115
i Agradecimentos Agradecimentos Agradecimentos Agradecimentos Em primeiro lugar, e porque as palavras são insuficientes, agradeço aos meus pais, ao meu irmão e à Cristina, a todos os meus amigos, e em especial ao Nuninho, pelo apoio incondicional nos momentos mais difíceis, pelo carinho, pela amizade e pelo amor, que tanto me ajudou nesta caminhada. De uma forma muito especial agradeço ao Professor. Doutor Fernando Carlos Sepúlveda Afonso Fradique, pela transmissão dos seus conhecimentos, assim como as críticas e sugestões tão determinantes para que eu conseguisse ultrapassar as dificuldades na realização deste trabalho, e com as quais muito aprendi. À Dra. Maria do Rosário Bacalhau, minha orientadora de estágio, pelas sugestões e pela ajuda disponibilizada em momentos muito importantes durante o meu percurso de estágio na Clínica da Dor. À Dra. Maria João Forjaz, cujo apoio surgiu na última fase da realização deste trabalho, agradeço a colaboração, disponibilidade e palavras de incentivo. Não poderia deixar de agradecer também a todos os participantes deste estudo, pois sem eles este trabalho não teria sido possível, com eles muito aprendi e cresci, o meu muito obrigado!

Agradecimentos - Repositório da Universidade de Lisboa ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/954/21/21437_ulsd056828_tm... · da Doença , a Adesão ao Tratamento , o Confronto de

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i

AgradecimentosAgradecimentosAgradecimentosAgradecimentos

Em primeiro lugar, e porque as palavras são insuficientes, agradeço aos meus pais, ao

meu irmão e à Cristina, a todos os meus amigos, e em especial ao Nuninho, pelo apoio

incondicional nos momentos mais difíceis, pelo carinho, pela amizade e pelo amor, que tanto me

ajudou nesta caminhada.

De uma forma muito especial agradeço ao Professor. Doutor Fernando Carlos Sepúlveda

Afonso Fradique, pela transmissão dos seus conhecimentos, assim como as críticas e sugestões

tão determinantes para que eu conseguisse ultrapassar as dificuldades na realização deste

trabalho, e com as quais muito aprendi.

À Dra. Maria do Rosário Bacalhau, minha orientadora de estágio, pelas sugestões e pela

ajuda disponibilizada em momentos muito importantes durante o meu percurso de estágio na

Clínica da Dor.

À Dra. Maria João Forjaz, cujo apoio surgiu na última fase da realização deste trabalho,

agradeço a colaboração, disponibilidade e palavras de incentivo.

Não poderia deixar de agradecer também a todos os participantes deste estudo, pois sem

eles este trabalho não teria sido possível, com eles muito aprendi e cresci, o meu muito obrigado!

ii

ÍNDICE

RESUMO...................................................................................................................... 1 ABSTRACT.................................................................................................................. 2 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 3

O PROCESSO DE DOENÇA ............................................................................................

3

A DOENÇA ONCOLÓGICA E O CICLO DE VIDA DO ADULTO..........................................

4

QUALIDADE DE VIDA (QDV) E QUALIDADE DE VIDA RELACIONADA COM A SAÚDE

(QDVRS) NOS DOENTES ONCOLÓGICOS……………………………………………....

7

O DISTRESSE NOS DOENTES ONCOLÓGICOS………………………………………….

9

A INCAPACIDADE E A FUNCIONALIDADE NOS DOENTES ONCOLÓGICOS ………….….

11

SINTOMAS INCAPACITANTES: A DOR E A FADIGA…………………………………….

14

REABILITAÇÃO FÍSICA E PSICOLÓGICA NOS DOENTES ONCOLÓGICOS………...….…...

17

OBJECTIVOS E QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO ……………………………………. 20 OBJECTIVO GERAL…………………………………………………………...…….…

20

OBJECTIVOS ESPECÍFICOS…………………………………………………...…….….

20

QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO……………………………………………...…………

21

METODOLOGIA ……………………………………………………………………... 22 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO……………………………………………………….

22

CONTEXTO E PROCEDIMENTOS DO ESTUDO …………………………………….…….

22

CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA…………………………………………………......

23

INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO ………………………………………………..….….

28

Functional Assessment Cancer Therapy – General, version 4(FACT-G, v.4)…………………………………………………………………………

28 Medical Outcomes Study 36 — Item Short Form SF-36, version 2 (SF-36 v.2): Questionário de Estado de Saúde (SF-36, v2: Versão Portuguesa)……………………………….…………………………….….

29 Functional Living Index – Cancer (FLI-C)……………………………….……

30

Termómetro do Distresse ………………………………………………….

31

iii

Escala Visual Analógica (EVA) para a Capacidade Física…………….……

31

Entrevista Semi-Estruturada………………………………………………….….

32

ANÁLISE DOS RESULTADOS……………………………………………………….. 34

ANÁLISE DOS RESULTADOS QUANTITATIVOS………………………………...………

34

ANÁLISE DOS RESULTADOS QUALITATIVOS ……………………………...…………..

48

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS……………………………..……………………… 58 L IMITAÇÕES DO ESTUDO……………..…………………………………………… 68 IMPLICAÇÕES CLÍNICAS …………………………………….…………………….. 69 SUGESTÕES FUTURAS ……………………………………..………….……………. 69 CONCLUSÕES FINAIS …………………………………………………..................... 70

BIBLIOGRAFIA ……………………………………………………………………... 73 INDICE DE ANEXOS……………………………..……………...…………………… 80 L ISTA DE ANEXOS EM CD……………………………………………………….....

109

iv

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1. Caracterização da amostra em termos etários ……………………………………… 24

Tabela 2. Caracterização da amostra pelos anos de diagnóstico ……………………………… 27

Tabela 3. Caracterização dos resultados do FACT-G…………………………………………. 35

Tabela 4. Caracterização dos resultados do SF-36……………………………………………. 36

Tabela 5. Caracterização dos resultados do FLI-C……………………………………………. 37

Tabela 6. Caracterização dos resultados do Distresse…………………………………………. 37

Tabela 7. Caracterização dos resultados da Eva da Capacidade Física……………………….. 38

Tabela 8. Caracterização dos resultados do agregado familiar………………………………... 41

Tabela 9. Caracterização do grau de associação entre a EVA da Capacidade Física e os

questionários…………………………………………………………………………………….

43

Tabela 10. Caracterização do grau de associação entre FLI-C e SF-36 ………………………. 44

Tabela 11. Caracterização do grau de associação entre FACT-G e SF-36……………………. 45

Tabela 12. Caracterização do grau de associação entre o Distresse e os questionários FACT-

G e SF-36……………………………………………………………………………………….

46

v

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Distribuição da amostra por género…………………………………………….. 24

Gráfico 2. Frequência da idade da amostra pelos escalões etários………………………… 24

Gráfico 3. Distribuição da amostra pelo meio ecológico…………………………………... 24

Gráfico 4. Distribuição da amostra pelo estado civil………………………………………. 25

Gráfico 5. Distribuição da amostra pelo grau de escolaridade…………………………….. 25

Gráfico 6. Distribuição da amostra pela Situação Profissional……………………………. 25

Gráfico 7. Distribuição da amostra pelo agregado familiar………………………………... 25

Gráfico 8. Distribuição da amostra pela religião…………………………………………... 26

Gráfico 9. Distribuição da amostra pelo diagnóstico inicial……………………………….. 26

Gráfico 10. Distribuição da amostra pelos tratamentos iniciais…………………………… 26

Gráfico 11. Distribuição da amostra pelo diagnóstico actual……………………………… 27

Gráfico 12. Distribuição da amostra pelos tratamentos actuais……………………………. 27

Gráfico 13. Distribuição da amostra pelos anos de diagnóstico…………………………… 28

Gráfico 14. Distribuição dos resultados do FACT-G pelos valores médios……………….. 35

Gráfico 15. Distribuição dos resultados do SF-36 pelos valores médios………………….. 36

Gráfico 16. Distribuição dos resultados do FLI-C pela frequência de sujeitos……………. 37

Gráfico 17. Distribuição dos resultados dos níveis de distresse pela frequência………….. 37

Gráfico 18. Distribuição dos resultados do dos níveis de capacidade física pela

frequência…………………………………………………………………………………...

38

Gráfico19. Distribuição dos valores médios do FACT-G de acordo com o Meio

Ecológico………………………………………………………………………………….

39

Gráfico 20. Distribuição dos valores médios das escalas e dos questionários de acordo

com a Situação Profissional…………………………………………………………………

40

Gráfico 21a. Distribuição dos valores médios das escalas e dos questionários de acordo

com o Agregado Familiar (com filhos/sem filhos)………………………………………...

42

Gráfico 21b. Distribuição dos valores médios das escalas e questionários de acordo com

o Agregado Familiar (sem filhos/unipessoal)……………………………………………….

42

vi

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1. Áreas, Categorias, Sub-Categorias, Temáticas e frequências das respostas dos

participantes por Representatividade (REP) e Preponderância (PREP)………………….....

50

1

RESUMO:

Este estudo pretendeu explorar a relação entre a Incapacidade física e as percepções de

Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde (QDVRS) em doentes oncológicos. E pretendeu também

conhecer os temas ligados à vivência da incapacidade física e da funcionalidade nesses mesmos

doentes.

Para este estudo, foi recolhida uma amostra de conveniência de 26 indivíduos (20 do sexo

feminino e 6 do sexo masculino) com diagnóstico médico de doença oncológica, seguidos na Clínica

da Dor do IPOLFG. Tendo em conta os objectivos da investigação foram aplicados os seguintes

instrumentos: Functional Assessment Cancer Therapy - General, version 4 (FACT-G, v.4, versão

portuguesa), Medical Outcomes Study 36 - Item Short Form SF - 36, version 2 (SF-36, v.2, versão

portuguesa), Functional Living Índex - Cancer (FLI-C, traduzido e adaptado especialmente para este

estudo), e Termómetro do Distresse. Para além destes instrumentos, 15 dos 26 participantes, foram

ainda alvo de uma Entrevista Semi-Estruturada, e da Escala Visual Analógica (EVA) da Capacidade

Física. Os discursos dos participantes foram categorizados num conjunto de Temas associados à

experiência da incapacidade física e da funcionalidade, através da análise de conteúdo das entrevistas

realizadas.

A incapacidade física neste estudo foi mensurada através da EVA para a capacidade física e

através das dimensões dos questionários que fazem apelo à capacidade física, pelo que esta foi

interpretada de acordo com o significado das dimensões desses questionários. Assim ao explorar a

relação existente entre a incapacidade física e a QDVRS, verificou-se que a incapacidade física se

relaciona de forma positiva com a QDVRS. Verificou-se também que a incapacidade física se pode

correlacionar negativamente com a QDVRS, contudo de forma menos expressiva. A correlação

negativa verificou-se entre as dimensões Funcionamento Físico e Dor Corporal do SF-36 e a escala

global de Bem-Estar do FACT-G, mostrando assim que níveis de QDVRS favoráveis se podem fazer

acompanhar por baixos níveis de capacidade física. Através da análise qualitativa, foram identificados

14 temas básicos considerados como os mais representativos e preponderantes na experiência da

incapacidade física e da funcionalidade, em que destes temas se destaca o tema Descrição de sintomas

físicos incapacitantes.

Assim, pode-se dizer que a incapacidade física pode interferir com a percepção que os doentes

oncológicos fazem da sua QDVRS. Nesse sentido, diminuir a incapacidade fisica, nomeadamente os

sintomas fisicos incapacitantes, é fundamental para promover uma melhor QDVRS nestes doentes.

Palavras-Chave: Doença oncológica, Qualidade de Vida, Qualidade de Vida relacionada com a

Saúde, Distresse, Incapacidade Física; Funcionalidade

2

ABSTRACT

The present study was conducted to explore the relationship between physical disability and

Health Related Quality of Life (HRQOL) in cancer patients. This study also pretend understand the

central themes connected with living physical disability and functionality in that patients.

In this study a convenience sample of twenty women and six men with a medical diagnosis of

Cancer was collected at the Pain Clinic’s IPOLFG. In accordance to the objectives of the present

research the following instruments were used: Functional Assessment Cancer Therapy - General,

version 4 (FACT-G, v.4, Portuguese version), Medical Outcomes Study 36 - Item Short Form SF -

36, version 2 (SF-36, v.2, Portuguese version), Functional Living Índex - Cancer (FLI-C, translated

and adapted specifically for this study), e Thermometer of Distress. In addition to these instruments,

15 of the 26 participants were given a semi-structured interview and a Visual Analogue Scale (VAS)

concerning the physical capacity . The discourse of the participants was content analised and

categorized through a number of issues associated with the experience of disability and

functionality,.

The disability in this study was assessed through the VAS for the physical capacity and

through the dimensions of the questionaires related to physical capacity. Data was interpreted

according to the meaning of the dimensions of these questionnaires. The data suggest that disability

is related in a positive way with QDVRS. However, it was also suggested that the disability can be

correlated negatively with QDVRS, however not as significant. A negative correlation was found

between the dimensions Physical Functioning and Body Pain scales of the SF-36 and overall well-

being of the FACT-G, showing that levels of favorable QDVRS can be accompanied by low levels of

physical capacity, which is in contradiction with previous results that say that high values of physical

capacity correspond to favorable QDVRS. Through qualitative analysis, 14 central themes were

identified as the most representative and preponderant in the experience of disability and

functionality, the most proeminent is Description disabling physical symptoms.

We can say that physical disability may interfere with the cancer patients’ perception of their

QDVRS. So, it seems that an effort to reduce the physical disability, including disabling physical

symptoms, is essential to promote a better QDVRS in these patients.

Key-Words: Cancer; Quality of Life; Health Related Quality Of Life; Distress; Physical disability;

Functionality

3

INTRODUÇÃO

“Tão importante quanto conhecer a doença que a pessoa tem, é conhecer a

pessoa que tem a doença” William Osler (1849-1919)

O PROCESSO DE DOENÇA

De acordo com o Modelo Desenvolvimentista da Doença, Joyce-Moniz e Barros (2005),

o processo de doença pode ser dividido em quatro dimensões: o Conhecimento da Realidade

da Doença, a Adesão ao Tratamento, o Confronto de Sintomas e a Vivência da Doença.

Segundo este modelo, o Conhecimento da Realidade da Doença implica por parte da

pessoa uma distinção entre sinais e sintomas de forma a descobrir a existência de determinada

doença. A adesão ao Tratamento, implica a diferenciação entre doença e confronto da doença e

a aceitação ou recusa do diagnóstico médico assim como o seu tratamento. O Confronto com

Sintomas somáticos e psicológicos da doença, como por exemplo a dor e as reacções

emocionais excessivas e contraproducentes de ansiedade e depressão respectivamente, pode

levar ao controlo, de forma a lidar com a doença. A Vivência da Doença refere-se à adaptação

de processos agudos, crónicos ou terminais da doença. Nesta dimensão a pessoa encontra-se

perante a angústia da evolução percebida da doença (Joyce-Moniz & Barros, 2005).

Na perspectiva destes autores, a doença oncológica deve ser apresentada enquanto

processo crónico. Este processo, é explicado por Reiss e Kaplan (1989; citado por Joyce - Moniz

& Barros, 2005, pág. 323) através das metáforas: “a) do relâmpago, pois ataca sem avisar,

colocando a pessoa em condições de emergência médica; b) do crescendo de sintomas

aparentemente comuns, como a fraqueza, a fadiga, a tosse, as dores, que pode levar um tempo

antes de ser caracterizado como doença crónica; c) do acaso, quando sem haver suspeitas da

sua existência, o médico descobre o processo através de um exame de rotina; d) da chegada à

cronicidade, com processos que começam comuns ou agudos e depois, em vez da resolução

esperada, evoluem para uma condição de cronicidade mais grave e incapacitadora. O processo

da doença oncológica, pode enquadrar-se em todas as combinações: começo de sintomatologia

intensa, mas logo seguido de estabilização, começo e progressão negativa rápida.” Joyce -

Moniz e Barros (2005) referem que “A crise no processo crónico afecta fortemente o que se

convencionou chamar de qualidade de vida, que abarca todos os domínios existenciais da

pessoa, a partir da sua emergência até ao fim da vida, convergindo a maioria das vezes para um

4

processo evolutivo de características especiais denominado terminal”. E por essa razão é

fundamental estudar todo o contexto do doente oncológico.

A DOENÇA ONCOLÓGICA E O CICLO DE VIDA DO ADULTO

O cancro define-se como sendo um grupo de doenças caracterizado por um crescimento

incontrolável de células anormais que produzem tumores chamados neoplasias e que pode

alastrar do local de origem e afectar órgãos vitais podendo levar à morte (Ogden, 2004).

Contudo, os avanços feitos ao nível da Oncologia, nomeadamente, rastreios, diagnóstico,

tratamento, reabilitação e cuidados de suporte vieram permitir que certas doenças oncológicas

possam ser curadas e detectadas atempadamente ou controladas durante muitos anos

contribuindo para uma melhoria na qualidade de vida do doente oncológico (Pimentel, 2006).

Segundo a Organização Mundial de Saúde [OMS], 2003 o cancro constitui uma das

principais causas de morte no Mundo e segundo a Direccção Geral de Saúde [DGS] e a Direcção

de Serviços de Informação e Análise [DSIA], 2002, as doenças oncológicas constituem a

segunda causa de morte em Portugal, estando o número de mortes por cancro a aumentar. “Sendo

por isso considerada um grave problema de saúde pública com custos pesadíssimos, não só

económicos, mas também sociais” (Pimentel, 2006, p11)

Atendendo à natureza, percurso e tratamento da doença oncológica, esta é incluída no

conjunto das doenças crónicas e graves, provocando um grande impacto na pessoa a nível físico,

psicológico, social e espiritual, bem como ao nível da família e da sociedade. O cancro é uma

condição permanente caracterizada pela incerteza, com repercussões psicossociais negativas

devido aos efeitos colaterais a longo prazo decorrentes da doença e/ou dos tratamentos (Zabrack,

2000b; citado por Pinto & Pais - Ribeiro, 2006), como por exemplo, náuseas, vómitos, diarreia,

queda de cabelo, esterilidade, perda de capacidade cognitiva, fadiga, dor, etc...

No confronto com a doença, a pessoa inicia um percurso de sofrimento íntimo, incluindo

emoções e sentimentos de profundo mau estar e tristeza, evoluindo normalmente, para a

consciencialização da perda como um facto irreversível, até à sua aceitação (Rebelo, Rolim,

Carqueja, & Ferreira, 2007). Os autores Pereira e Lopes (2005, p71), referem “A experiência de

cancro é um acontecimento de vida que requer uma adaptação quer do próprio doente quer da

própria família. O doente tem de se adaptar e adquirir novas competências que lhe permitam

adaptar-se à sua situação de doença, o que por vezes implica ajustamentos psicossociais

significativos”. Isto porque a percepção que o doente tem de todos os eventos ligados à sua

doença, é muito globalizante e estes assumem um papel central na sua vivência. E também

porque o choque do diagnóstico, a dor e o stress das terapêuticas, as restrições ao desempenho

físico e intelectual, as limitações nas actividades diárias, a estigmatização social, o lidar com

5

situações que põem em risco a vida ou que vão diminuir a esperança de vida, são parâmetros que

têm de ser tidos em consideração no processo de orientação do doente (Lorenz, 1999; Cabana,

1999; citados por Pimentel, 2006).

Segundo Rowland (1989), três grandes variáveis influenciam o ajustamento psicológico

dos doentes oncológicos. A primeira é o contexto cultural, em que as atitudes sociais e as crenças

culturais face ao cancro podem afectar não só a forma como se tratam os pacientes e a as suas

famílias, como também a forma como os pacientes se vêem a si próprios, a sua doença e o

futuro. A segunda é o contexto médico que engloba o estadio da doença, o tipo de tratamento

usado, e o local do corpo afectado. E por fim, o contexto psicológico individual de cada tipo de

cancro. Para além destas variáveis na adaptação do doente ao cancro tem de se ter em conta o

estádio de desenvolvimento humano. Para este autor, o ciclo de vida também influencia o

ajustamento emocional bem como as estratégias de coping. Tendo assim definido quatro etapas

de desenvolvimento (Jovem adulto, Adulto maduro, Adulto de meia idade, e Adulto idoso) em

que em cada uma delas existem tarefas de desenvolvimento específicas. Os temas definidos para

as quatro etapas são as mesmas (alterações no relacionamento interpessoal, a

dependência/independência, a imagem corporal/sexual, assuntos existenciais, perda da

integridade pessoal), contudo são caracterizadas de forma diferente consoante a fase do ciclo de

vida:

O jovem adulto (19-30 anos) após finalizar a escolaridade inicia um processo de

autonomia face à família de origem por exemplo, quando entra no mundo do trabalho. Nesta fase

a identidade sexual é estabelecida e o jovem adulto deseja manter uma relação estável de forma a

construir a sua própria família. O diagnóstico de uma doença no jovem adulto leva-o a retrair-se

no estabelecimento de novos laços afectivos fortes e a quebrar relações já construídas. O ter de

depender de terceiros coloca o jovem adulto perante a dificuldade em continuar com os seus

antigos papéis pelo facto de serem outros a assumi-los. Tal facto leva à diminuição da auto-

estima e ao surgimento de sentimentos de cólera e ressentimento. A família tende a proteger

excessivamente o doente não exigindo independência após o tratamento, em que o doente tem de

conciliar o papel de submisso e de cooperativo face às prescrições médicas. Assim, a

dependência excessiva pode dificultar o ajustamento emocional do doente. Para o jovem adulto

que se encontra expectante face ao início da sua carreira profissional, o diagnóstico de cancro

“deita por terra” as expectativas e as ambições, levando-o a antecipar um futuro alterado devido

ao tratamento e suas sequelas. O adulto maduro (31-45 anos) encontra-se num período que se

caracteriza pelo crescimento pessoal e pela consolidação da carreira e papéis sociais. Em termos

gerais, este é o período mais estável do ciclo de vida. Neste período, o diagnóstico e tratamento

da doença podem afastar o paciente da sua família, em que o medo do abandono é um

6

sentimento comum. Tanto o doente como a família se isolam da sociedade devido à existência de

estigmatização real ou percebida. A ameaça à vida pode levar à decisão de abandonar o parceiro,

os filhos ou a família. Os papéis sociais e familiares podem ser alterados, levando a uma maior

dependência do doente. O regresso prematuro para o trabalho pode ser provocado pela ansiedade

sentida face à possibilidade de perder o estatuto no emprego. Dependendo do curso da doença e

do seu tratamento, certos objectivos de vida tendem a ser alterados ou abandonados. A

combinação de tratamentos resulta em determinados efeitos que põem em causa a imagem

corporal e a integridade acentuando desta forma o sentimento de vulnerabilidade física

normalmente vivido com a chegada da meia-idade. Neste período a doença representa a maior

ameaça à identidade individual, em que a pessoa se questiona acerca dos seus valores espirituais

e religiosos e o sentido da sua própria vida. O adulto de meia-idade (46-65 anos) neste período

a pessoa experimenta várias mudanças físicas, emocionais e sociais. A nível físico, assiste-se a

uma redistribuição da massa gorda corporal, a mudanças na pele, a perda de integridade

músculo-esquelética, diminuição da densidade óssea (osteoporose nas mulheres) e a uma

compressão gradual da coluna vertebral. No fim deste período verifica-se um declínio da

perspicácia cognitiva. Tais mudanças contribuem para um sentido de vulnerabilidade física que

leva a uma crescente monitorização corporal. No domínio interpessoal assiste-se a mudanças ao

nível dos papéis sociais dentro da própria família. A necessidade de cuidados é uma

preocupação, o doente sente-se diminuído por ter de necessitar de ajuda de outras pessoas, em

tarefas que realizava de forma autónoma. Um dos maiores receios é ficar inválido e dependente

de outras pessoas. A raiva e a frustração surgem quando o cancro coloca a pessoa perante a

possibilidade de uma reforma antecipada. Para o caso das pessoas que iniciaram uma segunda

carreira profissional os sentimentos de raiva e frustração ficam muito patentes pelo facto de não

poderem desempenhar essa nova actividade como idealizaram. A ideação suicida surge muitas

vezes expressa como sendo preferível ao sofrimento ou à ruína económica da família. O doente

acaba por sentir que a doença ou os tratamentos desta, lhe vão provocar um aceleramento do

processo de envelhecimento. O adulto idoso (após os 66 anos) encontra-se num processo

normal de envelhecimento em que perde capacidades intelectuais e físicas. Apesar do

diagnóstico de uma doença grave ser comum no idoso, este é o que parece estar menos preparado

para lidar com as complicações e exigências do tratamento. No seguimento de múltiplas perdas

pessoais, o acréscimo da perda de saúde provocada pelo cancro e as restrições físicas, financeiras

e de recursos sociais colocam o adulto idoso em maior risco de problemas psicossociais. Ao

nível da esfera social, o idoso encontra-se perante um sentimento de isolamento em relação a

familiares ou amigos. O cancro enquanto causa de limitações na actividade física aumenta o

sentimento de isolamento. O idoso apresenta dificuldade de adaptação às situações de stresse e

7

aos tratamentos. O medo de ser abandonado aumenta nesta fase de desenvolvimento. Assim, o

idoso muitas vezes depende de outras pessoas no que concerne à higiene pessoal, situação essa

que cria no idoso um sentimento profundo de vergonha, dificultando as interacções entre

paciente, família e staff hospitalar. Para o idoso que sempre cuidou de si de modo independente

torna-se difícil aceitar a súbita ajuda dos outros, tornando-se essa vivência uma experiência

traumática. O idoso sente necessidade de fazer uma revisão da sua própria vida e quando se

depara com as falhas sente remorsos, culpa e desespero. Surge a preocupação de “como eu vou

morrer” traduzindo o medo do prolongamento da vida vivido com incapacidade e dor.

Desta forma, pode-se verificar que ao longo do ciclo de vida do adulto no processo de

doença oncológica muitas são as perdas que o doente oncológico percepciona. A adaptação à

doença torna-se um processo difícil quando perdas como a força física e bem-estar, integridade

física e mental, independência, função sexual, papéis sociais, relações interpessoais, são as mais

vivenciadas pelo doente oncológico. Contudo, parece que os doentes oncológicos apresentam

capacidade para ultrapassar as adversidades impostas pelo cancro. Num estudo de Collins e col.

(1990; cit. por Joyce - Moniz & Barros, 2005), quando se entrevistaram doentes oncológicos,

todos eles mencionaram pelo menos um acontecimento positivo após o diagnóstico da doença

como uma melhor capacidade para apreciar o quotidiano. Assim, torna-se importante a análise de

estratégias de confronto e adaptação ao cancro, de forma a delimitar as estratégias mais

adequadas a cada doente oncológico.

QUALIDADE DE VIDA (QDV) E QUALIDADE DE VIDA RELACIONADA COM A SAÚDE (QDVRS) NOS

DOENTES ONCOLÓGICOS

A QDV é um conceito recente, tanto na sua utilização genérica como no domínio da

saúde, das doenças em geral, e da doença oncológica em particular (Pais - Ribeiro 2002). O

conceito de QDV tem sido definido de várias formas não existindo uma definição clara do

conceito. Tal facto, levanta alguns problemas ao nível da operacionalização do constructo,

tornando-se difícil a sua medição. Consequentemente, existem inúmeras propostas de definição.

