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1 Algomais JANEIRO/2017

Algomais J ANEIRO/2017 - revistaalgomais.com.br · consequências não só para a mobilidade de vias como a Agamenon, mas também para a gestão do lixo e a preservação de áreas

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Estatísticas revelam que metade dos carros que circulam pela Avenida Agamenon Magalhães não é do Recife. Esse é apenas um exemplo de como o cotidiano das pessoas que moram na região metropolitana está interligado. Quer ver outro exemplo? É comum encontrar recifenses que trabalham em Jaboatão, se divertem em bares e no Carnaval de Olinda, além de frequentarem as praias de Cabo de Santo Agostinho. Ou mesmo gente que mora em Paulista, trabalha em Suape (Ipojuca) e passa o fim de semana na Iha de Itamacará.Na verdade, não damos conta de que somos cidadãos metropolitanos e que nossa vida cotidiana não se restringe à cidade onde residimos. O que é grave, porém, é o fato de não existir uma governança pública que possa gerir, de maneira integrada, os assuntos que sejam comuns a todas as cidades que compõem a RMR. Uma situação que traz consequências não só para a mobilidade de vias como a Agamenon, mas também para a gestão do lixo e a preservação de áreas verdes, entre muitos outros aspectos. Como Algomais sempre foi pioneira em tratar temas urbanos importantes - muitos deles pouco discutidos na mídia e na sociedade - a revista segue a tradição e traz uma análise profunda desse problema. Levamos ao leitor uma série de reportagens produzida por Rafael Dantas sobre o assunto. Nesta primeira matéria, especialistas debatem os entraves comuns que permeiam a vida dos moradores da RMR e como eles poderiam ser solucionados por uma governança metropolitana.E, falando em solução, o mercado imobiliário começa a vislumbrar uma luz no fim do túnel. A matéria da página 14 analisa que a perspectiva de queda da inflação e dos juros incentivou as construtoras a retomarem os lançamentos. Uma curiosa retomada também está acontecendo numa atividade que muitos tinham como extinta: a de barbeiro. O leitor vai conhecer os novos serviços que as barbearias estão oferecendo para conquistar a clientela.Imperdível também está a entrevista com Arnaldo Xavier, filho de Santa Cruz de Capibaribe, que vendia cocada nas ruas quando menino e se transformou no proprietário de uma das maiores indústrias de confecção do Estado.

Boa leitura!Cláudia SantosEditora Geral

editorial

Sabia que você é um metropolitano?

DIRETORIA EXECUTIVARicardo de [email protected]

DIRETORIA COMERCIALFábio [email protected]

CONSELHO EDITORIALArmando Vasconcelos, Gustavo Costa, João Rego, Mariana de Melo, Raymundo de Almeida e Ricardo de Almeida.

Uma publicação da SMF- TGI EDITORA R. Barão de Itamaracá, 293 - Espinheiro - Recife - PE - Brasil - CEP 52.020-070 - Tel.: (81) 3134 1740 - Fax: (81) 3134.1741 . www.revistaalgomais.com.br

EDITORIA GERALCláudia Santos (Editora)[email protected] Tavares (Consultor Editorial)[email protected]

REPORTAGENSCláudia SantosMaria Regina Jardim Rafael Dantas

EDITORIA DE ARTERivaldo Neto (Editor)[email protected]

FOTOGRAFIADiego Nóbrega

Edição 130 - 20/01/2016 - Tiragem 12.000 exemplares Capa: Massapê Comunicação facebook/revistaalgomais

@revistaalgomais

EDIÇÃO 130

E MAIS Entrevista 4

Pano Rápido / Joca Souza Leão 17

Economia / Jorge Jatobá 23

Baião de Tudo / Geraldo Freire 27

Ninho de Palavras / Bruno Moury 26

João Alberto 30

Memória Pernambucana 32

Última Página/ Francisco Cunha 34

Nossa MissãoProver, com pautas ousadas, inovadoras e imparciais, informações de qualidade para os leitores, sempre priorizando os interesses, fatos e personagens relevantes de Pernambuco, sem louvações descabidas nem afiliações de qualquer natureza, com garantia do contraditório, pontualidade de circulação e identificação inequívoca dos conteúdos editorial e comercial publicados.

CAPA

RMRA importância de uma gestão integrada. 8

MOBILIDADE

Conde da Boa VistaPesquisas ajudam encontrar soluções para melhorar a avenida. 12

IMÓVEIS

Boas perspectivasConstrutoras retomam lançamentos de olho na queda dos juros. 14

CONSUMO

Vaidade masculinaBarbearias estão de volta e oferecem novos serviços. 20

AUDITADA POR Os artigos publicados são de inteira e única responsabilidade de seus respectivos autores, não refletindo obrigatoriamente a opinião da revista.

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“A CHINA PRODUZ ROUPA, MAS NÃO PRODUZ MARCA”

Entrevista a Cláudia Santos e Rafael Dantas

entrevista

ladeira da vizinha emprestada para fazer dudu. Também fazia cocada e botava a gente para vender. Três anos depois, o maior empresário da cidade, Noronha Silvestre, ouviu dos amigos a situação que minha mãe estava passando. Ele se compadeceu e resolveu ajudar. Ele era o maior revendedor de tecidos da região e quando soube que ela era costureira de-cidiu que ia fornecer tecido para ela, na verdade, retalhos. Ela pagaria quando pudesse. Ele entregou dois fardos gran-des de tecido que retiramos na calçada mesmo, porque era enorme não cabia na residência. Com o tempo começa-mos a prosperar. Ela convidou amigas e vizinhas para ajudar na costura. A casa começou a ser residência e fábrica de confecção. Ora a mesa era para fazer os cortes, ora era para botar o jantar, os quartos eram estoque ou lugar para dormir.

Como você ajudava?Comecei, entre 13 e 14 anos, a apren-der a corte e costura. Minha mãe fazia moda feminina, mas eu queria fazer algo que eu pudesse usar. Pedi a minha mãe para ceder alguns quilos de tecido para eu confeccionar bermuda. Ela re-lutou num primeiro momento, mas ce-deu 20 quilos. Ela percebeu que a ideia

tinha futuro. A gente comercializava nas proximidades da residência. A principal feira de confecções da cidade ficava na rua Siqueira Campos. A gente observou que essa feira, que ficava a uns 700 me-tros da nossa residência, crescia a cada dia e que as pessoas que iam comprar estacionavam cada vez mais próximo da nossa casa. Eu disse para minha mãe: em pouco tempo essa feira vai chegar na nossa casa. Sugeri que fizéssemos uma loja na nossa sala. Mas ela disse “você está maluco, essa feira nunca vai che-gar aqui!”. Ela acabou percebendo que eu estava com razão e cedeu a sala que transformamos numa pequena loja. Em pouco tempo os carros estavam esta-cionados na frente de casa. Isso deu um boom danado! Os clientes viam a loja com produto exposto e isso agregava um pouco de valor ao produto.

E você expôs as bermudas?Comecei a fazer produto masculino, minha mãe feminino, meu irmão co-meçou a entrar no negócio também junto com a outra irmã. As coisas come-çaram a prosperar. Eu fui pedindo espa-ço: vamos aumentar a loja para um dos quartos, em vez de camas vamos botar beliche para caber tudo. Chegou um momento que não tinha mais espaço e

ARNALDO XAVIER. Empresário conta como passou de feirante de confecção a industrial

Quando criança, ele vendeu dudu e co-cada nas ruas de Santa Cruz do Capiba-ribe. Mal entrou na adolescência, aju-dou a mãe a confeccionar roupas. Hoje ele é dono de uma das maiores marcas de moda praia e street wear do Estado e planeja faturar R$ 40 milhões este ano. Conheça nesta entrevista a trajetória de sucesso de Arnaldo Xavier.

Como foi ser criança e ter que traba-lhar?Sou de uma família de cinco irmãos (eu, mais um homem e três mulheres), filho de uma costureira e de um senhor que trabalhava na Prefeitura de Santa Cruz do Capibaribe. Em 1974, quando eu es-tava com 7 anos – sou o mais velho – e minha irmã mais nova tinha 8 meses, meu pai aos 32 anos, faleceu. Deixou minha mãe viúva, aos 28 anos. A gente começou a ter muitas dificuldades por-que todos os irmãos de minha mãe (que eram 13) foram para o Paraná e ela ficou sozinha na cidade. A primeira coisa que minha mãe fez foi dar seus filhos mais novos. Ela deu Alessandra para uma amiga e Ana para minha avó materna.

Mas essas irmãs também moravam na mesma cidade?Sim. Minha mãe começou a pedir a ge-

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cei a folhear revistas de surfe, vi que a moda desse segmento era forte e falta-va na região. Sempre gostei de folhear essas revistas e sempre fui apaixonado pelo mar. Queria criar alguma coisa re-lacionada a ele. Lendo um anúncio da marca Grota Funda numa revista, eu li Rota Funda. Percebi que li errado, mas o nome rota ficou na cabeça, e em se-guida o mar. Aí ficou Rota Mar. Sempre gostei de ouvir as pessoas e perguntei o que achavam da marca. Muitas diziam que Rota Mar soava estranho. Um dos colegas, que não lembro quem, me su-geriu :“por que não Rota do Mar?” Ouvi clientes e amigos e todos gostaram do nome. Contratei serviços de um desig-ner da cidade e ele criou a logomarca.

Como surgiu a fábrica?Dos meus 15 a 30 anos trabalhávamos da seguinte forma: cortávamos os teci-dos, levávamos para pessoas que mora-vam na zona rural para costurar e depois fazíamos o acabamento. Mas eu queria trazer máquinas eletrônicas e montar uma fábrica. No dia 19 de dezembro de 1996 a gente oficializou a abertura da empresa e começamos a contratar. Ha-via uma fábrica grande na cidade que

sugeri à minha mãe morar numa casa alugada. Eu pagaria o aluguel. Ela já ha-via comprado a casa da loja. Dessa vez ela cedeu logo, porque viu que eu tinha acertado duas vezes. E cada vez que a gente ampliava a loja, o negócio crescia mais. Mas eu quebrei duas vezes por fal-ta de experiência, a gente vendia muito com cheque pré-datado. Eu quebrei de ficar sem nada. Mas minha mãe não e, quando um da família quebrava, outro parente socorria.

Como surgiu a Rota do Mar?Eu casei com 27 anos e aos 30 anos fa-lei com minha esposa: tenho que sair do círculo familiar para criar uma nova marca. A gente tem que sair para que a gente possa crescer e eles também. Eu cheguei certo dia com essa ideia e minha mãe e minhas irmãs disseram: “você tá doido, você é o cabeça daqui!”. Eu disse que cada um ganhou um pouco de ex-periência e dava pra voar sozinho agora. Se a gente continuar no mesmo grupo não vai ter crescimento. Havia a cultura na cidade de colocar o sobrenome ou o nome do filho ou dos cônjuges nas mar-cas das confecções. A nossa primeira marca foi Xavier Confecções. Come-

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Quando meu pai morreu, minha mãe pediu a geladeira emprestada da vizinha para fazer dudu e botava a gente para vender”

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Temos carência de designer,

estilista e mecânico que podem ganhar até R$ 10 mil"

com marca própria e abrir unidades no Recife, Aracaju, Rio Grande no Norte. No Norte e Nordeste estamos muito bem. Já exportamos, e interrompemos, porque na época existia um merca-do muito aquecido internamente e tivemos que optar. Mas a estratégia foi conhecer como se fazia a expor-tação e a importação. Aprendemos e voltamos para o nosso ponto. Nas próximas semanas vamos abrir o e--commerce. Faz um ano e meio que estamos trabalhando nisso, para não entrar de qualquer forma. É um tra-balho viável, mas também comple-xo, por isso estamos estudando mais e nos inteirando com profundidade. Isso no varejo, para o atacado, esta-mos montando um aplicativo de ven-das, semelhante ao WhtatsApp no qual o cliente recebe a foto do produ-to com as características e ele mesmo monta o pedido. Com o e-commerce vamos dar uma engrenada lá fora, mas o foco da gente é atingir o Norte e Nordeste muito bem, depois ir para Sul e Sudeste, em seguida ir para fora do País.

