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ALGUMAS CARACTERíSTICAS DOS ESTABELECIMENTOS ESCOLARES BRASILEIROS EM 2000. Cezar Augusto Cerqueira Diana Sawyer Introdução A evolução recente de alguns indica- dores relativos ao sistema educacional cio Brasil revela um cenário de importantes mu- danças em diversos aspectos. Dentre estes, podem ser destacados, por um lado, a am- pliação do acesso à escola, no ensino fundamental, além de uma melhoria nos níveis médios de escolarização atingidos. Entretanto, a escolaridade média, mensu- rada em termos de anos médios de estudo, ainda encontra-se abaixo da alcançada por diversos países em desenvolvimento, tais como a Colômbia, Bolívia e Equador, entre outros (NAÇÕES UNIDAS, 2002). Acen- tuadas desigualdades por cor, raça, con- dição social e, principalmente regionais, são questões que preocupam os estudiosos, pesquisadores e elaboradores de políticas públicas em educação, sem falar nas ques- tões relacionadas à melhoria da qualidade do ensino e outros temas, tais como a repe- tência e o abandono escolar. Os novos cenários delineados pela transição demográfica brasileira, principal- mente a partir da década de 1970, com a acentuada queda nos níveis de fecundidade e os novos padrões migratórios observados no pais, têm proporcionado uma diminuição no ritmo de crescimento populacional e uma redução na proporção de população em Algumas Características dos Estabeledmentos Escolares Brasileiros em 2000 Casar Augusto Diana Sawyer Professor da UNICAP e UPE e Doutor em De- mografia (CEDEPLAR-UFMG). Professora do Departamento de Demografia da IJFMG e D. Sc. in Population Sciences (Harvard School of Public Health). 181

ALGUMAS CARACTERíSTICAS DOS ESTABELECIMENTOS …

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ALGUMASCARACTERíSTICAS DOS

ESTABELECIMENTOSESCOLARES

BRASILEIROS EM 2000.

Cezar Augusto CerqueiraDiana Sawyer

Introdução

A evolução recente de alguns indica-dores relativos ao sistema educacional cioBrasil revela um cenário de importantes mu-danças em diversos aspectos. Dentre estes,podem ser destacados, por um lado, a am-pliação do acesso à escola, no ensinofundamental, além de uma melhoria nosníveis médios de escolarização atingidos.Entretanto, a escolaridade média, mensu-rada em termos de anos médios de estudo,ainda encontra-se abaixo da alcançada pordiversos países em desenvolvimento, taiscomo a Colômbia, Bolívia e Equador, entreoutros (NAÇÕES UNIDAS, 2002). Acen-tuadas desigualdades por cor, raça, con-

dição social e, principalmente regionais, sãoquestões que preocupam os estudiosos,pesquisadores e elaboradores de políticaspúblicas em educação, sem falar nas ques-tões relacionadas à melhoria da qualidadedo ensino e outros temas, tais como a repe-tência e o abandono escolar.

Os novos cenários delineados pelatransição demográfica brasileira, principal-mente a partir da década de 1970, com aacentuada queda nos níveis de fecundidadee os novos padrões migratórios observadosno pais, têm proporcionado uma diminuiçãono ritmo de crescimento populacional e umaredução na proporção de população em

AlgumasCaracterísticas dos

EstabeledmentosEscolares Brasileiros

em 2000

Casar AugustoDiana Sawyer

Professor da UNICAP e UPE e Doutor em De-mografia (CEDEPLAR-UFMG).

Professora do Departamento de Demografia daIJFMG e D. Sc. in Population Sciences (HarvardSchool of Public Health).

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idade de cursar o ensino fundamental. Afaltade escolas parece não ser, atualmente, oprincipal problema do sistema educacionalbrasileiro, maior atenção devendo ser dadaa questões como a qualidade da educaçãooferecida (KLEIN E RIBEIRO, 1991).

