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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE – UNI-BH DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURIDICAS, POLÍTICAS E GERENCIAIS CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS. A relação entre a história do sindicalismo brasileiro e a teoria da dependência AMANDA SOARES BELO HORIZONTE 2010

Amanda Soares - A relação entre a história do sindicalismo brasileiro e a teoria da … · A Teoria da Dependência: Uma explicação teórica. Segundo Santos (1993), a economia

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE – UNI-BH DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURIDICAS, POLÍTICAS E GERENCIAIS

CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS.

A relação entre a história do sindicalismo brasilei ro

e a teoria da dependência

AMANDA SOARES

BELO HORIZONTE

2010

AMANDA SOARES

A relação entre a história do sindicalismo brasilei ro

e a teoria da dependência

Resumo

Uma das características mais importante do sistema mundial é que, ao funcionar

como uma integração, extrai o excedente econômico e transfere a riqueza da

periferia dependente para os centros desenvolvidos. A construção histórica do

sindicalismo brasileiro se deu entre a forma do modelo econômico adotado pelo

Brasil (seja nacionalista ou neoliberal), e suas relações implicaram na participação

da sociedade civil, presente na formação da CUT, do PT e da Força Sindical. Este

artigo tem por fundamento uma análise a respeito da construção histórico-

econômico-social do sindicalismo no Brasil, à luz da Teoria da Dependência,

abrangendo conceitos da teoria marxista, como a exploração do trabalhador e a

mais valia. O cenário internacional e o “Milagre Econômico” são pontos de grande

relevância neste trabalhado, que foi construído com o auxilio dos intelectuais

Theotonio dos Santos, Ruy Mauro Marini, Marcelo Dias Carcanholo e Samir Amin.

Palavras-Chaves

Dependência, sindicalismo, nacionalismo, liberalismo, sociedade civil.

Abstract

One of the most important characteristic of the world system is that, by acting as an

integration, it extracts the economic surplus and transfers wealth from the periphery

to the developed centers dependent. Thus, the historical construction of Brazilian

trade unions will take place between the shape of the economic model adopted by

Brazil (whether nationalist or neo-liberal), and their relationships involved in the

participation of civil society, present in the formation of CUT, the PT. This article is

based on an analysis regarding the construction of historical, economic, social

unionism in Brazil, according to the Theory of Dependence, covering concepts of

Marxist theory, such as worker exploitation and surplus value. The international

scenario and the "Economic Miracle" are points of great relevance in this work, which

was built with the help of intellectuals as Theotonio dos Santos, Ruy Mauro Marini,

Marcelo Dias Carcanholo and Samir Amin.

Keywords

Dependency, Unionism, Nationalism, Liberalism, Civil Society.

Introdução

A chegada de Lula à Presidência foi vista, no Brasil e em várias partes do

mundo, como uma estimulante tentativa de se iniciar a superação do período

neoliberal, projeto condenado pelo voto popular de maneira eloqüente nas eleições

de 2002. Era uma forma de “mudança”, devido ao descontentamento popular das

políticas neoliberalizantes (privatizações, taxa de juros altos, corte dos gastos

públicos, etc.) realizadas durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Um dos

pontos que auxiliou para que Lula chegasse à presidência foi que os partidos de

esquerda e as organizações dos trabalhadores permanecessem na oposição à

política neoliberal. Nota-se, contudo, ao longo dos anos 1990, o fortalecimento de

tendências conciliatórias dentro dessas instituições, que acabam por abrir

concessões às reformas neoliberais.

Este trabalho tem por objetivo geral identificar os fatores que viabilizaram a

mudança do movimento sindical e consequentemente a transformação deste em

partido político. Além de identificar os aspectos de ordem política e econômica que

levaram o Movimento Sindical Pêlego a evoluir para o Movimento Sindical do ABC

Paulista, viabilizando o surgimento do Partido dos Trabalhadores (PT), objetiva,

também, entender como se deu a construção do projeto de luta da classe

trabalhadora e sua importância para compreensão da atual situação política do país,

considerando-se os fatores internos e externos que contribuiram para esta evolução

do movimento sindical brasileiro.

Como embassamento teorico, o artigo elucida a teoria da dependência, que

juntamente com explicações dos expoentes marxistas desenvolverá a relação entre

a formação do sindicalismo brasileiro e os princípios teóricos da Teoria da

Dependência, comprendendo os estudos do intelectual Ruy Mauro Marini, Marcelo

Dias Carcanholo e Samir Amin.

A Teoria da Dependência: Uma explicação teórica.

Segundo Santos (1993), a economia política internacional (EPI) é o estudo

das interações do econômico e do político na arena mundial. Esse estudo abrange a

relação entre a economia e a política no âmbito nacional e internacional, ilustrando

as interações entre os fenômenos econômicos e os fenômenos políticos,

especialmente no nível das relações entre a riqueza e o poder no âmbito da

realidade social-internacional. Os estudos de EPI concentraram-se em temas que

evitam a economia pura: os conflitos internacionais de origem econômica e/ou

política; as cooperações internacionais e interestatais do mercado; as instituições e

as administrações econômicas internacionais; os processos políticos de

negociações econômicas internacionais; as desigualdades internacionais de renda e

de poderes; os laços de dominação, de dependências e interdependência; a

formação, a influência às violações das regras do jogo monetário; o nascimento de

normas na concorrência internacional e nas relações monetárias; as restrições

políticas ao livre jogo dos fluxos econômicos (proteção comercial, abertura e

fechamento à imigração, controles de movimento de capitais); as relações entre

Estados e mercados financeiros internacionais e o nacionalismo econômico.

Um dos pontos a serem estudados dentro da Economia Política Internacional

é o marxismo. Karl Marx1 estendeu o objeto de estudo da economia ao aprofundar a

análise da teoria do valor e ligá-la ao processo de trabalho (dentro de um sistema

econômico-social), dados as classes sociais, às formações sociais e, de maneira

mais geral, a certos modos de produção que articulam as relações econômicas,

sociais, políticas e ideológicas2. Ele estabelecia, assim, o fundamento para uma

ciência social onde a especificidade do econômico, do social, do político ou do

ideológico se apresentava como momentos de uma totalidade que assumia a forma

de um processo histórico singular. Esse processo era, por sua vez, um momento da

história da natureza, da qual a humanidade emergiu como um elemento

qualitativamente novo que se diferenciou, até certo ponto, da história natural. O

surgimento da espécie humana com seu cérebro, sua mão articulada e sua

1 Disponível em MARX (1997:75). 2 Idem

capacidade de transformar a natureza para alcançar seus próprios fins. Marx

introduziu na história natural uma nova história: a história da humanidade3. Ele

supunha uma vinculação muito complexa entre o processo de conhecimento e o

processo de organização política das forças sociais. No caso da sociedade

contemporânea, o proletariado foi identificado por Marx como o agente privilegiado

das transformações históricas que viabilizariam o estabelecimento de um novo modo

de produção, conduzindo a uma nova etapa civilizatória.

O marxismo das décadas de 1940, 1950 e 1960 traz os problemas da

transição do socialismo, em função do aparecimento das novas experiências

socialistas na Europa Oriental, na China, na Argélia e em Cuba. A dissidência

iugoslava abrira um vasto campo de debate teórico e de experiência prática. Para

Santos (1978), o processo iugoslavo introduzia no debate as questões de uma via

socialista alternativa baseada na auto-gestão do projeto de uma sociedade

internacional sem os alinhamentos determinados pela guerra fria, da aliança dos

povos coloniais, da necessidade de uma aliança entre os marxistas, a Internacional

Socialista e os movimentos de libertação nacional.