Vocês tiveram que demitir com a crise?Chegamos a ter 1.100 pessoas, hoje te-mos 850. Mas, no que se refere à em-presa, acho que o pior da crise já pas-sou. Em relação ao Brasil, acho que vai demorar um pouco mais. Neste ano a gente planeja crescer 9%. Não é sonho, é totalmente palpável. Até 2022 plane-jamos crescer mais a cada ano. Para 2017 temos um planejamento de produzir 160 mil peças/mês e faturar em torno de R$ 40 milhões.

Os estilistas da empresa são da região?Alguns do Agreste, outros do Recife e do Nordeste. Hoje existem escolas in-teressantes que formam profissionais. Há muitas oportunidades no Agreste e algumas delas para designer, estilista, mecânico de máquinas de costura. São profissionais que recebem entre R$ 5 mil a R$ 10 mil. Somos muito caren-tes desses profissionais e temos que contratá-los de outros estados. Com essas escolas acho que em pouco tempo vão surgir muitos profissionais da região nessas áreas.

entrevista ARNALDO XAVIER

fechou e desempregou muita costurei-ra. Cheguei para uma delas e disse que queria contratar as melhores. Consegui fazer uma equipe de 10 pessoas e disse para elas: estou montando a marca e a ideia é ser um dos maiores do Estado. As pessoas duvidaram pela estrutura que era muito pequena. Havia uma moça, Fátima, que confessou depois, que na hora ela pensou “esse bicho fumou ma-conha estragada” (risos). Pensou que eu estava delirando. Quando a gente mon-tou a marca e começou a melhorar nos-so processo, crescíamos 200% a 300% ao ano. As coisas iam acontecendo por-que tínhamos um produto e um nome legais (o restante das empresas tinham com um nome meio mixuruca). Os úl-timos 20 anos foram de muito trabalho. Conheci 49 países, passei a trazer tecno-logia e conhecimento e treinar a equipe. Hoje temos 850 colaboradores, somos a maior confecção do Estado e com um nome bem interessante no Norte Nor-deste, em alguns lugares do Sul e Sudes-te também somos conhecidos.

Qual sua estratégia para não se abalar ante a concorrência da China?Marca é muito importante hoje em dia. A China produz roupa, mas não produz marca. Existe a vaidade das pessoas em dizer: "eu quero aquela marca que fu-lano usa". A gente também tem uma coisa interessante que é apostar nas pessoas. Temos a habilidade de tirar de-las o máximo, mostrar que elas podem fazer melhor. É uma estratégia que vem dando certo. Pagamos para os colabora-dores cursos, viagens, além de sermos transparentes e companheiros. Tam-bém colocamos o produto no mercado com rapidez, a China demora mais por causa da distância. A China não se torna um grande concorrente em razão dessa velocidade, da nossa marca e do apoio que damos ao colaborador. Investimos em viagens, estilo, pesquisa e no preço. O bom, bonito e barato que a gente não pode descartar. Focamos no público de 14 a 30 anos, das classes C e D.

Vocês já tiveram ações ousadas no mar-keting . Não adianta fazer um produto de quali-dade, de preço bom se a gente não di-vulga. Vai ficar escondido. Destinamos 2% a 3% do faturamento para divulgar o produto, a marca e consequentemen-

te aumentar as nossas vendas. Fizemos campanhas bem interessantes, seja com atores globais, clubes de futebol, atletas de surfe, de skate. Hoje a gente está bem focado em redes sociais, na internet e nas campanhas de verão e inverno. Mas já fizemos campanhas no Havaí, Nova Iorque, Bahia, Fernando de Noronha, Rio, São Paulo, Ceará.

De onde vem sua admiração pelo mar,

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já que a empresa é do Agreste?Acredito que quase todo mundo é fas-cinado pelo mar, que é algo que a gente não sabe explicar. É alguma coisa mís-tica. Quando você chega no mar, pa-rece que não acontece nada e acontece tudo. Parece que as ondas são sempre diferentes. O mar é encantador, faz com que você fique mais tranquilo e isso não tem explicação. Transmite paz, energia, movimento.

Em que momento você percebe que tem uma grande empresa no mercado?Depois do quinto ano que a gente mon-tou a marca, percebi que a gente po-deria chegar muito além do que ima-ginava. Hoje temos cinco lojas, duas em Santa Cruz, uma em Toritama e duas em Caruaru. Planejamos ter 30 até 2022, vamos entrar forte no varejo,

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UM POR TODOSGestão integrada é defendida por especialistas como essencial para resolver problemas das cidades da RMR

urbanismo

Rafael Dantas

Imagine um condomínio com-posto por 14 prédios, tendo um síndico para cada edifício. Ima-gine ainda que eles não têm um

planejamento conjunto da circulação das ruas internas, nem contam com um sistema único de coleta de lixo e tampouco possuem um gestor para áreas comuns (como parquinho, pis-cina, salão de festas). A ausência des-sa organização, além de aumentar as

despesas dos moradores, gera solu-ções pouco eficientes que dificultam a rotina dos condôminos. Essa situação hipotética acontece na prática, numa escala muito maior, nas as regiões metropolitanas brasileiras.

Em Pernambuco, por exemplo, junto com a capital são 14 municípios que compõem a Região Metropolita-na do Recife (RMR). Eles são conce-bidos como uma única metrópole no

dia a dia dos seus cidadãos, já que apresentam necessidades e estru-turas urbanas interligadas. Por essa razão, especialistas acreditam que os moradores dessa “grande cidade” poderiam ter suas vidas facilitadas com uma gestão pública unificada. “A metrópole é uma cidade que não cabe no território de um município. Sem alguém que pense o conjunto, o resultado é um caos”, afirma Rober-

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UM POR TODOSCONGESTIONAMENTOSOS GRANDES DESLOCAMENTOS DIÁRIOS ENTRE AS CIDADES PODERIAM SER REDUZIDOS COM A INSTALAÇÃO DE UMA ADMINISTRAÇÃO METROPOLITANA

to Montezuma, presidente do Conse-lho de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco (CAU-PE).

Trata-se de um problema que se agrava com o passar dos anos. Afinal, somos cada dia mais cidadãos metro-politanos. Rotinas como a de Alexandro Gomes, 28 anos, que tem residência em Jaboatão dos Guararapes, faz gradua-ção em Recursos Humanos no Recife e até pouco tempo trabalhava em Suape (Ipojuca) são cada vez mais comuns.

Atualmente, ele circula pelos di-versos municípios, trabalhando na área de logística. “É muito tempo perdido no trânsito e muito descon-forto no transporte público. Essa ro-tina acaba desgastando mais que o próprio trabalho”, reclama. O tem-po desperdiçado nos deslocamentos diários – em razão da inexistência de uma estrutura de mobilidade eficaz – é um dos sintomas da ausência de uma gestão metropolitana.

O arquiteto Paulo Roberto Bar-

ros e Silva afirma que se a metrópole tivesse uma gestão interfederativa, infraestruturas como o BRT, o metrô e o sistema viário estrutural seriam diferentes, com soluções mais bem articuladas. “A região abrange terri-tório urbano de quase quatro milhões de pessoas e 14 administrações. No mundo real não há porta de entrada de Recife, Cabo, Moreno... É preci-so que os prefeitos atuem articula-damente", defende o arquiteto. "Na Avenida Agamenon Magalhães, por exemplo, metade dos carros que cir-culam são oriundos de fora da capi-tal. Tivemos uma expansão desorde-nada que resultou em várias cidades dormitórios, que geram muitos des-locamentos para o Centro do Recife”.

Crítica semelhante faz o arquiteto e urbanista Jório Cruz, ex-presidente da Fidem (Fundação de Desenvolvi-mento da Região Metropolitana do Recife). Ele reprova a concentração das atividades econômicas na capital pernambucana e defende a criação de outros polos de desenvolvimento na região. “A questão da mobilidade da metrópole está diretamente afeta-da pela condição de polo exclusivo do Recife”.

O especialista defende a distri-buição de oportunidades em outros centros de geração de emprego e ren-da. A medida, entre outros benefí-cios, reduziria o tempo de transporte das pessoas diariamente, já que não precisariam se deslocar em trajetos distantes para ir ao trabalho ou a uma consulta médica.

E é na área da mobilidade, mais precisamente a construção do Arco Metropolitano, que, na opinião de Montezuma, pode ser o primeiro ponto a ser priorizado por uma ges-tão que integre prefeituras e Gover-no do Estado. “Essa é uma obra de interesse de todos os municípios. Do mesmo jeito que a União Europeia trata de temas relevantes para todos os países membros, a ação dessa go-vernança da metrópole deve atender assuntos que sejam de utilidade para todas as cidades da Região Metropo-litana do Recife”.

A rodovia vai ligar a cidade do Cabo de Santo Agostinho ao Polo Au-tomotivo de Goiana, na Mata Norte. O trajeto é realizado como uma al-

ternativa à congestionada BR-101, atravessando a zona rural de cida-des como Moreno e São Lourenço da Mata.

Entretanto existem equipamentos que servem a toda metrópole, como o Aeroporto Internacional dos Gua-rarapes (cuja abrangência vai além do limite da RMR), universidades e até centros de saúde. Exemplo disso é o Hospital da Mulher Doutora Mer-cês Pontes Cunha. Apesar de ter sido construído pela Prefeitura do Recife, o primeiro parto na unidade foi de uma moradora de Jaboatão dos Gua-rarapes. “Existem equipamentos es-tratégicos que têm um raio de ação maior que um município. Isso faz com que na gestão dessas estruturas, os prefeitos atuem com uma popula-ção que não o elegeu”, pontua Mon-tezuma.

Além de trazer melhores soluções para o funcionamento das cidades, a gestão metropolitana proprociona-ria economia para os municípios. “A gestão integrada garante a raciona-lidade do uso dos recursos públicos. Se as cidades atuarem de forma arti-culada é possível reduzir o custo para todos”, avalia Fátima Brayner, sócia do INTG (Instituto de Gestão). Em um período de crise e de corte dos orça-mentos, esse atrativo passa a ser bem significativo.

Sem alguém que pense o conjunto, o resultado é um caos"

ROBERTO MONTEZUMA

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Fátima aponta ainda que a gestão integrada pode combater o desequi-líbrio social que se acentuou com o surgimento das regiões metropolita-nas. “As metrópoles concentram a ri-queza desde a década de 70. Nelas es-tão as oportunidades que atraíram as pessoas, que passaram a viver no seu entorno. A qualidade de vida na peri-feria dessas regiões é ruim”, constata a consultora. Ela lembra que o indi-cador Gini (que mede a concentração de renda) apresentou, ao longo das décadas, um crescimento vertiginoso nessas localidades.

COMPENSAÇÃO. Um exemplo men-cionado pela especialista é Araçoiaba, que registra o menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da RMR. “Araçoiaba detém uma grande área de preservação de mananciais e isso a restringe de se desenvolver. Quem paga por isso? A governança metro-politana teria o papel de ressarcir a cidade pelos recursos naturais pre-servados no seu espaço. As reservas, que inclusive protegem a nascente de alguns riachos, são importantíssi-mas para a metrópole”, avalia Fátima Brayner.

Para reparar essa situação, a saída metropolitana seria a compensação ambiental, um instrumento típico do desenvolvimento urbano integrado, destinado a um município que presta serviços ambientais à metrópole. As cidades que possuem aterro sanitá-rio, que recebem dejetos das demais, são outro exemplo a ser resolvido via compensação.

