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7/9/2011 | Maristela Barenco Corrêa de Mello | (24) 2237-5801 Alguns dedos de Prosa: conversando sobre Psicologia, Educação Ambiental, Cultura da Paz e Espiritualidade Este Informativo é uma publicação semanal dedicada a Educadores, cujos conteúdos são de inteira responsabilidade da autora. Seu objetivo é formativo: oferecer subsídios e reflexões em Psicologia, Educação Ambiental, Cultura da Paz e Espiritualidade, e renovar o propósito rumo a uma educação transformadora. Da impotência e da resistência à ruptura e criação: o desafio ético-estético de uma Educação Ambiental Na perspectiva de um senso comum e geral, a educação ambiental é aquela parte da Educação que trabalha com questões relativas ao meio ambiente e à crise ambiental. Um educador ambiental, nesta perspectiva, seria aquele que empreende projetos concretos que incidem sobre o meio ambiente, numa atitude de reparação. São exemplos destes projetos, o plantio de árvores, o reflorestamento de encostas, o cuidado e a coleta seletiva do lixo, a limpeza de rios, a preservação de áreas ambientais, o cuidado com as matas ciliares, entre muitos outros. Mas... podemos ficar apenas neste nível de compreensão? Antes, já refletimos, numa perspectiva epistemológica e filosófica, que a Educação Ambiental, antes de ser prática, é uma “epistemologia”, ou seja, uma forma própria de conceber e construir o conhecimento, levando em conta as inter-relações entre toda a vida, superando as dicotomias herdadas do pensamento moderno. Numa perspectiva ética e política, precisamos ainda ampliar as visões simplistas em Educação Ambiental e em relação à prática dos educadores ambientais. Isso implica em contextualizar os pequenos e pontuais projetos à luz de uma dimensão política planetária, estrutural, quase invisível, que configura o sistema do capital, de orientação neoliberal, e que não apenas enfraquece e neutraliza os mais interessantes projetos, como os coopta, até mesmo financiando-os. Assim, a mesma Coca-Cola, transnacional que fabrica milhões de garrafas pet’s que poluem nossos rios e mares, entre outras coisas, financia, por exemplo, a formação de 200 catadores da Associação dos Catadores do Aterro Metropolitano do Jardim Gramacho (RJ). O mesmo Eike Batista, que tem sido denunciado ultimamente pelo Greenpeace em função da exploração petroleira de sua empresa OGX, no Parque Nacional Marinho de Abrolhos (BA), ameaçando as baleias (e ativistas!), entre muitas outras ações que ameaçam o meio Boletim No. 7, Ano I

Alguns dedos de Prosa: conversando sobre Psicologia ... · da Paz e E spiritualidade Este Informativo é uma ... e Taciana Neto Leme (reflexão sobre a prática). Tal trabalho insere-se

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7/9/2011 | Maristela Barenco Corrêa de Mello | (24) 2237-5801

Alguns dedos de Prosa:

conversando sobre Psicologia,

Educação Ambiental, Cultura

da Paz e Espiritualidade

Este Informativo é uma

publicação semanal dedicada a

Educadores, cujos conteúdos

são de inteira responsabilidade

da autora. Seu objetivo é

formativo: oferecer subsídios e

reflexões em Psicologia,

Educação Ambiental, Cultura

da Paz e Espiritualidade, e

renovar o propósito rumo a

uma educação transformadora.

Da impotência e da resistência à ruptura e criação:

o desafio ético-estético de uma Educação Ambiental

Na perspectiva de um senso comum e geral, a educação ambiental é aquela

parte da Educação que trabalha com questões relativas ao meio ambiente e à crise

ambiental. Um educador ambiental, nesta perspectiva, seria aquele que empreende

projetos concretos que incidem sobre o meio ambiente, numa atitude de reparação. São

exemplos destes projetos, o plantio de árvores, o reflorestamento de encostas, o

cuidado e a coleta seletiva do lixo, a limpeza de rios, a preservação de áreas ambientais,

o cuidado com as matas ciliares, entre muitos outros. Mas... podemos ficar apenas neste

nível de compreensão? Antes, já refletimos, numa perspectiva epistemológica e

filosófica, que a Educação Ambiental, antes de ser prática, é uma “epistemologia”, ou

seja, uma forma própria de conceber e construir o conhecimento, levando em conta as

inter-relações entre toda a vida, superando as dicotomias herdadas do pensamento

moderno. Numa perspectiva ética e política, precisamos ainda ampliar as visões

simplistas em Educação Ambiental e em relação à prática dos educadores ambientais.

