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ALTERAÇÕES DOS ESPECTROS FTIR DA ÁGUA MARINHA POR ELETRODIFUSÃO E TRATAMENTOS TÉRMICOS Frederico Ozanan Tomaz de Almeida Dissertação apresentada como parte dos requisitos para obtenção do Grau de Mestre em Ciência e Tecnologia das Radiações, Minerais e Materiais 2015

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ALTERAÇÕES DOS ESPECTROS FTIR DA ÁGUA MARINHA POR ELETRODIFUSÃO

E TRATAMENTOS TÉRMICOS

Frederico Ozanan Tomaz de Almeida

Dissertação apresentada como parte dos requisitos para obtenção do Grau de Mestre em Ciência e Tecnologia das Radiações, Minerais e Materiais

2015

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CENTRO DE DESENVOLVIMENTO DA TECNOLOGIA NUCLEAR

Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia

das Radiações, Minerais e Materiais

“ALTERAÇÕES DOS ESPECTROS FTIR DA ÁGUA MARINHA POR ELETRODIFUSÃO E TRATAMENTOS TÉRMICOS”

Frederico Ozanan Tomaz de Almeida

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia das

radiações Minerais e Materiais, como requisito para obtenção do Grau de Mestre.

Área de Concentração: Ciência dos Materiais

Orientador: Dr. Fernando Soares Lameiras

Belo Horizonte 2015

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DEDICATÓRIA

À minha esposa e amiga Telma

que sempre me apoiou em todos os momentos,

inclusive para a construção deste trabalho.

Às minhas queridas filhas,

Maria Alice e Maria Luiza

que alegram e iluminam minha vida.

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AGRADECIMENTOS

À DEUS, por me ter dado a oportunidade de retornar ao meio acadêmico e forças para

vencer mais uma etapa em minha vida profissional.

À minha família, amigos e especialmente à minha esposa e às minhas filhas, que me

incentivaram, me motivaram e me deram a inspiração criativa.

Na elaboração deste material, fui auxiliado direta ou indiretamente por diversas pessoas

com sugestões de ideias, revisão de erros, e, principalmente, com seu toque de amor.

Quero expressar minha gratidão especial:

Ao Prof. Fernando Soares Lameiras, pelo incentivo, ajuda, compreensão e confiança

no meu trabalho.

À Danielle Gomides Alkmim, pela partilha do projeto berilo, às importantes

orientações e discussões e apoio nos momentos difíceis da pesquisa.

Ao CDTN pela infraestrutura e apoio acadêmico.

À CAPES, CNPq e FAPEMIG pelo apoio financeiro.

Ao Sérgio Reis, Adelina Pinheiro, Ester Figueiredo, Edésia Martins, e todos os

professores e funcionários, amigos e colegas do CDTN que me orientaram e

auxiliaram em todos os momentos que precisei.

Aos amigos do CENTEC, por compreender minha ausência nos momentos

fundamentais para conclusão deste trabalho.

Aos colegas do CEFET-MG, especialmente o professor Pierre França, por me

despertar o prazer em estudar os minerais.

Aos queridos amigos que conheci através do CDTN, em especial Juniara Versieux,

Adriana Adla e Edson Raso.

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RESUMO

O berilo, Be3Al2(SiO3)6, é um mineral-gema com ampla variedade de cores, algumas

das quais podem ser induzidas ou alteradas por exposição à radiação ionizante, ao

calor ou por eletrodifusão. Impurezas cromóforas estão relacionadas com as cores dos

berilos. Há grande interesse em relação aos métodos de tratamento para alteração ou

melhoramento das cores. Há indícios de que a espectroscopia na região do

infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) pode contribuir para prever o

comportamento dos berilos quando submetidos a tratamentos para alteração da cor.

Neste trabalho, observou-se que a eletrodifusão com ou sem íons contaminantes, não

alterou o espectro FTIR, ao contrário do tratamento térmico. Amostras verdes

apresentaram maior teor de H2O tipo I, enquanto amostras azuis, maior teor de H2O tipo

II. Alterações significativas nos espectros FTIR foram observadas somente nas

amostras verdes após exposição a raios gama ou ao calor. O desaparecimento da

banda em 3633 cm-1 pode estar relacionado com a posição do íon Na+ na rede

cristalina.

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ABSTRACT

Beryl, Be3Al2(SiO3)6, is a mineral with a wide variety of colors, some of which may be

induced or changed by exposure to ionizing radiation, heat, or electrodiffusion.

Chromophore impurities are related to colors in beryl. There is great interest in methods

of treatment for enhancement or changing colors. There are indications that the Fourier

transform infrared spectroscopy (FTIR) can help to predict the behavior of beryl when

undergoing treatments for color change. In this study, it was observed that the

electrodiffusion with or without contaminating ions did not alter the FTIR spectra, unlike

the heat treatment. Green samples had higher levels of type I H2O, while blue samples,

higher levels of type II H2O. Significant changes in FTIR spectra were only observed in

green samples after exposure to gamma rays or heat. The disappearance of the band at

3633 cm-1 can be related to the position of Na+ ion in the crystal lattice.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Estrutura cristalina do berilo. ........................................................................... 8

Figura 2 - Estrutura cristalina do berilo. ........................................................................... 9

Figura 3: Secção longitudinal do canal do berilo. .......................................................... 11

Figura 4 - Quantificação da interação da radiação com a matéria.. .............................. 13

Figura 5: Espectro composto de berilo com raio polarizado ordinário. .......................... 16

Figura 6: Irradiação dos precursores para formar buraco e centro eletrônico. .............. 18

Figura 7: Níveis de energia e a formação dos centros de cor. ...................................... 19

Figura 8: Espectro eletromagnético e a excitação molecular.. ...................................... 21

Figura 9: Espectros FTIR de amostras de berilo de cores e regiões diferentes. ........... 26

Figura 10: Esquema da montagem para eletrólise proposta por Chen et. al. (2010). ... 29

Figura 11: Cristais de água marinha verde em estado bruto natural. ............................ 31

Figura 12: Componentes para montagem do aparato para eletrodifusão. .................... 33

Figura 13: Fonte de alimentação. .................................................................................. 34

Figura 14: Controlador de temperatura. ........................................................................ 34

Figura 15: Forno tubular. ............................................................................................... 35

Figura 16: Montagem para eletrodifusão. ...................................................................... 36

Figura 17: Montagem para eletrodifusão. ...................................................................... 37

Figura 18 - Montagem para eletrodifusão. ..................................................................... 38

Figura 19: Esquema do posicionamento da amostra para eletrodifusão. ...................... 39

Figura 20: Conjunto grafite, pastilha de MnCl2, amostra de berilo, grafite. .................... 40

Figura 21: Espectro de absorção de uma amostra de berilo verde. .............................. 44

Figura 22: Espectro de absorção de uma amostra de berilo verde. .............................. 45

Figura 23: Difratômetro de raios X. ................................................................................ 46

Figura 24: Difratograma da amostra AgMarV_H_virgem. .............................................. 49

Figura 25: Refinamento da sobreposição entre o resultado real e o esperado. ............ 50

Figura 26: Alteração de cor na superfície em função de centelhamento durante a

eletrodifusão. ................................................................................................................. 52

Figura 27: Porta amostra pós eletrodifusão utilizando amostra AgMarV_B e FeCl3 como

sal contaminante. .......................................................................................................... 53

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Figura 28: Porta amostra pós eletrodifusão utilizando amostra AgMarV_B e MnCl2 como

sal contaminante. .......................................................................................................... 54

Figura 29: Amostra AgMarV_C_virgem; b) Amostra AgMarV_C_ED_NaCl. ................. 55

Figura 30: Amostra AgMarV_H natural; b) Amostra AgMarV_H após irradiação gama a

4000kGy. ....................................................................................................................... 57

Figura 31: Espectros de FTIR de três amostras de água marinha azul natural. ............ 61

Figura 32: Espectros de FTIR de oito amostras de água marinha verde natural........... 62

Figura 33: Deconvolução de dois espectros FTIR, característicos das amostras do

grupo AgMarA e AgMarV naturais. ................................................................................ 64

Figura 34: Espectros FTIR das amostras AgMarV_D e AgMarA_A antes e após

tratamento térmico. ........................................................................................................ 67

Figura 35: Comparativo dos espectros FTIR de uma amostra de AgMarA natural

submetida ao tratamento térmico e à irradiação. ........................................................... 69

Figura 36: Comparativo dos espectros FTIR de uma amostra de AgMarV natural

submetida ao tratamento térmico, à irradiação e ao tratamento térmico após irradiação.

...................................................................................................................................... 69

Figura 37: Curva TG da amostra AgMarV_H natural. .................................................... 71

Figura 38: Deconvolução dos espectros FTIR da amostra AgMarV_H submetida aos

diferentes tratamentos. .................................................................................................. 72

Figura 39: Canais estruturais do berilo. ......................................................................... 74

Figura 40: Canal do berilo contendo sódio "encaixado" na posição 2a interagindo com

uma molécula de H2O tipo I e sódio na posição 2b interagindo com H2O tipo II. .......... 75

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Raio iônico dos componentes do berilo.. ....................................................... 10

Tabela 2: Faixas espectrais visíveis e suas respectivas cores complementares. ......... 12

Tabela 3: Variedades do Berilo (nomes genéricos).. ..................................................... 15

Tabela 4: Cinco Possíveis assinaturas do ferro no berilo. ............................................. 27

Tabela 5: Identificação das amostras de berilo estudadas. ........................................... 32

Tabela 6: Siglas usadas para representar o tipo de tratamento realizado. .................... 32

Tabela 7: Relação entre a região de absorção, a intensidade do pico e a área dos

espectros de duas amostras de água marinha com diferentes assinaturas. ................. 65

Tabela 8: Intensidade dos picos de absorção, obtidos a partir da deconvolução dos

espectros da amostra AgMarV_H submetida à diferentes tratamentos. ....................... 73

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SUMÁRIO

DEDICATÓRIA ............................................................................................................... iii

RESUMO ......................................................................................................................... v

ABSTRACT .................................................................................................................... vi

LISTA DE FIGURAS ...................................................................................................... vii

LISTA DE TABELAS ...................................................................................................... ix

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 1

2 OBJETIVOS .............................................................................................................. 6

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................................................................... 7

3.1 ESTRUTURA DO BERILO ..................................................................................... 7

3.2 CENTROS DE COR DO BERILO .......................................................................... 12

3.2.1 Interação da radiação com a matéria ........................................................................ 12

3.2.2 Substâncias Cromóforas ............................................................................................ 14

3.2.3 Centros de cor – elétrons e buracos .......................................................................... 17

3.3 ESPECTROSCOPIA NA REGIÃO DO INFRAVERMELHO ............................................ 20

3.3.1 Região de absorção dos íons cromóforos no berilo. ................................................. 27

3.4 TRATAMENTO TÉRMICO / ELETRODIFUSÃO ......................................................... 28

4 MATERIAIS E MÉTODOS ...................................................................................... 30

4.1 AMOSTRAGEM ................................................................................................. 30

4.2 MONTAGEM PARA EXECUÇÃO DA ELETRODIFUSÃO .............................................. 33

4.2.1 Materiais .................................................................................................................... 33

4.2.2 Equipamentos ............................................................................................................ 34

4.2.3 Projeto de melhoria da montagem ............................................................................ 35

4.2.4 Condições experimentais ........................................................................................... 39

4.3 ESPECTROSCOPIA FTIR .................................................................................. 41

4.3.1 Preparação das Amostras .......................................................................................... 41

4.3.2 Análises ...................................................................................................................... 43

4.4 DIFRAÇÃO DE RAIOS X .................................................................................... 45

4.5 ANÁLISE TERMOGRAVIMÉTRICA ........................................................................ 46

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................. 48

5.1 CARACTERIZAÇÃO DO BERILO ATRAVÉS DA DIFRAÇÃO DE RAIOS X ....................... 48

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5.2 ELETRODIFUSÃO ............................................................................................. 51

5.3 DISCUSSÃO QUANTO ÀS ALTERAÇÕES DE COR. .................................................. 56

5.4 DISCUSSÃO QUANTO ÀS ANÁLISES DE ABSORÇÃO NA REGIÃO DO INFRAVERMELHO.60

6 CONCLUSÕES ....................................................................................................... 78

7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ...................................................... 80

8 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ............................................................................. 81

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1 INTRODUÇÃO

A cor é uma propriedade fundamental para tornar um mineral atraente quanto à

beleza, tradição de mercado e avaliação para considerá-lo um mineral-gema. Alguns

minerais permitem modificações totais ou parciais de suas cores, alteração da sua

diafaneidade e alguns fenômenos ópticos quando submetidos a processos de

melhoramento (enhancement) ou tratamento (NASSAU, 1994). O berilo de qualidade

gema se apresenta límpido, transparente a translúcido, de brilho vítreo intenso, bem

cristalizado, com belas colorações, formando as variedades preciosas (gemas) bastante

apreciadas e procuradas (BEZERRA e NESSI, 2008).

A cor do mineral é uma das propriedades físicas utilizadas na sua determinação.