Uma gestão interfederativa, na avaliação de Paulo Roberto, também conteria o crescimento da ocupação territorial da metrópole. “É preciso ter um planejamento capaz de es-tancar essa ampliação. Não se pode crescer indiscriminadamente”. O ar-quiteto defende, por exemplo, que se planeje a expansão no norte da me-trópole, que tende a crescer devido à operação da fábrica da Fiat Chrys-ler em Goiana. “Deveríamos ter um plano territorial para organizar a re-gião enquanto ainda não existe uma mancha urbana ligando Itapissuma a Goiana”, surege o arquiteto.

Apesar de as vantagens da gestão metropolitana serem visíveis, tanto

do ponto de vista financeiro para o poder municipal, como para o bem--estar dos cidadãos, especialistas avaliam que há pouco interesse dos prefeitos de todo o País no assunto.

Mas há sinais de que a ideia possa avançar na Região Metropolitana do Recife. Um deles é o interesse de-monstrado pelo ministro das Cida-

des, o pernambucano Bruno Araújo. O outro é o legado de planejamento urbano construído pela Fidem nos anos 70, sem falar de pensadores, como Manuel Correia de Andrade e Antônio Baltar, que se debruçaram sobre os problemas metropolitanos.

Esse legado será detalhado na próxima edição da Algomais.

MUNICÍPIOS QUE COMPÕEM A REGIÃOMETROPOLITANA DO RECIFE

ABREU E LIMAARAÇOIABACABO DE SANTO AGOSTINHOCAMARAGIBE IGARASSUILHA DE ITAMARACÁIPOJUCAITAPISSUMAJABOATÃO DOS GUARARAPESMORENOOLINDAPAULISTARECIFESÃO LOURENÇO DA MATA

MENOS POBREZAFÁTIMA: DESIGUALDADE SOCIAL CRESCE COM AUSÊNCIA DE UMA GOVERNANÇA QUE ABRANJA TODAS AS CIDADES

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PENSANDO BEM

[email protected]

O Projeto original do Arco Metropolitano elaborado no final dos anos 90 pela Fidem é de uma via ex-pressa, Classe Especial do

DNIT, com duas vias independentes se-paradas por um amplo canteiro central. Sua extensão, total incluindo dois aces-sos ao Complexo de Suape e a Ilha de Itamaracá, somam 92 Km. A sua con-cepção teve por diretriz ligar os trechos norte e sul da BR-101 contornando o Núcleo Urbano Metropolitano, visando anular os atritos redutores de velocidade e geradores de conflitos e redução dos custos operacionais das viagens.

No Governo Eduardo Campos sur-giu a PPP do Arco Metropolitano como alternativa de viabilização do projeto. Entretanto, em decorrência da pers-pectiva de lançamento da candidatura de Eduardo Campos à Presidência da República, a presidente Dilma Roussef avocou a sua execução com recursos oriundos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Dessa forma, o DNIT assumiu o pro-cesso, separou em dois trechos as obras, preparou o Edital de Licitação do 1º tre-cho – de Suape até Moreno - iniciando tratativas para resolver a passagem do Arco por Aldeia. O Governo Dilma e o Governo do Estado nada mais fizeram.

Diante desse fato, o Governo do Estado, buscando uma solução para a travessia da BR-101 na Região Metro-politana, desenvolveu a alternativa do Miniarco, uma rodovia contornando o núcleo urbano de Abreu e Lima.

A alternativa dessa Rodovia de Contorno, contida em Lei Estadual, para os municípios de Abreu e Lima e Igarassu interceptando a BR-101, se propõe a “atender à demanda de mobi-lidade urbana na região e possibilitar o escoamento da produção das indústrias que se instalaram na Zona da Mata Nor-te pernambucana” (texto contido na justificativa do projeto de lei).

Arquinho equivocado PAULO ROBERTO BARROS

Arquiteto

Guararapes.d) Hoje, a BR-101 é uma via urba-na – a quarta perimetral metropolita-na, tornando-a inviável para os fluxos pendulares regionais, em especial, a movimentação de cargas. É imperio-so afirmar que o “Arquinho” proposto é incapaz de alterar o desempenho da BR-101, quando muito, desafoga um trecho de menos de 6 Km nos seus crí-ticos 50 Km.

Por outro lado, uma ques-tão central na proposta recente-mente batizada de “Arquinho”. Trata-se de responder a seguinte pergunta: o Governo de Pernam-buco desistiu do Arco Viário Me-tropolitano? Aparentemente não. Na prática sim, já que o mesmo ficará inviabilizado com a cons-trução do “Arquinho”. Ao menos pelos próximos 70 anos, período

de concessão definido pelo Governo de Pernambuco (35 + 35 anos).

A sinalização é de que, ao formalizar a concessão com o investidor privado, o Governo do Estado deve assegurar o cumprimento do equilíbrio econômi-co-financeiro do negócio firmado.

O Arquinho é um equívoco que aniquila a alternativa de solução para a travessia da metrópole, prejudicando o setor produtivo, em especial a demanda por cargas e a vida da população metro-politana.

Considerando que o atual cenário político institucional indica a existên-cia de canais de interlocução saudáveis entre Pernambuco e Brasília, não se deve caminhar na emergência tardia, ao contrário, Pernambuco não pode abrir mão do Arco Viário Metropolitano.

Para tanto, ao invés de uma meia--solução, registre-se, de pouca serven-tia, deve-se retomar o debate, corrigir os desvios, acomodar os interesses am-bientais e a geometria do traçado viário. E seguir adiante, mobilizando a parceria privada e fazendo acontecer.

Diante dos argumentos apresenta-dos na justificativa do projeto de lei e em decorrência da análise do traçado viário divulgado, deve-se observar aspectos relevantes na alternativa proposta:a) A questão central da BR-101 no ter-ritório metropolitano se traduz pelo seu caráter suprarregional por um lado e por outro, sua natureza essencialmente urbana dentro da metrópole. Os mo-

A obra aniquila a alternativa de solução para a travessia da metrópole, prejudicando o setor produtivo e a populaçãovimentos pendulares na BR-101 para o norte e para o sul do País indicam uma escala de fluxos crescentes, inclusive pela inserção do Polo Automotivo ao norte e sua intensa conexão com o Porto de Suape ao Sul;

b) O tráfego Olinda/Igarassu, diferen-temente do destacado na justificativa do projeto de lei de criação da “Rodovia de Contorno”é na verdade de baixa ex-pressão, não sendo necessário implan-tar uma rodovia na forma proposta se esse fosse o problema da imobilidade no trecho a ser evitado – a área central da cidade de Abreu e Lima;

c) Com a criação do Polo Automotivo, se fez e se faz urgente tratar do tema. Assim, o Arco Viário se apresenta como prioridade e compromisso dos governos Federal e Estadual. Entretanto razões inexplicáveis adiaram a sua implan-tação. Adiado mas não abandonado, posto que sua emergente necessidade se faz presente todos os dias entre Abreu e Lima e a Muribeca, em Jaboatão dos

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12 Algomais • Janeiro/2017

Em busca de soluções para a Conde da Boa VistaPesquisas realizadas trazem informações importantes para nortear as mudanças na congestionada avenida

mobilidade

Durante a campanha eleito-ral pela Prefeitura do Re-cife, Geraldo Júlio prome-teu um novo projeto para

a Avenida Conde da Boa Vista. A via, que é um dos principais corredores de ônibus da cidade, há anos se ar-rasta numa condição de degradação.

Engarrafada e suja, ela desagrada motoristas, ciclistas e pedestres. A operação do BRT na região é uma das mudanças, que já está sendo estuda-da pela Secretaria Estadual das Cida-des. Outro trabalho, desenvolvido em parceria entre a Prefeitura e a Unicap, que deve influenciar essa mudança, é

o Plano Centro Cidadão, que está rea-lizando pesquisas sobre mobilidade e espaços públicos.

O prefeito do Recife falou ainda enquanto candidato que a interven-ção na avenida, para tirá-la da si-tuação de “improviso”, irá reduzir o tempo das viagens em um terço, além

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de qualificar as paradas de ônibus. Ele prometeu também melhorar as calça-das e travessias para garantir um me-lhor deslocamento e maior segurança para os pedestres. O escopo da nova Avenida Conde da Boa Vista, que está sob a responsabilidade da Emlurb, de-verá sair no primeiro semestre de 2017.

Um estudo que poderá sinalizar as alternativas que o poder público terá para reorganizar o transporte públi-co foi realizada sob a coordenação do professor Maurício Pina da UFPE, em parceria com 41 profissionais da Secretaria das Cidades, Detran-PE, Grande Recife, Urbana e da própria universidade. Trata-se de uma pes-quisa origem e destino dos passagei-ros que circulam na região. Ela servi-rá de base para planejar o sistema de BRTs – que atualmente atravessam a avenida sem paradas.

Uma das principais conclusões do estudo é que essas paradas são neces-sárias. Dos 34.215 passageiros pes-quisados das linhas que circulam pela avenida, 34,9% subiam ou desciam dos ônibus na via. Em algumas delas o índice superava os 80%. “A Conde da Boa Vista tem uma capacidade de atrair pessoas. Os grandes atrativos são o comércio de rua e o shopping, além da vasta oferta de cursinhos preparatórios, faculdades e universi-dades”, avalia Pina.

Segundo o professor, havia algu-mas sugestões de retirar os ônibus co-muns da via, para deixá-la exclusiva para o BRT. As paradas poderiam ser deslocadas para a Av. Mário Melo, por exemplo. Outra proposta era integrar as linhas com o BRT antes de entrarem na Conde da Boa Vista. Duas alterna-tivas equivocadas na opinião de Pina. “Se o interesse das pessoas é pela Conde da Boa Vista não poderíamos deslocá-las para a Av. Mário Melo, que fica a quatro quarteirões longos de distância. O transtorno seria mui-to grande. Temos que encontrar uma maneira de fazer o BRT conviver com a maioria dessas linhas tradicionais. Tenho dito que só temos uma bala na agulha. Não podemos errar de novo. A população já sofreu demais”.

Outra descoberta da pesquisa é a capacidade de integração da avenida. Ao todo são 71 linhas que circulam na Conde da Boa Vista. Dessas, 23 são

bacurau e duas são de BRT. Coletivos de toda região metropolitana circu-lam pela avenida, como Piedade e Candeias (de Jaboatão), Maranguape (de Paulista), Rio Doce (de Olinda), Igarassu, Abreu e Lima, São Louren-ço, entre outros.

“As pessoas associam muito a Conde da Boa Vista com o corredor Leste-Oeste, pois é uma continuação natural da Av. Caxangá e da rua do Benfica, mas circulam linhas de toda Região Metropolitana do Recife. Mui-tas do lado norte, sul, oeste. Nenhum outro corredor tem essa característi-ca. Em uma pesquisa anterior que fi-zemos no mesmo local, identificamos que 22% das pessoas que desembar-cam na Conde da Boa Vista têm como objetivo a baldeação (seguir para ou-tros ônibus na mesma via)”, salienta Maurício Pina.

PEDESTRES. Para a arquiteta e pro-fessora da Unicap, Clarissa Duarte, a Conde da Boa Vista é a prova "viva" de que o planejamento do espaço pú-blico da nossa cidade é desintegrado e ineficiente. “Continua-se insistin-do em se fazer investimentos para o transporte público sem se considerar as tantas melhorias necessárias para a vida e fluxo dos ‘cidadãos não moto-rizados’. É insustentável e inadmissí-vel continuar investindo milhões em pavimentação viária (para veículos motorizados) e ignorar a importância das travessias, das calçadas e ciclor-rotas seguras e confortáveis”.

Localizada a três quarteirões da avenida, a Unicap é parceira da PCR na construção do Plano Centro Cida-dão, que se propõe a ser um projeto inovador de pesquisa urbanística so-bre o Centro Expandido Continental da cidade. Na lista de melhorias que a rua precisa passar, traçada pela es-pecialista, estão o embutimento e or-denamento da iluminação pública, o incentivo à arborização adequada e a espaços de estar, a adequação do co-mércio popular, a valorização e dina-mização do patrimônio construído.

