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O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 28 DE MAIO DE 2012 Vida A15 Mesa de líderes mundiais terá orgânicos Portal. Confira a cobertura completa da Rio+20 topicos.estadao.com.br/rio-20 Comida ‘ecológica’ será para poucos na Cúpula Crescimento do evento que integra a Rio+20 inviabiliza alimentação fornecida por agricultores familiares para todos os participantes Antonio Pita / RIO Durante a Rio+20, na mesa dos líderes das 40 maiores cidades do mundo o menu também será ecologicamente correto. Um grupo de chefs cariocas será res- ponsável pela criação de um car- dápio especial para o jantar de encerramento da Cúpula C40 Grandes Cidades, que reunirá os prefeitos das cidades no Rio en- tre os dias 17 e 19 de junho. A comitiva, liderada por Mi- chael Bloomberg, prefeito de No- va York, vai degustar pratos pro- duzidos sob o conceito de eco- gastronomia, que prioriza ali- mentos orgânicos. Os líderes participam durante a conferên- cia de um debate sobre a susten- tabilidade das cidades. Entre os participantes estarão prefeitos e representantes de ci- dades como São Paulo, Buenos Aires, Sidney, Amsterdã e Cope- nhagen. O jantar será no dia 19, no Palácio da Cidade, no bairro de Botafogo, zona sul do Rio. O menu está à cargo do movimen- to Ecochefs, que reúne 20 chefs cariocas preocupados com o pa- drão de consumo de alimentos. “Apenas um terço dos alimen- tos produzidos são efetivamen- te consumidos, sendo a maior parte descartada durante o trans- porte ou o preparo. Queremos que eles pensem nessa questão sempre que sentem à mesa para comer”, afirma um dos organiza- dores, João Fortes. O grupo, criado há quatro anos, está ligado a uma rede de chefs ativistas de todo o mundo, chamado de Delicious Evolu- tion, idealizador do evento. No Rio, o movimento realiza ações de conscientização com repre- sentantes da agricultura familiar e ministra cursos e oficinas so- bre a ecogastronomia. Os Ecochefs também devem elaborar uma degustação para convidados de uma solenidade do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), no dia 20. Tereza Corção, uma das chefs à frente do evento, afirma que o menu ainda não foi definido, mas levará em conta o aproveita- mento de diferentes ingredien- tes que geralmente são descarta- dos, como cascas de frutas e ver- duras. “Será uma oportunidade para aproximar o público deste conceito e do agricultor fami- liar. Isso pode mudar a nossa re- lação com os alimentos.” CORREÇÃO estadão.com.br Heloisa Aruth Sturm / RIO O aumento no número de par- ticipantes da Cúpula dos Po- vos superou a expectativa ini- cial da organização e vai invia- bilizar parte de um dos princi- pais projetos de seus idealiza- dores: o fornecimento de ali- mentação agroecológica gra- tuita durante todos os dias do evento, entre 13 e 22 de junho, no Aterro do Flamengo, zona sul do Rio de Janeiro. A Cúpu- la é parte da Rio+20. A estrutura inicialmente proje- tada contemplava até 10 mil par- ticipantes. Hoje, com mais de 23 mil inscritos, a Cúpula trabalha com alternativas para que pelo menos parte da estratégia seja concretizada. “O que tínhamos no início, de total abastecimen- to por meio da pequena agricul- tura, não conseguiremos cum- prir. A pequena agricultura tem essa potencialidade, mas a nossa estrutura não”, disse Marcelo Durão, representante da Via Campesina e integrante do Gru- po de Articulação da Cúpula. A alimentação agroecológica é uma das principais bandeiras dos movimentos sociais ligados às questões agrícolas, que pro- põem uma produção baseada na agricultura familiar e sem a utili- zação de agrotóxicos ou outros agentes químicos. Buscam tam- bém evitar o desmatamento de grandes áreas para a produção em larga escala, característica do agronegócio brasileiro. Em vez de oferecer três refei- ções diárias, os organizadores distribuirão café da manhã e lan- che da tarde para todos os partici- pantes alojados nos cinco acam- pamentos montados no Sambó- dromo, na Praia Vermelha da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Estação Fer- roviária Leopoldina e em dois Centros Integrados de Educa- ção Pública (Cieps). O custo esti- mado é de R$ 2,5 milhões, 25% do orçamento total da Cúpula. Estratégia. A organização bus- ca então o que chama de estraté- gia combinada: enquanto uma parcela da alimentação será ofe- recida por meio de organizações de economia solidária, na qual está a agricultura familiar, os par- ticipantes serão direcionados pa- ra os restaurantes próximos aos alojamentos e ao Aterro. “Infelizmente não temos es- trutura de cozinha para dar con- ta desse aumento enorme e expo- nencial de participação. Não te- mos condição de atender tudo, mas queremos acolher da me- lhor maneira possível esse dese- jo de participação”, disse Fátima Mello, diretora da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional e integrante do Gru- po de Articulação da Cúpula. Embora a movimentação diá- ria de pessoas no Aterro do Fla- mengo seja estimada em 20 mil a 25 mil participantes, os aloja- mentos à disposição oferecem acomodação para até 15 mil visi- tantes. “Temos uma demanda de 23 mil pessoas querendo vir e temos uma dificuldade de rece- ber esse público garantindo segu- rança, transporte e alimentação para todos”, afirmou Durão. Cardápio Serão fornecidos 2 mil litros de leite e mais de 500 sacas de fru- tas e tubérculos: banana, tangeri- na, laranja, aipim e batata doce. O alimento provém de cerca de 600 famílias produtoras. Diferentemente do publica- do no sábado, na reporta- gem “Ambientalistas criti- cam indefinição”, na página A24, João Paulo Capobianco é presidente do conselho do Instituto Democracia e Sus- tentabilidade (IDS).