Geralmente os minerais apresentam uma cor definida e constante. Entretanto, é

possível encontrar alterações na cor de um mineral em função de pequenas

modificações na sua composição química, como a substituição de um elemento químico

por outro ou a alteração do estado de oxidação. A hematita, por exemplo, pode sofrer

limonitização (oxidação) e ter sua coloração cinza de brilho metálico alterado para uma

cor castanho de brilho terroso.

Substâncias cromóforas são as substâncias responsáveis pelas cores exibidas

pelos minerais, as quais podem ser fixas ou não. Quando a cor é fixa, o mineral é

considerado órfão e é classificado como idiocromático. Neste caso a cor do mineral

está intrinsecamente relacionada com a sua composição química. Pois os próprios

elementos que fazem parte da composição química do mineral é que geram a cor. A

pirita, por exemplo, apresenta sempre a cor amarelo latão, desde que não tenha sofrido

limonitização.

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Alguns minerais podem apresentar uma grande variedade de cores em função

da presença de impurezas que atuam como substâncias cromóforas. Neste caso,

considera-se que o mineral pertence a uma família e é classificado como alocromático.

Esse é o caso da família do Berilo, o qual recebe nomes específicos de acordo com a

cor que ele apresenta.

Quando a cor do berilo abrange todo o espectro do azul, refletindo as tonalidades

encontradas no mar ao longo do imenso litoral brasileiro, é denominado água-marinha;

se for verde vivo e intenso, chama-se esmeralda; se a cor é rosa a rosa viva, é a

morganita ou vorobyevita; se for amarelo-dourado ou amarelo esverdeado, é heliodoro

e a variedade vermelho groselha é bixbita. Outra variedade, a incolor, chama-se

goshenita, mas raramente é utilizada como gema (BEZERRA e NESSI, 2008). Assim,

nos minerais alocromáticos, os elementos que geram a cor não fazem parte da

composição química normal do mineral. Portanto, se estiverem “puros” tendem a ser

branco ou incolor.

A água marinha é uma variedade de berilo azul ou esverdeado e transparente.

De acordo com Branco (2008), a cor se deve à presença do íon Fe2+, e, dependendo da

concentração deste íon, o mineral apresenta diferentes tonalidades de azul. Se

juntamente com o Fe2+ houver também o íon Fe3+, a amostra será mais clara, podendo

apresentar coloração verde. Ainda, de acordo com esse autor, a maioria das gemas

encontradas no comércio apresenta uma tonalidade azul que não é natural.

Como o consumidor de joias prefere a atraente cor puramente azul desta gema,

a imensa maioria das águas-marinhas utilizadas em joalherias, no Brasil e no exterior, é

submetida a tratamento térmico. O procedimento consiste em submeter os espécimes

de matiz originalmente azul-esverdeado a aquecimento em temperaturas entre 400 e

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500 ºC. No Brasil esse tratamento é feito pelos próprios garimpeiros, e o azul obtido

desse modo não pode ser distinguido do azul natural (BRANCO, 2008).

Eventualmente são apresentados ao mercado berilos de intensas cores azuis ou

azuis-esverdeadas, porém não são considerados águas-marinhas. Estas cores ocorrem

na natureza (Berilo Maxixe), mas também podem ser obtidas por irradiação (Berilo tipo

Maxixe) e em ambas as condições a cor é instável. Assim, em poucas semanas ou

alguns meses, dependendo da amostra, ocorre o desbotamento e o mineral-gema

perde a nobreza da cor à medida que vai sendo exposto à luz.

De acordo com Andersson (2010), o Berilo Maxixe foi descrito pela primeira vez

na literatura científica por Wild em 1933, que afirmou que o cristal foi encontrado em

1918 na mina do Maxixe, ao sul de Araçuaí (MG), daí a designação “Berilo Maxixe”.

Esse berilo apresentava uma cor azul intensa, porém diminuía quando o cristal era

mantido durante muitos dias exposto à luz do sol. Diversos estudos foram realizados e

nenhum outro berilo com as mesmas propriedades do Berilo Maxixe foi relatado.

Em 1972-1973 novos cristais de berilo de cor azul intenso foram apresentados

ao mercado de pedras preciosas, mas ao serem expostos nas vitrines para venda,

também perderam a intensidade da cor em função da exposição à luz solar. Nassau

(1976) chamou estes novos Berilos de Berilo Tipo Maxixe, pois seus espectros de

absorção óptica apresentam algumas semelhanças com o Berilo Maxixe. Ele também

foi capaz de criar cristais azuis semelhantes por irradiação de outros berilos.

Há pouco tempo atrás, segundo Polli (2006a), os gemólogos procuravam

desenvolver seus trabalhos nas áreas de identificação e classificação de gemas (se

natural, sintética, artificial ou imitação). Atualmente a comunidade técnico-científica e o

mercado de joias têm grandes expectativas com relação aos métodos de tratamento ou

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melhoramentos. Além disso, o mercado também espera prever se o resultado do

tratamento é estável ou não, pois um grande volume de gemas depende de métodos

específicos de tratamento ou melhoramento da aparência para viabilidade comercial.

As atividades de irradiação de gemas estão entre as mais importantes para o LIG

- Laboratório de Irradiação de Gama do CDTN e para os irradiadores comerciais

instalados no Brasil. Os berilos representam a segunda maior demanda de irradiação

de gemas (superada apenas pelo quartzo). Essa atividade tem importância econômica

para o Estado de Minas Gerais e para outros Estados produtores de berilos, como

Bahia, Espírito Santo, Pará e Rondônia. Este projeto está focado na aplicação de uma

técnica nuclear na indústria.

Berilos de várias cores podem ser encontrados em diferentes países, porém, a

região do nordeste de Minas Gerais se destaca como um dos principais produtores. A

cor de um berilo influencia diretamente o valor comercial do mesmo para a indústria

joalheira. A radiação ionizante pode alterar essa cor de modo a valorizar ou

desvalorizar o material. Atualmente, o resultado que a irradiação gama produz no berilo

é feita por testes de irradiação, sem nenhum indicativo inicial do resultado e da dose

necessária. É um processo caro e lento, que pode ser em vão se a cor obtida não for

apreciada comercialmente.

Segundo Polli (2006a), em consequência da variação na composição e no

comportamento das gemas naturais, não se pode estabelecer parâmetros precisos de

tratamento a uma amostra qualquer. As técnicas de tratamento devem ser utilizadas

levando-se em conta a variedade de composição e de comportamento do mineral-

gema.

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A espectroscopia na região do infravermelho por transformada de Fourier (FTIR)

se mostrou uma técnica bastante útil para revelar o potencial de desenvolvimento de

cor do quartzo. Ela é utilizada rotineiramente pelo CDTN desde 2005 para auxiliar os

“pedristas” no processo de irradiação de quartzo para alteração da cor (NUNES, 2009).

Pretende-se aproveitar essa experiência para fazer algo similar com o berilo: prever o

potencial de desenvolvimento de cor de um berilo por meio de análises de um espectro

FTIR do mesmo.

A eletrodifusão é uma técnica que poderia contribuir com este projeto, pois ela

auxiliaria no controle das impurezas intersticiais e iônicas presentes no berilo. As

alterações observadas nos espectros na região do infravermelho poderiam ser

associadas à alteração das concentrações de determinados íons inseridos na estrutura.

O não beneficiamento de nossa matéria-prima, no país, por falta de tecnologia,

ou de investimentos, gera sérios prejuízos à economia nacional (SABIONI, 2000). As

expectativas do meio científico e do mercado de gemas para mudar o atual cenário

econômico, a disponibilidade de laboratórios e instalações no Centro de

Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN) e as experiências adquiridas com um

estudo semelhante realizado com o quartzo por Liz et. al. (2007), serviram como

estímulo para o desenvolvimento deste estudo.

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2 OBJETIVOS

GERAL

Realizar o tratamento do berilo para alteração da presença e do estado de

oxidação de íons na sua estrutura cristalina.

ESPECÍFICO

Identificação das alterações no espectro FTIR (espectroscopia na região do

infravermelho por transformada de Fourier) do berilo natural após a eletrodifusão, com

vistas à previsão do comportamento de amostras naturais do berilo quando expostas à

radiação gama.

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3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Estrutura do Berilo

Os ciclossilicatos são formados por tetraedros de SiO4 polimerizados formando

uma estrutura fechada com forma de anéis. Esta polimerização pode ocorrer de três

maneiras diferentes:

Constituída por três tetraedros [Si3O9]6-, representado pelo mineral raro benitoíta;

Constituída por quatro tetraedros [Si4O12]8-, exemplificada pelo mineral axinita;

Constituída por seis tetraedros [Si6O18]12-, que compõe a estrutura básica dos

minerais mais comuns e importantes desse grupo, incluindo o mineral-gema

berilo, objeto de estudo deste trabalho.

De acordo com Lee (2011), no interior dos anéis de cada grupo SiO4, dois

átomos de oxigênio são compartilhados por dois outros tetraedros de SiO4 adjacentes,

de modo que o radical dos anéis seja representado por [Si6O18]12-. Na estrutura do

berilo, os anéis [Si6O18]12- estão organizados em folhas planas e dispostos

paralelamente a {0001}. Estes anéis estão ligados entre si por meio de íons Al3+ e Be2+

posicionados alternadamente entre os anéis.

O íon Al3+ está coordenado por um grupo octaédrico de seis átomos de oxigênio

[AlO6]9- e cada íon Be2+ coordenado por quatro átomos de oxigênio [BeO4]

6-. Os

oxigênios dos anéis [Si6O18]12- vizinhos se unem tanto lateral como verticalmente pelos

íons Al3+ e Be2+. Sendo assim, o berilo apresenta a composição ideal Be3Al2Si6O18, sua

estrutura cristalina pertence ao grupo espacial P6/mcc. A Figura 1 mostra uma

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representação da estrutura cristalina do berilo (ADAMO, 2008; ANDERSSON, 2006;

ANDERSSON, 2008; ANDERSSON, 2010; AYRES, 2010; LEE, 2011; RIESEN, 2011).

Figura 1 - Estrutura cristalina do berilo. Berílio (Be) tetraédrico em cinza, Silício (Si) tetraédrico em azul, Oxigênio (O) em vermelho, Alumínio (Al) octaédrico em verde e Álcalis em rosa e amarelo ocupando o centro dos canais. Fonte: http://som.web.cmu.edu/st

Na arquitetura do berilo os anéis de [Si6O18]12- estão dispostos uns sobre os

outros, de tal forma que os orifícios centrais se correspondem, formando canais

paralelamente ao eixo c cristalográfico, como mostra a Figura 2. De acordo Andersson

(2006) e Eeckhout et al. (2005), esses canais são grandes o suficiente para acomodar

uma variedade ampla de íons, átomos neutros e moléculas.

Dos dezoito átomos que formam a célula unitária do berilo, seis formam o anel

que dá origem ao canal (ver Figura 2a), grande o suficiente para uma molécula de água

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passar. Segundo Andersson (2006), estes oxigênios são chamados de O(1) e o centro

do anel está localizado na posição 2b da célula unitária P6/mmc. Os demais oxigênios

do tetraedro de silício são designados O(2) e eles formam as paredes das cavidades

entre os anéis, grandes o suficiente para acomodar moléculas de CO2 e íons CO32-. O

centro da cavidade está localizado na posição 2a, sendo que os tetraedros de berilo e

os octaedros de alumínio são formados apenas pelos oxigênios tipo O(2).

Figura 2 - Estrutura cristalina do berilo. (a) projetado de (0001) onde representa O(1); (b) vista da estrutura do berilo ao longo do plano com o eixo c na vertical. Fonte: http://slideplayer.com.br/slide/362960/

De acordo com Wood & Nassau (1968), os canais e interstícios dos cristais

naturais de berilos apresentam muitas impurezas, principalmente água e íons alcalinos.

Os demais íons podem estar presentes em substituição aos íons Al3+, Be2+ e Si4+ que

compõem a rede. A Tabela 1 apresenta as dimensões de íons e estruturas que compõe

o berilo, além de impurezas que podem estar presentes em algumas de suas

variedades.

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Tabela 1: Raio iônico dos componentes do berilo. Fonte: Wood & Nassau (1968).

Diversos estudos comprovam, através de resultados obtidos com espectros na

região do infravermelho, que as moléculas de água podem se orientar de duas

maneiras diferentes nos canais estruturais do berilo. Safford et. al. (1968 apud WOOD

& NASSAU 1968) classifica como água Tipo I aquela que apresenta o centro de

simetria da molécula de água perpendicular ao eixo c do cristal, e a Tipo II aquela com

o eixo de simetria da molécula paralelo ao eixo c do cristal.

Outra grande contribuição diz respeito à posição das moléculas de água no

canal. Antes da publicação de Wood & Nassau (1968), acreditava-se que as moléculas

de água se posicionavam dentro do anel, ou seja, no nível dos átomos de silício. Com o

resultado do trabalho desses autores foi comprovado e proposto que as moléculas de

água se encontram entre os anéis, no nível dos átomos de Al e Be, como mostra a

Figura 3.

