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AMBIENTES INFORMATIZADOS DE ENSINO: QUESTÕES EM ABERTO JAQSON DALBOSCO Passo Fundo 2006

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AMBIENTES INFORMATIZADOS DE ENSINO: QUESTÕES EM ABERTO

JAQSON DALBOSCO

Passo Fundo

2006

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Jaqson Dalbosco

AMBIENTES INFORMATIZADOS DE ENSINO: QUESTÕES EM ABERTO

Dissertação apresentada ao curso de pós-graduação em Educação, da Faculdade de Educação, da Universidade de Passo Fundo, como requisito parcial e final para a obtenção do grau de Mestre em Educação, tendo como orientador o professor Dr. Edemilson Jorge Ramos Brandão.

Passo Fundo

2006

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__________________________________________________________ D137a Dalbosco, Jaqson

Ambientes informatizados de ensino : questões em aberto / Jaqson Dalbosco. – 2006.

123 f. : il. ; 29 cm.

Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade de Passo Fundo, 2006.

Orientação: Dr. Edemilson Jorge Ramos Brandão. 1. Uso do computador na educação. 2. Tecnologia

educacional. 3. Estratégias didáticas. I. Brandão, Edemilson Jorge Ramos,Jorge Ramos, orientador. II. Título.

CDU: 37:004 __________________________________________________________ Catalogação: bibliotecário Alexandre Chow – CRB 10/1681

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Dedico este trabalho à minha esposa Lilian, companheira para todas as horas, sempre compreensiva ao abdicar de momentos em que poderíamos estar juntos para dedicar-me ao desenvolvimento deste trabalho e que sempre me incentivou para que eu pudesse continuar.

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Não poderia ter realizado este trabalho sem o apoio e incentivo recebido de diversas pessoas, das quais não poderia deixar de lembrar nesse momento. Gostaria de iniciar manifestando meu agradecimento em especial à minha esposa Lilian e à minha família, sobretudo aos meus pais Ivo Dalbosco e Maria Marlene Dalbosco, que sempre me incentivaram a estudar, oportunizando que chegasse até aqui. Estendo os agradecimentos aos professores do curso do mestrado em Educação da Universidade de Passo Fundo, pelo aprendizado que foi oportunizado, e, em especial, ao professor Dr. Edemilson Jorge Ramos Brandão, meu orientador, pelo apoio, compreensão e incentivo durante o desenvolvimento deste trabalho. Não citarei nomes por receio de esquecer de alguém, mas agradeço aos amigos, colegas e a todos aqueles que de alguma forma me auxiliaram nesta trajetória e também a Deus, que sempre esteve olhando por mim nesta caminhada.

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RESUMO

Este trabalho aborda questões relacionadas ao uso da informática na educação,

buscando conhecer que possibilidades educacionais estão sendo proporcionadas pelos

recentes avanços tecnológicos que configuram os ambientes informatizados de ensino.

Busca-se a compreensão dos elementos envolvidos na apropriação desses recursos pelos

professores e como essa apropriação contribui para que os alunos construam seus percursos

de aprendizagem de forma crítica, criativa e interativa. Evidenciam-se algumas das

principais concepções pedagógicas associadas à prática docente, buscando identificar no

contexto tecnológico atual quais são as possíveis formas de uso da informática no ambiente

escolar que permitam aos professores se apropriar dessas tecnologias educacionais como

aliadas no processo de ensino-aprendizagem de acordo com a sua concepção pedagógica.

A metodologia utilizada compreende uma investigação bibliográfica, uma análise analítica

exploratória e uma reflexão buscando compreender, junto a professores que atuam em

ambientes informatizados de ensino nas escolas da região de Passo Fundo, como estão se

apropriando desses recursos tecnológicos em suas atividades diárias e que estratégias

didáticas estão sendo utilizadas na transposição e construção do saber escolar com o uso

das novas tecnologias. A pesquisa aponta para a importância da preparação dos professores

na definição de estratégias didáticas adequadas às tecnologias utilizadas, permitindo que os

conteúdos curriculares sejam transpostos para os ambientes informatizados de forma a

potencializar e qualificar o ensino.

Palavras-chave: informática na educação; ambientes informatizados de ensino;

tecnologias educacionais; estratégias didáticas.

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ABSTRACT

This work approaches questions related to the use of computer science in the

education, searching to know that educational possibilities are being proportionate for the

recent technological advances that configure education environments with the use of

computers. It searches understand the involved elements in the appropriation of these

resources for the professors and as this appropriation contributes so that students construct

its passages of learning of critical, creative and interactive form. Some of the main

pedagogical conceptions are proven associated to the professor practical, searching to

identify in the current technological context which are the possible forms of computer use

in the school environment that permit to professors appropriate these educational

technologies as allied in the teach-learning process in accordance with its pedagogical

conception. The methodology used understands a bibliographical inquiry, an analytical

exploratory analysis and a reflection searching to understand, together the professors who

acts in computerized education environments in the schools of Passo Fundo region, as they

are appropriating of these technological resources in its daily activities and that didactic

strategies are being used in the transposition and construction of scholar knowing with the

use of the new technologies. The research points to the importance of professors

preparation in the definition of adjusted didactic strategies to the used technologies,

allowing that the curricular contents are transposed for computerized environments of form

to increase the potential and quality the education.

Keywords: computer science in the education; computerized environments of

learning; educational technologies; didactic strategies.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Relação triádica .............................................................................................. 33

Figura 2 - Software simulador de motor elétrico .............................................................. 54

Figura 3 - Jogos Educacionais ......................................................................................... 56

Figura 4 - Comunicação Síncrona.................................................................................... 67

Figura 5 - Chat................................................................................................................ 68

Figura 6 - Software ICQ .................................................................................................. 68

Figura 7 - Comunicação Assíncrona ................................................................................ 69

Figura 8 - Comunicação entre grupos de usuários............................................................ 70

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CAI: Instrução Assistida por Computador

CD-ROM: Disco ótico que armazena informações

CMC: Comunicação Mediada por Computador

CPM: Círculo de Pais e Mestres

DVD-ROM: Disco ótico com grande capacidade de armazenamento de informações

EAD: Educação a Distância

EJA: Educação de Jovens e Adultos

GESAC: Governo Eletrônico Serviço de Atendimento ao Cidadão

HTML: Linguagem de Marcação de Texto

IA: Inteligência Artificial

ICAI: Instrução Inteligente Assistida por Computador

ITS: Sistemas Tutores Inteligentes

LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC: Ministério da Educação

NTE: Núcleo de Tecnologia Educacional

NTIC: Novas Tecnologias de Informação e Comunicação

RV: Realidade Virtual

STI: Sistemas Tutores Inteligentes

TE: Tecnologia Educacional

TI: Tutores Inteligentes

TIC: Tecnologias da Informação e Comunicação

WWW: World Wide Web

ZPD: Zona de Desenvolvimento Proximal

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................. 11 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 16

1.1 O behaviorismo de Skinner..................................................................................... 16

1.2 A abordagem construtivista de Piaget ..................................................................... 20

1.3 A abordagem socioconstrutivista de Vygotsky........................................................ 23

1.4 Outras teorias relacionadas ..................................................................................... 31

2 AMBIENTES INFORMATIZADOS DE ENSINO .................................................. 37 2.1 O professor e a informática no contexto escolar ...................................................... 41

2.2 O uso pedagógico do computador ........................................................................... 43

2.2.1 Instrução assistida por computador ............................................................... 46

2.2.2 STI - Sistemas Tutores Inteligentes............................................................... 48

2.2.3 Software educacional .................................................................................... 50

2.2.4 Simulações ................................................................................................... 53

2.2.5 Jogos educacionais........................................................................................ 55

2.2.6 Comunicação em ambientes virtuais ............................................................. 57

2.3 Internet e suas potencialidades didático-pedagógicas .............................................. 58

2.3.1 Navegar na internet ....................................................................................... 63

2.3.2 Pesquisa na internet ...................................................................................... 64

2.3.3 Comunicação na internet............................................................................... 67

2.3.4 Novas possibilidades da internet para a educação.......................................... 71

2.4 Educação a distância............................................................................................... 74

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.............................................................. 78 3.1 Coleta de dados ...................................................................................................... 79

3.1.1 Entrevista...................................................................................................... 80

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3.1.2 Observação participante................................................................................ 82

3.2 Apresentação e análise dos dados............................................................................ 83

3.2.1 A instrumentalização das escolas .................................................................. 84

3.2.2 A apropriação dos recursos tecnológicos pelos professores ........................... 89

3.2.3 O uso de software educacional ...................................................................... 97

3.2.4 O uso da internet..........................................................................................103

3.2.5 A atuação do professor.................................................................................106

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................116 REFERÊNCIAS...........................................................................................................119

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INTRODUÇÃO

Quando se reflete sobre os rumos da educação nos dias de hoje e se analisa o

contexto tecnológico onde as pessoas estão inseridas, contexto esse que começa a dar

forma a chamada sociedade da informação, facilmente se percebe que se vivencia um

período histórico caracterizado pela profunda valorização da informação e pela constante

oferta de soluções tecnológicas como base para o desenvolvimento humano nas mais

variadas áreas do conhecimento.

O avanço tecnológico ocorrido nos últimos anos proporciona uma realidade em que

a apropriação das tecnologias1 é imprescindível para qualquer atividade. Assim, o que se

percebe no contexto atual é uma crescente necessidade de mudança e de atualização

profissional, levando a que as pessoas optem por usufruir cada vez mais das facilidades

oferecidas pela tecnologia em seus afazeres.

Ao pensar a educação nesse contexto, é evidente a necessidade de que as atividades

ligadas ao processo de ensino-aprendizagem acompanhem tais mudanças. Atualmente, é

importante que as escolas não excluam a tecnologia de seu ambiente, e, sim, busquem

nelas elementos que contribuam para melhorar a qualidade da educação, através de uma

apropriação pedagógica desses recursos. Nesse sentido, é fundamental que o sistema

educacional como um todo leve em consideração em suas práticas diárias as possibilidades

de mediação2 oferecidas pela tecnologia, que, se devidamente apropriada pela escola, pode

oportunizar experiências significativas tanto para os professores quanto para os alunos.

Para muitos estudiosos, os avanços ocorridos com as tecnologias de informação e

1 Conjunto de conhecimentos, especialmente princípios científicos, que se aplicam a um determinado ramo de atividade. É tudo o que, não lhe sendo “natural”, o ser humano inventa para aumentar sua força física; estender seus poderes de locomoção; ampliar sua capacidade sensorial; facilitar seu trabalho; simplificar sua vida, ou simplesmente, obter prazer. 2 Mediação, em termos genéricos, é o processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação; a relação deixa, então, de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento (OLIVEIRA, 1997, p.25).

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comunicação3 estão oportunizando a configuração de verdadeiros ambientes

informatizados de ensino4 nas escolas. Tais ambientes facilitam processos e geram uma

enorme gama de possibilidades no âmbito educacional, que vão muito além de uma

simples ferramenta auxiliar do professor na busca de soluções para problemas do seu dia-a-

dia, na medida em que oferecem alto grau de interatividade e de comunicação entre as

pessoas.

Diante de todos os avanços oferecidos pelas tecnologias atuais encontra-se o

professor, que precisa conviver com essas inovações, porém muitas vezes não foi

devidamente preparado para enfrentar a complexa utilização desses recursos no ambiente

escolar, pela diversidade de ferramentas disponíveis e pela falta de orientação sobre como

se apropriar dessa tecnologia em prol das suas atividades. É facilmente percebível na

literatura que a utilização do computador, aliado ao uso desses ambientes, oferece ao

professor um recurso didático-pedagógico com fortes características inovadoras. Todavia,

é importante refletir sobre até que ponto a utilização dessa tecnologia está sendo feita de

forma a contribuir significativamente para a realização de objetivos educacionais.

Apesar de toda a potencialidade oferecida pelas novas tecnologias, ainda é comum

encontrar resistência quanto à aplicação dessas tecnologias no âmbito educacional por

parte de muitos docentes, até mesmo em nível universitário. Para outros professores, o que

se espera de todos esses recursos que atualmente invadem as escolas é que se adaptem as

suas propostas de ensino. No entanto, existem professores que se empenham em criar

estratégias para uso dos recursos que dispõem em suas práticas, sendo criativos ao

apropriarem-se das tecnologias para o uso em suas práticas, proporcionando ambientes

informatizados de ensino mais colaborativos, com características tais que estimulem no

aluno o desafio, a curiosidade, a resolução de problemas e a interatividade.

É importante levar em consideração que estamos vivenciando uma época em que,

apesar do alto nível de exclusão social e digital, o computador ocupa cada vez mais

espaços nas residências, proporcionando diferenciais em relação a outras tecnologias,

como o rádio e a televisão, por apresentar grande capacidade de interagir diretamente com

o usuário. Jogos eletrônicos, por exemplo, utilizam gráficos em terceira dimensão, sons

digitais e recursos de inteligência artificial, os quais, combinados, criam ambientes virtuais

3 Tecnologias associadas ao uso do computador e suas aplicações, da internet e da telemática. Tecnologias utilizadas para tratamento, organização e disseminação de informações. Pode-se utilizar a abreviação TIC. 4 Entende-se como ambientes informatizados de ensino todo espaço no interior da escola provido de recursos que favoreçam os processos didático-pedagógicos, que podem ser construídos através de vários elementos (hardware e software), que vão desde equipamentos de multimídia, internet a softwares educacionais, recursos de realidade virtual e sistemas tutores inteligentes.

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que simulam a realidade, criam novos espaços de aprendizagem e permitem alto grau de

interação entre homem-máquina.

Tendo em vista os inúmeros recursos atualmente oferecidos pelas novas

tecnologias, que envolvem desde softwares educacionais, ferramentas de acesso, pesquisa

e comunicação via internet até hardwares específicos para o ensino, os ambientes

educacionais tornam-se cada vez mais informatizados, conduzindo a que os professores se

sintam quase que obrigados a se apropriar desses recursos, de forma a atender aos seus

interesses e aos de seus alunos. No entanto, é preciso ressaltar que esses recursos só têm

sentido para a educação quando inseridos num contexto pedagógico com objetivos e

estratégias didáticas bem elaboradas.

Percebemos que nem sempre o professor encontra uma aplicação que se adapte aos

seus interesses e, tampouco, aos dos seus alunos. Muitos sentem, inclusive, a necessidade

de desenvolver seus próprios ambientes, construindo home-pages e elaborando softwares

educacionais multimídia com os recursos de que dispõem, o que torna a tarefa ainda mais

difícil, pois nem sempre possuem um nível de conhecimento na área, que facilite o

manuseio de ferramentas de desenvolvimento e o domínio de técnicas avançadas de

programação5.

A necessidade de produzir ambientes de ensino informatizados e tecnicamente bem

qualificados torna imprescindível o domínio de técnicas sofisticadas de desenvolvimento

de software, o que para a maioria dos professores representa um desgaste desnecessário,

uma vez que o seu objetivo não é dominar todas as complexas técnicas de programação, e,

sim, apropriar-se dos recursos presentes nesses ambientes tecnológicos para qualificar suas

atividades, sem deixar de lado a qualidade do ensino6.

Os problemas enfrentados pelos professores no processo de desenvolvimento e

autoria de softwares educacionais ou aplicações para a web iniciam pela capacitação

tecnológica, pois muitos, por não terem um conhecimento aprofundado na área de

informática e por não dominarem os programas e as ferramentas necessárias para a

construção de softwares e aplicações para Internet, sentem-se impedidos de poderem

produzir materiais próprios, de acordo com as necessidades específicas para a sua atividade

5 A maioria das linguagens e ambientes de programação disponíveis no mercado atualmente não é direcionada aos professores, mas, sim, a programadores experientes, levando o professor a criar aplicações limitadas ou utilizar outras ferramentas que apresentem uma interface mais amigável e muitas vezes limitada em relação ao uso de recursos computacionais mais avançados 6 Se tomarmos como exemplo a construção de ambientes computacionais que contemplem o aprendizado cooperativo, é indispensável a utilização de diferentes mídias e ambientes de programação e sistemas multiusuários e todos os recursos de rede para permitir o intercâmbio assíncrono e síncrono das informações entre o grupo. Esses recursos exigem um grande conhecimento específico de ferramentas, linguagem de programação, redes e protocolos de comunicação.

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docente7. Devido às complexidades envolvidas na autoria de softwares para o uso

educacional, normalmente essa atividade é atribuída a programadores e especialistas em

computação, no entanto, deixar essa tarefa somente sob a responsabilidade desses

profissionais, sem o envolvimento de profissionais da área da educação para apoiar com o

conhecimento pedagógico e na definição de estratégias didáticas adequadas ao conteúdo a

ser trabalhado, pode conduzir ao uso bastante reduzido do potencial pedagógico dos

recursos computacionais.

Outros fatores a serem considerados são: como o professor pode transpor os

conteúdos para um ambiente educacional informatizado? O professor está preparado para

criar seus próprios ambientes informatizados de ensino com as funcionalidades oferecidas

pela tecnologia? Quais as estratégias didáticas que o professor utiliza para se apropriar

desses recursos em suas atividades didáticas? Como equacionar questões relacionadas aos

custos e à disponibilidade de tempo para o planejamento e a implementação de projetos ad-

hoc?

Este trabalho pretende discutir questões relacionadas ao uso da informática na

educação, procurando identificar como a tecnologia, que já vem beneficiando setores

importantes da atividade humana, está sendo aplicada no âmbito educacional. Busca-se a

compreensão dos elementos envolvidos na apropriação desses recursos pelos professores e

como essa apropriação contribui para que os alunos construam seus percursos de

aprendizagem de forma crítica, criativa e interativa, procurando-se observar na ação

docente, as teorias de aprendizagem que alicerçam essas práticas e que estratégias didáticas

estão sendo utilizadas pelos professores na transposição e construção do saber escolar em

ambientes informatizados de ensino.

Apresenta como objetivos específicos: a) identificar de que forma as novas

tecnologias estão sendo apropriadas pelos professores em suas práticas pedagógicas e que

recursos estão sendo disponibilizados nas escolas para que estes docentes possam

desenvolver atividades em ambientes informatizados de ensino; b) analisar, a partir de

depoimentos e falas de professores, a operacionalidade dos ambientes informatizados de

ensino presentes nas escolas da região de Passo Fundo, buscando identificar elementos que

os tornem mais adequados às atividades conduzidas por esses professores; c) investigar

sobre as principais necessidades e dificuldades que os professores encontram ao fazer uso

de recursos informatizados em suas atividades diárias; d) identificar as principais

7 Estudar e dominar princípios de engenharia e qualidade de software, banco de dados, lógica de programação, redes de computadores, sistemas operacionais, entre outros necessários para se desenvolver ambientes informatizados de ensino, realmente não é uma tarefa fácil.

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estratégias didáticas utilizadas pelos professores nestes ambientes com vistas à

transposição de conteúdos curriculares.

O texto final desta dissertação está estruturado em quatro capítulos. O primeiro

capítulo sintetiza os fundamentos teóricos relacionados à utilização de tecnologias da

informação e da comunicação no processo ensino-aprendizagem, com destaque para o

behaviorismo de Skinner, a abordagem construtivista de Piaget e a socioconstrutivista de

Vygotsky. Também apresenta outras teorias, como a teoria das inteligências múltiplas de

Gardner e a semiótica de Pierce, tendo em vista a sua contribuição para a construção e uso

de ambientes informatizados de ensino nas escolas.

O segundo capítulo contempla a análise dos principais recursos tecnológicos e

ferramentas que atualmente são utilizados em ambientes informatizados de ensino, a fim

de identificar formas de utilização desses recursos pelas escolas e possíveis estratégias que

podem ser adotadas pelos professores na transposição e construção dos conteúdos

curriculares.

No terceiro capítulo apresenta-se o caminho metodológico adotado na condução

desta pesquisa, destacando os principais elementos que a caracterizam como uma pesquisa

de tipo exploratória e analisando a presença das variáveis estabelecidas e da sua

caracterização qualitativa, conforme sugere Köche (1997, p. 126). Por fim, no quarto

capítulo são expostos os resultados da pesquisa e as considerações finais obtidas ao longo

de todo o processo investigativo.

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1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Com a evolução e inserção das tecnologias de informação e comunicação nos mais

diversos segmentos da sociedade, inclusive nas escolas, as contribuições desses recursos ao

processo de ensino-aprendizado estão diretamente relacionadas às propostas didático-

pedagógicas de quem os utiliza para fins educacionais. Assim, é de grande importância a

compreensão das teorias de aprendizagem que embasam o uso e a implementação de

ambientes informatizados na escola, por permitirem detectar elementos fundamentais que

levam a identificar e avaliar as estratégias que fundamentam a ação pedagógica nesses

espaços.

Este capítulo pretende apresentar as principais teorias educacionais pertinentes à

discussão em torno da introdução de tecnologias em educação, visando levantar subsídios

que fundamentem o uso de uma ampla gama de recursos tecnológicos presentes nas

escolas, que configuram verdadeiros ambientes informatizados de ensino nas múltiplas

formas de transpor e gerar conhecimentos.

1.1 O behaviorismo de Skinner

Busca-se através do estudo sobre o behaviorismo encontrar algumas explicações

sobre aspectos do comportamento humano e, especialmente, sobre como esse

comportamento é influenciado pelo uso de tecnologias e ambientes informatizados de

ensino.

No início do século XX, o psicólogo americano John B. Watson fundou o

behaviorismo, um ramo objetivo e experimental das ciências naturais voltado ao estudo do

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comportamento. Na perspectiva de Watson, comportamento é sempre uma resposta do

organismo humano ou animal a um estímulo presente no meio ambiente (OLIVEIRA,

2001, p.18-19). Para esse pesquisador, o comportamento deveria ser estudado em função

de certas variáveis do meio. Certos estímulos levam o organismo a dar determinadas

respostas, o que ocorre porque os organismos se ajustam aos seus ambientes por meio de

equipamentos hereditários e pela formação de hábitos. (BOCK, 1999, p.45).

Após Watson, o mais importante psicólogo da corrente behaviorista foi B.F.

Skinner (1904-1990), cujas idéias têm influenciado muitos psicólogos americanos e de

vários países onde a psicologia americana tem grande penetração, como o Brasil. O

behaviorismo de Skinner ficou conhecido como “behaviorismo radical”, termo cunhado

pelo próprio Skinner em 1945 para designar uma filosofia da ciência do comportamento

(que ele se propôs a defender) por meio da análise experimental do comportamento.

Segundo Skinner (1999, p. 16-20), o behaviorismo metódico, como foi proposto

inicialmente por Watson, privilegia o ambiente perante o desenvolvimento biológico;

enquanto ciência do comportamento, visa medir, comparar, testar, experimentar, prever e

controlar os comportamentos; busca explicar os comportamentos observáveis do sujeito,

desprezando os aspectos afetivos e emocionais (desejo, fantasia, etc.). Já o behaviorismo

radical adota uma linha diferente: “não nega a possibilidade de auto-observação ou do

auto-conhecimento ou sua possível utilidade, mas questiona a natureza daquilo que é

sentido ou observado e, portanto, conhecido”. A base da corrente skinneriana está na

formulação do comportamento operante.

O behaviorismo de Skinner procurou estudar o comportamento, razão por que foi

denominado “análise experimental do comportamento”, cuja base essencial foi a utilização

de reforços como condição para controle do comportamento humano, através de prêmios,

abonos e outros mecanismos. Adotado nas escolas, notas, diplomas, elogios, prêmios,

castigos, entre outros, assumiram a função de regular o comportamento do aluno como

condição para a aprendizagem (OLIVEIRA, 2001, p. 19). Segundo o autor,

[...] ressalta-se na perspectiva behaviorista a redução do comportamento aos seus aspectos observáveis, descartando-se toda a atividade mental que não seja decorrente de sensações e percepções extraídas do meio. Ficam de fora conseqüentemente as funções psicológicas superiores, ou seja, aquelas que envolvem as ações voluntárias provenientes da consciência, como a capacidade de planejar, a visão retrospectiva, prospectiva e antecipadora de dados, entre outras. (OLIVEIRA, 2001, p. 21).

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Ao pensar sobre o uso de tecnologias educacionais baseadas na teoria behaviorista,

é possível identificar que, antes mesmo do uso das tecnologias computacionais no ensino,

já eram utilizadas no meio educacional como uma tecnologia decorrente do paradigma

psicológico behaviorista, o que foi definido por Skinner como “máquinas de ensinar”.

Essas máquinas permitiam à criança responder a uma questão movendo um ou mais

cursores, pressionando ou girando botões. Se a resposta estivesse certa, o botão giraria com

facilidade, ou poderia fazer piscar uma luz, ou fazer funcionar algum outro reforçador

condicionado; se a resposta estivesse errada, poderia ativar outro dispositivo sem dar a

resposta certa. Ao escolher uma resposta correta, o aluno era encaminhado para outra

questão, produzindo seqüências de simples transações de ensino. Cada interação era

iniciada pela máquina, disparando questões geralmente do tipo múltipla escolha

(SKINNER, 1972, p. 21).

Ao utilizar essas ferramentas, o aluno poderia aprender pouco a pouco, encontrando

as respostas corretas, que davam um prêmio imediato e encaminhavam para a interação

seguinte, seguindo uma seqüência linear para o domínio do conhecimento. Esse tipo de

solução está presente atualmente em muitos ambientes informatizados de ensino

construídos aplicando o paradigma baseado em estímulo-resposta.

As mais conhecidas aplicações educacionais do trabalho de Skinner são, sem

dúvida, as máquinas de ensinar, construídas com base na instrução programada1. Existem

várias espécies de máquinas de ensinar, no entanto, embora seu custo e sua complexidade

variem consideravelmente, a maioria das máquinas executa funções semelhantes. Para

Skinner (1972, p. 22-23), as máquinas de ensinar apresentam várias vantagens em

comparação a outros métodos:

[...] o professor pode facilmente supervisionar toda uma classe trabalhando com estes aparelhos ao mesmo tempo e, no entanto, cada criança progride no seu próprio ritmo, completando tantos problemas quantos lhe for possível durante a hora de aula. Se a criança tiver de, por qualquer razão, abandonar a sala, pode, ao voltar, continuar de onde parou. [...] o aparelho permite a apresentação de um material cuidadosamente planejado, no qual cada problema dependerá da resposta ao anterior e onde, por isso, é possível fazer progresso contínuo até a aquisição de um repertório complexo. (SKINNER, 1972, p. 23).

1 A instrução programada consiste em dividir o material a ser ensinado em pequenas partes logicamente encadeadas, denominados “módulos”. Cada conceito é apresentado em módulos seqüenciais; cada módulo, por sua vez, termina com uma questão que o aluno deve responder preenchendo os espaços em branco ou escolhendo a resposta entre diversas alternativas apresentadas.

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Skinner (1972, p. 27-28) ainda chama a atenção para o uso de recursos

audiovisuais2, que suplementam e podem, mesmo, suplantar aulas, demonstrações e livros

didáticos. Em muitos aspectos, diz Skinner, é como um professor particular, no sentido de

haver constante intercâmbio entre o programa e o estudante, porém chama a atenção

quanto a um real perigo de que fique totalmente negligenciado se o uso do equipamento

destinado a simplesmente apresentar as matérias se tornar generalizado, tratando o aluno

como um receptor passivo de informação. Nesse sentido, o equipamento deve encorajar a

participação ativa do estudante no processo educacional.

Outro fator importante é apontado por Skinner (1972, p. 31). Se o que se sabe sobre

a aquisição e a manutenção do comportamento verbal tiver de ser aplicado, uma máquina

de ensinar apropriada deverá ter características importantes, de modo que o aluno possa

compor respostas em vez de escolher entre alternativas.

Segundo Palangana (1998, p. 17), “o behaviorismo negligencia a capacidade de

simbolização humana, tal como esta se manifesta no comportamento intelectual,

emocional, lingüístico, etc.”, pois privilegia as condições exógenas, acreditando que o

conhecimento é o resultado direto da experiência. Os psicólogos behavioristas centraram

suas pesquisas no produto da aprendizagem, buscando leis gerais que servissem para

descrever, mensurar e controlar o comportamento.

Apesar das limitações apresentadas pelo behaviorismo, ao pensar em sua aplicação

em ambientes informatizados de ensino, não se pode negar o seu valor histórico,

principalmente pela inserção da tecnologia nos processos de ensino, com o uso das

máquinas de ensinar propostas por Skinner. Todavia, com a evolução tecnológica ocorrida

nos últimos anos, nota-se que a potencialidade de aplicação de estratégias didáticas e

interações em ambientes de aprendizagem vai além do que é proposto pelas teorias

behavioristas, proporcionando ambientes informatizados de ensino mais adequados ao

contexto atual.

No entanto, o que se percebe é que o potencial que as novas tecnologias oferecem

nem sempre é aplicado de forma adequada, o que é reforçado por Rabello quando pondera

que,

2 Associa som e imagem no processo de comunicação ou de ensino;

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[...] embasado em leituras de diferentes autores, percebi o quanto os recursos tecnológicos estão sendo subutilizados em educação, como um todo, e, de modo especial, na educação infantil; Isso ocorre porque não se incorporam na maioria dos projetos de softwares utilizados no ambiente escolar tecnologias que geram uma nova dinâmica ao processo didático-pedagógico, como, por exemplo, a realidade virtual e a própria inteligência artificial, que ao longo de vários anos vem tendo grande aceitação em outras áreas de atuação onde a presença de um público infantil também é muito grande, como a do entretenimento (RABELLO, 2004).

Como se pode perceber na literatura, muito antes de os recursos computacionais

serem aplicados à educação, a tecnologia já estava sendo utilizada para auxílio nos

processos de ensino e aprendizagem, isso com base em princípios pedagógicos e

tecnologias de cada época. Apesar de as tecnologias terem evoluído muito, atualmente

ainda se percebe a presença desses princípios em diversos ambientes informatizados de

ensino, que são desenvolvidos seguindo a mesma concepção metodológica behaviorista

utilizada nas máquinas de ensinar, cuja principal característica é conduzir o aprendiz a um

objetivo determinado dentro de uma lógica linear, seqüencial e com baixo nível de

interatividade, no caso dos programas de informação, tutoriais e de exercício e prática.

1.2 A abordagem construtivista de Piaget

Na teoria construtivista, as estruturas do pensamento, do julgamento e da

argumentação dos sujeitos não são impostas às crianças de fora, como acontece no

behaviorismo, nem são consideradas inatas, como se fossem uma dádiva da natureza.

Piaget defende a concepção de que tais estruturas do pensamento, julgamento e da

argumentação são o resultado de uma construção realizada por parte da criança em longas

etapas de reflexão, de remanejamento (GROSSI, 1999, p. 27).

Nesta teoria, pode-se dizer que o conhecimento não pode ser concebido como algo

predeterminado desde o nascimento, nem como o resultado do simples registro de

percepções e informações, mas como resultado das ações e interações do sujeito com o

ambiente onde vive, enfatizando a idéia de que a aprendizagem é uma construção que vai

sendo elaborada desde a infância, através de interações do sujeito com os objetos que

procura conhecer. Nas palavras de Piaget, na obra o Nascimento da inteligência na criança

(1987, p. 386),

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[...] as relações entre o sujeito e o seu meio consistem numa interação radical, de modo tal que a consciência não começa pelo conhecimento dos objetos nem pela atividade do sujeito, mas por um estado indiferenciado; e é desse estado que derivam dois movimentos complementares, um de incorporação das coisas ao sujeito, o outro de acomodação às próprias coisas.

