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A AMÉRICA COLONIAL ESPANHOLA As grandes civilizações pré-colombianas Vimos anteriormente como as colônias do Novo Mundo serviram aos propósitos mercantilistas da Europa. A América foi o território de exploração com o qual as metrópoles mantinham um comércio essencialmente desigual, em favor de uma balança comercial favorável e do acúmulo de metais preciosos nos tesouros reais do Velho Mundo. O chamado pacto colonial definia que as metrópoles exerceriam o exclusivismo comercial, isto é, o monopólio sobre tudo o que as populações das colônias importassem ou exportassem. Além disso, outro princípio estabelecia que, enquanto as metrópoles se concentravam no comércio, mais lucrativo, a colônias deveriam se dedicar à produção quase que exclusivamente restrita dos produtos agropecuários. Buscando a manutenção para a prosperidade burguesa, elemento fundamental para um Estado absolutista forte, as nações europeias usaram de grande violência contra os ameríndios, no intuito de dominar e explorar os diversos territórios das Américas. Os territórios colonizados pela Espanha, principalmente as regiões do Peru e Bolívia, eram habitados por grandes civilizações urbanas – similares no que diz respeito à infraestrutura, aos grandes impérios egípcios – como os maias, incas e astecas. Os incas eram chefiados por um imperador que além de chefe militar considerado o deus na Terra, o ‘filho do Sol”. O auge dessa civilização ocorreu nos séculos XV e XVI, entre 1438 e a chegada dos espanhóis em 1531. As ruínas de Machu Picchu no Peru, cujos vestígios ainda hoje causam forte impressão, são um bom exemplo da grandiosidade e da sofisticação urbana da civilização Inca. No império inca, vivam e trabalhavam cerca de 6 milhões de pessoas. Predominava a servidão coletiva e uma forte Curso: Cefet/Coltec Preparató Data: 13/06/2011 Turno: Tarde Disciplina: História Professor (a): Frederico Silva Perpetuo Tema da aula: Américas Coloniais Espanhola e Inglesa

Américas Coloniais Espanhola e Inglesa

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Texto histórico sobre a colonização das Américas Espanhola e Inglesa

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A AMÉRICA COLONIAL ESPANHOLA

As grandes civilizações pré-colombianas

Vimos anteriormente como as colônias do Novo Mundo serviram aos propósitos mercantilistas da Europa. A América foi o território de exploração com o qual as metrópoles mantinham um comércio essencialmente desigual, em favor de uma balança comercial favorável e do acúmulo de metais preciosos nos tesouros reais do Velho Mundo.

O chamado pacto colonial definia que as metrópoles exerceriam o exclusivismo comercial, isto é, o monopólio sobre tudo o que as populações das colônias importassem ou exportassem. Além disso, outro princípio estabelecia que, enquanto as metrópoles se concentravam no comércio, mais lucrativo, a colônias deveriam se dedicar à produção quase que exclusivamente restrita dos produtos agropecuários.

Buscando a manutenção para a prosperidade burguesa, elemento fundamental para um Estado absolutista forte, as nações europeias usaram de grande violência contra os ameríndios, no intuito de dominar e explorar os diversos territórios das Américas.

Os territórios colonizados pela Espanha, principalmente as regiões do Peru e Bolívia, eram habitados por grandes civilizações urbanas – similares no que diz respeito à infraestrutura, aos grandes impérios egípcios – como os maias, incas e astecas.

Os incas eram chefiados por um imperador que além de chefe militar considerado o deus na Terra, o ‘filho do Sol”. O auge dessa civilização ocorreu nos séculos XV e XVI, entre 1438 e a chegada dos espanhóis em 1531. As ruínas de Machu Picchu no Peru, cujos vestígios ainda hoje causam forte impressão, são um bom exemplo da grandiosidade e da sofisticação urbana da civilização Inca.

No império inca, vivam e trabalhavam cerca de 6 milhões de pessoas. Predominava a servidão coletiva e uma forte hierarquia social. A terra era considerada propriedade do imperador e administrada por funcionários locais que definiam a divisão do trabalho, os impostos eram destinados ao imperador a quem se devia também a mita (trabalho obrigatório nas grandes obras públicas).

Após a morte do imperador inca Huayna Cápac, em 1525, seus dois filhos Huascar e Atahualpa, concebidos por esposas diferentes, disputaram violentamente o controle do império, gerando uma crise do poder central. Foi exatamente nesse delicado momento que os espanhóis chegaram ao território peruano.

