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TRABALHO E REMUNERÇÃO: ANÁLISE DAS DIFERENÇAS EM RAZÃO DO GÊNERO Ailene O Figueiredo (Especialista em Direito PUC/RS) Guilherme A Figueiredo (Especialista em Direito PUC/RS) RESUMO: O presente artigo destina-se a correlacionar os paradigmas definidos pelos Direitos Humanos como fundamentos objetivos que limitam e simultaneamente, assentam a avaliação do Estado Democrático de Direito, notadamente a relação entre os Direitos Humanos e Direitos Sociais, seu tratamento nos ordenamentos jurídicos internacional e nacional, as características de universalidade, indivisibilidade e interdependência. Análise das normas internacionais ratificadas e internalizadas pelo Brasil sob a perspectiva da igualdade de gêneros, aplicáveis sob o prima do trabalho e a análise da diferença de remuneração entre gêneros. Para tanto foi utilizado o método exploratório, descritivo e analítico, são estudados os movimentos feministas e suas configurações, as principais teorias sobre o feminismo. Foi realizado mapeamento de pesquisa entre os anos de 2003 a 2017. Palavras-chave: cidadania, direitos fundamentais, trabalho, diferença, salário 1 NOTAS INICIAIS O artigo desenvolvido discute a questão de gênero analisada sob o enfoque da legislação dos Direitos Humanos e a interdisciplinaridade com o trabalho em razão da amplitude da questão da igualdade relativo aos direitos sociais, e ao salário projetado no mercado, suas diferenças, sob a ótica da ciência do Direito. Os Direitos Humanos tem por característica a indivisibilidade, razão pela qual não é viável o alcance de tais direitos apenas por parte da sociedade e parte de seu conteúdo. Na atualidade, ainda constatamos, além das dificuldades econômicas estruturais, divergências salariais entre gêneros, a qual a sociedade ainda justifica em razão da Anais do XIV Congresso Internacional de Direitos Humanos. Disponível em http://cidh.sites.ufms.br/mais-sobre-nos/anais/

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TRABALHO E REMUNERÇÃO: ANÁLISE DAS DIFERENÇAS EM RAZÃO

DO GÊNERO

Ailene O Figueiredo (Especialista em Direito PUC/RS)

Guilherme A Figueiredo (Especialista em Direito PUC/RS)

RESUMO:

O presente artigo destina-se a correlacionar os paradigmas definidos pelos Direitos

Humanos como fundamentos objetivos que limitam e simultaneamente, assentam a avaliação

do Estado Democrático de Direito, notadamente a relação entre os Direitos Humanos e

Direitos Sociais, seu tratamento nos ordenamentos jurídicos internacional e nacional, as

características de universalidade, indivisibilidade e interdependência. Análise das normas

internacionais ratificadas e internalizadas pelo Brasil sob a perspectiva da igualdade de

gêneros, aplicáveis sob o prima do trabalho e a análise da diferença de remuneração entre

gêneros. Para tanto foi utilizado o método exploratório, descritivo e analítico, são estudados

os movimentos feministas e suas configurações, as principais teorias sobre o feminismo. Foi

realizado mapeamento de pesquisa entre os anos de 2003 a 2017.

Palavras-chave: cidadania, direitos fundamentais, trabalho, diferença, salário

1 NOTAS INICIAIS

O artigo desenvolvido discute a questão de gênero analisada sob o enfoque da

legislação dos Direitos Humanos e a interdisciplinaridade com o trabalho em razão da

amplitude da questão da igualdade relativo aos direitos sociais, e ao salário projetado no

mercado, suas diferenças, sob a ótica da ciência do Direito. Os Direitos Humanos tem por

característica a indivisibilidade, razão pela qual não é viável o alcance de tais direitos apenas

por parte da sociedade e parte de seu conteúdo.

Na atualidade, ainda constatamos, além das dificuldades econômicas estruturais,

divergências salariais entre gêneros, a qual a sociedade ainda justifica em razão da

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maternidade. Entretanto, é possível afirmar que a discriminação vai além da problemática da

maternidade.

Em pesquisa estatística, a proporção de trabalho formal e informal (pesquisa nacional

por amostra de domicílio, realizada em 2009, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) foi identificado um abismo entre os gêneros relativos a ocupação e a

remuneração, tendo como parâmetro a idade, escolaridade, a jornada e estão situados em 38%.

De acordo com o IBGE de 2014 – pesquisa mais recente encontrada no aspecto

população ocupada, o sexo feminino era maioria com 10 anos ou mais de idade,

aproximadamente (53,7%) era minoria da população (45,4%) da população ocupada. Para as

mulheres esse apontador foi de 40,5% em 2003, mudando para 45,3% em 2011 e estabilizados

em 2014. Entre o sexo masculino, esse percentual era de 60, 8%, mudando para 63,4% em

2014.

De acordo com o Relatório Global sobre Desigualdade de Gênero, divulgado em

outubro de 2013, não há um país sequer onde as mulheres tenham as mesmas oportunidades

que os homens nas áreas de educação, política, economia e saúde. No Brasil 65% das

mulheres fazem a força de trabalho, ante 85% dos homens. Em média as mulheres ganham

61% dos salário dos homens. Apenas 18% das grandes empresas têm mulheres entre seus

executivos.