Conforme Palangana (1998, p. 23), Piaget especifica quatro fatores como sendo

responsáveis pela psicogênese do intelecto infantil: o fator biológico, particularmente o

crescimento orgânico e a maturação do sistema nervoso; o exercício e a experiência física,

adquiridos na ação empreendida sobre os objetos; as interações e transmissões sociais, que

se dão basicamente através da linguagem e da educação, e o fator de equilibração das

ações, que desempenha um papel extremamente importante no processo de

desenvolvimento. Piaget explica que o desenvolvimento individual se dá em razão de

atividades múltiplas em seus aspectos de exercício, de experiência e de ação, dentre outros,

e que a coordenação dessas ações pressupõe um sistema de auto-regulação ou equilibração

que dependerá das circunstâncias tanto quanto das potencialidades epigenéticas3.

Na medida em que as estruturas intelectuais disponíveis apresentam-se

insuficientes, ocorrem contradições ou discrepâncias em seu conhecimento atual, o

desequilíbrio, levando essas estruturas a se adaptar às novas circunstâncias, indo em

direção a um estado superior e mais complexo de equilíbrio, o que Piaget denomina de

“equilibração majorante”. É por meio desse processo interminável de desequilíbrios e

novas equilibrações superiores que, no entender de Piaget, ocorrem a construção e

progressão do conhecimento.

De acordo com a concepção piagetiana, o desenvolvimento cognitivo compreende

quatro estágios ou períodos, cada um definindo um momento do desenvolvimento como

um todo, ao longo do qual a criança constrói determinadas estruturas cognitivas. Vejam-se

os quatro períodos (NEVES, 2000, p. 26; PALANGANA, 1998, p. 24-29):

Sensório-motor: do nascimento aos dois anos. Neste estágio, a criança representa o

mundo em termos de ações (sugar, olhar, deixar cair, etc.);

Pré-operacional: dos dois aos sete anos, a criança lida com imagens concretas e é

limitada por problemas de concretude, irreversibilidade, egocentrismo e centralização;

Operações concretas: dos sete aos doze anos, a criança tem a capacidade recém

adquirida de operar mentalmente, ou de mudar uma situação concreta, e de realizar

operações lógicas sem apresentar os problemas do estágio anterior;

3 Teoria segundo a qual a constituição dos seres se inicia a partir da célula sem estrutura e se faz mediante sucessiva formação e adição de novas partes que previamente não existiam.

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Operações formais: dos doze anos em diante, inicia-se uma progressiva

capacidade mais refinada para executar operações mentais, não apenas com objetos

concretos, mas também com símbolos. A criança desenvolve a capacidade de pensar em

termos de hipóteses e possibilidades, começando a aparecer o raciocínio científico em sua

forma sistemática.

Segundo Neves, a implantação da abordagem construtivista nas escolas deu-se na

década de 1980. Nesse contexto, o pólo decisório dos processos de aprendizagem, estava

na criança, não no professor, sendo o objetivo do professor favorecer a descoberta

individual, não mais determinar a velocidade e a forma de construção do conhecimento

para o estudante, pois, segundo o construtivismo, as estruturas de pensar, julgar e

argumentar resultam de um trabalho permanente de reflexão e remontagem das percepções

que a criança tem, agindo sobre o mundo físico e interagindo com outras pessoas no

mundo social.

Segundo Grossi, para trabalhar numa linha construtivista, não se pode abrir mão do

seguinte fundamento:

O pressuposto que Piaget e muitos psicólogos dessa tradição construtivista fazem é que o ser humano tem uma pré-disponibilidade para pensar, para julgar, com bases racionais, ou seja, o ser humano é dotado de uma faculdade da mente que se desenvolve nos mais diferentes contextos, mas se calca essencialmente na razão. O homem é um ser com pré-disponibilidade para o emocional, mas é um ser racional. (GROSSI, 1999, p. 27)

Seguir uma linha construtivista corresponde a desenvolver o potencial da criança,

através de uma construção que vise levar essa competência a patamares mais elevados,

como o pensar logicamente, julgar o certo e o errado, argumentar com outros, num esforço

de reciprocidade, de transmissão de idéias e de compreensão do que o outro diz. Portanto,

ambientes informatizados de ensino que sigam uma teoria construtivista do conhecimento

devem permitir ao aluno um alto grau de interatividade, propiciando interfaces que

permitam a criação de representações virtuais, de modo que o estudante possa não apenas

tomar decisões, mas, também, manipular, vivenciar, participar, experimentar.

Para Azenha (1995, p. 23), a construção gradativa do conhecimento ou do conjunto

de significados que constituem a entidade psicológica é resultante do ativo esforço do

homem para atribuir significados na sua interação com o mundo e compreender os objetos

que constituem o contexto para a interação humana, entendendo-se como objeto de

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conhecimento tudo o que possa ser alvo da atenção humana. Essa interação com os objetos

de conhecimento através de ambientes informatizados está cada vez mais atrativa e

dinâmica, em virtude do grande avanço nas tecnologias de computação e comunicação; do

desenvolvimento de interfaces cada vez mais poderosas, permitindo a construção de

ambientes informatizados nos quais os alunos podem imergir em sistemas altamente

atrativos e interativos, possibilitando a colaboração e o aprender-fazendo.

O construtivismo na educação é uma forma teórica que reúne as várias tendências

atuais do pensamento educacional, principalmente ao considerar a introdução das

tecnologias e a criação de ambientes de educação informatizados e a distância, concebendo

que a educação deve ser um processo de construção de conhecimento. Entretanto, ainda há

autores que propõem a união da teoria construtivista e comportamentalista na elaboração

de ambientes informatizados de ensino, justificando que os alunos podem aprender um

conjunto de termos e informações muito bem estruturadas através do comportamentalismo,

ao passo que recursos construtivistas ajudam-nos a lidar com problemas reais por caminhos

que os habilitem resolver problemas.

Nesse sentido, projetos de softwares tutoriais, inerentemente comportamentalistas,

podem agregar aspectos construtivistas, tais como permitir que o aluno decida por qual

caminho seguir, favorecer experiências e conhecimento, dando-lhe chance de ver exemplos

ou trazer problemas do mundo real para serem resolvidos.

Ainda, outras tecnologias computacionais não lineares, como a multimídia,

realidade virtual, inteligência artificial e hipertextos, podem ser utilizadas na criação de

ambientes informatizados para ensino e aprendizado seguindo uma linha construtivista,

permitindo aos estudantes escolher a velocidade com que constroem o seu conhecimento e

também como querem explorar as informações fornecidas pelo ambiente, de acordo com o

seu interesse.

1.3 A abordagem socioconstrutivista de Vygotsky

Ao analisar a abordagem socioconstrutivista proposta por Vygotwky, busca-se

identificar informações relevantes que permitam avaliar o uso da informática no processo

de ensino-aprendizado e no desenvolvimento do indivíduo e as contribuições que essas

tecnologias oferecem ao processo educacional como um todo nos legados de Vygotsky,

mais especificamente, os que se referem às relações entre aprendizado e desenvolvimento.

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Vygotsky, mesmo tendo vivido somente até os 37 anos, deixou um grande número

de estudos, cujo foco de análise é o desenvolvimento do indivíduo e da espécie humana

como resultado de um processo sócio-histórico4. Vygotsky defende que as características

tipicamente humanas não estão presentes desde o nascimento do indivíduo, nem são meros

resultados das pressões do meio externo, mas resultam da interação dialética do homem e o

seu meio social. Para ele, quando o homem modifica o ambiente através de seu próprio

comportamento, essa modificação vai influenciar no seu comportamento futuro, da mesma

forma como as funções psicológicas especificamente humanas se originam nas relações do

indivíduo e seus contextos cultural e social.

Tanto para Piaget como para Vygotsky, o desenvolvimento do indivíduo não

implica somente mudanças quantitativas, mas, também, transformações qualitativas do

pensamento. Ambos reconhecem o papel da relação ente o indivíduo e a sociedade, porém

em Vygotsky é essa relação que determina o desenvolvimento do indivíduo. Assim,

segundo as idéias vygotskyanas, o desenvolvimento humano é produto das interações

entre o indivíduo que aprende e os agentes interlocutores da cultura, que, entre outros,

podem ser a família e, no âmbito escolar, o professor.

Nesse contexto, pode-se introduzir a utilização de ambientes informatizados como

aliados no desenvolvimento humano através da interação das crianças com poderosos

mediadores simbólicos, que podem representar a própria relação social, fazendo o papel

dos membros mais experientes da cultura. Assim, tais recursos educativos devem ser

ajustados à linguagem dos alunos, o que determina a necessidade de serem avaliados

segundo padrões vistos não somente do ponto de vista do nível de cognição e do valor do

feedback, mas segundo seus padrões culturais; podem assumir uma participação como

tutor, para desenvolver os conhecimentos e as habilidades do aprendiz, entregando-lhe,

cada vez mais o controle das operações à medida que ele assume maior responsabilidade

cognitiva sobre a gestão da atividade, propiciando a interiorização gradual dos

procedimentos e do conhecimento envolvido no seu processo de desenvolvimento.

Segundo Vygotsky, no processo de desenvolvimento, a criança começa utilizando

as mesmas formas de comportamento que outras pessoas inicialmente utilizaram com ela,

porque, desde os primeiros dias de vida, as atividades da criança adquirem um significado

próprio num sistema de comportamento social, retratadas através de seu ambiente humano,

que a auxilia a atender aos seus objetivos. Esse processo vai envolver comunicação, ou

seja, fala. 4 Das linhas de estudo tratadas por Vygotsky, esta seção dará ênfase, apenas, às funções psicológicas superiores e às relações entre o desenvolvimento e a aprendizagem.

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Vygotsky trata da ligação entre percepção e atenção à fala e o uso de instrumentos,

declarando que “a fala introduz mudanças qualitativas” na percepção e na atenção.

Segundo ele, a relação entre o uso de instrumentos e a fala afeta várias funções

psicológicas, em particular a percepção, as operações sensório-motoras e a atenção, cada

uma das quais é parte de um sistema dinâmico de comportamento.

Para Vygotsky o papel da linguagem na percepção é surpreendente e, mesmo nos

estágios mais precoces do desenvolvimento, linguagem e percepção estão ligadas. Um

aspecto especial da percepção humana é a percepção de objetos reais, entendendo que o

mundo não é visto simplesmente em cor e forma, mas também como um mundo com

sentido e significado, no qual um objeto qualquer não é visto pela sua forma e aparência,

mas pelo seu significado. A percepção é parte de um sistema dinâmico de comportamento;

por isso, as relações entre as transformações dos processos perceptivos e as transformações

em outras atividades intelectuais são de fundamental importância.

Ao abordar a questão da fala no processo de desenvolvimento associado ao uso de

ambientes informatizados de ensino, pode-se identificar a importância do uso da

multimídia para a concepção de uma ferramenta educativa. Se forem inclusos os recursos

de som, imagens e vídeo, aliados aos recursos de transmissão e de rede, é possível criar

estratégias de alta interatividade utilizando a fala como meio de comunicação entre os

alunos e professores, propiciando ambientes com alto grau de cooperação, permitindo

conversas simultâneas, além da visualização de imagens e de vídeo em tempo real,

incentivando o uso da linguagem e despertando as características de percepção no aluno.

Ao utilizar recursos como inteligência artificial e algoritmos de simulação num

ambiente informatizado, é possível reproduzir ambientes imaginários ou micromundos,

propiciando aos alunos a representação mental com modelos conceituais como metáforas e

mapas, permitindo o uso da similaridade de um processo conhecido para ensinar um

processo desconhecido.

Essa forma de aplicação dos recursos computacionais contribui para a criação de

um sistema de signos, o que, para Vygotsky, é base para a reestruturação do processo

psicológico, rompendo com a barreira entre o campo sensorial e o sistema motor, tornando

possível novos tipos de comportamento. Esses se deslocam da percepção direta para o

controle das funções simbólicas, causando uma ruptura entre o comportamento primitivo

dos animais e para as atividades intelectuais superiores dos seres humanos, despertando

uma das grandes funções da estrutura psicológica, a atenção, que, segundo Vygotsky,

embasa o uso de instrumentos.

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A capacidade de obter sucesso ou não sobre qualquer operação prática depende da

atenção. Nesse sentido, uma boa interface num ambiente educacional informatizado pode

ser decisiva no que se refere a manter a atenção do usuário dentro do contexto estudado. A

criação de uma interface que implemente recursos como reconhecimento de voz permite

uma interação homem-máquina na qual, com o auxílio da função indicativa das palavras, o

aluno pode interagir com o ambiente e começar a dominar sua atenção, criando centros

estruturais novos dentro da situação percebida.

Segundo Vygotsky, a criança, por meio da fala, pode, além de reorganizar o campo

visual-espacial, criar um campo temporal que pode ser tão perceptivo e real quanto o

visual. Dessa forma, a criança que fala tem a capacidade de dirigir sua atenção de uma

maneira dinâmica, podendo mudar sua situação imediata baseada em experiência passadas

e nas perspectivas de futuro. O campo de atenção da criança engloba não uma, mas a

totalidade das séries de campos perceptivos potenciais que formam estruturas dinâmicas e

sucessivas ao longo do tempo.

A utilização de recursos de banco de dados aliados à capacidade de processamento

de informações permite que esses ambientes informatizados armazenem informações, sons,

vídeos e imagens que possam ser relevantes para o desenvolvimento do aluno. Isso pode

ser associado a outra idéia de Vygotsky, que é a possibilidade de combinar elementos dos

campos visuais presente e passado num único campo de atenção, o que leva à reconstrução

básica de uma outra função fundamental, a memória.

A memória da criança não somente torna disponíveis fragmentos do passado como

se transforma num novo método de unir elementos da experiência passada com o presente.

O estudo comparativo da memória humana revela que, mesmo nos estágios mais

primitivos do desenvolvimento social, existem dois tipos fundamentalmente diferentes de

memória. Uma delas, dominante no comportamento de povos iletrados, caracteriza-se pela

impressão não mediada de materiais, pela retenção das experiências reais como a base dos

traços mnemônicos (de memória), conhecida como “memória natural”. (VIGOTSKY,

1998, p.52). No entanto, a memória natural não é o único tipo encontrado, pois coexistem

com ela outros tipos de memória, pertencentes a linhas de desenvolvimento completamente

diferentes.

O uso de estímulos artificiais, ou signos, como formas de memória, o que

atualmente pode ser facilitado com o uso dos recursos computacionais, leva o ser humano

para além dos limites das funções psicológicas impostas pela natureza, através de

atividades que permitam modificar a estrutura psicológica de processo de memória,

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estendendo as operações de memória para além das dimensões biológicas do sistema

nervoso humano e evidenciando, assim, um comportamento inteiramente novo.

Vygotsky defende também a idéia de que a característica de mediação se faz

presente em toda a atividade humana e que os instrumentos técnicos e os signos,

construídos historicamente, são os responsáveis pela mediação dos seres humanos entre si

e deles com o mundo, dando um destaque especial à linguagem, por ser um signo mediador

por excelência.

Baseado nas contribuições obtidas de Vygotsky, atualmente pode-se considerar os

ambientes informatizados como mediadores no processo de ensino-aprendizado, podendo

serem adotados como uma forma contemporânea de se aplicar os conceitos defendidos por

Vygotsky no que diz respeito às funções psicológicas superiores no processo de

desenvolvimento das crianças, contribuindo, assim, para a criação de ambientes de ensino-

aprendizado inovadores, que permitam a cada indivíduo poder se desenvolver de acordo

com suas capacidades.

Vygostsky, em seu livro A formação social da mente, chama nossa atenção para um

fato empiricamente estabelecido e bem conhecido: a questão de que o aprendizado deve ser

combinado de algum modo com o nível de desenvolvimento da criança, isto é, não

acontecerá a aprendizagem se a criança não estiver num estágio de desenvolvimento em

que isso possa ocorrer. Diz também que não podemos nos limitar meramente à

determinação de níveis de desenvolvimento se o que pretendemos é descobrir as relações

reais entre o processo de desenvolvimento e a capacidade de aprendizado. Assim,

Vygotsky procura determinar pelo menos dois níveis de desenvolvimento, conforme

apresentado a seguir.

Nível de desenvolvimento real: Referente às conquistas que já estão consolidadas

na criança, que ela já aprendeu e domina; indica os processos mentais da criança que já se

estabeleceram, as funções já amadurecidas. Ao determinar o nível de desenvolvimento

mental de uma criança usando testes, estamos quase sempre tratando do nível de

desenvolvimento real, considerando que nos estudos sobre o desenvolvimento mental das

crianças admite-se que só é indicativo de capacidade mental aquilo que elas conseguem

fazer por si mesmas. Isso significa que são capazes de lidar, de forma independente, com

as tarefas até o grau de dificuldade que foi padronizado para a sua idade.

Nível de desenvolvimento potencial: Referente àquilo que a criança só é capaz de

fazer mediante a ajuda de outra pessoa (adulto ou outra criança). Segundo Vygotsky, ao

estudar o nível de desenvolvimento potencial, constatou-se que a capacidade de crianças

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com o mesmo nível de desenvolvimento mental, aprendendo sob a orientação de um

professor, variava enormemente, o que tornou evidente que não tinham o mesmo nível de

desenvolvimento mental e que o curso subseqüente de seu aprendizado seria obviamente

diferente. Essa diferença foi batizada por Vygotsky de “zona de desenvolvimento

proximal” (ZDP).

ZDP: A constatação de um segundo nível de desenvolvimento possibilitou a

Vygotsky cunhar o conceito de ZDP, decorrente da percepção de diferenças na resolução

de problemas entre crianças que, aparentemente, apresentavam os mesmos níveis de

desenvolvimento. A ZDP localiza-se entre o primeiro e o segundo nível. Segundo

Vygotsky,

[...] é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. Define aquelas funções que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão em estado embrionário (1998, p. 112).

Vygotsky afirma ainda que o estado de desenvolvimento mental de uma criança só

pode ser determinado se forem revelados os seus dois níveis - o nível de desenvolvimento

real e a zona de desenvolvimento proximal - e que aquilo que é zona de desenvolvimento

proximal hoje será o nível de desenvolvimento real amanhã.

Nos últimos quinze meses de sua vida, Vygotsky utilizou o conceito de ZDP em

diferentes contextos, sendo um deles, que se faz relevante para este estudo, a criação da

ZDP através do jogo. Nesse sentido, jogar assume o mesmo status que o processo

ensino/aprendizagem na interdependência com o desenvolvimento humano, uma vez que a

criança vivencia papéis sociais que se encontram muito além de suas possibilidades.

Outro fator importante a destacar é a capacidade de imitação, que constitui o

principal mecanismo do desenvolvimento. Quando a criança imita alguém, ela está agindo

de forma superior às suas condições reais de atuação, fato que remete imediatamente à

noção de ZDP.

Com base nos estudos de Vygotsky, pode-se perceber que, ao utilizar recursos

tecnológicos num ambiente educacional, é necessário considerar a maneira como isso está

sendo feito na condução do aprendizado, considerando os níveis de desenvolvimento das

crianças que farão uso desses ambientes. Outro aspecto importante que deve ser levado em

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consideração é saber se esses ambientes informatizados serão usados apenas para reforçar

estágios de desenvolvimento já superados ou para instigar a criança a alcançar um novo

estágio no seu desenvolvimento. Também é importante ressaltar, quanto à maneira como

esses recursos instigam a criança a desenvolver seu potencial, se respeitam as diferenças de

aprendizado, se estimulam as habilidades da criança e, acima de tudo, se oferecem

situações para que ela possa utilizar seus conhecimentos já estabelecidos para a solução de

problemas, ajudando-a a atingir um novo estágio de seu desenvolvimento.

Ao analisar o processo de aprendizagem e desenvolvimento a partir do uso de

ambientes informatizados nos processos pedagógicos, destaca-se uma concepção

importante da teoria de Vygotsky, que é o conceito de ZDP. A intervenção constante nessa

zona por indivíduos mais experientes contribui para o desenvolvimento dos indivíduos

ainda imaturos. Podemos associar a esse processo o uso de recursos computacionais,

permitindo a apropriação de novas formas de mediação e novos signos. Nesse sentido, os

ambientes informatizados podem dispor de softwares que proporcionem situações

imaginárias, com regras implícitas, fazendo, a partir de sua interface, o papel de mediador,

oferecendo situações nas quais experiências podem ser passadas de forma lúdica e atraente,

o que auxilia no desenvolvimento do indivíduo pelo fato de atuar diretamente na ZDP.

Portanto, percebe-se que na perspectiva de Vygotsky, para um software atuar na

ZDP, é preciso assistir o aluno proporcionando-lhe apoio e recursos, de modo que ele seja

capaz de aplicar um nível de conhecimento mais elevado do que lhe seria possível sem

ajuda. Com base nas teorias de Vygotsky, pode-se perceber que, ao utilizar um ambiente

informatizado de ensino, é necessário considerar a maneira como os programas estão sendo

utilizados para conduzir o aprendizado, considerando os níveis de desenvolvimento das

crianças que deles farão uso.

Vygotsky afirma que são ineficazes, em termos de desenvolvimento, as

aprendizagens orientadas para níveis que já foram atingidos, porque não apontam para um

novo estágio no processo de desenvolvimento. Portanto, o uso eficiente desses ambientes

informatizados não se dá no sentido de reforçar estágios de desenvolvimento já superados,

que foi chamado por Vygotsky como “nível de desenvolvimento real”, mas, sim, no nível

de desenvolvimento potencial, visando instigar o aluno a alcançar um novo estágio no seu

desenvolvimento.

Entretanto, a maneira como esses softwares levam a criança a desenvolver seu

potencial também é um fator importante a ser considerado, como: se respeitam as

diferentes maneiras de aprendizado, se estimulam as habilidades da criança e, acima de

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tudo, se oferecem situações para que possam utilizar seus novos conhecimentos para a

solução de novos problemas.

Ao relacionar as idéias de Vygotsky com o uso de ambientes informatizados de

ensino, pode-se salientar a necessidade de possuírem elementos para auxiliar os estudantes

a partir do nível de conhecimento real e que, pela interação com o software ou com outras

pessoas, levem o aluno à superação desse nível, chegando à ZDP. Esta representa a

diferença entre o que o aprendiz pode fazer individualmente e aquilo que só é capaz de

atingir com a ajuda de pessoas mais experientes, como o professor, ou em colaboração com

outros aprendizes mais aptos na matéria, ou também, a um software.

Percebe-se que as teorias de Vygotsky sobre a relação

aprendizado/desenvolvimento apresentam uma relação muito íntima com a utilização de

ambientes informatizados de ensino. Dessa forma, com base nelas é possível estabelecer

critérios para a produção e utilização de ambientes informatizados que venham a auxiliar

no processo de ensino-aprendizagem, desde que aplicados dentro de um contexto que

desfrute de estratégias didáticas adequadas, visando instigar a atenção, a percepção e a

memória, auxiliando no desenvolvimento das funções psicológicas superiores dos alunos.

Quanto ao aprendizado e desenvolvimento com o uso de ambientes informatizados de

ensino, observou-se que, ao aplicá-los considerando o conceito da ZDP, é possível

estimular o desenvolvimento cognitivo, permitindo a manipulação através de programas

computacionais de um conhecimento mais elevado do que aquele que cada aprendiz

poderia manipular sem o auxílio deste recurso.

Fica claro, com base nas teorias vygotskyanas, que é válida a utilização dos

ambientes informatizados, desde que estes proporcionem aos aprendizes acesso a uma

exploração dinâmica, permitindo-lhes assumir o controle sobre os acontecimentos e

escolher a seqüência das operações envolvidas; que instiguem a iniciativa do aprendiz,

sempre oferecendo recursos que lhe permitam desenvolver sua capacidade de invenção e

resolução de problemas, auxiliando-o no desenvolvimento cognitivo do aluno. Verifica-se,

então, que as teorias de Vygotsky sobre a relação aprendizado/desenvolvimento

apresentam grande contribuição para a reflexão sobre a utilização dos recursos

computacionais no ambiente educacional, embora tenham sido ponderadas num período

em que a informática ainda não se fazia presente.

Vale ressaltar que é de responsabilidade do professor a adequada utilização das

novas tecnologias como instrumentos mediadores, buscando despertar no aluno a reflexão

e auxiliando-o no estabelecimento de relações; proporcionando ambientes informatizados

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de ensino flexíveis, que respeitem o nível de desenvolvimento individual de cada aluno,

permitindo que o aprendizado e o desenvolvimento aconteçam dentro do que foi definido

por Vygotsky como ZDP.

1.4 Outras teorias relacionadas

Ao buscar obter um embasamento teórico para este trabalho, que permita

estabelecer uma relação entre as práticas pedagógicas dos professores e a criação e uso dos

ambientes informatizados de ensino, outras teorias apresentaram-se pertinentes ao processo

de apropriação da tecnologia para o uso educacional.

É o caso da “teoria das inteligências múltiplas” de Howard Gardner, que caracteriza

o ser humano como possuidor de múltiplas inteligências, ou um espectro de competências

manifestadas pela inteligência, e muito tem contribuído para o processo educacional.

Defende Gardner que essas competências estão presentes no indivíduo e se manifestam

com maior ou menor intensidade, tornando-o mais ou menos competente dentro de uma ou

várias dessas competências.

Gardner, em sua teoria, defende que os indivíduos aprendem de maneiras diferentes

e apresentam diferentes configurações e inclinações intelectuais. Destaca, ainda, o papel da

educação no desenvolvimento global e aplicação das inteligências. O conhecimento

precisa da ação coordenada de todos os sentidos – tato, movimento, audição, visão, fala.

Afirma que conhecemos através de um sistema de "inteligências" ou habilidades

interconectadas e, em parte, independentes, localizadas em diferentes regiões do cérebro,

com pesos diferentes para cada indivíduo e para cada cultura. As inteligências múltiplas5 a

que se refere são a lógico-matemática, a lingüística, a espacial, a musical, a corporal-

sinestésica, a interpessoal e a intrapessoal. 5 Lógico-matemática: trata do raciocínio dedutivo e indutivo, número e relacionamento, envolvendo a habilidade de reconhecer padrões, de trabalhar com formas geométricas e fazer relacionamentos entre segmentos de informação; Linguística: relaciona-se com as palavras e a linguagem. Usamos esta inteligência para ouvir, falar, ler e escrever; Espacial: está relacionada com a capacidade de visualizar um objeto e criar imagens mentais; Musical: habilidade de reconhecer padrões sonoros, tons, ritmos. Inclui sensibilidade a sons ambientais, vozes humanas e instrumentos musicais; Corporal-cinestésica: relacionada com o movimento físico, o conhecimento do corpo e seu funcionamento, inclui a habilidade de usar o corpo para expressar emoções, jogar, interpretar e usar linguagem corporal; Interpessoal: usada nos relacionamentos pessoa a pessoa, inclui a habilidade de comunicar-se com os outros e ter empatia por seus sentimentos e convicções; Intrapessoal: baseda no conhecimento de si mesmo, inclui metacognição (pensar sobre o pensar), respostas emocionais, auto-reflexão e consciência de conceitos metafísicos.

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A teoria das inteligências múltiplas constitui um grande contraste com os sistemas

tradicionais de educação, que tipicamente colocam uma grande ênfase no desenvolvimento

e uso das inteligências lingüística e matemática. A teoria propõe que os educadores

estruturem a apresentação do material numa forma/estilo que envolva a maioria ou todas as

inteligências. Nesse aspecto, os ambientes informatizados de ensino podem favorecer o

desenvolvimento dessas inteligências, principalmente pelo uso de recursos como

multimídia e realidade virtual.

Com a evolução dos sistemas computacionais, principalmente pelo enriquecimento

de recursos visuais oferecidos pelas ferramentas atuais, novas aplicações estão surgindo,

baseadas em interfaces que interagem com o usuário de uma forma lúdica e interativa.

Nesse sentido, outra teoria que pode oferecer grandes contribuições ao desenvolvimento de

ferramentas e softwares para ambientes informatizados de ensino, sobretudo no que se

refere à interatividade oferecida pelas interfaces desses sistemas, é a semiótica6, que,

apesar de ser uma disciplina conhecida há muito tempo, apresenta-se, na forma como

entendemos hoje, a partir dos trabalhos do filósofo norte-americano Charles Sandres Peirce

(1839-1914) e do lingüista suíço Ferdinand de Saussure (1857-1915) (OLIVEIRA, 2005, p.

3).

Para Pierce, a semiótica é a doutrina formal dos signos, e signo (ou representamen)

é aquilo que, sob certo aspecto, representa alguma coisa para alguém. Já na semiótica de

Saussure, que muitos autores preferem denominar de “semiologia”, é a ciência que estuda

a função dos signos como parte da vida social. Assim, a semiótica pode ser entendida

como uma disciplina que tem como objeto de estudo os signos e os sistemas de signos.

Segundo Oliveira (2005, p. 4), a semiótica não se refere somente à língua verbal

falada ou escrita, mas a todas as linguagens possíveis, ou seja, a investigação de qualquer

fenômeno como fenômeno de produção de significação e sentido, tendo servido como

referencial para as mais diversas áreas: filosofia, antropologia, lingüística, ciência

cognitiva, neurologia, arte visual, música, dança, educação, entre outras.

Um dos conceitos centrais da semiótica é o signo, definido por Melo (2003, p. 21)

como uma representação incompleta do objeto. O signo representa algo – o objeto –

através da criação de um interpretante – processo mental – para algum aspecto do objeto,

podendo ser visto como uma relação triádica entre os elementos: o representamen, o objeto

e o interpretante.

6 A semiótica objetiva estudar os signos e sistemas de signos. Segundo uma definição de Peirce, um signo é qualquer coisa que está no lugar de outra coisa para alguém sob determinados aspectos ou capacidades. (OLIVEIRA, 2005, p. 3)

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Figura 1 - Relação triádica

Segundo Oliveira (2005, p. 13), o signo (ou representante) coloca-se numa relação

triádica genuína7 com um segundo, seu objeto, de modo a ser capaz de determinar que um

terceiro, seu interpretante, assuma a mesma relação triádica com seu objeto, na qual ele

próprio está em relação com o mesmo objeto. Melo (2003, p. 21) reforça que

[...] apenas alguns aspectos do objeto são representados, contribuindo para definir o interpretante. Signos diferentes podem representar diferentes aspectos de um mesmo objeto, produzindo interpretantes diferentes. Os signos podem representar seu objeto como ícone, índice ou símbolo.

O signo é classificado como ícone quando imita características do objeto que

representa; assim, a imagem de uma impressora na interface de um editor de texto é

considerado um ícone, pois remete diretamente às características desse dispositivo. É

denominado índice quando há uma relação de causa e efeito entre o signo e o objeto, por

exemplo, o tempo transcorrido para a instalação de um programa, que é indicado pela

coloração gradual de uma faixa indicando o andamento da instalação. Já a denominação de

símbolo é atribuída ao signo quando a relação entre o signo e o objeto acontece por uma lei

de convenção. Exemplo da relação simbólica entre um signo e seu objeto é a linguagem.