Para os indivíduos saudáveis a noção de QDV refere-se a conceitos como riqueza, lazer,

autonomia, liberdade, ou seja, tudo o que proporcione um quotidiano agradável (Pimentel, 2006).

Para Calman (1984), a QDV é vista como a ligação entre a esperança, as expectativas, e os

desejos da pessoa durante um período particular de tempo e as suas experiências de vida no

presente. Segundo Ferrans e Powers (1992; citado por Pais - Ribeiro, 2002) a QDV é a sensação

de bem-estar pessoal que provém da satisfação ou insatisfação com áreas da vida do dia-a-dia

que são importantes para a pessoa. De acordo com Cramer (1994; cit. por Pais - Ribeiro, 2002) a

qualidade de vida é um estado de bem-estar mental, físico e social e não somente ausência de

8

doença ou incapacidade. Carr e col. (2001; citado por Pimenta e col., 2008), deram ênfase à

avaliação da qualidade de vida, chamando a atenção para o “paradoxo da incapacidade”, ou seja,

pacientes com disfunções ou problemas de saúde importantes não apresentam resultados baixos

nos questionários de avaliação da QDV. Contudo, apresentam resultados baixos nos

questionários que avaliam QDVRS. Para além destas muitas outras definições têm sido

postuladas consoante o contexto em que são utilizadas. Por essa razão é de extrema importância

clarificar a qualidade de vida enquanto conceito científico (Pais - Ribeiro, 2002).

A saúde e a doença configuram processos compreendidos como um continuum,

relacionados com aspectos económicos, sócio-culturais, experiências pessoais e estilos de vida.

A melhoria da qualidade de vida passou a ser um dos resultados esperados, tanto das práticas

assistenciais quanto das políticas públicas nos campos da promoção da saúde e da prevenção de

doenças (Seidl & Zannon, 2004).

Para este estudo, será tido em conta a perspectiva de QDVRS. A QDVRS é uma parte da

qualidade de vida geral do indivíduo (Pimentel, 2006), que se refere aos aspectos directamente

relacionados com os sintomas da doença e com o tratamento, enquanto que a QDV apresenta um

sentido mais amplo. Pelo que Pais - Ribeiro (2002) realça a distinção que tem de haver entre as

duas, embora muitas vezes estas se apresentem como sinónimos.

Segundo Cella e Nowinski (2002; citado por Wilson, Hutson & VanStry, 2005) a

QDVRS é descrita em termos dos efeitos que uma determinada condição médica ou os seus

tratamentos têm na pessoa. E no mesmo sentido, Pais - Ribeiro (2002, p77.) refere que a QDVRS

“é a qualidade de vida que está dependente da doença, nomeadamente das representações da

doença, que inclui as crenças sobre as causas e as consequências da doença, dos preconceitos,

dos juízos sobre os juízos que os outros fazem sobre a doença, da auto-apreciação que o

indivíduo faz do eu doente, das emoções desencadeadas, dos sintomas existentes ou supostos, e

dos tratamentos”.

A QDVRS e a sua avaliação são pontos essenciais para todos os profissionais de saúde

que lidam com doentes oncológicos. Uma vez que muitos dos doentes têm de viver com esta

doença durante toda a sua vida, a avaliação da QDVRS constitui um aspecto importante de

qualquer plano de tratamento. Esta deve ser avaliada para se ter um conhecimento global dos

efeitos da doença e das terapêuticas aplicadas, bem como para escolher as estratégias mais

eficazes de intervenção (Bennett, 2002).

Assim, avaliação da QDVRS nos doentes oncológicos é cada vez mais valorizada devido

à preocupação com a autonomia, os direitos dos doentes e com o papel dos factores psicossociais

(Sales, 2001; cit. por Pimentel, 2006). Contudo é de salientar que a avaliação da QDVRS é

medida por diversos instrumentos e como tal, é necessário adequar a definição ao conteúdo

9

desses mesmos instrumentos. Muitos estudos têm sido elaborados sobre a avaliação da qualidade

de vida dos doentes oncológicos existindo uma extensa revisão de literatura sobre o tema.

Segundo Pinto e Pais - Ribeiro (2006), os estudos de qualidade de vida podem constituir uma

mais valia na identificação específica das necessidades dos sobreviventes de cancro, numa

perspectiva dinâmica, pois são mutáveis ao longo do ciclo de sobrevivência, constituindo um

desafio para os múltiplos profissionais de saúde.

Alguns estudos (Dunn e col., 2003; Grassi, e col., 2004; Win, e col., 2005; citados por

Kreitler, Peleg & Ehrenfeld, 2007) concluíram que a qualidade de vida nos doentes com cancro

com diferentes diagnósticos, tratamentos e estadios da doença se encontra diminuída. Na mesma

linha, vários estudos apontam para uma diminuição ao nível da QDVRS, podendo-se destacar, o

estudo de Saegrov (2005) que demonstrou que os doentes oncológicos apresentam baixos níveis

de QDVRS, e que apresentam mais perda de energia que o resto da população apresentando

limitações em várias dimensões da vida. Também o estudo de Kramer e col. (2000; citado por

Bottomly, 2002) concluiu que a QDVRS em mulheres com cancro da mama avançado se

encontra deteriorada.

O uso de questionários de QDVRS “veio permitir que os doentes descrevam os seus

sintomas e as reacções adversas aos tratamentos” (Pimentel, 2006, p65). Desta forma é preciso

ter em conta vários factores que afectam a estabilidade da qualidade de vida dos doentes

oncológicos, verificados por diversos estudos citados por Kreitler, e col., 2007, tais como: o

diagnóstico (Turner, e col., 2005), o estadio da doença (Hwang, e col., 2003), o tipo de

tratamento a que o doente é ou foi sujeito (Bradley, e col., 2003; Fritzsche, e col., 2003;

Pugliese, e col., 2002), o índice de desempenho dos doentes (Wan, e col., 1999;), o desempenho

em exercícios físicos (Courneya e Friedenreich, 1999), a depressão (Iconomou, e col., 2004) e as

crenças espirituais (Laubmeier, e col., 1999).

O DISTRESSE NOS DOENTES ONCOLÓGICOS

Segundo Massie e Holland (1989), o tipo de reacções psicológicas mais comuns nos

pacientes de cancro são a ansiedade e a depressão. Contudo, ambas são reacções emocionais

esperadas perante um diagnóstico de cancro. Uma vez que existem reacções aceites como

normais, torna-se crucial distingui-las de reacções emocionais desadaptativas e patológicas que

interferem com o conforto, a qualidade de vida e a capacidade do paciente em tomar decisões

apropriadas em relação aos tratamentos e à sua adesão. Estas duas emoções negativas (ansiedade

e depressão) parecem ter impacto na QDVRS (Skarstein, Aass, Fossa, Skovlund, & Dahl, 2000;

citado por Tagay e col., 2006).

10

Os medos normais e as incertezas no processo de doença, possível morte, desfiguração,

dependência de terceiros, incapacidade ou quebra das relações são reacções emocionais muito

presentes. A ansiedade surge com o diagnóstico de cancro e com os tratamentos e também com

perturbações ansiosas que antecedem o diagnóstico de cancro, sendo exacerbada durante o

tratamento (Massie, 1989). A ansiedade no cancro está mais ligada aos tratamentos dolorosos e à

convicção de que a dor não pode ser controlada (Sternbach, 1974, 1978; Massie & Holland,

1992; cit. por Joyce-Moniz & Barros, 2005) e a depressão está relacionada com as dores

progressivamente mais intensas sendo consequentes à evolução da doença (Coyle e col., 1990;

Portenoy & Foley, 1990; cit. por Joyce-Moniz & Barros, 2005). De acordo com Holland e

Rowland, 1989, a depressão nos doentes oncológicos pode resultar do stress do diagnóstico,

tratamento ou medicação. Porque a tristeza e a depressão são frequentemente comuns nos

doentes oncológicos, é importante distinguir entre níveis “normais” de tristeza e níveis

“anormais ” de depressão.

Contudo, por se verificar que existem algumas barreiras à detecção e reconhecimento de

emoções desadaptativas, surgiu o conceito de Distresse e com ele a sua avaliação. A avaliação do

distresse está sujeita a linhas orientadoras (guidelines) do National Comprehensive Cancer

Network [NCCN], 2008. Segundo estas linhas orientadoras, o distresse é definido como “uma

experiência emocional multifactorial desagradável de natureza psicológica (cognitiva,

comportamental e emocional), social e/ou espiritual que pode interferir com a capacidade de

confronto efectivo com o cancro, os seus sintomas físicos, e seus tratamentos. O distresse

estende-se ao longo de um continuum variando desde sentimentos normais de vulnerabilidade,

tristeza e medo, a problemas que se podem tornar incapacitantes, tais como depressão,

ansiedade, pânico, isolamento social, e crises existenciais e/ou espirituais”.

O estudo de Zabora, Breintzenhofeszoc, Curbow, Hooker, e Piantadosi (2001) sobre a

prevalência do Distresse, concluiu que 35,1% dos pacientes de cancro em amostras heterogéneas,

revela níveis altos de mau estar psicológico. Isto porque o distresse enquanto variável

psicológica pode surgir devido à adaptação a novas rotinas e, horários impostos pelos

tratamentos e pelas idas ao hospital.

Desta forma o doente oncológico tem de se adaptar a um reduzido nível funcional e a

uma menor capacidade para realizar as tarefas habituais, sendo assim forçado a mudar o seu

estilo de vida devido à doença (Fang, Manne, & Pape, 2001). Assim, o comprometimento físico

parece ser uma grande fonte de stress para os doentes oncológicos, para além dos stressores

psicossociais que contribuem para o distresse psicológico, como o caso do fraco suporte da

família ou dos amigos (Manne, Taylor, Dougherty, & Kemeny, 1997; Peters- Golden, 1982;

citados por Norton, Manne, Rubin, Hernandez, Carlson, & Rosenblum, 2005).

11

Apesar de a investigação demonstrar que tanto o comprometimento físico como os

comportamentos de fraco suporte por parte dos outros se associam a um grande nível de distresse

psicológico nos doentes oncológicos, pouca atenção empírica tem sido dada aos mecanismos que

explicam o impacto lesivo destes stressores. Assim, para MacCarthy e Brown, (1989; cit. por

Manne, e col., 2005) existe um mecanismo potencial para o impacto do comprometimento físico

no distresse psicológico que é o sentido de controlo ou mestria na doença. Os pacientes podem

ver as suas dificuldades em completar as actividades diárias como uma dificuldade em controlar

a doença e os seus efeitos. Parecendo assim que o comprometimento físico se pode associar ao

sentido de controlo dos pacientes na doença. Ao contrário, um grande controlo percebido tem

sido associado a um melhor funcionamento físico nos doentes oncológicos (Thompson,

Sobelew-Shubin, Galbraith, Schwankovsky e Cruzen, 1993; cit. por Manne, e col., 2005). As

crenças de controlo podem ser particularmente importantes, pois o sentido de controlo durante a

doença pode estar associado a um melhor ajustamento psicológico nos doentes oncológicos (eg.

Ell, Mantell, Hamovitch, e Nishimoto, 1989; Taylor, Lichtman, e Wood, 1984; Thompson, e

col., 1993; cit. por Manne, e col., 2005). Manne, e col. (2005), no mesmo sentido, concluíram

que elevados níveis de comprometimento físico estão associados a baixo controlo percebido

durante a doença e por sua vez a elevados níveis de distresse psicológico. E segundo Ogden,

(2004) as consequências psicológicas do cancro acabam por ter grandes implicações na

qualidade de vida destes doentes.

A INCAPACIDADE FÍSICA E A FUNCIONALIDADE NOS DOENTES ONCOLÓGICOS

O modelo do processo de incapacitação da OMS, inicialmente designado de International

Classification of Impairments, Disabilities and Handicaps [ICIDH] em 1976 e traduzido para o

Português com o titulo Classificação Internacional das Deficiências, Incapacidades e

Desvantagens (handicaps), [CIDID], em 1988, postula o termo de doença para se referir às

anomalias bioquímicas, fisiológicas e anatómicas do organismo humano (Martins, 2005).

Em 2001 surge uma nova Classificação, a Classificação Internacional de

Funcionalidade, Incapacidade e Saúde [CIF], que consiste numa classificação internacional

desenvolvida pela OMS para registar perfis úteis da funcionalidade, incapacidade e saúde dos

indivíduos em vários domínios (OMS & DGS, 2004). Actualmente, esta classificação distingue

Funcionalidade e Incapacidade. A Funcionalidade é um termo que “engloba todas as funções

do corpo, incluindo assim as funções fisiológicas dos sistemas orgânicos e as funções

psicológicas, as actividades, enquanto execução de tarefas ou acções pela pessoa, e a

participação que diz respeito ao envolvimento de uma pessoa numa situação da vida real”,

permitindo desta forma uma descrição de experiências positivas. A Incapacidade por outro lado,

12

“ refere-se às deficiências, enquanto problemas nas funções ou nas estruturas do corpo, tais

como, um desvio importante ou uma perda, a limitação da actividade, como dificuldades que a

pessoa pode apresentar na execução de actividades, e a restrição na participação, enquanto

problemas que a pessoa pode enfrentar quando está envolvida em situações na vida real.”

Reportando a descrição de experiências menos positivas (OMS & DGS, 2004, p7)

Segundo Verbrugge e Jette (1994; citado por Dias 2007, p46) “o processo de

incapacitação (disablement process) é um processo dinâmico (pois reflecte as consequências

funcionais ao longo do tempo e os factores que afectam a sua direcção, estabilidade e padrões

de mudança) que descreve como as condições crónicas e agudas interferem no funcionamento

de sistemas específicos do corpo humano, e na capacidade dos indivíduos para agir de modo

necessário, usual, esperado e pessoalmente desejado no ambiente onde o individuo se insere”.

Assim, para estes autores, a incapacidade é definida como a dificuldade em realizar actividades

em qualquer domínio de vida, por exemplo, a higiene, actividades de recreação e lazer,

actividades de vida diária, ou a simples função de dormir, devido a um problema físico ou a um

problema de saúde.

No contexto da doença oncológica, Conti (1990) refere que alguns dos sobreviventes de

cancro, se encontram permanentemente incapacitados, contudo, outros apresentam algumas

limitações físicas, em que com a ajuda de terceiros conseguem alcançar uma melhoria na sua

qualidade de vida. Neste sentido, o estudo de Pinquart, Koch, Eberhardt, Brix, Wedding, e

Röhring (2006), demonstrou que um baixo status funcional está associado a uma baixa qualidade

de vida relacionada com a saúde nos doentes oncológicos. E é por isso que se torna vital estudar

a forma como ambas as variáveis (QDVRS e incapacidade física) se associam.

Por outro lado, o baixo funcionamento físico pode contribuir para elevados níveis de

distresse, tal como verificaram Kornblith e col., 1995; Scag e Heinrich (1990; citados por Norton

e col., 2005). Estes autores concluíram que um dos mais comuns stressores do doente oncológico

e que tem sido amplamente estudado no distresse do doente oncológico é o grau de

comprometimento físico (physical impairment) vivido como resultado da doença. O

comprometimento físico, ou incapacidade física, neste contexto é definida como “o grau de

dificuldade em realizar as actividades da vida diária, bem como o impacto dos efeitos

secundários aversivos do tratamento da doença, como a náusea e a dor” (Kornblith e col., 1995;

Scag e Heinrich, 1990; citados por Norton e col., 2005)

Punyko, e col. (2007), indicaram variáveis que caracterizam a incapacidade física nos

doentes oncológicos: a última condição médica, limitações em realizar as actividades de vida

diária, a incapacidade relacionada com a saúde para a actividade profissional, e a dor relacionada

com a doença oncológica. Assim, nos doentes oncológicos, uma capacidade física diminuída

13

pode ser explicada por vários factores, como a toxicidade e o tratamento do cancro (Seifer e col.,

1992; citado por Weert e col., 2004) – a cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia – que induzem

o declínio da condição cardiorespiratória e músculo-esquelética (Winningham, 1991; cit. por

Weert e col., 2004). São estes factores associados a sintomas físicos e a um pior funcionamento

físico que levam a altos nível de distresse psicológico em estudos citados por Manne, e col.

(2005) (eg. Fang, Manne, e Pape, 2001; Given e col., 1993; Portenoy, Thaler e col., 1994). O

estudo de Branin (1997), mostra que existe uma correlação significativamente positiva entre o

bem-estar psicológico e a qualidade de vida e a capacidade para o funcionamento diário.

Descobriu também que o estadio da doença está associado à diminuição do bem-estar

psicológico e o declínio na capacidade em realizar as actividades diárias levando a uma

qualidade de vida reduzida. Este estudo concluiu que o tratamento para o cancro melhora o bem-

estar psicológico das doentes com cancro ginecológico, apesar da capacidade em realizar

actividades de vida diária não mudar significativamente.

Um estudo de Cella e col., (1987; citado por Fulton, 1999) investigou a relação entre o

conceito de distresse psicológico, o estádio da doença e o performance status numa grande

amostra de doentes com cancro do pulmão. Os resultados desse estudo sugerem que existe uma

relação estatisticamente significativa entre a incapacidade física e distúrbios de humor, e que

também existe um efeito interactivo entre o estadio da doença e o aumento dos distúrbios de

humor. Efeito esse visto em pacientes que têm um estado físico mais comprometido sendo mais

pronunciado em pacientes num estadio avançado da doença. No mesmo sentido, Manne e Pape

(2001), verificaram que a incapacidade física está positivamente correlacionada com o nível de

distresse do paciente em que elevados níveis de incapacidade física estão associados a um grande

distresse psicológico no doente oncológico.

Num estudo com doentes com cancro da mama Kärki, Simonen, Mälkiä, e Selfe (2005),

concluíram que a incapacidade e o seu impacto nas actividades diárias são frequentes e

constantes. Pelo que estes autores sugerem o desenvolvimento urgente de protocolos de

reabilitação física e psicológica para pacientes com cancro na mama.

Com a incapacidade física surge outra consequência, a dependência de terceiros,

principalmente a dependência da família, que constitui um problema para o doente oncológico

em termos da perda de autonomia, acabando este por não saber lidar com as suas inseguranças.

Nesse sentido, a perspectiva desenvolvimentista de Joyce - Moniz e Barros (2005), enquadra os

temas Rotina vs. Exploração e Dependência vs. Autonomia a partir da inquirição socrática

“Como é que a doença vai evoluir?” existindo cinco tipos de resposta que são enquadrados em

cinco níveis de desenvolvimento em que a evolução da doença e da sua disfuncionalidade se

pode centrar: na perda de autonomia existencial (nível 5), na diminuição de capacidades físicas e

14

intelectuais (nível 4), na diminuição de actividades relacionais e sócio-emocionais (nível 3), no

rendimento cada vez mais disfuncional do corpo (nível 2) e na confusão com a vivência do dia -

a - dia dos sintomas somato-emocionais (nível 1) (Joyce- Moniz e Barros, 2005). Realçando-se

assim a necessidade de se avaliar de forma personalizada cada doente, visto que este pode

revelar diferentes níveis de significações.

SINTOMAS INCAPACITANTES : A DOR E A FADIGA

A incapacidade na doença oncológica apresenta algumas especificidades em comparação

com outras doenças que incapacitam fisicamente os doentes. Assim, há que ter em conta os

sintomas incapacitantes na doença oncológica tais como a dor e a fadiga.

De acordo com a teoria da auto-regulação de Leventhal e Johnson (1983; citado por

Armstrong, 2003), os sintomas consistem em representações concretas da doença experienciados

pelo indivíduo sendo componentes do processo cognitivo. Estes autores diferenciaram entre a

ocorrência de sintomas (uma ocorrência concreta e objectiva) da resposta emocional a tal

ocorrência. Lenz e col. (1997; cit. por Armstrong, 2003), desenvolveram uma teoria de sintomas

desagradáveis e definiram sintomas como “indicadores percebidos na mudança do

funcionamento normal vivido pelos pacientes”. Tendo conceptualizado cada sintoma como

sendo uma experiência multidimensional que pode ser medida separadamente ou em combinação

com outros sintomas. Rhodes e Watson (1987; cit. por Armstrong, 2003) definiram sintomas

como um fenómeno subjectivo visto pelos indivíduos como uma indicação de uma condição que

parte de uma função, sensação ou aparência normal ou que é algo percebido como sendo

indicador de mudança no funcionamento normal. Os sintomas (incluindo a fadiga, a náusea e a

dor) tornam-se conhecidos através dos relatos das pessoas que os vivenciam. Estes autores

concluem assim que a percepção dos sintomas pelos indivíduos depende de determinadas

características (individuais, doença e demográficas) sendo diferente para cada indivíduo. E a

expressão ou as consequências dos sintomas são descritas como mudanças nas actividades

funcional e cognitiva, incluindo o ajustamento à doença, a qualidade de vida, o humor, a

capacidade funcional, a progressão da doença e a sobrevivência.

A dor e a fadiga são dois dos mais comuns problemas físicos vivenciados pelos doentes

oncológicos e por essa razão são os mais abordados na revisão de literatura proposta para este

estudo.

Alguns estudos (Ahles, Ruckdeschel, & Blanchard, 1984; Glover, Miaskowski, Dibble, &

Dodd, 1995; Miaskowski, & Dibble 1995; Portenoy e col., 1992) citados por Dodd, Miaskowski,

e Paul (2001), têm demonstrado que a dor de moderada a severa, aparece em cerca de 45% dos

doentes adultos com cancro. Segundo Dodd e col. (2001), a fadiga, tem sido um problema

15

frequente e perturbador associado ao cancro e os seus tratamentos. Dos resultados do estudo dos

autores citados anteriormente pode-se concluir que os sintomas, como a dor e a fadiga, têm

efeitos na capacidade funcional. No mesmo sentido, Taskila e Lindbohm, (2007), citam estudos

(Ahles, Saykin, Furstenberg, e col., 2002; Fan, Houede-Tchen, Yi QL e col., 2005) que indicam

que os sintomas relacionados com o tratamento do cancro, tais como a dor e a fadiga influenciam

o funcionamento cognitivo, o nível de distresse e a qualidade de vida nos doentes oncológicos.

Assim, grande parte dos estudos indica que a dor é um dos sintomas mais comuns

associados ao cancro, sendo definida “como uma experiência emocional e sensorial associada a

lesões reais ou potenciais dos tecidos, ou descritas em termos de tais lesões” (Association for

the Study of Pain, Subcommittee on Taxonomy, 1988; citado por NCCN, 2008). Assim torna-se

importante uma avaliação cuidada da dor oncológica apresentando para o efeito linhas

orientadoras, tal como na avaliação do distresse. Isto porque a dor ocorre em aproximadamente

um quarto dos pacientes com um novo diagnóstico de cancro, um terço dos pacientes apresenta

dor devido aos tratamentos, e três quartos dos pacientes apresenta dor devido à evolução da

doença (Cohen, Easley, Ellis, e col., 2003; Goudas, Bloch, Gialeli-Goudas e col., 2005;

Svendsen, Andersen, Arnason, e col., 2005; cit. por NCCN, 2008), sendo esta um dos sintomas

que os pacientes mais receiam.

A dor causa desconforto e afecta as actividades, a motivação, a interacção com a família e

amigos, e a qualidade de vida global. Uma avaliação compreensiva da dor é muito importante e

caso esta não seja adequadamente realizada, pode levar a um fraco controlo da mesma. Uma vez

que a dor é inerentemente subjectiva, a avaliação da sua intensidade é realizada através de uma

escala visual analógica que vai de 0 a 10, avaliação essa que é feita pelos próprios pacientes, em

que 1-3 corresponde a dor ligeira 4-6 dor moderada, 7-10 dor severa (NCCN, 2008).

Um estudo de Rietman, Dijkstra, Debreczeni, e Geertzen (2004) com doentes com cancro

da mama que relaciona a QDVRS, as incapacidades e deteriorações após tratamento concluiu

que a dor é a perturbação mais frequentemente avaliada após tratamento de cancro da mama

estando fortemente relacionado com a incapacidade física e a QDVRS.

Para além da dor, a fadiga tem sido um outro sintoma físico incapacitante frequentemente

referido pelos doentes oncológicos, contudo as náuseas também são consideradas um sintoma

incapacitante, contudo não será um sintoma aprofundado neste estudo. Assim, alguns estudos

sobre a QDVRS indicam a fadiga relacionada com o cancro, como um sintoma extremamente

comum e aflitivo, durante e depois da quimioterapia (Bottomley, 2002).

A fadiga relacionada com o cancro, é definida pelo NCCN e por Mock, Atkinson,

Barsevick, e col. (2000; citado por Ahlberg, Ekman, Gaston-Johansson e Mock, 2003) como “um

sentido de cansaço persistente, e subjectivo relacionado com o cancro ou o tratamento do

16

cancro que interfere com o funcionamento normal do paciente”. Segundo Cella, Peterman,

Passik, Jacobsen, e Breitbart, (1998; cit. por Ahlberg, e col., 2003) e Portenoy e Itri, (1999; cit.

por Ahlberg, e col., 2003) a fadiga pode ser descrita em termos de percepção de falta de energia,

capacidade mental e psíquica.

No entanto, não há consenso quanto ao conceito de fadiga apesar de ser possível afirmar

que a fadiga é subjectiva, multifactorial, e engloba os âmbitos físico, emocional e cognitivo do

paciente. Os termos astenia, letargia, exaustão, sensação de fraqueza, cansaço extremo e falta de

motivação são utilizados como sinónimos (Tyler e Lipman, 2000; citado. por Mota & Pimenta,

2002). Contudo, devido à fadiga, há que ter em conta que doentes com cancro avançado tendem

a apresentar um alto grau de incapacidade, o que os torna dependentes de cuidadores (Mota &

Pimenta, 2002). Ainda de acordo com estes autores, a fadiga é um sintoma preponderante na

doença oncológica avançada, e ocorre em 75% a 95% dos doentes, sendo debilitante, uma vez

que compromete as actividades da vida diária e diminui a qualidade de vida (Mota & Pimenta,

2002). É ainda um sintoma para o qual menos se conhecem intervenções efectivas,

especialmente quando comparadas às indicadas para o controlo de outros sintomas, como a dor

(INCA, 2001; cit. por Mota e Pimenta, 2002).

De acordo com o Instituto Nacional de Cancro dos Estados Unidos [NCI] (2001; citado

por Battaglini, Bottaro, Cambell, Novaes & Simão, 2004), 72% a 95% dos pacientes oncológicos

em tratamento (radioterapia, quimioterapia ou outros tratamentos), apresentam um aumento dos

níveis de fadiga. Este aumento dos níveis de fadiga pode provocar uma diminuição significativa

da capacidade funcional, levando a uma grande perda de saúde e de qualidade de vida (NCI,

2001; cit. por Battaglini, e col., 2004; Curt, Breitbart, Cella, e col., 2000; cit. por Ahlberg, 2003)

Uma capacidade física diminuída pode levar a um maior esforço para desempenhar as

actividades do dia-a-dia, e desta forma os doentes podem sentir fadiga mesmo quando

desempenham actividades que exigem um esforço físico menor. Desta forma, os doentes

oncológicos são normalmente aconselhados a evitar esforços físicos e a minimizar as actividades

diárias de forma a reduzir a fadiga. Desta forma inicia-se assim um ciclo vicioso de fadiga, em

que a necessidade de uma redução da actividade física provoca uma diminuição da capacidade

física, e o consequente aumento da fadiga aquando a realização de tarefas. Portanto, a capacidade

física diminuída tem sido referida como um contributo no aumento da fadiga (Winningham,

1991; cit. por Weert e col., 2004) e na diminuição da qualidade de vida dos doentes oncológicos

(Dimeo e col., 1997; citado por Weert e col., 2004). No mesmo sentido, o estudo de Vogelzang,

Breitbart, Cella, e col., (1997; cit. por Ahlberg e col., 2003) revelou que os pacientes relatam

fadiga aos profissionais de saúde sendo a recomendação frequente o repouso e a diminuição da

actividade física. Contudo, de acordo com Berger e Farr (1999; cit. por Ahlberg e col., 2003),

17

uma constante diminuição da quantidade de actividade diária, muitas vezes durante o longo

período de tratamento, pode levar a uma redução da tolerância para a actividade normal e, por

conseguinte, níveis elevados de fadiga.

