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Agradecimentos Ao meu Orientador, Professor Doutor Mário Varela Gomes, por toda a ajuda, orientação e paciência que me possibilitaram a execução deste trabalho; À Câmara de Grândola, em especial à Drª Purificação Maria Pinela Pereira, pela disponibilidade, simpatia e ajuda que me possibilitaram o reconhecimento do local e do património arqueológico das redondezas; Ao Senhor António Douradinha, proprietário dos terrenos, pela sua disponibilidade em proporcionar-me, acompanhada pela Sra Dra Purificação Maria Pinela Pereira, a oportunidade de visitar a gruta arqueológica sob estudo, neste trabalho; Ao desenhador, Sr. Bernardo Lam, pela sua simpatia, qualidade profissional e disponibilidade, para complementar o meu trabalho; Ao Museu Geológico e Mineiro, em especial ao Dr. José Moita, pela disponibilidade e ajuda prestadas e que tão importantes foram, para a elaboração deste trabalho; Às minhas colegas pela disponibilidade, boa disposição, paciência e companhia com que me ajudaram nos momentos complicados deste percurso académico; À minha família, pelo seu apoio, paciência, companhia, afecto e carinho que me permitiram continuar em frente, nos momentos de desalento.

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Agradecimentos

Ao meu Orientador, Professor Doutor Mário Varela Gomes, por toda a ajuda,

orientação e paciência que me possibilitaram a execução deste trabalho;

À Câmara de Grândola, em especial à Drª Purificação Maria Pinela Pereira, pela

disponibilidade, simpatia e ajuda que me possibilitaram o reconhecimento do local e

do património arqueológico das redondezas;

Ao Senhor António Douradinha, proprietário dos terrenos, pela sua

disponibilidade em proporcionar-me, acompanhada pela Sra Dra Purificação Maria

Pinela Pereira, a oportunidade de visitar a gruta arqueológica sob estudo, neste

trabalho;

Ao desenhador, Sr. Bernardo Lam, pela sua simpatia, qualidade profissional e

disponibilidade, para complementar o meu trabalho;

Ao Museu Geológico e Mineiro, em especial ao Dr. José Moita, pela

disponibilidade e ajuda prestadas e que tão importantes foram, para a elaboração

deste trabalho;

Às minhas colegas pela disponibilidade, boa disposição, paciência e companhia

com que me ajudaram nos momentos complicados deste percurso académico;

À minha família, pelo seu apoio, paciência, companhia, afecto e carinho que me

permitiram continuar em frente, nos momentos de desalento.

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Índice

RESUMO ............................................................................................................................ 2

ABSTRACT ......................................................................................................................... 2

1 - OBJECTIVOS ................................................................................................................. 4

2 - METODOLOGIA ............................................................................................................ 5

3 - LOCALIZAÇÃO .............................................................................................................. 7

4 - ENQUADRAMENTO AMBIENTAL ................................................................................. 9

5 - A JAZIDA ARQUEOLÓGICA ......................................................................................... 15

5.1 - DESCOBERTA E PRIMEIROS TRABALHOS ......................................................................... 15

5.2 - DESCRIÇÃO ............................................................................................................. 17

5.3 - ESPÓLIO ................................................................................................................. 21

6 - ESTUDOS E RESULTADOS RECENTES ......................................................................... 24

7 - CATÁLOGO DO ESPÓLIO ............................................................................................ 30

7.1 - PEDRA LASCADA ....................................................................................................... 30

7.2 - PEDRA PICOTADA/POLIDA .......................................................................................... 34

7.3 – CERÂMICA ............................................................................................................. 47

7.4 - ARTEFACTOS DE OSSO ............................................................................................... 53

8 – CULTURA MATERIAL E INTEGRAÇÃO CRONOLÓGICO-CULTURAL ............................ 55

9 - INTERPRETAÇÃO FUNCIONAL E SIMBÓLICA .............................................................. 70

9.1 - O ESPAÇO FUNERÁRIO ............................................................................................... 70

9.2 - ASPECTOS RITUAIS .................................................................................................... 73

10 - CONCLUSÃO............................................................................................................. 78

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................. 84

WEBGRAFIA .................................................................................................................... 90

ÍNDICE TOPONÍMICO ...................................................................................................... 92

ÍNDICE ANTROPONÓMICO ............................................................................................. 94

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Resumo

No decorrer de trabalhos de investigação dos Serviços Geológicos de Portugal,

em 1920, foi possível descobrir, na zona de Melides, duas grutas conhecidas por Gruta

da Cerca do Zambujal e Gruta do Lagar.

O presente trabalho reporta-se ao estudo dos dados da cultura material,

provenientes da Gruta da Cerca do Zambujal, enquadrando-os, crono-culturalmente,

no panorama da presença humana na Costa Sudoeste da Península Ibérica.

A Gruta da Cerca do Zambujal parece integrar-se numa tipologia de sítios

culturalmente relacionados com a utilização de cavidades subterrâneas, por

sociedades neolíticas, como locais de inumação.

A presença de cerâmica lisa, a existência de indústria lítica laminar, de sílex, de

utensílios polidos e de material osteológico humano, que permitiu datação de

radiocarbono, tal como vestígios de rituais com ocre, deixam classificar este sítio, no

Neolítico Médio/Final.

A julgar pelo conjunto artefactual recolhido, o grupo humano que utilizou a

gruta mencionada inseria-se, socialmente, nas formas de relacionamento entre o

Homem e o Meio, que caracterizaram as sociedades costeiras do período indicado.

Abstract

During research works carried out by the Geological Services of Portugal in

1920 it was possible to discover two caves known as Cerca do Zambujal Cave and Lagar

Cave.

The present work refers to the study of the material culture data from Cerca do

Zambujal Cave, chronoculturally framed in the panorama of human presence in the

Southwest of the Iberian Peninsula.

The Cerca do Zambujal Cave seems to integrate a typology of sites culturally

related to the usage of underground cavities as inhumation locals by Neolithic

societies.

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The presence of undecorated pottery, the existence of lithic laminar industry in

silex, of polished tools and human osteologic materials, which made possible

radiocarbon dating, as well as ritual traces with ochre, lead this site to be classified in

the Medium/Final Neolithic.

Considering the artifactual set collected, the human group that made use of

the above mentioned cave inserted socially in the forms of relationship between Man

and Environment, which characterized coastal societies in the referred period.

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1 - Objectivos

A presente dissertação foi desenvolvida com o intuito de realizar levantamento

de toda a informação existente sobre o arqueossítio conhecido por Gruta da Cerca do

Zambujal.

Importava conhecer quais os estudos realizados e o espólio encontrado, o seu

enquadramento cronológico e as potencialidades, tendo em conta uma nova

abordagem.

O trabalho que nos propomos desenvolver assentará, primeiramente, no

levantamento de toda a informação existente sobre o sítio arqueológico, nos

resultados dos trabalhos que se realizaram, tentando perceber com que fim foram

desenvolvidos e as conclusões obtidas. Assim, posteriormente poderemos perceber

quais os pontos e aspectos que não foram tratados ou desenvolvidos em trabalhos

anteriores, permitindo-nos tentar colmatar essas lacunas.

Os dados disponíveis e a análise do espólio encontrado, conduzirão a

percepcionar qual a realidade socio-economica e cultural a que correspondem os

testemunhos encontrados.

Tencionamos tentar compreender a gruta, não só simplesmente enquanto local

onde se encontram vestígios arqueológicos da passagem do homem do Neolítico, mas

captar a sua essência simbólica e transcendente, como lugar escolhido para

enterramentos. Ou seja, deseja-se construir e interpretar permitindo-nos perceber,

segundo diferentes pesquisas, a comunidade que utilizou aquele lugar.

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2 - Metodologia

A metodologia, segundo Minaya (1999:80), é um percurso do pensamento e a

prática exercida na abordagem da realidade. Ela ocupa um lugar central, no interior

das teorias, pois, para produzir Ciência, é preciso seguir determinados procedimentos

que nos permitam alcançar o fim que procuramos (Vilelas, 2009:43).

Não é possível obter um conhecimento racional, sistemático e organizado,

actuando de qualquer modo. É necessário seguir um método, um caminho concreto,

que nos aproxime da meta. O método refere-se directamente à lógica interna do

processo de descoberta científica e a ele correspondem, não somente a orientação e a

selecção dos instrumentos e técnicas específicas de cada estudo, mas também o fixar

dos critérios de verificação, ou de demonstração, do que se afirma na investigação. Ele

engloba o estudo dos meios pelos quais se entendem todos os fenómenos e se

ordenam os conhecimentos (Vilelas, 2009:43).

Para a elaboração do presente trabalho, optou-se por se estudar, de forma

sistemática, todo o material disponível no Museu do Instituto Geológico e Mineiro,

procedente da Gruta da Cerca do Zambujal, não se fazendo qualquer selecção, mas

antes organizando-o em grandes categorias: pedra lascada, pedra polida, cerâmica e

osso. Fizemo-lo, acreditando que essa estratégia de organização dos materiais, em

categorias analíticas, seria adequada. A partir delas, poder-se-ia estabelecer relações

de comportamentos, culturais e de longa duração, bem como estudos que

privilegiassem as características sistemáticas e diacrónicas da organização tecnológica

(Lemonnier, 1986:151; 1992:8-9).

Assim, sabendo que, para se fazer uma boa análise, se impõe a necessidade de

recorrer a instrumentos de recolha de informação, suficientemente flexíveis e

aprofundados, e tendo em conta os objectivos da investigação, decidímos recorrer à

análise descritiva dos materiais. Para tal, começou-se por se averiguar em que local

estaria o espólio armazenado, verificando-se que na sua totalidade estava no Museu

Geológico e Mineiro, após o que se fez o necessário requerimento para realizar o seu

estudo

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Finalmente, fez-se a separação do espólio, de acordo com as grandes categorias

anteriormente referidas, para que a sua análise pudesse ser sistemática e registada,

segundo os atributos julgados pertinentes, como: matéria-prima, cor, forma,

dimensões, etc..

Paralelamente ao trabalho de laboratório. procedeu-se à investigação

documental, tendo em vista um melhor conhecimento do possível contexto daquele

conjunto artefactual, nomeadamente em relação à sua integração crono-cultural e

simbólica, bem como em relação ao próprio sítio.

Dado que um dos critérios de analise foi a cor dos artefactos, recorrendo-se à

sua classificação através das Munsell Soil Color Charts (1975). Por esta razão, os índices

cromáticos devem entender-se como aproximados.

Na classificação dos elementos não plásticos (e.n.p.) das cerâmicas, seguiu-se a

escala de Froster, em que a sua divisão é: ‘grão muito fino’(A), quando estas

apresentam diâmetros de 0,25 a 0,35 mm; ‘grão fino’ (B), se medirem entre 0,35 e

0,50 mm; ‘grão fino, a médio’ (C), quando apresentam diâmetros de 0,50 a 0,71 mm; é

‘grão médio’ (D), quando os seus elementos variam entre 0,71 e 1 mm; ‘grão médio, a

grosseiro’ (E), quando os componentes têm valores entre 1,00 e 1,41mm; ‘grão

grosseiro’ (F) os que apresentam dimensões superiores àquelas.

Um outro aspecto a referenciar foi a realização de catálogo pormenorizado do

espólio, executando-se o seu registo visual, através da fotografia e do desenho.

Para a produção das fotografias foi utilizada uma máquina fotográfica Nikon

D3100, com objectiva AF-S DX 55-200mm f/4-5.6 VR.

Os desenhos arqueológicos são da autoria de Bernardo Lam, à escala 1:1,

depois reduzidas 40/45%, através do programa Microsoft Office Picture Manager.

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3 - Localização

Topónimo: Gruta da Cerca do Zambujal

Freguesia: Melides; Concelho: Grândola; Distrito: Setúbal

Coordenadas, segundo o sistema de coordenadas PT-TM06/ETRS89, a jazida

arqueológica situa-se a -52240,236855 e -168889,74362.

A Freguesia de Melides “Confina a norte com a freguesia de Carvalhal; a leste e

a sueste com Grândola e Santa Margarida da Serra respectivamente; a sul, com o

concelho de Santiago do Cacém; e a oeste com o Oceano Atlântico.” (Plano de

Urbanização de Melides, 2011:5)

Figura 1 – Localização geográfica de Melides (http://www.vacances-location.net/aluguer-ferias/aluguer-ferias-melides,alentejo-litoral.thtml, 17 de Abril de 2012)

O arqueossítio mencionado corresponde a cavidade natural, situada junto à

povoação de Melides, do seu lado sudoeste, em vale que separa dois morros de

calcários miocénicos. Nesse mesmo local, em que se encontra a Gruta da Cerca do

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Zambujal, localiza-se uma segunda gruta, a Gruta do Lagar, também ela utilizada como

necrópole, durante o Neolítico.

A Gruta da Cerca do Zambujal localiza-se (segundo a Carta Militar de Portugal,

na escala 1:25 000 nº 494 - Melides, Grândola), a 200 metros da igreja de Melides e a

200 metros, aproximadamente, da ribeira de Melides.

Figura 2 – Localização da Gruta da Cerca do Zambujal (nº10) (segundo o PDM de Grândola, 1995)

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4 - Enquadramento ambiental

A estação arqueológica, conhecida como Gruta da Cerca do Zambujal,

enquadra-se numa das unidades morfoestruturais, em que a Península Ibérica se

encontra dividida, a Bacia Cenozóica do Tejo e do Sado. Esta, por sua vez, segundo as

unidades paleogeográficas e tectónicas, integra-se na Orla Ocidental da Península

Ibérica.