Melo explica:

[...] a experiência do mundo é mediada por signos. À medida que o ser humano interage com objetos, cria seu mundo de experiências pela criação de signos. Aliado a isto, a flexibilidade de estabelecer relações arbitrárias entre signos e objetos confere ao homem a possibilidade de construir mundos totalmente diferentes daquele experimentado diretamente. Um propósito básico para a criação e uso dos signos é a comunicação.

7 A relação triádica é genuína por seus três membros estarem por ela ligados de um modo tal que não consiste em nenhum complexo de relações diádicas.

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Dessa forma, os signos também apresentam uma forte relação com um ponto central

da teoria formulada por Vygotsky, quando afirma que as funções psicológicas superiores

são de origem sociocultural e emergem de processos psicológicos elementares, de origem

biológica, através da interação da criança com membros mais experientes da cultura a qual

propicia a internalização dos mediadores simbólicos e da própria relação social.

Vygotsky trata da ligação entre percepção e atenção à fala e ao uso de instrumentos

e se declara certo de que “a fala introduz mudanças qualitativas” na percepção e na

atenção. Segundo ele, a relação entre o uso de instrumentos e a fala afeta várias funções

psicológicas, em particular a percepção, as operações sensório-motoras e a atenção, cada

uma das quais é parte de um sistema dinâmico de comportamento. A partir da fala, é

introduzida a atividade de rotulação, que, segundo estudos realizados, é uma função

primária da fala das crianças pequenas que lhes possibilita escolherem um objeto

específico, isolá-lo de uma situação global por ela percebida simultaneamente, superando,

assim, a estrutura natural do campo sensorial e formando novos centros estruturais; permite

à criança a percepção do mundo não só através dos olhos, mas também através da fala, da

percepção verbalizada, superando o imediatismo da percepção natural por meio de um

processo complexo de mediação e tornando a fala parte essencial de desenvolvimento

cognitivo da criança.

Para Vygotsky (1998) o papel da linguagem na percepção é surpreendente, visto

que mesmo nos estágios mais precoces do desenvolvimento linguagem e percepção estão

ligadas. Um aspecto especial da percepção humana é a percepção de objetos reais,

entendendo o autor que o mundo não é visto simplesmente em cor e forma, mas também

como um mundo com sentido e significado, na qual um objeto qualquer não é visto pela

sua forma e aparência, mas pelo seu significado. A percepção é parte de um sistema

dinâmico de comportamento; por isso, as relações entre as transformações dos processos

perceptivos e as transformações em outras atividades intelectuais são de fundamental

importância.

Segundo Vygotsky, o processo psicológico é reestruturado a partir de um sistema de

signos que rompem com a barreira entre o campo sensorial e o sistema motor, tornando

possíveis novos tipos de comportamento, que se deslocam da percepção direta para o

controle das funções simbólicas. Esses conceitos baseados em Vygotsky apresentam uma

forte relação com o que Pierce denominou de “semiosis”, que é

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[...] o processo de construção de estruturas e experiências através dos signos. Essas estruturas determinam como o ser humano compreende o mundo (o que ele percebe e o que ele ignora, o que é importante e o que não é importante, o que faz sentido e o que não faz sentido) (MELO, 2005, p. 22).

Ainda Melo enfatiza que, com a intervenção da linguagem, o homem pode realizar

uma semiosis única, podendo criar signos através de palavras, imagens, movimentos

corporais e pensar sobre as coisas sem necessariamente experimentá-las; assim, a semiosis

possibilita que qualquer coisa não presente seja identificável.

Com base nessas teorias, é possível identificar uma grande relação com os atuais

ambientes informatizados. Atualmente são muitas as informações que chegam aos usuários

pela tela do computador, além da possibilidade de comunicação e interação com outras

pessoas. Essas interações entre os usuários são mediadas por interfaces de software, que

fazem a interação homem/máquina, e, por sua vez, a máquina permite a interação entre as

pessoas. Assim, um ambiente computacional interativo é composto por signos, que

compreendem o uso de ícones, palavras, janelas, caixas de diálogo, sons e qualquer outro

dispositivo de interface utilizado para veicular mensagens. O importante é que precisam

fazer sentido para os usuários.

Dessa forma, uma análise semiótica nos ambientes informatizados de ensino pode

auxiliar na melhora da interatividade entre os usuários desses sistemas, visto que, com o

avanço da tecnologia, atualmente são muitas as atividades de ensino que podem ser

realizadas com a mediação dos recursos computacionais. Esses permitem a professores e

alunos interagir com o computador de várias formas, através da visão, escrita, leitura, fala,

audição, musicalidade, criação de metáforas visuais, experiências em 3D, histórias;

resolver problemas, geometria, jogos de lógica, estudo individual, escolhas pessoais,

aprendizagem cooperativa, trabalhos em grupo; ensinar para outras faixa etárias, clubes e

uma infinidade de outras opções, representando um ambiente muito rico, em que os

sistemas de signos podem ser amplamente explorados.

Neste capítulo foram estudadas algumas teorias educacionais que, de alguma forma,

apresentam relação com o uso de ambientes informatizados de ensino, buscando identificar

nas contribuições deixadas por autores da área, conceitos que possam ser aplicados no

âmbito educacional com o uso das tecnologias atuais. Nesse sentido, destacaram-se,

principalmente, o behaviorismo de Skinner, a abordagem construtivista de Piaget e a

socioconstrutivista de Vygotsky.

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O próximo capítulo contempla uma análise dos principais recursos tecnológicos que

atualmente podem ser utilizados em ambientes informatizados de ensino, buscando

identificar as potencialidades e estratégias que podem ser adotadas para que esses recursos

possam ser apropriados pelos professores nas suas práticas.

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2 AMBIENTES INFORMATIZADOS DE ENSINO

“A tecnologia computacional tem mudado a prática de quase todas as atividades,

das científicas às de negócio até às empresariais. E o conteúdo e prática educacionais

também seguem essa tendência”. (VALENTE, 1999, p. 49). Ao considerar a afirmação de

Valente, nota-se que o desenvolvimento da educação na atualidade está diretamente

relacionado com as transformações sociais, econômicas e tecnológicas.

As tecnologias de informação estão cada vez mais inseridas no cotidiano das

pessoas, não sendo diferente no processo educacional. Portanto, não se trata mais de se

perguntar se se deve ou não introduzir as novas tecnologias da informação e da

comunicação no processo educativo. As evoluções tecnológicas, a agilidade e

dinamicidade do mundo moderno impõem novas formas de ensinar e de aprender, levando

à inclusão dessas novas tecnologias como ferramentas mediadoras no processo de ensino-

aprendizagem.

Não há quem negue a imensa importância que a tecnologia assume junto a todos os seres humanos, mas parece que um dos caminhos que ainda precisamos percorrer e revisar é o do nosso entendimento acerca do papel das mídias no ambiente educacional (MAGDALENA, 2003, p. 106).

Nota-se que a inclusão das novas tecnologias no processo educacional é um

caminho sem volta, no entanto é preciso ter cautela ao apropriar-se dessas tecnologias para

que sejam adequadamente aplicadas nas atividades pedagógicas. A utilização das

tecnologias por si só não traz grandes contribuições à área educacional, principalmente se

usadas como o ingrediente mais importante do processo educativo, ou sem a reflexão

humana.

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Na utilização de qualquer tecnologia educacional, o primeiro e mais importante

item a ser analisado é o critério didático-pedagógico a que essa tecnologia atende, pois,

segundo Schlemmer (2005, p. 34), todo e qualquer desenvolvimento de um produto para

educação é permeado por uma concepção epistemológica sobre como se dá a aquisição do

conhecimento e como o sujeito aprende. Nesse sentido, a tecnologia educacional deve

adequar-se às necessidades de determinado projeto político-pedagógico, colocando-se a

serviço de seus objetivos, nunca os determinando.

Na prática escolar, o trabalho docente está pautado em teorias que determinam as

tendências pedagógicas aplicadas nos ambientes de ensino e aprendizagem. Essa prática

possui condicionantes psicológicos, sociais e políticos que configuram concepções de

inteligência e conhecimento, de homem e de sociedade. Os ambientes informatizados de

ensino dos diversos tipos, da mesma forma, apresentam, implícita ou explicitamente, os

pressupostos teórico-metodológicos desses condicionantes. Sobre essa relação entre

tecnologia e o processo educativo, busca-se entender como pode se dar a apropriação

crítica e criativa das novas tecnologias e, principalmente, da informática no processo de

ensino-aprendizagem, analisando como vêm sendo utilizadas e como podem interferir no

processo.

O livro foi um dos primeiros instrumentos tecnológicos inclusos no processo de

ensino-aprendizagem, o que, na época do seu surgimento, causou muitas alterações

educacionais. Hoje essa tecnologia já está tão incorporada no processo educacional que

nem nos damos conta de que é um instrumento tecnológico. Atualmente, a tecnologia

educacional (TE) está relacionada à prática do ensino baseada nas teorias das

comunicações e dos novos aprimoramentos tecnológicos (informática, TV, rádio, vídeo,

áudio, impressos, etc.) (TAJRA, 2000, p. 28-29). Essas tecnologias permitem ao homem

desfrutar de grandes avanços nas mais diversas áreas, transformando os meios de se fazer

negócios e o modo das pessoas trabalhar. Na educação não podia ser diferente, de modo

que as tecnologias da informação e comunicação (TIC) vêm sendo incorporadas ao

processo de ensino-aprendizagem como ferramentas de mediação entre as pessoas e o

conhecimento, contribuindo para a transformação do aprendizado através de novas

alternativas de ensino.

As novas tecnologias de informação e comunicação (NTICs1), das quais se podem

destacar o computador e a internet, estão proporcionando o desenvolvimento de ambientes

informatizados de ensino com recursos inovadores, trazendo grandes benefícios para 1 Atualmente são entendidas como NTICs rádio, telefone, televisão, videoconferência, teleconferência, transmissão de dados via rede ou linhas dedicadas, intranet e internet.

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aplicações como educação a distância (EAD), software educacional, entre outras que vêm

sendo desenvolvidas e apropriadas por diferentes instituições de ensino. Apesar de alguns

educadores ainda manifestarem resistência ao uso das tecnologias em suas práticas, é

importante salientar que, queiramos ou não, a presença do computador, bem como de

sofisticados sistemas de informação e comunicação, já faz parte da realidade em muitas

instituições de ensino. No entanto, ainda se percebe uma dificuldade quanto a fazer uso

adequado desses recursos no processo educacional.

O uso das NTICs na educação abre diversas questões para discussão: por um lado,

encontram-se as instituições de ensino que precisam incorporar essas tecnologias para

poderem acompanhar os avanços presentes na sociedade atual; por outro, percebe-se que as

NTICs não podem ser integradas ao processo ensino-aprendizagem nos moldes da

educação tradicional. Conforme Tajra (2000, p. 29), “o início do uso das tecnologias

educacionais teve um enfoque bastante tecnicista, prevalecendo sempre como mais

importante a utilização em específico do instrumento sem a real avaliação do seu impacto

no meio cognitivo e social”. É preciso ressaltar que promover a aprendizagem no aluno é o

objetivo principal do professor; por isso, não basta simplesmente usar novas tecnologias se

não há modificação e adequação das práticas tradicionais.

O professor terá de além de conhecer as tecnologias existentes, ter conhecimento

sobre o modo de utilizá-las da forma mais proveitosa e educativa possível, de acordo com

as concepções teóricas que fundamentam a sua prática. É preciso que ele utilize tais

recursos para promover a aprendizagem não somente através da transferência de

conhecimento, mas com a criação de um processo de construção do conhecimento pelo

aluno. Nesse sentido, Magdalena afirma:

[...] é necessário assumir/entender nosso papel de educadores nessa sociedade em transformação, compreender as implicações das TIC em várias dimensões: na construção de significados, nas novas formas de expressão de conhecimento e da arte, na representação da realidade, nas relações e interações a distância.

Assim, percebe-se a necessidade de construir caminhos para que os professores se

apropriem das novas tecnologias de forma criativa e crítica e entendam que qualquer

mudança dependerá em grande parte da sua capacidade de analisar e adotar princípios,

estratégias e técnicas mais adequadas às condições da realidade educacional numa

sociedade cada vez mais informatizada.

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Nesse sentido, estão sendo introduzidos no contexto escolar os denominados

“ambientes informatizados de ensino” que, a partir do uso de diversos recursos

informatizados, podem ser relacionados à programação de condições de aprendizagem

enriquecidas com recursos da informática para estimular a aprendizagem por meio da

construção de conceitos e da interação do aluno com o professor, com os colegas, com os

recursos utilizados e com o conhecimento que está sendo estudado. Assim, propiciam-se a

interação e a cooperação, possibilitando que o aluno tome decisões, "faça funcionar",

analise, interprete, observe, teste hipóteses, elabore, ou seja, construa relações que

constituem a aprendizagem. O foco desses ambientes é a aprendizagem, que é

proporcionada através da programação de interações, reflexões e estabelecimento de

relações que conduzam à reconstrução de conceitos (ALMEIDA; VIEIRA; LUCIANO,

2001).

Santos (2004, p. 4) aponta alguns fatores tecnológicos como propulsores para o

desenvolvimento de ambientes informatizados de ensino cada vez mais atrativos e

adequados a aplicação pedagógica, como a mudança na velocidade de equipamentos e de

redes de comunicações, as novas formas de input (fala, escrita manual, linguagem natural)

e a incorporação das interfaces das tecnologias de 3D e de realidade virtual, que levam à

criação de novos ambientes interativos e flexíveis, permitindo interfaces tridimensionais,

com recursos de sons e imagens. Esses recursos agregam funcionalidades importantes para

favorecer o aprendizado individual e a colaboração entre os estudantes, além de aproximar

os alunos das inovações tecnológicas que, inevitavelmente, estão cada vez mais presentes

no dia-a-dia das pessoas, impondo uma formação de crianças e jovens criativos e com

capacidade de geração de novas idéias.

Entretanto, segundo Silva (1998), apesar de a pesquisa na área de informática na

educação ter evoluído nos últimos anos, a utilização de ambientes informatizados de

ensino é freqüentemente mal concebida nos aspectos pedagógicos. Portanto, uma nova

prática, necessita ser construída para que a educação acompanhe o desenvolvimento

tecnológico e científico e forme indivíduos preparados para a nova sociedade. Contudo, o

que se vê por parte de muitos professores é uma dificuldade em trabalhar com essa nova

realidade, com essa nova cultura.

A apropriação adequada de ambientes informatizados de ensino que criem

condições para a interação entre os sujeitos, proporcionando um aprendizado mais efetivo

por parte dos alunos, torna-se um grande desafio na medida em que deve compatibilizar

um processo ensino-aprendizagem que favoreça o desenvolvimento das estruturas

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cognitivas, o conhecimento de grupos e a tecnologia, determinando quais são os recursos

computacionais mais adequados para suportar a formação de grupos dentro de um contexto

de ensino e aprendizagem.

Baseado nas constatações dos diferentes autores arrolados neste capítulo, compete à

escola e aos professores desenvolver essa habilidade, encontrando estratégias que

favoreçam o aprendizado e o desenvolvimento dos alunos. Assim, neste capítulo

identificam-se algumas das principais aplicações da informática na educação,

relacionando-as com as bases pedagógicas em que estão alicerçadas, evidenciando o papel

do professor no contexto escolar.

2.1 O professor e a informática no contexto escolar

O atual contexto de uma sociedade da informação aponta para uma nova missão

para a escola, que deve proporcionar aos alunos um modo criativo, crítico e interveniente

de construir o conhecimento, numa formação que prepare as pessoas para conviver numa

sociedade cada vez mais inserida tecnologicamente.

Atualmente, a presença da informática nas mais diferentes áreas de nossas vidas é

incontestável. Na medicina, na educação, no lazer, nas atividades da vida diária, no

trabalho, em casa, os computadores estão presentes, possuindo inúmeras funções e

exercendo influências diversas, transformando o modo como percebemos e construímos a

realidade. Diante dessa crescente inclusão de recursos informatizados em todos os âmbitos

da sociedade, é preciso que os professores saibam como utilizar essa moderna tecnologia

para criar oportunidades de desenvolver uma educação conectada com a realidade dos

alunos, que precisam estar inseridos nesse contexto de sociedade.

Inúmeras pesquisas indicam que o computador pode ser um grande aliado no

processo de ensino-aprendizado, porém esse potencial ainda não tem sido devidamente

explorado e integrado as práticas pedagógicas de muitos professores. Ainda é comum que,

para alguns professores, o computador continue sendo um “estranho” e que, em alguns

casos, provoca receio quanto ao seu uso. Belloni (2001) enfatiza a realidade de

perplexidade e de despreparo dos professores na escola perante as mudanças trazidas pelas

tecnologias da informação e comunicação. Como reflexo disso é comum que as escolas

invistam na compra de equipamentos, instrumentalizando-se com a criação de laboratórios,

que, em muitos casos, acabam por ficar subutilizados.

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Dall’Asta (2004, p. 43) reforça sobre a necessidade de uma atualização tecnológica

dos professores ao afirmar:

[...] a introdução da informática na educação exige uma formação diferenciada do professor. Os cursos de formação de professores devem auxiliá-lo a desenvolver conhecimento sobre o próprio conteúdo e sobre o modo como o computador pode ser integrado no desenvolvimento desse conteúdo.

Além da apropriação de tecnologias, é preciso que o professor assuma uma postura

fundamentada numa teoria educacional adequada, que lhe permita compreender os

processos mentais, os conceitos e as estratégias de aprendizado, para que, com esse

conhecimento, possa mediar e contribuir de maneira mais efetiva no processo de

construção do conhecimento em ambientes informatizados.

Também é importante considerar que poucas mudanças são percebidas na prática

docente ao longo do tempo, ao passo que os alunos estão cada vez mais inseridos

tecnologicamente. Assim, impõe-se aos professores uma nova postura diante do contexto

da sociedade atual, na qual o uso das tecnologias da informação assume um papel

fundamental na formação dos indivíduos. Fica, pois, visível que os recursos informatizados

podem se constituir numa ferramenta fundamental, senão indispensável, para auxiliar o

trabalho pedagógico na sociedade atual. Para isso, é preciso levar em conta os seguintes

questionamentos:

A escola está preparada tecnologicamente?

E o professor, tem o conhecimento sobre como se apropriar da tecnologia de forma

adequada a sua concepção pedagógica?

Os softwares e ambientes informatizados de ensino são adequados às necessidades

dos professores?

Estão esses agentes acompanhando tal evolução?

Está o professor preparado e atualizado para utilizar todo o potencial dos ambientes

informatizados de ensino com seus alunos?

Que estratégias didáticas estão sendo utilizadas no uso dessas tecnologias?

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2.2 O uso pedagógico do computador

Os grandes avanços das aplicações dos instrumentos informatizados em todas as

áreas do conhecimento humano têm inspirado o uso de tecnologias de informação e

comunicação também em ambientes educacionais. Conforme Brandão (1995, p. 9),

[...] em meio a um cenário promissor, que vem se configurando a partir dos sucessos obtidos com a introdução de computadores em outras áreas, a escola se apressa em verificar se essa nova presença pode ser útil em suas atividades diárias, seja como instrumento de comunicação didática, como gerador de novos conhecimentos e metodologias, como elemento auxiliar nas atividades docentes e administrativas ou, simplesmente, como mais uma esperança na tentativa de solucionar velhas mazelas.

Tradicionalmente, as aulas eram conduzidas com o auxílio de livros;

posteriormente, vieram as transparências manuscritas e, com o avanço da tecnologia, veio

o computador e, conseqüentemente, as transparências evoluíram para ferramentas

fantásticas de aprendizado mediado por esse recurso, tornando as aulas mais atrativas e

criativas.

A instrução mediada pelo computador2 (CAI – Computer Assisted Instruction) foi a

primeira e a mais difundida maneira de utilizar o computador com fins educacionais. É

também conhecida como “instrução programada”, a qual é composta, brevemente, de

exercícios de repetição para fixar, tutoriais e demonstrações. Os mais utilizados foram

programas de repetição, que levam o aluno a responder a uma seqüência de exercícios

organizados por nível de dificuldade (PESSOA, 2002).

Segundo Oliveira (2001, p. 75), historicamente, o CAI foi o primeiro tipo de

aplicação desenvolvida para a utilização do computador em educação. As primeiras

aplicações para o seu uso no ensino eram bastante restritas. As tecnologias da época

permitiam que o uso do computador ficasse limitado a execuções de tarefas, como

execução de cálculos aritméticos e processamento de dados. Com o avanço das

tecnologias, nos dias de hoje, esse recurso oferece várias ferramentas que podem ser

utilizadas positivamente para auxiliar professores e alunos. São várias as experiências 2 Instrução Mediada por Computador: Instrução/tutoria assistida ou apoiada por computador. Uso do computador como "máquina de ensino" para apresentar informações e exercícios de forma dirigida e controlada. Contrastar com outras formas de uso do computador na educação: simulação por computador (computer simulation); tele-conferências (computer conferencing); outras formas de trabalho de grupos virtuais (computer mediated communication - CMC); micro mundos (microworlds); etc.

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realizadas integrando as ferramentas computacionais ao ensino presencial e a distância, o

que tem mostrado que o computador é um grande aliado e que possui um enorme

potencial, podendo ser aplicado em diversas situações de ensino-aprendizado.

Cox enfatiza a respeito:

[...] contando com a plasticidade singular própria das máquinas de processamento e considerando que tal característica tem sua justificativa no fato de os computadores constituírem-se em máquinas programáveis e portanto sujeitas às instruções propostas pelo ser humano, pode-se afirmar que o número de formas de uso dos computadores tem seu limite nas fronteiras da capacidade criadora do homem (Cox, 2003, p. 35)

Tajra (2000, p. 38) alerta que é preciso ter cuidado, pois o simples fato de um

professor estar utilizando o computador numa aula não significa que esteja aplicando uma

proposta inovadora. “Muitas vezes essa aula é tão tradicional quanto uma aula expositiva

com a utilização do giz”.

Paulo Freire (1996, p. 47), ao criticar a educação tradicional, a qual chama de

“bancária”3, aponta a necessidade de uma formação docente numa perspectiva

progressista: “Saber ensinar não é transmitir conhecimento, mas criar as possibilidades

para a sua própria produção ou a sua construção”. Enfatiza que o professor “deve ser

aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições; um ser crítico

e inquiridor”.

Ao educar com o uso das tecnologias, assume-se o mesmo risco de repetir a

educação bancária. A educação mediada por equipamentos representa um grande desafio,

visto que o professor assume um papel fundamental, colocando em questão a interatividade

existente nesses ambientes informatizados e a forma como esses recursos podem ser

utilizados didaticamente para o ensino e a aprendizagem.

Para Valente (1999, p. 2), o uso apropriado da informática na educação é enfatizado

pelo fato de o professor ter conhecimento sobre os potenciais educacionais do computador

e ser capaz de alternar adequadamente atividades tradicionais de ensino-aprendizagem e

atividades que envolvem o computador, o que é reforçado pela afirmação de Tajra;

3 Educação bancária – educação em que o educador é o sujeito ativo, que educa, que pensa, que sabe e que atua; por sua vez, o aluno é visto como platéia e o ensino, como reprodução de conhecimento

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[..] um dos fatores primordiais para a obtenção do sucesso na utilização da informática na educação é a capacitação do professor perante essa nova realidade educacional. O professor deverá estar capacitado de tal forma que perceba como deve efetuar a integração da tecnologia com a sua proposta de ensino. Cabe a cada professor descobrir a sua própria forma de utilizá-la conforme o seu interesse educacional, pois, como já sabemos, não existe uma forma universal para a utilização dos computadores na sala de aula. (TAJRA, 2000, p. 88).

Assim, percebe-se que utilizar a informática na área educacional é bem mais

complexo que utilizar qualquer outro recurso didático até então conhecido, em razão da

diversidade de recursos disponíveis, que precisam ser dominados antes de ser aplicados no

âmbito educacional. Brandão (1995, p. 10) enfatiza que “a introdução de computadores nas

escolas, antes mesmo de apresentar os primeiros resultados desejados, coloca em evidência

a necessidade de se refletir sobre uma série de problemas, que vão desde a preparação dos

professores até a falta de recursos para a compra de equipamentos”.

O aproveitamento do potencial oferecido pelas tecnologias para o trabalho em

atividades educacionais visa, principalmente, propiciar cada vez maiores recursos de

pesquisa e aprendizado aos alunos. Por isso, o professor não precisa ensinar informática no

laboratório, e, sim, propiciar um recurso educacional inovador e atrativo no aprendizado

dos conteúdos disciplinares. Nesse contexto, utiliza os programas educacionais existentes à

medida que vai ministrando a matéria, levando os alunos para o laboratório para que eles

experimentem o aprendizado de sala de aula (PESSOA, 2005).

Existem várias possibilidades de aplicação e uso da informática na área educacional

e são inúmeras as atividades que podem ser realizadas em laboratório, cada uma com

objetivos específicos a serem atingidos ao serem usadas em determinadas situações de

ensino-aprendizagem. Cabe ao professor definir a atividade e o tipo de recurso de que fará

uso em cada momento, o que exige o conhecimento das possibilidades de uso do

computador e de estratégias de uso desses recursos nas atividades didático-pedagógicas.

Para Brandão (1995, p. 29), é fundamental a preparação dos recursos humanos

envolvidos nesse processo, a utilização de material didático adequado e a integração

natural ao currículo escolar; sem isso, corre-se o risco de que todos os recursos

tecnológicos disponíveis sejam subutilizados. O autor (1993), em sua tese, destaca ainda

que um drama que aflige grande parte dos novos usuários do computador para uso

educacional, é saber que tipo de questões lhe endereçar e por meio de quais procedimentos

é possível equacionar tais questões. Ressalta ainda que essa é a fonte principal das

desilusões de alguns professores, que, quando do seu primeiro contato com o computador,

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tomam consciência de que é necessário algo mais do que o equipamento para que tudo

funcione.

Nota-se que as novas tecnologias proporcionam novas relações culturais e desafiam

antigos e modernos educadores; portanto, não basta que as escolas sejam

instrumentalizadas com computadores e equipamentos de última geração para que se

mudem os paradigmas e as concepções de ensino. É preciso uma mudança de postura por

parte do professor, que deve estar preparado para saber como atuar nesse novo ambiente,

que, ao mesmo tempo, é desafiador e apresenta um grande potencial para o ensino.

Com a introdução dos computadores nas escolas, surgiram inúmeros programas

voltados a auxiliar no processo educacional, como jogos, sites e softwares educacionais.

Nesse sentido, apresentam-se algumas possibilidades de uso do computador em atividades

pedagógicas e, as maneiras como pode ser utilizado em ambiente escolar. Certamente, não

se esgotarão as aplicações dadas nas seções a seguir, mas o que se busca é apresentar

formas de trabalho que podem ser adotadas com o uso das tecnologias computacionais e de

comunicação para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, o que vem

possibilitando novas formas de construir o conhecimento a partir de ambientes

informatizados de ensino.

2.2.1 Instrução assistida por computador

O ensino assistido ou auxiliado por computador considera a informação como

unidade fundamental no ensino, dando maior ênfase nos processos de como adquirir,

armazenar, representar e, sobretudo, transmitir informação. Nesse sentido, o computador é

visto como uma ferramenta poderosa de armazenamento, representação e transmissão de

informação. (VALENTE, 1999, p. 52).

Os primeiros sistemas computacionais para uso no ensino surgiram ainda na década

de 1960 eram os sistemas CAI, inspirados no método de instrução programada. A instrução

programada, método surgido na década de 1950, segundo Pocho (2003, p. 36), foi utilizada

inicialmente a partir de material impresso, que poderia ser utilizado individualmente pelo

aluno quando o objetivo fosse a aprendizagem de conceitos, regras, procedimentos ou

princípios de determinada unidade de ensino.

Consiste em dividir o material a ser ensinado em pequenos segmentos logicamente

encadeados e denominados “módulos”. Cada fato ou conceito é apresentado em módulos

seqüenciais; cada módulo termina com uma questão a que o aluno deve responder

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preenchendo espaços em branco ou escolhendo a resposta certa entre diversas alternativas

apresentadas. O estudante deve ler o fato ou conceito e é imediatamente questionado: se a

resposta está correta, ele pode passar para o próximo módulo; se está errada, a resposta

certa pode ser fornecida pelo programa, ou o aluno é convidado a rever módulos anteriores,

ou, ainda, a realizar outros módulos, cujo objetivo é remediar o processo de ensino. Dessa

maneira, o estudante pode seguir seu próprio ritmo, retornando a módulos anteriores

quando sente necessidade, ou “espiando” o conteúdo de módulos futuros (VALENTE,

1999, p. 52).

Nesse contexto, o computador é inserido no processo de ensino, emergindo como

contribuição de grande valor, uma vez que não se cansa de repetir a mesma prática até que

o aluno acerte a resposta. O ensino através da informática tem suas raízes no ensino através

das máquinas. B.F. Skinner, no início de 1950, como professor de Harvard, apresentou o

conceito da “máquina de ensinar”, em que o computador, encarregado de prover o aprendiz

com instrução e prática, substituiria, ao menos em parte, o professor. De acordo com essa

concepção, a utilização do computador é feita segundo uma concepção behaviorista de

conhecimento, em que assume o papel de tutor.

O conceito de máquina de ensinar baseia-se no conceito de instrução programada,

na qual o material instrucional poderia ser apresentado pelo computador com grande

flexibilidade. Assim, no início da década de 1960 diversos programas de instrução

programada foram implementados no computador. Era o início da utilização da instrução

auxiliada por computador ou computer assisted instruction, também conhecida como CAI.

(VALENTE, 1999, p. 52). Nesta forma de utilização do computador, também denominada

“exercício e prática”, o recurso cumpre o papel de ensinar o aluno. Segundo Oliveira

(1997, p. 118), é possível o atendimento individualizado com o uso de programas que

acompanhem o desenvolvimento do aluno, avançando de acordo com o seu desempenho.

Esses softwares permitem que sejam realizadas atividades de perguntas e respostas;

geralmente, as perguntas são de múltipla escolha, permitindo ao software avaliar as

respostas do aluno e, dependendo da avaliação, o aluno recebe um elogio ou uma

mensagem informando que está errado; então lhe é permitindo tentar novamente, até que

descubra a opção correta. No final, é possível ainda exibir ao aluno um quadro de

avaliação do seu desempenho, com informações que sejam relevantes ao processo de

avaliação das atividades.

Oliveira (1997, p. 119) ressalta ainda a existência dos softwares tutoriais, que são

uma variação mais sofisticada da instrução programada, indo um pouco além da execução

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de exercícios repetitivos. Nesses, o computador instrui o aluno como se fosse um tutor em

contato individualizado com o aprendiz, apresentando também conteúdos que podem ser

explorados por este, para, então, responder às questões propostas pelo software. Todavia,

Oliveira chama a atenção que,

[...] embora esta variação da instrução programada seja mais avançada e possa produzir melhores resultados que as atividades convencionais caracterizadas por exercícios repetitivos, exigem uma atividade maior de programação, sendo desta forma sua elaboração de difícil realização por parte dos professores.

Tais aplicações, concebidas na década de 1950, apresentam uma relação intrínseca

com a concepção behaviorista do conhecimento, uma das primeiras abordagens teóricas na

busca de uma explicação do modo como as pessoas aprendem. Nesse o aluno é uma figura

passiva, que deve compreender os conteúdos passados para, num segundo momento,

responder às questões relacionadas ao conteúdo visto. Ainda hoje existem muitas

aplicações e estratégias de ensino-aprendizagem, desenvolvidas para uso em ambientes

informatizados que seguem essa mesma concepção, mesmo com todas as possibilidades

que as novas tecnologias oferecem.

