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VALESCA XAVIER MOURA JORGE ALIANÇAS FAMILIARES E FORMAÇÃO DA ELITE NA FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA LUZ DOS PINHAIS (1693-1750) Monografia de conclusão do Curso de Graduação em História, Setor de Ciências Humanas Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná, apresentada a disciplina Estágio Supervisionado em Pesquisa Histórica. Orientador: Professor Sergio Odilon Nadalin CURITIBA 2007

ALIANÇAS FAMILIARES E FORMAÇÃO DA ELITE NA … · A colonização do sul da América portuguesa começou com uma expedição enviada pelo rei D. João III no ano de 1531, comandada

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VALESCA XAVIER MOURA JORGE ALIANÇAS FAMILIARES E FORMAÇÃO DA ELITE NA FREGUESIA

DE NOSSA SENHORA DA LUZ DOS PINHAIS (1693-1750)

Monografia de conclusão do Curso de Graduação em História, Setor de Ciências Humanas Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná, apresentada a disciplina Estágio Supervisionado em Pesquisa Histórica. Orientador: Professor Sergio Odilon Nadalin

CURITIBA 2007

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 03 CAPÍTULO 1 – Os Campos de Curitiba.................................................................. 05 1.1. – A Ocupação da América Portuguesa Meridional .............................................. 08 1.2. – A Ocupação dos Sertões de Curitiba ................................................................. 09 1.3. – A Fundação da vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais ............................... 12 1.4. - As Câmaras e o ofício da vereança na América português ................................ 16 1.5. – As primeiras eleições na vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais CAPÍTULO 2 – A Primeira Elite Curitibana e a Câmara Municipal ................. 20 2.1. Os “patriarcas povoadores” de Curitiba e as funções de vereança ...................... 22 2.2. Os “patriarcas povoadores” .................................................................................. 23 2.3. A posse de terras e a ocupação dos cargos camarários ........................................ 28 2.4. A posse de cativos como diferenciador social....................................................... 34 2.5. A relação entre os poderes político e militar ........................................................ 36 2.6. A elite curitibana ................................................................................................... 37 CAPÍTULO 3 - A família como definidor social ..................................................... 41 3.1. A primeira elite e a família ................................................................................... 48 3.2. Os descendentes da elite ....................................................................................... 51 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 65 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................... 68 ANEXOS .................................................................................................................... 71

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Introdução

A monografia aqui apresentada é resultado de uma pesquisa de iniciação

científica, vinculada ao projeto “Formação da Sociedade Paranaense: População,

Administração e Espaços de Sociabilidade”, realizado pelo Centro de Documentação e

Pesquisa dos Domínios Portugueses – CEDOPE – do Departamento de História da

Universidade Federal do Paraná. Meu trabalho “Alianças familiares e Sociabilidades

Coloniais na Freguesia de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais” contou com a orientação

da professora doutora Maria Luiza Andreazza. O objetivo da pesquisa era averiguar as

relações familiares firmadas pela elite local, iniciando no ano de 1693, momento de

criação da vila e estendendo a analise por todo século XVIII. Entretanto ao começar a

pesquisa se observou que em finais do século XVII não havia uma elite estruturada, ou

seja, a elite curitibana estava em processo de formação. Desta forma o foco de analise

foi modificado, concluiu-se que seria primordial em um primeiro momento analisar a

formação da elite, depois de traçado o perfil deste grupo social, analisar-se-ia suas

relações familiares.

A baliza temporal inicial é justamente o ano de 1693, momento em que a

freguesia é elevada a condição de vila, instalando-se na localidade a Câmara

Municipal. Este trabalho parte do pressuposto que a instituição camarária trouxe

consigo a necessidade de um novo ordenamento social, mais rígido, pautado na

exclusão, pois, segundo a legislação vigente, nem todos eram aptos a ocuparem os

cargos da câmara. A tarefa de governar a municipalidade ficava a cargo de um grupo

delimitado, os ditos “homens bons”, aqueles com determinadas qualidades

(econômicas e/ou sociais) que os distinguia do restante da população. Participar do

governo local era privilégio para poucos. Desta maneira a implementação da câmara

fez emergir um novo e distinto grupo social na localidade, a elite política.

O primeiro documento que se buscou foi a Ata de elevação de Curitiba a

condição de vila, assinada por sessenta e quatro homens, acredita-se serem os mais

representativos. Todavia nem todos assumiram cargo na câmara, de todos os presentes

em 1693 apenas dezenove chegaram a figurar no círculo administrativo. Sendo assim

delimitou-se que os homens integrantes da primeira elite eram aqueles presentes em

1693 que assumiram algum cargo na câmara. Esse recorte levou a dezenove

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indivíduos, entretanto houve dois indivíduos de grande relevância na ocupação e

colonização das terras paranaenses, Matheus Martins Leme e Balthazar Carrasco.

Desta maneira fechou-se um núcleo de vinte e um homens a serem analisados.

Primeiramente foi realizada uma avaliação das qualidades destes indivíduos, a fim de

entender se havia alguma prerrogativa para a ocupação dos cargos administrativos.

Traçou-se a relação entre essa primeira elite com os povoadores, a posse de terras, a

posse de cativos e cargos de milícias. No intuito de diagnosticar se alguma destes

fatores era comum entre todo o grupo. Após essa etapa, realizou-se a agregação de

dados sobre a família destes homens, com interesse em detectar a permanência ou não

destas primeiras famílias na esfera camarária através de seus descendentes (filhos e

genros). Outro ponto analisado foram as alianças familiares, via casamento e batismo,

engendradas por essa elite na intenção de verificar se as relações extrapolavam a esfera

administrativa e chegavam a constituir laços familiares.

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Capítulo 1

Os campos de Curitiba.

1.1. A ocupação da América Portuguesa Meridional

A colonização do sul da América portuguesa começou com uma expedição

enviada pelo rei D. João III no ano de 1531, comandada por Martim Afonso de Sousa.

A real ocupação das terras americanas por parte da Coroa se inicia trinta anos após a

descoberta, com o temor de perder o território recentemente descoberto e a cobiça por

riquezas fez o governo português incentivar a colonização da Terra de Santa Cruz. “ A

expedição de Martim Afonso em 1530 marcou uma nova etapa: a passagem do regime

de feitorias para uma experiência colonizadora, visando ocupar e explorar o litoral de

maneira mais contínua [...] um ajustamento que pudesse levar tanto a manutenção da

posse quanto à ampliação das bases comerciais”1Para cumprir o objetivo a Coroa

adotou o sistema de capitanias hereditária, já experimentado com sucesso nas ilhas

atlânticas. A América portuguesa fora dividida em grandes faixas de terra que foram

doadas a alguns homens, chamados de donatários, que tinham como principal objetivo

colonizar as recém adquiridas posses. Inicialmente esse sistema era favorável a ambas

as partes, pois, para Portugal, legitimava sua posse sem muitos custos e, para os

donatários, a esperança das riquezas os estimulava a ocupar e explorar suas terras,

cumprindo assim o objetivo colonizador.

Martim Afonso e seu irmão Pero Lopes foram enviados ao extremo sul da

América portuguesa, e cada qual recebeu uma capitania, iniciando oficialmente nessa

região, a ocupação das terras pelos portugueses.

No sentido sul-norte, iniciando-se no ponto extremo em que o meridiano de Tordesilhas tocava a linha do litoral, a primeira porção de terra (capitania de Sant’Ana) coube a Pero Lopes. Em seguida, vinha a capitania de Martim Afonso de Souza, São Vicente, que se estendia até a de São Tomé, do donatário Pero de Góis. As terras de Martim Afonso, porém, eram segmentadas pela capitania de Santo Amaro, também pertencente a Pero

1 SALGADO, Graça. (org.) Fiscais e Meirinhos; a administração no Brasil colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p. 49.

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Lopes. Ou seja, todo o território do extremo sul das terras portuguesas ficou em mãos dos dois irmãos. Nos anos que se seguiram, por questões sucessórias, essas capitanias foram objeto de diversas disputas entre os herdeiros de ambos os irmãos. 2

Os irmãos e seus descendentes passaram a representar as autoridades máximas

da região. No entanto, muitas vezes designavam outros oficiais que respondiam por

eles, devido sua ausência, ou mesmo seu desinteresse.

A região sul desfrutou de grande autonomia nos primeiros dois séculos de

colonização. A Coroa centrava sua atenção no nordeste açucareiro que rendia aos

cofres portugueses bons lucros ao contrário das capitanias meridionais, “esquecidas”

em sua economia de subsistência. Sendo assim criou-se ao longo dos anos um modo de

vida própria, desta região que passa a ser capitaneada pela vila de São Paulo do

Piratininga.

São Paulo situava-se além da serra do mar, voltando-se assim para o interior do continente e não para o oceano, como a maioria das cidades até aqui instaladas pelos portugueses. Os moradores de São Paulo traçaram seu próprio caminho sem o estorvo da fiscalização incomoda dos delegados do Rei. 3

As décadas subseqüentes a sua fundação, em 1554, foram bastante conturbadas

para a vila de São Paulo. A pressão das populações indígenas não subservientes ao

jugo jesuítico/paulista faz com que a vila tenha um histórico de enfrentamentos que

quase a extinguem. Entretanto, a sorte foi favorável aos paulistas que acabam por

estabilizar definitivamente seu núcleo populacional. A partir do último quartel do

século XVI, inicia-se um movimento constante de expansão, inicia-se a atividade que

vai identificar os paulistas durante todo o período colonial: a bandeira.

A bandeira tinha dois objetivos, o principal era capturar índios para serem

usados como mão-de-obra escrava e em certos momentos vendê-los para o mercado

interno. Outro objetivo era explorar as regiões em busca de metais preciosos. As

entradas para o sertão envolviam famílias inteiras e geravam bons lucros, pois alguns

cativos eram vendidos, enquanto outros trabalhavam na agricultura aumentando a

produção.

2 SANTOS, Antonio Cesar de Almeida; PEREIRA, Magnus Roberto de Mello. Para o Bom Regime da República: ouvidores e câmaras municipais no Brasil colonial. Monumenta, inverno 2000, Curitiba: Aos Quatro Ventos, v. 3, n. 10, 2001, pp. 1-19, p. 2. 3 ARAÚJO, Emanuel. Tão Vasto, Tão Ermo, Tão Longe. IN: Revisão do Paraíso: 500 anos e continuamos os mesmos. Mary Del Priori. Rio de Janeiro: Campus, 2000, p. 55.

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Alguns dos colonos que participaram das expedições, sem dúvida alimentavam certa esperança de alcançar a riqueza instantânea que um descobrimento de prata traria, mas a vasta maioria alistou-se nesta aventura de olho na oportunidade de criar ou expandir suas posses de escravos.4

Essa prática que alimentava a vida paulista foi responsável pelo descobrimento

de diversas regiões e ocupação do extremo sul brasileiro, essa atividade gerava grande

mobilidade. “Estes homens que foram dizimando e escravizando índios ou perseguindo

o sonho do ouro copioso, que empurraram as fronteiras do Brasil”5, nessa jornada pelos

campos desconhecidos, seguindo a lógica aventureira do homem português, de

procurar a riqueza onde quer que ela esteja. Os paulistas se lançaram ao destino

esperando encontrar o sonho da fortuna, e desta forma abriram caminhos para novas

fronteiras.

As terras “paranaenses” receberam desde cedo à visita dos bandeirantes

paulistas, principalmente a região oeste, Guairá, onde havia numerosas aldeias

indígenas nos séculos XVI e XVII. Muitos paulistas direcionavam suas bandeiras para

a região, em busca de cativos guaranis. Nas primeiras décadas do século XVII, inicia-

se a chegada ao litoral paranaense, alguns paulistas partindo de São Vicente e seguindo

o caminho do mar chegaram a Paranaguá, local onde já se sabia da existência de

algumas minas de ouro. Diferente da região oeste algumas investidas ao litoral tinham

objetivo de fixação, pois tal região apresentava outros atrativos além dos indígenas. Na

primeira metade do século XVII, Paranaguá se torna vila denominada de Nossa

Senhora do Rosário de Paranaguá, fundada em 1648, tornando-se o posto mais

avançado das conquistas portuguesas nas costas meridionais do Brasil6. O donatário

das terras paranaenses, o Marques de Cascais, herdeiro de Pero Lopes nomeou Gabriel

de Lara como Capitão e seu representante, responsável pelo ordenamento social e

político da nova localidade.

Alguns faiscadores residentes em Paranaguá começaram a explorar as áreas

adjacentes ao litoral. Desta maneira subiram em direção ao planalto, seguindo a

montante de alguns rios, e atravessam a serra que separa o litoral do planalto,

4 MONTEIRO, John Manuel. Negros da Terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994, p. 61. 5 ARAÚJO, Emanuel. Tão Vasto, Tão Ermo, Tão Longe. IN: Revisão do Paraíso: 500 anos e continuamos os mesmos. Mary Del Priori. Rio de Janeiro: Campus, 2000, p. 58. 6 RODERJAN, Roselys Vellozo. Os Curitibanos e a Formação de Comunidades campeiras no Brasil Meridional (séculos XVI a XIX). Curitiba: Works Informática, 1992.

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alcançando os sertões7 de Curitiba. “Desde os primeiros tempos de povoamento, foi o

ouro, ou melhor, a ambição pelo ouro que levou moradores de São Vicente, Cananéia,

Itanhaem e outras regiões a se deslocarem para Paranaguá e o planalto curitibano”.8

Outra riqueza que impulsionou colonos para a região dos sertões curitibanos,

foram os indígenas. Diversos homens residentes na capitania de São Vicente dedicados

a “caça” aos índios, formavam bandeiras para explorar os sertões do sul e centro oeste

da colônia. Na região de Curitiba passaram diversas bandeiras em meados do século

XVII, inserindo-se dentro da estrutura exploradora bandeirante. “O índio foi, no sul do

Brasil, o braço de trabalho sobre o qual foi possível a colonização e o estabelecimento

das instituições portuguesas”. 9

A esperança do ouro e a captura de índios trouxeram aos campos curitibanos

seus primeiros povoadores. “A escravização de indígenas e a constante procura de

metais teriam, por conseqüência, ainda na primeira metade do século XVII, a ocupação

portuguesa de terras do litoral e do primeiro planalto paranaense”. 10

1.2. A ocupação dos sertões de Curitiba

A princípio, pode-se aferir que foi o desejo de encontrar riquezas que atraíram

para Curitiba seus habitantes mais antigos. Embora a migração não fosse um

movimento aleatório, respondia a escolhas individuais e a motivos particulares. Cada

homem ou família teve uma razão própria para migrar para os campos curitibanos.

Podem-se identificar dois tipos de homens que iniciam a ocupação do território

curitibano. Os primeiros são mineradores que chegam sozinhos em Curitiba buscando

ouro, e tem por objetivo simples, encontrar riqueza. Aqueles que chegam trazendo

consigo toda sua família não tinham como objetivo apenas a exploração, e sim a

fixação a terra. “Em algumas bandeiras ao sul, os futuros sesmeiros se deslocavam com

a família, escravos negros e índios, empregados, ferramentas e gado”.11

No decorrer do texto poderá se observar que estes homens que chegam a

Curitiba com suas famílias se converterão nos patriarcas da elite local, tornando-se

7 Regiões desconhecidas e despovoadas. 8 RITTER. Maria Lourdes. As Sesmarias do Paraná no século XVIII. Curitiba: Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense, 1980, p.119. 9 BALHANA, Altiva Pilatti, MACHADO, Brasil Pinheiro, WESTPHALEN, Cecília. História do Paraná. Curitiba: Grafipar, 1969, p. 26. 10 Ibid, p. 26 11 RITTER, op. cit. , p. 89.

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sesmeiros e camaristas, condições esta herdadas por seus descendentes. O simples

status de casados irá diferenciá-los de muitos indivíduos no seio da comunidade recém

estabelecida de fato, o estado de casado era “condição honrada e venerada nas

tradições ibéricas herdadas pela Colônia” 12.

A capitania de São Vicente era o local de origem da maioria dos homens e

famílias que desembarcaram nas terras paranaenses. Deste modo trouxeram consigo o

modo de vida, as crenças, os valores e todo aparato social e moral que moldava o

modus vivendi da capitania paulista. Esse estilo de colonização, ocorrida até o final do

século XVII, ocorreu de forma espontânea, na qual as populações carregavam consigo

os costumes e instituições arraigados. 13

O ato que se pode de chamar inaugural da futura freguesia foi a elevação da

Capela de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, no ano de 1654. No período colonial, a

construção de capelas era uma demonstração de fixação do homem a terra. Mas são as

cartas de sesmaria que marcam a real ancoragem de algumas famílias nas terras

paranaenses. Os primeiros registros de sesmaria dão conta da presença de povoadores

curitibanos requerendo terra a partir de 1661. O primeiro registro de petição de terra

datado de 24 de junho de1661 é de Balthazar Carrasco dos Reis, que argumenta morar

na região há alguns anos com toda sua família e necessitava de terras para agasalhar

seu gado, plantar e edificar morada.

Em meados do século XVII, Curitiba recebe seus primeiros habitantes, homens

que trouxeram toda sua família com a finalidade de aqui constituir morada, o pedido de

terra feito por Balthazar demonstra o interesse em fixar raízes nos campos curitibanos.

1.3. A fundação da vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba

No ano de 1668, ocorreu a ereção do pelourinho. Este ato representou a

efetivação e o reconhecimento da posse das terras curitibanas, pois “o pelourinho era o

símbolo da autoridade regional a constituir ou efetivamente constituída”14. No entanto,

tal ação não partiu das autoridades portuguesas e sim dos moradores mais

representativos, aqueles que desejavam um maior ordenamento social e o

12 VAINFAS, Ronaldo. Trópico dos Pecados: Moral, Sexualidade e Inquisição no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1989, p. 93. 13 SANTOS; PEREIRA. op. cit. , p. 09. 14 MARTINS, Romário. História do Paraná. Curitiba: Travessa dos Editores, 1995, p. 257.

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reconhecimento da localidade. A ata de ereção do Pelourinho foi assinada por dezoito

homens, entre esses o Capitão de Paranaguá, e os homens bons locais.

[...] nesta vila de Nossa Senhora da Lux dos Pinhais, estando o capitão-mor Gabriel de Lara nesta dita vila, em presença de mim Tabelião fizeram os moradores desta dita vila requerimento perante ele dizendo todos a uma voz que estavam povoando estes campos de Curitiba em terras e limites da demarcação do Sr. Marques de Cascais, e assim lhe requeriam como Capitão-mor e Procurador bastante do dito senhor mandasse levantar pelourinho em seu nome [...]. 15

Na história de Curitiba os colonizadores detiveram importância decisiva na

consolidação e construção da freguesia. Por se tratar de uma região distante do centro

administrativo e jurídico e que não apresentava grandes atrativos econômicos que

despertassem o interesse da Coroa, pôde viver em grande parte por sua própria conta.

Essa autonomia também era vivida em São Paulo durante o século XVII, como

apresentou Muriel Nazzari16. Sendo assim quem desenhou os primórdios da história

curitibana foram seus moradores mais representativos.

No dia 24 de março de 1693 sessenta e quatro homens se reuniram – acredita-se

serem esses os nomes de maior representatividade da sociedade local – e fazem um

requerimento ao donatário, o já mencionado Marquês de Cascais, clamando por justiça.

Argumentavam que a vila estava crescendo e também os “ensultos de roubo”, e que o

“povo estava desamparado de governo e disciplina da justiça”. Segundo as ordenações

régias, para a criação de justiça era necessário o número mínimo de trinta homens,

sendo que a dita freguesia já contava com mais de noventa homens.

[...] e pó ser já hoje muito crescido por passarem de noventa homens e quanto mais cresce a gente se vão fazendo maiores desaforos...como é notório e constante pelos casos que tem surgido e daqui em diante será pior o que tudo causa o estar esse dito povo tão desamparado de governo e disciplina da justiça...seja servido promitir o que aja justiça nesta dita vila, pois nela a gente bastante para exercer os cargos da dita justiça que faz numero de três povos, ordena Sua majestade que havendo 30 homens se eleja justiça..o nosso pedir ser justo e bem comum de todo esse povo, o mande ajuntar e fazer eleição e criar justiça e câmara formada. 17

15 Trecho da Ata de Levantamento do Pelourinho. In: Boletim do Arquivo Municipal de Curitiba. v. 1 16 NAZZARI, Muriel. O desaparecimento do dote: mulheres, famílias e mudança social em São Paulo, Brasil (1600-1900). São Paulo: Companhia das Letras, 2001. 17 Trecho da Ata de Requerimento para Criação das Justiças. In: Boletim do Arquivo Municipal de Curitiba. v. 1.

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A idéia de ordem era inerente a esta sociedade, para a qual, “antes de ser uma

norma de direito formal, a ordem era uma norma espontânea de vida”. O homem

colonial tinha consciência da necessidade da ordem necessária para o viver em

sociedade, e o papel dos governantes locais para gerir o ordenamento. Esses

conhecimentos de estrutura hierárquica eram intrínsecos aos colonos.

Os indivíduos que foram para o ultramar levaram consigo uma cultura e uma experiência de vida baseadas na percepção de que o mundo, a “ordem natural das coisas” era hierarquizado; de que as pessoas, por suas “qualidades” naturais e sociais, ocupavam posições distintas e desiguais na sociedade. Na América, assim com em outras partes do Império, esta visão seria reforçada pela idéia de conquista, pelas lutas contra o gentio e pela escravidão. Conquistas e lutas que, feitas em nome del Rey, deveriam ser recompensadas com mercês – títulos, ofícios e terras. Nada mais sonhado pelos “conquistadores” – em sua maioria homens provenientes de uma pequena fidalguia ou mesmo da “ralé” – do que a possibilidade de um alargamento de seu cabedal material, social, político e simbólico. Mais uma vez o Novo Mundo – assim como vários outros territórios e domínios ultramarinos de Portugal – representava para aqueles homens a possibilidade de mudar de “qualidade”, de ingressar na nobreza da terra e, por conseguinte, de “mandar” em outros homens – e mulheres. 18

A vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais era fruto da colonização destes

homens conhecedores das hierarquias e necessidades sociais. Em finais do século XVII

a localidade estava carente de justiça e exigia urgentemente um maior ordenamento

social. Fazia-se necessário constituir Câmara, ou seja, eleger aqueles homens que

presumia serem capazes de comandar a nova vila, dirigindo o funcionamento social,

político e econômico da nova localidade. Segundo as Ordenações Filipinas, eram as

câmaras responsáveis pelas funções administrativas, judiciais, fazendárias e de polícia

das vilas coloniais.

Certamente as autoridades qualificadas a retificarem o pedido desse povoado

não se colocariam contra, pois, para Portugal, representaria a posse absoluta da região

em nome da Coroa. O interesse em instituir a vila de Curitiba com poder de justiça

partiu da população, ou melhor, dos homens interessados em gerir o cotidiano da

comunidade. Entretanto, “[...] criar/fundar um município era muito mais que um mero

arranjo de uma pequena povoação [...]” 19. A Coroa deveria compartilhar desse

interesse, “[...] a vila se submete ao papel de braço administrativo da centralização

18 FRAGOSO, J.; BICALHO, M. F. B.; GOUVÊA, M. F. S. (org). O Antigo Regime nos Trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, p. 24. 19 SANTOS, Antonio Cesar de Almeida. Monumenta. MARCONDES, Moyses. Documentos para a História do Paraná. Rio de Janeyro, Typographia do Annuario do Brasil, 1923. Curitiba: Aos Quatrro Ventos, 2000. p.06.

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monárquica [...]. A própria condição de vila, habilitada a possuir a Câmara, depende da

vontade régia” 20.

1.4. As Câmaras e o ofício da vereança na América portuguesa

As Câmaras ultramarinas foram instituições de grande importância no

funcionamento administrativo do império português. Estes conselhos de moradores

eram responsáveis por importantes funções de gerenciamento local das possessões de

além mar. Mostravam-se relevantes por oferecerem ao império coerência operacional e

certo grau de identidade. As câmaras municipais estavam presentes em toda metrópole

e através das conquistas essa organização de poder local se espalhou pelas mais

longínquas regiões do Império português. Esta forma de ordenamento político “[...] era

um modelo quase universal e relativamente uniforme de organização local em quase

todo território da monarquia portuguesa” 21.

A historiografia tem enfatizado a importância das instituições camarárias. Para

Charles Boxer, tais instituições foram fundamentais na construção e na manutenção do

Império ultramarino e representaram um dos pilares da sociedade colonial. Divergente

dessa idéia encontra-se Capistrano de Abreu22, que não acreditava que as câmaras

tivessem participação efetiva nos momentos decisivos, tanto nas colônias como em

Portugal; assim, não debitava a essa instituição a importância que hoje a historiografia

lhe confia. Nota-se que este autor não fazia distinções entre as organizações camarárias

dos grandes centros e do interior, assim como toda a historiografia que se refere às

câmaras entre 1930 e 1960. Segundo Arno Wehling, os autores desse período não

levaram em conta as diferenças regionais, as diferentes fases do Brasil e a diversidade

da estrutura social entre as vilas coloniais. “As câmaras do sertão não divergiam das do

litoral, isto é, possuíam direito de petição, podiam taxar os gêneros de produção local,

mas eram antes de tudo corporações meramente administrativas.” 23 Atualmente

encontramos uma historiografia que aponta as diferenças e especificidades de cada

20 FAORO, Raymundo Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. Porto Alegre: Globo; São Paulo: Ed. Da Universidade de São Paulo, 1975, p.183. 21BICALHO, Maria Fernanda. As câmaras ultramarinas e o governo do Império. IN: O Antigo Regime nos trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculosXVI-XVIII). João Fragoso, Maria Fernanda Bicalho e Maria de Fátima Gouvêa(org). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, p. 191. 22

ABREU, João Capistrano de. Capítulos de história colonial: 1500-1800. Rio de Janeiro: Livraria Briguiet – Sociedade Capistrano de Abreu, 1954.

