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Arch. Zootec. 59 (R): 113-131. 2010. Recibido: 25-2-10. Aceptado: 23-9-10. AMBIÊNCIA ANIMAL E AS PERDAS PRODUTIVAS NO MANEJO PRÉ-ABATE: O CASO DA AVICULTURA DE CORTE BRASILEIRA ANIMAL AMBIENCE AND PRODUCTIVE LOSSES ON THE PRESLAUGHTER HANDLING: THE BRAZILIAN POULTRY PRODUCTION CASE Silva, I.J.O. 1 * e Vieira, F.M.C. 1 1 Núcleo de Pesquisa em Ambiência (NUPEA/ESALQ-USP). Departamento de Engenharia de Biossistemas. Av. Pádua Dias, 11. Caixa postal 09. CEP: 13-418-900. Piracicaba. São Paulo. Brasil. *[email protected] REVISÃO BIBLIOGRÁFICA PALAVRAS CHAVE ADICIONAIS Abatedouro. Frangos de corte. Logística avícola. ADDITIONAL KEYWORDS Abattoir. Broiler chicken. Poultry logistics. RESUMO A evolução dos estudos sobre a ambiência na avicultura de corte tem alcançado patamares notáveis no que diz respeito às informações sobre a qualidade do ar, o ambiente térmico, acústico e lumínico nas diferentes fases de criação de frangos de corte. No entanto, pouca preocupação é dada à fase entre a retirada do animal da granja e o abate, ou seja, o manejo pré-abate, o que explica a elevada proporção de perdas produtivas nesta etapa. As informações sobre as condições ideais são escassas, principalmente conside- rando as condições climáticas críticas em regiões tropicais, como é o caso do Brasil. Consequentemente, as perdas por mortalidade pré-abate podem ultrapassar 1% ao longo do ano, resultando em grande prejuízo para todos os segmentos da cadeia avícola. Visando a redução de perdas nas operações pré-abate de frangos de corte, o levantamento de estudos e informações úteis é necessário, para que seja possível a padronização de procedimentos de manejo. O objetivo desta revisão é abordar pontos importan- tes que possam nortear a redução de perdas no manejo pré-abate da avicultura de corte, no que diz respeito aos fatores que influenciam nas perdas por mortalidade, no transporte de frangos da granja até o abatedouro, na espera no abatedouro e as principais soluções científicas desenvolvidas na ambiência e logística avícola. SUMMARY The evolution of the studies concerning ambience on poultry production has reached remarkable levels concerning information about air quality, thermal, acoustic and lightning environment in the different stages of poultry raising. However, little is known about the stage between the animal removal from farm and the slaughter, in other words, the preslaughter han- dling, which explain the high proportion of productive losses in this stage. The information about the ideal conditions is scarce, mainly considering the critical climatic conditions in tropi- cal regions, as is the case of Brazil. Thus, the preslaughter mortality losses may exceed 1% throughout the year, resulting in great economic losses for all segments of the poultry production system. Aiming the reduction of losses on poultry preslaughter operations, the survey studies and useful information is necessary, to be feasible to standardize the management procedures. The objective of this review is to address important issues that can guide the reduction of losses during preslaughter operations of poultry production, with regard to the factors that influence the mortality losses, in the poultry transport from farm to the abattoir, in the lairage stage and the main scientific solutions developed in the ambience and poultry logistics. INTRODUÇÃO Diante da evolução científica e tecnológi- ca na qual estamos inseridos atualmente, as tendências mundiais para um desenvolvimento sustentável faz com que a visão dos profissio-

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Arch. Zootec. 59 (R): 113-131. 2010.Recibido: 25-2-10. Aceptado: 23-9-10.

AMBIÊNCIA ANIMAL E AS PERDAS PRODUTIVAS NO MANEJOPRÉ-ABATE: O CASO DA AVICULTURA DE CORTE BRASILEIRA

ANIMAL AMBIENCE AND PRODUCTIVE LOSSES ON THE PRESLAUGHTER HANDLING:THE BRAZILIAN POULTRY PRODUCTION CASE

Silva, I.J.O.1* e Vieira, F.M.C.1

1Núcleo de Pesquisa em Ambiência (NUPEA/ESALQ-USP). Departamento de Engenharia de Biossistemas.Av. Pádua Dias, 11. Caixa postal 09. CEP: 13-418-900. Piracicaba. São Paulo. Brasil. *[email protected]

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

PALAVRAS CHAVE ADICIONAIS

Abatedouro. Frangos de corte. Logística avícola.

ADDITIONAL KEYWORDS

Abattoir. Broiler chicken. Poultry logistics.

RESUMO

A evolução dos estudos sobre a ambiência naavicultura de corte tem alcançado patamaresnotáveis no que diz respeito às informações sobrea qualidade do ar, o ambiente térmico, acústico elumínico nas diferentes fases de criação defrangos de corte. No entanto, pouca preocupaçãoé dada à fase entre a retirada do animal da granjae o abate, ou seja, o manejo pré-abate, o queexplica a elevada proporção de perdas produtivasnesta etapa. As informações sobre as condiçõesideais são escassas, principalmente conside-rando as condições climáticas críticas emregiões tropicais, como é o caso do Brasil.Consequentemente, as perdas por mortalidadepré-abate podem ultrapassar 1% ao longo do ano,resultando em grande prejuízo para todos ossegmentos da cadeia avícola. Visando a reduçãode perdas nas operações pré-abate de frangosde corte, o levantamento de estudos e informaçõesúteis é necessário, para que seja possível apadronização de procedimentos de manejo. Oobjetivo desta revisão é abordar pontos importan-tes que possam nortear a redução de perdas nomanejo pré-abate da avicultura de corte, no quediz respeito aos fatores que influenciam nasperdas por mortalidade, no transporte de frangosda granja até o abatedouro, na espera noabatedouro e as principais soluções científicasdesenvolvidas na ambiência e logística avícola.

SUMMARY

The evolution of the studies concerningambience on poultry production has reached

remarkable levels concerning information aboutair quality, thermal, acoustic and lightningenvironment in the different stages of poultryraising. However, little is known about the stagebetween the animal removal from farm and theslaughter, in other words, the preslaughter han-dling, which explain the high proportion ofproductive losses in this stage. The informationabout the ideal conditions is scarce, mainlyconsidering the critical climatic conditions in tropi-cal regions, as is the case of Brazil. Thus, thepreslaughter mortality losses may exceed 1%throughout the year, resulting in great economiclosses for all segments of the poultry productionsystem. Aiming the reduction of losses on poultrypreslaughter operations, the survey studies anduseful information is necessary, to be feasible tostandardize the management procedures. Theobjective of this review is to address importantissues that can guide the reduction of lossesduring preslaughter operations of poultryproduction, with regard to the factors that influencethe mortality losses, in the poultry transport fromfarm to the abattoir, in the lairage stage and themain scientific solutions developed in the ambienceand poultry logistics.

