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Os textos contidos nesse Boletim são de responsabilidade única dos membros do Grupo, não retratando a opinião oficial da Escola de Guerra Naval nem da Marinha. SUMÁRIO BOLETIM GEOCORRENTE O Boletim Geocorrente é uma publicação quinzenal vinculada ao Núcleo de Avaliação da Conjuntura (NAC), da Superintendência de Pesquisa e Pós-Graduação (SPP) da Marinha. O NAC possui o objetivo de acompanhar a Conjuntura Internacional sob o olhar teórico da Geopolítica, a fim de ampliar o conhecimento por meio da elaboração deste boletim, além de outros produtos que porventura venham a ser demandados pelo Estado-Maior da Armada. Para isso, o grupo de pesquisa ligado ao Boletim conta com integrantes de diversas áreas de conhecimento, cuja pluralidade de formações e experiências proporciona uma análise ampla de contextos e cenários geopolíticos e, portanto, um melhor entendimento dos problemas correntes internacionais. Assim, procura-se identificar os elementos agravantes, motivadores e contribuintes para a escalada de conflitos e crises em andamento, bem como, seus desdobramentos. NORMAS DE PUBLICAÇÃO Esse Boletim tem como objetivo publicar artigos compactos tratando de assuntos da atualidade e, eventualmente, de determinados temas de caráter geral sobre dez macrorregiões do Globo, a saber: América do Sul; América do Norte e Central; África Subsaariana; Oriente Médio e Norte da África; Europa; Rússia e ex-URSS; Sul da Ásia; Leste Asiático; Sudeste Asiático e Oceania; Ártico e Antártica. Ainda, algumas edições contam com a seção “Temas Especiais”, voltada a artigos que abordam assuntos não relacionados, especificamente, a uma das regiões supracitadas. Para publicar nesse Boletim, faz-se necessário que o autor seja pesquisador do Grupo de Geopolítica Corrente, do Núcleo de Avaliação da Conjuntura da EGN e submeta seu artigo contendo, no máximo, 350 palavras ao processo avaliativo. A avaliação é feita por pares, sem que os revisores tenham acesso ao nome do autor (blind peer review). Ao fim desse processo, o autor será notificado via e-mail de que seu artigo foi aceito (ou não) e que aguardará a primeira oportunidade de impressão. CORRESPONDÊNCIA Escola de Guerra Naval – Superintendência de Pesquisa e Pós- Graduação. Av. Pasteur, 480 - Praia Vermelha – Urca - CEP 22290-255 - Rio de Janeiro/RJ - Brasil (21) 2546-9394 E-mail: [email protected] Aos cuidados do Editor Responsável do Boletim Geocorrente. A problemática dos exercícios militares na relação Rússia- OTAN.....................Pág. 7 90º aniversário do PLA........................................................................................Pág 7 Península coreana: possibilidade de conflito e as suas consequências.............Pag 8 O papel do Exército diante da incerteza política no Paquistão..........................Pág.8 Marinha da Indonésia comissiona novo submarino...........................................Pág. 9 A silenciosa corrida dos navios quebra-gelo para a próxima década................Pág 9 Artigos Selecionados e Noticias de Defesa.......................................................Pág 10 Referências........................................................................................................Pág. 11 Argentina: Integração Interna e Regional...................................................................Pág.2 Armada do Equador apreende barco chinês em Galápagos.....................................Pág.2 Novas parcerias de Cuba...........................................................................................Pág.3 A geopolítica do mundo árabe: projeção de poder no Chifre da África......................Pág.3 República Centro-Africana, nosso novo Haiti?...........................................................Pág.4 Fronteiras britânicas pós-Brexit: Irlanda e a questão de Gibraltar ..............................Pág.4 A importância da estabilidade política na Turquia.......................................................Pág.5 Disseminação do projeto de reconstituição do Estado Islâmico na Líbia...................Pág.6 Os impactos de uma coalizão atípica para o equilíbrio de poder no O.M..................Pág.6 Adriana Escosteguy Medronho (EHESS) André Figueiredo Nunes (ECEME) Ariane Dinalli Francisco (Universität Osnabrück) Beatriz Victória Albuquerque da Silva Ramos (EGN) Beatriz Mendes Garcia Ferreira (UFRJ) Carlos Henrique Ferreira da Silva Júnior (UFRJ) Catharine Simões (UERJ) Daniel Santos Kosinski (UFRJ) Dominique Marques de Souza (UFRJ) Ely Pereira da Silva Júnior (UERJ) Franco Aguiar de Alencastro Guimarães (PUC - Rio) Gabriela Mendes Cardim (UFRJ) Gabriela da Conceição Ribeiro da Costa (UERJ) Gabriele Marina Molina Hernandez (UFF) Giulianna Bessa Reis Anveres (PUC- Rio) Jéssica Pires Barbosa Barreto (UERJ) João Victor Marques Cardoso (UNIRIO) José Gabriel de Melo Pires (UFRJ) Karine Fernandes Santos (UFRJ) Lais de Mello Rüdiger (UFRJ) Larissa Marques da Costa (UFRJ) Louise Marie Hurel Silva Dias (PUC - Rio) Luciane Noronha Moreira de Oliveira (EGN) Luma Teixeira Dias (UFRJ) Marcelle Siqueira Santos (UERJ) Marcelle Torres Alves Okuno (IBMEC) Matheus Souza Galves Mendes (EGN) Pedro Allemand Mancebo Silva (UFRJ) Pedro Emiliano Kilson Ferreira (Universi- dade de Santiago) Pedro Mendes Martins (UERJ) Philipe Alexandre Junqueira (UERJ) Rebeca Vitória Alves Leite (UFRJ) Rita de Cássia Oliveira Feodrippe (EGN) Stefany Lucchesi Simões (UNESP) Taynara Rodrigues Custódio (UFRJ) Thaïs Abygaëlle Dedeo (UFRJ) Thayná Fernandes Alves Ribeiro (UFRJ) Vinícius de Almeida Costa (EGN) Vinicius Guimarães Reis Gonçalves (UFRJ) Vivian de Mattos Marciano (UFRJ) ESCOLA DE GUERRA NAVAL SUPERINTENDÊNCIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO NÚCLEO DE AVALIAÇÃO DA CONJUNTURA CONSELHO EDITORIAL Editor Responsável Leonardo Faria de Mattos (EGN) Editor Científico Francisco Eduardo Alves de Almeida (EGN) Editores Adjuntos Jéssica Germano de Lima Silva (EGN) Luciane Noronha Moreira de Oliveira (EGN) Noele de Freitas Peigo (FACAMP) Pesquisadores do Núcleo de Avaliação da Conjuntura Rio de Janeiro, 25 de agosto de 2017 Número 59

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Os textos contidos nesse Boletim são de responsabilidade única dos membros do Grupo, não retratando a opinião oficial da Escola de Guerra Naval nem da Marinha.