23 Ibid., p. 227.

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instituição, segundo a sua localização e contexto político/econômico. “De qualquer

maneira, havia muita variação quanto à composição das câmaras, seja no reino, seja

nas diferentes regiões do ultramar [...;] cada câmara – reinol e ultramarina – tinha uma

configuração própria e um equilíbrio historicamente tecido [...]”24. Além disso, esses

estudos não focalizam apenas as Câmaras brasileiras, mas as inserem em um maior

universo, do Império português, que se estende por quatro continentes.

As câmaras coloniais, instituições de suma importância para o cotidiano

colonial, eram regidas pelas mesmas leis metropolitanas, que “regulamentavam

legalmente os conselhos em seu funcionamento”25. Para o período estudado eram

vigentes as Ordenações Filipinas, que formavam a base de toda a estrutura jurídica das

sociedades metropolitana e colonial.

Entretanto, a historiografia que se dedica a estudar as organizações políticas

portuguesas tem demonstrado a plasticidade de atuação das câmaras municipais, tanto

no reino como no ultramar. Em todas as áreas do Império ultramarino português, estas

instituições jurídico-administrativas tiveram que conviver com elementos materiais

novos, que refletiram sobre a realidade e a natureza das entidades transplantadas.

Porém, havia pontos que faziam com que os conselhos camarários se

assemelhassem a ponto de serem consideradas instituições gêmeas. Maria Fernanda

Bicalho considera que as grandes semelhanças entre as câmaras do Império português

eram os pressupostos que pautavam a composição dos conselhos camarários. “A

eleição do corpo governativo da maioria das municipalidades ultramarinas, respeitava,

dentro do possível, o postulado vigente no reino, de que os cargos concelhios deveriam

ser preenchidos pela nobreza da terra” 26.

A ocupação dos postos administrativos seguia a lógica das leis metropolitanas

de que apenas os principais homens da terra deveriam obter cargos na vereança. Para

alçar a esses postos os indivíduos deveriam ser considerados homens bons, ou seja,

aqueles que reuniam

as condições para pertencer a certo estrato social, distinto o bastante para autorizá-lo a manifestar sua opinião e a exercer determinados cargos [...], aqueles que

24 A obra “O Antigo regime nos Trópicos: a dinâmica imperial portuguesa”, demonstra essa preocupação com o global ao mesmo tempo retratam as especificidades de cada localidade analisada. Juntamente com os autores inseridos nesse livro como Maria Fernanda Bicalho, Maria de Fátima Gôlvea, Antonio Manuel Hespanha, entre outros, ver também Charles R. Boxer, O Império Ultramarino Português. 25 SALGADO, op. cit. , p. 69. 26 BICALHO, op. cit. , p. 203.

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podiam participar da governança municipal, elegendo e sendo eleitos para os cargos públicos que estavam reunidos na câmara. 27

João Fragoso aponta que não há uma clara definição de ‘homem bom’ nas

Ordenações Filipinas.28 De fato, a noção de “homem bom” contida no código filipino

remete a de cidadão, ou seja, os indivíduos masculinos que costumam andar na

governança . Esses homens aptos a ocuparem os postos da Câmara Municipal,

formavam um grupo que podemos denominar de elite política, detentora de grande

prestígio social e muitas vezes dona de consideráveis fortunas.

O exercício das vereanças era em todo Império português uma das formas de

alçar maior prestígio social. “O cargo público em sentido mais amplo transforma o

titular em autoridade” 29, que gozava de bons privilégios. Desse modo, “[...] tornar-se

camarista primeiramente significava ser investido de autoridade perante o resto dos

moradores locais, o que por si só já conferia prestígio aos indivíduos”30. No contexto

colonial ser eleito para um cargo público “[...] era visto como uma dignidade atribuída

pelo monarca que correspondiam prestígio honra e privilégios, não apenas no nível

mundano, mas com resultados sociais práticos” 31. Obter um cargo no corpo

governativo local concedia um status especial aos encarregados, pois eram estes

responsáveis pelo ordenamento da sociedade, assim a ocupação de cargos nas

instituições camarárias conferia o acesso a um estatuto social diferenciado e

privilegiado.

No Antigo Regime, o processo eleitoral, para cargos de vereança, foi criado em

meados do século XIV e vigorou até o século XIX. As eleições para os cargos de

oficiais da Câmara eram trienais, no entanto os mandatos eram anuais, e recebiam o

nome de eleição de pelouro32.

O processo eleitoral segundo as ordenações filipinas deveria ocorrer da seguinte

forma: primeiramente era convocado o povo33 e os homens bons, esses votavam

27 DICIONÁRIO DO BRASIL COLONIAL (1500- 1808). VAINFAS, Ronaldo (org) Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2000. 28 FRAGOSO, op cit. , 51. 29 FAORO, op. cit. , p.175. 30 DIAS, Madalena Marques. A formação das elites numa vila colonial paulista: Mogi das Cruzes (1608-1646). São Paulo: 2001, p. 96. 31 WEHLING, Arno e WEHLING, M. José. O Funcionário Colonial entre a Sociedade e o Rei. IN: Revisão do Paraíso: 500 anos e continuamos os mesmos. Mary Del Priori. Rio de Janeiro: Campus, 2000, p. 143. 32 Pelouro: bolas de cera onde eram guardadas as listas com o nome dos eleitos dos anos vindouros. 33 Nas ordenações não consta nenhuma referencia a quem seria o povo, acredita-se que eram aqueles aptos a votarem, homens, maiores de idade, que possuíssem alguma renda.

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secretamente em seis indivíduos, os eleitores. E este grupo separado em três duplas

escolhia os oficiais da Câmara para os três anos vindouros. As listas com o nome dos

eleitos eram apuradas pelo presidente da eleição, levando em conta alguns princípios

legais e após isso eram feitas três novas listas, uma para cada ano, contendo o nome

dos eleitos e o cargo que lhe caberia, depois as listagens eram fechadas em pelouro e

guardadas dentro de um cofre. Ao final de cada ano, um menino, aleatoriamente

escolhido, retirava um dos pelouros, que era então aberto e tinha sua lista revelada. Os

nomes contidos na lista seriam os ocupantes dos principais cargos, juiz, vereador e

procurador. Eventualmente, quando um indivíduo não assumia por qualquer motivo,

era realizada uma nova eleição, denominada eleição de barrete, nesse processo

participavam apenas os oficiais da câmara, estes votavam em um nome e depositavam

o voto em um barrete34, que eram apurados e o indivíduo mais votado assumia o cargo

que se encontrava em aberto.

1 – Esquema do Processo Eleitoral.

Reunião do povo e homens-bons para a escolha dos eleitores. Esse grupo elegia os seis eleitores.

Os 6 eleitores mais votados, formavam 3 duplas, cada uma das duplas elaborava uma lista contendo o nome daqueles que eles julgavam capazes de ocupar os cargos de juizes,vereadores e procurador.

Entrega da lista ao presidente da eleição, que apura e elabora novas listas, três para juizes, três para vereadores e três para procuradores, uma para cada ano contendo todos os nomes e respectivos cargos.

Cada uma das listas elaboradas pelo presidente de eleição era depositada em um pelouro distinto, que eram guardados em um cofre com repartições.

No dia marcado para a eleição um menino aleatoriamente escolhido retirava um pelouro, a lista contida neste era revelada. Assim os nomes declarados assumiam os cargos que lhes cabiam.

Fonte: Eleições da Câmara Municipal de Curitiba. Antonio César de Almeida Santos e Rosangela Ferreira dos Santos

34 Barrete: carapuça, espécie de chapéu sem aba, nesse objeto eram depositados os votos.

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Nas eleições, eram escolhidos dois juízes ordinários, de dois a quatro

vereadores e um procurador. Havia outros cargos de menor importância, como juiz de

órfãos, tesoureiro, escrivão, porteiro, carcereiro. Estes cargos menores eram indicados

pelos oficiais da Câmara, não davam direito a voto, mas possuíam remuneração.

Cabia aos juízes ordinários apurar e julgar pequenos delitos e arbitrar conflitos

entre as partes, desde que os mesmos fossem de valores modestos. Na prática, a função

desses juízes era operar como primeira instância do judiciário. Cabia-lhes ainda

presidir as reuniões da Câmara.

Os vereadores ocupavam-se em determinar os impostos, fazer as posturas e os

editais, fiscalizar os oficiais da municipalidade, assim como avaliar o estado dos bens

do município e administra.

Por fim, ao procurador tocava o papel de tesoureiro e o cumprimento das

deliberações dos vereadores. Ocupar os principais cargos camarários gerava ao oficial

maior prestígio, ser escrivão era de suma importância, mas não tinha o mesmo conceito

perante a sociedade. No entanto em Curitiba alguns escrivões foram eleitos para os

principais cargos em outros anos, mostrando que tal cargo também era ocupado por

homens bons.

1.5. As primeiras eleições na vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais

No dia 29 de março de 1693, foi criada em Curitiba a Câmara Municipal, e

realizada a primeira eleição. Foram eleitos pela população os seis eleitores e estes

elegeram o corpo governativo. Os primeiros seis homens-bons indicados para eleitores

foram: Agostinho de Figueredo, Luiz de Góes, Garcia Rodrigues Velho, João Leme da

Silva, Gaspar Carrasco dos Reis e Paulo da Costa Leme. E estes nomearam Antonio da

Costa Veloso e Manoel Soares para juízes ordinários, Garcia Rodrigues Velho, Jose

Pereira Quevedo e Antonio dos Reis Cavalheiro para vereadores e Aleixo Leme Cabral

para procurador. Esses homens e suas famílias serão analisados com maior detalhe no

próximo capítulo.

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Aos vinte e nove dias do mês de março da era de 1693 anos, nesta Igreja de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais por despacho desta petissão se ajuntou o povo todo desta vila e pelo capitão dela lhe foi perguntado o que todos responderam a voz alta lhe queriasse justiça para com isso, ver se evitavam os muitos desaforos que nela se faziam, o que vendo o dito capitão era justo o que pedião respondeu que nomeassem seis homens de sã consciência para fazerem os oficiais que haviam de servir. 35

Nenhuma autoridade real se encontrava presente na localidade, foram os

moradores e seus conhecimentos intrínsecos sobre a estrutura administrativa que os

levaram a constituir a Câmara Municipal. As regras do processo eleitoral preconizadas

pelas ordenações, não foram seguidas a rigor. Alguns pontos foram ignorados outros

adequados à realidade local. “A primeira eleição e as seguintes não seguiram, de fato, o

modelo previsto na legislação.” 36

Para a primeira eleição realizada em Curitiba o caso de Garcia Rodrigues Velho

mostra a o ‘esquecimento’ de algumas normas. Este fora indicado como eleitor; no

entanto, também foi eleito como vereador, o que, segundo as Ordenações, não era

permitido.

As eleições que deveriam ser realizadas a cada três anos e, em Nossa Senhora

da Luz dos Pinhais, eram anuais, ou seja, não seguiam as resoluções normativas

regidas pela Coroa portuguesa. Somente após 1721 a situação da sede administrativa

local fora regularizada. Nesse ano chega a Curitiba o oficial real Ouvidor Rafael Pires

Pardinho, responsável por fiscalizar o ordenamento das vilas surgidas ao sul da

América portuguesa. O Ouvidor passou dois anos fazendo correições nas vilas de

Laguna, São Francisco, Paranaguá e Curitiba. Em carta ao rei Dom João V, teceu

algumas impressões das vilas de Curitiba e Paranaguá.37

No ano de 1693 se levantou essa povoação em vila por aclamação dos moradores [...] fizeram eleição de Juizes Ordinários, e oficiais da Câmara, com que até agora se governaram, mas com tantos abusos, como se pode presumir de uma tão remota terra, e onde não chegou Ministro algum. Atrai a mim aqueles homens, e aos bons, que apareceram, mostrar-lhes os erros, em que tinham caído, e encaminha-los para o futuro procederem com mais acerto. 38

35 Trecho da Ata Reunião do Povo e a Escolha dos Eleitores. In: Boletim do Arquivo Municipal de Curitiba. v. 1. 36 SANTOS, A. C. A; SANTOS, R. M. F. (org). Eleições da Câmara Municipal de Curitiba (1748 a 1827). Curitiba: aos Quatro Ventos, 2003, p. 19. 37 Ver anexo 2. 38 Carta do Ouvidor Geral de São Paulo Raphael Pires Pardinho ao Rei D. João V, 30 de agosto de 1721. PEREIRA, M. R. de M.; SANTOS, A. C. de A, op. cit. pg. 23.

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Como resultado, o Ouvidor Pardinho deixou 128 provimentos para a vila de

Curitiba, com a finalidade de organizar o andamento da localidade. Em relação às

eleições, diz ele no provimento 19:

E no fazer das eleições dos oficiais que hão de servir no Conselho...fazendo eleição

para 3 anos por Pelouros como ele o Ouvidor Geral lhes deixa feita; e não mais da

eleição de um ano como até agora se fez; pois nesse povo há pessoas bastantes para eleição trienal. 39

Após a visita do Ouvidor, a Câmara sofreu algumas modificações, pois até

aquele momento o curso das atividades administrativas estava pautado na vontade dos

oficiais camarários, que gozavam de grande autonomia política. A vila de Curitiba teve

uma nova estruturação em suas eleições, e o corpo eleitoral também sofreu alterações.

Como pode ser observado no quadro 1, ocorreu o aumento do número de indivíduos

que foram eleitos para a câmara de Curitiba após a visitação do Ouvidor Pardinho.

Quadro 1: Ocupação efetiva dos ofícios camarários (1693/1750)

Número de cargos efetivos Entre 1693/1720 Entre 1721/1750

Nº absoluto de Individuos

Percentual Nº absoluto de Individuos

Percentual

1 9 6,5% 25 19%

2 6 4,5% 16 12%

3 9 6,5% 10 7,5%

4 6 4,5% 12 9%

5 3 2% 5 4%

6 4 3% 3 2%

7 5 4% 6 4,5%

8 ou + 8 6% 7 5%

TOTAL 50 37% 84 63%

Fonte: Boletins do arquivo municipal de Curitiba.

Nos 57 anos analisados, 134 homens ocuparam os principais postos na Câmara.

Entre 1693 e 1720, apenas 50 homens se dividiram no poder, o que representa apenas

37% do total de camaristas. Nos anos após a correição do Ouvidor, esse número passou

para 84, representando 63%. Após a passagem do oficial da Coroa, que regulamentou o

funcionamento das instituições locais, surge um novo cenário político, com uma maior

participação do restante da população e maior rotatividade de oficiais. 39 Ibid. pg. 35.

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Nos primeiro vinte sete anos de funcionamento camarário apenas nove homens

ocuparam uma vez cargo na câmara. Esse número quase triplica no segundo período,

mostrando que houve um significativo aumento de homens presentes no círculo

político. Para os que ocuparam cargos por duas ou quatro vezes o número também sobe

visivelmente. O que se mantêm quase igual é os que foram eleitos por mais de 5 vezes,

mostrando que nestes cinqüenta e sete anos houve os que fizeram “carreira” dentro da

Câmara, mesmo após a reestruturação de 1721.

Nesse processo é significativa a mudança da configuração camarária. Entre

1693 e 1720, o número de novos governantes não chegada a dois, enquanto que nos

vinte nove anos seguinte quase três novos camaristas eram eleitos por ano.

Observando as mudanças ocorridas pode-se imaginar que nos primeiros anos

em que a instituição vivia de forma não regulamentada, foi formado um pequeno grupo

que se revezava na ocupação de cargos. Como o funcionamento da câmara estava à

mercê das vontades da elite local, estes operavam o aparelho administrativo segundo

suas vontades.

Durante todo o período colonial as câmaras municipais representavam o lugar

comum das elites, e os que adentravam a esfera política eram considerados homens de

destaque e prestígio. Sendo assim, o ponto de partida para identificação da primeira

elite curitibana foi a câmara municipal.

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Capítulo 2

A Primeira Elite Curitibana e a Câmara Municipal

Em fins do século XVII, na freguesia de Nossa Senhora da Luz, a sociedade

local estava se ordenando, ou seja, ainda não havia uma hierarquia social muito

definida. A população era formada por uma massa de homens que pouco se

diferenciavam entre si. A instalação da câmara impôs uma nova realidade e um novo

ordenamento social. Somente alguns seriam eleitos para comandar a vida pública,

excluindo grande parte da população. Os escolhidos para tal encargo formavam o

seleto grupo dos homens-bons locais.

Para identificar quem formou a primeira elite local, retornamos o momento da

criação da instituição política. Aos 29 dias do mês de março de 1693, a freguesia de

Nossa Senhora da Luz dos Pinhais é elevada a condição de vila e implementa-se a

câmara municipal. Esse episódio deixou como documentação a ata de ereção, e este foi

o primeiro documento analisado nesta pesquisa, com a finalidade de identificar quem

eram os moradores da vila em finais do século XVII. O documento foi assinado por

sessenta e quatro homens, supostamente os mais representativos.

No entanto, como já fora mencionada a importância dos camaristas frente à

comunidade, decidiu-se investigar quais indivíduos, entre os que assinaram a ata de

elevação da vila, que realmente ocupou cargo na administração pública, ou seja, na

Câmara. Do grupo de sessenta e quatro, dezesseis assumiram em algum ano seguinte o

cargo de juiz, vereador ou procurador. A este grupo foram acrescidos dois sujeitos, o

Capitão Matheus Leme e o Capitão Balthazar Carrasco dos Reis. Pode-se aventar que

estes só não assumiram cargos devido à avançada idade em que ambos se encontravam

no ato da ereção da vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. Entretanto, estes dois

sujeitos detiveram grande importância na formação social da pequena vila e deixam

grande descendência no círculo camarário.

A este grupo agora de dezoito nomes, foram colocados mais três, os eleitores,

aqueles que escolheram os juízes, vereadores e o procurador de 1693. Estes três não

assumem nenhum cargo nos outros anos, entretanto, os outros três eleitores desse ano

figuraram entre os camaristas em outro momento.

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Os eleitores apresentavam ampla importância, pois eram eles que efetivamente

nomeavam os homens aos cargos administrativos, ou seja, ocupavam uma posição de

destaque e relevância. Os eleitores também deveriam ser homens-bons e para alguns

autores estes possuíam mais prestígio que os eleitos.

Entre os que ingressam na elite municipal – isto é, os que Vêem o seu nome incluído nos cadernos eleitorais – só uma pequena parte chega, de facto, a influir de modo determinante no governo local: trata-se daqueles que são escolhidos como Eleitores, os que votarão nas pautas dos elencos camarário. 40

Verificar quem foram os eleitores tem um importante valor para o entendimento

da organização política de qualquer localidade, porém as fontes encontradas para o

período colocado neste trabalho não permitem tal investigação. Pois o livro das Atas

das Eleições Municipais tem o primeiro registro datado em 1748. Acredita-se que

havia registros anteriores, no entanto as primeiras páginas foram “retiradas”. Dessa

forma o foco de atenção voltou-se aos eleitos para os cargos da Câmara.

A análise da elite política passa necessariamente pela Câmara Municipal, ou

melhor, pelo exame das atas da instituição. Para averiguar quem compunha esse

segmento social, foram utilizados os Boletins do Arquivo Municipal de Curitiba,

transcrições dos Livros da Câmara elaborados por Francisco Negrão. A partir desta

documentação foi possível levantar os nomes de quem estava presente na Câmara; no

entanto não se sabe com exatidão quais cargos eram ocupados por esses homens. Até a

o ano de 1720 encontram-se lacunas referente aos cargos, neste período anterior a

correição de Pardinho não havia um livro específico para as Eleições, onde eram

registrado o nome e o cargo do eleito. Sendo assim foram levantados todos os nomes

presentes na câmara entre 1693 e 1750; no entanto, em determinados momentos não se

sabe qual cargo era ocupado. 41

O universo investigativo centrou-se em 21 homens. Dezesseis eleitos para

cargos na câmara, três eleitores de 1693 e dois capitães povoadores. Este grupo é

denominado como primeira elite, ou o foco inicial da formação da elite política

40 VIDIGAL, Luis. No microcosmo social português: uma aproximação comparativa à anatomia das

oligarquias camarárias no fim do Antigo Regime político (1750-1830). O município no mundo português. Funchal: Centro de Estudos de História do Atlântico, 1998. p.124. 41 Ver anexo

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curitibana, pois estavam presentes no momento da criação da vila; ou seja,

participaram do inicio do novo ordenamento social imposto pela instalação da câmara.

Era um momento em que alguns se destacaram por sua origem e experiência e

tomaram para si a função de administrar a economia, a justiça e ordem social.

Quadro 2: Os Integrantes da Primeira Elite da vila de Curitiba

ELEITOS

(juiz, vereador ou procurador)

ELEITORES DE 1693 CAPITÃES E POVOADORES

Antonio Rodrigues Seixas Gaspar Carrasco dos Reis Luiz de Goes Matheus Martins Leme

Antonio da Costa Veloso Jose Pereira Quevedo Paulo da Costa Leme Balthazar Carrasco dos Reis

Agostinho de Figueredo Jose Martins Leme João Leme da Silva

Antonio Luiz Tigre João Alvres Martins

Antonio dos Reis Cavalheiro João Veloso da Costa

Francisco de Melo Coutinho Luiz Rodrigues Cunha

Frutuoso da Costa Manoel Soares

Garcia Rodrigues Velho Manoel Picão de Carvalho

Os integrantes da primeira elite são aqueles que participaram em algum

momento do corpo governativo e que estavam presentes em 1693. Mas o que

diferenciava estes dezenove homens (sem contabilizar os capitães povoadores) que

chegaram ao poder dos demais quarenta e três indivíduos que se encontravam na

localidade. A historiografia aponta alguns critérios diferenciadores, como a

descendência de primeiros povoadores e a posse de terras e cativos. Sendo assim

analisaremos a relação desta primeira elite com os colonizadores e posse de bens

(terras e cativos).

2.1. Os “patriarcas povoadores” de Curitiba e as funções de vereança

João Fragoso,42 ao estudar a formação da primeira elite senhorial no Rio de

Janeiro, percebeu que o que permitia a algumas famílias arrogarem o título de nobreza

42 FRAGOSO, op. cit.

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era um fenômeno que combinava três fatores, e um deles era a descendência de

conquistadores ou primeiros povoadores.

Da mesma forma, estudando o funcionamento da Câmara da cidade do Rio de

Janeiro no século XVIII, Maria Fernanda Bicalho43 esclarece alguns dos interesses

envolvidos nas disputas da elite política fluminense. Um dos grupos envolvidos

reclamava a exclusividade dos cargos administrativos baseada no fato de terem sido os

seus antepassados os responsáveis pela conquista e defesa daquela terra. Em São Paulo

e Pernambuco, finalmente, ocorrem disputas pelos cargos da Câmara, entre grupos

distintos, as famílias antigas queriam se sustentar nos cargos que ocupavam desde o

inicio da colonização no Senado da Câmara, e utilizavam o mesmo argumento de suas

descendências dos povoadores e colonizadores. Portanto, saber sua origem era de

grande valia e a “[...] genealogia era, na realidade, um saber vital, pois classificava ou

desclassificava o indivíduo e a sua parentela aos olhos dos seus iguais e dos seus

desiguais, garantindo assim a reprodução dos sistemas de dominação.” 44

Se, para os eleitores e eleitos do período o conhecimento das suas origens deve

ter sido uma tarefa relativamente fácil, ao pesquisador nomear o grupo dos povoadores

dos campos de Curitiba é tarefa complexa, dada dubiedade das fontes. Alguns homens

classificados como colonizadores por um autor não são os mesmos elegidos por outros;

entretanto o nome de alguns indivíduos é recorrente em diferentes obras. Foram

listados catorze nomes que podem ser arrolados os primeiros povoadores da freguesia

de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais.

Balthazar Carrasco dos Reis, seu filho Gaspar Carrasco dos Reis e seus genros

Manoel Soares e Guilherme Dias Cortes. Matheus Martins Leme, seu filho Antonio

Martins Leme. Garcia Rodrigues Velho, Luiz de Góes, Antonio Luiz Tigre, Agostinho

de Figueredo, João Rodrigues Seixas, Antonio da Costa Veloso, João de Carvalho

Pinto e João Pereira Quevedo. O nome de alguns destes pode ser localizado no quadro

2

2.2. Os “patriarcas povoadores”

Balthazar Carrasco dos Reis

43 BICALHO, Maria Fernanda. A cidade e o império: o Rio de Janeiro no século XVIII, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003. 44 MELLO, Evaldo Cabral de . O nome e o sangue: uma fraude genealógica no pernambuco colonial. São Paulo: Companhoia das Letras, 1989. P. 11

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A família Carrasco dos Reis é de origem paulista e migra para Curitiba por

volta de 1650, o pedido de sesmaria de Balthazar data de 1661 e nela consta que ele

vivia na localidade alguns anos com toda sua família. Em 1645 Balthazar já fazia

entradas pelos sertões, e em 1648 integrando a bandeira de Antonio Domingues,

passou pelos campos de Curitiba, sua futura residência. A família Carrasco viveu por

muitos anos na vila de Parnaíba, onde o patriarca participou da governança local, sendo

eleito como juiz de órfãos.

Gaspar Carrasco

Filho de Balthazar Carrasco dos Reis, assinou a ata de ereção do pelourinho em

1668 e ocupou por 12 vezes cargo na Câmara, foi Alferes de ordenanças durante toda

sua vida.

Manoel Soares

Chegou à freguesia de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais acompanhando seu

sogro Balthazar Carrasco dos Reis, Manoel era natural de Viana, Portugal, em 1683

recebeu uma sesmaria, vizinha a de seu sogro, foi eleito oito vezes para a Câmara.

Guilherme Dias Cortes

Assim como Manoel Soares veio para Curitiba acompanhando seu sogro

Balthazar Carrasco dos Reis. Em 1695 também recebeu uma sesmaria, e exerceu por

nove vezes cargo na câmara.