INTRODUÇÃO

Diante da evolução científica e tecnológi-ca na qual estamos inseridos atualmente, astendências mundiais para um desenvolvimentosustentável faz com que a visão dos profissio-

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nais que atuam na área de ambiência animalseja direcionada para novos horizontes.Esses novos caminhos ultrapassam asfronteiras da propriedade rural, ou empresade produção de proteína animal e focalizamas perdas produtivas ao longo de todo oprocesso produtivo.

São comuns hoje os profissionaisvoltados para o estudo da ambiência animalassociada ao conforto térmico nos ambien-tes, galpões de produção e para o bem-estardos animais nas diferentes instalações esistemas produtivos. O bem-estar animalpode ser definido como o estado de umindivíduo em relação às suas tentativas dese adaptar ao seu ambiente (Broom, 1986).Contida neste conceito, a ambiência exercegrande influência na adaptação do animalao ambiente no qual se encontra inserido.Segundo Paranhos da Costa (2000), oconceito amplo de ambiência pode ser des-crito como o meio físico e psicológico nosquais o animal realiza suas atividades. Pos-teriormente, Paranhos da Costa (2002)completou o conceito de ambiência como oestudo do ambiente que envolve o animal,englobando seu espaço físico e social etudo que está incluso neste espaço, inclu-sive nós. A ambiência também pode serdefinida como a soma dos impactos dosfatores biológicos e físicos nos animais,consistindo-se em um dos principaisresponsáveis pelo sucesso ou fracasso dosistema de produção avícola (Macari eFurlan, 2001). Nota-se que os conceitos debem-estar animal e ambiência estãoestreitamente ligados, consistindo em ele-mentos importantes dos principais proble-mas e soluções da produção animal.

Com relação à ambiência, existe umabusca ainda desenfreada de informações noque tange a qualidade do ar, ambiência tér-mica, acústica e lumínica, porém mesmoassim existe uma carência de informaçõesrelacionadas à continuidade do processoalém das unidades produtoras.

As perdas produtivas são cada vez maiscontabilizadas no sentido de reduzir os

prejuízos e conseqüentemente aumentar darentabilidade, uma vez que, os consumido-res estão cada vez mais exigentes com aqualidade do produto final. Todavia, aqualidade do produto será o próximo hori-zonte a ser alcançado, visto que sãonecessários mais atributos que possamconferir a segurança dos alimentos. Estasexigências, por sua vez, trarão mudanças ea necessidade do conhecimento dos muitospontos críticos inerentes aos processos,para que tais modificações resultem em au-mento de produtividade e numa maiorinserção do produto brasileiro no mercado.

Nesse sentido, nosso objetivo foi abor-dar a ambiência no manejo pré-abate, ouseja, no momento em que os animais estão"prontos" para o abate e são encaminhadospara os frigoríficos (no caso de aves, bovi-nos e suínos, por exemplo). Nesse casoespecificaremos o caso da aviculturabrasileira, uma vez que se trata de uma cadeiado agronegócio que emprega alto nível tec-nológico e cuja ambiência animal galga al-tos patamares de evolução com ótimos re-sultados refletidos na produção.

Uma das preocupações mais urgentesda avicultura brasileira refere-se às perdasao longo do processo produtivo. Em senti-do contrário ao crescimento do setor nomercado interno e externo, os prejuízosanuais são expressivos, ultrapassandomilhões de reais, incompatíveis com acompetitividade da avicultura neste cenário.Assim, os esforços devem ser direcionadospara a redução de perdas, visando aumentoda lucratividade do produto final, pautadono contexto atual de bem-estar animal. Aidentificação das perdas localizadas duran-te as operações pré-abate torna-se um pon-to crucial na otimização dos processos deprodução. Atrelar estes conhecimentos àredução de perdas é fundamental atualmente,pois se trata do acompanhamento deobservações técnicas das operações dochamado seguimento "manejo pré-aba-te". Enquanto várias são as pesquisasdirecionadas para o segmento de "dentro da

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porteira", pouca coisa se sabe sobre o querealmente ocorre com as aves após deixaremas granjas. Para isto, existe a necessidadede se localizar com precisão os gargalosprodutivos ao longo do processo, princi-palmente nas operações pré-abate defrangos de corte, onde o nível de informaçãoa respeito das boas práticas de manejo aindaé baixo.

Existem perguntas a cada momento rela-cionadas com o conjunto de operações nochamado "manejo pré-abate". A grandemaioria dos olhares está voltada para osproblemas relacionados aos sistemas decriação e aos 42 - 45 dias de criação dosfrangos numa granja e seus índiceszootécnicos. Ao sair da granja propriamentedita, várias são as perguntas sem respostasque encontramos para evitar as perdasnessas etapas seqüenciais. Qual a melhordensidade por caixa nos carregamentos?Qual o melhor horário de transporte emperíodos de estresse e quais os verdadeirosreflexos nas perdas mensuráveis? Como é acondição climática nas carrocerias doscaminhões transportadores? Essas perguntase mais uma série de outras, nem sempre têmuma resposta imediata com dados reais,visando à identificação pontual do proble-ma, com medidas paliativas ou preventivaspara resolvê-las.

PERDAS PRÉ-ABATE DE FRANGOSDE CORTE

De acordo com Broom (1998), o bem-estar de um animal varia de pobre a rico, bemcomo ruim a bom. Dentre os principais tiposde perdas pré-abate, tais como lesões,contusões, fraturas, alterações negativasnos parâmetros de qualidade da carne, dentreoutros, a mortalidade é o indicador maisextremo da falta de bem-estar, ou seja, amorte de algumas aves indica problemasseveros para muitas outras (Nicol e Scott,1990). O número de aves mortas é o únicoindicador que oferece às empresasintegradoras informações importantes so-

bre as condições oferecidas aos animaisdurante as operações pré-abate (Broom,1993). Segundo o mesmo autor, outros indi-cadores também podem ser utilizados, comoincidência de ossos quebrados e parâmetrosfisiológicos, como por exemplo, a tempera-tura retal. No entanto, as chamadas mortesna chegada (death on arrival - DOA) possuemmaior impacto econômico no setor e por isto,merecem maior destaque nesta discussão aseguir.