A arquiteta avalia que o recen-te redesenho da Conde da Boa Vista buscou priorizar apenas a fluidez do transporte coletivo, desconsiderando a dinâmica da vida local do bairro. “Para que o estímulo ao uso do trans-porte coletivo continue sendo uma política importante é fundamental considerar que 100% dos usuários desse tipo de transporte é pedestre e, ainda, que não se chega de paraque-das na parada de ônibus e não se pode sair de foguete. Planejar um eixo principal de transporte público sig-nifica, obrigatoriamente, considerar todas as vias que a alimentam”. Para isso, ela defende o planejamento das diversas ruas que articulam as pessoas a esses eixos estratégicos. “Pensar de forma sistêmica é pensar sustentavel-mente; é transformar as desecono-mias históricas do nosso planejamen-to em um grande investimento para o agora e o amanhã da cidade do Reci-fe”, diz Clarissa Duarte.

ALCANCE. CLARISSA: MEDIDAS VISARAM APENAS À FLUIDEZ DO TRÂNSITO, NÃO O PEDESTRE

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A desconfiança do mer-cado imobiliário sobre o desempenho das ven-das em 2017 ainda é uma realidade, mas já existe

uma tendência de retomada dos lan-çamentos por parte das empresas. A pesquisa por imóveis voltou a crescer e algumas construtoras identificam também um aumento na tomada de

decisão de compra. Após o ciclo de grandes vendas do setor e do abrupto desaquecimento que veio com a crise do País, compradores, investidores e empresários aguardam algumas si-nalizações de maior estabilidade da economia e ensaiam uma reação.

Alguns sinais da economia que contribuem para o reaquecimento do mercado já começaram a surgir como a queda da inflação (de 10,7% em 2015

para aproximadamente 7% em 2016 e com previsão de 5% em 2017, se-gundo o Banco Central) e a redução da taxa de juros (baixando de 13,75% para 13%). “Temos uma expectativa um pouco mais positiva para este ano no segmento imobiliário. Quando olhamos para o Índice de Velocidade de Vendas dos últimos meses alguns dados começaram a ser positivos e as expectativas são maiores quando olhamos a possibilidade de novas re-duções de taxas de juros”, afirma To-bias Silva, economista da Fiepe.

Ele ressalta que o Boletim Focus (informativo do BC), sinalizou que a taxa chegue a 10,5% ao final de 2017, mas o núcleo de economia da Fiepe é um pouco mais otimista. “Acredi-tamos que pode chegar em torno de 9,5%”, afirma. Para uma retoma-da de fato da dinâmica do setor, ele lembra que outros índices precisam melhorar. “Falta ainda uma melho-ria na oferta de crédito e na geração de empregos. Isso faria o mercado imobiliário se movimentar de forma

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Crescimento à vistaPerspectiva de redução da inflação e dos juros incentiva as construtoras a retomarem os seus lançamentos

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mais forte”, analisa Tobias. Outras notícias recentes que contribuem para esse cenário mais positivo foram o au-mento dos limites de financiamento de imóveis anunciados pela Caixa (a cota que pode ser financiada passou de 60% para 70% nos usados e de 70% para 80% dos novos) e o aumento dos valores para financiamento de imóveis pelo FGTS, anunciado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

Mariana Wanderley, diretora da Pernambuco Constutora, afirma que as recentes mudanças na Cai-xa Econômica e no FGTS já influen-ciam consumidores a decidirem pela compras. “Mesmo no auge da crise os clientes não deixaram de existir, mas não concretizavam a compra. Essas notícias mais recentes impulsiona-ram para que esses compradores não deixassem para depois”.

Do lado negativo está a conjun-tura política, que afeta diretamente as expectativas, na opinião do pre-sidente do Sinduscon-PE (Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Pernambuco), Gustavo Mi-randa. “O cenário está muito instável e as instituições dando mostra de fra-gilidade. A nossa percepção é de que enquanto não se resolver a questão política, a economia não voltará a ro-dar de maneira satisfatória”, analisa.

LANÇAMENTOS. Apesar das intempé-ries políticas, empresas como a Per-nambuco Construtora esperam que o sol volte a brilhar no setor, já que a procura e até o fechamento de vendas melhoraram no final de 2016. “Temos lançamentos preparados para sair em 2017, mas vai depender da postura do mercado. Temos produtos em Piedade, Casa Amarela, Caxangá. Vamos anali-

sar de perto a evolução das vendas até para ver qual produto lançar primei-ro”, informa Mariana Wanderley.

Com uma expectativa de crescer 10% em 2017, a Moura Dubeux lança três empreendimentos de alto padrão e luxo e cinco no segmento econô-mico através da bandeira Vivex. “A gente acredita que 2017 será o iní-cio da recuperação do setor. Há um conjunto de fatores para isso, como a diminuição dos estoques pela redu-ção do número de lançamentos. Há uma demanda reprimida aguardan-do oportunidades para voltar a com-prar”, estima Homero Moutinho, di-retor da Moura Dubeux Pernambuco.

Na avaliação do empresário Thiago Monteiro, da Haut e da MaxPlural, o mercado sai mais saudável após a crise. “Passou o momento do boom, quando qualquer coisa vendia e rápido. O mer-cado viveu uma microbolha em algu-mas regiões da cidade. Comprava-se muito na linha da especulação. Saire-mos mais maduros dessa crise”, diz.

Monteiro analisa que o comprador está mais criterioso antes de fechar a compra. “Há uma maior atenção ao acabamento dos imóveis e à estética. A compra tem um nível de qualifica-ção maior que há três ou cinco anos”. Ele lembra que fatores como a relação do edifício com a cidade, respeitan-do a qualidade de vida do cidadão, passaram a ser mais valorizados pe-los compradores. “É preciso oferecer um produto diferenciado, alinhado as principais práticas do mercado, muita tecnologia incorporada, além de localização estratégica. Os em-preendimentos se valorizam quando o edifício se integra ao tecido urbano, sendo bom para quem vai morar, mas também para os pedestres”. A Haut trará três lançamentos para 2017 (nos bairros Boa Viagem, Poço da Panela e em Casa Forte).

Com um imóvel a ser lançado este ano no bairro de Casa Amarela, a Trio Empreendimento é menos otimista e ressalta a necessidade de haver al-gumas ações para melhorar o ânimo dos compradores. “Até a mudança na economia chegar aos consumidores demora um pouco. Não temos cresci-mento, mas temos mantido o desem-penho. A velocidade da venda reduziu e há uma espera por redução de pre-ços e por uma política mais ousada de promoções”, afirma.

A Construtora Conic, porém, acredita que a maior procura dos consumidores em 2016 foi um pre-núncio de mais vendas neste ano. “O sentimento de confiança aumentou. A pesquisa e procura por imóveis está maior. O cliente que estava muito re-servado, deixou de estar tão cauteloso e volta a avaliar possibilidade de de-cisão de negócios”, afirma André

Elevação dos limites de financiamento pela Caixa também influiu no otimismo do setor imobiliário

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Luiz, superintendente comercial da marca. Após um 2016 sem lançamen-tos, a Conic trará de três a cinco em-preendimentos em 2017. Os anúncios devem começar ainda no primeiro semestre, se estendendo ao longo do ano. Os imóveis compactos, com oti-mização do uso dos espaços, e a apos-ta em bairros consolidados seguem como tendências na sua avaliação.

Já a MRV tem a expectativa de tra-zer cinco novos empreendimentos ao mercado em 2017, o que representa cerca de 2,5 mil unidades. “Teremos imóveis em lugares bem distintos, pulverizando os produtos em novas regiões, diferenciando um pouco do que vinhamos fazendo. Neste ano o mercado deve aumentar o volume de vendas e de produtos”, prevê Diogo Lemos, diretor comercial da cons-trutora. Voltada principalmente para o segmento Minha Casa, Minha Vida, a empresa tem expectativa de ofer-tar habitações populares em Cama-ragibe, Caxangá e Jaboatão. “Há um déficit habitacional ainda grande. A demanda não reduziu. Nosso objetivo será atingir as pessoas que hoje estão procurando apartamentos, mas ainda estão pagando aluguel”, diz Lemos.

Há demanda reprimida de consumidores aguardando oportunidades para voltar a comprar"

HOMERO MOUTINHO

LOCALIDADEEMPRESAS LANÇAM EDIFÍCIOS EM BAIRROS NOBRES, COMO BOA VIAGEM, MAS TAMBÉM EM REGIÕES COMO A AVENIDA. CAXANGÁ E A CIDADE DE CAMARAGIBE PELO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA

MUDANÇA. MONTEIRO: "PASSOU O MOMENTO DO BOOM, QUANDO QUALQUER COISA VENDIA E RÁPIDO. O MERCADO VIVEU UMA MICROBOLHA, MAS SAIRÁ MAIS MADURO DESTA CRISE"

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Joca Souza Leão*

Pano Rápido

2016. O ano em que quase virei um vira-casaca.

Como você e todo mundo, caro leitor, eu também sei pouco, muito pouco, sobre a Islândia. Mas, por algum motivo, não sei

qual, sabia-lhe a capital e, até mes-mo, como se escreve: Reykjavík.

Dessa Islândia de ouvir-dizer, fi-quei sabendo um pouco mais com a transmissão da televisão portuguesa do jogo da Eurocopa em que os is-landeses bateram os ingleses por 2 a 1 (se não me falha a memória, em julho).

“A Islândia tem pouco mais de 300 mil habitantes e cerca de 10% deles, 30 mil, estão aqui em Nice, na França, dando um verdadeiro show de alegria e civilidade, torcendo por sua boa, ótima seleção”, dizia o speaker, num jogo que narrava sem nenhuma imparcialidade, mas de-clarada torcida. E quem nas arqui-bancadas não torcia pela Islândia? No final, acho, até os ingleses.

No intervalo, a TV portuguesa exibiu um pequeno documentário sobre a Islândia. Cidades e vilarejos com casinhas seculares, sem prédios, sem congestionamentos e sem polui-ção, grandes parques e lagos. E, meu caro leitor, você não imagina como são feias as lourinhas islandesas.

“Aqui, havia uma cadeia públi-ca. Fecharam-na por falta de presos. Não há desempregados nem desabri-

gados na Islândia. Todos têm direito à educação e à saú-de pública plena e universal. É o país com o maior ín-dice de felicidade do mundo” – disse com convicção o narrador do docu-mentário.

(Enquanto isso, a gente paga caro pelo que se convencionou chamar de progresso, morando em cidades cada vez mais congestio-nadas, poluídas e violentas. Pro-gresso? É ruim, hein?)

Bem, não é novidade pra nin-guém que as coisas por aqui, no Bra-sil, aí pelo meio do ano, iam de mal a pior. Em campo, então, nem se fala. A gente já tinha até esquecido o 7 a 1 de 2014, o Mineiratzen. Mas, e a era Dunga? Dunga não dava pra esque-cer, né? Ele não deixava. Falava.

Como eu não tinha como trocar Dunga, cogitei, confesso, trocar de time. Sempre achei essa história de “pátria de chuteiras” uma das in-vencionices geniais de Nelson Ro-drigues. Patriotada. E não patrio-tismo. Patriotismo é saúde pública e educação. Na Copa, meu time era o Brasil. Agora, pensei, será a Islândia, porque ela tá dando show de bola dentro e fora dos gramados.

Sem perda de tempo, dei tratos à bola. Escrevi ao primeiro-ministro da Islândia. Expliquei a ele direiti-

nho a situação e pedi autorização para torcer oficialmente pela seleção deles, mesmo que ela não viesse a ser classificada para a Copa de 2018. “Não há de ser nada – disse-lhe – haverei de torcer na próxima Euro-copa e nos jogos amistosos.”