Matheus Martins Leme

Natural de São Paulo e chegou aos campos de Curitiba por volta de 1660,

recebe sesmaria em 1668. Após se fixar na localidade, recebe o título de Capitão

Povoador, ou seja, representante do Capitão mor Gabriel de Lara, na freguesia de nossa

senhora da Luz dos Pinhais. Participou da ereção do pelourinho, e foi o requerente da

criação das justiças em 1693, que levou a elevação da vila, “quer pelo lado paterno

como pela materna era Matheus Leme descendente de pessoas de nobreza provada,

conforme justificações produzidas por membros dessas respeitáveis famílias” 45.

45 NEGRÃO, Francisco. Genealogia Paranaense. Curitiba: Impressora Paranaense, 1927.

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Antonio Martins Leme

Filho de Matheus Martins Leme, chegou a Curitiba acompanhando sua família,

exerceu por muitos anos a função de escrivão de sesmaria, e recebeu em 1674 uma

sesmaria. Na ereção do pelourinho, em 1668, foi o escrivão da ata, não assumiu cargo

na câmara, pois faleceu em 1694.

Garcia Rodrigues Velho

Natural de Paranaguá, foi um conhecido sertanista e, segundo Francisco

Negrão, foi o homem que descobriu ouro em Curitiba. Estabeleceu-se nos campos

curitibanos por volta de 1665, em vinte e seis de novembro de 1668 recebeu sesmaria,

conjuntamente com seu pai Domingos Rodrigues da Cunha e seu irmão Luiz

Rodrigues da Cunha, também considerado um dos povoadores.

Luiz de Góes

Migrou com toda sua família, de São Paulo para Curitiba em meados do século

XVII, em primeiro de dezembro de 1668 recebe uma sesmaria. Não foi eleito em

nenhum ano para a câmara, mas em 1693 foi eleitor, e deixou descendentes na câmara.

Antonio Luiz Tigre

Importante sertanista, em 1678 ele e alguns companheiros, formaram a primeira

bandeira exploradora do sertão, a mando de Rodrigo Castelo Branco. Tigre esteve por

sete anos esteve envolvido com o poder político, em 12 de abril de 1706 recebeu sua

primeira sesmaria na região de Campo Largo. Em 1712 recebeu sua segunda parte de

terras.

Agostinho de Figueredo

Natural da freguesia se S. João Batista de Gestaço, conselho de Bayão. Veio

para o Brasil com o caráter de governador da Praça de Santos. Em 1666 recebeu o

título de Capitão sesmeiro. Em 1670 o Capitão foi nomeado administrador das minas

de ouro e prata do sul do Brasil. Neste cargo ele deixou Santos e veio para Paranaguá e

Curitiba, examinar as lavras. Ficou neste cargo até 1678, quando saiu do cargo fixou

moradia em Curitiba.

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João Rodrigues Seixas

Migrou de Cananéia para Curitiba com toda sua família por volta de 1685. João

era letrado, ou seja, sabia ler e escrever e se tornou escrivão da câmara, foi ele quem

redigiu ata de elevação da vila. Não ocupou nenhum dos principais cargos na câmara,

mas deixou importantes descendentes no círculo político.

Antonio da Costa Veloso

Chegou à região em meados do século XVII, e aqui se casou com uma das

filhas de Matheus Martins Leme e figurou entre os notáveis, sendo eleito por seis vezes

para a Câmara.

Jose Pereira Quevedo

Recebeu sesmaria em 25 de dezembro de 1691, foi eleito apenas uma vez, em

1693, como vereador. Não deixou esposa nem filhos.

João de Carvalho Pinto

Natural do reino de Portugal, eleito em 1696, como vereador e em 1697, como

juiz ordinário. No ano de 1668 recebeu uma sesmaria, próximo ao seu sogro o também

povoador Garcia Rodrigues Velho.

Dado os nomes e um breve comentário sobre os primeiros povoadores,

traçaremos a relação destes catorze homens com a primeira elite local. A quadro 3

mostra qual a relação existente entre os dois grupos, se os indivíduos da primeira elite

eram considerados povoadores, descendentes ou aparentados, segundo os nomes

levantados neste trabalho.

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Quadro 3: Relação da Primeira Elite com o Grupo de Povoadores.

INTEGRANTES DA PRIMEIRA ELITE RELAÇÃO COM OS POVOADORES

Antonio Rodrigues Seixas FILHO DE POVOADOR

Antonio da Costa Veloso POVOADOR

Agostinho de Figueredo POVOADOR

Antonio Luiz Tigre POVOADOR

Antonio dos Reis Cavalheiro

Francisco de Melo Coutinho CUNHADO DE POVOADOR

Frutuoso da Costa

Garcia Rodrigues Velho POVOADOR

Gaspar Carrasco dos Reis POVOADOR

Jose Pereira Quevedo POVOADOR

Jose Martins Leme NETO DE POVOADORES

João Alvres Martins NETO DE POVOADOR

João Veloso da Costa

Luiz Rodrigues Cunha IRMÃO DE POVOADOR

Manoel Soares POVOADOR

Manoel Picão de Carvalho GENRO DE POVOADOR

Luiz de Goes POVOADOR

Paulo da Costa Leme

João Leme da Silva

Matheus Martins Leme POVOADOR

Balthazar Carrasco dos Reis POVOADOR

A maioria dos indivíduos da primeira elite pertencia ao grupo de colonizadores

ou estava diretamente ligado a eles. Dentre os indivíduos da primeira elite dez são

considerados povoadores, e outros seis estão ligados diretamente com o grupo dos

povoadores. Para Antonio da Costa Cavalheiro, João Veloso da Costa, Frutuoso da

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Costa, Paulo da Costa Leme e João da Silva Leme não foram encontrados dados

suficientes que respondam a pergunta; a princípio não há nenhuma relação aparente,

mas é possível que outra fonte, não explorada nesse trabalho possa informar a respeito

de tais relações.

Portanto, entre a primeira elite, 76% dos indivíduos estavam envolvidos com os

povoadores. Desta maneira pode-se afirmar que havia sim uma forte relação entre

primeira elite e povoadores, mostrando que, assim como ocorreu em outras regiões do

Brasil, o papel de primeiros desbravadores foi essencial na formação da célula base das

elites coloniais.

2.3. A posse de terras e a ocupação dos cargos camarários

No contexto paulista a posse de terras e cativos era tido como um diferenciador

social. Partindo da premissa de que os homens bons eleitos para a Câmara Municipal

apresentavam algum qualificativo que os distinguiam dos demais, aventou-se a

possibilidade de que a posse de terras fosse um diferencial. Segundo Raymundo Faoro,

“os homens bons compreendiam, num alargamento contínuo, além dos nobres de

linhagem, os senhores de terra”46.

As sesmarias não eram concedidas a qualquer homem. A sociedade colonial,

herança da sociedade lusitana estava pautada na diferença – os homens não eram iguais

entre si. Devido a sua origem, alguns se classificavam como gente de qualidade que

tinham direitos sobre a terra e a administração colonial. Tal questão inseria-se no

processo de

formação de uma sociedade escravista em que a ascensão inicial se fazia por meio da aquisição de riqueza, prenunciando uma sociedade de classes. Uma vez obtida a riqueza, o poder e preeminência social eram confirmados por uma institucionalização legal garantidora de privilégios estamentais para uma pequena elite que iria se perpetuar além do período colonial. Colonos apoiados pela coroa que queria reproduzir aqui a sociedade portuguesa com a supremacia branca e estamental. 47

No interior de uma sociedade excludente, apenas alguns eram beneficiados com

um pedaço de terra. Tal prática foi recorrente em todo território brasileiro. Por

46 FAORO, Ibid. pg.175 47 MESGRAVIS, Laima. A Sociedade Brasileira e a Historiografia Colonial. In: Historiografia Brasileira em Perspectiva. Marcos C. de Freitas (org). São Paulo: Editora Contexto, 1998, p. 41.

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exemplo, no nordeste, quem possuía vasta extensão de terras eram os senhores de

engenho, que ocupavam o topo da pirâmide social. Esses e os grandes criadores de

gado, ambos potentados sesmeiros, sempre apareceram na vida colonial como chefes de

clã. Geralmente cercavam-se de um grupo expressivo de pessoas, o que demonstra sua

influência e poder. 48

No sul, os proprietários de terra também se diferenciavam dos demais homens,

pois o direito a sesmaria distinguiria de imediato um grupo superior. Ser sesmeiro já

definia um lugar de destaque na sociedade colonial e gerava aos donos de terras certas

regalias: poder, prestígio e respeitabilidade.

Entre 1668 e 1745 foram entregues trinta sesmarias nos campos curitibanos.

Quatro delas possuíam dois ou mais proprietários e, no cômputo final, 36 homens

receberam a posse de um pedaço de terra na região. Dentre esses, vinte chegaram ao

poder, ocupando os principais postos na Câmara Municipal entre 1693 e 1750; ou seja,

55% dos sesmeiros do século XVIII eram também camaristas.

Mas, ao inverter a análise e partindo do total de camaristas, chega-se a um

índice pequeno. Considerando que 134 homens revezaram-se na administração

municipal, 20 nomes representavam uma parcela pequena, apenas 15% dos camaristas.

Possuir terras era um qualificativo para a obtenção de cargos camararios, entretanto ser

camarista não era uma determinante para alcançar uma sesmaria. Os senhores de terras

em certa medida formavam um grupo ainda mais exclusivo, pois, como visto

anteriormente, a doação de sesmaria selecionava os notáveis, gente de qualidades.

Ao observar a ocupação dos cargos da câmara e a posse de terras, percebe-se

uma diferença entre os que receberam sesmaria no século XVII e os que obtiveram

terras no século XVIII. Entre 1661 e 1695 doze sesmarias forma concedidas, sendo

uma delas compartilhada por três homens – desta forma somam-se 14 proprietários de

terras. Oito destes estavam envolvidos diretamente com a política local, e onze

deixaram descendentes na esfera pública. Nesse primeiro período havia uma estreita

relação terra e posto na câmara municipal, como pode ser visto no quadro 4. Os

senhores que não figuraram propriamente no círculo camarário deixaram filhos ou

genros na administração pública. No entanto, três não deixaram representantes na

esfera política, Luiz da Cunha, João Rodrigues Side e Jose Pereira Quevedo, e este

último não teve nenhum descendente. O único sesmeiro que não teve nenhuma ligação

48 RITTER. op. cit. , p. 90.

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com a câmara foi João Rodrigues Side e todos demais proprietários de terras estavam

em contato direto ou indireto com a esfera publica.

Quadro 4: Os Proprietários de terras e a participação camarária no século XVII.

PROPRIETÁRIOS CARGO NA CAMARA DESCENDENTES NA

CAMARA

Matheus Luiz Grou NÂO SIM

Balthazar Carrasco dos Reis NÃO SIM

Domingos Rodrigues da Cunha/

Garcia Rodrigues/

Luiz da Cunha

NÃO

SIM

SIM

SIM

SIM

NÃO

João de Carvalho Pinto SIM SIM

Matheus Martins Leme NÃO SIM

Luiz de Goes SIM SIM

Antonio Martins Leme NÃO SIM

João Rodrigues Side NÃO NÃO

José Martins Leme SIM SIM

Manoel Soares SIM SIM

Jose Pereira e Quevedo SIM NÃO

Guilherme Dias Cortes SIM SIM

Mas o cenário se altera no século XVIII. Entre 1705 e 1745 foram entregues

dezoito sesmarias, sendo que três eram compartilhadas por mais de um proprietário;

desta forma, totalizando 23 sesmeiros. Entre esses vinte e três, somente nove ocuparam

cargos camarários.

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Quadro 5: Os Proprietários de terras e a participação camarária no século XVIII.

PROPRIETÁRIOS CARGO NA CÂMARA ASCENDÊNCIA NA

CÂMARA

Francisco Valente Pereira

Jose Valente

SIM

NÃO

NÃO

NÃO

Salvador Antunes

Plácido de Góes

Francisco Nunes

João Ribeiro

NÃO

NÃO

NÃO

NÃO

NÃO

NÃO

NÃO

SIM

Bento Pires Leme NÃO SIM

Balthazar Fernandes Leme SIM SIM

João Alvres Martins SIM SIM

Sebastião Álvares Martins NÃO SIM

Jose Nicolau Lisboa SIM SIM

André Cursino Matos

João de Carvalho Pinto

NÃO

SIM

NÃO

SIM

Domingos Fernandes Grosso NÃO NÃO

José da Costa SIM SIM

Antonio de Ramos NÃO NÃO

João Martins Leme SIM SIM

José Palhano de Azevedo SIM SIM

Luiz Pedroso Furquim NÃO NÃO

Bento Marques Vasques NÃO NÃO

Manoel de Lima Pereira SIM SIM

Lourenço Castanho de Araujo NÃO NÃO

José Palhano da Silva NÃO NÃO

No quadro acima o foco de analise é invertido, pois no quadro 4 procurou-se

observar os proprietários e seus descendentes, no quadro 5 procura-se identificar o

proprietário e sua ascendência. Entre os 23 sesmeiros apenas nove homens assumem

postos administrativos, um número relativamente pequeno. Porém, ao analisar o

quadro pode-se observar que oito deles apresentam ascendência na câmara, ou seja,

avô, pai ou sogro também era camarista. Somente Francisco Valente Pereira não

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apresenta nenhum vínculo familiar. Essa constatação pode representar a formação de

uma tradição familiar no círculo político, pois somente nove são eleitos e com apenas

uma exceção, todos provinham de famílias que já detinham prestigio político.

Balthazar Fernandes Leme e João Martins Leme eram filhos do sesmeiro

Antonio Martins Leme, e netos de Balthazar Carrasco dos Reis e do capitão povoador

Matheus Martins Leme, principais povoadores que deixaram grande descendência na

esfera publica. Jose Nicolau Lisboa era casado com uma das filhas de Antonio Martins

Leme. João Alvres Martins era neto de Matheus Martins Leme. João de Carvalho Pinto

foi casado com uma das filhas de Garcia Rodrigues Velho, sesmeiro e camarista. Jose

da Costa foi casado com uma das filhas de Manoel Picão de Carvalho, eleito por sete

vezes para câmara. Jose Palhano de Azevedo era filho de Jose Teixeira de Azevedo,

eleito por cinco vezes e neto pela parte materna de Balthazar Carrasco dos Reis.

Sebastião Alvares Martins não assumiu posto na Câmara, por motivo ou outro,

mas era filho do camarista e sesmeiro já citado João Alvres Martins, mostrando que

este também estava vinculado com o círculo político local. Observando a ascendência

destes proprietários de terra que ocuparam cargos na câmara municipal, é possível

perceber que estes estavam vinculados com alguns dos primeiros povoadores, Garcia

Rodrigues Velho, Matheus Martins Leme, Antonio Martins Leme e Balthazar Carrasco

dos Reis.

Mas lancemos um olhar sobre os sesmeiros e a primeira elite, como mostra o

quadro 6.

Entre os vinte e um homens da elite dez receberam sesmarias, ou seja, 48% da

primeira elite curitibana também era proprietária de terras. Outros três indivíduos

apresentavam vínculos diretos com os sesmeiros, e oito deles não evidenciam nenhuma

ligação próxima (filhos/genros/netos) com este grupo. Ao analisar o nome daqueles

pertencentes à elite e que receberam terras podemos identificar a força de três famílias:

Carrasco dos Reis, Martins Leme e Rodrigues Cunha/Velho, cujos núcleos envolviam

sete indivíduos, o que leva pensar que a obtenção de terras passava antes pela família

do que pela câmara municipal. A posse de terras não era determinante para a chegada

ao poder camarário, assim como nenhum fator o é; todavia, a sesmaria era um

qualificativo para os indivíduos. A condição de proprietário de terra apresentava ao

sujeito resultados práticos, pois o prestígio ganhava forma, tamanho e utilidade. Para se

ocupar cargo administrativo a terra não era um pressuposto, mas para aqueles que

detinham um pedaço de chão o poder chegava de forma mais facilitada. Possuir

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sesmaria era sinônimo de poder, mas para adentrar à vereança, a terra não era

necessariamente determinante. Mas ainda havia outros fatores que poderiam

diferenciar as elites dos demais homens locais.

Quadro 6: Relação da Primeira Elite com os Proprietários de Sesmaria.

INTEGRANTES DA PRIMEIRA ELITE RELAÇÃO COM AS SESMARIAS

Antonio Rodrigues Seixas

Antonio da Costa Veloso GENRO DE SESMEIRO

Agostinho de Figueredo

Antonio Luiz Tigre SESMEIRO

Antonio dos Reis Cavalheiro

Francisco de Melo Coutinho

Frutuoso da Costa

Garcia Rodrigues Velho SESMEIRO

Gaspar Carrasco dos Reis FILHO DE SESMEIRO

Jose Pereira Quevedo SESMEIRO

Jose Martins Leme SESMEIRO

João Alvres Martins SESMEIRO

João Veloso da Costa

Luiz Rodrigues Cunha SESMEIRO

Manoel Soares SESMEIRO

Manoel Picão de Carvalho GENRO DE SESMEIRO

Luiz de Goes SESMEIRO

Paulo da Costa Leme

João Leme da Silva

Matheus Martins Leme SESMEIRO

Balthazar Carrasco dos Reis SESMEIRO

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2.4. A posse de cativos como diferenciador social

Segundo a historiografia colonial a posse de cativos também era um

denominador de riqueza e prestígio. Para o período estudado não há uma listagem

sobre cativos ou escravos, mas essa sociedade hierarquizada deixou um rico conjunto

de documentos, os registros de batismo. Isso porque, naturalmente, não havia para a

época as “listas nominativas de habitantes”.

Em Curitiba, assim como em outras localidades, havia um livro de assentos

paroquiais destinados aos escravos, servis, gentios, bastardos, entre outros ‘excluídos

sociais’, evidenciando a forte estratificação social existente na Colônia. A partir dos

assentos de batismo de escravos é possível averiguar quem eram seus ‘proprietários’.

Bem como é impossível aventar o número de cativos de cada senhor. Entre os

formadores da elite apenas dois não possuem cativos, ou melhor, apenas dois não

aparecem nos registros paroquiais como proprietários de escravos.

Segundo o quadro 7, abaixo, é possível visualizar que a elite possuía, além do

prestígio social, homens a seu serviço. Além de braço servil, os cativos também

contavam como bem adquirido, ou seja, eram acrescidos ao cabedal destes indivíduos.

Noventa por cento dos homens da elite eram também senhores de “escravos” 49.

Se a posse de cativos era uma constante entre as elites e denotava riqueza e

prestígio, certamente que o padrão de definição do que seria um grande proprietário

variava de acordo com a região do Brasil colônia. Um poderoso senhor de engenho

nordestino podia ter mais de cem escravos, mas na região mais ao sul, que tivesse cerca

de dez cativos poderia ser considerado membro de um grupo mais privilegiado.

49 Deve-se notar que a legislação vigente na época proibia a escravização de indígenas. Os índios eram simplesmente tutoriados (administrados) até que pudessem adquirir os valores cristãos e viver independentemente no seio da sociedade “civilizada” européia. No entanto, subterfúgios eram utilizados pelos tutores que perpetuavama a permanência de seus administrados a ponto de repassá-los, por testamento, para seus herdeiros.

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Quadro 7: A primeira elite e a posse de cativos.

INTEGRANTES DA PRIMEIRA ELITE POSSE DE CATIVOS

Antonio Rodrigues Seixas SIM

Antonio da Costa Veloso SIM

Agostinho de Figueredo SIM

Antonio Luiz Tigre SIM

Antonio dos Reis Cavalheiro NÂO

Francisco de Melo Coutinho SIM

Frutuoso da Costa SIM

Garcia Rodrigues Velho SIM

Gaspar Carrasco dos Reis SIM

Jose Pereira Quevedo NÂO

Jose Martins Leme SIM

João Alvres Martins SIM

João Veloso da Costa SIM

Luiz Rodrigues Cunha SIM

Manoel Soares SIM

Manoel Picão de Carvalho SIM

Luiz de Goes SIM

Paulo da Costa Leme SIM

João Leme da Silva SIM

Matheus Martins Leme SIM

Balthazar Carrasco dos Reis SIM

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3.5. A relação entre os poderes político e militar

Além de terras e cativos, que denotavam poder e prestígio, outra constante para os

grupos da elite colonial, era a posse de cargos nas Companhias de Ordenanças50. A

ocupação dos cargos superiores das milícias, como Capitão, Sargento ou Alferes

nobilitava socialmente a quem os exercia, pois o Regimento de 1570 previa que as

eleições das milícias deveriam recair nas ‘pessoas principais da terra’. O requisito para

ocupar um cargo nas milícias era ser pessoa das principais da terra, ou seja, para

figurar no corpo militar deveria ser um notável, aquele com prestígio perante a

sociedade, assim como ocorria na eleição dos camaristas. Desta forma alguns

indivíduos que estavam na Câmara somavam ao seu cargo político, a função de defesa

e manutenção da ordem local. A obtenção destes cargos detinha um valor simbólico,

conferindo aos ocupantes o estatuto de nobreza local. Para a primeira elite onze foram

outorgados com título de milícia; sendo assim pode-se entender que essa titulação era

uma constante para as elites. Mas a presença na câmara, mais uma vez, não é

determinante para a obtenção destas patentes, embora os indivíduos que as recebessem

elevar-se-iam pouco mais na escala social.

Portanto, a elite curitibana, assim como era recorrente entre as elites colônias,

somava aos seus predicados os cargos de milícias. Na verdade estes postos

reafirmavam a condição de prestígio que gozavam os notáveis. Os oficiais das

Ordenanças podiam ser eleitos pela Câmara, ou seja, no círculo formado pelos

principais eles mesmos escolhiam quem dentre deles ganharia um posto miliciano.

50 Organização militar formada pela população local com finalidade de defender o território luso-americano.

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Quadro 8: A primeira elite e os postos de milicias.

INTEGRANTES DA PRIMEIRA ELITE CARGOS NA MILICIAS

Antonio Rodrigues Seixas CAPITÃO

Antonio da Costa Veloso CAPITÃO

Agostinho de Figueredo CAPITÃO

Antonio Luiz Tigre CAPITÃO

Antonio dos Reis Cavalheiro

Francisco de Melo Coutinho

Frutuoso da Costa

Garcia Rodrigues Velho CAPITÃO

Gaspar Carrasco dos Reis ALFERES

Jose Pereira Quevedo CAPITÃO

Jose Martins Leme CAPITÃO

João Alvres Martins

João Veloso da Costa

Luiz Rodrigues Cunha

Manoel Soares

Manoel Picão de Carvalho CAPITÃO

Luiz de Goes

Paulo da Costa Leme

João Leme da Silva

Matheus Martins Leme CAPITÃO

Balthazar Carrasco dos Reis CAPITÃO

2.6. A elite curitibana

No cenário inicial estão inseridos vinte e um indivíduos, os notáveis da terra,

estes vinculados à povoação dos campos curitibanos, às concessões de sesmaria, à

posse de cativos e à postos nas milícias. Tais categorias estavam interligadas com a

câmara municipal, pois em todas as esferas o requisito para se alçar o posto de senhor

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de terras e cativos, capitão, e homem da governança deveria ser a respeitabilidade, o

prestígio. A primeira elite não se fez apenas por um fator determinante e sim pelo

conjunto de qualificativos que agregava. Na primeira elite da vila de Nossa Senhora da

Luz dos Pinhais, 76% dos homens estavam ligados ao grupo de povoadores, 47% eram

proprietários de terras, 47% obtiveram cargo nas milícias e 90% possuía ao menos um

cativo.

Alguns destes homens da elite provinham de boas famílias, ou já eram tidos

como homens bons em outras localidades. Balthazar Carrasco dos Reis morava em

Santana do Parnahiba e lá foi eleito juiz de órfãos. Matheus Martins Leme, era

aparentado do Capitão mor de Paranaguá Gabriel de Lara, assim que chega a Curitiba

recebe o título de Capitão povoador, responsável pelas questões cotidianas da

localidade. Outros nomes que aparecem como colonizadores provêm de famílias

prestigiadas de Paranaguá. Desta forma pode-se constatar que a elite local deriva das

elites de outras freguesias.

Entretanto as elites locais não nascem prontas, pois existe todo o processo de

formação e amadurecimento. Ilana Blaj observa que a elite que foi se formando ao

longo dos séculos XVI e XVII em São Paulo, no século XVIII ganha maior densidade,

até pelas mudanças sociais e econômicas ocorridas na região sul, sudeste e centro oeste

durante o setecentos. “Nas primeiras décadas do século XVIII o que ocorre é a

sedimentação de uma elite paulistana que concentra em suas mãos, terras, escravos,

produção e comércio”. 51 Carlos de Almeida Prado Bacellar, ao observar os senhores

de engenho do oeste paulista, mostra que a elite surge a partir do momento em que

toma consciência de que constituía um grupo a parte, e assim busca instituir critérios

demarcadores de sua especificidade. 52 Fragoso também vai averiguar como se formou

a elite senhorial carioca e quais foram as condições que levaram algumas famílias a se

tornarem a nobreza local.

Para Curitiba, teremos dois momentos. Primeiramente a definição de quem

poderia ser considerado um notável, e um segundo momento de legitimação do poder

através da Câmara e a perpetuação desse grupo na esfera publica.

51BLAJ, Ilana. Agricultores e comerciantes em São Paulo nos inícios do século XVIII: o processo de sedimentação da elite paulistana.

52BACELLAR, Carlos de Almeida Prado. Os Senhores da Terra: família e sistema sucessório de engenho do Oeste paulista, 1765-1855. Campinas: Área de Publicação CMU/UNICAMP, 1997.

