ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE LAICIDADE E LAICIDADE NO BRASIL de Elisa Signates Cintra de Freitas

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    Anais do XIV Simpsio Nacional da ABHRJuiz de Fora, MG, 15 a 17 de abril de 2015

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    ALGUMAS CONSIDERAES SOBRE LAICIDADE E LAICIDADE NO BRASIL

    Elisa Signates Cintra de Freitas1

    Resumo: Este trabalho discorre sobre os principais conceitos que envolvem a laicidade noBrasil. Essa temtica relevante devido presena marcante das bancadas religiosas nas casaslegislativas brasileiras com poltica contra grupos que no seguem uma conduta moralconsiderada religiosa, os considerados grupos laicos (LGBT, feministas, etc). A tenso se djustamente pelo Brasil ser um pas considerado laico em sua constituio, porm democrtico,o que faz com que os grupos religiosos estejam ali constituindo uma bancada por direitodemocrtico. Porm, at que ponto democrtico se apresentam propostas que barram odireito tambm democrtico de grupos que no seguem os padres morais religiosos, como oshomossexuais, por exemplo? Neste sentido, a pretenso deste trabalho entender comofunciona o processo de laicidade no Brasil fazendo uma introduo sobre o campo religiosono campo poltico brasileiro.Palavras-chave: racionalizao, Weber, secularizao, laicidade, Brasil.

    Introduo

    Trata este trabalho sobre os principais conceitos que envolvem a laicidade no Brasil.

    Essa temtica relevante devido presena marcante das bancadas religiosas nas casas

    legislativas brasileiras com forte poltica contra grupos que no seguem uma conduta moral

    considerada religiosa. A tenso se d justamente pelo Brasil ser um pas considerado laico em

    sua constituio. Neste sentido, a pretenso deste trabalho entender como funciona o

    processo de laicidade no Brasil fazendo uma introduo sobre o campo religioso no campo

    poltico brasileiro.

    Para entender a concepo de separao de instituies religiosas em locais de decises

    pblicas e especificamente o caso brasileiro preciso entender como se gerou esse processo

    de distino da religio das esferas sociais. Para isso, iremos trabalhar com conceitos de

    desencantamento do mundo, secularizao e laicidade como conceitos chaves para entender o

    contexto brasileiro de evanglicos nas casas legislat ivas brasileiras. Ou seja , para entender maisum pouco a laicidade no Brasil.

    Neste caso, este texto ser dividido em quatro partes. Uma primeira parte

    especificamente para tratar do processo de racionalizao das esferas da vida; em um segundo

    momento, ser discutido o conceito de secularizao. Aps esse tpico, ser tratada a

    separao especfica entre esfera religiosa e esfera poltica e por fim, a laicidade no Brasil.

    1 Mestranda em Sociologia na Universidade Federal de Gois.

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    Racionalizao de Weber

    Para compreender o processo de separao entre Igreja e Estado, parece ser

    importante entender como se deu esse processo de separao da religio das demais esferas da

    vida social. Entende-se que a raiz da separao entre religio e Estado est no processo de

    racionalizao tratado em Weber (2008) que culmina em uma separao e autonomizao das

    esferas da vida social. Aqui, Weber (2008) faz uma anlise de como uma sociedade que antes

    era regida pela magia e pelo sobrenatural foi se modificando, ou se racionalizando para chegar

    a uma separao das esferas em esfera religiosa, esfera intelectual, esfera poltica, esfera

    econmica, esfera esttica e esfera ertica.

    Weber (1983; 2012) tratou dessa separao atravs da racionalizao e perda de sentidoem seu conceito de desencantamento do mundo. Conforme Pierucci (2003), Weber formulou

    este conceito em dois sentidos: o sentido religioso e o cientfico. No sentido religioso, tratou

    da ruptura de crenas em um mundo magificado para um mundo seguido por doutrinas

    religiosas. Uma crena seguida por uma doutrina significa uma crena regida por alguma

    forma de intelectualizao e, portanto, racionalizao. Essa era a diferena principal entre

    magia e religio para Weber (2012). Assim, uma comunidade tanto mais racionalizada quanto

    menos magificada ela for.

    Quanto mais o intelectual reprime a crena na magia, desencantando assim os

    fenmenos do mundo, e estes perdem seu sentido mgico, somente so e acontecem, mas

    nada significam, tanto mais cresce a urgncia com que se exige do mundo e da conduo de

    vida, como um todo, que tenham uma significao e estejam ordenados segundo um sentido.