Isso implica em contextualizar os pequenos e pontuais projetos à luz de uma dimensão

política planetária, estrutural, quase invisível, que configura o sistema do capital, de

orientação neoliberal, e que não apenas enfraquece e neutraliza os mais interessantes

projetos, como os coopta, até mesmo financiando-os. Assim, a mesma Coca-Cola,

transnacional que fabrica milhões de garrafas pet’s que poluem nossos rios e mares,

entre outras coisas, financia, por exemplo, a formação de 200 catadores da Associação

dos Catadores do Aterro Metropolitano do Jardim Gramacho (RJ). O mesmo Eike Batista,

que tem sido denunciado ultimamente pelo Greenpeace em função da exploração

petroleira de sua empresa OGX, no Parque Nacional Marinho de Abrolhos (BA),

ameaçando as baleias (e ativistas!), entre muitas outras ações que ameaçam o meio

Boletim No. 7, Ano I

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sistema, que configuram sua política, suas

estratégias e contra-ataques na perspectiva

de sua perpetuação, à revelia de todas as

crises que ameaçam a vida planetária,

sobretudo a dos mais pobres, dão-nos uma

sensação de extrema impotência. Porque

são políticas que, como dissemos, afirmam-

se à revelia dos estudos, pesquisas,

diagnósticos e percepção de impactos,

elaborados por Universidades e Centros de

Pesquisa, mas também partilhados pelas

comunidades locais, que conhecem seus

habitats. E apesar de conhecermos tão bem

o princípio da precaução, já anunciado na

Carta da Terra, insistimos nas políticas do

agora, que não levam em consideração nem

o

ambiente, traz em seu site um link só sobre

ações socioambientais. O mesmo governo

Dilma Roussef, que se diz comprometido com o

Meio Ambiente (e possui como carro-chefe o

Programa de Aceleração do Crescimento (PAC),

responsável pela construção de gigantescos

empreendimentos devastadores, entre eles a

política das hidrelétricas, cujos impactos

socioambientais são ignorados) convive

simultaneamente com o depoimento do

Ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, que

ao ser interrogado sobre os impactos de tais

hidrelétricas, afirma publicamente que

precisam ser relevados em função da

concretização do programa energético em

questão. Estas “contradições” aparentes do

Práticas que nos levam ao exercício da impotência ou práticas que nos levam ao exercício

repetitivo das formas de resistência despontam como uma política ambiental insuficiente.

o futuro do Planeta nem o futuro das gerações, e seus direitos.

Juntamente com isso, ainda nos deparamos com uma enorme crise ética na

política, crise de corrupção, de princípios e de valores, corrompendo os poderes

executivo, o legislativo e o judiciário, corrompendo os Estados e seus aparatos, os

partidos políticos e repartições públicas, as instituições e as pessoas. Crise esta que

não parece se constituir apenas em um nível endêmico, mas epidêmico, que atravessa

a prática cotidiana e se estende, inclusive, em momentos de fragilidade histórica,

como em períodos de tragédia e catástrofes. Atravessa os mais altos e os mais

elementares escalões da vida em sociedade, as macro e as micropolíticas, põe em

xeque aspectos importantes da vida, e ameaça o próprio futuro do Planeta. Tal

realidade, histórica, fez despontar e desponta inúmeras formas de resistência

populares, de organizações e articulações sociais, em movimentos e em instituições.

Esta é uma dimensão importante da sociedade civil: controlar a esfera política e

pública e promover ações organizadas e políticas de resistência. Grande parte das

ações e projetos sociais que se desenvolvem nas organizações não-governamentais e

demais organizações sociais têm este intuito de resistir. Resistir através de iniciativas

organizativas, de mobilização, políticas, resistir através de iniciativas educativas.

