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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA
Paola Perine
AGRESSÃO ENTRE MURIQUIS (Brachyteles arachnoides) EM
CATIVEIRO
Curitiba
2011
Paola Perine
AGRESSÃO ENTRE MURIQUIS (Brachyteles arachnoides) EM
CATIVEIRO
Curitiba
2011
AGRESSÃO ENTRE MURIQUIS (Brachyteles arachnoides) EM
CATIVEIRO
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná como requisito parcial para a obtenção do grau de Medica Veterinária. Orientadora: Profa. Dra. Ana Laura Angeli.
Curitiba
2011
Reitor
Prof. Luiz Guilherme Rangel Santos
Pró-Reitor Administrativo
Prof. Carlos Eduardo Rangel Santos
Pró-Reitora Acadêmica
Profª. Carmen Luiza da Silva
Pró-Reitor de Planejamento
Prof. Afonso Celso Rangel Santos
Diretor da Faculdade de Ciências Biológicas e de Sa úde
Prof. João Henrique Faryniuk
Coordenadora do Curso de Medicina Veterinária
Profª. Ana Laura Angeli
Campus Prof Sydnei Lima Santos (Barigui) Rua Sydnei Antonio Rangel Santos CEP 82010-330 – Santo Inácio Curitiba – PR Fone (41) 3331-7700
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha mãe que acreditou na minha capacidade e no
meu sonho de ser veterinária. Ao meu pai pelo apoio durante todos os momentos da
minha vida. Ao meu querido Milton que sempre foi meu grande ídolo e incentivador.
A minha orientadora Ana que me ajudou muito na apresentação e modelagem do
mesmo. As minhas queridas amigas Lola, Emy, Nani, Tata, futuras vets e a todos os
grandes amigos que fiz na faculdade e que estarão ao meu lado para sempre. Aos
meus orientadores Marcelo e Manoel que passaram seus conhecimentos da melhor
maneira possível. As colegas de trabalho Cristina, Cristiane, Natalia, Nancy, Lu
Popp e a todos os colegas que direta e indiretamente fizeram parte desse momento.
AGRADECIMENTO
Agradeço imensamente a todos os funcionários do passeio público e do
zoológico de Curitiba. Agradeço minha família linda por me incentivar a estudar e
concretizar o sonho de ser veterinária. Agradeço todos os professores da UTP,
todos os colegas de sala e todos os amigos que amo muito. Obrigada Deus por me
dar tudo isso.
SUMÁRIO
1. LISTA DE ABREVIATURAS .................................................................................8
2. LISTA DE FIGURAS.............................................................................................9
3. LISTA DE QUADROS...........................................................................................9
4. RESUMO............................................................................................................10
5. abstract ...............................................................................................................11
6. APRESENTAÇÃO ..............................................................................................12
7. INTRODUÇÃO....................................................................................................14
8. LOCAL DE ESTÁGIO .........................................................................................14
9. ATIVIDADES REALIZADAS DURANTE O ESTÁGIO ........................................18
9.1. Cozinha...........................................................................................................18
9.2 Acompanhamento dos tratadores....................................................................18
9.3. Enriquecimento ambiental ..............................................................................19
9.4 Vistoria.............................................................................................................22
9.5. Confecção de dardos......................................................................................22
9.6. Atendimento ambulatorial, clínico e cirúrgico..................................................23
10. Agressão entre machos de muriqui (Brachyteles arachnoides) mantidos em
cativeiro – RELATO DE CASO..................................................................................31
10.1. Revisão de literatura .....................................................................................31
10.2. Relato de caso..............................................................................................37
10.3. Discussão .....................................................................................................41
11. CONCLUSÃO..................................................................................................42
12. REFERÊNCIAS...............................................................................................43
1. LISTA DE ABREVIATURAS
CRMV-PR Conselho Regional de Medicina Veterinária do Paraná
m² metros quadrados
ONGs organizações não governamentais
ml mililitros
PVPI polivinil pirrolidona
ha hectare
IBAMA Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos recursos
naturais renováveis
Vets médicas veterinárias
2. LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 ENTRADA DO PASSEIO PÚBLICO LOCALIZADO NO CENTRO
DE CURITIBA-PR.............................................................................
14
FIGURA 2 ZOOLÓGICO DE CURITIBA – PARQUE IGUAÇU. A.VISTA
FRONTAL. B. VISTA AÉREA ..........................................................
14
FIGURA 3 A: SALA DE ATENDIMENTO CLÍNICO E FARMÁCIA. B: SALA
DE ATENDIMENTO AMBULATORIAL ............................................
17
FIGURA 4
A.ALIMENTAÇÃO PARA DIVERSAS ESPÉCIES, APÓS O
PREPARO PELOS COZINHEIROS B.TRATADOR DO
ZOOLÓGICO LEVANDO O ALIMENTO ATÉ O RECINTO DOS
HIPOPÓTAMOS (HIPPOPOTAMUS AMPHIBIUS)..........................
19
FIGURA 5
EXEMPLOS DE ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL. A. VARAL DE
ARAME FIXADO NAS GRADES DO RECINTO, NA DIAGONAL,
CONTENDO FRUTAS E LEGUMES COLOCADO PARA OS
QUEIXADAS (TAYASSU PECARI) B. ABÓBORA RECHEADA
COM CARNE BOVINA COLOCADA PARA O LEÃO (PHANTERA
LEO), NA PLATAFORMA LOCALIZADA NO CENTRO DO
RECINTO, LOCAL ONDE O LEÃO DESCANSA C. PARA OS
CHIPANZÉS (PAN TROGLODYTES) CAIXA DE PAPELÃO
CONTENDO BARRA DE CEREAL, FRUTAS (COCO E MANGA),
CENOURAS, GARRAFINHA DE SUCO DE LARANJA E REVISTA
(INTUITO DE OBSERVAR A REAÇÃO PARA COM O OBJETO) .
D. FENO ELEVADO EM VARAIS DENTRO DO RECINTO PARA
AS LHAMAS (LAMA GLAMA) PARA MODIFICAR A FORMA DE
APRESENTAÇÃO DA ALIMENTAÇÃO DELAS E. BOLA DE
BASQUETE COM AROMA DE CANELA ESPALHADO PARA A
ONÇA (PANTHERA ONÇA) ............................................................