Já na década de 1960, a absoluta singularidade da revolução cubana introduz

novos elementos no debate internacional, sobretudo no que diz respeito à relação

entre a revolução democrática nos países dependentes e a passagem para uma

economia socialista. A guerra do Vietnã e a derrota da maior potência militar da

história, por um movimento insurrecional à base de guerrilhas, colocaram o debate

da década de 70 sobre bases completamente distintas. Surgem as tentativas de

regimes de transição ao socialismo no Oriente Médio e na África. Casos complexos

como o da Argélia, o de Angola, ou mesmo o de Moçambique, enriqueciam

enormemente a problemática da possibilidade de uma diversificação tão ampla das

experiências de transição ao socialismo. Pode-se considerar, também, o fim da

liderança dos partidos comunistas sobre o movimento operário em escala mundial e

a emergência de uma nova fase do movimento popular mundial, do pensamento

socialista e das experiências de desenvolvimento econômico e social, apresentando

tanto nos países centrais quanto nos países periféricos.

O marxismo se converteu num campo teórico e analítico extremamente rico e

diversificado. Na América Latina, desenvolve-se uma tendência a um enfoque 3 BOTTOMORE (1988).

histórico-estrutural que não teve ainda sua elaboração filosófica suficientemente

desenvolvida, consolidando na chamada versão marxista da teoria da dependência,

tal como a qualifica Ruy Mauro Marini (1995). A Teoria Marxista da Dependência tem

sua origem nas discussões levantadas por Ruy Mauro Marini na obra político-teórica

“Dialética da Dependência”4.

Para Marini (1995), a Teoria da Dependência emergiu no apogeu do quadro

histórico latino-americano no início dos anos 1960, com o objetivo de tentar entender

a reprodução do sistema capitalista de produção na periferia, enquanto um sistema

que criava e ampliava diferenciações em termos políticos, econômicos e sociais

entre países e regiões, Dessa forma, a economia de alguns países – os periféricos –

era condicionada pelo desenvolvimento e expansão de outros – os centrais -, o que

se estabelecia pela forma de inserção da América Latina no mercado internacional e

pela posição que ocupava na divisão internacional do trabalho, tendo seu eixo de

acumulação no setor primário-exportador.

Dentro dessa lógica analítica, a Teoria da Dependência abriu espaço para

diversas interpretações e correntes, emergidas a partir de diferentes campos

metodológicos e epistemológicos. Algo que somente com a composição dessa nova

vertente teórica, frente ao parâmetro do modo de produção capitalista puro, a

economia latino-americana apresenta certas peculiaridades que impedem que o

capitalismo na região se desenvolva de forma semelhante ao verificado nas

economias consideradas avançadas. Por isso, ressalta que, mais que um

capitalismo, o que se tem na América Latina é um capitalismo sui generis5, e este só

ganha sentido se compreendido a nível tanto nacional quanto internacional.

De acordo com essa corrente, a dependência pode ser entendida como uma

situação na qual a economia de certos países está condicionada ao

desenvolvimento e expansão de outras economias, de forma que os países centrais

poderiam se auto-sustentar, enquanto que os países periféricos só poderiam

expandir suas economias como um reflexo da expansão dos primeiros. Como

aponta Amin (1978), a teoria da dependência preocupa-se fundamentalmente com o

problema do desenvolvimento desigual e as formas como a desigualdade se

manifesta na economia internacional. Logo, o essencial a ser destacado é que as

4 MARINI (1995:38). 5 Idem

relações internacionais se caracterizam pela exploração da periferia pelos países

ricos do centro por intermédio de mecanismos como a troca desigual do

investimento direto e do financiamento aos desequilíbrios dos balanços de

pagamento. A hegemonia (política) do centro – que os dependentistas equiparam

conceitualmente à dominação – seria a expressão da desigualdade econômica e da

dependência.

Para Marini (1995:22), “a dependência é entendida como uma relação de

subordinação entre nações formalmente independentes, em cujo âmbito as relações

de produção das nações subordinadas são modificadas ou recriadas para assegurar

a reprodução ampliada da dependência”. Segundo SADER (2000: 109), “o fruto da

dependência só pode assim significar mais dependência e sua liquidação supõe

necessariamente a supressão das relações de produção que ela supõe”. Nesses

termos, o objeto de estudo da Teoria Marxista da Dependência é a compreensão do

processo de formação sócio-econômico na América Latina a partir de sua integração

subordinada à economia capitalista mundial. Neste processo, o que se observa é

uma relação desigual de controle hegemônico dos mercados por parte dos países

dominantes e uma perda de controle dos dependentes sobre seus recursos, o que

leva à transferência de renda – tanto na forma de lucros como na forma de juros e

dividendos – dos segundos para os primeiros. Ou seja, essa relação é desigual em

sua essência porque o desenvolvimento de certas partes do sistema ocorre à custa

do subdesenvolvimento de outras. É a luz dessa teoria que será realizada a análise

das mudanças ocorridas no movimento sindicalista brasileiro que viabilizaram em

1980 a criação de um partido político como uma real forma de poder e

representação da classe trabalhadora.

A relação entre o sindicalismo brasileiro e a teori a da dependência

Um dos pontos ressaltados por Antunes (1995) está na configuração dos

sindicatos e os partidos políticos que se destacaram como dois importantes

instrumentos de organização da classe trabalhadora tanto na época da eclosão dos

movimentos sociais no Brasil (nas décadas 1970 e 1980) que reivindicavam

melhores condições de trabalho, quanto no atual cenário político e econômico do

país e do mundo. Eles surgiram dessa forma, primeiramente, para unir a classe

trabalhadora nacionalmente de forma independente do Estado e de qualquer partido

político, e em um segundo momento, marcado pela perda do caráter de confronto e

do referencial de classe, no qual o discurso foi adaptado ao modelo da democracia e

da luta pela cidadania. Os sindicatos tinham por objetivo suprir as necessidades

imediatistas da classe trabalhadora, como melhores salários e condições de

trabalho. Procedeu-se, também, à reconstrução histórica da social-democracia na

perspectiva analítica que percebe nas reformas graduais um referencial no processo

de transformação política.

Como aponta Anderson (1976), a evolução da classe operária tem grande

relação com o pensamento de Marx e Engels. Entretanto, a ligação entre teoria e

prática nunca foi dada de forma contínua e clara por esses pensadores. A criação de

partidos de classe operária só se deu após a morte de Marx, e sua teoria e a prática

proletária sempre tiveram uma relação indireta e irregular. Marx deixou uma teoria

econômica coerente e desenvolvida do modo de produção capitalista, começada em

“O Capital”, mas não uma equivalente teoria política das estruturas do Estado

burguês, nem da estratégia e da tática da luta socialista revolucionária por um

partido da classe operária que derrubasse esse Estado. A construção sistemática de

uma teoria política marxista da luta de classe ao nível organizativo e tático foi obra

de Lênin6, antes dele o nível político era inexplorado na teoria de Marx. Ele criou os

conceitos e os métodos necessários para a condução de uma vitoriosa luta

proletária pelo poder na Rússia, dirigida por um partido operário. Esses métodos

eram a combinação da propaganda com a agitação, a condução das greves e

manifestações, o forçamento da aliança de classes, o fortalecimento da organização

partidária, o direcionamento da luta pela autodeterminação nacional e a análise da

conjuntura nacional e internacional7. Isso mostrou o início da ciência marxista da

política.