Elas ocupam apenas 9% das cadeiras do Congresso Nacional. O objetivo do presente

incide sobre o princípio inaugural do Direito do Trabalho, as funções que o mesmo

desempenha na contemporaneidade e o princípio da igualdade de gênero vinculadas a

igualdade de gênero.

Para tanto foi utilizado o método exploratório, bibliográfico, descritivo e analítico,

são estudados os documentos internacionais e recomendações dos movimentos feministas e

suas configurações, as principais teorias sobre o feminismo. Utilizando estudos da área da

História, IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2013 utilizado

para levantamento de microdados.

2 Conceitos de Direitos Humanos, Trabalho e Remuneração

O aspecto generalista dos Direitos Humanos com o reconhecimento de inúmeros

direitos inerentes ao seres humanos, isto é, segundo Wróblewski (2001, p.22) “[...]como

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conjunto dos direitos essenciais da pessoa humana e sua dignidade”. Inaugurada pelos

revolucionários franceses entre 1789 e 1799, caracterizou-se por ser um processo social e

político, e tinha por meta principal a extinção da monarquia e a proclamação da república,

culminando na universalização da noção do ser humano como sujeito de direito acima do

Estado. Tais aspirações tiveram fortes influências da Guerra da Independência Americana, e

estabeleceu em definitivo os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Segundo Norberto

Bobbio (2004, p. 101):

[...] com a Revolução, iniciara-se uma nova época da história, com uma explícita

referência a declaração, cuja a finalidade era, a seu ver, a meta inteiramente política de

firmar os direitos naturais, o principal dos quais é a liberdade, seguido pela igualdade

diante da lei, enquanto uma sua ulterior determinação.

A igualdade é construto fundamental da democracia, onde não é permitido distinções

e privilégios num regime liberal. Silva (2000, p.214) constata:

[...] Por isso a burguesia, cônscia de seu privilégio de classe, jamais postulou um

regime de igualdade. É que um regime de igualdade contraria seus interesses e dá a

liberdade sentido material que não harmoniza com o domínio de classe em que assenta

a democracia liberal burguesa[...] (SILVA, 2000, p. 214)

Organizada por um lado, o Welfare State (SILVEIRA, FERNANDES, 2017, p.20) do

pós guerra veio concretizar ideal socialista substancial de igualdade de condições de vida

digna para todos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, introduz

universalmente de forma objetiva os Direitos Humanos por meio das Organizações das

Nações Unidas(ONU), definidos por Comparato: [...] Os direitos humanos são direitos

consagrados nos tratados internacionais considerados, em tais normas internacionais, como

direitos dos quais são sujeitos todas as pessoas, pelo simples fato de sua humanidade” (2003,

p. 12).

A ONU iniciou suas atividades como Liga das Nações e Organizações e da

Organização Internacional do Trabalho, que serviu para a internacionalização dos Direitos

Humanos, o qual era aplicado apenas em tempos de guerra como direito humanitário

(PIOVESAN, 2007, p. 111), a instituição da OIT em 1919, em pioneirismo ímpar na ordem

jurídica internacional da proteção da dignidade da pessoa humana, é anterior à Declaração

Universal de Direitos Humanos ( DUDH) e dos Pactos Internacionais de Direitos Humano de

1966. Canessa afirma que:

[...] o Direito Internacional do trabalho (DIT) tem tido uma forte influência sobre o

DIDH desde a sua criação. Não foi nenhuma surpresa que a Declaração de Direitos

Humanos (1948) e, posteriormente, ambos os Pactos Internacionais de Direitos

Humanos (1966) incluíssem os direitos trabalhistas. Entendeu-se que o mundo do

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trabalho no qual se desenvolvem os seres humanos tinham que ser protegido por um

conjunto de direitos trabalhistas básicos que garantam respeito à dignidade humana

(CANESSA, 2012, p. 288)

O trabalho é definido por Reis (BARZOTO, 2011, p. 15) como [...]esforço corpóreo

que arranca da natureza os meios de sobrevivência, não é um fim em si mesmo, não diferencia

o homem das demais espécies biológicas. Integra o processo natural, vinculado ao

determinismo próprio da physis. [...]. Num regime de escravidão, os escravos são

considerados objetos, não desfrutando qualquer direito. O Direito do Trabalho desponta

timidamente com o início da Revolução Industrial, em razão da substituição da força humana

pelas máquinas. À partir daí, emergem os conflitos, os trabalhadores passam a associar-se e o

Estado passa a intervir nas relações de trabalho. Surge o constitucionalismo social, em que as

Constituições passam a versar sobre os direitos sociais e trabalhistas, tendo a Constituição do

México como primeiro Estado a incluir o tema.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) por ocasião da celebração do

Tratado de Versalhes datado de 1919 em que foi prevista sua criação, passando esta, a partir

de 1921 a deliberar sobre temáticas trabalhistas e previdenciárias por meio de convenções e

recomendações. Tem por finalidade realizar a justiça social e assegurar aos indivíduos um

regime de trabalho humanizado.