Sob o comando de Francisco Pizarro, as tropas espanholas se aliaram aos homens de Huascar e capturaram Atahualpa em Cajamarca. Na mesma época, os exércitos de Atahualpa, capturaram, em Cuzco, o líder Huascar. Negociações e ameaças à vida dos dois líderes duraram aproximadamente um ano. Em 1553 Huascar foi assassinado em um conflito de grupos étnicos que

Curso: Cefet/Coltec Preparatório Data: 13/06/2011

Turno: TardeDisciplina: História

Professor (a): Frederico Silva Perpetuo

Tema da aula: Américas Coloniais Espanhola e Inglesa

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condenavam a antiga autoridade do império e Atahualpa foi condenado à morte por Pizarro. Apesar disso, os incas lutaram contra o domínio espanhol por mais de 40 anos, mas em 1572 quando foi morto o último imperador Túpac Amaru, iniciou-se o processo de extinção de uma das mais grandiosas civilizações da América.

No trecho que vai do México à Costa rica, diversas outras civilizações poderosas se sucederam, como os olmecas, os toltecas, o Império Teotihuacan e, principalmente os maias e os astecas, sobre os quais falaremos a seguir.

A civilização maia estava centralizada na península de Iucatá, atual sudeste do México, e conheceu seu apogeu entre os sécs. III e XI. Organizava-se em cidades-Estado tais como Palenque, Tikal e Copan. A sociedade era regida por uma elite religiosa e militar hereditária. Nos centros urbanos haviam aldeias camponesas submetidas à servidão coletiva. As causas da decadência dos maias são pouco conhecidas. Suas cidades foram abandonadas e, na época da chegada dos espanhóis, não mais existia uma civilização maia organizada.

A civilização asteca foi a mais grandiosa da Mesoamérica (trecho que se estende do México à Costa Rica). Os astecas chegaram a dominar o território que vai do oeste mexicano ao sul da Guatemala, contando com uma população aproximada de 12 milhões de habitantes. Tenochtitlán (atual Cidade do México), cobria uma área de 13 quilômetros quadrados e chegou a possuir 100 mil habitantes. O império asteca posuía uma estrutura política extremamente centralizada. O imperador dirigia a “casta” sacerdotal na qual se apoiava a atividade agrícola. Os povos vizinhos eram submetidos ao grande império e tinham de pagar tributo ou estariam sujeitos a expedições punitivas.

Os espanhóis chegaram ao império asteca comandados por Fernão Cortez em 1519, na atual Cidade do México. Incialmente vistos como deuses, tornaram-se amigos dos ameríndios. Cortez passou a estudar-lhes os hábitos e lendas e usando dos mesmos, promoveu a conquista do império, rico em ouro, dizimando de forma violenta os ameríndios e fazendo sucumbir o imperador Montezuma II em 1521.

A colonização espanhola na América

A ideia da expansão da fé católica por meio da conversão dos indígenas foi utilizada como justificativa para a exploração da América. Até o fim do séc. XVI os grandes impérios pré-colombianos já haviam sido subjugados. Entre os sécs. XVI e XVII, os espanhóis se concentraram na extração de metais preciosos (ouro e prata no México e Peru), cumprindo os objetos das práticas mercantilistas, com a transferência das riquezas coloniais para a metrópole.

O trabalho utilizado na mineração era a mita, instituição já existente no Império Inca. Afastados de suas comunidades, os indígenas eram forçados a trabalhar nas minas, recebendo em troca um salário irrisório e tornando-se vítimas das péssimas condições de trabalho, o que gerava grande taxa de mortalidade entre os nativos. A larga utilização da mita gerou a ruína da estrutura comunitária indígena. Havia também a enconmienda, direito dado a espanhóis estabelecidos na América, de explorar o trabalho escravo indígena, devendo em troca oferecer aos ameríndios uma educação cristã.

A sociedade colonial era hierarquizada, no topo da pirâmide social estavam os chapetones, espanhóis provenientes da metrópole que cuidavam da administração, justiça, clero e exército. Um pouco mais abaixo havia os criollos, a aristocracia colonial formada por homens brancos, descendentes de espanhóis, porém nascidos na América. Eram grandes proprietários de terras e dedicavam-se ao comércio, além de exercer o controle político em âmbito local nas câmaras municipais chamadas cabildos ou ayuntamientos.

Abaixo dos criollos estavam os mestiços (espanhóis + indígenas), os trabalhadores livres da Colônia. Existia também um limitado número de escravos

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negros, concentrados em sua maior parte na região do Caribe e é claro um grande número de escravos indígenas.

O gerenciamento da Colônia era feito por meio do Conselho Real e Supremo das Índias, órgão sediado na Espanha e representado na Colônia pelos chapetones. A chamada Casa de Contratação era responsável pela arrecadação dos impostos e para melhor aferi-los, instaurou o sistema de porto único. Somente um porto espanhol, incialmente o de Sevilha, faria comércio com a América, que possuía também portos específicos e previamente autorizados para essas negociações, eram eles: o de Vera Cruz (México), Porto Belo (Panamá) e Cartagena (Colômbia).