    (WEBER, 2012, p. 344).

    Weber (1983), deste modo, caracterizou o pensamento cientfico como uma das

    formas de intelectualizao e racionalizao da vida, j que seria possvel com a cincia

    dominar o mundo natural, antes magificado. Nesse sentido, h a ruptura da religio com os

    aspectos naturais do mundo.

    A intelectualizao e a racionalizao crescentes no equivalem, portanto, a um

    conhecimento geral crescente acerca das condies em que vivemos. Significam, antes, que

    sabemos ou acreditamos, a qualquer instante, poderamos, bastando que o quisssemos,

    provar que no existe, em principio, nenhum poder misterioso e imprevisvel que interfira

    com o curso de nossa vida; em uma palavra, que podemos dominar tudo, por meio da

    previso. Equivale isso a despojar a magia do mundo. (WEBER, 1983, p. 30)

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    Dessa forma a religio vai perdendo a centralidade na vida moderna j que agora a

    cincia se tornaria a explicao legtima dos fenmenos naturais e sociais. Tambm de acordo

    com Pierucci (2003), a racionalizao , para Weber, um dos fatores que explica esse

    fenmeno de autonomizao das esferas da vida social na modernidade:

    Com o advento da modernidade e com a ruptura dos laos tradicionais por umasrie de fatores, inclusive no plano cultural e da personalidade, Weber diagnosticauma importante inflexo no processo da racionalizao ocidental: agora possvelconceber a esfera domstica e a economia, a poltica e o direito, a vida intelectual e acincia, a arte e a ertica, independentemente das fundamentaes axiolgicasreligiosas. Cada esfera de valor, ao se racionalizar, se justifica por si mesma,encontra em si sua prpria lgica interna uma legalidade prpria que a leva a seinstitucionalizar autonomamente e a se consolidar e se reproduzir socialmente pelaformao de seus prprios quadros profissionais, encarregados de garantir

    precisamente sua autonom ia. (PIERUCCI, 2003, p. 138).

    Percebe-se ento que a autonomizao das esferas da vida foi considerada em Weber

    como processo de racionalizao e desencantamento do mundo. Esse processo tambm

    nomeado de secularizao segundo autores contemporneos da religio. sobre a

    secularizao que trataremos no tpico a seguir.

    A secularizao

    Berger (1985) em uma parte de sua obra O Dossel Sagrado trata da separao das

    esferas da vida social da religio. Em sua tese, denomina essa separao de secularizao.

    Segundo esse autor, houve um processo de racionalizao e intelectualizao da vida moderna

    que fez com que a religio perdesse o monoplio do pensamento social moderno.

    Berger (1985) partindo do desencantamento do mundo de Weber afirma que o

    desenvolvimento do mundo moderno ajudou na separao da religio das esferas da vida.

    Comeou pela esfera econmica, em que a religio no mais seria presente no mundo do

    trabalho. Nesse processo, afirma que a religio ento se polarizou tanto para a esfera pblica

    o Estadoquanto para a esfera privadaa famlia. medida que o mundo econmico foi se

    desenvolvendo em volta da industrializao, foi criando a necessidade de um Estado que

    respondesse s exigncias desse novo mundo moderno, ou seja, um Estado burocrtico

    especializado. Isso fez com que a religio perdesse monoplio no campo poltico e passasse a

    ser apenas agora no campo privado da famlia.

    Para Raquetat Jr (2008) secularizao significa passagem do religioso para o no

    religioso, do religioso para o secular e este fenmeno est relacionado com o avano da

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    modernidade. Segundo o autor, as bases filosficas da modernidade ocidental revelam uma

    concepo de mundo e de homem dessacralizadora, profana que contrasta com o universo

    permeado de foras mgicas, divinas das sociedades tradicionais e primitivas. (Ranquetat Jr,

    2008, p.60). A religio ento perde ento a caracterstica de norteadora das ordens da vida do

    homem moderno.

    Corroborando com essa ideia, Zepeda (2010) afirma que o processo de secularizao

    uma consequncia da modernidade, que implica uma alterao do papel central da religio em

    sociedades tradicionais, como elemento legitimador e integrador, dando sentido e articulando

    as diferentes esferas sociais. (Zepeda, 2010, p.130). Isso no significa que a religio

    desapareceria, mas que se reconfiguraria na sociedade moderna.