Vã tentativa. Sua Excelência foi diligente e gentil. Agradeceu, mas dispensou minha torcida. Nórdico, mas também político, ele se disse “fã do futebol brasileiro”, até citou Pelé e Neymar. E, em bom e claro íslens-ka, recomendou-me paciência. E vaticinou: “Dunga vai passar”.

Não é que passou? E eu quase viro um vira-casaca. Foi por uma peinha de nada.

2017. O Brasil volta a ser o país do futebol.

* Joca Souza Leão é cronista

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POR UMA PEINHA DE NADA

P.S. Crônica também publicada no li-vro Textos - Artigos e Crônicas, edita-do pela Engenho de Mídia, 2016/2017.

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Elas estão de voltaDepois de décadas taxadas como novos antiquadas, barbearias retornam com novos serviços para conquistar clientes

consumo

Um dos ofícios mais tradicio-nais do mundo, cuja origem remete à Idade Média, o tra-balho do barbeiro chegou a

ficar completamente fora de moda du-rante as últimas décadas. Há cerca de três anos, no entanto, o mercado de be-leza e estética masculinas se expandiu e a técnica milenar voltou com tudo, mais completa e cheia de novidades.

As barbearias retornaram com ideias inovadoras, unindo o cuidado com a aparência a um ambiente de con-vivência, privacidade e conforto. Muitos

estabelecimentos, hoje, aliam os servi-ços de barba, cabelo e bigode à venda de cervejas e produtos de beleza, ofe-recendo um espaço voltado ao lazer do homem moderno. No Recife, dezenas de barbearias iniciaram os trabalhos este ano, variando de grandes filiais a locais menores, de bairro.

A cadeira continua a mesma de sempre, mas a variação de serviços oferecidos, agora, é grande: além dos cortes e reparo nos fios, há trabalho de manicure e pedicure, podologia, ma-quiagem, limpeza de pele, relaxamen-

to, coloração e massagem. O homem dos dias de hoje preza pela boa apa-rência e pela liberdade de escolha, sem ter que abrir mão da barba e do bigode mais espessos.

O médico Fabrício Pereira, de 35 anos, é um exemplo de cliente que pre-za pelo cuidado constante da barba e do cabelo. “Eu tento fazer a barba toda semana, mas devido ao tempo acabo deixando muitas vezes para ir quinze-nalmente; o cabelo faço uma vez por mês e, esporadicamente, experimen-to outros serviços. É bom ter um lugar

ALÉM DA BARBA. BARBEIROS MANTÊM A TRADIÇÃO DE USAR A NAVALHA, MAS INOVAM AO OFERECER CERVEJA, JOGOS E LIMPEZA DE PELE

Maria Regina Jardim

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onde a gente pode esperar tomando um café ou se distraindo com outras coisas”, conta.

De acordo com o empresário Thulio Guerra, da Confraria da Barba, inaugu-rada há cerca de três meses no bairro das Graças, o retorno das barbearias acon-teceu em razão da maior independência das mulheres em relação aos homens e vice-versa. “Agora, cada um quer ter seu espaço para se cuidar, relaxar e conver-sar. Além disso, não existe mais o para-digma de que só a mulher deve cuidar da aparência, o homem admitiu para si mesmo que pode se preocupar com be-leza, sem vergonha ou segredo”, explica.

E na onda do retorno das barbearias, a profissão de barbeiro volta a ser cobi-çada. O gerente comercial do Instituto Embelleze, Dimas Xavier, revela que, entre os nove cursos ofertados pela rede, o de barbeiro foi o mais procurado em 2016 com crescimento 55% na taxa de inscritos em relação a 2015. "O interes-se cresceu depois da crise econômica. Muitos profissionais em diversas áreas correram para área da beleza. Hoje te-mos alunos advogados, fotógrafos, pe-dreiros, entre outros ", diz.

O que provocou o boom na procura pela especialização, segundo Dimas, é a rapidez em relação ao retorno finan-ceiro. "O barbeiro é uma pessoa que quer trabalhar para si mesmo e ter um retorno rápido", afirma. "O curso dura cinco meses. Geralmente, após os três primeiros ou até mesmo antes, eles já ganham retorno e conseguem pagar o investimento nas aulas, que varia de R$ 400 a R$ 520".

Outra causa do aumento na busca pelos cursos é a popularização da profis-são. Quanto mais pessoas se dedicando à área, mais forte fica a concorrência. "Um certificado de barbeiro, hoje em dia, é essencial. A maioria dos clientes já chega nas barbearias olhando para as paredes, procurando diplomas para, assim, se sentirem seguros em relação à qualidade do trabalho", comenta Dimas Xavier.

Para o barbeiro Gil Pripus, no ramo há 22 anos, o homem é mais exigente do que a mulher como cliente. “Tenho experiência com os dois tipos de público e, apesar de a maioria das pessoas achar que o feminino é mais difícil, o masculi-no é que é. É uma profissão desafiadora, cuja prática é bastante minuciosa e

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detalhada, exigindo bastante conheci-mento de desenho de cortes”, compara.

Segundo ele, as inovações tecno-lógicas facilitaram bastante o trabalho. “As máquinas, tesouras, navalhetes, todos esses aparelhos imprescindíveis ficaram mais modernos. Hoje, não pre-cisamos lidar com fios para manuseá--los. Ficaram mais práticos e precisos”, exemplifica. O desenvolvimento dos produtos de beleza masculina também é destacado pelo profissional. “Há muita novidade que não existia há mais de três anos. São ceras, xampus, balms, óleos”, enumera. De acordo com ele, a cera ser-ve para deixar os fios da barba mode-lados e brilhosos; já o balm, tem efeito similar a um condicionador, mas tam-bém pode ser aplicado direto na pele.

O empresário Thulio Guerra consi-dera a qualidade da prática do barbeiro essencial para a fidelização do cliente, mas diz que não é só isso. "Fazer a barba", conta, "se transformou numa prática te-rapêutica. A toalha quente utilizada para desprender os fios das raízes, por exem-plo, é algo que relaxa, fazendo alguns clientes até dormirem. Tem gente que chega querendo bater um papo, tomar uma cerveja, jogar. E tem homem que vem em busca de tranquilidade”, conta.

A Confraria da Barba conta com 300 metros quadrados, divididos em seis ambientes: salão comum, bar, sala de massagem, sala privativa, sala vip e sala de manicure e pedicure. Funciona de segunda a sábado, com oito cadeiras e 11 profissionais disponíveis para atendi-mento. O estabelecimento comercializa lanches, cervejas artesanais, clube do uísque e chope da casa. Também trans-mite campeonatos nacionais e mundiais dos mais diversos esportes e disponibili-za mesa de pôquer, sinuca e jogos de vi-deogame, como Playstation e Fliperama.

Prestes a completar um ano no mercado, a barbearia Oficina Cabrón, localizada em Casa Forte, atende mais ao estilo “de bairro”. O ambiente acon-chegante, a música divertida e o aten-dimento pelo nome dão a sensação de que o lugar é como se fosse um bar en-tre amigos. São quatro cadeiras e quatro barbeiros atendendo de segunda a sába-do. Os serviços oferecidos são os tradi-cionais corte de cabelo, barba e bigode, além da venda de rótulos de cervejas artesanais, bebidas, peças de vestuário e acessórios masculinos.

Segundo um dos sócios do local, Maurício César Lima, o número de clientes por dia varia entre 35 e 40. “A gente recebe muita gente fidelizada, que mora perto, gosta do nosso tra-balho e sempre vem. Acabamos nos tornando amigos. Mas também há muitos clientes novos que chegam por causa de indicação de conhecidos ou passam na frente e sentem curiosidade de conhecer”, conta.

PÚBLICO. “Nosso objetivo é fazer com que o cliente se sinta em casa, à vontade para conversar com o barbeiro, com os funcionários, tomar uma cerveja gelada e relaxar. Predominantemente aten-demos jovens entre 18 e 30 anos, mas é bastante diversificado. Temos clien-tes de 4 a 70 anos”, revela Maurício. Os homens costumam vir sozinhos, mas muitas vezes aparecem acompanhados da namorada, esposa, mãe ou amiga”, completa.

A internet e as redes sociais se tor-naram uma ferramenta essencial para

divulgar o trabalho das barbearias, das menores às mais complexas. Essa é a principal forma de chegar até o clien-te, informando os serviços oferecidos, preços e horários de funcionamento. Maurício César Lima acredita que as redes sociais foram a principal forma de atrair pessoas. “A gente criou um relacionamento bem saudável com os usuários pela internet. É nossa es-tratégia mais forte. Temos o Canal da Cabrón, no Youtube, em que convi-damos músicos para tocar dentro da barbearia, uma forma diferenciada de marketing”, fala.

Thiago Guerra apostou na marca-ção de horários via internet. Ele diz que a clientela pode entrar em contato com os funcionários da barbearia por meio do site, das redes sociais ou até de um aplicativo. “O aplicativo contém um campo só de marcação de clientes, além de informações sobre os serviços dispo-níveis, horários, endereço, entre outros. A intenção é dar o mínimo de preocu-pação possível à clientela”, explica.

PARA RELAXAR. BEBIDAS, SINUCA, PÔQUER E VIDEOGAMES FAZEM A DIVERSÃO DA CLIENTELA

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ECONOMIA JORGE JATOBÁ

Economista

Ocupando o Brasil

A proposta de reforma do ensino médio está sendo objeto de controvérsia e de protestos materializados por ocupações de várias

escolas em todo o Brasil. Ela foi ins-pirada em experiência bem-sucedida de Pernambuco que subiu, em poucos anos, do 21º (nota 2,7) no ranking do Ideb (MEC/INEP) para o 1º lugar (nota 3,9) dentre os Estados do País.

A proposta que objetiva reduzir o nú-mero de disciplinas obrigatórias e esten-der a jornada escolar é um avanço pois permite ao estudante fazer a escolha das matérias que melhor atendem aos seus objetivos. Alguns estudantes poderiam, assim, concluir o curso com conheci-mento profissional que lhes permitissem encarar o mercado de trabalho de imedia-to, sem prejuízo de mais adiante procurar ingressar em curso superior, ou pode prepará-lo logo para este último objetivo.

O atual curso médio não faz bem nem uma coisa, nem outra. O resul-tado se manifesta em altas taxas de abandono (6,8% em 2015) e de distor-ção idade-série (27,4% em 2015) além do elevado percentual daqueles jovens de 15 a 29 anos de idade que nem estu-dam nem trabalham (22,5% em 2015). Questionados sobre a razão do protesto e das ocupações o principal argumento das lideranças estudantis não recai no conteúdo, até mesmo porque é difícil lhes negar os benefícios, mas na for-ma, ou seja, que a matéria não deveria ter sido encaminhada pelo Executi-vo Federal como medida provisória. Concordo com o argumento não fosse o fato de que matéria semelhante está adormecida no Congresso Nacional há anos sem que tenha sido aprovada, muito menos exaustivamente debati-da. Todavia, dado esse argumento será que é mesmo urgente avançarmos nessa questão? Argumento que sim, pois reformas do ensino, em qualquer

da educação resultante forma cidadãos e pessoas qualificadas para atender às demandas de uma economia moderna e competitiva. Falta de dinheiro não é o principal problema nem nesses países, nem no nosso. Vários especialistas já afirmaram que recursos financeiros não constituem o maior obstáculo à conquis-ta de uma educação de boa qualidade.

As principais dificuldades estão: na formação dos professores que saem

mal preparados dos centros de educação das nossas faculda-des e universidades; nas deficiências cur-riculares dos cursos de formação que não os qualificam bem para a sala de aula; na consequente má remuneração que não atrai os melhores

profissionais para as escolas; na falta de uma política permanente de requali-ficação docente; na aversão de alguns professores e sindicatos a mecanismos meritocráticos de desempenho, e a uma gestão escolar quase sempre tíbia e descomprometida das metas estabe-lecidas pelas autoridades educacionais.