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Figura 3: Secção longitudinal do canal do berilo mostrando as duas possíveis posições da molécula de água. Fonte: Wood & Nassau (1968)

Grande parte das propriedades cristalinas do berilo está diretamente relacionada

com defeitos e impurezas presentes em sua estrutura. Wood & Nassau (1968)

analisaram as características de vários tipos de amostras de berilo, através das

técnicas de espectroscopia de absorção nas regiões do ultravioleta, do visível e

infravermelho. Com os resultados obtidos nesse trabalho, foi possivel estudar os

modos vibracionais da rede cristilina e também associar algumas bandas de absorção à

substâncias “estranhas”, como H2O tipo I e tipo II e o CO2, presentes no mineral.

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3.2 Centros de Cor do Berilo

3.2.1 Interação da radiação com a matéria

A cor de um objeto depende de como ele absorve, transmite ou reflete os vários

comprimentos de onda eletromagnética na região do visível aos quais ele está exposto.

A absorção seletiva da radiação eletromagnética é consequência de vários processos

eletrônicos. A radiação não absorvida é transmitida aos olhos do observador e, de

acordo com seu comprimento de onda, os minerais podem exibir suas cores

características. Assim, de acordo com Skoog et al. (2007), para cada cor resultante que

está sendo transmitida, existe uma cor complementar absorvida. A Tabela 2 apresenta

as cores do espectro visível e relaciona a cor absorvida e cor complementar

transmitida.

Tabela 2: Faixas espectrais visíveis e suas respectivas cores complementares. Fonte: Skoog et al. (2007 p.685).

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Os métodos espectroscópicos empregam as interações da radiação com a

matéria para obter informações sobre uma amostra. Antes de se aplicar o estímulo, o

analito se encontra em seu estado fundamental. O estímulo faz com que algumas

espécies do analito sofram uma transição para um estado excitado, e, por fim, a

radiação eletromagnética absorvida decorrente da excitação é quantificada.

A espectroscopia de absorção considera que uma radiação com potência

radiante incidente igual a P0 pode ser absorvida pelo analito, resultando em um feixe

transmitido de menor potência P. Para que a absorção ocorra, a energia do feixe

incidente deve corresponder a uma das diferenças de energia mostradas na Figura

4(b). Os resultados dessas medidas são frequentemente expressos por meio do

espectro, que se refere a um gráfico da radiação emitida em função da frequência ou do

comprimento de onda, como mostrado na Figura 4(c).

Figura 4 - Quantificação da interação da radiação com a matéria. Fonte: Skoog et al. (2007 p.676).

A transmitância (T) é a fração de luz emergente de uma amostra T = P/P0 e é

normalmente expressa em porcentagem (%). Reciprocamente, a absorbância (A) é a

medida da energia da luz absorvida pela amostra A = - log T. Transmitância e

Absorbância são expressas em termos da intensidade da radiação eletromagnética.

De acordo com Skoog et al.(2007), a lei de absorção, também conhecida como

lei de Beer-Lambert, nos diz quantitativamente como a grandeza de atenuação

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depende da concentração das moléculas absorventes e da extensão do caminho sobre

o qual ocorre absorção. Assim, a lei de Beer pode ser expressa pela equação 1.

𝐴 = 𝐿𝑜𝑔(𝑃0 𝑃⁄ ) = 𝑎𝑏𝑐 (1)

Onde a é a absortividade, b é o caminho óptico percorrido e c a concentração da

espécie absorvente.

Considerando as variáveis da lei de Beer, é possível inferir que a cor final exibida

por uma gema não depende apenas da concentração de substâncias cromóforas, mas

também de sua espessura. Portanto, o lapidário deve levar isso em conta, pois, de

acordo com Polli (2006c), gemas levemente coloridas geralmente são lapidadas com

espessuras maiores, enquanto que os materiais de cores mais escuras devem ser

lapidados com espessuras menores.

3.2.2 Substâncias Cromóforas

O Berilo puro é incolor, porém a presença de impurezas pode produzir as cores

verde, azul, amarelo e vermelho. Sabe-se, por exemplo, que a cor das águas marinhas

está relacionada com a presença de íons de Fe2+ e Fe3+ na sua estrutura cristalina, e

que a cor verde das esmeraldas é causada pela presença de íons Cr3+. A Tabela 3

apresenta um resumo dessas variedades cromóforas.

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Tabela 3: Variedades do Berilo (nomes genéricos). Fontes: (IBRAGIMOVA, 2009; NASSAU, 2001; POLLI, 2006b; WOOD & NASSAU, 1968).

Cor Denominação Impurezas

Azul Água Marinha Fe2+

/Fe3+

Azul escuro Berilo Maxixe NO3-, CO3

-

Amarelo ouro Heliodoro Fe2+

/Fe3+

Verde fraco Água Marinha Fe2+

/Fe3+

Verde Esmeralda Cr3+

Rosa Morganita Mn2+

/Mn3+

Vermelho Bixbita Mn2+

/Mn3+

Incolor Goshenita -

Os minerais da família do Berilo apresentam uma ampla diversidade quanto às

propriedades cristalinas. Grande parte dessa variação se deve a defeitos e impurezas

na sua rede. Wood & Nassau (1968) analisaram as características de uma série de

amostras de diferentes tipos de Berilo, de diversas cores, e verificaram que elas

apresentavam linhas e bandas de absorção entre 0,4 e 0,7 μm (400 a 700 nm). Essa

absorção, segundo os autores, está associada à presença de íons de metais de

transição que atuam como substância cromófora.

Além da contribuição dos íons, Wood & Nassau (1968) discutiram a importância

dos espectros de espécies moleculares, como os dois tipos de água e o gás carbônico,

que auxiliam no estudo de detalhes da estrutura dos Berilos. A Figura 5 ilustra um

espectro com as regiões de vibrações de rede, molecular e absorção cromófora de uma

amostra de berilo.

A ampla variedade de cores do berilo está relacionada principalmente à presença

de metais de transição, tais como Fe2+, Fe3+, Mn2+, Mn3+, Cr3+ e V3+, já apresentados na

Tabela 3. Estes íons podem substituir o Al3+, o Be2+ ou ambos na rede cristalina. Viana

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et al. (2001 apud POLLI 2006a) afirma que o ferro é um dos principais cromóforos em

berilo azul, verde e amarelo.

Figura 5: Espectro composto de berilo com raio polarizado ordinário: (c) a região de vibrações da rede (comprimentos de onda maiores que 4,5μm); (b) a região de vibrações moleculares (água e CO2 de 0,84μm a 6.,5μm); e (a) a região de absorções cromóforas (0,3μ a 1,1μm). Fonte: Adaptado de Wood e Nassau (1968)

Polli (2006a) investigou a composição química de diversas amostras de berilo

utilizando a técnica de ativação neutrônica instrumental e conseguiu detectar vinte

elementos químicos diferentes. Todas as amostras, independente da cor, revelaram a

presença de Cs e Na, e em todas as amostras da variedade água-marinha (azul e

verde) o Fe estava presente. No caso da água-marinha, sabe-se que a cor não

depende apenas da presença do elemento, mas depende do estado de oxidação do

íon, da posição do mesmo na estrutura do mineral e da quantidade relativa de Fe2+ e

Fe3+.

De acordo com Wood & Nassau (1968) e Viana (2001 apud POLLI, 2006a), a cor

azul, azul-esverdeada e verde da água-marinha está relacionada à presença de íons

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Fe2+ associados ou não a Fe3+ devido à substituição no sítio octaédrico do Al3+, ou à

substituição no sítio tetraédrico do Be2+ ou ainda, encaixados nos canais da estrutura.

Os autores propuseram que, enquanto os íons Fe2+ podem estar localizados nas três

posições supracitadas, os íons Fe3+ muito provavelmente ocupam apenas os sítios

octaédricos substituindo o Al3+. Eles concluíram que as cores azul e verde da água-

marinha podem ser explicadas pelas proporções relativas de Fe3+, em coordenação

octaédrica, e de Fe2+ em canais estruturais do berilo. Assim, as amostras de cor azul

escuro têm pouco Fe3+, enquanto que as de cor verde mais intenso têm mais Fe3+

octaédrico ou menos Fe2+ em canal.

3.2.3 Centros de cor – elétrons e buracos

Segundo Nassau (2001), a causa mais conhecida de cor é derivada a partir de

compostos ou impurezas de metais de transição. Esses fornecem a cor de muitos

minerais, gemas, minérios, tintas e pigmentos. Nesses casos, há compostos

inorgânicos contendo íons metálicos com elétrons desemparelhados nos orbitais d ou f.

O ambiente circundante causa excitação dos elétrons no próprio elemento de transição

e assim ocorre a exibição das cores. Em alguns casos há envolvimento direto de outros

elétrons, como do orbital molecular, por transferência de carga, ou de centros de cor de

buraco eletrônico, entre outros.

Nassau (2001) discutiu o caso do berilo maxixe e tipo maxixe que se tornavam

azul intenso após um tratamento com radiação ultravioleta ou outro tipo de radiação

ionizante, porém, desbotavam ao serem expostos à luz. Vale ressaltar que há uma

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diferença notável entre o azul da água marinha e o azul dos berilos maxixe e tipo

maxixe. A estabilidade da cor azul das águas-marinhas se deve à presença de íon Fe

na gema, enquanto o desbotamento rápido dos berilos maxixe e tipo maxixe se devem

a outro fator.

Na maioria dos casos, segundo Nassau (2001), considera-se que um cristal

contém dois precursores A e B como mostrado na Figura 6a. O precursor A tem um par

de elétrons, um desses elétrons pode ser ejetado com a incidência de radiação, e o

precursor B tem a capacidade de receber esse elétron ejetado. Nenhum dos dois

precursores absorve luz para emitir cor em seu estado original. Mas depois da absorção

de energia, tanto o precursor A quanto o precursor B se tornam ionizados. Se o

responsável pela cor for B- tem-se um centro de cor eletrônico, e se o responsável pela

cor for A+ tem-se um centro de cor de buraco eletrônico, como mostrado na Figura 6b.

Figura 6: (a) Irradiação dos precursores para formar (b) Buraco eletrônico e Centro eletrônico. Fonte: Adaptado de Nassau (2001).

A absorção de energia proveniente da radiação pode promover uma transição

eletrônica de um estado fundamental, para um estado excitado, representados

Precursor de Buraco eletrônico

Precursor eletrônico

Buraco eletrônico Centro Eletrônico

IRRADIAÇÃO

a) b)

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respectivamente por A e F na Figura 7. Ao invés de retornar ao estado fundamental, o

elétron, antes em estado excitado, é aprisionado em um nível de energia intermediário,

conhecido como centro de cor, identificado como estado B, na Figura 7.

Figura 7: (a) Níveis de energia e a formação dos centros de cor, (b) absorção de luz, (c) desbotamento, (d) centros de cor instáveis. Fonte: Adaptado de Nassau (2001).

Quando em estado aprisionado, o sistema pode absorver luz e o elétron pode

mudar para um estado de mais alta energia. Se essa energia for igual ou maior que a

energia de ativação da “armadilha”, representada por Eb na Figura 7, o elétron volta ao

estado fundamental A e o material sofre um desbotamento.

Os berilos maxixe e tipo maxixe sofrem desbotamento rapidamente porque a

energia de ativação para o elétron aprisionado retornar ao estado fundamental é muito

baixa. A Figura 7d ilustra essa situação, conhecida como armadilha rasa.

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De acordo com Nassau (1976), o centro de cor do berilo Maxixe é formado pela

presença de NO3-, enquanto o do berilo tipo maxixe é composto pela presença de

CO32-. Ambas as impurezas estão nos canais estruturais. As equações 2 e 3

representam as alterações durante a irradiação.

𝑁𝑂3− → 𝑁𝑂3 + 𝑒− (2)

𝐶𝑂32− → 𝐶𝑂3

− + 𝑒− (3)

Tanto o 𝑁𝑂3 quanto o 𝐶𝑂3− são sistemas com 23 elétrons e apresentam

propriedades simétricas semelhantes, além disso, podem funcionar como um centro de

cor de buraco eletrônico ao perderem um elétron e assim apresentam semelhanças

quanto à cor ou o desbotamento.

3.3 Espectroscopia na região do Infravermelho

A espectroscopia na região do Infravermelho é uma das mais importantes

técnicas instrumentais atualmente utilizadas em química. É uma técnica bem

estabelecida que se aplica tanto para a execução de trabalhos de rotina, quanto para o

esclarecimento de estruturas moleculares razoavelmente complexas. Um caminho fácil

se abre com o domínio da técnica, pois é possível identificar a presença de certos

grupos funcionais nas moléculas. Ainda é possível usá-la agrupando uma coleção de

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bandas de absorção para confirmar a identidade de um composto puro ou detectar a

presença de impurezas específicas.

A radiação infravermelho corresponde a uma região do espectro eletromagnético

entre a região da luz visível e a região de micro-ondas, Figura 8. De acordo com Skoog

et al. (2007), a porção de maior utilidade para a análise está situada entre 4000 e 670

cm-1, chamado de infravermelho médio.

Figura 8: Espectro eletromagnético e a excitação molecular. Fonte: Skoog et. al. (2007 p. 673).