Na perspectiva internacional, o Direito Internacional do Trabalho (DIT) é um ramo

do Direito Internacional Público (DIP), tendo adotado 189 (cento e oitenta e nove)

convenções que tratam de variados aspectos relativos ao trabalho e normatizam os parâmetros

mínimos de proteção aos trabalhadores, aditadas pelas 203 (duzentas e três Recomendações

(http://wwwilo.org/public/english/standarts/relm/country.htm> acesso em 22/07/2017). São os

principais instrumentos internacionais de regulamentação das relações sociais trabalhistas

com o objetivo de assegurar a justiça social e proteção ao trabalho, convergindo juridicamente

o DIT e o Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH).

A OIT, no preâmbulo de sua constituição de 1919, elenca três axiomas básicos

pertencentes com os princípios do Direitos Humanos:

[...]1. A paz universal e permanente só pode basear-se na justiça social;

2.Urgência na melhoria das condições de um grande número de pessoas, tendo em

vista que a injustiça, as privações e a miséria levam a um descontentamento tão grande

que põe em perigo a paz e a harmonia universal;

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3. De impedir-se que a falta de adoção, por parte de uma nação, de regime de trabalho

humano não impeça os esforços das demais para melhorar a sorte dos trabalhadores

em cada uma delas. (ZAPATA, 2017, p. 41)

Alicerçada na dignidade da pessoa humana, a OIT emitiu inúmeras Convenções

balizando o standard relativo aos direitos dos trabalhadores. A Convenção n. 29 refere-se ao

trabalho forçado ou obrigatório, datada de 1930, mereceu especial distinção, sendo

considerada norma fundamental pela entidade em 1998 e haver antecedido a própria DUDH,

tal a sua relevância.

Consoante Basso e Polido:

[...] Os instrumentos adotados pela OIT também foram precursores dos numerosos

tratados de direitos humanos (no níveis multilateral e regional) que seguiram e se

multiplicaram após o término da Segunda Guerra Mundial. Normas internacionais de

proteção dos direitos fundamentais da pessoa foram sendo gradativamente positivadas,

como mesmo demonstra a evolução conceitual e valorativa da Declaração dos Direitos

Humanos de 1948 e da entrada em vigor dos Pactos de 1966 sobre Direitos Civis e

Políticos e Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, adotados pelos membros das

Nações Unidas. (BASSO, POLIDO, 2012, p. 141)

Em regulamentação do trabalho feminino, a OIT, expediu a declaração sobre a

justiça social para uma globalização equitativa, segundo a qual institucionaliza o conceito de

trabalho. No tocante a gêneros, as principais normas são a Convenção 100, sobre igualdade de

remuneração, a Convenção 111, sobre a discriminação no emprego e ocupação, a Convenção

156, sobre trabalhadores com responsabilidades familiares e a Convenção n. 189, sobre

trabalho doméstico, vez que nesta seara, ainda prepondera o trabalho feminino.

A Convenção 100 foi adotada pelo Brasil 1951, e ratificada em 24.04.1957, onde

conceitua a expressão “igualdade entre mão de obra masculina e a mão de obra feminina por

um trabalho de igual valor”, onde cada Estado promover a aplicação de igualdade de

remuneração entre mão de obra feminina e masculina. Garante também a igualdade de

remuneração para trabalho de igual valor, em razão da segregação.

Em 1927, surge a Carta del Lavoro que estabeleceu um sistema corporativista-

fascista e o qual veia a iluminar os sistemas políticos de Portugal, Espanha e o Brasil

(ZAPATA, 2017, p. 75).

No Brasil, em 1930, Getúlio Vargas foi o primeiro presidente a criar o Ministério do

Trabalho, Indústria e Comércio com a incumbência de elaborar decretos sobre profissões, o

Direito do Trabalho foi inicialmente inserido na Teoria do Direito Social, e a qual era

destinada à salvaguardar os direitos dos hipossuficientes. Segundo Cesarino Junior (JÚNIOR,

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1957, p. 35), seria um [...]direito coletivo, assistencial e previdenciário, destinado a promover

a justiça social[...]. A denominação Direito do Trabalho surgiu na Alemanha em torno de

1912 (MARTINS, 2015, p. 27).

Modernamente passou a denominação de Direito do Trabalho, sendo este

conceituado por Martins (MARTINS, 2016, p.39) [...] como conjunto de princípios, regras e

instituições atinentes a à relação do trabalho subordinado e situações análogas, visando

assegurar melhores condições de trabalho e sociais ao trabalhador, de acordo com as medidas

de proteção que lhe são destinadas.

O trabalho das mulheres ganha a primeira regulamentação no Brasil em 1932 por

meio do Decreto 21.417, que instituiu a proibição do trabalho da mulher no período noturno,

entre 22:00 e 5:00 do dia seguinte, e proibiu igualmente a remoção de peso, concedeu dois

descansos diários de meia hora cada um para amamentação do filhos, durante os seis

primeiros meses de vida. (http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-

21417-17-maio-1932-559563-publicacaooriginal-81852-pe.html acesso em 10/07/2017).