Alimentação orgânica na Rio+20

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Comida ‘ecológica’ serápara poucos na CúpulaCrescimento do evento que integra a Rio+20 inviabiliza alimentaçãofornecida por agricultores familiares para todos os participantes

Antonio Pita / RIO

Durante a Rio+20, na mesa doslíderes das 40 maiores cidadesdo mundo o menu também seráecologicamente correto. Umgrupo de chefs cariocas será res-ponsável pela criação de um car-dápio especial para o jantar deencerramento da Cúpula C40Grandes Cidades, que reunirá osprefeitos das cidades no Rio en-tre os dias 17 e 19 de junho.

A comitiva, liderada por Mi-chael Bloomberg, prefeito de No-va York, vai degustar pratos pro-duzidos sob o conceito de eco-gastronomia, que prioriza ali-mentos orgânicos. Os líderesparticipam durante a conferên-cia de um debate sobre a susten-tabilidade das cidades.

Entre os participantes estarãoprefeitos e representantes de ci-dades como São Paulo, BuenosAires, Sidney, Amsterdã e Cope-nhagen. O jantar será no dia 19,no Palácio da Cidade, no bairrode Botafogo, zona sul do Rio. Omenu está à cargo do movimen-to Ecochefs, que reúne 20 chefscariocas preocupados com o pa-drão de consumo de alimentos.

“Apenas um terço dos alimen-tos produzidos são efetivamen-te consumidos, sendo a maiorparte descartada durante o trans-porte ou o preparo. Queremosque eles pensem nessa questãosempre que sentem à mesa paracomer”, afirma um dos organiza-dores, João Fortes.

O grupo, criado há quatroanos, está ligado a uma rede dechefs ativistas de todo o mundo,chamado de Delicious Evolu-tion, idealizador do evento. NoRio, o movimento realiza açõesde conscientização com repre-sentantes da agricultura familiare ministra cursos e oficinas so-bre a ecogastronomia.

Os Ecochefs também devemelaborar uma degustação paraconvidados de uma solenidadedo Programa das Nações Unidaspara o Desenvolvimento(Pnud), no dia 20.