A discussão sobre a importância dosrecursos escolares, em termos de equi-pamentos e instalações disponíveis, nosresultados obtidos pelos alunos e nosganhos futuros alcançados, é longa e estálonge de ser esgotada, devendo ser con-textualizada em termos sociais, econômicose, principalmente, regionais. Tendo por basea importância atribuída aos recursos es-colares que emerge da literatura sobre odesempenho escolar nos países em desen-volvimento, considera-se como de funda-mental importância que se aprofunde oconhecimento sobre a realidade dos es-tabelecimentos escolares brasileiros, enfa-tizando questões relativas à distribuiçãoregional desses recursos no país, dada apremissa de que os resultados escolares sãosensíveis aos níveis de recursos escolares,principalmente em países em desenvol-vimento (BUCHMAN & HANNUM I 2001).

Deste modo, o objetivo central destetrabalho é proceder a uma descrição dealgumas características dos estabeleci-mentos escolares brasileiros, no ano de2000, em termos de sua infra-estrutura dis-ponível, condições de oferta, além de umconjunto de indicadores de eficácia escolar.

Os dados utilizados nesse estudo foramobtidos do Censo Escolar do ano de 2000,realizado pelo Instituto Nacional de Estudose Pesquisas Educacionais - INEP.

Algumas características geraise regionais

O Censo Escolar de 2000 traz infor-mações relativas a um total de 217.412estabelecimentos escolares de ensinoregular em atividade no Brasil. Desse total,181.504 ofereciam o ensino fundamental e19.456 o ensino médio, cabendo ressaltar

que um estabelecimento pode oferecer maisde um nível de ensino.

Em termos de sua distribuição regional,verifica-se inicialmente que a maior parte dosestabelecimentos escolares do pais (44%)localizava-se na região Nordeste, vindo emseguida a região Sudeste (25%), Sul e Norte(13%), sendo a menor participação encon-trada na região Centro-Oeste, com apenas5% dos estabelecimentos escolares do pais(Gráfico 1). Entretanto, se for considerada acobertura, observa-se que a Região Sudestedetinha o maior percentual de matriculas,tanto no ensino fundamental (36,2%), comono ensino médio (47,8%). Em seguida, vema região Nordeste com 35% das matriculasdo ensino fundamental e 23,5% do ensinomédio; região Sul com 12,4% das matriculasno ensino fundamental e 14,7% no médio;região Norte com 9,2% no fundamental e7,0% no médio e, com a menor participação,a região Centro-Oeste, cujos valores foramde 7,2% e 7,0% para os ensinos fundamentale médio, respectivamente.

Examinando a dependência adminis-trativa dessas escolas, verifica-se que agrande maioria (69%) pertencia à redemunicipal de ensino, sendo 17% perten-centes à rede estadual, 14% ã rede particulare menos de 1% à rede federal. Considerandoa cobertura por dependência administrativano ensino fundamental, predomina a redemunicipal com 46,7% das matrículas,seguida da rede estadual com 44,2%. A re-de particular detinha algo em torno de 8,9%das matriculas neste nível de ensino. Noensino médio, inclusive por atribuiçõeslegais, cerca de 81% das matriculas foramna rede estadual, seguida da rede particularcom 14,1%.

Observa-se uma ligeira predominânciade escolas rurais no pais (53,9%), emboracerca de 82% das matrículas do ensinofundamental e 98,8% do ensino médiotenham sido observadas em escolas situ-adas em áreas urbanas.

O exame da distribuição regional dosestabelecimentos escolares por localização

Algumascaracterislicas dosEstabelecimentosEscolares Brasileirosem 2000

cesar AugustoDiana Sawyer

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da escola e dependência administrativarevela alguns diferenciais que merecemdestaque. A participação de escolas loca-lizadas em áreas rurais é mais elevada nasregiões Norte, onde atingiu quase 77% eNordeste (68%) enquanto, que na região Su-deste, esses percentuais atingem valores daordem de 27,2% (Tabela 1 e Gráfico 1).