Figura 4 – Unidades Paleogeográficas (segundo http://alemdasaulas.wordpress.com/2010/10/08/carta-geologica-de-portugal-2/ , 27 de Abril de 2012)

Figura 3 – Bacia do Tejo e do Sado (1:150 Km) (segundohttp://geografiaa10.blogspot.pt/, 27 de Abril de 2012)

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A parte inferior da série sedimentar daquela bacia é francamente continental,

com formações detríticas grosseiras na base e intercalações de calcários e argilitos de

neoformação.

“Foi no Miocénico que ocorreram algumas acções transgressivas do mar que,

mais ou menos, penetraram na bacia. Ao Miocénico Continental seguiu-se o Pliocénico,

também Continental, com sedimentação fluvial detrítica, arenitos, conglomerados e

argilitos. O Quaternário está bem representado pelos diversos níveis de terraços

fluviais, ao longo dos leitos do Tejo e do Sado e alguns dos seus afluentes.”

(Carta Geológica de Portugal; http://sites.google.com/site/geologiaebiologia/carta-

geol%C3%B3gia-de-portugal#TOC-Bibliografia - 28 de Fevereiro de 2012)

Figura 5 – Bacia Sedimentar do Tejo e do Sado (segundo

http://sites.google.com/site/geologiaebiologia/carta-geol%C3%B3gia-de-

portugal#TOC-Bibliografia - 28 de Fevereiro de 2012)

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Segundo a divisão administrativa de Portugal, Melides situa-se na zona da

Estremadura.

Figura 6 – Unidades biofísicas do concelho de Grândola (seg. o PDM de Grândola, Setembro de 1995)

A Gruta da Cerca do Zambujal localiza-se, portanto, na bacia sedimentar

terciária e quaternária do Sado, na Zona Ocidental Alentejana a correspondente à

planície e orla costeiras.

Aquela unidade tem litologia composta por areias de praias, dunas e outras

rochas predominantemente detríticas, correspondente a zona plano-ondulada, de

orientação predominante a W e uma altitude desde 0 até cerca de 100 metros, em que

o relevo é considerado de acentuado a muito acentuado (declive superior a 16%) (seg.

o Plano Director Municipal de Grândola). Ali dominam solos arenosos junto à Costa,

sobre as areias de dunas e junto à Serra Litoral, apresentando acentuados problemas

de erosão.

Gruta da Cerca do Zambujal

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Citando o Plano Urbanístico de 2011:5, salientamos que “ (…) as Arribas da

Galé, compostas por afloramentos de Idade Quaternária e do Plio-Pleistocénico, de

idade inferior a 5 milhões de anos. São constituídas por arenitos argilosos, geralmente

pouco permeáveis. “.

É ainda de referenciar a existência de aluviossolos e coluviossolos, ao longo das

linhas de drenagem que desaguam na lagoa de Melides, ou directamente no oceano.

Actualmente, a vegetação natural é composta por formações xerófilas, próprias

das dunas litorais e das dunas interiores, mais ou menos consolidadas. Podem ser

ainda encontrados juncais e matas de tamargueiras, junto à lagoa litoral, sendo que a

planície é arenosa e composta de carvalhal, com domínio do sobreiro. O solo encontra-

se, presentemente, utilizado como sistema florestal, sendo o pinheiro e o eucalipto o

tipo florístico escolhido para tal.

Relativamente aos recursos hídricos superficiais, o sítio arqueológico encontra-

se perto de um afluente da lagoa de Melides, em zona sudoeste do povoado de

Melides, e entre a linha principal de talvegue e a linha secundária de festo. Ou seja,

entre zona de vale e zona de relevo, em que este é de acentuado a muito acentuado.

Figura 7 – Relevo geral da zona onde se localiza Melides (seg. http://web.letras.up.pt/asaraujo/geofis/t1.html - 28 de Abril de 2012)

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Figura 8 – Carta fisiográfica de Melides em que a zona a tracejado é de declive superior

a 16% (seg. PDM Grândola, Setembro de 1995)

Figura 9 – Localização da gruta em relação a linha de talvegue principal (linha preta

grossa), e uma linha de festo secundária (linha a tracejado fina) (seg. PDM de

Grândola, Setembro de 1995)

Gruta da Cerca do Zambujal

Gruta da Cerca do Zambujal

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A Gruta da Cerca do Zambujal, que se encontra nos contrafortes da Serra de

Grândola, localiza-se numa área de biótopos classificados. Ou seja, é uma área com

interesse patrimonial, por conter conjunto de valores naturais e paisagísticos. A zona

de Melides apresenta paisagem de características homogéneas, sendo a única

excepção a Lagoa “ (…) com cerca de 26 hectares, pontuada por pequenas ilhas com

vegetação hidrófila. As espécies aquáticas aqui dominantes são as enguias, carpas,

barbos, achigãs e pardelhas, enquanto que a avifauna é composta por espécies como a

garça pequena, garça branca, garça vermelha, milhafre preto e tarambola dourada.”

(P.U, 2011:5)

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5 - A Jazida Arqueológica

5.1 - Descoberta e primeiros trabalhos

A Gruta da Cerca do Zambujal foi intervencionada, em 1920, por Romão de

Sousa, conservador dos Serviços Geológico, e João Telo, colector da mesma instituição

(Nogueira, 1927:41).

No entanto, o primeiro trabalho descritivo com a localização do sítio

arqueológico, enquadramento crono-cultural, inventariação de material arqueológico

recolhido e elaboração de algumas suposições, foi publicado em 1927, por Augusto de

Mello Nogueira, em volume das “Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal”

(Tomo XVI). A este investigador devemos a seguinte descrição: “Junto à povoação, (…),

a Sudoeste, vêem-se algumas grutas entre as quais uma maior no sítio denominado

Cerca do Zambujal. (…) Trata-se evidentemente de grutas sepulcrais pois é avultado o

número de restos humanos pertencentes, pelo menos, a 46 indivíduos, na gruta da

Cerca do Zambujal, (…)” (Nogueira, 1927:41,42)

Durante aquela intervenção não foi executado um trabalho criterioso na

recolha da informação, apesar de ambas grutas terem sido escavadas até à rocha, ou

seja, apenas se exumou o espólio arqueológico, sem registo tridimensional do mesmo,

atribuição de camadas arqueológicas, não se tendo feito recolhas de sedimentos ou

diferenciação estratigráfica, determinação de associações ou outras prátcas

metodológicas que conduzissem à melhor classificação dos espólios e do sítio. O

próprio autor reconhece que “ As grutas foram escavadas até à rocha, sendo todas as

terras miudamente pesquisadas, mas não tendo sido possível diferençar camadas.”

(Nogueira, 1927:42)

Na mesma época, em 1931, foi realizado estudo pormenorizado, por Barbosa

Sueiro, sobre os casos de perfuração do olécrane, da apófise supra-epitroclear e do

canal do úmero, observados nas estações neolíticas de Melides, sendo

especificamente mencionada a Gruta da Cerca do Zambujal. Com este trabalho,

pretendeu-se realizar comparação dos dados ali obtidos, com os de algumas estações

arqueológicas do mesmo período, nomeadamente Alcobertas, Carvalhal, Casa da

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Moura (Cesareda), Lapa Furada (Cesareda), Liceia, Malgasta, Palmela, Serra do Monte

Junto, etc.. Barbosa Sueiro pretendia, a partir das semelhanças ou disparidades ósseas

eventualmente detectadas, compará-las com as encontradas noutras populações da

mesma época, para obter informações que pudessem contribuir para uma melhor

compreensão das características antropológicas das sociedades em estudo.

Meio século depois O. Da Veiga Ferreira (1982:285) “ (…) apresenta uma

listagem das grutas portuguesas com interesse cultural desde a pré-história à proto-

história, fauna fóssil e actual, interesse mineralógico ou mineiro, etc..”. Nesta, a Gruta

da Cerca do Zambujal é novamente referenciada.

Posteriormente, em 1993, voltaria a ser mencionada e enquadrada, em

publicação da Associação de Municípios do Distrito de Setúbal, onde se faz a

exposição, ao nível daquela região, do património arqueológico existente, sua

localização e integração histórico-cronológica. É então, apresentada a evolução da

ocupação humana, da região indicada, desde o seu início até à actualidade, bem como

a seriação e localização geográfica dos sítios arqueológicos.

Mais tarde, em 1995, com a elaboração e posterior publicação do Plano

Director do Município de Grândola, o sítio arqueológico objecto do presente trabalho

foi de novo citado e enquadrado na catalogação do património arqueológico existente

no Distrito de Setúbal.

De referenciar que, durante os anos 80, mas para a área da antropologia, a

Gruta da Cerca do Zambujal foi novamente objecto de estudo, a cargo da antropóloga

canadiana, Mary Jackes. Tratou-se de investigação que tinha em vista efectuar a

selecção, pesquisa e elaboração de estudos antropológicos, igualmente enfocados no

material osteológico recolhido (Lubell et alii, 1994:203).

Desde os anos 90 até hoje, vários têm sido os trabalhos desenvolvidos em

torno daquele espólio, sendo um deles na área da paleodieta, elaborados por vários

investigadores, nomeadamente canadianos e um português. Foram iniciativas que

tinham, como objectivo, colmatar a falta de informação existente sobre o

desenvolvimento do Neolítico Médio. De facto, o conhecimento até então disponível,

relativamente àquele período, baseava-se, quase exclusivamente, na análise dos

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artefactos encontrados, pouco contribuindo para a compreensão paleoeconómica

daquele período.

“In Portugal, the distinction between the Mesolithic and Neolithic is defined

almost exclusively on the basis of artefcat assemblages from a limited number of

coastal and near-coastal sites. (…) Most Neolithic remains come from ossuary caves

and no associated settlements have been found and excavated with modern

techniques. There is thus an almost total absence of paleoeconomic data for the

Neolithic.” (Lubel et alii, 1994:201)

5.2 - Descrição

O arqueossítio em estudo é uma gruta natural, de ambiente calcário, utilizada

como sepulcro. Ela é constituída por uma câmara de planta irregular, ainda que

aproximadamente rectangular, possuindo três aberturas voltadas para sueste. Mede,

aproximadamente, seis metros de comprimento por cerca de quatro metros de

largura, variando a altura, embora seja suficiente para que, no seu centro, se possa

estar de pé.

Na zona sul, existe um corredor curto que comunica com uma chaminé, com

cerca de quatro metros de altura, mas que não rompe até à superfície.

Figura 10 – Vista geral da entrada da gruta (NO-SE) (Autor Mariana Villar Mendes)

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Figura 11 – Vista geral de 2 pequenas entradas da zona sul da gruta (NE-SO) (Autor

Mariana Villar Mendes)

Figura 12 – Vista de pormenor do corredor que dá acesso a pequena sala com chaminé

(SE-NO) (Autor Mariana Villar Mendes)

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Figura 13 – Vista geral da pequena sala que tem a chaminé (N-S) (Autor Mariana Villar

Mendes)

Figura 14 – Vista em pormenor da chaminé (Autor Mariana Villar Mendes)

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O solo da gruta situa-se a meia altura da colina onde ela se encontra e a uns

três metros acima do vale. Em torno da sua câmara principal, existem numerosos

nichos pouco profundos.

Aquando da descoberta, a Gruta da Cerca do Zambujal encontrava-se repleta

de areias, possivelmente arrastadas pelas águas, que envolviam o espólio

arqueológico. No entanto, os materiais cerâmicos e os restantes artefactos jaziam

perto da entrada, enquanto os ossos humanos se localizavam no interior, junto às

paredes.

Segundo Mello Nogueira, devido ao facto ter sido encontrado um único

esqueleto, na sua posição normal, numa fenda exterior, perto do lado direito da

entrada da gruta, esta poderia ter sido maior, prolongando-se um pouco pelo pequeno

terraço existente à sua frente e integrando a zona onde se fez aquele achado.

Actualmente, a entrada da gruta encontra-se envolta por grande quantidade de

vegetação, o que dificulta o seu acesso.

Figura 15 – Vista geral da gruta em relação à ribeira de Melides (E-O) (Autor Mariana

Villar Mendes)

Gruta da Cerca do Zambujal

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5.3 - Espólio

Segundo Mello Nogueira, foram recolhidos, na Gruta da Cerca do Zambujal, em

1920, quinze machados, sete enxós e um escopro ou formão de pedra polida, sete

instrumentos lascados de sílex, quatro artefactos em osso e sete contas de xisto. Os

machados estariam inteiros, perfeitos e bem trabalhados, pertencendo a dois tipos

diferentes: os de secção elíptica e os de faces planas, sendo onze do primeiro tipo e

quatro do segundo. Todos estes instrumentos, de pedra polida/picotada, têm o gume

muito afiado e nenhum apresentava vestígios de encabamento.

O mesmo autor afirma que o grupo dos artefactos de sílex seria composto por

seis facas de dois gumes e por uma peça quadrada, de pequena espessura, talhada em

gume nos quatro lados, dos quais dois seriam cortantes e em que o vértice formado

seria muito aguçado.

Dos quatro artefactos em osso, talhados em ponta, três seriam sido talhados

sobre lascas e um, o de menores dimensões, era oco. Dos três utensílios talhados

sobre lascas, um estaria partido em uma das pontas e, no lado oposto, a parte mais

larga, apresentaria princípio de furo.

