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Aula 02 – Partes 01 e 02 Sumário Responsabilidade civil - Direito Básico de efetiva reparação de dano ................................................. 2 Responsabilidade por fato do produto e serviço: ................................................................................ 2 Fato de produto: .............................................................................................................................. 2 Fato de serviço: ................................................................................................................................ 4 Prescrição: ........................................................................................................................................ 4 Competência: ................................................................................................................................... 5 Responsabilidade por vício do produto ou serviço: ............................................................................. 5 Garantia: .......................................................................................................................................... 5 Vício de Qualidade do produto: ....................................................................................................... 6 Vício de Quantidade do Produto: .................................................................................................... 7 Vício da Qualidade do Serviço: ........................................................................................................ 8 Vício da Quantidade do Serviço: ...................................................................................................... 8 Prazos para o consumidor reclamar: ............................................................................................... 8 Quadro comparativo: ........................................................................................................................... 9 Práticas Comerciais .............................................................................................................................. 9 Publicidade ....................................................................................................................................... 9 Proteção Contratual do Consumidor ................................................................................................. 11 Princípio da boa-fé objetiva: .......................................................................................................... 11 Método de interpretação de cláusulas dúbias .............................................................................. 11 Direito de Arrependimento ............................................................................................................ 11 Cláusulas abusivas .......................................................................................................................... 11 Legibilidade e Clareza do Contrato de adesão ............................................................................... 12 Proteção Coletiva do Consumidor ..................................................................................................... 12

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Aula 02 – Partes 01 e 02

Sumário

Responsabilidade civil - Direito Básico de efetiva reparação de dano................................................. 2

Responsabilidade por fato do produto e serviço: ................................................................................ 2

Fato de produto: .............................................................................................................................. 2

Fato de serviço: ................................................................................................................................ 4

Prescrição: ........................................................................................................................................ 4

Competência: ................................................................................................................................... 5

Responsabilidade por vício do produto ou serviço: ............................................................................. 5

Garantia: .......................................................................................................................................... 5

Vício de Qualidade do produto: ....................................................................................................... 6

Vício de Quantidade do Produto: .................................................................................................... 7

Vício da Qualidade do Serviço: ........................................................................................................ 8

Vício da Quantidade do Serviço: ...................................................................................................... 8

Prazos para o consumidor reclamar: ............................................................................................... 8

Quadro comparativo: ........................................................................................................................... 9

Práticas Comerciais .............................................................................................................................. 9

Publicidade ....................................................................................................................................... 9

Proteção Contratual do Consumidor ................................................................................................. 11

Princípio da boa-fé objetiva: .......................................................................................................... 11

Método de interpretação de cláusulas dúbias .............................................................................. 11

Direito de Arrependimento............................................................................................................ 11

Cláusulas abusivas .......................................................................................................................... 11

Legibilidade e Clareza do Contrato de adesão ............................................................................... 12

Proteção Coletiva do Consumidor ..................................................................................................... 12

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Responsabilidade civil - Direito Básico de efetiva reparação de dano A responsabilidade consiste no dever de reparação dos danos que determinado ato provocou e

constitui instituto fundamental que disciplina os critérios pelos qual um fornecedor deve responder, ou não, pelos prejuízos causados ao consumidor ou terceiros. Ela está positivada no artigo 12 do CDC: “Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.”

A responsabilidade no direito do consumidor é dividida em responsabilidade pelo fato do produto/serviço (Art.12 a 17 e também Art. 27) ou responsabilidade por vício de produto/serviço (Art. 18 a 26).

Responsabilidade por fato do produto e serviço:

1) Responsabilidade pelo fato do produto/serviço, ou responsabilidade pelos acidentes de consumo, ou responsabilidade por vício de qualidade por insegurança (Art.12 a 17 e também Art. 27): estamos falando de consumidores que sofrem lesões. São os danos que decorreram por produtos defeituosos. No contexto do direito do consumidor, o defeito é falha na segurança. O fornecedor é responsável porque foi ele mesmo que introduziu o produto no mercado de consumo. Se o produto apresentar algum defeito e se o defeito for a causa do dano, o consumidor deve ser indenizado, independente de culpa.