Fazendo uma analogia entre os métodos desenvolvidos por Lênin na Rússia,

pode-se apontar que no Brasil as greves se tornaram comuns a partir da primeira

greve de trabalhadores ocorrida entre os anos 1914 e 1918, momento do

6 LENIN (1994:12) 7 Idem

sindicalismo pré-Vargas. E a segunda (1939/1945) no meio do Getulismo8. Antes de

1930, as greves no Brasil tinham uma predominante motivação econômica, a luta

por melhores salários9. A partir de 1930, as greves continuam tendo essa incidência,

mas como freqüentemente na história brasileira foram poucos os períodos de

democracia efetiva, nos períodos mais ditatoriais, uma greve econômica acabava

sempre assumindo uma maior ou menor dimensão política.

Getúlio Vargas assume a presidência em 1930 em meio a uma revolução que

marcou o fim do domínio agrário-exportador dos barões do café e o nascimento de

um projeto industrial ancorado em um Estado forte e em uma política nacionalista.

Para sustentar esse salto político e econômico que Vargas pretendia alcançar com o

Brasil, era necessária uma base que sustentasse seu novo projeto. Essa base foi

formada a partir de uma nova relação com a classe trabalhadora, que era vista como

“um caso de polícia” pelo presidente que antecedeu Vargas, Washington Luis10.

Vargas passou a tratar o caso da classe trabalhadora como uma questão social de

importância central na vida nacional. Ele trouxe os trabalhadores para a agenda do

Estado e politizou as questões sociais.

Em 1931 é oficializada a “Lei da Sindicalização”, a fim de controlar as ações

dos sindicatos, ao qual os reprimia e controlava suas finanças, além de restringir

suas atividades políticas e ideológicas. A ação do governo Getúlio era que os

trabalhadores pudessem se filiar à um sindicato, desde que fosse o sindicato oficial

do governo, submetido ao Ministério do Trabalho. Em 1943 é criado a Consolidação

das Leis Trabalhistas (CLT), que permitiu o governo getulista captar as principais

reivindicações dos trabalhadores. Segundo Antunes (2006), o governo Vargas

obteve um “duplo” sucesso ao propor a CLT, diminuiu as greves, controlava os

trabalhadores e aumentava a produção. A idéia revolucionária de tomar o poder e

entregá-lo ao proletário, fazendo a revolução era cada vez mais difícil, devido ao

8 GALVÃO (2007:23). 9 Idem 10 Ricardo Antunes, 2006 – Artigo de Vargas a Lula: Caminhos e descaminhos da legislação trabalhista no Brasil.

controle governamental, principalmente depois que o governo conseguiu afastar a

tentativa da “Intentona Comunista”, liderada por Luiz Carlos Prestes11.

A partir disso, segundo Anderson (1976) uma teoria revolucionária justa só

assume forma acabada em ligação estreita com atividade revolucionária. A simples

adesão formal a uma organização partidária, do tipo habitual da história recente, não

basta para fornecer esse vínculo, é necessária uma ligação estreita com a atividade

prática do proletariado. Nem tampouco basta a militância num pequeno grupo

revolucionário, tem que existir uma ligação com as massas reais.

A partir dos anos 1960, com o governo instável de João Goulart, as greves

passaram a ter uma forte dimensão explicitamente política: greve geral pelo

plebiscito para definir se o povo queria a volta do presidencialismo ou a manutenção

do parlamentarismo12. Foi um período marcado internacionalmente pelo constante

confronto entre EUA e URSS, superpotências que emergiram na Segunda Guerra

Mundial, na chamada “Guerra Fria”. A URSS dominava uma parte do globo,

enquanto os EUA dominavam o mundo capitalista. As indústrias se desenvolveram

de forma crescente, e nos países periféricos, em recente industrialização dependiam

cada vez menos da agricultura. Essa mudança estrutural levou em muitos desses

países, incluindo o Brasil, a criação de uma classe operária industrial que exigiam

direitos trabalhistas e sindicatos. A configuração do sindicalismo mundial era uma

herança do cenário político internacional pós-II Guerra Mundial.

O "fim da Guerra Fria" foi componente fundamental de um novo cenário no

início da década de 1990. Mas não o único: eram também anos de auge do

neoliberalismo que atacava o sindicalismo, rompendo a política de "pactos sociais"

(entre governos, empresários e centrais sindicais) que dominou o capitalismo do

Estado de Bem-Estar Social13. Para Magnoli (1997), as políticas do Estado de Bem

Estar Social começaram a ganhar relevância, com as vitórias de Ronald Reagan nos

EUA e Margareth Thatcher na Inglaterra na década de 1980. Contribuiu para essa

legitimidade também, a derrocada dos países do Leste Europeu – na Hungria em 11 Idem 12 ANTUNES (2006:49) 13 Segundo DRAIBE (1988): “O Estado do Bem Estar Social é uma transformação do próprio Estado, a partir das suas estruturas, funções e legitimidade. Ele é uma resposta à demanda por serviços de segurança sócio-econômica. Com a industrialização surge à divisão social do trabalho, isto implica num crescimento individual em relação à sociedade. Desse modo, os serviços sociais surgiram para dar respostas às dificuldades individuais, visando garantir a sobrevivência das sociedades”.

1956, na Tchecoslováquia em 1968 e na Polônia em 1980 – causada pelo

desalinhamento internacional do Pacto de Varsóvia e o fim do regime de partido

único14. ]

Um dos pontos a serem considerados dentro da teoria da dependência é o

que aponta Carcanholo (2004), que identifica três condicionantes histórico-

estruturais da situação de dependência. O primeiro seria a redução dos preços dos

produtos exportados pelas economias dependentes (produtos primários e com baixo

valor agregado) em relação ao preço dos produtos industriais ou com maior valor

agregado importados dos países centrais, num processo de transferência de valor

(ou, dito de outra forma, num processo de perda nos termos de troca). O segundo

ponto colocado por Carcanholo (2004:11) é a remessa de excedentes dos países

dependentes para os avançados, sob forma de juros, lucros, amortizações,

dividendos e royalites, pela razão dos primeiros importarem capital dos últimos. Por

fim, o terceiro ponto seria a instabilidade dos mercados financeiros internacionais,

geralmente implicando em altas taxas de juros para o fornecimento de crédito aos

países dependentes periféricos, colocando os mesmos à mercê do ciclo de liquidez

internacional.

O primeiro elemento demonstrado por Carcanholo (2004), sobre a

depreciação do valor dos produtos produzidos nos países periféricos, pode ser visto

no período de industrialização do Brasil, denominado de “Milagre Econômico” 15. Na

década de 1970, inserido no contexto da ditadura militar e da exploração do

trabalhador, e embalado pela eclosão de outros movimentos sociais no mundo, a

classe proletária brasileira se manifestava em busca de melhores condições de

trabalho e salários. Os salários eram baixos, uma vez que o Brasil sofria um

constante fluxo de migração, principalmente trabalhadores de baixa qualificação

profissional que iam do nordeste para o sudeste, além de que a base da exportação

brasileira era composta por produtos de baixo valor agregado como commodities e

agropecuários. Dessa forma, os sindicatos tiveram destaque em todo país, pois

davam apoio aos trabalhadores em suas reivindicações ajudando a organizar as

primeiras grandes greves ocorridas na região do ABC paulista, local fortemente

concentrado industrialmente, devido a incentivos governamentais. A ditadura militar

14 BROUE (1996:21) 15 ROSSETTI (2007:214)

já havia se instalado.com o apoio da burguesia nacional e com participação ativa

dos Estados Unidos16. Nessa época, os sindicatos permaneceram atuantes, apenas

se adaptando às circunstâncias de grande repressão por parte dos militares que

ocupavam o poder.