As sete contas correspondiam a pequenos discos circulares, muito perfeitos,

furados ao centro, com diâmetros que mediam entre os 4,5 milímetros e os 6

milímetros, apresentando espessura média, entre os 2 milímetros e os 3,5 milímetros.

No mesmo estudo, foi ainda mencionada a existência de cerâmicas espessas,

mas bem executadas, designadamente uma tigela pequena, de forma esférica, um

vaso de bordo circular e fragmentos de outros artefactos, bem como de espólio

osteológico, humano, em grandes quantidades, de restos faunísticos, os quais foram

considerados como podendo ser, ou não, contemporâneos da utilização da gruta como

necrópole.

Actualmente, o espólio arqueológico deste arqueossítio, que se encontra no

Museu Geológico e Mineiro de Lisboa, comporta, segundo a inventariação feita no

presente estudo, cinco lâminas inteiras e uma outra, partida no seu volume próximal,

catorze machados, oito enxós e dois escopros de pedra polida/picotada, três furadores

de osso, sete contas de xisto, muito bem conservadas, e duas taças, em cerâmica,

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inteiras, possuindo, uma delas, pequena carena. Foi possível verificar, ainda, a

existência de dois fragmentos correspondendo a porções de bordo, possivelmente

pertencentes a taças, e cinco fragmentos de paredes de recipientes de cerâmica, cujas

formas não é possível identificar.

Conserva-se, também, algum espólio osteológico, referente aos enterramentos

encontrados na gruta, bem como ossos pertencentes a fauna diversa.

A partir do primitivo estudo do espólio encontrado na Gruta da Cerca do

Zambujal e do actual, pode constatar-se a existência de disparidades, quer no número,

quer na classificação tipológica daquele. A classificação errónea pode, no entanto, ser

considerada um mal menor, se se tiver em conta o desaparecimento de algum desse

espólio, como é possível deduzir-se, ao comparar-se o registo daquilo que existe, no

Museu, em 2012, e o que foi publicado em 1927. 1

Apesar de, no presente estudo, não se ter tratado o espólio osteológico, animal

e humano, pode percepcionar-se, através da publicação de 1927, quais as espécies

faunísticas encontradas, aquando da sua descoberta, bem como a contabilização do

espólio osteológico humano.

1 Porque o material osteológico, humano e animal, das duas grutas, disponível no Museu, se encontrava

misturado, não nos foi possível levar a cabo qualquer comparação.

Material publicado em 1927

Machados 15

Enxós 7

Escopro /Formão 1

Facas 6

Peça quadrada ind. 1

Osso trabalhado 4

Contas de xisto 7

Taça em calote 1

Taça carenada 1

Material existente em 2012

Machados 14

Enxós 8

Escopro 2

Lâminas/Facas 6

Peça quadrada ind. 0

Osso trabalhado 3

Contas de xisto 7

Taça em calote 1

Taça carenada 1

Recipiente indeterminado 2

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Fauna Ossos encontrados

Vulpes alópex Crânio, bacia, úmero e tíbias

Meles taxus, Bodd Úmeros e fémur

Capra sp. Mandíbula (lado esquerdo), úmero e metatarsos

Lynce pardellus, Miller Tíbia e fémur

Sus scrofa, L. Mandíbula (lado esquerdo) e tíbia

Oryctolagus cuniculus Muitos crânios, úmeros, etc.

Ave de rapina (Buteo?) Tíbias

Ossos encontrados Nº

Crânios completos 7

Fragmentos de crânio 5

Maxilares inferiores 8

Fragmentos de maxilares inferiores lado direito 24

Fragmentos de maxilares inferiores lado esquerdo 18

Fragmentos de maxilares superiores 22

Fragmentos de maxilares inferiores 5

Vértebras, costelas, omoplatas, clavículas, etc. indeterminado

O estudo de Barbosa Sueiro (1931) incidiu sobre o material encontrado nas

grutas do Lagar e do Zambujal, tendo sido identificados restos pertencentes a adultos,

a adolescentes e a crianças. Refere, concretamente, 101 húmeros humanos (85 de

adultos, 7 de adolescentes e 9 de crianças). Daqueles, apenas 22 (só de indivíduos

adultos), foram encontrados na Gruta do Lagar. Isto quer dizer que todos os outros

procedem da Gruta da Cerca do Zambujal, como o autor sugere, ao dizer “encontrados

principalmente na Gruta do Zambujal” (Sueiro, 1931:12). Quanto aos ossos de animais,

“na Gruta do Lagar, apenas foi encontrado 1 húmero de raposa” (Sueiro, 1931:12).

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6 - Estudos e resultados recentes

A Gruta da Cerca do Zambujal foi, conforme atrás referimos, objecto de

investigações, elaboradas a partir de 1984, pelos canadianos Mary Jackes e David

Lubell, na sequência da sua integração em projecto, que decorreu de 1984 a 1989,

denominado “Archaeology and Human Biology of the Mesolithic-Neolithic transition in

Portugal” (Lubell et alii, 2004:209)

Tal como aqueles investigadores referem, o seu principal objectivo era: “ (…) to

understand early Holocene palaeodemography and subsistence ecology and included

two related investigations: (a) study of previously excavated Mesolithic and Neolithic

human skeletal collections from Muge and elsewhere in Portugal, and (b)

interdisciplinary excavation and analysis of transitional sites in the Alentejo and

Estremadura.” (Lubell et alii, 2004:209)

O trabalho desenvolvido tentava superar lacunas que anteriores investigadores

por não terem meios e capacidade técnica para o seu desenvolvimento ficaram pela a

análise e estudo “clássico” dos materiais que encontravam, elaborando suposições

quanto à cronologia e tipos de sociedades do passado.

Tal como referem os arqueólogos canadianos acima citados, a transição

Mesolítico-Neolítico era definida, quase exclusivamente, com base nos conjuntos

artefactuais, de número limitado, de sítios costeiros ou situados perto da costa, tendo

muitos deles grande quantidade de amostras de esqueletos humanos que nunca

tinham sido estudados, em detalhe. Em contraste com o Mesolitico, em que os mortos

se encontravam enterrados dentro dos limites do local de habitação e tendo a sua

análise permitido obter imagem provável do tipo de dieta alimentar, a maioria do

espólio osteológico do Neolítico, por jazer em grutas sepulcrais, as quais não se

encontravam associadas aos locais de habitação, não fornecendo, portanto, esse tipo

de informação, criou uma lacuna de dados sobre a paleoeconomia daquele período

(Lubell e Jackes, 1994:201)

Para colmatar essa ausência de dados, foi elaborada uma série de estudos aos

ossos encontrados em arqueossítios como a Gruta da Cerca do Zambujal e a Gruta do

Lagar, ambas em Melides e datáveis do Neolítico, através, quer de análises de

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rádiocarbono, quer de análises isotópicas do colagénio; as primeiras, identificando o

período temporal em que aquela população viveu e as segundas a composição da sua

dieta alimentar, dando, portanto, contribuição para o esforço de reconstrução

paleoeconómica das populações (Lubell e Jackes, 1994:201,202).

Os isótopos analisados por estes investigadores, Mary Jackes e David Lubell,

nos ossos, foram o Carbono (13C) e o Nitrogénio (15 N), pelo facto de terem a mesma

proporção nos ossos e nos alimentos ingeridos (Lubell e Jackes, 1994:202).

Um outro estudo, elaborado por aqueles mesmos dois investigadores, incidiu

sobre a diferença do tipo de dieta alimentar, em populações do Mesolitico e do

Neolítico, mas através da análise da dentição e seu desgaste. Este tipo de análise pode,

no entanto, levantar problemáticas diversas, dado os dentes poderem ser utilizados

com outros propósitos, tal como referem Lubell e Jackes (1994:208)

Tabela 1 – Tabela das datações por radiocarbono e resultados das análises de isótopos, onde se inclui amostra da Gruta da Cerca do Zambujal (seg. Lubell e Jackes, 1994:203)

Conforme os dados obtidos, pelas análises isotópicas elaboradas, Lubell e

Jackes (1994:203) chegaram à conclusão de que se deu uma intensificação na

tendência para o consumo de recursos terrestres, durante o Neolítico. É também

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sugerido um aumento na homogeneidade do regime alimentar durante aquele mesmo

período.

Todavia, estudos faunísticos efectuados a sítios do Neolítico e Calcolítico,

demonstraram que, apesar de haver animais domésticos, como o porco, a ovelha, a

cabra, a dieta alimentar era, numa grande percentagem, constituída por alimentos

marinhos, como os bivalves e gastrópodes.

A própria análise dentária, através da percepção de elementos como as cáries e

outras patologias odontológicas, são reflexo do tipo e natureza dos recursos

alimentares.

Tabela 2 – Tabela das percentagens do desgaste dos 1º molares no momento da erupção dos 3º molares (seg. Lubell e Jackes, 1994:209)

Excluindo o factor já referido de que o desgaste dentário poder reflectir o uso

dos dentes para outros fins, a análise comparativa entre os sítios da Moita Sebastião,

da Casa da Moura, da Arruda e das Grutas de Melides 2 permitiu analisar o desgaste

dentário e o seu grau, relacionando o grau de abrasão com o tipo de alimentação

adoptada. Aquele viria a confirmar que durante o Mesolítico o tipo de alimentação

2 No estudo elaborados por Mary Jackes e David Lubell neste artigo, bem como em investigações posteriores, o

espólio osteológico referente ás Grutas de Melides corresponde ao enconcontrado na Gruta da Cerca do Zambujal e

da Gruta do Lagar. Aqueles não efectuaram uma separação dos materiais de ambos os sítios.

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escolhida pelas populações seria baseada em recursos marinhos, tendo sido durante o

Neolítico que se começou a optar por uma maior variedade alimentar, incluindo os

alimentos terrestres. Em alguns sítios, deste último período, haveria quase

exclusivamente, alimentação terrestre.

Tanto este artigo, em que nos baseamos para fornecer os dados acima

expostos sobre a Gruta da Cerca do Zambujal, como nos artigos posteriormente

publicados por Lubell e Jackes, tendo ou não a comparticipação de outros

investigadores, tiveram como base os estudos realizados, entre 1984 e 1986.

Posteriormente àquela investigação, foi também desenvolvido estudo

petrográfico, por Katina Lillios (segundo nos foi referido pelos técnicos do Museu

Geológico e Mineiro), com base em amostras dos materiais, de pedra picotada/polida,

recolhidos na Gruta da Cerca do Zambujal. Neste estudo pretendia-se determinar que

tipo de rocha preferencialmente foi utilizada pela população que frequentou a gruta,

para a execução dos machados, enxós e escopros, bem como determinar se a matéria-

prima utilizada seria local ou não. Isto pôde ser deduzido apenas através de outros

estudos, do mesmo tipo, efectuados, pela mesma investigadora, em sítios da Idade do

Bronze da Estremadura (quatro povoados e uma gruta-necrópole), nos quais se tinham

encontrado artefactos de anfibolito.

Apesar de termos estabelecido contacto com Katina Lillios, não nos foi possível

obter mais informação sobre a investigação efectuada a partir dos materiais da Gruta

da Cerca do Zambujal.

Posteriormente, em 2000, João Zilhão, na sequência da elaboração do projecto

de investigação da Universidade de Wisconsin, Madison, sobre “Europe’s First

Farmers”, desenvolveu estudo sobre o Mesolítico e o Neolítico, na Península Ibérica,

em que mais uma vez surge a questão sobre a transição entre aqueles dois períodos,

em Portugal, e a lacuna na informação existente sobre a adaptação do homem

caçador-recolector para o homem com economia de “produção”, tendo esta

perspectiva que se basear em áreas arqueológicas costeiras.

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Figura 16 – Localização de recursos de anfibolito e dos sítios estudados (segundo

Lillios, 1997:139)

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Vários foram os sítios arqueológicos comparados entre os quais estão as grutas

de Melides, a partir dos estudos do Lubbel et alii, de 1994, onde, através de quadros,

se expõe a composição isotópica de Nitrogénio e colagénio nos esqueletos humanos

em sítios do Mesolítico, Neolítico e da Idade do Bronze.

Figura 17 – Segundo Zilhão, 2000:162

Figura 18 – Segundo Zilhão, 2000:162

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7 - Catálogo do espólio

Os materiais que passaremos a inventariar e descrever foram precariamente

analisados e estudados, por outros investigadores, pelo que algumas peças tinham

várias referências atribuídas. Sendo assim, e por se ter optado por não se voltar a

conferir mais uma numeração, podendo causar alguma confusão, optou-se por se

utilizarem as referências que as peças já possuíam.

7.1 - Pedra lascada

Lâmina (228.21) – Contém os volumes proximal e mesial, encontrando-

se talhada em sílex de cor castanha (7.5YR 6/2). Oferece contorno sub-rectangular

e secção triangular. Possui pequeno retoque subvertical no bordo do volume

proximal. Mede 4 cm de comprimento, 0,5 cm de largura e 0,3 cm de espessura

média.

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Lâmina (228.22) – Talhada em sílex de cor cinzenta (7.5YR 5/1). Possui

contorno e secção trapezoidais. Conserva, no reverso, bolbo de percursão. Os

bordos não apresentam retoques. Mede 7,8 cm de comprimento, 1,5 cm de uma

largura e 0,3 cm de espessura média.

Lâmina (228.17) – Talhada em sílex de cor castanha acinzentada (7.5YR

5/2). Apresenta contorno sub-rectangular e secção trapezoidal. Conserva bolbo de

percursão, no reverso, e retoques subverticais em ambos bordos do volume

proximal. Mostra no anverso da superfície mesial, restos de córtex. Mede 9 cm de

comprimento, 1,5 cm de largura e 0,3 cm de espessura média.