Requisitos para que haja realmente responsabilidade civil: i. Defeito: o defeito deve ser falha na segurança. Não é relevante se o defeito foi na

formulação, fabricação, concepção, falta de informação do produto.

ii. Dano: deve ser consequência direta do defeito. O dano pode ser: o Patrimonial. o Moral.

Fato de produto: A responsabilidade no vício de qualidade por insegurança do produto será:

a) objetiva, pois dá maior segurança para que o consumidor seja indenizado. O fornecedor deve indenizar independentemente de culpa. As indenizações costumam ser mais altas em responsabilidade pelo fato do produto do que responsabilidade por vício do produto. A razão é simples, imagina-se uma peça de automóvel mal fabricada. Tal fato de produto pode gerar um grande acidente automobilístico acarretando a morte de inúmeras vítimas.

b) muitas vezes solidária, pois todas as peças do automóvel nem sempre são fabricadas pela mesma empresa. Portanto, podem responder quem produziu a peça, mas também aquele que montou a automóvel. Isso é muito importante quando há montagem conjunta. Todos respondem solidariamente, consoante o parágrafo único do Art. 7º do CDC: “Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo.”

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Em se tratando de responsabilidade civil pelo fato do produto, o comerciante tem uma responsabilidade especial. Como regra geral, ele não é responsável pelo fato do produto, pois ele não participa do momento da fabricação, da montagem, de prestar informações no rótulo. Ele somente coloca à venda e não interagiu no momento da fabricação, produção, construção e importação. Os responsáveis, portanto, são o fabricante, produtor, construtor e importador (Art. 12, Caput, CDC).

· O comerciante será responsável em somente três situações, segundo o Art. 13. CDC: “O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando:”

“I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados.“ Produto sem identificação de fabricação, produção, construção ou importação. O principal responsável não será conhecido e o consumidor não poderá demanda-lo. Portanto, o comerciante assume a responsabilidade, chamada de responsabilidade subsidiária.

“II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador.” A identificação é precária. Também temos responsabilidade subsidiária.

“III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis.” Por exemplo, um queijo que deveria ter sido mantido no refrigerador.

No caso do inciso III há uma relação interessante entre o fabricante do produto perecível e o comerciante. Muitos autores dizem que nessa hipótese existe solidariedade, pois não desaparece a responsabilidade do produtor. Se o produtor for demandado pelo consumidor e houver a necessidade de indenização, o produtor pode se voltar em ação regressiva contra o comerciante. Isso está previsto no parágrafo único do artigo 13, do CDC: “Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso.”

O artigo 88 do CDC estabelece a vedação de denunciação à lide1: “Art. 88. Na hipótese do art. 13, parágrafo único deste código, a ação de regresso poderá ser ajuizada em processo autônomo, facultada a possibilidade de prosseguir-se nos mesmos autos, vedada a denunciação da lide.”

Contudo, o réu pode, chamar ao processo2, o corresponsável. É facultado o ingresso do corresponsável ao processo. Ao longo da instrução e da sentença final, será definido o responsável ou a percentagem de responsabilidade de cada um (do produtor/fabricante e do comerciante).

· Em que situações o fornecedor pode se eximir de indenizar o fato do produto? Existem situações que o fornecedor pode buscar a sua exclusão do dever de indenizar. São três situações, segundo o Art. 12, § 3 do CDC: ” § 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar”:

“I - que não colocou o produto no mercado;” O produto pode ter sido colocado por terceiros no mercado de consumo. Em situações, por exemplo, que uma carga, ainda inacabada de produtos, estava sendo transportada, quando o caminhão foi saqueado e os criminosos colocam o produto à venda. O consumidor deve, portanto, provar que o produto foi colocado à venda sem sua autorização ou consentimento.

1 Denunciação da Lide é uma espécie de intervenção de terceiros na qual estes são chamados ao processo na qualidade de litisconsorte da parte que o chamou. 2 Também é um tipo de intervenção de terceiros. Corresponde à inclusão como réu do processo pessoa que tem responsabilidade direta com a causa de pedir

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“II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;” Nesse caso implica uma prova pericial muito complexa. O ônus da prova NÃO é do consumidor. O fornecedor deve provar que seu produto não é defeituoso. O consumidor terá que provar que consumiu e teve dano por razão de defeito. Quem prova que o produto não é defeituoso é o próprio réu.