Conforme observa Rabello, em sua dissertação O desenvolvimento do software

educacional segundo um enfoque construtivista, o problema hoje não está nas tecnologias

disponíveis para a criação de estratégias didáticas mais interativas, mas, sim, na forma

como o professor se apropria dessas tecnologias para uso nas suas atividades do dia-a-dia,

mesmo das tecnologias que no passado apresentaram grandes problemas de apropriação

pelos especialistas na área de informática, como é o caso dos sistemas tutores inteligentes

(STI), da realidade virtual (RV), simulações, jogos educacionais, entre outras.

2.2.2 STI - Sistemas Tutores Inteligentes

Para que os sistemas pudessem se adaptar às características do aluno, não o

contrário, como acontece nos sistemas CAI, notou-se a necessidade de inserir

“inteligência” nos softwares. Assim, técnicas de inteligência artificial (IA) começaram a

ser aplicadas nos sistemas informatizados de ensino.

Impulsionado pelas necessidades de ambientes mais dinâmicos e viabilizado pelo

avanço das tecnologias, os sistemas CAI evoluíram para sistemas ICAI (intelligent

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computer assisted learning), que inovaram ao utilizar técnicas e métodos de IA4 para

representar o conhecimento e para conduzir a interação com o estudante. Segundo Valente

(1999, p. 53), esses sistemas podem tomar decisões sobre o que ensinar, a quem ensinar e

como fazê-lo.

À medida que novas tecnologias e novas técnicas de IA foram surgindo, os sistemas

de ICAI desenvolveram sua evolução. Atualmente, levam o nome de ITS (intelligent

tutoring systems) ou TI (tutores inteligentes). Muita pesquisa acadêmica e

desenvolvimento continuaram a acontecer nessa classe de sistemas, de tal modo que hoje

se implementam técnicas de IA aliadas a estratégias pedagógicas, proporcionando

ambientes de ensino que permitem uma abordagem cooperativa. Esses sistemas são

normalmente utilizados com a finalidade de oferecer uma alternativa ao tutor humano a

partir de uma interação homem-máquina que dá a idéia de que o computador pode pensar.

Esses sistemas têm sido desenvolvidos com base em métodos tradicionais de

ensino, no entanto permitem que a instrução seja personalizada, de acordo com o nível de

conhecimento do estudante e com o seu modo de aprendizagem.

O STI modela o entendimento do aluno sobre um tópico e à medida que ele realiza determinadas tarefas no sistema (ou seja, ele interage com o sistema realizando tarefas colocadas por este), compara o conhecimento do aluno com o modelo que ele tem de um especialista naquele domínio. (Rosatelli, 2000, p.183).

Com o uso desses sistemas, é possível que o aluno aprenda com os erros cometidos,

pois podem detectar se os conhecimentos do aluno não coincidem com o modelo de

especialista que possuem de um determinado domínio e exibir uma explicação para que ele

possa compreender os erros cometidos. No entanto, Giraffa (1999, p. 17) alerta que

[...] acrescentar um I à sigla CAI não significa apenas agregar técnicas de IA para a construção de sistemas tutores, mas inclui trabalhar de forma interdisciplinar com as conquistas que outras áreas de pesquisa obtiveram em relação ao conhecimento da comunicação inteligente, tais como os avanços da psicologia e da pedagogia.

4 A inteligência artificial (IA) tem como objetivo utilizar a inteligência, ou seja, as faculdades de pensar, raciocinar e compreender para auxiliar na tomada de decisões num software.

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A interdisciplinaridade, atualmente, vem sendo empregada nos STI, proporcionando

a criação de sistemas que se baseiam na aprendizagem interativa, nos quais o aluno passa a

ser o centro do processo de ensino-aprendizagem, deixando de ser passivo e tornando-se

um ser ativo no processo, além de tornar relevante o conhecimento atual do aluno e as suas

características de aprendizagem.

2.2.3 Software educacional

Segundo Lucena (1992), software educacional é todo aquele programa que possa

ser usado para algum objetivo educacional, pedagogicamente defensável, por professores e

alunos, qualquer que seja a natureza ou finalidade para a qual tenha sido criado. No

entanto, para trabalhar com software educacional é preciso entender como as pessoas

aprendem e se desenvolvem, a fim de transpor esse entendimento para o software.

É indiscutível o poder de fascinação que as novas tecnologias exercem sobre as

pessoas, porém, no âmbito educacional, só trarão benefícios se aplicadas segundo

estratégias que estejam relacionadas a uma proposta pedagógica, garantindo a qualidade

dos trabalhos realizados. Os recursos multimídia oferecidos pela informática, quando

utilizados no processo educacional, colocam as crianças num mundo repleto de estímulos

visuais e auditivos, aproximando-as do que estão acostumadas a ter com programas de

televisão, videogames e filmes. Nesse contexto se insere o software educacional.

Conforme Oliveira (2001, p. 73), o que caracteriza um software como educacional é

sua inserção em contextos de ensino-aprendizagem. Desse modo, determinado programa

de computador pode ser considerado um produto educacional se adequadamente utilizado

pela escola, mesmo que não tenha sido produzido com a finalidade de uso no sistema

escolar. Portanto, programas utilizados em processos administrativos escolares ou em

contextos pedagógicos são considerados softwares educacionais.

O software educacional pode ser um grande aliado no processo de ensino-

aprendizagem, porém o software em si não implica nenhuma mudança se não apresentar

um certo nível de qualidade ou não for aplicado dentro de uma concepção pedagógica

adequada, como observa Bork em sua obra Personal computers for education. "Parece

quase certo que o computador será utilizado amplamente na educação ... mas não está claro

se isto conduzirá a um sistema educacional pior ou melhor do que temos hoje" (BORK,

1984).

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Atualmente, podem-se encontrar milhares de softwares prontos destinados ao uso

educacional, porém nem sempre o professor encontra um software que apresente qualidade

e que se adapte a sua proposta pedagógica. Daí a necessidade de desenvolver os seus

próprios softwares, o que leva as práticas pedagógicas predominantes na atualidade a

utilizarem pouco os softwares educacionais, ou, então, usá-los somente em momentos

especiais ou como reforço de conteúdo. Isso se deve às dificuldades que se apresentam no

desenvolvimento de um software educacional nos moldes de suas necessidades e das dos

alunos.

A ausência de "filtros" que possam assegurar um maior controle da qualidade do software didático e, ao mesmo tempo, orientar pais e professores na escolha responsável do software a ser utilizado com objetivo didático-pedagógico, entre outras razões, favorece a proliferação no mercado de produtos cujo potencial educativo sucinta uma grande interrogação (BRANDÃO, 2005).

Organizar e sistematizar o desenvolvimento de um software com fins educacionais

implica estruturar estratégias didáticas apropriadas para cada situação, objetivando

favorecer o processo de ensino e aprendizagem, melhorando os meios de transmissão e

construção do conhecimento a ser veiculado. Isso envolve conhecimentos

multidisciplinares de informática, pela necessidade de domínio de tecnologias, linguagens

de programação, conhecimentos no âmbito da educação e pela necessidade de transpor as

teorias da aprendizagem para o software.

Conforme Cristóvão (1996), Teixeira (2002) e Tajra (2000), existem diversos tipos

de software educacional, cada um com suas próprias características e um determinado

enfoque educacional, ou seja, são categorizados de acordo com seus objetivos

pedagógicos.

Com todos os recursos tecnológicos disponíveis atualmente no campo da produção

de software educacional, fica difícil estabelecer classificações rígidas, embora os autores

procurem enquadrar determinados softwares em categorias5. O que se percebe atualmente,

5 Tutoriais: caracterizam-se por transmitir informações pedagogicamente organizadas, como se fosse um livro animado, um vídeo interativo ou um professor eletrônico. Software de exercício-e-prática: enfatizam o processo de ensino baseado na realização de exercício com grau de dificuldade variado. Simulação e modelagem: simulam o mundo real de forma mais simples. Este tipo de software permite que o aprendiz seja inserido num espaço, onde ele pode explorar e aprender vários princípios. Jogos Educativos: é um jogo que se propõe a ensinar algum conteúdo ao aprendiz, ou até, somente desenvolver capacidades intelectuais do jogador.

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em razão da grande evolução tecnológica, é que os softwares nem sempre se enquadram

numa só classificação, apresentando características que perpassam por mais de uma

classificação.

Embora a avaliação do software didático seja, na prática do dia-a-dia das escolas,

uma atividade subjetiva de total aceitação ou rejeição, romper essa prática oferecendo

bases para um possível modelo de avaliação dos softwares educacionais é de fundamental

importância para o êxito da relação entre informática e educação. Gilda Campos (2005)

chama a atenção para aspectos que permitam identificar a qualidade de softwares

educacionais em circulação no mercado:

ambiente educacional: deve permitir a identificação do ambiente educacional e do

modelo de aprendizagem que ele privilegia;

pertinência em relação ao programa curricular: deve ser adequado e pertinente ao

contexto educacional ou a uma disciplina específica;

aspectos didáticos: deve contribuir para que o aluno alcance o objetivo

educacional; para isso, deve ser amigável e de fácil utilização, possuindo aspectos

motivacionais e respeitar individualidades. É importante que inclua atributos como clareza

e correção dos conteúdos, recursos motivacionais, carga informacional e tratamento de

erros.

É importante considerar que o software educacional é uma ótima ferramenta para a

educação, desde que tenha sido bem projetado, de acordo com o objetivo a que se propõe.

Contudo, construir um software educacional de qualidade é uma tarefa que atualmente

envolve, além do conhecimento pedagógico, o conhecimento técnico de informática.

Segundo Mercado (2002, p.74), sem o conhecimento técnico será impossível implantar

soluções pedagógicas inovadoras e, sem o pedagógico, os recursos técnicos disponíveis

tendem a ser subutilizados.

Para o professor, o problema está em conquistar esse conhecimento técnico de

informática, pois é freqüente o surgimento de ferramentas computacionais cada vez mais

evoluídas, as quais oferecem recursos que, se forem bem aproveitados, favorecem o

Software de apresentação: este tipo de software funciona como um "livro-eletrônico", apresentando ao aprendiz o conteúdo a ser ministrado. Sistemas tutores inteligentes: utilizam técnicas de inteligência artificial e teorias pedagógicas para conduzir o aprendiz. Aplicativos: são softwares voltados para aplicações específicas, como processadores de texto, planilhas eletrônicas e gerenciadores de banco de dados. Programação: estes softwares permitem que pessoas, professores ou alunos criem seus próprios protótipos de programas, sem que tenham conhecimentos avançados de programação. Multimídia e internet: o uso de multimídia é semelhante ao tutorial, agregando outros recursos, como combinações com textos, imagens e sons.

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desenvolvimento de software educacional. Entretanto, a utilização desses recursos requer

que o professor se atualize rapidamente e mantenha uma aprendizagem permanente, o que

é uma exigência difícil de ser cumprida por professores que não são da área de informática

e que não dispõem de tempo, recursos e, em alguns casos, motivação para tal.

2.2.4 Simulações

Os atuais recursos computacionais permitem que fenômenos possam ser simulados

a partir da implementação de um modelo representado através de um software. Esse tipo de

software propicia que situações de realidades difíceis possam ser observadas pelos

usuários, cabendo a estes a alteração de certos parâmetros e a observação do

comportamento do fenômeno de acordo com os valores atribuídos (VALENTE, 1999, p.

102). Conforme Oliveira (1997, p. 120),

[...] a simulação é uma atividade que coloca o aluno diante do computador como manipulador de situações ali desenvolvidas, que imitam ou se aproximam de um sistema real ou imaginário. Embora estas simulações não sejam dependentes da existência do computador, é nesse ambiente que se permite ao aluno manipular variáveis e observar resultados imediatos, decorrentes da modificação de situações e condições.

Com o uso desse tipo de software, o aluno pode, além de construir uma visão

teórica que explique o fenômeno, vivenciar uma interação real com o objeto do

conhecimento na perspectiva do aprender fazendo. Segundo Valente (1999, p. 102 - 103),

existem dois tipos de software de simulação:

Simulação aberta: as situações são previamente definidas, encorajam o aluno a

descrever ou implementar alguns aspectos do fenômeno, a elaborar suas hipóteses e fazer

alterações no modelo. Isso requer um envolvimento maior com o fenômeno, validando

suas hipóteses por intermédio do processo de simulação no computador. Neste caso, o

computador permite a compreensão por meio do ciclo descrição-execução-reflexão-

depuração-descrição, possibilitando uma série de aberturas para o aprendiz definir e

descrever o fenômeno em estudo.

Simulação fechada: o fenômeno é previamente implementado no computador e os

valores de alguns parâmetros são passíveis de serem alterados pelo aprendiz, que pode

assistir na tela do computador ao desenrolar desse fenômeno. Nesse segundo caso, a

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simulação aproxima-se do modelo tutorial, visto que o aprendiz não elabora hipóteses nem

realiza alterações no modelo.

Na Figura 2 é apresentado um exemplo de software para simulação do

funcionamento de um motor elétrico, o qual permite que o utilizador faça alterações no

funcionamento do motor, como retirar o campo magnético. Ao realizar a alteração, o

software simula o funcionamento do motor sem o campo magnético, permitindo ao aluno

interagir em todas as etapas do experimento realizado, assim como visualizar as

conseqüências das alterações realizadas sobre o objeto em questão, em tempo real.

Figura 2 - Software simulador de motor elétrico

Para Tajra (2000, p. 52), os softwares simuladores apresentam recursos

significativos para o aprendizado e atrativos para os alunos e professores. No entanto, Cox

(2003, p. 37) chama a atenção de que as simulações não devem ser aplicadas sem critérios.

Os professores devem realizar uma análise prévia no software a ser utilizado, buscando

verificar se este é adequado aos objetivos de seu plano de aula.

É preciso considerar também que, para esse tipo de atividade, o professor não pode

tentar acelerar o processo, executando o experimento e deixando os alunos na condição de

meros espectadores. Com isso, a atividade torna-se mecanicista, diminuindo as chances de

os alunos aprenderem (OLIVEIRA, 2001, p. 80). Além disso, Cox enfatiza que

[...] é preciso considerar que as simulações não podem substituir as atividades concretas, tendo em vista que, por mais elaborado que seja o software em uso, as variáveis envolvidas no fenômeno real são sempre quantitativamente maiores, o que provoca relevantes variações nas respostas do meio em estudo.

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Nesse sentido, o professor precisa assumir uma postura crítica e criativa em relação

ao uso do computador, tendo consciência de que a simulação é uma alternativa que pode

ser motivadora, instigante e pertinente para auxiliar nos estudos científicos, com a qual é

possível ao aluno obter uma resposta imediata, com alto grau de interatividade.

2.2.5 Jogos educacionais

Os videogames atuais e os games na tela do computador são, atualmente, mais

utilizados para fins de lazer e diversão. Esses jogos caracterizam ambientes fascinantes e

atrativos, que propiciam alto grau de interatividade. Os jogos são softwares que fazem uso

dos recursos computacionais mais modernos disponíveis, nos quais cores, sons, animações

e imagens desfilam nas telas das máquinas propondo os mais sedutores desafios aos

usuários.

Os softwares para jogos são excelentes recursos computacionais, porém, segundo

Tajra (2000, p. 52), sofrem grande preconceito na área educacional, pela sua característica

de entretenimento e diversão. Atualmente, existem inúmeros jogos para computador

altamente atrativos, que facilmente adquirem a preferência dos usuários pelos recursos

aplicados e capacidade de interação. Contudo, é preciso refletir sobre o conteúdo destes

softwares, visto que muitos deles não foram desenvolvidos com finalidade educacional,

distanciando-se completamente dos propósitos almejados pela educação, logo,

irremediavelmente censurados pela escola.

Por outro lado, há também os que podem ser utilizados para finalidades educativas,

propiciando ambientes educacionais de próspera e prazerosa aliança entre diversão e

aprendizado. Hoje, pode-se encontrar uma verdadeira infinidade de jogos implementados

com o uso da informática (Cox, 2003, p. 38).

Na Figura 3 é apresentado um exemplo de jogo educacional em que são propostas

diversas atividades lúdicas, ricas em imagens, sons e animações, possibilitando alto grau

de interatividade com o usuário e lançando desafios para que este se sinta atraído a realizar

as tarefas propostas. Ressalta-se que, apesar de as tarefas serem desenvolvidas como uma

brincadeira, o conteúdo disponibilizado pelo jogo deve ter uma finalidade pedagógica.

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Figura 3 - Jogos Educacionais

De acordo com Oliveira (2001, p. 81), os jogos educacionais

[...] podem apresentar situações que contenham simulações, tutoriais ou sistemas inteligentes, mas o que evidencia esse tipo de software é o seu caráter de divertimento, de prazer. Uma situação de jogo oferece aos usuários intensa interatividade, permitindo ampliar as relações sociais no ambiente de ensino, cativando o interesse dos alunos em relação a temas muitas vezes difíceis de ser apresentados por outras abordagens. A essência do jogo educacional é a aprendizagem com prazer e a criatividade com diversão.

Portanto, é importante considerar a possibilidade de juntar os elementos

educacionais e de entretenimento, buscando explorar o aspecto motivacional através de um

ambiente divertido e atrativo, no qual o aprendiz interage a partir do ambiente com o

software ou até mesmo com os colegas, quando jogado em rede. Nesse sentido,

Valente(1999, p. 104) afirma que os jogos educacionais implementados no computador

também podem ser analisados em termos de ciclo descrição-execução-reflexão-depuração-

descrição. Afirma ainda que os jogos podem apresentar características de tutoriais ou de

simulação, dependendo do quanto o aprendiz pode descrever suas idéias para o

computador.

Portanto, percebe-se que o jogo educacional combina outras estratégias de uso do

computador, adicionando-lhes o desafio e a competição, com a máquina ou com colegas, o

que conduz a que o aluno aprenda brincando.

Valente chama a atenção para dificuldades decorrentes desse tipo de aprendizado e

alerta para o fato de que o aprendiz pode não estar ciente de que está usando conceitos e

estratégias erroneamente durante o jogo. Assim, ressalta que

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[...] para que essa compreensão ocorra é necessário que o professor documente as situações apresentadas pelo aprendiz durante o jogo e, fora da situação, discuti-las com o aprendiz, recriando-as, apresentando conflitos e desafios, com o objetivo de propiciar condições para o mesmo compreender o que está fazendo (VALENTE, 1999, p. 105).

Diante disso, mesmo sendo um jogo de cunho educacional, destaca-se a importante

e indispensável contribuição do professor, seja no uso, seja na seleção dos programas,

definindo quais são mais adequados ao conteúdo a ser trabalhado e como tirar o melhor

proveito na sua utilização.

2.2.6 Comunicação em ambientes virtuais

Entre as aplicações dos computadores nas atividades educacionais, desponta a

possibilidade de alunos e professores se comunicarem, local ou remotamente, através de

softwares específicos para esse fim. Os recentes avanços na área de comunicações e o

surgimento de novos softwares, com recursos de transmissão de voz e vídeo pela internet,

estão possibilitando variadas formas de interatividade entre usuários, tais como reuniões a

distância e online, tele e videoconferências e distribuição de mensagens.

Manifesta-se a comunicação como uma grande potencialidade dentre as infinitas

faces que as máquinas de processamento podem assumir, em que novas aplicações e novos

softwares desempenham o papel de propiciar a interligação das máquinas, surgindo

serviços, como listas de discussão, páginas WWW6 (World Wide Web), salas de bate-papo,

boletins eletrônicos e outras tantas ferramentas úteis à troca de experiências entre

estudantes remotos, contribuindo com a integração social dos seres humanos (COX, 2003,

p. 40). Nesse sentido, Silva afirma que

[...] comunicação e conhecimento são o espírito do nosso tempo e, como tal, têm onipresença garantida. Mas sua repercussão no confronto coletivo torna-se desafio e compromisso de sala de aula “presencial” e “à distância”. A aprendizagem e a socialização, tradicionalmente funções da escola entendidas como educação, passam a exigir tal recursão. A aprendizagem estará cada vez mais independente da sala de aula, mas a socialização necessitará cada vez mais deste ambiente. (2002, p. 170).

6 WWW (World Wide Web) – é a parte da internet que contém os sites. Cada site é constituído por um conjunto de páginas eletrônicas, que, por sua vez, apresentam informações organizadas sob a forma de textos, imagens gráficas, vídeo e som. A WWW é a parte da internet mais utilizada por qualquer usuário.

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Também temos de considerar que vivenciamos uma época em que se privilegiam a

comunicação e o conhecimento. Assim, por meio dos ambientes virtuais de ensino o

professor precisa permitir a socialização, utilizando recursos como fórum, chat, entre

outros, que possibilitam interatividade online. De acordo com Silva (2002, p. 185), a

interatividade online vem potenciar uma nova competência comunicacional em sala de

aula, com o que professor passa a ter um novo desafio, pois é preciso modificar a

comunicação no sentido participação-intervenção, porque não há mais a prevalência do

falar-ditar, mas a resposta autônoma, criativa e não prevista dos alunos, garantindo a

liberdade de expressão individual e coletiva.

Os alunos têm aí configurado um espaço de diálogo, de participação e

aprendizagem, que lhes permite trocar informações sobre assuntos específicos e de seu

interesse através de listas de discussão; ter acesso a artigos científicos, imagens e textos

com o uso da internet, realizar trocas de mensagens instantâneas com texto, áudio e vídeo

com outras pessoas independentemente de sua localização; debater assuntos a partir de

listas de discussão, entre outras atividades que podem ser realizadas através de um imenso

leque de ferramentas que podem ser úteis para as práticas escolares.

Os efeitos dessa comunicação em ambientes virtuais refletem-se diretamente numa

nova lógica, que incide diretamente nos processos didáticos e envolve a autonomia dos

agentes envolvidos em estabelecer os seus percursos de navegação e comunicação,

tornando o que antes parecia um entrave no processo de comunicação, a seqüencialidade e

a linearidade, algo facilmente superado com um simples clicar do mouse.

2.3 Internet e suas potencialidades didático-pedagógicas

A sociedade atual está passando por grandes transformações, o que representa

profundas mudanças na organização da sociedade e da economia. Percebe-se, cada vez

mais, que o acesso à informação, ao conhecimento, e, sobretudo, a capacidade de aprender

e inovar vêm assumindo um papel fundamental na sociedade atual. Segundo Takahashi

(2000, p. 6), “o conhecimento tornou-se, hoje mais do que no passado, um dos principais

fatores de superação de desigualdades, de agregação de valor, criação de emprego

qualificado e propagação do bem-estar”. Para o autor, um dos fatores que vêm

influenciando nessa transformação é o fantástico crescimento da internet.

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A internet, a grande rede de computadores7 que interliga milhões de computadores

do mundo inteiro, põe à disposição de quem a acessa um infinito mundo de informações

sobre os mais variados assuntos. Inicialmente, a internet era exclusividade de poucos;

somente a partir da metade da década de 1990 é que se popularizou, havendo uma

“explosão” de usuários conectando-se à rede em todo o mundo.

Num curto período de tempo, a internet disseminou-se por praticamente todo o

mundo, propiciando conectividade e substituindo tecnologias mais antigas, tornando-se um

padrão mundial de comunicação, tanto que hoje é a mídia que mais cresce no mundo.

Atualmente, são milhões de pessoas em todo o planeta que se beneficiam dos serviços

oferecidos pela internet, o que está provocando mudanças sociais, econômicas e culturais

(TAJRA, 2000, p. 114).

Percebe-se que a internet ocupa um espaço cada vez maior no dia-a-dia pessoal e

profissional, trazendo grandes benefícios a todas as áreas do conhecimento humano. Esse

grande crescimento se dá em razão de um fantástico avanço das tecnologias de

comunicação, ampliando a utilização do computador para além de uma máquina de

trabalho, ou seja, também constituindo-se numa máquina de comunicação. Com a internet,

tem-se acesso à World Wide Web, que é o grande armazenador de todo o tipo de

informações no mundo, permitindo a interligação de várias mídias (textos, imagens,

animações, sons e vídeos) simultaneamente e formando um imenso hipertexto (TAJRA,

2000, p. 115).

Além das possibilidades multimídia, a internet revoluciona a forma de expor os

conteúdos, rompendo com a linearidade característica do texto escrito. A

hipertextualidade8 oferece um excelente recurso para navegação pelas páginas publicadas

na rede, permitindo ao leitor o acesso a um grande número de informações sem que seja

necessário seguir uma organização linear. Segundo Teixeira (2002, p. 67),

[...] além do fato de se assemelhar aos processos dialógicos e mentais dos seres humanos, o hipertexto é apropriado para a representação de informações no computador pela possibilidade de subdividir um texto em trechos coerentes e relativamente curtos, facilitando a sua organização e compreensão; permite, também, fácil referência a outras partes do texto ou a outros textos totalmente independentes, muitas vezes armazenados em locais distantes. A esse processo de transitar entre diferentes locais através de links dá-se o nome de navegação.

7 Rede de Computadores – rede de telecomunicações que envolve a conexão entre dois ou mais computadores, permitindo a troca de dados entre essas unidades e otimizando recursos de hardware e software. 8 Hipertextualidade – consiste, entre outras coisas, numa espécie de texto multidimensional no qual numa página trechos de texto se intercalam com referências a outras páginas.

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Para Silva (2002, p. 15), à medida que o usuário faz uso das tecnologias

hipertextuais, ele tende a tornar-se menos passivo e aprende que é dele mesmo que

depende o gesto instaurador; diante da informação, da mensagem, ele pode interferir,

modificar, produzir e compartilhar.

A combinação do fenômeno multimídia com a hipertextualidade da internet deu

origem ao recurso hipermídia, no qual os documentos não são apenas textos, mas qualquer

mídia, como som, imagem ou vídeo. Conforme Brandão (1999, p. 32), a utilização de

multimídia e hipermídia determina novos princípios de uma interação amigável entre

homem e máquina, contribuindo, consideravelmente, para a essência da linguagem lúdica;

faz uma aproximação entre as atividades de brincar e educar através de uma comunicação

didática, que pressupõe a utilização de formas motivadoras de expressão do conhecimento,

permitindo que certas concepções educacionais sejam trabalhadas de forma mais integrada,

como prevê o construtivismo de Jean Piaget e o interacionismo de Vygotsky.

Todos esses recursos podem ser combinados e disponibilizados pela internet, que,

além de ser uma fornecedora de conteúdos ricos em informações passíveis de serem

incorporadas a qualquer programa de curso, também oferece excelentes recursos de

comunicação, proporcionando aos professores e alunos, a oportunidade não só de acessar

conteúdos, mas também, de se comunicarem e de interagirem através da rede, realizando

atividades colaborativas neste ambiente.

Pocho (2003, p. 83) ressalta que a internet pode ser utilizada em diversas situações

de aprendizagem com grandes vantagens como uma tecnologia educacional. Entre essas

situações cita:

a possibilidade da combinação de diversas linguagens audiovisuais (vídeo, áudio,

texto), que, juntas, estimulam o processo de aprendizagem independente;

a utilização de diferentes ferramentas para a comunicação entre as pessoas;

rapidez na busca de informações;

interatividade em tempo real com pessoas de qualquer parte do mundo.

Assim, são muitas as atividades que podem ser feitas em laboratório com o uso da

internet. Segundo Teixeira (2002, p.80), “as potencialidades da internet no meio

educacional abrem um leque muito amplo de utilizações, podendo ir muito além do que

uma visão otimista poderia imaginar”. Oferece-nos sons (rádio, CD-ROM, DVD-ROM),

imagens estáticas (fotos, quadros, gráficos, mapas, etc.), imagens em movimento (filmes,

animações, vídeos, TV, etc.), a facilidade de contatar pessoas em qualquer lugar do mundo

(correio eletrônico, canais de bate-papo, lista de discussões, etc.); ambientes ricos em

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possibilidades de aprendizagem e de ensino a distância (TelEduc, Moodle, WebCT,

Aulanet, etc.), videoconferências, em que várias pessoas em lugares diferentes podem

realizar encontros virtuais e interagir simultaneamente, trocando informações com o

auxílio de áudio e vídeo pela internet.

Nesse cenário, Tajra (2000, p. 127) salienta que é possível obter vários ganhos

pedagógicos, dentre os quais se podem citar:

acessibilidade a fontes inesgotáveis de assuntos para pesquisa;

páginas educacionais específicas para a pesquisa escolar;

páginas para busca de softwares;

comunicação e interação com outras escolas;

estímulo para pesquisar a partir de temas previamente definidos ou a partir da

curiosidade dos próprios alunos;

desenvolvimento de uma nova forma de comunicação e socialização;

estímulo à escrita e à leitura;

estímulo à curiosidade;

estímulo ao raciocínio lógico;

desenvolvimento da autonomia;

permite o aprendizado individualizado;

troca de experiências entre professores/professores, aluno/aluno e professor/aluno.

No entanto, apesar de todas as vantagens, Tajra alerta sobre uma série de

problemáticas, tais como:

muitas informações sem fidedignidade;

facilidade na dispersão durante a navegação;

lentidão de acesso nos sites em função da baixa qualidade das linhas telefônicas;

facilidade de acesso a sites inadequados para público infanto-juvenil.

Pela sua variedade de recursos, a internet apresenta uma vasta linha de aplicações

educacionais. A cada momento novas páginas são publicadas nesse ambiente, tornando-se

difícil para o professor deter o conhecimento de diversas fontes de pesquisa, em sites

existentes na rede. No entanto, as possibilidades educacionais oferecidas pelos serviços

proporcionados pela internet levantam novas perspectivas para o processo de ensino-

aprendizagem, visto que a construção do conhecimento pode ser mediada por uma

diversidade de serviços, oferecendo aos sujeitos envolvidos no processo inúmeras

possibilidades de interação, comunicação e de acesso a material didático, além do que está

disponível em sala de aula.

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Para Teixeira (2002, p. 80-81), os recursos oferecidos pela internet permitem que o

aluno explore novos territórios, realize atividades interdisciplinares e de trabalho

colaborativo com outros grupos, mesmo estando geograficamente dispersos, fazendo por si

próprio a busca pelo conhecimento, atuando como sujeito ativo no processo de

aprendizado. Nesse sentido, Tajra (2000, p. 129) ressalta que a internet é mais um dos

motivos da necessidade de mudança do papel do professor, que, nesse novo cenário, deve

atuar promovendo o confronto de informações localizadas e verificação de sua validade,

procurando estimular o senso crítico do aluno. Ainda segundo o autor:

[...] o ponto crucial para o sucesso de um projeto educacional, com o uso da internet, é a capacitação dos professores, seja em didática, tecnologia computacional, teorias de aprendizagens e, por fim, a própria exercitação e reflexão dessa técnica em função da educação (TAJRA, 2000).

O importante papel do professor para o uso adequado da tecnologia nos projetos de

ensino e aprendizagem é constatado na medida em que ele se mantém constantemente

atualizado e assume uma postura diferenciada, não simplesmente de transmissor de

conhecimento, mas de questionador, despertando o interesse dos alunos, acompanhando

seu desenvolvimento, instigando-os a aprender e a descobrir a partir de seus próprios

caminhos. Essa nova postura exige uma formação diferenciada do professor e uma

constante atualização, pois, apesar de as tecnologias já terem evoluído muito nos últimos

anos, os avanços não param. A cada dia novas ferramentas e soluções tecnológicas estão

surgindo, aumentando cada vez mais as variedades de serviços oferecidos, principalmente

através da internet, os quais atualmente já incluem serviços como comércio eletrônico,

internet móvel, comunicação por meio de voz, videoconferência, entre tantas outros.