21
FIGURA 6 DARDO CONFECCIONADO UTILIZANDO SERINGAS
DESCARTÁVEIS E TUFO DE LÃ PRESO NA BORRACHA DO
EMBOLO E GÁS DE PRESSÃO .....................................................
23
FIGURA 7
EXEMPLO DE ATENDIMENTOS AMBULATORIAS
REALIZADOS. A: ATENDIMENTO AMBULATORIAL DE
MICROCHIPAGEM E DESVERMINAÇÃO DE PAPAGAIOS .B.
EMA COM ABSCESSO SENDO ATENDIDA A CAMPO, ONDE
FOI FEITO DRENAGEM DO ABSCESSO. C. MEDICAÇÃO EM
LEOA QUE ESTAVA COM A UNHA ENCRAVADA E MIÍASE ....... 24
FIGURA 8 EXEMPLOS DE PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS. A: CENTRO
CIRÚRGICO DE GRANDES ANIMAIS – UTP. B: TRANSPORTE
SAINDO DO ZOOLÓGICO COM O PACIENTE NA JAULA. C:
PACIENTE RETIRADO DO TRANSPORTE E ENCAMINHADO
AO CENTRO CIRÚRGICO. D: CENTRO CIRÚRGICO DE
GRANDES ANIMAIS – UFPR ..........................................................
25
FIGURA 9 FAMÍLIA DE BABUÍNOS SAGRADOS QUE FOI SEPARADA
APÓS O MACHO NÃO ACEITAR A PRESENÇA DOS FILHOTES
E UMA DAS MÃES APRESENTAR COMPORTAMENTO
IMATURO. NA FIGURA ESTÁ PRESENTE A MÃE QUE
ACEITOU O FILHOTE E SEU FILHOTE NO RECINTO ..................
30
FIGURA 10 MURIQUI (BRACHYTELES ARACHNOIDES) ................................ 33
FIGURA 11 LESÕES APRESENTADAS PELO MACACO MURIQUI APÓS
ATAQUE EM CATIVEIRO. A: LESÃO EM SUPERCÍLIO
ESQUERDO (SETA) B. LESÕES EM LÁBIO SUPERIOR
ESQUERDO (SETA) .C. LESÕES EM REGIÃO DE METACARPO
(SETA) .............................................................................................
38
FIGURA 12 FIGURAS MOSTRANDO AS LESÕES DE NECRÓPSIA
ENCONTRADAS NO MACACO MURIQUI. A: PRESENÇA DE
MIÍASE EM DIVERSOS FERIMENTOS COMO O DO
SUPERCÍLIO E DO LÁBIO INFERIOR; B: MIOCÁRDIO COM
ÁREAS ISQUÊMICAS VISÍVEIS MESMO PELO PERICÁRDIO; C:
HIPERPLASIA DE GLÂNDULAS SEMINAIS SUGERINDO QUE O
ANIMAL ENCONTRAVA-SE NO ÁPICE DO PERÍODO
REPRODUTIVO; D: FÍGADO NOZ MOSCADA COM ÁREAS
HEMORRÁGICAS E NECRÓTICAS QUE NOS MOSTRA O
ELEVADO NÍVEL DE CORTISOL; E: ENCÉFALO COM VASOS
CONGESTOS E ÁREA HEMORRÁGICA EM REGIÃO DE LOBO
FRONTAL; F: ÁREAS HEMORRÁGICAS EM REGIÃO
CEREBELAR (TÊMPORO-OCCIPITAL DIREITA) ENTRE
MENINGE E PAREDE ÓSSEA ........................................................
40
3. LISTA DE QUADROS
QUADRO 01 OS PROCEDIMENTOS ANUAIS DE DESVERMINAÇÕES QUE
OCORREM NO DECORRER DO ANO ASSIM COMO
MUDANÇAS DE RECINTOS, IDENTIFICAÇÃO E PESAGEM
(DESTE QUANDO NASCEM) QUE TODOS OS ANIMAIS POR
ÉPOCA A QUE SE REFEREM SÃO ATENDIDOS .....................
26
QUADRO 02 CASOS CLÍNICOS ACOMPANHADOS NO ZOOLÓGICO E NO
PASSEIO PÚBLICO NO PERÍODO COMPREENDIDO ENTRE
02 DE AGOSTO E 23 DE NOVEMBRO DE 2011........................
27 E 28
4. RESUMO
O estágio curricular supervisionado foi realizado no Departamento de Preservação e
Conservação da Fauna, na divisão de zoológico – abrangendo os setores do
Zoológico e Passeio Público, situados no município de Curitiba – PR. Durante o
período de 02 de agosto a 11 de novembro de 2011. Neste período foram realizadas
atividades nas áreas de Clínica Médica e Cirúrgica de Animais Silvestres. A rotina
compreendeu atividades de enriquecimento ambiental, vistoria, acompanhamento
dos tratadores e da cozinha, confecção de dardos, medicamentos, necropsias,
microchipagem e desverminação, sob a orientação dos profissionais Médicos
Veterinários Manoel Lucas Javorouski e Marcelo Bonat. O presente trabalho teve
como objetivo discutir o caso clínico acompanhado durante o período de estágio, por
ser um caso pouco comum de agressão de macacos Muriquis (Brachyteles
arachnoides).
Palavras-chave: comportamento, mono-carvoeiro, primatas.
5. ABSTRACT
The training period was performed at the Departamento de Pesquisa e Conservação
da Fauna, Zoológico and Passeio Público - Curitiba – PR, from 02 August to 11
November. During the training, activities about Wild Animals Medicine and Surgery
were carried out. Routine consisted of activities about environmental enrichment,
survey, monitoring of handlers and kitchen, making darts, autopsy, microchip and
deworming. All activities were guided DMV. Manoel Lucas Javorouski and DMV.
Marcelo Bonat. This study aimed to discuss the case history followed during the
probationary period, being an unusual case of aggression of muriqui (Brachyteles
arachnoides).
Keywords: behavior, primates.muriqui
6. APRESENTAÇÃO
Este Trabalho de Conclusão de Curso (T.C.C.) apresentado ao curso de
Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde da
Universidade Tuiuti do Paraná, pela graduanda Paola Perine, como requisito parcial
para a obtenção do título de Médica Veterinária, é composto pelo relato do caso de
agressão entre muriquis (Brachyletes arachnoides) em cativeiro e pelo Relatório de
Estágio, no qual são descritas atividades realizadas durante o período de 02 de
agosto a 11 de novembro de 2011 no Zoológico Municipal de Curitiba e Passeio
Público, localizados no município de Curitiba – PR.