III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.” Essa terceira situação envolve casos em que a culpa pelo dano é exclusiva do consumidor ou terceiros. O fornecedor não pode ter participação na culpa.

Fato de serviço:

“Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.”

Serviço defeituoso é aquele que não oferece a segurança que legitimamente se espera. O artigo 14 fala da responsabilidade em razão de serviços defeituosos. Ressalta-se novamente, como no caso do produto, defeito, no direito do consumidor, é falha na segurança.

A responsabilidade no vício de qualidade por insegurança do serviço será:

a) objetiva, como regra. No entanto, quando se trata de profissionais liberais há que se provar a culpa do profissional liberal. Por exemplo, você vai ao dermatologista, realiza um procedimento para suavizar cicatrizes que em poucos dias tornam-se mais definidas e perceptíveis. O consumidor tem que provar que o dermatologista errou a dose do medicamento, ou que não teve cautela em perguntar ao paciente se ele era alérgico a certo medicamento, etc. O serviço foi realizado com defeito e provocou dano. Em casos de psicólogos, médicos, dentistas, profissionais liberais em geral, há que provar a culpa. O consumidor pode requerer inversão o ônus da prova, mas há que demonstrar verossimilhança e/ou hipossuficiência. O réu tem que provar que não teve culpa.

· Em que situações o fornecedor pode se eximir de indenizar o fato do serviço? As excludentes encontram-se no Art. 14, parágrafo 3º, inciso I e II:

“§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar.” As excludentes devem ser provadas pelo réu (prestador de serviços).

“I- que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste.” O réu tem que provar que não existe defeito. Prova pericial de alta complexidade. O réu deve suportar essa prova, ou seja, o consumidor não tem que provar que o serviço é defeituoso.

“II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.”

Prescrição: A regra de prescrição por acidente de fato de consumo (produto e serviço) está expressa no artigo 27 do CDC:

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“Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.”

O prazo da prescrição para dano de fato é de 05 anos. O termo inicial da contagem do prazo é o conhecimento do dano e também de sua autoria. O conhecimento do dano e da autoria pode ocorreu muito tempo do acidente. Por exemplo, um medicamento defeituoso que trouxe efeitos colaterais depois de anos do uso do remédio. Esse artigo obedece à teoria dos riscos do desenvolvimento: a ignorância ou o desconhecimento do defeito, no momento em que o produto é colocado no mercado de consumo, NÃO é causa de exclusão de indenizar. Não importa se a indústria não sabia que o remédio poderia trazer efeitos colaterais e que só depois de alguns anos descobriu-se esse fato. O fornecedor continua responsável e não vai se eximir ao alegar que o princípio ativo do produto poderia causar tal efeito colateral. A partir do momento em que se descobre que existe dano, começa a contar o prazo prescricional.

NÃO CONFUNDA com o prazo do código civil que é de 03 anos. O CDC é uma lei especial que afasta a lei geral. Portanto, em direito do consumidor, o prazo é de 05 anos.

Lembre-se que estamos falando de danos por fatos de consumo. Esse prazo é exclusivo para responsabilidade por dano de fato de consumo. Outros prazos prescricionais, para outras situações, estarão positivados no CDC.

Competência: Diz o artigo 101, inciso I, do CDC que o consumidor poderá (competência relativa) ajuizar ação no seu domicílio. Já que a competência é relativa, o consumidor pode abrir mão desse direito e demandar ao fornecedor ao local onde ele tem sede. A regra de competência vale tanto para responsabilidade por fato de produto, quanto serviço.

“Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, sem prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão observadas as seguintes normas:”

“I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor.” O consumidor pode ajuizar a ação no juízo de seu domicílio. O consumidor tem o direito de demandar ao réu para ajuizar a ação no juízo na sua sede.

Responsabilidade por vício do produto ou serviço:

Diferentemente dos acidentes de consumo, estamos falando do vício de qualidade ou quantidade que torna o produto/serviço inadequado ou impróprio para consumo. O consumidor tem uma legitima expectativa quanto ao resultado dos produtos e serviços por ele contratados. As responsabilidades por vícios estão expressas nos artigos 18 a 26 do CDC Alguns autores usam a expressão “incidentes de consumo” para distinguir dos acidentes de consumo. No vício do produto ou serviço, busca-se a proteção dos interesses econômicos do consumidor.