Infra-estrutura disponível:aspectos regionais

O exame da distribuição dos recursosescolares no pais por região geográfica(Tabela 3) evidencia uma maior concen-tração dos mesmos nas regiões Sul e Su-deste, em detrimento das regiões Norte e

Tabela 1Estabelecimentos escolares do Brasil, por situação, segundo regiões -2000

Norte 27541 100.0

6415 23.3

21126 76.7Nordeste 96608 100.0

31091 32.2

65517 67.8Sudeste 54521 100.0

39682 72.8

14839 27.2Sul 27800 100.0 15942 57.3 11858 42.7Centro-Oeste 10942 100.0 7118 65.1 3824 34.9Fonte: MEC/INEPF

Tabela 2Estabelecimentos escolares do Brasil por dependência administrativa,

segundo regiões -2000

Brasil 217412 100.0 198 0.1 37148 17.1 149704 68.9 30362 14.0Norte 27541 100.0 15 0.i 4698 17.1 21597 78.4 1231 4.5Nordeste 96605 100.0 77 0.1 9308 9.6 77185 79.9 10038 10.4Sudeste 54521 100.0 61 0.1 13753 25.2 27482 50.4 13225 24.3Sul 27800 100.0 32 0.1 6510 23.4 17421 62.7 3837 13.8Centro-0este 10942 100.0 13 0.1 2879 26.3 6019 55.0 2031 18.6

Fonte: MEC/INEP

Embora a rede municipal tenha apre-sentado uma maior participação em todasas regiões, a distribuição regional dasescolas por dependência administrativarevela que os percentuais de escolas dessarede variaram de quase 80% nas regiõesNorte e Nordeste a pouco mais de 50% naregião Sudeste (Tabela 2). A rede municipalapresenta, ainda, a característica de serpredominantemente rural, uma vez que cer-ca de 72% de suas escolas localizavam-seem áreas rurais, enquanto esses percentuaisatingiam cerca de 313%, na rede Federal,23,7% na rede Estadual e apenas 2,4% dasescolas da rede particular.

Nordeste, resultados que reforçam as hi-póteses de que as desigualdades obser-vadas em termos econômicos e sociaistambém se refletem nos aspectos educa-cionais no país. Aproximadamente 43% dasescolas, nas regiões Sul e Sudeste, dispu-nham de uma biblioteca, recurso presenteem apenas aproximadamente 11% dasescolas nas regiões Norte e Nordeste. Apresença de um laboratório de ciências, umoutro recurso de extrema importância noprocesso de ensino/aprendizagem e bas-tante escasso no pais como um todo,também apresentou uma distribuição re-gional desigual, uma vez que estava dis-

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EstabelecimentosEscolares Brasileiros

em 2000

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2:E

ponivel em aproximadamente 15% nas re-giões Sul e Sudeste, enquanto que nasregiões Norte e Nordeste os valores sequeratingiram a cifra de 2%.

valores foram de 19,7% para equipamentode vídeo, 21,5% para televisão e apenas17,4% para antena parabólica.

Gráfico 1Estabelecimentos escolares do Brasil, no ensino regular,

por região e dependência administrativa - 2000

Região

SUL 5

Dependência Administrativa

FEDER ESTÃOPART

MUNIO

Fonte: MEC/INEP

No tocante às instalações sanitárias dasescolas, verificou-se que quase a metadedos estabelecimentos escolares da regiãoNorte dispunham de esgoto, enquanto quena região Sudeste esse percentual foi deapenas 1,8%. Esse contraste também seobserva em termos de equipamentos decomunicação, ao se verificar que das es-colas da região Sudeste, 68% indicaram aexistência de vídeo, enquanto cerca de 72%indicaram a existência de televisão e 40% apresença de antena parabólica; na regiãoNorte, a mais carente nesses recursos, os

A investigação do acesso a recursos deinformática também revelou uma situação deextrema carência no país, associado a umadistribuição desigual entre as regiões.