Compostos que possuem ligações covalentes, sujeitas a sofrer variação no

momento de dipolo, podem absorver radiação na região do infravermelho. A absorção

de energia causa uma excitação das moléculas, essas passam para um estado de

maior energia, onde a absorção é quantizada e frequências selecionadas são

absorvidas pela molécula. De acordo com Skoog et al. (2007), o espectro vibracional

costuma aparecer como uma série de bandas, porque a cada mudança de nível de

energia vibracional corresponde a uma série de mudanças de níveis de energia

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rotacional, desta forma, as linhas se sobrepõem dando origem às bandas observadas

no espectro.

Segundo Skoog et al. (2007), o preparo e manuseio da amostra é a parte mais

difícil e demorada de uma análise espectrométrica na região do infravermelho, pois não

há bons solventes transparentes na região de interesse.

Uma das técnicas mais populares para o manuseio de amostras sólidas é o

pastilhamento com KBr. King et al. (2004) propõem que as pastilhas com materiais

geológicos devem ser preparadas misturando 0,7-2 mg de analito seco com 100-300mg

de KBr seco a 400 ºC por 6 horas. Essa mistura dever ser feita em um molde de 13 mm

pré-aquecido, com uma lâmpada, a 100 ºC por 20 minutos. O material é então

comprimido em um molde cilíndrico sob vácuo durante 2-5 minutos a 980 MPa para

produzir um disco de amostra transparente. É necessário verificar se o disco tem uma

aparência “nublada”. Em caso afirmativo, provavelmente isso se deve a incorporação

de água no sal, assim não é possível interpretar corretamente a região de estiramento

(deformação linear) O-H em 3000-3600 cm-1 e nem a região de flexão (deformação

angular) H-O-H em 1610-1640 cm-1. Adamo et al. (2008) obteve bons resultados de

Espectroscopia na região do Infravermelho por transformada de Fourrier (FTIR)

preparando as pastilhas de berilo pulverizando o mineral em um graal de ágata e

dissolvendo-o em KBr na concentração de 1% m/m.

A posição das bandas no espectro pode ser apresentada em comprimento de

onda ou número de onda, sendo o último o inverso do primeiro e mais conveniente para

as análises, já que é proporcional à energia da onda eletromagnética. Os resultados

que serão apresentados a seguir foram obtidos em 1968 quando as posições das

bandas eram dadas em comprimento de onda expresso em μm. Atualmente os

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resultados são apresentados em função do número de onda e a unidade utilizada é o

cm-1, assim, os dados estão convertidos de μm para cm-1 para facilitar na comparação

com resultados mais recentes.

O espectro ilustrado na Figura 5 apresenta três regiões importantes para a

identificação e caracterização de uma amostra de berilo. Segundo Wood & Nassau

(1968) as absorções na região:

0,4 μm (25.000 cm-1) a 0,7 μm (14.285,7 cm-1), região do espectro visível,

estão relacionadas às impurezas, como íons de metais de transição, que

atuam como substâncias cromóforas;

1 μm (10.000 cm-1) a 7 μm (1.428,6 cm-1) estão associadas a substâncias,

como água e gás carbônico, aprisionadas nos canais do berilo;

Na região a partir de 4,5 μm (2.222,2 cm-1) em diante existem absorções

devido às vibrações da rede cristalina, o chamado modos de rede.

Os limites entre as regiões ocorrem de uma maneira contínua, assim pode haver

sobreposição entre uma região e outra. Por exemplo, absorções em torno de 5 μm

(2.000 cm-1) podem estar relacionadas tanto à presença de água e gás carbônico,

quanto aos modos de rede. Para minimizar as possíveis sobreposições, Wood &

Nassau (1968) analisaram amostras de berilo sintético, pois esses apresentam

quantidades de impurezas mínimas, assim os modos de vibração de rede podem ser

mais bem estudados.

De acordo com os autores supracitados, as principais bandas dos modos de rede

estão relacionadas ao SiO4 em 8,2 μm (1.219,5 cm-1) e 10,4 μm (961,5 cm-1) e aos

anéis hexagonais de silicato em 12,5 μm (800 cm-1). Foi observada a ocorrência de

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moléculas de água no berilo, como moléculas livres, para as quais foram identificados

dezesseis tipos de linhas no espectro. As principais bandas relacionadas à presença de

água tipo I são encontradas em 1.542 cm-1, 3.555 cm-1 e 3.694 cm-1, e, para água tipo II,

em 1.628cm-1, 3.592 cm-1 e 3.655 cm-1. Há também, fortes evidências da presença de

moléculas de gás carbônico, com frequências de absorção vibracional de 4,26 μm

(2.347,4 cm-1).

Mashkovtsev et. al. (2004) analisou amostras de berilos sintéticos e obteve os

seguintes resultados: água tipo I - 3.700 cm-1, água tipo II – 3.600 cm-1 e 1.630 cm-1.

Schmetzer (1989) e Schmetzer & Kiefert (1990) apud Polli (2006c) também realizaram

um estudo detalhado de infravermelho de berilo (esmeralda) natural e sintético. Foi

observada uma grande variabilidade nas intensidades das bandas em 3.592 cm-1 e

3.655cm-1. As explicações dessas diferenças necessitam de mais evidências

experimentais, e, portanto, as discussões mais aceitas, têm como base as bandas de

absorção de Wood & Nassau (1968).

Os espectros FTIR obtidos por Polli (2006c) para nove amostras de berilo se

encontram na Figura 9. De um modo geral, as principais bandas são observadas em

3.590-3.600 cm-1 (água tipo II), 3.650-3.660 cm-1 (água tipo II) e 3.690-3.700 cm-1 (água

tipo I), todas compatíveis com as bandas sugeridas por Wood & Nassau (1968), o que

caracteriza uma boa reprodutibilidade para as medidas realizadas.

Com os resultados apresentados na Figura 9, Polli (2006c) considera que

existem dois conjuntos de variedades de berilo com comportamentos distintos. Um

formado pelas variedades água-marinha (azul e verde) e berilo amarelo e, o outro,

composto de morganita e goshenita. Amostras do mesmo grupo apresentam curvas

com formatos muito semelhantes e, o contrário, para amostras de grupos diferentes. As

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transmitâncias típicas ocorrem a 3.590-3.600 cm-1 e 3.690-3.700 cm-1 para as amostras

de ambos os grupos, mas pelas intensidades relativas das bandas, a água tipo I

predomina sobre a água tipo II no primeiro grupo e, exatamente o contrário, para as do

segundo grupo.

Polli (2006c) conclui afirmando que as substituições envolvendo os constituintes

presentes nos canais (como por exemplo, H2O, Na, OH-), os cátions coordenados

tetraédrica e octaédricamente, as relações c/a, as distâncias entre as ligações, e os

sítios de ocupações nas posições das bandas de vibração, influenciam os espectros de

absorção no infravermelho (FTIR) do berilo.

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Figura 9: Espectros FTIR de amostras de berilo de cores e regiões diferentes, sem tratamento térmico. Fonte: Polli (2006c).

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3.3.1 Região de absorção dos íons cromóforos no berilo.

Muitos cristais de berilo contêm significativas concentrações de ferro, e esse

pode dar uma cor azul, verde ou amarelo como na água marinha ou heliodoro, ou

deixar o cristal incolor como em algumas goshenitas. Wood & Nassau (1968)

identificaram cinco características espectrais atribuídas ao íon ferro, e essas

características se mostram independentes umas das outras. As cinco características

são:

1. Uma banda forte em 810 nm (12.345,7 cm-1) para raio polarizado ordinário;

2. Um componente ϵ em 810 nm (12.345,7 cm-1);

3. Um componente ϵ em 620 nm (16.129,0 cm-1);

4. Uma banda de absorção larga próximo de 400 nm (25.000 cm-1);

5. Linhas de absorção em 374 nm (26.738 cm-1) e 465 nm (21.505,4 cm-1).

A TABELA 4 apresenta os cinco tipos de ferro e relaciona a cor do cristal com o

estado de oxidação e a posição do íon no cristal de berilo.

Tabela 4: Cinco possíveis causas de cor provocada pela posição do íon ferro no berilo. Fonte: Wood & Nassau (1968).

Característica Óptica Mecanismo Responsável Coloração Observada

810 nm Banda larga (ω), único componente. Fe

2+ em posição octaédrica em

substituição ao Al. Nenhuma

810 nm Banda larga (ϵ), mais de um componente.

Fe2+

nos canais no nível dos anéis. Nenhuma

620 nm Banda (ϵ), único componente. Fe

2+ nos canais entre os anéis

(forma hidratada). Azul

400 nm Borda de absorção (ω) e (ϵ). Fe

3+ em posição octaédrica em

substituição ao Al. Amarelo

374 nm Faixa estreita(ω); 4650Å Faixa estreita (ω e ϵ).

Fe3+

em posição tetraédrica em substituição ao Be.

Nenhuma

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3.4 Tratamento térmico / Eletrodifusão

De acordo com Rind (1990) e Khaibullin (2003) apud Chen et. al. (2010), os

cristais de berilo natural podem ser coloridos por radiação ionizante, como exposição a

raios de alta energia, bem como bombardeado por feixe de elétrons de alta energia, ou

por dopagem de íons. Assim, o berilo pode ter suas propriedades espectrais alteradas a

fim de atender a diversas necessidades.

A eletrólise, segundo Chen et. al. (2010), é um método de coloração bastante

eficiente para se produzir centros de cor em haletos de metais alcalinos, como NaCl e

KCl. A observação visual, o monitoramento e controle em tempo real, e a rapidez do

processo, são algumas das vantagens deste método. Além disso, a estrutura do

aparelho para a eletrólise é muito mais simples que os outros métodos de coloração

citados.

Até o presente momento não foi encontrada nenhuma outra referência na

literatura, além de Chen et. al. (2010), com resultados de coloração eletrolítica para o

berilo. Entretanto, os resultados publicados mostram que os cristais naturais de berilo

incolor podem ser coloridos eletroliticamente em diversas temperaturas e tensões. Para

tal, foi utilizada uma montagem composta por um ânodo pontiagudo de tungstênio e um

cátodo formado por uma placa de aço. A montagem, ilustrada na Figura 10, permite

ainda o controle e a variação da corrente elétrica, da temperatura e da atmosfera do

processo.

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Figura 10: Esquema da montagem para eletrólise proposta por Chen et. al. (2010).

Os cristais de berilo foram cortados perpendiculares ao eixo c cristalográfico, e

foram obtidas amostras com dimensões de aproximadamente 8 x 6 x 3 mm3. Cerca de

1 mm de grafita umedecida com etanol foi colocada entre a amostra e a placa de aço

para aumentar a superfície de contato. A amostra foi posicionada com o eixo c

cristalográfico paralelo à ponta do ânodo e em seguida a amostra foi submetida a um

faixa de temperatura de 598-836 K (325-563 ºC) e uma variação de voltagem de 300-

3000 V por várias horas. Um fluxo de nitrogênio seco e puro foi mantido durante a

coloração para proteger os eletrodos da oxidação. Ao fim do processo a amostra é

colocada sobre uma grande superfície de cobre para têmpera até a temperatura

ambiente.

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4 MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 Amostragem

Sabe-se que a coleta e a seleção das amostras são de extrema importância em

um trabalho analítico, uma vez que a localização de um mineral em um corpo pegmatito

está diretamente relacionada com sua composição química. No entanto, o objetivo

deste trabalho é identificar as possíveis alterações no espectro FTIR do berilo após a

eletrodifusão independente de sua procedência.

As amostras de berilo natural foram adquiridas de clientes de serviços de

irradiação do CDTN. Foram fornecidos pequenos cristais de berilo com forma colunar. A

procedência não foi bem definida, portanto, não foi possível rastrear a origem

geográfica e geológica das amostras, mas isso não compromete os fins desta pesquisa.

Com o objetivo de comparar os resultados deste trabalho com resultados já publicados

na literatura por Chen et. al. (2010), foram utilizadas amostras incolores ou levemente

coloridas com tonalidades de verde ou azul (águas-marinhas).

Após a seleção das amostras, foram feitos cortes com orientação perpendicular

ao eixo c cristalográfico, o qual foi determinado pela morfologia externa do cristal

natural. Para os cortes utilizou-se um disco diamantado em um equipamento de

precisão da ISOMET. O polimento mecânico foi feito, primeiramente, utilizando lixas

abrasivas para corrigir as imperfeições devido ao corte e, em seguida, para dar à

amostra o polimento óptico final, as faces perpendiculares ao eixo C foram polidas

utilizando pasta diamantada de 1 e 0,25 μm. Para se adequar à montagem da

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eletrodifusão, com os procedimentos mencionados, foram obtidos, a partir de cada

cristal, cerca de três a cinco amostras com as dimensões de aproximadamente 6 x 6 x 3

mm, a Figura 11 apresenta dois cristais naturais de água marinha verde e duas

amostras já cortadas e polidas.

Figura 11: Cristais de água marinha em estado bruto natural (a) Azul e (b) Verde; em (c) amostras cortadas e polidas para eletrodifusão.