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No entanto quando se fala de elite colonial, principalmente no sul da colônia, é

necessário fazer um importante apontamento. Atualmente a elite está ligada ao poder

econômico que dispõe, mas na época colonial o poder econômico não estava

diretamente ligado ao status do indivíduo. Um sujeito bem situado, com prestígio

social, com honra, não necessariamente possuía fortuna,

ser economicamente poderoso não significava a certeza de ser considerado um “homem bom” ou de família “principal”. Dentro do que se estabelecia como status social de um indivíduo, inseriam-se normas de conduta e de representação social que, muitas vezes, não refletiam a situação econômica dos envolvidos. Pobreza e prestígio podiam, muitas vezes, andar juntos. 53

A vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, era uma freguesia pequena e

bastante pobre, com uma população que vivia espalhada em sítios e ranchos distante da

Igreja matriz e em condições precárias de vida. Ao se falar de elite deve-se ter a idéia

de um grupo que se diferenciava do restante da população por sua origem ou

experiência administrativa em outras vilas, pois a vida era difícil e sem muitos recursos

para quase toda população local.

Nos registros de óbitos da população encontra-se sempre a informação se fez

testamento ou não e, analisando os assentos de óbito dos povoadores e seus

descendentes, verifica-se que muitos não fazem testamento por não terem de que ou

por serem muito pobres.

Gaspar Carrasco dos Reis, eleito doze vezes para a Câmara, filho de Balthazar

Carrasco dos Reis, morre em 21 de julho de 1753 e no seu registro de óbito consta não

que fez testamento, “nem tinha de que por ser muito pobre”. Um outro exemplo é o

caso do povoador Matheus Martins Leme, um dos principais homens da localidade,

Capitão povoador, com grande descendência na Câmara Municipal. No entanto, ao

fazer seu testamento em 1695, ele declara poucos bens: “[...] duas colheres de prata e

hua tomoladera que possa ter quatro patacas de peso mais ou menos [...]”, a quem

devia “as ditas” a Manoel Picam, como dote. Arrola ainda uma espingarda, e quatro

gentis. 54

Mesmo sendo de família honrada e pertencente ao alto círculo de

relacionamentos da vila, Matheus Martins Leme possuía poucos bens. No entanto, dada 53 FARIA, Sheila Siqueira de Castro. Fortuna e família em Bananal no século XIX. IN: CASTRO, Hebe Maria Mattos de ; SCHNOOR, Eduardo (org.). Resgate: uma janela para o oitocentos. Rio de Janeiro : Topbooks , 1995. p.82 54 LEÃO, op. cit. , p. 1288-1284.

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dificuldade econômica da vila, será que duas colheres de prata, uma espingarda e

quatro cativos não seriam um montante considerável? De qualquer forma ele fez

testamento, mostrando que havia, sim, algum bem a ser repassado, mas se o

compararmos com os principais de outras vilas mais prósperas pode-se dizer que ele

era pobre. As terras ao sul da América Portuguesa até as primeiras décadas do século

XVIII, viviam em uma pobreza relativa. Em Curitiba as famílias de elite possuíam

alguns bens, mas não fortunas como se pode imaginar ao falar dos principais da terra.

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Capítulo 3

A família como definidor social

Todavia, para entender o poder local na América Portuguesa é necessário

analisar o quadro familiar dos indivíduos. A família era a unidade essencial de

referência para a identidade do indivíduo, “pouco, na Colônia, refere-se ao indivíduo

enquanto pessoa isolada – sua identificação é sempre com um grupo mais amplo” 55.

Ao listar os nomes envolvidos na elite, povoadores, sesmeiros e camaristas,

surgem enormes e complicadas teias familiares, amarradas aqui e ali – nas quais os

principais da terra se tocam em algum ponto. No período colonial eram essas redes de

parentesco que governavam as vilas, principalmente nas freguesias que apresentavam

pouco interesse à Coroa.

Na falta de uma forte presença do Estado, a sociedade era dominada por famílias extensas ou clãs. Grandes parentelas, controladas por um patriarca, ou, às vezes, uma matriarca dominava a maioria dos aspectos da vida social, o que incluía o governo local, as atividades produtivas e comerciais [...]. 56

A família, pois, era considerada a base da sociedade colonial, “instituição que moldou

os padrões de colonização e ditou as normas de conduta e de relações sociais” 57.

Para ser um elegível não bastava ser um homem honrado, ou ter posses; a

família a qual se pertencia era uma importante prerrogativa da identificação de um

indivíduo perante a sociedade. Ao se analisar os grupos familiares de elite, essa

identidade se reforça, pois pertencer a um importante e respeitável “tronco familiar”

proporcionava prestígio social.

Desta forma, surgem no interior da sociedade colonial os clãs familiares que,

segundo Muriel Nazzari, constituíam por si só a estrutura do governo local. A família

era a sociedade na São Paulo do século XVII. O poder político apresentava um caráter

corporativo, “por si e em nome de suas família e parentes, amigos e aliados” 58. Desta

maneira as escolhas de cônjuges, padrinhos e aliados era assunto de extrema 55 FARIA, Sheila de Castro. A Colônia em Movimento: Fortuna e família no cotidiano colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998. p. 21. 56 NAZZARI, op. cit. , p.27-28. 57 SAMARA, Eni de Mesquita. Patriarcalismo, Família e Poder na Socidade Brasileira (Séculos XVI-XIX). Revista Brasileira de História. São Paulo. Vol. 11, n. 22- março/agosto de 91. 58 NAZZARI, op. cit. , p. 31.

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importância, pois não eram apenas alianças sentimentais e sim alianças de negócios,

que influenciava toda a família. As redes de parentela formada no seio das sociedades

locais eram estreitamente entrelaçadas, como ocorre na vila de Curitiba nos séculos

XVII e XVIII.

A historiografia vem demonstrando, através de vários estudos para diferentes

localidades, a vital importância das alianças familiares entre os notáveis, para

reafirmação de posição e prestígio. Sobre essa temática podemos destacar alguns

trabalhos de bastante relevância, que ajudam a compreender de que maneira o jogo de

interesses políticos ou econômicos moldava as relações familiares. Todos os estudos

relacionam família e poder local, seja ele econômico, político, ou militar. 59 A temática

família/poder é recorrente na historiografia brasileira desde a década de 30: podemos

encontrar indícios em Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Capistrano de

Abreu, ainda que sob uma abordagem bem distinta da que se encontra atualmente.

Os estudos referentes à família colonial tiveram um grande destaque nas

últimas duas décadas. Diversas pesquisas históricas focam a família ou grupos de

parentesco como objeto central de estudo. A historiografia vem reforçando cada vez

mais a importância da família para o contexto colonial, “instituição que moldou os

padrões de colonização e ditou as normas de conduta e de relações sociais” 60. Muitos

estudiosos reconhecem esta instituição como a base da sociedade colonial, e

certamente o era, independente de sua forma de organização extensa ou nuclear.

No Brasil o grupo familiar formava um sistema poderoso para a dominação política e econômica, para a aquisição e manutenção de prestígio e status. O indivíduo que não se achava preso e integrado numa família, muito dificilmente podia prosperar e adquiri seu lugar ao sol. 61

Dadas essas palavras de Maria Isaura Pereira, compreende-se a relação de dependência

que se criou no período colonial entre poderes locais e família. A câmara municipal era

a representação do poder local, e esta era controlada por núcleos familiares que

59 Destaco aqui “Famílias Proprietárias e Estratégias de Poder Local no Século Passado”, Flávia Arlanch Martins de Oliveira; “A Família e o Poder Político Local. Jerumenha, segunda metade do

século XVV e início do XIX”, Tanya Maria Brandão Barbosa; “Os Senhores da Terra: família e sistema

sucessório de engenho no Oeste paulista, 1765-1855”, Carlos Almeida Bacellar; “A Família na

Sociedade Brasileira: Parentesco, Clientelismo e Estrutura Social (São Paulo, 1700-1980)”, Elizabeth Anne Kuznesof. 60SAMARA, Eni de Mesquita. Patriarcalismo, Família e Poder na Socidade Brasileira (Séculos XVI-XIX). Revista Brasileira de História. São Paulo. Vol. 11, n. 22- março/agosto de 91: 07-33. p.08. 61PEREIRA, Maria Isaura. Mandonismo local na vida política brasileira e outros ensaios. São Paulo. Alfa-Omega, 1976, pg. 45.

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envolviam pais e filhos, sogros e genros, cunhados, afilhados e padrinhos e outros

indivíduos que estavam sob a influencia deste grupo. Estar agregado a determinadas

famílias auxiliava a chegada ao poder, ou seja, a câmara municipal.

A estratégia utilizada pelas elites coloniais para manter o poder local, o

prestígio e a riqueza, foram as alianças matrimoniais. Estas alianças tinham caráter

muito mais econômico/político do que romântico, como é concebido atualmente: “não

se trata de unir dois seres que se escolheram livremente, guiados pelo amor, mas de

aproximar interesses materiais [e sociais] de duas famílias e de fundar um novo lar

suscetível de continuar uma linhagem e de assumir um patrimônio”62. A historiografia

brasileira mostra que, assim como na Europa do Antigo Regime, o casamento no Brasil

colonial também era tido como um negócio, onde o princípio da homogamia social

deveria ser seguido, principalmente pelas classes mais abastadas.

Para os filhos das famílias de elite, o casamento tinha uma grande carga de

responsabilidade, pois “cada cônjuge [...] carregava consigo um patrimônio econômico,

político e social, herdado dos pais, e que não poderiam ser dispersados, mas sim

acrescidos a outro, pelo matrimônio.” 63 Em suma, o casamento dos filhos ampliava e

fortalecia a família.

O casamento das mulheres tinha um importante significado, e alguns estudos

demonstram o papel fundamental do matrimonio das filhas de elite. Quando uma

mulher se casava levava consigo um dote, conjunto de bens dado pelo pai a sua filha

para iniciar a nova vida. Desta maneira o casamento feminino exigia maior cuidado e

preocupação, pois envolvia os bens familiares. Muriel Nazzari, no seu estudo sobre o

dote em São Paulo, considera o casamento-acompanhado de dote como um pacto que

se fazia entre as famílias envolvidas. No século XVII os dotes eram formados

geralmente por índios e outros meios de produção, que pudessem proporcionar o

sustento inicial do novo casal. Ambas as famílias eram beneficiados nesse pacto, as

mulheres de elite entravam com os bens materiais e, em contrapartida o pacto era

equilibrado graças ao sangue branco do noivo ou outros atributos que ele pudesse

trazer consigo. “O casamento de uma filha ampliava desse modo as alianças

familiares, ao mesmo tempo em que incorporava mais um homem ao projeto aos

62LEBRUN, François. A vida conjugal no Antigo Regime. Lisboa: Edições Rolim, s.d., p. 29. 63BACELLAR, Carlos de Almeida Prado. Os Senhores da Terra: família e sistema sucessório de engenho no Oeste paulista, 1765-1855. Campinas: Área de Publicação CMU/Unicamp, 1997.

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projetos militares, políticos e econômicos da família”64. O papel dos genros era de

grande importância, vistos muitas vezes como novos sócios, e exerceram papeis

importantes na trajetória de vida de uma família. Assim, os casamentos das filhas

representavam uma importante vertente de alianças que proporcionavam a família uma

forma de ascensão, e aos genros representava uma associação benéfica com resultados

práticos.

Outra estratégia para fortalecer as relações pessoais com o grupo eram as escolhas de

parentes rituais. No momento do batismo dos filhos ocorria a escolha de dois membros

da sociedade para se firmar uma aliança. Certamente essas escolhas não se faziam

aleatoriamente, havendo “certas regras que regiam a escolha dos padrinhos”65. O

batismo era o primeiro e mais importante Sacramento da Igreja Católica, mas além do

caráter religioso a prática do batismo era revestida de atributos seculares. O batismo

pode ser entendido como uma instituição social constituída principalmente a partir dos

ritos católicos, mas sua “função primordial é criar vínculos de solidariedade entre seus

participantes, os quais se expressam, principalmente, através da cooperação econômica

e da lealdade política”66.

Na idade moderna a distinção entre vida civil e vida religiosa era praticamente

inexistente. A vida se baseava na fé, na religião e, assim, os ritos católicos eram de

suma importância na vida dos colonos. Os homens, no intuito de viverem melhor

uniram a força religiosa e a necessidade de bons relacionamentos. As relações de

compadrio nascem na Igreja com o nascimento de uma criança e se estendem por toda

a vida, extrapolando o caráter religioso. Para as elites o compadrio servia para reforçar

as alianças existentes, pois muitos compadres eram escolhidos dentro do próprio grupo,

sendo o objetivo principal a proteção do seu próprio prestígio e prosperidade67.

O batismo, para a Igreja, é o momento mais expressivo em termos de significado ritual. Também era assim entendido por muitos homens coloniais. Amplamente disseminado por toda a população, na prática cotidiana ultrapassava o limite religioso, firmando-se como um importante instrumento de solidariedade e de relações sociais, através do compadrio. 68

64 NAZZARI 82 65 FARIA, p. 213. 66 ARANTES, Antonio Augusto. Pais, Padrinhos e o espírito Santo: um reestudo do compadrio. In: CORRÊA, Mariza. (org.). Colcha de retalhos: estudos sobre a família no Brasil. São Paulo : Brasiliense , 1982. p.196. 67 KUHN, Fábio pg. 232 68 FARIA, op. cit. p. 304.

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Desta forma as relações sociais que nascem no batismo, assim como as

firmadas via matrimônio, podem contar um pouco da trajetória de uma, ou várias

famílias.

Os registros da Igreja Católica estão entre as fontes mais importantes para se

pesquisar a família. Isso porque existia um constante policiamento social por parte da

Igreja, e dessa forma a vida dos habitantes da América Portuguesa eram devassadas

pelos sacerdotes católicos. Esses registros incluem lançamentos de batizados,

casamentos e óbitos.

O registro da vida das pessoas passava pelo domínio do catolicismo. Quase todas as etapas dos momentos rituais da sociedade passavam pelo olhar e controle da Igreja. Pode-se até mesmo considerar que a cidadania se exercia pela aceitação, mesmo que estratégica, dos rituais católicos. 69

Nos anos 70 do século XX, houve uma mudança historiográfica e o estudo da

História ganhou uma nova abordagem que trouxe a possibilidade de novas fontes e

novas abordagens. Nessa vertente a documentação eclesiástica passou a ser vista com

outros olhos, ganhando maior importância e visibilidade.

No momento em que os registros paroquiais passam a ser analisados de forma ampla e sistemática no Brasil, cremos ser urgente a tarefa de indicar suas potencialidades como fonte de informações quantitativas e qualitativas; referimo-nos aos dados que possibilitam o conhecimento de outros aspectos sócio-econômicos das comunidades estudadas. Evidentemente, os assentos referidos aparecerão, sempre, como elementos complementares a outras fontes primárias disponíveis. No entanto, como demonstraremos, os registros aludidos auxiliam a elucidação de problemas colocados em vários campos da atividade humana, tanto no que se refere à interação socioeconômica entre grupos ou camadas sociais, como no que tange às questões derivadas do relacionamento entre a comunidade e o meio físico envolvente. Destarte, os assentos paroquiais não devem interessar exclusivamente ao demógrafo histórico, mas a todos estudiosos que se debruçam sobre a história brasileira. 70

Os registros de batismo, casamento e óbito, possibilitam ao historiador

reconstruir a trajetória de vida de um indivíduo ou de uma família. Informações

69 Ibid. p. 307 70

COSTA, Iraci Del Nero. Os Registros Paroquiais como fonte complementar da Históra Econômica e Social. A propriedade rural. Anais do VIII Simpósio Nacional dos Professores Universitários de História, vol. III. São Paulo, FFLCH-USP, 1976, p. 1.019-1.022

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relacionadas ao nascimento, casamento e morte são apenas alguns dados que podem

ser retirados dessas importantes fontes. Pois nessa documentação se encontram

informações a respeito dos pais, por vezes dos avós, local de origem, profissão, entre

outros.

Em Curitiba essa documentação eclesiástica se encontra na Catedral Basílica de

Nossa Senhora da Luz, localizada na Praça Tiradentes, marco zero da cidade, ponto

onde foi fundada a vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. Os livros de registro,

datados do século XVII e XVIII, foram todos digitalizados pelo CEDOPE71, em

seguida transcritos por bolsistas e voluntários.

Os registros de batismo são transcritos em fichas cor de rosa com campo para

data do registro, datas do nascimento, Pároco, idade, sexo, legitimidade, nome do

batizando, nome dos pais e padrinhos, avós paternos e maternos, profissão e espaço

para observações. As informações dos registros de casamento são passadas para as

fichas brancas, com espaço para data do casamento, Pároco oficiante, nome do marido

e da esposa, idade, naturalidade e residência, e nome das testemunhas. Os óbitos são

transcritos nas fichas verdes, com campo para data o registro, data do óbito, Pároco,

idade, sexo, profissão, causa morte, naturalidade, residência, nome do falecido, pais,

cônjuge ou viúvo(a)72. Depois de finalizada a etapa de transcrição foram agrupadas as

famílias a partir do nome do homem/chefe de domicílio, gerando um grande número de

dados vitais para execução desse trabalho.

A primeira vista parece simples, mas esta jornada foi bastante árdua e longa, e

reunir tantas informações constitui uma tarefa muito trabalhosa. O primeiro desafio é

descobrir quem é quem, pois, no período colonial os nomes eram muitas vezes

alterados durante o decorrer da existência de um indivíduo; por exemplo, Francisco

Valente Ferreira, ora o encontramos como Francisco Valente ora como Francisco

Ferreira. Os homônimos, ou seja, pessoas com o mesmo nome eram caso bastante

comuns na colônia. Nomes como Antonio, João, José, Manoel e Francisco são

encontrados em grande número, e assim distinguir que João da Silva não é o mesmo

João da Silva Leme, torna-se um grande desafio. Hoje existem homônimos, mas

possuímos diversas informações, como RG, CPF, registros civis que permitem

distinguir um de outro. Todavia no mundo colonial não havia outros registros a não ser

71 Centro de Documentação e Pesquisa dos Domínios Portugueses séculos XV a XIX, do Departamento de História da Universidade Federal do Paraná. 72Ver anexo 3.

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os eclesiásticos. Um caso de homonímia ocorrido foi com João de Siqueira, que

assinou a ata de elevação de vila em 1693. Ao procurar nas atas da câmara seu nome,

encontrou-se João de Siqueira e Silva, eleito em 1730, e outro João de Siqueira eleito

em 1744 e 1760. Assim, como saber se o João presente em 1693 é o mesmo de

1730,1744 e 1760? Devido as datas, acredito que são três indivíduos diferentes: o

período entre elas é significativo e João de Siqueira, que assinou em 1693, certamente

não é o mesmo de 1744, e como o outro é denominado Siqueira e Silva, acredito-se não

ser o mesmo. Mas essa questão é agravada em relação ao nome das mulheres. Ana e

Maria são os prenomes mais usuais no período colonial, e os sobrenomes eram bastante

variáveis. Foram encontrados registros de uma mesma esposa chamada Maria, mas

com três sobrenomes distintos, dificultando o processo de identificação. Ana Maria da

Silva pode ser encontrada como Maria da Silva ou Ana Silva em outros registros, as

mulheres muitas vezes não adotam o sobrenome dos pais e após o casamento também

não é acrescido o nome do marido, implicando uma série de desafios para a

identificação.

Iniciando a análise da elite em 1693 encontraram-se outras barreiras, pois os

primeiros registros de batismo datam de 1683, e não eram feitos sequencialmente. Para

o ano de 1684 foram localizados 8 registros e para 1685 apenas 2, para finais do

século XVII e início do XVIII existe um número reduzido de assentos de batismo.

Em relação aos assentos de casamento surge outro problema cronológico, pois

o primeiro registro data de 1732, deixando uma grande lacuna para o período aqui

abordado. Com os óbitos ocorre o mesmo, pois somente a partir de 1731 encontramos

registros de morte. No entanto, para este trabalho os assentos de óbito não detêm tanta

importância, sendo os dados apenas utilizados como complemento.

Analisar a formação de Curitiba a partir dos registros eclesiásticos é bastante

complicado, dado o vazio documental para o período entre 1690 e 1730. Por essa razão

a “história” de vida dos vinte um homens-bons, não pôde ser remontada apenas através

dos assentos paroquiais. Algumas trajetórias só podem ser remontadas sob a ótica dos

descendentes da primeira elite, dada à falta de fontes para o período. Todavia para

concretizar este estudo foram utilizadas outras fontes secundárias, que agregaram

dados de suma importância ao corpo investigativo. Refiro-me ao “Dicionário Histórico

e Geográfico” de Ermelino de Leão, à “Genealogia Paranaense” estruturada por

Francisco Negrão, à “História do Paraná” de Romário Martins e ao “Os Curitibanos e

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a Formação de Comunidades Campeiras no Brasil Meridional” de Rosely Vellozo

Roderjan73.

3.1. A Primeira Elite e a Família

Agregando as informações retiradas das Atas da Câmara, dos registros

paroquiais e das fontes secundárias, foi possível descrever um pouco da trajetória da

maioria dos vinte dois homens que formavam a primeira elite local. As trajetórias de

vidas mais pormenorizadas dos membros da primeira elite podem ser vistas nos anexos

deste trabalho. Entre os envolvidos neste grupo, três não deixaram descendentes:

Antonio Luiz Tigre, Agostinho de Figueredo e Jose Pereira Quevedo. Para três outros,

não foram encontrados dados mais substanciais que possibilitassem reconstruir suas

trajetórias de vida: João Veloso da Costa, Paulo da Costa Leme e João Leme da Silva.

Desta maneira foram seguidas dezesseis famílias e entre essas se procurou identificar

suas continuidade na esfera política e as relações familiares constituídas.

A tabela a seguir tem como intuito mostrar quem deixou descendentes na esfera

política, ou seja, quem fez sucessores dentro da Câmara, bem como vislumbrar com

quais outras famílias participantes do círculo camarário estes homens se relacionavam.

Todavia, o foco principal foi detectar se havia relações familiares entre os camaristas,

ou seja, se as relações extrapolavam a esfera administrativa e chegavam a constituir

laços familiares.

Entre os vinte e um indivíduos envolvidos, três não tiveram filhos; do grupo de

dezoito homens com descendentes, dez deixaram no mínimo dois representantes entre

filhos ou genros no círculo camarário, mostrando que 55% da primeira elite se

perpetuaram no poder através de seus descendentes.

Parte da primeira elite apresenta algum laço de parentesco com outro individuo

deste mesmo grupo, treze apresentam alguma relação com outros indivíduos. Balthazar

Carrasco dos Reis foi pai de Gaspar Carrasco, sogro de Manoel Soares e avô de José

Martins Leme. Matheus Martins Leme era sogro de Manoel Picão de Carvalho e

Antonio da Costa Veloso e avô de Jose Martins Leme e João Álvares Martins. Garcia

73 Essas obras trazem informações a respeito dos principais povoadores locais, como sua origem, cargos ocupados e descendência. Apesar de dados contraditórios e errôneos, as referidas obras foram fundamentais para a realização deste trabalho.

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Rodrigues Velho e Luiz da Cunha eram irmãos. Antonio Luiz Tigre e Francisco de

Melo Coutinho eram cunhados. Antonio Rodrigues Seixas era genro de Manoel Soares,

acima mencionado. A maioria das relações não era consangüínea, e sim relação ritual,

firmada via casamento ou batismo – relações importantes que eram sacramentadas pela

Igreja. Este tipo de vínculo poderia fortalecer os bens e nome das famílias envolvidas.

As relações familiares firmadas por este grupo seguiram o princípio da homogamia, ou

seja, engendram relações com pessoas do mesmo status, ou do mesmo meio social.

Dentre os indivíduos descritos, apenas Luiz de Góis e Jose Pereira Quevedo não

apresentaram nenhuma relação com os demais membros da elite. Os demais camaristas

estão todos diretamente relacionados com outras famílias de notáveis. Engendrar

relações com importantes famílias auxiliava o indivíduo em sua vida cotidiana.

Todavia as relações não determinam à permanência no meio administrativo, pois

alguns deles não deixam descendência no quadro camarário; no entanto, se relacionam

com importantes famílias, como é o caso de Francisco de Melo Coutinho e Frutuoso da

Costa. O contrário também é válido, pois Luiz de Góis não firma nenhuma relação

direta com outros camaristas, mas deixa um filho e um genro no círculo camarário.

Apesar de não serem determinantes para o acesso a câmara, as relações familiares

detinham papel fundamental na vida dos homens coloniais.