SUMÁRIO

BOLETIM GEOCORRENTEO Boletim Geocorrente é uma publicação quinzenal vinculada ao Núcleo de Avaliação da Conjuntura (NAC), da Superintendência de Pesquisa e Pós-Graduação (SPP) da Marinha. O NAC possui o objetivo de acompanhar a Conjuntura Internacional sob o olhar teórico da Geopolítica, a fim de ampliar o conhecimento por meio da elaboração deste boletim, além de outros produtos que porventura venham a ser demandados pelo Estado-Maior da Armada.Para isso, o grupo de pesquisa ligado ao Boletim conta com integrantes de diversas áreas de conhecimento, cuja pluralidade de formações e experiências proporciona uma análise ampla de contextos e cenários geopolíticos e, portanto, um melhor entendimento dos problemas correntes internacionais. Assim, procura-se identificar os elementos agravantes, motivadores e contribuintes para a escalada de conflitos e crises em andamento, bem como, seus desdobramentos.

NORMAS DE PUBLICAÇÃOEsse Boletim tem como objetivo publicar artigos compactos tratando de assuntos da atualidade e, eventualmente, de determinados temas de caráter geral sobre dez macrorregiões do Globo, a saber: América do Sul; América do Norte e Central; África Subsaariana; Oriente Médio e Norte da África; Europa; Rússia e ex-URSS; Sul da Ásia; Leste Asiático; Sudeste Asiático e Oceania; Ártico e Antártica. Ainda, algumas edições contam com a seção “Temas Especiais”, voltada a artigos que abordam assuntos não relacionados, especificamente, a uma das regiões supracitadas.Para publicar nesse Boletim, faz-se necessário que o autor seja pesquisador do Grupo de Geopolítica Corrente, do Núcleo de Avaliação da Conjuntura da EGN e submeta seu artigo contendo, no máximo, 350 palavras ao processo avaliativo. A avaliação é feita por pares, sem que os revisores tenham acesso ao nome do autor (blind peer review). Ao fim desse processo, o autor será notificado via e-mail de que seu artigo foi aceito (ou não) e que aguardará a primeira oportunidade de impressão.

CORRESPONDÊNCIAEscola de Guerra Naval – Superintendência de Pesquisa e Pós-Graduação. Av. Pasteur, 480 - Praia Vermelha – Urca - CEP 22290-255 - Rio de Janeiro/RJ - Brasil (21) 2546-9394E-mail: [email protected] cuidados do Editor Responsável do Boletim Geocorrente.

• A problemática dos exercícios militares na relação Rússia- OTAN.....................Pág. 7

• 90º aniversário do PLA........................................................................................Pág 7

• Península coreana: possibilidade de conflito e as suas consequências.............Pag 8

• O papel do Exército diante da incerteza política no Paquistão..........................Pág.8

• Marinha da Indonésia comissiona novo submarino...........................................Pág. 9

• A silenciosa corrida dos navios quebra-gelo para a próxima década................Pág 9

• Artigos Selecionados e Noticias de Defesa.......................................................Pág 10

• Referências........................................................................................................Pág. 11

• Argentina: Integração Interna e Regional...................................................................Pág.2

• Armada do Equador apreende barco chinês em Galápagos.....................................Pág.2

• Novas parcerias de Cuba...........................................................................................Pág.3

• A geopolítica do mundo árabe: projeção de poder no Chifre da África......................Pág.3

• República Centro-Africana, nosso novo Haiti?...........................................................Pág.4

• Fronteiras britânicas pós-Brexit: Irlanda e a questão de Gibraltar..............................Pág.4

• A importância da estabilidade política na Turquia.......................................................Pág.5

• Disseminação do projeto de reconstituição do Estado Islâmico na Líbia...................Pág.6

• Os impactos de uma coalizão atípica para o equilíbrio de poder no O.M..................Pág.6

Adriana Escosteguy Medronho (EHESS)André Figueiredo Nunes (ECEME)Ariane Dinalli Francisco (Universität Osnabrück)Beatriz Victória Albuquerque da Silva Ramos (EGN)Beatriz Mendes Garcia Ferreira (UFRJ)Carlos Henrique Ferreira da Silva Júnior (UFRJ)Catharine Simões (UERJ)Daniel Santos Kosinski (UFRJ)Dominique Marques de Souza (UFRJ)Ely Pereira da Silva Júnior (UERJ)Franco Aguiar de Alencastro Guimarães (PUC - Rio)Gabriela Mendes Cardim (UFRJ)Gabriela da Conceição Ribeiro da Costa (UERJ)Gabriele Marina Molina Hernandez (UFF)Giulianna Bessa Reis Anveres (PUC-Rio)Jéssica Pires Barbosa Barreto (UERJ)João Victor Marques Cardoso (UNIRIO)José Gabriel de Melo Pires (UFRJ)

Karine Fernandes Santos (UFRJ)Lais de Mello Rüdiger (UFRJ)Larissa Marques da Costa (UFRJ)Louise Marie Hurel Silva Dias (PUC - Rio)Luciane Noronha Moreira de Oliveira (EGN)Luma Teixeira Dias (UFRJ)Marcelle Siqueira Santos (UERJ)Marcelle Torres Alves Okuno (IBMEC)Matheus Souza Galves Mendes (EGN)Pedro Allemand Mancebo Silva (UFRJ)Pedro Emiliano Kilson Ferreira (Universi-dade de Santiago)Pedro Mendes Martins (UERJ) Philipe Alexandre Junqueira (UERJ) Rebeca Vitória Alves Leite (UFRJ)Rita de Cássia Oliveira Feodrippe (EGN)Stefany Lucchesi Simões (UNESP)Taynara Rodrigues Custódio (UFRJ)Thaïs Abygaëlle Dedeo (UFRJ) Thayná Fernandes Alves Ribeiro (UFRJ)Vinícius de Almeida Costa (EGN)Vinicius Guimarães Reis Gonçalves (UFRJ)Vivian de Mattos Marciano (UFRJ)

ESCOLA DE GUERRA NAVALSUPERINTENDÊNCIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

NÚCLEO DE AVALIAÇÃO DA CONJUNTURA

CONSELHO EDITORIALEditor Responsável

Leonardo Faria de Mattos (EGN)

Editor CientíficoFrancisco Eduardo Alves de Almeida (EGN)

Editores AdjuntosJéssica Germano de Lima Silva (EGN)

Luciane Noronha Moreira de Oliveira (EGN)Noele de Freitas Peigo (FACAMP)

Pesquisadores do Núcleo de Avaliação da Conjuntura

Rio de Janeiro, 25 de agosto de 2017 Número 59

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No início de agosto, o ministro de Obras Públicas da Bolívia, Milton Carlos, anunciou que a Argentina,

através do governo da província de Jujuy, está interessada em fazer parte da maior obra de integração física da América do Sul, o Corredor Ferroviário Bioceânico Central (CFBC). Essa informação foi prontamente confirmada pelo embaixador argentino na Bolívia, Normando Álvarez. O mesmo destacou a necessidade de aguardar os resultados da reunião entre o ministro boliviano de Obras Públicas, o ministro argentino de Transportes e o governador de Jujuy.