Este trabalho investigou duas variedades de berilo, para tal, foram selecionados

dez cristais de água marinha verde, identificados com as letras de A a J, e três de água

marinha azul identificados com as letras de A a C. Seis amostras foram submetidas à

eletrodifusão, duas ao tratamento térmico, duas à análise termogravimétrica e três à

irradiação gama. A tabela 5 apresenta algumas informações das amostras estudadas e

a Tabela 6 as siglas usadas para representar o tipo de tratamento ao qual amostra foi

submetida.

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Tabela 5 - Identificação das amostras de berilo estudadas.

Sigla Localização Cor do berilo

Variedade

AgMarV # Verde Água marinha verde ou berilo

verde

AgMarA Mina do Itatiaia -

MG Azul Água marinha azul

Tabela 6 - Siglas usadas para representar o tipo de tratamento realizado.

ED_SC Eletrodifusão sem contaminante

ED_NaCl Eletrodifusão com NaCl

ED_FeCl2 Eletrodifusão com FeCl2

ED_MnCl2 Eletrodifusão com MnCl2

TT Apenas tratamento térmico

IRRD Irradiada com 4000 kGy

IRRD + TT Tratamento térmico após irradiação

Virgem Amostra sem nenhum tratamento

Dessa forma, a amostra nomeada como AgMarV_H_Vigem, representa a

amostra de água marinha verde do cristal H sem nenhum tratamento, enquanto a

AgMarV_H_TT, representa a amostra de água marinha verde do cristal H que sofreu

apenas tratamento térmico, a 600 ºC em atmosfera de N2.

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4.2 Montagem para execução da eletrodifusão

4.2.1 Materiais

1. Tubo de quartzo. Øexterno = 24,0 mm; Øinterno = 22,0 mm; comprimento: 42,0 cm.

2. Eletrodo de aço inox. Ø = 2,0 mm

3. Eletrodo de tungstênio. Ø = 2,2 mm

4. Tubo de alumina. Øexterno = 9,6 mm; Øinterno = 5,5 mm; comprimento:

5. Bucha de alumina. Øexterno = 4,0 mm; Øinterno = 2,5 mm; comprimento: 8,0 mm

6. Tubo de aço inox. Øexterno = 6,4 mm; Øinterno = 2,5 mm; comprimento:

Øexterno = 6,0 mm; Øinterno = 3,0 mm; comprimento:

7. Termopar.

8. Conectores.

9. O-ring (Anel de vedação).

10. Suporte de PVC.

11. Forno/Placas de cerâmica.

A Figura 12 apresenta dez dos materiais citados, numerados na imagem de

acordo com a lista.

Figura 12: Componentes para montagem do aparato para eletrodifusão.

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4.2.2 Equipamentos

Fonte de alimentação da marca Berthold modelo LB2210 acoplado a um Hacking

BIM, Figura 13. Este equipamento permite os ajustes: Tensão – 250 a 5.000 V.

Figura 13: Fonte de alimentação.

Controlador de temperatura da marca Eurotherm modelo 2416, Figura 14. Este

equipamento permite controle de temperatura e rampas de aquecimento e

resfriamento com alta estabilidade.

Figura 14: Controlador de temperatura.

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Forno Tubular da marca Fornos Lavoisier modelo 403 com 4400 W de potência

(Figura 15).

Figura 15 – Forno tubular.

4.2.3 Projeto de melhoria da montagem

Tendo como base o esquema original proposto por Chen et. al. (2010),

apresentado na Figura 10, foram propostos alguns cuidados e melhorias da montagem

para a execução da prática. A Figura 16 apresenta o projeto e a Figura 17 exibe parte

da montagem utilizada na eletrodifusão.

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(a)

(b)

Figura 16: Vista das extremidades da montagem (a) referente ao lado direito e (b) o lado esquerdo da montagem proposta por Chen et. al. (2010) para a eletrodifusão, representada na figura 8.

Legenda:

Teflon Alumina Aço Inox. Termopar O-ring

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Figura 17: Montagem para eletrodifusão. a) Tubo de quartzo com o porta amostra; b) Aproximação do porta amostra. 1 – Cátodo; 2 – Ânodo; 3 – Termopar; 4 – Amostra.

O equipamento para a eletrodifusão basicamente se constitui de um forno

cilíndrico com uma saída em cada uma das laterais, para transpassar o tubo de quartzo

contendo o porta amostra. O cátodo e o ânodo são de aço inoxidável e tungstênio

respectivamente. O eletrodo de tungstênio, acoplado a uma mola, permite que o

sistema receba amostras com vários comprimentos (1 a 20 mm).

Um tubo de alumina é utilizado para dar suporte aos eletrodos e o conjunto é

disposto de maneira que a amostra fique na região central da câmara de aquecimento.

A temperatura do forno é controlada eletronicamente por um programador de

a)

b)

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temperatura. O sensor térmico é um temopar tipo K (junção Chromel-Alumel),

posicionado o mais perto possível da amostra.

Na montagem experimental apresentada na Figura 18 a tensão é fornecida por

uma fonte estabilizada de tensão D.C., regulável de 250 a 5000 Volts. A aplicação da

tensão nos eletrodos é feita por conectores tipo jacaré, fixos na estrutura externa, para

evitar danos devido ao aquecimento.

De acordo com Andersson (2013) e Blak et. al. (1982) a temperatura de redução

dos íons Fe3+ está relacionada com sua localização no cristal. A temperatura de 600 ºC

fornece energia suficiente para redução de todos íons Fe3+, independente da sua

posição. Portanto, a temperatura de trabalho em todos os experimentos realizados foi

de 600 ºC, a uma taxa de aquecimento de 10 ºC por minuto. Após atingir a estabilidade

na temperatura, a flutuação é menor do que ±1 ºC.

Figura 18 - Montagem para eletrodifusão – a) registro para controlar a vazão do nitrogênio, b) forno tubular, c) porta amostra, d) fonte de tensão, e) controlador do forno.

a

b

c

d

e

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4.2.4 Condições experimentais

Neste experimento as amostras foram colocadas em contato, em uma das faces,

com a pastilha do íon doador de interesse e ambos receberam uma placa de grafite nas

faces externas. Em seguida, todo o conjunto foi posicionado entre os eletrodos como

mostra a Figura 19.

Figura 19: Esquema do posicionamento da amostra para eletrodifusão. (a) eletrodo negativo; (b) grafite; (c) amostra; (d) sal do íon doador; (e) eletrodo positivo.

Os parâmetros ajustáveis no experimento foram: temperatura, tensão, tempo,

atmosfera e o efeito de diferentes materiais doadores de íons. A temperatura de

trabalho foi de 600ºC, por seis horas e a tensão variou de 1500 a 3000 V. No início de

cada experimento foi aplicada a tensão de 3000 V, porém à medida que a temperatura

aumentava, um ruído de centelhamento era percebido. Assim, para evitar a fuga de

corrente durante o experimento, foi necessário reduzir a tensão.

Para estudar o efeito dos íons doadores foram preparadas pastilhas, dos

reagentes, padrão analítico, NaCl, FeCl2 e MnCl2. Para a confecção das pastilhas foram

pesados, aproximadamente, 2,0 g do sal e em seguida o material foi compactado, sob

vácuo, com o auxilio de uma prensa hidráulica da SPECAC, obtendo-se ao final uma

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pastilha com diâmetro de 10 mm. Para acomodar a pastilha no porta amostra foi

necessário cortá-la com o auxílio de uma lâmina de bisturi. A Figura 20 apresenta o

conjunto grafite, amostra e pastilha de MnCl2 acomodado no porta amostra.

Figura 20: Conjunto grafite, pastilha de MnCl2, amostra de berilo, grafite, posicionado no porta amostra para eletrodifusão.

Para manter a atmosfera inerte, dentro do tubo, foi utilizado gás nitrogênio, com

vazão de 3,3 cm3.min-1. No decorrer das eletrodifusões realizadas no equipamento,

verificou-se que, mesmo sob atmosfera redutora, após um ciclo de aquecimento do

forno até 600ºC, por 6 horas, a superfície dos eletrodos estavam levemente oxidados.

Assim, antes de cada experimento de eletrodifusão as superfícies dos eletrodos foram

limpas com uma lixa fina para remoção da camada de óxido formada.

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Com o objetivo de verificar o sucesso da eletrodifusão e averiguar a influência

dos parâmetros íons doadores e tensão, além do experimento descrito anteriormente,

foram executados dois tipos de tratamento para amostras de um mesmo cristal. No

primeiro foram aplicadas as mesmas condições da eletrodifusão, porém sem a pastilha

do íon doador; e no segundo, além da retirada da pastilha foi suprimida a tensão, sendo

realizado, portanto, apenas o tratamento térmico da amostra, sob atmosfera inerte.

As amostras foram caracterizadas com a realização das seguintes análises:

Difração de Raios X (DRX) para certificar que o mineral gema é o berilo;

Espectrometria na região do Infravermelho por Transformada de Fourrier

(FTIR), para comparar os espectros antes e depois da eletrodifusão.

Análise Térmica, a fim de verificar a possível alteração de massa no

tratamento térmico sofrido na eletrodifusão.

4.3 Espectroscopia FTIR

4.3.1 Preparação das Amostras

Para as análises FTIR utilizou-se o pastilhamento com KBr, uma das técnicas

mais populares para o manuseio de amostras sólidas.

Adamo et al.(2008) investigou, em seu trabalho, amostras de berilo sintético azul

e obteve bons resultados FTIR fazendo o pastilhamento em KBr na concentração de

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2% em massa. King et al. (2004) propôs uma metodologia para preparar e analisar

amostras geológicas através da espectroscopia FTIR.

Neste trabalho as pastilhas foram preparadas no LIG – Laboratório de Irradiação

Gama do CDTN. Os parâmetros analíticos adotados tiveram como base as análises de

materiais geológicos realizadas pelos dois autores supracitados, mas algumas

adequações foram necessárias.

Para as análises de espectroscopia FTIR, foram utilizadas oito amostras de água

marinha verde (AgMarV) e duas amostras de água marinha azul (AgMarA). Para

ambas, foram coletados espectros antes e depois da eletrodifusão ou tratamento

térmico.

O preparo das amostras foi realizado da seguinte forma:

Quebrou-se a amostra em pequenos pedaços, dentro de um saco ziplock,

com o auxílio de um alicate de corte diagonal 6¨;

Transferiram-se os pequenos pedaços para um almofariz de coríndon;

Cobriu-se o almofariz com um pedaço de papel com furo no centro, para

posicionar o pistilo;

Pulverizou-se a amostra;

Mediu-se em um almofariz de coríndon 0,0040 g da amostra pulverizada;

Adicionou-se ao almofariz KBr, previamente seco, até atingir a massa de

0,2000 g;

Homogeneizou-se a mistura no almofariz e obteve-se uma solução de

berilo em KBr a 2% em massa;

Transferiu-se a solução para o molde de pastilhamento;

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Posicionou-se o molde na prensa e aplicou-se a pressão de 1,25 GPa

durante 60 segundos;

Retirou-se a pastilha e verificou-se a aparência. Se o aspecto era límpido

a pastilha foi utilizada, caso o aspecto fosse nublado a pastilha era

descartada.

4.3.2 Análises

A análise FTIR é uma técnica que pode ser aplicada para identificação de

minerais, determinação do arranjo e simetria dos grupamentos atômicos e moleculares.

Segundo Bello et al. apud. Polli (2006c), este é um método utilizado para identificar os

possíveis grupamentos moleculares presentes nas inclusões fluidas e/ou canais de

berilo, tais como, H2O tipo I, H2O tipo II, CO2 e CH4, fornecendo ainda dados para a

determinação dos polítipos de berilo.

Os espectros de absorção no infravermelho (FTIR) foram obtidos em um

espectrofotômetro MB 102 da ABB Bomem Inc., pertencente ao Laboratório de

Irradiação Gama do CDTN. As análises foram realizadas na região compreendida entre

400 cm-1 e 7.000 cm-1, com 16 varreduras e resolução de 4 cm-1. Apesar de ter sido

realizado a leitura de um grande intervalo do espectro, as análises foram limitadas à

principal região de vibração da água.

De acordo com Polli (2006c) e Wood e Nassau (1968) as principais vibrações de

distensão (estiramento) das moléculas de H2O tipo I e tipo II ocorrem no intervalo de

3.800 cm-1 a 3.400 cm-1 do espectro de absorção no infravermelho e, por isso, as

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análises com objetivo de identificar e quantificar os dois tipos de moléculas de água

presentes na estrutura do berilo foram realizadas visando essa região.

O KBr, solvente usado para o preparo das pastilhas, é um sal higroscópico,

dessa forma, foi necessário tomar os devidos cuidados para secá-lo e dessecá-lo antes

das análises. O tratamento prévio foi realizado com uma porção do sal transferida para

um cadinho de porcelana e levado ao forno mufla a 600 ºC por 6 horas. Em seguida o

conjunto foi levado ao dessecador, onde ficou armazenado para resfriamento e

posterior utilização.

