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AGRICULTURA ORGÂNICA NA REGIÃO DO VALE DO TAQUARI/RS: ANÁLISE DA ESTRUTURA DE COORDENAÇÃO E GERENCIAMENTO DA CADEIA PRODUTIVA DE HORTALIÇAS ORGÂNICAS [email protected] Apresentação Oral-Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais GLAUCO SCHULTZ; JULIA ELISABETE BARDEN; LIZETE BERRÁ; FERNANDA CRISTINA WIEBUSCH; JULIANE GÖRGEN. CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES, LAJEADO - RS - BRASIL. Agricultura Orgânica na Região do Vale do Taquari/RS: análise da estrutura de coordenação e gerenciamento da cadeia produtiva de hortaliças orgânicas Organic Agriculture in the Taquari Valley Region (RS): analysis of the coordination and management structure of the organic vegetables productive chain Grupo de Pesquisa: Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais Resumo O presente artigo aborda a emergência de um segmento de mercado dentro da perspectiva do desenvolvimento sustentável, a partir de um novo conceito de agricultura, denominada de orgânica. Tem-se como objetivo analisar a capacidade da estrutura de coordenação e gerenciamento da cadeia produtiva hortaliças orgânicas da Região do Vale do Taquari em atender de forma adequada às demandas do mercado. Os referenciais teóricos utilizados dizem respeito à abordagem sobre as Cadeias Produtivas, à Teoria Institucional, ao Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos. A abordagem de pesquisa é qualitativa e o método utilizado é o estudo de caso. Para o levantamento das informações junto às organizações foram utilizadas fontes primárias, tais como entrevistas e documentos. Os resultados desta pesquisa confirmam a relação existente entre a capacidade da estrutura de coordenação e gerenciamento da cadeia produtiva e o atendimento adequado às demandas do mercado. Palavras-chave: agricultura orgânica; cadeia produtiva; coordenação e gerenciamento da cadeia de suprimentos; agroecologia; hortaliças orgânicas. Abstract This article approaches the emergency of a market segment into the sustainable development perspective, considering a new concept of agriculture named organic. This study aimed at analyzing the capacity of the coordination and management structure of the organic vegetables productive chain to attend conveniently the demands of the market in the Taquari Valley Region. The Productive Chains, the Institutional Theory, the Supplies Chain Management and Agroecology were used as the theoretical references. This is a case study and it has a qualitative approach. Interviews and documents were used to collect the data at the organizations. The results of this study confirm there is a relation between capacity of the coordination and management structure and attend conveniently the demands of the market. Key-words: organic agriculture; productive chain; supplies chain coordination and management; agroecology; organic vegetables. 1 Introdução O presente artigo aborda a emergência de um segmento de mercado, no setor de alimentos e fibras, dentro da perspectiva do desenvolvimento sustentável. O foco da discussão

AGRICULTURA ORGÂNICA NA REGIÃO DO VALE DO … · AGRICULTURA ORGÂNICA NA REGIÃO DO VALE DO TAQUARI/RS: ANÁLISE DA ESTRUTURA DE COORDENAÇÃO E GERENCIAMENTO DA CADEIA PRODUTIVA

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AGRICULTURA ORGÂNICA NA REGIÃO DO VALE DO TAQUARI/R S: ANÁLISE DA ESTRUTURA DE COORDENAÇÃO E GERENCIAMENTO DA CADE IA

PRODUTIVA DE HORTALIÇAS ORGÂNICAS [email protected]

Apresentação Oral-Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias

Agroindustriais GLAUCO SCHULTZ; JULIA ELISABETE BARDEN; LIZETE BERRÁ; FERNANDA

CRISTINA WIEBUSCH; JULIANE GÖRGEN. CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES, LAJEADO - RS - BRASIL.

Agricultura Orgânica na Região do Vale do Taquari/RS: análise da estrutura de coordenação e gerenciamento da cadeia produtiva de hortaliças orgânicas

Organic Agriculture in the Taquari Valley Region (RS): analysis of the coordination and management structure of the organic vegetables productive chain

Grupo de Pesquisa: Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais

Resumo O presente artigo aborda a emergência de um segmento de mercado dentro da perspectiva do desenvolvimento sustentável, a partir de um novo conceito de agricultura, denominada de orgânica. Tem-se como objetivo analisar a capacidade da estrutura de coordenação e gerenciamento da cadeia produtiva hortaliças orgânicas da Região do Vale do Taquari em atender de forma adequada às demandas do mercado. Os referenciais teóricos utilizados dizem respeito à abordagem sobre as Cadeias Produtivas, à Teoria Institucional, ao Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos. A abordagem de pesquisa é qualitativa e o método utilizado é o estudo de caso. Para o levantamento das informações junto às organizações foram utilizadas fontes primárias, tais como entrevistas e documentos. Os resultados desta pesquisa confirmam a relação existente entre a capacidade da estrutura de coordenação e gerenciamento da cadeia produtiva e o atendimento adequado às demandas do mercado. Palavras-chave: agricultura orgânica; cadeia produtiva; coordenação e gerenciamento da cadeia de suprimentos; agroecologia; hortaliças orgânicas.

Abstract This article approaches the emergency of a market segment into the sustainable development perspective, considering a new concept of agriculture named organic. This study aimed at analyzing the capacity of the coordination and management structure of the organic vegetables productive chain to attend conveniently the demands of the market in the Taquari Valley Region. The Productive Chains, the Institutional Theory, the Supplies Chain Management and Agroecology were used as the theoretical references. This is a case study and it has a qualitative approach. Interviews and documents were used to collect the data at the organizations. The results of this study confirm there is a relation between capacity of the coordination and management structure and attend conveniently the demands of the market. Key-words: organic agriculture; productive chain; supplies chain coordination and management; agroecology; organic vegetables. 1 Introdução

O presente artigo aborda a emergência de um segmento de mercado, no setor de alimentos e fibras, dentro da perspectiva do desenvolvimento sustentável. O foco da discussão

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apresentada está em produtos oriundos de um novo conceito de agricultura, denominada de orgânica. Trata-se, atualmente, de um segmento do mercado de alimentos em expansão, em diversos países, que possui origem em grupos de produtores rurais com diversas críticas em relação ao paradigma da agricultura convencional (SCHULTZ, 2006).

Ao longo da evolução da agricultura, principalmente após as descobertas científicas que geraram as bases do modo de produção atual, surgiram, em diversos países, movimentos contrários aos princípios da adubação química e defensores da valorização do uso da matéria orgânica e de outras práticas agrícolas favoráveis aos processos biológicos e naturais nos cultivos. Trata-se de uma proposta de revisão das formas de produção, onde a busca pelo desenvolvimento deverá ocorrer sem a destruição dos recursos naturais. Entretanto, as agriculturas denominadas de “alternativas”ou “ecológicas” não se limitam ao questionamento dos aspectos técnicos e econômicos no meio rural, mas também incorporam, em suas discussões e práticas, as dimensões sociais e políticas que interferem na sustentabilidade dos sistemas produtivos.

A agricultura orgânica assume maior legitimidade com a crescente preocupação da opinião pública a respeito dos impactos ambientais. O seu conceito e a sua prática atuais estão presentes no debate das questões relacionadas à noção de “desenvolvimento sustentável”. As características da agricultura orgânica refletem os contornos das amplas discussões sobre a preservação ambiental, que emergem a partir de 1960. Cabe destacar, nesta trajetória de construção de uma nova visão sobre o meio ambiente, o Relatório “Nosso Futuro Comum”, publicado em 1987 pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Segundo este relatório, o Desenvolvimento Sustentável é aquele que garante o atendimento das “necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem também às suas” (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, p. 9). Este conceito traduz a prioridade de satisfazer as necessidades das camadas mais pobres da população e de minimizar os impactos dos modelos vigentes de produção sobre o meio ambiente, a partir da revisão das limitações impostas pelas tecnologias e pelas organizações sociais. A agricultura orgânica se insere nesta ampla definição, fundamentada, principalmente, nas dimensões técnico-agronômicas de produção e de manejo dos agroecossistemas.

A agricultura orgânica está presente em aproximadamente 120 países, envolvendo 623.174 propriedades, totalizando mais de 31 milhões de hectares, com 31% na Austrália/Oceania, 21% na Europa, 20% na América Latina, 13% na Ásia e 4% na América do Norte. (WILLER; YUSSEFI, 2006). Segundo os mesmo autores, o mercado mundial de produtos orgânicos é estimado em US$ 27,8 bilhões, sendo que mais de 50% deste faturamento (US$ 14,5 bilhões) está concentrado no Estados Unidos. Brasil, a produção orgânica apresentou um crescimento significativo nos últimos anos, passando de 100 mil hectares em 2000 para 887.637 hectares em 2006. Já são aproximadamente 14.000 propriedades que possuem sistema orgânico de produção, sendo que 90% destes estão localizados em propriedades familiares. Do total da produção brasileira, aproximadamente 90% é exportada como matéria prima, principalmente para os Estados Unidos, União Européia e Japão. No mercado interno a comercialização concentra-se em supermercados, atingindo um percentual de 45% do total, sendo que as feiras e as lojas especializadas representam, respectivamente, 26% e 16%. (LENOURD; PIOVANO, 2004).