Enquanto cerca de 46% das escolas doSudeste tinham computador, esse percen-tual cai para patamares próximos de 8% noNordeste e 7% na região Norte. O acesso àrede Internet, ainda incipiente no país comoum todo, foi um recurso mais difundido naregião Sudeste, onde foram observados em19,4% das escolas, valores bastante su-periores, inclusive em relação à região Sul,

Algumascaract&sflcas dosEstabelecimentosEscolares Brasileirosem 2000

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que vem em seguida, com um percentual de63%. Nas regiões Nordeste e Norte essesvalores foram de 16% e 1%, respectivamente.

Enquanto quase metade das escolasurbanas (47,7%) dispunham de uma bi-blioteca; na área rural esse recurso estava

Tabela 3Recursos disponíveis nos estabelecimentos escolares do Brasil, por regiões - 2000

Biblioteca 3111 11147 23195 11816 3514 52783Sala de professores 4932 16460 29163 12056 5806 68417

- Videoteca 845 1895 5025 2070 858 10693

- Lab. de Informática 608 3258 10527 3539 1235 19167

- Lab. de ciências 278 1490 8059 4306 702 14835

- Sala Tv/video 2394 8428 18465 6794 2584 38665Cozinha 18443 70715 50402 26301 9501 175362

- Quadra 2032 6652 18540 8886 3123 39233Refeitorio 1973 3816 24074 8716 1595 40174

- Esgoto inexsit. 13578 18118 976 675 997 34344- Video 5445 23664 37302 17471 6644 90726

TV 5909 26.203 39256 18508 7060 96936Parabolica 4785 18721 21835 10906 4725 60972Redelocal 465 2427 8652 2403 1028 14975Internet 313 1574 10595 1752 844 15078Impressora 1772 6883 23590 10832 3521 46598Computador 1917 7650 25386 11345 3821 50119Total 27541 96608 54521 27800 10942 217412

PercentualBiblioteca 11.30 11.54 42.54 42.50 32.11 24.28Sala de professores 17.91 17.04 53.49 43.37 53.06 31.47Videoteca 3.07 126 9.22 7.45 7.84 4.92Lab. de Informática 2.21 3.37 19.31 12.73 11.29 8.82Lab. de ciências 1.01 1.54 14.78 15.49 6.42 6.82Sala Tv/vjdeo 8.69 8.72 33.87 24.44 23.62 17.78Cozinha 66.97 73.20 92.45 94.61 86.83 80.66Quadra 7.38 6.69 34.01 31.96 28.54 18.05Refeitorio 7.16 3.95 44.16 31.35 14.58 18.48Esgoto inexsit. 49.30 18.75 1.79 2.43 9.11 15.80Video 19.77 24.70 68.42 62.85 60.72 41.73TV 21.46 27.12 72.00 66.58 64.52 44.59Parabolica 17.37 19.38 40.05 39.23 43.18 28.04

Aigumas Redelocal 1.69 2.51 15.87 8.64 9.39 6.89

Caracteristicasdos Internet 1.14 1.63 19.43 6.30 7.71 6.94

Estabelecimentos Impressora 6.43 7.12 43.27 38.96 32.18 21.43

Escolares Brasileiros Computador 6.96 7-92 46.56 40.81 34.92 23.05

em 2000 Fonte: MEC/INEPcesar AugustoDiana Sawyer Infra-estrutura disponível,

segundo a localização da escola

É de fundamental importância investigara distribuição dos recursos escolares se-gundo a localização da escola em área urbanaou rural, o que deixa emergir um quadro degrandes desigualdades, favorável às escolaslocalizadas nas áreas urbanas (Tabela 4).

presente em apenas 4,2% das escolas. Poroutro lado, verificou-se que quase 60% dasescolas urbanas tinham sala de professores,enquanto que na área rural, esse percentualfoi de apenas 7,7%.