A possível rota para inserção da Argentina no CFBC (Oruro – Villazón – La Quiaca – San Salvador de Jujuy), citada pelo embaixador Álvarez, está ligada ao Plan Belgrano, um programa do governo argentino na área social, produtiva e de infraestrutura para o desenvolvimento das províncias do Norte, região mais pobre e com as maiores taxas de desemprego do país. Entretanto, a saída para os mercados do Pacífico que o porto de Ilo (Peru) pode proporcionar, caso a participação no CFBC seja concretizada, não é a única opção argentina.

O Túnel da Água Negra, constituído por duas vias rodoviárias, que unirá o porto chileno de Coquimbo à província argentina de San Juan, cruzando a Cordilheira dos Andes e permitindo a conexão com Porto Alegre (Brasil), está em avançado processo de licitação das empresas interessadas (dentre as quais chinesas, espanholas e

italianas) desde junho passado, com previsão de resultado para outubro. Com o custo estimado em cerca de US$ 1,5 bilhão, conta com o investimento dos países participantes e também do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

O investimento nesse projeto faz parte do que o atual governo argentino logra em sua política externa como “inserção inteligente no mundo”. O Túnel da Água Negra não é só mais uma via de contato com os mercados asiáticos – também reflete o desejo da Argentina, que até meados de julho ocupava a presidência do Mercosul, pela aproximação com a Aliança do Pacífico (Chile, Colômbia, México e Peru). Cabe agora observar, com o Brasil sendo o atual presidente do Mercosul, se essa aproximação entre os blocos é um desejo regional ou isolado da Casa Rosada.

No dia 13 de agosto, a Armada do Equador interceptou e apreendeu o navio FU YUAN YU LENG 999, de

bandeira chinesa, o qual transitava por águas interiores e pela área da Reserva Marinha de Galápagos. O navio contava com 20 tripulantes e, após inspeção, foram encontradas espécies marinhas vulneráveis, como os tubarões martelo e seda, que são protegidas pelo Estado equatoriano. Contabilizou-se cerca de 300 toneladas de carga ilegal. A Armada informou que o navio, a carga e os 20 membros da tripulação serão entregues às autoridades competentes para que o processo judicial tenha início.

No dia 15 de agosto, a Armada equatoriana localizou, por meio de sobrevoo de aeronave, aproximadamente 100 embarcações pesqueiras próximas à Zona Econômica Exclusiva (ZEE) de Galápagos. Em 17 de agosto, identificou-se atividade de pelo menos 197 navios chineses

na região. Vale ressaltar que não é a primeira reação às atividades ilegais chinesas em águas sul-americanas: em março de 2016, a Marinha da Argentina afundou um navio chinês durante uma operação contra pesca ilegal.

A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), da qual Equador e China são partícipes, garante ao Estado costeiro exclusividade de pesca e desenvolvimento de outras atividades econômicas em suas águas territoriais e ZEEs. Adicionalmente, o Código Penal do Equador proíbe a pesca e transporte de espécies ameaçadas.

Para além da questão ambiental, existe o problema da pesca em regiões de aproveitamento exclusivo do Estado costeiro. Embarcações chinesas têm mantido atividades de pesca em zonas proibidas, devido à dificuldade de monitoramento. A Armada equatoriana reconheceu que

Fonte: Arg Noticias

Argentina: integração interna e regionalCarlos Henrique

Armada do Equador apreende barco chinês em GalápagosBeatriz Albuquerque

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não possui recursos ou meios suficientes para monitorar a frota chinesa que se encontra próxima à ZEE de Galápagos. Tais embarcações podem estar capturando recursos migratórios de relevante importância econômica para o país.

O Brasil possui litoral de cerca de 7.490km de extensão

e 2.6 milhões de km2 de ZEE. Tais dimensões tornam complexas a defesa e a segurança da costa brasileira. Destaca-se a importância de garantir a defesa proativa das águas territoriais e da ZEE do País, de modo a impedir casos como o ocorrido no Equador.

No dia 16 de agosto, o Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, visitou a ilha de Cuba para prestar

homenagem a Fidel Castro, ex-líder cubano falecido em novembro de 2016. Uma preocupação recente dos países da América Latina se refere à Venezuela, que atravessa sua maior crise das últimas décadas. Desde o final da década de 1990, devido à proximidade ideológica de seus governos, Havana e Caracas tiveram um relacionamento estreito sob a liderança de Fidel Castro e Hugo Chávez. A queda de um dos líderes poderia afetar o outro, segundo o especialista em Relações Internacionais com ênfase em América Latina, Ángel Bermúdez.

Um dos fatores que possibilitaram que Cuba não fosse tão afetada pela crise da Venezuela foi sua recente parceria com os Estados Unidos, iniciada no governo Barack Obama e continuada, mesmo com as mudanças propostas por Donald Trump. Interesses empresariais

de companhias americanas, inclusive conectadas ao próprio presidente, podem desencorajar o afastamento brusco entre os dois Estados. Uma mudança que já está se anunciando, contudo, é a marginalização das Forças Armadas de Cuba nas parcerias econômicas realizadas com os americanos, principalmente na rede hoteleira; isso ocorre devido ao interesse do presidente Trump em não fortalecer o regime.

Além disso, a China emerge como um ator importante, tendo se tornado o maior parceiro comercial de Cuba no último ano. No entanto, isso se deveu menos a um aumento do comércio entre os dois Estados, e mais à queda do comércio entre Cuba e Venezuela, que diminuiu em 70%. Hoje, Cuba importa US$ 2.3 bilhões em bens chineses e exporta US$ 257 milhões. Uma das parcerias mais tradicionais da América Latina nos últimos 20 anos está se alterando, o que é impactante para a geopolítica da região.