14
7. INTRODUÇÃO
O estágio curricular foi realizado no Departamento de Pesquisa e
Conservação da Fauna nos setores: Zoológico e Passeio Público, orientado pelos
Médicos Veterinários Manoel Lucas Javorouski e Marcelo Bonat, tendo como
objetivo acompanhar a rotina desses setores, dos técnicos e tratadores, a
importância do trabalho dos médicos veterinários e biólogos, bem como acompanhar
as etapas de preparação de alimento, atendimentos clínicos cirúrgicos, manejo de
recinto, técnicas de enriquecimento ambiental e todos os elementos necessários
para o bem-estar animal.
8. LOCAL DE ESTÁGIO
O estágio foi realizado no Departamento de Pesquisa e Conservação da
Fauna na Secretaria Municipal do Meio Ambiente, setores Zoológico e Passeio
Público, no período de 02 de agosto de 2011 a 11 de novembro de 2011.
A cidade de Curitiba conta com dois parques abertos à visitação pública, que
abrigam coleções de animais de variados grupos e espécies: o Passeio Público -
inaugurado em 1886 (Figura 1) e o Zoológico de Curitiba - inaugurado em 1982
(Figuras 2A e 2B) como um dos sete setores do Parque Iguaçu, ocupando uma área
de 530 mil m² e atualmente, está entre os cinco mais conceituados do Brasil.
15
FIGURA 1: ENTRADA DO PASSEIO PÚBLICO
Fonte: Barros
FIGURA 2: ZOOLÓGICO DE CURITIBA – PARQUE IGUAÇU. A.VISTA FRONTAL. B. VISTA AÉREA.
A B
Fonte: http://blogdati.com/2009/05/07/zoo-curitiba/ Fonte: google earth
O acervo do Departamento de Zoológico tem aproximadamente 2800
espécimes, representadas por aves, diversos grupos de mamíferos exóticos e
nativos, sobressaindo os grupos de primatas, répteis e aquários disponíveis à
visitação pública nos dois parques.
16
Concomitante aos trabalhos de exposição de animais, envolvendo desde a
construção de recintos adequados até a aquisição de novos animais, existe uma
série de programas de reprodução com enfoque preferencial aos animais nativos e
em risco de extinção, buscando inclusive parcerias e desenvolvendo pesquisas junto
a Universidades e ONGs. O corpo técnico mantém também a reserva do acervo
além dos cuidados especiais dos animais senis.
A visitação é gratuita, o que permite ter um afluxo de pessoas bem
representativo, e apesar das flutuações existirem, já se registrou em torno de 10.000
pessoas em um final de semana. No caso do Passeio Público o parque é também
passagem de pessoas que transitam pela cidade e aproveitam para admirar os
animais (SECRETARIA, 2011).
Por meio da Divisão de Dinamização Cultural são realizadas atividades como
o Acantonamento Ecológico com estudantes, quando são feitas palestras, visitas
orientadas, apresentações de peças teatrais, sempre focando a sensibilização dos
visitantes para a importância da conservação ambiental. Também existem atividades
educacionais efetuadas nas escolas como o Zoo vai a Escola, quando são
apresentadas exposições de animais taxidermizados e peças como crânios, patas e
bicos, repassando informações sobre as mesmas e proferidas palestras sobre a
importância da preservação dos recursos naturais (SECRETARIA, 2011).
17
Para cuidados médicos de todas essas espécies, está presente no local o
setor de atendimento dos casos clínicos (Figuras 3A e 3B). A cozinha tanto do
passeio público quanto do zoológico é equipada com câmara fria, bancadas de
corte, dispensa para estoque de alimentos, fogões e utensílios.
FIGURA 3: A. SALA DE ATENDIMENTO CLÍNICO E FARMÁCIA DO ZOOLÓGICO. B. SALA DE ATENDIMENTO AMBULATORIAL DO ZOOLÓGICO.
A B
Fonte: Bonat, 2011
18
9. ATIVIDADES REALIZADAS DURANTE O ESTÁGIO
Consiste na rotina de acompanhamento de todos os animais diariamente,
desde o cotidiano preparo dos alimentos, quanto aos também realizados,
atendimentos ambulatoriais e a campo. As atividades diárias e os atendimentos
realizados durante o estagio seguem descritos.
9.1. COZINHA
Como a nutrição é balanceada, diariamente todos os alimentos oferecidos
seguem uma planilha com alimentos diferenciados, cortados e preparados por
cozinheiros conforme a anatomia e exigência do animal (Figura 4A), acompanhada
de profissionais tratadores específicos para cada setor (Figura 4B).
9.2 ACOMPANHAMENTO DOS TRATADORES
A convivência diária que os tratadores têm com os animais pelas rotinas tanto
de alimentação quanto a observação constante é de suma importância. São eles
que na ausência do medico veterinário no local estão observando o acervo e
facilmente identificam algum tipo de alteração no comportamento dos animais e
assim tomam as providências necessárias e encaminham o caso aos médicos
veterinários.
19
FIGURA 4: A. ALIMENTAÇÃO PARA DIVERSAS ESPECIMES, APÓS O PREPARO PELOS COZINHEIROS. B. TRATADOR DO ZOOLÓGICO LEVANDO O ALIMENTO ATÉ O RECINTO DOS HIPOPÓTAMOS (HIPPOPOTAMUS AMPHIBIUS)
A B
9.3. ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL
Antes da implementação de um programa de enriquecimento, algumas
medidas transmitidas pelos funcionários, médicos veterinário ou biólogos, foram
consideradas. Algumas das técnicas utilizadas, o tempo gasto, a espécie, a idade, o
sexo, a história do individuo que será tratado é avaliado e deverá constar a resposta
do animal diante das oportunidades de enriquecimento, o custo e a durabilidade,
tampouco discutir a eficiência dos seus diferentes tipos de apresentação.