Importante às organizações que resistem é o senso crítico para sempre

interpretar e reinterpretar o âmbito de sua atuação, para que não sejam cooptadas e

silenciadas. Acostumamo-nos a nos referir às políticas públicas, como se estivéssemos

nos anos 80, no processo de elaboração da Constituição Brasileira. Igualmente,

falamos na importância de uma participação da sociedade civil, organizada nos

espaços dos Conselhos de Direitos que, sem dúvida, se constituíram em paradigmas

avançados em termos de políticas, de participação, de democracia. Mas quase não se

estuda o porquê estes Conselhos não funcionam, o porquê desses Conselhos não

serem paritários como deveriam, e quais os interesses que predominam na lógica

deste fazer político.

Sugestões de Leituras

GUIMARÃES, Mauro (Org.). Caminhos

da Educação Ambiental: da forma à ação. 3ª. ed. Campinas, SP: Papirus, 2008, (Coleção Papirus Educação), 112 p.

Este livro, organizado pelo Prof. Mauro Guimarães, da UFRRJ, é uma coletânea teórico-filosófica importante, elaborada por autores que são pensadores críticos e militantes em Educação Ambiental, como Mauro Guimarães (abordagem relacional), Carlos Frederico Bernardo Loureiro (com sua teoria crítica), Isabel Cristina Moura de Carvalho (abordagem hermenêutica), Luiz Augusto Passos e Michèle Sato (abordagem fenomenológica) e Taciana Neto Leme (reflexão sobre a prática). Tal trabalho insere-se no horizonte do compromisso de buscar pensar e elaborar uma identidade para a Educação Ambiental, tendo-se em conta a crítica ao projeto capitalista hegemônico e aos conceitos relativos a um paradigma clássico, que se pretende ampliar, enriquecer. A importância indireta da obra, além de nos possibilitar construir uma ”comunidade de aprendizado”, é perceber a diversidade de concepções que fazem parte deste campo.

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Sugestões de Filmes

Reinaldo José de Lima

([email protected])

Primeiramente gostaria de agradecer o convite da querida amiga Maristela para fazer parte desta ideia cheia de informação, reflexão e acima de tudo sensibilidade, uma característica peculiar da nossa Stela. A proposta aqui será a de trazer pequenas sinopses e indicações de filmes de nacionalidades diferentes com o objetivo de possibilitar interações variadas com a imagem e as narrativas cinematográficas. Espero que gostem.

Nosso primeiro filme chama-se VERMELHO COMO O CÉU (2006), produção italiana, dirigida por Cristiano Bortone e que narra a vida de Mirco, um garoto de 10 anos de idade que vive na região da Toscana e é apaixonado por cinema. Após um acidente perde a visão e, rejeitado pela escola pública, é enviado para um instituto para cegos na cidade de Gênova. É neste ambiente, após a descoberta de um gravador, que começa a criar histórias sonoras que mudarão sentidos e paradigmas. Realizado com extrema sensibilidade – algo muito peculiar no cinema italiano – “VERMELHO COMO O CÉU”, traz a superação como possibilidade sempre real e por isso envolve o espectador de maneira única – assim como qualquer ser humano – diante das transformações, sejam elas vistas das mais variadas formas. Para finalizar, um pequeno registro para quem curte as curiosidades que envolvem as narrativas cinematográficas: a história do filme é baseada na vida real de Mirco Mencacci, um renomado editor de som da indústria cinematográfica da Itália – o elemento que faltava para se envolver de vez com o filme. Até a próxima.

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Sugestões de Atividades

Trabalho com Ervas

Medicinais

Um trabalho com ervas

medicinais possibilita muitas formas

de sensibilização. Cada família guarda

tradições de conhecimento do uso de

plantas e os avós são portadores

privilegiados destes saberes. Ademais,

as ervas estão ao redor de nossas

casas e seu reconhecimento nos

aproxima da natureza.

Uma atividade interessante

é pedir que as crianças tragam de suas

casas ervas que existam em seus

quintais ou informações caseiras

sobre suas indicações. A tarefa do

professor é ser mediador e articulador

destes saberes, complementando as

informações trazidas. É interessante

que possa servir dois tipos de chás,

suaves, capim-limão erva cidreira, por

exemplo, para que as crianças e

jovens possam saborear. Desta

atividade, desdobram-se muitas

outras: a criação de um canteiro

escolar ou canteiros comunitários nas

casas.

Duas ervas são muito

importantes em um contexto de

aprendizagem: o alecrim, que

desperta a atenção (num cenário de

dispersão), e a lavanda, calmante

(num cenário de hiperatividade).