Segundo o estudo de Curt (2000), 49% dos doentes oncológicos, numa amostra de 376

participantes, referem que o impacto da fadiga é significativo, e apenas 10% acredita que a

fadiga é um sintoma irrelevante nas suas actividades diárias. Dentro dos pacientes que

apresentam fadiga (n = 301), as limitações físicas, emocionais, mentais e sociais são evidentes.

Andar a pé, exercício físico, limpeza da casa e subir escadas é percebido pela maioria dos

doentes como actividades difíceis. Muitas das actividades da vida diária são descritas como

sendo tanto ou mais difíceis, como a simples actividade de preparar refeições. A fadiga

relacionada com o cancro tem também um componente emocional significativo, em que 90% dos

doentes referem que a fadiga contribui para o sentimento de perda de controlo e uma

incapacidade em levar uma vida normal. Sentimentos como desesperança, isolamento, e solidão

são também sintomas emocionais negativos referidos pelos doentes. Outras experiências

emocionais nos pacientes que apresentam fadiga são a necessidade de se empurrar a si mesmo, a

perda de motivação, tristeza, frustração, e exaustão mental. Levando a que 19% destes doentes

referissem desejo de morrer devido aos efeitos debilitantes da fadiga. Um número surpreendente

de doentes também referiu fadiga relacionada com incapacidade social, que inclui dificuldades

em ir às compras, expressar intimidade com o companheiro, brincar com crianças, dispor tempo

com os amigos, ir a um restaurante ou ao cinema, ou simplesmente apreciar a vida num dado

momento.

Em suma, a fadiga limita de forma significativa as actividades diárias e reduz a

capacidade de trabalho (Mota & Pimenta, 2002) tal como a dor e os sintomas psicológicos

negativos, e como tal, estes sintomas necessitam de tratamento urgente e de uma intervenção que

os reduza de forma a verificar-se uma melhoria ao nível da QDVRS.

REABILITAÇÃO FÍSICA E PSICOLÓGICA NOS DOENTES ONCOLÓGICOS

De acordo com o que foi dito anteriormente sobre as implicações e consequências

negativas da doença oncológica nos doentes, é deveras importante uma avaliação cuidada ao

nível da esfera física, social e psicológica de forma a enquadrar cada doente numa intervenção de

reabilitação personalizada. Alguns estudos têm sido elaborados com o objectivo de estudar a

eficácia de certos programas de reabilitação do doente oncológico.

Weert, e col., (2004), estudaram o efeito de um programa de reabilitação no

funcionamento físico e na qualidade de vida em 34 doentes oncológicos que receberam

tratamento para a doença. Os resultados mostraram que os doentes oncológicos após seis

18

semanas apresentaram uma melhoria estatisticamente significativa ao nível do Funcionamento

Físico, e das limitações devido a problemas emocionais e ao nível da Vitalidade medidos pelo

SF-36 em comparação com os resultados de base. Após seis semanas deste programa de

reabilitação, houve uma redução ao nível dos sintomas físicos e ao nível do Distresse psicológico

nos doentes oncológicos. Este estudo permitiu também concluir que os doentes oncológicos

apresentaram menores níveis de fadiga geral, fadiga física verificando-se um aumento na

motivação após seis semanas do programa de reabilitação em comparação com os resultados de

base verificados antes da implementação do programa. Estes autores concluem então que uma

melhoria no Funcionamento Físico e na Vitalidade, devido à implementação de um programa de

reabilitação para doentes oncológicos, promoveu o aumento da capacidade física destes.

A implementação de programas de exercício físico tem demonstrado benefícios ao nível

do alívio de sintomas e do consequente aumento da QDVRS. Contudo esses programas

apresentam várias limitações que têm de ser tidas em consideração.

Segundo Brawley, Culos-Reed, Angove, e Hoffman-Goetz, (2002), a prática regular de

actividade física tem tido efeitos positivos no alívio de sintomas promovendo o funcionamento

físico e a qualidade de vida. Contudo, é necessário estudar as barreiras à participação em

actividades físicas, que acabam por comprometer a adesão e os benefícios subsequentes. No

mesmo sentido, Marcus, e col., (2007), concluíram que os doentes oncológicos com capacidade

física diminuída necessitam de exercício físico moderado através de programas específicos.

Sendo assim, os protocolos que são elaborados têm de ser avaliados para que tenham

aplicabilidade e permitam que os doentes oncológicos adiram aos mesmos.

Segundo Dimeo e col, (1999; cit. por Weert, e col, 2004), uma melhoria na performance

física pode aumentar o sentido de controlo, a independência, a auto-estima e a auto-eficácia nos

doentes oncológicos. Também Battaglini, Bottaro, Campbell, Novaes, e Simão (2004) se

debruçaram sobre o estudo da influência do exercício físico ao nível da capacidade física nos

doentes oncológicos. Estes autores, estudaram a correlação existente entre as adaptações

fisiológicas causadas pela actividade física e os níveis de fadiga em 27 doentes oncológicos que

foram sujeitos a quimioterapia ou radioterapia ou a ambos os tratamentos. O objectivo era

estudar o efeito do exercício físico nessas variáveis. Este estudo concluiu que o exercício físico

reduziu a fadiga e melhorou a condição física, contudo os resultados não foram estatisticamente

significativos, facto atribuído à pequena dimensão da amostra segundo os seus autores.

Por outro lado, Osborn, Demoncada e Feuerstein (2006), estudaram os efeitos da Terapia

Cognitivo-Comportamental em problemas comummente referidos pelos doentes oncológicos

como: depressão, ansiedade, dor, funcionamento físico, e qualidade de vida. Tendo concluído

que esta terapia tem efeitos a curto e a longo prazo ao nível da depressão, ansiedade e qualidade

19

de vida. Estes autores sugerem que as várias abordagens cognitivo-comportamentais sejam

implementadas aos doentes oncológicos de forma a reduzir o distress emocional e a promover a

QDVRS.

De acordo com a Terapia Cognitiva da Depressão de Beck, Rush, Shaw, e Emery (1979),

a depressão afecta os domínios afectivo, cognitivo, motivacional e comportamental da pessoa, e

todos eles necessitam de uma intervenção terapêutica. Se pensarmos que todos os domínios se

implicam, é importante incidir as intervenções em todos conjuntamente. Em relação ao domínio

afectivo, a pessoa apresenta sentimentos de profunda tristeza ou infelicidade que a leva a

perspectivar a vida de forma negativa e distorcida. Assim, o domínio motivacional, acaba por ser

afectado, pois a pessoa deprimida tende a apresentar elevados niveis de desmotivação o que a

pode levar à inactividade, e assim afectar o domínio comportamental. Assim, neste sentido,

Layne, Heitkemper e Roering (1985), referem que os doentes oncológicos deprimidos

apresentam um défice motivacional especialmente devido às baixas expectativas que apresentam,

ou seja, os doentes oncológicos acreditam que vão morrer, o que dificulta o ajustamento à

doença. Estes autores concluem que muitos dos sintomas exibidos pelos doentes oncológicos são

manifestações das suas crenças em vez de verdadeiros comprometimentos físicos. Desta forma,

estes autores sugerem a Psicoterapia Cognitivo Comportamental de forma a aumentar a

motivação e a diminuir a depressão nos doentes oncológicos.

Uma das grandes consequências associadas ao tratamento do cancro, é a dependência

física de outras pessoas. E como já foi visto no primeiro capítulo, esta é uma área que custa

“digerir” ao doente oncológico. Esta dependência surge muitas vezes devido aos tratamentos que

deixam os doentes acamados ou incapacitados para realizar determinadas tarefas pelo que se tem

de recorrer a ajuda domiciliária ou até mesmo aos centros de dia. Estes dois métodos permitem

uma maior envolvência e cooperação por parte do próprio doente, da família e da equipa que

presta esses mesmos cuidados (Pereira & Lopes, 2005). E de acordo com Telch e Telch (1986;

cit. por Pereira & Lopes, 2005), é importante dotar o doente de competências de resolução de

problemas, fornecer treino de relaxamento e planeamento de actividades aprazíveis de forma a

reduzir problemas psicológicos, aumentar a adesão terapêutica, bem como a comunicação e o

relacionamento social.

Desta forma, a reabilitação psicológica destes doentes passa muito por uma intervenção

cujo objectivo é a promoção da autonomia no doente oncológico.

De seguida serão apresentados os Objectivos e Questões de Investigação.

20

OBJECTIVOS E QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO

OBJECTIVO GERAL

O objectivo geral deste trabalho é explorar a Vivência da Incapacidade física e da

Funcionalidade nos doentes oncológicos e como estas se relacionam com a Qualidade de Vida

Relacionada com a Saúde (QDVRS).

OBJECTIVOS ESPECÍFICOS

Tendo em conta o objectivo geral, pretende-se abordar os seguintes objectivos

específicos:

Objectivo 1: Caracterizar a Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde nos doentes

oncológicos através do FACT-G, v.4 (Functional Assessment Cancer Therapy - General,

Version 4), do SF-36, v.2 (Short Form 36-item Health Survey) e do FLI-C (Functional Living

Index - Cancer) e Caracterizar os Níveis de Distresse medidos através do Termómetro do

Distresse e os Níveis de Capacidade Física medidos através de uma Escala Visual Analógica.

Objectivo 2. Caracterizar a relação existente entre a Qualidade de Vida Relacionada com a

Saúde, e a Incapacidade física, com as Variáveis Sócio-Demográficas e Clínicas nos doentes

oncológicos;

Objectivo 3. Caracterizar a relação existente entre a Incapacidade Física e a Qualidade de Vida

Relacionada com a Saúde nos doentes oncológicos;

Objectivo 4. Caracterizar a relação existente entre a QDVRS, a Incapacidade física e o Distresse

Psicológico nos doentes oncológicos;

Objectivo 5. Caracterizar os temas centrais da Incapacidade Física e Funcionalidade nos doentes

oncológicos e explorar a forma como estes são vividos, abordando aspectos como as

significações sobre causas e consequências, emoções, e estratégias de confronto e adaptação.

21

QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO

Questão1. Quais os níveis de Qualidade de vida Relacionada com a Saúde nos doentes

oncológicos?

Questão 2. Como classificam os doentes oncológicos o seu nível de capacidade física numa

escala 0 a 10? E os seus níveis de Distresse?

Questão 3. Qual a relação existente entre a Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde, a

Incapacidade Física, e as Variáveis Sócio – Demográficas e Clínicas nos doentes oncológicos?

Questão 4. Qual a relação existente entre a Incapacidade física e a Qualidade de Vida

Relacionada com a Saúde nos doentes oncológicos?

Questão 5. Qual a relação existente entre a Incapacidade física e o Distresse Psicológico nos

doentes oncológicos?

Questão 6: Qual a Área mais frequente? Dentro desta qual a Categoria e a Sub-Categoria mais

frequentes e os temas básicos mais representativos e preponderantes? E no geral, quais os Temas

Básicos mais representativos e preponderantes?

Questão 7. Será a doença oncológica e problemas associados, referidos pelos doentes

oncológicos a principal causa da incapacidade?

Questão 8. Quais as consequências da incapacidade física nos doentes oncológicos?

Questão 9. Quais os Sentimentos/Emoções associados à vivência da incapacidade e

funcionalidade nos doentes oncológicos?

Questão 10. Quais as estratégias de confronto e de adaptação utilizados pelos doentes

oncológicos na vivência da incapacidade física?

22

METODOLOGIA

CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO

De acordo com os objectivos propostos para este estudo optou-se por uma metodologia

mista, ou seja, qualitativa (em que foi utilizada uma entrevista semi-estruturada) e quantitativa

(em que foram utilizados: o Functional Assessment Cancer Therapy - General, version 4,

(FACT-G, v.4), o Medical Outcomes Study 36 — Item Short Form SF-36, version 2 (SF-36 v.2)

o Termómetro do Distresse, o Functional Living Índex - Cancer (FLI-C )). O recurso a uma

metodologia mista permite assim compreender melhor as emoções e comportamentos dos

participantes, pois apesar de a utilização de questionários, enquanto técnica objectiva de recolha

de dados, ser um método muito utilizado neste âmbito, estes não permitem que se chegue às

significações pessoais e idiossincrasias do doente.

Este estudo, é de carácter exploratório, pois pretende estudar e conhecer temas

relacionados com a doença oncológica e a sua vivência no que diz respeito à incapacidade física

e à QDVRS sendo também um estudo descritivo. Pretende-se assim, explorar relações entre

variáveis tendo por isso, este trabalho, uma componente correlacional uma vez que as variáveis

não são manipuladas em nenhum momento.

CONTEXTO E PROCEDIMENTOS DO ESTUDO

O presente estudo foi realizado na Clínica da Dor do Instituto Português de Oncologia

Lisboa Francisco Gentil (IPOLFG). A Clínica da Dor, é um serviço que atende doentes que

sofrem de dor crónica, contudo a grande maioria dos utentes são doentes oncológicos que são

acompanhados e seguidos nessa mesma instituição. Na maioria destes doentes, as queixas álgicas

surgem numa fase avançada da doença oncológica, o que faz com que este serviço adquira

características únicas para se adequar às necessidades dos doentes. Desta forma o serviço da

Clínica da Dor é composto por uma equipa multidisciplinar constituída por médicos das áreas de

anestesiologia e de neurologia, que intervêm através da realização de consultas médicas e de

tratamentos lá realizados. É uma equipa também composta por enfermeiros que dão apoio às

consultas e tratamentos médicos. Estas consultas médicas têm como grande objectivo definir ou

ajustar as terapêuticas no controlo do quadro álgico. Contudo, estas técnicas não são meramente

farmacológicas e incluem também técnicas não farmacológicas igualmente importantes e

valorizadas. Assim, a existência de um profissional de psicologia é vital na integração da equipa.

A Clínica da Dor tem ao dispor um serviço de psicologia cujo objectivo é promover a qualidade

de vida e a adaptação dos pacientes e da família à doença e às suas consequências. Segundo

23

Holland (1999; citado por Gil, Sirgo, Lluch, Mate e Estrade, 2002) a consulta de psicologia,

através da avaliação do Distresse Psicológico, tem como grande objectivo despistar a existência

de psicopatologias ou de outras patologias concomitantes à doença oncológica que interfiram de

forma negativa na adaptação à doença.

Para a realização deste estudo elaborou-se um pedido de autorização que foi entregue na

instituição (ANEXO I), tendo o mesmo sido aprovado pela respectiva Comissão de Ética (ANEXO

II). Após a aprovação do estudo, procedeu-se à recolha de dados.

Os dados provenientes do questionário FACT-G, v.4 e do Termómetro do Distresse, bem

como os dados pessoais, Sócio - Demográficos e Clínicos, foram recolhidos no contexto da

primeira consulta de psicologia na Clínica da Dor do IPOLFG. Os participantes do estudo

tomaram conhecimento do estudo nessa mesma consulta, ou por contacto telefónico antes de se

proceder ao envio do protocolo de consentimento informado e dos instrumentos. Contudo,

sempre que possível o protocolo e os instrumentos eram entregues em mão combinando-se com

o participante esse contacto.

O Protocolo de Consentimento Informado (ANEXO III - Em CD), juntamente com os

questionários FLI-C e SF-36, foram enviados aos participantes através dos serviços postais.

Junto a estes documentos seguiu um envelope pré-selado para que fosse possível o retorno dos

mesmos. Nas situações em que estes eram entregues em mão, foi igualmente fornecido um

envelope selado para facilitar o retorno.

Este estudo apoiou-se em instrumentos objectivos padronizados e na aplicação de uma

Entrevista semi – estruturada construída especificamente para o estudo em causa.

CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

A amostra deste estudo é uma amostra de conveniência, ou seja, foram abordados os

participantes que iam surgindo no serviço da Clínica da Dor, estando por isso a sua dimensão

limitada aos recursos disponíveis.

Foram admitidos para a amostra participantes de ambos os sexos, de acordo com os

seguintes critérios de inclusão: a) idade igual ou superior a 18 anos; b) ter diagnóstico médico de

doença oncológica; c) saber ler e escrever.

CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA (VARIÁVEIS SÓCIO - DEMOGRÁFICAS E CLÍNICAS )

Género: A amostra deste estudo é constituída por 26 participantes, sendo 23% (n = 6) do sexo

masculino e 77% (n = 20) do sexo feminino (Ver gráfico 1).

24

Tabela 1 - Caracterização da amostra em termos etários

Idade: A média de idades é de 61 anos com um desvio-padrão de 13,62 anos, com uma

amplitude de valores que varia entre os 35 e os 84 anos (Ver tabela 1).

Na caracterização da amostra através da distribuição por grupos etários podemos verificar

que a maioria dos participantes tem uma idade situada entre os 40 e os 80 anos (81%). Em que

34,6% estão no escalão etário entre os 60 e os 70 anos (Ver gráfico 2)

Meio Ecológico: Relativamente à distribuição pelo meio ecológico, pode-se verificar que a

maioria dos participantes do estudo se situa no meio Suburbano (50%, n = 13), seguido pelo

meio urbano (38%, n = 10) e por último o meio rural (12%, n =3). (Ver gráfico 3)

Estado Civil: Relativamente à distribuição pelo estado civil, a maioria referiu estar casado

(61%, n = 16), seguindo-se o estado de viuvez (23%, n = 6), e depois o estado divorciado (12%,

n = 3) e por último a situação união de facto (4%, n = 1) (Ver gráfico 4)

Desvio N Média Padrão Mínimo Máximo Idade 26 61 13,62 35 84

Gráfico 1 - Distribuição da Amostra por Género

Masculino, 6; 23% Feminino, 20; 77%

Idade 90 80 70 60 50 40 30

10

8

6

4

2

00

Frequência

Gráfico 2 - Frequência da idade da amostra pelos escalões etários

Gráfico 3 - Distribuição da amostra pelo Meio Ecológico

Urbano, 10; 38%

Suburbano 13; 50%

Rural, 3; 12%

25

Grau de Escolaridade: Em relação à distribuição pelo grau de escolaridade, verifica-se que a

maioria dos participantes do estudo apresenta a instrução primária (46%, n = 12), seguindo-se os

participantes com o ensino preparatório e secundário em igual percentagem (23%, n = 6), 4% (n

= 1) dos participantes apresenta o grau de licenciatura e o grau de bacharelato (Ver gráfico 5)

Situação Profissional: Em relação à distribuição pela situação profissional, na altura da primeira

entrevista, 77%, (n = 20), dos participantes referiu estar reformado, 15% (n = 4) referiu estar de

baixa, 4% (n = 1) referiu estar no activo e 4% (n = 1) referiu outra situação (Ver gráfico 6)

Agregado Familiar: Relativamente à distribuição pelo agregado familiar, 38% (n = 10) dos

participantes refere morar com o cônjuge e filhos (ou só com os filhos), 38% (n = 10) dos

participantes refere morar com o cônjuge, e 23% (n =6) refere morar sozinho (Ver gráfico 7)

Gráfico 4 - Distribuição da amostra pelo Estado Civil

Casado, 16; 61%

União de Facto, 1; 4% Divorciado, 3; 12%

Viuvo, 6; 23%

Gráfico 5 - Distribuição da amostra pelo Grau de Escolaridade

Ensino Primário; 12; 46%

Ensino Preparatório, 6; 23%

Ensino Secundário, 6; 23% Bacharelato; 1; 4%

Licenciatura; 1; 4%

Gráfico 6 - Distribuição da amostra pela Situação Profissional

Activo; 1; 4%

Baixa; 4; 15%

Reformado; 20; 77%

Outra; 1; 4%

Gráfico 7 - Distribuição da amostra pelo Agregado Familiar

Familia nuclear com filhos; 10; 38%

Familia nuclear sem filhos; 10; 38%

Familia unipessoal; 6; 23%

26

Religião: No que diz respeito à religião, 88% (n = 23) referiu ser católico independentemente de

ser praticante ou não, 8% (n = 2) referiu ser Jeová, e 4% (n = 1) refere não ter uma religião

específica (Ver gráfico 8)

Tipo de Cancro inicial: Em relação ao tipo de cancro inicial, a maior percentagem é o cancro da

mama, 37% (n = 10), seguindo-se o cancro no sistema reprodutor, 23% (n = 6), depois, em igual

percentagem o cancro do sistema digestivo, do sistema respiratório, e da cabeça e pescoço 12%

(n = 3), e por último a categoria ‘outro tipo de cancro’ por não se enquadrar em nenhum tipo de

cancro especifico e a sua origem ser incerta com 4% (n = 1) (ver gráfico 9).

Tratamentos Realizados: Relativamente aos tratamentos realizados no inicio da doença, a

Cirurgia, Quimioterapia e Radioterapia foi o tipo de tratamento mais referido, 41% (n = 11),

seguindo-se em igual percentagem a Cirurgia e Quimioterapia e a Cirurgia e outro com 12% (n =

3), depois, a Quimioterapia e Radioterapia com 11% (n =3), depois a Radioterapia e outro com

8% (n = 2) e por fim, a Radioterapia, a Quimioterapia, a Cirurgia, e a Cirurgia e Radioterapia

com 4% (n = 1) (ver gráfico 10).

Gráfico 9 - Distribuição da amostra pelo Diagnóstico inicial

6; 23% 3; 12%

10; 37%

3; 12% 3; 12%

1; 4%

Cancro no sistema reprodutor

Cancro no sistema digestivo Cancro da mama

Cancro no sistema respiratório

Cancro da cabeça e pescoço

Outro

Gráfico 10 - Distribuição da amostra pelos Tratamentos iniciais

1; 4% 1; 4% 3; 11%

11; 41% 3; 12%

1; 4%

2; 8% 3; 12% 1; 4%

RT QT

QT, RT CIR, QT, RT

CIR, QT CIR, RT RT, outro CIR, outro CIR

Gráfico 8 - Distribuição da amostra pela Religião

Católica; 23; 88%

Geová; 2; 8%

Não especificada; 1; 4%

27

Diagnóstico Actual: Em relação ao diagnóstico actual, 37% dos participantes (n = 10) apresenta

o mesmo diagnóstico, 35% (n = 9) apresenta o mesmo diagnóstico + metastização, em igualdade

está o Cancro ósseo e Metastização com 8% (n = 2) e por fim com 4% (n = 1) Recidiva,

Recidiva + metastização, e metastização + cancro ósseo (ver gráfico 11)

Tratamentos actuais: Relativamente aos tratamentos actuais, neste momento, 57% (n = 15) dos

participantes encontra-se a realizar outros tipos de tratamento que não a Quimioterapia e a

Radioterapia que podem incluir outro tipo de medicação, 31% (n = 8) encontra-se a fazer

Quimioterapia, 8% (n = 2) encontra-se a fazer radioterapia e 4% (n = 1) encontra-se a fazer

Quimioterapia + Radioterapia (ver gráfico 12)

Tempo desde o Diagnóstico: O tempo desde o diagnóstico nesta amostra tem em média 8,62

anos com desvio padrão de 11,75, o valor mínimo é o e o valor máximo é 51 anos desde o

diagnóstico (Tabela 2). Relativamente à distribuição da amostra pelo tempo desde o diagnostico

inicial, à volta de 60% dos participantes tem um diagnóstico até aos 5 anos, à volta de 10%

apresenta um diagnóstico de 5 a 10 anos e quase 30% dos participantes tem diagnóstico superior

a 10 anos (Gráfico 13)

Tabela 2 - Caracterização dos anos de diagnóstico

N Média Desvio-Padrão Mínimo Máximo

Anos de Diagnóstico 26 8,62 11,754 0 51

QT RT QT+RT outro

Gráfico 12 - Distribuição da amostra pelos Tratamentos actuais

8; 31% 2; 8% 1; 4%

15; 57%

Gráfico 11 - Distribuição da amostra pelo Diagnóstico Actual

10; 37%

1; 4% 1; 4% 2; 8%

1; 4%

2; 8%

9; 35%

Recidiva Recidiva + metastização Metastização Metastização + Cancro ósseo Cancro ósseo

Mesmo diagnóstico

Mesmo diagnóstico + metastização

28

Gráfico 13 - Distribuição da amostra pelos anos de diagnóstico

De salientar que neste estudo foi caracterizada uma amostra de 26 participantes, dos quais

apenas 15 foram sujeitos a entrevista, como se constará mais à frente. Contudo a amostra dos

entrevistados não foi especificamente caracterizada. De seguida serão apresentados os

instrumentos de avaliação utilizados para este estudo.

INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO

Os instrumentos utilizados para este estudo foram: o Functional Assessment Cancer

Therapy - General, version 4, (FACT-G, v.4), o Termómetro do Distresse, o Medical Outcomes

Study 36 — Item Short Form SF-36, version 2 (SF-36 v.2)) o Functional Living Índex - Cancer

(FLI-C ) e uma entrevista Semi - Estruturada com a Escala Visual Analógica (EVA) para a

Capacidade Física.

Os instrumentos utilizados no presente estudo foram escolhidos de acordo com os

objectivos previamente definidos e de acordo com a revisão de literatura feita nesse sentido.

Contudo, ressalva-se que não foi utilizado um instrumento especifico na avaliação da

incapacidade física dos doentes oncológicos, esta variável será deduzida pela análise dos

resultados obtidos nas subescalas dos questionários FACT-G (Bem-estar Físico e Bem Estar

Funcional), SF-36 (Funcionamento Físico, Desempenho Físico, Dor Corporal, Vitalidade,

Funcionamento Social, Desempenho Emocional) e através do FLI - C enquanto medida de

QDVRS que avalia o impacto da doença na funcionalidade. Para se aprofundar melhor o tema do

estudo, optou-se por elaborar uma entrevista Semi-Estruturada que explora temas relacionados

com a vivência da Incapacidade física enquanto consequência da doença não deixando de lado

vivências positivas, como a vivência da Funcionalidade.

Functional Assessment Cancer Therapy – General, version 4(FACT-G, v.4) (ANEXO IV)

Este instrumento avalia a Qualidade de Vida no cancro, contudo também está adaptado a

outras doenças crónicas (Cella, e col., 1993). Para este estudo utilizou-se a quarta versão do

questionário

Este questionário é geral, dentro da doença oncológica, havendo módulos

complementares ao FACT-G, quer para neoplasias específicas, quer para sintomas. Sendo a sua

61% 12%

27% Até aos 5 anos De 5 a 10 anos Mais de 10 anos

29

utilização neste estudo justificada por permitir avaliar a QDVRS nestes participantes sem que se

tenha em conta o tipo de cancro, pois esta amostra é muito heterogénea. E também pelo facto de

que, em termos de prática clínica, se torna complicado aplicar um questionário diferente a cada

paciente. O questionário foi desenvolvido para ser auto-administrado, podendo-se verificar que

os itens se encontram na primeira pessoa (Pimentel, 2006), contudo pode ser aplicado em

contexto de entrevista.