As propostas pioneiras, ou as “teorias clássicas” da agricultura ecológica, possuem suas origens principalmente em aspectos técnicos, tais como adubação orgânica e rotação de culturas. Entretanto, a associação entre filosofia, espiritualismos, religião e política (autonomia dos produtores e comercialização direta) é também uma identificadora destas correntes pioneiras da agricultura “diferente” do modelo convencional, já nas décadas de 20 e 30 do século passado (SCHULTZ, 2006). Apesar de a sustentação das propostas receber

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aportes conceituais e teóricos de disciplinas filosóficas e religiosas, é da experimentação agronômica que vem o maior sustentáculo daquelas manifestações pioneiras do campo da agricultura, enquanto constituindo uma alternativa ao modelo químico, mecânico e de melhoramento genético.

Algumas das principais correntes surgiram quase que simultaneamente na década de 20, e agrupam-se em quatro grandes vertentes, segundo Ehlers (1996): na Alemanha, foi desenvolvida a agricultura biodinâmica, iniciada por Rudolf Steiner, em 1924; na Inglaterra, foi estabelecida a agricultura orgânica, cujos princípios foram estabelecidos entre os anos de 1925 e 1930, pelo pesquisador Sir Albert Howard, sendo após, na década de 40, difundidos nos EUA, por Jerome Irving Rodale; na Suíça, no início dos anos 30, surgiu a agricultura biológica, baseada nos princípios criados por Hans Peter Müller, sendo mais tarde difundida na França por Claude Aubert; e no Japão, a partir de 1935, foi elaborada outra vertente, baseada nas idéias de Mokiti Okada, chamada de agricultura natural.

Ehlers (1996) denomina estas correntes pioneiras de “movimentos rebeldes”, por se contraporem à agricultura com adubação química, sendo que estas, bem como outras que surgiram posteriormente, possuem seus princípios baseados na “Primeira Revolução Agrícola”, tais como a rotação de culturas e a integração entre as produções animal e vegetal. Entretanto, desde a sua divulgação inicial, estes sistemas de produção ficaram à margem do processo de desenvolvimento das práticas agrícolas. A partir da década de 60, quando foi intensificado o uso de práticas mais modernas, através da chamada "Revolução Verde", e começaram a ser mais amplamente divulgados os impactos sobre o meio ambiente, estas propostas técnicas de produção ganharam mais força, enquanto alternativas ao modelo atual.

Ehlers (1986) refere-se à Primeira Revolução Agrícola como o período de profundas transformações no sistema de produção agrícola, ocorridas nos séculos XVIII e XIX na Europa Ocidental, dando início à agricultura moderna. Caracteriza-se pela aproximação entre as atividades agrícola e pecuária, o que proporcionou o aumento da escala de produção e a diminuição da escassez de alimentos.

A “Revolução Verde” refere-se às mudanças ocorridas, após a segunda guerra mundial, nos sistemas de produção agrícola, com o objetivo de aumentar a produtividade dos cultivos, a partir da adoção de um modelo químico, mecânico e genético de produção. Caracteriza-se pela introdução de novas tecnologias, principalmente relacionadas ao melhoramento genético das plantas, e da ampliação e intensificação na utilização de fertilizantes químicos, agrotóxicos, irrigação e de máquinas e equipamentos nas propriedades. Atualmente, após a consolidação dessas mudanças nas atividades rurais, esse modelo de produção é mais conhecido como agricultura convencional.

No presente artigo utiliza-se a definição de agricultura orgânica ou sistema orgânico de produção, conforme estabelecido na Lei Federal 10.831 de dezembro de 2003. O conceito estabelecido nesta legislação busca contemplar as diversas correntes denominadas de “agriculturas alternativas”, tais como “ecológico”, “biodinâmico”, “natural”, “regenerativo”, “biológico”, “agroecológico”, “permacultura”, entre outros.

Na agricultura orgânica as principais modificações se apresentam nas relações técnico-produtivas, e, conseqüentemente, no sentido das atividades relacionadas ao próprio trabalho dos produtores, ou seja, na “prática” da agricultura orgânica. Entretanto, dois outros temas destacam-se atualmente na pesquisa sobre a agricultura orgânica no Brasil: a) influências dos ambientes institucional e organizacional na coordenação e gerenciamento das cadeias produtivas de alimentos orgânicos; b) influências dos sistemas de produção e comercialização de alimentos orgânicos no desenvolvimento sustentável.

A partir do contexto em que se encontram inseridos os atuais agentes das cadeias produtivas de alimentos orgânicos, identifica-se o seguinte problema de pesquisa: a estrutura de coordenação e gerenciamento das cadeias produtivas de alimentos orgânicos da Região

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do Vale do Taquari atende de forma adequada às demandas do mercado? A agricultura orgânica oportuniza a revisão das relações de cooperação e de competitividade no agronegócio brasileiro, possibilitando, desta forma, o estabelecimento de um relativo equilíbrio de forças entre os agentes das cadeias produtivas de alimentos, por meio de estratégias associadas às mudanças nos padrões de consumo e da conscientização ecológica. As significativas taxas de expansão mercadológica, o crescimento da produção orgânica no Brasil também se explica como devido ao estabelecimento de variadas relações institucionais e de políticas públicas de apoio e promoção a este segmento do agronegócio brasileiro (SCHULTZ, 2006). A legitimidade da agricultura orgânica, como sistema de produção voltado para a viabilização da sustentabilidade do meio rural, assume um papel de destaque no cenário das “alternativas” propostas para a promoção de políticas públicas direcionadas para a agricultura familiar. Todos esses aspectos justificam a presente temática de estudo e tornam relevante os resultados oriundos da presente agenda de pesquisa para a Região do Vale do Taquari.

O presente artigo possui como objetivo analisar a capacidade da estrutura de coordenação e gerenciamento das cadeias produtivas de alimentos orgânicos da Região do Vale do Taquari em atender de forma adequada à evolução das demandas e à reestruturação do mercado. Este artigo está dividido em 06 (seis) seções além dessa introdução. A seguir é apresentado o referencial teórico que está sendo utilizado para sustentação das análises em torno do objeto de pesquisa. Na sequência descreve-se o método de pesquisa utilizado e a contextualização do ambiente do estudo a partir da caracterização do Vale do Taquari. Na quinta seção, apresenta-se os principais aspectos facilitadores e dificultadores no setor da agricultura orgânica no Brasil. Na sexta seção apresenta-se a caracterização dos tipos de propriedade que atuam com hortaliças orgânicas na região, bem descreve-se as estruturas de coordenação e gerenciamento da cadeia produtiva de hortaliças orgânicas na Região do Vale do Taquari. Por último, na sétima seção, consta a conclusão do presente artigo.

2 Pressupostos Teóricos

O referencial teórico utilizado para o entendimento da questão de pesquisa apresentada diz respeito à abordagem sobre as Cadeias Produtivas, proposta pela Embrapa (Castro et al, 1995, 1998) e ao Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos ou Supply Chain Management (SCM). Para a análise e caracterização da cadeia produtiva dos alimentos orgânicos utiliza-se a abordagem de Cadeias Produtivas , enquanto que a abordagem de Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos possui como objetivo contribuir para a análise das características da atual estrutura de coordenação e gerenciamento das cadeias de produtos orgânicos (hortaliças). Fundamentalmente, a utilização destas abordagens teóricas se justificam devido à necessidade da presença de dois elementos na pesquisa, que são contemplados por estas abordagens quando utilizadas em conjunto, quais sejam: a visão de cadeias produtivas e o gerenciamento e coordenação destas cadeias produtivas (SCHULTZ, 2001). A união destes elementos em uma mesma análise pressupõe a oportunidade de se realizar um estudo mais condizente com as múltiplas realidades encontradas no segmento de alimentos orgânicos. A seguir apresenta-se os principais pressupostos teóricos relacionados a cada uma dessas abordagens. 2.1 Análise de Cadeias Produtivas

A metodologia de análise de cadeias produtivas desenvolvida pela Embrapa (Castro et ai, 1995, 1998) com o objetivo de prospecção de demandas tecnológicas, baseia-se em três vertentes teóricas e suas técnicas: na teoria dos sistemas e no enfoque sistêmico (interdisciplinaridade), na visão prospectiva (cenários futuros) e nos conceitos de mercados

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segmentados (técnicas de marketing) de tecnologia, de insumos e de produtos. As etapas da metodologia baseiam-se em elementos necessários para a caracterização de um sistema: a) explicitação dos objetivos e limites do sistema; b) caracterização do contexto ou ambiente externo do sistema; c) definição dos componentes dos sistemas e seus respectivos fluxos ou interações; d) especificação dos insumos, produtos de saída e pontos de estrangulamento considerados críticos ao desempenho do sistema. A agricultura é definida, por esta metodologia, como componentes e processos interligados que propiciam a oferta de produtos aos seus consumidores finais, por intermédio da transformação de insumos pelos seus componentes (Castro et al, 1998). O sistema maior é chamado de agronegócio ou complexo agroindustrial, sendo que este compõe-se de cadeias produtivas (subsistemas) e estas possuem entre seus componentes os sistemas produtivos que operam em diferentes ecossistemas ou sistemas naturais. Uma cadeia produtiva (CP) se caracteriza por ocorrer um fluxo de capital que se inicia nos consumidores finais dos produtos da cadeia e em direção ao elo final, que na produção agrícola é representada pelos fornecedores de insumos. Este fluxo é regulado pelas transações e relações contratuais formais e informais, que existem entre os indivíduos ou empresas constituintes da cadeia.