A cláusula contratual que diminua ou exima o fornecedor do dever de indenizar é cláusula abusiva. E cláusula abusiva no direito do consumidor é nula de pleno direito. Garantia:

Todo produto ou serviço possui garantia legal de adequação que é implícita. O consumidor não necessita de qualquer documento ou termo. A garantia não pode ser afastada, pois ela existe por si só.

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Está expressa no artigo 24, do CDC: “Art. 24. A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de termo expresso, vedada a exoneração contratual do fornecedor.”

Pois bem, independe de termo expresso, isto é, ela já existe pelo simples fato de consumir o

produto ou serviço. Se a exoneração contratual do fornecedor é vedada, quer dizer, quando o fornecedor não atende a legitima expectativa da garantia legal de adequação, então, o fornecedor vai responder. A responsabilidade é objetiva, é independente da verificação de culpa se o produto não apresentar o resultado legitimo do fornecedor. Se houver mais um responsável pela causa do prejuízo, todos respondem solidariamente.

A garantia legal é inerente às relações de consumo. Portanto, se você for à loja e o comerciante oferecer uma garantia ou seguro caso o produto não funcionar, isso é ilegal. O produto, quando vem da loja, tem que funcionar adequadamente e atender à oferta que foi oferecida ao consumidor.

A garantia contratual é escolha do fornecedor. Mas não confundam a garantia contratual que é um contrato de assistência técnica ou seguro, com a garantia legal que é inerente ao produto ou serviço. O fornecedor não está obrigado a dar garantia complementar. No entanto, para evitar um abuso na concessão da garantia complementar muito atraente e, portanto, pode o fornecedor pode utilizar e uma estratégia abusiva para captar consumidores a pretexto de que dá uma garantia suplementar maior, o legislador estabelece a obrigação de entregar um termo de garantia. Essa garantia vem normalmente com o manual de instruções, assim como ela deve ser específica e muito bem detalhada.

“Art. 50. A garantia contratual é complementar à legal e será conferida mediante termo escrito.

Parágrafo único. O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e esclarecer, de maneira adequada em que consiste a mesma garantia, bem como a forma, o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os ônus a cargo do consumidor, devendo ser-lhe entregue, devidamente preenchido pelo fornecedor, no ato do fornecimento, acompanhado de manual de instrução, de instalação e uso do produto em linguagem didática, com ilustrações”.

O termo de garantia deve ser entregue sob pena do fornecedor ser criminalizado caso não o fizer:

“Art. 74. Deixar de entregar ao consumidor o termo de garantia adequadamente preenchido e com especificação clara de seu conteúdo; Pena Detenção de um a seis meses ou multa.”

O artigo 74 foi criado para evitar estratégias abusivas de marketing, pois garante o termo de garantia, definido e especificado, seja entregue ao consumidor.

Na responsabilidade por vício do produto ou serviço, o comerciante não tem privilégio nesse momento. Se no dano por fato, o comerciante só responderia pelas Art. 12, § 3 do CDC, aqui, na responsabilidade por vício, o comerciante responde igualmente.

· A responsabilidade é objetiva. Não se admite culpa. Deve-se demonstrar que o produto não funciona ou funciona de maneira inadequada.

· A responsabilidade é solidária.

Vício de Qualidade do produto: Vícios de qualidade dos produtos são aqueles impróprios ao consumo ou lhes diminuem o valor, como por exemplo: data de validade vencida, deteriorados, quebrados, falsificados ou em desacordo com as normas regulamentares.

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Exemplo A: Em se tratando de responsabilidade por vício. Há que responder duas perguntas: Trata-se de produto essencial? A extensão do vício é significativa? Se a resposta for sim para ambas as perguntas, são três hipóteses/alternativas para o consumidor optar:

1) Substituição do produto com vício por outro sem vício. 2) Pela devolução do valor pago e eventuais perdas e danos (desfazimento do negócio). 3) O consumidor busca uma compensação ou abatimento. Lembre-se que o consumidor faz essa escolha, desde que se trate de produto essencial e produto que a extensão do vício é significativa. Nesse caso, o consumidor faz uso imediato de uma dessas três alternativas.