Quadro 9: A Primeira Elite, a Presença na Câmara e as Relações Familiares

Homens da Primeira Elite

Presença na Câmara

Descendentes na Câmara

Nº de descendentes na Câmara (filhos e genros)

Relação Familiar dentro deste grupo

Relação com outras Famílias de camaristas. (casamento e batismo dos filhos)

Balthazar Carrasco dos Reis

NÃO SIM 1 – FILHO 3 – GENROS

Pai de Gaspar Carrasco dos Reis Avó de Jose Martins Sogro de Manoel Soares

- Matheus Leme - Antonio Veloso - Garcia Rodrigues

Matheus Martins Leme

NÃO SIM 1 – FILHO 2 - GENROS

Sogro de Manoel Picão Carvalho e de Antonio Veloso Avó de Jose Martins e de João Álvares

- Balthazar Carrasco

Garcia Rodrigues Velho

SIM SIM 1 – FILHO 1 – GENRO

Irmão de Luiz da Cunha

- João de Carvalho Pinto - João Martins Leme - Francisco de Melo - Manoel Picão - Baltazar Carrasco - Miguel Luiz Correia

Gaspar Carrasco Dos Reis

SIM SIM 3 – FILHOS 1 – GENRO

Filho de Balthazar Carrasco dos Reis

- Antonio Veloso - Antonio Luiz Tigre - Francisco Veloso Costa - Salvador de Albuquerque

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Manoel Soares SIM SIM 1 – FILHO 4 - GENROS

Genro de Balthazar Carrasco dos Reis

- João Carvalho Pinto - João Ribeiro do Vale - Antonio Rodrigues Seixas - Francisco Teixeira

Manoel Picão de Carvalho

SIM SIM 1 – FILHO 3 – GENROS

Genro de Matheus Martins Leme

- Zacarias Dias Cortes - Pantaleão Rodrigues

João Álvares Martins

SIM SIM 3 - GENROS Neto de Matheus Martins Leme

- Antonio Luiz Tigre - Gabriel Álvares de Araújo - João Pais de Almeida - Jose Palhano de Azevedo

Antonio da Costa Veloso

SIM SIM 2 – FILHOS 2 - GENROS

Genro de Matheus Martins Leme

- Gaspar Carrasco - Miguel Domingues Vidigal - Guilherme Dias Cortes

Jose Martins Leme SIM Neto de Balthazar Carrasco e Matheus Leme

- Francisco Veloso - Jose Nicolau Lisboa - Antonio Luiz Tigre - Domingos Ribeiro da Silva - Jose Palhano de Azevedo - João Carvalho de Assunção

Antonio Rodrigues Seixas

SIM SIM 2 – FILHOS 1 - GENROS

Genro de Manoel Soares

- Manoel Martins Valença - Alexandre de Moraes Franco - Lourenço de Andrade

Luiz de Góis ELEITOR SIM 1 – FILHO 1 – GENRO

Francisco de Melo Coutinho

SIM NÃO Cunhado de Antonio Luiz Tigre

- Agostinho de Figueredo - Guilherme Dias Cortes - Jose Teixeira de Azevedo

Frutuoso da Costa SIM NÃO - Francisco Valente - João Álvares Martins - Manoel Picão

Luiz Rodrigues da Cunha

SIM NÃO Irmão de Garcia Rodrigues Velho

Antonio dos Reis Cavalheiro

SIM NÃO - Antonio Luiz Tigre

Antonio Luiz Tigre SIM SEM FILHOS Cunhado de FranciscoMelo Coutinho

- Antonio dos Reis Cavalheiro- Jose Martins Leme - Gaspar Carrasco dos Reis - João Álvares Martins

Agostinho de Figueredo

SIM SEM FILHOS - Francisco de Melo Coutinho

Jose Pereira Quevedo

SIM SEM FILHOS

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3.2. Os Descendentes da Elite

A primeira elite permaneceu no poder, ou seja, a primeira geração de

descendentes continuou ocupando os principais cargos da câmara. Mas como se

comportaram esses filhos e filhas da elite – mantiveram o poder ou desapareceram do

quadro político? Ou, mesmo, com quem firmaram suas alianças familiares? Para

responder a estas questões foram elaborados quadros que tentam elucidar a

continuidade dos descendentes na esfera política e as relações familiares firmadas por

eles. Entretanto muitos descendentes da primeira elite tiveram seus filhos em meados

da década de 1730, ou após esse período, e desta forma não foi possível averiguar a

presença destes na câmara municipal. Se chegaram a assumir o poder certamente o fato

teria ocorrido após 1750, período posterior ao recorte temporal deste trabalho. Os

quadros apresentados abaixo contêm algumas lacunas, ora por falta de dados, ora por

extrapolar a periodização estipulada. Contém cinco colunas referentes aos

Descendentes, Cônjuges, Presença na Câmara, Descendentes na Câmara e Relações

familiares com outros camaristas. Da mesma forma que outros procedimentos, em

relação os descendentes na câmara só foram levantados nomes que ocuparam postos

até 1750; desta forma não se pode afirmar que não houve perpetuação de algumas

famílias. A coluna das Relações Familiares tem como objetivo observar se houveram

relações entre os camaristas, seja via batismo dos pais referidos ou de seus filhos ou

através dos casamentos.

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10- A família de Balthazar Carrasco dos Reis e Izabel Antunes, a presença na Câmara e as relações familiares com outros camaristas.

Filhos de Balthazar e Izabel

Cônjuges Presença na Câmara

Descendentes na Câmara até 1750.

Relações firmadas com outros camaristas

André Fernandes dos Reis Maria Rodrigues NÃO NÃO SIM – Garcia Rodrigues Velho

Gaspar Carrasco dos Reis Ana da Silva Leme SIM SIM Salvador de Albuquerque-G Antonio da Silva Leme-F Balthazar Veloso da Silva-F Francisco Xavier-F

SIM – Antonio da Costa Veloso Antonio Luiz Tigre Francisco da Costa Veloso Salvador de Albuquerque

Belchior Carrasco dos Reis Maria Domingues NÃO NÃO NÃO

Margarida Fernandes Antonio Martins Leme NÃO SIM Jose Martins Leme-F Jose Nicolau Lisboa-G Balthazar Fernandes Leme-F João Martins Leme-F

SIM – Antonio Ribeiro da Silva Jose Nicolau Lisboa Manoel da Rocha Carvalhais João Carvalho Pinto

Maria Pais Manoel Soares SIM SIM Gonçalo Soares Pais-F Antonio Rodrigues Seixas-G Francisco Teixeira-G Tomás Frutuoso-G Sebastião dos Santos Pereira-G João Ribeiro do Vale-G

SIM – Antonio Rodrigues Seixas João Carvalho Pinto Manoel Martins Valença Alexandre de Moraes Franco Sebastião dos Santos Pereira

Izabel Garcia Antunes Antonio Rodrigues Side NÃO SIM Balthazar Carrasco dos Reis-F

SIM – Jose Teixeira de Azevedo João Alvres Martins Manoel Chaves de Almeida

Maria das Neves Guilherme Dias Cortes SIM SIM Zacarias Dias Cortes-F Pedro Dias Cortes-F Manoel de Lima Pereira-G João Batista de Oliveira-G João Dias Cortes-F Jose Dias Cortes-F Manoel de Chaves de Almeida-G Francisco Veloso-G

SIM – Manoel Picão de Carvalho Francisco de Siqueira Cortes Manoel de Lima Pereira Francisco Valente Ferreira João Carvalho Pinto Francisco Veloso da Costa

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Domingas Antunes Cortes Jose Teixeira de Azevedo SIM SIM Jose Palhano de Azevedo-F Luiz Palhano de Azevedo-F

SIM - Antonio Fernandes de Siqueira

F – Filho G- Genro 11 - A família de Matheus Martins Leme e Antonia de Gois, a presença na Câmara e as relações familiares com outros camaristas.

Filhos de Matheus e Antonia

Cônjuges Presença na Câmara

Descendentes na Câmara ate 1750.

Relações firmadas com outros camaristas

Antonio Martins Leme Margarida Fernandes NÃO SIM Jose Martins Leme-F Jose Nicolau Lisboa-G Balthazar Fernandes Leme-F João Martins Leme-F

SIM – Antonio Ribeiro da Silva Jose Nicolau Lisboa Manoel da Rocha Carvalhais João Carvalho Pinto

Matheus Leme da Silva Izabel do Prado SIM NÃO SIM – Frutuoso da Costa

Ana Maria da Silva Antonio da Costa Veloso SIM SIM Francisco Veloso-F Brás Domingues Veloso-F Gaspar Carrasco dos Reis-G

SIM – Guilherme Dias Cortes Gaspar Carrasco dos Reis João Cardoso

Maria Leme da Silva Manoel Picão de Carvalho SIM SIM João Carvalho Assunção-F Zacarias Dias Cortes-G Pantaleão Rodrigues-G Jose da Costa-G

SIM – Zacarias Dias Cortes Pantaleão Rodrigues Amador Bueno da Rocha Jose da Costa

Salvador Martins Leme Izabel Fernandes de SiqueiraNÃO SIM João Álvares Martins

NÂO

F – Filho G- Genro

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12 - A família de Garcia Rodrigues Velho e Izabel Bicuda, a presença na Câmara e as relações familiares com outros camaristas.

Filhos de Garcia e Isabel Cônjuges Presença na Câmara

Descendentes na Câmara ate 1750.

Relações firmadas com outros camaristas

Antonio Rodrigues Velho Margarida Fernandes NÃO NÂO NÂO

Maria Rodrigues da Cunha André Fernandes dos Reis

João de Carvalho Pinto

NÃO

SIM

NÂO

SIM – Balthazar Carrasco dos Reis

SIM – João Martins Leme Antonio Luiz Tigre Jose Nicolau Lisboa Gaspar Carrasco dos Reis

Henrique da Cunha Maria Gonçalves dos Santos SIM NÂO SIM – João Martins Leme

Ana Maria da Cunha

Juliana Rodrigues SIM - Francisco de Melo Coutinho Manoel Picão de Carvalho

Romana Rodrigues SIM – João de Carvalho Pinto

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13 - A família de Antonio da Costa Veloso e Ana Maria da Silva, a presença na Câmara e as relações familiares com outros camaristas.

Filhos de Antonio Cônjuges Presença na Câmara

Descendentes na Câmara ate 1750.

Relações firmadas com outros camaristas

Brás Domingues Veloso Catharina Gonçalves Coutinha Maria Paes

SIM NÃO SIM – Gonçalo Soares Paes Manoel Borges de Sampaio Simão Gonçalves de Andrade

Francisco Veloso Felipa dos Reis SIM NÂO

Ana da Silva Leme Gaspar Carrasco dos Reis SIM SIM Antonio da Silva Leme-F Balthazar Veloso dos Reis-F Francisco Xavier dos Reis-F Salvador de Albuquerque-G

SIM – Antonio da Costa Veloso Antonio Luiz Tigre Francisco da Costa Veloso Salvador de Albuquerque

Francisca Velosa Miguel Domingues Vidigal SIM

Maria Velosa da Silva Manoel da Silva Barros

Sebastião de Crasto Maio

NÃO

NÃO

F – Filho G- Genro

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14 - A família de Manoel Picão de Carvalho e Maria Leme, a presença na Câmara e as relações familiares com outros camaristas.

Filhos de Manoel e Maria Cônjuges Presença na Câmara

Descendentes na Câmara ate 1750.

Relações firmadas com outros camaristas

João Carvalho de Assunção Maria Bueno da Rocha SIM SIM João Gonçalves Teixeira- G

SIM – Salvador de Albuquerque Antonio da Silva Leme Brás Domingues Veloso Manoel Duarte

Maria Leme da Silva Zacarias Dias Cortes Pantaleão Rodrigues

SIM SIM

Sem Descendentes NÃO

SIM SIM – Triphonio Cardoso Manoel Duarte

Dionísia Leme Jose da Costa Vasconcelos SIM SIM Amador Bueno da Rocha-G

F – Filho G- Genro

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15 - A família de Luiz de Góis e Maria de Siqueira, a presença na Câmara e as relações familiares com outros camaristas.

Filhos de Luiz e Maria Cônjuges Presença na Câmara

Descendentes na Câmara ate 1750

Relações firmadas com outros camaristas

Miguel de Gois Izabel de Siqueira/Silva/ Fernandes/Pina

NÃO NÂO SIM – Antonio Rodrigues Seixas Lourenço de Andrade Francisco Veloso

Francisco de Siqueira Cortes Catharina Mendes Barbuda SIM

NÂO

SIM – Sebastião dos Santos Pereira Salvador de Albuquerque Amaro Fernandes

Catharina de Siqueira Cortes Antonio Fernandes de Siqueira SIM NÂO SIM – Sebastião dos Santos Pereira Antonio Rodrigues Seixas João Ribeiro do Vale Lourenço de Andrade Antonio Luiz Tigre Manoel Rodrigues da Mota Simão Gonçalves de Andrade

Maria da Graça Inocêncio Alves NÃO NÃO

Antonio de Siqueira

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16 - A família de Gaspar Carrasco dos Reis e Ana Leme da Silva, a presença na Câmara e as relações familiares com outros camaristas.

Filhos de Gaspar e Ana Cônjuges Presença na Câmara

Descendentes na Câmara ate 1750

Relações firmadas com outros camaristas

Maria Velosa Jose de Farias Paes NÃO SIM

Domingos Cardoso de Leão-G

NÃO

Antonio da Silva Leme SIM

NÃO

Izabel Antunes Salvador de Albuquerque SIM SIM Henrique Ferreira de Barros- G

SIM – Sebastião Gonçalves Lopes Amador Bueno Pedro Dias Cortes

Joana Leme Jose de Albuquerque NÃO NÃO SIM – Antonio Luiz Tigre

Balthazar Veloso dos Reis Antonia de Souza Vale SIM NÂO NÂO

Francisco Xavier dos Reis SIM NÂO NÂO

Francisca

Vitória

F – Filho G- Genro

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17 - A família de Manoel Soares e Maria Pais, a presença na Câmara e as relações familiares com outros camaristas.

Filhos de Manoel e Maria Cônjuges Presença na Câmara

Descendentes na Câmara ate 1750

Relações firmadas com outros camaristas

Izabel Soares João Ribeiro Vale SIM

SIM Simão Gonçalves Andrade-G

SIM – Tomás Alves Lourenço de Andrade Antonio Fernandes de Siqueira Miguel Rodrigues Ribas Simão Gonçalves de Andrade

Maria Soares Pais Antonio Rodrigues Seixas SIM SIM Manoel Rodrigues Seixas-F João Rodrigues Seixas- F Manoel Rodrigues Lisboa- G Alexandre de Moraes Franco-G

SIM – Manoel Martins Valença

Gonçalo Soares Paes Maria Leme da Silva SIM NÃO SIM – Domingos Ribeiro da Silva Triphonio Cardoso

Ana Gonçalves Francisco Teixeira de AzevedoSIM SIM João Gonçalves Teixeira-G Brás Domingues Veloso-G

SIM – Francisco Veloso da Costa Gabriel Álvares de Araujo

Joana Garcia Soares Sebastião dos Santos Pereira SIM SIM Miguel Gonçalves Lima-G Francisco Marques Lameira- G

Domingos Soares Pais Maria Leite da Silva NÃO Juliana Maria Neves Tomás Frutuoso SIM Maria das Neves Manoel Garcia da Costa NÃO Manoel Martins Soares Maria Cardoso NÃO F – Filho G- Genro

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18 - A família de Jose Martins Leme e Antonia Ribeira, a presença na Câmara e as relações familiares com outros camaristas.

Filhos de Jose e Antonia Cônjuges Presença na Câmara

Descendentes na Câmara ate 1750

Relações firmadas com outros camaristas

Maria Almeida de Siqueira Lourenço Castanho de Araújo NÂO

Margarida Fernandes Ignácio Taques de Almeida NÂO SIM – Gonçalo Soares Pais

Joana Leme de Jesus Francisco da Silva NÃO

Salvador Martins Leme Izabel Cordeira NÃO SIM – Vitorino Teixeira Manoel Borges Sampaio Salvador de Albuquerque Gaspar Carrasco dos Reis Domingos Cardoso de Leão

19 - A família de João Álvares Martins e Maria do Souto, a presença na Câmara e as relações familiares com outros camaristas.

Filhos de João e Maria Cônjuges Presença na Câmara

Descendentes na Câmara ate 1750

Relações firmadas com outros camaristas

Catarina Martins do Souto/ Faria

Gabriel Álvares de Araújo SIM SIM Manoel Pereira Vale- G

Antonio Alves Luzia de Moura NÃO

Maria Alves Sebastião Gonçalves Lopes SIM

Izabel Alves Vitorino Teixeira SIM

SIM – Manoel Borges de Sampaio Jose Palhano de Azevedo Manoel Rodrigues da Mota

João Alves de Faria Joana Pereira de Almeida NÂO

F – Filho G- Genro

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20 - A família de Antonio Rodrigues Seixas e Maria Soares, a presença na Câmara e as relações familiares com outros camaristas.

Filhos de Antonio e Maria Cônjuges Presença na Câmara

Descendentes na Câmara ate 1750

Relações firmadas com outros camaristas

João Rodrigues Seixas

Izabel Martins Valença SIM SIM Manoel Gonçalves Sampaio-G

SIM – Manoel Gonçalves Sampaio

Manoel Rodrigues Seixas Francisca Maciel de Sampaio SIM SIM – Antonio Fernandes de Siqueira

Izabel Rodrigues Manoel Rodrigues Lisboa NÃO SIM – Antonio Luiz Tigre

Juliana Rodrigues Alexandre de Moraes Franco SIM SIM – João Ribeiro do Vale

F – Filho G- Genro

21 - A família de Frutuoso da Costa e Ursula Gracia de Siqueira, a presença na Câmara e as relações familiares com outros camaristas.

Filhos de Frutuoso e Ursula Cônjuges Presença na Câmara

Descendentes na Câmara

Relações firmadas com outros camaristas

Simão da Costa NÃO João da Costa Colaço Gracia Ferreira NÃO

Maria SIM – Francisco Valenste

Maria SIM – Manoel Picão

Ana SIM – João Álvares Martins

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22 - A família de Francisco de Melo Coutinho e Izabel Luiz Tigre, a presença na Câmara e as relações familiares com outros camaristas.

Filhos de Francisco e Izabel Cônjuges Presença na Câmara

Descendentes na Câmara

Relações firmadas com outros camaristas

Salvador de Melo Coutinho Izabel Palhana de Oliveira NÃO SIM – Jose Teixeira de Azevedo Maria SIM – Guilherme Dias Cortes

Izabel SIM – Agostinho de Figueredo

Maria

Izabel

23 - A família de Luiz Rodrigues da Cunha e Izabel de Pina, a presença na Câmara e as relações familiares com outros camaristas.

Filhos de Luiz e Izabel Cônjuges Presença na Câmara

Descendentes na Câmara

Relações firmadas com outros camaristas

Sebastião de Pina NÃO Ursula

24 - A família de Antonio dos Reis Cavalheiro e Domingas Pedrosa/Pinta, a presença na Câmara e as relações familiares com outros camaristas.

Filhos de Antonio e Domingas Cônjuges Presença na Câmara

Descendentes na Câmara

Relações firmadas com outros camaristas

Diogo SIM- Antonio Luiz Tigre Josefa

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As tabelas apresentadas demonstram que parte da primeira elite deixou pelo menos

um filho no círculo camarário; das quinze famílias, dez mantiveram sua representatividade

através de um descendente direto. Gaspar Carrasco dos Reis (quadro 16) teve três filhos

que se tornaram camaristas, número mais alto encontrado; Antonio Rodrigues Seixas

(quadro 20) e Antonio da Costa Veloso (quadro 13) deixaram dois filhos na esfera política;

seis outras famílias apresentaram apenas um representante e seis restantes não fizeram

nenhum sucessor direto. Somando o número de filhos da primeira elite, teríamos um total

de trinta homens; destes, treze chegaram ao poder, representando que 43% dos filhos

homens continuaram a figurar entre a elite camarária.

O número total de genros foi de trinta e cinco; entre estes, vinte e três chegaram ao

poder, ou seja, 66% dos genros da primeira elite mantiveram a posição social alçada por

seus sogros. Novamente Gaspar Carrasco foi quem manteve mais representantes: dos seus

seis genros, cinco se tornaram camaristas. Enquanto o número de filhos membro da câmara

variava entre um e dois, para os genros camaristas esse número aumentava e ficava entre

dois e três representantes por família. Para as famílias apresentadas nos quadros 21, 22, 23

e 24, não foram localizados dados mais substanciais, e até o presente momento nenhuma

informação sobre o casamento dos filhos desse grupo foram levantada. Como foi

mencionado, os dados apresentados foram retirados das atas de batismo dos filhos, que

permitiram saber o prenome e se algum camarista foi padrinho destas crianças.

Dado o recorte cronológico deste trabalho, a analise da participação camarária da

segunda geração se tornou limitada. Todavia oito famílias perpetuaram a ‘tradição’ política,

ou seja, 21 netos da primeira elite ocuparam cargos na câmara. Desta maneira pode-se

aferir que houve uma continuidade do poder, iniciada pelos primeiros camaristas e

transmitida aos filhos/genros e netos.

Faltam algumas informações para que se possa descrever um quadro claro e preciso

sobre as relações firmadas pelos netos da primeira elite. Todavia analisando as relações

familiares entre camaristas se pode observar que havia um forte vínculo entre esse grupo.

Apesar das limitações se torna evidente a ocorrência de alianças familiares no interior deste

segmento social. Sendo assim pode-se aferir que houve em certa medida a perpetuação da

primeira elite no poder, por no mínimo duas gerações e que estes descendentes filhos/neto

seguiram os mesmos princípios que pautavam as relações familiares dos patriarcas, ou seja,

firmavam alianças com pessoas do mesmo grupo. Certamente havia relações fora deste

segmento, entretanto nota-se que os vínculos com seus iguais eram fundamentais para a

reafirmação da posição de notáveis.

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CONCLUSÃO

Este trabalho considerou que a elite curitibana iniciou sua formação no momento

em que foi criada a câmara municipal, e partiu do pressuposto que esta instituição trouxe

consigo a necessidade de um novo ordenamento social pautado na exclusão. Pois, apenas

alguns homens adentravam ao círculo camarário: os considerados homens bons, aqueles

que possuíam qualificativos que lhes permitiam tornarem-se elegíveis. Os postos da câmara

deveriam ser preenchidos pelos principais homens da localidade e, sendo assim, em 1693

começa o processo de ‘escolha’ dos notáveis da terra.

Segundo a metodologia adotada chegou-se a um conjunto de vinte e um homens

considerados a primeira elite curitibana. Entre este grupo alguns apresentavam alguns

predicados que os qualificavam como homens bons. Buscaram-se como fatores de

diferenciação a vinculação com os povoadores, a posse de sesmaria, a posse de cativos e

obtenção de cargo nas milícias. Para além dos qualificativos, procuramos identificar se essa

primeira elite deixa ou não descendente na câmara, ou seja, se houve a perpetuação destas

primeiras famílias de notáveis no centro do poder local.

O quadro abaixo apresenta os qualificativos e descendência desta primeira elite.

Dezoito famílias tiveram descendência, e destas dez deixaram representantes no círculo

camarário, demonstrando que houve a perpetuação de determinadas famílias. Seguindo a

segunda geração, dentro do recorte temporal deste trabalho, foi possível determinar que

oito famílias permaneceram no poder por mais uma geração. Das dezoito famílias iniciais,

permanecem treze e destas certamente oito seguem a o mesmo caminho dos patriarcas da

elite. Parte do primeiro núcleo da elite local permaneceu no poder.

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Quadro 25: A primeira elite seus qualificativos e a descendência camarária.

Nome Anos na Câmara

Sesmaria Povoador Cativos Cargo de Milícias Descendência na Câmara

Antonio Rodrigues

Seixas

10 Filho de

Povoador

Sim Capitão Sim

Antonio da Costa

Veloso

6 Genro de

Sesmeiro

Povoador Sim Capitão Sim

Agostinho de Figueredo 2 Povoador Sim Capitão Sem Descendentes

Antonio Luiz Tigre 7 Sim Povoador Sim Capitão Sem Descendentes

Antonio dos Reis

Cavalheiro

3

Francisco de Melo

Coutinho

5 Cunhado de Povoador

Sim

Frutuoso da Costa 6 Sim

Garcia Rodrigues

Velho

5 Sim Povoador Sim Capitão Sim

Gaspar Carrasco dos Reis

12 Filho de Sesmeiro

Povoador Sim Alferes Sim

Jose Pereira Quevedo 1 Sim Povoador Sim Sem Descendentes

Jose Martins Leme 9 Sim Filho de Povoador

Sim Capitão

João Alvres Martins 2 Sim Neto de Povoador

Sim Sim

João Veloso da Costa 1

Luiz Rodrigues Cunha 3 Sim Irmão de Povoador

Sim Não

Manoel Soares 8 Sim Povoador Sim Sim

Manoel Picão de Carvalho

7 Genro de Sesmeiro

Genro de povoador

Sim Capitão Sim

Luiz de Goes Eleitor Sim Povoador Sim Sim

Paulo da Costa Leme Eleitor Sim

João Leme da Silva Eleitor Sim

Matheus Martins Leme Não Sim Povoador Sim Capitão Sim

Balthazar Carrasco dos

Reis

Não sim Povoador Sim Capitão Sim

Este grupo estava diretamente ligado com os povoadores, dez eram considerados

primeiros povoadores e seis estavam diretamente ligados a esses colonizadores, ou seja,

havia uma estreita relação entre elite e os primeiros povoadores. A posse de sesmaria era

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uma prática que agraciava poucos, possuir terras era um diferenciador para obter cargos na

câmara, no entanto poucos que participavam do círculo camarário tiveram a felicidade de

receber seu pedaço de terra. A posse de cativos também era tida como um fator de

diferenciação, para a primeira elite a detenção de escravos era quase unânime, 90% deles

eram senhores de cativos. Os cargos de milícias não são vistos como diferenciador e sim

como reafirmação da condição de elite, todavia nem todos se tornavam milicianos,

acredita-se que os Capitães, Sargentos e Alferes detinham prestígio ainda maior perante a

sociedade e ao seu próprio grupo.

A elite curitibana apresentava as mesmas características das elites coloniais de

outras vilas. Poder de mando local, vinculo com povoadores, posse de terras e cativos e

encarregados das patentes milicianas. Da mesma forma as relações familiares firmadas por

esse grupo seguiu a conduta das elites, engendrando alianças com pessoas do mesmo status

e do mesmo meio social. Entretanto as relações não foram determinantes para o acesso a

câmara, assim como nenhum dos fatores apresentados podem ser vistos como prerrogativa

decisiva para adentrar ao círculo político. Mas as alianças familiares firmadas com

importantes famílias auxiliavam o indivíduo adentrar a câmara, receber terras e cargos nas

milícias. As relações familiares detinham papel importante para a reafirmação dos laços

entre a elite.

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FONTES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FONTES Boletim do Arquivo Municipal de Curitiba vol. 1, Curitiba: Impressora Paranaense, 1906. Arquivo da Catedral Metropolitana Basílica Menor Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba – Livro de Batismo 1 e 2. Arquivo da Catedral Metropolitana Basílica Menor Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba – Livro de Casamento 1. Arquivo da Catedral Metropolitana Basílica Menor Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba – Livro de Óbito 1.

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BICALHO, Maria Fernanda. A cidade e o império: o Rio de Janeiro no século XVIII,

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BLAJ, Ilana. Agricultores e comerciantes em São Paulo nos inícios do século XVIII: o processo de sedimentação da elite paulistana.

BALHANA, Altiva Pilatti, MACHADO, Brasil Pinheiro, WESTPHALEN, Cecília. História do Paraná. Curitiba: Grafipar.