O estudo das CP pode se dar através do exame e identificação do comportamento do fluxo do capital, das transações socioeconômicas, e através das questões de apropriações e distribuições de benefícios e limitações entre os atores sociais da CP (Castro et al, 1998). Castro et al (1995,1998) definem Cadeia Produtiva como sendo o conjunto de atores sociais interativos, incluindo os sistemas produtivos, fornecedores de insumos e serviços, indústrias de processamento e transformação, agentes de distribuição e comercialização, além de consumidores finais dos produtos. É um subsistema do negócio agrícola ou agronegócio, com objetivos similares, porém restritos a alguns produtos e subprodutos.

A noção de cadeia produtiva, além de fornecer opções de políticas setoriais, deve, também, fornecer às empresas ferramentas gerenciais que permitam operacionalizar ações conjuntas que aumentem o nível de coordenação e eficiência da cadeia (BATALHA e LAGO DA SILVA, 2001). Diante disso e considerando a visão de cadeias produtivas como uma perspectiva muito linear, Batalha e Lago da Silva (2001) afirma que a atual complexidade dos ambientes de negócios e dos produtos agroindustriais requer a utilização de novas abordagens teóricas com visões sistêmicas mais amplas. As abordagens de redes1, o Efficient Consumer Response (ECR), e o Supply Chain Management estão entre os principais aportes teóricos que, em muito, podem contribuir na busca por competitividade dos sistemas agroindustriais, principalmente em cadeias de produção, nas quais o sistema de distribuição e a demanda dos consumidores2 são mais importantes que o sistema de produção e a oferta de produtos (SCHULTZ, 2001). 2.2 Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos

O Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos (Supply Chain Management) é uma abordagem sistêmica que busca integrar os vários elos de uma cadeia, com o objetivo de obter vantagens competitivas através, não mais da competição indiscriminada, e sim da cooperação com outras empresas que fazem parte do mesmo ambiente competitivo, ou seja, considerando como fatores fundamentais de sucesso o entendimento de que qualquer empresa que queira satisfazer os seus clientes, deve perceber que o seu negócio está além dos seus próprios

1 Zylbersztajn (2000, p. 15) também faz referência ao conceito de redes no agronegócio, afirmando que as complexas relações existentes atualmente não podem mais serem entendidas como lineares, parecendo-se mais como redes (network) de relações, onde cada agente possui contratos com um ou mais agentes. 2 Assim como a abordagem sobre Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos, também as abordagens de Cadeia de Produção Agroindustrial (CPA) e Cadeia produtiva (CP) pressupõem como ponto de partida nas análises em agronegócios o mercado consumidor e a distribuição como importantes focos iniciais de estudo.

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limites e que suas ações estratégicas dependem também das ações dos seus fornecedores, dos fornecedores dos seus fornecedores, dos seus compradores ou distribuidores, antes que o produto chegue às mãos dos consumidores finais.

Esta abordagem possibilita uma maior intervenção através de ações gerenciais na cadeia, sendo muito utilizada no meio acadêmico para estudo e resolução de casos empíricos. A amplitude desta abordagem, segundo Pedrozo (1999), faz com que se desenvolvam interfaces e, algumas vezes, até se confunda com outras áreas da teoria organizacional, dentre elas: logística e distribuição; tecnologias da informação (TI), sistemas de comunicação e de marketing; canais de distribuição e redes e alianças. Esta coordenação na cadeia é que vem sendo chamada de Supply Chain Management, com uma forte contribuição dos avanços da informática e das telecomunicações.

Figueiredo e Arkader (1998) afirmam que o conceito de Supply Chain Management surgiu como uma evolução natural do conceito de logística integrada, ou seja, enquanto a logística integrada representa uma integração interna de atividades, o SCM representa uma integração externa, pois estende a coordenação dos fluxos de materiais e de informações aos fornecedores e aos clientes finais. Trata-se de uma vertente atual do pensamento logístico onde o SCM representa uma área específica e interdisciplinar com uma visão integrada entre funções e empresas, ao longo da cadeia.

Bowersox (1998) conceitua Supply Chain como um termo que considera uma seqüência de compradores ou vendedores, trabalhando em conjunto, para levar o produto da origem até a casa do consumidor, ou seja, é uma série de relacionamentos. Comparativamente, a logística é o movimento de produtos e de informações, relativa aos relacionamentos na cadeia, incluindo-se transporte, armazenagem, estoques e a informação inerente a tudo isso. A logística é uma parte do SCM, sendo este uma estratégia maior do negócio. A cadeia de abastecimento ou de suprimentos é constituída pelo conjunto de organizações que se inter-relacionam, envolvendo os diferentes processos e atividades empresariais, criando valor na forma de produtos e serviços, desde os fornecedores de matérias-primas até o consumidor final. Já a gestão da cadeia de abastecimento ou de suprimentos é uma filosofia de negócio baseada nas demandas do mercado, que visa a agregar valor para o consumidor final, por meio de um planejamento e controle mais efetivo da movimentação e integração dos fluxos de informações, mercadorias e recursos, ressaltando-se as relações de cooperação ao longo de toda a cadeia produtiva (ABML, 1998; CHING, 1999).

Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos também é definido “como uma metodologia desenvolvida para alinhar todas as atividades de produção de forma sincronizada, visando a reduzir custos, minimizar ciclos e maximizar o valor percebido pelo cliente final por meio do rompimento das barreiras entre departamentos e áreas (WOOD e ZUFFO, 1998, p. 61). Este conceito engloba a logística integrada, parcerias com fornecedores, distribuidores e varejistas, sincronização da produção, sistema de informações, previsão de vendas, sendo que todas estas atividades, segundo este autor, fazem parte da nova cadeia de valores e do novo sistema de valores, orientados para o atendimento ao cliente.

Os fundamentos do gerenciamento da cadeia de suprimentos são significativamente diferentes dos controles clássicos de materiais e de fabricação, em quatro sentidos: cadeia de suprimentos como entidade única; possui significado estratégico; fornece uma perspectiva diferente sobre os estoques; abordagem de integração, e não somente interface. Este autor afirma também que a fonte da vantagem competitiva é o gerenciamento logístico, sendo este o meio pelo qual as necessidades dos clientes são satisfeitas através da coordenação dos fluxos de materiais e de informações, desde o mercado, passando pela empresa e suas operações, até atingir os seus fornecedores (CHRISTOPHER, 1999)

O gerenciamento da cadeia de suprimentos é um “sistema que envolve todos os elementos de uma cadeia de produção, do fornecedor de matéria-prima até a entrega do

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produto (ou serviço) pelo comércio varejista (ou empresa prestadora de serviços) ao consumidor final, visando à otimização da cadeia de valores como um todo” (POIRIER & REITER, 1996 apud WOOD & ZUFFO,1998, p. 59)

Esta idéia surge da premissa segundo a qual, a cooperação entre membros da cadeia reduz os riscos individuais o que pode ocasionar uma melhor eficiência na logística, eliminando perdas e esforços desnecessários. O resultado da adoção do Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos para os negócios empresariais é que a competição não se dará apenas entre empresas, mas também entre sistemas de valores, através da implementação de uma visão sistêmica no empreendimento, incluindo fornecedores e canais de distribuição. Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos também é definido “como uma metodologia desenvolvida para alinhar todas as atividades de produção de forma sincronizada, visando a reduzir custos, minimizar ciclos e maximizar o valor percebido pelo cliente final por meio do rompimento das barreiras entre departamentos e áreas (BOWERSOX, 1996 apud WOOD & ZUFFO, 1998, p. 61).

Modelo conceitual de organização logística que está baseado na formalização da funções logísticas, na coordenação da cadeia, no monitoramento de desempenho dos processo logísticos e na adoção de tecnologia de informação. Todas estas características da organização refletirão na sua flexibilidade em atender as demandas do mercado, de forma adequada, em um ambiente complexo, formado por um grande número de clientes, fornecedores e instalações. ( LAVALLE, 1995 apud LAVALLE & FLEURY, 1998) 3 Método de Pesquisa

O método de pesquisa utilizado é o estudo de caso. A escolha deste método foi condicionada pelos objetivos propostos, possuindo um caráter exploratório, já que é necessário buscar maior conhecimento sobre o tema ou problema de pesquisa. Mattar (1993) afirma que todas as pesquisas têm aspectos exploratórios, e são raras aquelas cujo problema de pesquisa e/ou objetivos estejam tão bem definidos que possam prescindir de atividades de pesquisa exploratória. Sampieri et al (1994), afirmam que a escolha do método de pesquisa depende de dois fatores principais: o estado do conhecimento do tema investigado na literatura e do enfoque que o investigador pretende dar ao seu estudo. O mesmo autor define estudo exploratório quando o seu objetivo é examinar um tema ou problema de investigação pouco estudado ou que não tenha sido abordado antes. O perfil da presente proposta de investigação, possui estas características descritas acima, devido ao mercado de produtos orgânicos estar em formação e em rápido crescimento, resultando em poucas informações para um bom entendimento dos fenômenos que ocorrem neste setor, principalmente na Região do Vale do Taquari.