O FACT-G v.4, tem 27 itens distribuídos pelas seguintes Dimensões: Bem-Estar Físico

(7 itens), Bem-Estar Social/Familiar (6 itens e 1 opcional), Bem-Estar Emocional (6 itens) e

Bem-Estar Funcional (7 itens). Os itens estão ordenados de 0 a 4 (numa escala que apresenta as

expressões 0-Nem um pouco, 1-Um pouco, 2- Mais ou menos, 3-Bastante, 4-Muito). Na

Dimensão Bem-Estar Emocional a pontuação do item “Estou satisfeito (a) com a maneira como

enfrento a minha doença” tem de ser invertida. (Pimentel, 2006).

A pontuação das dimensões é obtida pela soma das pontuações dos itens, em que são

depois convertidos em percentagem (ANEXO IVa). E a pontuação global da Escala FACT-G

resulta da soma das pontuações em todos os itens. Assim, os valores das dimensões variam entre

0% a 100%, e os valores da escala global FACT-G varia entre 0 e 108. Desta forma, resultados

inferiores indicam uma QDVRS fraca, e resultados elevados indicam uma boa QDVRS.

A versão deste estudo, foi aferida para a população portuguesa por Arnold, Eremenco,

Cella, Pais-Ribeiro e Doro (2004). Os dados recolhidos para a aferição, foram obtidos de 122

doentes oncológicos. Foi encontrado um alfa de Cronbach de 0,89 para a escala global e para as

dimensões bem-estar este situa-se entre 0.71 e 0.86.

Medical Outcomes Study 36 — Item Short Form SF-36, version 2 (SF-36 v.2): Questionário de

Estado de Saúde (SF-36, v2: Versão Portuguesa) (ANEXO V)

“Este questionário é uma medida breve de avaliação do Estado de Saúde podendo ser

utilizado para múltiplos objectivos, por exemplo, económicos ou clínicos. Os objectivos clínicos

pretendem avaliar a Qualidade de Vida ou a percepção do Estado de Saúde de forma a orientar

recursos limitados ou as escolhas do doente perante tratamentos ou programas de intervenção

alternativos. Este questionário é uma das técnicas mais utilizadas na avaliação do estado de

saúde e foi desenvolvida a partir da definição matricial da OMS” (Pais - Ribeiro, 2005, pág81).

Tem sido muito utilizado enquanto medida do Estado de Saúde para avaliar a performance

funcional dos doentes oncológicos. Apresenta duas versões, tendo sido utilizado para este estudo

a versão 2. A sua tradução, adaptação cultural e validação foi realizada por Ferreira (1998). Este

questionário foi escolhido por avaliar o impacto do estado de saúde ou de doença ao nível da

30

capacidade funcional, permitindo assim dar uma visão das dificuldades sentidas decorrentes da

realização de tarefas diárias, do exercício físico ou do trabalho normal diário.

O questionário contém 36 itens que se distribuem por oito dimensões: Funcionamento

Físico (itens 3a, 3b, 3c, 3d, 3e, 3f, 3g, 3h, 3i, e 3j ), Desempenho Físico (itens 4a, 4b, 4c, e 4d),

Dor Corporal (itens 7 e 8), Saúde Geral (1, 11a, 11b, 11c, e 11d itens), Vitalidade (itens 9a,

9e, 9g, e 9i), Funcionamento Social (itens 6 e 10), Desempenho Emocional (itens 5a, 5b, e 5c),

Saúde Mental (itens 9b, 9c, 9d, 9f, e 9h) e o item 2 de Transição de Saúde que não faz parte de

nenhuma das escalas e a resposta da pessoa a este item informa acerca da percepção que a pessoa

tem acerca da mudança da sua saúde em comparação tendo como referência o que acontecia há

um ano atrás (Pais - Ribeiro, 2005, pag.94). As oito dimensões, por sua vez, associam-se em dois

grandes componentes: Componente Físico (Funcionamento Físico, Desempenho Físico, Dor

Corporal e Percepção Geral de Saúde) e Componente Mental (Vitalidade, Saúde Mental,

Funcionamento Social e Desempenho Emocional) (Pais - Ribeiro, 2005, pag.85) (ANEXO Va)

Os itens e dimensões do SF-36 são cotados de forma para que à nota mais elevada

corresponda uma melhor percepção do estado de saúde. A cotação dos itens do questionário

implica: a) a recodificação dos itens 1, 6, 7, 8, 9d, 9e, 9h, 11b, e 11d; o cálculo das notas das

dimensões somando os itens que pertencem à mesma dimensão (notas brutas das dimensões); e

c) a transformação das notas brutas numa escala de 0 a 100 (ANEXO Vb)

Functional Living Index – Cancer (FLI-C) (ANEXO VI)

Este questionário foi desenvolvido por Schipper, Clinch, McMurray e Levitt em 1984,

para ser utilizado especificamente com doentes oncológicos. O questionário representa uma

medida válida da Qualidade de Vida no Funcionamento Diário dos doentes oncológicos

(Schipper, Clinch, McMurray e Levitt, 1984) e foi construído durante uma investigação para

avaliar a fiabilidade de uma terapêutica citostática (Pimentel, 2006, p113)

Os itens estão construídos não só para avaliar a intensidade dos sintomas, mas também

para avaliar o impacto que estes têm nas actividades diárias. É constituído por 22 itens e cada um

deles cotados segundo uma Escala Visual Analógica de 1 a 7. O questionário apresenta itens

construídos no sentido positivo e outros no sentido negativo, em que as respostas negativas têm

de ser invertidas, para se obter as pontuações todas no mesmo sentido (Pimentel 2006, p 113).

Assim os itens a inverter são: 1, 4, 5, 7, 8, 11, 13, 15, 17 e 20, em que a inversão é directa (1=7;

2=6; 3=5; 5=3; 6=2; 7=1)

31

O questionário tem 22 itens e está dividido em cinco categorias: Bem-estar e

Capacidade física (itens 4, 6, 7, 10, 11, 13, 14, 15, 20, e 22), Estado Emocional (itens 1, 2, 3, 9, 18,

e 21), Sociabilidade (itens 16 e 19), Situação Familiar (itens 12 e 8) e Náusea (itens 17 e 5).

A pontuação final obtém-se pela soma dos resultados dos vários itens, em que resultados

elevados são preditores de uma Boa Qualidade de vida e resultados mais baixos são indicadores

de uma Fraca Qualidade de vida. O valor mínimo obtido é 22 e o valor máximo é 154.

Termómetro do Distresse (ANEXO VII)

O termómetro do Distresse é um instrumento de avaliação que tem como objectivo

detectar e reduzir os níveis de Distresse dos doentes oncológicos (Gil, Sirgo, Lluch, Mate e

Estrade, 2002; citado por Dias e Durá, 2002). Este instrumento é actualmente utilizado na

Consulta de Psicologia da Clínica da Dor do IPOLFG e foi traduzido e reproduzido para o

português por R. Bacalhau, 2004, Psicóloga Clínica do IPOLFG, tendo sido essa tradução

autorizada pelo NCCN.

Este instrumento foi construído seguindo o modelo de avaliação da dor (Gil, Sirgo,

Lluch, Mate e Estradé, 2002; cit. por Dias e Durá, 2002). Assim, por meio de uma Escala Visual

Analógica (EVA) que vai de 0 (Distresse mínimo) a 10 (Distresse Máximo), que apresenta as

seguintes instruções para o paciente: “Por favor, comece por colocar um círculo à volta do

número (0-10) que melhor descreve o grau de angústia/sofrimento (Distresse) que tem sentido

na última semana incluindo hoje” pretende-se chegar aos nível de angústia/sofrimento

psicológico do paciente. Há que realçar que estas instruções sofrem ligeiras adaptações em

consulta, sendo a escala de Distresse aplicada no contexto da primeira entrevista com o doente.

Resultados de Distresse entre 0 a 5 indicam baixos níveis de Distresse, e de 5 a 10 níveis

de Distresse de moderado (Nível 5) a máximo (Nível 10). Assim, a partir do nível 5, os

resultados têm de ser tidos em conta (Gil, Sirgo, Lluch, Mate e Estradé, 2002; cit. por Dias e

Durá, 2002) pois podem ser indicativos de problemas mais graves, como por exemplo,

depressão, ansiedade, isolamento social e crises espirituais (Fitchett e Handzo, 1998; citado por

Almanza-Muñoz e Holland, 2000)

Escala Visual Analógica (EVA) para a Capacidade Física

A EVA para a Capacidade Física foi aplicada no contexto da entrevista realizada

especificamente para o presente estudo.

A EVA para a Capacidade Física, pretende avaliar, à semelhança da EVA para a Dor e do

Termómetro do Distresse, o nível/grau de Capacidade Física numa escala que vai de 0

32

(Capacidade Física mínima/reduzida/fraca) a 10 (Capacidade Física Máxima/elevada/Boa), em

que daqui se deduz a existência de Incapacidade tal como foi definida de acordo com a revisão

de literatura. A opção em pedir aos participantes que classificassem a sua Capacidade Física em

vez de classificar a sua Incapacidade Física tem a ver com o facto de esta última apelar a uma

representação negativa da capacidade do participante.

As instruções para os participantes eram as seguintes: “Como classifica a sua capacidade física

numa escala de 0 a 10?”.

Assim, resultados de capacidade física inferiores a 5 indicam uma capacidade física

reduzida e superiores a 5 indicam uma boa capacidade física.

Figura 1 - Escala Visual Analógica para a Capacidade Física

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Entrevista Semi-Estruturada

O acesso às significações do doente oncológico em relação à vivência da Incapacidade

física enquanto consequência da doença, foi possível através da realização de uma entrevista

Semi-Estruturada. A utilização desta, enquanto instrumento de avaliação qualitativo, torna este

estudo descritivo e exploratório, uma vez que o tema em causa carece de estudos realizados em

Portugal, pretendendo-se assim, uma maior compreensão deste tema e também contribuir para

que se desenvolva mais estudos sobre a incapacidade na Doença Oncológica.

A entrevista semi-estruturada tem como objectivo geral explorar temas relacionados com

a vivência da incapacidade física dos doentes oncológicos. Esta entrevista foi realizada tendo em

conta a disponibilidade de cada um dos participantes (A entrevista, contudo, só foi possível de

ser realizada a 15 participantes do estudo, pois nem todos se encontravam disponíveis para a

realização da mesma). Foi igualmente solicitado ao participante que assinasse o respectivo

Protocolo de Consentimento Informado para a entrevista (ANEXO VIII - Em CD).

A entrevista teve por base a adaptação de alguns pressupostos teóricos de teorias

cognitivas, mais especificamente a teoria das cognições de doença de Leventhal e colaboradores

(Leventhal e col., 1980, 1997; Leventhal e Nerez, 1985; citado por Ogden, 2004). Assim, os

pressupostos são: a identidade que neste estudo diz respeito à percepção da incapacidade por

parte dos doentes oncológicos; a causa da incapacidade; as consequências da incapacidade; e a

possibilidade de confronto e estratégias de adaptação enquanto meio para o “controlo” da

incapacidade.

33

O Guião da entrevista é constituído por sete questões, das quais seis são de resposta

aberta e uma de resposta em formato de Escala Visual Analógica (EVA). Esta EVA refere-se à

Capacidade Física pretendendo-se que o respondente a use para caracterizar o seu nível/grau de

Capacidade Física (tal como foi referido anteriormente) tal como foi definida de acordo com a

revisão de literatura.

A opção em pedir aos participantes que classificassem a sua Capacidade Física em vez de

classificar a sua Incapacidade Física tem a ver com o facto de esta última apelar a uma

representação negativa da capacidade do participante. As questões colocadas na entrevista

remetem para a identificação de algum tipo de incapacidade nos doentes oncológico, as causas e

consequências desta bem como as emoções e sentimentos associados. Remete também para as

estratégias de confronto e de adaptação que os doentes oncológicos utilizam na vivência da

incapacidade física. Explorou-se também através da entrevista aspectos positivos na vivência da

incapacidade física, a vivência da Funcionalidade.

As questões da entrevista são as seguintes:

1.Apresenta alguma dificuldade ou incapacidade física? a) O que pensa? b) Como se sente?

2. Quais as causas que atribui à sua dificuldade ou incapacidade física?

3. Quais as consequências da incapacidade física na sua vida?

4. O que costuma fazer para contornar as dificuldades ou incapacidades físicas?

5. Que actividades pode realizar e que exijam um esforço físico moderado? a) O que pensa? b)

Como se sente?

6. Sente-se satisfeito com as actividades que realiza?

7. Como classifica a sua capacidade física numa escala de 0 a 10?

Seguidamente será apresentada a análise de resultados provenientes dos dados

quantitativos e qualitativos.

34

ANÁLISE DOS RESULTADOS

Neste capítulo serão apresentados primeiramente os resultados quantitativos obtidos a

partir da aplicação dos seguintes instrumentos: Questionário FACT-G, Questionário SF-36,

Questionário FLI-C, Termómetro do Distresse e Escala Visual Analógica da Capacidade Física.

Seguindo-se depois a análise dos dados qualitativos recolhidos através da Entrevista Semi-

Estruturada. No final de cada secção será feita uma síntese da informação mais relevante dos

dois tipos de análise.

ANÁLISE DOS RESULTADOS QUANTITATIVOS

Os dados quantitativos foram analisados através do SPSS, versão 15.0. Estes dados foram

analisados segundo estatísticas específicas e em cada objectivo as estatísticas utilizadas serão

referenciadas.

Objectivo 1: Caracterizar a Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde nos doentes

oncológicos através do FACT-G, v.4 (Functional Assessment Cancer Therapy - General,

Version 4), do SF-36, v.2 (Short Form 36-item Health Survey) e do FLI-C (Functional Living

Index - Cancer) e Caracterizar os Níveis de Distresse medidos através do Termómetro do

Distresse e os Níveis de Capacidade Física medidos através de uma Escala Visual Analógica

(EVA).

Questão1. Quais os níveis de Qualidade de vida Relacionada com a Saúde nos doentes

oncológicos?

Questão 2. Como classificam os doentes oncológicos o seu nível de capacidade física numa

escala 0 a 10? E os seus níveis de Distresse?

Para dar resposta a estas questões, foram utilizadas estatísticas descritivas que podem ser

consultadas em anexo (ANEXO IX - Em CD)

QUESTIONÁRIO FACT-G: Pela observação do Gráfico 14, pode-se verificar que o valor médio

da Escala FACT-G de Bem-Estar Global se situa em torno dos 60%, bem como o Bem-Estar

Emocional sendo assim considerados relativamente bons, apresentando o Bem-Estar

Social/Familiar um valor superior, em média, em torno dos 84%, e por isso considerado muito

bom, e o Bem-Estar Funcional encontra-se à volta dos 57%, sendo por isso considerado

moderado e o Bem-Estar Físico à volta dos 46%, resultado esse considerado relativamente baixo.

No geral, o nível de QDVRS medido pelo FACT-G é considerado razoável.

35

Gráfico 14 - Distribuição dos resultados do FACT-G pelos valores médios

Tabela 3 - Caracterização dos resultados do FACT-G

N Média Desvio- Padrão Mínimo Máximo

ESCALA FACTG DE BEM-ESTAR 26 61,62 10,576 44 80

BEM-ESTAR FISICO 26 46,96 24,145 0 86

BEM-ESTAR FAMILIAR E SOCIAL 26 84,08 23,549 21 100 BEM-ESTAR EMOCIONAL 26 59,12 24,673 8 96 BEM-ESTAR FUNCIONAL 26 57,50 19,313 21 96

0102030405060708090

FACTG Bem-EstarFisico

Bem-EstarSocial eFamiliar

Bem-EstarEmocional

Bem-EstarFuncional

Val

or M

édio

QUESTIONÁRIO SF-36: Pela análise do Gráfico 15, pode-se verificar que o valor médio da

Componente Saúde Física do SF-36 se encontra em torno dos 44% e o valor da Componente

Saúde Mental do SF-36 se encontra próximo de 40%. A Dimensão Funcionamento Físico

encontra-se em torno dos 37%, a Dimensão Desempenho Físico encontra-se nos 25%, a

Dimensão Dor Corporal e a Dimensão Funcionamento Social encontram-se próximos um do

outro (47% e 48%, respectivamente), a Dimensão Saúde Geral encontra-se à volta dos 36%, a

Dimensão Vitalidade à volta dos 23%, a Dimensão Desempenho Emocional encontra-se próximo

da Dimensão Saúde Mental (41% e 43%, respectivamente). Assim pode-se verificar que os

participantes do estudo revelam níveis de QDVRS medidos através do SF-36 considerados

relativamente baixos perto de moderado (50%) nas seguintes dimensões: Dor Corporal (47,69%),

Funcionamento Social (48,75%). E são considerados baixos para as seguintes Componentes e

Dimensões: Componente Saúde Física (44,65%), Componente Saúde Mental (39,58%),

Dimensão Funcionamento Físico (37,50%), Dimensão Saúde Geral (36,12%), Dimensão

Desempenho Emocional (41,06%) e Dimensão Saúde Mental (43,27%), e são considerados

muito baixos para as dimensões: Desempenho Físico (25,96%), e Vitalidade (23,31%). No geral,

o nível de QDVRS medido através do SF-36 é considerado baixo.

36

Gráfico 2 - Distribuição dos resultados do SF-36 pelos valores médios

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

SF36S

aude

Física

Sf36S

aude

Men

tal

Func

ionam

ento

Fisi

co

Desem

penh

o Fi

sico

Dor C

orpo

ral

Saude

Ger

al

Vitalid

ade

Func

ionam

ento

Soc

ial

Func

ionam

ento

Em

ocion

al

Saude

Men

tal

Tran

sição

de

Saude

Val

or M

édio

Tabela 4 - Caracterização dos resultados do SF-36

N Média Desvio-Padrão Mínimo Máximo

SF36SaudeFísica 26 44,65 8,336 32 60 Sf36SaudeMental 26 39,5769 12,56717 20 63 Funcionamento Físico 26 37,5000 21,03568 0 75 Desempenho Físico 26 25,9615 25,84160 0 100 Dor Corporal 26 47,6923 10,85088 31 84 Saúde Geral 26 36,1154 11,36777 10 60 Vitalidade 26 23,3173 19,80828 0 81,25 Funcionamento Social 26 48,7500 29,75945 0 100 Desempenho Emocional 26 41,0638 37,06975 0 100 Saúde Mental 26 43,2692 28,17596 0 95,00 Transição de Saúde* 26 3,77 1,070 2 5

*Não é tido em conta para efeitos de análise neste estudo

Gráfico 15 - Distribuição dos resultados do SF-36 pelos valores médios

QUESTIONÁRIO FLI-C : Pela observação da Tabela 5, verifica-se que o valor médio do

questionário FLI-C se encontra à volta dos 80, com 22,53 de desvio-padrão, sendo o valor

mínimo encontrado 45 e o valor máximo 130. Do Gráfico 16 pode-se verificar que 23,08% (n =

6) dos participantes apresenta valores no FLI-C entre 90 e 100, seguindo-se o intervalo de

valores entre os 100 e os 110 presente em 19,23% (n = 5) dos participantes, depois segue-se o

intervalo de valores compreendido entre 60 e 70 em 15,38% (n = 4) dos participantes, depois os

intervalos de valores compreendidos entre 40 a 50 e entre 80 a 90 ambos em 11,54% (n = 3) dos

participantes, depois o intervalo de valores compreendido entre 110 e 120 em 7,69 % (n = 2) dos

participantes e por fim, valores compreendidos nos intervalos 40 a 50, 70 a 80, e 120 a 130 todos

com uma frequência de 3,85% (n = 1). Assim, pode-se constatar que 69,23% (n = 18) dos

participantes deste estudo apresentam valores de QDVRS, medida pelo FLI-C considerados bons

(>77), apresentando os restantes 8 participantes níveis de QDVRS medidos pelo FLI-C baixos

(<77), sendo 77 o ponto médio da pontuação total deste questionário.

37

Gráfico 16 - Distribuição dos resultados do FLI-C pela frequência se sujeitos

TERMÓMETRO DO DISTRESSE: Pela observação da Tabela 6, verifica-se que 6,12 é o nível

médio do Distresse, o desvio-padrão é de 2,489, o valor mínimo é 0 e o valor máximo é 10. De

acordo com o Gráfico 17, o nível que apresenta maior frequência nos participantes é o nível 5

com 23,1%, seguindo-se os níveis 6 e 8, ambos em 15,4% dos participantes, depois o nível 7 em

11,5% dos participantes, depois os níveis 9 e 10 em 7,7% dos participantes, e por fim os níveis 1,

2, 3, e 4 em 3,8% dos participantes. Assim, pode-se verificar que 80,8% dos participantes

apresentam níveis de Distresse de moderado a elevado (de 5 a 10).

EVA DA CAPACIDADE FÍSICA

1: Pela visualização da Tabela 7, o nível médio de Capacidade

Física é de 4,33, com um desvio-padrão de 2,059, sendo o valor mínimo o nível 1 e o valor

máximo o nível 8. De acordo com o Gráfico 18, o nível de Capacidade Física mais frequente é o

1 Nota: A Escala Visual Analógica foi aplicada apenas aos participantes (n = 15) no contexto da entrevista semi-estruturada construída especificamente para este estudo.

Tabela 5- Caracterização dos resultados do FLI-C

N Média Desvio- Padrão Mínimo Máximo

FLI-C 26 85,54 22,530 45 130

FLIC 140 120 100 80 60 40

6

5

4

3

2

1

0

Frequência pelo nº de sujeitos

Tabela 6 - Caracterização dos resultados do Distresse

N Média Desvio- Padrão Mínimo Máximo

Distresse 25* 6,12 2,489 0 10 *um dos participantes não conseguiu classificar os seus

Níveis de Distresse

Gráfico 17 - Distribuição dos Níveis de Distresse

pela frequência

3,8 3,8 3,8 3,8

23,1

15,4

11,5

15,4

7,7 7,7

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Niveis de Distress

Fre

quên

cia

38

nível 6 presente em 15,4% dos participantes, seguindo-se os níveis 3 e 4 em 11,5% dos

participantes, depois o nível 2 em 7,7% dos participantes e por fim os níveis 1, 7, e 8 em 3,8%

dos participantes. De forma geral pode-se verificar que 34,5% dos participantes deste estudo

apresentam baixos níveis (< 5) de capacidade física medidos pela Escala Visual Analógica da

Capacidade Física e 23% dos participantes apresentam níveis altos de capacidade física (> 5).

Objectivo 2: Caracterizar a relação existente entre a Qualidade de Vida Relacionada com a

Saúde, e a Incapacidade física, com as Variáveis Sócio-Demográficas e Clínicas nos doentes

oncológicos.

Questão 5. Qual a relação existente entre a Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde, a

Incapacidade Física, e as Variáveis Sócio-Demográficas e Clínicas nos doentes oncológicos?

As variáveis Sócio-Demográficas tidas em consideração foram o Meio Ecológico, a

Situação Profissional, e o Agregado Familiar, outras variáveis Sócio-Demográficas e Clínicas

não foram tidas em consideração por não apresentarem condições de análise devido à reduzida

dimensão da amostra e sua heterogeneidade, não expressando resultados significativos neste

estudo.

Quanto à QDVRS, teve-se em conta a Escala FACT-G de Bem-Estar Global e as suas

Dimensões (Bem-Estar Físico, Bem-Estar Social/Familiar, Bem-Estar Emocional, e Bem-Estar

Funcional), o Questionário SF-36 através das suas Componentes, Saúde Física e Saúde Mental.

Destas Componentes fazem parte as seguintes Dimensões: Funcionamento Físico, Desempenho

Físico, Dor Corporal, e Saúde Geral (Componente Saúde Física) e Vitalidade, Funcionamento

Social, Desempenho Emocional e Saúde Mental (Componente Saúde Mental) e o Questionário

FLI-C. A variável Incapacidade Física é deduzida a partir das Dimensões: Bem-estar Físico e

Bem-Estar Funcional do FACT-G, das Dimensões do SF-36 e da Escala Visual Analógica para a

Capacidade Física. A QDVRS em termos de Funcionalidade será analisada de acordo com o

Tabela 7 - Caracterização dos resultados da

Capacidade Física

N Média Desvio-Padrão Mínimo Máximo

Capacidade Física 15 4,33 2,059 1 8

Gráfico 18 - Distribuição dos níveis de Capacidade

Física pela frequência

3,8

7,7

11,5 11,5

15,4

3,8 3,8

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0

10,0 12,0 14,0 16,0 18,0

1 2 3 4 6 7 8 Nivel de Capacidade Física

Frequência

39

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

FACTG BEM ESTAR FISICO BEM ESTARSOCIAL/FAMILIAR

BEM ESTAREMOCIONAL

BEM ESTARFUNCIONAL

Val

or M

édio

(da

esc

ala

em %

)

Meio Urbano Meio Suburbano

FLI-C. Assim, algumas variáveis apresentam duas direcções, ora se comportam como variável

que expressa a variável QDVRS ora expressam a variável Incapacidade Física. Para dar resposta

a esta questão, utilizou-se o Teste t de Student que se encontra em anexo (ANEXO X - Em CD).

MEIO ECOLÓGICO : O meio ecológico foi codificado de acordo com 3 categorias (meio urbano,

meio suburbano e meio rural), contudo apenas 2 categorias (Meio Urbano e Suburbano) entram

para a análise estatística por se verificar que apenas 3 participantes eram do meio rural e como

tal daí não se poder extrair conclusões significativas. Assim, para verificar se existem diferenças

entre os participantes pertencentes a um dado Meio Ecológico (Meio Urbano e Meio Suburbano)

ao nível dos questionários FACT-G, SF-36, FLI-C e Escala Visual Analógica para a Capacidade

Física, utilizou-se o Teste t de Student para amostras independentes. Ao realizar-se tal

procedimento estatístico, verificou-se que existem diferenças estatisticamente significativas (t = -

3,183, p <0,01) ao nível da Dimensão Bem-Estar Emocional do FACT-G entre os participantes

que pertencem ao Meio Urbano e os participantes que pertencem ao Meio Suburbano. Tendo-se

verificado que o valor médio da dimensão Bem-Estar Emocional do FACT-G é superior nos

participantes do Meio Suburbano (73%) em comparação com os participantes do Meio Urbano

(43,80%) (gráfico 19).

Gráfico 19 - Distribuição dos valores médios do FACT-G de acordo com o meio ecológico

SITUAÇÃO PROFISSIONAL : A Situação Profissional foi codificada de acordo com 5 categorias

(Activo, Baixa, Desempregado, Reformado, e Outra), contudo apenas 2 categorias (Reformado e

Baixa) entram para a análise estatística por se verificar que apenas 2 dos participantes não se

encontravam nas categorias Reformado ou Baixa, encontrando-se 1 no Activo e 1 na categoria

Outra Situação Profissional que não as que se encontram categorizadas. Assim, para se verificar

se existem diferenças estatisticamente significativas entre os participantes com uma determinada

Situação Profissional ao nível dos questionários FACT-G, SF-36, FLI-C, e da Escala Visual

40

0

20

40

60

80

100

120

Capac

idade

Físi

ca

Dor C

orpo

ral

Funcio

nam

ento

Em

ocio

nal

Saude

Men

tal

FLIC

Val

or M

édio

Baixa

Reformado

Analógica para a Capacidade Física, utilizou-se o Teste t de Student para amostras

independentes.