A resultante é que o País apresenta baixos indicadores educacionais e, por conseguinte, uma economia de baixo conhecimento e produtividade. Não se argumenta que a educação só deva qualificar jovens para o mercado de tra-balho, mas este é um dos principais ob-jetivos da educação em uma sociedade capitalista. O outro, muito importante, é formar cidadãos para a vida em uma sociedade democrática e para serem lí-deres em todos os setores de atividade.

Não estamos atingindo os dois obje-tivos. E os jovens que ocupam as esco-las talvez não tenham plena consciência disso. Em vez de ocupar escolas devemos deixar que a educação ocupe o País.

[email protected]

Reformas no ensino levam tempo para gerar resultados. A Coreia do Sul revolucionou sua educação e, por consequência sua economia, em 20 anosdos. No último exame (2016) o Brasil alcançou o 65º lugar entre 70 países no exame de matemática.

Os países bem-sucedidos no Pisa, antes europeus como Holanda e Fin-lândia e, mais recentemente, os asiá-ticos como Cingapura e Coreia do Sul, creditam seu sucesso a um pequeno, mas importante conjunto de fatores, quais sejam: professores recrutados e constantemente reciclados em bons centros superiores de formação; do-centes que são remunerados de acordo com habilidades, méritos e produtivi-dade valorizados pelo mercado; boa gestão escolar baseada em disciplina, método e resultados permanente-mente monitorados, e aplicação ri-gorosa do princípio de que nenhum estudante pode ser deixado para trás. Adicione-se a esses ingredientes a va-lorização da educação pela sociedade e a participação cuidadosa dos pais na interação com a escola e obtém--se uma receita de sucesso. A qualidade

nível, levam muitos anos para gerar os primeiros resultados. Veja-se o caso da Coreia do Sul que revolucionou sua educação e, por consequência sua eco-nomia, em cerca de 20 anos. O Brasil tem pressa. Isso está claro nos últimos resultados do Pisa, um teste interna-cional de proficiência em matemática e ciências, onde o Brasil há anos se situa sempre na cauda inferior dos resulta-

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24 Algomais • Janeiro/2017

O’ linda! O teu nome bem diz...

Arruando por Pernambuco

Livros e documentos históricos mostram versões diferentes sobre a origem da denominação da cidade

Texto e fotos Leonardo Dantas

Aos olhos de quem a con-templa pela primeira vez, Olinda se apresenta po-voada de sonhos e tomada

pela claridade a ofuscar as retinas de quem chega: De limpeza e claridade/é a paisagem defronte./Tão limpa que se dissolve/a linha do horizonte.(Carlos Pena Filho).

Aquele conjunto de colinas, que pouco interessou aos indígenas ha-bitantes de suas redondezas antes da

chegada do colonizador, fascinou o português que nele viu o local ideal para a construção de uma vila. Se-gundo a tradição recolhida pelo frei Vicente do Salvador, registrada na sua História do Brasil (1627), a deno-minação “Olinda vem de um galego, criado de Duarte Coelho, porque, an-dando com outros por entre o mato, buscando um sítio em que se edifi-casse [a vila], e achando este, que em um monte bem alto, disse com excla-

mação e alegria: O’ linda!.”A versão já fora antes relatada pelo

cristão-novo Ambrósio Fernandes Brandão, autor dos Diálogos das gran-dezas do Brasil (1618), que residiu em Olinda na segunda metade do século 16, sendo repetida pelo franciscano frei Antônio de Santa Maria Jaboatão (1695-1779) e pelo beneditino dom Domingos do Loreto Couto (c.1696--c.1762), chegando o historiador in-glês Robert Southey (1810) a atribuir

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25Algomais • Janeiro/2017

a exclamação ao próprio Duarte Coe-lho: “Oh! linda situação para se fun-dar uma vila!”

Com a versão de frei Vicente do Salvador, que também residiu no convento franciscano de Olinda e co-meçou a recolher anotações para sua História em 1587, não concorda o his-toriador Adolpho de Varnhagen que, meticuloso em suas conclusões, lem-bra que a denominação teria origem em Portugal: “Nada mais natural que aquele nome fosse de alguma quinta, ou casa, ou burgo, por qualquer título caro ao donatário na sua pátria, e que ele no Brasil quisesse perpetuar [...] Sabe-se também que Olinda era o nome de uma das belas damas na no-vela do Amadis de Gaula, cuja leitura estava então muito em voga, não fal-tando leitores que lhe davam fé, como em nossos dias se dá à história.”

Alfredo de Carvalho, em Frases e palavras (1906), ao concordar com Varnhagen, chama a atenção para a existência, nas cercanias de Lisboa, das freguesias de Linda-a-Pastora e Linda-a-Velha. A versão do frei Vi-cente do Salvador, corroborada por Ambrósio Fernandes Brandão, é a mais aceita para explicar o nasci-mento da primitiva capital de Per-nambuco, cujo núcleo urbano parece delineado na carta de doação, assina-

da por Duarte Coelho, de 12 de março de 1537.

Naquele documento, impropria-mente chamado de Foral de Olinda, a nascente vila recebe do primeiro do-natário as terras de serventia, para uso comum dos seus habitantes. Nele se faz menção à existência da Câmara, da Rua Nova (Bispo Azeredo Coutinho), das fontes de água potável, do Varadouro Galeota (onde aquela embarcação so-freu reparos) e do Arrecife dos Navios, porto da vila que veio a dar origem à ci-dade do Recife.

Nome poético, surgido de uma leitura de novela; ou denominação saudosista, a relembrar um sítio per-dido na toponímia portuguesa; ou ainda, exclamação de um criado de Duarte Coelho, oriundo da Galícia, perdido entre as matas de cajueiros que se espalhavam na planície areno-sa, hoje ocupada pelos bairros do Rio Doce e Rio Tapado, tudo serve para explicar o que há no nome: Olinda.

Os olindenses, porém, a exemplo dos seus avós, têm uma explicação própria para todo esse feitiço que toma conta de quem a conhece: “Quem não viu Olinda, não amou ainda!” Os cro-nistas que descrevem a Vila de Olinda no final da segunda metade do século 16 e nos anos que antecederam ao in-cêndio provocado pelos holandeses,

na noite de 25 de novembro de 1631, são unânimes em proclamar as suas belezas naturais e a imponência do seu casario, dominados por ricos conven-tos, belas igrejas, a grandiosidade do seu colégio e o ambiente acolhedor de suas residências.

Em sua narrativa, assinala o cape-lão holandês Johannes Baers, além das construções religiosas e do Colégio dos Jesuítas, alguns aspectos importantes da casa urbana olindense: “As casas não são baldas, mas, cômodas e bem feitas, arejadas por grandes janelas, que estão ao nível do sótão ou celeiro, mas sem vidros, com belas e cômodas subidas todas com largas escadarias de pedra, porque as pessoas de qualidade moram todas no alto. Os umbrais de todas as portas e janelas são de pedra dura e pesada.”

Na visão romântica do oficial inglês Cuthbert Pudsey, que esteve a serviço da Companhia das Índias Ocidentais de 1629 a 1640, era Olinda uma “cidade formosa, situada numa curiosa situação, de prazerosa perspectiva, com edifícios suntuosos, acompanhados por raros jardins com frutos e prazeres, fontes de uma água pura e maravilhosa.”

Confira mais informações sobre Olinda, acessando a coluna de Leonar-do Dantas no site da Algomais (www.revistaalgomais.com.br)

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26 Algomais • Janeiro/2017

baião de [email protected] Freire

ASSASSINA DE MEIA TONELADA

A notícia foi publicada no jornal The New York Daily: a americana Mayra Rosales, 34 anos, estava pesando 500 quilos e ganhou fama nacional por ter matado sufocado o so-brinho de 2 anos ao rolar o corpo sobre ele. Durante o inquérito, ela ficou conhecida como a assassina de meia tonelada. Feitas as investigações, a polícia desmentiu a versão e confirmou que a gordona mentiu para proteger a irmã, mãe da criança, que havia praticado o crime. Livre da acusação, Mayra Rosales ganhou amor pela vida e par-tiu para emagrecer. Fez uma cirurgia bariátrica, livrou-se logo de 360 kilos e foi, com muita luta, se transformando numa nova mulher. Depois de passar também por 11 procedimentos para remover o excesso de pele, Mayra ganhou corpo de modelo e hoje se apresenta na te-levisão KTRK orientando a “gordalhada” sobre processos de ema-grecimento.

BATE-REBATE

O coração humano bate aproxima-damente 2 bilhões e 500 milhões de vezes em 70 anos de vida. Nada pa-recido com a batida da nossa atual dívida interna: R$ 4 trilhões.

ROTINA DAS FESTAS DE ANO

Nas rotinas das festas, tem a da grande mídia do mundo para escolher os me-lhores de cada ano. Entre as marcantes registramos a revista Time que, há 90 anos, elege o homem do ano. E assim é feita a história: em 1930, o escolhido foi Mahatma Gandhi; em 1938, a vez foi de Adolf Hitler; em 1949, Winston Churchill. Nada demais que, em 2016, tenha sido Donald Trump. Para esse chefão americano, o show está só co-meçando.

AVIÃO

A primeira classe do avião enche de in-veja aos que não têm acesso a ela. Um estudo feito pela Universidade de Toron-to diz que o mau humor do passageiro da classe executiva é 4 vezes maior quando o avião tem primeira classe. O lascado que fica vendo o conforto do rico a dis-tância se vinga bebendo mais, recla-mando mais e tratando mal a tripulação.

SÍNDROME

A ‘Síndrome do Sim Senhor’ foi descrita pela primeira vez nos anos de 1960. As vítimas tinham entre 5 e 15 anos e não paravam de acenar com a cabeça, como se estivessem concordando. Em casos graves a pessoa tem convulsão e perde a capacidade de falar. Cientistas apenas desconfiam que a doença vem de um parasita que ataca o cérebro.

CORPOS INCORRUPTOS

Cuidado: ‘incorruptos’ pode não ser o que você está pensando. É o nome que se dá a corpos de mortos antigos e que não se decompuseram com o passar do tempo. Um exemplo é o corpo de São Vicente de Paulo (e não de ‘Paula’, como se vê por aí), que morreu em 1660 e tem o cadá-ver inteiro e com a pele em bom estado, em ex-posição na Igreja de São Crisógono, em Roma.

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27Algomais • Janeiro/2017

NINHO DE PALAVRAS

[email protected]

E se não tivesse acenado para mim, da janela do seu apartamento, quan-do passei em frente ao seu prédio, naquela manhã de

terça-feira? Eu estaria longe de qual-quer risco, mas não teria vivido, aos 16 anos, meses de intenso prazer. Ela morava no primeiro andar de um pré-dio caixão, numa rua movimentada, em Boa Viagem. Eu morava em outro prédio, uma quadra adiante. Todos os dias passava na frente da sua casa, mas nem a conhecia. Nunca tinha no-tado, sequer tinha visto aquela more-na de lábios carnudos. Mas neste dia escutei um “Ei, gatinho!”. Gatinho é foda, odeio isso. Mas me vi a procu-rar de onde vinha aquela doce voz. “É comigo mesmo?”, pensei. Olhei para cima e lá estava Débora com aquele sorrisinho escroto de canto de boca, fazendo assim com o dedinho, me chamando para subir. “Olhe que eu subo, viu!?”, respondi. “É para subir mesmo”, ela gritou. Obedeci.

Casada, logo vi pela aliança na mão esquerda. Nem me conhecia. Mas disse que me via passar todos os dias. Era o trajeto do meu colégio. Ela era muito gostosa. Estava com uma blusi-nha, dessas de ficar em casa, sem su-tiã, com os peitos agudos, como se es-tivesse com frio. Bronzeada, a marca do biquíni se confundia com o fio es-treito da peça que usava. Não era ma-gra, mas também não era gorda. Tinha carne. Muita carne. Jamais perguntei--lhe a idade. Mas certamente não ti-nha menos que 35. Corpo escultural, tipo sedutora mesmo. Já experiente e, eu, um pivete de 16, em plena ebuli-ção hormonal. Pediu que eu deixasse a mochila do colégio no sofá. “Quero te mostrar meu quarto”. Puxou-me pelas mãos. Não tinha trocado mais do que duas palavras. A casa era bagun-

çada, pequena. Sentou-se na cama, de frente para mim. Estava no comando, dando ordens, ensinando-me tudo. Só quando terminamos me dei conta do perigo.