Durante os meses de estágio no passeio público e no Zoológico acompanhou-
se o projeto de enriquecimento ambiental de Natalia Martins, voluntária e Médica
Veterinária. Entre os objetivos do seu projeto está a diminuição do estresse e a
quebra da rotina dos animais em cativeiro, evitando o surgimento de doenças em
consequência da baixa imunidade, garantindo o bem-estar animal. Entre os
enriquecimentos acompanhados, estão descritos alguns: varal de arame fixado nas
grades do recinto, na diagonal, contendo frutas e legumes colocado para os
Queixadas (Tayassu pecari) (Figura 5A), abóbora recheada com carne bovina
colocada para o Leão (Phantera leo), na plataforma localizada no centro do recinto,
local onde o Leão descansa (Figura 5B), para os Chipanzés (Pan troglodytes) caixa
20
de papelão contendo barra de cereal, frutas (coco e manga), cenouras, garrafinha
de suco de laranja e revista (intuito de observar a reação para com o objeto), feno
elevado em varais dentro do recinto para as Lhamas (Lama glama) (Figura 5C) para
modificar a forma de apresentação da alimentação delas, bola de basquete com
aroma de canela espalhado para a onça (Panthera onça) (Figura 5D).
21
FIGURA 5: EXEMPLOS DE ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL. A. VARAL DE ARAME FIXADO NAS GRADES DO RECINTO, NA DIAGONAL, CONTENDO FRUTAS E LEGUMES COLOCADOS PARA OS QUEIXADAS (TAYASSU PECARI); B. ABÓBORA RECHEADA COM CARNE BOVINA COLOCADA PARA O LEÃO (PHANTERA LEO), NA PLATAFORMA LOCALIZADA NO CENTRO DO RECINTO, LOCAL ONDE O LEÃO DESCANSA; C. PARA OS CHIPANZÉS (PAN TROGLODYTES) CAIXA DE PAPELÃO CONTENDO BARRA DE CEREAL, FRUTAS (COCO E MANGA), CENOURAS, GARRAFINHA DE SUCO DE LARANJA E REVISTA (INTUITO DE OBSERVAR A REAÇÃO PARA COM O OBJETO);D. FENO ELEVADO EM VARAIS DENTRO DO RECINTO PARA AS LHAMAS (LAMA GLAMA) PARA MODIFICAR A FORMA DE APRESENTAÇÃO DA ALIMENTAÇÃO DELAS; E. BOLA DE BASQUETE COM AROMA DE CANELA ESPALHADO PARA A ONÇA (PANTHERA ONÇA).
A B
C
D E
22
9.4 VISTORIA
Durante as visitações diárias pelos recintos é verificada a saúde dos animais.
É realizada por técnicos a fim de avaliar se há algum animal doente, como os
membros do grupo estão se comportando, as condições do recinto, alimentação e
toda a avaliação para garantir a saúde e a segurança, tanto dos animais quanto do
público visitante. As vistorias são realizadas durante o período da manha e no
período da tarde, por veterinários, biólogos e estagiários.
9.5. CONFECÇÃO DE DARDOS
Para confeccionar os dardos (Figura 6) foram utilizados materiais como:
seringas e agulhas hipodérmicas estéreis; sinalizador de lã; capa de fio de luz; solda
de estanho e gás de pressão.
As seringas compõem o corpo do dardo, para usar a borracha e uma parte do
plástico. Retira-se o embolo da primeira seringa e posicionando-o dentro da segunda
seringa (formando a câmara que irá conter o gás), sendo fixado por duas agulhas
hipordérmicas de forma perpendicular, que serão lixadas para remover possíveis
fragmentos que podem restar no local e que não devem se misturar com o
medicamento acidentalmente. O estabilizador de vôo e o sinalizador são para indicar
onde está o dardo e geralmente de cor bem chamativa. O tufo de lã é preso na
borracha do embolo. Já a agulha hipodérmica que será introduzida no animal é
montada manualmente, confeccionando uma perfuração auxiliar na lateral da ponta
da agulha utilizando uma lima e depois ocluindo a ponta da agulha com a solda de
estanho. Usando ainda um pequeno pedaço de capa de fio de luz para tampar a
nova perfuração que só sairá quando a agulha penetrar na pele do animal,
deslizando para trás, abrindo passagem para o medicamento sair.
23
FIGURA 6: DARDO CONFECCIONADO UTILIZANDO SERINGAS DESCARTÁVEIS E TUFO DE LÃ PRESO NA BORRACHA DO EMBOLO E GÁS DE PRESSÃO
.
Fonte: Martins, 2009
9.6. ATENDIMENTO AMBULATORIAL , CLÍNICO E CIRÚRGICO
No ambulatório são realizadas as atividades de rotina como microchipagem,
desverminação e atendimentos clínicos (Figura 7), principalmente para animais
menores, como aves, pequenos mamíferos e filhotes.
O atendimento a campo ocorre quando a partir de uma emergência clínica,
médicos veterinários optam por atender o animal no próprio local, para evitar os
risco da contenção. Faz-se isolando o animal ou afastando-o dos demais
companheiros de recinto. Principalmente animais grandes, com dificuldades de
locomoção, ou por membros acometidos ou pelo próprio peso do animal que
impossibilitam seu atendimento ambulatorial (Figuras 7A, 7B e 7C).
24
FIGURA 7: EXEMPLO DE ATENDIMENTOS AMBULATORIAS REALIZADOS. A: ATENDIMENTO AMBULATORIAL DE MICROCHIPAGEM E DESVERMINAÇÃO DE PAPAGAIOS; B: EMA COM ABSCESSO SENDO ATENDIDA A CAMPO, ONDE FOI FEITO DRENAGEM DO ABSCESSO; C: MEDICAÇÃO EM LEOA QUE ESTAVA COM A UNHA ENCRAVADA E MIÍASE.
A B
C
Os atendimentos cirúrgicos são encaminhados para os hospitais das Universidades Tuiuti do Paraná (UTP) e Federal do Paraná (UFPR) (Figuras 8A, 8B, 8C e 8D) pelo transporte do próprio departamento junto com a equipe de médicos veterinários responsáveis pelos atendimentos da clinica médica.
25
FIGURA 8: EXEMPLO DE PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS. A: CENTRO CIRÚRGICO DE GRANDES ANIMAIS – UTP; B: TRANSPORTE SAINDO DO ZOOLÓGICO COM O PACIENTE NA JAULA; C: PACIENTE RETIRADO DO TRANSPORTE E ENCAMINHADO AO CENTRO CIRÚRGICO; D: CENTRO CIRÚRGICO DE GRANDES ANIMAIS – UFPR.