Observando-se que este decreto anuía com a lógica estampada no Código Civil de

1916 no que tange às relações familiares, o qual promovia a identificação da mulher com os

grupos de incapazes e qualquer passo fora do lar devia ser autorizado pelo marido, tanto assim

como a sua rescisão de contrato.de trabalho (CC, 1916).

A primeira Constituição a tratar sobre o trabalho feminino foi a de 1934

(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm, acesso em 22/0/2017),

a qual positivou, em cumprimento ao Tratado de Versalhes, em seu artigo 121, a não

discriminação da mulher relativa a salário e estabeleceu outras garantias, tais como o repouso

após antes e após o parto sem prejuízo do salário, proibição de trabalho em locais insalubres e

instituição de previdência em favor da mulher em razão da maternidade.

O salário-mínimo foi instituído pela Lei n. 185 de 14/01/1936. Segue-se a

Constituição de 37, e o Decreto-lei 2.548 de 31/08/1940 que complementa e regulamenta o

salário-mínimo. Este decreto dispunha sobre as hipóteses em que era autorizado as reduções

de salário. Para os aprendizes entre 18 e 21 anos havia uma redução em 15%. Ao atingir os 21

anos cessava a redução. No caso de trabalho feminino a redução era de 10% em caráter

absoluto e definitivo, e sem que fosse estendido às trabalhadoras domiciliares.

A Consolidação de 1943 retirou a permissão da inconstitucional e injustificada

dedução. Entretanto, veio a aprofundar a regulamentação com manifesta intenção tutelar e

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restringir a prorrogação da jornada de trabalho por duas horas, com pagamento de adicional

de 20% por cada hora, desde que a mulher fosse autorizada por atestado médico. Apenas em

casos excepcionalíssimos seria viável a elevação da jornada até 12 horas.

Regulamentou igualmente o trabalho noturno feminino, restringindo às mulheres

maiores de 18 anos, nas atividades de radiofonia, radiotelegrafia, telefonia, enfermagem, e em

casas noturnas, tais como bares, restaurantes, era necessário a apresentação de atestado de

bons antecedentes, a ser fornecido por autoridade competente, acrescido de atestados de

capacidade física e mental; isto é; para serem consideradas aptas ao trabalho noturno, deveria

haver comprovação de não ser prostituta ou mesmo uma insana. Ficaram mantidas as

proibições acerca do trabalho perigoso e/ou insalubre, e quanto a maternidade, a licença foi

ampliada de 8 para 12 semanas, e aditando a autorização se o bebê fosse doente

As Organizações das Nações Unidas (ONU) realizou em 1979 a Convenção sobre a

Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher (CEDAW). Primeiro

Tratado Internacional sobre os Direitos Humanos das Mulheres, tem por objetivo a repressão

sobre a discriminação feminina e a viabilização de direitos da mulher e a igualdade de gênero.

Passou a vigorar desde 1981 com ressalvas, e é o maior e mais importante

instrumento de caráter internacional o qual gera efeitos vinculantes aos Estados-Membros e

que possui a finalidade de resguardar e garantir os direitos humanos das mulheres. É meio de

garantia do pleno exercício dos direitos civis, políticos, econômicos sociais e culturais. As

ressalvas foram abolidas. No tocante às ressalvas, estas se referiam ao artigo 14§4º e 16§1º

(a), (b), (c) e (h), amparado no Código Civil vigente. Só em 1994, isto é, há vinte e três anos,

o Estado brasileiro notificou o Secretário Geral das Nações Unidas sobre a eliminação das

ressalvas.

A Convenção tem como documentos antecedentes, a Convenção dos Direitos

Políticos da Mulheres, datada de 1952; a Convenção sobre as Mulheres Casadas de 1957; a

Convenção sobre a Nacionalidade de Mulheres Casadas de 1962, a Convenção sobre o

casamento por Consenso, Convenção sobre a Idade Mínima para Casamento e Registro de

Casamento de 1962(http://www.compromissoeatitude.org.br/convencao-sobre-a-eliminacao-

de-todas-as-formas-de-discriminacao-contra-a-mulher-cedaw-1979/ acesso em 31/07/2017),

a Declaração sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher (CEDAW) de 1967, que

englobou em um único instrumento jurídico padrões interacionais que articulavam direitos

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iguais para homens e mulheres, embora não vindo a ser convalidada como tratado, não

vinculando aos Estados-Membros obrigações legais.

Todos esses documentos foram aglutinados e vieram consubstanciar a CEDAW:

[...]sendo considerada a Carta Magna dos Direitos da Mulher simboliza o resultado de

inúmeros avanços – em termos de princípios, normas e políticas- construídos nas

últimas décadas, em um grande esforço global de edificação de uma ordem

internacional de respeito à dignidade de todo e qualquer ser humano.

(https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/122/edicao-1/genero-e-direito).

O Brasil, só a partir de 1984 passa a internalizar o tratado por meio da Lei 89.460/84,

e iniciam-se as mudanças legislativas para implementação das políticas públicas para a

eliminação da desigualdade de gênero. Desde então, inúmeros esforços foram envidados pelo

Governo por meio de políticas públicas para o atingimento de igualdade social não só entre

gêneros, mas a toda sociedade.