BOXER, Charles. O império marítimo português 1415-1825. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

COSTA, Iraci Del Nero. Os Registros Paroquiais como fonte complementar da História Econômica e Social. A propriedade rural. Anais do VIII Simpósio Nacional dos Professores Universitários de História, vol. III. São Paulo, FFLCH-USP.

DIAS, Madalena Marques. A formação das elites numa vila colonial paulista: Mogi das Cruzes (1608-1646). São Paulo: 2001.

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FAORO, Raymundo Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. Porto Alegre: Globo; São Paulo: Ed. Da Universidade de São Paulo.

FARIA, Sheila de Castro. A Colônia em Movimento: Fortuna e família no cotidiano colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.

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LEBRUN, François. A vida conjugal no Antigo Regime. Lisboa: Edições Rolim, s.d., 1976.

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MONTEIRO, John Manuel. Negros da Terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

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NEGRÃO, Francisco. Genealogia Paranaense. Curitiba: Impressora Paranaense, 1927.

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RITTER. Maria Lourdes. As Sesmarias do Paraná no século XVIII. Curitiba: Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense, 1980.

RODERJAN, Roselys Vellozo. Os Curitibanos e a Formação de Comunidades campeiras no Brasil Meridional (séculos XVI a XIX). Curitiba: Works Informática, 1992.

SALGADO, Graça. (org.) Fiscais e Meirinhos; a administração no Brasil colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

SAMARA, Eni de Mesquita. Patriarcalismo, Família e Poder na Socidade Brasileira (Séculos XVI-XIX). Revista Brasileira de História. São Paulo. Vol. 11, n. 22- março/agosto de 91.

SANTOS, Antonio César de Almeida. Monumenta. MARCONDES, Moyses. Documentos para a História do Paraná. Rio de Janeyro, Typographia do Annuario do Brasil, 1923. Curitiba: Aos Quatrro Ventos, 2000.

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VAINFAS, Ronaldo. Trópico dos Pecados: Moral, Sexualidade e Inquisição no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1989.

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Anexos

Anexo I

A Composição da Câmara entre 1693 e 1750.

ANO PROCURADOR VEREADOR JUIZ ORDINÀRIO SEM

INFORMAÇÂO

1693 -Aleixo Cabral -Garcia Rodrigues Velho

-Jose Pereira Quevedo

-Antonio dos Reis Cavalheiro

-Antonio da Costa Veloso

-Manoel Soares

1694 - -Antonio da Costa Veloso -Manoel Soares

-Antonio dos Reis Cavalheiro

-Garcia Rodrigues Velho

-Guilherme Dias Cortes

1695 -Vicente Dias Leitão

-Matheus Leme

-Guilherme Dias Cortes

-Manoel Picão de Carvalho

-Antonio dos Reis Cavalheiro

-Jose Teixeira de Azevedo

1696 -Agostinho de

Figueredo

-Gaspar Carrasco dos Reis -Manoel Soares

-João de Carvalho Pinto

-Francisco de Melo C.

-Luiz Rodrigues Velho

1697 -Agostinho de

Figueredo

-João de Carvalho Pinto -Manoel Soares

-Garcia Rodrigues Velho

-Francisco de Melo C.

-Luiz Rodrigues Velho

1698 -Miguel Domingues

Vidigal

-Antonio da Costa Veloso

-Guilherme Dias Cortes

-Gaspar Carrasco dos Reis

-Antonio Ribeiro da Silva

-Antonio Rodrigues Seixas

1699 -Antonio da Costa

Veloso

-Garcia Rodrigues Velho

-Manoel Picão de Carvalho

-Vicente Dias Leitão

-Matheus Leme

-Jose Teixeira de Azevedo

1700 -Manoel Soares -Guilherme Dias Cortes

-Vicente Dias Leitão

-Luiz Rodrigues Velho

-Francisco de Melo C.

-Antonio Luiz Tigre

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1701 -Manoel Soares -Antonio da Costa Veloso

-Jose Teixeira de Azevedo

-Gaspar Carrasco dos Reis

-Antonio Rodrigues Seixas

-Lourenço de Andrade

1702 -Jose Teixeira de

Azevedo

-Guilherme Dias Cortes -Guilherme Dias Cortes

-Manoel da Cunha Gago

-Antonio Luiz Tigre

-João Alvares Martins

-Frutuoso da Costa

1703 -Frutuoso da Costa -Manoel Soares -Francisco de Melo C.

-Matheus Leme

-Gaspar Carrasco dos Reis

-Antonio Rodrigues Seixas

-Lourenço de Andrade

1704 -Manoel Soares -Antonio da Costa Veloso

-Frutuoso da Costa

-Manoel Picão de Carvalho

-Jose Teixeira de Azevedo

-João Álvares Martins

1705 -Frutuoso da Costa -Guilherme Dias Cortes

-Vicente Dias Leitão

-Gaspar Carrasco dos Reis

-Antonio Rodrigues Seixas

-Francisco de Melo C.

1706 -Vicente Dias Leitão -Lourenço de Andrade

-Manoel da Cunha Gago

-Jose Martins Leme

-Matheus Leme da Silva

-Francisco Veloso da Costa

1707 -Vicente Dias Leitão -Lourenço de Andrade

-Manoel da Cunha Gago

-Jose Martins Leme

-Matheus Leme da Silva

-Francisco Veloso da Costa

1708 -Vicente Dias Leitão -Lourenço de Andrade

-Manoel da Cunha Gago

-Jose Martins Leme

-Matheus Leme da Silva

-Francisco Veloso da Costa

1709 -Gaspar Carrasco dos

Reis

-Gabriel Álvares de Araújo

-João Ribeiro Vale

-Guilherme Dias Cortes

-Manoel Picão de Carvalho

-Balthazar Carrasco dos Reis

1710 -Antonio Ribeiro da

Silva

-Antonio Rodrigues Seixas

-Jose Martins Leme

-Antonio Luiz Tigre

-Lourenço de Andrade

-Thomas Alves Frutuoso

1711 -Antonio Luiz Tigre -Frutuoso da Costa

-João Ribeiro Vale

-José Teixeira

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-Jose Nicolau Lisboa

-Francisco Miranda

1712 -Frutuoso da Costa -Lourenço de Andrade

-Manoel de Macedo Lobo

-Miguel Luiz Correia

-Balthazar Fernandes Leme

1713 -Gaspar Carrasco dos

Reis

-Antonio Rodrigues Seixas

-Zacarias Dias Cortes

-João Ribeiro Cardoso

-Antonio Ribeiro da Silva

-João Ribeiro Vale

1714 -Manoel Picão de

Carvalho

-Guilherme Dias Cortes

-Lourenço de Andrade

-Jose Nicolau Lisboa

-Manoel de Macedo Lobo

-Francisco de Miranda

Tavares

1715 -Antonio Luiz Tigre -Gaspar Carrasco dos Reis

-Jose Martins Leme

-Manoel Perez Prado -Manoel de Macedo Lobo

1716 -Antonio Rodrigues

Seixas

-Manoel Picão de Carvalho

-Francisco de Miranda

Tavares

-Jose Palhano de Azevedo

-João Batista de Oliveira

1717 -Antonio Rodrigues

Seixas

-Francisco de Miranda

Tavares

-Manoel Picão de Carvalho

-Balthazar Carrasco dos Reis

-Jose Palhano de Azevedo

-João Batista de Oliveira

1718 -Antonio Luiz Tigre -Gaspar Carrasco dos Reis

-João Ribeiro Vale

-Manoel Perez Prado

-Jose da Costa

-Alexandre de Moraes Franco

1719 -Manoel de Lima

Pereira

--Jose Martins Leme -Gaspar Carrasco dos Reis

-Antonio Luiz Tigre

-João Ribeiro Vale

-Manoel Perez Prado

-Alexandre de Moraes Franco

-Francisco Valente Ferreira

-Gonçalo Soares Pais

-Manoel Martins Valença

-Braz Domingues Veloso

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1720 -Jose Nicolau Lisboa

-Manoel de Lima

Pereira

-Gaspar Carrasco dos Reis

-João Ribeiro Vale

-Pedro Dias Cortes

-Antonio Rodrigues Seixas

-Jose Martins Leme

-Jose Palhano de Azevedo

-Gonçalo Soares Pais

-Manoel Martins Valença

-Braz Domingues Veloso

1721 -Manoel de Lima

Pereira

-Manoel de Chaves de

Almeida

-João Cardoso

-João Martins Leme

-Balthazar Carrasco dos

Reis

Francisco teixeira

1722 -Manoel de Lima

Pereira

-Manoel de Chaves de

Almeida

-João Martins Leme

-João Cardoso de Leão

-Balthazar Fernandes Leme

-Francisco Xavier

1723 -Alexandre de Moraes

Franco

-Manoel Martins

Valença

-João Veloso da Costa

-Luiz Palhano de Azevedo

-Antonio Ribeiro da Silva

-Pedro Dias Cortes

1724 -Jose Palhano de

Azevedo

-Jose Dias Cortes

-Manoel Pinto Ribeiro

-Manoel de Macedo Lobo

-Braz Domingues Veloso

1725 -João Ribeiro Vale -João Batista de Oliveira

-Manoel Pais de Almeida

-Manoel Rodrigues da Mota

-João Dias cortes

-Francisco Valente Ferreira

-Manoel da Rocha

1726 -Antonio Rodrigues

Seixas

-Salvador de

Albuquerque

-Francisco Jerônimo

-Henrique da Cunha

-Francisco de Siqueira Cortes

-Jose Martins Leme

1727

-Jose Dias Cortes -João Batista de Oliveira

-Luiz Palhano de Azevedo

-Francisco Jerônimo de

Carvalho

-Bartolomeu de Souza

-Sebastião dos Santos

-Jose Martins Leme

-Manoel Pinto Ribeiro

-Manoel de Chaves

-Manoel Duarte

1728 -Gonçalo Soares Pais

-Sebastião Gonçalves

Lopes

-Sebastião dos Santos

Pereira

-Antonio Fernandes de

Siqueira

-João Rodrigues Seixas

-Antonio da Silva Leme

-Jose Palhano de Azevedo

-Amador Bueno da Rocha

1729 -Sebastião Gonçalves

Lopes

-Manoel Rodrigues da Mota

-Henrique da Cunha

-Miguel Rodrigues Ribas

-Manoel Lemos Bicudo

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-Sebastião dos Santos

Pereira

-Miguel Pais de Almeida

1730 -Manoel Rodrigues da

Mota

-Sebastião Gonçalves

Lopes

-Antonio Fernandes de

Siqueira

-Manoel Pinto Ribeiro

-João Dias Cortes

-João de Siqueira e Silva

-Francisco de Siqueira

Cortes

-Domingos Ribeiro

1731 -Manoel Pais de

Almeida

-Pedro Dias Cortes

-João Martins Leme

-Balthazar Veloso

-João Ribeiro Vale

-Braz Domingues Veloso

-Sebastião Gonçalves Lopes

1732 -Manoel da Rocha -Gaspar Teixeira Ribeiro

-João Pais Domingues

-Manoel Pereira do Vale

-Jose Dias Cortes

-Jerônimo da Veiga Cunha

1733 -João Batista de

Oliveira

-Henrique da Cunha

-João Pais Domingues

-João Chaves de Almeida

-Jose Palhano de Azevedo

-Sebastião dos Santos

Pereira

1734 -Francisco de Siqueira

Cortes

-Pedro Dias Cortes

-Antonio Fernandes de

Siqueira

-Manoel Álvares Fontes

-Antonio Martins Lisboa

-Gonçalo Soares Pais

-Salvador de Albuquerque

1735 -João Martins Leme -João Dias Cortes

-João Rodrigues Seixas

-João Pereira Braga

-Braz Domingues Veloso

-Manoel Lemos Bicudo

1736 -Jose Dias Cortes -Henrique da Cunha

-Vitorino Teixeira

-Trifonio Cardoso

-Jose Nicolau Lisboa

-Sebastião Gonçalves Lopes

-Amador Bueno da Rocha

1737 -Jose Palhano de

Azevedo

-João Batista de

Oliveira

-Antonio Martins Lisboa

-Gaspar Teixeira

-Manoel Soares da Silva

-Miguel Pais Cardoso

-Jose Dias Cortes

-Jerônimo da Veiga Cunha

-Manoel da Rocha

Carvalhais

1738 -João Martins Leme -Vitorino Teixeira

-Pataleão Rodrigues

-João da Silva Guimarães

-Domingos Ribeiro da Silva

1739

-Antonio Fernandes de

Siqueira

-Jose Dias Cortes

-Manoel Rodrigues Seixas

-Paulo da Rocha Dantas

-Manoel Rodrigues da Mota

-Francisco de Siqueira

Cortes

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1740 -Pedro Dias Cortes

-Antonio da Silva Leme

-Domingos Cardoso de Leão

-Paulo da Rocha

-Gonçalo Soares Pais

-Sebastião Gonçalves Lopes

1741 -Gaspar Teixeira

Ribeiro

-Antonio Martins Lisboa

-Estevão Ribeiro Baião

-Leão de Siqueira e Silva

-Felipe Pereira Magalhães

-Leão de Melo Vasconcelos

-Jose Palhano de Azevedo

-Miguel Rodrigues Ribas

1742 -Vitorino Teixeira -Manoel Pereira do Vale

-Domingos Ribeiro da Silva

-Simão Gonçalves

-Francisco de Siqueira

Cortes

-Sebastião Gonçalves Lopes

-Leão de Melo Vasconcelos

1743 -Leão de Melo

Vasconcelos

-Manoel Rodrigues

Seixas

-Antonio Luiz da Costa

-Sebastião Teixeira de

Azevedo

-Manoel Soares do Vale

-Miguel Gonçalves Lima

-Braz Domingues Veloso

-Miguel Rodrigues Ribas

-Trifonio Cardoso

-Leão de Melo Vasconcelos

1744 -Manoel Pereira do

Vale

-Antonio da Silva Leme

-Manoel Munis Barreto

-João de Siqueira

-Manoel Vas Torres

-Francisco de Siqueira

Cortes

-Leão de Melo Vasconcelos

1745 -Jose Palhano de

Azevedo

-Manoel Soares da Silva

-Domingos Ribeiro da Silva

-Lucas Francisco de Sampaio

-Gonçalo Soares Pais

-Pedro Dias Cortes

-Simão Gonçalves de

Andrade

1746 -Vitorino Teixeira

-Sebastião Teixeira de

Azevedo

-Antonio Martins Lisboa

-João Gonçalves Teixeira

-Francisco Ribeiro da Silva

-Paulo da Rocha Dantas

-Pedro Antonio Moreira

1747 -Amaro Fernandes -Antonio Fernandes de

Siqueira

-Manoel Soares do Vale

-João Carvalho Assunção

-Manoel dos Santos Lisboa

-Manoel dos Santos Cardoso

-Francisco de Siqueira

Cortes

-Miguel Rodrigues Ribas

1748

-Felipe Pereira

Magalhães

-Estevão Ribeiro Baião

-Miguel Ribeiro Ribas

-Vitorino Teixeira de Azevedo

-Braz Domingues Veloso

-Domingos Cardoso de

Leão

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1749 -Antonio Fernandes de

Siqueira

-Antonio da Silva Leme

-Francisco de Siqueira Cortes

-Antonio Luiz da Costa

-Manoel Borges Sampaio

-Miguel Rodrigues Ribas

-Manoel Pereira do Vale

1750 -Sebastião Teixeira de

Azevedo

-Amaro Fernandes da

Costa

-João Gonçalves Teixeira

-João batista Dinis

-Felix Ferreira Neto

-Braz Domingues Veloso

-Amador Bueno da Rocha

-Lourenço Ribeiro de

Andrade

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Anexo II.

A Trajetória de Vida da Primeira Elite.

Balthazar Carrasco dos Reis

Balthazar Carrasco dos Reis era paulista, filho do espanhol Miguel Garcia Carrasco e

Margarida Fernandes. Casou-se em Santa do Parnaíba com Izabel Antunes da Silva, e com

ela teve três filhos e cinco filhas. Em meados do século XVII toda a família Carrasco dos

Reis migra para Curitiba, incluindo genros e netos. Balthazar recebeu a segunda sesmaria

concedida na freguesia de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, em 1661. Os registros de

batismo de seus oito filhos devem estar localizados nos arquivos paroquiais de Santana do

Parnaíba, cidade de origem desse clã. Em Curitiba Balthazar Carrasco, participou como

signatário da ereção do pelourinho e da vila obteve o cargo de Capitão de ordenanças,

faleceu em 22/07/1697, em Curitiba, seu inventário é um dos documentos mais antigos na

localidade. Seus descendentes detiveram proeminência econômica, política e social na vila

de Curitiba.

1. Seu filho mais velho André Fernandes dos Reis, foi um dos signatários da ata de

levantamento do pelourinho, morreu antes de 1693, foi casado em Curitiba com Maria

Rodrigues, filha de Garcia Rodrigues Velho, um dos patriarcas cuja família será analisada.

Esta é uma das alianças firmadas entre duas das mais importantes famílias de povoadores da

região. O casal André e Maria tiveram apenas uma filha Izabel Rodrigues, casada com

Manoel Pereira dos Passos.

2. Gaspar Carrasco dos Reis foi o filho que mais se destacou no cenário político da

vila, exerceu por doze vezes cargos na Câmara Municipal, e também foi uma dos signatários

na ata de elevação da vila de Curitiba. Sendo um dos indivíduos formadores da primeira

elite, a história de vida da família de Gaspar será analisada mais adiante.

3. A trajetória de vida de Belchior Carrasco dos Reis não pode ser acompanhada,

pois este migra para Sorocaba ainda jovem, e lá se casou com Maria Domingues, com quem

teve dois filhos, Gaspar Carrasco dos Reis, que tem o mesmo nome do irmão de Belchior, e

Salvador Domingues, ambos casam-se em Sorocaba, e constroem suas histórias na vila

paulista.

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4. Margarida Fernandes, contraiu matrimonio com Antonio Martins Leme, filho do

capitão povoador Matheus Martins Leme, Consolidando mais uma das importantes alianças

entre as famílias dos primeiros e mais importantes povoadores. Antonio não ocupou cargo

na Câmara, devido ao seu falecimento em 1694, entretanto exerceu por muitos anos a função

de escrivão de sesmaria e recebeu do Capitão mor de Paranaguá Gabriel de Lara a sua

própria sesmaria em 1674, com Margarida teve seis filhos. O mais velho Jose Martins Leme,

um dos vinte e um homens da primeira elite, analisado no decorrer do texto. Os outros dois

filhos homens, Balthazar Fernandes e João Martins Leme, assumem por mais de uma vez

funções na administração pública local. Balthazar foi casado com Maria Candelária, e não

foram encontrados descendentes. João foi casado com Catharina Rodrigues Pinta, filha do

Capitão João Carvalho Pinto, camarista e sesmeiro, neta pela parte materna do povoador

Garcia Rodrigues Velho, um dos formadores da elite curitibana. O casal João e Catarina teve

sete filhos, três homens e quatro mulheres, entre os filhos Estevão Martins Leme migrou

para Sorocaba, onde casou e fixou residência, Miguel Francisco Martins e Pedro Rodrigues

Pinto não aparecem no círculo camarário, ambos casaram em Curitiba. As quatro filhas se

casaram, Maria do Terço com João da Rocha Dantas, Margarida Fernandes dos Reis,

contraiu primeiras núpcias com Tomás Leme do Prado, natural de Itu e após sua morte

casou-se com Domingos Dias Braga. Feliciana Fernandes dos Reis casou com Estevão

Ribeiro Baião, eleito cinco vezes para câmara e Maria Rodrigues do Rosário casada com

Gaspar Teixeira Ribeiro, natural de Braga, e eleito três vezes. As três filhas de Margarida e

Antonio, Ana Maria da Silva foi casada com Francisco Nunes de Siqueira. Antonia Leme

casou-se com Jose Nicolau Lisboa, natural do reino, exerceu por quatro vezes cargo de

vereança, e na primeira metade do século XVIII recebeu uma sesmaria. Tiveram cinco

filhos, duas mulheres e três homens. Manoel dos Santos Lisboa, foi batizado em 10/11/1715

por Antonio Luiz Tigre, povoador, camarista, sesmeiro e um dos fundadores da elite local e

Antonia Ribeira de Siqueira, Manoel casou aos 28 anos com Maria Ribeira de Siqueira, e

participou por quatro vezes círculo camarário. Antonio Martins Lisboa foi eleito nove vezes,

entre 1734 e 1765, casado com Paula Rodrigues da Rocha em 01/09/1745, filha do camarista

Manoel da Rocha Carvalhais. João da Luz Lisboa contraiu matrimonio com Izabel Pereira,

filha do Alferes Francisco Denis Pinheiro em 29/01/1757, até 1750, João não havia ocupado

nenhum cargo na câmara. A filha Izabel Antunes casou-se com Sebastião de Carvalho Pinto,

filho do camarista João de Carvalho Pinto, no dia 22/10/1738. Josefa Rodrigues Lisboa

casada com José Rodrigues Teixeira, irmão de sua cunhada Maria Ribeira de Siqueira. A

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família de Antonia e João firma importantes alianças familiares, das dez testemunhas de

casamento dos filhos do casal, seis deles pertencem ao círculo camarário.

5. Izabel Antunes Cortes casou-se com Simão Cardoso de leão e tiveram um filho

Triphonio Cardoso de Leão, eleito em 1736 e 1746 para a câmara, contraiu primeiras

núpcias com Rita Ribeiro, filha do camarista Manoel Pinto Ribeiro e depois se casou com

Escolástica Pereira Teles, filha de Francisco Denis Pinheiro.

6. Maria Pais se casou em Curitiba com o português Manoel Soares, natural de

Viana, Portugal. Filho de Gonçalo Rodrigues Soares e Anna Gonçalves estabeleceram-se

nos campos curitibanos na segunda metade do século XVII, em 1683, recebeu uma

sesmaria. Participou do momento de ereção da vila, e foi eleito em 1693 como juiz

ordinário. Sua família será reconstituída e analisada em seguida, pois este foi um dos

primeiros camaristas que iniciaram o processo de hierarquização da sociedade local.

7. Izabel Garcia Antunes, foi casada com Antonio Rodrigues Side, natural de

Itanhaen, este não ocupou nenhum cargo na Câmara Municipal, seu filho mais velho,

Balthazar Carrasco dos Reis, assumiu por três vezes posto na administração pública, e foi

casado com Margarida Esteves, tiveram seis filhos e três filhas. Antonio Rodrigues Side,

filho, casou-se duas vezes, primeiro com Leonor Gonçalves, e em seguida com Maria

Bonete Maciel, com esta teve sete filhos. Outro filho do casal Izabel e Antonio foi Manoel

Rodrigues Side, para o qual não foi encontrado registro de casamento, nem de filhos. A

única filha mulher de Izabel e Antonio, Maria Rodrigues Antunes, contraiu primeiro

matrimonio com Antonio de Lara, neto do Capitão mor de Paranaguá Gabriel de Lara, um

dos homens mais importantes da região paranaense, em segundas núpcias se casou com José

Teixeira de Azevedo, eleito cinco vezes para cargos da câmara, com ele Maria Rodrigues

teve oito filhos, Vitorino Teixeira de Azevedo assumiu posto camarário por onze anos, e foi

casado com Izabel Alvres de Faria, filha do camarista e sesmeiro João Alvres Martins, um

dos homens da primeira elite local, que será analisado no decorrer do texto. Sebastião

Teixeira de Azevedo, assim como seu irmão foi eleito onze vezes para a câmara, e casado

com Inês de Chaves, filha do também camarista Manoel Chaves de Almeida. Maria

Rodrigues e Jose Teixeira tiveram ainda, Izabel Palhano de Oliveira casada com Salvador de

Melo Coutinho, filho de Francisco de Melo Coutinho, participante da primeira elite. Paula

Teixeira Fernandes casada com Pedro Rodrigues Paes. Margarida Teixeira casada com

Miguel Ribeiro batista, natural de Minas Gerais. João Teixeira de Azevedo casado com

Francisca Ribeiro. Maria Rodrigues de Oliveira casada com Antonio Ribeiro Baião, e por

fim Antonio Teixeira de Azevedo.

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8. Maria das Neves casou com Guilherme Dias Cortes, natural de Parnahíba, assim

como sua esposa. Em 1695 recebeu uma sesmaria entre os rios Bariguí e Passaúna, onde

plantava, criava gado e morava com toda sua família. O capitão Guilherme Dias Cortes,

exerceu por nove vezes cargos camarários, entre os anos de 1694 e 1714, tendo uma

trajetória política que perdurou por vinte anos, e faleceu em 26/10/1714. O casal teve doze

filhos, segundo Francisco Negrão, entretanto encontramos o registro de batismo de seis

filhos, e sabe-se que Zacharias Dias Cortes, vem para Curitiba ainda pequenino junto com

seus pais. Um dos registros de batismo mais antigo, datado de 1684, e de um dos filhos do

casal, Pedro. Quatro filhos assumiram postos na vereança, Zacharias Dias Cortes, Pedro

Dias Cortes, Cortes e José Dias Cortes. Zacharias era um conhecido sertanista, um dos

desbravadores dos campos de Palmas, foi casado com Maria Leme, neta de Matheus Martins

Leme. O clã dos Dias Cortes permaneceu no círculo político e econômico da vila, alguns

dos filhos e genros se destacaram na sociedade curitibana setecentista.

9. A última filha de Balthazar e Izabel foi, Domingas Antunes que em 1697 já estava

falecida, primeira esposa de José Teixeira de Azevedo, natural de Iguape, São Paulo, que se

casou com uma das sobrinhas de sua mulher Maria Rodrigues Antunes. O casal teve dois

filhos, José Palhano de Azevedo e Luiz Palhano de Azevedo, ambos eleitos por mais de uma

vez para os postos da Câmara.