Com relação ao método de estudo, Lazzarini (1997) afirma que novas linhas de pesquisa em ciências sociais têm buscado considerar aspectos mais gerais de um problema, tornando a abordagem mais contextual, sendo que dentre os métodos qualitativos, o estudo de caso é muito útil a este enfoque, pois o seu principal objetivo é contextualizar e aprofundar o estudo do problema. Segundo Yin (1990), o método do estudo de caso é uma pesquisa empírica onde múltiplas fontes de evidência são utilizadas e que investiga um fenômeno contemporâneo inseridos em seu contexto real, quando não existe uma clara fronteira entre o fenômeno e o contexto. Assim, o objetivo geral consiste em analisar a capacidade da estrutura de coordenação e gerenciamento das cadeias produtivas de alimentos orgânicos da Região do Vale do Taquari em atender de forma adequada à evolução das demandas e à reestruturação do mercado. Para que este objetivo seja alcançado, faz –se uma caracterização dos componentes das cadeias produtivas de alimentos orgânicos e uma descrição das formas de coordenação e gerenciamento das cadeias produtivas de alimentos orgânicos.

A presente pesquisa está delimitada à Região do Vale do Taquari e a população do

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estudo constitui-se de propriedades que atuam com produção e comercialização de hortaliças orgânicas. A partir desse universo geográfico foram identificadas tipos de propriedades considerando-se as seguintes dimensões: relações com o mercado, garantia da qualidade e tempo de produção orgânica. Para elaboração dessa tipologia, foi realizado um estudo exploratório na região do Vale do Taquari, junto às principais instituições envolvidas, direta ou indiretamente, com a produção orgânica na área de abrangência da pesquisa. Com o levantamento da população do estudo foi elaborada a tipologia de propriedades rurais que atuam com produção orgânica na região do Vale do Taquari, que proporcionou, fundamentalmente, a eleição da “amostra” a ser estuda.

A amostra do estudo é do tipo não-probabilística, uma vez que não busca a representatividade da população do estudo por meio de uma seleção aleatória, e sim de uma cuidadosa e controlada eleição de sujeitos com certas características especificadas previamente na definição do problema (SAMPIERI; COLADO; LUCIO, 1994, p. 231). A amostra intencional não busca representatividade da população, mas antes, uma aproximação com as suas principais características. A quantidade de entrevistados foi definida tendo-se como critério fundamental a representatividade dos tipos 1, 2 e 3 de propriedades.

Para o levantamento das informações junto a estas propriedades, foram utilizadas principalmente fontes primárias, tais como entrevistas e documentos. Também foram utilizados documentos internos e materiais de divulgação das organizações e das instituições de apoio, tais como as atas de reuniões, relatórios, estatutos, textos de discussão, planejamentos anuais, projetos, documentação histórica, entre outros. As entrevistas constituem a principal fonte primária e foram realizadas com os agricultores, sendo que, em todos os casos, se buscou selecionar informantes qualificados, tais como técnicos representantes das relações institucionais estabelecidas pelas organizações. Conseqüentemente, foram utilizados dois instrumentos para o levantamento das informações primárias: análise de documentos e entrevistas em profundidade (gravadas) com a utilização de roteiros estruturados. Foram realizadas 06 (seis) entrevistas, quantidade essa definida conforme a identificação das necessidades de aprofundamento sobre os temas investigados, e também conforme as características de cada propriedade, levando-se em consideração as especificidades da produção orgânica.

A abordagem de pesquisa adotada, sendo qualitativa, não requereu a preocupação em medir as variáveis e indicadores utilizados e, tampouco, o emprego de análise estatística. Na análise das informações, buscou-se identificar a presença ou ausência dos fenômenos ou elementos associados às variáveis e indicadores, não considerando a freqüência com que os mesmos ocorrem. Na literatura sobre as abordagens qualitativas (YIN, 2005; ALVES-MAZZOTTI e GEWANDSZNAJDER, 2004; VIEIRA e ZOUAIN, 2004), encontra-se uma maior ênfase em indicações de princípios e estratégias para aumentar a confiabilidade da pesquisa, que estão baseadas principalmente no rigorismo com que o pesquisador conduz o estudo e apresenta os resultados, e muito menos em opções de técnicas de análise que busquem apresentar os procedimentos e instrumentos necessários para a interpretação dos dados coletados.

Estes critérios de qualidade devem estar presentes no delineamento, nos métodos e procedimentos e nas análises dos dados coletados. Como se pode perceber, a qualidade da pesquisa qualitativa não está presente somente nos procedimentos metodológicos. Mais do que isto, ela está no conjunto do documento redigido. As pesquisas qualitativas, ao utilizarem, essencialmente, as entrevistas, feitas a partir de roteiros semi-estruturados, geram uma quantidade significativa de informações a respeito do objeto de estudo. Diante disso, destaca-se a importância do processo de redução, organização e interpretação dos dados durante todo o período da pesquisa.

Com as informações disponíveis, foi realizada, fundamentalmente, uma triangulação

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entre as várias fontes de informações e de evidências sobre os fenômenos estudados (referencial teórico, estudos teóricos e empíricos que corroboram ou divergem dos resultados encontrados, documentos, entrevistas, relatórios e observação). A partir desta triangulação, foi realizada uma confrontação e questionamentos a partir de diversos ângulos de análise, buscando, ao mesmo tempo, a descrição e interpretação de seu conteúdo, aumentando assim o rigor científico da pesquisa. Portanto, a análise de documentos e das entrevistas em profundidade, bem como a observação direta, sendo postas ambas em confronto com o referencial teórico, constituíram a principal técnica para a análise dos dados. A triangulação, segundo Vieira e Zouain (2004, p. 23), é importante para diminuir a “[...] influência dos vieses do pesquisador no resultado final das análises”. Utilizando o “[...] processo de checagem, questionamento e teorização [...]”, o que proporciona validades interna e externa, credibilidade e confiabilidade da pesquisa qualitativa, e, conseqüentemente, transferibilidade e utilização dos resultados para o avanço do conhecimento. 4 Caracterização da Região do Vale do Taquari – RS

O Vale do Taquari está localizado na macrorregião nordeste do Rio Grande do Sul, que é aqui delimitada pela região administrativa do CODEVAT (Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari), sendo formado por 36 municípios que totalizam 316.298 habitantes. Desse total 72,08 % residem em áreas urbanas e 27,92% em área rurais, tendo Lajeado como cidade pólo na região, concentrando 21,33% (67.474) da população regional. A região possui área de 4.867,0 km²; densidade demográfica (2006) de 65,9 hab/km²; taxa de analfabetismo (2000) de 6,73%; expectativa devida ao nascer (2000) de 73,61 anos; PIB per capita (2004) de R$ 17.002; e IDESE (2003) de 0,730 (IBGE e FEE/RS, 2006).

A partir desses dados pode-se incorrer em uma leitura equivocada sobre a característica predominante da região, devido a concentração da população em poucos municípios pelo fato de 72,08% da população residir no meio urbano. Somente 06 municípios concentram 58,5% do total da população da região (Lajeado, Estrela, Encantado, Teutônia, Taquari e Arvorezinha) e 22 municípios possuem até 5.000 habitantes. Constata-se, a partir desses dados, que o Vale do Taquari possui características predominantemente rurais, já que 23 dos seus 36 municípios possuem percentuais de população rural maior do que a urbana. Ainda existem na região, contrariando as tendências nacionais de esvaziamento dos espaços rurais, 03 municípios com mais de 80%, e 09 com mais de 70%, da sua população residindo em áreas rurais (BDR, 2008). Essa ruralidade da região é representada por 31.645 propriedades com área média de 13,32 hectares. Essas propriedades foram responsáveis, em 2005, por 26,42 % (60.658 toneladas) e 6,36 % (29.953 toneladas) do total da produção de erva-mate e fumo do estado, respectivamente. Entretanto, o principal produto com relação à área plantada na região foi o milho, que representou 3,95 % do total produzido do RS e 33 % do Valor da Produção Agrícola da região. A produção de animais e derivados também é significativa na região, com destaque para frangos, suínos e leite, que representam, respectivamente, 27,97 %, 14,39 % e 8,46 % da produção total do estado (RUMOS 2015, 2006)

Além do milho, como principal gerador de receita (Valor da Produção Agrícola) no meio rural, atingindo 33 %, destacam-se, também, o fumo com 13 %, a soja com 12 % e a mandioca com 11 %. Com relação ao PIB agrícola, o milho e o fumo, contribuem com 58 % da geração de riqueza no meio rural, sendo 33 % oriundo do milho e 25 % do fumo. Com relação ao Valor Adicionado Bruto (VAB), em 2005, 51,3 % foram oriundos do setor de serviços, 37,3 % do setor industrial e 11,4 % do setor agropecuário (R$ 454.086.790,00) (RUMOS 2015, 2006). Também em 2005, 21 municípios possuíam acima de 30% do VAB oriundo do setor agropecuário, sendo que 05 municípios possuíam o VAB agropecuário maior

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que o dos setores da indústria e de serviços. Esses dados expressam a relevância do setor rural na região, e os efeitos

multiplicadores dessa geração de riqueza a partir da agricultura e da pecuária. Para cada R$ 1,00 investido na região são gerados outros R$ 2,01, sendo que R$ 1,49 impactam diretamente no Vale do Taquari e outros R$ 0,52 transbordam para outras regiões (RUMOS 2015, 2006). Contando com oferta de matéria-prima oriunda da agropecuária, a agroindústria processadora é uma das principais forças econômicas no Vale do Taquari com representatividade no mercado nacional e internacional, principalmente na produção de carne e de leite.

