sempre o mando junto com a chuva, poisserve para polinizar e fecundar as plantas...

Acesse nainternet, leia e

divulgue oinformativo

“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”

www.issuu.com/oestafeta

www. fundacaochristianorosa.cjb.netou

...que a instituição do Dia Mundial da Fotografia em 19 de agostose deve ao fato de que, nessa data, em 1839, o francês LouisDaguerre obteve o reconhecimento científico do processo queinventou o daguerreótipo (processo fotográfico feito sem umaimagem negativa)? Apresentado na Academia Francesa deCiências, este processo foi o primeiro a ser popularizado nomundo inteiro. Por essa época, um francês radicado no Brasil,Hércules Florence, desenvolvia também experimentos quelevariam ao mesmo resultado.

Você sabia...

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O ESTAFETAPiquete, agosto de 2011 Página 7

Meu professor de Etnologia na Federalde Santa Catarina afirmou que a opção doBrasil em relação às terras indígenas foi amelhor possível. Americano, disse que osEstados Unidos concederam a propriedadede terra aos seus índios. Muitos deles seaventuraram em empreendimentos –serrarias, por exemplo – contraíram dívidase tiveram de vender suas terras para saldá-las.

As terras que estão ao uso dos índiosbrasileiros pertencem ao governo federal,que tem a obrigação de protegê-las.

Com segurança, podemos afirmar queos nossos indígenas não estão em suasterras ancestrais. Primeiro, porque ob-tinham seus alimentos na mata e seguiamas manadas dos animais. Também porqueforam empurrados para oeste pelos coloni-zadores. Há, ainda, o caso de grupos quese dividiram por acontecimentos inusi-tados como a presença de um cetáceodesconhecido, o boto (sotalia brasiliensis),que assustou os xavantes. Os que nãoviram o animal atravessaram o rio dasMortes, afluente do Araguaia; os queviram, apavorados, permaneceram namargem direita do rio.

É, portanto, infrutífera a discussãosobre se a terra pertencia ou não adeterminada etnia.

Para reforçar, basta citar o períodomais recente que os índios do Acre e deRondônia chamam de época da “cor-reria”, quando eram obrigados a mudarconstantemente suas aldeias, empur-rados por madeireiros, seringueiros egarimpeiros.

A Funai – Fundação Nacional do Índio– precisa ser o único órgão que se respon-sabilize pelos nossos indígenas. Ligadadiretamente à Presidência da República,deve deter todo o conhecimento de atos eresoluções que a eles digam respeito, sejana saúde, na educação ou na ocupação deterras.

Assim, devem ser evitadas as manifes-tações dos indígenas com relação adisputas de terras e áreas que serãoutilizadas para barragens, estradas e linhasde transmissão.

A Funai deve antecipar-se e discutircom os índios nas aldeias, colocando-os apar da necessidade dos empreendimentos.

Já que as terras são federais, pode-seaté discutir um ressarcimento, por exemplo,redesenhando-se o mapa da área.

O indispensável é que haja mata e riolimpo.

Seria, portanto, de bom alvitre que aFunai demarcasse com presteza as áreasonde se encontram os grupos nãocontactados.

Acertos e EquívocosAbigayl Lea da Silva

Um grade parque pode ser demarcadoficando em seu interior as nascentes dosrios límpidos utilizados pelas aldeias.

A mineração é hoje o maior problemapara as aldeias indígenas pela presença dosgarimpeiros, quase sempre de infelizmemória, e pela contaminação das águas.

Os índios devem ser informados deque nem mesmo os civilizados têm direitoàs riquezas do subsolo. Os minériospertencem à União, portanto a todo opovo brasileiro. É preciso obter licençapara explorar uma lavra.

As grandes mineradoras podem ajudara solucionar o problema da degradaçãodo terreno e da poluição das águas,indicando jazidas de pequeno porte edando assistência técnica para os peque-nos mineradores. O Governo comprariatoda a produção, evitando a presença deespeculadores. A jazida seria esgotada eos próprios pequenos mineradores fariama recuperação da área.

Cabe à Funai decidir se as jazidasexistentes nas áreas indígenas podem serexploradas exclusivamente por eles comassistência indicada pelo próprio órgão.