Rodrigues (1997), traz três importantes fatores que concorreram para a rápida

reorganização do movimento sindical no Brasil. Primeiro, a manutenção da ação

localizada de alguns grupos de esquerda, tanto no campo quanto na cidade, ainda

que de forma dispersa e sem vinculação estreita com sua organização de origem.

Segundo, a ocupação de espaços no aparelho sindical – antes ocupado pelos

sindicalistas vinculados ao governo e aos empresários – por parte das novas

lideranças sindicais vinculadas ao sindicato de São Bernardo, que naquele

momento, concedia o padrão de ação sindical combativo a ser implementado. Na

medida em que ocupavam esses espaços oficiais, criavam melhores condições de

organização e articulação de sindicatos por todo país anteriormente isolados. E, por

fim, o papel desempenhado pelos setores da Igreja Católica mais ligados às lutas

dos trabalhadores, a partir de sua capacidade de ampliar as teias de sociabilidade

por todo o país.

A formação do Partido dos Trabalhadores: Uma forma real de poder para o

movimento sindicalista brasileiro

Nesse contexto, em 1961, com o desejo de sair da dependência e oferecer

melhores condições aos trabalhadores, foi fundada a Central Única dos

Trabalhadores (CUT), que representava os trabalhadores unidos para uma luta

comum contra o capital. Cabia a própria base da organização decidir sobre o

andamento do seu sindicato17. A CUT foi criada sob a visão da independência frente

ao Estado e a qualquer partido político. Com a criação, uma nova política de

sindicalismo começa a ser desenvolvida No caso do sindicalismo no Brasil, houve

uma forte influência de movimentos europeus, mesmo levando-se em conta que a

16 SANTOS (1993:12) 17 Disponível em <http//:www.cut.org.br>. Acessado em: 23/05/2010

formação desse grupo no Brasil se deu tardiamente devido a uma industrialização

também tardia. A base da CUT, segundo Rodrigues (1997), era formada,

basicamente, por quatro fatias da classe trabalhadora: o operariado industrial, os

trabalhadores rurais, os funcionários públicos e os trabalhadores vinculados ao setor

de serviços. Em termos da especificação de suas lutas, a ação do sindicalismo

“cutista” se direcionava, de um lado, na luta contra o arrocho salarial, a

superexploração da força de trabalho e a política econômica. Por outro lado, a

central teve papel decisivo no processo de democratização da estrutura sindical, ao

longo da década de 1980, especialmente no que diz respeito ao excessivo controle

dos sindicatos por parte do Estado – que era permitido, principalmente, na

manutenção legal do imposto sindical e da unicidade sindical. O fato é que,

mediante essa postura combativa e de oposição à política econômica e social

implementada pelo governo, a CUT se tornou protagonista dos diversos embates

empreendidos em prol da classe trabalhadora, seja tomando frente na organização e

realização de greves, seja como estrutura de aparato às greves que ocorriam à

margem dos sindicatos.

Se para o Brasil havia, na década de 1960, a formação do movimento sindical

com a criação da CUT, percebe-se que ao analisar o cenário internacional, o

movimento operário nos países europeus passou por um processo semelhante ao

processo de constituição do capitalismo, que se iniciou com o trabalhador artesanal

se transformando em manufatureiro e só depois indo trabalhar nas grandes

indústrias. Antes de se iniciar o proletariado, o trabalhador trabalhava sozinho e se

baseava no sistema das trocas. No Brasil, a formação do proletariado se deu dentro

do contexto da industrialização. No início, os trabalhadores se reuniam

exclusivamente para tratar de questões econômicas como as exigências das

condições mínimas de trabalho18. Como ressalta Rodrigues (1997), o Estado, a fim

de controlá-los, passa a intervir cada vez mais em suas ações, tornando as relações

trabalhistas um tema mais público do que privado. A intenção era subordinar os

sindicatos ao Estado com o pretexto de minimizar as lutas entra as classes e a

diminuir o embate entre patrões e empregados.

Analisando isso, dentro da teoria da dependência, pode-se considerar o

segundo ponto desenvolvido por Carcanholo (2004), ao considerar o problema da

18 SANTOS (1993)

remessa de lucros excedentes, realizados por empresas transnacionais em países

periféricos. Então, com o desenvolvimento do Milagre econômico na década de

1970, o Brasil permite a entrada maciça de investimento externo direto,

principalmente com a entrada de transnacionais no país, acentuando um aumento e

diversificação da classe trabalhadora. Durante a década de 1970, o Brasil exibiu um

crescimento da produção, em torno de 7% ao ano, o que significou uma evolução

anual média de 4% da renda per capita19. O superaquecimento da economia

brasileira durante a primeira metade dos anos 70 foi o catalisador das crises

observadas a partir de 1973. Pode-se considerar que a crise do governo ditatorial

que se iniciou com o fim do “milagre econômico” e as denúncias sobre a repressão

exercida pelos militares deram os primeiros passos no processo de

redemocratização do país. Os movimentos grevistas do final da década de 1970 e o

anúncio das eleições estaduais diretas, em 1982, davam claro sinal da retirada dos

militares do poder. Com o fim efetivo do regime ditatorial em 1985 e o processo de

transição para o governo civil, a estrutura sindical permaneceu intacta conservando

a base da estrutura do sindicalismo de Estado.

Ao analisar a Teoria Dependentista, a obra de Samir Amin aborda que as

lutas de libertação nacional assumem claramente um caráter antiimperialista,

transformando-se na manifestação da luta de classes no plano internacional. Mais

do que um instrumento de dominação das classes dominantes nacionais, o Estado

dependente é visto como um instrumento da dominação da burguesia internacional.

A pressão externa sobre as elites nacionais no sentido de explorar ao máximo as

massas da periferia e exportar seu excedente para os países imperialistas é

considerada o elemento que provocará necessariamente a revolução nacional e

socialista.

Percebe-se que a contradição principal está nas relações sociais entre uma

classe internacional (a burguesia) e a classe trabalhadora dos países explorados,

mas também entre aquela e a burguesia nacional. Amin (1978) desenvolve a idéia

do “desenvolvimento desigual”, aos quais os problemas nacionais (como o

subdesenvolvimento) devem ser considerados como nada mais do que a expressão

da luta de classes internacional, ou seja, da exploração do proletariado da periferia

19 ROSSETTI (2007:215)

pela burguesia do centro. O modelo de governo implantado pela ditadura militar não

agradou os trabalhadores que no fim dos anos 1970 faziam greves na região do

ABC paulista. Apesar do “Milagre Econômico” ocorrido nesse período, que

proporcionou o barateamento do petróleo e a expansão da indústria automobilística,

o que se via era uma superexploração do trabalhador. Essa massa de trabalhadores

começou a se organizar em partidos e sindicatos, passando da primeira motivação

de caráter econômico, para uma motivação política. Nesse ponto, os sindicatos são

uma das formas de dar esse sentido político à luta dos trabalhadores organizando a

massa.