Mesmo tomando todos os cuidado para eliminar a água atmosférica absorvida

pelo KBr, verificou-se nos espectros, das primeiras análises executadas, uma banda

larga de absorção na região de interesse (entre 3.800 cm-1 a 3.400cm-1), conforme

mostra Figura 21.

Figura 21: Espectro de absorção de uma amostra de berilo verde evidenciando uma banda larga de absorção, na região central do espectro, em função da água livre de absorção do KBr.

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Para minimizar a banda de absorção de água livre, além de secar e dessecar o

KBr, foi necessário armazenar um background (branco) com o KBr puro, antes de

efetuar a medida de cada amostra. A Figura 22 apresenta um resultado da mesma

análise apresentada na Figura 21, porém, com o cuidado de fazer o background usando

uma pastilha do solvente puro.

Ao comparar os resultados apresentados nas Figuras 21 e 22, verificou-se a

diminuição significativa da banda de água livre. Dessa forma, decidiu-se adotar em

todas as análises de espectroscopia FTIR, a coleta do background com o KBr.

Figura 22: Espectro de absorção de uma amostra de berilo verde evidenciando minimização da banda larga de absorção, na região central do espectro, em função da água livre de absorção do KBr.

4.4 Difração de Raios X

Os cristais de berilo normalmente exibem a forma colunar hexagonal, porém

algumas amostras estudadas neste trabalho não apresentavam a morfologia

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característica. Dessa forma, com o objetivo de certificar que as amostras em estudo são

realmente de berilo, foram realizadas análises de difração de raios X.

As amostras de berilo foram pulverizadas em um almofariz de coríndon, como

descrito no item 5.3.1, e em seguida prensadas. A difratometria de raios X (DRX) pelo

método do pó foi realizada em um difratômetro automático da Rigaku - modelo D/MAX-

ULTIMA, Figura 23. Foi utilizado um tubo de cobre (Cu), sendo o potencial utilizado de

40kV e a corrente de 20mA, Kα com λ = 1,542Å, a variação do ângulo 2θ foi de 4 a 80º

com velocidade de varredura de 1º/min. O difratograma foi obtido utilizando o

programa Crystallographica Search Match©, versão 2.0, empregado também para

auxiliar na interpretação dos dados por meio de comparação com padrões existentes no

seu banco de dados.

Figura 23: Difratômetro de raios X da Rigaku modelo D/MAX-ULTIMA pertencente ao CDTN.

4.5 Análise Termogravimétrica

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De acordo com Ionashiro e Giolito apud. Polli (2006c), a análise térmica é

definida como um grupo de técnicas, por intermédio das quais as propriedades físicas

ou químicas de uma substância e/ou de seus produtos de reação são medidas em

função da temperatura ou tempo, enquanto a substância é submetida a uma

programação controlada de temperatura.

Ainda de acordo com os autores supracitados, termogravimetria (TG) é a técnica

na qual a massa de uma amostra é medida em função da temperatura ou do tempo,

enquanto a substância é submetida a uma programação controlada de temperatura e o

registro é a curva termogravimétrica ou curva TG.

Para a termogravimetria foram utilizadas duas amostras virgens de água marinha

verde (AgMArV_Virgem). Esta análise foi realizada com a finalidade de investigar a

possível perda de água dos canais do berilo devido ao tratamento térmico.

As determinações foram realizadas no Laboratório de Combustíveis Nucleares

(LabCom) do CDTN. O equipamento utilizado foi um Netzsch modelo STA 449 F3

Jupiter® que dispõe de uma termobalança, um forno horizontal para temperatura de

150 ºC à 2400 ºC e um porta amostra de alumina com capacidade de 35 g. Para cada

ensaio foi gerado um gráfico que contém três curvas: TG (perda de massa, em %), DTA

(análise térmica diferencial, em ºC/mg) e DTG (Derivada da perda de massa, em %/min

ou %/ºC).

Os gráficos obtidos foram resultantes de uma taxa de aquecimento de 10 ºC/min

em cadinhos de alumina e atmosfera com fluxo de nitrogênio 50 cm3.min-1. Após uma

hora o sistema atingiu 600 ºC, mantendo essa temperatura por cinco horas. Dessa

forma, foram reproduzidas condições, de temperatura e atmosfera, semelhantes

àquelas aplicadas na eletrodifusão.

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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Caracterização do berilo através da difração de raios X

As medidas de difração de raios X neste trabalho não foram realizadas para a

análise da estrutura do cristal, mas sim para comparação com dados da literatura, com

objetivo de comprovação dos picos de difração característicos do berilo.

As amostras AgMarA são de procedência conhecida, porém as amostras

AgMarV não tiveram a origem determinada. Dessa forma, apenas as amostras AgMarV

necessitavam da difração de raios X.

Os resultados das análises FTIR, a serem apresentados e discutidos mais

adiante, permitiram verificar, em função das bandas de absorção, que todas as dez

amostras nomeadas como AgMarV são do mineral gema berilo. Dessa forma, apenas

uma amostra foi encaminhada para a difração de raios X. A Figura 24 apresenta o

difratograma da amostra AgMarV_H_virgem.

Os resultados obtidos, para os ângulos 2θ da amostra analisada, estão de

acordo com aqueles esperados para o berilo, apresentados no banco de dados utilizado

pelo software do equipamento. A Figura 25 apresenta um comparativo entre o

resultado real (R) e o resultado esperado (E).

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Figura 24: Difratograma da amostra AgMarV_H_virgem e os picos de referência para o berilo.

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Figura 25: Refinamento da sobreposição entre o resultado real e o esperado.

De acordo com os resultados apresentados, a amostra AgMarV_H_virgem é

composta apenas pelo mineral berilo. A diferença entre os valores de R e E obtidos

com o refinamento se deve aos ruídos da análise e/ou ao fato dos valores de

referência, utilizados pelo software do equipamento, ser para o berilo e não para a

variedade água marinha analisada.

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5.2 Eletrodifusão

Até o presente momento nenhuma publicação, além de Chen et. al. (2010),

apresentou resultados satisfatórios de coloração eletrolítica para o berilo. Entretanto os

resultados divulgados mostraram que os cristais de berilo incolor foram coloridos

eletroliticamente em diversas temperaturas e tensões.

Em função dos objetivos do presente trabalho e da possibilidade de alcançar

resultados parecidos com aqueles obtidos por Chen et. al. (2010), essa foi a principal

referência utilizada para nortear a montagem e a execução da eletrodifusão aqui

propostas.

Na realização do primeiro experimento os parâmetros temperatura, tensão e

fluxo de N2 foram ajustados para 600ºC, 3000V e 50cm3.min-1 respectivamente, com

taxa de aquecimento de 10ºC/min. Uma amostra de AgMarV_A foi posicionada na

montagem e submetida às condições descritas.

Durante o aquecimento do sistema foi possível perceber, em torno de 540ºC, um

ruído de centelhamento. À medida que a temperatura aumentava em direção à

temperatura final ajustada, a frequência dos centelhamentos também aumentava. Para

evitar a fuga de corrente elétrica no decorrer do experimento, a tensão foi diminuída

gradualmente à medida que a temperatura aproximava de 600ºC. Assim, ao atingir a

temperatura final, a tensão máxima aplicada, sem a ocorrência de centelhamentos foi

de 2000V.

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Após seis horas, sob as condições descritas anteriormente, o forno e a fonte de

tensão foram desligados. Depois de duas horas e meia o sistema atingiu a temperatura

ambiente, o fluxo de gás N2 foi suspenso e a amostra foi então retirada da montagem.

Na Figura 26 está mostrada a superfície da amostra AgMarV antes e depois da

eletrodifusão. A única alteração visual possível de ser observada foi o amarelamento

superficial da amostra. De acordo com Chen et. al. (2010), as amostras de berilo natural

incolor, obtidas em Pingwu na China, que foram submetidas à eletrodifusão, adquiriram

coloração com tons de amarelo ouro, em função da difusão e/ou oxidação dos íons

ferro. Não foram publicados dados sobre a espessura ou a profundidade da camada

amarela formada na amostra após a eletrodifusão.

Figura 26: a) Amostra AgMarV_A antes da eletrodifusão; b) Amostra AgMarV_A_ED_SC exibindo alteração de cor na superfície em função de centelhamento durante a eletrodifusão.

Na eletrodifusão executada neste trabalho foi obtido um produto de cor

semelhante àquela relatada por Chen et. al. (2010). A espessura da camada amarelada

formada na amostra AgMarV_ED_SC não foi mensurada. Porém, verificou-se que esta

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camada era facilmente removida com água e papel toalha. Assim, foi possível inferir

que o amarelamento era muito superficial.

A variedade água marinha apresenta íons Fe2+ e Fe3+ como centros cromóforos,

na tentativa de aumentar a concentração desses íons no berilo, a eletrodifusão foi

realizada nas seguintes condições: temperatura de 600 ºC, taxa de aquecimento 10

ºC/min, tensão de 2000 V, fluxo de N2 de 50 cm3.min-1 e sal contaminante de FeCl3

para dopar o cristal com o íon Fe3+. O mesmo procedimento foi realizado utilizando o

MnCl2 como contaminante, uma vez que, os íons Mn2+ atuam como centros cromóforos

do berilo na variedade morganita. As Figuras 27 e 28 exibem as alterações que foram

possíveis de serem observadas na superfície das amostras, AgMarV_B_1 e

AgMarV_B_2, após a eletrodifusão realizada com os respectivos sais contaminantes.

Figura 27: a) Porta amostra pós eletrodifusão utilizando amostra AgMarV_B e FeCl3 como sal contaminante; b) Visão perpendicular do eixo C cristalográfico da superfície da amostra; c) Visão paralela ao eixo C cristalográfico.

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54

Figura 28: a) Porta amostra pós eletrodifusão utilizando amostra AgMarV_B e MnCl2 como sal contaminante; b) Grafite, pastilha do sal e visão perpendicular do eixo C cristalográfico da superfície da amostra; c) Visão perpendicular ao eixo C cristalográfico.

Nas duas situações foi possível observar uma camada colorida cobrindo a

superfície da amostra. Não foi realizada nenhuma medida da profundidade desta

camada em relação à superfície, mas foi possível verificar, que o simples atrito de uma

folha de papel toalha umedecido com água era suficiente para remover a coloração

adquirida. Isso indica que os íons não sofreram difusão a ponto de se posicionarem nos

canais ou em substituição aos íons da rede cristalina.

Os canais do berilo podem apresentar álcalis como Na+ e K+; e a existência

desses íons pode afetar a orientação das moléculas de H2O que se encontram também

presentes nesses canais. Foram realizadas eletrodifusões utilizando os sais NaCl e KCl

visando difundir os cátions desses sais para os canais e assim estudar as possíveis

alterações no berilo. Nas duas situações estudadas obteve-se como resultado

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macroscópico um desbotamento da coloração inicial da amostra, de verde para incolor,

conforme apresentado na Figura 29. Esse desbotamento pode ser explicado, de acordo

com Nassau (2001), pela perda do componente amarelo do berilo verde, em função do

tratamento térmico que provoca a redução do íons Fe3+ para Fe2+.

Figura 29: a) Amostra AgMarV_C_virgem; b) Amostra AgMarV_C_ED_NaCl.

As amostras AgMarV_D foram submetidas à eletrodifusão com temperatura

ajustada para 600 ºC, sob tensão de 2000 V, atmosfera de N2, por 6 horas, sem um sal

contaminante. Em uma replicata da amostra AgMarV_D o experimento foi reproduzido

nas mesmas condições descritas, porém nenhuma tensão foi aplicada, sendo realizado

portanto, apenas um tratamento térmico em atmosfera de N2. As alterações

macroscópicas percebidas foram as mesmas apresentadas na Figura 29.

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Medidas de absorção na região do infravermelho foram realizadas para amostras

submetidas aos diferentes tratamentos realizados – com sais contaminantes, sem sal

contaminante, somente tratamento térmico. Os resultados das análises estão

apresentados e discutidos adiante.

5.3 Discussão quanto às alterações de cor.

Foram estudadas duas variedades de berilo, a água marinha azul (AgMarA) e

água marinha verde (AgMarV). As amostras foram submetidas à eletrodifusão e ao

tratamento térmico, sendo este realizado nas mesmas condições, de temperatura e

atmosfera, aplicadas na eletrodifusão. Em ambos os tratamentos foi percebido

alteração na cor e nos espectros FTIR apenas das amostras AgMarV.

Para ajudar a entender as alterações observadas e visando a previsão do

comportamento de amostras naturais de berilo quando irradiadas, algumas amostras

foram tratadas com radiação gama, de uma fonte de Co60, a 4000kGy. A Figura 30

apresenta um comparativo da mudança na coloração da amostra AgMarV_H após a

irradiação.

Após a irradiação da amostra AgMarV_H foi possível observar, principalmente no

seu centro, um aumento do componente amarelo. Assim, a amostra inicialmente verde

pálido, assumiu uma cor final verde mais intenso. Esta mesma amostra foi submetida

ao tratamento térmico a 600 ºC sob atmosfera de N2 por seis horas, e ao final do

processo a amostra perdeu a cor. Assim, foi possível observar que a irradiação

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intensifica a coloração verde, enquanto o tratamento térmico a diminui, pois o resultado

obtido no tratamento térmico da amostra irradiada foi o mesmo obtido no tratamento

térmico da amostra natural, apresentado na Figura 29.