A B
C D
Os atendimentos da clínica médica durante o período de estágio curricular
estão relacionados nos Quadros 01 e 02. Os procedimentos anuais de
desverminações que ocorrem no decorrer do ano assim como mudanças de
recintos, identificação e pesagem (deste quando nascem) que todos os animais por
época a que se referem são atendidos (QUADRO 1) e todos os casos clínicos
(QUADRO 02).
26
QUADRO 1 – ATIVIDADES ROTINEIRAS DO DEPARTAMENTO
Espécie Casuística Aplicação Lontra (Lontra longicaudis) Aplicação de microchip. Dia 22/09 Papagaio peito-roxo (Amazona vinacea) Coleta de sangue para sexagem e aplicação de microchip Dia 06/10 Papagaio-do-espírito-santo (Amazona rhodochorita)
Desverminação, coleta de sangue e microchipagem Dia 06/10
Gato Maracajá (Leopardus wiedii) Vacinação Dia 22/09 Jaguatiricas (Leopardus pardalis) Vacinação Dia 22/09 Leoas (Panthera Leo Vacinação Dia 22/09 Gato-do-mato (Leopardus tigrinus) Vacinação Dia 22/09 Papagaio da cara-roxa (Amazona brasiliensis) Desverminação e microchipagem Dia 06/10 Jacu do nordeste (Penelope jacucaca) Necrópsia Dia 03/11 Bisões (Bison bonasus) Desverminação Dia 20/10 Cervicapras (Antilope cervicapra) Desverminação Dia 20/10 Tucano de bico preto (Ramphastus vitellinus) Desverminação Dia 17/10 Tucano de bico verde (Ramphastus dicolorus) Desverminação Dia 17/10 Tucano-toco (Ramphiastos toco) Desverminação Dia 17/10 Baitaca (Pionus maximilliani) Necropsia Dia 13/10 Girafas (Giraffa camelopardalis) Desverminação Dia 29/09
27 QUADRO 2 - CASOS CLÍNICOS ACOMPANHADOS NO ZOOLÓGICO E NO PASSEIO PÚBLICO NO PERÍODO
COMPREENDIDO ENTRE 02 DE AGOSTO E 11 DE NOVEMBRO DE 2011.
Espécie Caso clínico Tratamento Evolução Araçari (Pteroglossus castanotis)
Respiração ofegante encontrado no chão do recinto dia 16/08.
Antibioticoterapia e antiinflamatório dias 16/17/18-08.
Recuperação
Curica-roxa (Pionus fuscus)
Encontrado caído no coxo do recinto, suspeita de briga com outras aves do recinto
Feito sutura na pele próximo ao bico inferior no dia 16/08, Antibioticoterapia e antiinflamatório nos dias 16/17/18-08.
Recuperação
Aracuã (Ortalis canicollis)
Encontrado dia 03/10 morto no recinto, suspeita de susto ou atrito no espaço.
Necropsia revela rompimento do fígado e hemorragia no trato respiratório.
Óbito
Babuíno Sagrado (Papio hamadryas)
No dia 28/09 contenção química para retirada do filhote de quatro dias de vida que estava sendo maltratado
Mãe anestesiada com dissociativo via dardo e separado filhote com vida
Recuperação
Leoa (Phantera Lheo)
No dia 20/10 foi encontrada mancando e com histórico de dois dias de observações onde verificou-se a unha não gasta e com ferimento no coxim do membro torácico direito, perfurado pela unha. Presença de miíase.
Contenção química, corte das unhas, retirada da miíase, anti-sepsia, antibioticoterapia, intiinflamatório.
Recuperação
Muriqui/Mono- carvoeiro (Brachyteles arachnoides)
No dia 07/09 tratador informou que um dos machos estava apático e com anorexia. Novo acontecimento, com mutilações no dia 08/10.
Entregue ao tratador antibiótico comprimido para a alimentação, Durante 7 dias mas encontrado com mutilações, tratamento das
Óbito
28
feridas 08-09/10 e no óbito dia 10 necropsia.
Queixada (Tayassu pecari)
No dia 16/08 animal apático No mesmo dia medicado com analségico, antiinflamatório e vitamina B1
Recuperação
Chipanzé (Pan troglodytes)
Tumor diagnosticado no abdômen, encaminhado ao centro de diagnóstico e ultrassom da UFPR onde após a anestesia teve parada cardíaca.
Óbito
Cervicapra (Antilope cervicapra)
Encontrada apática e com diarréia enegrecida dia 20/10
Fluidoterapia e antibioticoterapia Óbito
Carcara (Polyborus plactus)
Animal de vida livre encontrado caído nos arredores do passeio público 09/09
Antibioticoterapia e encaminhado para a rede de proteção animal
Recuperação
Teiu (Tupinambis merianae)
Animal de vida livre encontrado caído nos arredores do passeio público 08/09
Antibioticoterapia e encaminhado para a rede de proteção animal
Recuperação
Onça (Pantera onca)
Animal com histórico neurológico desde a amamentação. Estava com ferimentos nas narinas no dia 17/10 devido se mutilar nas grades.Animal estressado.
Administrado ansiolítico Haldol Decanoato no dia 31/10 e o tratamento repete uma vez por mês.
Recuperação
Ema (Rhea americana)
No dia 21/08 abscesso na articulação tíbio társica esquerda; asa esquerda caída, suspeita de fratura proximal de úmero.
Realizada imobilização e punção do abscesso no dia 21/08, fluocortan, administrada vitamina e retirada a mobilização, feita nova limpeza e punção no dia 22/09.
Recuperação
29
Nos casos clínicos acompanhados durante o período de estágio, foi
observada uma frequência maior de doenças bacterianas e de causas
desconhecidas, bem como causadas por relacionamento e comportamento.
Podemos citar diversas literaturas que dão referencia a estresse como uma
precursora de baixa de imunidade e conseqüentemente doença causada por
diversos vetores.
Como referência do comportamento, podemos citar o comportamento
reprodutivo como um fator relevante para suspeitas de doenças nos animais que
passaram por um período de estresse e transtorno agressivo. No comportamento de
primatas observou-se que a presença de grupos pequenos em um espaço
apropriado pode trazer um ambiente de conflitos entre espécies do mesmo gênero,
principalmente entre machos, chamando a atenção para dois casos em especial,
como do muriqui que se tornou o único macho do recinto, após machucar um dos
seus parentes no mês de setembro de 2011, deixando lesões graves no momento
que a equipe técnica do Passeio Público de Curitiba atendeu o animal.