Percebe-se que as mudanças sofridas pelo movimento sindicalista brasileiro

desde seu surgimento por volta de 1910 até sua forma mais radical no ABC paulista

na década de 1970, podem ser explicadas através da economia política

internacional e da teoria da dependência, que ilustra a integração entre os fatores

políticos e econômicos no âmbito interno e externo. Assim, é possível analisar que a

luta de classes se torna uma questão internacional travada a partir de lutas

nacionais. O problema está na forma como ela se expressa, ou seja, na luta entre

Estados nacionais.

Na década de 1980, o sindicalismo cresceu muito porque o neoliberalismo e a

reestruturação produtiva que afetam os trabalhadores norte-americanos iniciaram-se

no Brasil com Fernando Collor de Mello, em 1989, e depois com Fernando Henrique

Cardoso20. Nesse contexto, analisa-se o terceiro ponto desenvolvido por Carcanholo

(2004) na teoria da dependência como a “instabilidade dos mercados financeiros

internacionais”, no qual o Brasil sofre com elevadas taxas de inflação, fuga de

capitais, mudança do regime político (ditadura para democrático) e recessão

econômica, gerando grande número de desempregados. Um dos fatores que

contribui para essa situação, segundo Marini (1995), é a mudança dos empréstimos

tomados pelo governo brasileiro na década de 1970 (com juros baixos) e alta

repentina dos juros na década de 1980, transformando os Estados Unidos no país

que mais recebia dinheiro do mundo.

A partir disso, pode compreender que o Estado Subdesenvolvido, na visão

dos dependentistas, é um instrumento essencial para a administração do papel

dependente na divisão internacional do trabalho e no processo capitalista mundial de 20 RODRIGUES (1997)

acumulação de capital. Assim, a periferia estaria sujeita à penetração do capital e às

relações de dominação construídas, onde existe uma relação tensa entre ricos e

pobres, empresas e empregados, latifundiários e trabalhadores rurais e entre o

proletário e a burguesia.

É nesse contexto, dando abordagem principalmente na relação entre o

proletário e a burguesia, que surge o Partido dos Trabalhadores, o PT. Ele foi

fundado em São Paulo em 1980, se baseava na política da social democracia, e veio

como uma forma dos trabalhadores e sindicatos de se reorganizarem sem se

submeter ao Governo. Esse partido tinha intenção de ser um partido formado por

trabalhadores e para trabalhadores21, uma expressão clara da sociedade civil da

época. No contexto em questão, de crise econômica, a repressão do governo militar

e influências trotskistas e comunistas, o PT surgiu através da união de membros do

movimento sindicalista, de intelectuais de esquerda, e parte da igreja, baseando na

política social democrata22. Portanto, pode-se analisar que para Marx e Engels, o

partido político é a expressão de como se manifestam as classes sociais23. Para

Weber é entendido como uma organização de livre associação objetivando,

mediante pleito eleitoral, conquistar o poder do Estado.

“Em sua estrutura interna, todos os partidos passam, no decorrer dessas últimas décadas, paralelamente à racionalização crescente das técnicas das campanhas eleitorais, para a organização burocrática. O grau de desenvolvimento que os diversos partidos alcançaram é diferente, mas a tendência geral é unívoca, pelo menos nos Estados de massas.” (Weber, 2000, p.547)

Para Venturini (2000), o surgimento do PT pode ser compreendido devido à

grande mobilização social do ABC paulista, que levou o movimento sindical

brasileiro a ficar conhecido mundialmente como o mais ativo do mundo. Apesar

dessa vontade em fugir da tutela do Estado, movimentos ligados à ação do governo

como CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores), que tinham lideranças mais

conservadoras apareciam. Juntamente a esse fato, o movimento sindicalista

brasileiro sofria fortes influências políticas da Esquerda como o Partido Comunista

21 Disponível em <http//:www.pt.org.br/estatutodeformacao> Acessado em 06/06/2010. 22 VENTURINI (2000:26) 23 SANTOS (1977:87)

Brasileiro e ideológicas pelo Manifesto Comunista escrito por Marx e Engels em

1848. Assim, o movimento adquiriu a identidade de partido político, fato similar ao

acontecido na Polônia com o Movimento Solidariedade 24. Segundo Singer (2001), o

PT nasceu com uma postura crítica ao reformismo dos partidos políticos social-

democratas. Para os petistas, as políticas social-democratas não teriam nenhuma

chance em vencer o imperialismo capitalista contra o qual lutavam25. Dessa forma, o

partido continha ideologias marxistas, mas também ideologias dos sindicalistas,

sendo essas últimas o cerne do partido. Ele seria a expressão mais clara da

sociedade civil na luta contra o autoritarismo de um Estado dominado pelos militares

e de uma sociedade capitalista. Ele foi formado por integrantes de movimentos

sociais e sindicais, inseridos no conceito de sociedade civil.

Para Hobbes, a sociedade civil é “sinônimo de Estado”, que é quando as

pessoas se organizam em torno de determinadas regras, as quais o Estado tem a

função de criar e fazê-las cumprir; ou seja uma forma de se opor ao estado de

natureza26. Uma sociedade no estado de natureza não consegue conviver de

maneira civilizada, pois não há leis e regras acertadas de forma contratual; o que faz

surgir á necessidade de um governo para regular as relações entre os indivíduos.

Dessa forma, a sociedade civil, seria uma evolução do estado de natureza. Então,

Locke apresenta uma relação diferente com a sociedade civil, uma vez que no fim

do século XVIII, a sociedade política começou a emergir juntamente com a

sociedade civil e a sociedade capitalista de mercado. Isso significa que a sociedade

civil se tornou ligada à propriedade privada, a produção em massa e a divisão do

trabalho. A propriedade privada para ele é um direito natural, e não um direito civil

como acreditam Hobbes e Rousseau.

Para Bobbio (1999), “a sociedade civil aparece como esfera de mediação

entre a infra-estrutura econômica e o Estado em sentido restrito, e não apenas como

a esfera das relações econômicas como asseguram alguns teóricos”. A sociedade

deixa de ser vista como a expressão dos interesses particulares e da iniciativa

privada, para ser vista como o conjunto das instituições privadas, como elemento

que articula as individualidades e nega as classes. Logo, o conceito de sociedade 24 SANTOS (1993) 25 Disponível em <http//:www.pt.org.br> Acessado em 06/06/2010. 26 BOBBIO (1999:21)

civil acabou por se misturar ao que chamamos de Estado, de maneira que se tornou

quase impossível distingui-los. Segundo Bobbio (1999), depois de dois séculos de

distinção entre sociedade e Estado, atualmente questiona-se essa separação.

Observou-se nos últimos anos um processo de socialização do Estado mais

significativo que o processo de estatização da sociedade. Esse último se deu

através do desenvolvimento das várias formas de participação nas opções políticas

e do crescimento das organizações de massa que exercem algum poder político

como nos casos dos sindicatos e os próprios partidos políticos.

Os sindicatos, segundo Rodrigues (1997), foram estabelecidos no processo

do desenvolvimento capitalista. São grupos que buscam melhores condições de

trabalho e atendimento imediato das reivindicações da classe trabalhadora. Essas

organizações não estão inseridas em um contexto político como os partidos, e sim

em um contexto ideológico. Nos sindicatos, existem desde pessoas que querem

apenas resolver aquele problema imediato, até pessoas que querem de fato resolver

problemas estruturais da classe para resolvê-los de vez. Apresentam uma

composição heterogênea que tem como objetivos solucionar problemas imediatistas

que se relacionam a luta diária do trabalhador.