As perdas por mortalidade podemultrapassar 1%, sendo que 40% das perdassão em função do estresse térmico (Ritz,2003). O aceitável é a mortalidade por voltade 0,1 a 0,5%. No entanto, as perdas pormorte registradas na maioria dos casos seencontram acima de 0,6%. À primeira vista,uma proporção desta magnitude parece serdesprezível, diante da quantidade de avestransportadas em um caminhão (acima detrês mil aves). Entretanto, quando se consi-dera a quantidade de caminhões que chegamaos abatedouros por dia, dentro de um ano,os prejuízos tomam dimensões maiores.

Com destaque no transporte, ascondições geralmente são inaceitáveis,contribuindo efetivamente desde o aumen-to do estresse no lote até a mortalidade(Nijdam et al., 2004; Barbosa Filho, 2008;Vieira, 2008). Nicol e Scott (1990) reportaramem seus estudos que os potenciais fatorescausadores de estresse no transporteincluem desde as características térmicasdo micro clima da carga, aceleração ouvibração das caixas, impactos, velocidadedo vento, jejum e até a quebra da estruturasocial.

ORGANIZAÇÃO PARA O TRANS-PORTE

DENSIDADE DE AVES POR CAIXAA densidade de aves por caixa é decidi-

da na fase de pega e normalmente aquantidade de animais que são transporta-das no lote visa a praticidade e economia

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Figura 1. Valores médios da interação entre o número de aves por caixa e os diferentes turnos,em relação ao número de aves mortas (Vieira, 2008). (Mean values of the interaction betweenthe number of birds per cage and the different daily periods, in relation with the number of dead birds(Vieira, 2008)).

quanto ao tempo gasto pelos operadores nagranja, além da redução do número decaminhões utilizados no transporte. Variageralmente entre 5 a 10 aves por caixa e podeser que sejam adotadas diferentes densida-des dentro de um mesmo lote, em função donúmero de aves restantes no último galpãoa ser esvaziado.

Vieira (2008), analisando os dados refe-rentes à densidade de caixa num carregamentonoturno (figura 1) verificou que há umavariação na mortalidade dos animais em

diferentes faixas de densidade. Existe umlimite entre 3 a 7 aves por caixa em que amortalidade neste turno foi reduzida até amortalidade mínima nas densidades de 7aves. Nota-se que com a redução da densidade,houve um acréscimo na mortalidade. Nestasituação, a ave já apresenta troca de energiatérmica na forma de calor sensível (condução,convecção e radiação) com o ambiente,segundo Furlan e Macari (2002), e o orga-nismo dela tenta compensar através dosmecanismos de termogênese (tremor,

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vasoconstrição periférica e eriçamento daspenas), com o objetivo de diminuir atransferência da energia térmica para o meio.

Porém, acima de 8 aves por caixa, houveum pequeno incremento no número de avesmortas. A influência deste fator no bem-estar das aves refere-se à quantidade decalor produzida por elas nesta fase. Densi-dades maiores refletem em grande produçãode calor e em dias quentes, o problema setorna bem maior, pois a quantidade de caloré alta, bem como a de vapor d´água, resul-tando em aumento da umidade relativa(Delezie et al., 2007). Quando isto acontece,as aves apresentam dificuldades de trocastérmicas com o meio, aumentando o estressetérmico e conseqüentemente as perdas pormortalidade. Conforme Kettlewell (1989),quanto maior a densidade de aves por caixa,mais comprometida estará a perda de calorsensível, com exceção das aves que seencontrarem nas extremidades da carga,onde a maior ventilação desta região favo-recerá a ocorrência de menores perdas(DOA).

De forma geral, de acordo com os resul-tados de Vieira (2008) pode se dizer que emrelação às densidades elevadas (acima de 7aves por caixa), houve um acréscimo namortalidade no turno da tarde, seguido doturno da manhã e noite, devido à temperatu-ra elevada nos dois primeiros turnos, conju-gada com o efeito da umidade relativa. Nasdensidades menores (abaixo de 7 aves porcaixa), a mortalidade foi elevada no turno danoite, seguida pelo turno da tarde e peloturno da manhã, por causa do efeito daperda de calor sensível no turno da noite. Onúmero de aves mortas foi menor devido aoespaço maior para troca térmica dentro dascaixas, que favorece as aves nestes perío-dos.

Quanto aos melhores turnos para serealizar as operações pré-abate, Nijdam etal. (2004) encontraram maiores taxas demortalidade na manhã e na tarde e as meno-res perdas durante a noite, recomendando omanejo pré-abate no intervalo entre 0 e 5

horas. Quanto à densidade de aves porcaixa, Delezie et al. (2007) recomendaram umespaço ideal de aproximadamente 576 cm²por frango, o que nas medidas encontradasnas caixas adotadas no abatedouro (70 x 60cm), equivale à faixa de densidade entre 7 e8 aves por caixa. Todavia, devem-se consi-derar tais recomendações em cada turno emque o transporte foi realizado.

Sendo assim, de acordo com a literaturaavaliada, pode-se recomendar como dicaspara um melhor manejo, que as melhoresdensidades de aves por caixa relacionadascom as menores perdas em cada turno foram5 aves por caixa no turno da manhã e 7 avesno turno da tarde e durante a noite (tabelaI).

Há necessidade de maiores estudos nosentido de indicar para as empresas mane-jos adaptados a realidade das mesmas.

A ASPERSÃO DE ÁGUA ANTES DO TRANS-PORTE

Este recurso ainda é um ponto controversono meio avícola, uma vez que todos o adotamnas etapas de carregamento e poucainformação é dada a respeito deste manejo.A justificativa para a aspersão de água nacarga antes do transporte é a redução decalor no lote, favorecendo o conforto térmi-co nas horas mais quentes do dia. Noentanto, observa-se na maior parte dassituações que os operadores molham a car-

Tabela I. Valores recomendados dedensidade de aves por caixa em cada turnoe suas respectivas taxas de mortalidade (%)esperadas. (Recommended values of density ofbirds per cage for each daily period and its respec-tive expected mortality rates (%)).

Turno aves por caixa mortalidade esperada

Manhã 5 0,30Tarde 7 0,32Noite 7 0,31

(Fonte: Vieira, 2008).

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ga independente do horário e condição,seja de noite ou nos demais períodos e comisto, as perdas podem sofrer influência domau uso deste recurso.