3 Legislação vigente sobre a mulher no mercado de trabalho

Contemporaneamente, a Carta da República de 1988 trata dos direitos trabalhistas

nos artigos 7º ao 11º e incluídos no Capítulo II sob o Título “Dos Direitos Sociais, do Título

“Dos Direitos e Garantias Fundamentais. No que tange ao combate à discriminação contra

mulher e aos parâmetros protetivos internacionais como promoção da igualdade através de

políticas compensatórias – artigo 7º XX ( previsão de proteção mercado de trabalho da

mulher, mediante incentivos específicos em lei) e de vertente repressivo-punitiva – art. 7º,

XXX através da proibição da discriminação contra a mulher em que proíbe a diferença de

salários, de exercício de funções e de critérios de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou

estado civil.

Fica evidenciado o alcance no que tange as conquistas constitucionais: a) a igualdade

entre homens e mulheres desde o contexto b) o reconhecimento da união estável como grupo

familiar, c) a reafirmação proibição da discriminação no mercado de trabalho em razão do

sexo e/ou estado civil, insculpido no art. 7º XXX da Carta da República, regulamentado pela

Lei 9.292 de 13 de abril de 1995 que proibindo a exigência de atestado de gravidez e/ou

esterilização e entre outras discriminatórias com finalidade admissionais ou de permanência

da relação jurídica de trabalho); d) proteção especial da mulher no mercado de trabalho

mediante incentivos específicos (art. 7º , XX regulamentado pela Lei 9.799 de 26 de maio de

1999, que insere na Consolidação das Leis do Trabalho regras sobre o acesso da mulher no

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mercado de trabalho); e) o planejamento familiar como uma decisão livre para o casal,

devendo o Estado propiciar os recursos científicos e educacionais para o exercício deste

direito- art. 226§7º.

Em matéria penal, o dever do Estado de coibir a violência no âmbito das relações

familiares- art. 226,§8º, onde foi prevista a notificação compulsória, em território nacional, os

casos de violência contra mulher que for atendida em serviços de saúde públicos ou privados,

nos termos da lei 10.778 de 24/11/2003, a Lei 13.104 de 09/03/2015, chamada Lei do

Feminicídio que alterou o art. 121 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 -

Código Penal, para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de

homicídio, e o art. 1o da Lei n

o 8.072, de 25 de julho de 1990, para incluir o feminicídio no rol

dos crimes hediondos, a Lei Maria da Penha – Lei n. 11.340 de 7/08/2006 para prevenção e

combate a da violência contra a mulher, a Lei 9.504 de 30/09/1997 que dispõe sobre a reserva

para partido ou coligação de mínimo de 30% e máximo de 70% para candidaturas de cada

sexo, j) e a Lei 10.224 de 15/05/2001 que dispõe sobre assédio sexual.

Toda a estrutura legislativa construída ainda não é suficiente para impedir de forma

concreta a discriminação, que insiste permanecer, em razão de cultura arraigada na sociedade.

4 A Igualdade e a Diferença Salarial e Motivos da Diferença

Desde Versalhes, a equiparação salarial entre homens e mulheres está recomendada

internacionalmente. O artigo 3º da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), dispunha que a

todo trabalho igual deveria corresponder salário igual sem distinção de sexo. O artigo 461

estabelece especificamente que:

[...]sendo idêntica a função, a todo o trabalho de igual, prestado ao mesmo

empregador, na mesma localidade, corresponde a igual salário, sem distinção de sexo,

nacionalidade ou idade; trabalho de igual valor, para fins desse capítulo, será o que for

feito com igual produtividade e com a mesma perfeição técnica, entre pessoas cuja

diferença de tempo de serviço não for superior a dois anos.

(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm, acesso em

26/07/2017)

Logo, a lei brasileira ao circunscrever parâmetros tais como identidade de funções, e

não só de posto, a inserção de critérios de rendimento, qualidade, produtividade do trabalho

vinha a estabelecer e firmar o acesso a discriminação salarial de gênero, a qual restringia o

acesso da mulher às funções assalariadas, convertendo-a em uma trabalhadora mais cara e

simultaneamente circunscreveu tipos de ocupações onde não era exigido treinamento, tonando

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a mulher menos classificadas pelo mercado como menos qualificadas (MORAES FILHO,

1976, pág. 5,

(https://bvemf.files.wordpress.com/2014/08/pareceres_de_direito_do_trabalho_i.pdf acesso

em 26/07/2017). Importante descortinar o construto social da desigualdade, e os meios

utilizados pela sociedade para fortalecimento do patriarcalismo em detrimento da condição

feminina.