Verifica-se que as potencialidades de uso da internet no meio educacional vão além

do se possa imaginar, o que reforça a tese de que o professor deve estar mais bem

preparado para fazer uso dos recursos que a rede oferece. Garantir que os educadores se

apropriem dessas tecnologias de forma adequada e que saibam como, quando e por que

utilizar cada serviço disponível na internet em benefício de conteúdo a ser trabalhado

constitui uma tarefa essencial para a sua inclusão digital.

Ao analisar as bibliografias relacionadas ao uso da internet nas atividades

pedagógicas, verifica-se que é fundamental não apenas o acesso, mas a apropriação

tecnológica dos professores no sentido de possibilitar a sua familiarização com essa

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tecnologia, de forma crítica e consciente, de modo que se sintam não como meros usuários,

mas como produtores de conhecimento. É preciso que os professores percebam as

possibilidades oferecidas por essas tecnologias e possam incrementar suas rotinas diárias

com o auxílio do computador, criando situações novas, que lhes permitam alcançar seus

objetivos através de diferentes estratégias que envolvam o exercício da não-linearidade, da

interatividade e da comunicação em tempo real. Assim, promoverão uma verdadeira

cultura das relações em ambientes virtuais.

Heide (2000, p. 154) enfatiza que “utilizar a internet de maneira eficiente depende,

em parte, de ter uma boa noção dos tipos de recursos de aprendizagem disponíveis na

internet”. Hoje, o que move os professores, mas, sobretudo, os alunos, frutos de uma nova

geração em direção ao uso de ambientes de aprendizagem através da rede mundial, é o fato

de a internet representar a síntese de alguns elementos básicos para o processo educacional,

representado pelo alto poder de interatividade, pela convergência de mídias e pelo

rompimento de uma linearidade.

Dessa forma, ao utilizar uma tecnologia como a internet para fins educacionais,

onde a veiculação de informação pode ocorrer em múltiplas mídias e a possibilidade de

interação e comunicação com o usuário ocorre de modo síncrono e assíncrono, com os

conteúdos sendo arrolados de acordo com uma lógica estabelecida pelo próprio usuário. É

preciso, pois, que haja uma reflexão contínua sobre as possibilidades oferecidas por esses

recursos para o meio educacional.

Nesse sentido, apresentam-se a seguir algumas das principais aplicações da internet

que podem ser direcionadas para fins pedagógicos.

2.3.1 Navegar na internet

A partir do serviço de WWW é possível navegar na internet, que significa visitar

páginas a partir de endereços e links que interligam as páginas, por meio dos quais se

consegue navegar na rede. Na internet é possível escolher o caminho que se pretende

percorrer, de acordo com o interesse de cada um, ou seja, não existe uma rota

predeterminada, podendo-se chegar a um mesmo local por diferentes caminhos.

Uma das possibilidades de utilizar o recurso de navegar na internet é para o

encaminhamento de atividades de pesquisa. A rede é um vasto repositório de dados, onde é

possível encontrar informações sobre qualquer assunto, o que é reforçado por Tajra (1999,

p. 38): “A internet é hoje considerada a maior fonte de informação do mundo. É uma

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enciclopédia universal. Mas é importante ficar atento para a veracidade destas

informações. Muitas delas não possuem boas procedências e não são confiáveis”. Essa

necessidade de cuidado com as informações obtidas pela internet é reforçada por

Magdalena:

[...] a internet abre a possibilidade para que todos possam escrever e publicar. Não há, ao menos no momento, o crivo de um grupo de editores que nos dizem sobre o que vale a pena escrever, quando escrever e para quem. Neste meio, em tese, escritores e aspirantes têm as mesmas possibilidades e direitos. (2003, p. 61).

Para Tajra, uma das razões pelas quais isso acontece é que na internet não existe

censura ao se tentar publicar um site. Então, é importante que se fique atento à origem das

informações contidas nos sites ao utilizá-las para trabalhos, assegurando, assim, uma

pesquisa bem elaborada e com informações confiáveis.

É importante salientar que na internet existem sites que foram desenvolvidos

especialmente para facilitar as pesquisas dos internautas, os conhecidos “sites de busca”.

Nesses sites é possível realizar buscas na internet sobre qualquer tema; basta informar

palavras ou o assunto pretendido que uma lista de sites a ele relacionados é apresentada na

tela.

2.3.2 Pesquisa na internet

É notável a grande capacidade de comunicação e de pesquisa de informações que a

internet oferece através dos serviços de WWW. Conforme Tajra (2002, p.31), “a WWW é

considerada a biblioteca universal, pois possui o maior acervo de informações no mundo e

está disponível 24 horas por dia em qualquer país”. Em virtude dessa facilidade de acesso

e de atualização de informações, é possível realizar pesquisas dos mais diversos assuntos

com grande facilidade.

Atualmente, qualquer pessoa pode publicar conteúdos na internet com grande

facilidade. Por isso, Tajra alerta sobre o controle de acesso a esses conteúdos, o que é uma

grande preocupação dos educadores para melhorar a qualidade e a confiabilidade das

informações obtidas. Ao pensar sobre o uso da internet em sala de aula para a realização de

pesquisas, é preciso que essas questões típicas da sociedade do conhecimento sejam

trabalhadas, preparando os alunos para que saibam como analisar as informações obtidas

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através deste ambiente, de forma que tenham condições de discernir entre conhecimentos

que podem e que não podem ser utilizados em seus trabalhos.

Tajra adverte ainda que

[...] utilizar a internet como meio de pesquisa não significa excluir as demais mídias, sejam impressas ou audiovisuais. É importante que a escola continue sempre utilizando o livro, as revistas, os jornais, os vídeos, a televisão, o rádio e os demais meios como fonte de pesquisa. Cada um desses meios tem seu papel na busca de novas informações e referências bibliográficas. O que se pretende com a internet é ampliar e estimular as possibilidades para a realização de pesquisas (2002, p. 32).

Para o professor, o conhecimento das fontes existentes para realização de pesquisas

de acordo com a sua área é fundamental para o desenvolvimento de seu trabalho, pois em

todo o processo de construção do conhecimento, qualquer que seja seu nível, faz-se

imprescindível o uso de determinados instrumentos para conseguir a informação

necessária. As atividades de pesquisa na internet podem ser realizadas de diversas

maneiras, através de recursos e ferramentas que permitem utilizar a rede como uma grande

biblioteca, na qual se podem encontrar informações sobre os mais diversos assuntos.

Na internet, alguns sites foram desenvolvidos especificamente para facilitar as

pesquisas dos internautas, permitindo que sejam realizadas buscas nos mais variados

assuntos a partir do mesmo ambiente. Um dos sites de busca mais utilizados atualmente é o

Google, que possui uma interface muito simples, mas com grande capacidade de busca

sobre os mais variados assuntos. Para realizar uma busca no Google, é necessário

simplesmente digitar uma palavra-chave sobre o assunto desejado e clicar no botão

pesquisar. Outras buscas mais avançadas também podem ser realizadas no site, permitindo

que o usuário estabeleça critérios de busca mais detalhados, aprimorando a busca e

aumentando as chances de encontrar a informação desejada.

Outras funcionalidades importantes também podem ser encontradas nesse tipo de

ferramenta, das quais se podem citar a capacidade de busca de imagens, a busca em blogs9

e, principalmente, a capacidade de busca por artigos científicos, monografias, dissertações

e teses, possíveis com o uso do Scholar Google, um dos mais recentes serviços de busca

disponibilizado na Internet. Esse serviço apresenta grandes benefícios para as atividades

escolares, principalmente para as atividades de pesquisa.

9 Ferramentas comunicacionais que se constituem como hiperdocumentos propícios a uma nova forma de organização, transmissão e acesso à informação.

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Pelas facilidades que foram agregadas a essa ferramenta, apesar de atualmente estar

disponível em uma versão beta10, o Scholar Google apresenta grande potencial

educacional, principalmente quando se trata de pesquisa, pois a internet é muito ampla,

contemplando uma coleção muito grande de informações; logo, são necessárias essas

ferramentas para facilitar a busca.

Outra forma de realizar pesquisas na internet é através dos sites educacionais, que,

conforme Tajra (2002, p.33), contêm conteúdos educacionais pré-selecionados, nos quais

profissionais disponibilizam informações relacionadas a conteúdos escolares. Esse tipo de

site apresenta as informações de acordo com um foco, ou seja, as informações são geradas

e mantidas, voltadas a um público-alvo ou a um assunto específico. Geralmente, são

criados por profissionais qualificados e com um bom nível de conhecimento sobre os

assuntos abordados, garantindo, assim, maior grau de segurança com relação à qualidade

das informações, o que é enfatizado por Tajra quando afirma:

[...] a vantagem de utilizar os sites educacionais, ou seja, os sites que foram desenvolvidos para finalidades educacionais, é que eles contém informações seguras, tendo em vista que a publicação de suas páginas é previamente analisada por educadores, evitando assim maiores riscos em acessar sites inadequados ou com informações duvidosas (TAJRA, 2002, p.33).

Embora a internet seja uma ferramenta de grande utilidade e importância na

pesquisa estudantil, é importante ficar atento quanto à qualidade da informação obtida

nesse ambiente. Como tantos professores sabem, nem todas as informações são válidas.

Sites educacionais, jornais, revistas e sites de instituições são minuciosamente verificados

por revisores e editores, mas é preciso lembrar que a internet é um universo de informações

livres; portanto, é preciso avaliar a qualidade e a confiabilidade de tudo o que for obtido,

determinando quais fontes serão mais valiosas para os trabalhos de pesquisa.

Também é importante considerar a questão dos direitos autorais, pois, com tanto

material facilmente baixado da internet, principalmente quando de trata de arquivos

multimídia (imagens, sons, vídeos, animações, etc.), os professores e alunos precisam fazer

“justa utilização” do material obtido, de forma que seja utilizado somente para propósitos

instrucionais. É importante lembrar que a reprodução ou publicação de materiais obtidos

10 Versão de avaliação de um software, permitindo que seja usado e testado pelos usuários na sua totalidade, com o objetivo de identificar possíveis falhas a serem corrigidas para a disponibilização definitiva do serviço.

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através da internet sem a devida autorização do autor pode caracterizar violação dos

direitos autorais desse material.

2.3.3 Comunicação na internet

Com a internet, abre-se uma grande possibilidade de comunicação. São inúmeras as

ferramentas desenvolvidas para facilitar a comunicação via rede, garantindo espaços em

que alunos e professores possam trocar informações a qualquer momento, em qualquer

lugar.

A comunicação nunca foi tão fácil, rápida e barata. Segundo Tajra (1999, p. 42), os

serviços da internet mais utilizados são os de comunicação, os quais favorecem e

provocam os alunos a estabelecerem relações cooperativas, permitindo o diálogo e o

trabalho em grupo através de ambientes virtuais. Há hoje basicamente dois tipos de

comunicação na internet: síncronas e assíncronas.

Síncronas: são os serviços que exigem, pelo menos, dois ou mais usuários

interligados à rede ao mesmo tempo para acontecer. A Figura 4 ilustra um diálogo

utilizando uma comunicação síncrona em tempo real.

Figura 4 - Comunicação Síncrona

Os serviços disponíveis na internet para comunicação síncrona são os chats, ou

salas de bate-papo. Esses softwares oferecem uma interface pela qual os usuários podem

realizar uma comunicação em tempo real entre emissor e receptor, como ilustrado na

Figura 5.

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Figura 5 - Chat

O software apresentado na figura anterior é baseado em ferramentas WWW, ou

seja, o próprio navegador de internet serve de ambiente para a troca de mensagens, não

havendo a necessidade de instalação de outros softwares na máquina do usuário para que a

comunicação aconteça.

Outros softwares para bate-papo também são utilizados na internet, como o ICQ e o

Messenger, porém para uso desses é necessária a instalação de um programa específico

para que o diálogo seja estabelecido. A Figura 6 ilustra a tela do software ICQ.

Figura 6 - Software ICQ

Com esses softwares, além de conversar em tempo real, é possível enviar arquivos,

compartilhar endereços de internet, entre outras opções, como ter acesso à lista de pessoas

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cadastradas e buscar outros usuários do serviço. Numa concepção pedagógica, essas

ferramentas permitem que sejam realizadas discussões sobre determinados temas em

tempo real. No entanto, para o uso de ferramentas de comunicação síncrona, é preciso que,

no momento da utilização desses serviços, todas as pessoas envolvidas estejam

simultaneamente conectadas à internet, havendo a necessidade de um agendamento prévio

para uma discussão utilizando esse tipo de ferramenta.

Assíncronas: São serviços que funcionam mesmo quando um dos usuários não está

conectado. Ao enviar uma mensagem, não é necessário que o destinatário esteja conectado

naquele momento. É possível enviar uma mensagem para um destinatário mesmo que este

esteja com o computador desligado, conforme ilustrado na Figura 7. Quando o usuário a

quem a mensagem foi destinada ligar o computador, essa será entregue.

Figura 7 - Comunicação Assíncrona

Como exemplos de ferramentas assíncronas de comunicação pela internet podem

ser citados os softwares de correio eletrônico, blog, lista de discussão e fórum.

Os softwares de correio eletrônico permitem que mensagens sejam enviadas e

distribuídas à medida que os usuários se conectam à internet. As mensagens ficam

armazenadas num servidor na internet até que cada usuário faça o acesso para buscar as

suas correspondências eletrônicas. Isso permite que através do correio eletrônico seja

realizada uma comunicação assíncrona, na qual os usuários não precisam estar online ao

mesmo tempo para se comunicar. A comunicação neste tipo de software pode ser um-para-

um ou um-para-muitos, permitindo que assuntos sejam discutidos através da troca de

mensagens.

É importante ressaltar que na rede muitas pessoas e empresas prestam os mais

variados serviços grátis, úteis para pessoas que pretendem usar os recursos da internet

mesmo sem ter condições de pagar pelos mesmos, como é o caso de serviços de publicação

gratuita de home pages e contas de e-mail. Apesar de os softwares de correio eletrônico

serem eficazes para a comunicação pela internet, quando se trata de realizar discussões

sobre assuntos específicos envolvendo um grupo de usuários (Figura 8), outras ferramentas

podem ser mais eficientes, como é o caso das listas de discussão.

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Figura 8 - Comunicação entre grupos de usuários

Numa lista de discussão existe um endereço eletrônico (e-mail) para cada

participante; todos os participantes recebem uma cópia de cada mensagem enviada para a

lista através do seu e-mail. As mensagens também ficam disponíveis através do serviço de

WWW para futuras consultas. Segundo Tajra (2002, p. 88),

[..] as listas de discussão são um tipo de correio eletrônico coletivo. Elas geralmente são organizadas por pessoas interessadas em discutir um assunto de interesse comum. Por exemplo: existem listas para discutir somente questões relacionadas a meio ambiente, história, matemática, medicina, cidadania e qualquer assunto que possa imaginar.

Para a utilização de uma lista de discussão num projeto educacional, Tajra (2000, p.

125) alerta sobre a importância da criação de algumas regras, tais como:

padronização dos tipos de mensagens enviadas pela lista, evitando mensagens de

interesse particular;

padronização do modo como deverão ser mencionados os assuntos, para que os

usuários da lista possam facilmente identificar as mensagens da lista;

ao enviar arquivos pela lista, é importante padronizar o formato que será utilizado,

para que todos tenham condições de abrir os arquivos para ter acesso ao seu conteúdo;

limitar o tamanho dos arquivos trocados pela lista, evitando arquivos muito grandes.

Semelhante à lista de discussão, também se podem utilizar os serviços de fórum,

que diferem da lista de discussão por ficarem disponíveis apenas em páginas WWW, sem o

uso do endereço eletrônico. Todas as informações geradas na comunicação ocorrida num

fórum ficam armazenadas e são publicadas para acesso pelos outros participantes. Em

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ambas as ferramentas de comunicação da internet baseadas em texto, os usuários utilizam o

teclado para digitar as mensagens que serão repassadas ao destinatário.

Em razão da rápida evolução e do barateamento dos preços de equipamentos e pela

ampliação da capacidade de transmissão de informação no setor das telecomunicações,

surgem novas possibilidades de comunicação através da internet, permitindo que, além da

utilização de texto, também possam ser utilizados som e vídeo em tempo real. Novos

softwares e protocolos de comunicação permitem a conversação em tempo real pela

internet, como é o caso da videoconferência, que tem sido cada vez mais utilizada por

empresas e instituições. Atualmente, com a utilização de equipamentos e softwares

específicos, já é possível a realização de uma aula por videoconferência, permitindo a

criação de um ambiente em que tanto professores como alunos, separados física e

geograficamente, possam se comunicar por imagem e som num mesmo tempo e lugar

virtual.

Essas soluções tecnológicas colocaram à disposição da escola a possibilidade de

reproduzir a sala de aula a partir de um ambiente virtual de aprendizagem, expandindo as

possibilidades da utilização da informática no ambiente de ensino, propiciando a realização

de atividades educacionais para além do espaço físico da escola, através de linhas de

comunicação que, ao mesmo tempo que mantêm o contato audiovisual em tempo real entre

professores e alunos, acrescentam recursos tecnológicos que provocam uma nova

dinâmica.

2.3.4 Novas possibilidades da internet para a educação

A navegação, a pesquisa e a comunicação na internet constituem uma etapa inicial

de um processo de apropriação que, uma vez encontrando espaço na escola, faz emergir

novas possibilidades, que envolvem desde Wiki, Weblog, WebQuest até videoconferências

interativas. É importante ficar atento também para as novas aplicações que estão surgindo

com o uso da internet, as quais estão cada vez mais interativas e fáceis de usar, permitindo

que o nível de comunicação e colaboração oferecido pela internet seja ampliado.

Aplicações como Wiki11 permitem que documentos sejam editados coletivamente

com uma linguagem de marcação muito simples apenas através da utilização de um

navegador Web. Uma das características definitivas da tecnologia Wiki é a facilidade com

11 O termo “Wiki” é utilizado para identificar um tipo específico de coleção de documentos em hipertexto ou o software colaborativo usado para criá-lo. Permite a edição coletiva dos documentos sem que o conteúdo tenha de ser revisado antes da sua publicação.

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que as páginas são criadas e alteradas. Wikis são verdadeiras mídias hipertextuais, com

estrutura de navegação não linear; cada página geralmente contém um grande número de

ligações para outras páginas.

No entanto, geralmente não existe qualquer revisão antes das informações serem

aceitas e publicadas, e a maioria dos Wikis são abertos a todo o público, ou pelo menos, a

todas as pessoas que têm acesso ao servidor Wiki. Em alguns Wikis, nem mesmo o registro

de usuários é obrigatório. Nesse sentido, o uso do Wiki para fins educacionais precisa ser

adotado com muita cautela, principalmente ser for utilizado com fins de pesquisa, pois

representa um ótimo recurso para o registro do andamento e resultados de trabalhos e

pesquisas desenvolvidas.

Uma aplicação semelhante que surgiu com o uso da internet são as páginas de

Weblog12, ou também muito conhecidas por Blog. Os Blogs permitem publicar e atualizar

informações a todo instante, de qualquer lugar do planeta, sem complicação ou

programação. Os sistemas de criação e edição de blogs são muito atrativos pelas

facilidades que oferecem, pois dispensam o conhecimento de HTML, o que atrai pessoas a

criá-los, ao invés de suas páginas ou sites pessoais.

Os serviços de Weblog contam, ainda, com várias ferramentas para classificar

informações técnicas a seu respeito, todas disponibilizadas na internet por servidores

exclusivos e/ou usuários comuns. As ferramentas abrangem: registro de informações

relativas a um site ou domínio da internet quanto ao número de acessos, páginas visitadas,

tempo gasto, de qual site ou página o visitante veio, para onde vai do site ou página atual e

uma série de outras informações.

Os Blogs também são uma excelente forma de comunicação. É possível a criação de

um Blog privativo, no qual equipes de trabalho possam discutir projetos e apresentar

soluções, permitindo que grupos se comuniquem de forma mais simples e organizada do

que através do e-mail ou grupos de discussão, por exemplo. Pelas facilidades oferecidas

pelos serviços de blog, estes passaram a ser utilizados para fins educacionais, permitindo

aplicações colaborativas, pois um grupo de estudantes pode se reunir para atualizar um

mesmo Blog sobre um determinado conteúdo estudado. Surgiam, assim, os Blogs

12 Um Weblog é um registro publicado na internet relativo a algum assunto organizado cronologicamente (como um histórico ou diário). É como uma página de notícias ou um jornal que segue uma linha de tempo com um fato após o outro. O conteúdo e tema dos Webblogs abrangem uma infinidade de assuntos, que vão desde diários, piadas, links, notícias, poesia, idéias, fotografias, a tudo o que a imaginação do autor permitir. O termo Weblog também pode aparecer com as seguintes traduções: Blog (linguagem mundial), registro (registro no Brasil), diário (virtual), Placard, quadro, Blogue (português).

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educativos, que são um grande atrativo como ferramenta educacional utilizada para o

registro de idéias de professores e alunos.

Outras ferramentas que fornecem um modelo para associar pesquisa baseada na

Web e resultados da aprendizagem de uma forma prática e confiável são as WebQuests13.

Qualquer pessoa pode desenvolver uma WebQuest. Para isso, é necessário criar um site

que pode ser construído com um editor de HTML (HyperText Markup Language), serviço

de Blog ou até mesmo com um editor de texto que permita salvar arquivos como página da

Web. Segundo Heide (2000, p. 154),

[...] o apelo da WebQuests tem a ver com o fato de que ela pode ser agrupada a uma grande variedade de ambientes de tecnologia e a muitas áreas diferentes do currículo. Além disso, os projetos da WebQuest podem ser facilmente utilizados em situações de aprendizagem extracurricular.

As WebQuests têm a virtude da simplicidade e podem ser facilmente desenvolvidas

por qualquer aluno e sobre qualquer assunto. Assim, as WebQuests podem variar desde um

simples conjunto de perguntas que os alunos respondem utilizando a internet até a

realização de um grupo de discussão designado pelo professor, oferecendo um ambiente

muito rico de informações, no qual os alunos possam pesquisar sobre um determinado

assunto, realizar debates online e publicar as conclusões obtidas durante os estudos num

mesmo ambiente.

Além desses espaços para trabalho colaborativo, comunicação e publicação de

informações, também estão sendo adotados para as atividades educacionais, especialmente

para a educação a distância, os ambientes virtuais (Teleduc, Moodle, etc.), que permitem a

criação, participação e administração de cursos a distância pela internet. Podem ser usados

tanto para educação a distância como para atividades de apoio ao ensino presencial, tais

como disponibilização de material didático, reforço e explicações adicionais, saneamento

de dúvidas, aprofundamento de conceitos e, ainda, uma grande quantidade de atividades de

interação.

Esses ambientes oferecem, além de uma interface amigável e intuitiva, uma

variedade de ferramentas de apoio as atividades, tais como Lista de Atividades, Agenda,

Publicação de Material de Apoio, Indicação de Leituras, Mural, Portfólio, Listas de

13 WebQuest é um modelo extremamente simples e rico para uso educacional da internet, com fundamento em aprendizagem cooperativa e processos investigativos na construção do saber. É uma metodologia de pesquisa orientada, no qual quase ou todos os recursos utilizados são provenientes da Web.

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Discussão, Salas de Bate-Papo, Controle de Acessos, entre outras ferramentas úteis para a

realização de atividades semipresenciais e a distância.

Além desses ambientes virtuais, a internet ainda oferece novas possibilidades de

comunicação a partir de ferramentas que permitem a comunicação em tempo real com voz

e vídeo, oferecendo novas formas de cooperação através da rede. As videoconferências14

permitem que grupos de pessoas geograficamente distantes possam reunir-se num espaço

virtual único sem sair de suas salas. Com ferramentas de videoconferência, além de ter

contato visual, falar e ouvir, é possível examinar documentos ao mesmo tempo, desenhar

num quadro virtual, exibir slides, passar uma apresentação em PowerPoint, trabalhar numa

planilha, demonstrar um novo produto, tudo online entre todos os participantes.

É notável o grande potencial para a educação que essas novas aplicações

representam a partir do desenvolvimento das tecnologias de comunicação e, mais

especificamente, da internet. Com certeza, as aplicações da internet para as atividades

educacionais não se esgotam nas que aqui foram apresentadas, mas é de grande

importância a percepção de que a rede é uma grande aliada de professores e alunos,

oferecendo uma infinidade de recursos inovadores de comunicação e interação a partir de

suas variadas aplicações.

2.4 Educação a distância

Os avanços das tecnologias de informação e comunicação, especialmente da

internet, colocaram à disposição da escola a possibilidade de reproduzir a sala de aula,

expandindo-a de um lugar físico bem demarcado para um grande “lugar” virtual, feito de

locais situados a distâncias variadas, interligadas por linhas de comunicação que, ao

mesmo tempo que mantêm o contato entre professores e alunos, acrescentam recursos

tecnológicos que provocam uma nova dinâmica.

A educação a distância (EAD) possui várias definições. Segundo a Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional (LDB), “é uma forma de ensino que possibilita a auto-

aprendizagem, com a mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados,

apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou

14 Videoconferência é um sistema que possibilita a comunicação entre pessoas geograficamente distantes, através de áudio e vídeo simultaneamente. Tem por objetivo o compartilhamento de informações e materiais de trabalho sem que haja a necessidade de gastar tempo e recursos com locomoções. É um serviço suportado em redes de banda larga, permitindo a comunicação audiovisual em tempo real.

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combinados e veiculados pelos diversos meios de comunicação”. A EAD implica o uso das

mídias e da comunicação para que alunos e professores distantes uns dos outros possam

interagir a partir do uso de tecnologias que estarão mediando a interação e comunicação

durante os estudos. Segundo Rodrigues (1998),

[...] uma das características mais marcantes da Educação a Distância é, obviamente, a separação física entre o professor e os alunos durante a maior parte do tempo. Para haver comunicação é necessária mediação do meio de comunicação, da mídia utilizada no curso - material impresso, áudio, vídeo, teleconferência, videoconferência, internet, softwares, CBT, etc; que atuam como um "filtro" na comunicação, diferenciando-a da presencial.

Até a década de 1980, as tecnologias disponíveis para comunicação e interação a

distância entre professores e alunos eram poucas e simples. As instituições baseavam seus

trabalhos em material impresso, programas em áudio, vídeo ou transmissões em TVs e

rádios educativas. Segundo Belloni (2001), a EAD pode ser dividida em três gerações:

a primeira geração caracteriza-se pelo ensino por correspondência, que teve início

no século XIX; nesta fase pioneira a interação entre o professor e o aluno era muito lenta,

esparsa e limitada;

a segunda geração pode ser caracterizada pelo ensino com a utilização de

multimeios a distância e teve início na década de 1960, acrescendo à EAD o uso dos meios

de comunicação audiovisuais (programas de vídeo e áudio, difundidos via cassetes ou via

antena) e, em certa medida, computadores. Desenvolveu-se a partir das orientações

behavioristas e industrialistas, típicas da época, pacotes instrucionais integrando em maior

ou menor medida as inovações tecnológicas de comunicação e informação;

a terceira geração de EAD começou a surgir na década de 1990, com o

desenvolvimento e disseminação das novas tecnologias de informação e comunicação.

Foram acrescentados novos meios, implicando mudanças radicais nos modos de ensinar e

aprender: unidades de curso concebidas sob a forma de programas interativos

informatizados (que tenderão a substituir as unidades de curso impressas); redes

telemáticas com todas as suas potencialidades (bancos de dados, e-mail, listas de

discussão, sites, etc.).

Uma característica marcante dos meios usados nesta terceira geração é a

interatividade, que permite ao usuário interagir com a máquina e, por meio dela, com

outras pessoas (intersubjetividade). A partir da fundamentação obtida com o conceito de

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ZDP de Vygotsky e em estudos de Piaget, nota-se a grande importância dessa característica

da EAD, uma vez que facilita e incentiva a comunicação e a interatividade entre os alunos,

contribuindo para o desenvolvimento cognitivo e proporcionando uma aprendizagem

cooperativa.

O princípio de interatividade presente na EAD também apresenta forte relação com

o construtivismo, segundo o qual o conhecimento é (re)construído pelo indivíduo nas

interações com o ambiente externo, onde o aluno é ativo no processo de aprendizagem, por

meio da experimentação, da pesquisa em grupo, do estímulo à dúvida e ao

desenvolvimento do raciocínio. Nessa perspectiva, o professor assume o papel de

facilitador, provocador e estimulador de novas experiências, propondo estratégias ou

caminhos para buscar a construção do conhecimento almejado.

Percebe-se que esse avanço da tecnologia tem possibilitado um grande salto para a

educação a distância, permitindo a exploração de espaços, culturas e conhecimentos

espalhados em diferentes localidades e a implementação de trabalhos cooperativos entre

alunos, professores e instituições, através das tecnologias de informação, comunicação e,

sobretudo, da internet. Nesse sentido, no momento em que o Brasil assiste a um verdadeiro

boom de ofertas de cursos em EAD, o Ministério da Educação chama a atenção para a

importância de serem preservados os princípios de qualidade de uma boa educação para

possibilitar a cada pessoa o desenvolvimento de suas capacidades cognitivas, sociais,

emocionais, profissionais e éticas.

Assim, ressalta-se também na educação a distância o importante papel do professor,

que precisa estar preparado para saber lidar com as novas possibilidades de ensino

oferecidas pelas tecnologias e metodologias de EAD, estando atento à escolha de material

didático adequado e de meios apropriados para levar o ensinamento até o aluno, assim

como saber decidir sobre que estratégias didáticas e que instrumentos de apoio utilizar em

cada momento, de acordo com as atividades a serem realizadas pelos estudantes.

Neste capítulo foram apresentados as principais ferramentas e recursos tecnológicos

que atualmente podem ser utilizadas em ambientes informatizados de ensino. Buscou-se

identificar também, algumas das principais estratégias que podem ser adotadas pelos

professores nos ambientes escolares para o uso das atuais tecnologias na transposição e

construção dos conteúdos curriculares.

No próximo capítulo será apresentado o caminho metodológico adotado na

condução da pesquisa realizada neste trabalho, com o fim de identificar na realidade dos

professores e escolas da região, a forma como os recursos tecnológicos estão sendo

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apropriados pelos professores e que estratégias estão adotando para o uso desses recursos

em suas atividades pedagógicas, assim como, que conceitos ou que teorias educacionais

baseiam suas práticas em ambientes informatizados de ensino.

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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para o desenvolvimento deste trabalho optou-se pela realização de uma pesquisa de

natureza analítica exploratória. Com base nas informações coletadas, buscou-se esclarecer

conceitos e idéias que permitam a constatação de elementos fundamentais a serem

observados em ambientes informatizados de ensino e as estratégias didáticas abordadas

pelos professores a partir de uso das novas tecnologias de informação e comunicação nos

ambientes escolares, assim como gerar conhecimentos para aplicações práticas envolvendo

o desenvolvimento e uso desses ambientes informatizados no processo de ensino-

aprendizagem.