A condição térmica básica para molhar acarga deve ser a de temperatura ambienteelevada e umidade relativa baixa. Ou seja,umidade elevada (acima de 85 %) certamentedificultará as trocas térmicas das aves, poisa evaporação da água passa a ser limitadaem função da quantidade de vapor d´água naatmosfera. Caso seja a opção a aspersão,deve-se ter muita atenção com a uniformidadede aplicação da água. Deixar a mangueiraligada em um ponto só da carga, favorecea desigualdade de umidade na carga,promovendo os chamados núcleos ou"bolsões" térmicos. O motorista ou o ope-rador desta etapa deve molhar todas aspartes igualmente, sem encharcar pontosespecíficos. No inverno ou em dias ehorários mais frios, deve ser suspensa aatividade, para não provocar estresse porfrio nas aves.

O TRANSPORTE

MICROCLIMA DA CARGAQuanto à distribuição das mortes ao

longo da carga, conforme Hunter et al.(1997), é sabido que não só as condiçõesmicroclimáticas desta afetarão o número demortes durante o transporte, visto queinjúrias pré-existentes, bem como patologias,poderão exercer influência sobre estes va-lores. No entanto, Mitchell e Kettlewell(1998), e posteriormente Hunter et al. (2001),estudaram o perfil térmico de uma carga defrangos durante o transporte e relataramheterogeneidade existente ao longo do lote,formando um núcleo térmico em diferentespontos. Isto se deve em função de algumasbarreiras existentes, como por exemplo, acabine do caminhão, o posicionamento dascaixas com a formação de uma fileiraintermediária (quando a conformação dacarga possui três fileiras longitudinais), bem

como as próprias aves no interior das caixas.A ventilação é desuniforme, tendo maisefeito nas caixas diretamente expostas aovento (as caixas de cima, na parte superiore frontal do caminhão, por exemplo) e menornas camadas do meio. Em estudo realizadorecentemente no Brasil, Barbosa Filho (2008)relatou a ocorrência destes "bolsões" tér-micos em vários pontos da carga, relaciona-dos com a menor ventilação nestes locais. Oautor ainda afirmou que a ocorrência dasmortes se deu em maior proporção na partecentral e traseira do caminhão, regiõesinadequadas sobre o ponto de vista decondições bioclimáticas. É evidente que asvariações estão correlacionadas com o pe-ríodo do ano e o turno em que esse materialfoi transportado, porém, deve-se conside-rar as variações existentes nas diferentescondições e avaliar o pior cenário. De acordocom Barbosa Filho (2008) o pior cenáriodentre vários estudados está relacionadocom a distância de deslocamento, tempo deviagem, turno em que essa viagem ocorreue em qual a época do ano. Na figura 2 éilustrado o perfil de um carregamento reali-zado no período do verão, no turno damanhã e numa distância considerada longa(>100 km).

Por meio da distribuição espacial dasvariáveis climáticas indicadas no perfil,percebe-se que a heterogeneidade passapor um processo dinâmico a cada instante ediretamente relacionadas com as condiçõesdo clima, transporte, velocidade dos ventose do veículo. Baseando-se nos diferentescenários analisados por Barbosa Filho (2008)verificam-se os principais locais de microclima mais desfavoráveis as aves numa car-ga durante o transporte. Nos estudos doautor ficou evidenciado que tanto para operíodo de inverno como no verão a regiãocentral da carga de um caminhão, ainda con-tinua sendo a de pior condição microclimáticapara as aves.

Sob esse aspecto vale ressaltar aimportância que deve ser dada a logística dedistribuição de carga viva, pois, todos os

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Figura 2. Perfis dos comportamentos da variável ambiental temperatura (MTemp.) e doÍndice Entalpia de Conforto (MH) ao longo da fileira do meio, para um cenário de verão,distância longa, turno da manhã e sem aspersão de água na carga antes do transporte(Barbosa Filho, 2008). (Profile of dry-bulb temperature (MTemp) and Enthalpy Comfort Index (MH)throughout the middle stack, for a scenario of summer, long distance, morning and without watersprinkling on the load before the broiler transport (Barbosa Filho, 2008)).

L1 M L2

Temperatura ºC

Entalpia kJ/kg ar seco

Umidadde relativa (%)

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fatores interferem na eficiência do processoe na redução das perdas nessas operações. Oque se encontra na literatura são modelos paracargas inanimadas, o que praticamente nãoapresentam o mesmo nível de complexidade.

ESTAÇÕES DO ANO E PERÍODOS DO DIAHoje em dia, com as mudanças no clima

e na distribuição térmica ao longo do ano,torna-se difícil a delimitação de estações,pois mesmo no inverno, em determinadasregiões do país, é registrada a ocorrência dedias quentes, assim como temperaturasbaixas nas meias estações ou até mesmo noverão. Porém, os transportes de frangos decorte são realizados todos os dias do ano,independente da estação, e com isto obser-va-se maior ou menor incidência de perdaspor mortalidade durante estas épocas.

No geral, as fases de verão e de primave-ra, ou os dias mais quentes do ano, oferecemas piores condições térmicas para o trans-porte. Considera-se nesta etapa, o efeito dojejum, sendo a restrita a reserva energéticadas aves para enfrentar esta situação deestresse térmico. Desta forma, a mortalidadeacima dos limites normais é comumenteobservada nesta época quente, 40% maiorem relação às demais estações (Petracci etal., 2006). Na primavera e no outono, porserem consideradas estações de transição,a preocupação quanto ao estresse térmiconão são menos importantes, visto que asflutuações térmicas são esperadas nestesmeses (Nääs et al., 2001). As mesmasconsiderações acima podem ser transpostaspara os horários quentes do dia, ou seja, dofinal da manhã até o final da tarde.

No inverno e no outono, ou mesmo emperíodos mais frios do dia, a temperatura eumidade relativa se enquadram geralmentena faixa de conforto térmico para as aves.Desta forma, espera-se uma reduzidamortalidade neste período, quando compa-rada com o verão. Mesmo assim, deve-se tera devida atenção e acompanhamento quantoà variação térmica neste período. Apesardos efeitos do inverno não terem sido evi-

dentes na pesquisa realizada por Warriss etal. (2005), Hunter et al. (1999) observaramsintomas de hipotermia severa em aves trans-portadas sob frio intenso.

DISTÂNCIA GRANJA-ABATEDOUROA distância possui grande influência na

sobrevivência das aves. Com o aumento dotrajeto, os animais ficam expostos durantemais tempo aos agentes estressores, princi-palmente às condições ambientais. Por isto,em diversos estudos têm sido observadoque quanto maior a distância de transporte,maior foi o número de aves mortas nachegada ao abatedouro (Warriss et al., 1990;Vecerek et al., 2006; Barbosa Filho, 2008;Vieira, 2008). Voslarova et al. (2007)encontraram resultados de mortalidade ele-vados em distâncias acima de 100 km, sendoque a menor proporção de aves mortas en-contrada (0,6%) foi registrada em distânciasabaixo de 50 km. Este aumento das perdasrelacionado com o aumento da distância sedeve à significativa redução da habilidadedo animal em manter o equilíbrio fisiológiconecessário para a sua adaptação ao trans-porte. No entanto, dada a dificuldade em semanter a uniformidade quanto à localizaçãodas granjas, para muitas empresas torna-seinviável a restrição da distância granja-abatedouro.