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Lâmina (228.19) – Talhada em sílex de cor cinzenta (7.5YR 5/1). Mostra

contorno e secção trapezoidais. Apresenta retoques subverticais em ambos os

bordos e entalhes no volume proximal. Possui, na extremidade distal, pequena

porção de superfície cortical, tal como se pode observar na fotografia de pormenor

ampliada. Mede 10 cm de comprimento, 1,5 cm de largura e 0,2 cm de espessura

média.

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Lâmina (228.18) – Talhada em sílex de cor castanha amarelada (2.5YR

6/3). Apresenta contorno e secção trapezoidais. Mostra pequenos retoques

subverticais em ambos bordos e entalhes opostos no volume proximal, tal como se

pode ver na fotografia de pormenor ampliada. Na extermidade distal observa-se

pequeno levantamento. Mede 8 cm de comprimento, 1 cm de largura e 0,2 cm de

espessura média.

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Lâmina (228.20) – Afeiçoada em sílex de cor castanha alaranjada (7.5YR

5/8). Apresenta contorno e secção trapezoidais. Conserva bolbo de percursão e

restos de córtex na extremidade distal. Apresenta dois entalhes opostos, no

volume distal, tal como se pode observar na fotografia de pormenor ampliada.

Mede 7 cm de comprimento, 1,3 cm de largura e de 0,3 cm de espessura média.

7.2 - Pedra picotada/polida

Machado (228.16) – Afeiçoado em xisto anfibólico, com cor azul escura

acinzentada (2.5GY 4/1), apresenta as superfícies picotadas e oferece apenas o

gume polido. Este, algo obliquo, tem contorno convexo. A secção transversal é

oval. Mede 13 cm de comprimento, 5 cm de largura e 3 cm de espessura máxima.

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Machado (228.6) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul muito escura

(5G 1.7/1). Apresenta as superfícies parcialmente picotadas e o gume polido. Este

tem contorno convexo. A secção transversal é circular. Mede 8,5 cm de

comprimento, 4,5 cm de largura e 4 cm de espessura máxima.

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Machado (228.9) – Afeiçoado em xisto anfibólico, com cor azul escura

acinzentada (2.5G Y4/1). Apresenta algum picotado nas superfícies laterais e o

gume bem polido. Este tem contorno convexo. A secção transversal é oval. Mede 8

cm de comprimento, 3,8 cm de largura e 2,7 cm de espessura máxima.

Machado (228.5) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura

esverdeada (10G 3/1), apresenta as superfícies picotadas e o gume polido. Este

tem contorno convexo. A secção transversal é oval. Mede 7,5 cm de comprimento,

4,7 cm de largura e 3,3 cm de espessura máxima.

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Machado (228.2) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura

esverdeada (5GB3/1), apresenta as superfícies picotadas e o gume polido. Este tem

contorno convexo. A secção transversal é oval. Mede 8 cm de comprimento, 4,7

cm de largura e 3,1 cm de espessura máxima.

Machado (228.40) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura

acinzentada (2.5GY 4/1), apresenta as superfícies picotadas e o gume bem polido.

Este tem contorno ligeiramente convexo. A secção transversal é circular. Mede

14,8 cm de comprimento, 5,4 cm de largura e 4,5cm de espessura máxima. Foi-lhe

amputado parte do volume proximal, para retirar amostra, tendo em vista a sua

caracterização litológica.

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Machado (228.36) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura

esverdeada (5BG 3/1), apresenta polimento em 2/3 das superfícies, estando as

restantes picotadas. O gume foi bem polido e mostra contorno convexo. A secção

transversal é oval. Mede 13 cm de comprimento, 6 cm de largura e 3,8 cm de

espessura máxima. Foi-lhe amputado parte do volume proximal, para retirar

amostra, tendo em vista a sua caracterização litológica.

Enxó (228.37) – Afeiçoada em xisto anfibólico, com cor cinzenta clara

(5GY 6/1), apresenta as superfícies picotadas e o gume polido. Este é recto. A

secção transversal é oval. Mede 15,7 cm de comprimento, 5,5 cm de largura e 3,7

cm de espessura máxima. Foi-lhe amputado parte do volume proximal, para retirar

amostra, tendo em vista a sua caracterização litológica.

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Machado (228.38) – Afeiçoado em xisto anfibólico, com cor cinzenta

clara esverdeada (2.5GY 7/1), apresenta as superfícies picotadas e o gume polido.

Este tem contorno recto. A secção transversal é oval. Mede 14 cm de

comprimento, 5 cm de largura e 3,7 cm de espessura máxima. Foi-lhe amputado

parte do volume proximal, para retirar amostra, tendo em vista a sua

caracterização litológica.

Machado (228.4) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura

esverdeada (5BG 3/1), apresenta as superfícies parcialmente picotadas e o gume

polido. Este tem contorno ligeiramente convexo. A secção transversal é subcircular.

Mede 7,9 cm de comprimento, 3,7 cm de largura e 3,1 cm de espessura máxima.

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Escopro (228.41) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura

esverdeado (5BG 3/1), apresenta as superfícies picotadas e o gume polido. Este

oferece contorno recto. A secção transversal é trapezoidal. Encontra-se amputado

em mais de metade do seu volume original. Mede, actualmente, 5,6 cm de

comprimento, 3 cm de largura e 3,6 cm de espessura máxima.

Escopro (228.35) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura

esverdeada (5BG 3/1), apresenta as superfícies, do anverso e do reverso, polidas

na sua totalidade e parcialmente as faces laterais. O gume foi bem polido e é recto.

A secção transversal é quadrangular. Encontra-se amputado em mais de metade do

seu volume original. Mede, actualmente, 7 cm de comprimento, 3,3 cm de largura

e 3,3 cm de espessura máxima.

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Enxó (228.34) – Afeiçoada em anfibolito, com cor azul muito escura (5G

2/1), apresenta polimento na totalidade das superfícies, bem como no gume. Este

tem contorno recto. A secção transversal é oval. Encontra-se amputado em mais

de metade do seu volume original. Mede, actualmente, 4,5 cm de comprimento,

1,5 cm de largura e 1,4 cm de espessura máxima.

Enxó (228.33) - Afeiçoada em anfibolito, com cor azul escura esverdeada

(5BG 3/1), apresenta as superfícies totalmente polidas, bem como o gume. Este

tem contorno convexo. A secção transversal é oval. Encontra-se amputada em

cerca de metade do seu volume original. Mede, actualmente, 10,8 cm de

comprimento, 4,5 cm de largura e 1,7 cm de espessura máxima.

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Enxó (228.12) – Afeiçoada em xisto anfibolítico, com cor azul escura

esverdeada (5BG 3/1), apresenta as superfícies totalmente polidas, bem como o

gume. Este tem contorno recto. A secção transversal é ovalada. Mede,

actualmente, 9 cm de comprimento, 3,8 cm de largura e 1,7 cm de espessura

máxima.

Machado (228.11) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul muito escura

(5G 2/1), apresenta as superfícies totalmente polidas, bem como o gume. Este tem

contorno convexo. A secção transversal é ovalada. Mede 9,7 cm de comprimento,

4,1 cm de largura e 1,3 cm de espessura máxima.

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Enxó (228.15) – Afeiçoada em anfibolito, com cor azul escura

esverdeada (5G 3/1), apresenta as faces totalmente polidas, bem como o gume.

Este tem contorno ligeiramente convexo. A secção transversal é ovalada. Mede 7,4

cm de comprimento, 3,9 cm de largura e 1,2 cm de espessura máxima.

Machado (228.7) – Afeiçoado em anfibolito, com cor acinzentada escura

(2.5GY 4/1). Apresenta as superfícies picotadas e o gume polido. Este é

ligeiramente convexo. A secção transversal é subcircular. Mede 7,8 cm de

comprimento, 4 cm de largura e 3 cm de espessura máxima.

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Machado (228.3) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura (5BG

1.7/1), apresenta as superfícies picotadas e o gume polido. Este tem contorno

convexo. A secção transversal é subcircular. Mede 9,9 cm de comprimento, 5 cm

de largura e 3,4 cm de espessura máxima.

Machado (228.1) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura (5BG

1.7/1), apresenta as superfícies picotadas e o gume polido. Este tem contorno

convexo. A secção é quadrangular. Mede 10,6 cm de comprimento, 4,8 cm de

largura e 3,6 cm de espessura máxima.

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Machado (228.8) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura (5BG

1.7/1), apresenta as superfícies picotadas e o gume polido. Este tem contorno

ligeiramente convexo. A secção transversal é subcircular. Mede 11,2 cm de

comprimento, 5,3 cm de largura e 3,4 cm de espessura máxima.

Enxó (228.14) – Afeiçoada em anfibolito, com cor azul muito escura e

algo acinzentada (5BG 4/1), apresenta as superfícies totalmente polidas, bem como

o gume. Este tem contorno quase recto. A secção transversal é trapezoidal. Mede

8,8 cm de comprimento, 3,4 cm de largura e 1,2 cm de espessura máxima.

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Enxó (228.13) – Afeiçoada em anfibolito, com cor azul escura

esverdeada (5BG 3/1), apresenta as superfícies totalmente polidas, bem como o

gume. Este tem contorno quase recto. A secção transversal é oval. Mede 7,4 cm de

comprimento, 3,4 cm de largura e 1 cm de espessura máxima.

Enxó (228.10) – Afeiçoada em anfibolito, com cor azul muito escura e

algo acinzentada (5BG 4/1), apresenta as superfícies totalmente polidas, bem como

o gume. Este tem contorno convexo. A secção transversal é oval. Mede 10,4 cm de

comprimento, 4,5 cm de largura e 1,3 cm de espessura máxima.

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Contas (228.32) – Conjunto de sete contas discoides, talhadas em xisto,

de cor cinzenta escura, algo azulada (N – 3/0). Medem entre 0,3 cm a 0,5 cm de

diâmetro e cerca de 0,1 cm de espessura. Todas elas se encontram inteiras e em

bom estado de conservação.

7.3 – Cerâmica

Taça carenada (228.25) – Inteira, apresenta bordo oblíquo, carena baixa

e e fundo quase plano. O bordo possui lábio com secção semicircular. Foi fabricada

com pasta homogénea a compacta, contendo elementos não plásticos,

feldspáticos, quartzosos e micáceos, de grão fino (B – 0.35 a 0.50). O núcleo das

paredes oferece cor negra (5YR 1.7/1) e tanto a superfície exterior como a interior

possuem cor castanha clara a castanha escura (5YR 5/2). As superfícies encontram-

se bem alisadas. Mede 8,4 cm no bordo, 10,9 cm de diâmetro na carena, 6 cm de

altura e a espessura média das paredes é de 0,8 cm.

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Taça em calote (228.23) – Inteira, apresenta bordo oblíquo, com lábio

de secção semicircular. Foi fabricada com pasta homogénea a compacta, contendo

elementos não plásticos, feldspáticos, quartzosos e micáceos, de grão fino (B –

0.35 a 0.50). O núcleo das paredes oferece cor negra (5YR 5/2) e tanto a superfície

exterior como a interior possuem cor castanha clara a castanha escura (5YR 5/2).

Estas encontram-se bem alisadas. Mede 8,6 cm de diâmetro no bordo, 4,3 cm de

altura e a espessura média das paredes é de 0,4 cm.

Taça (228.26) – Fragmento correspondendo a porção do bordo, oblíquo

e afilado, com lábio de secção semicircular. Foi fabricada com pasta homogénea a

compacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, feldspáticos e quartzosos,

de grão fino (B – 0.35 a 0.50). O núcleo das paredes oferece cor negra (5YR 1.7/1) e

tanto a superfície exterior como a interior possuem cor castanha clara a castanha

escura (5YR 5/2). As superfícies encontram-se muito pouco alisadas. Media 22 cm

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de diâmetro de bordo, 7,7 cm de altura e a espessura média das paredes é de 0,7

cm.

Taça (?) 228.27 – Fragmento correspondendo a porção do bordo,

vertical e com lábio de secção semicircular. Foi fabricada com pasta algo

homogénea, mas não muito compacta, contendo elementos não plásticos,

micáceos (moscovite) e quartzosos, de grão médio e alguns grosseiros (C – 0.50 a

0.71). O núcleo das paredes oferece cor negra (5YR 1.7/1), a superfície exterior

possui cor castanha escura (5YR 3/2) e a superfície interior mostra igualmente cor

castanha escura (5YR 2/2). Aquelas encontram-se bem alisadas. Media 7,5 cm de

diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,6 cm.

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Recipiente indeterminado (11 B) – Fragmento correspondendo a porção

de parede. Foi fabricado com pasta com alguma homogeneidade, contendo

elementos não plásticos, micáceos (moscovite) e quartzosos, de grão fino (A – 0.25

a 0.35). O núcleo das paredes e as superfícies possuem cor castanha escura (2.5YR

1.7/1). A espessura média das paredes é de 0,9 cm.

Recipiente indeterminado (4 B) – Fragmento correspondendo a porção

de parede. Foi fabricado com pasta homogénea e compacta, contendo elementos

não plásticos, quartzosos, micáceos (Moscovite) e feldspáticos, de grão fino (A –

0.25 a 0.35). O núcleo das paredes oferece cor castanha escura (5YR 1.7/1) e tanto

a superfície exterior como a interior possuem igualmente cor castanha escura (5YR

3/1). As superfícies mostram algum alisamento. A espessura média das paredes é

de 0,7cm.