Como aborda Antunes (2006), os sindicatos atuam para transformar essa

consciência imediata, inserindo em cada trabalhador uma consciência política e uma

percepção de seu papel na transformação social. É para alcançar esse sentido mais

político que o movimento sindical precisa da influência de um partido político sem se

subordinar ao mesmo. Por isso, partidos políticos e sindicatos têm objetivos distintos

que dependem diretamente do contexto em que estão inseridos. Muitas vezes,

porém, os dois se conectam, possibilitando ao movimento sindical exercer um papel

fundamental na elevação do nível de consciência das classes trabalhadoras. A

questão da subordinação dos sindicatos aos partidos políticos deixa claro que o

sindicato é uma forma de resguardar os direitos dos trabalhadores dentro da

sociedade capitalista. O sindicato se subordina a um partido à medida que precisa

alcançar um sentido mais político visando a transformação social que objetiva. É

uma organização de frente única que independe de sua posição política ou

partidária. Apesar de sua vinculação partidária, sua independência é em relação ao

partido político que se subordina. Ele se subordina a um partido para se firmar,

independendo de qual é esse partido. Por isso em um mesmo sindicato encontram-

se diversos partidos diferentes.

Dentro desses aspectos, Marini (1995) busca na expansão comercial do

capitalismo nascente no século XVI e na forma como a economia brasileira se

desenvolve em estreita consonância com essa dinâmica, a configuração da situação

de dependência, que viria a determinar todo o posterior desenvolvimento do país,

definida a partir de uma bem estruturada divisão internacional do trabalho. Desde

cedo, a condição para que o Brasil se inserisse na economia internacional esteve

relacionada à capacidade de criar uma oferta mundial de alimentos. Tão logo, a esta

função foi acrescentada a de contribuir para a formação de um mercado de

matérias-primas industriais, cuja importância crescia em função do próprio

desenvolvimento industrial. Esse fator, somado ao crescimento da classe

trabalhadora e à elevação da produtividade nos países centrais, contribuíram de

maneira fundamental para o surgimento da grande indústria, principalmente notada

no período do “Milagre Econômico”. Nesse sentido, mais do que responder às

necessidades físicas induzidas pela acumulação nos países industriais, pode

apontar a Teoria Marxista da Dependência. De certa forma, a obra de Florestan

Fernandes também apontou para elementos nesse campo.

“(...) a participação do Brasil no mercado mundial contribuirá para que o eixo da acumulação na economia industrial se desloque da produção de mais-valia absoluta à da mais-valia relativa, isto é, que a acumulação passe a depender mais do aumento da capacidade produtiva do trabalho do que do simplesmente da exploração do trabalhador” (SADER, 2000: 113).

Mesmo dependendo do aumento da produtividade, o que determina a cota de

mais-valia não é a produtividade do trabalho em si, mas sim o grau de exploração do

trabalho, vale dizer, a relação entre o tempo de trabalho excedente – no qual o

operário produz mais-valia – e o tempo de trabalho necessário – no qual o operário

produz o valor do seu salário. Para que o aumento do trabalho excedente possa se

verificar em relação ao trabalho necessário, é fundamental que a redução do valor

social das mercadorias incida sobre os chamados bens-salário, aqueles necessários

à reprodução da força de trabalho.

É nesse ponto que a participação do Brasil no processo de acumulação

ganha notável importância. Na medida em que aumenta a oferta mundial de

alimentos (que são bens-salário), acaba induzindo a uma redução dos preços dos

produtos primários no mercado mundial. O resultado direto é uma redução do valor

real da força de trabalho nos países industriais, permitindo que o incremento da

produtividade se traduza em ampliação da mais-valia. Mediante sua incorporação ao

mercado mundial de bens-salário, o Brasil desempenha um papel significativo no

aumento da mais-valia nos países industrializados. Como aponta Carcanholo (2004),

o preço dos produtos industriais se mantém relativamente estável, a depreciação

dos bens primários acaba sendo refletida na deterioração dos termos de troca.

Levando em consideração a Teoria da Dependência pode assinalar que, a

deterioração dos termos de troca acaba sendo a expressão da realização de um

intercâmbio desigual de mercadorias entre nações industrializadas e não

industrializadas, dentro da imposta divisão internacional do trabalho.

No fim da década de 1980, o Brasil se viu imerso em um complexo quadro

econômico, resultado não só da conjuntura internacional, mas principalmente da

exacerbação dos efeitos das políticas econômicas implementadas nos anos

anteriores. A inflação atingia níveis catastróficos, ultrapassando a marca de 80% ao

mês27 – e superando, portanto, as reposições salariais realizadas no período - e a

dívida pública se expandia de forma desenfreada. Os planos heterodoxos, adotados

como objetivo de frear a inflação, não logrou sucesso28. E no plano político, o país

vivia a “euforia” da redemocratização e das discussões em torno da consecução da

nova Constituição.

O quadro recessivo da economia abria espaço para que a representação do

grande capital internacional – formatada nas figuras do Fundo Monetário

Internacional e do Banco Mundial – se fizesse presente na imposição de políticas

que viessem a reordenar os contornos da economia nacional. Aliado aos interesses

de determinados setores da burguesia nacional (principalmente do setor bancário e

automobilístico), essas agências internacionais formavam a base para a

implementação de uma série de medidas de corte liberal, consubstanciadas nas

27 ROSSETTI (2007:220) 28 IDEM

políticas neoliberais29. As políticas neoliberais se firmavam em um tripé composto

pela abertura comercial, abertura financeira e desregulamentação do mercado de

trabalho.

Foi nesse contexto que, segundo Venturini (2000), em março de 1990,

quando Fernando Collor assume a Presidência da República, foi inaugurada a “era

neoliberal no país”. O governo assume uma nova posição, na qual deveria estar em

sintonia com a ofensiva do grande capital sobre os direitos dos trabalhadores em

todo o mundo.

Nesse período, para Venturini (2000), um dos movimentos mais marcantes foi

a greve dos petroleiros de 1994/1995, que foi o equivalente à greve dos mineiros

derrotada por Margareth Thatcher, primeira-ministra da Grã-Bretanha. Em 1994

assume o novo presidente, Fernando Henrique Cardoso, e em seguida consegue

colocar a defesa do Plano Real contra a mobilização dos petroleiros, que saem da

luta na defensiva e sem a conquista de reivindicações já negociadas. O movimento

sindical, particularmente a CUT, participante ativo do processo de democratização,

iria ser alvo de uma nova ação muito mais agressiva do governo.

O desenvolvimento do capitalismo brasileiro ao longo das duas últimas

décadas, condicionado pela excessiva dependência do capital estrangeiro, foi

marcado por uma crise econômica relativamente longa e persistente. Deflagrada no

início dos anos 1980, em função da dívida externa, a crise tem por características a

acentuada diminuição das taxas de crescimento econômico, o aumento do nível de

desemprego e a depreciação dos valores de troca. Por isso, ao apresentar a Teoria

da Dependência, analisa que a mudança das moedas do cruzeiro para o real em

1994 e a necessidade de uma reforma econômica brusca, muda a idéia de valor. Tal

intercâmbio, ao contrário de exprimir uma troca de equivalentes, conforma uma série

de mecanismos que permitem realizar transferências de valor. Seriam dois os

principais mecanismos através dos quais se realizaria a transferência de valor. O

primeiro opera no nível da esfera de produção interna. Como as mercadorias

tendem a ser vendidas pelo valor das condições médias de produção, ou pelo preço

de mercado, os países centrais acabam realizando suas mercadorias por um valor

superior ao custo de produção, na medida em que possuem padrões de produção

superiores aos países periféricos. 29 MARINI (1995:95)

A conseqüência é a ocorrência da transferência de valor da periferia para o

centro, por conta do processo de concorrência entre capitais internos e externos

dentro de uma mesma esfera de produção, ou seja no caso do Brasil que sofreu

com as crises na década de 1980, viu uma grande especulação, aumentando sua

dívida interna, algo que começou a mudar com o controle da inflação com a criação

do Plano Real. O segundo opera no âmbito da concorrência entre distintas esferas

que se inter-relacionam. A existência de monopólio na produção de bens de alto

valor agregado por parte dos países centrais permite que estes vendam seus

produtos a preços superiores àqueles que prevaleceriam com iguais taxas de lucro,

o que implica que as nações periféricas sejam obrigadas a ceder gratuitamente parte

do valor que produzem.