Novas parcerias de CubaMarcelle Santos

Fonte: Geografia Redefor

ÁFRICA SUBSAARIANA

Um estudo da Energy Information Administration (EIA) elencou os principais chokepoints do tráfego

marítimo mundial de hidrocarbonetos, de acordo com a quantidade de barris de petróleo e fluidos energéticos que passam por cada ponto de estrangulamento marítimo. O estreito de Bab-el-Mandeb (com 4.8 milhões de barris por dia, no ano de 2016), que liga o Mar Mediterrâneo,por meio do Mar Vermelho, ao Oceano Índico, ficou na quarta posição e a terceira posição, o Canal de Suez, tem sua importância interligada ao bom funcionamento do corredor marítimo que se estende até ao Bab-el-Mandeb e ao Golfo de Áden. As discussões sobre a relevância da região têm sido intensificadas nos últimos meses com a inauguração da base chinesa no Djibuti e com o aumento de bases militares estrangeiras nos demais países do Chifre da África (Somália e Eritreia).

A importância geopolítica do Chifre da África tem instigado o interesse e a participação humanitária e militar de países do Oriente Médio como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos (EAU). Os dois países em questão têm investido em projetos de infraestrutura, educação e saúde na Eritreia, no Djibuti e principalmente

A geopolítica do mundo árabe: projeção de poder no Chifre da ÁfricaVivian Mattos

AMÉRICA CENTRAL E DO NORTE

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EUROPA

O número de refugiados oriundos da República Centro-Africana (RCA) no Camarões atingiu a casa de 275

mil, segundo dados divulgados pela Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), no começo do mês de julho. Ainda segundo o mesmo relatório, o número total de refugiados da RCA em países vizinhos alcança a marca de 480 mil, sendo o Camarões, portanto, o país de destino mais frequente. Com outros 534 mil deslocados internos, a crise na RCA é hoje uma das mais sérias do continente africano, atrás apenas do conflito na Nigéria (2,4 milhões de deslocados internos e externos) e do Sudão do Sul (1,5 milhão).

A mais recente rodada de hostilidades na RCA se iniciou em 2012, quando uma aliança de diferentes milícias muçulmanas chamada Séléka iniciou uma guerrilha contra o governo do Presidente François Bozizé. A Séléka tomou a capital Bangui em março de 2013, mas não conseguiu manter autoridade sobre o país, visto que uma nova guerrilha, dessa vez realizada pelas milícias cristãs Anti-Balaka no sul do país, se insurgiu contra a Séléka, que já se fragmentara. Nenhuma facção conseguiu sobrepujar as demais, e como resultado, a RCA

se encontra hoje dividida em três partes: o Sul, controlado pelos Anti-Balaka de Levy Yakete, o Norte, onde atuam diversas milícias Ex-Séléka, e a “República de Logone” no Leste, iniciativa separatista do combatente Séléka Nouredin Adam.

O possível envio de tropas brasileiras para a Missão Integrada das Nações Unidas para a Estabilização na República Centro-Africana (MINUSCA), em um contexto de encerramento da Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti (MINUSTAH) em outubro próximo, representa uma oportunidade para a aproximação com outros países da região – dentre os quais o Camarões –, localizado na África lindeira e parte do entorno estratégico brasileiro. Um diálogo deve ser estabelecido com o Camarões para que este reveja sua política de refugiados, que tem enfrentado críticas, uma vez que centenas deles oriundos da Nigéria foram deportados de volta para seu país somente esse ano. As dificuldades logísticas em uma eventual presença brasileira na RCA, um país mediterrâneo, pede um fortalecimento das parcerias brasileiras na região e uma maior coordenação para evitar o spillover do conflito.

República Centro-Africana, nosso novo Haiti?Franco Alencastro

na reconstrução da Somália. No âmbito militar, EAU e Arábia Saudita têm bases militares de apoio logístico ao longo do Chifre da África, sendo que os EAU têm uma série de bases no extremo norte da África, do Egito à Somália, delineando o Mar Vermelho em direção ao Oceano Índico.

A presença dos EAU e da Arábia Saudita na região reflete uma estratégia de longo prazo na projeção de poder no mundo árabe, juntamente com os esforços sauditas na atual guerra do Iêmen, país que faz fronteira marítima com o Djibuti por meio do Estreito de Bab-el-Mandeb. Outro ponto que deve ser considerado é a importância

do Bab-el-Mandeb e do Mar Vermelho na geopolítica do petróleo, haja vista que a Arábia Saudita e os EAU são Estados dependentes da exportação de hidrocarbonetos e o Golfo de Áden acaba sendo uma rota intermediária para o transporte de óleo, de outros recursos estratégicos e mercadorias em geral em direção à Europa. Dessa forma, é relevante ressaltar que o Chifre da África não está apenas sob os holofotes das potências globais que buscam projetar poder internacionalmente: a região vem se apresentando como um importante cenário para o equilíbrio de poder no mundo árabe.

Desde que o Reino Unido iniciou formalmente seu processo de saída da União Europeia (UE), tem

ocorrido reuniões acerca da futura relação entre o país e a instituição. No próximo dia 28, ocorrerá o terceiro desses encontros e há muitas expectativas de que as partes entrem em acordos sobre algumas matérias consideradas sensíveis. Uma delas é a questão envolvendo a fronteira britânica com a Irlanda, já que esta permanecerá na UE e será uma das duas fronteiras físicas entre o Reino Unido e a UE, sendo a outra a da Espanha com o território ultramarino britânico de Gibraltar.

No caso irlandês, há o interesse tanto do país quanto dos britânicos de que os atuais acordos entre as partes sejam mantidos, haja vista que a Irlanda é um dos principais parceiros do Reino Unido. Isso se dá não somente em termos econômicos – sobretudo em relação à Área de Trânsito Comum (Common Travel Area) existente entre ambos e que permite a livre circulação entre esses países, além da formação de laços socioculturais – e em assuntos de Defesa e Segurança, na qual há uma cooperação mútua, desde 2015, quando tropas britânicas passaram a treinar

Fronteiras britânicas pós-Brexit: Irlanda e a questão de GibraltarMatheus Mendes

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Fonte: Near Futures Online

com soldados irlandeses para missões de paz.Com relação a Gibraltar, trata-se de um pequeno

enclave localizado ao sul da Espanha, que dá nome a um dos pontos de estrangulamento (chokepoints) mais conhecidos e importantes do mundo, ligando o Mar Mediterrâneo ao Oceano Atlântico. O território é reclamado de modo recorrente pela Espanha, o que tem se intensificado desde que o Reino Unido votou pela saída da UE quando o governo espanhol ameaçou dificultar e até mesmo vetar as negociações do Brexit nas próximas reuniões com o Conselho Europeu. Apesar disso, o ministro espanhol das Relações Exteriores Alfonso

Dastis acenou que não atrapalharia as negociações do Brexit, utilizando Gibraltar como barganha para aceitar os acordos.