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Recipiente indeterminado (228.24) – Fragmento correspondendo a

porção de parede. Foi fabricado com pasta homogénea e compacta, contendo

elementos não plásticos, quartzosos, feldspáticos e micáceos, de grão fino (A –

0.25 a 0.35). O núcleo das paredes mostra cor preta (5YR 2/1) e tanto a superfície

exterior como a interior possuem igualmente cor castanha avermelhada. As

superfícies oferecem algum alisamento. A espessura média das paredes é de 1 cm.

Recipiente indeterminado (10 B) – Fragmento correspondendo a porção

de parede. Foi fabricado com pasta homogénea é compacta, contendo elementos

não plásticos, quartzosos, micáceos (moscovite) e feldspáticos, de grão fino (A –

0.25 a 0.35). O núcleo das paredes oferece cor castanha muito escura (5YR 2/1), a

superfície exterior possui cor castanha avermelhada (5YR 3/2) e a superfície

interior apresenta igualmente cor castanha escura (5YR 2/1). Apenas a superfície

exterior contém alisamento. A espessura média das paredes é de 1 cm.

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Recipiente indeterminado (12 B) – Foi fragmento correspondendo a

porção de parede. Foi fabricado com pasta homogénea e compacta, contendo

elementos não plásticos, quartzosos, micáceos (moscovite) e feldspáticos, de grão

fino (A – 0.25 a 0.35). O núcleo das paredes e as suas superfícies possuem cor

castanha avermelhada (5YR 4/8). Estas encontram-se alisadas. A espessura média

das paredes é de 0,6 cm.

Recipiente indeterminado (9 B) – Fragmento correspondendo a porção

de parede. Foi fabricado com pasta, homogénea e compacta, contendo elementos

não plásticos, quartzosos, micáceos (moscovite) e feldspáticos, de grão fino (A –

0.25 a 0.35). O núcleo das paredes oferece cor castanha muito escura (2.5YR 2/2), a

superfície exterior possui cor avermelhada, com zonas pretas, (2.5YR – 4/3) e a

superfície interior mostra cor vermelha (2.5YR 5/6). Ambas superfícies encontram-

se alisadas. A espessura média das paredes é de 0,6 cm.

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Recipiente indeterminado (7 B) – Fragmento correspondendo a porção

de parede. Foi fabricado com pasta homogénea e compacta, contendo elementos

não plásticos, quartzosos, micáceos (moscovite) e feldspáticos, de grão fino (A –

0.25 a 0.35). O núcleo das paredes oferece cor castanha escura (5YR – 4/2), a

superfície exterior possui cor castanha avermelhada (5YR 5/4) e a interior mostra,

igualmente, cor castanha escura (5YR 4/2). Apenas a superfície exterior se encontra

alisada. A espessura média das paredes é de 0,7 cm.

7.4 - Artefactos de osso

Furador (228.29) – Utiliza porção de osso longo de mamífero de espécie

indeterminada. Oferece contorno e secção trapezoidal. Encontra-se totalmente

polido e afeiçoado, em ponta, na extremidade distal. Mede 6,9 cm de

comprimento, 2,2 cm de largura e 0,6 cm de espessura máxima.

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Furador (228.28) – Utiliza porção de osso longo de mamífero de espécie

indeterminada. Oferece contorno trapezoidal e secção semicircular. Encontra-se

totalmente polido e fragmentado na extremidade proximal. Mede 8,5 cm de

comprimento, 1,7 cm de largura e 0,5 cm de espessura máxima.

Furador (228.30) – Utiliza porção de osso longo de ave, de espécie

indeterminada. Oferece contorno e secção circulares. Encontra-se polido e

fragmentado na extremidade proximal. Mede 9,5 cm de comprimento e 0,9 cm de

diâmetro máximo.

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8 – Cultura material e integração cronológico-cultural

A cultura material, à luz da Arqueologia, traduz-se no estudo do espólio

deixado pelo Homem ao longo dos tempos da sua evolução, como testemunho das

suas acções, de se relacionar com o ambiente e das formas de estar em sociedade.

Não se pode, contudo, tirar conclusões certas e indiscutíveis em relação às próprias

acções, motivos e sentimentos, que estarão por detrás da elaboração dos objectos.

Através do estudo do material recolhido em sítios arqueológicos, como a Gruta

da Cerca do Zambujal, pretende-se atribuir cronologia àquela presença humana e

enquadrá-la em termos culturais, numa fase da evolução do Homem. Não se pode, no

entanto, querer separar em “caixas” cada fase crono-cultural.

O material osteológico que se encontrou nesta gruta corresponde a

testemunhos correspondentes a 46 indivíduos, entre crianças e adultos. O estudo

agora apresentado não conta com a análise pormenorizada deste. No entanto, tentou-

se perceber a que tipo de material correspondia e se poderia, ou não, conter vestígios

de ritualizações, tal como o tipo de ritualizações, caso existissem indícios destas. Os

vários fragmentos osteológicos recolhidos integravam, entre outros, crânios,

mandíbulas, ossos longos e ossos pélvicos, conforme atrás referimos.

“Trata-se evidentemente de grutas sepulcrais pois é avultado o numero de

restos humanos pertencentes, pelo menos, a 46 indivíduos, na gruta da Cerca do

Zambujal, que é, como veremos, de pequenas dimensões, relativamente diminuto o

numero de instrumentos líticos, ósseos e de cerâmica, não tendo aparecido vestígios

de refeições ou outros que provassem a sua habitação.” (Nogueira, 1927:42)

O único sinal de ritualização que foi possível detectar naqueles restos

corresponde à presença de ocre vermelho.

Segundo os testemunhos dos intervenientes responsaveis pelos trabalhos

arqueológicos efectuados na gruta, nesta era possivel identificar diferentes “nucleos”

de disposição quer dos materiais arqueológicos, quer das ossadas, quer ainda o

enterramento único contendo esqueleto completo, em posição de decubido dorsal.

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Aqueles núcleos estavam localizados em zonas diferentes da gruta,

encontrando-se as ossadas depositadas junto às suas paredes e o espólio na sua

entrada. O único esqueleto completo encontrava-se em uma zona exterior da gruta,

mas integrando o contexto desta. Este aspecto é deveras importante, pois pode ser

detectado faseamento na forma de deposição dos mortos. Tal como refere Joaquina

Soares (2003:43), durante o Neolítico Final os mortos seriam enterrados encostados às

paredes das câmaras funerárias e durante o Calcolítico Inicial e Pleno o inumado seria

enterrado na parte central das câmaras. Importa referir que o material exumado na

Cerca do Zambujal não se encontrava associado a nenhum dos enterramentos

identificados, mas sim aglomerados à entrada daquela. Este factor vem dificultar a

possibilidade da detecção e datação relativa dos rituais funerários.

Segundo Zilhão (1984:29), há uma “ (…) tendência para a complexificação dos

rituais funerários e para a maior importância dada a cada indivíduo (…)” desde o

Neolítico antigo ao Romano, ou seja, existe evolução das estruturas funerárias com o

passar do tempo. Neste sentido, o mesmo autor, realiza separação temporal,

enquadrando o enterramento isolado da Cerca do Zambujal, na fase em que existe

uma escolha de “ (…) recintos naturais, mais ou menos arranjados, para a realização de

enterramentos, (…)” e em que se procederam a inumações em “fenda entre os

estratos”, mas sem espólio. Ao contrário do caso em apreço, é possível encontrar-se

na, Caverna dos Alqueves, inumações em “fendas entre os estratos”, “ acompanhadas

por espólio reduzido mas que, pela presença de uma ponta de seta, pode ser de um

Neolítico Final.” Um outro facto a mencionar, tal como refere Zilhão (1984:30), é que o

hábito de estruturar e ritualizar as tumulações secundárias poderá ter surgido no

Neolítico Final estendendo-se a todo o Calcolítico, tal como se pode observar na Lapa

do Fumo e na Lapa do Bugio, dois extremos cronológicos da mesma região.

Do mesmo modo, no arqueossítio em estudo, o grupo das ossadas corresponde

a deposição secundária, evidenciada não só pela sua dissociação como pela presença,

de salpicos de ocre em alguns restos osteológicos, como exemplificam os crânios.

Nestes, foi ainda possível encontrar ocre nas suturas, evidência de ritualização, já com

estes descarnados. Ou seja, este é mais um factor a ter em consideração relativamente

ao enquadramento cronológico do tipo de tumulações encontradas.

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Passando à análise do material arqueológico podemos depreender, devido à

sua contabilização geral, que há um maior número de artefactos de pedra polida,

seguido dos materiais de pedra lascada, materiais de osso, cerâmica e contas de colar.

Espólio arqueológico

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Lâminas Machados Enxós Escopros Taça Carenada Taça em Calote Fragmento

correspondente

a porção de

bordo

Fragmento

indeterminado

Tipologia

Tota

l

Gráfico 1 – Contabilização do material arqueológico estudado

A existência de um maior número de materiais de pedra polida e lascada, e a

diminuta representatividade de espólio cerâmico, onde se contabilizam duas taças

inteiras e dois fragmentos de bordo, associado à prática “ (…) de estruturar e ritualizar

as tumulações secundárias (…)”, (Zilhão, 1984:30), pode indicar contexto do Neolítico

Médio/Final. Este aspecto não viria a ser confirmado pelas várias datações de

radiocarbono (ver quadro p.19, capitulo 6), efectuadas por investigadores canadianos

que se debruçaram sobre o estudo do material osteológico deste e de outros

arqueossítios, pois indicaram, para a Gruta da Cerca do Zambujal, datação absoluta no

III milénio a.C. e, portanto, no Calcolítico.

Também o material encontrado na gruta do Algar do Barrão (Monsanto,

Alcanena), que a integram como sendo um local do Neolítico Médio, é quase

exclusivamente constituído por materiais não cerâmicos, como lâminas, lamelas,

machados e enxós de pedra polida, furadores de osso, entre outro espólio, onde a

cerâmica apresenta formas simples, lisas e com aplicação de almagre (Carvalho et alii,

2003:115). Por outro lado, a Gruta da Cerca do Zambujal não possui alguns dos

testemunhos que identificam os locais do Neolítico Final, do Centro e Sul de Portugal,

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como seja, para além de maior número de cerâmicas, lâminas e lamelas, a presença de

alfinetes de osso, pontas de flecha e de placas de xisto gravadas.

Não se pode, também, deixar de observar a ausência, neste mesmo local, de

testemunhos como as braceletes e os geométricos, que o poderiam enquadrar no

Neolitico Médio.

Analisando o material de pedra lascada da Gruta da Cerca do Zambujal, pode-se

perceber que o tipo de secção predominante das lâminas é a trapezoidal, com 83%,

sendo apenas de 17 % as de secção triangular.

Quanto ao tipo de contorno daquelas peças 67% é trapezoidal, sendo as

restantes, 33%, sub-rectangulares.

Nesta amostragem apenas 67% possuía retoque, enquanto as restantes 33 %

não a apresentaram.

O comprimento predominante encontra-se entre os 7 cm e os 10 cm, havendo

apenas uma lâmina que, por se encontrar partida, mede, apenas, 4 cm.

83%

17%

Trapezoidal

Triangular

Gráfico 2 – Secção das lâminas

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59

33%

67%

Sub-rectangular Trapezoidal

Gráfico 3 – Contorno das lâminas

33%

67%

Ausente Sub-vertical

Gráfico 4 – Retoque das lâminas

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60

50%50%

Ausente

Presente

Gráfico 5 – Entalhes nas lâminas

As características de indústria de pedra lascada da Gruta da Cerca do Zambujal

podem ser identificadas em jazidas como a Lapa do Bugio ou nas antas de Reguengos

de Monsaraz, em que, entre outros materiais de pedra lascada ausentes na estação

estudada, as lâminas ou facas, sem retoques, têm numerosa presença. As facas são

produtos alongados delgados e ligeiramente encurvados, que nos monumentos

megalíticos funerários não se encontram normalmente retocadas. Tal como refere V.

Leisner (1985:59) “ (…) ‘facas’ pequenas e finas, que no sudeste caracterizam o

neolítico final (…)” foram também encontradas em antas de Reguengos, como sejam a

anta 1 das Vidigueiras, a anta do Poço da Gateira, anta 2 da Comenda, entre outras

deste período.

Outras jazidas, em que se pode encontrar este tipo de material de pedra

lascada, são os hipogeus da Quinta do Anjo (Palmela). Entre outro espólio ali exumado,

importa destacar os cinco fragmentos de lâminas não retocadas, de sílex. Foi possível,

ainda, encontrar paralelos, na Gruta dos Ossos, nas jazidas do Neolítico Final da

Comporta e no povoado do Neolítico Final do Carrascal, apesar da sua diminuta e algo

fragmentada amostragem. Pode-se determinar paralelos com um outro sítio do

Neolítico Inicial/Médio, ou seja, a Gruta dos Carrascos, sobre o qual foi elaborado

estudo sobre este tipo de materiais, por A. Faustino de Carvalho. Apesar da Gruta da

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Cerca do Zambujal ser datável do Neolítico Final, as lâminas de pedra lascada são

semelhantes às da Gruta dos Ossos, acima referenciada, que foram separadas, por

este autor, em duas categorias, a partir da variação da largura média e que foi datada

do Neolítico Final/Calcolítico Inicial da Estremadura/Ribatejo (Carvalho, 1998:68).