Tereza Corção, uma das chefsà frente do evento, afirma que omenu ainda não foi definido,mas levará em conta o aproveita-mento de diferentes ingredien-tes que geralmente são descarta-dos, como cascas de frutas e ver-duras. “Será uma oportunidadepara aproximar o público desteconceito e do agricultor fami-liar. Isso pode mudar a nossa re-lação com os alimentos.”

CORREÇÃO

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Heloisa Aruth Sturm / RIO

O aumento no número de par-ticipantes da Cúpula dos Po-vos superou a expectativa ini-cial da organização e vai invia-bilizar parte de um dos princi-pais projetos de seus idealiza-dores: o fornecimento de ali-mentação agroecológica gra-tuita durante todos os dias doevento, entre 13 e 22 de junho,

no Aterro do Flamengo, zonasul do Rio de Janeiro. A Cúpu-la é parte da Rio+20.

A estrutura inicialmente proje-tada contemplava até 10 mil par-ticipantes. Hoje, com mais de 23mil inscritos, a Cúpula trabalhacom alternativas para que pelomenos parte da estratégia sejaconcretizada. “O que tínhamosno início, de total abastecimen-to por meio da pequena agricul-

tura, não conseguiremos cum-prir. A pequena agricultura temessa potencialidade, mas a nossaestrutura não”, disse MarceloDurão, representante da ViaCampesina e integrante do Gru-po de Articulação da Cúpula.

A alimentação agroecológica éuma das principais bandeirasdos movimentos sociais ligadosàs questões agrícolas, que pro-põem uma produção baseada naagricultura familiar e sem a utili-zação de agrotóxicos ou outrosagentes químicos. Buscam tam-bém evitar o desmatamento degrandes áreas para a produçãoem larga escala, característicado agronegócio brasileiro.

Em vez de oferecer três refei-ções diárias, os organizadoresdistribuirão café da manhã e lan-che da tarde para todos os partici-pantes alojados nos cinco acam-pamentos montados no Sambó-dromo, na Praia Vermelha da

Universidade Federal do Rio deJaneiro (UFRJ), na Estação Fer-roviária Leopoldina e em doisCentros Integrados de Educa-ção Pública (Cieps). O custo esti-mado é de R$ 2,5 milhões, 25% doorçamento total da Cúpula.

Estratégia. A organização bus-ca então o que chama de estraté-gia combinada: enquanto umaparcela da alimentação será ofe-recida por meio de organizaçõesde economia solidária, na qualestá a agricultura familiar, os par-ticipantes serão direcionados pa-

ra os restaurantes próximos aosalojamentos e ao Aterro.

“Infelizmente não temos es-trutura de cozinha para dar con-ta desse aumento enorme e expo-nencial de participação. Não te-mos condição de atender tudo,mas queremos acolher da me-lhor maneira possível esse dese-jo de participação”, disse FátimaMello, diretora da Federação deÓrgãos para Assistência Social eEducacional e integrante do Gru-po de Articulação da Cúpula.

Embora a movimentação diá-ria de pessoas no Aterro do Fla-mengo seja estimada em 20 mil a25 mil participantes, os aloja-mentos à disposição oferecemacomodação para até 15 mil visi-tantes. “Temos uma demandade 23 mil pessoas querendo vir etemos uma dificuldade de rece-ber esse público garantindo segu-rança, transporte e alimentaçãopara todos”, afirmou Durão.

● CardápioSerão fornecidos 2 mil litros deleite e mais de 500 sacas de fru-tas e tubérculos: banana, tangeri-na, laranja, aipim e batata doce.O alimento provém de cerca de600 famílias produtoras.

Diferentemente do publica-do no sábado, na reporta-gem “Ambientalistas criti-cam indefinição”, na páginaA24, João Paulo Capobiancoé presidente do conselho doInstituto Democracia e Sus-tentabilidade (IDS).