Exemplo B: Em se tratando de responsabilidade por vício. Se o produto não for essencial e extensão do vício for suscetível de conserto? Nesse caso, há uma única opção para o consumidor:

1) Fornecedor terá 30 dias para sanar o vício. Esse prazo pode ser modificado conforme acordo entre fornecedor e consumidor. Pode ser reduzido até 07 dias ou ampliado até 180 dias. Em contratos de adesão, o prazo não pode ser modificado.

Se o fornecedor não sanar o vício, o consumidor terá as mesmas três opções do caso em que o vício é significativo e produto essencial:

1) Substituição do produto com vício por outro sem vício. 2) Pela devolução do valor pago e eventuais perdas e danos (desfazimento do negócio). 3) O consumidor busca uma compensação ou abatimento.

Vício de Quantidade do Produto:

Vícios de quantidade dos produtos são aqueles que apresentam disparidade entre o conteúdo e as medidas indicadas pelo fornecedor. Disparidade entre o que está informado e o que realmente foi vendido. Exemplo, na embalagem de arroz diz que o saco contém um quilo de arroz. Entretanto, tem somente 900 gramas. O vício de quantidade refere-se sempre à medida ou volume do produto. Já os Vícios de quantidade dos serviços são aqueles decorrentes da discrepância entre a oferta ou mensagem publicitária e os serviços efetivamente prestados. O Art. 19, do CDC, rege tal matéria:

“Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:”

“I - o abatimento proporcional do preço;” Abatimento do preço proporcional ao vício.

”II - complementação do peso ou medida;” Complementação do peso ou medida.

”III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios;” Substituição do produto com vício por outro sem vício.

”IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos.” Devolução do valor pago (desfazimento do negócio).

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Vício da Qualidade do Serviço: Os Vícios de qualidade dos serviços são aqueles que tornam os serviços impróprios à fruição ou lhes diminuem o valor, não correspondendo à legitima expectativa do consumidor, segundo o artigo 20 e 22 do CDC.

“Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:”

“I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;” O fornecedor vai fazer novamente o que ele deveria ter feito com qualidade.

“II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;” Devolução dos valores pagos (desfazimento do negócio) e eventual perdas e danos.

“III - o abatimento proporcional do preço.” Compensação proporcional ao que não foi atendido pelo fornecedor.

E também está positivado no artigo 22.

“Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.

Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código.”

Vício da Quantidade do Serviço: Os Vícios de quantidade dos serviços são aqueles decorrentes da discrepância entre a oferta ou mensagem publicitária e os serviços efetivamente prestados. Seguem as mesmas regras, dos vícios de qualidade, dos artigos 20 e 22 do CDC.

Prazos para o consumidor reclamar: Segundo o Art. 26 do CDC, o consumidor pode decair do direito de reclamar se não reclamar no prazo.

“Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:” É um direito potestativo do consumidor frente ao consumidor. Contudo, é um prazo decadencial.

“I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis;” Cuja vida útil é breve e curta.

“II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis.” São produtos que tem vinda longa como eletrodomésticos, por exemplo.

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“§ 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços.” O termo inicial é a entrega do produto ao consumidor ou a conclusão do serviço, quando o vício for aparente ou de fácil constatação.

“§ 2° Obstam a decadência:

I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca; II - (Vetado). III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.”

§ 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito. Se o vício for oculto, é o momento que o vício for revelado.

Se o fornecedor não atender a demanda do consumidor de substituir o produto ou serviço inadequado, o consumidor deve entrar em juízo. O CDC não define prazo para vício de produto ou serviço. O artigo 27 que estabelece cinco anos, é válido somente para responsabilidade por fato de produto ou serviço.