Os resultados obtidos (Gráfico 20) indicam que, para um nível de significância de 5%,

existem diferenças estatisticamente significativas entre os participantes de Baixa Médica ou

Reformados nos valores médios: da Escala Visual Analógica para a Capacidade Física (t =

2,485, p<0,05), na Dimensão Dor Corporal do SF-36 (t = 2,541, p<0,05), na Dimensão

Desempenho Emocional do SF-36 (t = 2,394, p<0,05), na Dimensão Saúde Mental do SF-36 (t =

2,146, p<0,05) e no questionário FLI-C (t = 2,142, p<0,05). Desta forma, o valor médio da

Escala Visual Analógica para a Capacidade Física nos participantes de Baixa Médica é 6 e nos

participantes Reformados é 3,44, relativamente à Dimensão Dor Corporal do SF-36 o valor

médio nos participantes de Baixa Médica é 58% e nos participantes Reformados é 45%, o valor

médio da Dimensão Desempenho Emocional do SF-36 é 66,67% nos participantes de Baixa

Médica e 28,56% e nos participantes Reformados, em relação ao valor médio da Dimensão

Saúde Mental do SF-36 nos participantes de Baixa Médica este é 62% e nos participantes

Reformados é 34,74%. Relativamente ao questionário FLI-C o valor médio nos participantes de

Baixa Médica é 101,80 e nos participantes reformados é 79,21. Assim verifica-se que, os

participantes que estão de Baixa Médica parecem ser os que apresentam valores médios

superiores nas dimensões e escalas referidos anteriormente em comparação com o grupo dos

participantes Reformados.

Gráfico 20 - Distribuição dos valores médios das escalas e questionários de acordo com a Situação

Profissional

AGREGADO FAMILIAR : O Agregado Familiar encontra-se codificado em 3 categorias: Família

nuclear com filhos, Família nuclear sem filhos, e Família unipessoal:

41

Tabela 8 - Caracterização do Agregado Familiar

Frequência Percentagem Família nuclear com filhos 10 38,5 Família nuclear sem filhos 10 38,5

Família unipessoal 6 23,1 Total 26 100,0

Para se verificar se existem diferenças estatisticamente significativas ao nível dos valores

médios dos questionários FACT-G, SF-36, FLI-C, e da Escala Visual Analógica para a

Capacidade Física consoante o tipo de Agregado Familiar, utilizou-se o Teste t de Student para

amostras independentes. Para o efeito as categorias foram comparadas duas a duas (a Família

nuclear com filhos foi comparada com a Família nuclear sem filhos, a Família nuclear com

Filhos foi comparada com a Família unipessoal e a Família nuclear sem Filhos foi comparada

com a Família unipessoal). Verificaram-se diferenças estatisticamente significativas entre a

Família Nuclear com filhos e a Família Nuclear sem filhos ao nível: da Escala Visual Analógica

para a Capacidade Física (t = -3,753, p <0,01), da Dimensão Saúde Física do SF-36 (t = -2,901,

p<0,01), da dimensão Funcionamento Físico do SF-36 (t = -2,487, p<0,05), da dimensão

Desempenho Físico (t = -2,571, p<0,05), e ao nível da questionário FLI-C (t = -2,296, p<0,05)

(Gráfico 21a). Assim, os participantes que apresentam como agregado a Família Nuclear sem

filhos parecem apresentar neste estudo valores médios superiores nas escalas e dimensões

referidas anteriormente em comparação com os participantes que vivem numa Família Nuclear

com filhos. Assim, os participantes que vivem sem filhos apresentam como valor médio 6 na

Escala Capacidade Física e os participantes que vivem com filhos apresentam como valor médio

nessa mesma escala 2,83; em relação à Dimensão Saúde Física do SF-36 o valor médio desta

dimensão é de 49,4% para os participantes que vivem sem filhos e de 40,2% nos participantes

que vivem com filhos; na dimensão Funcionamento Físico do SF-36, os participantes que vivem

sem filhos apresenta valor médio de 48% e nos que vivem com filhos o valor médio é de 28%;

na dimensão Desempenho Físico do SF-36 o valor médio nos participantes que vivem sem filhos

é de 37,5% e nos participantes que vivem com filhos é de 15%; relativamente ao questionário

FLI-C o valor médio nos participantes que vivem sem filhos é de 95,8 e nos participantes que

vivem com os filhos é de 75,1.

42

0

20

40

60

80

100

120

Capacidade Física SF36SaudeFisica FuncionamentoFisico

DesempenhoFisico

FLIC

Val

or M

édio

das

esc

alas

Familia Nuclear com f ilhos Familia nuclear sem f ilhos

0

1

2

3

4

5

6

7

Familia Nuclear sem filhos Familia unipessoal

Agregado Familiar

Val

ore

Méd

ios

da C

apac

idad

e F

ísic

a

Gráfico 21a - Distribuição dos valores médios das dimensões de acordo com o Agregado Familiar (com

filhos/ sem filhos)

Também se verificaram diferenças estatisticamente significativas entre os participantes

que vivem sem filhos (ou seja, que vivem com o/a companheiro/a) e os participantes que vivem

sozinhos no que diz respeito ao valor médio da Escala da Capacidade Física (t = 3,035, p<0,05).

Pelo Gráfico 21b, pode-se verificar que os participantes que vivem sem os filhos apresentam

nível médio de Capacidade Física superior em comparação com os participantes que vivem

sozinhos.

Gráfico 21b - Distribuição das escalas e questionários de acordo com o Agregado Familiar (sem

filhos/unipessoal)

Objectivo 3: Caracterizar a relação existente entre a Incapacidade Física e a Qualidade de

Vida Relacionada com a Saúde nos doentes oncológicos

Questão 4. Qual a relação existente entre a Incapacidade física e a Qualidade de Vida

Relacionada com a Saúde nos doentes oncológicos?

Para se investigar o grau de associação entre o nível de Capacidade Física e os

questionários FACT-G, SF-36 e FLI-C, utilizou-se o Coeficiente de Correlação r de Pearson

(ANEXO XI - Em CD).

43

Associação entre a Capacidade Física e os questionários: Verificou-se, pela visualização da

tabela 9, que existem correlações positivas estatisticamente significativas entre os resultados da

Escala Visual Analógica para a Capacidade Física com: Saúde Física do SF-36 (r = 0,806,

p<0,01), Funcionamento Físico do SF-36 (r = 0,611, p<0,05), Desempenho Físico do SF-36 (r =

0,680, p<0,01), Saúde Geral do SF-36 (r = 0,514, p<0,05), Funcionamento Social do SF-36 (r =

0,535, p<0,05), Desempenho Emocional do SF-36 (r = 0,640, p<0,05), e questionário FLI-C (r =

0,683, p<0,01 ). Não se verificaram correlações estatisticamente significativas entre os resultados

da Escala Visual analógica para a Capacidade Física e o questionário FACT-G e suas dimensões.

Desta forma pode verificar-se, que para níveis superiores de Capacidade Física se verificam

níveis também superiores de QDVRS ao nível da Dimensão Saúde Física do SF-36.

Relativamente à correlação verificada entre níveis de Capacidade Física e as restantes dimensões

do SF-36 pode-se verificar que para níveis superiores de Capacidade física se verificam níveis

elevados: na Dimensão Funcionamento Físico do SF-36, na Dimensão Saúde Geral do SF-36, na

Dimensão Funcionamento Social do SF-36, na Dimensão Desempenho Emocional do SF-36, no

questionário FLI-C.

*Legenda: SF36SF - Componente saúde Física do SF-36; FF - Funcionamento Físico de SF-36; DF - Desempenho Físico do SF-36; SG - Saúde Geral do SF-36; FS - Funcionamento Social do SF-36; DE - Desempenho Emocional do SF-36.

Associação entre o FLI-C e o SF-36: Relativamente ao questionário FLI-C de QDVRS ao nível

da funcionalidade dos doentes oncológicos, verificou-se que os resultados dos participantes neste

questionário se correlacionam não só com os resultados da Escala Visual Analógica para a

Capacidade Física, como se verificou anteriormente, como também se correlaciona

positivamente com as Componentes e dimensões do questionário SF-36 à excepção da dimensão

Vitalidade. Assim, pela tabela 10, verifica-se que o questionário FLI-C se correlaciona com a

Componente Saúde Física do SF-36 (r = 0,726, p<0,01), com a Componente Saúde Mental do

SF-36 (r = 0,745, p<0,01), com a Dimensão Funcionamento Físico do SF-36 (r = 0,586,

p<0,01), com a Dimensão Desempenho Físico do SF-36 (r = 0,530, p<0,01), com a Dimensão

Dor Corporal do SF-36 (r = 0,433, p<0,05), com a Dimensão Saúde Geral (r = 0,408, p<0,05),

com a Dimensão Funcionamento Social (r = 0,717, p<0,01), com a Dimensão Desempenho

Tabela 9 - Caracterização do grau de associação entre a EVA da Capacidade física e os Questionários

SF36SF*

FF*

DF*

SG*

FS*

DE*

FLIC* Pearson Correlation

0,806(**) 0,611(

*) 0,680(**) 0,514(*)

0,535(*)

0,640(*) 0,683(**

) Sig. (2-tailed) 0,000 0,016 0,005 0,050 0,040 0,010 0,005

Capacidade Física

N 15 15 15 15 15 15 15

44

Emocional (r =0,714, p<0,01), e com a Dimensão Saúde Mental (r = 0,667, p<0,01). Desta

forma pode-se verificar que resultados elevados ao nível funcionalidade avaliada pelo

questionário FLI-C se fazem corresponder a resultados elevados de QDVRS ao nível das

Componentes Saúde Física e Saúde Mental do SF-36, e ao nível das Dimensões Funcionamento

Físico, Desempenho Físico, Dor Corporal, Saúde Geral, Funcionamento Social, Desempenho

Emocional e Saúde Geral do SF-36. Ou seja, elevados níveis de QDVRS de Funcionalidade no

FLI-C fazem-se corresponder a elevados níveis de QDVRS na maioria das dimensões do SF-36

(Tabela 10).

* Legenda: SF36SF - Componente Saúde Física do SF-36; SF36SM - Componente Saúde Mental do SF36; FF - Funcionamento Físico do SF-36; DF - Desempenho Físico do SF-36; DC - Dor Corporal do SF36; SG - Saúde Geral do SF-36; FS - Funcionamento Social do SF-36; FE - Funcionamento Emocional do SF-36; SM - Saúde Mental do SF-36.

Associação entre o FACT-G e o SF-36: pela visualização da tabela11, verificaram-se

correlações positivas estatisticamente significativas entre a escala FACT-G Global e o

questionário SF-36 nas suas duas Componentes e em determinadas Dimensões. Assim, em

relação à dimensão Bem-Estar Físico do FACT-G, esta encontra-se correlacionada positivamente

com as Componentes do SF-36: Saúde Física (r = 0,675, p<0,01), e Saúde Mental (r = 0,518,

p<0,01), e com as Dimensões: Funcionamento Físico (r = 0,583, p<0,01), Desempenho Físico (r

= 0,672, p<0,01), Vitalidade (r = 0,509, p<0,01), Funcionamento Social (r = 0,493, p<0,05),

Desempenho Emocional (r = 0,530, p<0,01) pertencentes ao SF-36. Constatando-se assim que à

medida que aumentam os valores do Bem-estar Físico do FACT-G, aumentam os valores das

dimensões Funcionamento Físico, Desempenho Físico, Vitalidade, Funcionamento Social e

Desempenho Emocional do SF-36. A Dimensão Bem-Estar Social/Familiar do FACT-G

apresenta-se correlacionada positivamente com a Dimensão Saúde Mental do SF-36 (r = 0,408,

p<0,05), assim, valores elevados de Bem-Estar Social/Familiar fazem-se acompanhar por

elevados níveis de QDVRS na Componente Saúde Mental do SF-36. A dimensão Bem-Estar

Emocional do FACT-G encontra-se positivamente correlacionada com a Componente Saúde

Mental do SF-36 (r = 0,574, p<0,01), e com as Dimensões do SF-36: Funcionamento Social (r =

,472, p<0,05 ), Desempenho Emocional (r = ,498, p<0,01), e Saúde Mental (r = ,558 ). Assim,

constata-se que valores elevados do Bem-Estar Emocional do FACT-G correspondem a valores

altos ao nível do Funcionamento Social, Desempenho Emocional e Saúde Mental do SF-36.

Tabela 10 - Caracterização do grau de associação entre o FLI-C e o SF-36

SF36SF* SF36SM

* FF* DF* DC* SG* FS* FE* SM* Pearson Correlation 0,726(**) 0,745(**) 0,586(**) 0,530(**)

0,433(*)

0,408(*) 0,717(**) 0,714(**) 0,667(**)

Sig. (2-tailed) 0,000 0,000 0,002 0,005 0,027 0,039 0,000 0,000 0,000

FLIC

N 26 26 26 26 26 26 26 26 26

45

Relativamente à dimensão Bem-Estar Funcional do FACT-G, verificam-se correlações positivas

estatisticamente significativas com as Dimensões: Funcionamento Social (r = 0,418, p<0,05), e

Desempenho Emocional (r = 0,414, p<0,05) ambas do SF-36. Assim, níveis superiores de Bem-

Estar Funcional do FACT-G correspondem a níveis elevados de Funcionamento Social e de

Desempenho Emocional. A Dimensão Funcionamento Físico do SF-36, encontra-se

negativamente correlacionada com a escala FACT-G global (r = -0,457, p<0,05). Na Dimensão

Desempenho Físico do SF-36 verifica-se uma correlação negativa com a escala FACT-G Global

(r = -0,504, p<0,01), e a Dimensão Vitalidade do SF-36 encontra-se negativamente

correlacionada com a escala FACT-G global (r = -0,389, p<0,05). A Dimensão Dor Corporal do

SF-36 não se encontra estatisticamente correlacionada com a escala FACT-G global nem com as

suas dimensões. Desta forma verifica-se que valores elevados ao nível da QDVRS da escala

FACT-G Global se fazem acompanhar de valores baixos ao nível: da dimensão Funcionamento

Físico do SF-36, da Dimensão Desempenho Físico do SF-36, e da Dimensão Vitalidade do SF-

36.

* Legenda: SF36SF - Componente Saúde Física do SF-36; SF36SM - Componente Saúde Mental do SF-36; FF - Funcionamento Físico do SF-36; DF - Desempenho Físico do SF-36; DC - Dor Corporal do SF-36; SG - Saúde Geral do SF-36; Vital . - Vitalidade do SF-36; FS - Funcionamento Social do SF-36; FE - Funcionamento Emocional do SF-36; SM - Saúde Mental do SF-36.

Objectivo 4: Caracterizar a relação existente entre a QDVRS a Incapacidade física e o

Distresse Psicológico nos doentes oncológicos

Questão 5. Qual a relação existente entre a QDVRS, a Incapacidade Física e o Distresse

Psicológico nos doentes oncológicos?

Tabela 11 - Caracterização do grau de associação entre o FACT-G e o SF-36

SF-36

SF36SF* SF36SM* FF* DF* DC* SG* Vital.* FS* FE* SM* Pearson

Correlation -0,423(*) -0,266 -0,457(*) -0,504(**) 0,061 0,182 -0,389(*) -0,215 -0,202 -0,173

Sig. (2-tailed) 0,031 0,189 0,019 0,009 0,769 0,374 0,050 0,292 0,322 0,397

FACTG

N 26 26 26 26 26 26 26 26 26 26 Pearson

Correlation 0,675(**) 0,518(**) 0,583(**) 0,672(**) 0,079 0,137 0,509(**) 0,493(*) 0,530(**) 0,365

Sig. (2-tailed) 0,000 0,007 0,002 0,000 0,703 0,503 0,008 0,011 0,005 0,067

Bem-Estar Físico

N 26 26 26 26 26 26 26 26 26 26 Pearson

Correlation 0,040 0,349 -0,154 0,067 0,116 0,255 0,129 0,171 0,328 0,408(*)

Sig. (2-tailed) 0,845 0,081 0,453 0,744 0,574 0,208 0,530 0,405 0,102 0,039

Bem-Estar Social/ Familiar

N 26 26 26 26 26 26 26 26 26 26 Pearson

Correlation 0,383 0,574(**) 0,271 0,357 0,131 0,190 0,383 0,472(*) 0,498(**) 0,558(**)

Sig. (2-tailed) 0,054 0,002 0,181 0,073 0,524 0,352 0,053 0,015 0,010 0,003

Bem-Estar Emocional

N 26 26 26 26 26 26 26 26 26 26 Pearson

Correlation 0,247 0,302 0,100 0,125 0,289 0,356 0,019 0,418(*) 0,414(*) 0,268

Sig. (2-tailed) 0,224 0,133 0,628 0,542 0,152 0,075 0,928 0,034 0,036 0,185

Bem-Estar Funcional

N 26 26 26 26 26 26 26 26 26 26

46

Para este objectivo, a variável Incapacidade física, para além da EVA para a Capacidade

Física, será deduzida a partir dos questionários FACT-G, SF-36 e FLI-C e respectivas

dimensões. Para se investigar o grau de associação entre o nível de Capacidade Física e os

questionários FACT-G, SF-36 e FLI-C, utilizou-se o Coeficiente de Correlação r de Pearson

(ANEXO XII - Em CD).

Associação entre o Distresse e os questionários FACT-G e SF-36: Quando se procurou

estudar o grau de associação entre os resultados do Distresse e os resultados da Escala Visual

Analógica para a Capacidade Física, verificou-se que não existe correlação estatisticamente

significativa entre ambos. Contudo, ao se estudar a relação existente entre os Níveis de Distresse

e os questionários FACT-G e SF-36 verificaram-se correlações negativas estatisticamente

significativas (Tabela 12). Assim, o Distresse encontra-se negativamente correlacionado com as

Dimensões do FACT-G: Bem-Estar Físico (r = -0,528, p<0,01), e Bem-Estar Emocional (r = -

0,532, p<0,01) e com as Dimensões do SF-36: Desempenho Físico (r = -0,396, p<0,05) e Saúde

Mental (r = -0,464, p<0,05). Verifica-se assim que, elevados níveis de Distresse se acompanham

por baixos níveis de QDVRS ao nível do Bem-Estar Físico e Bem-Estar Emocional ambos do

FACT-G e também por baixos níveis de Desempenho Físico e Saúde Mental do SF-36.

Verificando-se assim que o Distresse e a QDVRS estão ambos correlacionados sobretudo em

dimensões que apelam para a capacidade física.

Tabela - 12 - Caracterização do grau de associação entre o

Distresse e os Questionários FACT-G e SF-36

* Legenda: BEFi - Bem-Estar Físico do FACT-G; BEE - Bem-Estar Emocional do FACT-G; DF - Desempenho Físico do SF-36; SM - Saúde Mental do SF-36.

Em suma, verifica-se que os participantes deste estudo apresentam níveis considerados

favoráveis (pois os valores encontram-se acima de 50%) de QDVRS medido pelo FACT - G nas

dimensões Bem-Estar Global, Bem-estar Social/Familiar, Bem-Estar Emocional e Bem-Estar

Funcional, com a excepção da dimensão Bem-Estar Físico. Relativamente à avaliação da

QDVRS feita através do questionário SF-36, verifica-se que os participantes revelam baixos

níveis de QDVRS nas várias dimensões deste instrumento. E em relação ao FLI-C registam-se

níveis favoráveis (valores acima de 77) de QDVRS. Em relação à avaliação do Distresse,

FACT-G SF-36

BEFi* BEE* DF* SM* Pearson Correlation

-0,528(**) -0,532(**) -0,396(*) -0,464(*)

Sig. (2-tailed) 0,007 0,006 0,050 0,019

Distresse

N 25 25 25 25

47

registam-se valores elevados (acima de 5) nesta variável. Verifica-se também que na EVA da

Capacidade Física se registam níveis baixos (abaixo de 5).

Ao relacionar-se a QDVRS, e a Incapacidade Física com as variáveis Sócio-

Demográficas verifica-se o seguinte: na variável meio ecológico, os participantes que pertencem

ao meio suburbano apresentam melhores resultados ao nível da Dimensão Bem-Estar Emocional

do FACT-G em comparação com os participantes que vivem no meio urbano. Relativamente à

variável Situação Profissional, verifica-se que os participantes de baixa apresentam melhores

resultados ao nível da EVA da Capacidade Física, da Dor Corporal, do Funcionamento

Emocional, da Saúde Mental, estas ultimas no SF-36, e do FLI-C em comparação com os

participantes reformados. Na variável agregado familiar verifica-se que os participantes que

vivem sem os filhos apresentam níveis superiores na EVA de Capacidade Física, de

Funcionamento Físico e de Desempenho Físico estes dois últimos do SF-36 e no questionário

FLI-C em comparação com os participantes que vivem sem os filhos (mas que vivem com o

companheiro). Também se verifica que os participantes que vivem sem os filhos apresentam

níveis superiores de Capacidade Física em comparação com os participantes que vivem sozinhos.

Ao relacionar-se a QDVRS com a incapacidade física verifica-se que resultados elevados

na EVA da Capacidade Física correspondem a níveis elevados de QDVRS ao nível das

dimensões do SF-36 e ao nível do FLI-C e valores elevados ao nível do questionário FLI-C se

associam a valores igualmente elevados ao nível das dimensões do SF-36, contudo ao relacionar-

se o FACT-G com o SF-36 verifica-se que valores elevados na escala global do FACT-G

correspondem a valores baixos ao nível das dimensões do SF-36, Funcionamento Físico,

Desempenho Físico e Vitalidade.

E por fim, ao relacionar-se a QDVRS, e a Incapacidade física com o Distresse, verificou-

se que elevados níveis de distresse estão implicados em baixos níveis de QDVRS ao nível das

dimensões Bem-Estar Físico e Bem-Estar Emocional ambos do FACT-G e também em baixos

valores de QDVRS nas dimensões Desempenho Físico e Saúde Mental do SF-36. Pelo que se

pode constatar que o Distresse elevado se verifica em baixos níveis de QDVRS que apela para a

Capacidade física.

Seguidamente serão apresentados os resultados qualitativos obtidos através das

entrevistas semi-estruturadas

48

ANÁLISE DOS RESULTADOS QUALITATIVOS

A informação proveniente dos dados qualitativos foi sujeita a uma análise temática. Esta

foi realizada pela técnica de análise de conteúdo das respostas dos participantes, obtidas através

de uma entrevista semi-estruturada (ANEXO XIII). Esta metodologia de análise implicou que as

entrevistas fossem gravadas em áudio, sendo depois transcritas as partes dos discursos relevantes

para o objectivo deste trabalho (ANEXO XIV - Em CD). As temáticas básicas encontradas nas

entrevistas foram definidas à posteriori, ou seja, não se partiu de temas específicos previamente

definidos sendo devidamente operacionalizadas (ANEXO XV - Em CD), procedendo-se depois à

contagem de frequências das mesmas (ANEXO XVI - Em CD). A partir desse procedimento,

procurou-se retirar os temas mais significativos apresentados pelos participantes do estudo de

acordo com os objectivos propostos para esse efeito e tendo em conta as questões levantadas.

Para que tal fosse possível, foi necessário realizar uma contagem de frequências. Essa análise

baseou-se na Representatividade, ou seja, o número de participantes da amostra que referiu

cada tema; e na Preponderância, isto é, de entre a totalidade de verbalizações quantas foram

referidas em cada tema independente do número de participantes da amostra, ou seja, a

quantidade de vezes que o tema aparece no discurso de cada participante. O grande objectivo

com esta análise é o seguinte:

Objectivo 5: Caracterizar os temas e as áreas centrais da Incapacidade Física e da

Funcionalidade nos doentes oncológicos e explorar a forma como estas são vividas

abordando aspectos como as significações sobre causas e consequências, emoções, e

estratégias de confronto e adaptação.

Para se concretizar este objectivo, começou-se por definir os Temas Básicos, destes

chegou-se às Subcategorias, a partir das Subcategorias reuniram-se as Categorias, até que se

definiram as Grandes Áreas Temáticas (GAT). Este processo permitiu que se realizasse assim,

uma classificação por semelhança de forma progressiva dos elementos em que cada título de

cada elemento fosse definido apenas no fim. Assim, as GAT, mais generalistas, resultaram do

reagrupamento gradual de elementos menos abrangentes. O processo de operacionalização

permite assim justificar o porquê da classificação das verbalizações numas temáticas em

detrimento de outras.

Desta forma foi possível encontrar 89 Temas Básicos e foram expressas pelos

participantes 598 verbalizações relevantes para este trabalho. A partir destas temáticas foi

possível definir 30 Subcategorias que poderão ter a mesma terminologia que alguns temas

49

básicos. Estas Subcategorias, foram incluídas em Categorias, contudo algumas podem apresentar

a mesma nomenclatura que as Subcategorias. Assim definiram-se ao todo 21 Categorias. Por sua

vez, essas Categorias foram agrupadas dentro de 8 Grandes Áreas Temáticas (GAT).

Para a análise das Grandes Áreas Temáticas, Categorias, Sub-Categorias e Temas Básicos

mais frequentes optou-se por escolher o critério dos 50%. Em que cada resultado será analisado

tendo em conta que pelo menos 50% dos participantes referiu determinada GAT, Categoria, Sub-

Categoria, ou Tema Básico, para que o resultado seja considerado relevante e significativo.

Seguidamente encontra-se o Quadro 1 que indica em frequência a representatividade e

preponderância para cada GAT e para cada tema básico referidos pelos participantes da amostra.