O PIB da região está concentrado no setor industrial (50 %), com participação de 27,5 % do setor de serviços e 19,5 % do setor agropecuário (RUMOS 2015, 2006). Esse percentual do PIB oriundo do setor rural aumenta significativamente se for considerada no cálculo desse indicador econômico a abordagem de agronegócio, que envolve não somente o conjunto de propriedades rurais existentes na região, mas também os fornecedores de insumos e máquinas para o setor agropecuário, as agroindústrias de processamento de matérias primas, além da distribuição e do varejo de alimentos.

Com relação ao processamento das matérias primas agrícolas, a região do vale do Taquari se destaca no Rio Grande do Sul, caracterizando-se por possuir agroindústrias, com marcas de reconhecimento nacional, que compram matéria prima de outras regiões e exportam volumes significativos para outros estados e países. A região, em 2005, foi responsável pelo processamento de 30 % do leite do estado; 7 % da soja e 5 % do trigo produzida no RS.

Destaque também é verificado no processamento de aves e suínos , com 11 % do volume do estado, além de bovinos com 6 % do total processado no Rio Grande do Sul (RUMOS 2015, 2006). A industrialização nessas cadeias produtivas, além de outras como a da erva-mate, contribui para tornar o Vale do Taquari um gerador de riquezas a partir do agronegócio de alimentos. Outros setores, tais como o de couros, calçados, madeira e móveis contribuem, também de forma significativa, para a geração de riqueza no agronegócio não-alimentar.

Portanto, a região do Vale do Taquari, área de abrangência do presente estudo, possui as condições necessárias para a promoção da agricultura orgânica, ações essas que devem estar respaldadas por pesquisas científicas que contribuam para o entendimento da realidade regional e a identificação dos gargalos existentes nas cadeias produtivas de alimentos orgânicos. 5 Agricultura orgânica no Brasil: dificuldades e potencialidades

Diversos estudos têm buscado identificar, caracterizar e analisar a cadeia produtiva de orgânicos. Vale destacar a importância destes estudos, dada as complexas inter-relações que se estabelecem ao longo desta cadeia e a necessidade de melhor compreendê-las tendo em vista a relevância econômica e social que representam.

Dentre estes está o de Farina (2002) que trata da cadeia produtiva no Estado de São Paulo, o qual acrescenta à abordagem os aspectos da coordenação e dos contratos via Teoria dos Custos de Transação. Desta forma, ao invés da denominação de cadeia produtiva, utiliza o termo sistemas agroindustriais de alimentos e fibras (SAG) “[...] no sentido de destacar as relações sistêmicas advindas das relações econômicas e técnicas que circunscrevem as estratégias empresariais entre os segmentos da cadeia” (FARINA, 2002, p. 09). O SAG é definido como “conjunto dos segmentos envolvidos na produção, transformação e distribuição de matérias-primas agropecuárias” (FARINA, 2002, p. 09).

Segundo esta abordagem, o que prevalece é a articulação e coordenação em detrimento aos elementos constituintes da cadeia. Sendo assim, o sistema é considerado como

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um conjunto de contratos formais e informais capazes de garantir a transmissão de informações, estímulos e controles ao longo da cadeia para agir em razão das mudanças decorrentes do ambiente competitivo ou para viabilizar novas estratégias.

Segundo Buainain e Batalha (2007), a cadeia de produtos orgânicos tem como principal estratégia a diferenciação, focalizando a diferenciação de produtos e a alta agregação de valor, objetivando alcançar mercados segmentados. Esta visão contraria a das cadeias produtivas de commodities, onde não há a diferenciação dos produtos, onde a estratégia, nesse caso, é a escala de produção tendo em vista, sobretudo, a alta produtividade.

O aumento da importância da produção e comercialização de produtos orgânicos pressiona os governos, em nível mundial, a regulamentarem os mercados para a comercialização desses produtos. "Os países-membros da União Européia foram os primeiros a publicar um conjunto de diretrizes sobre esse assunto" (BUAINAIN e BATALHA, 2007, p.13) Os Estados Unidos iniciaram regulamentação semelhante, em 1990. O Canadá publicou regulamentação em 1999, e o Japão regulamentou seu mercado em 2000. Outros países como Austrália e Tailândia, estão desenvolvendo normas nacionais neste sentido. No Brasil, entre 2003 e 2008, é lançado o marco legal da agricultura orgânica, constituído de Lei, Portarias e Instruções Normativas, que buscam regulamentar a produção, o processamento e a comercialização dos produtos orgânicos. Trata-se de um “divisor de águas” na produção orgânica brasileira, considerando que a partir de 2009 todos os agentes que constituem as diferentes cadeias produtivas deverão se credenciar junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e ao Instituto Nacional de Metrologia (INMETRO), considerando parecer das Comissões de Produção Orgânicas dos Estados (CPOrg). Devido a característica de agregação de valor associada aos produtos orgânicos, Farina (2002, p. 10) ressalta que “a identificação das inter-relações verticais e horizontais é importante porque a elas estão associadas potenciais fontes de geração de valor econômico e de formas específicas de estruturas de governança que permitem a criação e apropriação desse valor”. Ainda segundo a mesma autora, no agronegócio orgânico as interdependências estão presentes, tanto verticais quanto horizontais, o que reforça o uso do conceito de sistema-rede.

Sob esta abordagem, Farina (2002) ao estudar o Sistema Agroindustrial de Alimentos Orgânicos (SAG) em São Paulo, constata uma tendência de crescimento no mercado de orgânicos (interno e externo), todavia, junto com essa ampliação, surgem ‘oportunistas’ atraídos pelos lucros, o que leva a redução da eficiência dos mecanismos de controle, exigindo então, um fortalecimento do ambiente institucional para que haja um maior rigor nas regras para credenciamento e certificação, com o objetivo de manter os atributos de qualidade dos produtos orgânicos, aspecto esse de fundamental importância para o consumidor. Tendência também confirmada por Buainain e Batalha (2007, p. 76) porém acrescentam que “a maioria da produção orgânica nacional ainda deverá ser destinada ao mercado externo”.

Por outro lado, a maior oferta de produtos orgânicos pode resultar na redução da lucratividade, dessa forma, exigir dos produtores investimentos em tecnologias que proporcionem ganhos de eficiência. Deste feito, faz-se necessário investir no desenvolvimento de pesquisas para o desenvolvimento de novos produtos e processos que minimizem as perdas. Percebe-se também a necessidade da criação de linhas de crédito específicas para esta atividade, dada a sua inexistência e sua estreita relação com os pequenos produtores. Esta constatação é feita também em outros estudos, como o realizado pela Comissão Estadual de Agricultura Orgânica do Estado do Paraná (CEAO - PR). A produção de alimentos orgânicos está intimamente ligada aos pequenos produtores rurais, sobretudo, a agricultura familiar, normalmente com pouca capacidade de investimento (CEAO, 2002). Ou seja, a disponibilização de crédito para a atividade contribuiria também para um segmento produtivo e social importante. Buainain e Batalha (2007) acrescentam que as vantagens de investir na produção orgânica estariam além das questões econômicas e sociais, pois os benefícios dizem

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respeito, também, à proteção ambiental e a saúde dos consumidores e dos trabalhadores rurais. Com relação às políticas públicas, destacam-se, no âmbito do Governo Federal, as ações do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), por meio, respectivamente, do Programa Nacional de Apoio à Agricultura de Base Ecológica nas Unidades Familiares de Produção e do Programa de Desenvolvimento da Agricultura Orgânica (Pró-Orgânico). Nos países desenvolvidos, a exemplo da Alemanha, Estados Unidos e Japão, as políticas públicas, principalmente, mas também as privadas, foram determinantes no desenvolvimento da agricultura orgânica.

Estudos realizados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) do Brasil, em parceria com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), refletem a necessidade de aprofundamento dos conhecimentos e de se estabelecer metodologia-padrão para o estudo das cadeias produtivas no intuito de monitorar e avaliar os seus desempenhos, referencial esse que poderá contribuir no sentido de ampliar as oportunidades sustentáveis de negócios para a produção orgânica do País. No Brasil, o governo tem atuado, por um lado, regulamentando o mercado para a produção e a comercialização, por outro no financiamento à agricultura orgânica, por meio da criação de linhas especiais de crédito. Atente-se ao fato de que a produção orgânica é caracterizada por proprietários de médio e pequeno porte, com baixa capacidade de investimento e que em sua maioria contam com a mão-de-obra familiar na condução das atividades da propriedade. Segundo Buainain e Batalha (2007, p.16), "Pequenos e médios produtores representam 90% do total de produtores orgânicos, atuando basicamente no mercado interno". Porém, em relação ao poder público, carecem ações mais efetivas e eficazes, sendo que "Uma das maiores dificuldades na implementação e consolidação da Agroecologia é a falta de Políticas Públicas claramente definidas, concretizadas por diretrizes claras e ações que articulem os diferentes órgãos que atuam no setor agrícola no Estado". (CEAO, 2002, p.5). E em relação ao Poder Público Municipal, "Na sua grande maioria, realizam atividades pontuais, desarticuladas e com pequena efetividade no processo de consolidação dessa proposta." Disso resulta uma desproporcionalidade de investimentos públicos na Agricultura Orgânica em relação aos destinados à agricultura convencional.