Uma tabela prática é apresentada porBarbosa Filho (2008) quanto à variação damortalidade (tabela II), de acordo com ascombinações de tempo, distância e velocidadede transporte. Porém deve-se considerarque a mortalidade das aves não dependesomente das condições observadas duran-te o transporte, outros fatores tambémpodem estar contribuir para a variaçãodestes valores.

Verifica-se um aumento da mortalidadedas aves para combinações de tempos edistâncias maiores. Conforme o exemplo doocorrido também em outras estações do anoestudadas, a combinação de maioresdistâncias, tempos de transporte com velo-cidades maiores parecem promover uma re-

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dução na mortalidade. Esta redução, porsua vez, deve ser resultante de uma maiorcirculação de ar ao longo da carga promovi-da por uma maior ventilação resultante doaumento da velocidade do caminhão.

A escolha das granjas para o transportepré-abate das aves é o primeiro fator a serdecidido e por isto possui destacadaimportância no bem-estar das aves duranteo mesmo. No entanto, a escolha deve serpautada nas condições climáticas da regiãoe no período do dia. Para isto, o responsávelpelo planejamento deve estar mais atentocom a previsão do tempo, visando àsmelhores condições para cada trajeto.

Seja nos meses mais quentes ou frios, operíodo da tarde é o mais problemático parao transporte, com relação ao estresse térmi-co das aves (Nijdam et al., 2004; Vieira,2008; Barbosa Filho et al., 2009, Simões etal., 2009). Desta forma, durante este turno,as distâncias a serem percorridas devem sermenores, ou seja, abaixo de 25 km, paraevitar a ação prolongada das variáveisambientais sob as aves. As distânciasmaiores devem ser percorridas no períododa noite e no início da manhã, pois,geralmente são períodos diários maisconfortáveis sob o ponto de vista térmico.

No entanto, durante os meses e horáriosdo dia mais frios, deve-se tomar o cuidadocom o estresse térmico por frio das avesdurante a noite e manhã, principalmente naregião da carga com maior contato com o

vento (caixas frontais e superiores da carga,por exemplo). Assim, o motorista deve estaratento quanto ao uso de lonas plásticas nestaregião da carga, evitando que o lote apresentehipotermia severa e conseqüentemente,mortalidade elevada na chegada.

QUALIDADE DAS ESTRADAS E VIBRAÇÃODA CARGA

As estradas exercem impactos consi-deráveis na carga, fato este que deve serconsiderado no planejamento de um trans-porte de frangos de corte. No caso deestradas de terra, a irregularidade das pistasoferece outra influência nas aves poucoconhecida, que é a vibração da carga.Dependendo das condições das vias detransporte, a qualidade da carcaça econseqüentemente da carne poderão estarsendo comprometidas. A quantidade desolavancos, pancadas e vibrações a que acarga estará sendo submetida poderá afetara qualidade do produto final e contribuirpara o aumento total das perdas ao longoda etapa de transporte. Sem contar aindaque quanto pior a condição da estradamaior será o tempo gasto na viagem econseqüentemente, maior será também otempo em que os animais ficarão expostosàs condições ambientais.

Alguns autores discutiram os efeitos davibração em frangos de corte. Randall et al.(1997) afirmaram que as aves normalmenteficam deitadas durante o transporte,permitindo que a vibração atue inicialmenteno peito e nos músculos da perna, sendotransmitido posteriormente para as demaispartes do corpo. No entanto, no caso dechoques bruscos em estradas irregulares,podem-se considerar danos na carcaça e naestabilidade postural nos animais. Alémdisso, outras respostas fisiológicas indicamestresse severo quando a vibração atuanegativamente no bem-estar das aves du-rante o transporte, principalmente danosmusculares e hipoglicemia (Carlisle et al.,1998). No entanto, Abeyesinghe et al. (2001)e posteriormente Garcia et al. (2008), não

Tabela II. Variação da mortalidade (+:maior e -: menor), em função das combinaçõesentre tempo, distância e velocidade de trans-porte. (Mortality variation (+: high and -: low), inrelation with the combination between time,distance and transport velocity).

+ Tempo + Distância

+ Distância + mortalidade -+ Velocidade - mortalidade - mortalidade

(Fonte: Barbosa Filho, 2008).

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SILVA E VIEIRA

encontraram evidências significativasquando analisado o efeito conjunto davibração com outros fatores de estresse,como a temperatura elevada. Isto indica anecessidade de ampliar as combinações devariáveis para se ter um quadro mais precisodo estresse das aves quando submetidas àsdiferentes vibrações.

Os motoristas talvez sejam as pessoasmais ligadas ao controle da operação de trans-porte das aves, pois são os responsáveis pelacondução dos animais ao longo do trajeto dagranja até o abatedouro. Eles deverão estarsempre atentos a tudo o que se passa coma carga que estão transportando, uma vez quese houver realmente um comprometimentocom a integridade da carga transportada issoresultará em uma melhor qualidade final doproduto que chegará ao abatedouro.

Pontos importantes que poderão serobservados pelos motoristas dos caminhõesestão relacionados com a verificação dascondições ambientais antes e durante aviagem, verificação das condições das viaspor onde deverá trafegar e observação cons-tante e periódica de toda a carga com oobjetivo de antecipar algum problema quepossa vir a ocorrer.

A ESPERA NO ABATEDOURO

A importância da espera se resume emoferecer, dentro de um espaço de tempoadequado, condições térmicas satisfatóriaspara manter o animal em conforto após otransporte e até a chegada na linha do abate.Neste contexto, a espera deve atender esteobjetivo perante as diferentes condiçõesambientais, horários do dia, da logística detransportes e do fluxo de abate. Com base nacondição climática brasileira, a preocupaçãocom o ambiente onde se encontram oscaminhões na espera é primordial, pois to-dos os cuidados nas primeiras operaçõespré-abate poderão ser perdidos se a esperano abatedouro não for adequada.