50

QUADRO 1 - Áreas, Categorias, Sub-Categorias, Temáticas e Frequência das respostas dos participantes por Representatividade (REP) e Preponderância (PREP)

FREQUÊNCIA FREQUÊNCIA FREQUÊNCIA FREQUÊNCIA

REP PREP

Grandes Áreas

REP %

PREP %

Categorias

REP %

PREP %

Sub-categorias

REP %

PREP %

Temáticas

n % n %

Interferência ou restrição na realização de actividades de vida diária

13 86,67 23 3,85

Dependência de terceiros na realização de actividades 11 73,33 21 3,5 Interferência ou restrição na realização de actividades de recreação e lazer

11 73,33 19 3,18

Interferência na mobilidade 9 60 19 3,18 Interferência ou Restrição total na realização da actividade profissional

6 40 16 2,68

Interferência na capacidade em atender às necessidades de familiares/amigos

3 20 16 1

Interferência na vida familiar/social 3 20 6 0,67 Mudança de situação profissional 2 13,33 4 0,67 Interferência na realização de auto-cuidados 1 6,67 4 0,17

Consequências Negativas da incapacidade

100

19,06

Interferência no bem-estar emocional/psicológico 1 6,67 1 0,17 Consequências

Positivas da incapacidade

20 1 Vantagens da incapacidade ou das limitações 3 20 1 1

Consequências da Incapacidade

100

20,24

Ausência de consequências da

incapacidade

6,67 0,17 Ausência de consequências da incapacidade 1 6,67 1 0,17

Confronto activo 10 66,67 25 4,18 Percepção realista das limitações 8 53,33 14 2,34 Experiências anteriores de sucesso 2 13,33 3 0,5 Comparação positiva com outras pessoas 1 6,67 1 0,17

Confronto adaptativo com a incapacidade

física

86,67 7,36

Comparação positiva com o passado 1 6,67 1 0,17 Comparação negativa com o passado 7 46,67 16 2,68 Antecipação de consequências negativas 6 40 16 2,68 Confronto passivo 3 20 6 1 Percepção de falta de actividades alternativas ou de recursos como justificação da não realização de actividades (p.e., actividades de recreação e lazer)

3 20 5 0,84

Comparação negativa com os outros 2 13,33 2 0,33 Desvalorização da realização de actividades 1 6,67 2 0,33

Confronto com a incapacidade

física

100 15,22

Confronto inadaptativo com a incapacidade física

73,33 8,03

Espírito Derrotista 1 6,67 1 0,17 Valorização da realização de actividades de recreação e de lazer 7 46,67 9 1,5 Perseverança 6 40 15 2,51 Conformismo Positivo 6 40 10 1,67 Espírito de luta 5 33,33 7 1,17 Relativização: mal menor em comparação com outros 4 26,67 11 1,84 Expectativas positivas 4 26,67 8 1,34 Percepção de características pessoais positivas 4 26,67 6 1 Distracção 4 26,67 4 0,67 Religiosidade 4 26,67 4 0,67 Percepção positiva da capacidade física geral 3 20 3 0,5

Vivência da incapacidade

100 n = 15

55,85 n = 123

Estratégias de adaptação à incapacidade

100 14,37 Estratégias de adaptação à incapacidade

100 14,37

Conformismo negativo 2 13,33 3 0,5

51

Auto-incentivo 2 13,33 2 0,33 Valorização da realização de AVD 2 13,33 2 0,33 Sem estratégias especificas 1 6,67 1 0,17

Sentimentos e emoções no

confronto com a incapacidade ou limitações físicas

86,67 6,02 Sentimentos e emoções no confronto com a

incapacidade ou limitações físicas

86,67 6,02 Sentimentos e Emoções Negativos 13 86,67 36 6,02

Descrição de sintomas físicos incapacitantes 14 93,33 28 4,68 Percepção do grau de incapacidade 8 53,33 12 2,01 Localização 7 46,67 10 1,67 Descrição de sintomas psicológicos negativos 4 26,67 6 1 Pioria 3 20 5 0,84

Descrição da incapacidade

física

100 10,87 Descrição da incapacidade física

100 10,87

Melhoria 2 13,33 4 0,67 A própria doença enquanto causa da incapacidade ou de sintomas incapacitantes

8 53,33 9 1,5

Os sintomas incapacitantes enquanto causa das limitações físicas/incapacidade

8 53,33 8 1,34

O tratamento de Quimioterapia/Radioterapia actuais enquanto causas da incapacidade/limitações físicas

5 33,33 7 1,17

A cirurgia realizada no inicio da doença como causa da incapacidade/limitações físicas

4 26,67 6 0,84

Sintomas psicológicos negativos enquanto causas das limitações físicas/incapacidade

3 20 4 0,67

A conjugação de sintomas incapacitantes e sintomas psicológicos enquanto causa da incapacidade/limitações físicas

2 13,33 4 0,67

A medicação no controlo de sintomas, como causa da incapacidade/limitações físicas

2 13,33 4 0,67

O tratamento de Quimioterapia/Radioterapia no inicio da doença enquanto causas da incapacidade física/limitações físicas

2 13,33 2 0,33

Outras patologias enquanto causas da incapacidade 2 13,33 2 0,33 A idade enquanto possível causa da incapacidade 1 6,67 1 0,17

Percepção da incapacidade

100 n=1

5

18,73 n=112

Atribuição de causalidade da incapacidade

100 7,86 Atribuição de causalidade da incapacidade

100 7,86

O internamento recente enquanto causa da incapacidade/limitações físicas

1 6,67 1 0,17

Realização de actividades de recreação e lazer moderadas 11 73,33 21 3,51 Realização de actividades de vida diária moderadas 10 66,67 17 2,84 Realização da actividade profissional 1 6,67 2 0,33

Realização de Actividades

100 6,85 Realização de Actividades

100 6,85

Independência de terceiros 1 6,67 1 0,17 Sentimentos e emoções positivos na Funcionalidade 8 53,33 12 2 Satisfação/Prazer na realização de actividades de recreação e lazer

7 46,67 12 2 Sentimentos e

Emoções positivos na funcionalidade

73,33 5,17

Satisfação/Prazer na realização de Actividades de vida diária 6 40 7 1,17

Funcionalidade 100 n=1

5

12,8 n=77

Sentimentos e Emoções na

Funcionalidade

80 6,01

Sentimentos e Emoções negativos na

funcionalidade

6,67 0,84 Insatisfação/Desprazer na realização de actividades 1 6,67 5 0,84

Adaptação negativa à doença

13,33 1 Dificuldade de adaptação à doença ou às suas consequências 2 13,33 6 1

Espírito de luta 2 13,33 3 0,5

Adaptação à doença

46,67 1,67

Adaptação positiva à doença

13,33 0,67 Esperança 1 6,67 1 0,17

Processo de doença

66,67 n=10

4,34 n=26

Confronto com a 20 0,5 Confronto com a 20 0,5 Antecipação de consequências negativas 3 20 3 0,5

52

doença doença Aceitação do diagnóstico

médico

13,33 0,67 Aceitação do diagnóstico médico

13,33 0,67 Aceitação da doença 2 13,33 4 0,67

Interferência na vida social 1 6,67 2 0,33 Alteração dos planos de vida 1 6,67 1 0,17

Consequências da doença

13,33 0,67 Consequências da doença

13,33 0,67

Quebra da rotina diária 1 6,67 1 0,17 Sentimentos e

emoções relacionados com

a vivência da doença

13,33 0,33 Sentimentos e emoções relacionados com a vivência da doença

13,33 0,33 Emoções negativas na vivência da doença 2 13,33 2 0,33

Desconhecimento da etiologia da doença 1 6,67 1 0,17 Conhecimento da realidade da

doença

20 0,5 Conhecimento da realidade da doença

20 0,5 Conhecimento da doença/diagnóstico 2 13,33 2 0,33

Apoio Familiar/Social Positivo

46,67 1,84 Bom apoio familiar/social

7 46,67 11 1,84 Vida Familiar/Social

53,33 n=8

2,01 n=12

Apoio Familiar/Social

53,33

2,01

Apoio Familiar/Social Negativo

6,67 0,17 Fraco apoio familiar/social 1 6,67 1 0,17

Controlo de sintomas físicos incapacitantes

através de T. farmacológicas

26,67 1,34 Controlo de sintomas físicos incapacitantes (por exemplo, dor, fadiga, etc…) através da utilização de técnicas não farmacológicas

4 26,67 8 1,34 Controlo de sintomas físicos incapacitantes

40 2,51

Controlo de sintomas físicos incapacitantes

através de T. não farmacológicas

26,67 1,17 Controlo de sintomas físicos incapacitantes (por exemplo, dor, fadiga, etc…) através da utilização de técnicas farmacológicas

4 26,67 7 1,17

Controlo de sintomas psicológicos negativos

através de T. não farmacológicas

26,67 0,84 Controlo de sintomas psicológicos negativos (por exemplo, depressão, pensamentos negativos, etc…) através de técnicas não farmacológicas

4 26,67 5 0,84

Controlo de sintomas

44,67 n=7

3,52 n=21

Controlo de sintomas

psicológicos negativos

26,67 1,01

Controlo de sintomas psicológicos negativos

através de T. farmacológicas

6,67 0,17 Controlo de sintomas psicológicos negativos (por exemplo, depressão, pensamentos negativos, etc…) através de técnicas farmacológicas

1 6,67 1 0,17

Valorização do apoio dos técnicos de saúde ou do pessoal hospitalar

2 13,33 4 0,67 Relação Positiva com

médico/pessoal hospitalar

20 0,84 Relação Positiva com médico/pessoal

hospitalar

20 0,84

Relação/Comunicação positiva com o médico 1 6,67 1 0,17

Confronto com a autoridade médica 1 6,67 1 0,17 Relação com a autoridade

médica

13,33 0,34 Relação com a autoridade médica

13,33 0,34

Questionamento da autoridade médica 1 6,67 1 0,17

Ruptura na relação médico doente 1 6,67 3 0,5

Relação/Comunicação médico-

doente /Pessoal hospitalar

40 n=6

1,85 n=11

Relação negativa com o médico

6,67 0,67 Relação negativa com o médico

Mudança de médico 1 6,67 1 0,17 Adesão total 3 20 3 0,5 Adesão 26,67 0,67 Adesão parcial 1 6,67 1 0,17

Processos de Adesão ao

tratamento/medicação

26,67 n=4

0,84 n=5

Adesão/Não adesão

20 0,84

Não adesão 6,67 0,17 Não adesão racional 1 6,67 1 0,17

53

Assim, tendo em conta o Objectivo 5 foram levantadas várias questões, a que se procura

dar resposta:

Questão 6: Qual a Área mais frequente? Dentro desta qual a Categoria e a Sub-Categoria mais

frequentes e os temas básicos mais representativos e preponderantes? E no geral, quais os Temas

Básicos mais representativos e preponderantes?

Tendo em conta o critério de que pelo menos 50% da amostra as/os referiu: as GAT’s

mais frequentes foram 5 (Vivência da Incapacidade; Percepção da Incapacidade; Vivência da

Funcionalidade; Processo de Doença; e Vida Familiar/Social), as Categorias mais frequentes

foram 10 (Consequências da Incapacidade; Confronto com a Incapacidade física; Estratégias de

adaptação à incapacidade; Sentimentos e emoções no confronto com a incapacidade ou

limitações físicas; Descrição da incapacidade física; Atribuição da causalidade à incapacidade;

Realização de actividades; Sentimentos e emoções na funcionalidade; Apoio Familiar/Social;

Controlo de Sintomas físicos incapacitantes), as Subcategorias mais relevantes foram 9

(Consequências Negativas da incapacidade; Confronto adaptativo com a incapacidade;

Confronto inadaptativo com a incapacidade; Estratégias de adaptação à incapacidade;

Sentimentos e emoções no confronto com a incapacidade ou limitações físicas; Descrição da

incapacidade física; Atribuição de causalidade à incapacidade; Realização de actividades;

Sentimentos e emoções positivos na funcionalidade) e os Temas Básicos mais representativos

foram 14 e serão apresentados no fim da resposta a esta questão.

Assim, pela análise do Quadro 1, verificou-se que a GAT Vivência da Incapacidade

Física é a mais representativa e a mais preponderante dentro da qual se destaca a Categoria

Consequências da Incapacidade (100%, n = 15) como a mais representativa e preponderante na

GAT referida. E a Sub-Categoria mais importante nesta Categoria é Consequências negativas da

incapacidade (100%, n = 15), sendo que os Temas Básicos mais representativos nesta Categoria

são: Interferência ou restrição na realização de actividades de vida diária (86,67%, n = 13),

Dependência de terceiros na realização de actividades (73,33%, n = 11), Interferência ou

restrição na realização de actividades de recreação e lazer (73,33%, n = 11) Interferência na

mobilidade (60%, n = 9).

Os temas básicos mais representativos e preponderantes no geral são: Descrição de

sintomas físicos incapacitantes (93,33%, n = 14); Sentimentos e Emoções Negativos (86,67%, n

= 13); Interferência ou restrição na realização de actividades de vida diária (86,67%, n = 13);

Realização de actividades de recreação e lazer moderadas (73,33%, n = 11); Dependência de

terceiros na realização de actividades (73,33%, n = 11); Interferência ou restrição na realização

de actividades de recreação e lazer (73,33%, n = 11); Confronto activo (66,67%, n = 10);

54

Realização de actividades de vida diária moderadas (66,67%, n = 10); Interferência na

mobilidade (60%, n = 9); Percepção realista das limitações (53,33%, n = 8); Percepção do grau

de incapacidade (53,33%, n = 8); Sentimentos e emoções positivos na Funcionalidade (53,33%,

n = 8); A própria doença enquanto causa da incapacidade ou de sintomas incapacitantes

(53,33%, n = 8); Os sintomas incapacitantes enquanto causa das limitações físicas/incapacidade

(53,33%, n = 8)

Questão 7: Será a Doença Oncológica e problemas associados, considerados pelos doentes

oncológicos a principal causa da incapacidade?

Pela observação do Quadro 1, a Categoria Atribuição de causalidade à incapacidade

física está representada pelos seguintes temas: A própria doença enquanto causa da

incapacidade ou de sintomas incapacitantes (53,33%, n = 8), Os sintomas incapacitantes

enquanto causa das limitações físicas/incapacidade (53,33%, n = 8), O tratamento de

Quimioterapia/Radioterapia actuais enquanto causas da incapacidade/limitações físicas

(33,33%, n = 5), A cirurgia realizada no inicio da doença como causa da

incapacidade/limitações físicas (26,27%, n = 4), Sintomas psicológicos negativos enquanto

causas das limitações físicas/incapacidade (20%, n = 3), A conjugação de sintomas

incapacitantes e sintomas psicológicos enquanto causa da incapacidade/limitações físicas

(13,33%, n = 2), A medicação no controlo de sintomas, como causa da incapacidade/limitações

físicas (13,33%, n = 2), O tratamento de Quimioterapia/Radioterapia no inicio da doença

enquanto causa da incapacidade física/limitações físicas (13,33%, n = 2), Outras patologias

enquanto causas da incapacidade (13,33%, n = 2), A idade enquanto possível causa da

incapacidade (6,67%, n = 1), O internamento recente enquanto causa da

incapacidade/limitações físicas (6,67%, n = 1).

Assim, os temas A própria doença enquanto causa da incapacidade ou de sintomas

incapacitantes (53,33%, n = 8), e Os sintomas incapacitantes enquanto causa das limitações

físicas/incapacidade (53,33%, n = 8), parecem ser os mais importantes quando os pacientes

atribuem uma causa à incapacidade, tendo em conta que pelo menos 50% dos participantes os

referenciou. Desta forma verifica-se que a doença e problemas associados, nesta amostra, são

considerados como causas de incapacidade física ou limitações funcionais.

Questão 8: Quais as consequências da incapacidade física nos doentes oncológicos?

Em relação às Consequências da Incapacidade Física, encontraram-se os seguintes Temas

que estão apresentados no Quadro 1: Interferência ou restrição na realização de actividades de

vida diária (86,67%, n = 11), Dependência de terceiros na realização de actividades (73,33%, n

55

= 11), Interferência ou restrição na realização de actividades de recreação e lazer (73,33%, n =

11), Interferência na mobilidade (60%, n = 9), Interferência ou Restrição total na realização da

actividade profissional (40%, n = 6), Interferência na capacidade em atender às necessidades de

familiares/amigos (20%, n = 3), Interferência na vida familiar/social (20%, n = 3), Vantagens da

incapacidade ou das limitações (20%, n = 3), Mudança de situação profissional (13,33%, n = 2),

Ausência de consequências (6,67%, n = 1) Interferência na realização de auto-cuidados (6,67%,

n = 1), Interferência no bem-estar emocional/psicológico (6,67%, n = 1 ).

Assim, os temas mais representativos, tendo em conta que pelo menos 50% dos

participantes os referenciou são: Interferência ou restrição na realização de actividades de vida

diária (86,67%), Dependência de terceiros na realização de actividades (73,33%), Interferência

ou restrição na realização de actividades de recreação e lazer (73,33%), Interferência na

mobilidade (60%).

Questão 9: Quais os sentimentos/emoções associados à vivência da incapacidade e da

funcionalidade nos doentes oncológicos?

Pela observação do Quadro 1 verificou-se que os sentimentos e emoções associados à

GAT Vivência da Incapacidade estão representados pelo Tema Básico: Sentimentos e Emoções

Negativos que foi referido por 86,67% (n = 11) dos participantes. Em relação à Vivência da

Funcionalidade, os sentimentos associados são Sentimentos e Emoções Positivos (53,33%, n =

8), Satisfação/Prazer na Realização de Actividades de Recreação e Lazer (46,67%, n = 7),

Satisfação/Prazer na Realização de AVD (40%, n = 6), e Insatisfação/Desprazer na Realização

de Actividades (6,67%, n = 1), sendo o Tema Sentimentos e Emoções Positivos (53,33%, n = 8) o

mais significativo.

Questão 10: Quais as estratégias de confronto e de adaptação utilizados pelos doentes

oncológicos na vivência da incapacidade física?

As estratégias de confronto referidas pelos participantes podem ser divididas em

Confronto Adaptativo (86,67%, n = 13) e Confronto Inadaptativo (73,33%, n = 11). Em relação

ao Confronto Adaptativo os temas são Confronto activo (66,67%, n = 10), Percepção realista

das limitações (53,33%, n = 8), Experiências anteriores de sucesso (13,33%, n = 2),

Comparação positiva com outras pessoas (6,67%, n = 1), Comparação positiva com o passado

(6,67%, n = 1). Relativamente ao Confronto Inadaptativo os temas são os seguintes:

Comparação negativa com o passado (46,67% n = 7), Antecipação de consequências negativas

(40%, n = 6), Confronto passivo (20%, n = 3), Percepção de falta de actividades alternativas ou

de recursos como justificação da não realização de actividades (p.e., actividades de recreação e

56

lazer) (20%, n = 3), Comparação negativa com os outros (13,33%, n = 2), Desvalorização da

realização de actividades (6,67%, n = 1), Espírito Derrotista (6,67%, n = 1).

Assim as estratégias de confronto mais salientes são: Confronto activo (66,67%, n = 10),

Percepção realista das limitações (53,33%, n = 8) do Confronto adaptativo.

Quanto às Estratégias de adaptação, nesta amostra, são: Valorização da realização de

actividades de recreação e de lazer (46,67%, n = 7); Perseverança (40%, n = 6); Conformismo

Positivo (40%, n = 6); Espírito de luta (33,33%, n = 5); Relativização: mal menor em

comparação com outros (26,67%, n = 4); Expectativas positivas (26,67%, n = 4); Percepção de

características pessoais positivas (26,67%, n = 4); Distracção (26,67%, n = 4); Religiosidade

(26,67%, n = 4); Percepção positiva da capacidade física geral (20%, n = 3); Conformismo

negativo (13,33%, n = 2); Auto-incentivo (13,33%, n = 2). Que apesar de ser uma Categoria

muito importante, pois estava presente em todos os participantes, os seus temas não foram

significativos isoladamente.

Em suma, pode-se constatar que a Área mais representativa e preponderante é a Vivência

da Incapacidade, dentro da qual se verifica que a Categoria mais importante é Consequências da

Incapacidade sendo a sua Sub-Categoria mais saliente Consequências negativas da

incapacidade, apresentando os seguintes temas básicos como os mais representativos:

Interferência ou restrição na realização de actividades de vida diária, Interferência ou restrição

na realização de actividades de recreação e lazer, Interferência na mobilidade e Dependência

de terceiros na realização de actividades. E no geral os temas básicos mais representativos e

preponderantes são: Descrição de sintomas físicos incapacitantes, Sentimentos e Emoções

Negativos, Interferência ou restrição na realização de actividades de vida, Realização de

actividades de recreação e lazer moderadas, Dependência de terceiros na realização de

actividades, Interferência ou restrição na realização de actividades de recreação e lazer,

Confronto activo, Realização de actividades de vida diária moderadas, Interferência na

mobilidade, Percepção realista das limitações, Percepção do grau de incapacidade, Sentimentos

e emoções positivos na Funcionalidade, A própria doença enquanto causa da incapacidade ou

de sintomas incapacitantes, Os sintomas incapacitantes enquanto causa das limitações

físicas/incapacidade.

Neste estudo os temas A própria doença enquanto causa da incapacidade ou de sintomas

incapacitantes e Os sintomas incapacitantes enquanto causa das limitações físicas/incapacidade

parecem ser os mais representativos e preponderantes quando os doentes oncológicos atribuem

uma causa para a incapacidade física ou para os sintomas incapacitantes.

57

Os temas Interferência ou restrição na realização de actividades de vida diária e

Dependência de terceiros na realização de actividades são considerados os mais representativos

e preponderantes quando os doentes oncológicos mencionam quais as consequências da

incapacidade física na sua vida.

Quanto aos sentimentos e emoções, verificou-se que Sentimentos e Emoções Negativos

estão presentes na incapacidade de forma mais representativa e preponderante e Sentimentos e

Emoções Positivos estão presentes na funcionalidade como o mais representativo e

preponderante.

Verifica-se que os doentes oncológicos utilizam estratégias de confronto adaptativo e

inadaptativo. Em que o tema mais representativo e preponderante no Confronto adaptativo é

Confronto activo, e no Confronto inadaptativo o tema mais representativo e preponderante é

Comparação negativa com o passado, no entanto não é significativo.

No que respeita às estratégias de adaptação à incapacidade, verificou-se que o tema mais

representativo e preponderante é Valorização da realização de actividades de recreação e de

lazer, contudo este não é significativo.

Seguidamente será apresentada a discussão dos resultados quantitativos e qualitativos.

58

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Neste Capitulo pretende-se discutir os resultados encontrados tendo em conta os

objectivos propostos em que estes serão discutidos separadamente. Para esse efeito, os objectivos

serão apresentados e discutidos de acordo com os resultados obtidos e os estudos apresentados

na revisão de literatura. O objectivo geral desta investigação é explorar o impacto da

Incapacidade Física na Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde nos doentes oncológicos.

Nesse sentido, aplicou-se o FACT-G (v.4), o SF-36 (v.2), o FLI-C, o Termómetro do Distresse, a

Escala Visual Analógica para a Capacidade Física, e uma Entrevista Semi-Estruturada.

Objectivo 1: Caracterizar a Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde nos doentes

oncológicos através do FACT-G, v.4 (Functional Assessment Cancer Therapy - General,

Version 4), do SF-36, v.2 (Short Form 36-item Health Survey) e do FLI-C (Functional Living

Index - Cancer) e Caracterizar os Níveis de Distresse medidos através do Termómetro do

Distresse e os Níveis de Capacidade Física medidos através de uma Escala Visual

Analógica.

Questão1. Quais os níveis de Qualidade de vida Relacionada com a Saúde nos doentes

oncológicos?

Questão 2. Como classificam os doentes oncológicos o seu nível de capacidade física numa

escala 0 a 10? E os seus níveis de Distresse?

FACT -G: Vários estudos têm sido feitos na avaliação da QDVRS dos doentes oncológicos. Esta

avaliação tem-se mostrado fundamental na identificação e detecção de necessidades específicas

para cada paciente (Pinto e Pais - Ribeiro, 2006). Isto porque a maioria dos estudos apontam para

uma reduzida QDVRS nos doentes oncológicos (Dunn e col., 2003; Grassi, e col. 2004; Win, e

col. 2005; cit. por Kreitler, e col., 2007; Saegrov, 2005; Kramer e col. 2000; cit. por Bottomly,

2002 ). Neste estudo, os resultados obtidos através do FACT-G, na Escala Bem-Estar, enquanto

medida global de QDVRS, e nas diversas dimensões deste instrumento, sugerem que os

participantes do estudo apresentam níveis favoráveis em relação às várias dimensões de QDVRS

presentes no questionário FACT-G, com a excepção da dimensão Bem-Estar Físico que

apresenta um valor médio no limite inferior, ou seja, abaixo de 50% mas próximo desse valor.

Uma possível razão pela qual esta dimensão apresenta um valor inferior em comparação com as

outras dimensões, pode estar relacionado com os vários factores que afectam a QDVRS ao nível

dessa dimensão, por exemplo o efeito das terapêuticas e dos tratamentos que causam mau estar

físico a curto e a longo prazo em que o tipo de tratamento é um factor importante a ter em conta

59

na diminuição da QDVRS em termos físicos (Bradley, e col., 2003; Fritzsche, e col., 2003;

Pugliese, e col., 2002; cit. por Kreitler, e col., 2007). Contudo, o Bem-Estar Funcional apresenta

um valor médio que se encontra no limite superior, ou seja, apesar de ser superior a 50%

encontra-se perto deste valor. Uma razão para se ter verificado esse valor pode ter a ver com a

diminuição do Bem-Estar Físico, devido à existência de sintomas essencialmente físicos, como

por exemplo, a falta de energia, as náuseas, a dor, e a fadiga, que acabam por interferir com a

capacidade física da pessoa levando a dificuldades e limitações na realização de tarefas diárias à

semelhança do estudo de Dodd e col. (2001) que salientou a influência dos sintomas físicos na

diminuição da capacidade funcional.

SF-36: Ao contrário do FACT- G, o SF-36 apresenta no geral resultados baixos ao nível das

dimensões da QDVRS nesse instrumento. A maioria das dimensões apresenta valores inferiores

a 50%. As dimensões que apresentam valores menores e mais distanciados dos 50% são:

Funcionamento Físico, Desempenho Físico, a Saúde Geral, Vitalidade, Desempenho Emocional,

e Saúde Mental. A dimensão Dor corporal e a dimensão Funcionamento Social são as que se

aproximam mais de 50%. Uma explicação possível para estes resultados pode ter a ver com a

sensibilidade do próprio instrumento à condição de doença, ou seja, este instrumento foi

construído para ser aplicado tanto em pessoas saudáveis como em pessoas que apresentam uma

doença crónica. Assim, uma doença tão incapacitante como o cancro pode levar a que os

resultados neste questionário apresentem esta expressão, pois o próprio significado das

dimensões do SF-36 apela para que valores baixos sejam indicativos de um baixo nível de saúde

devido à existência de uma doença. O facto de apresentar valores menores em comparação com

o FACT-G pode ter a ver com as próprias dimensões de ambos os instrumentos, que apesar de

apresentarem terminologias idênticas, estas podem não medir da mesma forma os mesmos

aspectos da QDVRS. No estudo de Wilson, e col (2005), numa amostra de mulheres com cancro

da mama e que foram sujeitas a linfoedema, verificaram valores abaixo de 50% para as

dimensões Desempenho Físico e Vitalidade no SF-36 tal como se verificou nos participantes

deste estudo, no entanto, as escalas restantes apresentavam valores acima de 50%.

FLI -C: Com este questionário obtém-se uma medida global da QDVRS que prediz acerca da

funcionalidade nos doentes oncológicos. Não se teve em conta as suas dimensões uma vez que

não se dispunha de informação suficiente acerca da divisão deste questionário em subescalas de

acordo com determinados pontos de corte. Neste estudo, pode-se concluir que a QDVRS

avaliada através do FLI-C apresenta resultados favoráveis, concluindo-se assim que estes

participantes apresentam bons níveis de funcionalidade. Contudo, se tivermos em conta que este

60

instrumento avalia sobretudo o impacto dos tratamentos para o cancro na funcionalidade, tal

como referiu Pimentel (2006), este instrumento é uma boa medida de avaliação do impacto do

tratamento de Quimioterapia na QDVRS nos doentes oncológicos. Para isso seria importante ter

discriminado que participantes estavam a receber tratamento de quimioterapia no momento em

que responderam ao questionário. No entanto, existem limitações à aplicação deste questionário

como se verá à frente. Assim, ao comparar o valor médio deste instrumento com os valores do

FACT- G e do SF-36, pode-se levantar a hipótese de que estes instrumentos não medem da

mesma forma os mesmos aspectos da QDVRS, o que pode estar subjacente à sensibilidade de

cada instrumento.