Mesmo assim, passei seis meses da minha vida nessa rotina de, pelo menos duas vezes por semana, visi-tar minha “professora”. Até que um dia, a placa de “vende-se” na jane-la do seu quarto. Dona Sheila, uma senhora de seus 70 anos, vizinha de Débora, chegava com sua cesta de frutas. “Seu parque de diversões já se mudou, garoto”. “Bem feito, a casa caiu pra ela!”, disse a velha que ainda alfinetou, cortando meu cora-ção: “De todos os que vinham aqui, você era o mais jovem”. Calei-me e fui embora. Foram seis meses inten-sos. Mas Débora não foi leal aos meus sentimentos. Sua chama não era só minha e do seu marido. Era de mui-tos. Sequer se despediu. Aos 16 anos eu pensava que Débora e minhas espinhas eram eternas. Estava hip-notizado e viciado. Agradeço todos

Espinhas BRUNO MOURY FERNANDES

Cronista

os dias por ter sido convocado por aquele furor uterino numa manhã ensolarada de 1990.

Para minha surpresa, encontrei--a numa livraria, em Casa Forte, dias atrás. Acenei de longe, mas não me reconheceu. Ou fez de conta que não. Sei lá, já se foram 25 anos. Deve estar beirando os 60. Usava um ves-tido longo com estampa florida, rosto envelhecido, magra, cabelo curto, e certo ar de tristeza. Claro que o tempo também chegou para Débora – e para mim -, mas ainda se percebe as cur-vas generosas que a natureza lhe em-prestou. Segurava a mão de uma lindo garotinho que aparentava ter 6 anos e lhe chamava de “vó”. Tive vontade de ir lá e, respeitosamente, dizer o quão grato sou. Mas achei inapropriado. Fi-quei com medo de ouvir um “Débora não, por favor, dona Débora. De onde lhe conheço?”. As espinhas cicatriza-ram. O tempo voou. Eu era apenas um fedelho sortudo a se divertir. E Dona Débora era apenas Débora, a adúltera que me abduziu.

Mesmo assim, passei seis meses da minha vida nessa rotina de, pelo menos duas vezes por semana, visitar minha “professora”

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28 Algomais • Janeiro/2017

* Sérgio Buarque é economista.O conteúdo deste artigo é extraído da Revista Será (www.revistasera.info)

NeopopulismoPara economista, vitória de Trump mostra que eleitores não aceitam mudanças geradas pela globalização

revista será

Sérgio Buarque

O nacional-populismo envelhe-ceu e mudou de endereço. Du-rante grande parte do século passado, o nacionalismo

foi a energia que mobilizou milhões de pessoas na luta contra o colonia-lismo e a dominação imperialista na África, na Ásia e na América Lati-na. O nacionalismo transformou o mundo, acabando com o sistema de exploração das colonias e neu-tralizando os mecanismos nem sempre sutis de submissão eco-nômica e cultural das nações po-bres. E o populismo surgiu como uma alternativa política mobiliza-dora do nacionalismo conduzida por líderes carismáticos em países com frágeis instituições e limitada organização da sociedade. Assim, é possível dizer, sem exageros, que o nacional-populismo foi um dos mais importantes movimentos do século 20 pela sua amplitude e pela mudança radical das relações entre as nações e a formação de centenas de novos Estados nacionais independentes.

O nacional-populismo emerge ago-ra, em pleno século 21, em alguns dos países altamente desenvolvidos, como Estados Unidos e Europa, numa estranha e descabida reação ao processo de glo-balização que tem beneficiado, precisa-mente, as nações líderes em capacidade de inovação e tecnologia. O naciona-lismo e o populismo se deslocaram dos antigos países do terceiro mundo para as nações ricas e os antigos impérios colo-niais. Neste caso, vão ganhando formas retrógradas e violentas de xenofobia e isolacionismo. Foi esse novo populismo

com ranço nacionalista e isolacionista que levou à vitória do inominável Donald Trump à presidência dos Estados Unidos e à aprovação do Brexit no plebiscito no Reino Unido e que alimenta a direita da França e outros países da Europa.

O neopopulismo reacionário e ana-crônico explora a insegurança e o medo de segmentos da sociedade e da eco-nomia desses países que não consegui-ram acompanhar as mudanças geradas pela globalização ou ficaram presos aos velhos paradigmas. Como sempre, no discurso populista a culpa das mazelas e fragilidades internas é dos outros, fatores e atores externos, como a concorrência

dos países emergentes, especialmente a China, os imigrantes, e a entrada de mercadorias e de trabalhadores estran-

geiros. E, no entanto, esses países, es-pecialmente os Estados Unidos, lide-raram e se beneficiaram amplamente da globalização, tanto pela abertura comercial quanto pela imigração de talentos de diferentes países e cul-turas que fertilizam a inovação e o desenvolvimento.

Alimentado pela descarada e arrogante xenofobia, criando ini-migos internos e externos e agre-dindo as outras nações e povos, o neopopulismo dos países desen-volvidos é uma ameaça grave à paz mundial e à própria tranquili-dade interna. Foi um fenômeno se-melhante de paixões nacionalistas carregadas de ódio e intolerância e exploradas por líderes carismáticos que gerou o nazismo na Alemanha e o fascismo na Itália.

Como naqueles trágicos anos do século passado, os neopopulistas acen-dem o ressentimento dos segmentos mais atrasados da sociedade que viveram anos de glória no passado e não aceitam as mu-danças decorrentes da revolução tecnoló-gica e da globalização. Claro que o mundo hoje é muito diferente, nos valores, nas instituições e nas regras internacionais. Mas quando o neopopulismo se instala com toda pompa na maior potência eco-nômica e militar do planeta, tremem os alicerces da ordem mundial.

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29Algomais • Janeiro/2017

GESTÃO MAISTGI CONSULTORIA EM GESTÃO

www.tgi.com.br

Gestão de cidades em tempos de crise

O Brasil é considerado um dos países mais urbani-zados do mundo. As es-tatísticas apontam que cerca de 85% da popu-

lação brasileira vive nas cidades e isso implica em pressões diversas e intensas sobre os gestores públicos municipais.

Em meio a uma crise fiscal de grosso calibre que atinge em cheio as finanças do setor público e dos mu-nicípios brasileiros em particular, os gestores que tomaram posse agora em janeiro para o quadriênio 2017-2020 se deparam com o desafio redobrado de manter o foco simultaneamente em dois horizontes: fazendo o que precisa ser feito no curto prazo e construindo as condições para um futuro urbano melhor no médio e longo prazos, ape-sar e para além da crise.

Para que isso seja possível, um requerimento fundamental é que a cidade tenha sua estratégia própria e não fique apenas a reboque das estra-tégias individuais e particulares dos inúmeros atores que interagem dia-riamente no seu território. Ou seja, é preciso que se cuide de elaborar ao longo da gestão, sem pressa mas também sem descanso, um plano es-tratégico de longo prazo que dê con-ta das dimensões econômica, social, ambiental e espacial da cidade pelo menos com o horizonte de mais duas gestões à frente (dez anos).

Já no que diz respeito às ações imediatas de curto prazo, valem al-gumas sugestões para os gestores que vão tocar o barco municipal a partir de agora:

1. Manter uma equipe de secretários en-xuta, competente e de confiança (“tri-pulação da tormenta”).

2. Realizar com ela um planejamento para o horizonte da gestão (quatro anos)

que deve ser iluminado o mais possível por um planejamento de longo prazo (dez anos à frente pelo menos).

3. Fazer um ajuste fiscal rigoroso o sufi-ciente para salvar o presente porém es-tratégico o necessário para não matar o futuro.

4. Promover o monitoramento sistemá-tico e periódico (de preferência semanal) do que foi planejado com a equipe de se-cretários.

“Ou você tem uma estratégia própria ou, então, você é parte da estratégia de alguém"

Alvin Toffler (1928-2015), futurista norte-americano

5. Conclamar os cidadãos para, com eles, enfrentar o tempo de incertezas pela frente tendo sempre presente o indispensável com-ponente da esperança em dias melhores.

A cidade é uma das organizações mais complexas de todos os tempos e sua gestão requer uma atenção especial que deve ser pautada por um planejamento eficaz. Sem isso, as chances de sucesso ficam muito reduzidas, em especial em épocas de crise intensa como a que, in-felizmente, vivemos atualmente.

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30 Algomais • Janeiro/2017

João Alberto [email protected]

ISABELA COUTINHO

DEPUTADO CADOCA PEREIRA

BRILHO FEMININO

Isabela Coutinho é um dos grandes destaques na nossa cidade. Como empresária, comanda com o maior suces-so, junto com a irmã Carla Cavalcanti, a Itálica Casa, uma referência no mundo dos móveis finos. Lá, constante-mente, faz eventos sempre muito prestigiados. Assumiu a franquia da Casa Cor de Pernambuco e fez a edição do ano passado, que foi elogiadíssima. Com o marido, o de-putado Augusto Coutinho, forma um casal muito querido, presente nos principais eventos sociais da nossa cidade.

EFICIÊNCIA

As audiências de custódia no Recife, em que o infrator preso tem que ser apresentado a um juiz, no prazo má-ximo de 48 horas, tem feito com que 30% dos indiciados não sejam presos, podendo responder ao processo em li-berdade. O presidente do TJPE, desembargador Leopoldo Raposo pretende estender a medida para outras cidades.

REGIME

Desde que se afastou na presidência, Dilma Rousseff tem recebido poucas pessoas no apartamento onde mora, no Rio. Embora continue pedalando todos os dias, ela rela-xou a Dieta Ravena, quando perdeu 17 quilos. Já engordou, mas não revela quantos quilos.

VISTOS PERMANENTES

O deputado Cadoca Pereira continua fazendo um ex-celente trabalho na Comissão de Turismo e Esportes da Câmara dos Deputados. Entre suas metas, conseguir a liberação do visto para os turistas dos Estados Unidos, Japão, Canadá e Austrália que desejam visitar nosso País. A liberação foi concedida em caráter provisório, ele quer que seja definitiva, incluindo outros países.

DE OLHO

Além de modelos de grife, a Polícia Federal e a Receita Federal estão apreendendo charutos, cigarros, bebidas, alimentos e remédios con-trabandeados ou falsificados. Na lista, agora, há também imitações de autopeças e ca-bos e fios elétricos, que po-dem trazer problemas para a segurança do comprador.

INTERNACIONAL

Leandro Hassum, que fixou residência em Orlando, está em cartaz com o es-petáculo Lente de aumento, com tradução simultânea de suas reflexões sobre os fatos cotidianos. Ele vai lançar programa na Globo Internacional com dicas de alimentação, de moradia e de imigração

MÚSICA

A grande revelação da música pernambucana no ano passado foi a banda caruaruense Fulô de Mandacaru. Depois de con-quistar o Brasil ao ganhar o SuperStar da Globo, tem brilhado nos shows, fazendo todas as plateias vibrarem com os três ga-rotos de Caruaru.

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31Algomais • Janeiro/2017

João Alberto

LUIZ GUILHERME PONTES E MARIA DO CARMO PONTES

O que secomenta...

... por aí

QUE José Janguiê Diniz vai transfe-rir seu camarote no Galo da Madru-gada para o edifício Trianon.

QUE Felipe Carreras espera trazer mais três voos internacionais para o Recife neste primeiro semestre

QUE vem sendo muito elogiada a coletânea de artigos e crônicas Textos, que a Engenho de Mídia dis-tribuiu como brinde de final de ano.