O trabalho é composto por uma revisão bibliográfica sobre do tema da pesquisa,

elaborada com base em materiais e obras já publicadas, e por uma experiência de campo

desenvolvida com professores e coordenadores de laboratório, os quais constituem os

sujeitos desta pesquisa. Optou-se por focalizar como alvo docentes de escolas de educação

básica (ensino fundamental e médio) da região de Passo Fundo, e que estejam envolvidos

com o uso de ambientes informatizados de ensino em suas práticas pedagógicas.

A revisão bibliográfica possibilitou um melhor entendimento das principais teorias

que norteiam a prática dos professores e do contexto tecnológico atual, e também uma

maior visão das possibilidades oferecidas pelas tecnologias para o uso educacional. O

referencial teórico obtido permitiu o estabelecimento de relações entre essas teorias e a

utilização por parte dos professores dos recursos informatizados nos ambientes de ensino e

aprendizagem1.

Durante a realização da revisão bibliográfica foi possível conhecer o que está sendo

discutido com relação ao tema da pesquisa, levando em consideração os principais autores 1 Foram abordadas questões relacionadas aos fundamentos teóricos que embasam as atividades pedagógicas, buscando identificar suas relações com o uso de ambientes informatizados de ensino.

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da área nas suas diferentes especialidades relacionadas à questão do uso dos ambientes

informatizados de ensino, envolvendo desde teorias educacionais, até as possibilidades

pedagógicas oferecidas pelas novas tecnologias de informação e comunicação (NTICs).

As obras analisadas, bem como as demais referências, foram essenciais para a

fundamentação e definição das etapas de concepção e desenvolvimento do presente

trabalho2. Tendo em vista a natureza do objeto investigado e tomando por base o

referencial teórico, desenvolveu-se uma experiência de campo buscando analisar junto a

um grupo de professores os seguintes questionamentos:

De que forma os professores estão se apropriando das tecnologias de informação e

comunicação em suas práticas pedagógicas?

Quais as necessidades e dificuldades que os professores encontram ao fazer uso de

recursos informatizados em suas atividades diárias?

Como estão transpondo as estratégias didáticas para os ambientes informatizados de

ensino?

O trabalho de campo permitiu obter informações referentes ao tema central da

pesquisa e revelar situações não captadas durante a revisão bibliográfica, assim como

verificar na prática como os professores estão se apropriando das novas tecnologias, que

estratégias didáticas estão sendo utilizadas e que dificuldades estão enfrentando com o uso

de ambientes informatizados de ensino.

3.1 Coleta de dados

A coleta de dados realizada na experiência de campo ocorreu através de entrevistas

com os professores e da observação da realidade (observação participante), realizada em

ambientes informatizados de ensino. 2 Dentre os autores estudados, é dado um destaque especial: aos trabalhos de Skinner, visto que, apesar das grandes evoluções tecnológicas ocorridas nos últimos anos, suas características behavioristas ainda se fazem presentes em muitos softwares utilizados nos ambientes informatizados de ensino; a abordagem construtivista de Piaget, tendo em vista que as novas tecnologias não lineares, como a multimídia, realidade virtual, inteligência artificial e hipertexto oferecem recursos que permitem trabalhar em ambientes informatizados de ensino seguindo uma concepção construtivista, inclusive com recursos inovadores, que não seriam possíveis sem a utilização das atuais tecnologias; a abordagem sócio-construtiva de Vygotsky, que também apresenta uma relação muito íntima com a utilização de ambientes informatizados de ensino, apresentando grande contribuição para a reflexão sobre utilização dos recursos computacionais no ambientes educacional e as obras de Valente, Tajra e Brandão que contribuíram fundamentalmente para o embasamento das discussões referentes ao uso da informática na educação, revelando aspectos relacionados às potencialidades do uso de ambientes informatizados de ensino nas práticas pedagógicas e apontando para estratégias que podem ser adotadas pelos professores no uso desses recursos em suas práticas.

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Para o desenvolvimento das atividades de campo, foi feito contato com 25 escolas,

sendo 22 estaduais e três particulares. O contato com as escolas foi realizado pessoalmente

e, em alguns casos, por telefone, principalmente com as localizadas fora da cidade de

Passo Fundo. Quando do primeiro contato, após a apresentação inicial, eram expostos os

objetivos do estudo junto à escola e seus professores, assim como se fazia uma breve

consulta sobre a disponibilidade de ambientes informatizados no estabelecimento.

Optou-se por considerar como loco privilegiado da pesquisa apenas as escolas em

que os professores já desenvolviam atividades em laboratório de informática e que

manifestaram interesse na realização do trabalho. Nas escolas selecionadas foram

agendadas com os professores datas e horários para as entrevistas e a observação. A coleta

de dados buscou também envolver informações sobre como são configurados os ambientes

informatizados de ensino na prática e como são utilizados no dia-a-dia dos professores,

assim como identificar de que forma esses profissionais vêm se apropriando dessas

tecnologias e quais as dificuldades que encontram ao utilizar tais tecnologias em suas

atividades diárias. Dessa forma, as práticas adotadas nos ambientes informatizados e as

opiniões emitidas pelos professores constituem elementos essenciais para o plano de

análise adotado neste trabalho, pois permitem a compreensão das práticas escolares e das

ações didático-pedagógicas no que se refere ao uso das novas tecnologias em educação.

Durante a coleta de dados foram utilizados, além de registros em bloco de

anotações, um gravador e máquina fotográfica para garantir os registros e facilitar análises

posteriores.

3.1.1 Entrevista

Optou-se pela realização de uma entrevista não estruturada, na qual, segundo

Lakatos (1996, p. 85),

[...] o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situação em qualquer direção que considere adequada. É uma forma de poder explorar mais amplamente uma questão. Em geral as perguntas são abertas e podem ser respondidas dentro de uma conversação informal.

Dessa forma, a entrevista foi desenvolvida na modalidade focalizada, ou seja, “há

um roteiro de tópicos relativos ao problema que se vai estudar e o entrevistador tem

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liberdade de fazer as perguntas que quiser: sonda razões e motivos, dá esclarecimentos,

não obedecendo, a rigor, a uma estrutura formal”. (LAKATOS, 1996, p.85). Assim, os

questionamentos não foram feitos de forma cronológica e, sim, conforme o andamento da

entrevista, para dar maiores condições aos professores entrevistados de revelarem através

de suas falas e depoimentos informações pertinentes à pesquisa.

Esse aspecto é enfatizado por Cortes:

O entrevistador centra a conversa no aprofundamento de certo(s) tema(s) e o respondente pode discorrer livremente sobre ele(s). O entrevistador pode mencionar o(s) tema(s) diretamente, pode conduzir sutilmente o entrevistado em direção a ele(s), ou pode evoca-lo através de técnicas visuais, tais como quadros, pinturas ou fotos. (1998, p.19).

No total foram entrevistados vinte professores de cinco escolas da região, dos quais

três são coordenadores de laboratório e um é técnico do Núcleo de Tecnologia Educacional

(NTE), responsável por prestar suporte técnico para configuração e manutenção dos

ambientes informatizados nas escolas estaduais da região. A escolha dos professores para

entrevista levou em consideração o fato de já estarem utilizando ambientes informatizados

de ensino em suas atividades pedagógicas. Ressalta-se que foram selecionados somente

professores que atuam em escolas da região de Passo Fundo.

As entrevistas foram realizadas de forma individual, em horários previamente

agendados com cada um dos entrevistados, aos quais também se explicou o motivo do

contato e o objetivo da pesquisa. As entrevistas foram feitas durante os meses de outubro,

novembro e dezembro de 2005, em dias e horários diferentes, de acordo com a

disponibilidade de cada entrevistado. As informações foram registradas em blocos de

anotação, mas também foi solicitada a permissão para gravar a entrevista, o que facilitaria

a posterior análise dos dados coletados.

As entrevistas foram realizadas seguindo um roteiro (Anexo A), elaborado com

base na revisão da literatura e dos objetivos do trabalho, de modo a identificar os pontos

fundamentais para o desenvolvimento da pesquisa, o qual foi utilizado apenas como guia

no sentido de facilitar a coleta de informações durante a entrevista, para que essa dinâmica

não perdesse seu objetivo.

Após analisadas as falas dos professores e coordenadores, foram elaboradas

categorias que apontassem caminhos para se discutir as atividades pedagógicas nos

ambientes informatizados de ensino. Algumas falas foram transpostas na íntegra,

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exatamente como emitidas pelo professor; em outras entendeu-se ser necessária uma

intervenção por parte do pesquisador incluindo comentários sobre elas.

3.1.2 Observação participante

Como uma estratégia de distanciamento da discussão e como forma de explicitar

melhor as questões de natureza metodológica e processual de difícil percepção através das

falas dos professores, também foi utilizada como instrumento de coleta de dados a

observação participante. Esta buscou a obtenção de informações através de experiências

casuais, sem a definição de aspectos a serem observados previamente, mas identificando-se

no decorrer dos encontros.

A observação ocorreu durante a realização das atividades envolvendo o uso da

informática educativa nas escolas. Em todos os momentos as pessoas envolvidas direta ou

indiretamente no processo de pesquisa, a equipe diretiva e demais professores, estavam

cientes sobre a finalidade da observação como também da presença do pesquisador nos

espaços escolares, fosse para observações, fosse para entrevistas.

Durante os encontros seguiu-se a prática costumeira de atividades adotada pelos

professores, o que permitiu a observação ativa do pesquisador como um membro do grupo,

vivenciando as experiências como se dão no dia-a-dia dos professores e alunos. A presença

nos espaços escolares é uma maneira de perceber a realidade mais concretamente, o que

não é possível somente pela realização de entrevistas.

A importância dessa técnica reside no fato de podermos captar uma variedade de situações ou fenômenos que não são obtidos por meio de perguntas, uma vez que, observados diretamente na própria realidade, transmitem o que há de mais imponderável e evasivo na vida real. (MINAYO, 1994, p.60).

Ao todo foram realizados encontros com 15 turmas em três escolas da região, sendo

dez do ensino fundamental, duas do ensino médio e três de educação de jovens e adultos

(EJA). Os encontros foram realizados durante os meses de novembro e dezembro de 2005,

sempre com agendamento prévio com os professores e a direção da escola.

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3.2 Apresentação e análise dos dados

Após a coleta, foi realizada seleção minuciosa dos dados, buscando, a partir de uma

verificação crítica, detectar falhas ou erros para que informações confusas, distorcidas e

incompletas fossem descartadas. A análise deu-se após a classificação dos dados em

categorias para após, serem analisados e interpretados à luz dos objetivos propostos pela

pesquisa.

Os dados das entrevistas foram analisados com base numa proposta qualitativa

hermenêutico-dialética, segundo a qual a “fala dos atores sociais é situada em seu contexto

para melhor ser compreendida” (MINAYO, 1994, p.77). Assim, a comunicação

estabelecida durante as entrevistas entre os professores atuantes no dia-a-dia das escolas e

aquele que busca a compreensão converge para a explicação, interpretação e compreensão

do objeto pesquisado.

Buscando a análise do modo como está sendo feita na prática a apropriação dos

atuais recursos tecnológicos pelos professores em suas atividades didático-pedagógicas,

procurou-se identificar, a partir da observação e das falas dos entrevistados, categorias de

análise que subsidiassem a compreensão do fenômeno estudado, o que significa “agrupar

elementos, idéias ou expressões em torno de um conceito capaz de abranger tudo isso”.

Uma vez identificadas as principais categorias de análise, em razão da

necessidade de maior aprofundamento das questões levantadas pelos professores, as

categorias foram agrupadas em temáticas. As temáticas resultaram do agrupamento de

categorias afins, que seguem o mesmo eixo de análise, esclarecendo a importância que

determinados temas tiveram nas entrevistas e observações realizadas e com base nos

referenciais teóricos adotados. Esse processo de análise temática foi fundamental para a

compreensão do fenômeno pesquisado.

Para efeito de análise dos dados, serão preservados os nomes das escolas e dos

professores envolvidos na pesquisa. Nesse sentido, optou-se por usar uma nomenclatura

padrão para as escolas de forma seqüencial (Escola 1, Escola 2, ..., Escola N). Da mesma

forma, aplicou-se essa nomenclatura aos professores (Professor 1, Professor 2, ...,

Professor N).

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3.2.1 A instrumentalização das escolas

A infra-estrutura das escolas para desenvolver atividades em ambientes

informatizados de ensino foi um dos primeiros temas que se apresentou como relevante no

desenvolvimento deste trabalho. Em face da multiplicidade de possíveis experiências que

as tecnologias podem propiciar aos professores e alunos, permitindo um enriquecimento

pedagógico no ambiente escolar, é preciso considerar também até que ponto as escolas

estão preparadas para que os docentes possam desenvolver atividades nos ambientes

informatizados de ensino com o uso intensivo das tecnologias de informação e

comunicação.

Percebeu-se pela literatura que a disponibilidade dos recursos tecnológicos nas

escolas é importante para o desenvolvimento de atividades que favoreçam o aprendizado

individual e a colaboração entre os estudantes, além de aproximar os alunos das inovações

tecnológicas que, inevitavelmente, estão cada vez mais presentes no dia-a-dia de todos.

Santos (2004, p. 4) aponta o desenvolvimento e atualização dos recursos tecnológicos

como propulsores para a criação de ambientes informatizados de ensino cada vez mais

atrativos e adequados para a apropriação pedagógica.

Nesse sentido, procurou-se inicialmente, conhecer como as escolas da região estão

sendo instrumentalizadas, através da observação e das falas dos professores, buscando

constatar se as escolas em que atuam disponibilizam equipamentos e softwares adequados

para que possam, com o uso de ambientes informatizados de ensino, desenvolver práticas

adequadas a sua concepção pedagógica.

Sobre a disponibilidade de recursos tecnológicos, constatou-se junto aos

professores que atuam em escolas particulares que todas possuem uma infra-estrutura que

lhes permitem o desenvolvimento de atividades em ambientes informatizados de ensino,

disponibilizando equipamentos e softwares atualizados, possibilitando a utilização de

recursos como multimídia, softwares educacionais e internet para as práticas em

laboratório de informática. Todas essas escolas apresentam um nível semelhante de

informatização. Já nas escolas estaduais a realidade é bem diferente, pois há uma grande

heterogeneidade quanto a disponibilidade de recursos tecnológicos aos docentes e alunos.

Essa heterogeneidade é percebida pelo fato de algumas escolas estaduais da região

estarem muito bem instrumentalizadas, equiparando-se às escolas particulares, como é o

caso da Escola 1, que conta com laboratório de informática com trinta computadores, todos

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com kit multimídia, projetor multimídia, scanner, impressora jato de tinta e impressora

laser para a impressão de trabalhos dos alunos. A escola conta também com acesso à

internet por banda larga via satélite, serviço que é fornecido gratuitamente pelo governo

federal, através do projeto Governo Eletrônico Serviço de Atendimento ao Cidadão

(GESAC). Em entrevista realizada com um técnico do NTE, responsável por prestar

suporte na manutenção dos laboratórios de informática nas escolas estaduais da região, ele

relatou que atualmente, na região em que atende, já existem seis escolas que possuem

acesso à internet a partir desse projeto.

Nota-se pelos depoimentos dos professores e da observação realizada nas

dependências da Escola 1 que um grande esforço é despendido por alguns professores,

apoiados pela direção, para desenvolver e ampliar o oferecimento de atividades com o

apoio das tecnologias, assim como, manter e ampliar os recursos tecnológicos que são

disponibilizados para que docentes e alunos desenvolvam seus trabalhos da melhor forma

possível. Graças ao trabalho e esforço desses docentes, a Escola 1, apesar de ser uma

escola estadual, hoje conta com um grau de instrumentalização semelhante ao apresentado

pelas escolas particulares da região, dispondo de recursos tecnológicos atualizados, de um

acervo de softwares educacionais sobre os mais diversos temas e, acima de tudo, de

planejamento e uso desses recursos pelos professores em suas atividades.

Entretanto, essa é uma situação isolada em comparação às demais escolas

estaduais da região, entre as quais há uma grande disparidade quanto à infra-estrutura

tecnológica. Assim como algumas estão muito bem estruturadas, com equipamentos e

softwares atuais, há outras que possuem laboratórios precários, nas quais os professores

são obrigados a conviver com problemas de ordem tecnológica ao invés de se preocuparem

com as estratégias para a sua aplicação educacional. Essa realidade dificulta e desmotiva

esses docentes ao trabalho pedagógico com o uso das tecnologias na escola.

Existem também na região escolas estaduais com nenhuma instrumentalização

tecnológica, cujos docentes estão impossibilitados de executar qualquer tipo de atividade

em ambientes informatizados de ensino. Outras escolas contam com computadores

somente na parte administrativa, não disponibilizando esses recursos para os alunos e

docentes fazerem uso no processo de ensino-aprendizagem. É importante ressaltar que, das

22 escolas estaduais contatadas para a realização das atividades de pesquisa, nove não

possuem laboratório; das que o possuem, algumas têm equipamentos defeituosos ou

desatualizados e, em outras, apesar de já haver laboratórios equipados, seus docentes ainda

não os utilizam em suas atividades pedagógicas.

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Portanto, constata-se que, apesar de haver diversos projetos para informatização

das escolas, oferecidos pelos governos federal e estadual, muitas escolas da região ainda

não são instrumentalizadas para a realização de atividades associadas ao uso de ambientes

informatizados de ensino. Na realidade, mais do que a existência desses projetos, é preciso

que os docentes desenvolvam iniciativas para que suas escolas sejam contempladas com

tais recursos. É importante também levar em conta a preocupação de Silva (1998), que

adverte quanto à necessidade de que uma nova prática seja construída por parte dos

educadores para que a educação possa acompanhar o desenvolvimento tecnológico e

científico, formando indivíduos mais preparados para a nova sociedade. Silva ressalta

ainda a dificuldade e, até mesmo, a resistência de alguns professores a se inserirem nessa

nova realidade.

Considerando as contribuições de Silva, percebeu-se durante o trabalho que, assim

como existem muitos professores que não se importam com o desenvolvimento desse tipo

de atividade em sua escola, alguns até apresentando resistência quanto à inserção da

informática nas práticas escolares, outros se esforçam para melhorar a qualidade de ensino

e se preocupam em adotar novas metodologias e práticas, que lhes permitam o

desenvolvimento de novas atividades e estratégias de construção do conhecimento,

acompanhando as mudanças do contexto social em que estamos inseridos.

Destaca-se o esforço realizado pela Professora 1, ao relatar sua árdua caminhada

em busca da criação de um laboratório na sua escola. Suas dificuldades iniciaram pela falta

de apoio da própria direção, associada à resistência de seus colegas, que apresentavam

desconhecimento e receio quanto ao uso da informática nas atividades pedagógicas.

Contudo, após muito esforço individual da professora, hoje a escola conta com um

laboratório de informática, montado com doações de empresas da cidade. Apesar de o

laboratório não contar com muitos recursos, tendo equipamentos desatualizados e sem

acesso à internet, a professora tem feito bom uso desse espaço para desenvolver atividades

pedagógicas com suas turmas e, segundo ela, obtendo ótimos resultados, principalmente

com relação à socialização dos alunos, visto que é uma escola de periferia, cuja clientela

não possui nenhum tipo de acesso a computadores fora da escola.

Com base nas falas dos professores, foi possível verificar que algumas escolas

estão criando novas estratégias para aquisição desses equipamentos, buscando através de

recursos próprios a compra de computadores, acessórios e softwares. Nesse sentido,

ressalta-se a fala de professores da Escola 1, cujo Círculo de Pais e Mestres (CPM) tem

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auxiliado muito na obtenção desses recursos financeiros para serem investidos, entre outras

finalidades, na instrumentalização tecnológica da escola.

Observa-se que a instrumentalização das escolas e o uso adequado desses

recursos, principalmente nas escolas estaduais da região, não depende somente de

existência de projetos governamentais para acontecer. É preciso, em primeiro lugar, que a

direção e os professores tenham interesse e se dediquem a buscar meios de equipar a escola

em que atuam com os equipamentos necessários para a criação de ambientes

informatizados de ensino. No entanto, o que se percebe é que são poucas as escolas

estaduais da região em que há preocupação e iniciativas para construir mecanismos de

inserção do computador na vida acadêmica seja da direção, seja de professores.

Outro aspecto detectado quanto ao trabalho docente com o uso de ambientes

informatizados de ensino vem ao encontro do que Santos (2004, p. 4) adverte, sobre a

importância da disponibilidade de equipamentos e softwares atualizados para serem

empregados nas atividades desenvolvidas, assim como sobre a manutenção necessária para

que tais recursos estejam sempre em condições de uso pelos professores. Pelas declarações

obtidas de diversos professores percebeu-se que são freqüentes problemas técnicos durante

as práticas em laboratório, atrapalhando as atividades e dificultando o trabalho dos

decentes. Essa constatação pode ser confirmada na fala de um técnico do NTE, ao

comentar sobre a dificuldade de atualização tanto dos equipamentos como dos softwares.

Segundo o entrevistado,

algumas escolas contam com equipamentos muito antigos e não suportam os softwares mais atualizados, causando reclamações e frustrações por parte dos professores nas atividades em laboratório. Até mesmo as atividades com o uso da internet são prejudicadas pela falta de equipamentos e softwares atualizados.

Ressalta ainda, que a capacidade de memória e o tamanho dos discos de

armazenamento influenciam muito na performance dos equipamentos, visto que as escolas

possuem diversos tipos de softwares os quais precisam estar instalados em cada

computador para atender às diversas disciplinas, sobrecarregando os equipamentos, além

de que nem todos os softwares suportam a instalação para rodar pela rede. A manutenção e

a atualização tanto dos softwares como dos equipamentos que são utilizados nos ambientes

informatizados de ensino são fundamentais para o sucesso de sua utilização nas atividades

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pedagógicas, pois é comum os professores apresentarem insatisfação quanto ao uso dos

recursos informatizados devido a problemas ligados aos equipamentos e softwares.

Nas entrevistas com os professores pôde-se comprovar essa realidade em algumas

escolas da região, pois, ao serem questionados quanto aos recursos tecnológicos

disponíveis na escola em que atuam, destacaram-se os seguintes comentários:

A escola possui um laboratório com vinte e cinco computadores, uns trancam. Na internet, quando tranca, demora muito, tem que desligar tudo e ligar de novo e se perde muito tempo. (Professora 2).

O laboratório tem vinte computadores, mas somente 10 possuem acesso à internet e as turmas são grandes. Quando usamos as 10 máquinas fica muito lento e, às vezes, tranca. Então tem que fazer os trabalhos dois a dois ou três a três, mas os alunos que ficam sem usar o computador acabam se dispersando, o que dificulta muito o trabalho. Seria bom se todos os computadores tivessem internet e fossem mais rápidos e não trancassem. (Professora 3).

Esses problemas de ordem tecnológica só vêm a somar nas dificuldades enfrentadas

no uso dos ambientes informatizados de ensino, representando mais um obstáculo para os

professores. Percebeu-se durante o trabalho que a presença de um professor laboratorista

na escola minimiza esses problemas. O professor responsável pelo laboratório mostra-se

fundamental para manter os equipamentos sempre em condições para a realização das

atividades encaminhadas pelos professores, amenizando as dificuldades e as necessidades

de domínio tecnológico por parte dos docentes para uso desses recursos.

Ressalta-se também, sobretudo nas declarações obtidas dos professores

laboratoristas, a importância da existência de um planejamento para uso do laboratório, de

modo que os professores encaminhem antecipadamente uma solicitação definindo as

atividades que serão realizadas e que softwares irão utilizar. Assim, o responsável pelo

laboratório poderá deixar o ambiente preparado antecipadamente, facilitando o trabalho ao

professor, que deve somente se preocupar com as estratégias de uso dos recursos

informatizados para trabalhar os conteúdos de sua aula.

Apesar de algumas escolas envolvidas neste trabalho estarem muito bem

instrumentalizadas, ainda existem muitos recursos que não são disponibilizados para os

professores e alunos. O Professor 2 ressalta a falta de alguns equipamentos na escola que

poderiam permitir a realização de diversas atividades e a criação de materiais mais ricos,

como o uso de fotos e vídeos produzidos em atividades realizadas pelos próprios alunos.

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Constatou-se que os recursos a que o professor se refere (câmera fotográfica, filmadora,

scanner) não estão presentes em quase todas as escolas envolvidas nesta pesquisa, todavia,

mesmo assim, algumas vêm realizando bons trabalhos e alguns professores estão sendo

muito criativos ao fazer uso dos recursos de que dispõem.

É certo que não basta as escolas serem instrumentalizadas para que o uso dos

ambientes informatizados de ensino ofereça resultados positivos; é preciso, também, que

esses equipamentos e softwares sejam atualizados e mantidos em bom funcionamento,

garantindo que os professores possam fazer uso desses recursos para ampliar as

possibilidades de ensino. Significa não ter de se preocupar com a questão do uso das

tecnologias como tecnologia em si, mas como recursos de apoio que lhes permitam aplicar

estratégias didáticas diferenciadas de outras tecnologias disponíveis até então, como o

quadro, o giz e o livro didático.

Da mesma forma, é preciso considerar o que é exposto por Brandão (1995, p. 10),

quando enfatiza que a instrumentalização das escolas coloca em evidência a necessidade de

se refletir sobre uma série de problemas, que vão desde a falta de recursos para a compra

desses equipamentos até a preparação dos professores de maneira que haja uma integração

natural das tecnologias ao currículo escolar, visto que, sem isso, corre-se o risco de todos

os recursos tecnológicos disponíveis serem subutilizados.

3.2.2 A apropriação dos recursos tecnológicos pelos professores

O uso de ambientes informatizados de ensino implica uma questão que muito tem

sido discutida por autores da área em diversos estudos. Observou-se na prática docente dos

professores envolvidos neste trabalho que, no processo de apropriação dos recursos

tecnológicos para as práticas docentes, diversas aplicações e estratégias pedagógicas estão

sendo adotadas para o uso das NTICs no âmbito educacional.

Nesse sentido, retomam-se as contribuições de Tajra (2000, p. 38), o qual alerta que

o simples fato de se utilizar o computador numa aula não significa que o professor esteja

aplicando uma proposta inovadora, pois muitas vezes essa prática pode ser tão tradicional

quanto uma aula expositiva com a utilização do quadro e giz. A partir das entrevistas e

observações realizadas durante o trabalho, percebeu-se que em algumas escolas os

professores estão sendo bastante criativos ao se apropriarem das tecnologias para uso em

suas atividades docentes, valendo-se de diversas estratégias e formas de controle e

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organização do uso desses recursos, conforme pode ser confirmado ao analisar as

contribuições obtidas dos professores.

Em algumas escolas notou-se uma similaridade quanto à organização do uso dos

laboratórios de informática, pois adotam uma forma semelhante de organizar as atividades

desenvolvidas nesses ambientes. Constatou-se que muitas das escolas da região aderiram

ao uso de um cronograma de freqüência aos laboratórios, que fica disponível para os

professores a fim de que prevejam com antecedência a sua utilização. Diversas escolas

utilizam essa metodologia de organização, como é o caso da Escola 3. Segundo a

professora responsável pelo laboratório da escola,

tem na sala dos professores um cronograma onde eles anotam as datas das aulas. Eles também têm que me entregar antecipadamente uma descrição do que vão trabalhar. Eles planejam as atividades de laboratório e me passam a partir de um plano de aula. Com isso, eu deixo tudo pronto, os computadores ligados e os softwares instalados quanto for necessário.

De forma semelhante, ressalta-se a forma de utilização adotada pela Escola 1, que

também apresenta um organização muito eficiente. Os professores precisam prever as

atividades em laboratório no plano de aula e devem incluir as datas e horários de realização

das atividades no cronograma geral de uso do laboratório, que fica exposto na sala dos

professores, assim como entregar uma cópia do programa de aula (Anexo B), chamado

“Projeto de Informática”, onde deve constar o conteúdo que será trabalhado no dia e

horário reservado. Esse Projeto de Informática fica arquivado numa pasta que serve

também como registro de todas as atividades que são realizadas no laboratório.

Portanto, em ambas as escolas o professor precisa planejar suas aulas em

laboratório. Segundo a professora laboratorista da Escola 3,

o professor tem que planejar muito bem uma aula para vir no laboratório. Tem que exigir. Tem que haver uma cobrança. Se simplesmente levar o aluno no laboratório sem uma atividade bem definida, sem haver acompanhamento, os alunos se dispersam muito, pois eles gostam mesmo é de navegar, é bater papo. Se deixar eles só fazem isso.

No entanto, para o planejamento das aulas em laboratório, há a necessidade de os

professores conhecerem os recursos que estão à sua disposição, os softwares que podem

ser utilizados em sua disciplina, e definir estratégias de uso desses recursos para os

objetivos de sua aula. Nesse sentido, algumas escolas disponibilizam desde listas de

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softwares até treinamentos para os professores quanto ao uso desses. Cabe considerar a fala

da Professora 3, que relata: “A professora laboratorista disponibiliza uma lista de todos os

softwares que a escola tem. No entanto, muitas vezes, não sei que software utilizar e, em

alguns casos, não encontro nenhum software adequado, principalmente para português e

matemática”.

O exposto pela professora identifica outro aspecto importante a ser considerado

quanto ao uso dos recursos tecnológicos nas atividades pedagógicas, que se refere à

disponibilidade de softwares e do conhecimento de suas possibilidades educacionais por

parte dos professores.

Essa constatação vem ao encontro do exposto por Valente (1999, p. 2), quando diz

que o uso apropriado da informática na educação é enfatizado pelo fato de o professor ter

conhecimento sobre os potenciais educacionais do computador e ser capaz de alternar

adequadamente atividades tradicionais e atividades que envolvam o computador, o que é

reforçado por Tajra (2000, p. 88), que ainda ressalta a necessidade de capacitação dos

professores perante essa nova realidade educacional. No entanto, constatou-se na fala dos

professores que nem sempre os docentes sabem como fazer uso desses recursos e como

identificar que software utilizar em suas práticas em laboratório. Por isso, é importante

ressaltar que esse conhecimento é fundamental para que haja um bom planejamento do

modo como os conteúdos serão trabalhados no ambiente informatizado de ensino.

Transparece nas declarações dos professores que o conhecimento sobre os softwares

disponíveis na escola, assim como seu conteúdo e possibilidades de utilização, é crucial

para o sucesso das atividades desenvolvidas em laboratório de informática, como foi

exposto pela Professora 4:

Para a elaboração do plano de aula para o laboratório é preciso definir os trabalhos que vão ser feitos no laboratório e escolher o software que será utilizado. No laboratório tem diversos softwares educacionais sobre os mais diversos assuntos, mas quase sempre tenho dificuldades em definir qual software vou usar. Normalmente solicito auxílio para a professora responsável pelo laboratório. Ela conhece melhor os softwares e me ajuda na escolha. Ajuda também na definição das atividades.