Devido a emergência do tema agricultura orgânica, tanto no meio acadêmico como no meio empresarial faz com que haja a necessidade de que profissionais da área, que prestam assistência técnica, incorporem os princípios, conceitos e práticas da agroecologia. Neste sentido as organizações da agricultura familiar, contando com a presença de sindicatos, associações, cooperativas e ONGs, tem desempenhado papel importante no processo de discussão, implementação e consolidação da agroecologia. Assim como "A construção de parcerias locais e regionais, tanto na esfera pública como da sociedade civil, é apontada como uma estratégia fundamental para a expansão e consolidação do trabalho com agroecologia". (CEAO, 2002, p.10)

Um dos pontos cruciais, apontados no estudo da CEAO - PR, diz respeito à comercialização e à necessidade de construção de canais alternativos de acesso ao mercado, que possibilitem formas justas para a venda e o consumo de alimentos orgânicos. Porém, um grande entrave desse processo é o aspecto da certificação desses produtos, processo lento, caro e ainda pouco compatível com a realidade local. A certificação é fator determinante na comercialização na medida em que "A competitividade da cadeia produtiva de produtos orgânicos fundamenta-se em estratégias de diferenciação de produtos". (BUAINAIN e BATALHA, 2007, p.15). Nesse sentido vislumbra-se como um caminho importante o desenvolvimento da proposta de mercado justo e solidário. Ainda conforme Buainain e Batalha (2007, p.73) "A certificação envolve normas, seja na esfera privada, pública, nacional ou internacional e um órgão certificador com poder de monitoramento e exclusão que, por

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minimizar a assimetria informacional, diminui o comportamento oportunista [...]". Outro aspecto relevante na comercialização é o que diz respeito aos custos de

comercialização, ponto considerado como sendo de estrangulamento na medida em que os principais problemas relacionados advêm do modelo de organização escolhido para o processo. "Os principais problemas relacionados a custos são o transporte e a manutenção da estrutura" (CEAO, 2002, p.24)

A comercialização de produtos orgânicos é feita por diferentes canais, a exemplo: venda direta ao consumidor final por meio de entrega em domicílio e em feiras de produtores; venda para agentes intermediários varejistas como lojas especializadas em orgânicos; venda à empresas de food service em geral (restaurantes, lanchonetes, cozinhas industriais); venda aos mercados institucionais (prefeituras para o preparo de refeições para escolas e hospitais públicos), entre outros.

No mercado brasileiro em 2004, 33% das vendas foram realizadas em mercados e supermercados, 37% foram feitas em feiras e 19% em lojas especializadas. O restante (11%) foi comercializado através de entrega a domicílio. (BUAINAIN e BATALHA, 2007, p.70). No que tange aos consumidores de produtos orgânicos no Brasil "[...] caracterizam-se por possuírem idade entre 30 e 50 anos, serem geralmente do sexo feminino, com instrução elevada, de classe média e com hábitos de consumo diversificados." (BUAINAIN e BATALHA, 2007, p.17) Na medida que existe a tendência de o consumidor valorizar o alimento orgânico, devido a percepção dos benefícios à saúde, indicando o aumento do consumo desse produto, a informação, ou o esforço de marketing nesse sentido é importante.

Em relação à produção, tem-se que: "A base tecnológica adotada nos sistemas de produção orgânicos tem resultado no resgate do conhecimento tradicional das comunidades locais conjugados com a experiência e saber construído na prática agroecológica" (CEO, 2002, p.15) Além disso, a agricultura orgânica, por sua especificidade, exige o aperfeiçoamento de técnicas de controle de pragas, plantio direto, teste de variedades, adubação natural, entre outras. Além do que, as mudanças no processo produtivo, podem exigir o desenvolvimento ou adaptações de máquinas. Pelo fato de a produção orgânica no Brasil ser caracterizada, predominantemente, por médias e pequenas propriedades familiares, faz-se necessário observar que essas inovações tecnológicas de produção e gestão associadas a este modelo de produção tenham condições de serem absorvidas e incorporadas por estas propriedades.

Nesse sentido, cabe ainda destacar, que a escassez de técnicos qualificados para assistência aos agricultores, bem como a falta de pesquisas na área, são grandes limitadores do crescimento da agricultura orgânica no Brasil. "Sem orientação de técnicos, os produtores têm dificuldades em aproveitar as tecnologias para produção de orgânicos." (BUAINAIN e BATALHA, 2007, p.67). Os cursos de formação em agroecologia são escassos, embora algumas instituições já estejam oferecendo cursos específicos para a gestão da agroecologia, a exemplo do Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural (Dater) da Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (SAF/MDA), assim como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). 6 Estrutura de coordenação e gerenciamento da cadeia produtiva de hortaliças orgânicas na Região do Vale do Taquari

A agricultura orgânica na Região do Vale do Taquari está presente em 15 muncípios,

representando 42% do total de municípios. Foram identificadas 66 propriedades com produção orgância, representando 0,26% do total de propriedades existentes na região. Esse percentual se aproxima da média brasileira, onde os dados divulgados demonstram a

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existência de 15.000 propriedades com produção orgânica em todo o Brasil, ou seja, 0,27% do total (WILLER; YUSSEFI-MENZLER; SORENSEN, 2008)

Ao mesmo tempo em que o percentual de propriedades que atuam com produção orgância na Região do Vale do Taquari é semelhante a realidade brasileira, ao considerarmos outros aspectos, as diferenças são significativas. Principais constatações com relação a produção orgânica no Vale do Taquari:a) dispersão de produtores com baixa disponibilidade de assistência técnica; b) diversos produtores já possuem uma trajetória significativa na agricultura orgânica, em torno de 08 a 10 anos; c) baixa utilização de mecanismos de garantia da qualidade por meio da certificação dos produtos ou inserção em organizações de controle social; d) baixo acesso ao crédito rural e inexistência de políticas públicas locais de incentivo à produção orgânica e) desconhecimento do poder público municipal, e até mesmo da assistência técnica oficial, dos sistemas orgânicos de produção existentes nos municípios.

A Região do Vale do Taquari, no Estado Rio Grande do Sul, possui as condições necessárias para a promoção da agricultura orgânica e a construção de processos voltados para o desenvolvimento sustentável a partir desse modo de produção agrícola, entretanto, são poucos os grupos de agricultores inseridos em cadeias produtivas de alimentos orgânicos que atuam de forma coordenada na região.

As hortaliças constituem-se do sistema orgânico de produção predominante na região, totalizando 41 propriedades identificadas. Outros produtos, como morango e gergelim também apresentam uma tendência de crescimento na região, tendo sido identificadas cinco propriedades que atuam com esses sistemas de produção. Outros produtos também foram identificados, mas apresentando menor expressão na região, tais como: fumo, erva-mate, uva, soja, laranja, e cana de açúcar. No processamento de produtos foi identificada somente uma agroindústria familiar que atua com produção de melado e açúcar, mas que encontra-se no processo de transição para a produção orgânica. Com relação a produção animal, característica predominante da produção convencional na região do Vale do Taquari, identificou-se 10 produtores de leite, que estão em processo de transição para a produção orgânica.

No quadro 1 apresenta-se a tipologia de propriedades rurais que atuam com produção de hortaliças orgânicas da Região do Vale do Taquari. A partir da elaboração dessa tipologia foi possível identificar a amostra para a realização da pesquisa de campo, totalizando 05 propriedades. Com esse recurso metodológico, de elaboração da tipologia, foi possível identificar os produtores que atuam com produção orgânica no Vale do Taquari e que possuem as características adequadas para responder a questão de pesquisa. A amostra da pesquisa, portanto, contempla propriedades em Cruzeiro do Sul, Arroio do Meio e Capitão, tipos 1, 2 e 3, respectivamente. Optou-se por estudar esses três tipos por melhor representarem a cadeia produtiva de hortaliças orgânica na região. Foram realizadas 5 entrevistas, contemplando 5 propriedades em 03 municípios, sendo 02 entrevistas em Arroio do Meio, 02 entrevistas em Capitão e 01 entrevista em Cruzeiro do Sul. Essas entrevistas tiveram duração média de 1,5 horas, sendo que todas foram gravadas e transcritas, para posterior análise de conteúdo por meio da técnica de análise categorial. Quadro 1 - Tipologia de propriedades rurais que atuam com produção de hortaliças orgânicas na Região do Vale do Taquari