    Berger (2001) tambm aposta nessa ideia de que a religio no desapareceu, mas sereconfigirou. De acordo com Berger (2001), a modernidade fez com que a religio perdesse

    domnio total sobre a humanidade, mas no desapareceu. Pelo contrrio. A relao da religio

    com a modernidade ainda se manteve. Berger (2001) destaca duas estratgias possveis para as

    comunidades religiosas no mundo moderno: a rejeio total aos valores modernos e a

    adaptao a eles.

    Ento, alguns erigiram a modernidade como inimigo a ser combatido sempre que

    possvel. Ao contrrio, outros veem a modernidade como uma espcie de viso de mundo

    invencvel qual crenas e prticas religiosas devem adaptar-se. Em outras palavras, rejeio e

    adaptao so duas estratgias possveis para as comunidades religiosas em um mundo visto

    como secularizado. (Berger, 2001, p. 11).

    Ambas as estratgias so complicadas, mas, segundo o autor, so possveis de

    acontecer. Mas isso no o mais interessante em sua anlise. O mais interessante, que houve

    religies, como o prprio catolicismo, que sobreviveram mesmo sem rejeitar totalmente a

    modernidade, mesmo sem adaptar-se totalmente a ela. E mais, houve exploses religiosas no

    mundo, principalmente na Amrica Latina com o evangelismo. Esse fato, de acordo com

    Berger (2001), prova que o mundo no secularizado como muitos pensam. Justifica ainda,

    esse fato, como a retomada de certezas perdidas com a modernidade, sendo a religio bastante

    sedutora nesse sentido de retomar as certezas sem as quais a Humanidade no suporta viver.

    A secularizao importante para fins deste trabalho por colocar em evidncia uma

    separao particular: a esfera poltica da esfera religiosa. sobre esse aspecto que ser tratado

    o tpico a seguir.

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    A laicidade

    Estudiosos contemporneos da religio tratam da separao da religio das demais

    esferas da vida com o nome de secularizao. Porm, a separao especifica entre Estado e

    religio recebe o nome de laicidade. Segundo Ranquetat Jr (2008), secularizao um termo

    mais amplo utilizado para as esferas sociais da vida. Quando se fala especificamente da

    separao da esfera poltica da esfera religiosa, trata-se de laicidade. O autor afirma que

    laicidade , sobretudo um fenmeno poltico e no um problema religioso, ou seja, ela deriva

    do Estado e no da religio. o Estado que se afirma e, em alguns casos, impe a laicidade.

    (Ranquetat Jr, 2008, p.62). Para esse autor, o processo de laicidade abarca dois princpios: a

    neutralidade-excluso e a neutralidade-imparcialiade. O primeiro diz respeito excluso da

    religio da esfera pblica enquanto o segundo diz respeito necessidade do Estado em tratartodas as religies de forma igualitria, no dando nenhum privilgio a nenhuma religio

    especfica.

    Nesse mesmo movimento, Martnez e Raymundo (2010) afirma que laicidade no

    um fim em si mesmo. Corroborando com a ideia de que um Estado laico pode trazer

    liberdade de conscincia, liberdades religiosas e afirmao da diversidade a fim de desenvolver

    melhor convivncia entre membros de uma sociedade plural, os autores afirmam trs

    princpios da laicidade: o da independncia dos Estados em relao s igrejas e independncia

    das igrejas em relao ao Estado; imparcialidade do Estado frente a todas as religies e

    respeito pela liberdade de conscincia e igualdade de tratamento. Apesar de carregar esses

    princpios, afirmam tambm que isso no significa que haver fim dos conflitos sociais e sim

    que haver forma mais harmnica dos indivduos sociais em conviverem com a diferena.

    Outro ponto interessante na anlise de Martnez e Raymundo (2010) e de Ranquetat Jr

    (2008) de que esses autores reconhecem que a laicidade como processo histrico especifico

    em cada pas, no ocorrendo de forma igualitria em todas as naes que passam por esse

    processo. Nesse sentido, analisar-se- o contexto brasileiro que o que importa nesse

    trabalho.