A partir da transferência de valor da periferia para o centro, observa-se que

segundo Marini (1995), o capitalista da nação desfavorecida, mais que tentar corrigir

os desequilíbrios entre os preços e os valores de suas mercadorias, busca

compensar a perda da renda gerada pelo comércio internacional. Isso porque a

transferência de valor é uma transferência de mais-valia, que se apresenta como

incremento da taxa de mais-valia e da taxa de lucro nos países industrializados, em

detrimento da taxa de mais-valia das nações periféricas. Ou seja, na medida em que

a perda de mais-valia ocasionada pelo intercâmbio desigual não pode ser resolvida

em nível das relações de mercado, a reação da economia dependente é tentar

compensá-la no plano da produção interna através da ampliação da produção de

excedente.

Nessa perspectiva, o aumento da intensidade do trabalho – e não o

incremento de sua capacidade produtiva – se configuraria como um aumento da

mais-valia. Marini (1995) aponta ainda outro mecanismo para se elevar a mais-valia.

Este seria o “prolongamento da jornada de trabalho” - aumento da mais-valia

absoluta - como forma de aumentar o tempo de trabalho excedente, aquele no qual

o trabalhador segue produzindo após ter criado todo o valor necessário à sua

subsistência. Isto que dizer que, por estarem fundamentados no uso intensivo e

extensivo da força de trabalho, a utilização desses mecanismos acaba fazendo com

que o trabalho seja remunerado por baixo de seu valor, e por isso correspondem a

uma superexploração da força de trabalho.

A partir desse argumento, Marini (1995) busca mostrar que não há outra

forma de compensar a transferência de valor para o centro porque a periferia não

consegue desenvolver uma base técnica, compatível com a do centro, que

possibilite elevar o valor agregado de seus produtos, a partir do aumento da

produtividade do trabalho. Essa dinâmica de acumulação de capital, além de permitir

que o capitalismo dependente cresça e contorne sua restrição externa, intensifica

em graus cada vez maiores a distribuição regressiva da renda e da riqueza, que

nada mais são que conseqüências inevitáveis da dependência.

A ocorrência da superexploração da força de trabalho acaba sendo

fortalecida, nos países periféricos, pela existência do exército industrial de reserva.

Como aponta Carcanholo (2004), não há um desenvolvimento industrial capaz de

produzir bens com alto valor agregado na periferia – que permitam um intercâmbio

eqüitativo com os países centrais - e que ao mesmo tempo absorvam a massa de

trabalhadores desempregados, a pressão sobre essa classe, através da imposição

de cargas de trabalho cada vez mais excessivas e de baixos salários, acaba se

apresentando como a alternativa mais viável para a geração do excedente

necessário à transferência de valor. Nesse sentido, o Brasil, enquanto periferia do

modo de produção capitalista acaba se configurando como um espaço no qual estão

dadas todas as condições para que se efetue a superexploração do trabalho, sendo

esta a expressão da remuneração do trabalho por baixo do seu valor, através da

intensificação dos mecanismos da mais-valia absoluta, ressaltando características

do modo de produção neoliberal.

O neoliberalismo surge como uma resposta à crise do Estado do Bem Estar

Social, sendo uma política e uma ideologia que representam interesses de uma

minoria em detrimento dos interesses dos trabalhadores. Nos anos 1980, enquanto

na Europa o sindicalismo começava a sofrer uma decadência, no Brasil, o

movimento era ascendente. A Europa estava vivendo o início de uma crise sindical

provocada principalmente pelo neoliberalismo que lutava ativamente contra o

sindicato combativo.

Ao fazer a análise da década de 1990, com os governos de Fernando Collor

de Melo, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso percebe que de forma

sintética, o objetivo com a abertura comercial era abrir o espaço do mercado interno

para os produtos internacionais através da supressão de diversas tarifas

protecionistas, internalizar o efeito da concorrência, que serviria de estímulo à

modernização da indústria nacional. Conjuntamente, permitira o acesso a novas

tecnologias e métodos produtivos que estimulariam a ampliação da produtividade

interna.

O efeito “lógico”, segundo Rossetti (2007) seria a expansão do setor

industrial, a redução do preço da cesta de consumo - acompanhada pela ampliação

dos produtos que a compunham – e o aumento do nível de emprego. Por seu turno,

o objetivo da abertura financeira era permitir ao país sua efetiva participação no fluxo

de liquidez internacional, do qual ainda não fazia parte. Essa participação criaria a

oportunidade de acesso a crédito externo e fluxos de investimentos, necessários

para a modernização industrial – portanto, uma política complementar à abertura

comercial – e para a correção de desequilíbrios no balanço de pagamentos, ao

mesmo tempo em que abria diversas possibilidades de valorização do capital

nacional. Por fim, a desregulamentação das relações de trabalho traria uma maior

eficiência para a indústria nacional, na medida em que reduziria os impostos,

ampliaria a produtividade do trabalho, e consequentemente, geraria mais empregos,

provocando um efeito direto sobre a renda e o consumo no país. Essas três medidas

vinham acompanhadas pela redução do papel do Estado30.

De acordo com o discurso neoliberal, a intervenção do Estado na economia

era o responsável por diversos gargalos, na medida em que alocava de forma

ineficiente os recursos na economia. Por isso, como aponta Rossetti (2007), era

necessário que as forças de mercado agissem de forma livre, permitindo que os

recursos fossem destinados para os setores nos quais possuíssem maior

potencialidade e eficiência. Ao Estado caberia a implementação de medidas que

permitissem a consolidação de um espaço interno mais propício ao desenvolvimento

das forças de mercado e dos capitais privados. Todas essas medidas foram

praticadas no Brasil pelo governo federal, desde a posse de Fernando Collor,

seguindo e ganhando força nos governos conseguintes.

Essas políticas não tardaram em mostrar seus efeitos perversos. A indústria

enfraqueceu pela concorrência internacional. Os capitais que se destinavam ao país

o faziam com vistas ou à valorização no espaço financeiro ou a aquisições de

30 BOITO (1999)

empresas, tendo pouco direcionamento na expansão da capacidade produtiva. E do

lado das relações de trabalho, a desregulamentação representou diversas perdas de

direitos adquiridos pela classe trabalhadora ao longo dos seus anos de luta,

precarizando as formas de trabalho e abrindo espaço para a ampliação do mercado

de trabalho informal, ao mesmo tempo em que a redução do papel do Estado se

expressava também na redução dos direitos sociais. Dentro da estrutura do mercado

de trabalho, essa desregulamentação representou um aumento da pressão sobre a

classe trabalhadora em seus diversos aspectos. Logo, o esforço de modernização

por meio da industrialização substitutiva – estratégia defendida por Celso Furtado31 -

ou a abertura comercial do Brasil proposto por Zélia Cardoso de Mello, foram

incapazes de tirar o Brasil (periferia) do atraso e da dependência.