Contemporaneamente, a diferença salarial ainda a diferença de remuneração se impõe

no mercado de trabalho, Calil baliza o aperfeiçoamento do direito da mulher em três fases,

que vai da proibição, perpassa pela promoção da igualdade mas com restrições, e alcança a

última, em movimentos sociais que denomina “ondas de transição”, em que constata:

[...] Delimitamos o período entre a promulgação da CLT até o início dos trabalhos da

Constituinte de 1985. Foi um período de intensas mudanças: sociais, econômicas,

políticas, todas elas afetando o trabalho da mulher, e a terceira que é o direito

proporcional propriamente dito, que começa com a promulgação da Constituição de

1988 e vai até os dias de hoje. É o tempo do direito promocional propriamente dito,

onde se busca promover a igualdade dentre os gêneros. (CALIL, 2000, p. 67)

Conforme IBGE, a População Economicamente Ativa (PEA), a população feminina no

Brasil cresceu 260% contra a masculina na ordem de 73% entre os anos de 1970 e 1990

(ftp://ftp.ibge.gov.br/Estatisticas_de_Empreendedorismo/2011/empreendedorismo2011.pdf,

acesso em 27/07/2017). Apesar desse incremento populacional, o rendimento entre os

gêneros, que neste trabalho tem por base apenas o binário, ainda favorece fortemente o sexo

masculino.

A classificação das diferenças salariais são efetuadas a partir dos seguintes

parâmetros: [...]a diferença na produtividade em razão do sexo, podendo ou não haver

implicações de níveis diferentes de capital humano (MIKI e YUVALI, 2011). A segunda

possibilidade relativa a [...]segregação ocupacional que tanto pode ser originada da

preferência dos indivíduos de diferentes gêneros (FOUARGE, KRIECHEL e DOHMEN,

2014), ou pela [...] preferência de contratação dos empregadores ou consumidores dos

produtos finais (KHUN e SHEN, 2013).

Tal segregação, pelo vértice da demanda Madalozzo (MADALOZZO, 2010) conclui

que a segregação por demanda por trabalho leva à terceira forma de diferenciar salários entre

homens e mulheres: a discriminação.

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Os estudos acima apontam que a discriminação salarial se dá quando [...] para os

mesmos níveis de escolaridade, experiência e controlados por outros fatores que teriam

impacto na produtividade de ambos os sexos, é observada uma diferença salarial entre os

gêneros (KAUFFMAN e HOTCHKISS, 2006).

Os dados levantado pelo IBGE constatam que as mulheres possuíam em 2011, nível

educacional mais elevado que os homens apontando uma diferença de 12 anos de estudos para

as mulheres e 10 anos para os homens, razão pela qual é conclusivo que a diferença salarial

não está relacionado às características pessoais

(ftp://ftp.ibge.gov.br/Estatisticas_de_Empreendedorismo/2011/empreendedorismo2011.pdf).

Segundo Oliveira (OLIVEIRA, 1997, p.109), a segregação pode sobrevir quando as

categorias femininas pagam em média salários inferiores às ocupações masculinas, fator

preponderante para o estabelecimento da desigualdade.

É cediço que a segregação ocupacional tem origem não [...]somente pela opção dos

indivíduos como pelas razões históricas ou ainda pelas condições sociais que resultem

indiretamente na discriminação (MACHADO, OLIVEIRA, WAJNMAN, 2005, p. 83), que

tomam como exemplo as ocupações consideradas extensivas ao trabalho doméstico já

exercida no ambiente privado e intituladas como segregação imediatamente anterior ao

mercado, isto é, são as ocupações que precedem o mercado de trabalho.

Os dados da PNAD- 2013, é observável que a proporção entre homens e mulheres na

População Economicamente Ativa (PEA), e cuja participação das mulheres na força de

trabalho, trabalhando ou a procura de trabalho é inferior a masculina. Nesta pesquisa ainda é

possível identificar a relação entre idade e nível educacional favorável à mulheres, entretanto

a média salarial feminina é 72% da masculina, razão pela qual depreende-se a concretização

da discriminação ou que sejam afastadas da ocupações que remuneram mais.(

http://www.observatoriodegenero.gov.br/menu/noticias/homens-recebem-salarios-30-

maiores-que-as-mulheres-no-brasil/ acesso em 26/07/2017).

Outra questão que se impõe é quando se trata de mulheres ocupando profissões

tipicamente masculinas (GIUBETI, MENEZES FILHO, 2005), o diferencial médio ainda é

desfavorável às mulheres, não sendo possível localizar a justificativa, e quanto a intituladas

profissões integradas, em que as proporções de homens e mulheres são assemelhadas, a

diferença sempre é favorável aos homens, mesmo havendo formação educacional superior a

masculina.

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No relatório Estatísticas de Gênero, publicado pelo IBGE em 2014, revela que 19,4%

dos homens e 30,4% das mulheres com 16 anos ou mais não tinham qualquer tipo de

rendimento. Segundo Lavinas, ao efetuarmos a associação da mulher com o incremento da

chefia de família monoparentais, podemos afirmar que se trata da feminização da pobreza

(LAVINAS, 1996, p. 464). Este termo, é considerado polêmico, pois não dimensiona o

quadro de desigualdade de renda entre os sexos. Permanecem excluídos outros diferenciais

tais como o de menor jornada, taxa de desemprego, a inserção no primeiro emprego.