DISTRESSE: Neste estudo cerca de 80% dos participantes revela níveis de distresse significativos,

entre 5 a 10, contudo a média é de 6 (encontra-se próxima do valor de transição 5), e por isso

têm de ser tidos em consideração, pois apesar de o nível 6 ser significativo por estar acima de 5,

não é dos níveis mais importantes em termos da intensidade de mau estar psicológico. Contudo,

em termos de intervenção o objectivo é fazer esse nível de distress diminuir ou não deixar que

este aumente. Segundo Fang, e col. (2001) o distresse pode surgir devido às sucessivas

adaptações pelas quais o doente oncológico tem de passar. A mudança no estilo de vida pode ser

muito perturbante quando a pessoa estava habituada a manter um certo ritmo de vida em termos

funcionais. Desta forma, o distresse é uma variável fundamental na avaliação da QDVRS e na

Incapacidade física.

CAPACIDADE FÍSICA : Ao nível da capacidade Física pela análise dos resultados pode-se concluir

que a maioria dos participantes entrevistados, deste estudo, se encontram incapacitados

fisicamente, pois a maioria apresenta níveis de capacidade física inferiores a 5, sendo o valor

médio de capacidade física o 4. Contudo, se pensarmos que o 4 se encontra próximo do ponto de

transição, 5, pode-se concluir que apesar de revelarem baixos níveis de capacidade física, podem

também apresentar uma capacidade física preservada que os permita ter algum nível de

funcionalidade.

Objectivo 2: Caracterizar a relação existente entre a Qualidade de Vida Relacionada com a

Saúde, a Incapacidade física, com as Variáveis Sócio-Demográficas e Clínicas nos doentes

oncológicos;

Questão 3. Qual a relação existente entre a Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde, a

Incapacidade Física, e as Variáveis Sócio-Demográficas e Clínicas nos doentes oncológicos?

61

Em relação ao Meio Ecológico, verificam-se diferenças entre o Meio Urbano e o Meio

Suburbano no valor médio da dimensão Bem-Estar Emocional do FACT-G. O valor desta

dimensão é superior no Meio Suburbano. Tal facto pode ser devido à rede social que se pode

estabelecer entre as pessoas no meio suburbano por este ser um meio mais pequeno pode ser

mais favorável ao estabelecimento de relações mais íntimas e onde se estabelece o sentido grupal

levando a um melhor ajuste emocional, em comparação com o ambiente relacional no Meio

Urbano que pode ser mais propenso a relações sociais mais impessoais e distantes.

Verificam-se diferenças nos valores médios ao nível da Situação Profissional (Baixa ou

Reformado) em que os participantes de baixa médica apresentam valores médios superiores nas

seguintes dimensões: Capacidade Física, Dor Corporal do SF-36, Funcionamento Emocional do

SF-36, Saúde Mental do SF-36 e no questionário FLI-C. Desta forma, pode-se supor que os

participantes de baixa médica perspectivam esse momento da sua vida enquanto transitório. Ao

contrário dos participantes reformados, que devido à sua condição podem ter tendência a

considerar que se estão reformadas é porque não podem trabalhar e como não podem trabalhar a

sua capacidade física está diminuída. Na dimensão Dor Corporal os participantes de baixa

médica tendem a ter resultados superiores (ausência de dor) em comparação com os participantes

reformados. Possivelmente, os participantes de baixa médica podem revelar-se mais optimistas

na sua recuperação e como tal poderão não estar tão centrados na dor, ao contrário dos

participantes reformados que pelo facto de terem abandonado a prática profissional podem não

ter alternativas a essa mesma actividade e como tal, podem estar mais centrados nos aspectos

corporais, neste caso na dor corporal e assim apresentar níveis de dor elevados. O mesmo se

verifica para a dimensão Desempenho Emocional, em que os participantes de baixa médica

apresentam valores superiores em comparação com os participantes reformados. A dimensão

Desempenho Emocional quando apresenta valores baixos significa que a pessoa apresenta

dificuldades com o trabalho ou outras actividades diárias como resultado de problemas

emocionais. Logo valores baixos nesta dimensão para as pessoas reformadas podem ser de

esperar, pois se elas não trabalham, respondem aos itens desta dimensão no sentido em que não

trabalham, ou seja, uma das questões colocadas para avaliar esta dimensão é a seguinte: “Durante

as últimas 4 semanas, teve com o seu trabalho ou com as suas actividades diárias, algum dos problemas

apresentados a seguir devido a quaisquer problemas emocionais (tal como sentir-se deprimido/a ou

ansioso/a)?” o participante reformado ao procurar dar resposta a esta pergunta pode dar mais

ênfase ao conceito “trabalho” e responder consoante a sua situação profissional. E como tal esta

questão poderá levantar dúvidas, pois a pessoa tenderá a responder em função do trabalho

enquanto actividade laboral desvalorizando o resto das actividades diárias. Em relação à

dimensão Saúde Mental do SF-36, dos resultados deste estudo, e tendo em conta o significado

desta dimensão definida pelos autores desse instrumento, pode-se concluir que os participantes

62

reformados tendem a sentir-se mais ansiosos e deprimidos. Uma razão para este resultado pode

ter a ver com o que foi dito anteriormente, os participantes reformados tem mais dor corporal e

menos capacidade física, pelo que se envolvem menos em actividades recreativas e distractivas e

em actividades sociais isolando-se mais e por isso tenderão a sentir-se mais deprimidas e

ansiosas. Relativamente ao questionário FLI-C os participantes de baixa médica apresentam

níveis de QDVRS em termos de Funcionalidade superiores em comparação com as pessoas

reformadas. Podendo-se concluir que as pessoas reformadas de uma forma geral percepcionam a

sua QDVRS em termos de funcionalidade de uma forma mais negativa em comparação com os

participantes de baixa médica, pois uma vez que os participantes reformados não se envolvem

tanto em actividades, percepcionam-se como mais limitados fisicamente em comparação com os

participantes de baixa médica que podem ser mais optimistas e percepcionar esse momento como

transitório.

Relativamente ao Agregado Familiar, registam-se diferenças nos valores médios das

escalas e nas dimensões de QDVRS entre os participantes que vivem com os filhos e os

participantes que vivem sem os filhos. Os participantes que vivem sem filhos (mas que vivem

com o companheiro), revelam neste estudo, níveis superiores de Capacidade Física, de

Funcionamento Físico e Desempenho Físico no SF-36 e ao nível da QDVRS em termos de

funcionalidade avaliada através do FLI-C. Possivelmente, os participantes que moram com os

filhos ou são mais solicitados ou se sentem no dever de realizar tarefas e assim têm mais

percepção das suas limitações quando confrontados com elas durante a sua execução. Enquanto

que os participantes que vivem sem os filhos, ou seja, que vivem com o companheiro/a, não se

confrontam tanto com essas limitações pois não chegam a atingir os limites da sua capacidade

física uma vez que as exigências exteriores são menos. Uma outra hipótese pode ser levantada,

em que viver com os filhos pode ser uma consequência da baixa capacidade física, isto se os

filhos foram maiores de idade e os participantes dependerem deles fisicamente na realização de

determinadas tarefas. Contudo, seria de esperar que os participantes que vivem com os filhos

poderiam ter mais apoio e como tal, uma melhor percepção da capacidade física, pelo que se

pode indagar sobre a possibilidade de algo estar a falhar em relação ao suporte familiar. Existem

também diferenças ao nível da Capacidade física, entre os participantes que vivem sem os filhos

(ou seja, que vivem com o companheiro/a) e os participantes que vivem sozinhos, em que estes

últimos apresentam níveis médios de Capacidade Física inferior em comparação com os que

vivem com o companheiro/a, o que pode ser compreensível, pois os participantes que vivem

sozinhos por não terem suporte familiar e social apresentam mais dificuldades na realização das

suas tarefas diárias, e como tal a capacidade física fica comprometida.

63

Objectivo 3. Caracterizar a relação existente entre a Incapacidade Física e a Qualidade de

Vida Relacionada com a Saúde nos doentes oncológicos;

Questão 4. Qual a relação existente entre a Incapacidade física e a Qualidade de Vida

Relacionada com a Saúde nos doentes oncológicos?

Os resultados obtidos indicam que níveis de EVA de Capacidade Física elevada

correspondem a níveis elevados de QDVRS ao nível das dimensões do SF-36 e ao nível do

questionário FLI-C. Indicando também que valores elevados ao nível da QDVRS em termos de

funcionalidade medidos através do FLI-C correspondem a resultados igualmente elevados das

componentes e dimensões da QDVRS medida pelo SF-36. Tais resultados podem levar a

considerar que uma Capacidade Física favorável pode estar implicada numa melhor QDVRS o

que vai de encontro a estudos referenciados no primeiro capítulo. Por exemplo, o estudo de

Pinquart, e col. (2006), demonstrou que um baixo status funcional está associado a uma baixa

qualidade de vida relacionada com a saúde nos doentes oncológicos. Contudo, encontraram-se

correlações positivas e negativas entre o FACT-G e o SF-36, enquanto medidas de QDVRS

geral. O que revela coerência em relação aos resultados obtidos, ou seja, a QDVRS revela ser

favorável quando avaliada com o FACT-G sendo também favorável quando avaliada com o SF-

36. Contudo, apesar de serem dois instrumentos direccionados para avaliar a QDVRS, ao

correlacionar o FACT-G com o SF-36 verificou-se que valores elevados ao nível da Escala

FACT-G global correspondem a níveis baixos de Funcionamento Físico, Desempenho Físico e

Vitalidade do SF-36, o que em termos interpretativos levaria a concluir que os participantes que

apresentam bons Níveis de QDVRS medidos pelo FACT-G apresentam baixos níveis de

Capacidade física revelados pelas dimensões Funcionamento Físico, Desempenho Físico e

Vitalidade, todas do SF-36. Assim, estas diferenças podem levar-nos a considerar que níveis

superiores de QDVRS não se fazem acompanhar necessariamente de altos níveis de capacidade

física. Dito de outra forma, níveis altos de incapacidade física associada ao cancro neste estudo,

avaliados pelo SF-36, correspondem a bons níveis de QDVRS medidos pelo FACT-G. O que

vem contrariar a revisão de literatura realizada no contexto deste estudo, e em especial a ideia de

paradoxo da incapacidade proposta por Carr e col. (2001; cit. por Pimenta, e col. 2008), em que

referem que pessoas incapacitadas fisicamente podem apresentar bons níveis de QDV geral,

contudo a incapacidade encontra-se negativamente correlacionada com a QDVRS uma vez que a

incapacidade apela para dimensões da Saúde e da Doença presentes na própria definição de

QDVRS sendo essas dimensões incluídas nos próprios questionários de QDVRS.

64

Objectivo 4. Caracterizar a relação existente entre a QDVRS, a Incapacidade física e o

Distresse Psicológico nos doentes oncológicos;

Questão 5. Qual a relação existente entre a Incapacidade física e o Distresse Psicológico nos

doentes oncológicos?

Os resultados deste estudo indicam que níveis elevados de distresse correspondem a

baixos níveis de Bem-Estar Físico e Bem-Estar Emocional ambos do FACT-G e também a

baixos níveis de Desempenho Físico e Saúde Mental do SF-36. O que pode significar que quanto

mais elevado for o distresse menor é a QDVRS em dimensões que apelam para a capacidade

física e mais incapacitado se encontra o doente. Resultados esses que são apoiados pela revisão

de literatura proposta para este trabalho (p.e. Norton e col., 2005).

Contudo, apesar de se tentar dar resposta à relação existente entre a incapacidade física, a

QDVRS e as variáveis Sócio-Demográficas, bem como a relação entre a incapacidade física e a

QDVRS e a relação entre a incapacidade física, a QDVRS e o distresse psicológico, há que ter

em conta a reduzida dimensão da amostra pelo que as interpretações podem estar a ser forçadas e

não podem ser generalizadas.

Objectivo 5. Caracterizar os temas centrais da Incapacidade física e da Funcionalidade nos

doentes oncológicos e explorar a forma como estas são vividas abordando aspectos como as

significações sobre causas e consequências, emoções, e estratégias de confronto e

adaptação.

Questão 6: Qual a Área mais frequente? Dentro desta qual a Categoria e a Sub-Categoria mais

frequentes e os temas básicos mais representativos e preponderantes? E no geral, quais os Temas

Básicos mais representativos e preponderantes?

A área mais frequente tanto em termos de representatividade como preponderância é a

Vivência da Incapacidade, isto porque era objectivo máximo deste estudo explorar a

incapacidade física através da entrevista semi-estruturada, e como tal, foi em torno da área da

vivência da incapacidade que as entrevistas incidiram, assumido assim esta área um maior

destaque. Dentro da Vivência da incapacidade a Categoria mais importante foi Consequências da

incapacidade, pelo que podemos pensar que os doentes oncológicos se encontram centrados

mais nas Consequências da Incapacidade, em especial ao nível das consequências negativas da

incapacidade. Podendo-se assim pensar, que essa centração pode dificultar o processo de

confronto e adaptação. Nesta GAT os temas básicos mais salientes estão representados pela

subcategoria Consequências negativas: Interferência ou restrição na realização de AVD;

Interferência ou restrição na realização de actividades de recreação e lazer; Interferência na

65

mobilidade, o que pode significar que estes participantes se apresentam incapacitados em várias

áreas da vida deles, seja ao nível da realização de actividades de vida diária seja ao nível de

actividades de recreação e lazer, bem como em particular ao nível da própria mobilidade. O que

os leva à temática Dependência de terceiros na realização de actividades. Assim, esta

impedimento físico para realizar tarefas pode isolá-los dos outros. Para além desses temas são

significativos os Sentimentos e emoções negativos na vivência da incapacidade, salientando-se

que os participantes neste estudo apesar de demonstrarem emocionalidade negativa, apresentam

Confronto activo e uma Percepção realista das limitações ao nível do confronto adaptativo com

a incapacidade física. Isto pode significar que, apesar de todas as limitações físicas, estes

participantes, procuram alternativas para lidar com a situação, e essas alternativas podem ser

mais cognitivas do que meramente físicas.

Questão 7: Será a doença oncológica e problemas associados, considerados pelos doentes

oncológicos a principal causa da incapacidade?

Relativamente às causas da incapacidade, esta categoria encontra-se presente na GAT

Percepção da Incapacidade, em que os participantes deste estudo atribuem como causa da sua

incapacidade: sintomas incapacitantes, tratamento de Quimioterapia/Radioterapia actuais,

cirurgia realizada no inicio da doença, Sintomas psicológicos negativos, Conjugação de

sintomas incapacitantes e sintomas psicológicos, Medicação no controlo de sintomas,

tratamento de Quimioterapia/Radioterapia no inicio da doença, Outras patologias, Idade e

internamento recente. De acordo com a análise feita no capítulo anterior relativamente a esta

questão, pode-se concluir que para estes participantes a própria doença bem como aspectos a ela

relacionados se assumem como os mais importantes na altura de atribuir causas à incapacidade.

Isto pode ser devido à percepção que o doente oncológico tem da gravidade e da importância da

sua doença. Pois, se tivermos em conta a média de idades desta amostra poderíamos pensar que

com o aumento da idade a capacidade física tende a diminuir, enquanto aspecto que faz parte do

desenvolvimento do ser humano e que poderia ser uma causa apresentada pelos participantes,

contudo não foi isso o que aconteceu, tendo a idade sido só referenciada por um único

participante. O facto de existir outras patologias para além do cancro poderiam explicar o seu

contributo para a incapacidade, mas à semelhança do factor idade, isso também não se verificou

significativo. O que pode levar a pensar que existe uma centralidade na doença e problemas

associados enquanto causa da incapacidade, podendo o doente oncológico não considerar outras

causas. Isto é, o impacto da doença oncológica na incapacidade sobrepõe-se a outras causas de

incapacidade que poderiam ser consideradas pelo doente oncológico, e como tal, seria

interessante averiguar o porquê isto acontecer.

66

Questão 8: Quais as consequências da incapacidade física nos doentes oncológicos?

As consequências da incapacidade física estão definidas por 12 temas contudo os temas

Interferência ou restrição na realização de actividades de vida diária, Dependência de terceiros

na realização de actividades, Interferência ou restrição na realização de actividades de

recreação e lazer, Interferência na mobilidade, são as consequências mais significativas neste

estudo. Isto pode significar que estes participantes se centram na dificuldade de realização ao

nível de actividades de vida diária e de recreação e lazer bem como a ao nível da própria

mobilidade, sendo que agora se encontram privados de as realizar tendo para isso que recorrer à

ajuda de terceiros, facto esse significativo neste estudo e que tem especial impacto ao nível

emocional tal como referenciou Rowland (1989) no seu Modelo de Desenvolvimento do doente

oncológico adulto.

Questão 9: Quais os Sentimentos/Emoções associados à vivência da incapacidade e da

funcionalidade nos doentes oncológicos?

A alteração da capacidade física e a redução de mobilidade no doente oncológico, leva-o

a isolar-se mais dos outros que lhes são mais próximos e da própria sociedade e a experimentar

sentimentos de inutilidade. Por esse motivo é importante estudar o impacto que a incapacidade e

a funcionalidade apresenta a nível emocional. Neste estudo Sentimentos e emoções negativos

encontram-se presentes na Vivência da incapacidade (contudo não foram discriminados que

sentimentos e que emoções negativos foram esses, facto esse que poderia ter sido analisado), e

na Vivência da Funcionalidade, apesar de a categoria Sentimentos e emoções na funcionalidade

se verificar em 80% na amostra, os temas encontradas não se encontram em pelo menos 50% dos

participantes. No entanto os temas encontrados foram: Sentimentos e emoções positivos (estes

também não foram distinguidos), Satisfação/Prazer na realização de AVD, Satisfação na

realização de actividades de recreação e lazer e Insatisfação/Desprazer na realização de

actividades. Com estes resultados concluiu-se que a incapacidade é vivida com emocionalidade

negativa e a funcionalidade com emocionalidade positiva, contudo, um dos participantes na

amostra referiu sentimentos negativos na realização de actividades. O que pode levar-nos a

pensar que a maioria das doentes oncológicos revela força anímica por relatar experiências

emocionais positivas quando realizam tarefas mesmo que apresentem emocionalidade negativa

na vivência da incapacidade. Contudo, não se deve esquecer de que podem haver doentes que

não conseguem arranjar essa satisfação na realização de tarefas menores, quando comparadas

com o nível de realização anterior à doença.

67

Questão 10: Quais as estratégias de confronto e de adaptação utilizados pelos doentes

oncológicos na vivência da incapacidade física?

Em termos de confronto os participantes deste estudo utilizam maioritariamente

Confronto adaptativo com a incapacidade, estando este representado de forma significativa pelos

seguintes temas: Confronto activo, Percepção realista das limitações. Em relação ao Confronto

Inadaptativo que apesar de ter estar presente em 73,33% dos participantes, os seus temas não são

significativos. Relativamente às Estratégias de adaptação, estas encontraram-se em todos os

participantes, contudo os seus temas não se manifestaram significativos, pelo que deles não se

poderão extrair conclusões de acordo com o critério dos 50%. Assim conclui-se que os

participantes deste estudo de uma forma ou de outra procuram vencer a incapacidade física

revelando estratégias de confronto e adaptação à incapacidade física.

68

L IMITAÇÕES DO ESTUDO

Como limitações do estudo aponto a dimensão reduzida da amostra (n=26) e a sua

heterogeneidade, assim, a amostra não poderá ser considerada representativa deste tipo de

população e como tal, das conclusões não se poderá fazer generalizações a partir dos

procedimentos estatísticos utilizados. Assim, muitas variáveis acabam por não ser significativas

para o estudo. Bem como o facto de neste estudo haver uma “sub-amostra” (participantes que

realizaram a entrevista). Pelo que teria sido ideal aplicar a entrevista a todos os participantes que

responderam aos questionários.

Uma outra limitação está associada à utilização do questionário FLI-C que não está

traduzido nem aferido pata a população portuguesa e como tal não está adaptado a esta mesma

população. Este foi traduzido especificamente para este estudo, não tendo também sido sujeito a

retradução. Outra limitação sentida na aplicação deste instrumento, foi o facto de as respostas

aos itens se apresentarem numa Escala Visual Analógica de 7 pontos, pelo que se poderia ter

complementado com uma escala de Likert que poderia facilitar as respostas dos participantes. O

FLI-C é um instrumento antigo tendo caído em desuso. Como tal, os resultados deste

questionário têm de ser cuidadosamente analisados à luz desta limitação.

O facto de não se ter utilizado um instrumento que avaliasse única e exclusivamente a

incapacidade física, é uma limitação, pois o que se fez neste estudo foi adaptar algumas

dimensões dos questionários (FACT-G e SF-36) ao conceito de incapacidade física utilizando

essas dimensões como a expressão da incapacidade física.

Outra limitação que poderá ser apontada tem a ver com o facto de os questionários SF-36

e FLI-C não terem sido aplicados ao mesmo tempo que o FACT-G, ou seja, houve um intervalo

de tempo entre as aplicações, intervalo esse que não fazia parte do procedimento inicial deste

estudo. Assim, a avaliação da QDVRS por parte dos participantes pode ter sido influenciada pelo

desfasamento temporal ocorrido na aplicação dos diferentes questionários, ou seja, podem ter

ocorrido, entre as respostas aos questionários, acontecimentos ou situações que levassem o

respondente a percepcionar a sua QDVRS de forma diferente em momentos diferentes.

A realização das entrevistas apresentou algumas limitações, pois nem sempre era possível

encontrar uma sala disponível tendo muitas vezes sido realizadas nos quartos, ou em locais onde

fosse preferível para o participante. A conciliação da marcação de entrevistas com os

participantes nem sempre foi fácil, pois muitas vezes o participante marcava a hora, e depois

faltava devido à sua condições física nesse mesmo dia, tendo a entrevista de ser remarcada. Bem

como por vezes o participante estava em fase de tratamentos e só conseguia ir a entrevista depois

do tratamento ou depois de ter ido a todas as consultas estando cansado e com necessidade de ir

69

para casa descansar. Assim, as entrevistas, apesar de terem sido muito interessantes e de delas se

ter extraído bons temas, o tempo de realização da entrevista em cada participante foi curto pelo

que os temas poderiam ter sido mais aprofundados.

IMPLICAÇÕES CLÍNICAS

À luz dos resultados obtidos, e de acordo com a revisão de literatura, tendo em mente que

os doentes oncológicos apresentam uma redução progressiva das actividades, seja por imposição

dos técnicos de saúde seja por decisão do próprio doente, devido à fixação nas sensações e

sintomas físicos desagradáveis, é natural que este tipo de população experimente sentimentos e

emoções negativas decorrentes da redução da actividade e consequente perda de autonomia. O

planeamento de actividades que se pode desenvolver com o doente pode ajudá-lo a quebrar este

ciclo, contudo não se deve esquecer que estes doentes apresentam baixos niveis de motivação e

como tal, esse tipo de actividade tem de ser adaptado às caracteristicas individuais de cada um.

Convêm também não esquecer a importância de uma reabilitação física e psicológica

personalizada de forma a atender às necessidades e idiossincrasias de cada doente, enquandrando

sempre a intervenção na promoção da QDVRS. Tão importante quanto apoiar o doente

individualmente é acompanhar as famílias e cuidadores dos doentes oncológicos, visto que estes

acabam por ser fundamentais na adptação do doente à doença e suas limitações.

SUGESTÕES FUTURAS

Como sugestão para futuras investigações penso ser interessante seguir as sugestões

propostas pelo Modelo Desenvolvimentista de Joyce-Moniz e Barros (2005) aplicadas à temática

da incapacidade física nos doentes oncológicos. Naturalmente, se se seguir este caminho, as

entrevistas terão de ser mais aprofundadas pelo que se terá de contemplar questões dirigidas às

preocupações levantadas nesse Modelo.

Considera-se também necessário realizar mais estudos no âmbito do tema deste trabalho.

Inicialmente para este estudo considerou-se a possibilidade de se efectuar um cruzamento

dos temas básicos encontrados através das entrevistas realizadas com os resultados obtidos

através dos questionários e escalas utilizados. No entanto, a grande extensão da análise dos

resultados obtidos necessária para realizar tal procedimento, ultrapassaria os limites físicos

recomendados para a realização desta dissertação. Contudo, essa analise é possível ganhando

tanto maior relevância quanto maior for a amostra de participantes a considerar.

70

CONCLUSÕES FINAIS

A QDVRS tem sido amplamente estudada nos doentes oncológicos, concluindo-se de

estudos feitos nesse sentido, que os doentes oncológicos apresentam níveis baixos de QDVRS.

Neste estudo verificou-se uma reduzida QDVRS nas várias dimensões avaliadas pelo SF-36, no

entanto a QDVRS nos participantes deste estudo apresenta-se favorável quando avaliada através

do FACT-G e do FLI-C. Pelo que se pode concluir que esses resultados podem ter a ver com a

natureza dos próprios instrumentos, se por um lado o SF-36 é uma medida geral da QDVRS que

se pode aplicar tanto a indivíduos saudáveis como a indivíduos com uma doença, por outro o

FACT-G e o FLI-C são medidas especificas no cancro. Assim, o SF-36 pode ser mais sensível

quando aplicado a pessoas com uma doença, especialmente uma doença como o cancro. Os

resultados do FACT-G, por outro lado podem estar enviesados, pois este questionário foi

aplicado em contexto da primeira entrevista e como tal sofreram alguma influência do

investigador e em relação ao FLI-C, os resultados favoráveis a este questionário podem ser

explicados pelo facto de deste ter sido construído para ser aplicado em doentes que estão a

receber tratamentos (p.e quimioterapia), e no momento em que os participantes do estudo

responderam ao questionário poderiam não estar sob a influencia dos efeitos desse tipo de

tratamentos, contudo, este questionário não está adaptado nem aferido para a população

portuguesa e foi especialmente traduzido para este estudo. Assim pode-se concluir daqui, que a

QDVRS não é uma medida estável, pois para alem do que foi dito, houve um intervalo de tempo

entre a aplicação do FACT-G e os outros questionários, tendo-se verificado que os resultados

foram divergentes.

A instabilidade da QDVRS é um facto a ter em conta, assim como os vários factores que

a influenciam. Como tal, a sua avaliação torna-se importante de forma a discriminar quais os

factores que podem contribuir para uma fraca QDVRS e quais os que podem promover uma boa

QDVRS. Assim, neste estudo avaliou-se a forma como alguns factores sócio-demográficos

podem estar implicados na QDVRS. Concluiu-se deste estudo que os participantes do meio

suburbano apresentam um melhor ajustamento emocional (medido pelo FACT-G, na dimensão

Bem-Estar Emocional) comparativamente com participantes do meio urbano. Concluiu-se

também que os participantes de baixa médica apresentam melhores resultados ao nível do

Funcionamento Emocional e da Dor Corporal, dimensões do SF-36, bem como ao nível do

questionário FLI-C. Pode-se também concluir que os participantes que vivem sem os filhos

apresentam um bom funcionamento físico e um bom desempenho físico (medidos pelo SF-36)

bem como, resultados favoráveis ao nível do FLI-C em comparação com os participantes que

vivem com os filhos.

71

Um aspecto a ter em conta na avaliação da QDVRS é o conceito de Distresse e a sua

avaliação. O Distresse nos doentes oncológicos é deveras importante pois vários estudos revelam

que os doentes oncológicos apresentam elevados níveis de distresse, pelo que os factores que

influenciam o distresse têm de ser tidos em consideração. Neste sentido, o Distresse pode

contribuir para uma baixa QDVRS e pode estar associado a uma baixa capacidade física, como

revelado por estudos feitos nesse sentido. Neste estudo, os doentes oncológicos apresentam no

geral altos níveis de Distresse, verificando-se que estes níveis estão associados a baixos níveis de

QDVRS nas dimensões Bem-Estar Físico e Bem-Estar Emocional do FACT-G e a baixos níveis

de Desempenho Físico e Saúde Mental do SF-36, concluindo-se assim que o Distresse pode

influenciar a QDVRS especialmente nas dimensões implicadas na capacidade da pessoa para

realização de tarefas e actividades, ou seja, o distresse elevado pode ser provocado por

dificuldades em realizar actividades de vida diária.