Quanto à educação indígena univer-sitária, somos de parecer que o índiobrasileiro poderá freqüentar qualqueruniversidade pública ou privada, dispen-sando o regime de cotas.

Como as aldeias indígenas muitas vezesse situam em locais distantes das univer-sidades, a Funai poderia instar com aUniversidade Federal mais próxima que criecursos exclusivos para índios, os quaisreceberão bolsa integral.

Temos notícias de que os índiosbrasileiros têm-se reunido com repre-sentantes tribais de outros países.

Fico feliz porque nossas liderançasindígenas são equilibradas e podem carrearboas propostas para o bem-estar dassociedades tribais de todo o mundo.

O bom do índio é que gosta de con-versar, de trocar idéias.

Aproveito a oportunidade para agra-decer a todos os brasileiros (e estrangeiros)que prestaram algum serviço aos índios doBrasil, mesmo cometendo erros, massempre procurando corrigi-los.

São religiosos, militares, cientistas,ongueiros, funcionários do Governo –executivo, legislativo e judiciário, que nãodeixaram as coisas acontecerem – tomaramprovidências. Sem esquecer os aviões daFAB.

Homenageio a todos na pessoa daenfermeira protestante que percorria todoo estado do Mato Grosso, lutando parasalvar os índios da tuberculose.

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A Jornada da Esperança, organizada porJosé Augusto Costa, realizou neste ano aprimeira “Peregrinação Romeiros de SãoMiguel do Piquete”, em homenagem aopoderoso arcanjo, Príncipe da Paz.

O itinerário dessa peregrinação passoupor áreas rurais que foram Caminho doSertão Bravio – Caminho do Ouro e EstradaReal –, uma rota histórica que permite ocontato com a natureza e proporciona umareflexão sobre a vida espiritual.

Os peregrinos se reuniram na Matriz deSão Miguel, em Piquete, no dia 13 de agosto,de onde partiram rumo à Basílica Nacionalde Nossa Senhora da Conceição Aparecida.Passaram pela Canção Nova, em CachoeiraPaulista, e pela Igreja de Frei Galvão, emGuaratinguetá. No dia da Festa da Assunçãode Maria, 15 de agosto, dia em que se deu oinício da Quaresma de São Miguel, che-garam ao Santuário Nacional, em Aparecida.

PeregrinaçãoUma peregrinação (do latim per agros,

isto é, ‘pelos campos’) é uma jornadarealizada por devotos de qualquer religião alugares considerados sagrados.

O termo “peregrino” surgiu na primeirametade do século XIII para denominar oscristãos que viajavam a Roma ou à TerraSanta (onde atualmente se encontram oEstado de Israel e os territórios palestinos)para visitar lugares sagrados – às vezescomo castigo autoimposto – com o objetivode pagar pecados ou cumprir penas canôni-cas. Dessas peregrinações surgiria, maistarde, a idéia das Cruzadas, grupos enviadospara “reconquistar” os lugares que conside-ravam sagrados pelos cristãos e queestavam em poder de povos de outrasreligiões.

As peregrinações ocorrem desde ostempos mais remotos, mesmo nos períodosem que predominavam costumes ou ritospagãos. Existem registros de locais deperegrinação ofuscados pela própria religiãocristã, como no caso da Catedral de Santiagode Compostela, que pode ter sido cons-truída em uma rota de peregrinação pagã, aFinisterra (fim-da-terra), que levava à costaocidental para ver o deus Sol “morrer” nomar e, no dia seguinte, “ressuscitar” noOriente.

As primeiras peregrinações do cristia-nismo datam do início do século IV e tinhampor destino a Terra Santa. Para peregrinarhá que se ter em conta não se tratar apenasdo ato de caminhar ou executar um trajetocom determinado número de quilômetros;para peregrinar carece-se de “caminhar-semotivado ‘por’ ou ‘para’ algo”. A peregri-nação tem, assim, sentido e valor específicospara cada pessoa que a executa.

