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ALCOOLISMO NA ADOLESCÊNCIA Dr. Ronaldo Ramos Laranjeira é médico psiquiatra, phD em Dependência Química na Inglaterra e professor de Psiquiatria na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo.Dr. Mauricio de Souza Lima é médico hebiatra, coordenador do Ambulatório de Filhos de Mães- Adolescentes do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e membro da Associação Paulista de Adolescentes e do Departamento de Adolescência da Sociedade de Pediatria de São Paulo. Alcoolismo nunca foi problema exclusivo dos adultos. Pode também acometer os adolescentes. Hoje, no Brasil, causa grande preocupação o fato de os jovens começarem a beber cada vez mais cedo e as meninas, a beber tanto ou mais que os meninos. Pior, ainda, é que certamente parte deles conviverá com a dependência do álcool no futuro. Para essa reviravolta em relação ao uso de álcool entre os adolescentes, que ocorreu bruscamente de uma geração para outra, concorreram diversos fatores de risco. O primeiro é que o consumo de bebida alcoólica é aceito e até estimulado pela sociedade. Pais que entram em pânico quando descobrem que o filho ou a filha fumou maconha ou tomou um comprimido de ecstasy numa festa, acham normal que eles bebam porque, afinal, todos bebem.

Alcoolismo Na Adolescência

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ALCOOLISMO NA ADOLESCNCIA

Dr. Ronaldo Ramos Laranjeira mdico psiquiatra, phD em Dependncia Qumica na Inglaterra e professor de Psiquiatria na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de So Paulo.Dr. Mauricio de Souza Lima mdico hebiatra, coordenador do Ambulatrio de Filhos de Mes-Adolescentes do Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo e membro da Associao Paulista de Adolescentes e do Departamento de Adolescncia da Sociedade de Pediatria de So Paulo.Alcoolismo nunca foi problema exclusivo dos adultos. Pode tambm acometer os adolescentes. Hoje, no Brasil, causa grande preocupao o fato de os jovens comearem a beber cada vez mais cedo e as meninas, a beber tanto ou mais que os meninos. Pior, ainda, que certamente parte deles conviver com a dependncia do lcool no futuro.Para essa reviravolta em relao ao uso de lcool entre os adolescentes, que ocorreu bruscamente de uma gerao para outra, concorreram diversos fatores de risco. O primeiro que o consumo de bebida alcolica aceito e at estimulado pela sociedade. Pais que entram em pnico quando descobrem que o filho ou a filha fumou maconha ou tomou um comprimido de ecstasy numa festa, acham normal que eles bebam porque, afinal, todos bebem.Sem desprezar os fatores genticos e emocionais que influem no consumo da bebida o lcool reduz o nvel de ansiedade e algumas pessoas esto mais propensas a desenvolver alcoolismo , a presso do grupo de amigos, o sentimento de onipotncia prprio da juventude, o custo baixo da bebida, a falta de controle na oferta e consumo dos produtos que contm lcool, a ausncia de limites sociais colaboram para que o primeiro contato com a bebida ocorra cada vez mais cedo.No raro o problema comear em casa, com a hesitao paterna na hora de permitir ou no que o adolescente faa uso do lcool ou com o mau exemplo que alguns pais do vangloriando-se de serem capazes de beber uma garrafa de usque ou dez cervejas num final de semana.No se pode esquecer de que, em qualquer quantidade, o lcool uma substncia txica e que o metabolismo das pessoas mais jovens faz com que seus efeitos sejam potencializados. No se pode esquecer tambm de que ele responsvel pelo aumento do nmero de acidentes e atos de violncia, muitos deles fatais, a que se expem os usurios.Proibir apenas que os adolescentes bebam no adianta. preciso conversar com eles, expor-lhes a preocupao com sua sade e segurana e deixar claro que no h acordo possvel quanto ao uso e abuso do lcool, dentro ou fora de casa.

EFEITOS METABLICOSDrauzio Qual a diferena dos efeitos metablicos do lcool no corpo dos meninos e das meninas adolescentes? Ronaldo Laranjeira A grande diferena que a mulher tem um padro enzimtico de absoro do lcool mais efetivo e rpido, porque possui relativamente mais gordura e menos gua no organismo. Se compararmos uma menina e um menino, com mesma estatura e peso, que tenham ingerido quantidade igual de lcool, veremos que a concentrao alcolica maior no sangue da menina. Sendo assim, o dano biolgico que o lcool produz nela mais devastador.Da, nossa preocupao com essa mudana substancial no padro de consumo do lcool na adolescncia. Estudos considerando a populao adulta do Brasil mostram que 50% das mulheres e 30% dos homens no bebem nada. Entre os adolescentes, essa diferena desapareceu em apenas uma gerao. Independentemente do sexo, 25% dos adolescentes bebem em quantidades perigosas do ponto de vista biolgico. As meninas que esto comeando a beber precocemente grandes volumes, com certeza, iro apresentar no futuro mais danos biolgicos do que suas mes e seus colegas meninos.