Nestes casos, os óleos essenciais

puros, diluídos em água, garantem o

resultado.

3 Falamos de sociedade civil organizada como se esta existisse e como se,

por exemplo, os últimos 8 anos de Governo Lula não tivessem tornado híbridos os

campos da sociedade civil e do poder público, com consequências sérias em termos

democráticos. As consequências deste hibridismo, não refletido com a seriedade e a

profundidade que merece, apresentam-se, por exemplo, no enfraquecimento e

desmobilização da sociedade civil. Também na flexibilização das organizações não-

governamentais, hoje rotuladas como Terceiro Setor, que vão sendo cada vez mais

questionadas sobre sua credibilidade, sua ideologia, seus ideais de militância de seus

quadros, ao tornarem-se braços executores do poder público, diluindo assim a sua

identidade de fiscalizadoras, controladores e propositoras em relação ao Estado. Tal

hibridismo gerou uma capilarização da corrupção, em todos os segmentos, que não

distingue, muitas vezes, propostas, partidos, ideologias, e gerou um massivo

descrédito, por parte da população, que já não associa a dimensão política como

aquela capaz de promover as transformações coletivas efetivas. Gerou um

enfraquecimento das políticas públicas que não são mais do que políticas de

Governo e não de Estado, efetivas e autônomas às mudanças eleitorais. Neste

cenário, os discursos críticos socioambientais não deveriam se remeter naturalmente

a instâncias políticas, como se existissem e funcionassem, mas sim desvelar e

postular quais outros modelos políticos precisam ser forjados enquanto a Educação

Ambiental se forja a si mesmo. Precisamos desenvolver mecanismos sociais que

possam ir além da sensação de impotência, que muitas vezes nos imobiliza e nos tira

as esperanças, e dos esforços de resistência frente a este sistema que não apenas se

perpetua historicamente, como tem se capilarizado na forma de uma cultura que

convive pacificamente com a lógica da corrupção e da falta de ética.

No último Informativo trouxemos à reflexão as palavras de Félix Guattari,

filósofo, psicanalista e militante francês. Guattari é importante a este debate, porque

além de nos ajudar a pensar o mundo em que vivemos e a própria forma como

pensamos este mundo, nos ajuda a compreender que o sistema econômico

planetário não é apenas um sistema da economia política, mas também da economia

subjetiva. Ele nos chama a atenção para algo que os movimentos de emancipação

social ainda não entenderam plenamente, e que a máquina capitalista bem

entendeu, e que ainda fica no domínio da psicologia, da filosofia e dos hospitais

psiquiátricos, onde não circulam o sistema de “significação dominante”: que

qualquer mudança na estrutura macropolítica e macrossocial terá que levar em

conta os processos de produção da subjetividade. Para ele, todos os fenômenos

importantes da atualidade envolvem dimensões do desejo e da subjetividade.

Enquanto Marx foi brilhante ao evidenciar o processo pelo qual se dá, no

Capitalismo, a sujeição econômica através de uma “mais-valia econômica”, Guattari

é brilhante ao enfatizar um sistema de correspondência entre a economia e a

cultura, pois esta se ocupa da sujeição subjetiva através de uma “mais-valia de

poder”, agravando o que se chama exploração. O capitalismo, para além de ser um

sistema de produção e de economia, é modelizador e impõe um modo de ser, de

estar no mundo, um modo relacional. Mas a novidade ainda vai além, e é aqui que

podemos vislumbrar modos de atuar politicamente que não apontem nem para a

sensação de impotência nem para a de uma mera resistência.

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Sugestões de Filmes

Reinaldo José de Lima

([email protected])

Primeiramente gostaria de agradecer o convite da querida amiga Maristela para fazer parte desta ideia cheia de informação, reflexão e acima de tudo sensibilidade, uma característica peculiar da nossa Stela. A proposta aqui será a de trazer pequenas sinopses e indicações de filmes de nacionalidades diferentes com o objetivo de possibilitar interações variadas com a imagem e as narrativas cinematográficas. Espero que gostem.