Se o consumidor reclamou do vício no prazo decadencial do artigo 26, e o fornecedor não atendeu ao consumidor. Imagina-se que

Quadro comparativo: Vício por insegurança/ Fato do produto Vício por inadequação Acidentes de Consumo Garantia legal Defeito -> Dano São impróprios /inadequados Incolumidade física ou psíquica do consumidor Preocupação com substituir o produto/serviço

inadequado Cinco anos para ação reparação 30 e 90 dias Artigo 12 ao 17 e Artigo 27 Artigo 18 ao 26 Práticas Comerciais

Publicidade No direito do consumidor, a oferta é sinônimo de Marketing. São os instrumentos e técnicas usados para despertar o interesse do consumidor. Dos instrumentos de marketing, um dos mais importantes é o instrumento de Marketing. Não confundam publicidade com propaganda. A publicidade é uma espécie de propaganda. A publicidade é uma propaganda comercial, mas propaganda pode ser política, social etc. A publicidade pode se institucional e/ou promocional. Não há definição de publicidade no CDC.

O controle da publicidade no Brasil é misto. Ele é um controle privado e público:

· Privado pela existência do CONAR – conselho nacional de autorregulamentação publicitária, que tem como objetivo impedir que a publicidade enganosa ou abusiva cause constrangimento ao consumidor ou a empresas e defender a liberdade de expressão comercial.

· Controle Público: que pode se dar através de ações coletivas, procedimentos administrativos (PROCON) e também sanções penais. Portanto, esfera cível, administrativa e também penal.

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A publicidade lícita é aquela que não é enganosa e não é abusiva, conforme o art. 37 do CDC:

“Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.”

“§ 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.” A publicidade retrata falsamente a realidade. Ela pode ser enganosa por omissão quando omite uma informação ou dado essencial. O dado essencial é aquele que faria com que o consumidor não contratasse ou comprasse o produto caso soubesse dessa informação.

“§ 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.” Essa publicidade envolve outros aspectos como éticos, morais, sociais, culturais. É a publicidade que pode passar uma mensagem negativa, preconceituosa etc. Ela se utiliza de uma característica (inexperiência de julgamento) do consumidor para tirar vantagem, por exemplo, uma criança de oito anos que não sabe distinguir, na televisão, a publicidade da programação comum.

“§ 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço.”

Cabe ressaltar que a publicidade vincula, ou seja, obriga e integra o contrato que venha ser celebrado, desde que venha ser suficientemente precisa. Suficientemente não é de maneira exaustiva.

· Princípio da vinculação da oferta (Artigo 30): “Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.” Qualquer oferta vincula, mesmo que publicitária.

A publicidade que não vincula e não integra o contrato é aquela baseada num erro grosseiro. Se estamos diante um erro grosseiro no que diz respeito a valores, o consumidor não se sente atingido a ponto de exigir aquela oferta. Portanto, o exagero publicitário ou erro grosseiro não integram o contrato. Não age com boa-fé o consumidor que exige oferta de erro grosseiro, pois se entende que ele sabe que se trata de mero erro.

· Princípio da identidade ou identificação (artigo 36 do CDC): “Art. 36. A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal”.

· Princípio da transparência (parágrafo único do artigo 36): “Parágrafo único. O fornecedor, na publicidade de seus produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação à mensagem”.

· Princípio da correção do desvio publicitário: Art. 56: inciso XII do CDC: “ Art. 56. As infrações das normas de defesa do consumidor ficam sujeitas, conforme o caso, às seguintes sanções administrativas, sem prejuízo das de natureza civil, penal e das definidas em normas específicas. XII - imposição de contrapropaganda.” Trata-se de veiculação de outra publicidade para sanar os malefícios causados pela publicidade originária. Naquela, de caráter explicativo, o fornecedor, às suas expensas, informa corretamente ao consumidor, desfazendo os erros do anúncio original.

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· Inversão do ônus da prova (artigo 38): inversão Ope legis do ônus da prova. Se houver dúvida quanto aos fatos, quem tem que provar é o anunciante, ou seja, o fornecedor que veiculou o anúncio.

Proteção Contratual do Consumidor O Código de Defesa do Consumidor é uma lei de ordem pública e de interesse social. Portanto,

no que diz respeito à proteção contratual, o CDC tem uma nova ordem contratual que é baseada na boa-fé objetiva. Exige-se do fornecedor que tenha zelo, cautela, proteção, informação e respeito com o fornecedor que é a outra parte contratual. Principalmente em contrato de adesão ou também chamado por adesão que é conceituado no artigo 54 do CDC: “Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo. “

Princípio da boa-fé objetiva: a boa-fé objetiva é exigida antes, durante e posterior ao contrato.