QUE José Pinteiro tem projeto de expansão da sua Ecomariner.

QUE Dina e Mário Gil Rodrigues são recordistas em número de cruzeiros marítimos que costumam fazer.

O NOME DOS HOTÉIS

O grupo Pontes, comandado pelo empresário Luiz Guilherme Pontes, reassumiu o comando da sua rede de hotéis, a maior de um grupo nordestino. E a primeira iniciativa foi retomar o nome das unidades, que tinham sido, sem qualquer mo-tivo, mudados. Assim, o Mar Hotel, o Atlante Plaza e o Summerville voltam a aparecer, com o destaque de sempre, no panorama da hotelaria do nosso Estado.

ABERTURA

Será logo depois do Carnaval a inauguração do segundo Compaz, que ficará no Engenho do Meio e terá completo esquema esportivo, incluindo piscina. É, in-clusive, bem maior do que a unidade do Alto Santa Terezinha.

MEDICINA

Funcionam atualmente no Brasil 256 cursos de medicina, mas a carência de mé-dicos é grande especialmente em cidades do interior. O Ministério da Educação autorizou a abertura de novas faculdades de medicina em 39 cidades de 11 Esta-dos. Em Pernambuco, apenas uma, em Jaboatão dos Guararapes.

FUTURO

Barack Obama deixa a presidência dos Estados Unidos no dia 20 de janeiro. Com apenas 55 anos, ainda não definiu seu fu-turo, mas com certeza, vai receber muitos convites para dar palestras. Bem remune-radas, evidentemente.

EM ATIVIDADE

Mesmo sem mandato, Inocêncio Oliveira continua em plena atividade política, re-cebendo no seu escritório lideranças po-líticas de todo o Estado. E impressiona a todos por sua memória.

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32 Algomais • Janeiro/2017

memória pernambucana

Marcelo Alcoforado

Natal, em verdade, é uma data religiosa, embora para a maioria das pes-soas seja apenas como um feriado que se comemora

a cada 25 de dezembro. No Egito, onde se originou, celebrava o nascimento de Amon Ra, o Deus Sol, todavia no século III passou a ser utilizada pela Igreja na conversão dos povos pagãos subjugados pelos romanos. A partir daqueles dias, quase todos os povos, inclusive os não cristãos, comemoram o Natal, preservados costumes como a troca de presentes, a árvore, os cartões de boas-festas, a música e os enfeites, tudo coroado com a ceia natalina e o sorriso cativante do Papai Noel, essa figura que no imaginário das crianças lhes traz o tão desejado brinquedo.

Talvez seja por todo o seu en-canto, que o Natal também desperta poesia. Como despertou esta: Espe-lho, amigo verdadeiro, / Tu refletes as minhas rugas,/ Os meus cabelos bran-cos, /Os meus olhos míopes e cansados / Espelho, amigo verdadeiro, | Mestre do realismo exato e minucioso,/ Obriga-do, obrigado! /Mas se fosses mágico, /Penetrarias até ao fundo deste homem triste, /Descobririas o menino que sus-tenta esse homem, /O menino que não quer morrer, / Que não morrerá senão comigo. /O menino que todos os anos na véspera de Natal / Pensa ainda em pôr

Poeta modernista que cantou a vida, a morte, o amor e o erotismo, Manuel Bandeira criou poemas que são clássicos da literatura

Reflexões ainda natalinas

os seus chinelinhos atrás da porta.Essa poesia, Versos do Natal, foi

composta em 1940, pelo então já cin-quentenário Manuel Bandeira, um dos mais importantes poetas brasileiros de todos os tempos (Vou-me Embora pra Pa-sárgada, magistralmente parodiada por Jessier Quirino, é um dos seus mais fa-mosos poemas). Foi com a voz do cora-ção que Manuel Bandeira cantou a vida, a morte, o amor, o erotismo, a solidão, o cotidiano, a infância.

Nascido no Recife, em 19 de abril de 1886, cedo começou a escrever seus primeiros versos, sem cogitar ser poe-ta. Tanto que foi para São Paulo, estudar arquitetura, curso que veio a abandonar um ano depois, por haver contraído tu-berculose, a mais devastadora doença daquela época. Nascido de família abas-tada, no entanto, não teve dificuldade para buscar tratamento em estâncias climáticas de Teresópolis e Petrópolis, no Rio de Janeiro, e como não obteve êxito, partiu para a Suíça. Ali ele passou a con-viver com o poeta francês Paul Éluard, que o colocou a par das inovações artís-ticas que vinham ocorrendo na Europa.

Àquela altura, a poesia começava a adquirir dimensão maior em sua vida. E ele passou a buscar saber mais, cada vez mais. Com Charles de Guérin conheceu as rimas toantes, e sob a influência de Apollinaire, Charles Cros e Mac-Fionna Leod, escreveu, em 1912, seus primeiros

versos livres, sem sequer desconfiar que, anos depois, seria considerado o mestre do verso livre no Brasil.

Para chegar a tanto, o caminho foi atapetado por poesia de excepcional inspiração. Em 1917, lançou A Cin-za das Horas, seu primeiro livro. Dois anos depois, Carnaval, e assim trilhou a estrada da consagração. Em 1921, conheceu Mário de Andrade, o pai do modernismo, e passou a colaborar com a revista Klaxon, inicialmente com o poema Bonheur Lyrique, enquanto para a Semana de Arte Moderna de 1922, enviou o poema Os sapos.

A obra de Manuel Bandeira adquiria a vastidão que a genialidade do artista merecia. A Cinza das Horas, Carnaval, Os Sapos, O Ritmo Dissoluto, Libertinagem, Estrela da Manhã, Crônicas da Província do Brasil, Guia de Ouro Preto, Noções de Histó-ria das Literaturas, Lira dos Cinquent'Anos, Belo Belo, Mafuá do Malungo, Literatu-ra Hispano-Americana, Gonçalves Dias, Opus 10, Itinerário de Pasárgada, De Poe-tas e de Poesias, Flauta de Papel, Estrela da Tarde, Vou-me Embora pra Pasárgada, Andorinha, Estrela da Vida Inteira, Evo-cação do Recife, Colóquio Unilateralmente Sentimental, falam por si.

No livro Libertinagem ele ironizou a própria tuberculose, com este diálogo imaginário:- Diga trinta e três.- Trinta e três, trinta e três, trinta e três...

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queira Freire e Castro Alves. Para rádios e jornais de todo o Brasil,

escreveu crônicas, especialmente so-bre poesia. Foi professor de literatura do Colégio Pedro II e de literatura hispano--americana da Faculdade Nacional de Filosofia.

Teve livros publicados na Europa e Estados Unidos. Foi membro de Acade-mia Brasileira de Letras, e não ficou só nisso, o que já seria bastante. Também foi tradutor. Verteu para o português Macbeth, de Shakespeare; La Machine Infernale, de Jean Cocteau; Juno and the Paycock, de Sean O'Casey; The Match-maker, de Thorton Wilder; Mireille, de Fréderic Mistral; Don Juan Tenorio, de Zorrilla; Colóquio-Sinfonieta, de Jean Tardieu; Prometeu e Epimeteu, de Carl Spitteler; The Rainmaker, de N. Richard Nash; Der Kaukasische Kreide Kreis, de Bertold Brecht; O Advogado do Diabo, de Morris West; Pena ela ser o que é, de John Ford; Os Verdes Campos do Eden, de Antonio Gala; A Fogueira Feliz, de J. N. Descalzo; e Edith Stein na Câmara de Gás, de Frei Gabriel Cacho.

Mais do que traduzir obras literárias, no entanto, Manoel Bandeira soube tra-duzir as dores e os amores que fazem a eterna contradição de Eros e Thanatos. A propósito, fique com Estrela da Tarde, uma das suas obras imortais;

A vida/ Não vale a pena e a dor de ser vivida/ Os corpos se entendem mas as almas não. /A única coisa a fazer é to-car um tango argentino. /Vou-me em-bora pra Pasárgada! /Aqui eu não sou feliz. / Quero esquecer tudo: / A dor de ser homem... / Este anseio infinito e vão / De possuir o que me possui. / Quero descansar / Humildemente pensando na vida e nas mulheres / que amei... / Na vida inteira que podia ter sido e que não foi. / Quero descansar. / Morrer. / Mor-rer de corpo e de alma. / Completamente. (Todas as manhãs o aeroporto em frente me dá lições de partir.) / Quando a In-desejada das gentes chegar / Encontrará lavrado o campo, a casa limpa, / A mesa posta/ Cada coisa em seu lugar.

A Indesejada das gentes chegou em 13 de outubro de 1968 e nos levou Manuel Bandeira. Ou melhor, roubou-nos o me-nino que não quer morrer, aquele menino que, todos os anos, na véspera de Natal, punha seus chinelinhos atrás da porta. Aquela criança que morava no coração do poeta estava com 82 anos de idade.

- Respire- O senhor tem uma escavação no pul-mão esquerdo e o pulmão direito infil-trado.- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?- Não. A única coisa a fazer é tocar um tan-go argentino.

Já em Evocação do Recife, ele revi-ve a infância, descrevendo o Recife do fim do século 19, incorporando temas ligados à cultura popular e ao folclo-re. Você acha que parou aí? Enganou--se. Como biógrafo, ele escreveu para a livraria espanhola El Ateneo, sobre a vida de Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Jun-

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Passei recentemente uma semana tra-balhando em casa no bairro do Par-namirim e pude atentar para uma coisa que me incomodava de forma difusa e, pensava eu, episódica em

dias anteriores: o barulho ensurdecedor de es-capamento de motos e, pude constatar obser-vando mais atentamente, de carros também.

Sim, a qualquer hora do dia e da noite, mo-tos e carros passam pelas ruas próximas fazen-do um barulho insuportável e, evidentemente, proibido pela legislação pertinente (Inciso XI, Art. 230 do Código de Trânsito Brasileiro: “Con-duzir o veículo com descarga livre ou silencia-dor de motor de explosão defeituoso, deficiente ou inoperante”). Trata-se de uma infração de trânsito grave, com cinco pontos na carteira, multa de R$ 195,23 e medida administrativa de retenção do veículo.

Profundamente incomodado, passei a pres-tar mais atenção e a perguntar a pessoas diver-sas se também estavam percebendo a ampliação do fenômeno. Descobri espantado que não só a coisa vem num crescendo preocupante como está espalhada por toda a cidade e vários locais da região metropolitana. Há casos relatados até de caravanas de dezenas de motos promovendo verdadeiro ralis itinerantes da velocidade e do barulho.

Outro dia, já mais atento ao problema, pre-senciei estupefato, na minha rua outrora pa-cata, um motorista de um veículo importado Posche branco reduzindo a marcha e entrando

Abaixo o escapamento aberto!

Consultore arquiteto

dente da potência dos seus carros e motos, abrem os escapes e impõem sua ditadura azucrinante a quem precisa de concentração, de descanso ou simplesmente de paz nos recessos dos seus lares, um direito essencialmente democrático.

Nesses tempos de ajustes fiscais severos, pode-se até prescindir de grandes aparatos fis-calizatórios: basta colocar alguns fiscais bem posicionados em determinados corredores de trânsito para multar os infratores na passagem. Tenho certeza que o valor das multas e os pon-tos na carteira os fará bem mais silenciosos...

[email protected]

Trata-se de uma infração de trânsito grave, com cinco pontos na carteira, multa de R$ 195,23 e medida administrativa de retenção do veículo

numa curva com o escapamento aberto como se estivesse numa pista de Fórmula 1...

E aqui não posso deixar de fazer um apelo vee-mente às autoridades de trânsito: ajam! Não per-mitam que esse abuso incivilizado continue em progressão vigorosa. Sim, vigorosa porque a per-missividade aumenta o estímulo e cada vez mais e mais incentivados pela impunidade, indepen-

FRANCISCO CUNHAúltima página

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