Tanto a nebulização quanto a ventilaçãodevem ser bem distribuídas ao longo da sala

de espera, com o correto acionamento dasmesmas e de forma racional, sem desperdíciode água e energia. Nota-se, na maioriados casos, que tal recomendação não épadronizada, pois pouca importância édada para esta etapa. Desta forma, observam-se salas de espera sem um bom gerenciamentode controle ambiental, outras sem nenhumrecurso e, em casos mais críticos, a esperaconsiste em manter os caminhões expostosa céu aberto, sem a preocupação com aexcessiva exposição dos mesmos àsvariáveis meteorológicas, ocasionandograndes perdas ao final do processoprodutivo.

PERDAS NA ETAPA DE ESPERA NOABATEDOURO

O objetivo de um ambiente de esperanum abatedouro consiste em prover asmelhores condições térmicas para as aves,diminuindo as chances de perda pormortalidade durante esta etapa. Isto podeser explicado pela impossibilidade do abateimediato, ou seja, a logística perfeita entre agranja e a linha de abate. Na maioria doscasos, além de eventuais problemas, comopor exemplo, falhas mecânicas na linha deabate, a saída de muitos caminhões de umamesma granja indica a necessidade demantê-los dentro da empresa, aguardando aordem de descarga das aves na linha deabate. Algumas poucas empresas ainda sepreocupam com a distância percorrida peloscaminhões, mantendo um ordenamento nachegada e saída de caminhões do galpão deespera.

No entanto, devido à escassez deinformações quanto ao tratamento ideal a serdado às aves nesta etapa, Hunter et al. (1998)afirmaram que a espera nos abatedouros temsido uma fonte potencial de estresse para osfrangos. Os mesmos autores evidenciaramque há um aumento de 10ºC no interior dacarga transportada quando o tempo de es-pera excede 2 horas em galpões com poucaclimatização. Quando comparados ambien-tes de espera com e pouca climatização, os

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galpões os quais apenas tinham ventilado-res apresentaram maiores percentagens deaves mortas (acima de 0,6%) em relação aosambientes com climatização eficiente, utili-zando ventiladores e nebulizadores (Baylisse Hinton, 1990). A partir daí, problemas maisgraves podem ocorrer, como por exemplo,hemorragia nos músculos, perdas qualitativasna carne e mortalidade (Kranen et al., 1998).Apesar de não existir uma estimativaconfiável do número de aves mortas apenasna espera, Ritz et al. (2005) informaram que40% das perdas pré-abate são ligadas aoestresse térmico, seja por frio ou calor. Estainformação assume grande importância noBrasil, onde a média de temperatura eumidade relativa ao longo do ano é elevadana maioria das regiões, em contrapartida àineficiência térmica das instalações utiliza-das na avicultura.

PONTOS CRÍTICOS NA ETAPA DE ESPERA -CONDIÇÕES CLIMÁTICAS

As variações térmicas em uma dadaregião ao longo do ano, bem como duranteos períodos do dia (manhã, tarde e noite)influenciam sobremaneira o bem-estar e oconforto das aves durante a espera noabatedouro. Bayliss e Hinton (1990), aocomparar dois tipos de galpões de espera(alta e baixa climatização), também avaliarama mortalidade dos frangos em diferentesestações do ano e encontraram percentagenspor volta de 0,56 e 0,64% para a primavera everão, respectivamente, em ambientes compouca climatização.

Quanto à influência do ambiente exter-no, a temperatura e umidade relativa eleva-da aumentam a preocupação pela adoção declimatização na fase de espera (Quinn et al.,1998; Ritz et al., 2005; Barbosa Filho, 2008;Vieira, 2008). Quando transportadas emconforto térmico (entre 15 e 22ºC), as avesnão apresentam alterações fisiológicas, aocontrário daquelas mantidas durante 2 ho-ras em caixas de transporte à 34ºC, as quaisapresentaram um aumento no nível deestresse (Aksit et al., 2006). O caminhão em

movimento proporciona uma relativaventilação, favorecendo a redução da cargatérmica no lote. No entanto, com a cargaparada durante a espera, a sensação térmicados frangos piora ainda mais, devido àprodução de calor e vapor d´água dosanimais. Segundo Kettlewell et al. (2000),um aumento na umidade relativa de 20 para80% acarreta aumento de 0,42 por hora nonúcleo térmico corporal dos animais. Istosignifica um esgotamento fisiológico inten-so, diminuindo as reservas energéticas queo animal possui para enfrentar tal situação.Se não forem tomados os devidos cuidadoscom a ambiência nesta fase de espera, ouseja, a preocupação quanto à climatizaçãobem planejada e controlada nos galpões,por exemplo, as chances de mortalidadeaumentam ao longo do tempo.

DISTÂNCIA GRANJA-ABATEDOUROA distância é outro fator que influencia

bastante na condição de espera pré-abate,pois determina a decisão a ser tomada quantoao uso da climatização, bem como aintensidade dada pelo tempo em que oscaminhões aguardam no galpão. No entanto,seu maior efeito é observado no estressefisiológico das aves, culminando no aumen-to da mortalidade durante a etapa de espera.

Conforme relatado por Bressan eBeraquet (2002), as aves apresentam umdesgaste acentuado das reservas energéti-cas nos primeiros 30 minutos de exposiçãoao estresse, também considerado comoprimeira fase de estresse. Comparativamen-te às operações pré-abate, isto se dá logoapós o carregamento na granja, onde osanimais já experimentam tipos diversos deestresse. Neste momento, a ave possui umareserva que é rapidamente consumida, cul-minando logo após numa adaptação aoestresse. Todavia, tal efeito adaptativo nãoacontece nas primeiras horas de transporte,portanto as aves são encaminhadas aoabatedouro bastante debilitadas quanto aosparâmetros qualitativos.

Vale considerar que, em muitos abate-

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douros, a rotina entre a espera e odescarregamento das caixas na linha deabate ainda demanda certo tempo, agrava-do por possíveis problemas na linha deabate ou devido ao excesso de caminhões aserem abatidos. Desta forma, boa parte dasaves pode chegar à mortalidade antes dapendura, em face da debilidade apresentadaanteriormente.

Já em distâncias maiores, as aves jápassaram pelo período mais crítico deestresse durante o transporte e o organismoativa os mecanismos de adaptação, o queretarda a implantação de um processoirreversível. Todavia, a reposição das re-servas energéticas não ocorre com oprolongamento do tempo de espera, ecom este intervalo, aumentam-se as chancesde mortalidade elevada no lote. Em ter-mos de perdas qualitativas, os autoresencontraram redução na qualidade dacarne e aumento da mortalidade emdistâncias mais longas do que em distânciasmais curtas (Warriss et al., 1992; Bressan eBeraquet, 2002; Vecerek et al., 2006; BarbosaFilho, 2008; Vieira, 2008).