Uma das motivações identificada na pesquisa diz respeito a dupla jornada de

trabalho, e que em razão disso as mulheres propendam a investir menos nas profissões, e no

decorrer da vida, vão sendo privadas as vantagens remuneratórias em relação aos que se

mantém no mercado de trabalho.

Adicione-se ainda a questão diferencial da maternidade, que torna a mão de obra

feminina mais cara em relação a masculina. Alguns países tais Polônia, Alemanha,

Dinamarca, Inglaterra entre outros, com o objetivo equalizar os gêneros autorizam a licença

paternidade, que dependendo do país autorizam de forma remunerada a licença, podendo ou

não ser simultânea a da mulher, ou ainda subsequente a licença da mulher, pelo período entre

um mínimo de seis até 36 meses. (Http://www.brasileiraspelomundo.com/inglaterra-licenca-

maternidade-pelo-mundo-410913529).

Os excertos selecionados selecionaram as amostras referentes aos indivíduos que

efetivamente estão participando da força de trabalho, e excluem as mulheres com renda mas

que não trabalham, isto é quando o rendimento não é pessoal, assim como a análise perpassa

pelos tipos de ocupação, com segregação ocupacional ou mesmo integradas.

O maior entrave identificado ainda se traduz ainda na cultura machista, visto não

haver razões objetivas que justifiquem a tal desigualdade, e o qual se revelam em diversas

frentes: na contratação, na remuneração, durante a jornada de trabalho, leia-se não apenas

referente a assédio mas também no demérito trabalho cumprido, na qualidade da ocupação, no

tempo dispendido em dupla jornada, na ausência de divisão das tarefas domésticas, na

ausência da divisão das tarefas com a família, tanto com os filhos como em relação aos

cuidados com os parentes idosos.

As inúmeras discriminações contra a mulher que ocorrem desde a procura por uma

colocação. Algumas normas internacionais diferenciam as discriminações diretas e indiretas

segundo Thome:

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[...]A discriminação direta em razão do gênero ocorre na situação em que se encontra

uma pessoa que seja, tenha sido ou poderia ser tratada, por razão do seu sexo, de

maneira menos favorável que outra em razão comparável, diretamente pelo Estado ou

particulares, fazendo uma diferenciação explícita, sem fundamento, entre homens e

mulheres. (OIT, 2007, p. 50)

A discriminação direta só ocorre por causa de questões legais ou normas religiosas

que proíbem as mulheres de participar de atividades laborais da mesma maneira que

os homens, com leis que proíbam ou restrinjam a participação das mulheres m

contratos de trabalho ou que determinem que a mulher deva receber menos que os

homens.

A discriminação indireta em razão do gênero, por sua vez, é a situação em que uma

disposição, critério ou prática aparentemente neutra põe duas pessoas de um sexo em

desvantagem particular com respeito a pessoas do outro, salvo que dita disposição,

critério ou pratica possa se justificar objetivamente em atenção a uma finalidade

legítima. (THOME, 2012, p. 141)

Segundo esta autora, a problemática do gênero atinge de forma diferenciada as

relações de trabalho, alguns mais outros menos:

[...] Isso ocorre, normalmente, com grupos em situação de vulnerabilidade social, tais

como grupo de mulheres que trabalham no âmbito rural, de mulheres negras, mulheres

imigrantes, meninas, idosas ou com alguma deficiência. Nesses casos, as

discriminações são potencializadas pela presença de outros tipos de discriminação e

costumam ser chamadas de discriminação dupla, múltiplas, discriminações compostas,

sistemas múltiplos de subordinação, intolerâncias correlata, ou ainda,

interseccionalidade de discriminações. (THOME, 2012, 141)

Em estudos sobre as diversas discriminações, Crenshaw (CRENSHAW, 2012,

p.171), qualifica a interseccionalidade [...] como método de análise de múltiplas

discriminação, seja racismo, exploração de classe, ou homofóbicos (BLACKWELL E

NADER, 2002, p. 189), Crenshaw esclarece:

[...] ainda em um diálogo entre dois ou mais eixos de subordinação, tais como gênero,

raça religião, e país de origem e ainda afirma que, para que os direitos humanos

tenham efetividade em sua plenitude, faz-se necessário, primeiramente, analisar como

as outras formas de dominação influenciam na questão do gênero, já que tais dados

são desconhecidos e, posteriormente, antecipar quais as formas de encruzamento das

vulnebilidades mais comuns em determinada região ou comunidade. (CRENSHAW,

2012, p. 171).

O estudos das discriminações possuem outros enfoques tais como a superinclusão

definida como circunstância ou condição imposta a um subgrupo de mulheres,

desconsiderando as dimensões de raça origem, religião ou outra forma qualquer de

dominação. E a subinclusão se refere a uma análise de problemática que não considera o

gênero como ponto relevante em razão de não ser afeto aos ditos problemas comuns das

mulheres do grupo dominante.

A segregação ocupacional, segundo levantamento de Dolado, Felgueroso e Jimeno

(2002), estabelece critérios de oferta e demanda na análise. Pela demanda as mulheres são

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assimiladas, em média como menos qualificadas que os homens, e pela oferta, discerniram

que as mulheres são forçadas a escolherem ocupações em que seja possível harmonizar

trabalho e tarefas domésticas. Tais ocupações requerem menor investimento, e caso,

necessitem para de trabalhar por razões diversas impactará menos a economia doméstica.