Nosso primeiro filme chama-se VERMELHO COMO O CÉU (2006), produção italiana, dirigida por Cristiano Bortone e que narra a vida de Mirco, um garoto de 10 anos de idade que vive na região da Toscana e é apaixonado por cinema. Após um acidente perde a visão e, rejeitado pela escola pública, é enviado para um instituto para cegos na cidade de Gênova. É neste ambiente, após a descoberta de um gravador, que começa a criar histórias sonoras que mudarão sentidos e paradigmas. Realizado com extrema sensibilidade – algo muito peculiar no cinema italiano – “VERMELHO COMO O CÉU”, traz a superação como possibilidade sempre real e por isso envolve o espectador de maneira única – assim como qualquer ser humano – diante das transformações, sejam elas vistas das mais variadas formas. Para finalizar, um pequeno registro para quem curte as curiosidades que envolvem as narrativas cinematográficas: a história do filme é baseada na vida real de Mirco Mencacci, um renomado editor de som da indústria cinematográfica da Itália – o elemento que faltava para se envolver de vez com o filme. Até a próxima.

Guattari entende que a criação de saídas e a transformação do mundo não

são processos que podem se dar apenas com a denúncia do mundo em que nos

encontramos e a resistência neste mundo, mas através de um processo ativo,

criativo, propositivo: através da produção e da invenção de subjetividades delirantes,

com capacidade de romper com os sentidos dominantes de mundo; através da

afirmação dos valores numa esfera particular e da multiplicidade de processos de

semiotização, com capacidade de criar novos sentidos de mundo e de modos de

viver; como já dissemos no outro Informativo, através da reapropriação de

dimensões essenciais da existência, como o desejo, a angústia, a morte, a dor, a

solidão, o silêncio, a relação com o cosmos, com o tempo, processos invisibilizados,

porque promovem uma verticalidade na singularidade; enfim, através da reinvenção

dos modos de trabalho e produção, de ensino e aprendizagem, em formas de

produção de sentido e de práxis. Tal projeto, que é muito mais ousado que uma

mera resistência, caracteriza-se por uma produção, nos moldes das pulsões do

inconsciente, de máquinas de guerra, capazes de promover revoluções moleculares.

Se formos trazer para o âmbito da Educação Ambiental o que nos sugere

Guattari, podemos responder à questão inicial. Práticas que nos levam ao exercício

da impotência ou práticas que nos levam ao exercício repetitivo das formas de

resistência despontam como uma política ambiental insuficiente. Ambas reforçam a

tendência à infantilização, que, segundo Guattari, consiste numa das mais

importantes estratégias do sistema, que se manifesta na forma como as instâncias

do Estado pensam por nós, organizam por nós a produção e a vida social. Em outras

palavras, enquanto desenvolvemos práticas impotentes ou arcaicamente resistentes,

somos como crianças que esperneiam diante dos projetos de nossos pais, que

sempre prevalecem. Frustrar os processos, romper com os processos para poder

criar ou como uma das formas de criar, aponta para uma perspectiva diferente.

Em Educação Ambiental, significa compreender basicamente que vivemos

em um mundo com muitos projetos de mundos. E que precisamos saber a serviço de

quais projetos nossas práticas corroboram, pois conscientes ou não, estamos sempre

corroborando em direção a um projeto. E que podemos ser autores também de

outros projetos coletivos de mundo, para além dos que existem. Significa

compreender, em Educação Ambiental, a importância de não apenas desenvolver

ações isoladas, pontuais, desarticuladas, mas refundar lugares sociopolíticos mais

simétricos dos humanos com os humanos, destes com a natureza, destes com as

outras formas de vida, destes com a Terra, da qual somos parte. Significa

compreender que o mesmo projeto de mundo que destrói a natureza, destrói

também o ser humano, sobretudo os pobres e excluídos. E que não podemos cuidar

da árvore, da água, do lixo, do ar, sem cuidar dos seres humanos que compõem a

grande teia da vida.

E você, Educador Ambiental, ensaia práticas impotentes, de resistência ou

sobretudo criativas e propositivas? Mas em que consiste uma prática ou práticas

criativas e propositivas? O filósofo Nietzsche distinguia dois tipos de criação: uma

que desponta da “fome” enquanto escassez; outra, que desponta do “supérfluo”

enquanto abundância... Questão intrigante, que refletiremos no próximo número.