Dimensões Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3 Tipo 4 Tipo 5

Relações com o mercado

Supermercados Supermercados Consumidor final Mercado

institucional Supermercados

Garantia da Qualidade

Certificação Organizações de controle social

Geração de credibilidade local

Organizações de controle social

Geração de credibilidade

local

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Tempo de produção

Até 05 anos Acima de 05 anos Acima de 05 anos Até 05 anos Acima de 05

anos

Nº de produtores 01 08 12 01 04

Fonte: pesquisa de campo 2008 – Grupo de Pesquisa da Univates: “Cadeias Produtivas de Alimentos Orgânicos e Desenvolvimento Sustentável na Região do Vale do Taquari” 6.1 Caracterização dos Tipos 1, 2 e 3 de propriedades que atuam com produção de hortaliças orgânicas na Região do Vale do Taquari TIPO 1 – constitui-se de somente 01 propriedade que possui certificação (auditoria de terceira parte) da produção, fornecida pela ECOCERT Brasil, com sede em Florianópolis. Trata-se de uma propriedade pioneira na Região , tendo lançado os seus produtos (alface americana, beterraba, brócolis, couve flor, repolho e cenoura) em abril de 2008 durante a realização da Feira de Produtos, Tecnologias e Serviços para a Agroindústria Familiar (AGROIND Familiar), em Lajeado/RS. A transição para a produção orgânica teve início em 2006, contemplando 2,6 hectares certificados. Essa propriedade atua fundamentalmente com produção convencional de aipim e milho verde, sendo que a produção orgânica representa somente 10% do faturamento total , aproximadamente de R$ 1,5 milhões anuais. O apoio inicial para a conversão para a produção orgânica teve origem da própria rede de comércio varejista que é parceira exclusiva do projeto, tendo aportado aproximadamente 50% do total dos recursos necessários para o investimento na estrutura de processamento das hortaliças. Área total da propriedade é de 45 hectares, sendo que destes 05 hectares já estão em processo de transição para a produção orgânica. São dois funcionários, do total de treze, que atuam no processamento dos produtos orgânicos, e mais três que atuam diretamente na produção orgânica (lavoura). Os insumos orgânicos são adquiridos de empresa especializada que possui certificação dos seus produtos. TIPO 2 – Constituem-se de 08 propriedades que possuem entre 0,45 a 20 hectares de área, tendo em média de 03 a cinco pessoal que residem nessas propriedades. Atuam na produção de hortaliças orgânicas, entretanto, a maioria da propriedades possuem atividades convencionais, principalmente de leite. Entretanto, 03 propriedades possuem 100% da produção considerada como orgânica. A produção de hortaliças orgânicas possui expressão em algumas propriedades, totalizando de 2 a 3 hectares com esse sistema de produção diferenciado. Os insumos são produzidos nas próprias propriedades. Trata-se de um grupo de agricultores, 08 famílias, que iniciou as suas atividades em 1996 com o apoio, inicialmente da Igreja Católica e do Movimento da Mulheres Trabalhadoras Rural (MMTR). Posteriormente, receberam apoio da Emater e do Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (CAPA), que se mantém atualmente . O CAPA foi criado pela Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), em 1978, com o objetivo de minimizar os impactos da modernização da agricultura que resultou no empobrecimento, êxodo rural e degradação ambiental. O CAPA, portanto, é uma ONG de assessoria e assistência técnica para agricultores familiares. Possui cinco núcleos localizados no Estado do RS (nos municípios de Pelotas, Santa Cruz do Sul e Erexim) e do PR (Verê e Marechal Cândido Rondon), e atua na promoção da agroecologia e da organização social e política de agricultores familiares. Esses agricultores constituem-se de um grupo informal, sendo que reúnem-se mensalmente para discussão e definição das atividades coletivas de produção e comercialização, sempre contando com a participação da Emater e do Sindicatos dos Trabalhadores Rurais (STR) de Arroio do Meio. O STR é parceiro do projeto, principalmente na comercialização dos produtos, disponibilizando as hortaliças orgânicas nas gôndolas do seu supermercado. Trata-se de uma Organização de Controle Social, conforme definido pelo Decreto de 6.323 de 27 de dezembro de 2007: “Grupo,

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associação, cooperativa, consórcio a que está vinculado o agricultor familiar em venda direta, previamente cadastrado no MAPA, com processo organizado de geração de credibilidade a partir da interação de pessoas e/ ou organizações, sustentado na participação, comprometimento, transparência e confiança, reconhecido pela sociedade.” (BRASIL, 2007). TIPO 3 – constitui-se de grupo de 12 propriedades que atuam de forma individualizada na produção e comercialização de produtos orgânicos. A comercialização é realizada diretamente aos consumidores finais, por meio de visitas às residências, tanto do meio urbano como no meio rural. O sistemas de produção nas propriedades são diversificados, predominando os orgânicos. Entretanto, na comercialização direta aos consumidores são ofertados produtos convencionais oriundos das Central de Abastecimento do Estado do Rio Grande do Sul (CEASA-RS). Esse produtos convencionais são adquiridos de revendedores regionais, localizados em municípios pólos da Região, tais como Lajeado e Encantado. Possuem, também, parceria com pequenos supermercados em alguns municípios da região, constituindo-se assim em outra forma de comercialização dos produtos orgânicos oriundos desses tipos de propriedades. Os produtos são ofertados como orgânicos, entretanto, os sistemas de produção não são certificados e os insumos orgânicos são produzidos na própria propriedade. Constatou-se que duas dessas propriedades receberam, no início das atividades, apoio do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e do Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (CAPA). Segundo Almeida (1999), o CAPA foi fundado a partir de “uma motivação de ordem teológica e da preocupação da Igreja em relação ao êxodo rural”, que atinge principalmente os pequenos produtores rurais. Os seus recursos são oriundos de projetos públicos e de cooperações internacionais. Atualmente, presta assessoria para várias organizações de produtores, em diversos municípios do Estado do RS. As principais dificuldades apresentadas dizem respeito a assistência técnica e baixa disponibilidade de mão de obra na propriedade, já que grande parte do tempo é utilizado para realização das entregas dos produtos nas residências.

6.2 Descrição das estruturas de coordenação e gerenciamento da cadeia produtiva de hortaliças orgânicas na Região do Vale do Taquari.

É a partir do quadro de interpretação teórica sobre Gerenciamento da Cadeia de suprimentos, proposto por Furlanetto (2002), que foram analisados os relacionamentos na cadeia produtiva de hortaliças orgânicas no Vale do Taquari. Os resultados da pesquisa apontam para a compatibilidade entre as características “ideais”da abordagem do SCM e as especificidades da cadeia produtiva analisada, porém de forma diferenciada para ambas as estruturas, de gerenciamento e coordenação. No que diz respeito a estrutura de gerenciamento apresenta-se como parcialmente compatível com as características consideradas “ideais”. Já com relação a estrutura de coordenação apresenta-se como compatível com as características consideradas “ideais”.

A partir dessas constatações foi possível diagnosticar pontos fracos e ameaças para a consolidação dos relacionamentos entre os agentes da cadeia produtiva de hortaliças orgânicas do Vale do Taquari, aspectos estes que ao serem divulgados podem subsidiar a construção de políticas públicas para promoção da agricultura orgânica na região. Os resultados da pesquisa, com relação a estrutura de gerenciamento e coordenação, são apresentados abaixo.

Quadro 2 - Características “Ideais” da Estrutura de Coordenação e Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos e Especificidades da Cadeia Produtiva de Hortaliças Orgânicas da Região do VT

CARACTERÍSTICAS IDEAIS

ESPECIFICIDADES DA CADEIA PRODUTIVA DE HORTALIÇAS O RGÂNICAS NA REGIÃO DO VALE DO TAQUARI

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Os agentes são identificados e possuem

preferência nas transações futuras?

Sim, as transações predominam entre os agentes identificados na cadeia produtiva sendo que os agentes manifestam o desejo de dar continuidade nas relações comerciais. Os agentes da cadeias produtivas (produtores e varejo) se conhecem e possuem histórico de sucessivas transações, permitindo um relativo fluxo de informações, o que poderá facilitar a implementação futura de rastreabilidade dos produtos e processos. Entretanto, os diferentes tipos de propriedades (1, 2 e 3) possuem baixa relação entre si, o que poderá dificultar ações coletivas na região.

Existem ações conjuntas que envolvem cooperação

entre agentes?

Sim, as ações efetuadas ao longo dos elos (produtores e varejo) que compõem a cadeia produtiva analisada envolvem iniciativas de parcerias e cooperação, facilitando o processo de resolução de problemas, podendo induzir a um maior grau de geração de inovações. Os agentes se organizam para ir ao mercado por meio de ações de cooperação, principalmente dos tipos produtiva e institucional. Ressalta-se que para a agricultura orgânica é fundamental o estabelecimento de cooperação do tipo tecnológica, ainda não identificado na cadeia produtiva analisada.

Os contratos são, predominantemente, de longo prazo, flexíveis e

renegociáveis?

Sim, predominam os contratos de longa duração, informais e flexíveis, podendo ser renegociáveis a qualquer momento. Constatou-se a existência de interesse dos agentes da cadeia produtiva analisada em estabelecer um processo continuado de transações, por meio de contratos do tipo relacionais.

Continuação Quadro 2 ... As informações fluem nos dois sentidos (a montante e

a jusante)?

Parcialmente, já que as informações fluem nos dois sentidos da cadeia, entretanto, mas limitando-se à quantidades e preço. A informação no processo de geração de inovações é de fundamental importância em sistemas orgânicos de produção, já que dependem do trinômio cooperação-aprendizado-capacitação e da implantação de sistemas de qualidade e de certificações, aspectos esses não verificados na cadeia produtiva analisada.

As ações ao longo da cadeia seguem uma padronização

própria?

Parcialmente, já que as operações, ao longo da cadeia analisada, não são totalmente padronizadas. A propriedade do tipo 1 procura transacionar sob a sua lógica e com padrões definidos (certificação), facilitando-se as transações. Nos outros dois tipos de propriedades os agentes ainda não possuem padronização de determinadas rotinas de operações, situação essa que dificultará a difusão de determinadas tecnologias, construídas no âmbito da ciência da agroecologia, para outros produtores rurais da região. Ao mesmo tempo, essa padronização poderá facilitar a rastreabilidade, a realização de planejamento estratégico conjunto e a cooperação para a inovação, aspectos esse fundamentais para o desenvolvimento da agricultura orgânica na região do Vale do Taquari.

Existe um responsável pela coordenação da cadeia?