Evidenciou-se que no dia-a-dia dos professores que trabalham com atividades em

laboratório existe uma dificuldade constante em definir que softwares irão utilizar e como

irão fazê-lo. Dessa forma, ressalta-se, a partir da contribuição da Professora 4, e também

na fala de outros professores, a importância de haver na escola um professor laboratorista,

com maior conhecimento dos recursos tecnológicos disponíveis, para auxiliar os demais na

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definição de suas atividades em laboratório, assim como auxiliar na escolha adequada dos

softwares a serem utilizados em cada atividade. Nesse sentido, cabe aqui analisar a fala de

uma professora laboratorista:

Os professores sempre me procuram para saber como vão trabalhar no laboratório. A maioria dos nossos professores não tem conhecimento dos softwares que temos no acervo e, por isso, não tem condições de definir sozinhos as atividades em laboratório. Normalmente eles chegam aqui com o conteúdo que pretendem trabalhar no laboratório e então eu auxilio na definição do software que fica mais adequado, ou, se vai usar a internet, qual o site. Também temos uma relação de sites educacionais que normalmente os professores utilizam.

Segundo ainda a mesma professora, principalmente aqueles que estão começando a

utilizar o ambiente informatizado em suas práticas apresentam bastante dificuldade em

definir as atividades com o uso desses recursos, porém com o tempo eles vão conhecendo

melhor os softwares e suas potencialidades. A professora ressalta ainda que, à medida que

os professores vão aumentando o conhecimento das possibilidades oferecidas pelos

softwares e também pela internet, também vão aprimorando suas práticas. Segundo a

professora:

Temos professores que já estão bem avançados quanto ao uso dos softwares, alguns inclusive já estão desenvolvendo seus próprios materiais. É o caso do Professor 5, ele prefere montar o material de acordo com sua necessidade. Ele busca imagens e vídeos na internet e monta seus próprios softwares. Ele tem feito ótimos trabalhos no laboratório e os alunos gostam muito.

Do relato da professora emerge outra questão que também foi mensurada nas falas

de outros professores, qual seja, nem sempre os docentes encontrarem softwares ou sites

que sejam adequados a sua realidade, surgindo a necessidade de desenvolver seus próprios

materiais.

Nesse sentido destaca-se o trabalho realizado pela Escola 4, que, em razão das

necessidades identificadas por alguns professores, passou a produzir vários materiais na

própria escola, pelo professor responsável pelo laboratório. Uma das produções realizadas

na escola foi um software educacional a partir da digitalização do som de uma historinha,

combinado com imagens digitalizadas a partir de um livro. Com o uso do software

PowerPoint, montou-se como resultado final um software em que as crianças podem

interagir com a historinha.

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É importante considerar que na realidade das escolas da região nem sempre são

encontrados softwares adequados aos objetivos almejados pelo professor em determinadas

atividades, o que leva alguns a desenvolverem seus próprios materiais didáticos e

softwares, buscando a adequação às suas necessidades, não o contrário. No entanto,

constata-se que nem todos os professores demonstram iniciativa para realizar esse tipo de

atividade nas escolas, tendo em vista que este tipo de atividade demanda um bom nível de

conhecimento tecnológico e, sobretudo de tempo.

Apesar de todas as dificuldades que permeiam o dia-a-dia dos professores que

fazem uso dos ambientes informatizados de ensino em suas práticas docentes, observou-se

que nas escolas envolvidas nesta pesquisa, as que estão fazendo uso e obtendo melhores

resultados são as que de alguma forma, a partir de ações de alguns professores, definem

estratégias e se organizam quanto à dinâmica de utilização desses espaços.

Em todas as escolas em que se realizaram as observações, as atividades

desenvolvidas no ambiente informatizado de ensino são acompanhadas pelo professor da

turma e pela professora responsável pelo laboratório; são realizadas nos laboratórios,

geralmente obedecendo à mesma organização das aulas em sala de aula, ou seja, por

período; o professor possui um horário agendado e passa o plano da aula para o

responsável pelo laboratório, que prepara os computadores e softwares para que a atividade

seja desenvolvida. Como exemplo, destaca-se a dinâmica estabelecida pela Escola 1, onde

no plano de aula do professor já deve constar o software que será utilizado para as

atividades de aula ou se será utilizada a internet. Então, o professor responsável pelo

laboratório, de posse desse plano de aula, deixa tudo pronto para que, no momento em que

o professor e os alunos chegam, os softwares solicitados já estejam carregados e prontos

para serem utilizados.

Ao chegar ao laboratório, antes de os alunos se dirigirem aos computadores, o

professor e o responsável pelo laboratório fazem uma explanação sobre o que deverá ser

feito durante a aula, ilustrando num telão a forma como eles poderão desenvolver as

atividades, assim como as funcionalidades do software a ser utilizado, para que tenham

noção de como poderão interagir com o recurso. Após as explicações e dicas de uso do

software, a professora encaminha as atividades a serem desenvolvidas e, em alguns casos,

relaciona-as no quadro, e os alunos são liberados para o trabalho. Algumas atividades são

individuais e outras em grupo, dependendo da atividade, do número de computadores e,

também, do número de cópias do programa a ser utilizado. No entanto, é notável a

preferência dos alunos pelo uso individual dos computadores, pois todos querem utilizá-lo

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e não somente ficar observando o colega interagir e utilizar os programas. Segundo a

diretora da Escola 1, essa forma de organização das atividades desenvolvidas em

laboratório tem apresentado bons resultados, tendo aprovação por parte de todos os

professores que freqüentam este ambiente.

Também se constatou durante as observações, que, geralmente, as aulas em

laboratório têm a duração de um período, porém, caso os alunos não consigam finalizar os

trabalhos nesse tempo, eles salvam os arquivos nos computadores para a continuidade na

próxima aula. Nenhuma das escolas dispõe de servidor para manter os arquivos dos alunos;

dessa forma, eles precisam fazer uso sempre do mesmo equipamento quando houver

atividades que envolvam mais de uma aula.

Outro aspecto observado diz respeito ao interesse despertado nos alunos quando

usam a tecnologia. Esse aspecto também pode comprovado na literatura, quando Oliveira

(2001, p. 81) enfatiza que com o uso dos computadores é possível criar situações que

contenham simulações, sistemas inteligentes, jogos, entre outras características que se

associam ao caráter de divertimento, de prazer. Segundo a autora, esses recursos podem

oferecer aos usuários ambientes de intensa interatividade, permitindo-lhes ampliar as

relações sociais no ambiente de ensino, cativando o seu interesse em relação a temas

muitas vezes de difícil apresentação em outras abordagens.

Comprovou-se durante as observações e nas falas dos professores que as atividades

desenvolvidas no laboratório despertam grande interesse por parte dos alunos. Segundo os

professores, há um envolvimento muito maior do aluno com as atividades desenvolvidas

no ambiente informatizado do que na sala de aula, sendo comum, inclusive, a cobrança por

parte deles para que o professor encaminhe atividades nesse espaço. Segundo a Professora

6, “fica mais fácil manter a atenção dos alunos nas atividades de laboratório, tanto que

muitas vezes dá o sinal para o intervalo e muitos alunos não saem do laboratório. É comum

alguns alunos ficarem tentando terminar o que estão fazendo, diferente do que acontece em

sala de aula”.

É notável esse grande interesse em usar os ambientes informatizados por parte dos

alunos, com alguns até se antecipando ao horário de início da aula em laboratório,

chegando antes e solicitando para já começar a utilizar o computador antes mesmo do

início da aula. Um aluno quando questionado sobre o porquê de não aguardar a professora

para vir com os colegas ao laboratório, declara: “vim antes porque quero terminar o meu

trabalho da semana passada”.

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Fica visível que há um comprometimento espontâneo por parte dos alunos quanto às

atividades em laboratório e há uma grande motivação para o desenvolvimento das

atividades com o uso das tecnologias. No entanto, é importante que haja um

acompanhamento por parte do professor, não somente para evitar que os alunos se

dispersem com outros assuntos de seu interesse, o que é muito comum, principalmente em

atividades com o uso da internet, mas também como apoio para que os alunos consigam

realizar as atividades com o uso desses recursos. Também é preciso obedecer ao ritmo de

cada estudante, considerando que alguns já possuem computador em casa e outros só

possuem acesso ao computador na escola, portanto, também apresentam dúvidas relativas

ao uso do equipamento e o professor precisa auxiliá-los, permitindo que continuem a

desenvolver as atividades de acordo com suas capacidades individuais.

Entretanto, também é comum que alguns alunos, principalmente os que têm

computador em casa e que apresentam maior domínio do seu uso, auxiliem os colegas e até

mesmo o professor em alguns casos, o que pode ser constatado pela fala de um professor

de uma escola particular.

Temos muitos professores na escola que têm dificuldade com o uso da informática já as crianças, eles estão vindo para a escola cada vez mais bem preparados. Dos nossos alunos a maioria já tem computador em casa. Os pais ensinam, ajudam em casa. As crianças de cinco anos em diante já estão trazendo para a escola conhecimentos de informática que adquirem em casa. Tem crianças que é até interessante, um dia uma criança do pré me falou, “Pro, eu não quero mais jogar, quero entrar no meu e-mail”. É surpreendente a velocidade com que essas crianças estão se adequando à informática. Precisamos estar preparados para acompanhar essa tendência.

Outro aspecto interessante que pode ser identificado na fala da Professora 7 é o

domínio tecnológico, visto que,

o computador pode ser um grande aliado, desde que seja bem utilizado, tem que ter cuidado, tem que ter planejamento e principalmente, acompanhamento por parte do professor durante as atividades. Também é preciso ter conhecimento, não tanto o conhecimento técnico, não é preciso saber tudo de computador, mas é preciso saber pelo menos o necessário para poder usar os softwares nas atividades em laboratório.

A declaração da professora aponta para outro aspecto muito importante quanto à

utilização dos recursos tecnológicos disponíveis nos ambientes informatizados de ensino.

Em todas as observações realizadas, em nenhum momento tanto o professor como o

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responsável pelo laboratório deram ênfase ao ensino do uso do computador, ou seja, o

aprendizado do uso dos equipamentos fica em segundo plano, visto o objetivo ser trabalhar

os conteúdos das aulas com o uso dos softwares, de modo que o aluno só precisa saber usar

o mouse e o teclado para interagir com esses conteúdos.

Tajra (2000, p. 88) reafirma as constatações obtidas dos professores quando enfatiza

que um dos fatores primordiais para o sucesso na utilização da informática na educação é a

capacitação dos professores. Segundo a autora, o professor precisa ser capaz de perceber

como deve efetuar a integração da tecnologia com a sua proposta de ensino, cabendo a

cada um descobrir a sua própria forma de utilizá-la conforme os seus objetivos

pedagógicos. Nesse sentido, ressalta-se a necessidade de os professores estarem preparados

para a atuação docente em ambientes informatizados de ensino, apresentando domínio e

conhecimento, não tanto dos equipamentos, mas, sobretudo, dos softwares disponibilizados

para o uso no ambiente informatizado.

Da mesma forma, constatou-se junto aos professores a necessidade de um bom

planejamento das aulas a serem desenvolvidas nesses ambientes, envolvendo desde a

definição de conteúdos até a identificação dos softwares a serem utilizados para atingir os

objetivos da aula. Segundo as declarações de diversos professores, se as aulas em

laboratório de informática não forem bem planejadas e se não houver um acompanhamento

pelo professor, de forma a serem atrativas e despertarem o interesse dos alunos quanto ao

tema a ser trabalhado, eles acabam se dispersando e utilizando o computador de acordo

com os seus interesses, para jogar, bater papo e outras brincadeiras que não tenham a ver

com o objetivo da aula, tornando a aula improdutiva e subutilizando todo o potencial que

as tecnologias oferecem para o ensino.

Outro aspecto revelado pela observação em turmas do segundo grau é que fica

ainda mais difícil ainda manter o enfoque do tema abordado em aula quando os alunos

forem adolescentes. Até mesmo durante a explicação das atividades a serem desenvolvidas

os estudantes ficam abrindo outras páginas, dispersando-se da aula para acessar outros

conteúdos. Também chamou a atenção ao trabalhar com grupos de adolescentes o fato de

eles solicitarem auxílio com muito mais freqüência do que as crianças. Nas turmas de

segundo grau observadas, o professor da turma e o professor responsável pelo laboratório

permaneceram o tempo todo ocupados auxiliando na execução das atividades. Assim,

percebe-se que, ao trabalhar com adolescentes, aumenta ainda mais a necessidade de

acompanhamento e orientação dos alunos por parte do professor.

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Dessa forma, fica claro que o bom uso dos recursos tecnológicos, de forma a extrair

o melhor do potencial oferecido pelas NTICs ao ensino, está diretamente ligado à

capacitação dos professores para atuar com o uso dessas tecnologias. Ressalta-se que essa

capacitação não é relativa somente ao domínio das tecnologias, mas, sobretudo, à

capacidade de o professor apropriar-se desses recursos de forma a ampliar as estratégias

didáticas adotadas em suas práticas pedagógicas.

3.2.3 O uso de software educacional

Ao ponderar sobre o uso de software educacional nas práticas pedagógicas nas

escolas da região, levou-se em conta o exposto por Oliveira (2001, p. 73), o qual afirma

que o que caracteriza um software educacional é a sua inserção em contextos de ensino-

aprendizagem. Desse modo, determinado programa de computador pode ser considerado

um software educacional se adequadamente utilizado pela escola, mesmo que não tenha

sido produzido para essa finalidade.

Nesse sentido, verificou-se que o software educacional vem sendo amplamente

utilizado pelos professores nas escolas da região, no entanto durante as entrevistas e

observações realizadas nas práticas em ambientes informatizados de ensino, salientaram-se

diversos problemas e dificuldades que permeiam a prática desses docentes com tais

recursos. De fato, os professores estão adotando diversas estratégias para o uso de

softwares para fins educacionais e são inúmeros os programas de computador que estão

presentes nos ambientes informatizados de ensino nas escolas da região, os quais vão desde

simples editores de texto até poderosos programas educacionais, riquíssimos em recursos

de interação com os alunos, valendo-se de diversas mídias e recursos da computação e

comunicação.

Apesar de serem inúmeros os softwares considerados educacionais que podem ser

utilizados pelos professores, um dos pontos que chamaram a atenção ao analisar as

contribuições obtidas junto aos docentes da região é o fato de que nem sempre eles ficam

satisfeitos com o que é oferecido pelos softwares educacionais disponíveis em sua escola, o

que pode ser percebido pela fala de um professor laboratorista: “As ferramentas prontas

deixam a desejar, pois os professores precisam se adequar ao software, deveria ser ao

contrário. Também existem alguns softwares que são caros, não rodam em rede. Um único

software para vinte alunos não adianta e a aquisição de vinte cópias do software fica muito

cara”.

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Pelo exposto, fica evidenciado que um dos principais problemas detectados durante

o desenvolvimento deste trabalho com relação ao uso do software educacional é a

dificuldade encontrada pelos docentes de encontrar um software adequado ao conteúdo que

desejam trabalhar no ambiente informatizado. Na fala dos professores percebe-se que

muitas vezes é o contrário que acontece, ou seja, é o professor que acaba adaptando o

conteúdo da aula ao que está disponível no software. Essa constatação é reforçada pela

Professora 7 quando expressa:

Os CDs com os aplicativos não são tão adequados, são enciclopédias, não possui softwares com informações regionais, principalmente de história, por isso, uso pouco os softwares educacionais nas minhas atividades. Os livros trazem mais informações. Já em sites, algo sempre é encontrado, mas sinto a necessidade de sites com dados atualizados da região. Se for usar o computador, prefiro a internet ao software educacional.

Dessa forma, a adequação do conteúdo do software ao tema a ser trabalhado pelo

professor, mostra-se fundamental para a sua adoção na prática docente, o que também foi

identificado nas falas de outros professores, comprovando o fato de que muitas vezes os

softwares não são adequados às necessidades das disciplinas, obrigando os docentes a

terem de adaptar sua aula ao que está disponível. É comum encontrar professores que

sentem necessidade de desenvolver seus próprios softwares e materiais para as suas aulas,

no entanto, essa atividade exige um maior conhecimento tecnológico por parte dos

docentes. De todos os professores entrevistados, somente dois desenvolvem ou já

desenvolveram softwares e materiais próprios para utilizar em atividades em ambientes

informatizados de ensino. Um deles, ao ser entrevistado, declarou:

Os meus colegas ficam curiosos para saber como preparo minhas aulas em laboratório e questionam sobre como foram criados estes materiais, quanto tempo levou, mas quando respondo, alguns se acham incapazes, outros acham que é muito trabalhoso e difícil, outros acham que leva muito tempo e não possuem disponibilidade para desenvolver aulas com esses recursos.

É notável que aumentam ainda mais as dificuldades dos professores quando se fala

em produção de softwares e material didático por eles próprios. Aqueles professores que

responderam que já sentiram necessidade de desenvolver seus próprios softwares e não o

fizeram, quando questionados sobre o motivo, relataram:

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99

Já desenvolvi um software no meu trabalho de pós. A intenção era desenvolver na própria escola, mas como os professores tem muitas atividades, nunca tive tempo para desenvolver. (Professor 8)

Nunca desenvolvi por falta de domínio da tecnologia, falta de ferramentas, falta de compreensão para fazer um trabalho assim. (Professor 9)

Falta de conhecimento de da tecnologia e de ferramentas para desenvolver. (Professor 10)

Falta de tempo, particular e profissional. (Professor 11)

Penso que os professores têm também que criar suas ferramentas, porém, por falta de domínio das tecnologias, tempo, disponibilidade de ferramentas de autoria, e também por pensar que não têm condições técnicas para fazer, por não sentir segurança, acabam não fazendo. (Professor 12)

Portanto, falta de conhecimento, de tempo e de ferramentas são as principais

alegações dos professores para o não-desenvolvimento de seus próprios materiais e

softwares para uso em suas aulas em ambientes informatizados de ensino. Atualmente,

existem muitas ferramentas de autoria à disposição dos professores, porém todas, para o

seu uso, exigem um bom nível de conhecimento tecnológico, assim como a dedicação de

tempo, tanto para o aprendizado do uso da ferramenta quanto para o desenvolvimento dos

materiais.

Parece não haver uma fórmula que permita ao professor desenvolver seus próprios

materiais sem que haja dedicação de tempo e necessidade de conhecimento, principalmente

levando em consideração que os softwares educacionais precisam ser atrativos e interativos

para atrair a atenção dos alunos, e criá-los com essas características exige mais ainda do

professor. Dessa forma, o que se percebe na realidade é que geralmente se opta pela

aquisição de softwares prontos, mesmo que não atendam completamente às necessidades

dos professores.

Quanto à aquisição dos softwares, destaca-se a contribuição de uma professora

laboratorista sobre a questão do alto custo, considerando que as escolas precisam de

licenciamento para sua execução em todas as máquinas do laboratório, o que é cobrado

para cada computador a ser utilizado. Segundo a professora,

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todos os softwares que usamos na escola são comprados e custam caro. Tem que ter muito cuidado na hora de adquirir o software, quanto ao custo, compatibilidade com os computadores do laboratório e, principalmente, quanto à qualidade dos softwares. As crianças são exigentes, se não for uma coisa que chama a atenção deles, que cativa eles, eles se dispersam demais.

A professora também ressalta a importância de uma análise quanto à qualidade do

software antes da aquisição:

Existem muitos softwares no mercado, mas é preciso ter cuidado com a qualidade desses programas na hora de comprar. Alguns softwares não são bons, são difíceis de usar e não chamam a atenção das crianças. As crianças gostam de softwares com sons, imagens em movimento, que elas possam interagir. Programas muito simples sem esses recursos acabam não sendo muito utilizados.

Outro fator que dificulta o uso do software educacional é a necessidade de

instalação dos softwares, principalmente para aqueles professores que não possuem muito

domínio e conhecimento do computador e naquelas escolas em que não existe a presença

do professor responsável pelo laboratório. Essa dificuldade é expressa por um professor,

quando diz: “Não tenho tido problemas quanto ao uso dos softwares educacionais, a não

ser quanto a instalação. Fica difícil quando um software tem que ser instalado em todas as

máquinas para ser utilizado, por isso, prefiro o uso de sites da internet”.

No entanto, apesar de suas dificuldades e limitações, o uso de software educacional

nas atividades pedagógicas também apresenta uma infinidade de possibilidades para o

trabalho de professores e alunos. São inúmeras as atividades pedagógicas que podem ser

realizadas nos ambientes informatizados com o uso de softwares educacionais, tudo

depende de que estratégias didáticas são adotadas pelos professores no uso desse recurso.

Novamente se ressalta o caso da Professora 1, que, apesar de dispor de poucos

recursos em seu laboratório, conseguidos através de doações, contando com poucos

equipamentos e, ainda, desatualizados, utiliza-se dos poucos recursos que tem, como os

aplicativos básicos do Windows, para desenvolver estratégias de ensino e trabalhar com as

crianças de uma forma diferenciada e motivadora. Certamente, em alguns momentos, é

preciso que o professor seja muito criativo para identificar formas de uso dos softwares que

tem disponíveis para aplicações pedagógicas, como é percebido na fala da professora:

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Não tenho muitos softwares aqui na escola, já tentei trazer alguns softwares bons, mas os computadores não suportam, então utilizo os que tenho à disposição. Utilizo o Word para desenvolver atividades no laboratório para os alunos desenvolverem a escrita. Meus alunos são de famílias pobres e apresentam muita dificuldade em aprender a escrever. Aproveito o recurso do Word de sublinhar as palavras que estão escritas erradas para que os alunos verifiquem o que estão escrevendo errado em seus textos. Explico para eles que, quando o programa sublinhar a palavra, é porque está escrito errado e precisa ser corrigida.

É notável que, apesar de dispor de uma infra-estrutura escassa, a professora se

esforça para identificar, a partir dos recursos de que dispõe, estratégias para desenvolver o

conhecimento nos alunos com o uso de softwares que normalmente são utilizados para

outras atividades. Isso reforça a importância de o professor ser criativo na elaboração de

estratégias de ensino com o uso dos recursos tecnológicos, tornando-os adequados à

aplicação de suas estratégias didáticas.

Percebe-se na realidade das escolas da região que, assim como em algumas escolas

os professores possuem à sua disposição uma infra-estrutura com diversos recursos

tecnológicos e não os utilizam, outros se esforçam para que simples recursos se

transformem em grandes possibilidades em suas práticas pedagógicas. Ressalta-se, nesse

aspecto, a contribuição da Professora 1:

Uso o software Paint do Windows para ensinar as formas geométricas como quadros, triângulos, círculos, também para trabalhar as cores. Sempre encaminho atividades em laboratório para os alunos praticarem o que ensino em sala de aula. Eles gostam de vir para o laboratório e prestam mais atenção no que estão fazendo. Quando trabalho as mesmas atividades na sala de aula, eles não se dedicam tanto ao fazer os mesmos exercícios no papel.

As aplicações dos softwares educacionais por parte dos professores, sem dúvida,

proporcionam uma infinidade de possibilidades educacionais, pois, se utilizados associados

a estratégias didáticas apropriadas, oferecem grandes benefícios à educação,

principalmente à educação infantil, onde o software educacional é utilizado com mais

intensidade.

Constatou-se, tanto nas entrevistas com os professores como durante a observação

nas escolas, que os professores utilizam o software educacional com maior proporção no

ensino infantil ao trabalhar com crianças nas séries iniciais. Essa constatação é afirmada

pela exposição de uma professora laboratorista, que, ao ser questionada sobre o uso do

software educacional na escola por parte dos professores, ressaltou:

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Aqui na escola o uso da software educacional se dá com maior intensidade da educação infantil, até a terceira série. São usados programas infantis de matemática, ciências, cores, formas, etc. O ensino acima da quarta série já é diferente. Muitos professores já encaminham trabalhos, pesquisas, com avaliações das atividades com o uso do computador e cobram dos alunos a entrega dos trabalhos por disquete ou e-mail. Eles usam mais a internet e o e-mail.

A professora destacou ainda o uso de jogos na educação infantil, pois, segundo ela,

os jogos despertam muito a curiosidade e o interesse das crianças: “As crianças gostam

muito dos jogos que possuem níveis, encaram esses níveis como desafio, como uma

competição, entre os colegas. Eles gostam bastante desse tipo de jogo”.

O jogo, como se vê, proporciona um ambiente em que a criança pode aprender de

forma prazerosa, permitindo-lhe o desafio e a reflexão através de diversas atividades

lúdicas, ricas em imagens sons e animações, com alto grau de interatividade com o aluno,

lançando desafios para que os estudantes se sintam atraídos a estudar na forma de uma

brincadeira. Durante a observação, foi possível confirmar o grande potencial oferecido

pelo jogo nos ambientes informatizados de ensino. Segundo a Professora 13, durante as

atividades em laboratório com jogos, a atenção dos alunos aumenta significativamente:

Eles ficam muito concentrados quando estão jogando, mas é importante ter um objetivo com o jogo. Sempre defino um conteúdo que é trabalhado com o uso do jogo. Para não parecer somente uma brincadeira, após a atividade de laboratório sempre retomo este conteúdo, para avaliar ou até reforçar o que os alunos aprenderam durante a atividade realizada em laboratório.

Fica claro que o uso de softwares e jogos educacionais representa um grande

potencial pedagógico para as atividades desenvolvidas pelos professores em ambientes

informatizados de ensino, no entanto é preciso que eles insiram o uso desses softwares não

como uma simples utilização do software em si, mas de forma a estimular e desafiar os

alunos, com práticas planejadas. É preciso ampliar as possibilidades didáticas dominadas

pelo professor, buscando oferecer novas formas de construir o conhecimento com os

alunos, através do despertar da curiosidade, da criatividade, da interatividade e da

brincadeira.

Observou-se durante este trabalho que o jogo e o software educacional vêm

amplamente sendo utilizados nas escolas da região, no entanto ainda são muitas as

dificuldades enfrentadas pelos professores e, até mesmo, há resistência por parte de outros.

Também foi possível constatar que alguns docentes estão sendo bastante criativos ao

explorar esses recursos em suas práticas, adotando o uso de softwares, que, associados a

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estratégias didáticas, transformam simples programas de computador em recursos com

grande potencial pedagógico, proporcionando a existência de ambientes informatizados de

ensino, em que os alunos podem interagir com o objeto de estudo de uma forma diferente

do que fazem em sala de aula, com os livros didáticos e com o material impresso.

3.2.4 O uso da internet

A crescente busca de informações na sociedade atual exige novas habilidades, e a

internet apresenta-se como uma grande aliada dos alunos e professores ao permitir-lhes

buscar informações que vão além da pesquisa em livros, jornais e revistas e, até mesmo,

em softwares educacionais.

Ao analisar o uso da internet no dia-a-dia dos professores das escolas da região,

retomam-se as palavras de Brandão (1999, p. 32), que auxiliam na reflexão de que a

internet, através da utilização da multimídia e hipermídia e, atualmente, com a evolução

das redes de computadores, determina novos princípios de interação entre homem e

máquina e entre os próprios homens. Pressupondo a utilização de formas motivadoras de

expressão do conhecimento através da rede, a internet permite que concepções

educacionais sejam trabalhadas de forma mais integrada, como prevê o construtivismo de

Jean Piaget e o interacionismo de Vygotsky.

Além de ser uma rica fonte de informações, passíveis de serem incorporadas em

qualquer programa de aula, a internet também oferece excelentes recursos de comunicação,

ampliando possíveis aplicações da rede para o uso educacional, que vão desde a simples

publicação de informações até a aprimorados instrumentos de comunicação e interação, os

quais, se devidamente aplicados no âmbito educacional, oferecem grandes possibilidades

para as práticas docentes.

Ao analisar o uso da internet nas escolas envolvidas neste trabalho, apesar de todas

as possibilidades oferecidas por esse meio, destacou-se nas falas dos professores que a

pesquisa é a principal atividade desenvolvida nos ambientes informatizados de ensino com

o uso da rede. Também se verificou que, diferentemente do software educacional, a

internet é amplamente utilizada em turmas acima da 5ª série, o que foi constatado na fala

de diversos professores e reafirmado pela Professora 14:

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Quando trabalho com adolescentes, sempre uso a internet para encaminhar as pesquisas. Eles usam o Google para pesquisar. Peço para eles produzirem um trabalho com o resultado da pesquisa no Word. Peço para eles subdividir os trabalhos em partes e criar um arquivo principal com os links para as partes do trabalho, assim, no final eles podem salvar para o formato HTML para publicar na internet.

Da mesma forma, outros professores também relataram a realização de atividades

de pesquisa na internet com turmas de adolescentes. Pelos depoimentos dos professores,

poucos utilizam software educacional com turmas acima da 5ª série e nenhum docente

revelou utilizar software educacional em turmas de segundo grau, prevalecendo o uso da

internet nesses casos. Um dos fatores que levam esses professores a dar preferência ao uso

da internet fica evidenciado na afirmação do Professor 15:

Utilizo uma enciclopédia geográfica, mas o programa não tem dados atualizados. Não tem meios de atualizar. É de 95. Precisaria tem um meio de atualizar os dados, por exemplo, os números da população mudam de ano para ano, esses dados no programa estão muito desatualizados. Na internet os dados são mais atualizados do que nos softwares. Alguns assuntos que desapertam o interesse do aluno não estão disponíveis no software educacional, porém na internet isso fica mais flexível.

Verifica-se que a internet tem se mostrado uma grande aliada dos professores e

alunos pela sua grande disponibilidade de informações. Tem sido utilizada com grande

freqüência pelos professores para encaminhar atividades de pesquisa na rede, associado as

atividades de produção, publicação e apresentação de trabalhos de aula. No entanto,

revelou-se uma grande preocupação por parte dos professores quanto ao grau de

seletividade dos conteúdos, que deve ser maior do que uma pesquisa em livros. Ressalta-se

um comentário exposto por uma professora responsável de laboratório: “Houve uma turma

de terceiro ano do segundo grau que tivemos muita dificuldade no início, os alunos faziam

seus trabalhos somente copiando e colando da internet. Foi bastante difícil fazer com que

os alunos produzissem seus próprios textos”.

O relato dessa professora levanta uma das questões mais preocupantes explanadas

pelos professores entrevistados sobre o uso da internet nas atividades pedagógicas: a

questão do plágio, que também foi motivo de preocupação de vários outros professores

entrevistados. O professor 15 demonstra essa preocupação ao declarar:

Tem que prestar muita atenção ao conteúdo dos trabalhos entregues pelos alunos. É comum os alunos copiar textos da internet e colocar nos trabalhos. É preciso acompanhar o que os alunos estão

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fazendo e criar formas de identificar as cópias, forçando que os alunos escrevam seus próprios textos e usem a internet só como fonte de pesquisa.

Essa preocupação demonstrada pelos professores confirma as advertências de Tajra

(2002, p. 31) ao chamar a atenção sobre a necessidade de ter um controle de acesso aos

conteúdos trabalhados na internet, de forma a garantir a qualidade e a confiabilidade das

informações obtidas nesse meio.

É claramente notado nas falas dos professores que o fato de a internet ser um grande

repositório de informações, onde são publicadas sem censura, nem, muito menos, algum

controle de qualidade, é motivo de preocupação para o uso pedagógico desse recurso. Com

vistas a minimizar esses problemas, e objetivando tirar proveito do grande potencial

oferecido pela rede, alguns professores estão adotando estratégias que, segundo eles,

reduzem a possibilidade de ocorrerem problemas dessa natureza. A Professora 16 diz

orientar seus alunos quanto aos sites que serão utilizados para a pesquisa em atividades de

laboratório:

Quando encaminho atividades de pesquisa em laboratório, sempre procuro limitar a pesquisa a algum site, pois, se deixar livre, os alunos acabam se dispersando e acessando outros conteúdos. Procuro sempre indicar um site que conheço, um site que sei que contenha informações confiáveis sobre o assunto a ser pesquisado.