Sugestões de Filmes

Reinaldo José de Lima

([email protected])

Primeiramente gostaria de agradecer o convite da querida amiga Maristela para fazer parte desta ideia cheia de informação, reflexão e acima de tudo sensibilidade, uma característica peculiar da nossa Stela. A proposta aqui será a de trazer pequenas sinopses e indicações de filmes de nacionalidades diferentes com o objetivo de possibilitar interações variadas com a imagem e as narrativas cinematográficas. Espero que gostem.

Nosso primeiro filme chama-se VERMELHO COMO O CÉU (2006), produção italiana, dirigida por Cristiano Bortone e que narra a vida de Mirco, um garoto de 10 anos de idade que vive na região da Toscana e é apaixonado por cinema. Após um acidente perde a visão e, rejeitado pela escola pública, é enviado para um instituto para cegos na cidade de Gênova. É neste ambiente, após a descoberta de um gravador, que começa a criar histórias sonoras que mudarão sentidos e paradigmas. Realizado com extrema sensibilidade – algo muito peculiar no cinema italiano – “VERMELHO COMO O CÉU”, traz a superação como possibilidade sempre real e por isso envolve o espectador de maneira única – assim como qualquer ser humano – diante das transformações, sejam elas vistas das mais variadas formas. Para finalizar, um pequeno registro para quem curte as curiosidades que envolvem as narrativas cinematográficas: a história do filme é baseada na vida real de Mirco Mencacci, um renomado editor de som da indústria cinematográfica da Itália – o elemento que faltava para se envolver de vez com o filme. Até a próxima.

VOCÊ SABIA?

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Setembro: chegada da primavera,

tempo de regeneração!

A dinâmica da natureza é fantástica!

Cada estação é um grande cenário que nos convida

a sincronizar as nossas energias com a Vida,

para que possamos exercer nosso protagonismo de forma renovada e única.

Depois de um longo e silencioso Inverno, onde as forças da vida se recolhem e

hibernam,

experimentando a força do recolhimento e da introspecção,

irrompe a Primavera,

considerada a primeira estação da Vida,

devido à sua força de arranque e de regeneração.

Segundo os chineses, com sua sabedoria de mais de 5 mil anos a.C.,

é a estação do vento e do movimento. Seu elemento é a madeira.

Seu órgão é o fígado, e sua víscera, a vesícula biliar.

Sua hora do dia, o amanhecer.

Seu movimento, o de expansão.

Seu sabor, o ácido e o azedo.

Sua cor é a verde.

Seu órgão sensitivo, de abertura, os olhos.

O seu tecido, os tendões.

A sua forma de manifestação, a unha.

Sua emoção equilibrada, o livre fluxo para agir.

Sua emoção desequilibrada, a raiva e a contrariedade.

Somos convidados a entrar em contato com este universo em manifestação.

Como estação do vento e do movimento, do desabrochar das flores

e da alegria dos pássaros e animais, a primavera faz desabrochar tudo o que

semeamos de longa data.

Ela deixa patente o que o inverno cultivou de forma latente.

Colhe-se o que se semeou e se plantou.

Muitos projetos vingam. Muitos sonhos se concretizam.

Muitos projetos terminam, muitas relações chegam ao fim,

muitas pessoas morrem...

Recomenda-se usar roupas leves,

cuidar do fígado e da vesícula biliar,

comer alimentos ácidos e azedos,

andar descalços,

sentir o vento tocar nossa pele,

entrar em contato com novas ideias e sentimentos positivos.

Para que esta energia renovada tome conta de nós e de nossa vida,

ainda é tempo de realizar mudanças, faxinas e limpezas,

internas e externas,

emocionais, afetivas e físicas.

E sobretudo restabelecer contato

com a natureza que somos,

com a Pacha Mamma, da qual somos filhos e filhas,

de onde depende nossa vitalidade, alegria, integração.

Tempo de oportunidades!

Maristela Barenco Corrêa de Mello

Graduada em Teologia (ITF

Petrópolis), Psicologia (Universidade

Católica de Petrópolis), Mestre em

Educação (UERJ) e Doutora em Meio

Ambiente (UERJ). Formada em

Terapias Holísticas (ASBAMTHO).

Educadora social há 25 anos

Seção Cinema

Reinado José de Lima

Professor graduado em Pedagogia e

Coordenador Pedagógico do Centro

Educacional Canto de Criar – Areal

(RJ)

Maristela Barenco

Corrêa de Mello

(24) 2237-5801 [email protected]