Para os que desejarem mais informaçõessobre a Jornada da Perseverança:Telefone: (12) 3156-2043email: [email protected] na página da internet:www.jornadaperseveranca.multiply.com

Jornada daPerseverança

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O ESTAFETA Piquete, agosto de 2011Página 8

Dizem que o melhor álbum de fotografiasé a nossa memória, pois nela ficam gravadosfotos reais de momentos bons e ruins denossa vida. Dizem, ainda, que a fotografia é,antes de tudo, um testemunho. Quando seaponta a câmera para algum objeto ousujeito, constrói-se um significado, faz-seuma escolha, seleciona-se um tema e conta-se uma história. Cabe a nós, espectadores,o imenso desafio de lê-las. Era com um olharcarinhoso e crítico que José PalmyroMasiero olhava quase diariamente para suacoleção de imagens de Piquete. Em 1968,mudou-se com a família para São José dosCampos. As circunstâncias levaram-nos paraa cidade grande. No entanto, não seesqueceu da Cidade Paisagem – cognomedado por ele a Piquete em concursopromovido pelo IBGE, em 1962. A paixãopelo torrão natal fez com que colecionassetudo que se referisse a Piquete: jornais,revistas, livros, documentos... Escreviasaborosas crônicas sobre a cidade, mas foipor meio de sua coleção de fotografiasreunidas ao longo de toda a vida quepreservou Piquete junto de si. Na fotografia,encontrava a ausência, a lembrança, aseparação, as pessoas que haviam falecido...Para ele, olhar fotografias era um atoprazeroso. Era a necessidade de prolongaro contato, a proximidade, o desejo de que ovínculo com a cidade e seus moradorespersistisse. No laboratório fotográficomantido em sua casa, emocionava-sequando revelava negativos de Piquete. Acidade emergia sempre de uma forma nova

para o seu olhar.Parece que foi ontem, mas há dez anos,

a 14 de agosto de 2001, “Yeyé” Masiero nosdeixou. Não assistiu à rápida evolução dasmáquinas fotográficas e da fotografia. Emum mundo completamente imagético comoo atual, a fotografia está presente em todosos momentos; seja por meio de câmerascomuns, digitais ou de celulares, a imagemtornou-se elemento central neste midia-tizado mundo.

Nos dias de hoje, fotografar Piquete émuito mais fácil. Se Yeyé estivesse vivo,certamente iria se deliciar com a tecnologiae a coleção de mais de três mil imagensdeixadas por ele seria ainda maior.

José Palmyro e a paixão pela fotografia

No dia 19 de agosto comemorou-se oDia Mundial da Fotografia. As comunidadesvirtuais se movimentaram parabenizando osque vêm se dedicando a compartilharimagens de nosso dia-a-dia com amigos eaté desconhecidos.

A fotografia, com o advento das má-quinas digitais, tornou-se um hobbyacessível a todos. Muitos vêm descobrindoo prazer de congelar paisagens e momentos.Se há alguns anos eram necessários rolos erolos de “36 poses” para se registrar umafesta entre amigos, por exemplo, correndo-se o risco de as fotos não agradarem, hoje épossível tirar centenas delas, armazená-lastodas em um computador e imprimir somenteas melhores, com as quais se pode pre-sentear os mais queridos. Não podemosesquecer, ainda, as facilidades de manuseiodas imagens, que nos permite rejuvenescer,embelezar ou descartar algo ou alguémindesejável... Fotógrafos como DogmarBrasilino, José Matos, Almir Pantoja e, maisrecentemente, Ernâni e Alzira Beckmann eDalva, tinham que tomar todos os cuidadospara enquadrar perfeitamente as fotos e não“queimá-las”... Caso contrário, quem oshavia contratado certamente ficaria umafera... Isso sem falar no prejuízo financeiro...

Entre os piquetenses vêm crescendo osamantes da fotografia. E talentos estãosurgindo... Sem citar nomes, para nãoesquecer ninguém, basta uma visita àscomunidades virtuais para encontrar ima-gens fantásticas que registram os maisdiversos momentos – paisagens, encontrosentre amigos, pássaros, denúncias...

Em Piquete, os motivos para se foto-grafar são muitos. Aproveitemos...

Dia Mundial daFotografia

Foto Andréa Marcondes

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Foto Arquivo Pro-Memória