Sim, nos tipos de propriedades estudas existe um coordenador que procura visualizar todos os seus segmentos, aproximando-se de uma única empresa. Constatou-se a existência de “ordenadores” da produção, responsáveis pelas transações ao longo da cadeia. Esse papel de coordenador é assumido pelo supermercado (empresa líder), no caso da propriedade tipo 1;, pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais – STR (entidade de classe) no caso das propriedades do tipo 2; e pelos próprios agricultores, no caso das propriedades do tipo 3.

Os conflitos são, geralmente, negociados

entre as partes?

Sim, constatou-se a tendência dos conflitos serem resolvidos entre as partes, sem a intermediação de uma terceira parte. Isso ocorre porque os agentes valorizam os contratos, formais e informais, baseados em relações históricas de confiança. Entretanto, não foram identificados conflitos entre os agentes da cadeia produtiva analisada. Na agricultura orgânica, devido aos altos custos de transação associados aos conflitos, os agentes devem se dispor a assumir determinados riscos, que serão minimizados pela construção de relações de confiança entre as partes envolvidas.

Existe de uma estratégia para a cadeia?

Parcialmente, já que as transações que ocorrem entre os agentes são orientadas por ações comuns nos tipos 1 e 2 de propriedades. Essas “estratégias” caracterizam-se pela adoção de promoção comum dos produtos (tipo 1), e pela adoção de baixos sobre-preços dos produtos (tipo 2). A cadeia analisada não configura-se como uma grande empresa, o que justifica-se pela dispersão dos agentes e por não existir concorrência com outras cadeias na região do Vale do Taquari.

Existem esforços no sentido de construir-se uma marca

para a cadeia?

Sim, constatou-se que nos tipos 1 e 2 de propriedades existem iniciativas nesse sentido, tendo-se a possibilidade de ampliação desses esforços para toda a cadeia produtiva de hortaliças orgânicas. Para poder competir com outras cadeias de suprimentos a cadeia produtiva de hortaliças orgânicas necessita construir a sua marca própria, sendo fundamental para isso a construção de uma identidade da cadeia. Trata-se de decisão estratégica da cadeia que proporciona agregação de valor aos produtos, principalmente com o propósito de aumentar a competitividade dos sistemas agroalimentares.

Os lucros advindos dos esforços cooperativos, como a criação de uma marca e a redução dos

custos, são repassados a todos os segmentos?

Não foi possível constatar se os benefícios advindos de esforços cooperativos são repassados aos membros de toda a cadeia. Importante afirmar que nos três tipos de propriedades analisadas existem a necessidade de interdependência e a intenção dos agentes em cooperar. A cadeia produtiva de hortaliças orgânicas no Vale do Taquari necessita investir em inovações tecnológica para poder se desenvolver. Para isso é fundamental a estratégia de cooperação entre as partes, no que diz respeito a divisão de investimentos, com objetivo de minimizar os riscos oriundos das especificidades da agricultura orgânica.

Fonte: elaborado pelo autores a partir de Furlanetto, 2002

O resultado da adoção do Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos para os negócios empresariais, segundo Wood & Zuffo, (1998), é que a competição não se dará apenas entre empresas, mas também entre sistemas de valores, através da implementação de uma visão sistêmica no empreendimento, incluindo fornecedores e canais de distribuição. Essa é a

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abordagem estratégica principal ao se estabelecer políticas públicas com o objetivo de aumentar a competitividade sistêmica da agricultura orgânica no Vale do Taquari, rompendo-se dessa forma com uma abordagem segmentada dos sistemas agroindustriais. 7 Conclusão

A partir da caracterização da cadeia produtiva de hortaliças na região, por meio da apresentação dos tipos de propriedades rurais, e da descrição das estruturas de coordenação e gerenciamento em que estão inseridos os agentes que compõem a referida cadeia, foi possível responder a questão de pesquisa do presente artigo: a estrutura de coordenação e gerenciamento da cadeia produtiva de hortaliças orgânicas da Região do Vale do Taquari atende de forma adequada às demandas do mercado?

Conforme apresentado na questão de pesquisa, são duas as categorias de análise da cadeia produtiva de hortaliças orgânicas na Região do VT: coordenação e gerenciamento. Além da relação entre o gerenciamento e o atendimento das demandas de mercado de forma adequada na cadeia produtiva estudada, buscou-se, também, identificar as influências da coordenação no atendimento das demandas de mercado de forma adequada.

Apesar da complexidade conceitual sobre Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos, é possível identificar três características predominantes relacionadas a essa abordagem teórica: gestão compartilhada; cooperação; e contratos flexíveis e de longo prazo. A agricultura orgânica, por sua vez, requer sistemas de gestão da cadeia produtiva que minimizem a assimetria de informações entre os diferentes agentes, tais como certificações e rastreabilidade. Essas ferramentas de gestão necessitam, além do monitoramento e controle dos processos, a construção de parcerias baseadas em relações de confiança, com o objetivo de gerar credibilidade para o consumidor.

A cadeia produtiva de hortaliças orgânicas deve ser vista como uma rede de empresas interdependentes que agem em sintonia, com o objetivo de criar valor ao cliente final. O Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos ou Supply Chain Management (SCM) tem como meta exatamente buscar esta sintonia na cadeia produtiva, aumentando, assim, a competitividade de todos os agentes. Envolve a gestão de todos os processos e relacionamentos entre as empresas, chegando até mesmo a modificar muitas práticas organizacionais após a sua implementação. Estas características é que diferenciam o SCM da logística, ou seja, da capacidade de intervenção nas empresas.

Portanto, considera-se fundamental analisar a cadeia produtiva de alimentos orgânicos a partir dos pressupostos do SCM, sendo as suas características “ideais” o que se considera como “atendimentos das demandas de mercado de forma adequada”. Buscou-se, assim, identificar a existência de compatibilidade e adequação das características estruturais do gerenciamento e coordenação das cadeias produtivas de hortaliças orgânicas com os pressupostos “ideais” da abordagem de Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos.

Conclui-se que a cadeia produtiva de hortaliças orgânicas na região do Vale do Taquari, no que diz respeito a sua estrutura de gerenciamento, atende as demandas de mercado de forma parcialmente adequada. Isso se justifica pela análise dos aspectos relacionados, principalmente, à gestão compartilhada da cadeia produtiva, tais como: fluxo de informações; padronização das operações; e estratégias comuns.

Por outro lado, a cadeia produtiva de hortaliças orgânicas atende as demandas de mercado de forma adequada, considerando-se a sua estrutura de coordenação. Confirma-se essa constatação ao se analisar os aspectos relacionados a cooperação e aos contratos (formais e informais) estabelecidos na cadeia produtiva.

O Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos, ou o Supply Chain Management (SCM) “[...] é o lado operacional da coordenação da cadeia [...]”, sendo a coordenação a forma de promover a cooperação competitiva por meio da interdependência entre os diferentes agentes

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(governança) buscando minimizar os custos de transação (FURLANETTO, 2002, p. 81). Portanto, em síntese, o gerenciamento está relacionado aos aspectos operacionais da cadeia e a coordenação está relacionada aos arranjos inter-organizacionais que se formam para que determinado produto alcance o mercado. A Cadeia Produtiva de Hortaliças Orgânicas na Região do Vale do Taquari, portanto, possui estrutura de coordenação que atende de forma adequada às demandas do mercado, necessitando avançar no gerenciamento dessa cadeia, buscando minimizar as assimetrias de informações.

O crescimento significativo da demanda de produtos livres de agrotóxicos e menos agressivos ao meio ambiente é uma tendência mundial, fato que também se reflete, porém com menor intensidade, no Brasil. Demanda esta que proporciona novas oportunidades de negócio para os diversos segmentos da agropecuária nacional.

O respaldo institucional da agricultura orgânica, reforçado pelo crescimento significativo da produção e das estratégias empresariais, se reflete na implantação de políticas públicas de apoio e promoção na ampliação desse sistema de produção no Brasil, principalmente nos últimos cinco anos. A compreensão das cadeias produtivas e, conseqüentemente, das influências que estas têm sobre os processos de planejamento do desenvolvimento, é de fundamental importância para potencializar o crescimento da produção. A consolidação da agricultura orgânica no país, a partir de intervenções públicas e privadas que busquem atender às demandas relacionadas à produção e à comercialização de produtos orgânicos, passa, portanto, pela compreensão das questões apresentadas no presente artigo.

O estudo dos modos específicos de organização produtiva e de comercialização proporciona o entendimento da capacidade das cadeias produtivas de alimentos orgânicos em atenderem e darem sustentação as demanda atuais e potenciais por produtos orgânicos. O ambiente em que estão inseridos os agentes que compõem as cadeias produtivas, interfere diretamente na coordenação e gerenciamento da cadeia produtiva e conseqüentemente nas características do atendimento às demandas do mercado, que, neste caso, passa pelas formas de organização da produção e comercialização.

Por fim, percebe-se que o desenvolvimento da agricultura orgânica no Brasil, e também na Região do Vale do Taquari, no Estado do Rio Grande do Sul, está associado ao adequado gerenciamento e coordenação das cadeias produtivas ou sistemas agroindustriais existentes. Para isso é necessário o aperfeiçoamento das transações entre os elos dessas cadeias com o objetivo de estabelecer modos de governança, que proporcionem tanto a redução dos custos de transação, como a geração de credibilidade junto aos consumidores finais.

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