    A laicidade no Brasil

    Seguindo a linha de que a laicidade um processo histrico especfico d e cada nao e

    de que um processo especificamente Ocidental, Oro (2011) faz uma anlise dos pases do

    mundo que carregam esse princpio na sociedade. Chega concluso que existem trs tipos de

    laicidades entre pases da Europa e da Amrica Latina: pases que mantm um regime deseparao entre Igreja e Estado; pases que adotam o regime de separao de Estado e Igrejas

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    com dispositivos particulares em relao a algumas religies ou igrejas e pases que adotam o

    regime Igrejas de Estado.

    Nessa diviso Oro (2011) caracteriza o Brasil como um pas em que h a separao

    constitucional de Igreja e Estado. Porm esse regime se constituiu de forma especfica em

    relao ao tratamento das religies por parte do Estado. Segundo o autor, em nosso pas essa

    forma jurdica recebeu ao longo da histria uma formulao prpria, onde, no por acaso, a

    Igreja Catlica tendeu a receber uma discriminao positiva de parte do Estado enquanto que

    as religies tidas como minoritrias tenderam a receber uma discriminao negativa (ORO,

    2011, p. 224)

    No Brasil a relao entre Igreja e Estado sempre existiu. Desde a colonizao temos

    uma forte influncia da Igreja catlica na formao dos valores sociais e polticos do Brasil,com a catequizao e imposio de valores aos nativos da regio (Maria, 1981). Durante o

    Imprio, o catolicismo tambm teve sua influncia marcante, constituindo-se como religio

    oficial do Estado. Foi na proclamao da Repblica que foi decretado a separao entre

    Igreja e Estado, pondo fim ao monoplio catlico, extinguindo o regime do padroado,

    secularizando os aparelhos estatais, o casamento e os cemitrios, e garantindo, pela primeira

    vez, a liberdade religiosa para todos os cultos (Oro, 2011, p.225).

    Outro ponto ainda corrobora para a perda da influncia da igreja catlica no poder

    poltico brasileiro. De acordo com Ciarallo (2011), a Igreja perdeu o monoplio intelectual no

    Brasil que mantinha at por volta do sculo XIX. Dois motivos foram destacados pelo autor

    para que isso ocorresse: o primeiro motivo tratou da formao de duas faculdades de Direito

    no pas (So Paulo e Pernambuco), burocratizando ainda mais o sistema e formando gente

    especializada para tomar conta das decises polticas do pas. Isso fez com que o clero tivesse

    sua participao reduzida na Cmara.

    O outro ponto destacado foi a presena que se fortalecia cada vez mais das foras

    liberais no pas, que entravam em choque com o conservadorismo de clero militante na

    poltica brasileira. Alm disso, havia movimentaes dos protestantes e de outros sincretismos

    que lutavam pela liberdade religiosa no pas. At ento, a liberdade religiosa era restrita no

    mbito privado, sem poder existir prdios religiosos que no fossem catlicos, ou seja, da

    religio oficial do Estado. Assim, a liberdade religiosa era restrita famlia e tudo que fosse

    pblico que no fosse catlico era crime contra o Estado. As tenses a favor da liberdade

    religiosa no pas era um dos elementos designativos da sociedade burguesa (Ciarallo, 2011,

    pg. 92). E, para que isso desse certo era preciso que o catolicismo se enfraquecesse.

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    Apesar de ter se separado constitucionalmente, a presena de certos privilgios Igreja

    Catlica permaneceu. Ainda hoje a igreja catlica recebe mais do que outras igrejas certos

    privilgios na forma de auxlios e cooperaes de vrias ordens, inclusive financeiras e de

    iseno de impostos (Oro, 2011, p.227). Percebe-se tambm a presena de cones religiosos

    em locais pblicos, como escolas, prises, parlamentos. Esses aspectos presentes nos espaos

    pblicos brasileiros vai contra a ideia de um Estado separado da Igreja e de qualquer religio.

    (Oro, 2011; Giumbelli, 2011).