Casos que merecem atenção sobre o comportamento em cativeiro são os da
família de Babuínos sagrados (Figura 9) que tiveram dois casos recentes, o primeiro
como do Babuíno nascido em 22 de novembro e já no primeiro mês de vida sofreu
agressão dos parentes em 17 de dezembro de 2010, com menos de um mês de
idade, foi separado da família e este animal está com paraplegia após conflito de
recinto com o chefe da família; assim como o caso acompanhado desde o começo
do período de estagio, do babuíno recém nascido de outubro de 2011, separado da
mãe com apenas quatro dias, também por motivo comportamental.
30
Segundo Ferraz (2011), o comportamento sexual é, na maioria das espécies,
sazonal, dependente de maturação, evocado pela presença de estímulos
específicos, e é totalmente dependente de níveis plasmáticos de esteróides sexuais.
O ciclo reprodutivo é regulado também pela sazonalidade e pela duração do
fotoperíodo diário. Durante a primavera e o verão, o aumento do fotoperíodo inibe a
glândula pineal, retirando o tônus inibitório da função testicular. Observa-se, então,
aumento nos níveis de testosterona, que ativa o comportamento de agressividade,
sobretudo o comportamento agonístico e de territorialização, e a resposta sexual.
FIGURA 9 - FAMÍLIA DE BABUÍNOS SAGRADOS QUE FOI SEPARADA APÓS O MACHO NÃO ACEITAR A PRESENÇA DOS FILHOTES E UMA DAS MÃES APRESENTAR COMPORTAMENTO IMATURO. NA FIGURA ESTÁ PRESENTE A MÃE QUE ACEITOU O FILHOTE E SEU FILHOTE NO RECINTO
31
10. AGRESSÃO ENTRE MACHOS DE MURIQUI ( BRACHYTELES
ARACHNOIDES) MANTIDOS EM CATIVEIRO – RELATO DE CASO
O presente trabalho teve como objetivo relatar um caso de agressão entre
machos de macacos muriquis mantidos em cativeiro no Passeio Público – Curitiba –
PR.
10.1. REVISÃO DE LITERATURA
O Muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides) com nomes vulgares de Muriqui,
Mono-carvoeiro, Mono, Miriqui, Buriqui, Buriquim, Mariquina ou Muriquina é o
macaco da classe Mammalia, ordem primates e da familia Atelidae (GEOFFROY,
1806 apud KOEHLER et al., 2002). Tem como categoria proposta para o estado do
Paraná de criticamente ameaçado. Trata-se de uma espécie endêmica da mata
Atlântica, ocorrendo tipicamente entre 200m e 1.200m de altitude (SUMÁRIO, 2011).
Ameaçada em toda a sua área de ocorrência e com apenas uma população
atualmente conhecida no estado do Paraná, que pode ser considerado o limite sul
de sua distribuição. Esta população possui densidade baixa e vive num fragmento
de floresta relativamente pequeno e fora de qualquer unidade de conservação
federal ou estadual (KOEHLER et al., 2002).
No Brasil, uma expressiva quantidade desses animais é encontrada em
cativeiro tanto em zoológicos como em criadores particulares (NUNES e CATÃO
DIAS, 2007). O muriqui é o maior mamífero endêmico do país e o maior primata das
Américas (Figura 10). Machos e fêmeas adultos pesam, respectivamente, 15 e 12 kg
(NISHIMURA et al., 1988) e medem cerca de 80 cm em média, exceto a cauda, cujo
comprimento varia entre 65 e 80 cm. Sua pelagem é espessa e de cor bege por todo
o corpo. Possui um anel de pêlos mais claros ao redor da face, que tem a pele
32
negra. A pele das mãos, dos pés e a planta da cauda também são negras. O polegar
é vestigial ou ausente (AURICHIO, 1995). A cabeça é arrendondada, a face
achatada, os braços longos, os machos possuem um escroto avantajado e as
fêmeas um clitóris proeminente (SUMARIO, 2011).
Não apresentam dimorfismo sexual, mas existem diferenças morfológicas e
genéticas entre as duas espécies. Os Muriquis-do-norte, Brachyteles hypoxanthus,
geralmente tem, quando adultos, a face e a genitália manchadas de rosa e branco,
devido a uma progressiva despigmentação ao longo da vida, e possuem um polegar
vestigial. Já os Muriquis-do-sul, Brachyteles arachnoides, não sofrem essa
despigmentação, mantendo a coloração facial e genital inteiramente preta, além de
não possuírem qualquer vestígio de polegar (SUMARIO, 2011).
A distribuição conhecida para esta espécie abrangia a Bahia e a região
Sudeste, mas no Paraná foi recentemente registrada no município de Castro
(KOEHLER et al., 2002). Também existem relatos de ocorrência em Jaguariaíva e
Morro Três Pontões no município de Guaraqueçaba (MARTUSCELL et al., 1994). A
possibilidade de registro anterior no estado foi citada por Aguirre (1971). Já a
presença e situação em unidades de conservação até o momento não foi registrada
em unidades de conservação do estado do Paraná.
33
FIGURA 10: MURIQUI (BRACHYTELES ARACHNOIDES)
Fonte:http://noticias.r7.com/rio-dejaneiro/noticias/macaco-muriqui-pode-ser-simbolo-
da-olimpiada-20101110.html
No seu habitat natural, arborícola e diurno, locomovendo-se principalmente
com o auxílio dos braços e da cauda, apresenta comportamento essencialmente
social e os grupos são compostos por machos e fêmeas adultos, jovens e filhotes, já
tendo sido observados grupos de até 38 indivíduos na mesma área. No momento da
alimentação o grupo pode se dispersar por até um quilômetro, mantendo contato
vocal. Os machos convivem harmoniosamente sem dominância evidente, que
aparentemente ocorre apenas sobre as fêmeas adultas. O comportamento dos
componentes do grupo é altamente sociável, não havendo agressões físicas ou
disputas. As vocalizações dos muriquis são elaboradas e frequentes bem como os
membros do grupo geralmente se dispersam durante as suas atividades. Assim, as
vocalizações parecem ser uma importante forma de manter o contato e a coesão do
grupo (MIKICH e BÉRNILS, 2004).