Balthazar Carrasco dos Reis foi um vultoso homem da região de Curitiba. Entre as

alianças familiares firmadas por seus filhos, marcam o enlaço com outras proeminentes

famílias da localidade, a de Matheus Martins Leme e Garcia Rodrigues Velho, ambos

participantes da primeira elite e proprietárias de sesmarias. Dos três filhos de Balthazar,

apenas um assume cargo camarário, pois o filho mais velho André, falece antes do ano de

criação da Câmara Municipal, e Belchior migra para Sorocaba. Entre seus cinco genros, três

alçam posição no círculo administrativo local, Manoel Soares, Guilherme Dias Cortes e José

Teixeira de Azevedo. Quatro dos oito descendentes diretos de Balthazar, filhos ou genros

permanecem no círculo político, e entre seus quarenta netos, ou maridos de suas netas,

também figuraram no poder local. Tais números demonstram que o clã Carrasco dos Reis

manteve sua posição de mando político durante toda primeira metade do século XVII.

Matheus Martins Leme

O capitão Matheus Martins Leme era natural de São Paulo, filho de Thomé Martins

Bonilha e Leonor Leme, naturais da mesma localidade, estabeleceu morada em Curitiba

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juntamente com toda sua família em meados do século XVII, recebe sesmaria em 1668.

Após se fixar na localidade, recebe o título de Capitão Povoador, ou seja, representante do

Capitão mor Gabriel de Lara, na freguesia de nossa senhora da Luz dos Pinhais. Participou

da ereção do pelourinho, e foi o requerente da criação das justiças em 1693, que levou a

elevação da vila. Matheus Leme desde que chegou à região ocupou importantes cargos, e era

tido como um homem de respeito, não ocupou cargo algum na Câmara, entretanto foi o

responsável pela instalação de tal, foi ele quem presidiu a primeira eleição. O capitão casou-

se em São Paulo com Antonia de Góis, com quem teve cinco filhos, todos de naturalidade

paulista. Entre seus descendentes alguns se destacaram no cenário político e econômico da

localidade, e como será visto, tal clã firmou importantes alianças familiares, o que ajudou a

manter os Martins Leme no poder local.

1. O filho mais velho do casal Antonio Martins Leme, contraiu matrimonio em

Curitiba com Margarida Fernandes, filha de Balthazar Carrasco dos Reis e Izabel Antunes,

família analisada anteriormente.

2. Matheus Leme da Silva, também natural de São Paulo, foi eleito por três vezes

para a Câmara Municipal, e faleceu em 26/09/1740, sem testamento por ser pobre. Foi

casado em Curitiba com Izabel Pedrosa, que faleceu muito antes do marido em 1711, o casal

teve quatro filhos. O mais velho nascido em 1706, Jose Martins Leme, tem nome homônimo

a seu primo filho do primeiro casal mencionado Antonio e Margarida, foi casado com Maria

Rodrigues Garcia, filha do sesmeiro Domingos Garcia, irmã do povoador Garcia Rodrigues

Velho. Anna Leme da Silva foi casada com Salvador da Costa, filho de Frutuoso da Costa,

um dos indivíduos presentes em 1693, que figurou no cenário camarista. Salvador Martins

Leme Sobrinho, nasceu em 1711, e casou-se em 1734 com Izabel Cordeira, filha de Luis

Cordeiro. O filho mais novo do casal foi Miguel Martins Leme, nascido em 1713 e falecido

em 1789, foi casado com Maria Rodrigues. Um dos pontos que chamam a atenção para a

família de Matheus Leme da Silva é o fato de que nenhum dos homens assume posto na

Câmara Municipal, e não aparecem como proprietários de terras. Na realidade pode-se

entender como um núcleo que não prosperou, apesar de uma aliança familiar importante,

firmada entre Jose Martins Leme, filho mais velho, com o clã dos Rodrigues Velho, os

descendentes não detiveram a proeminência que pode ser observada para outros núcleos

familiares.

3. Anna Maria da Silva foi casada com Antonio da Costa Veloso, natural de Setúbal,

reino de Portugal, tal família será analisada mais à frente, pois Antonio é um dos indivíduos

envolvidos na formação da primeira elite curitibana.

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4. Maria Leme casou-se em Curitiba com Manoel Picam de Carvalho, natural de

Paranaguá, tal sujeito também fez parte do inicio da hierarquização da sociedade, sendo um

dos homens bons a serem estudados.

5. Salvador Martins Leme, já era falecido quando seu pai morreu em 1697, foi

casado com Izabel Fernandes de Siqueira, com quem teve cinco filhos, destes merecem

destaque, João Álvares Martins, que foi um dos signatários da ata de ereção da vila, e um

doas camaristas que formam a primeira elite analisada. Francisco Martins Leme, se casa

com Margarida Bicudo, filha do povoador e sesmeiro, Garcia Rodrigues Velho.

6. Matheus Martins Leme, teve mais um filho Miguel Martins Leme, que se dedicou

à atividade sertanista e faleceu ainda jovem em 1695.

A família do Capitão povoador Matheus Martins Leme, figurou entre as notáveis

durante o período estudado, de seus filhos, merece destaque Antonio Martins Leme, único

descendente também dono de terras, e único que deixou uma descendência significativa na

esfera do poder local. Seus únicos dois genros aparecem como formadores da primeira elite,

ambos tornam-se homens de importância na região e seus filhos e genros irão participar da

governança municipal, como será visto mais adiante. Dois netos do patriarca estão no rol

dos indivíduos a serem seguidos, Jose Martins Leme e João Álvares Martins. Alguns dos

descendentes de Matheus Leme se tornaram figuras de destaque na sociedade curitibana.

Garcia Rodrigues Velho

Reconhecido sertanista, que segundo Francisco Negrão, foi o homem que descobriu

ouro em Curitiba. Estabeleceu-se nos campos curitibanos por volta de 1665, em vinte e seis

de novembro de 1668 recebeu sesmaria, conjuntamente com seu pai Domingos Rodrigues

da Cunha e seu irmão Luiz Rodrigues da Cunha. Também é considerado um dos mais

importantes povoadores a freguesia de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. Em 1693, Garcia

Rodrigues foi um dos eleitores, entretanto também foi eleito neste mesmo ano para o cargo

de vereador, esse caso gera algumas indagações, pois segundo as leis metropolitanas, os

eleitores não poderiam ser eleitos. Foi eleito por mais três vezes para cargos na Câmara

Municipal, em 1696, 1697 e 1699. Além de sesmaria, possuía um sítio em Paranaguá, que

vendeu em 1712, nas últimas décadas do século XVII, detinha um número significativo de

cativos em sua posse. O Capitão de ordenanças Garcia Rodrigues foi casado duas vezes, em

primeiras núpcias com Isabel Bicuda de Lara, natural de Paranaguá, morou, filha de

Gonçalo Pires Bicudo e Maria Bicuda, Isabel faleceu no mesmo ano de 1712. Depois de

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viúvo o Capitão contraiu matrimonio com Maria Benita, viúva do Capitão Antonio Gracez

Barreto. Garcia teve oito filhos com sua primeira esposa, faleceu em Curitiba no dia

04/03/1741, em seu registro de óbito encontra-se no arquivo da catedral metropolitana de

Curitiba.

1. O filho mais velho Antonio Rodrigues Velho, sabe-se apenas que foi Capitão mor

da minas em Paranaguá, supõe-se que se Antonio constituiu família esta deve ter de fixado

nas terras do litoral paranaense. O cargo ocupado pelo descendente de Garcia tinha uma

grande importância, pois era quem fiscalizava as minas e ouro encontrado, a riqueza mais

estimada durante o período colonial, de modo que se pode aferir que Antonio e sua família

detinham prestígio na localidade, para ser incumbido de tal posto.

2. A filha Maria Rodrigues da Cunha foi casada duas vezes, primeiramente com

André Fernandes dos Reis filho mais velho do povoador Balthazar Carrasco dos Reis, já

referenciada neste trabalho. Com o primeiro casamento se firmou uma aliança importante

entre os primeiros e mais importantes povoadores, entretanto dessa relação não houve

nenhum descendente. Em segundas núpcias se casou com João de Carvalho Pinto, natural do

reino de Portugal, eleito duas vezes para postos na Câmara, em 1696, como vereador e 1697

como juiz ordinário. No ano de 1668 recebeu uma sesmaria próxima a de seu sogro, também

possuía alguns cativos e o título de Capitão das milícias. “João foi um importante homem da

região, reconhecido por Ermelino de Leão como um homem valente e temerário”, porém

tais afirmações não podem ser recebidas com total veemência. Segundo os registros

paróquias encontrados, o casal João e Maria teve quatro filhos, Maria batizada em

06/07/1695 por Matheus da Costa e sua avó Isabel Bicuda, Pedro batizado em 25/07/1700

pelo Capitão Antonio Luiz Tigre e Ana Leme da Silva, esposa de Gaspar Carrasco dos Reis,

Potencia batizada em 21/09/1708 pelo Coronel Antonio de Oliveira Leitão e Antonia de

Siqueira, e Sebastião batizado em 03/08/1710 pelo padre Sebastião Alves de Abreu e Izabel

Garcia, filha de Balthazar Carrasco. Este último filho casou-se em 1738, com Izabel

Antunes Lisboa, filha do já mencionado Jose Nicolau Lisboa e Antonia Leme, neta de

Matheus Leme.

3. O outro filho do qual se encontrou informação relevante foi Henrique da Cunha

Lara, batizado em Curitiba em 21/11/1689, por sua tia Izabel de Pina e João Martins Leme,

um dos integrantes da primeira elite, neto dos principais povoadores Matheus Leme e

Balthazar Carrasco dos Reis. Henrique foi eleito quatro vezes para vereador nos anos de

1726, 1729, 1733 e 1736, durante dez anos o descendente de Garcia Rodrigues circulou na

esfera do poder político local. Casou-se em Curitiba com Maria Gonçalves dos Santos, filha

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do camarista Miguel Luiz e Maria Alves Pedrosa, e viúva de André Dias Cortes, o

casamento data de 16/10/1742, Henrique encontrava-se em idade avançada, 53 anos, e dois

anos depois em 24/11/1744 ele falece, sem deixar testamento por não ter de que. Não foram

encontrados descendentes, acredito que devido ao pouco tempo de casados e a idade

avançada de Henrique, realmente não tiveram filhos.

4. Garcia Rodrigues e Isabel Bicuda tiveram mais cinco filhas, Anna Maria da

Cunha, Josefa Rodrigues, Juliana Rodrigues batizada em Curitiba no dia 08/12/1692, por

Francisco de Melo Coutinho, camarista da primeira elite e Maria Leme da Silva esposa de

Manoel Picão de Carvalho, uma das famílias analisadas neste trabalho, ou seja, pertencente

à primeira elite. A filha mais nova Romana Rodrigues também foi batizada em Curitiba, em

14/08/1695, seus padrinhos foram dois homens, não é um caso único, porém também não

usual, foi batizada por seu cunhado João de Carvalho Pinto e seu tio Luiz Rodrigues da

Cunha, ambos os homens participantes do círculo camarário.

Infelizmente não se pode delinear uma trajetória mais substancial de alguns

descendentes de Garcia Rodrigues, de seus dois filhos homens, um estava fixado em

Paranaguá, entretanto ocupava um cargo de relevância, e o outro foi um camarista em

Curitiba. Entre as filhas mulheres só foram levantados dados sobre uma delas, Maria

Rodrigues, que firmou importantes alianças, com a família de Balthazar Carrasco e com um

homem vindo do Reino, o que já lhe dava prestígio, e este demonstrou que realmente deteve

proeminência, sendo camarista, sesmeiro, capitão de milícias e dono de gentios da terra.

Embora não recomposta a vida de todos descendentes, observa-se que os três filhos aqui

referidos ocuparam bom posicionamento social, tanto no litoral quanto nos campos de

Curitiba. E as alianças familiares referenciadas no batismo das filhas, demonstram a estreita

relação entre as famílias de camaristas, dos quatro homens que batizam seus filhos, todos

faziam parte do círculo camarário.

Luiz de Góis

Luis de Góis também é considerado um dos povoadores de Curitiba, natural de São

Paulo, mas não se sabe de qual localidade, estabeleceu-se em Curitiba também em meados

do século XVII, em primeiro de dezembro de 1668 recebe uma sesmaria. Luis não ocupou

nenhum dos cargos na Câmara, porém foi um dos eleitores em 1693, mas não perpetuou na

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esfera política, pelo menos como eleito, pois como já foi relatado não se pode identificar os

eleitores da Câmara Municipal, por falta de documentação. Neste trabalho articula-se a elite

à participação efetiva nos cargos camarários, e o povoador Luis de Góis não teve presença

marcante nessa esfera de poder. Foi casada com Maria de Siqueira Cortes cuja tia já residia

em Curitiba, Juliana Antunes casada com Gonçalo Pires Bicudo. Luiz e Maria tiveram cinco

filhos, dos quais apenas um filho e um genro adentraram no círculo político.

1. Miguel de Góis era o filho mais velho do casal, não ocupo nenhum cargo na

Câmara nem deteve patente nas milícias. Casado com Isabel da Silva, encontra a designação

de Isabel da Silva Pina, Isabel de Siqueira, Isabel Fernandes de Siqueira, filha de Luis de

Siqueira e Anna de Siqueira, naturais do Rio de São Francisco. Miguel e Isabel tiveram dez

filhos, 4 mulheres e 6 homens entre os anos de 1707 e 1725. Nenhum dos filhos nem os dois

genros ocuparam postos na Câmara Municipal, realmente esta família não figurou como

notável na freguesia de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. Ao averiguar os nomes que

compuseram o corpo eleitoral curitibano até o ano de 1750, não se encontra nenhum homem

com o sobrenome Góis, e cinco dos filhos de Miguel adotaram o sobrenome do pai e do avô.

Analisando as atas de batismo e casamento dos descendentes de Miguel percebe-se que as

relações familiares firmadas através do batismo e casamento, que a família se relaciona com

pessoas da elite, de dez padrinhos apenas cinco eram camaristas, o irmão Francisco de

Siqueira Cortes e o cunhado Antonio Fernandes de Siqueira, que foram eleitos para a

Câmara, entretanto está agregado a mesma família, o que confere aliança firmada. Outros

camaristas era Francisco Veloso, Lourenço de Andrade e Antonio Rodrigues Seixas. Em

relação as madrinhas foi possível averiguar a origem de quatro delas, Maria das Neves, que

batiza Marcelina junto com Francisco de Siqueira, era filha de Manoel Soares e prima da

batizada. Maria da Graça batiza Maria, junto com Lourenço de Andrade, esta era tia da

menina. Maria Soares batizou Antonio com Antonio de Siqueira, essa era mulher de

Antonio Rodrigues Seixas, que também batizou um filho de Miguel. Catharina Pinta batizou

Ana juntamente com Manoel Bonete, ela filha de João Carvalho Pinto, também camarista.

De modo geral a família de Miguel de Góis firmou poucas alianças de maior significado,

havia uma relação com a família Rodrigues Seixas, além do casal Antonio e Maria,

Lourenço de Andrade casado com Isabel Rodrigues Seixas, também aparece batizando uma

filha de Miguel. As outras alianças com camaristas foram os do próprio seio familiar,

Francisco de Siqueira e Antonio Fernandes.

2. Francisco de Siqueira Cortes foi o único filho de Luis a ocupar cargo na Câmara,

foi eleito por onze vezes, se revezando nos cargos, foi eleito uma vez como procurador, duas

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como vereador e sete como juiz ordinário, esteve no poder entre 1726 e 1756, figurando por

trinta anos no poder político local. Faleceu em 27/04/1772, com oitenta anos mais ou menos,

foi sepultado na capela de Nossa Senhora do Terço, e deixou testamento, demonstrando que

haviam bens a serem deixados. Em algumas documentações Francisco aparece ocupando o

cargo de ajudante, que não se sabe ao certo o que representava. Foi casado com Catharina

Mendes Barbuda, e tiveram três filhos. Maria que nasceu em 15/12/1732, e foi batizada em

20/12/1732 por Sebastião dos Santos Pereira, camarista e sua tia Catharina de Siqueira

Cortes. Faleceu ainda bebê com quatro meses, no dia 05/04/1733. Tiveram dois filhos

homens José nasceu em 10/01/1740, e batizado no dia 25/01/1740 pelo camarista Salvador

de Albuquerque e Joana Maciel, esposa do também camarista Manoel Martins Valença.

Francisco nasceu em 15/01/1748 e foi batizado em 26/01/1748 pelo camarista Amaro

Fernandes da Costa e sua tia Catharina de Siqueira Cortes, esposa do camarista Antonio

Fernandes. Não foram localizados os registros de casamento de nenhum dos filhos de

Francisco de Siqueira. No entanto analisando os assentos de batismo dos três filhos,

observou-se que os três padrinhos eram homens pertencentes a Câmara, e as madrinhas

mulheres de camaristas, mostrando que as relações familiares constituídas se fizeram com

pessoas do mesmo grupo, a elite política.

3. Catharina de Siqueira Cortes contraiu matrimonio com Antonio Fernandes de

Siqueira, eleito por quatro vezes para o cargo de procurador e três como vereador,

circulando por vinte anos nos postos administrativos. O casal teve uma prole numerosa, com

quatorze filhos, seis homens e oito mulheres. Entre os padrinhos dos filhos figuram vários

camaristas, bem como os irmãos de Catharina. Entre os que não estavam na esfera política

constam o tio Miguel de Góis, Felipe de Santiago e o Padre Gregório Mendes Barbuda.

Entre os camaristas aparecem oito nome diferentes, Sebastião dos Santo Pereira e Francisco

de Siqueira Cortes batizam dois filhos de Catharina e Antonio. Foram localizados os

registros de casamento de três filhas, todos os maridos são de famílias não fixadas em

Curitiba, ou seja, não firmaram alianças com os homens da região, e nenhum dos genros

ocupa posto na Câmara Municipal. O filho se casa com Roza Pereira dos Santos, filha de

Sebastião dos Santos Pereira.

4. Maria da Graça a filha mais nova foi casada com Inocêncio Alves, homem de

pouca relevância, não ocupou nenhum cargo de maior destaque, bem como não foram

encontrados dados sobre nenhum bem em posse dessa família. Tiveram dois filhos

Sebastião, batizado em 07/06/1715, e falecido em 18/04/1735, com dezesseis anos, e Josefa

batizada em 09/04/1713. Nenhum dos padrinhos é reconhecido como um notável. Luis de

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Góis e Maria de Siqueira ainda tiveram mais um filho Antonio de Siqueira, porém nenhum

dado sobre esse sujeito foi encontrado.

5. Entre os descendentes do patriarca dois chegaram a figurar na elite local,

mostrando que a família de Luis de Góis perpetuou no cenário político local. Todavia os

outros filhos e genro não alçaram posições de maior relevância, apontando que realmente a

elite se formou a partir da exclusão, nem todos puderam adentrar no círculo da elite

camarária.

Ao analisar as relações familiares firmadas pelos descendentes de Luis de Góis,

percebeu-se que para os dois homens que participaram da governaça municipal, as relações

se deram no seio do mesmo grupo. Outro ponto interessante observado foi à ligação

existente entre os irmãos Miguel de Góis, Francisco de Siqueira e Catharina de Siqueira,

conseqüentemente o cunhado Antonio Fernandes. Pelo menos um dos filhos de cada foi

batizado pelos irmãos ou o cunhado, bem como era constante os irmãos ou o cunhado

aparecerem como testemunhas de casamento dos sobrinhos. Observou-se também que

alguns sujeitos aparecem como padrinhos dos filhos de dois dos irmãos, como são o caso de

Antonio Rodrigues Seixas, Lourenço de Andrade, Sebastião dos Santos Pereira e o Padre

Gregório Mendes Barbuda. Pode-se imaginar que a família formada por Luis de Góis tivesse

uma relação mais próxima com esses sujeitos e suas famílias.

Gaspar Carrasco dos Reis

Gaspar Carrasco dos Reis, filho do povoador já referenciado Balthazar Carrasco dos

Reis, natural de Parnahíba, como seus irmãos. Participou da ereção da vila de Curitiba, em

1693 foi um dos eleitores, e por doze vezes foi eleito para os principais cargos da Câmara,

durante dezesseis anos figurou na esfera administrativa. Durante toda sua vida serviu como

Alferes das ordenanças, na maioria da documentação onde aparece o nome de Gaspar, ele

encontra-se referido como o Alferes Gaspar Carrasco dos Reis, demonstrando a importância

de tal título. Possuía terras ao lado das do seu cunhado Guilherme Dias Cortes, onde se

dedicava a criação de gado, como a maioria dos donos de terras dos campos curitibanos.

Imaginava-se que a família era detentora de um considerável cabedal, entretanto no registro

de óbito de Gaspar datado de 21/07/1753, diz que esse não fez testamento por ser muito

pobre. A partir dessa afirmativa indagou-se sobre o que era riqueza? Terras e cativos não

eram considerados bens, ou o cabedal um dia constituído se esfacelou. O que era

considerado pobre? Alguém que nada tinha de seu, ou não ter bens maiores. De qualquer

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forma Gaspar Carrasco deteve uma posição de prestígio na localidade, demonstrando de

certa forma que prestígio e riqueza não andavam necessariamente juntas, para alçar uma

posição de destaque à riqueza não era primordial. Em Curitiba Gaspar contraiu núpcias com

Anna Leme da Silva, filha de Anna Maria da Silva e Antonio da Costa Veloso, um dos

homens da primeira elite, que será analisado mais adiante, firmando aliança entre famílias

proeminentes. Ela faleceu em 15/02/1739, antes de seu marido, com idade aproximada de

oitenta anos, e também não deixou testamento. O casal Gaspar e Anna teve oito filhos,

destes alguns perpetuaram a posição alcançada pelo patriarca.

1. Maria Veloso, a filha mais velha foi casada com o Sargento mor Jose de Farias

Paes, esse não ocupou cargo na administração da vila. Segundo os dados obtidos tiveram

apenas uma filha, Inês de Farias Paes que se casou com Domingos Cardoso de Leão, eleito

em 1740, para o cargo de vereador e em 1748, como juiz ordinário.

2. Antonio da Silva Leme foi um camarista, eleito em 1728, 1740 e 1744 para

vereador e em 1749 para procurador do conselho. Acredita-se que era solteiro, pois não

foram encontrados indícios de casamento ou descendência, entretanto ele aparece na

listagem dos homens que possuíam algum cativo.

3. Isabel Antunes da Silva casou-se com Salvador de Albuquerque, natural de São

Paulo filho de Manoel Pacheco de Albuquerque e Catharina Moreira Godoi. Isabel faleceu

cedo, em finais do século XVII, e não deixou nenhum filho, em segundas núpcias Salvador

casou com Maria do Carmo Vale, com quem teve sete filhos. Analisando as atas de batismo

dos filhos de Salvador com Maria percebeu-se que todos os filhos são batizados pelas irmãs

e irmãos de sua primeira esposa, mostrando que os elos familiares não se desfizeram com a

morte de Isabel. A irmã Francisca Velosa batiza os cinco primeiros filhos do casal, os outros

dois são batizados por Joana da Silva leme e Vitória de Jesus, também irmãs da primeira

esposa de Salvador. Os irmãos de Izabel Antunes Balthazar Veloso e Antonio da Silva Leme

também aparecem como compadres de Salvador. Aparecem mais quatro homens batizando

os descendentes do casal, três deles participam do círculo camarário, o outro é designado no

registro de batismo como forasteiro. A força e a importância em se aliar a uma boa família

ficam claras neste caso, pois apesar de não haver mais nenhum parentesco real entre

Salvador e o clã de Gaspar Carrasco, este tornou seus ex-cunhados em parentes rituais, que

conferia importantes laços familiares. Salvador ocupou seis vezes posto na Câmara, faleceu

em 1756, e não fez testamento porque não teve lugar para isso, pode-se pensar que tinha

algo para deixar. No seu registro de óbito aparece casado com outra mulher Maria Ferreira

de Almeida.

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4. Joana Leme da Silva foi batizada em 27/03/1707 e casou-se no dia 16/08/1734,

com Jose de Albuquerque, irmão de Salvador de Albuquerque, natural de São Paulo, filho

de Manoel Pacheco de Albuquerque e Catharina Moreira de Godoi, moradores em São

Paulo. O padrinho de Joana, Antonio Luis Tigre foi também uma das testemunhas de seu

casamento. Tiveram dois filhos Pedro, nascido em 24/11/1735 e Paulo, nascido em

01/10/1737, ambos foram batizados pelos mesmos padrinhos, o ouvidor geral Manoel dos

Santos Lobato, natural de Lisboa e Vitória de Jesus, irmã de Joana. Jose faleceu em

13/06/1738 com idade mais ou menos de trinta anos, e Joana em 07/11/1745 com idade

aproximada de trinta e cinco anos.

5. Balthazar Veloso dos Reis ocupou em 1731 o cargo de vereador, foi casado com

Antonia de Souza Vale, natural de Paranaguá, filha do Sargento mor Manoel do Vale Porto,

natural da cidade do Porto, e sua esposa Maria de Cácere, natural da Ilha Grande, o sargento

Manoel recebeu em 1713 uma sesmaria em Antonina, e esta inserido no rol dos indivíduos

detentores de cativos. A união de Balthazar e Antonia sela uma importante aliança entre

famílias de grande prosperidade. O casal teve oito filhos, entre os descendentes nenhum

figurou na esfera política da localidade, pois como o avô possuía terras no litoral, se aventa à

hipótese de que algum dos filhos do casal tenha migrado para outras localidades.

6. O outro filho de Gaspar Carrasco que chegou a ocupar cargo na Câmara foi o

Capitão Francisco Xavier dos Reis, no entanto não foram localizadas maiores informações

sobre este indivíduo.

Foram localizados outros dois registros de batismo de filhos de Gaspar Carrasco e Ana

Leme. Francisca foi batizada em 06/04/1705 pelo Padre Sebastião Álvares de Abreu e Maria

Leme, tia de Ana Leme. Vitória foi batizada em 10/04/1709 por seu tio Francisco Veloso da

Costa e Ana de França esposa de Antonio Luiz Tigre. As relações de compadrio eleitas por

Gaspar seguem os mesmos preceitos de outras famílias, membros próximos com relação de

consangüinidade e pertencentes ao mesmo meio social.