Nas áreas rurais, recursos como video-teca, laboratório de informática e laboratóriode ciências, praticamente não foram obser-vados, com percentuais que sequer atin-

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giram 1% das escolas. Por outro lado, ospercentuais de escolas que dispunham desala de tv-video e quadra não chegam aatingir 4% das escolas rurais. Em termos deinstalações sanitárias, enquanto pratica-mente todas as escolas urbanas dispunhamdesse recurso, enquanto cerca de 29% dasescolas rurais ainda não possuíam esse tipode instalação.

A presença de equipamentos de TV evídeo também foi acentuadamente mais fortenas áreas urbanas, onde cerca de 76% dasescolas dispunham de equipamento devídeo, 81% de televisão e 48,8% de antenaparabólica. Nas áreas rurais esses per-centuais foram de 12,2%, 13,3% e 10,3%,respectivamente.

Tabela 4Recursos disponíveis nos estabelecimentos escolares do Brasil, por localização - 2000

Recursos lUrbana IRural ITotalAbsoluto

Biblioteca 47862 4921 52783Sala de professores 59357 9060 68417Videoteca 10217 476 10693Lab. de Informática 18768 399 19167Lab. de ciências 14246 589 14835Sala Tv/video 36251 2414 38665Cozinha 89192 86170 175362Quadra 35669 3564 39233Refeitório 34835 5339 40174Esgoto inexistente 688 33656 34344Vídeo 76450 14276 90726TV 81345 15591 96936Parabólica 48931 12041 60972Rede-local 14704 271 14975Internet 14893 185 15078Impressora 44340 2258 46598Computador 47657 2462 50119Total 100248 117164 217412

PercentualBiblioteca 47.74 4.20 24.28Sala de professores 59.21 7.73 31.47Videoteca 10.19 0.41 4.92Lab. de Informática 18.72 0.34 8.82Lab. de ciências 14.21 0.50 6.82Sala Tv/video 36.16 2.06 17.78Cozinha 88.97 73.55 80.66Quadra 35.58 3.04 18.05Refeitório 34.75 4.56 18.48Esgoto inexistente 0.69 28.73 15.80Vídeo 76.26 12.18 41.73TV 81.14 13.31 44.59Parabólica 48.81 10.28 28.04Rede-local 14.67 0.23 6.89Internet 14.86 0.16 6.94Impressora 44.23 1.93 21.43Computador 47.54 2.10 23.05Fonte: MEC/INEP

AJgu masCaractedscas dosEstabelecimentosEscolares Brasileiroem 2000

Cesar AugustoDiana Sawyer

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JgumasCaracteriscas dos

EstabelecimentosEscolares Brasileiros

em 2000

As escolas rurais mostraram uma si-tuação de extrema fragilidade em termos dapresença de recursos de informática, poisapenas 2,1% delas possuíam computador eapenas 0,16% estavam ligadas à redeInternet. Já entre as escolas urbanas 47,5%dispunham de computador e 149% estavamligadas á Internet.

Condições de Oferta

Nesta seção são analisados algunsindicadores relativos às condições de ofertados estabelecimentos escolares, consice-rando sua distribuição segundo o número desalas de aula existentes e matriculas(fundamental e médio).

Segundo critérios estabelecidos pêloMinistério da Educação, cerca de 68,3% dDsestabelecimentos escolares do ensinofundamental, no ano 2000, foram consi-derados de pequeno porte, ou seja, tinham,naquele ano, menos de 150 alunos. Noensino médio praticamente a metade dosestabelecimentos foram considerados depequeno porte, no caso com menos de 250alunos. Essas características dos estabe-lecimentos escolares refletem-se em outrasvariáveis, relacionadas às condições deoferta, como no caso da sua distribuiçãosegundo o número de salas de aula exis-tentes. Verificou-se que, aproximadamente70% das escolas tinham, no máximo, 5 salasde aula e que cerca de 32% funcionavamcom apenas uma sala de aula.