Segundo a CIF, por um lado, pode-se definir o termo Funcionalidade como as funções do

corpo, a execução de tarefas ou acções, ou a participação em actividades de forma positiva, e

pelo contrário a Incapacidade, devido a deficiências corporais, limitações na realização de

actividades ou restrição total na realização de actividades. No contexto da doença oncológica,

pode-se definir incapacidade como uma dificuldade em realizar actividades de vida diária devido

ao impacto dos efeitos secundários dos tratamentos e também devido a sintomas físicos

negativos tais como a náusea, a dor e a fadiga. Contudo, poucos estudos têm sido feitos para

avaliar a incapacidade física nos doentes oncológicos cujo objectivo principal é desenvolver

intervenções que promovam a capacidade física nos doentes oncológicos ao nível da realização

de actividades de recreação e lazer, ou ao nível da realização de actividades de vida diária.

Alguns factores podem estar implicados na Capacidade física, nomeadamente factores sócio-

demográficos. Neste estudo, concluiu-se que os participantes de baixa médica apresentam níveis

de capacidade física superiores aos participantes que se encontram na reforma. Tendo-se também

concluído que os participantes que vivem sem os filhos apresentam níveis superiores de

capacidade física comparativamente aos que vivem com os filhos, tais como os participantes que

vivem com o companheiro que apresentam níveis de Capacidade física superiores aos que vivem

sozinhos.

Alguns estudos têm sido realizados de forma a averiguar o impacto da incapacidade física

na QDVRS, dos quais se conclui que uma capacidade física diminuída se verifica em baixos

níveis de QDVRS nos doentes oncológicos. Neste estudo verificou-se que uma capacidade física

elevada corresponde a uma QDVRS também elevada quando medida através do SF-36 e do FLI-

C. Contudo, quando se correlacionou os resultados obtidos pelo FACT-G com os obtidos pelo

SF-36, verificou-se que elevados níveis de QDVRS medidos pelo FACT-G não correspondem a

72

elevados níveis de QDVRS nas dimensões Funcionamento Físico, Desempenho Físico e

Vitalidade do SF-36, que expressam a variável Capacidade física. Pelo que se conclui que nem

sempre baixos níveis de capacidade física estão implicados em baixos níveis de QDVRS.

A área mais importante deste estudo foi a Vivência da Incapacidade, visto que era

objectivo máximo deste estudo explorar esta variável. A Categoria mais saliente foi

Consequências da incapacidade e a Sub-Categoria foi Consequências negativas da

incapacidade, pelo que se pode considerar que os participantes deste estudo estão centrados nos

aspectos negativos decorrentes da doença oncológica, no entanto, revelam possuir boas

estratégias para fazer face à incapacidade, ou seja, por um lado tendem a conseguir manter niveis

de realização (ora de actividades de vida diária ora de recreação e lazer) apesar de todos os

obstáculos e dificuldades, por outro tendem a utilizar recursos cognitivos de forma a racionalizar

a perda de incapacidade associada ao cancro (Confronto activo e Percepção realista das

limitações). O tema básico mais importante foi Descrição de sintomas físicos incapacitantes em

que 93,33% dos 15 participantes entrevistados neste estudo, descreveram a existência de

sintomas físicos incapacitantes. E como tal, esta particularidade merece destaque quando se

estuda a Incapacidade física na doença oncológica. Pois estes sintomas revelam ser um obstáculo

quando se pretende planear intervenções que visem promover a Capacidade física dos doentes

oncológicos tendo em vista uma melhoria da QDVRS. Quando questionados relativamente às

causas da incapacidade, os participantes deste estudo mencionaram que a própria doença bem

como problemas a ela associados são a principal causa da incapacidade. Quanto às

consequências da incapacidade, estes participantes referiram temas que apelam para a

dificuldade de realização de actividades sejam de vida diária sejam de recreação e lazer, o que

leva a que estes participantes refiram estar dependentes de terceiros na realização de algumas das

suas actividades. Quando questionados relativamente aos sentimentos e emoções que decorrem

da incapacidade e os sentimentos e emoções que decorrem da funcionalidade, estes participantes

revelam ter sentimentos e emoções negativos e positivos, respectivamente.

Perante estas conclusões, pode-se afirmar que avaliar a incapacidade física e a QDVRS

são duas tarefas fundamentais para se definir e planear intervenções com os doentes oncológicos.

Contudo mais estudos necessitam ser feitos de forma a avaliar a eficácia de programas que visem

a reabilitação física e psicológica dos doentes oncológicos e desta forma melhorar a QDVRS.

73

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Novembro de 2007.

80

ÍNDICE DE ANEXOS

ANEXO I. Pedido de autorização para realização do estudo no IPOLFG……………... 83

ANEXO II. Aprovação da realização do estudo pela comissão de ética do IPOLFG…... 86

ANEXO IV. Questionário FACT-G, v. 4……………………………………………….... 88

ANEXO IVa Conversão dos resultados do FACT-G, v. 4 em percentagem………….….. 91

ANEXO V. Questionário SF-36, v. 2…………………………………………………..... 93

ANEXO Va. Significado e Interpretação dos resultados do SF-36, v. 2……………….… 98

ANEXO Vb. Regras de Cotação do SF-36, v. 2………………………………………..…. 101

ANEXO VI. Questionário FLI-C……………………………………………………….... 103

ANEXO VII. Termómetro do Distresse………………………………………….……….. 106

ANEXO XIII. Guião da Entrevista Semi-Estruturada……………………………………... 108

81

ANEXOS

82

ANEXO I PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DO ESTUDO NO IPOLFG

83

Lisboa, 7 de Março de 2008

Exmo. Sr. Presidente do Conselho Administrativo,

Dr. Ricardo Jorge Martins da Luz

Pretendo através desta carta requerer permissão para a realização da minha investigação, no

âmbito do Mestrado Integrado em Psicologia, no Instituto Português de Oncologia de Lisboa

Francisco Gentil.

Começo assim por me apresentar para depois descrever o conteúdo do estudo em causa.

Chamo-me Susana Pedro Louro e frequento o 5º ano do Mestrado Integrado de Psicologia, mais

especificamente no Núcleo de Psicologia da Saúde e da Doença, na Faculdade de Psicologia e de

Ciências da Educação da Universidade de Lisboa. No corrente ano lectivo, 2007/2008, encontro-me a

realizar o estágio curricular no Serviço de Psicologia na Clínica da Dor do IPOLFG, sendo o meu

supervisor na Faculdade o Professor Doutor Fernando Fradique e no IPOLFG a Dra. Maria do

Rosário Bacalhau. É prática corrente do referido Núcleo de Psicologia da Saúde e da Doença fazer

coincidir o local onde decorre o trabalho de investigação conducente à Dissertação de Mestrado com

aquele onde se realiza o estágio curricular.

Desta forma, penso que seria pertinente desenvolver a minha investigação nesta instituição,

tendo como objectivo geral explorar a Vivência da Incapacidade Física e a Qualidade de Vida nos

Doentes Oncológicos. Uma vez que a qualidade de vida se refere a várias áreas da vida da pessoa,

decidi explorar especificamente o funcionamento físico destes doentes, pois o cancro, devido não só

ao tratamento como também a outros sintomas associados, tais como: a fadiga e a dor, conduz a

limitações físicas que incapacitam as pessoas de realizar as tarefas diárias a nível do seu quotidiano

pessoal, bem como a nível do meio laboral.

De forma a clarificar e a justificar a realização deste estudo, envio uma breve fundamentação

teórica (Anexo I), o plano metodológico (Anexo II), e o protocolo de consentimento informado

(Anexo III) .

Agradecendo, desde já, a atenção dispensada

Com os melhores cumprimentos

Susana Pedro Louro

Parecer do Orientador da Dissertação

Concordo com os propósitos da mestranda Susana Pedro Louro e com o plano metodológico

proposto.

Fernando Fradique (Prof. Associado, FPCE-UL)

84

85

ANEXO II APROVAÇÃO DA REALIZAÇÃO DO ESTUDO PELA COMISSÃO DE É TICA DO

IPOLFG

86

87

ANEXO IV QUESTIONÁRIO FACT-G, V.4

88

89

90

ANEXO IVa CONVERSÃO DOS RESULTADOS DO FACT-G, V. 4 EM PERCENTAGEM

91

RESULTADOS PADRONIZADOS DO FACT-G (VERSÃO 4)

92

ANEXO V QUESTIONÁRIO SF-36, V. 2

93

QUESTIONÁRIO DE ESTADO DE SAÚDE (SF-36v2)

INSTRUÇÕES: As questões que se seguem pedem-lhe opinião sobre a sua saúde, a forma como se

sente e sobre a sua capacidade de desempenhar as actividades habituais.

Pedimos que leia com atenção cada pergunta e que responda o mais honestamente possível. Se não

tiver a certeza sobre a resposta a dar, dê-nos a que achar mais apropriada e, se quiser, escreva um

comentário a seguir à pergunta.

Para as perguntas 1 e 2, por favor coloque um círculo no número que melhor d escreve a sua saúde.

Copyright © 1992. New England Medicai Center Hospitais, fac Al! righls laserved. Copyright © 1997. Versão Portuguesa 2 Centro de Estudos e Investigação em Saúde. Todos os direitos reservados.

1. Em geral, diria que a sua saúde é:

Óptima Muito boa Boa Razoável Fraca

1 2 3 4 5

2. Comparando com o que acontecia há um ano, como d escreve o seu estado geral actual:

Muito Com algumas Aproximadamente Um pouco Muito

melhor melhoras igu al pior pior

1 2 3 4 5

3. As perguntas que se seguem são sobre actividades que executa no seu dia-a-dia.

Será que a sua saúde o/a limita nestas actividades? Se sim, quanto?

(Por favor assinale com um círculo um número em cada linha)

Sim, Sim, um Não,

muito pouco nad a

limitado/a limitado/a limitado/ a

a. Actividades violentas , tais como correr, levantar

pesos, participar em desportos extenuantes … 1 2 3

b. Actividades moderadas , tais como deslocar

uma mesa ou aspirar a casa…………………............. 1 2 3

c. Levantar ou pegar nas compras de mercearia.... 1 2 3

d. Subir vários lanços de escada .............................. 1 2 3

e. Subir um lanço de escadas ................................... 1 2 3

f. Inclinar-se, ajoelhar-se ou baixar-se ........................ 1 2 3

g. Andar mais de 1 km .............................................. 1 2 3

h. Andar várias centenas de metros .......................... 1 2 3

i. Andar uma centena de metros ................................ 1 2 3

j. Tomar banho ou vestir-se sozinho/a........................ 1 2 3

94

Para cada uma das perguntas 6,7 e 8, por favor ponh a um círculo no número que melhor descreve a sua sa úde.

4. Durante as últimas 4 semanas teve, no seu trabal ho ou actividades diárias, algum dos

problemas apresentados a seguir como consequência d o seu estado de saúde físico?

Quanto tempo. Sempre A maior Algum Pou co Nunca

nas últimas quatro semanas … parte do tempo tempo

tempo

a. Diminuiu o tempo gasto a trabalhar

ou noutras actividades………………………. 1 2 3 4 5

b. Fez menos do que queria? ………………… 1 2 3 4 5

c. Sentiu-se limitado/a no tipo de trabalho

ou outras actividades…………………………. 1 2 3 4 5

d. Teve dificuldade em executar o seu trabalho

ou outras actividades (por exemplo, foi

preciso mais esforço)…………………………. 1 2 3 4 5

5. Durante as últimas 4 semanas, teve com o seu tra balho ou com as suas actividades

diárias, algum dos problemas apresentados a seguir devido a quaisquer problemas

emocionais (tal como sentir-se deprimido/a ou ansio so/a)?

Quanto tempo, Sempre A maior Algum Pouco Nunca

nas últimas quatro semanas … parte do te mpo tempo

tempo

a. Diminuiu o tempo gasto a trabalhar

ou noutras actividades………………………. 1 2 3 4 5

b. Fez menos do que queria? ……………… 1 2 3 4 5

c. Executou o seu trabalho ou outras actividades

menos cuidadosamente do que era costume. …....1 2 3 4 5

6. Durante as últimas 4 semanas, em que medida é qu e a sua saúde física ou problemas

emocionais interferiram no seu relacionamento socia l normal com a família, amigos, vizinhos

ou outras pessoas?

Absolutamente nada Pouco Mode radamente Bastante Imenso

1 2 3 4 5

95

7. Durante as últimas 4 semanas teve dores?

Nenhumas Muito fracas Ligeiras Moderadas Fortes Muito fortes

1 2 3 4 5 6

8. Durante as últimas 4 semanas, de que forma é que a dor interferiu com o seu

trabalho normal (tanto o trabalho fora de casa como o trabalho doméstico)?

Absolutamente nada Pouco Moderad amente Bastante Imenso

1 2 3 4 5

9. As perguntas que se seguem pretendem avaliar a f orma como se sentiu e como

lhe correram as coisas nas últimas quatro semanas.

Para cada pergunta, coloque por favor um círculo à volta do número que melhor

descreve a forma como se sentiu.

Certifique-se que coloca um círculo em cada linha.

Quanto tempo, Sempre A maior Algum Pouco Nun ca

nas últimas quatro semanas … parte do tempo tempo

tempo

a. Se sentiu cheio/a de vitalidade?............. 1 2 3 4 5

b. Se sentiu muito nervoso/a? ................... 1 2 3 4 5

c. Se sentiu tão deprimido/a

que nada o/a animava? ......................... 1 2 3 4 5

d. Se sentiu calmo/a e tranquilo/a?............ 1 2 3 4 5

e. Se sentiu com muita energia? ............... 1 2 3 4 5

f. Se sentiu deprimido/a? ........................... 1 2 3 4 5

g. Se sentiu estafado/a?.............................. 1 2 3 4 5

h. Se sentiu feliz?......................................... 1 2 3 4 5

L Se sentiu cansado/a? ............................. 1 2 3 4 5

96

MUITO OBRIGADO!

10. Durante as últimas quatro semanas, até que pont o é que a sua saúde física ou

problemas emocionais limitaram a sua actividade soc ial (tal como visitar amigos ou

familiares próximos)?

Sempre A maior parte Algum Pouco Nunca

do tempo tempo tempo

1 2 3 4 5

11. Por favor, diga em que medida são verdadeiras o u falsas as seguintes

afirmações. Ponha um círculo para cada linha.

Absolutamente Verdade Não Falso Absolut amente

verdade sei falso

a. Parece que adoeço mais facilmente

do que os outros ........................................ 1 2 3 4 5

b. Sou tão saudável como qualquer

outra pessoa ............................................. 1 2 3 4 5

c. Estou convencido/a que a minha saúde

vai piorar..................................................... 1 2 3 4 5

d. A minha saúde é óptima.................. 1 2 3 4 5

Data: ___________________ Código:_________________

97

ANEXO Va SIGNIFICADO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DO SF-36, V. 2

98

SIGNIFICADO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DO SF-36, V. 2

Funcionamento Físico (10 itens): Pretende medir desde a limitação para executar actividades físicas

menores, como tomar banho ou vestir-se, até às actividades mais exigentes, passando por actividades

intermédias como levantar ou carregar as compras da mercearia, subir lanços de escadas ou andar

uma determinada distancia (Ferreira, 1998). Valores baixos nesta dimensão indicam que a pessoa se

encontra muito limitada na realização de todas as actividades físicas, incluindo tomar banho ou

vestir-se por razões de saúde, e valores elevados significam que a pessoa realiza todos os tipos de

actividade física, incluindo as mais exigentes, sem limitações por motivos de Saúde (Ware et

al.,1993; citado por Pais - Ribeiro, 2005, pag. 85);

Desempenho Físico (4 itens): mede a limitação em saúde devido a problemas físicos, ao tipo e à

quantidade do trabalho realizado. Inclui a limitação no tipo usual de tarefas executadas, a necessidade

de redução da quantidade de trabalho e a dificuldade de realizar as tarefas (Ferreira, 1998; Ferreira e

Santana, 2003; citado por Mendonça, 2007). Valores baixos nesta dimensão indicam problemas com

o trabalho ou outras actividades diárias em consequência da Saúde física e valores elevados indicam

que a pessoa não tem problemas na realização do trabalho ou de outras actividades diárias em

consequência da Saúde física (Ware et al.,1993; citado por Pais - Ribeiro, 2005, pag. 85);

Dor Corporal (2 itens): representa não só a intensidade e o desconforto causados pela dor mas

também a extensão da forma como interfere nas actividades usuais (Ferreira, 1998). Valores baixos

indicam dor muito intensa e extremamente limitativa, valores elevados indicam que a pessoa não

apresenta dor ou limitação devido à dor (Ware et al.,1993; citado por Pais - Ribeiro, 2005, pag. 85);

Desempenho Emocional (3 itens): mede a limitação em saúde devido a problemas emocionais, ao

tipo e à quantidade do trabalho executado. Inclui a limitação no tipo usual de tarefas executadas, a

necessidade de redução da quantidade de trabalho e a dificuldade de realizar as tarefas (Ferreira,

1998; Ferreira e Santana, 2003; citado por Mendonça, 2007). Valores baixos na subescala indicam

que a pessoa apresenta dificuldades com o trabalho ou outras actividades diárias como resultado de

problemas emocionais, valores elevados nesta subescala indicam que a pessoa não tem dificuldades

com o trabalho ou outras actividades diárias devido a problemas emocionais (Ware et al.,1993;

citado por Pais - Ribeiro, 2005, pag. 85);

Saúde Geral (5 itens): pretende medir o conceito de percepção geral da saúde, incluindo não só a

saúde actual mas também a resistência à doença e a aparência saudável, tornando-se assim, menos

99

redundante aos olhos dos responsáveis, relativamente às restantes perguntas (Ferreira, 1998). valores

baixos indicam que a pessoa avalia a sua Saúde como má e acredita que ela provavelmente vai piorar,

valores elevados indicam que a pessoa avalia a sua Saúde como excelente (Ware et al.,1993; citado

por Pais - Ribeiro, 2005, pag. 85);

Vitalidade (4 itens): inclui os níveis de energia e de fadiga. Esta escala permite captar melhor as

diferenças de bem-estar (Ware, 1993, citado por Ferreira, 1998). valores baixos significam que a

pessoa se sente cansada e exausta a maior parte do tempo e valores elevados indicam que a pessoa se

sente animada e cheia de energia (Ware et al.,1993; citado por Pais - Ribeiro, 2005, pag. 85);

Funcionamento Social (2 itens): pretende captar a quantidade e a qualidade das actividades sociais,

assim como o impacto dos problemas físicos e emocionais nas actividades sociais do respondente

(Ferreira, 1998). quando apresenta valores baixos indica que os problemas emocionais e físicos

interferem de uma forma extrema e frequente com as actividades sociais normais, valores elevados

indicam que a pessoa realiza as actividades sociais normais sem que problemas físicos ou emocionais

interfiram (Ware et al.,1993; citado por Pais - Ribeiro, 2005, pag. 85);

Saúde Mental (5 itens): inclui questões referentes a quatro das mais importantes dimensões da saúde

mental, nomeadamente a ansiedade, a depressão, a perda de controlo em termos comportamentais ou

emocionais e o bem-estar psicológico (Ferreira, 1998). Valores baixos indicam que a pessoa se

encontra sempre nervosa e deprimida, valores elevados indicam que a pessoa se sente em paz, feliz e

em calma (Ware et al.,1993; citado por Pais - Ribeiro, 2005, pag. 85).

100

ANEXO Vb REGRAS DE COTAÇÃO DO SF-36, V. 2

101

REGRAS DE COTAÇÃO DO SF-36: A cotação dos itens e das escalas implica:

a) A recodificação dos itens 1, 6, 7, 8, 9ª, 9e, 9h, 11b e 11d b) O cálculo das notas das escalas somando os itens que pertencem à mesma escala (notas brutas

das escalas); e c) A transformação das notas brutas numa escala de 0 - 100.

Tabela de cotação do SF-36

Recodificação

Inversão directa da cotação dos itens, excepto itens 1 (2 = 4; 3 = 3,4) e 7 (2

= 5,4; 3 = 4,2; 4 = 3,1; 5 = 2,2) Dimensão

Itens constituintes de cada

dimensão Valor mais baixo e

mais elevado possível Variação

Funcionamento Físico

3ª + 3b + 3c + 3d + 3e + 3f + 3g + 3h + 3i + 3j

10 - 30 20

Desempenho Físico

4a + 4b + 4c + 4d 4 - 20 16

Dor Corporal

7 + 8 2 - 12 10

Saúde Geral

1 + 11a + 11b + 11c + 11d 5 - 25 20

Vitalidade

9a + 9e + 9g + 9i 4 - 20 16

Funcionamento Social

6 + 10 2 - 10 8

Desempenho Emocional

5a + 5b + 5c 3 - 15 12

Saúde Mental

9b + 9c + 9d + 9f + 9h 5 - 25 20

Algoritmo para a conversão das notas

brutas

Nota bruta da dimensão - valor mais baixo possível da dimensão x 100 Variação

102

ANEXO VI QUESTIONÁRIO FLI-C

103

Functional Living Index – Cancer (FLI - C) (Schipper, Clinch, McMurray, Levitt, 1984)

Instruções: Numa escala de 1 a 7, indique a sua resposta com um “X”. 1. Muitas pessoas às vezes sentem depressão. Indiqu e quando sente esta emoção. 1 2 3 4 5 6 7 Nunca Constantemente 2. Está adaptado (a) ao seu stress diário? 1 2 3 4 5 6 7 Não muito bem Muito bem 3. Pensa na sua doença?

1 2 3 4 5 6 7 Constantemente Nunca 4. Indique a sua capacidade em manter as suas activ idades de recreação ou lazer.

1 2 3 4 5 6 7 Capaz Incapaz 5. As náuseas afectam o seu funcionamento diário?

1 2 3 4 5 6 7 Nem um pouco Muito 6. Como se sente hoje?

1 2 3 4 5 6 7 Extremamente Extremamente mal bem 7. Hoje sente-se capaz o suficiente para confeccion ar refeições ou pequenas arrumações na sua casa?

1 2 3 4 5 6 7 Muito capaz Nada capaz 8. Nas últimas duas semanas, quanto é que a sua doe nça impôs dificuldades àqueles que estão mais perto de si?

1 2 3 4 5 6 7 Nenhumas Muitas dificuldades dificuldades 9. Sente-se desencorajado (a) acerca da sua vida?

1 2 3 4 5 6 7 Sempre Nunca 10. Indique o seu grau de satisfação com o seu trab alho ou as tarefas em sua casa durante o último mês .

1 2 3 4 5 6 7 Muito Muito insatisfeito satisfeito 11. Hoje sente-se desconfortável?

1 2 3 4 5 6 7 Nem por isso Muito desconfortável

104

12. Nas últimas duas semanas a sua doença tem sido perturbadora para aqueles que lhe são mais próximos ?

1 2 3 4 5 6 7 Totalmente Nada perturbadora perturbadora 13. A dor ou o desconforto têm interferido nas suas actividades diárias? 1 2 3 4 5 6 7 Nem um pouco Muito 14. Nas duas últimas semanas, a sua doença impôs-lh e dificuldades?

1 2 3 4 5 6 7 Muitas Nenhumas dificuldades dificuldades 15. Quantas das suas tarefas domésticas é capaz de realizar?

1 2 3 4 5 6 7 Todas Nenhumas 16. Nas últimas duas semanas, esteve disposto (a) a passar algum tempo com aqueles que lhe são mais próximo?

1 2 3 4 5 6 7 Indisposto (a) Muito disposto (a)

17. Nas duas últimas duas semanas, tem sentido náus eas?

1 2 3 4 5 6 7 Nem por isso Muitas 18. Costuma estar assustado (a) em relação ao futur o?

1 2 3 4 5 6 7 Constantemente Nada assustado (a) assustado (a) 19. Nas últimas duas semanas, esteve disposto (a) a passar algum tempo com os seus amigos?

1 2 3 4 5 6 7 Indisposto (a) Muito

disposto (a) 20. Nas duas últimas semanas, quanta dor ou quanto desconforto está relacionado com a sua doença?

1 2 3 4 5 6 7 Nenhum Muito 21. Em que medida tem confiança no tratamento?

1 2 3 4 5 6 7 Nenhuma Muita confiança confiança 22. Como acha que está hoje a sua aparência?

1 2 3 4 5 6 7 Extremamente Extremamente mal bem

Data: ___________________ Código:_________________

105

ANEXO VII TERMÓMETRO DO DISTRESSE

106

TERMÓMETRO DO DISTRESSE

107

ANEXO XIII

GUIÃO DA ENTREVISTA SEMI -ESTRUTURADA

108

GUIÃO DA ENTREVISTA SEMI -ESTRUTURADA SOBRE A INCAPACIDADE FÍSICA

Apresenta alguma dificuldade ou incapacidade física? O que pensa? Como se sente?

Quais as causas que atribui à sua dificuldade ou incapacidade física?

Quais as consequências da incapacidade física na sua vida?

O que costuma fazer para contornar as dificuldades ou incapacidades físicas?

Que actividades pode realizar e que exijam um esforço físico moderado? O que pensa Como se sente

Sente-se satisfeito com as actividades que realiza?

Como classifica a sua capacidade física numa escala de 0 a 10?

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

1 - IDENTIFICAÇÃO DA INCAPACIDADE

2- CAUSAS DA INCAPACIDADE

3 - CONSEQUÊNCIAS DA INCAPACIDADE

4 -CONFRONTO COM A INCAPACIDADE

5 - FUNCIONALIDADE POSITIVA

6 - CLASSIFICAÇÃO DA CAPACIDADE FISICA/FUNCIONALIDADE

109

LISTA DE ANEXOS EM CD

ANEXO III. Protocolo de Consentimento Informado

ANEXO VIII. Protocolo de Consentimento Informado para a entrevista

ANEXO IX. Estatísticas Descritivas dos resultados dos questionários e das escalas do

Distresse e da Capacidade Física

Descritivas do FACT-G

Descritivas do SF-36

Descritivas do FLI-C

Descritivas do Termómetro do Distresse e da Capacidade Física

ANEXO X. Estatística Teste t de Student

Teste t de Student em relação ao Meio Ecológico

Teste t de Student em relação à Situação Profissional

Teste t de Student em relação ao Agregado Familiar

ANEXO XI. Estatística Coeficiente de Correlação r de Pearson (Relacionar a

Incapacidade Física com a QDVRS)

Coeficiente de Correlação r de Pearson (Capacidade física e

Questionários)

Coeficiente de Correlação r de Pearson (FLI-C e SF-36)

Coeficiente de Correlação r de Pearson (FACT-G e SF-36)

ANEXO XII. Estatística Coeficiente de Correlação r de Pearson (Relacionar o Distresse

com a QDVRS)

Coeficiente de Correlação r de Pearson (Distresse, FACT-G e SF-36)

ANEXO XIV Transcrição das Entrevistas

ANEXO XV Operacionalização das Temáticas

ANEXO XVI Contagem das Frequências das Temáticas