Antes do contrato para que ele reflita sobre qual produto e serviço quer contratar e acredita que seja mais adequado a seu gosto e bolso. As clausulas e termos devem ser de fácil entendimento para que ele compreenda o que está contratando.

Durante o contrato para que o consumidor não tenha surpresas durante a execução do contrato, principalmente em contratos cativos de longa duração.

Após o contrato, mesmo quando o contrato acabou. Quando, por exemplo, descobre-se que o produto é perigoso. O fornecedor deve veicular por meios de comunicação a informação, como chamamos de Recall.

Método de interpretação de cláusulas dúbias

Se o fornecedor redigir um contrato de difícil compreensão pelo consumidor, essa interpretação das cláusulas dúbias será feita sempre em prol do consumidor.

Direito de Arrependimento

O direito de arrependimento visa auxiliar o consumidor quando as vendas forem extremamente agressivas e ele não teve tempo de pensar e refletir se realmente tinha intenção e interesse de adquirir o produto ou serviço. Está positivado no artigo 49 do CDC.

“Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.”

Lembre-se sempre que não existe rescisão contratual. Não há quebra de contrato nesse caso. O consumidor simplesmente se arrependeu e não vai adquirir o contrato. O sujeito que desistiu antes dos sete dias, não pode pagar multa, pois não houve rescisão do contrato.

Cláusulas abusivas

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O rol de cláusulas está no artigo 51 do CDC do inciso I a XVI. Não é um rol taxativo, é meramente ilustrativo. Essas cláusulas abusivas são nulas de plena direito. Elas podem ser reconhecidas por ofício pelo juiz. Salvo em contratos bancários, a súmula 381: “STJ Súmula nº 381 - 22/04/2009 - DJe 05/05/2009 - Contratos Bancários - Conhecimento de Ofício - Abusividade das Cláusulas - Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas.” Essa súmula é muito polêmica, pois vai em direção contrária ao pensamento do CDC.

Legibilidade e Clareza do Contrato de adesão

Essa regra, positivada no ano de 2008 no art. 54, § 3o do CDC, especifica: “§ 3o Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor”.

Portanto, os contratos devem ser de fonte, no mínimo, número 12, para que a letra seja clara. Os termos e expressões também devem ser claros para que o consumidor consiga lê-los e interpretá-los. O artigo 46 do CDC já protegia o consumidor sobre esse assunto: “Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance”. Proteção Coletiva do Consumidor

Coletividade de pessoas determinadas ou indeterminadas também é sujeito de direitos e interesses. Paragrafo único do artigo 2º do CDC: “Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.”

Defesa do consumidor, portanto, estabelece a título individual e também a título coletivo. A título coletivo, segundo o artigo 81, compreende três categorias jurídicas:

“Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:”

“I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato.” As pessoas não estão ligadas entre si por relação jurídica básica. O difuso é algo disperso, pulverizado. É um direito que pertence a todos, sem cota para ninguém. Exemplo: a proteção do consumidor perante publicidade enganosa. Essa proteção atinge todos e não podemos determinar o número de pessoas.

“II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;” Essas pessoas são identificáveis, pois tem uma relação jurídica básica em comum. Exemplo: pessoas que compraram o mesmo produto num site de compras coletivas.

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“III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.” São cidadãos lesados como destinatários da proteção. A causa é sempre uma lesão de massa, ou seja, a lesão não pode ter atingindo poucos consumidores. O autor vai buscar uma condenação genérica do réu. A lesão tem a mesma origem e ela é de interesse público e de alta relevância social. Está positivado do artigo 91 a 100 do CDC.

O dano caracteriza tanto interesse público que é necessária ação que buscará uma condenação genérica. Pressupõe-se uma ampla divulgação da ação e todo lesado por utilizar-se da sentença para liquidar em seu foro de domicílio. A vantagem dessa ação é suprimir toda parte de conhecimento do dano do grande número de ações que poderiam tramitar. O réu não poderá discutir a existência do dano, porque a lesão já foi reconhecida na ação civil coletiva.

Outra vantagem dessa ação é a possibilidade de ingresso de pessoas como assistentes litisconsorciais (somente nos individuais homogêneos). Após o ajuizamento da ação, será divulgado pela imprensa oficial e também em órgãos públicos de defesa do consumidor.