Enquanto as conversas seguem no campo especulativo, o movimento britânico pela manutenção das fronteiras físicas é evidente, embora possa haver uma pressão da UE com relação às tarifas e à circulação com a Irlanda e outra espanhola com relação a Gibraltar. A questão será finalizada na medida em que o Reino Unido abra ou não concessões para manter os seus interesses político-econômicos.

Desde a tentativa de golpe contra o seu governo ano passado, o Presidente turco Recep Tayyip Erdogan

vem realizando perseguições e prisões contra seus opositores, acusando-os de compactuarem com Fhetullah Gülen, seu ex-parceiro e atual líder do Movimento Gülen, movimento político com bastante influência na mídia e política local. Recentemente, as relações bilaterais com a Alemanha também estão superaquecidas, já que este e outros países vêm questionando o tema de Direitos Humanos na Turquia, ressaltando, ainda, a gravidade do não-reconhecimento turco, na resolução de 2016, ao genocídio armênio feito pelo Império Turco-Otomano na Primeira Guerra Mundial.

No último dia 18, Erdogan conclamou que os turcos residentes na Alemanha não apoiassem partidos “inimigos da Turquia” na eleição parlamentar a ser realizada no próximo dia 24 de setembro. A tensão aumentou no momento em que o presidente exigiu que a Alemanha extraditasse golpistas em troca da soltura de cidadãos alemães presos na Turquia, impedindo, inclusive, o acesso de parlamentares alemães às suas tropas instaladas na base de Incirlik como apoio à guerra Síria contra o Estado Islâmico. A Alemanha, sua maior parceira comercial, sugeriu retirar suas tropas da Turquia e movê-las para a Jordânia.

A ex-capital do multissecular Império Otomano pertence ao mesmo tempo à Europa e à Ásia, ao Cáucaso e ao Médio Oriente, ao Mar Negro e ao Mediterrâneo, ao Mar Egeu e ao Mar de Mármara, faz fronteira com 8 países culturalmente distintos, possuindo um território vasto comparado a outros membros da União Europeia

(UE), da qual já pleiteou fazer parte, e simboliza uma área de geopolítica ímpar na Europa, indispensável à sua estabilidade. É membro da Organização do Tratado Atlântico Norte (OTAN), já abrigou 2 milhões de refugiados nos últimos quatro anos, atenuando o impacto sobre a Europa, e serve de escudo entre o Oriente Médio e a Europa. A estabilidade da UE depende da estabilidade política turca. Caso as relações entre alemães e turcos não se acalmem, UE e OTAN poderão sentir os efeitos dessas desavenças em breve.

A importância da estabilidade política na TurquiaDominique Marques

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ORIENTE MÉDIO E NORTE DA ÁFRICA

A instabilidade sociopolítica na Líbia, cujo cenário delineou-se fundamentalmente a partir da

queda de Muamar Gaddafi, em 2011, desdobrou-se no desmantelamento do Estado, viabilizando simultaneamente um vácuo de poder e a emergência de uma pluralidade de milícias, dois eixos principais de poder e grupos armados. Os esforços conciliatórios empreendidos pelo Ocidente e pelas Nações Unidas ainda não lograram estabelecer uma unicidade política e coesão social por meio de um diálogo político. Embora um cessar-fogo tenha sido articulado entre ambas as autoridades paralelas, ademais da perspectiva de negociações políticas, direcionadas a futuras eleições empreendidas pelo governo francês, o horizonte é de morosidade. Nesse sentido, atrelada a uma conjuntura macrorregional instável, a ausência de um significativo controle territorial configurou um ambiente propício para a retomada da disseminação do Estado Islâmico (EI) na região. O reordenamento do grupo terrorista na Líbia fortaleceu-se em meio a um cenário marcado pela retomada, por parte da coalizão ocidental, de Mosul e parte de Raqqa, ambas cidades estratégicas para o projeto refundacional do EI, debilitando-o sensivelmente.

Mohamad Qasri, porta-voz e comandante das forças militares Buenyan al-Marsus, afirma que movimentos do EI ao sul de Sirte foram observados. Não obstante o contra-ataque das forças líbias, capazes de recuperar a cidade de Sirte do domínio terrorista, em dezembro de 2016, receiam-se futuros ataques à cidade, considerando a debilidade securitária do território líbio e a necessidade expansionista do EI, notadamente em regiões politicamente debilitadas, visando à sua reemergência.

Sob tal lógica, observadores regionais apontam para a consolidação de uma política destinada ao recrutamento de jihadistas em zonas rurais da Líbia, localizadas em Sabratha, próxima à fronteira com a Tunísia. Na ocasião do Fórum de Defesa do Reino Unido, o analista de segurança Robert Young Pelton afirmou que a proliferação e o fortalecimento do EI na região serão capazes de prejudicar interesses ocidentais, por meio do desmantelamento de instalações de petróleo e portos, ademais de promover a intensificação de instabilidades políticas não somente na região, mas também no continente europeu. A Líbia possui uma das maiores reservas petrolíferas do continente africano, muitas das quais localizadas ao sul da cidade de Sirte, produzindo mais de 800 mil barris diários.

Disseminação do projeto de reconstituição do Estado Islâmico na LíbiaPedro Kilson

O Primeiro-Ministro libanês Saad al-Hariri revelou, no dia 18 de julho de 2017, uma operação que seria

conduzida pelas Forças Armadas Libanesas (LAF) na zona fronteiriça sírio-libanesa de Juroud Arsal, cuja localidade tem sido base de operações para grupos insurgentes lutando na guerra civil síria, dos quais cabe citar o ISIS e o Jabhat Fateh al-Sham, outrora reconhecido como Frente al-Nusrah. Quase que concomitantemente, no dia 20 de julho, o grupo Hezbollah confirmou um também plano de atuação militar para a eliminação dos militantes da Jabhat Fateh al-Sham no Líbano.

Tal coalizão entre as Forças Armadas Libanesas com o Hezbollah e as Forças Armadas de Bashar al Assad contra os insurgentes islâmicos sinaliza uma importante mudança em curso no Oriente Médio. A singularidade desta operação reside na atípica parceria entre o Hezbollah e os militares das Forças Armadas Libanesas. As razões dessa mudança radical, e até mesmo contraditória, diz respeito ao fato de que a LAF recebe um amplo apoio dos Estados Unidos e Reino Unido, que por sua vez, consideram o grupo Hezbollah como terrorista. Nesse

sentido, apoiar e apostar no LAF como o principal ator capaz de prover segurança e estabilidade no Líbano relaciona-se diretamente com o interesse norte-americano de contrabalancear a influência do Irã e de seus parceiros locais e regionais.