TEMPO DE ESPERAO tempo de espera é um dos fatores de

maior variação nos abatedouros, com poucapadronização quanto ao intervalo de tempoideal que proporcione uma condição preci-sa de conforto térmico para os animais nosambientes de espera. Tanto o confortoquanto o estresse térmico possuem efeitodireto na qualidade do produto, quandoassociados com o fator tempo (Fraqueza etal., 1998). Sem dúvida, este é o principalfator nesta etapa que determina a eficiênciada climatização como agente de remoção decalor das aves.

Hunter et al. (1998) afirmaram que otempo em galpões de espera pode excederou igualar ao tempo gasto no transporte.Esta amplitude temporal indica a falta decontrole quanto ao tempo gasto nestaoperação. Apesar de que a ventilação foi

aplicada aos animais como medida para re-tirar calor dos mesmos, os autores indicaramque este controle depende da avaliaçãosubjetiva do controlador, portanto, combaixo nível de manejo climático.

Alguns autores demonstraram que am-bientes de maior estresse para os frangosforam aqueles que tiveram um tempo deespera menor, ou seja, nas primeiras duashoras durante dias em que a temperaturaesteve elevada, concluindo que não bastaapenas trabalhar com o tempo de esperaisoladamente. O controle ambiental énecessário para reduzir os efeitos negati-vos do ambiente externo no bem-estar dasaves (Quinn et al., 1998; Silva et al., 1998;Bressan e Beraquet, 2002; Barbosa Filho, 2008;Vieira et al., 2007; Vieira, 2008). Em contrapar-tida, outros autores não evidenciaram o mesmo,indicando que a elevada mortalidade esteveassociada com intervalos de tempo maioresde espera, isto é, os caminhões devem aguar-dar o menor tempo possível dentro dosgalpões, sendo o ideal o abate imediatodestas aves (Hunter et al., 1998; Warriss etal., 1999). No entanto, os mesmos autorespesquisaram galpões com poucos ventila-dores, o que influi diretamente no confortoe sobrevivência das aves nesta fase finalpré-abate. Ou seja, existe uma divergênciaquanto às recomendações, o que dificulta obom planejamento do manejo bioclimático edo tempo a ser adotado, durante o qual asaves serão mantidas nestes galpões.

ADEQUAÇÃO DO GALPÃO PARA A ETAPA DEESPERA

O local onde os caminhões permanecerãoestacionados antes do abate deve ofereceràs aves condições de trocas térmicas com oambiente e por isto, alguns detalhesconstrutivos devem ser observados.

O galpão deve ser climatizado para seatingir o objetivo de bem-estar e confortotérmico das aves. Para isto, a instalação delinhas de ventilação intercaladas comnebulização é importante para este fim,

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sendo estas distribuídas uniformemente(teto e pilares do galpão), visando dentro dopossível climatizar igualmente todas ascaixas. Deve também possuir espaço paratodos os caminhões e normalmente estadeterminação é feita de acordo com o fluxode abate da empresa e com o tempo médio deespera a ser adotado. A caixa d'água queabastece o sistema de nebulização deveráser protegida de incidência direta de raiossolares. A proteção lateral contra radiaçãosolar direta deve ser feita por meio de telasdo tipo sombrite e o material de cobertura dogalpão deve permitir a reflexão destes raiosvisando a redução da carga térmica do am-biente (figura 3).

Conjuntamente com todos estes fatores,a programação de manejo é essencial, sendonecessária a elaboração de um roteiro deações a serem tomadas, disponíveis aos ope-radores do galpão, com o objetivo de sistema-tizar a informação e torná-la conhecida para

todos os envolvidos nesta atividade. Acomunicação é muito importante, para faci-litar a tomada rápida de decisão, no caso deproblemas e atrasos ao longo das demaisoperações pré-abate.

MANEJO E CONTROLE DA CLIMATIZAÇÃO NOGALPÃO DE ESPERA

Os principais fatores bioclimáticos aserem observados fora e dentro de umgalpão de espera consistem na temperaturae umidade relativa. Visando o controledestas variáveis, a instalação de umtermohigrômetro é necessária para oacompanhamento periódico da condiçãotérmica dos ambientes. Este equipamentoconsiste em um medidor conjunto de tempe-ratura e umidade relativa, de fácil observaçãoe registro. Atualmente no mercado, existemdiversos tipos destes aparelhos, desdetermômetros de mercúrio (bulbo seco eúmido), incluindo também os automáticos

Figura 3. Exemplo de um galpão de espera de um abatedouro comercial de frangos de corte.(Vieira, 2008). (An example of a holding area in a commercial broiler slaughterhouse (Vieira, 2008)).

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Figura 4. Interação entre o tempo de espera no abatedouro e as faixas de temperatura, emrelação ao número de aves mortas, onde Curto: abaixo de 1 hora, Moderado: 1 - 2 horas,Médio: 2 - 3 horas, Alto: acima de 3 horas, e as faixas de temperatura: Conforto: abaixo de21°C; Alerta: 22 - 24°C; Crítica: 25 - 28°C; Letal: acima de 28°C (Vieira, 2008). (Interactionbetween lairage time at the slaughterhouse and the temperature ranges, in relation to the number of deadbirds, which Curto: lower than 1 hour, Moderado: from 1 to 2 hours, Médio: from 2 to 3 hours, Alto: higherthan 3 hours, and the temperature ranges: Conforto: lower than 21°C, Alerta: from 22 to 24°C, Crítica:from 25 - 28°C, Letal: higher than 28°C (Vieira, 2008)).

Tempo de espera

Curto Moderado Médio Alto

(data loggers), cuja aquisição de dados éprogramável dentro do intervalo de tempoque se deseja obter os dados.

A localização do termohigrômetro deveser feita com bastante critério, evitandoassim coletas de dados que não representemo ambiente. Dadas as dimensões do galpãode espera, o ideal é que tenha um em cadalateral do galpão, bem como no centro geomé-

trico do mesmo, à altura do meio da carga,para que toda a área seja bem amostrada,visando uma avaliação completa do local. Aleitura deve ser feita periodicamente, depreferência de hora em hora, permitindo oacionamento e desligamento da ventilaçãoe nebulização. Nesta função, o operadordeve ser treinado adequadamente, para queele tenha o discernimento de avaliar a

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situação e conduzir ações que auxiliem noconforto térmico das aves.