O exame desses dados por região revelaimportantes diferenciais. Na região Norte,aproximadamente 56,1% das escolas tinhamapenas uma sala de aula, enquanto que naregião Nordeste esse percentual foi da ordemde 40,2%. Menores percentuais foram encon-trados na região Sudeste (12,4 %) (Gráfico2). Tais fatos possivelmente estão associadosao elevado percentual de escolas rurais, sa-bidamente de pequeno porte, encontrado nasregiões Norte e Nordeste.

Considerando os critérios definidos emtermos do número de alunos, mais de 80%dos estabelecimentos escolares de ensinofundamental, na região Norte, e cerca de77,6% na região Nordeste que foram consi-derados de pequeno porte, enquanto naregião Sudeste, esse percentual atingiu acifra de 47,4%. No ensino médio, os maiorespercentuais de estabelecimentos de pe-queno porte foram observados na regiãoCentro-Oeste (60,7%), vindo em seguida aregião Nordeste com 54,7%. Pode-sedestacar, ainda, que as desigualdades nadistribuição regional desse indicador de portedas escolas são mais acentuadas no ensinofundamental,

O exame desses dados, segundo a loca-lização da escola, indica que a grande con-centração de estabelecimentos de pequenoporte se encontra nas áreas rurais. Quase atotalidade das escolas localizadas na zonarural (95,5%) eram escolas de, no máximo,5 salas de aula, enquanto mais da metade(56,4%) tinham apenas uma sala de aula.

Gráfico 2Distribuição dos estabelecimentos escolares brasileiros,segundo número de salas de aula, por região - 2000

Cesar AugustoDiana Sawyer

1Fonte: MEC/INEP

-IÍL Í

SUL

1

co

Wla-

187

Por outro lado, na área urbana, esse últimopercentual atingiu apenas 3,4% das escolas.

De acordo com o critério do número dealunos, quase a totalidade das escolas ruraisde nível fundamental (93%) foram consi-deradas de pequeno porte, contra 28,6%encontrados na zona urbana. No ensinomédio esses percentuais foram de 85% e48,6%, respectivamente.

Qualificação docente

A qualificação docente é um outro im-portante aspecto do setor educacional a serinvestigado, sendo aqui mensurado pelo per-centual de docentes com curso superior.

No ensino fundamental foram detecta-das as maiores desigualdades regionais,com níveis de qualificação mais elevadosnas regiões Sudeste e Sul (63%) contraapenas 21% na região Norte. No ensinomédio, as disparidades regionais sãomenores, bem como a desigualdade inter-na. Patamares inferiores de qualificaçãoforam observados nas regiões Nordeste eCentro-Oeste (Gráfico 3).

O exame da distribuição do indicador dequalificação docente, por localização daescola evidencia acentuadas desigualdadesno ensino fundamental, cujos níveis de qua-lificação foram bem mais elevados paraescolas localiza-das na zona urbana. Noensino médio esses diferenciais são bemmenores, embora a zona urbana aindaapresente melhores níveis de qualificação euma distribuição com menores desigual-dades internas.

Eficácia e Rendimento Escolar

A reprovação e o abandono fazem partedo conjunto de taxas do rendimento escolarque, segundo dados do INEP (INEP, 2002),vem apresentando uma evolução satisfatórianos últimos cinco anos no país, tanto para oensino fundamental como para o ensinomédio. No ano de 2000, cerca de 12% dosalunos do ensino fundamental abandonarama escola, enquanto a taxa de reprovação sesituou em tomo de 10,7%. No ensino médio,cerca de 16,6% dos alunos abandonaram aescola em 2000, enquanto a taxa de repro-vação ficou em torno de 7,5%.