O patriarca dessa família Gaspar Carrasco dos Reis, descende de um importante tronco

de povoadores, sua ascendência por si só já lhe conferia algum prestígio. Realmente o

patriarca alçou importantes cargos, na Câmara e nas Milícias, apesar de afirmar no momento

de sua morte que era pobre, foi um homem dono de terras e cativos, entretanto não fez

testamento porque não havia do que fazer. O prestígio e a posição de destaque originado em

Balthazar Carrasco, passado para seu filho Gaspar Carrasco, foi perpetuado com alguns

descendentes deste tronco. As relações familiares detectadas foram solidificadas com famílias

importantes de Curitiba, como a de Antonio da Costa Veloso, e do litoral, Manoel do Vale

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Porto. Três filhos e um genro adentraram ao círculo camarário, e Jose de Farias Paes, apesar

de não se tornar camarista, foi um indivíduo de renome, carregando a patente de Sargento mor

durante toda sua trajetória, e senhor de cativos.

Manoel Soares

Manoel Soares era natural de Viana, reino de Portugal, o que por si só lhe

proporcionava algum prestígio, ser um reinol seja de origem que for já denotava aos homens

um diferencial, filho de Gonçalo Rodrigues Soares e Anna Gonçalves. Fixou morada em

Curitiba na segunda metade do século XVII, recebeu uma sesmaria em 23/04/1683, ao lado

das terras de seu sogro. Foi eleito na primeira eleição de 1693 como juiz ordinário, e

prosseguiu no cenário político por dez anos, sendo reeleito mais sete vezes para os cargos

públicos. Casou-se com Maria Pais, filha de Balthazar Carrasco dos Reis, já bastante citado,

acredita-se que o casal veio para Curitiba seguindo o patriarca Balthazar, contraindo

matrimonio em Parnahíba. Manoel e Maria tiveram dez filhos, dos quais foi possível recuperar

a história de vida de quatro deles, os demais se sabe apenas o nome.

1. Isabel Soares foi batizada em Curitiba no dia 08/06/1684, por seus avós Balthazar

Carrasco dos Reis e Isabel Antunes, ela faleceu em 11/05/1759, com idade aproximada de 80

anos, deixando testamento. Casou-se com João Ribeiro do Vale, natural da freguesia de São

Mamede de Vallongo, bispado do Porto, reino de Portugal. Joã participou da governança

municipal, sendo eleito oito vezes para os cargos da Câmara, entre os anos de 1709 e 1725.

Tornou-se proprietário de sesmaria em 01/02/1705, onde se dedicava à agricultura e a criação

de animais. O Capitão João Ribeiro do Vale morreu em Curitiba, no dia 05/04/1759, com 90

anos mais ou menos, deixou testamento colocando como herdeiros seus filhos Manoel Soares

do Vale e Antonio Ribeiro do Vale. O casal teve nove filhos, a filha mais velha Maria do

Vale, batizada em 27/07/1705 por seus tios Antonio Rodrigues Seixas e Maria Soares. Foi

casada com Antonio Rodrigues de Andrade, filho de Lourenço de Andrade e sobrinho de seu

padrinho Antonio, ambos, camarista e dono de escravos. Escolástica nascida em 08/07/1708

casou-se em Curitiba no dia 15/07/1738 com Simão Gonçalves de Andrade, natural da Ilha da

Madeira, que em 1742, quatro anos após a aliança matrimonial, tornou-se camarista pela

primeira vez. Outro filho de Isabel e João, que figurou entre os homens da política, Antonio

Ribeiro do Vale, batizado em 15/09/1717, por Lourenço de Andrade e sua esposa Izabel

Rodrigues. O tenente Manoel Soares do Vale, filho herdeiro de João, migrou para São Paulo

onde contraiu matrimonio com Maria Pires de Barros. Outro registro encontrado é o

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casamento de Catharina do Vale, filha batizada em 1721, casada em 1749, com Francisco de

Souza da Rocha, natural da Ilha Terceira, que até 1750, período estudado, não ocupou posto

na Câmara, entretanto é possível que na segunda metade do século XVIII, Francisco tenha se

tornado camarista. Ao analisar as atas de batismo dos oito filhos do casal, todos os escolhidos

para compadre participam do circulo camarário, e entre as madrinhas cinco delas tem alguma

relação familiar com o casal.

2. Maria Soares Pais foi casada com Antonio Rodrigues Seixas, natural de Cananéia,

que foi o escrivão da ata de ereção da vila de Curitiba, e um dos homens que formaram a

primeira elite política curitibana, tal família será analisada mais à frente. Porém é importante

ressaltar que tal aliança foi muito importante, unindo famílias renomadas, que deixaram uma

descendência bastante proeminente.

3. Gonçalo Soares Pais exerceu importantes cargos, como tabelião de notas, alferes de

ordenanças, capitão de ordenanças, e foi eleito por sete vezes para os cargos da Câmara

Municipal, entre os anos de 1719 e 1747, neste último ano foi eleito juiz de órfãos trienal,

mais alto distinção alcançada pelo voto. Casado com Maria Leme da Silva, não se sabe sua

ascendência, encontramos no tronco dos Martins Leme, duas mulheres com esse mesmo

nome, uma casada com Manoel Picam de Carvalho, e a filha desse casal casada com Zacharias

Dias Cortes, o problema dos homônimos dificulta bastante o rastreamento dos personagens.

Gonçalo e Maria tiveram três filhos, Luzia, Isabel e Maria, todas casadas após 1750.

4. Anna Gonçalves casou-se com Francisco Teixeira de Azevedo, proprietário da Ilha

Teixeira, localizada na Bahia de Paranaguá. Elegeu-se juiz ordinário em 1721, e faleceu cinco

anos depois, em 1726. Ela faleceu em 06/07/1746, sem deixar testamento, tiveram quatro

filhos, entre 1705 e 1712.

5. Joana Garcia Soares, foi batizada em Curitiba no dia 25/06/1695, por João de

Carvalho Pinto, genro do povoador Garcia Rodrigues Velho, mostrando os laços familiares

engendrados pela elite local. Casou-se com o Capitão Sebastião dos Santos Pereira, natural de

São Martinho do Pecegueiro, bispado de Vizeo, reino de Portugal. Eleito cinco vezes para os

cargos camarários, e falecido em 1760. Tiveram cinco filhos.

Manoel Soares e Maria Pais deixaram mais quatro descendentes, Maria das Neves,

Maria Pais, Manoel Soares e Izabel Paes, que infelizmente só têm-se os nomes. O patriarca

Manoel foi um homem de grande renome, dono de terras e cativos, e participante da Câmara

Municipal, certamente ser reinol lhe ajudou a contrair um bom matrimonio, aliando-se a

família de Balthazar Carrasco dos Reis. Dois genros compartilharam da mesma posição de

Manoel, de naturalidade portuguesa, situação esta que lhes favorecia. Ambos os genros

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tornam-se camaristas e proprietários de terras e cativos, mostrando que tais alianças eram

necessárias para que a caminhada social dos indivíduos tivesse sucesso. Além destes dois

genros, Manoel deixou no círculo político mais dois descendentes o genro Francisco Teixeira

e o filho Gonçalo Soares. O clã dos Soares Pais figurou na primeira elite e se manteve em tal

posição no decorrer do século XVIII.

Manoel Picão de Carvalho

Manoel Picam de Carvalho, natural de Paranaguá, filho de Manoel Picam de

Carvalho e Anna Maria, mudou-se para Curitiba em 1683, e na localidade contraiu

matrimonio com Maria Leme filha do povoador Matheus Martins Leme. Manoel possuía

um sítio em Itaqui e uma sesmaria em Furnas, foi Capitão de ordenanças e por sete vezes

eleito para os cargos da Câmara Municipal, no ano de 1693 foi um dos eleitores. Segundo

Francisco Negrão Manoel Picam foi um homem de grande valor. Ele faleceu em 1728,

deixando testamento, com sua esposa teve três filhos.

1. O primogênito João Carvalho de Assunção dedicou-se a atividade de

bandeirante, sendo um dos descobridores dos campos de Palmas, foi eleito apenas uma

vez, em 1747, como vereador. Foi casado com Maria Bueno da Rocha, filha do Capitão

Antonio Bueno da Rocha e Izabel Fernandes da Rocha, naturais de São Paulo. Faleceu o

Capitão João Carvalho em 26/03/1761, deixando testamento. O casal deixou oito

descendentes.

- Izabel batizada em 10/07/1718 por seus avós o Capitão Manoel Picão de Carvalho e

Maria Leme. Casou-se com o Alferes Miguel de Miranda Coutinho.

- Manoel batizado em 16/09/1725 por Salvador de Albuquerque e sua avó Maria Leme.

- Maria batizada em 23/03/1727 por Amador Bueno da Veiga e Francisca Velosa. Casou-se

em 23/09/1743 com Antonio João da Costa, natural de santa Maria de Lourdes, termo da

cidade de Lisboa, o casamento teve como testemunhas o Tenente Coronel Brás Domingues

Veloso e o Alferes Miguel de Miranda Coutinho.

- Ana batizada em 15/02/1729 por Jerônimo da Veiga Cunha e Izabel da Veiga, viúva de

João Monteiro. Casou-se com Jose Gonçalves Teixeira, filho de Francisco Teixeira de

Azevedo.

- Antonio batizado em 05/08/1731 pelo Capitão Antonio da Silva, filho de Gaspar Carrasco

dos Reis e Gertrudes Maria, viúva do Capitão Manoel Duarte.

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- João batizado em 07/03/1734 por Salvador de Albuquerque e Izabel Antunes, viúva de

Simão Cardoso.

- Quitéria batizada em 24/07/1736 por João Gonçalves, filho de Francisco Teixeira e

Gertrudes Maria, viúva de Manoel Duarte Camacho.

- Maria batizada em 12/10/1739 por Antonio de Souza Pereira e Gertrudes Maria.

2. Maria Leme da Silva casou-se em primeiras núpcias com Zacarias Dias Cortes,

filho de Guilherme Dias Cortes e Maria das Neves, casal já referenciado na família de

Balthazar Carrasco dos Reis, consolidando mais uma importante aliança familiar, entre os

clãs mais proeminentes da localidade. Zacharias Dias Cortes foi eleito vereador em 1713 e

1719, foi um grande bandeirante, sendo um dos desbravadores dos campos de Palmas e

responsável pela descoberta de ouro da região. Possuía duas sesmarias, e as vendeu em

1726 e em 1752 recebe nova sesmaria que deixa sob os cuidados de seu irmão Pedro Dias

Cortes. Zacharias faleceu em Curitiba por volta de 1755, sem deixar descendente. Sua

esposa Maria Leme casou-se novamente com Pantaleão Rodrigues, viúvo que ficou de Ana

Cardosa, tornou-se camarista, eleito vereador no ano de 1738 e detentor de terras e cativos.

Os dois casamentos de Maria foram com homens de bens, ambos participantes da Câmara

Municipal.

3. O terceiro filho do casal foi Dionísia Leme, que contraiu matrimonio com Jose

da Costa Vasconcelos, eleito em 1718, como vereador, não se descobriu sua ascendência e

naturalidade. Desta união nasceram duas filhas, ambas chamadas Maria, a mais nova foi

batizada em 06/06/1717 pelo Padre Gregório Medes Barbuda e sua tia Maria Leme da

Silva. A outra filha Maria foi batizada em 16/12/11719, por seus tios Zacharias Dias Cortes

e sua tia Maria Leme. Casou-se em Curitiba com o Capitão Amador Bueno da Rocha,

natural de São Paulo, foi um homem de grande renome na localidade. Por cinco vezes

ocupou o cargo de juiz ordinário na Câmara Municipal.

Manoel Picão foi um homem de reconhecida importância, deixou descendentes que

seguiram os mesmos caminhos do patriarca, ou seja, adentraram ao círculo político, seu

único filho e seus três genros ocuparam cargos na câmara. Os descendentes também

firmaram importantes as alianças familiares com outros membros da elite.

Antonio da Costa Velloso

Antonio da Costa Velloso, português, natural de Setubal, se estabelece em Curitiba

em finais do século XVII. Em 1693, foi eleito para o cargo de juiz ordinário, e por mais

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cinco vezes ocupou cargos camarários, sendo, também, Capitão das ordenanças da vila.

Contraiu núpcias com Anna Maria da Silva, filha do povoador Matheus Martins Leme,

mantendo estreitas relações com uma das principais famílias de povoadores. O casal

Antonio e Anna Maria teve cinco filhos. Entre seus descendentes, três deles figuraram no

círculo político.

1. Brás Domingues Velloso, exerceu o s cargos de procurador, vereador e juiz,

durante os dez anos que foi eleito para a vereança local. Também se dedicou à atividade

sertanista, onde obteve bastante êxito. Foi Capitão de ordenanças e proprietários de terras e

cativos. Casou-se com Catharina Gonçalves Coutinha, filha de Miguel Domingues e

Francisca Vellosa da Silva, irmã de Brás, ou seja, sua primeira esposa era sua sobrinha,

com quem teve cinco filhos. Em segundas núpcias contraiu matrimonio com Maria Paes de

Jesus, filha de Francisco Teixeira e Anna Gonçalves, e tiveram uma filha.

2. Francisco Velloso ocupou por três anos consecutivos cargo camarário, 1706,

1707 e 1708. . Casado em Curitiba com Felipa dos Reis, filha Guilherme Dias Cortes e sua

esposa Maria das Neves, neta pela parte materna de Balthazar Carrasco dos Reis.

3. Anna da Silva Leme casou-se com Gaspar Carrasco dos reis, família essa já

referenciada nesta pesquisa, por ser uma das integrantes da primeira elite curitibana.

4. Francisca Vellosa foi casada com Miguel Domingues Vidigal, eleito em 1698,

como procurador da Câmara Municipal, sobre este casal não foram encontrados muitos

indícios, como seus descendentes e trajetória de vida deste núcleo.

5. Maria Vellosa da Silva casou-se duas vezes, em primeiro com Manoel da Silva

Barros e em segundas núpcias com Sebastião de Crasto Maio, nenhum deles exerceu posto

na Câmara Municipal, pelos indícios encontrados Maria não teve nenhum filho.

Os dados encontrados sobre esta família mostram que boas importantes alianças

foram firmadas. Os descendentes de Antonio continuaram participando do círculo

camarário.

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Antonio Rodrigues Seixas

Antonio Rodrigues Seixas, filho do povoador João Rodrigues Seixas, nasceu em

Cananéia por volta de 1670 e vem com a família para região de Curitiba. Casou-se em

Curitiba com Maria Soares Paes, filha do já mencionado Manoel Soares e Maria Paes.

O capitão Antonio Rodrigues Seixas exerceu os cargos de vereador nos anos de

1701, 1703, 1705, 1710, foi a também almotacé no ano de 1704 e foi procurador do

concelho nos anos de 1716 e 1717, foi eleito em 1720, juiz ordinário.

Antonio e Maria Soares tiveram quatro filhos: João Rodrigues Seixas, Manoel

Rodrigues Seixas, Ignez Rodrigues Seixas e Juliana Rodrigues. Os irmãos Manoel e João,

se casam com duas irmãs, Izabel Martins Valença e Francisca Maciel de Sampaio,

respectivamente. Filhas do camarista Manoel Martins Valença e Joana Maciel de Sampaio.

João Rodrigues Seixas e Francisca Maciel casam-se em 19/07/1734, participando

como testemunhas os camaristas Sebastião dos Santos Pereira e Gonçalo Soares Pais, tio

de João. Manoel Rodrigues Seixas foi batizado em 24/12/1704 por seu tio Lourenço de

Andrade e Antonia Maris, casou-se com Izabel Martins no dia 02 de julho de 1738, como

testemunhas estavam o mesmo Sebastião dos Santos Pereira e Manoel Rodrigues da Mota.

Ignez Rodrigues casa-se com Manoel Rodrigues Lisboa.

Juliana Rodrigues casou-se com Alexandre de Moraes Franco, eleito por três vezes

para cargos na câmara.

Luis Rodrigues da Cunha

Luis Rodrigues Velho ou Luis Rodrigues da Cunha, pois se encontram registros

com os dois sobrenomes, era irmão de Garcia Rodrigues Velho, já referenciado neste

estudo. Ambos os irmãos receberam juntamente com seu pai Domingos Rodrigues da

Cunha, uma sesmaria em 1668, nas terras do Barigui, atualmente o município de

Araucária. Por três anos ocupou posto na Câmara Municipal, 1696, 1697 e 1700.

Casou-se em primeiras núpcias com Isabel de Pina, com quem teve dois filhos,

Sebastião de Pina, batizado em 29/01/1689 por seu tio Garcia Rodrigues Velho e Maria de

Góis, e faleceu em 29/01/1746, solteiro e sem testamento por ser muito pobre. Tiveram

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uma filha Úrsula, batizada em 20/01/1785, porém não se encontraram maiores informações

sobre a menina.

Após a morte de Isabel de Pina, Luis contraiu matrimonio com Maria Maciel, viúva

do escrivão da Câmara João Rodrigues Seixas. Os descendentes de Luiz não chegaram a

figurar entre os notáveis como o pai, entretanto seus enteados, ou seja, os filhos de Maria

Maciel faziam parte da elite curitibana, bem como os filhos destes.

Francisco de Melo Coutinho

Francisco de Melo era natural de São Paulo, camarista que ocupou por cinco vezes

posto na Câmara Municipal, ora como juiz, ora como vereador. Contraiu matrimonio em

Curitiba com Isabel Luis Tigre, irmã do Capitão Antonio Luis Tigre, um dos homens

participantes da primeira elite curitibana.

Francisco firmou importante aliança ao se casar com Isabel, entretanto no registro

de óbito do casal, nenhum deixou testamento por serem muito pobres, mostrando que

participar da Câmara não significava necessariamente ter bens. O casal teve seis filhos,

destes quatro meninas só foi possível localizar os assentos de batismo.

1. Maria batizada em 1688, por João Pires e Maria das Neves, mulher do camarista

Guilherme Dias Cortes.

2. Isabel foi batizada em 17/07/1790, por Domingos Fernandes e Isabel de Siqueira,

mulher de Miguel de Gois.

3. O casal teve outra filha Isabel, provavelmente a primeira faleceu, esse era um

costume da época, colocar o mesmo nome de um filho já falecido. A segunda Isabel foi

batizada em 17/06/1694, pelo Capitão Agostinho de Figueredo, um dos homens

relacionados na primeira elite local, e por Maria dos Passos.

4. Maria batizada em 1704, e teve como padrinho os tios Antonio Luis Tigre e Ana

Rodrigues França.

5. Salvador de Mello Coutinho, filho de Francisco de Melo, casou-se em Curitiba, no

dia 16/02/1733, com Isabel Palhana de Oliveira, filha de Jose Teixeira de Azevedo e Maria

Fé Side, ambos encontravam-se falecidos na data do casamento. Estavam presentes como

testemunhas o Sargento Mor Manoel Rodrigues da Mota e Antonio Fernandes de Siqueira.

Com exceção de Salvador de Melo, todos nomes citados participavam da vereança

municipal.

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Ao analisar a família de Francisco de Melo percebeu-se claramente a intrínseca

relação que havia entre os notáveis locais, as alianças se firmavam no batismo e casamento

dos filhos, como se observou.

Frutuoso da Costa

Sobre Frutuoso da Costa foram encontrados poucos dados, sabe-se que era natural

de São Paulo, e que por seis vezes esteve à frente de algum cargo na Câmara Municipal.

Casado com Ursula Garcia de Siqueira, com quem teve oito filhos.

Nos registros paroquiais só havia o assento de batismo de três filhas, e a ata de

casamento de um filho. Entretanto Francisco Negrão, na sua obra genealogia paranaense,

uma das fontes secundarias desta pesquisa, aponta mais quatro filhos do casal.

Os registros de batismo são de três meninas que se chamam Maria, uma batizada

em 04/04/1695, por João de Siqueira e Luzia de Oliveira Side. A segunda batizada por

Francisco Valente e Anna Maria em 31/10/1707, e a última Maria batizada em 17/10/1712

pelo Capitão Manoel Picam de Carvalho e Anna Maria Bicuda. Entre os padrinhos dois são

camaristas, e nenhuma das mulheres é esposa de camarista.

A ata de casamento encontrada é de João da Costa, que se casou em 04/08/1734,

segundo a documentação os pais do noivo, Frutuoso e Ursula, encontravam-se falecidos.

Contraiu matrimonio com Gracia Ferreira, filha de Sebastião Ferreira Nogueira e Felicia

Gracia, não foram localizados os descendentes deste enlace matrimonial.

Os demais filhos são Salvador da Costa casado com Anna Leme da Silva, neta de

Matheus Martins Leme. Simão da Costa, João Ferreira Leite e Thereza.

Infelizmente poucos dados foram levantados sobre esta família, entretanto a

documentação levantada demonstrou que algumas alianças firmadas por Frutuoso foram

firmadas com membros da câmara. Entretanto os filhos de Frutuoso não adentraram ao

círculo político, e não figuraram na elite. Demonstrando que esta família não se manteve

como uma das principais da terra.

Jose Martins Leme

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Jose Martins Leme já descende de importante família, neto por parte paterna do

povoador Matheus Martins Leme, e por parte materna do outro importante povoador

Balthazar Carrasco dos Reis. Filho do Capitão Antonio Martins Leme e Margarida

Fernandes, casamento este que uniu as duas mais importantes famílias da localidade. Jose

foi eleito em 1706, 1707, 1708, 1710 e 1715, para o cargo de vereador e em 1719, 1720,

1726 e 1727 para juiz ordinário. Possuía uma sesmaria que recebeu em 1681, faleceu em

Curitiba em 06/04/1760, sem deixar testamento por ser muito pobre. Foi casado com

Antonia Rodrigues da Silva, filha do Capitão e também camarista Antonio Ribeiro da

Silva, o casal teve sete filhos.

1. Margarida foi batizada em 06/01/1709 por Francisco Veloso da Costa e Maria de

Siqueira, mulher de Luis de Góis. Casou-se com o Capitão Lourenço Castanho de Araújo.

2. Joana foi batizada em 20/07/1722 por Jose Palhano de Azevedo e Antonia Leme,

mulher de Jose Nicolau Lisboa. Casou-se no dia 27 do mês de novembro de 1751, com

Francisco da Silva, natural da freguesia de “Arnozela” - arcebispado de Braga. Como

testemunhas estavam presentes Jose Palhano de Azevedo, padrinho de Joana, e Manoel

Borges de Sampaio, ambos camaristas.

3. Maria foi batizada em 21/04/1710, mas no assento paroquial não constam os

padrinhos.

4. Margarida foi batizada em 21/09/1712 pelo Padre Sebastião de Abreu e Anna de

França, esposa de Antonio Luis Tigre.

5. Isabel batizada em 29/12/1717 pelo Capitão Jose Nicolau Lisboa e Isabel

Antunes, mulher de Sebastião de Carvalho Pinto.

6. Salvador batizado em 10/07/1720 por Domingos Ribeiro da Silva e Antonia

Leme, mulher de Jose Nicolau Lisboa.

7. Jose foi batizado em 06/02/1725, pelo Padre Gregório Mendes Barbuda e Maria

Bueno da Rocha, mulher de João Carvalho de Assunção.

Ao analisar as atas de batismo acima se notou que a maioria das relações firmada

através dos batismos dos filhos ocorre com famílias de camaristas, dos seis homens

escolhidos para compadres, quatro eram membros da câmara os outros dois eram párocos

locais. Entre as madrinhas, Antonia Leme batizou dois filhos de Jose de Martins Lemes,

assim entre as cinco mulheres escolhidas para comadres, quatro eram esposas de

camaristas. Desta forma pode-se entrever que as relações de batismo ocorriam no seio do

círculo camarário. Jose Martins Leme detinha boas relações, e firmou aliança com outras

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famílias importantes, no entanto era considerado pobre no momento de sua morte.

Demonstrando novamente que prestígio e riqueza não andavam necessariamente juntos.

João Álvares Martins

João Álvares Martins era filho de Salvador Martins Leme e Isabel Fernandes de

Siqueira, neto pela parte paterna de Matheus Martins Leme. Casado com Maria do Souto,

com quem teve cinco filhos. Sobre esta família poucos dados foram levantados,

encontraram-se apenas os registros de batismos dos filhos do casal.

1. João batizado em 29/12/1692, pelo Padre Antonio Alvarenga e Antonio Luis

Tigre.

2. Manoel batizado em 14/05/1695, pelo casal Antonio Luis Tigre e Ana de França.

3. Maria batizada em 01/03/1705, pelo Padre Sebastião Alves de Abreu e Antonia

Luis Maris.

4. Isabel batizada em 08/12/1706, pelo cunhado Gabriel Alves de Araújo e Maria

das Neves, esposa de Guilherme Dias Cortes.

5. João batizado em 09/02/1711, mas no assento paroquial não constam os

padrinhos. Este casou-se aos 29 dias do mês de outubro de 1738, com Joana Pereira de

Almeida, afilhada de seu pai João Álvares Martins, ela era filha do camarista João Pais de

Almeida e Maria dos Passos. Como testemunhas estavam presentes Jose Palhano de

Azevedo e Antonio Alves Freire.

A família de João, assim como as demais famílias apresentadas, firmou alianças

com outros membros da elite, através do batismo e casamento dos filhos.

Antonio dos Reis Cavalheiro

Antonio dos Reis Cavalheiro foi eleito três anos consecutivos para a câmara, 1693,

1694 e 1695. Foi casado com Domingas Pinta ou Pedrosa, em cada registro aparece um

sobrenome distinto, com quem teve apenas um filho. Diogo foi batizado em 24/10/1694

por Antonio Luiz Tigre e Leonor Gonçalves, esposa de Antonio Rodrigues Side. Sobre esta

família não foram encontradas informações suficientes para descrever uma trajetória de

vida mais pormenorizada. Todavia seu único filho é batizado por camarista.

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