Figura 30: a) Amostra AgMarV_H natural; b) Amostra AgMarV_H após irradiação gama a 4000 kGy.

De acordo com Wood & Nassau (1968) e Viana (2001 apud POLLI, 2006a), os

tons de verde e azul da água marinha estão relacionados com a presença e as

diferentes proporções entre os íons Fe2+ e Fe3+ no cristal. A presença de Fe2+ atribui ao

berilo um componente azul se o íon estiver no canal, porém se estiver em posição

octaédrica, em substituição ao alumínio ou em posição tetraédrica, em substituição ao

berílio, nenhuma cor é observada. O íon Fe3+ , quando em posição octaédrica, atribui

ao berilo um componente amarelo, mas nenhuma cor é observada quando este se

encontra em posição tetraédrica ou presente no canal.

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De acordo com Ibragimmova et. al. (2009) e Andersson (2013), o íon Fe2+, seja

em posição tetraédrica ou octaédrica, é um precursor de buraco eletrônico. Quando

irradiado o íon Fe2+ origina o buraco eletrônico, Fe3+, e o elétron é então, aprisionado

em uma armadilha, um centro eletrônico na estrutura cristalina, ainda não muito bem

definido. Quando o cristal é aquecido, o elétron é libertado da armadilha e capturado

pelo íon Fe3+ que se converte no íon Fe2+. A equação 4 representa o processo

reversível do equilíbrio entre as espécies Fe2+/Fe3+ devido aos efeitos da

radiação/aquecimento.

(4)

Blak et. al. (1982) observou que os elétrons provenientes das armadilhas não

são capturados por todos os íons Fe3+ com a mesma facilidade. Os íons Fe3+ em

posições substituicionais tetraédricas são mais facilmente reduzidos a Fe2+ do que

aqueles em posição octaédrica. Os íons Fe3+ que substituem o Be2+, em posição

tetraédrica na rede, quando reduzidos à Fe2+, restauram a valência adequada à posição

ocupada. Porém, os íons Fe3+ que substituem o Al3+, em posição octaédrica, quando

reduzidos à Fe2+, precisam deslocar um próton ou um íon alcalino para reestabelecer o

equilíbrio das cargas, o que dificulta a redução.

De acordo com BLAK et. al. apud Anderson (2013), a armadilha eletrônica

começa a libertar os elétrons quando o cristal é aquecido a uma temperatura acima de

200 ºC, mas a maioria dos elétrons são libertados entre 300 e 400 ºC. Diversas curvas

de aquecimento com diferentes concentrações de íons Ferro foram estudas e os

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autores puderam verificar que o aumento da temperatura aumenta o número de íons

Fe3+ octaédricos que sofrem redução.

Nos tratamentos propostos nesse trabalho, as curvas de aquecimento não foram

estudas, mas, de acordo com o autor supracitado, a temperatura de 600 ºC fornece

energia suficiente para a redução dos íons Fe3+ a Fe2+, seja este em substituição

tetraédrica ou octaédrica. A explicação proposta pode ser usada para justificar os as

alterações na coloração das amostras AgMarV submetidas aos tratamentos realizados.

Em todos os processos de eletrodifusão (com e sem contaminante) foi

observado, ao final de seis horas, um desbotamento da amostra, de verde para azul

muito pálido. As amostras submetidas ao tratamento térmico, em atmosfera de N2,

sofreram o mesmo desbotamento observado na eletrodifusão. Com a irradiação as

amostras AgMarV e AgMarA adquiriram uma coloração verde, conforme apresentado

na Figura 30b. O tratamento térmico da amostra irradiada provocou o mesmo

desbotamento sofrido pela amostra natural tratada termicamente.

As amostras de Água Marinha verde (AgMarV) exibem a cor característica, em

função da presença de um componente amarelo, devido a presença de Fe3+ nos sítios

octaédricos, e um componente azul, em razão do íons Fe2+ nos canais. Durante a

irradiação da amostra, os íons Fe2+, em posição octaédrica, que não atribuíam

nenhuma cor, foram oxidados a Fe3+, e a partir de então, agregam um componente

amarelo ao berilo.

A amostra irradiada foi submetida ao tratamento térmico, a 600 ºC, e nessas

condições, as armadilhas eletrônicas atuaram como agentes redutores para os íons

Fe3+ em posição octaédrica, provocando sua redução a Fe2+. A perda do componente

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amarelo causou o desbotamento da amostra, que passou a exibir uma cor azul muito

pálido, praticamente incolor, como mostrado anteriormente na Figura 30a.

5.4 Discussão quanto às análises de absorção na região do

Infravermelho.

Os espectros de FTIR obtidos para as três amostras de berilo natural do grupo

AgMarA se encontram na Figura 31, e os espectros referentes às oito amostras de

berilo natural do grupo AgMarV são apresentados na Figura 32. As principais bandas,

na região estudada (400 a 7.000 cm-1), são observadas na região 3.590–3.600 cm-1

(H2O tipo II), 3.650–3.660 cm-1 (H2O tipo II) e 3.690–3.700 cm-1 (H2O tipo I), todas elas

compatíveis com a literatura, o que caracteriza uma boa reprodutibilidade para as

medidas realizadas.

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Figura 31: Espectros de FTIR de três amostras de água marinha azul natural.

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Figura 32: Espectros de FTIR de oito amostras de água marinha verde natural (AgMarV_virgem).

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Polli (2006c) apresentou alguns espectros FTIR para amostras de berilo e

identificou dois conjuntos de variedades com comportamentos distintos. Um formado

pelas variedades de água-marinha (verde e azul) e berilo amarelos e, o outro, composto

de morganita e goshenita. O referido autor verificou ainda que amostras do mesmo

grupo apresentavam bandas com formatos muito semelhantes e, o contrário, para

amostras de grupo diferentes. As absorbâncias típicas ocorrem dentro do previsto para

ambos os grupos, mas pelas intensidades relativas das bandas, a H2O tipo I predomina

sobre a H2O tipo II no primeiro grupo e, exatamente o contrário, para as do segundo

grupo.

No presente trabalho foram estudadas apenas duas variedades do berilo, água

marinha verde e azul. Os resultados de FTIR, apresentados anteriormente na Figura

32, estão em acordo com aqueles exibidos por Polli (2006c), porém as amostras de

berilo azul (AgMarA) não apresentaram espectros de FTIR similares. As três amostras

do grupo AgMarA analisadas apresentaram espectros FTIR semelhantes entre si,

porém são mais compatíveis com o grupo de goshenita e morganita estudadas pelo

referido autor.

De acordo com Wood & Nassau (1968) a presença de moléculas de H2O tipo II

pode ser um indicativo de uma alta concentração de íons alcalinos compensadores de

carga. Em um mesmo espectro, pode-se obter uma resposta qualitativa entre os

conteúdos dos diferentes tipos de moléculas de H2O, comparando-se, separadamente,

as áreas relativas de cada tipo de H2O por espectro (POLLI 2006c).

A Figura 33 apresenta dois espectros típicos de uma amostra AgMarV e AgMarA,

e a Tabela 7 exibe a relação das áreas sob cada região de absorção. A área

correspondente à absorção de H2O tipo I, da amostra AgMarA_A é 3,4598 e a região

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referente à H2O tipo II totaliza 13,2616. Para a amostra AgMarV_H a área

correspondente à H2O tipo I é de 2,1954 e para a H2O tipo II o somatório resulta em

0,4365. Os resultados comprovam que as amostras de água-marinha azul apresentam

maior quantidade de água tipo II, enquanto as amostra de água-marinha verde

possuem maior teor de água tipo I. Segundo Wood & Nassau (1968), a presença de

H2O tipo II indica a existência de íons alcalinos nos canais estruturais. Dessa forma, é

possível inferir que as amostras de AgMarA apresentam maior quantidade de íons

alcalinos em relação às amostras AgMarV.

Figura 33: Deconvolução de dois espectros de FTIR, característicos das amostras do grupo AgMarA e AgMarV naturais utilizando o software PeakFit versão 4.

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Tabela 7: Relação entre a região de absorção, a intensidade do pico e a área dos espectros de duas amostras de água marinha com diferentes espectros de FTIR.

Água Marinha Azul (AgMarA_A)

Nº de Onda / cm-1 Intensidade do Pico Área Tipo de H2O

3.595 0,2506 8,2950 II

3.656 0,1500 4,9666 II

3.697 0,1045 3,4598 I

Água Marinha Verde (AgMarV_H)

Nº de Onda / cm-1 Intensidade do Pico Área Tipo de H2O

3.595 0,0070 0,0953 II

3.600 0,0078 0,1060 II

3.663 0,0217 0,2352 II

3.700 0,1330 2,1954 I

Wood & Nassau (1968) determinaram os espectros de FTIR dos dois tipos de

H2O e sugeriram a possibilidade da presença de íons OH- localizados nos canais

estruturais do berilo. Aurisicchio et. al. (1994) comprovaram, através do estudo de

grande variedade de amostras de berilo, a presença dos grupos OH-. De acordo com

eles, a banda de absorção em 3.663cm-1 não é uma absorção simples, mas de fato

uma combinação de, no mínimo, duas bandas. Uma a 3.663cm-1 correspondente à H2O

tipo II e uma em 3.658cm-1 devido à associação OH-Na.

No trabalho do referido autor, ainda foi demonstrado que as amostras de berilo

“normal” apresentam quase exclusivamente a H2O tipo I. No entanto, o aumento da

presença de íons substituicionais, em posições tetra ou octaédrica, ocorre com a

incorporação de álcalis nos canais, principalmente sódio, e assim, o teor de H2O tipo II

se torna dominante.

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Aurisicchio et. al. (1994) consideram as intensidades das absorções em

3.600cm-1, 3.660cm-1 (sobreposição de 3.660cm-1 + 3.658cm-1) e 3.698cm-1,

relacionadas à H2O tipo II, H2O tipo II + OH e H2O tipo I respectivamente. A equação 5,

expressa a razão entre as intensidade de absorção, e pode ser usada para mensurar o

conteúdo de sódio na amostra. Dessa forma, quanto maior R1 e R2, maior o conteúdo

de H2O tipo II em relação à H2O tipo I e, portanto, maior conteúdo de sódio por fórmula

unitária.

(5)

Amostras dos grupos AgMarV e AgMarA foram submetidas a eletrodifusão com

contaminante (NaCl, FeCl2 e MnCl2) e em seguida foram coletados os espectros FTIR

para verificar possíveis alterações. Foi possível observar, na região de interesse, que

as amostras do grupo AgMarV praticamente perderam a banda na região de 3663cm-1,

porém, nas amostra do grupo AgMarA, nenhuma alteração foi observada. A partir

desses resultados, novas amostras, de ambos os grupos, foram submetidas à

eletrodifusão sem contaminante e ao tratamento térmico.

Em todos os três tratamentos foram observadas as mesmas alterações, tanto

nos espectros FTIR, quanto na cor. Conclui-se a partir desses resultados que a

eletrodifusão, com contaminante, não provocou alterações em nível estrutural e que a

mudança de cor, apresentadas anteriormente nas Figuras 27 e 28, ocorreu de forma

superficial. Na eletrodifusão sem contaminante foi observado o mesmo desbotamento

obtido no tratamento térmico, e os resultados encontrados nos espectros FTIR foram os

mesmos. Como os três tratamentos realizados ocorreram em temperatura de 600ºC e

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atmosfera de N2, conclui-se que esses são os fatores responsáveis pelas alterações

observadas nas amostras de água marinha verde.

Diversos tratamentos térmicos foram realizados nas amostras de AgMarV para

verificar a reprodutibilidade dos resultados observados nos espectros FTIR. Em todas

as dez amostras do grupo AgMarV foi constatado o desbotamento da cor e o

desaparecimento de uma das bandas correspondentes à H2O tipo II. A Figura 34

apresenta os espectros das amostras AgMarV_D e AgMarA_A antes e após o

tratamento térmico.

Figura 34: Espectros FTIR das amostras AgMarV_D e AgMarA_A antes e após tratamento térmico a 600º em atmosfera de N2 por 6 horas.

Os resultados da espectroscopia FTIR, na região de interesse, mostraram que

as amostras do grupo AgMarA praticamente não sofreram alteração após o tratamento

térmico. Porém as amostras do grupo AgMarV perdem a banda de absorção na região

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de 3.663cm-1, correspondente, de acordo com Aurisicchio et. al. (1994), à combinação

das absorções de H2O tipo II + OH-Na.

Graça (2001) observou que dos espectros FTIR de quatro amostras de água-

marinha (três azuis e uma verde) da Lavra de Tatu, Itauninha - MG, apenas na amostra

azul-escuro foi caracterizado um volume maior de H2O tipo II em relação H2O tipo I.

Polli (2006b) explica a diferença entre os resultados em função da origem geológica da

amostra. Assim, a água-marinha azul apresenta maior teor de álcalis por ser

proveniente de um pegmatito mais diferenciado, ou seja, maior teor de álcalis, enquanto

nas amostras verde ocorre o contrário.