A coalizão em J’Arsal se torna notável por que evidencia o papel de liderança que o Hezbollah, enquanto ator não-Estatal, vem assumindo na região. Nesta empreitada, o grupo militante xiita demonstrou grande capacidade militar ao liderar uma eficaz coalizão de exércitos nacionais que pareciam impossíveis de atuar sob uma mesma unidade de comando, incluindo o LAF, apoiados pelos Estados Unidos, e as Forças Armadas Sírias de Bashar al Assad. Mas para além disso, tal escalada sugere o que pode vir a ser os próximos passos do grupo transnacional: ajudar a contrabalancear os interesses de seus aliados na região, especialmente o Irã.

Considerando que o Irã é a maior ameaça para Israel na região, segundo o próprio governo israelense, um aumento do prestígio do Hezbollah no vizinho Líbano em nada parece contribuir para estabilidade da região.

Os impactos de uma coalizão atípica para o equilíbrio de poder no Oriente Médio

Taynara Custódio

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LESTE ASIÁTICO

90º aniversário do PLAPhilipe Alexandre

No dia 01 de agosto, a China realizou um desfile militar de grandes proporções em sua Base de

Treinamento Zhurihe, a maior da Ásia. O motivo foi a comemoração do 90º aniversário do Exército de Libertação do Povo (PLA, em inglês), o exército chinês, que representa um dos pilares-chave de sustento do Partido Comunista, no poder desde 1927. As armas expostas no desfile chamaram a atenção de especialistas pelo rápido desenvolvimento militar da China. Isso se deve à nova geração de jatos do país, os J-20, que poderiam rivalizar com os norte-americanos F-22 e F-35; aos ICBMs com capacidade para carregar ogivas nucleares; e ao míssil balístico intercontinental móvel DF-31AG – uma atualização do DF-31A, apresentado em 2009.

Durante o evento, o presidente chinês, Xi Jinping, fez um breve discurso, no qual expressou seu orgulho das forças armadas do país e pediu a contínua fidelidade absoluta das tropas ao Partido. “O mundo não é pacífico

e a paz precisa ser defendida”, disse ele. “Nossos heroicos militares detêm a confiança e as capacidades para preservar a soberania, a segurança e os interesses nacionais”.

O desfile e o discurso do presidente ocorreram em momento de grandes tensões domésticas e regionais, e torna-se evidente que Xi buscou expor sua liderança aos rivais internos. No Boletim Geocorrente 44 e 50, apresentamos a campanha anticorrupção perpetrada pelo Chefe de Estado chinês, a fim de imobilizar oponentes dentro do Partido e firmar-se no poder como o real ‘Core Leader’. As crises em torno do programa nuclear da Coreia do Norte, as consequentes críticas de Donald Trump e as disputas fronteiriças com a Índia moldaram a conjuntura geopolítica regional, fazendo com que Pequim mostrasse o seu poderio militar. Força, estabilidade e capacidade são elementos que os chineses precisam apresentar ao mundo diante de um contexto de enormes desafios.

RÚSSIA E EX-URSS

No dia 1º de agosto, a Presidente da Lituânia, Dalia Grybauskaité, declarou que os EUA irão aumentar

a presença militar na base aérea de Siauliai como uma resposta à realização do exercício “Zapad” (“Oeste”, em russo) entre a Federação Russa e Bielorrússia, a ser realizado em meados de setembro. Esse aumento na presença militar norte-americana no país tem como objetivo reforçar a missão de patrulhamento aéreo do Báltico, posto que o exercício entre Minsk e Moscou envolverá grande quantidade de soldados, estimando-se a participação de 3.000 militares russos e 7.200 bielorrussos.

O anúncio por parte da chefe de Estado lituana veio durante a realização do exercício militar “Noble Partner” (“Nobre Parceiro”, em tradução livre do inglês), realizado na República da Geórgia entre os dias 31 de julho e 12 de agosto e envolvendo a participação de 2.800 militares de países como Geórgia, EUA, Armênia, Alemanha, Turquia, Reino Unido, Ucrânia e Eslovênia.

A realização de exercícios por membros da OTAN em países vizinhos à Federação Russa tem sido acontecimento constante desde o término da Guerra Fria (1947-1991), sobretudo após o lançamento da “Partnership for Peace”

pela OTAN em 1994, com o objetivo de estreitar relações com as antigas repúblicas da cortina de ferro e que também serviu para promover a expansão da aliança militar para esses países.

A Federação Russa considerou a expansão dessa iniciativa como uma ameaça às suas fronteiras, gerando não só episódios de tensão entre a aliança militar e a Federação, como também motivando o envolvimento de Moscou em diversos conflitos no espaço pós-soviético, como com a Geórgia em 2008 e a Ucrânia em 2014.

Deste modo, a realização de exercícios militares nos países vizinhos à Federação Russa por parte da OTAN e do governo russo tem sido uma forma de demonstrar que a aliança está disposta a proteger seus membros orientais. Essa movimentação é vista como ameaça por Moscou, ditando a tônica não só do seu relacionamento com o Ocidente como também a própria tônica dos eventos ocorridos nos países da região, muitas vezes preocupados em não serem palcos de conflitos como os ocorridos na Geórgia e Ucrânia.

A problemática dos exercícios militares na relação Rússia- OTANPedro Martins

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SUL DA ÁSIA

No dia 28 de julho, após decisão da Suprema Corte do Paquistão, Nawaz Sharif foi destituído de suas

funções como primeiro-ministro do país. De acordo com a sentença, a família Sharif teria adquirido propriedades em Londres e Dubai através de receitas de empresas offshore no início dos anos 1990, relatos obtidos através do Panama Papers.

Por conta disto, no dia 1 de agosto, a Assembleia Nacional elegeu Shahid Khaqan Abbasi como primeiro-ministro interino, que governará por 45 dias até que sejam realizadas novas eleições. Abbasi possui familiares ligados às Forças Armadas paquistanesas, o que sugere uma afinidade de interesses, se considerarmos o importante papel do Exército na governança do país.

Desde a independência do Paquistão (1947), os militares são uma força política poderosa. Em alguns momentos, governaram diretamente; em outros, aceitaram as manifestações por aparatos democráticos. Entretanto, independentemente do sistema em vigor, o Exército mantém a direção, principalmente, dos setores relativos à

política externa e segurança.Assim, estima-se que a incerteza política decorrente

do afastamento de Sharif confira maior autonomia ao Exército. Na presença do ex-primeiro ministro, era possível observar alguma moderação na conduta referente às tensões regionais. Porém, na ausência de um chefe de Estado plenamente capaz, os militares terão mais liberdade para difundir seu ponto de vista mais hostil e alinhavar um líder que seja mais próximo de seus projetos e diretrizes em relação à segurança nacional.