A preocupação demonstrada pela Professora 16 também se fez presente nos

depoimentos de outros professores de outras escolas, pois é fato que na internet, assim

como se podem encontrar informações seguras, também se podem encontrar muitas

informações distorcidas e inconsistentes. No entanto, os professores estão buscando formas

de contornar esses problemas, adotando estratégias que lhes permitam ter maior controle

sobre os conteúdos que estão sendo trabalhados em suas aulas, garantindo maior

confiabilidade das informações acessadas, como pela utilização de sites educacionais, por

exemplo.

Além da atividade de pesquisa, também se constatou durante o trabalho a utilização

da internet como uma forma de proporcionar atividades de comunicação entre os

estudantes, pelo correio eletrônico e salas de bate-papo. Segundo a Professora 17, que

trabalha com as disciplinas de língua portuguesa, língua inglesa e literatura, a internet traz

grandes contribuições para as atividades em laboratório em suas disciplinas, com ênfase na

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utilização de salas de bate-papo, inicialmente com grupos da escola, após, com grupos

abertos, a partir de salas de chat disponíveis na rede. Segundo a professora:

Sempre utilizo as salas de bate-papo da internet com os alunos. São escolhidas salas vazias onde os alunos podem conversar entre eles, em pequenos grupos, depois eles podem escolher outras salas com pessoas de fora. Utilizo o diálogo dos alunos nas salas de bate-papo como uma forma de auxiliar no desenvolvimento do vocabulário, da escrita e da leitura, tanto para a língua portuguesa como para a língua inglesa.

No entanto, a professora ressalta a necessidade de acompanhamento dos diálogos

que estão sendo realizados pelos alunos, principalmente quando em grupos abertos na

internet, evitando que eles entrem em salas sobre assuntos indevidos. Nesse sentido, a

professora sempre indica os sites a serem acessados e os assuntos a serem tratados durante

os diálogos.

Apesar de a internet fornecer vários meios para ampliar a comunicação entre os

alunos e os docentes, incluindo grupos de discussão, bate-papo, correio eletrônico,

webquest, entre outros, nas escolas da região em que este trabalho foi desenvolvido

percebeu-se que essas funcionalidades estão sendo muito pouco exploradas. De todos os

professores envolvidos na pesquisa, somente uma professora utiliza os recursos de

comunicação da internet em suas atividades.

Verificou-se que a internet, apesar de suas inúmeras possibilidades educacionais,

vem sendo utilizada pelos professores da região com mais intensidade para as atividades de

pesquisa. São raros os professores que utilizam ou demonstram interesse em utilizar os

recursos de comunicação que a rede oferece para desenvolver atividades com seus alunos,

demonstrando que eles ainda têm muito a explorar com relação ao uso da internet nas

práticas educacionais.

3.2.5 A atuação do professor

Diante da crescente inserção dos recursos tecnológicos em todos os âmbitos da

sociedade, é inevitável que as escolas venham a acompanhar essa evolução,

proporcionando ambientes informatizados de ensino que proporcionem uma educação

conectada com a realidade de seus alunos. Dessa forma, ressalta-se a necessidade de os

professores estarem preparados para uma atuação diferenciada diante das mudanças

trazidas pelas tecnologias da informação e comunicação. Salienta-se a importância do

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papel do professor diante dessa nova realidade escolar, como o faz Belloni (2001) ao

afirmar que o reflexo de não ter professores preparados para atuar com tais recursos nas

escolas é a criação de laboratórios que em muitos casos acabam por ficar subutilizados.

A importância do papel desempenhado pelo professor no planejamento e no

acompanhamento das atividades de desenvolvidas em ambientes informatizados de ensino

mostra-se fundamental para que as NTICs sejam adequadamente aplicadas ao processo de

ensino-aprendizagem, de forma a ampliar as possibilidades de transpor conhecimentos,

oferecendo novos recursos e propiciando ambientes ricos em estratégias didáticas.

O desenvolvimento de novas tecnologias ocorrido nos últimos anos proporciona ao

professor a flexibilidade de atuação em ambientes informatizados de ensino a partir da

utilização de recursos que permitem alto grau de interatividade entre o aluno e o software,

entre os próprios alunos, entre os alunos e os docentes. Contudo, apesar das evoluções

tecnológicas ocorridas e da possibilidade da criação de ambientes altamente interativos

para o aprendizado, ainda é comum muitos professores fazerem uso desses recursos da

mesma forma como o fazem com a utilização dos materiais impressos.

Atualmente, com diversidade de tecnologias disponíveis, depende do professor a

forma como fará uso desses recursos para desenvolver o conhecimento com seus alunos.

Por isso, além de estar capacitado para apropriar-se das tecnologias que estão disponíveis

nas escolas em que atuam, é importante que haja uma adequação na forma de atuação do

professor, assumindo uma postura fundamentada numa teoria educacional, que lhe permita

compreender os processos mentais, os conceitos, as formas de aprendizado e definir

estratégias adequadas para a construção do conhecimento em ambientes informatizados de

ensino.

Ainda é comum o fato de recursos com grande potencial de interatividade serem

utilizados por professores da mesma forma que as máquinas de ensinar de Skinner eram

utilizadas há mais de cinqüenta anos. Percebe-se que a decisão de fazer uso das NTICs de

forma behaviorista ou construtivista está totalmente centrada no professor, que, para atuar

em ambientes informatizados, deve assumir uma nova postura, não simplesmente

apropriar-se dos recursos tecnológicos para as mesmas práticas.

É indiscutível que, ao fazer uso dos recursos disponíveis em ambientes

informatizados de ensino, é preciso que o professor adote novas estratégias para transpor

conhecimentos, buscando aproveitar todo o potencial que oferecem. Assim, através da

informática, poderão ser oferecidos instrumentos de ensino nos quais o estudante pode

escolher a velocidade com que constrói o seu conhecimento e ter a liberdade de explorar as

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informações fornecidas pelo software de acordo com o seu interesse. Isso lhe permitirá não

apenas tomar decisões, mas, também, manipular, vivenciar, participar e experimentar

através de sistemas atrativos e interativos, que possibilitem a colaboração e o aprender

fazendo, de acordo com as concepções construtivistas de Piaget e Vygotsky.

Considerando o dia-a-dia dos professores em suas práticas pedagógicas com o uso

dos ambientes informatizados de ensino nas escolas, percebe-se que dois pontos são

fundamentais para o uso desses recursos nas atividades escolares: primeiro, é preciso que

as escolas estejam bem preparadas com relação à instrumentalização, oferecendo os

recursos necessários para que os professores possam planejar e desenvolver atividades com

o uso de ambientes informatizados; segundo, os professores precisam estar capacitados

para que possam definir e aplicar novas estratégias de uso desses recursos. É preciso,

sobretudo, que conheçam os recursos que estão a sua disposição e as possibilidades que

oferecem, para que possam tirar proveito das potencialidades dessas novas tecnologias a

fim de ampliar ou, até mesmo, melhorar suas práticas pedagógicas.

Identificou-se na literatura e comprovou-se com as contribuições de professores

entrevistados e das observações realizadas que não basta o professor simplesmente levar os

alunos para o laboratório de informática e encaminhar qualquer atividade, sem um

planejamento, sem uma estratégia adequada ao uso desses recursos. Pode-se dizer que seria

uma subutilização das tecnologias empregá-las nas atividades escolares com as mesmas

estratégias adotadas em sala de aula.

Ao analisar a realidade dos professores, percebe-se que, mesmo entre os professores

que atualmente já estão realizando atividades em ambientes informatizados, são várias as

dúvidas e dificuldades que ainda se fazem presentes no seu dia-a-dia. Ao questionar uma

professora coordenadora de laboratório quanto às principais dificuldades enfrentadas pelos

professores da escola onde atua, obteve-se a seguinte declaração:

Uma das principais dificuldades é a falta de preparo de alguns professores. Alguns buscam aprender, outros resistem, preferem as coisas prontas, preferem que a professora do laboratório prepare tudo. No currículo, a cada 15 dias tem uma atividade em laboratório, porém alguns professores não se envolvem nas atividades junto com os alunos, deixam tudo para a professora do laboratório cuidar. Também tem o problema do tempo, a escola disponibiliza horários fora do horário de aula para os professores irem até o laboratório conhecer os softwares, para auxiliar no planejamento das aulas, os professores são orientados sobre como utilizar os recursos disponíveis, porém poucos se dispõem a comparecer nesses horários.

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A contribuição da professora permite confirmar alguns pontos fundamentais que

permeiam as práticas dos professores em ambientes informatizados de ensino, dos quais

alguns também foram identificados durante a observação. A falta de preparo mostrou-se

como um dos principais problemas enfrentados por muitos professores, que, apesar de

terem interesse em desenvolver atividades em ambientes informatizados ensino, não estão

devidamente preparados para atuar com esses recursos, não conhecendo as possibilidades

oferecidas pelos softwares, nem as estratégias didáticas que podem utilizar para as práticas

em laboratório.

Os professores menos preparados geralmente não sabem como tirar proveito de

todo o potencial que os recursos disponíveis oferecem, encaminhando somente atividades

mais simples, muitas vezes somente como reforço de conteúdos, fazendo uso bastante

reduzido dos recursos disponíveis e, muitas vezes, atuando dentro de uma concepção

bastante behaviorista. Essa falta de preparo dos professores também foi verificada durante

as observações realizadas de suas práticas em ambientes informatizados de ensino, quando

se constatou que os professores apresentam diferentes formas de atuação durante as aulas

em laboratório: em algumas turmas, mostram-se mais bem preparados, desenvolvendo

atividades que exigem maior conhecimento, tanto para o planejamento como para

acompanhamento na execução das atividades, demonstrando um bom domínio sobre os

recursos utilizados, acompanhando os alunos e auxiliando-os em suas dúvidas, juntamente

com a professora laboratorista; já, em outras, apresentam maiores dificuldades,

demonstrando falta de domínio sobre os recursos utilizados durante a aula. Ao entrevistar

um desses professores obteve-se a seguinte declaração:

Tenho dificuldades para usar o computador. Conto com o auxílio da professora laboratorista para planejar e desenvolver os trabalhos em laboratório. Só consigo fazer estes trabalhos graças a ela. Mas as primeiras vezes que trouxe os alunos era bem pior. Agora já estou mais familiarizada. Aos poucos estou aprendendo novas formas de trabalhar no laboratório.

Portanto, nem todos os professores que hoje atuam nos ambientes informatizados

das escolas da região estão devidamente preparados para desenvolver tais atividades e não

teriam condições de obter sucesso em suas aulas se atuassem sozinhos, tanto na definição

como na execução das atividades como no uso dos recursos presentes em ambientes

informatizados de ensino. Nesse sentido, a presença de uma professora laboratorista na

escola é fundamental para que as atividades em ambientes informatizados de ensino se

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desenvolvam, auxiliando os professores na definição de estratégias de uso dessas

tecnologias em suas práticas. Com o apoio desse profissional com maior conhecimento

tecnológico e também pedagógico, esses professores, mesmo sem dominar completamente

todos os recursos adotados em suas práticas, estão obtendo bons resultados ao desenvolver

atividades em ambientes informatizados de ensino e, com isso, estão gradualmente

desenvolvendo seu conhecimento tecnológico e ampliando suas estratégias didáticas para

transpor os conteúdos curriculares.

Numa das turmas observadas todas as atividades e o acompanhamento aos alunos

foram realizados por uma professora laboratorista. A professora da turma sentou-se junto

com os alunos para usar os computadores e, durante a aula, realizou as mesmas tarefas que

havia encaminhado para eles, compartilhando com eles suas dúvidas e dificuldades ao

fazer uso da internet na atividade encaminhada. Ao ser entrevistada, ela declarou:

Ainda tenho dificuldades ao usar o computador, mas acho muito interessante o que podemos fazer com a internet. Aproveito as aulas em laboratório para aprender junto com os alunos. A professora laboratorista, que me auxilia no planejamento e principalmente na execução dessas atividades aqui no laboratório.

Esse é um dos momentos em que o professor precisa assumir uma postura diferente.

Nesse caso, a professora colocou-se como aluna, desenvolvendo as atividades junto com os

estudantes, em condições de igualdade entre alunos e professor. Assim, durante a aula,

muitas vezes os alunos, que estavam nos computadores ao lado da professora, auxiliaram-

na com dicas quanto ao uso do computador, uso do site, onde clicar etc.

Nota-se que, apesar de muitos professores ainda apresentarem resistência ao uso dos

ambientes informatizados de ensino em suas práticas, existem aqueles que, mesmo sem

terem todo o conhecimento necessário, estão assumindo uma postura arrojada, aprendendo

com suas próprias práticas, não tendo medo de demonstrar aos seus alunos suas

dificuldades quanto ao uso das tecnologias, mas buscando a partir delas a realização de

atividades que lhes permitam novas formas de ensinar e de aprender, interagindo com seus

alunos de igual para igual e, inclusive, aprendendo com eles.

Pelo fato de muitos professores não apresentarem domínio para uso dos

computadores e dos softwares presentes nos ambientes informatizados de ensino, ressalta-

se a importância da função exercida pelos professores laboratoristas, compartilhando seu

conhecimento dos recursos tecnológicos com os demais e apoiando-os na definição e

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execução de suas atividades. Em todas as escolas com laboratório de informática visitadas

existe a presença de um professor responsável por coordenar e orientar as atividades

desenvolvidas no laboratório de informática, auxiliando na escolha dos softwares, de sites

para pesquisas e, até mesmo, na definição das atividades a serem desenvolvidas em aulas

no laboratório, pois muitos professores têm dificuldades e não apresentam domínio quanto

ao uso do computador, assim como não conhecem todas as possibilidades educacionais que

oferecem.

A importância de um professor com melhor domínio tecnológico na escola é

reforçada pela afirmação de um dos professores responsáveis por laboratório entrevistados:

“Costumo acompanhar e instruir os professores na preparação das aulas para o laboratório,

instruo quanto ao uso e domínio da tecnologia e o professor se preocupa mais com o

conteúdo e o objetivo da aula”.

Entretanto, pelas práticas adotadas por esse docente, fica evidente que não basta ele

ter somente um bom conhecimento tecnológico; é preciso que ele também tenha

conhecimento pedagógico, para poder auxiliar os outros professores na definição de

estratégias para que os conteúdos curriculares sejam transpostos para o uso dos recursos

tecnológicos de acordo com teorias educacionais que norteiam as práticas adotadas pelo

professor. Dessa forma, é de grande importância o papel desse professor com maior

domínio tecnológico e com formação pedagógica para auxiliar no planejamento e na

execução das atividades em laboratório. Inclusive, para alguns dos docentes entrevistados,

sem a presença desse professor, as atividades em laboratório seriam bastante reduzidas na

escola em que atuam.

Outro aspecto que se destacou nas falas dos docentes é que a maioria dos

professores trabalha o conteúdo em sala de aula e depois leva os alunos para o laboratório

de informática, ou vice-versa, fazendo com que os conteúdos vistos em sala de aula sejam

complementados, aprofundados, ou experimentados a partir do uso dos recursos

informatizados. Essa forma de utilização da tecnologia é revelada ao analisar os

depoimentos dos professores entrevistados, em que se destaca a contribuição da Professora

18:

Nas minhas aulas de física, sempre que possível, primeiro trabalho os conceitos em sala de aula, depois levo os alunos para o laboratório de informática para utilizarem os softwares simuladores. Eles podem interferir nos experimentos a partir dos programas e verificar os resultados. Os alunos adoram essas atividades e demonstram grande interesse. Ficam ansiosos para ir para o laboratório. Os computadores prendem mais a atenção dos alunos.

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A contribuição da professora é reforçada pela afirmação da Professora 19: “Utilizo

o software educacional como reforço no conteúdo trabalhado em sala de aula, mas vejo um

problema no fato do software vir pronto e não tem como mudar os conteúdos e tem que se

adaptar a ele”.

Ao analisar essa declaração, emerge outra dificuldade normalmente enfrentada

pelos professores, a de encontrar um software adequado ao conteúdo a ser trabalhado na

sua aula. Alguns ressaltam que muitas vezes é preciso adaptar a aula ao que está disponível

no software.

Portanto, apesar das diversas estratégias que estão sendo adotadas pelos professores

para a realização das atividades em ambientes informatizados de ensino, ainda são várias

as dificuldades que permeiam suas práticas. Quanto às dificuldades encontradas no uso de

softwares e da internet, destacam-se os seguintes comentários:

Sinto dificuldade em definir como vou usar o computador para dar uma aula, não sei que software usar, se dá para usar a internet, mas ainda bem que a professora 19 (responsável pelo laboratório) me ajuda, senão não saberia como encaminhar as atividades com o computador sem ela. (Professora 20).

Quando uso software educacional no laboratório, sinto dificuldade em manter os alunos com o foco no uso do software, muitos vão para a internet e acabam se dispersando das atividades propostas. (Professora 21).

Como professora, senti dificuldades no início para o uso da internet, por não saber como aplicar os conteúdos, pois eles copiavam os conteúdos como estavam na internet. Mas isso também acontece com os livros. (Professora 22).

Diante dessas declarações, verifica-se algumas das principais dificuldades

encontradas pelos professores durante as suas práticas em laboratório, como na definição

de atividades a serem desenvolvidas em laboratório, assim como, na definição de que

software utilizar, se pode usar a internet, de que recursos a escola dispõe e de que forma

esses recursos podem ser incorporados em suas atividades pedagógicas.

Também se ressalta na contribuição da Professora 22 a importância do

acompanhamento do professor nas atividades desenvolvidas em laboratório, evitando que

os alunos desviem a atenção do enfoque proposto para a aula, assim como controlando e

analisando os conteúdos que eles estão utilizando para seus trabalhos. Buscando minimizar

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esse tipo de problema durante as aulas em laboratório, os professores, ao planejar suas

aulas, buscam formas para facilitar o andamento de suas aulas em laboratório. Alguns

ressaltam a importância da definição antecipada dos softwares, sites e conteúdos que

deverão ser trabalhados pelos alunos no laboratório, para que no momento da aula os

alunos já tenham uma definição de onde devem pesquisar ou de que software devem

utilizar para realizar as atividades propostas. Nesse sentido, o professor laboratorista

assume um papel fundamental, auxiliando os professores que apresentam maiores

dificuldades nesse planejamento.

Os professores julgam importante, além desse planejamento, que seja introduzido o

conteúdo a ser trabalhado ainda em sala de aula, apresentando os objetivos e definindo

uma forma de avaliação dos trabalhos realizados nesse ambiente. O Professor 23 declarou

que, durante esse planejamento, é comum surgir a necessidade de desenvolver materiais

instrucionais próprios, o que também se detectou na fala de outros docentes. Diversos

professores, ao serem questionados, relataram já terem sentido a necessidade de

desenvolvimento de materiais específicos, de acordo com o conteúdo que desejam

trabalhar, no entanto poucos se encorajam a desenvolver seus próprios softwares e

materiais didáticos, visto que essa atividade demanda maior domínio tecnológico,

conhecimento de softwares de autoria e, especialmente, de tempo.

Dentre os professores com maior conhecimento das tecnologias e com maior

experiência na utilização dos ambientes informatizados destaca-se a contribuição do

Professor 23, que relata:

Prefiro montar o meu próprio material de aula, de acordo com o que vou trabalhar com os alunos. Não gosto muito de usar enciclopédias e softwares educacionais, pois nem sempre são adequados as suas atividades e muitas informações são desatualizadas. Prefiro buscar informações mais atualizadas na internet e criar meu próprio material. Quase sempre encontro na internet os materiais que preciso para as aulas.

O professor relata ainda que, pela sua experiência com aulas em ambiente

informatizado, somente trabalhar um conteúdo em laboratório não oferece o mesmo

aproveitamento. É importante que essas atividades sejam combinadas com aulas em sala de

aula:

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Eu normalmente trabalho um conteúdo em sala de aula e após encaminho atividades em laboratório, para os alunos pesquisar mais informações sobre os assuntos tratados e produzir materiais com o resultado das pesquisas realizadas na internet.

O professor ressalta que sempre busca proporcionar uma aula bastante atrativa para

os alunos, utilizando os mais diversos recursos que a tecnologia oferece para enriquecer as

aulas. Salienta a importância da internet como fonte de pesquisa tanto para os professores

como para os alunos, que segundo o professor, é uma grande biblioteca. Por isso, utiliza

muito os recursos multimídia proporcionados pela internet para suas aulas.

Sempre localizo antes na internet links que contenham conteúdos relacionados ao que pretendo trabalhar em aula. Também procuro utilizar bastante recursos como vídeos, fotos, animações e simulações para deixar a aula mais dinâmica e atrativa. Procuro montar um material próprio para a aula em um arquivo do Powerpoint em que insiro os links para acesso aos conteúdos que pretendo trabalhar na aula.

Além dos conteúdos encontrados na internet, o professor ressalta:

Também utilizo em minhas aulas vídeos capturados pelos programas locais, cenas de filmes e documentários. Capturo estes trechos de vídeo a partir de um computador equipado com placa de captura de vídeo depois insiro-os dentro do material de aula. Os alunos ainda podem buscar mais informações na internet, a partir dos links que coloco no próprio material, para complementar ou aprofundar os conteúdos trabalhados.

Conforme o professor, os alunos têm demonstrado uma boa aceitação às aulas

desenvolvidas com essa metodologia. Relatou também a importância de sempre

acompanhar o andamento da aula, apoiando os alunos e evitando que não se dispersem

com outros conteúdos acessados pela internet. Segundo o professor, sem esse

acompanhamento os alunos acabam não realizando as atividades da aula, atendo-se ao uso

de chats, Orkut, entre outros sites de comunicação e entretenimento. Para o professor, é

muito importante acompanhar o desenvolvimento de uma aula em ambiente informatizado,

da mesma forma ou até com mais cuidado do que acompanha em sala de aula.

Neste capítulo apresentou-se o caminho metodológico adotado para o

desenvolvimento dessa pesquisa e a análise das informações obtidas durante a coleta de

dados, buscando identificar nas contribuições obtidas de professores que atuam em

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ambientes informatizados de ensino das escolas da região, as informações relevantes para

atingir os objetivos propostos por este trabalho.

Percebeu-se que o uso de ambientes informatizados de ensino mostra-se como um

desafio para a maioria dos professores, desde os que estão iniciando o uso desses recursos

até os que já possuem uma bagagem maior de conhecimento no uso das tecnologias no

âmbito educacional. No entanto, apesar de todas as dificuldades enfrentadas pelos

professores, percebe-se que são várias as estratégias que estão sendo adotadas por eles para

o uso das novas tecnologias nas atividades escolares, envolvendo aulas expositivas,

pesquisas, jogos, comunicação, simulações, enfim, diversas soluções estão sendo criadas

por esses docentes para que suas práticas conduzam a um aprimoramento de suas

estratégias didáticas no uso desses recursos no ambiente escolar. A seguir serão

apresentadas as considerações finais obtidas com o desenvolvimento dessa pesquisa.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho procurou investigar e discutir questões relacionadas ao uso da

informática na educação nas escolas da região de Passo Fundo, buscando constatar de que

forma os professores que atuam em ambientes informatizados de ensino estão se

apropriando das novas tecnologias de informação e comunicação para suas práticas

pedagógicas. Durante a revisão da literatura, percebeu-se que a informática tem oferecido

grandes possibilidades para a educação, apresentando-se como uma nova tendência de

ensino que tem exigido novas práticas por parte dos docentes.

Com a rápida evolução das tecnologias ocorrida nos últimos anos, e também com a

disseminação do uso da internet cresce também a diversidade de recursos que a informática

oferece para as aplicações educacionais. No entanto, o uso desses recursos nas atividades

de ensino exige que os professores assumam uma nova postura, adotando estratégias que

lhes permitam o uso dessas tecnologias para ampliar as possibilidades de transpor os

conteúdos curriculares, proporcionando aos alunos ambientes informatizados de ensino

atrativos e motivadores, obtendo contribuições significativas do uso da informática na

educação, assim como ocorre em outras áreas do conhecimento humano.

Nesse sentido, constatou-se que o uso de ambientes informatizados de ensino nas

escolas da região tem promovido diversas formas de atuação por parte dos professores.

Nota-se que, apesar de ainda haver despreparo por parte de alguns e até mesmo resistência

por parte de outros, muitos professores estão sendo bastante criativos ao se apropriarem

dos recursos tecnológicos em suas práticas pedagógicas, adotando estratégias que

transformam o uso de um simples programa de computador em importante aliado no

processo de ensino-aprendizagem.

Entretanto, faz-se necessário ressaltar que, mesmo com a disponibilidade de

recursos que permitam a criação de ambientes informatizados de ensino altamente

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117

interativos, em que o aluno pode assumir o papel ativo na construção de seu aprendizado,

dependendo das estratégias adotadas pelo professor e das teorias que alicerçam suas

práticas, o uso desses recursos pode se reduzir a uma proposta tão tradicional quanto uma

aula expositiva, ou até mesmo a uma utilização puramente behaviorista, como foram as

“máquinas de ensinar” propostas por Skinner há mais de cinqüenta anos.

Nesse sentido, notou-se que, das teorias educacionais abordadas nesse trabalho,

nenhuma foi observada de forma isolada na atuação desses docentes. Não se verificou um

limite claro entre estratégias baseadas numa teoria ou em outra, mas, sim, que é comum

que as estratégias adotadas, associadas ao uso de determinados softwares, proporcionam

atividades que em alguns momentos se aproximam de princípios behavioristas e, em

outros, podem estar voltadas à construção do conhecimento, ou seja, aproximam-se da

teoria construtivista. Portanto, é freqüente que numa mesma aula em ambiente

informatizado um professor atue ora de forma behaviorista, ora de forma construtivista.

Fica evidente que o papel do professor é fundamental para o sucesso no uso dos

ambientes informatizados de ensino; portanto, é preciso que os docentes estejam

preparados para que a apropriação das novas tecnologias se dê de forma a potencializar e

qualificar o ensino. No entanto, ressalta-se também a necessidade de as escolas

desenvolverem iniciativas para que disponham de uma infra-estrutura com equipamentos e

softwares adequados às necessidades dos seus professores, principalmente nas escolas

estaduais da região, onde se percebeu uma grande heterogeneidade com relação à questão

da instrumentalização. Todavia, não basta a escola ser instrumentalizada; é preciso que o

uso desses recursos seja potencializado, estimulando os docentes a desenvolver atividades

nesses ambientes, evitando, assim, o que acontece em algumas escolas, onde ambientes

informatizados são pouco freqüentados pelos professores e alunos, desperdiçando grandes

possibilidades pedagógicas que poderiam ser exploradas com o uso desses recursos.

Apesar das dificuldades identificadas no dia-a-dia dos professores, constatou-se que

muitos docentes estão buscando formas de melhorar cada vez mais sua atuação pedagógica

com o uso de ambientes informatizados de ensino, destacando-se o papel dos professores

laboratoristas, que se demonstraram determinantes na aplicação pedagógica desses

recursos nas escolas, apoiando os professores, principalmente os com menor

conhecimento, na definição de estratégias e na execução das atividades em laboratório, e,

em alguns casos, sendo decisivos na questão do uso ou não-uso dos ambientes

informatizados de ensino nas escolas.

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Cabe ressaltar também que tanto o software educacional como a internet vêm sendo

usados amplamente pelos professores da região. Os professores estão se valendo de

diversas estratégias de ensino, proporcionando práticas em que o uso dessas tecnologias

permite aos alunos novas formas de desenvolver seus conhecimentos, valendo-se de

recursos que variam desde simples softwares de apresentação de conteúdo até simuladores

altamente interativos, por meio dos quais o aluno pode observar, pesquisar, experimentar,

testar, emfim, interagir de forma ativa com o objeto de estudo, como determinam as teorias

construtivistas de Piaget e Vygotsky. Entretanto, também se evidenciou que alguns

recursos, apesar de apresentarem potencial pedagógico se devidamente apropriados pelos

docentes, ainda não estão sendo utilizados ou, em alguns casos, não estão disponíveis nos

ambientes informatizados de ensino das escolas da região.

Por fim, ressalta-se que com a realização deste trabalho não se teve a pretensão de

estabelecer regras ou avaliar a qualidade das atividades realizadas pelos professores nos

ambientes informatizados de ensino, mas, sim, conhecer como as atividades escolares estão

sendo concebidas nesses ambientes, buscando identificar nas práticas dos professores as

informações necessárias para os objetivos deste trabalho. Da mesma forma, ressalta-se que

as questões em aberto relativas ao uso de ambientes informatizados de ensino, com certeza,

não se esgotam aqui. No contexto tecnológico atual existe uma diversidade muito grande

de recursos que são passíveis de apropriação pelos docentes, oferecendo novas

possibilidades para o trabalho pedagógico. No entanto, cada um desses recursos apresenta

características específicas, de modo que, para serem aplicados no processo de ensino-

aprendizagem, precisam ser abordados através de estratégias didáticas apropriadas,

exigindo, fundamentalmente, que os professores estejam bem preparados para determinar a

melhor forma de utilizar cada recurso no momento de definir e executar atividades em

ambientes informatizados de ensino.

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ANEXO A – ROTEIRO PARA ENTREVISTA

1) Quanto ao entrevistado: 1.1) Nome: 1.2) Escola(s) onde atua: 1.3) Disciplina(s) que leciona:

2) Quanto aos recursos tecnológicos disponíveis: 2.1) A escola dispõe de ambiente informatizado para auxiliar nas suas atividades didático-pedagógicas? 2.2) Que tipo de recursos tecnológicos estão disponíveis no ambiente informatizado disponível na escola? 2.3) A escola dispõe de acesso à internet? De que forma: discado ou banda larga? 2.4) De que recursos de software a escola dispõe? (site na internet, software educacional, etc.) 2.5) Os recursos disponíveis atendem as suas necessidades para uso em sua(s) disciplina(s)?

3) Quanto à utilização dos recursos tecnológicos: 3.1) Que tipo de ferramenta de hardware e software utiliza com o propósito de auxiliar suas atividades didáticas? E quais as dificuldades encontradas? 3.2) De que forma utiliza a internet? Quais as dificuldades encontradas? 3.3) Quanto ao uso dos softwares educacionais, como os utiliza? Quais as dificuldades encontradas? 3.3) Já sentiu a necessidade de desenvolver um software adequado as suas necessidades para uso nas práticas pedagógicas? ( ) Sim e Desenvolveu. Com que ferramentas? Dificuldades? ( ) Sim e Não Desenvolveu. Por quê? ( ) Não. Sempre encontrou os softwares prontos? 3.6) Considera útil o uso de computadores em suas atividades didáticas? ( ) Sim por quê? ( ) Não por quê? 3.7) Em um software para uso didático, que característica você considera mais importante?

( ) Facilidade de uso ( ) integração de texto, gráfica, som e cor ( ) Flexibilidade ( ) Interatividade ( ) Avaliação constante dos resultados ( ) Outras (especifique):

4) Quanto às estratégias didáticas utilizadas nos ambientes informatizados de ensino: 4.1) Que estratégias didáticas utiliza para a transposição de conteúdos curriculares e na construção de novos conhecimentos quando desenvolve atividades no ambiente informatizado da escola?

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ANEXO B – PROJETO DE INFORMÁTICA

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