Gráfico 3Percentual de docentes com curso superior nos estabelecimentos escolares brasileiros,

por tipo de ensino e região - 2000

Fundamental Médio

12C 120

Iw

TTT '

LEE ' 1

C SE SE EU CC EO NE SE EL CO

FIEGIAO REGIAO

Fonte: MEC/INEP

AlgumasCaracterísticas dosEstabeledmentosEscolares Brasileiroem 2000

Cesar AugustoDiana Sawyer

188

Gráfico 5Taxas de abandono escolar nos estabelecimentos escolares brasileiros,

por tipo de ensino e região - 2000

Fundamental Médio00 _________— 1

T T TT

NO SE Sr C CO NO SE SE SU CO

REGIAO REGIAO

Fonte: MECIINEP

Gráfico 6Taxas de distorção idade-série nos estabelecimentos escolares brasileiros,

nos ensinos fundamental e médio, por região - 2000

Fundamental Médio120 120 f

NO NE SE NO NE CO

ETTI2ZT±JI

!.*+

JREGIAO REGIAO

Fonte: MEC/INEP

Concluíndo

Entender a complexidade da realidade dosestabelecimentos escolares brasileiros cer-tamente exigiria um esforço bem maior do queaqui foi desenvolvido, sendo aqui traçadas ape-nas algumas de suas características gerais,com destaque para questões regionais.

Um dado a princípio surpreendente foique a maior parte das escolas do paíslocalizava-se, em 2000, na região Nordeste(44%), vindo em seguida a região Sudestecom 25%. Tais resultados não acompanham

a distribuição populacional, que apresentouem 2000 cerca de 43% de habitantes noSudeste e 28% no Nordeste. Em termos decobertura do sistema educacional, asposições invertem-se, com a região Sudestesendo detentora 36,2% das matriculas doensino fundamental e 478% do ensinomédio contra percentuais de 35% e 23,5%no Nordeste, respectivamente.

Os dados relativos ao porte das escotasno pais como um todo, revelam uma pre-dominância de pequenas escolas, pois cercade 70% tinham no máximo 5 salas de aula

AlgumasCaracterísticas dosEstabelecimentosEscolares Brasileiroem 2000

Cesar AugustoDiana Sawyer

190

Os indicadores de reprovação escolar noensino fundamental também revelam de-sigualdades regionais, com maiores níveise maior variabilidade observados nas regiõesNorte e Nordeste, ao contrário do observadono Sudeste. No ensino médio, entretanto, osmaiores níveis de reprovação foram en-contrados na região Sul, juntamente comuma maior variabilidade, embora commenores diferenciais em relação às demaisregiões do que os observados no ensinofundamental.

nicipais, no ensino fundamental e nas escolasestaduais, no ensino médio.

A taxa de distorção idade-série é influ-enciada por dois elementos, de importânciacrucial para o sistema educacional, que sãoa repetência e o ingresso tardio na escola.No Brasil, no ensino fundamental, em 2000,constatou-se que 417% dos alunos doensino fundamental não tinham idadeadequada à série que cursavam. No ensinomédio, esse índice foi ainda mais elevado,atingindo cerca de 54,9% dos alunos.

Gráfico 4Taxa de reprovação nos estabelecimentos escolares brasileiros,

por tipo de ensino e região - 2000

Fundamental Médio

:TT2EI

.20 NU CO NO NE SE 5, 'CREG.0 REGIAO

Fonte: MEC/INEP

O abandono escolar é caracterizado pormaiores índices no ensino médio, possivel-mente devido ao fato de que parte de suaclientela também participa do mercado detrabalho. De modo geral, maiores índicesforam observados nas regiões Norte,Nordeste e Centro-Oeste e menores nasregiões Sudeste e Sul, tanto no ensinofundamental como no ensino médio.

O exame dos dados por localização daescola revelou diferenciais mais acentuados noensino fundamental cujos níveis de abandonoforam mais elevados nas escolas rurais, commaior variabilidade. A investigação desseindicador por rede de ensino indicou níveis deabandono mais elevados nas escolas mu-

Os diferenciais regionais são marcantesna distribuição dessa taxa (Gráfico 6), maisuma vez penalizando as regiões Norte eNordeste, com níveis bem mais elevados queas regiões Sul e Sudeste, em ambos os tiposde ensino. E importante destacar a elevadavariabilidade interna desse indicador, tantono ensino fundamental como no ensinomédio.