Ademais, o empenho do Exército em participar de forma mais ativa em tais questões pode ser entendido através da percepção que carrega a respeito do atual governo indiano. O primeiro-ministro Narendra Modi transmite convicções nacionalistas que impactam nas disputas territoriais entre ambos. Dessa forma, para os militares, o Paquistão deve manter uma postura mais agressiva no que diz respeito a este impasse, o que pode ser traduzido em um acirramento de tensões regionais já inflamadas.

O papel do Exército diante da incerteza política no PaquistãoRebeca Leite

As tensões causadas pelos testes nucleares e ameaças provenientes do regime norte-coreano não são

novidade no sistema internacional. Recentemente, o país revelou seu plano de ataque contra as bases militares norte-americanas de Guam, o que despertou críticas de Donald Trump, e ampliou as discussões sobre a possibilidade de um conflito entre os dois Estados. A situação também abriu debates sobre os potenciais cenários pós-conflito, sendo o mais provável a derrota do regime.

Para os Estados Unidos, a queda do regime e a provável reunificação da península podem significar uma maior influência sobre a região, uma vez que a presença mantida na Coreia do Sul se expandiria para o território que atualmente é governado por Kim Jong-un, garantindo também uma posição geográfica estratégica contra a China. Porém, os gastos com armamentos e o grande número de causalidades tornariam a guerra custosa. Por sua vez, os chineses, que prezam pela estabilidade regional, não seriam beneficiados pelo conflito, visto que enxergam a Coreia do Norte como uma espécie de Estado-tampão contra a ação norte-

americana no leste asiático. Além disso, uma crise de refugiados poderia afetar o país. Isso explica a omissão da China, principal parceiro econômico norte-coreano, que busca manter o status quo na península ao não realizar ações significativas para impedir que o país vizinho alcance êxito em seu programa nuclear.

Apesar de manter um discurso agressivo, muitas vezes assegurando que realizará ataques nucleares contra os EUA e seus aliados, a Coreia do Norte não teria interesse real em um conflito, já que este colocaria em risco a sobrevivência do próprio regime. Já a Coreia do Sul, que também seria intensamente afetada caso uma guerra ocorresse, tem se mostrado cada vez mais defensora da via diplomática.

Sendo assim, é importante ressaltar que, apesar das manchetes anunciarem uma guerra cada vez mais próxima, esta permanece improvável em um futuro próximo. Entretanto, não devemos descartar a possibilidade de um desdobramento rápido caso Kim Jong-un mantenha sua postura e ameace a segurança norte-americana de forma efetiva, o que provocaria retaliação por parte dos EUA e de seus aliados.

Península coreana: possibilidade de conflito e as suas consequênciasEly Pereira

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ÁRTICO E ANTÁRTICA

Enquanto o conflito de interesses no Ártico toma considerável parte das forças navais russas e norte-

americanas, outros países preparam discretamente uma corrida para modernizar suas embarcações polares voltadas para pesquisa antártica.

Em junho deste ano, a Austrália deu início à construção de seu novo navio, ainda sem nome, em cerimônia simbólica na Romênia. O quebra-gelo de 156 metros é um dos pontos centrais de seu Plano Estratégico de 20 anos para a Antártica, e tem previsão de conclusão para o início da década de 2020. De modo semelhante, Chile e Argentina terão à disposição suas novas estâncias de pesquisa de classe polar em datas afins (ver Boletim 57).

Dentre os países do Norte interessados no sexto continente, o Reino Unido prevê a chegada do RRS “Sir David Attenborough”, embarcação de 128 metros, para 2019, trazendo atualizações em seus equipamentos de pesquisa e maior aproveitamento de combustível. A aquisição é o maior investimento em ciência voltada para os polos desde 1980, fazendo parte do ambicioso Programa de Investimento em Infraestrutura Polar do governo britânico. Já a França colocará nos mares seu quebra-gelo “L’Astrolabe” em setembro deste ano,

substituindo o anterior de mesmo nome. O novo navio contará com 72 metros e já foi entregue à Marinha Francesa, sob o registro de navio de patrulha polar.

Por outro lado, os Estados Unidos contam apenas com o USCGC “Polar Star” para chegarem às estações McMurdo e Palmer, um navio de 122 metros e 40 anos de idade. O país se prepara para renovar toda a infraestrutura de seu programa antártico, mas ainda sem data e valores estabelecidos, além de muitas incertezas acerca da alocação de recursos para a Antártica.

A silenciosa corrida dos navios quebra-gelo para a próxima décadaGabriele Hernández

SUDESTE ASIÁTICO E OCEANIA

O dia 3 de agosto foi marcado por uma notícia que representa mais uma nova etapa no balanço regional

de poder no Sudeste Asiático. Na ocasião, a Marinha da Indonésia comissionou seu primeiro submarino de ataque, após um hiato de 30 anos.

O submarino Type 209/1400 Classe Chang Bogo (uma classe variante licenciada do Type 209 alemão) constitui uma embarcação convencional diesel-elétrica – tipo ideal para atuar no Mar do Sul da China – construído por meio de um contrato com a empresa sul-coreana Daewoo Shipbuilding and Marine Engineering (DSME). A cerimônia oficial contou com a presença de altos funcionários indonésios, incluindo o Ministro da Defesa, Ryamizard Ryacudu.

De acordo com o IHS Jane’s Navy International reports, a Indonésia planeja construir uma base para sua Força de Submarinos na localidade de Pulau Natuna Besar, a maior das ilhas do arquipélago Natuna, no Mar do Sul da China.

Além disso, mais dois submarinos da Classe Chang Bogo (1.400 toneladas, capacidades A/S, Anti-Superfície e de Apoio a Operações Especiais) estão sendo planejados pela Marinha da Indonésia para serem comissionados em 2018 e 2019, respectivamente.

O segundo navio a ser adquirido será construído na Coréia do Sul. O terceiro será montado pelo estaleiro estatal indonésio PT PAL em Surabaya, na Indonésia, no âmbito de um acordo de transferência de tecnologia, já recebendo módulos do mesmo por parte da DSME este ano. Tal estaleiro está se programando para começar a montar o terceiro submarino em suas novas instalações, na cidade supracitada, sob orientação da DSME, em 2018.

A notícia reforça as preocupações de Jakarta em aprimorar seu poderio naval diante das tensões regionais nas quais está inserida, bem como destaca o desenvolvimento das capacidades da indústria naval sul-coreana.