    Ao tratar da conquista de espao dos evanglicos ao espao pblico brasileiro, Mariano

    (2011) faz uma anlise sobre liberdade religiosa no Brasil. Corrobora com a ideia de que de

    que a Igreja catlica no perdeu seus privilgios com a separao constitucional entre Igreja e

    Estado brasileiro. Avana na discusso afirmando que a neutralidade do Estado tambm nose fez presente quando o se trata de outras religies ou crenas. Em suas palavras, a separao

    entre Igreja e Estado no ps fim aos privilgios c atlicos e nem a discriminao estatal e

    religiosa s demais crenas, prticas e organizaes mgico-religiosas (. ..) Neutralidade estatal

    zero em matria religiosa (Mariano, 2011, p. 246). Afirma ainda que foi apenas na

    redemocratizao que o pluralismo religioso se estabeleceu.

    Nesse caso, o pentecostalismo teve importante papel na conquista da liberdade

    religiosa no pas, j que sua doutrina no comporta o transito entre religies. Nesse sentido,

    Mariano (2011) afirma que

    O pentecostalismo tende a demandar laos exclusivos de seus adeptos. Proselitista econversionista, ele foi fundamental para consolidar o pluralismo religioso no pas,para reforar a defesa do princpio da liberdade religiosa e de culto, do qual opluralismo depende (MARIANO, 2011, p. 248).

    A partir da, o autor nos mostra como se deu a conquista desse campo religioso no

    campo poltico. Afirma que os movimentos religiosos catlicos apoiaram o fim da ditadura e a

    abertura da democracia acirrou a disputa entre catlicos e pentecostais, inclusive no campomiditico.

    A princpio a Igreja catlica preferia atuar como grupos de presso aos atores polticos

    em temas relativos moral. Com o aumento do nmero de pentecostais na poltica e nos

    meios de comunicao de massa, aumentou a mobilizao catlica e a candidatura de

    religiosos catlicos a cargos pblicos no pas. Nesse caso, o nmero de candidatos polticos

    que adotaram o recurso religioso como campanha eleitoral tambm aumentou. Isso tudo em

    disputa com os pentecostais pelo campo religioso no Brasil.

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    Interessante perceber que, os pentecostais decidiram pela disputa na arena poltica por medo

    dos catlicos requererem maiores privilgios junto ao Estado. (Mariano, 2011). Tal temor era

    partilhado por outros grupos evanglicos. Neste sentido,

    os pentecostais abandonaram sua tradicional autoexcluso da poltica partidria,justificando seu inusitado ativismo poltico com a alegao de que urgia defenderseus interesses institucionais e seus valores morais contra seus adversrios catlicos,homossexuais, macumbeiros e feministas na elaborao da carta magna. Paratanto, propuseram-se s tarefas de combater, no Congresso Nacional, adescriminalizao do aborto e do consumo de drogas, a unio civil de homossexuaise a imoralidade, de defender a moral crista, a famlia e os bons costumes.(MARIANO, 2011, p. 250-251)

    Dessa maneira, a presena foi se tornando cada vez mais forte e frequente no

    Congresso Nacional e tratando especificamente de assuntos de cunho moral, como

    demonstrado acima segundo Mariano (2011) . Neste sentido, Mariano (2011) ainda afirma quea presena dos evanglicos se torna to forte que tem como consequncia as alianas polticas

    que candidatos fazem para ganhar as eleies. O autor conclui ento que no Brasil laicidade

    no um valor predominante, sendo marcado pela forte presena religiosa em disputa nas

    arenas polticas do Estado brasileiro. A esse fato, Mariano (2011) caracteriza o tipo de

    laicidade do Brasil como laicidade brasileira.

    Concluso

    Buscou-se fazer uma discusso, neste artigo, dos principais conceitos envolvendo a

    laicidade no Brasil. Para isso, buscou-se elucidar um pouco de como se deu esse processo

    histrico na humanidade a princpio pela separao das demais esferas sociais da religio com

    os conceitos de desencantamento do mundo e secularizao. Em seguida, a inteno foi

    buscar os princpios da laicidade como conceito especfico que trata da separao entre Estado

    e religio, entre esfera poltica e esfera religiosa.

    Nesse sentido, partindo da ideia de que a laicidade um processo histrico especifico

    do Ocidente e no igual em todos os pases que possuem essa caracterstica, buscou

    especificar a fim de esclarecer melhor como se d o processo de laicidade no Brasil. Mais

    ainda, buscou iluminar esse processo histrico com a presena marcante dos evanglicos se

    constituindo como bancadas legislativas de bandeira religiosa, tendo como foco a questo

    moral de grupos sociais considerados laicos (feministas, homossexuais, etc).

    BIBLIOGRAFIA

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