O intercâmbio desigual (produtos da periferia não conseguem concorrer

internacionalmente), a ação das multinacionais (abertura comercial e concorrência

interna desleal) e a hegemonia dos países capitalistas centrais (Consenso de

Washington) produziriam um mecanismo de extração do excedente produzido na

periferia, uma modalidade internacional do conceito de exploração.

Por outro lado, como aponta Antunes (2006), a estabilização monetária e a

conseqüente supressão do movimento inflacionário, advinda com a consolidação do

Plano Real, representou ganhos em termos dos salários reais e da renda. Esses

fatos, de forma ampla, impactaram sobre o posicionamento e a representatividade

do movimento sindical. Pois é dentro desse contexto que nasce o chamado

“sindicalismo de resultado”, a partir da confluência de duas atuações sindicais que,

ademais suas trajetórias distintas, em meados da década de 1980 abraçaram o

mesmo projeto: de um lado, a tendência liderada por Luís Antônio de Medeiros,

presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo; de outro, a tendência

liderada por Antônio Rogério Magri, então presidente do Sindicato dos Eletricistas de

São Paulo32. Essa confluência deu vida a uma nova vertente do movimento sindical,

inserida de forma indistinta na onda neoliberal.

De acordo com Antunes (2006: 38-39), os pontos centrais do ideário do

“sindicalismo de resultado” passam pelo reconhecimento da vitória do capitalismo e

31 FURTADO (2007:58) 32 RODRIGUES (1997)

da inevitabilidade da lógica do mercado, a limitação e restrição da luta sindical, que

deveria restringir sua luta à busca de melhorias nas condições de trabalho, a

exclusividade da ação política aos partidos, e a redução da ação do Estado em favor

de uma política privatizante.

Esses pontos, conjuntamente a adoção de uma estratégia de recusa do

confronto direto e da busca de resultados imediatos nas ações práticas, dão o

caráter neoliberal e burguês a um tipo “novo” de prática no seio do movimento

sindical. É dentro dos preceitos do sindicalismo de resultado que é criado, em 1991,

a Força Sindical33, que viria a representar, desde o surgimento do novo sindicalismo,

uma ruptura em termos de projeto de prática sindical.

Colocando-se enquanto uma central sindical moderna e ativa, a Força

Sindical, segundo Antunes (1995:41) organizou desde o seu nascimento, suas

“lutas” não como forma de romper e se posicionar de forma adversa à política

econômica vigente, mas sim dentro da lógica neoliberal, objetivando alcançar os

ganhos possíveis para a classe trabalhadora, dentro das possibilidades limítrofes do

sistema capitalista. Nesse sentido, não se posiciona contra a política econômica, e

reconhece sua soberania; na verdade, se organiza de forma a consolidar um espaço

dentro de uma lógica política e econômica que, supostamente, estaria em disputa.

Usando desse discurso e fazendo diversas concessões, a Força Sindical conseguiu

agregar setores sindicais egressos da esquerda tradicional, além de trazer para o

espaço sindical setores que, historicamente, não se vinculavam aos sindicatos.

Com sua prática diferenciada e seu discurso fácil, a Força Sindical acabou

ganhando uma expressiva posição no cenário de lutas nacionais. Ao adotar uma

postura não conflitiva e propositiva, se mostraram como mais simpática não só ao

governo, mas também a setores sindicais que, aos poucos, se desvincularam da

CUT. Nesses termos, a nova central sindical acabou impondo uma modificação no

cenário sindical nacional que, somado à nova conjuntura econômica, acabou com os

ideais de luta combativa propostos pela CUT, impondo a essa central a necessidade

de rever suas ações, concepções e posicionamentos. Em referência ao PT, segundo

Rodrigues (1997), a Força Sindical participou e apoiou a eleição de Luiz Inácio Lula

da Silva em 2002, além de contribuir na formação do governo petista, colocando

33 Disponível em <http://www.fsindical.org.br> . Acessado em 07/06/2010

Carlos Lupi e Paulo Pereira, o “Paulinho da Força” no controle do Ministério do

Trabalho.

Atualmente, depois de seis anos de governo Lula (2003/2009), o PT, a

Central Única dos Trabalhadores (CUT), e a Força Sindical estão subordinadas ao

governo Lula. Para Antunes (2006), a Força Sindical, que nunca teve um perfil

combativo se aliou ao governo federal, e seu futuro será a gestão de um

sindicalismo mais de cúpula. Porém, o país também assiste ao ressurgimento de

centrais sindicais de esquerdas. Logo, a CUT tem procurado repensar sua relação

com o governo federal. Em dezembro de 2004, liderou a Marcha Nacional do Salário

Mínimo, cujas principais bandeiras eram a elevação do mínimo para R$ 300 e

correção em 10% da tabela do imposto de renda a partir de 2005. Alguns pontos

garantiam a unidade do movimento sindical como o papel da CUT como resistência

ao neoliberalismo. Com exceção do PSTU e sua tendência sindical, todas as demais

forças apostaram que a vitória de Lula seria uma forma de reverter esse quadro

adverso e a possibilidade para uma reforma sindical, que garantisse mais

representatividade ao movimento dos trabalhadores. As centrais sindicais se

aproximaram de Lula, que criou uma agenda pública do governo comprometida com

a redução da jornada de trabalho e com o aumento dos salários.

CONCLUSÃO

A teoria da dependência preocupa-se, fundamentalmente, com o problema do

desenvolvimento desigual e as formas com que a desigualdade se manifesta na

economia internacional. Logo os sindicatos e partidos políticos criticavam as formas

de exploração “selvagem” com que o capitalismo tem instalado no país, pois a

exploração (concentração de renda), a opressão (ditadura de 1964 a 1985),

desemprego, inflação e pobreza, fizeram com que as manifestações, promovidas

pela sociedade civil (Diretas Já, greves, movimentos contra as privatizações e

corrupção) não restringissem apenas em períodos eleitorais, mas em toda a história

recente brasileira.

A partir disso, com a vitória de Lula em 2003, o PT a CUT e a Força Sindical

foram fazendo sucessivas concessões às reformas econômico/sociais e se

encontram, hoje, defendendo uma política que concilia com o programa neoliberal

(livre-mercado, lucros bancários, superávit primário, arrocho salarial, controle da

inflação via taxa de juros elevada, etc.) adotado em grande parte pelo governo Lula.

Esse deslocamento do PT, da CUT e da Força Sindical para uma posição de

“centro-esquerda” deve-se a uma multiplicidade de fatores, de ordem nacional e

internacional, dentre os quais se destaca a força política e ideológica do

neoliberalismo no Brasil.

As transformações ocorridas no PT, que foi abandonando seu perfil inicial de

um partido de massa e se convertendo num partido mais próximo do modelo de

partido de quadros de tipo eleitoral, a crise do movimento sindicalista internacional e

aproximação da social-democracia européia, também foram determinantes para a

nova posição do PT, da CUT e da Força Sindical como centro-esquerdista. O novo

sindicalismo no Brasil, no papel da CUT e da Força Sindical, se depara agora com a

necessidade de elaborar novas formas de atuação tanto em relação ao governo

quanto nas relações entre capital e trabalho no novo momento da economia

brasileira. As reivindicações iniciais que visavam apenas melhores salários, já não

são mais suficientes devido à conjuntura nacional e internacional do país.

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