Marinha da Indonésia comissiona novo submarinoVinicius Costa

Fonte: NERC

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Participamos aos leitores que os Boletins anteriores estão disponíveis na página da Escola de Guerra Naval na internet no seguinte endereço:

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• ANA PALACIO - 18/8/2017The Guardian of the Liberal World Order

• SANDRA ERWIN - 18/8/2017The U.S. Navy Has given Us a Glimpse of How It Will Fight High-Tech Wars

• JAY CAPUTO - PROCEEDINGS MAGAZINE - AUGUST 2017 A Global Fish War is Coming

• PETE SPAHN AND MATT MCLAUGHLIN - 17/8/2017Leveraging Identity Activities in the Maritime Domain

• CRISIS GROUP - 22/8/2017 Final Curtain for Venezuela’s Democracy as Parliament is Dissolved

• JOHN NAGL - 22/8/2017 A True Afghanistan Counterinsurgency Is Trump’s Only Hope

• GEOFF ZIEZULEWICZ - 22/8/2017 Navy’s 7th Fleet no stranger to high ops tempo

• ANTHONY CORDESMAN - 18/8/2017 Trends in European Terrorism: 1970-2016

• FEDERICO FABBRINI - 22/8/2017 EU Unity Beyond Brexit

• AKHILESH PILLALAMARRI - 19/8/201770 Years of the Radcliffe Line: Understanding the Story of Indian Partition

ARTIGOS SELECIONADOS E NOTÍCIAS DE DEFESA

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Artigos selecionados e notícias de DefesaREFERÊNCIASARTIGOS SELECIONADOS E NOTÍCIAS DE DEFESA

• Argentina: Integração Interna e Regional PÁGINA SIETE. Embajador de Argentina confirma el interés del Gobierno de Macri por el Tren Bioceánico. Página Siete, 03 ago. 2017. Acesso em: 05 ago. 2017.CABRERA, Francisco. ¿Qué es una inserción inteligente al mundo?. La Nacion, 09 abr. 2017. Acesso em: 18 ago. 2017.

• Armada do Equador apreende barco chinês em Galápagos.

EQUADOR. Armada del Ecuador. Armada del Ecuador captura buque pesquero Chino en reserva marina de Galápagos.. Acesso em: 18 ago. 2017.________. Armada del Ecuador. Aeronaves de la Armada del Ecuador mantienen monitoreo de la Zona Económica Exclusiva de Galápagos. Acesso em: 18 ago. 2017.

• Novas parcerias de CubaMaduro presta homenagem a fidel castro em visita surpresa a Cuba. Acesso em: 17/08/2017. China becomes Cuba’s largest trading partner. Acesso em: 17/08/2017.

• A geopolítica do mundo árabe: projeção de poder no Chifre da África

ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION. WORLD OIL TRANSIT CHOKEPOINTS. 2017. Acesso em: 19 ago. 2017.STRATFOR WORLDVIEW. The UAE Joins an Exclusive Club. 2016. Acesso em: 17 ago. 2017.

• República Centro-Africana, nosso novo Haiti?La Nouvelle Centrafrique. CRISE CENTRAFRICAINE : La Séléka déclare la naissance de la République du “LOGONE” scellant la partition de la RCA. Acesso em 10 ago 2016. BARRETTO, Andréa. Último contingente brasileiro assume comando da missão de paz no Haiti. Revista Diálogo, 6 jun 2017. Acesso em 10 ago 2017.

• Fronteiras britânicas pós-Brexit: Irlanda e a questão de Gibraltar.

REINO UNIDO. Brexit negotiations: the Irish border question. 8042. ed. London: The House Of Commons Library, 2017. 37 p. . Acesso em: 20 ago. 2017.SUMMERS, Hannah. Spain won’t ‘jeopardise’ Brexit deal to regain Gibraltar sovereignty. The Guardian. London, 8 ago. 2017. Acesso em: 20 ago. 2017.

• A importância da estabilidade política na TurquiaMACEDO, Daniel Almeida de (Ed.). Turquia e sua importância geopolítica. 2016. Acesso em: 02 ago. 2017.EISSENSTAT, Howard. The hard truth abou tukey`s opposition: Why It Will Have Trouble Challenging Erdogan. 2017. Acesso em: 02 ago. 2017.

• Disseminação do projeto de reconstituição do Estado Islâmico na Líbia

HISPANTV. ¿Cuál es el nuevo plan de Daesh tras derrotas en Siria e Irak? Acesso em 05.ago.2017 MCKERNAN, Bethan. Isis is regrouping for battle after

losing Mosul and Raqqa, warn Libyan forces. Acesso em 05.ago.2017

• Os impactos de uma coalizão atípia para o equilíbrio de poder no Oriente Médio

CAMBANIS, Thanassis; GHADDAR, Sima. Strengthened by War, Hezbollah Displays Regional Power. 2017. Acesso em: 05 ago. 2017.NERGUIZIAN, Aram. The Lebanese Armed Forces, Hezbollah and the Race to Defeat ISIS. 2017. Acesso em: 04 ago. 2017.

• A problemática dos exercícios militares na relação Rússia- OTAN.

US to boost air & troop presence in Lithuania during Russia-Belarus drills. Russia Today, [s.i]. Acesso em: 01 ago. 2017.US Tanks head for Tbilisi as NATO flexes muscles in joint drills with Georgia. Russia Today, [s.i]. Acesso em: 31 jul. 2017.

• 90º aniversário do PLASOON-DO, H. China Shows Off Military Strength in PLA Parade to Mark 90th Anniversary. . Acesso em: 17/08/2017.Xinhuanet. Big year for China’s military as PLA to celebrate 90th birthday. Acesso em: 17/08/2017.

• Península coreana: possibilidade de conflito e as suas consequências

O’CONNOR, Tom. North Korea’s Kim Jong Un Doesn’t Want Nuclear War With The U.S., Just ‘Maximum Drama’. Newsweek. 08 ago. 2017.FIFIELD, Anna. Are we on the blink of nuclear war with North Korea? Probably not. The Washington Post. 11 ago. 2017.

• O papel do Exército diante da incerteza política no Paquistão.

CHOOTINER, Isaac. What Nawaz Sharif’s ouster means for Pakistan. Slate Magazine, 28/07/2017. Acesso em: 14 de agosto de 2017.SHAH, Aqil. Pakistan’s Court Sets a Dangerous Precedent. 28/07/2017. Acesso em: 14 de agosto de 2017.

• Marinha da Indonésia comissiona novo submarinoJANE’S 360. Indonesia to homeport newly commissioned type 209/1400 submarine in central sulawesi. Acesso em: 18 ago. 2017.THE DIPLOMAT. Indonesia commissions first attack submarine in 34 years. Acesso em: 18 ago. 2017.

• A silenciosa corrida dos navios quebra-gelo para a próxima década

CORUM, Jonathan; GILLIS, Justin. Where Else Does the U.S. Have an Infrastructure Problem? Antarctica. The New York Times. 17 de jul., 2017. Acesso em: 18 de ago., 2017.Naval Today. French Navy receives icebreaker and patrol vessel L’Astrolabe. Acesso em: 18 de ago., 2017.

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