A relevância da investigação diz respeito, que neste trabalho não se exaure, a correta

identificação das condições das mulheres e o desenvolvimento de políticas eficazes capazes

de corrigir as distorções. Uma interpretação ou uma pesquisa parcial pode gerar conclusões

que não correspondem ao concreto.

A questão que se impõe não pertence apenas minoração do desemprego, mas que a

natureza do emprego tenha qualidade que viabilize a autonomia feminina.

5 Notas Finais

O Brasil tem origem colonial baseada no latifúndio, na mão de obra escrava, na

família tradicional, no patrimonialismo. Não ofertava oportunidade de emprego, além do

doméstico, e ensino para a maioria das mulheres. O Código Civil de 1916 notabilizou a

superioridade masculina ao definir o marido como o chefe da sociedade conjugal, relegando a

mulher unicamente o espaço privado.

A lacuna de instituições democrática, o desnivelamento legal e a cultura patriarcal,

não foram suficientes para obstar o nascimento dos movimentos feministas. Nísia Floresta

que trabalhou pela implantação da educação pública inclusiva (894-1976), Bertha Lutz que

desempenhou papel importantíssimo pelo direito ao voto e Patrícia Galvão, percursora da

liberdade de comportamento e expressão.

Por meio deste estudo, é possível firmar que ao fim da República Velha (1889-1930),

iniciou-se no Brasil o movimento de industrialização e urbanização. Os movimentos pela

igualdade de direitos acirraram-se e viabilizou-se muitas conquistas: direito ao voto em 1932,

vindo a alcançar a maioria do eleitorado a partir de 1998, reduziu-se taxa de mortalidade, e já

vivem em média sete anos há mais que a média masculina, na educação, são a maioria na

população economicamente (PEA), ultrapassaram os homens em todos os níveis, a taxa de

participação no mercado de trabalho. Quanto aos programas de assistência e previdência

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social também são maioria e quanto ao arcabouço legislativo se fundou a igualdade de direitos

por meio da Constituição Federal de 1988.

Segundo Avelar, [...] a progressiva participação das mulheres na vida política,

deflagrada no século XX, deve ser vista sob a perspectiva das mudanças sociais culturais e

políticas das sociedades. (AVELAR, 2002, p. 40). Os movimentos feministas tem importância

ímpar nas conquistas e as quais foram capazes de empreender transformações profundas na

sociedade brasileira.

A transposição do essencialismo rural dominante para a sociedade urbana contribuiu

para o desenvolvimento econômico, reduzindo a taxa de mortalidade e os índices de fome. O

Brasil experimenta em nossos dias a transição de população jovem para a população que

transita entre a idade mediana acima dos cinquenta anos, ou seja, em processo de

envelhecimento, e a mudança do paradigma da velhice para o ser humano acima de 80 anos.

Identifica-se a mudança dos padrões familiares que viabiliza a diversidade de

famílias e a mudança do paradigma. A diversidade religiosa também é ponto relevante e gera

influências sociais importantes. A consolidação da ordem democrática interfere de forma

positiva o atingimento da igualdade.

A simples enumeração de dispositivos legais insculpidas na CEDAW não concretiza

os anseios femininos, mas sim tornaram-se metas a serem alcançadas pelos Estados-Membros,

necessitando de um trabalho conjunto dos Poderes constituídos, e cada qual em sua função,

podem elaborar de forma uniforme, políticas públicas orientadas para os direitos das

mulheres.

A questão salarial ainda se traduz em tema de relevância, pois a assimetria

identificada na pesquisa aprofunda a dependência nefasta que desenvolve e consolida o poder

masculino sobre a mulher. Para Esther Duflo[...] em um sentido de, o desenvolvimento joga

um papel importante na diminuição da desigualdade entre homens e mulheres, em outra

direção, o empoderamento das mulheres pode beneficiar o desenvolvimento (DUFLO, 2011,

p. 2).

A exclusão feminina do mercado de trabalho na atualidade ainda é uma barreira a ser

vencida, pois a mesma não deve se ater apenas a área urbana, mas incluir as variáveis sociais

que cercam a análise. A divisão sexual do trabalho acarreta a desigualdade e concentra

determinado sexo em determinado ramo, dificultando o alcance e a ascensão profissional, que

é justificado pela sociedade com fundamento no instinto maternal.

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A mão de obra feminina sempre teve como característica a precariedade, sofrem ainda

com a feminização do desemprego, o que gera uma menor regulamentação das condições de

trabalho e são maioria na no emprego doméstico. Em linhas gerais foi constatado mesmo

havendo certa redução na desigualdade salarial entre homens e mulheres, a mulher vem sendo

mantida nas faixas salariais mais baixas e intermediárias.

A estrutura normativa fundada na igualdade de gênero no Brasil é vasta, porém a

concretização desses direitos ainda é distante. Sugere a necessidade de inovações no que

tange a políticas públicas nas relações de trabalho e emprego.

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