Apesar de se detectar estas variações nas lâminas exumadas na Gruta da Cerca

do Zambujal, não podemos deixar de estabelecer as parecenças indicadas quanto à sua

forma simples, sem ou quase nenhum retoque e tipo de secção que possuem,

triangular ou trapezoidal. No que se refere ao tipo de matéria-prima, o sílex, em que

foram elaboradas, ele pode ser encontrado na Península de Setúbal ou na Costa

Alentejana, assim como em raros locais do Alto Alentejo (Gomes, 2002:127).

Passando à análise do material de pedra polida/picotada, que totaliza 24

exemplares, conseguiu-se claramente percepcionar que há uma maior quantidade de

machados (14) comparativamente às enxós (8) e escopros (2).

No que concerne ao tipo da secção transversal, existe maior predomínio da

oval com onze exemplares, seguida da secção subcircular com quatro e da ovalada

com três, existindo ainda, mas em menor número, as secções circular, quadrangular e

trapezoidal.

Quanto há picotagem, em onze exemplares, ela é reconhecível nas superfícies,

enquanto que em nove está totalmente ausente e em apenas quatro se pode visualizar

picotagem parcial.

Relativamente à matéria-prima foi possivel perceber que dos 24 artefactos em

pedra polida/picotada, 19 eram de anfibolíto e apenas 5 foram produzidas em xisto

anfibólico, possivelmente devido ao facto de ser uma matéria-prima local e de fácil

aquisição.

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62

8

2

14

Enxó Escopro Machado

Gráfico 6 – Material de Pedra Polida

2

6

1 1

4

Circular Oval Ovalada Quadrangular Subcircular

Gráfico 7 – Secções do material de pedra polida

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63

11

2

1

Ausente Parcial Presente

Gráfico 8 – Polimento das superfícies dos machados

1

7

Ausente Presente

Gráfico 9 – Polimento das superficies das enxós

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64

1

4

9

Ausente Parcialmente Presente

Gráfico 10 – Picotagem nos machados

7

1

Ausente Presente

Gráfico 11 – Picotagem nas enxós

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65

19

5

Anfibolito Xisto Anfibolico

Gráfico 12 – Matéria-prima da pedra polida

Através da análise do material de pedra polida pode-se atribuí-lo ao Neolítico

Médio/Final. De facto, a maior presença dos machados e das enxós, de secção oval ou

subcircular, apesar de não se terem encontrado goivas, constitui indicativos daquele

período. Outra característica reside na existência de uma maior quantidade de

machados com as superfícies picotadas e com apenas o gume polido. Todavia, em

relação às enxós, há uma maior quantidade totalmente polidas, apresentando trabalho

de maior cuidado.

Comparativamente ao estudo efectuado, por J. L. Cardoso (1992:99), para

material encontrado na Lapa do Bugio, podemos encontrar semelhanças com o espólio

da Gruta da Cerca do Zambujal não só relativamente ao tipo de machados como

também de enxós.

Apesar de no presente caso de estudo não existirem enxós delgadas,

totalmente polidas, elas podem ainda ser comparáveis às de outras jazidas do

Neolítico Médio/Final. De facto, foi ainda possível encontrar paralelos em sítios como a

Gruta dos Ossos, nas jazidas do Neolítico Final da Comporta ou no povoado do

Neolítico Final do Carrascal. Uma das características comuns corresponde à existência

de uma maior quantidade de enxós com as superfícies picotadas do que com elas

polidas.

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Um outro aspecto a ter em consideração relativamente às enxós é a sua

importância simbólica para as comunidades pré-históricas neolíticas. Tal como refere

Valera, (2006:341), aquele aspecto encontra-se bem representado “ (…) no papel de

relevo que lhes foi progressivamente atribuído em muitos rituais funerários (…)”. Foi

segundo o mesmo autor, durante a segunda metade do IV milénio e a primeira metade

do III milénio A.C., que terá ocorrido o grande apogeu desta categoria artefactual

(Valera, 2006:342).

No que se refere à cerâmica da Gruta da Cerca do Zambujal foi possível

encontrar paralelos em exemplares da Comporta I, II e III, nomeadamente nas jazidas

de Pontal, Malhada Alta e Possanco.

Com Comporta I, que se integra, segundo J. Soares e C. T. da Silva (1980:15), em

fase do Neolítico Médio de tradição antiga, no enquadramento da evolução do

Neolítico a Sul do Tejo, podemos observar semelhanças relativamente às formas em

calote, às pastas compactas e às superfícies alisadas. Relativamente à Comporta II, que

se enquadra na fase do Neolítico Médio-Recente, do mesmo enquadramento evolutivo

acima referido, foi possível encontrar paridade relativamente às formas em calote,

mas não tanto em relação ás pastas, as quais voltam a ter semelhanças com Comporta

III, que se enquadra na fase do Neolítico Final, quando se tornam novamente mais

compactas, mas não tanto com as formas que se encontram nesta mesma fase (Soares

e Silva, 1980:16).

Este tipo de características da cerâmica lisa é, também, possível de ser

encontrado em contextos da Estremadura, Estremadura/Ribatejo, datáveis do mesmo

período crono-cultural, como por exemplo no povoado do Carrascal e Gruta do Ossos.

O material acima analisado remete-nos, pois, para um Neolitico Final, tal como

já anteriormente referido.

Durante o período referido existem série de características na cultura material,

embora estes possam variar, ou acoplar outros, dependendo da localização geográfica

dos sítios arqueológicos e de existência, ou não, de miscigenações culturais.

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67

2

7

1 1

Fragmento

correspondendo a

pressão de bordo

Fragmento

indeterminado

Taça Carenada Taça em Calote

Gráfico 13 – Forma das cerâmicas

2

9

Homogeneidade relativa Homogénia e Compacta

Gráfico 14 – Tipo de pastas

A par deste espólio que analisámos, mas em número reduzido, devem-se incluir

as contas discoides, em xisto e perfuradas no centro. Eles são comparáveis às

encontradas, por exemplo, na Barrosinha (Comporta II) datáveis do Neolítico Recente,

mas ainda em numerosos monumentos megalíticos do Neolítico Médio/Final,

designadamente do Alentejo Litoral. Entre estes devemos citar as ocorrências do

dólmen da Palhota (Santiago do Cacém) (Soares e Silva, 1976-77), e da sepultura do

Marco Branco (Santiago do Cacém) (Silva e Soares, 1983) em que as contas discoides

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em xisto são em ambos os locais raras não ultrapassando os três exemplares no

primeiro exemplo e de duas no segundo exemplo.

Por fim, entre os artefactos da Gruta da Cerca do Zambujal encontram-se três

furadores de osso, comparáveis aos procedentes da gruta do Algar do Bom Santo,

datáveis do Neolítico Médio/Final, mas também de outros arqueossítios como por

exemplo a Lapa do Bugio (Cardoso, 1992:90)

Tal como refere Carvalho, et alii., (2003:101), “A cronologia do Algar do Barrão,

assim como as práticas funerárias e o espólio associado, encontram paralelo num

conjunto de cavidades cársicas do Maciço Calcário Estremenho e regiões adjacentes (p.

ex., Gruta do Lugar do Canto, Gruta dos Ossos) cujo espólio, tradicionalmente atribuído

ao Neolítico médio, tem vindo a ser, em alguns casos, datado de finais do IV milénio

(ou seja, no que se convencionou chamar Neolítico final).”. Também se pode enquadrar

a gruta da cerca do Zambujal neste parâmetro de análise comparativa.

Quanto ao material osteológico humano encontrado no arqueossítio em

estudo, pode-se enquadrá-lo nas práticas funerárias do Neolítico, pois é durante este

período, que a forma de encarar os mortos se vai alterar. Vai-se observar “(…) uma

proliferação de rituais de enterramento, que se transformam no tempo e que variam

também de acordo com as áreas estudadas.” (Carvalho., 2003:325)

Em zonas, como a Estremadura, Alto Alentejo, e no Alentejo Litoral (Melides),

onde existem grutas naturais, muitas delas foram utilizadas como local de

enterramento, ou seja, como necrópoles colectivas. A Gruta da Cerca do Zambujal,

pode integrar este tipo de utilização funerária.

Apesar de já anteriormente, durante o Mesolítico, se presenciar ritualização

funerária, através do enterramento dos mortos em depressões escavadas no solo, não

encontramos, contudo, separação física clara entre o espaço dos vivos e o dos mortos.

Este seria um espaço com “ (…) expressão de uma territorialidade qualitativa, de

identificação de uma comunidade com um espaço concreto, ainda que este seja

utilizado a um ritmo sazonal.” (Diniz, 2000: 113)

Tal como refere Mariana Diniz (2000:114), não se pode atribuir, uma

simplicidade simbólica rudimentar àquele ritual, pois não se podendo deduzir qual o

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significado subjacente, para aquelas comunidades, da importância que teria a

proximidade espacial entre a comunidade e os seus antecessores. Esta deve “(…) ter

constituído uma linha de significado dominante na construção social da morte,

dispensando materializações mais elaboradas.”

Apesar da escassa informação quanto aos enterramentos atribuíveis ao

Neolítico Antigo, pode-se, detectar no Neolítico Médio e Final separação e,

consequentemente, a mudança na forma de interpretação do espaço, havendo

evidente afastamento entre os sítios de habitat e os locais de enterramento.

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9 - Interpretação funcional e simbólica

9.1 - O espaço funerário

Ao longo dos tempos, desde as primeiras sociedades pré-históricas até à

actualidade, a Natureza, mas acima de tudo, a Terra, tem sido valorizada e até

sacralizada, embora de modos diversos, relativamente ao conceito que existe

actualmente. A Terra carrega, em si, uma carga simbólica que a conecta à fecundidade,

à fertilidade, à criação e à regeneração, como verdadeira mulher e mãe também. Por

isso, é-lhe atribuído um carácter doce, protector, mas firme e permanente. “É a Terra-

Mater ou a Tellus Mater bem conhecida das religiões mediterrânicas, que dá

nascimento a todos os seres.” (Eliade, 2006:148). “ (…) os primeiros homens viveram

um certo tempo no seio da sua mãe, isto é no fundo da Terra, nas suas entranhas”

(Eliade,2006: 149).

“Os espaços subterrâneos, onde os homens procuravam o contacto com o

transcendente e as forças da fertilidade, capazes de originarem e de manterem a vida,

ou de reproduzirem a cultura, tornando-se verdadeiras grutas-santuário, continuaram

longa tradição que remonta, pelo menos, ao Paleolítico Médio, quando ali se

desenvolveram os primeiros enterramentos e outras práticas de carácter ritual.”

(Gomes, 2007:150).

“ As grutas, lugares escuros, silenciosos, em geral húmidos e correspondendo a

espaços limitados, contendo formações geológicas peculiares, foram consideradas,

durante a Pré e a Proto-História, locais sagrados e de culto, capazes de conduzirem ao

interior da terra, ao lugar de residência das forças da Natureza, onde existiam os

mistérios do nascimento e da morte, da génese de deuses e heróis mas, também, da

ligação com o transcendente e o conhecimento superior.” (Gomes, 2007:154)

No mundo actual, vários são ainda os mitos e simbologias que se encontram

associados ao conceito de ‘Terra-Mãe’, não sendo, portanto, exclusivos das religiões

da Pré-História. Entre as muitas designações atribuídas à Terra, encontram-se as que

remontam à tradição indo-europeia: Urd, Erda, Ertha, Terra, Gaia, Hera, Deméter ou

Europa, todas elas com o significado de ‘deusa’, mãe primordial e mitológica.

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Actualmente, em várias partes do mundo, ainda se praticam ritos e se respeitam

simbolismos que se encontram associados à Terra. Por outro lado, conceitos como o

da água, das grutas e de todos os produtos tirados da terra são, de algum modo,

considerados sagrados e com bastante carga simbólica. Neste contexto e mesmo pela

sua forma física de envolvimento, de ninho e gestação, de refúgio e protecção, atribui-

se, frequentemente, a uma caverna ou a uma gruta, simbologia universal de origem,

de nascimento e até de iniciação, através de um renascimento. Por isso, como Vaz de

Figueiredo (2010:1) afirma, as cavernas estão muitas vezes associadas,

simbolicamente, ao útero, ao colo materno, à genitália feminina, ou, como Mário

Varela Gomes (2007:154) diz: “Elas foram, por excelência, lugares de culto e espaços

de iniciação, com acesso restrito, onde se encenaram rituais de passagem, e

mergulhava nas profundezas da terra ou até nas águas primordiais, quiçá mesmo no

ventre da grande deusa-mãe, mas onde também se conheciam alguns dos segredos ali

guardados, voltando-se ao exterior renascido e com novo estatuto.”

Ou seja, a gruta estaria associada à iniciação, enquanto zona de passagem para

o mundo dos sonhos, das ideias ou da transcendência, “Elas foram, por excelência,

lugares de culto e espaços de iniciação, com acesso restrito, onde se encenaram rituais

de passagem” (Gomes, 2007:154); “(...) a gruta é o palco onde a luz do dia trabalha as

trevas subterrâneas” (Bachelard, 1990:156).

Mesmo na actualidade, as grutas são consideradas locais que transmitem a

energia da terra e, por isso, são utilizadas como templos, em muitas religiões, como na

cristã, onde a Virgem, inclusivamente, ali aparece. Na Turquia, existe uma lenda que

situa o nascimento do primeiro homem e da primeira mulher, numa caverna. No

Extremo Oriente, a caverna simboliza o Cosmos, sendo a sua abóbada o Céu e o seu

solo a Terra.

