Click here to load reader
Upload
haphuc
View
213
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Arquivo Pessoa http://arquivopessoa.net/textos/789
Álvaro de Campos
O horror sórdido do que, a sós consigo,
Estou tonto,Tonto de tanto dormir ou de tanto pensar,Ou de ambas as coisas.O que sei é que estou tontoE não sei bem se me devo levantar da cadeiraOu como me levantaria dela.Fiquemos nisto: estou tonto.
AfinalQue vida fiz eu da vida?Nada.Tudo interstícios,Tudo aproximações,Tudo função do irregular e do absurdo,Tudo nada. . .É por isso que estou tonto. . .
AgoraTodas as manhãs me levantoTonto. . .Sim, verdadeiramente tonto. . .Sem saber em mim o meu nome,Sem saber onde estou,Sem saber o que fui,Sem saber nada.
Mas se isto é assim é assim.Deixo-me estar na cadeira.
Estou tonto.Bem, estou tonto.
1/2
Obra Aberta · 2015-06-08 01:06
Arquivo Pessoa http://arquivopessoa.net/textos/789
Fico sentadoE tonto,Sim, tonto,Tonto. . .Tonto. . .
12-9-1935
Álvaro de Campos — Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição,organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993: 221.
2/2