As desigualdades mostram-se tambémelevadas ao se examinar os dados porlocalização da escola, sendo a falta deadequação da idade à serie cursada, bemelevada nas áreas rurais, em ambos os tiposde ensino.

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das quais mais de um terço (32%) eramescolas de apenas uma sala de aula. Oquadro regional, por outro lado, revela quecerca de 40% das escolas do Nordeste têmapenas uma sala de aula, enquanto tal valor,no Sudeste 1 foi da ordem de 12,4%. Assimsendo, embora o Nordeste tenha maisescolas, estas são em sua maioria rurais ede pequeno porte, o que representa muitomais um ônus do que alguma vantagem,pois, segundo o INEP (2002), há um pro-cesso de expansão do número de escolasde grande porte - conhecido como "nucle-ação", "que surge para melhor canalizarinvestimentos em escolas estrategicamentelocalizadas. Essa mudança facilita e agilizaa implementação de infra-estrutura ade-quada às necessidades dos alunos ecapacitação dos professores".

A grande maioria das escolas do pais eraconstituída, em 2000, de escolas públicas(86%) e municipais (69%). Há uma ligeirapredominância de escolas rurais (54%),embora as matrículas, em grande parte,tenham ocorrido na rede urbana (82% nofundamental e 99% no ensino médio), o quesugere que as escolas rurais são, em suagrande maioria, de pequeno porte. Essadistribuição apresenta, entretanto, dife-renciais regionais e por tipo de ensinooferecido, onde destaca-se o ensino médiocomo predominante urbano.

Um olhar sobre os resultados da infra-estrutura existente nessas escolas revelaimportantes lacunas a serem preenchidas,em praticamente todos os itens observados.Tais lacunas são ainda mais profundasquando examinadas sob a ótica regional,cujo quadro é mais grave para as regiõesNorte e Nordeste.

Há, por outro lado, um enorme abismoentre as escolas rurais e as escolas urbanas.Cabe destacar ainda a importante discussão

em torno da qualificação docente, apontadacomo um elemento fundamental no processode ensino-aprendizagem, e aqui repre-sentada pelo indicador de percentual dedocentes com curso superior, cuja exigêncialegal é observada preponderantemente parao ensino médio, que tradicionalmenteapresenta níveis de qualificação maiselevados do que o ensino fundamental.Neste último, foram detectados ainda,acentuados diferenciais regionais e porlocalização da escola, revelando umasituação de carência mais acentuada paraescolas rurais e escolas localizadas nasregiões Norte e Nordeste.

Os indicadores de eficácia escolarrevelaram níveis de reprovação maisacentuados no ensino fundamental, mar-cantes diferenciais regionais, com taxas maiselevadas no Norte e Nordeste. O abandonoescolar e a distorção entre a idade e a série,foram mais acentuados no ensino médio,possivelmente pela atratividade do mercadode trabalho para sua clientela, revelando,ainda, os mesmos diferenciais regionais,desfavoráveis às regiões Norte e Nordestee às escolas localizadas em áreas rurais eàs municipais.

De posse desses elementos que, de modogeral, deixam clara a situação de carências elacunas, em praticamente todos os aspectosinvestigados, principalmente nas escolasrurais e nas localizadas nas regiões Norte eNordeste, espera-se que este trabalho tenharepresentado uma contribuição no processode aprofundamento da realidade dessesestabelecimentos escolares, trazendo muitomais questionamentos do que respostas e dei-xando margem para o desenvolvimento denovos estudos que permitam a continuidadedeste processo de conhecimento, tendo porfim a redução das acentuadas desigualdadesno acesso à educação em nosso país.

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