Não será, portanto, desprovida de significado e lógica, a utilização de

grutas/cavidades subterrâneas durante a Pré-Historia, como sítios de necropolização.

Constituem exemplo deste tipo de ocupação e utilização, as Grutas de Melides,

mais precisamente a Gruta da Cerca do Zambujal e que, apesar das suas pequenas

dimensões, terá tido grande simbolismo, para a comunidade que a utilizou como local

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de enterramento e, por conseguinte, como local de passagem e renascimento dos

indivíduos nela sepultados.

A carga simbólica que carrega foi-lhe conferida, portanto, não só por aquilo que

é a sua configuração física de caverna - talvez equiparada com o útero - mas também

pela conotação de local de passagem para um renascimento espiritual. Este aspecto

seria materializado nos próprios ritos que nela se praticavam, enriquecidos pela sua

proximidade à água (Ribeira de Melides), elemento purificador. A morte não seria

encarada como o fim mas sim como a possibilidade de um recomeço. No entanto, “A

morte, enquanto rito de passagem implica em uma estrutura de sinalização. O rito,

profano em sua aparência, abre-se para o sagrado. Na relação entre o caos (morte) e o

equilíbrio (vida), os ritos funerários são possuidores da perturbação da morte, mas

instauram uma nova ordem.” (Carvalho, 2001:1).

No entanto, a par de todo o simbolismo positivo, existe também conotação

negativa que atribui às cavernas uma ligação com as trevas, com o desconhecido, com

o mundo infernal, como sendo um espaço de conflito; lugar do sagrado, mas também

do maligno, um lugar onde dia e noite coexistem.

Na Gruta da Cerca do Zambujal os mortos foram presumivelmente depositados

encostados às suas paredes havendo um indivíduo que foi inumado à entrada, no

exterior da cavidade.

Não foi possível identificar a forma das deposições e até se os corpos seriam ou

não cobertos com terra, devido à falta de informação proporcionada pela intervenção

arqueológica. Sabe-se, apenas, que o número de indivíduos encontrados foi de “pelo

menos 46” (Nogueira, 1927: 42) o que é um número superior ao dos encontrados na

Gruta do Lagar, que fica nas imediações. Pode, no entanto, perceber-se, através do

espólio, bem como devido à existência de vestígios de ocre, nos esqueletos, que houve

uma ritualização especifica dos mortos.

O outro aspecto importante, a que já aludimos, é a proximidade da gruta à

ribeira de Melides. Esta ribeira corre a, aproximadamente, 200 metros, embora na

época das chuvas transborde, alagando as duas margens e chegando ao sopé da

encosta em que se localiza a cavidade subterrânea. Ou seja, em determinadas épocas,

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mas ciclicamente, a ribeira passaria perto da gruta. Este aspecto tanto se pode

relacionar com os recursos naturais proporcionados por aquele nicho ecológico, como

em uma perspectiva simbólica, onde a escolha do sítio teria tido uma componente

transcendente, ligada, não só à cavidade, como local de ligação com a Terra-Mãe e do

retorno a ela, como com a água da ribeira que corre próximo, esta podendo ser

entendida como símbolo do ponto de partida para o surgimento da vida. A água “É um

símbolo do Gênese, do nascimento, (…) Ela sempre nos reporta à origem

(…)”(Dicionário de Símbolos, 2008 - 2012) . “J. Aparicio Pérez (1976, 1997) reconheceu

a presença de depósitos votivos, dos séculos VI-II a.C., junto de zonas de queda, de

passagem ou de retenção de água, numa trintena de grutas-santuário da Região

Valenciana, de Castellón de la Plana” (Gomes e Calado, 2007:155)

9.2 - Aspectos rituais

A análise do espólio lítico encontrado na Gruta da Cerca do Zambujal permitiu

depreendermos dada certa escassez e padornização que este teve carácter votivo,

associado a enterramentos. Devido às diminutas dimensões dos recipientes cerâmicos

e do seu bom acabamento, eles parecem denunciar o mesmo fim, podendo

corresponder a “recipientes propositadamente produzidos tendo em vista a sua

utilização em contexto sagrado (Rutkowski, 1986:67). É possível que recipientes de

menores dimensões, como as taças, tenham servido para libações” (Gomes e Calado,

2007:155).

A presença de água importava à passagem para o além ou à comunicação com

o transcendente, encontrando-se aquele elemento conotado com divindades

femininas e guerreiras (González-Alcalde, 1993; 2002-2003).

Por outro lado o espólio, exceptuando os fragmentos de cerâmica, não mostra

vestígios de utilização, encontrando-se em bom estado de conservação.

Os vestígios de ocre, encontrados nos esqueletos, são, por si só, um forte

indício das práticas de ritualização, pois existe forte simbolismo ligado ao seu uso

funerário.

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Resumidamente, podemos considerar a existência de um ‘significado’

subjacente, não só ao próprio sítio, como também a todo espólio ali encontrado e que

reflecte comportamentos ritualizados.

Figura 19 – Vista geral inferior de crânio humano com resto de ocre (fotografia de

Mariana Mendes)

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Figura 20 – Vista de pormenor de crânio com vestígios de ocre (fotografia de Mariana

Mendes)

Os próprios objectos em si podem constituir uma representação, uma

figuração, do sagrado, pois “ (…) toda a representação constitui um acto, ou uma acção

de colocar algo real, ou imperceptível, perante os olhos, ou o espírito de alguém.

Poderá dizer-se que tal acção implica uma percepção, ou a percepção, de um conceito

ou de um objecto, por intermédio de uma imagem mental, de uma figura, de um signo,

etc.” (Lima, 1983:21).

Segundo o autor citado: “Levi-Strauss, com o seu estruturalismo, mostra-nos

que, afinal de contas, o Homem vive, na realidade, entre dois mundos, dois espaços

que se completam sendo um deles talvez mais importante para compreendermos esse

mesmo Homem: o mundo ou o espaço do simbólico.” (Lima, 1983:12).

No entanto, o próprio conceito de símbolo, ou de simbólico, constitui, por si só,

algo de complexo que funde, ou confunde, a razão, a intuição, a atitude científica, o

ideológico, o real, o imaginário, ou seja, integra em si todo um valor e uma carga de

significados que transcendem o próprio homem (Lima, 1983: 27).

Quando um investigador se encontra perante locais em que existem

testemunhos da presença do Homem e que remontam a épocas pré-históricas, poucos

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são os factos possíveis de obter com certezas. Todas as interpretações são susceptíveis

de controvérsia, pois os gestos, os conceitos, o significado e o simbolismo são tudo

provas perecíveis e que se vão modificando, com os tempos (Titiev, 1969:163).

Observando a própria ritualização da colocação de objectos associados aos

mortos, eles podem ser considerados uma espécie de dádiva, mas não no sentido que

Mauss lhe atribui, em que “ (…) aquilo que obriga a dar é precisamente o facto de que

dar obriga.” (Godelier, 2000:21). No entanto, tal como explana Godelier, e deixando a

parte do contexto social subjacente a quem pratica a dádiva, esta acção institui

simultaneamente uma dupla relação entre quem dá e recebe. Uma relação de

solidariedade, (…), com quem dá, e uma relação de superioridade, já que aquele que

recebe a dádiva e a aceita fica em dívida para com quem a deu.” (Godelier, 2000:21).

Isto porque, quando se observa a acção de dádiva para com um outro indivíduo vivo, e

a dádiva para com um indivíduo morto, a intenção subjacente difere. No primeiro,

existe todo um pré-conceito que rege o homem e as suas acções, o que se pode ou

deve esperar delas. Isso, por sua vez, tanto pode criar uma aproximação dos

protagonistas da acção, enquanto momento de partilha, como pode criar um

afastamento social entre eles, enquanto momento em que se cria um sentimento de

dívida (Godelier, 2000:21).

Remetendo-nos apenas à dádiva, no contexto de tributo oferecido a quando da

morte de alguém, a intenção é de quase “submissão” e adoração, para com o

transcendente, como forma de lhe atribuir a possibilidade de uma continuação post-

mortem, de uma nova vida, para o/os indivíduo/os que começa/aram uma nova

jornada. Todo este ritual e forma de entendimento subjacente a este acto, apenas é

perceptível e totalmente compreendido, pelas comunidades que o executaram, pois

“O sagrado deve permanecer sempre, em última instância, secreto, indecifrável, deixar-

se adivinhar para além do dizível e do representável.” (Godelier, 2000: 156) No

entanto, torna-se compreensível a sua intencionalidade e objectivo primordiais.

Actualmente, existem tribos que possuem, também elas, formas de representar

e adorar as divindades que não são atingíveis pela maioria dos homens que vivem nas

comunidades “ocidentalizadas”. Por exemplo, existe uma tribo do interior da Nova

Guiné, os Baruia, em que os objectos sagrados “(…) antes de serem signos e símbolos,

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são coisas que possuem um espírito, logo, com poderes.‘Espírito’ e ‘poder’ dizem-se

com a mesma palavra: Koulié. O que «precede» o simbólico é, então, o imaginário (…)”

(Godelier, 2000:156). Ou seja, só a verbalização já atribui um prenúncio mágico e

transcendente que remete para o próprio imaginário de quem o diz. O Homem

ocidental, que não tem as mesmas crenças que esta tribo, não as compreende, nem

acredita nelas. O valor que estas têm, para si, é de algo simbólico; no entanto, a sua

não crença nelas, não as vai anular.

Da mesma forma, podemos fazer um paralelo entre o modo como

interpretamos e compreendemos as crenças e as formas de ritualizar, nos tempos pré-

históricos, embora saibamos que esse paralelo não passa de uma imagem ténue

daquilo que, possivelmente, aconteceria, bem como do que era o seu significado e

simbolismo, genuínos. Não poderemos depreender, apenas pela análise dos locais e

dos vestígios deixados, qual o verdadeiro significado dos rituais e qual a forma como

eram interpretados, na altura, à luz da própria imagem que a sociedade tinha de si e

dos seus antepassados. Por exemplo, os Baruia dão uma grande importância aos mitos

relacionados com a origem, a própria “(…) origem do homem, das mulheres, do fogo,

das flautas, das armas, das plantas cultivadas, etc., que afirmam e reafirmam o

carácter sobrenatural dessas origens.” (Godelier, 2000:158). Ou seja, os actuais

representantes dos Baruia são como que uma “imagem” dos seus descendentes que,

por sua vez, não são considerados como iguais aos representantes que figuram nos

mitos. Estes últimos são como que uns “(…) duplos dos humanos, mas de outra

natureza, porque comunicam de pessoa a pessoa com o Sol e a Lua, (…) Ao imaginar-se

uma origem sobrenatural para o social, o social torna-se sagrado e a sociedade, tal

como é, legitima-se.” (Godelier, 2000:158). Ou seja, existe uma série de significados e

sentidos para cada gesto e para cada simbologia que lhes é atribuída. Apesar da

contemporaneidade destas tribos, elas transcendem a nossa capacidade de as

compreender e explicar. Não será, portanto, totalmente justo, para com as próprias

comunidades pré-históricas, serem-lhes atribuídos significados e simbolismos

estanques e de fácil dedução, apenas pela análise metódica e cientifica dos sítios e do

espólio encontrado nestes.

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10 - Conclusão

O arqueossítio conhecido como a Gruta da Cerca do Zambujal permite

concluirmos que constitui realmente exemplo da necropolização no Neolítico Final3.

Trata-se de uma forma de utilização do sítio, que é recorrente naquele período - a

gruta como necrópole. Não tendo esta sido a única forma de uso daqueles espaços

subterrâneos, ela foi frequente durante o Neolítico, nomeadamente Médio/Final.

A interpretação de um sítio arqueológico, como a Gruta da Cerca do Zambujal,

não pode ser, apenas, um debruçar sobre os materiais encontrados, procedendo-se,

depois, à sua análise. Deverá ser também executado todo um trabalho de “pesquisa”

do local em si, do que o envolve, das suas potencialidades, de outros elementos e

testemunhos deixados pela comunidade que o ocupou e utilizou. Neste sentido,

através do presente estudo, pode depreender-se que a gruta, pela sua localização,

teria um simbolismo não só ligado à terra mãe e ao retorno a ela, mas também à água,

dada a sua proximidade com a ribeira de Melides que, em épocas de cheia, ali chegava.

A água, enquanto elemento de purificação e de renascimento, esteve presente, ao

longo dos tempos, em quase todas as culturas conhecidas.

A presença de uma cavidade subterrânea e as características da sua localização,

permitiram-nos deduzir o seu significado simbólico e o porquê da sua escolha para os

enterramentos efectuados, apesar das suas diminutas dimensões.

Este tipo de arqueossítios revela que o Homem, a partir de um certo momento,

sentiu a necessidade e o dever de preservar os seus mortos e de venerá-los, o que nos

vem revelar preocupações de um outro nível. Ele foi levado, igualmente, a construir os

rituais de que necessitava, para dar lógica e significado à sua mundividência. Esses

rituais têm uma importância especial, pois “é no rito e nos rituais socioculturais que, de

uma forma antropológica, se deve investigar os símbolos, o simbólico e as simbólicas.

O uso dos símbolos, que é o simbolismo, é universal ao ser humano, no entanto os

símbolos e a simbólica são características de cada cultura, povo e época, podendo

divergir, ou não, entre si.” Por isto, pode-se considerar o símbolo como “(...) um

3 Mello Nogueira (1931:42) afirma que: “Pelo exame do espólio reconhece-se tratar de uma importante

estação neolítica da primeira época, como o prova a rudeza da cerâmica e a ausência de megalítos próximos, notando contudo a perfeita execução dos instrumentos líticos”

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elemento essencial para a compreensão das “transformações” do processo cultural.”