A ASPERSÃO DE ÁGUA DURANTE O DESCAN-SO NO FRIGORÍFICO

O mesmo problema ocasionado durantea etapa de carregamento das aves tambématinge a fase de espera no abatedouro, ouseja, a falta de informação a respeito dascondições ideais para se efetuar a aspersãode água na carga. Mesmo com o galpãoclimatizado, observa-se a atividade sendorealizada sem critérios, tanto nos horáriosquentes, quanto naqueles onde a tempera-tura está abaixo do limite de conforto dasaves. Além do gasto desnecessário de água,o resultado disto é a elevada mortalidadedurante esta etapa nos horários mais frios,devido à falta de controle quanto àclimatização do galpão de espera.

Para contornar este problema, o opera-dor deve estar atento às condiçõesambientais as quais as aves são submetidas,fora ou dentro do galpão de espera. Aaspersão de água deverá ser realizadoquando a umidade relativa do ar estiverabaixo de 50% e com a temperatura elevada.Fora deste intervalo, o controle adequadodos ventiladores e nebulizadores são sufi-cientes para atender as exigências térmicasdos animais nestas condições. No invernoou em dias e horários mais frios, deve sersuspensa a atividade, para não provocarestresse por frio nas aves (Barbosa Filho,2008; Vieira, 2008).

A distribuição de água também é outrofator importante, devendo ser feito atenta-mente a aspersão de água uniforme ao longoda carga, sem manter a mangueira ligadadurante muito tempo em poucos pontos,evitando aves excessivamente molhadas,dificultado as trocas térmicas, e outraspraticamente secas, mantendo o estressetérmico prolongado.

O CONTROLE DO TEMPO DE ESPERAPara cada fator influente na proporção

de aves mortas antes do abate, como por

exemplo, temperatura externa ao galpão edistância granja-abatedouro, existe umarecomendação quanto ao tempo de espera.Cabe à empresa escolher qual destas variáveispossui o maior peso na mortalidade. Em pes-quisa recente realizada por Vieira (2008),foram analisadas com detalhes as relaçõesentre os fatores envolvidos nas operaçõespré-abate com o tempo de espera.

Em relação à temperatura externa, quantomaior os valores ao longo do dia e do ano,maior a necessidade do tempo de esperapara as aves, desde que o ambiente sejadevidamente climatizado (ventiladores,nebulizadores e ocasionalmente a aspersãode água) (figura 4).

Com o passar do tempo, os efeitos daclimatização chegam às aves ao longo dacarga, possibilitando às mesmas a perda decalor para um ambiente mais confortável.Além disso, quanto mais quente o ambienteexterno, os animais se tornam cada vez maissensíveis à mudança benéfica de condiçãoambiental, possibilitando menores chancesde mortalidade no lote. Intervalos de tempode espera menores devem ser adotadosquando as temperaturas se encontram maisamenas ou até mesmo baixas, devido aorisco de estresse por frio, o que ocasionaráaumento na mortalidade ao longo do tempo.

Quanto às diferentes distâncias entre asgranjas e o abatedouro, os maiores percursos(acima de 51 km) estão relacionados com apermanência curta no galpão de espera (fi-gura 5).

Como as aves já ultrapassaram a primeirafase de estresse, conforme relatada porBressan e Beraquet (2002), os animais aochegarem ao abatedouro já passaram àirreversibilidade do quadro de estresse, emfunção do esgotamento das reservas ener-géticas. Com isto, se tornam insensíveis aotratamento climático dado na espera pré-abate e quanto maior o tempo aumenta-se onúmero de aves mortas no caminhão. Nestecaso, recomenda-se o menor tempo possívelentre a chegada do caminhão ao abatedouroe a linha de abate (abaixo de 2 horas). Para

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SILVA E VIEIRA

Núm

ero

de m

orte

s

Tempo de espera

Curto Moderado Médio Alto

Figura 5. Valores médios da interação entre a distância granja-abatedouro e os diferentesintervalos de tempo de espera, em relação ao número de aves mortas, sendo intervalos detempo de espera: Curto: menor que 1 hora, Moderado: 1 - 2 horas, Médio: 2 - 3 horas, Alto:acima de 3 horas e faixas de distância: Longe: acima de 51 km; Médio: 25 - 50 km; Perto:abaixo de 24 km (Fonte: Vieira, 2008). (Mean values of the interaction between distance from farmto the slaughterhouse and the different lairage time ranges, in relation to the number of dead birds, withthe following lairage time ranges: Curto: lower than 1 hour, Moderado: from 1 to 2 hours, Médio: from2 to 3 hours, Alto: higher than 3 hours and the distance ranges: Longe: higher than 51 km; Médio: from25 to 50 km; Perto: lower than 24 km (Vieira, 2008)).

distâncias menores (abaixo de 24 km), asaves ainda se encontram em condições dereversão do quadro de estresse e destaforma, as aves respondem efetivamente aosefeitos da climatização. Portanto, paratrajetos menores, intervalos de tempo acimade 3 horas auxiliam na redução de perdas pormortalidade (tabela III).

No geral, considerando conjuntamente

todos os fatores que influem nas perdas pré-abate e relacionando os mesmos com o tempode espera a ser adotado, a recomendação visan-do esta redução de perdas é de 2 horas de espera,variando entre 1 e 3 horas. Este intervalo detempo abrange os benefícios promovidos pelaclimatização no galpão de espera econseqüentemente, o retorno parcial ou totalà condição de conforto térmico das aves.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em função dos dados apresentadosneste texto, verifica-se que a ambiência pré-abate está associada a novos paradigmasinclusive com a "Logística de distribuição"de cargas vivas, o que ainda hoje é umproblema para os profissionais que atuamem administração de empresas e engenhariade produção.

O entendimento da ambiência como fatorde redução de mortalidade de animais ebem-estar animal até a fase final daexploração é um assunto ainda incipiente

cuja necessidade de novos estudos deveráem futuro próximo definir toda a logística dedistribuição entre empresas integradoras egranjas integradas. Em função da região dopaís e das condições climáticas regionaispoderão por meio de ferramentas computa-cionais reduzirem os índices de perdas loca-lizadas nessas etapas com tomadas dedecisão mais eficiente. Deve-se considerartambém que esse raciocínio estende-se paraoutras cadeias produtivas como a suino-cultura, bovinocultura dentre outras.

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Tabela III . Valores recomendados do tempo de espera em distância granja-abatedouro esuas respectivas taxas de mortalidade esperadas. (Recommended values of lairage time in relationto distance between farm and slaughterhouse and its respective expected mortality rates (%)).

Distância Tempo de espera (faixas) % mortalidade esperada

Longe (acima de 51 km) Moderado (entre 1 e 2 horas) 0,41Médio (entre 25 e 50 km) Curto (abaixo de 1 hora) 0,12Perto (abaixo de 24 km) Alto (acima de 3 horas) 0,41

(Fonte: Vieira, 2008).

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