34
Os machos permanecem durante toda a vida em seu grupo familiar, enquanto
as fêmeas se dispersam ainda jovens, com cinco a sete anos de idade, quando
estão aptas a reproduzir. A gestação varia entre sete e oito meses, com intervalos
de aproximadamente três anos entre os partos, nascendo apenas um filhote
(raramente dois), que é carregado exclusivamente pela fêmea até o desmame, que
ocorre entre 18 e 24 meses. Os machos atingem a maturidade sexual aos seis anos
de idade (STRIER, 1986; STRIER et al., 2002). Os muriquis vivem até 20 anos. A
maior parte de sua alimentação é constituída de brotos e folhas maduras, mas
frutos, sementes e flores também participam de sua dieta. Utilizam ainda como
alimento cipós, lianas, epífitas e insetos, de acordo com a disponibilidade sazonal.
Apresentam seletividade e alto grau de manipulação dos alimentos (MIKICH &
BÉRNILS, 2004).
Os dados populacionais são escassos e Aguirre (1971) estimou que a
população total de muriquis foi reduzida de 400.000 para 3.000 indivíduos. Estudos
posteriores estimaram uma população em torno de 1.158 indivíduos distribuídos
entre Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo, o que representa uma redução de
61% em 27 anos. As populações sobreviventes atualmente habitam remanescentes
de florestas primárias e secundárias antigas. (KOEHLER et al., 2002). As matas em
estágio primário praticamente não existem mais. Além da destruição do habitat, o
muriqui tem sido, historicamente, uma das principais espécies visadas para caça ao
longo de toda a sua área de distribuição e isso levou essa espécie a uma situação
muito próxima da extinção (MIKICH & BÉRNILS, 2004).
No levantamento do Plano de Ação recém elaborado pelo governo da
presidente Dilma Rousseff, estima-se que restem menos de 1.000 indivíduos para
Brachyteles hypoxanthus (muriqui-do-norte) e menos de 2.000 para Brachyteles
35
arachnoides (muriqui-do-sul). Essas duas espécies constam na Lista Oficial da
Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (MEIO AMBIENTE, 2003).
Medidas para conservação segundo Mikich & Bérnils (2004) seria efetivar
proteção ao muriqui e estimular o desenvolvimento de pesquisas na sua área de
ocorrência. Após as pesquisas iniciadas em varias áreas, não aconteceram registros
de caça furtiva de Brachyteles e a população praticamente dobrou em número. Além
disso, tendo em vista a relativa tolerância desta espécie a ambientes em processo
de sucessão, é possível o aumento da área efetiva das porções fragmentadas de
habitat através de medidas que viabilizem a regeneração da vegetação natural. A
pequena população recém descoberta no Paraná vem sendo monitorada com o
objetivo de propor medidas de conservação (KOEHLER et al., 2002).
O termo estresse foi usado inicialmente na física para traduzir o grau de
deformidade sofrido por um material quando submetido a um esforço ou tensão.
Hans Selye (1907 – 1982) transpôs esse termo para Medicina e Biologia,
significando esforço de adaptação do organismo para enfrentar situações que
considere ameaçadora ao seu bem estar e a sua vida (SELYE, 1982; BALLONE,
2002 apud JAVOROUSKI, 2009).
Os agentes estressantes podem ser classificados em somáticos (originários
de fatores orgânicos frente ao estímulo de pressão); psicológicos (fúria ou
frustração), comportamentais (disputa territorial ou hierárquica, falta de contato
social ou privacidade, ameaça a segurança ou integridade física e emocional do
próprio individuo ou outros do grupo) ou diversos (afecções clinico cirúrgicas e
confinamento) (JAVOROUSKI, 2009).
36
São descritos como mostra a literatura sendo animais pacíficos, não
ocorrendo agressões ou disputas físicas intraespecífica por acasalamento, alimento
ou território no seu habitat natural. Porém, na literatura foram relatados casos de
agressão física entre indivíduos de vida livre praticada por coalisões de machos
contra machos isolados. Os ataques chegam a causar lesões graves e até fatais.
Já em cativeiro, no Zoológico Municipal de Curitiba foram relatados dois
casos de agressão. Em 2005 havia um grupo de sete indivíduos de muriqui em
cativeiro, sendo três machos adultos e quatro fêmeas. Com relação aos machos,
dois vieram de uma apreensão do IBAMA/PR em 1997 (provavelmente pai e filho) e
o terceiro nasceu em cativeiro. Os animais estavam alojados no Passeio Público -
Curitiba/PR, em uma ilha com 798 m², arborizada por todo sua extensão,
principalmente com espécies exóticas como o alfeneiro (Ligustrum vulgare) e o pau-
incenso (Pittosporum undulatum), mas também com árvores nativas. Neste ano de
2011, o macho de idade intermediária atacou violentamente o macho mais velho,
causando lesões graves que debilitaram muito o animal. O mesmo foi acometido por
uma pneumonia e mesmo após tratamento veio a óbito em 29/07/05. Nesta
ocorrência o macho agressor teve um dedo do membro pélvico esquerdo amputado.
(BONAT et. al., 2005).
37
10.2. RELATO DE CASO
Um novo caso de agressão entre machos foi observado na mesma ilha em
setembro de 2011, em um grupo diferente composto de dois irmãos machos e uma
fêmea, todos adultos. Nesta ocorrência, o macho mais velho agrediu o mais novo,
macho nascido em 05/10/00, com o nº de identificação de microchip
977200001055095, causando-lhe graves lesões. Ao ser encontrado no recinto caído,
foram observadas lesões na face; pálpebra (Figuras 11A e 11B) e lábio superior, na
face medial de membro pélvico esquerdo; nos membros torácicos, principalmente na
mão esquerda com exposição e metacarpo e falange (Figura 11C); em estado semi
comatoso.
38
FIGURA 11: LESÕES APRESENTADAS PELO MACACO MURIQUI APÓS ATAQUE EM CATIVEIRO. A: LESÃO EM SUPERCÍLIO ESQUERDO (SETA); B: LESÕES EM LÁBIO SUPERIOR ESQUERDO (SETA); C: LESÕES EM REGIÃO DE METACARPO (SETA).