As alterações de cor observadas nos tratamentos - térmico da amostra natural,

após a irradiação, e após o tratamento térmico da amostra irradiada, bem como as

discussões apresentadas até este momento, encaminharam este trabalho a um estudo

das possíveis alterações nos espectros FTIR. A Figura 35 apresenta os espetros FTIR

das amostras AgMarA_virgem, AgMarA_TT e AgMarA_Irrd.

Os resultados evidenciam que, apesar da modificação na cor das amostras, não

ocorreram alterações significativas nos espectros FTIR das amostras de AgMarA

estudadas. Porém, um resultado diferente foi observado nos espectros FTIR das

amostras do grupo AgMarV, como mostra a Figura 36.

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Figura 35: Comparativo dos espectros FTIR de uma amostra de AgMarA natural submetida ao tratamento térmico e à irradiação.

Figura 36: Comparativo dos espectros FTIR de uma amostra de AgMarV natural submetida ao tratamento térmico, à irradiação e ao tratamento térmico após irradiação.

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Três amostras do grupo AgMarV foram submetidas aos diferentes tratamentos e

os espectros FTIR obtidos apresentaram as mesmas alterações. A Figura 36 evidencia

as alterações observadas para uma das amostras do grupo AgMarV. As análises dos

espectros indicam que:

O tratamento térmico provoca o desaparecimento da banda em 3.663cm-1.

A irradiação intensifica a absorção em 3.663cm-1.

O tratamento térmico da amostra irradiada provoca o desaparecimento da

banda em 3.663cm-1.

A partir desses resultados, duas amostras do grupo AgMarV foram

encaminhadas para análise TG, em condições de temperatura e atmosfera,

semelhantes aos tratamentos realizados, a fim de averiguar a variação de massa da

amostra, em função da possível perda de água. Os resultados da análise TG,

apresentados na Figura 37, indicam uma variação de massa muito pequena. Apesar da

diferença de 0,01% estar dentro dos limites de detecção do aparelho, possivelmente

não indicam uma perda de água, a ponto de fazer desaparecer a banda de absorção na

região de 3.663cm-1 do FTIR, que é uma associação, segundo Arisicchio et. al. (1994),

de água tipo II e OH-Na.

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Figura 37: Curva TG da amostra AgMarV_H natural, a 600 ºC e atmosfera de N2, indicando uma variação de massa de 0,01% em 180 minutos.

A deconvolução individual dos espectros apresentados na Figura 36 foi feita

utilizando o programa Peakfit v.4, e os resultados estão apresentados na Figura 38. De

acordo com Aurisicchio et. al. (1994) o teor de sódio pode ser mensurado pelas razões

R1 e R2, apresentadas anteriormente na fórmula 5. Os valores de intensidade para as

bandas de interesse estão apresentados na Tabela 8. É importante ressaltar que para

os cálculos de R1 e R2 as intensidades expressas como: I3600 corresponde ao

somatório das bandas em 3.600 e 3.596 cm-1; e a intensidade I3660 corresponde à

banda de absorção em 3.663cm-1.

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Figura 38: Deconvolução dos espectros de FTIR da amostra AgMarV_H submetida aos diferentes tratamentos.

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Tabela 8: Intensidade dos picos de absorção, obtidos a partir da deconvolução dos espectros da amostra AgMarV_H submetida à diferentes tratamentos.

Os resultados apresentados comprovam que o tratamento térmico da amostra

virgem provoca o desaparecimento da banda de absorção em 3.663 cm-1 (associação

H2O tipo II + OH-Na) e que a irradiação intensifica esta banda. Observa-se ainda que,

quando a amostra irradiada é submetida ao tratamento térmico, a banda em 3.663 cm-1,

intensificada pela irradiação, também desaparece.

De acordo com Wood & Nassau (1968), quando os canais do berilo estão

totalmente livres de álcalis, a água se orienta somente como tipo I, quando o berilo é

Nº de Onda / cm-1 Intensidade Tipo de H2O I3600 I3663 I3700 R1 R2

3595 0,0070 II

3600 0,0081 II

3663 0,0222 II + OH-Na 0,0222

3700 0,1326 I 0,1326

Nº de Onda / cm-1

Intensidade Tipo de H2O I3600 I3663 I3700 R1 R2

3595 0,0063 II

3600 0,0055 II

3663 0,0000 II + OH-Na 0,0000

3700 0,1389 I 0,1389

Nº de Onda / cm-1

Intensidade Tipo de H2O I3600 I3663 I3700 R1 R2

3595 0,0074 II

3600 0,0078 II

3663 0,0951 II + OH-Na 0,0951

3700 0,1354 I 0,1354

Nº de Onda / cm-1

Intensidade Tipo de H2O I3600 I3663 I3700 R1 R2

3595 0,0076 II

3600 0,0071 II

3663 0,0000 II + OH-Na 0,0000

3700 0,1110 I 0,1110

AgMarV_H_TT

0,0850 0

0,0152

0,1123 0,7024

0,0147

0,1324 0

AgMarV_H_IRRD + TT

AgMarV_H_IRRD

AgMarV_H_VIRGEM

0,0151

0,1139 0,1674

0,0118

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rico em sódio a molécula de água se orienta como H2O tipo II. Além das vibrações

correspondentes aos dois tipos de água, Aurisicchio et. al. (1994) atribuiu a absorção

em 3.658 cm-1 à vibração OH-Na. O íon Na, em função do seu pequeno raio iônico,

pode ocupar a posição 2b (nível dos anéis de Si), conforme mostrado na Figura 39,

porém, os demais álcalis, como Cs+, K+ e Rb+, em função do tamanho, só ocupam a

posição 2a (entre os anéis de Si) e interagem com os íons OH-, provenientes da

ionização das moléculas de água nos canais.

Figura 39: Canais estruturais do berilo. A) Configuração do canal do berilo livre de álcalis com água tipo I, □: vacâncias; B) Configuração do canal do berilo rico em sódio com água tipo II; C) Configuração do canal do berilo rico em álcalis e íons OH-. Fonte: AURISICCHIO et. al (1994)

A partir de uma série de estudos utilizando EPR, Andersson (2006) descobriu

que os íons Na podem ocupar tanto a posição 2b, proposta por Aurisicchio et. al.

(1994), quanto a posição 2a. A Figura 40 mostra que a presença de uma “cavidade” na

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posição 2a, no canal do berilo, tem espaço suficiente para a presença de um íon Na+

juntamente com uma molécula de água orientada como tipo I.

O equilíbrio Fe3+/Fe2+ apresentado anteriormente na equação 4, juntamente com

as propostas de Andersson (2006) e Andersson (2013) podem ser considerados para

explicar os resultados do presente trabalho.

Os íons Fe2+ e Fe3+ podem ocupar três posições distintas no berilo. Eles podem

estar nos canais, em substituição tetraédrica e/ou octaédrica. A presença do sódio no

canal, em posição 2a, pode estar relacionada com um equilíbrio de cargas, pois a

presença de um íon Fe2+ em posição octaédrica exige um compensador de cargas

positivo.

Figura 40: A) Canal do berilo contendo sódio "encaixado" na posição 2a interagindo com uma molécula de H2O tipo I e sódio na posição 2b interagindo com H2O tipo II; B) projeção do plano perpendicular ao eixo c mostrando o Na em posição 2a. Fonte: Andersson (2006) modificada.

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O íon Fe3+ em substituição ao Al3+, em posição octaédrica, é o principal

responsável pelo componente amarelo da água marinha verde. Como tanto o íon de

origem quanto o íon substitucional apresentam o mesmo estado de oxidação, o

equilíbrio de carga se mantém. O tratamento térmico a 600 ºC provoca a redução dos

íons Fe3+, em todas as três posições possíveis, porém a única que passa a exigir um

íon compensador de cargas é da substituição octaédrica, pois, agora, haverá um íon

Fe2+ substituindo um íon Al3+, provocando um desequilíbrio de cargas.

De acordo com Andersson (2006), o íon sódio no canal pode ocupar a posição

2a e/ou 2b, portanto, ele poderia atuar como um compensador de cargas na situação

descrita anteriormente. Os resultados de FTIR das amostras de água marinha verde

(AgMarV), obtidos no presente trabalho corroboram com a proposta de Anderson

(2006).

A água-marinha verde natural apresenta uma banda discreta em 3.663cm-1,

correspondente à água tipo II, com a irradiação esta banda é intensificada. Essa

intensificação pode ser explicada pelo deslocamento do íon Na da posição 2a

(compensador de carga para o Fe2+/Al3+) para a posição 2b, pois esse deslocamento

provoca uma mudança na orientação da molécula de água no canal, que passa de H2O

tipo I para posição tipo II, ver Figura 40A.

As amostras de água-marinha verde natural e irradiada perdem a banda em

3.663cm-1 quando submetidas ao tratamento térmico. Os resultados obtidos neste

trabalho indicam que isso se deve à alteração na orientação da água no canal, em

função do deslocamento do íon Na da posição 2b para a posição 2a, já que este deve

atuar como compensador de cargas para o íon ferro.

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As amostras de água-marinha azul apresentaram um comportamento diferente

das amostras verdes, pois não indicaram alterações significativas nos espectros FTIR.

De acordo com Graça (2001), a maior quantidade de H2O tipo II em relação à H2O tipo I

nas amostras de cor azul (AgMarA) confirma a presença de mais íons alcalinos

localizados nos canais. A presença de grande quantidade de íons, entupindo os canais,

pode causar dificuldade no deslocamento dos íons Na+. Assim, a água-marinha azul,

quando submetida ao tratamento térmico, perde o componente amarelo, porém o íon

Na+ não consegue se deslocar para a posição 2a para compensar a carga do Fe3+

reduzido, devido a grande quantidade de íons nos canais.

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6 CONCLUSÕES

As conclusões deste trabalho são:

1. A eletrodifusão proposta, seja ela com ou sem íon contaminante, não

evidenciou alterações nos espectros FTIR, diferentes daquelas observadas no

tratamento térmico. Tanto as alterações em nível macroscópico (desbotamento

ou amarelamento), quanto em nível molecular (alterações na região estudada

dos espectros FTIR), ocorreram devido ao aquecimento. Assim, apesar da

montagem e das condições aplicadas serem semelhantes àquelas propostas por

Chen et. al. (2010), a eletrodifusão não ocorreu em nível estrutural como

vislumbrado, ou se ocorreu, foi muito superficial.

2. As amostras de água-marinha foram facilmente segregadas em dois grupos,

um verde e um azul, sem o auxílio de nenhum equipamento. Todas as amostras

analisadas apresentaram as bandas de absorção características da região

estudada. Foi possível verificar que os dois grupos apresentam os dois tipos de

H2O, porém em quantidades diferentes. As amostras do grupo verde

apresentaram maior teor de H2O tipo I do que tipo II, já nas do grupo azul ocorria

o contrário, definindo assim uma “assinatura” para a água-marinha, que permite

relacionar a cor com a intensidade do tipo de H2O.

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3. Tanto as amostras do grupo AgMarV quanto as do grupo AgMarA sofreram

alterações na cor, quando tratadas termicamente ou irradiadas. Porém, as

alterações significativas nos espectros FTIR foram percebidas somente para as

amostras do grupo AgMarV. O desaparecimento da banda em 3.663cm-1 pode

estar relacionado com a variação de posição do íon Na+ no canal. A grande

concentração de íons alcalinos, de elevado raio iônico, nos canais das amostras

AgMarA, pode impedir o deslocamento(2a/2b) do compensador de carga Na+.

Dessa forma, a banda em questão não sofre alteração.

4. As amostras de água-marinha verde, de procedência geológica e geográfica

indefinidas, responderam da mesma maneira em todos os tratamentos e todas

as análises realizadas. O mesmo foi observado entre as amostras de água-

marinha azul, provenientes da mina de Itatiaia em MG. Isso indica que as

informações obtidas apresentam boa reprodutibilidade.

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7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

1. Aperfeiçoar as medidas de espectroscopia FTIR por reflectância da amostra

laminada ao invés do pó. Dessa forma, um mesmo fragmento pode ser

submetido a várias análises, não destrutivas, diferentes. Evita-se assim a

influência do zoneamento que pode ocorrer em um mesmo cristal.

2. Aprimorar as medidas de espectroscopia FTIR a frio, para entender melhor a

associação das bandas H2O tipo II e OH-Na na região de 3.663 cm-1 e 3.658cm-1

respectivamente. O aumento do número de varreduras e uma maior resolução

nas medidas também podem contribuir nesta questão.

3. O teor sódio, bem como sua posição nos canais, pode estar relacionado com a

presença de Fe2+ em substituição ao Al3+. Essa substituição não contribui com

nenhum componente de cor para o berilo, porém quando irradiado, este pode

ganhar um componente amarelo e consequentemente agregar maior valor

econômico. Um estudo quantitativo, pode ser realizado, para tentar relacionar o

teor Na+ e dose de irradiação necessária para alteração da cor.

4. A análise por ativação neutrônica pode ajudar a mensurar o teor de íons

alcalinos nas amostras de água marinha.

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