(Lima, 1983:34). Ou seja, a religião surgiria como agente aglutinador, na reafirmação e

estruturação da rede social destas comunidades, com economia produtora.

A Gruta da Cerca do Zambujal representa, assim, mais um elemento a associar

à rede de locais arqueológicos que serviram como necrópoles, durante o Neolítico

Final. A gruta, como cavidade subterrânea, não é um local naturalmente escolhido

pelo homem mas, devido ao tipo de ambiente de envolvimento e protecção criado

pela sua própria constituição natural, ela pode ter sido procurada para fins específicos,

nomeadamente para a ligação ao mundo transcendente.

“Os espaços subterrâneos, onde os homens procuravam o contacto com o

transcendente e as forças da fertilidade, capazes de originarem e de manterem a vida,

ou de reproduzirem a cultura, tornando-se verdadeiras grutas-santuário, continuaram

longa tradição que remonta, pelo menos, ao Paleolítico Médio, quando ali se

desenvolveram os primeiros enterramentos e outras práticas de carácter ritual.”

(Gomes e Calado, 2007:150)

Também Mlekuž, (2012:199) refere que “Caves are not passive backdrops for

the activities that people perform, they are not natural places, and they do not satisfy

the generic needs of people such as ‘shelter’. We can understand caves as material

culture where dwelling occurs. And, by focusing on the process of dwelling that they

enable through the affordances they provide, they help us to challenge the dichotomies

of the natural and built environment, or of the mundane and the sacred.”

Apesar das condição naturais que a gruta apresenta, ela proporcionava ao

Homem Pré-Histórico um “canal” de ligação com o transcendente e com o útero

materno, pelo que seria o local indicado para a realização dos enterramentos dos seus

antepassados e/ou membros da comunidade, como em um regresso às origens ou à

verdade inicial e protectora. A sua localização temporal, durante o Neolítico, a prática

da necropolização em cavidades subterrâneas e da sua ritualização, deixa que ela seja

compreendida como jazida unifamiliar ou de grupo restrito, em que se utilizava espaço

comum, para uma única comunidade (Gonçalves, 2003:316).

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Os ossos humanos encontrados na Gruta da Cerca do Zambujal

correspondendo a enterramentos secundários, foram alvo do estudo por parte de

diversos investigadores, quer canadianos, quer portugueses.

O estudo realizado por Barbosa Sueiro, em 1931, apesar de só exclusivamente

centrado nas perfurações olecrânicas e nas da apófise epitrocleana, veio levantar mais

hipóteses/deduções pertinentes, para a compreensão da comunidade que utilizou

aquele sítio. Assim, o facto de haver uma incidência significativa de perfuração

olecrânica, nos úmeros encontrados - 36,5% (Sueiro, 1931:12) - pareceu-nos poder

eventualmente pôr-se a hipótese de existir, na comunidade, alguma actividade física,

com comportamento bastante repetitivo e comum, talvez mesmo uma actividade

produtiva .

A par dos testemunhos ósseos e da importância do seu estudo, a ritualização

destes é também um factor deveras importante para uma tentativa de compreender a

comunidade a quem estes vestígios pertenciam. No sítio em estudo, os vestígios de

ritualização encontrados, contam com a associação de artefactos aos enterramentos,

bem como a utilização de ocre vermelho.

Tal como afirma Mariana Diniz (2000:113), deve-se “ (…) reconhecer que as

comunidades neolíticas não constroem apenas uma nova conexão social com o espaço,

com a paisagem, e com os outros grupos humanos, mas estabelecem uma outra

relação com os mortos.” Ou seja, é evidenciada uma mudança de compreensão do

mundo e da dimensão da vida, bem como da própria morte, uma vez que é atribuído

“(…) um novo significado aos mortos, ou ao morto, uma vez que os enterramentos

aconteceram como actos únicos e isolados, observando nós, agora, um somatório de

acções individualizadas no tempo, que confere a estes enterramentos um carácter

“colectivo” que pode não ter sido a intenção primordial.” Não se pode, portanto, fazer

uma análise, ou uma leitura, de um sítio como a Gruta da Cerca do Zambujal, em que

existem testemunhos de necropolização e sua ritualização, de uma forma

despreocupada e elementar, pois estamos perante vestígios de sociedades com

perspectivas vivenciais dispares das actuais.

No entanto, não podemos esquecer que, mesmo hoje em dia, e tal como afirma

Mariana Diniz (2000:113), esta questão pode, ainda, ser levantada: “ (…) são os actuais

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cemitérios lugares de enterramento colectivo ou individual? A resposta só depende do

ângulo em que os observamos.”. Se esta é uma premissa mais que correcta a ser

levantada relativamente à actualidade, o mesmo deve ser aplicado às sociedades que

utilizaram este tipo de necropolização. Apesar de ainda se desconhecer “ (…) a

distância que separa estas grutas funerárias dos povoados dos seus utilizadores (…), no

entanto parece evidente a existência de duas áreas bem definidas: sítios de habitat;

lugares de enterramento. (…) A criação (…) e utilização de espaços reservados aos

mortos, diferentes dos habitat, espaços mergulhados nas trevas, limitados e finitos,

terá sido consequência de uma outra estrutura mental. (…) ” (Diniz, 2000:114). É com o

megalítismo que esta separação espacial se torna mais evidente, através da “ (…)

construção de uma barreira física, arquitectónica que encerra ou devolve às trevas

primordiais esse agente do caos que é o morto.” (Diniz, 2000:114).

Analisando, agora, os artefactos encontrados no sítio, nomeadamente

ferramentas, pode afirmar-se que “Uma ferramenta, além de ser funcional, poderia ter

acumulado outras funções.”, por exemplo, “Além de ser um objecto utilitário, um

machado de pedra poderia ser um símbolo de poder, de masculinidade. Poderia ser

ainda, cumulativamente, uma «peça de família», um objecto herdado de pai para

filho.” (Paulo Heitlinger, in http://algarvivo.com/arqueo/neolitico/pedra-ferramentas-

1.html, 29/06/2012). Nesta perspectiva, ao fazermos a análise dos materiais, o facto

de terem sido encontrados tantos machados e enxós permite-nos levantar uma série

de suposições (uma vez que nada mais é possível fazer-se, que inferir), nomeadamente

a de qual o ‘porquê’ do número destes artefactos. Poderiam estes ser considerados

como representações dos mundos masculino e feminino, em que o machado

representaria o masculino e a enxó seria o feminino? Seriam depositados aos pares?

Poderão estar associados a responsabilidades geralmente atribuídas, ou aos homens

(o machado, que requer mais força física no seu uso), ou às mulheres (a enxó mais

associada a trabalhos agrícolas, menos pesados).

Apenas podemos funcionar na área das suposições, pois as verdadeiras

intenções não nos são transmitidas pelos objectos. O que é uma realidade possível de

ser deduzida, é que os machados e as enxós seriam, “Artefactos de uso quotidiano que,

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uma vez colocados junto ao morto, adquirem um novo significado.” (Diniz, 2004:325)

De facto, uma vez mais, mesmo hoje em dia, quando se associa um objecto a um

morto, este adquire um novo significado. Ou seja, cada objecto associado a um morto

adquire um simbolismo e uma grandeza que, mesmo que ele continue a ser utilizado

no quotidiano, o faz ganhar um novo sentido: ou um misto de saudade e respeito,

quando os laços eram positivos, afectivos, ou um misto de desrespeito, ou de zanga e

alívio, quando os laços eram mais, ou menos negativos, associados ao seu significado

normal.

Este funcionamento por hipóteses aplica-se, logicamente, também às facas, às

cerâmicas e às contas encontradas, no contexto da necropolização da Gruta da Cerca

do Zambujal. Analisando as facas, de uma forma não funcional, mas simbólica, verifica-

se que têm um “ar familiar”, devido à sua similaridade física, o que nos poderia levar a

deduzir que poderiam estar todas juntas, como se alguém as tivesse produzido, numa

mesma fase de trabalho. Poder-se-ia, também, pôr a hipótese de cada uma das facas

corresponder a um determinado morto, para quem tivesse sido feita. Nesse caso,

poderá ainda pressupor-se que iriam ser feitos vários enterramentos secundários, aos

quais essas facas seriam destinadas.

Relativamente aos fragmentos de cerâmica encontrados, podem igualmente

ser levantadas várias suposições, não só quanto à sua verdadeira origem, mas também

quanto ao seu significado. Teriam eles sido colocados no local do enterramento, ou

teriam vindo nas terras colocadas neste, aquando do seu transporte, por exemplo, do

povoado em que a sua comunidade habitava? Seriam estes fragmentos uma

representação do todo – o próprio objecto - para a vida além morte? Não pode ser

colocada de lado a hipótese proposta por M. Varela Gomes (1994:84), de que “Alguns

restos de talhe e lascas residuais de sílex local, tal como fragmentos de cerâmica, com

aspecto rolado, sugerem a hipótese, (…), que os cadáveres terão, por vezes, sido

inumados com terras vindas dos povoados.”

Aquela prática parece documentar-se noutros arqueossítios, como seja o

sepulcro colectivo da Pedra Escorregadia (Vila do Bispo, Faro), a sepultura neolítica do

Marco Branco, bem como em outros de época posterior, da Idade do Bronze, na região

de Sines, do Algarve e de Huelva.

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A existência de fragmentos de cerâmica, que não colariam entre si, e a não

existência de fragmentos que identificassem um artefacto, ou mesmo de um artefacto

inteiro, é também interpretada como sendo um testemunho da forma simbólica de

como estes homens concebiam o outro mundo, o mundo dos mortos. Este seria quase

um espelho, o inverso do mundo dos vivos, sendo que, neste caso, uma porção de

cerâmica deste mundo, seria vista como o todo, seria uma representação desse todo.

Também os restos de ocre vermelho encontrados em alguns esqueletos têm, por si só,

um valor simbólico pois podem, pela cor do próprio ocre, “ (…) ser considerado uma

boa imitação do sangue e portanto assumir um simbolismo relacionado com a sua

perda fatal, ou com o que significaria simbolicamente a sua recuperação, por este

ritual.” (Gonçalves, 2001:166)

Várias questões, suposições ou premissas podem, portanto, ser levantadas,

quando se elabora estudo arqueológico sobre um sítio como a Gruta da Cerca do

Zambujal (…) “independentemente da não-funcionalidade específica que a maioria dos

artefactos assume neste contexto, estas representações de artefactos correspondem a

tipos funcionais reais: os machados, que cortam, a enxó, que desbasta a madeira,

descascando-a ou cortando-a em pranchas,

(…)

A funcionalidade dos artefactos votivos é sempre muito duvidosa, tratando-se

basicamente, na maior parte dos casos, de imagens de artefactos, mais propriamente

de artefactos não funcionais que representavam artefactos efectivamente funcionais.”

(Gonçalves, 2001:167).

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Índice Toponímico

Gruta do Lagar 2, 24, 25, 26, 72

Estação de Alcobertas 15

Gruta do Carrascal da Casa da Moura 15

Estação da Casa da Moura 16, 25, 26

Estação da Lapa Furada 16

Estação de Liceia 16, 28

Estação de Malgasta 16

Estação de Palmela 16

Estação da Serra de Monte Junto 16

Cabeço da Arruda 25, 26

Moita Sebastião 25, 26

Samouqueira 25

Gruta do Caldeirão 25

Gruta da Feteira 25

Grutas das Fontainhas 25

Roche Forte II 25

Pragança 28

Cova da Moura 28

Caverna dos Alqueves 56

Lapa do Fumo 56

Lapa do Bugio 56, 60, 65, 68

Gruta do Algar do Barrão 57, 68

Anta 1 das Vidigueiras 60

Anta do Poço da Gateira 60

Anta 2 da Comenda 60

Hipogeus da Quinta do Anjo 60

Gruta dos Ossos 60, 61, 65, 66, 68

Jazidas da Comporta 60, 65, 66, 67

Povoado do Carrascal 60, 65, 66

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Gruta dos Carrascos 60

Jazidas de Pontal 66

Jazidas da Malhada Alta 66

Jazida do Possanco 66

Dólmen da Palhota 67

Sepultura do Marco Branco 67, 82

Gruta do Algar do Bom Santo 68

Gruta do Lugar do Canto 68

Pedra Escorregadia 82

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Índice Antroponómico

Minaya 5

Vilelas 5

Lemonier 5

Nogueira 15, 55, 72, 81

O. da Veiga Ferreira 16

Lubell 16, 17, 24, 25, 26, 27, 29

Barbosa Sueiro 23, 80

Jackes 24, 25, 26, 27

Katina Lillios 27, 28

João Zilhão 27, 29, 56, 57

Joaquina Soares 56, 66, 67

Faustino Carvalho 57, 60, 61, 68, 71

V. Leisner 60

Mário V. Gomes 61, 70, 71, 73, 79, 82

João Luís Cardoso 65

Carlos Valera 66

Carlos T. Silva 66,67

Mariana Diniz 68, 80, 81, 82

Eliade 70

Vaz de Figueiredo 71

Bachelard 71

Calado 73, 79

Rutkowski 73

González-Alcalde 73

Lima 75, 79

Titiev 76

Godelier 76, 77

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Mlekuz 79

Gonçalves 79, 83