A B
C
O macho agredido foi separado em uma área de isolamento e manejo para
realização de fluidoterapia com 500 ml de Ringer com Lactato por via subcutânea,
limpeza dos ferimentos com PVPI tópico, administração de antibiótico enrofloxacina
e antiinflamatório cetoprofeno. O animal veio a óbito 48 horas depois de constatada
a agressão física.
O animal foi encaminhado à Universidade Tuiuti do Paraná – Curitiba/PR,
para realização da necropsia. Nas peças de necrópsia foram observadas as
seguintes alterações: presença de miíase em diversos ferimentos (Figura 12A);
edema na região abdominal ventral; lacerações com exposição óssea em região
39
metacarpo falangeana esquerda; áreas enfisematosas no lobo pulmonar
diafragmático e atelectasia nos bordos, pós e durante morte; miocárdio com áreas
isquêmicas (Figura 12B); hiperplasia de glândulas seminais sugerindo que o animal
encontrava-se no ápice do período reprodutivo (Figura 12C); fígado noz moscada
com áreas hemorrágicas e necróticas focais e congestas que nos mostra o elevado
nível de cortisol (Figura 12D); encéfalo com vasos congestos e área hemorrágica em
região de lobo frontal (Figura 12E); áreas hemorrágicas em região cerebelar
(Têmporo-occipital direita) entre meninge e parede óssea, (Figura 12F); hipoplasia
pancreática.
As lesões de coração, pulmões e fígado encontradas na necropsia sugerem
que um quadro de estresse agudo podem ter contribuído para a morte do animal. As
lesões neurológicas são significativas para terem agravado o quadro clínico do
animal.
FIGURA 12: FIGURAS MOSTRANDO AS LESÕES DE NECRÓPSIA ENCONTRADAS NO MACACO MURIQUI. A: PRESENÇA DE MIÍASE EM DIVERSOS FERIMENTOS COMO O DO SUPERCÍLIO E DO LÁBIO INFERIOR; B: MIOCÁRDIO COM ÁREAS ISQUÊMICAS VISÍVEIS MESMO PELO PERICÁRDIO; C: HIPERPLASIA DE GLÂNDULAS SEMINAIS SUGERINDO QUE O ANIMAL ENCONTRAVA-SE NO ÁPICE DO PERÍODO REPRODUTIVO; D: FÍGADO NOZ MOSCADA COM ÁREAS HEMORRÁGICAS E NECRÓTICAS QUE NOS MOSTRA O ELEVADO NÍVEL DE CORTISOL; E: ENCÉFALO COM VASOS CONGESTOS E ÁREA HEMORRÁGICA EM REGIÃO DE LOBO FRONTAL; F: ÁREAS HEMORRÁGICAS EM REGIÃO CEREBELAR (TÊMPORO-OCCIPITAL DIREITA) ENTRE MENINGE E PAREDE ÓSSEA.
40
A
C
D
B
E F
Fonte – Popp e Medeiros, 2011
41
10.3. DISCUSSÃO
Segundo Mikich e Bérnils (2004), os muriquis tem o comportamento pacifico e
convivência social tranquila. Porém, em 2009, foi relatado por Talebi et. al., o
primeiro registro de agressão entre muriquis de uma mesma comunidade na região
de mata atlântica - Parque Estadual Carlos Botelho em São Paulo – Brasil.
Uma possível explicação para tal comportamento seria o estresse devido às
condições do cativeiro como foi descrito por Javorouski (2009). O recinto em que o
animal vivia localiza-se em uma região central de Curitiba – PR em uma ilha onde
não tem para onde fugir. Consequentemente o estresse sonoro gerado por
automóveis, ônibus, caminhões associado a visitação pública são fatores
potencializadores do estresse. A época em que ocorreu a agressão foi um período
de transição do inverno para a primavera. Durante a primavera o aumento do
fotoperíodo inibe a pineal, retirando o tônus inibitório da função testicular. Observa-
se, então, aumento nos níveis de testosterona – e da massa testicular -, que ativa os
comportamentos de agressividade, sobretudo comportamento agonístico e de
territorialização, e resposta sexual (FERRAZ, 2011).
Com relação à condição hierárquica nos muriquis em habitat natural, a
princípio não ocorreriam disputas como foi afirmado por Mikich & Bérnils (2004). Já
que na natureza os grupos são maiores, vivem em grupos sociais multi-machos e
multi-fêmeas, que podem exceder 50 indivíduos. Cada grupo ocupa áreas que vão
de pouco mais de 150 ha, variando de acordo com o tamanho do grupo social e a
qualidade do habitat. Em geral, os Muriquis são primatas pacíficos e possuem baixa
competição por alimento e acesso a parceiros (SUMARIO, 2011).
Mas como os animais estão em cativeiro, poderiam ocorrer distúrbios de
comportamento que poderiam culminar em agressões. Porém o animal agressor já
42
tem um histórico de agressividade com outros machos do mesmo recinto, como já foi
relatado por Bonat (2011). Sendo assim, mesmo que o animal agredido perdesse a
disputa e tivesse o comportamento normal de ir embora como foi citado por Sgai et
al. (2010), por estar em um recinto, essa atitude foi inviabilizada.
Seria impossível e, ao mesmo tempo, extremamente indesejável eliminar
completamente todos os tipos de estresse. Fisiologicamente, sua ausência total
equivale à morte. O que devemos tentar fazer é reduzir os efeitos danosos do
estresse que o ambiente proporciona (JAVOROUSKI, 2009).
11. CONCLUSÃO
Com o óbito desse mamífero o Departamento de Pesquisa e Conservação da
Fauna perde o posto de maior cativeiro de muriqui do Brasil. Este é um grupo atípico
de Muriquis, já que vivem em grupos multi-machos e multi-fêmeas. Inúmeros fatores,
de estresse, do agressor ter um comportamento anormal de sucessivos conflitos no
recinto, maturidade sexual, entre outros ocasionou a morte do primata. Os muriquis
exigem mais cuidados daqui para frente e o ideal seria esse casal que ficou sozinho
no recinto procriar para manter um grupo novamente, assim como colocar a fêmea
com um novo animal. Existe um macho que veio com quase dois anos de idade, dia
2 de novembro de 2010, de uma apreensão do estado de São Paulo, encaminhado
para o passeio publico pelo IBAMA e que pode perfeitamente fazer par com a fêmea
do grupo assim que estiver em idade de reprodução.
43
12. REFERÊNCIAS
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