Algumas cidades na América Espanhola cresceram não apenas como centros comerciais e administrativos, mas também culturais. Na verdade, desde o início do século XVI haviam sido fundadas universidades em Lima, no vice-reinado do Peru, e na Cidade do México, vice-reinado da Nova Espanha.

Havia, por fim, o Conselho das Índias que nomeava os vice-reis (chapetones) e fiscalizava sua administração. Dentro de cada vice-reinado existiam divisões administrativas chamadas intendências, governadas pelos alcaides (chapetones). As cidades mais importantes possuíam suas próprias câmaras municipais, e não eram raros os choques entre esses órgãos (controlados pela elite criolla) e os alcaides e demais autoridades representadas pelos chapetones. Serão exatamente os conflitos, a exploração da Colônia e o veto da participação dos criollos na administração colonial (com exceção da municipal), que irão culminar nos processos de independência da América Espanhola no séc. XIX.

A AMÉRICA COLONIAL INGLESA

A colonização inglesa iniciou-se tardiamente em relação à Espanha e Portugal. Já no fim do séc. XVI, a Rainha Elizabeth I, filha de Henrique VIII (1558-1603) estimulou a construção naval e o comércio marítimo dando vazão à política mercantilista. As navegações inglesas passaram a saquear os galeões espanhóis repletos de ouro e prata no litoral do Caribe, aumentando as tensões entre Espanha e Inglaterra, resultando no confronto armado de 1588 quanto foi destruída a famosa Invencível Armada Espanhola no mar do Norte.

No séc. XVII, Espanha e Portugal já haviam ocupado de forma expressiva os territórios da atual América do Sul. Entretanto, a região da América do Norte ainda não havia sido expressivamente colonizada e a derrota da Espanha para a Inglaterra, associada à criação de companhias de comércio e à aliança celebrada entre Estado e burguesia, constituíram importantes estímulos para que os ingleses iniciasse a fixação de colônias no Novo Mundo.

Entre 1584 e 1587 ocorreram as primeiras tentativas de colonização chefiadas por Sir Walter Raleigh, que falharam devido à violenta reação dos ameríndios. Mas em 1607, com a fundação da colônia de Virgínia, explorada por uma companhia de comércio, que contava com vários acionistas burgueses e detinha o privilégio do monopólio comercial e da colonização, viabilizou-se a ocupação da região.

Na Inglaterra agudizava-se o processo de cercamentos (delimitação de pedaços de terra para criação de lã que visava abastecer a indústria têxtil, com a expulsão dos camponeses que cultivavam as mesmas terras) e as várias perseguições religiosas a vários grupos protestantes, como os puritanos e os quakers (grupo dissidentes do calvinismo inglês), servindo de incentivo para a emigração rumo à América.

As treze colônias inglesas

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Na Virgínia, os primeiros núcleos de produção inicialmente dedicaram-se ao cultivo do tabaco, produto largamente consumido na Europa. Mais foram também cultivados o corante índigo (anil), arroz e algodão. Além da Virgínia, outras colônias se transformaram em grandes centros de produção agrícola, como Geórgia, Carolinas do Norte e do Sul, Maryland e Delaware. Tais colônias, situadas mais ao sul do território, podem ser consideradas colônias de exploração, pois utilizavam o sistema de plantation, a mão-de-obra escrava e tinham sua produção voltada para o exterior.

Nas colônias ao Norte (atuais estados de Nova Jersey, Nova York, Pennsylvania, Connecticut, Massachusets, Rhode Island e New Hampshire) prevaleciam as colônias de desenvolvimento. Os colonos dessa região eram em sua maioria vítimas da perseguição religiosa na Inglaterra. O primeiro grupo desembarcou na América do navio Mayflower, em 1620, e fundou a cidade de Plymouth, em Massachusets, núcleo inicial da chamada Nova Inglaterra, já que pretendiam reproduzir as condições de vida de sua terra natal.

Mantendo poucos laços políticos e econômicos com a Inglaterra, as colônias do Norte, a longo prazo, passaram a desenvolver uma produção manufatureira e um comércio interno cada vez mais intenso e diversificado. A construção naval progrediu e tornou possível a articulação entre as colônias e o comércio a longa distância, que chegava às colônias inglesa do Caribe, África e Europa. As restrições e o forte controle exercidos pela metrópoles ibéricas, não foram seguidos pela Coroa inglesa e de fato, desde a fundação das colônias inglesas na América, jamais houve um projeto normativo de colonização.

Na Inglaterra, intensos conflitos políticos internos durante o séc. XVII, como a Revolução Puritana de 1641(conflito entre o rei e o parlamento) e a Revolução Gloriosa1 de 1688, contribuíram para afrouxar os laços de dominação da Metrópole em relação à Colônia. Mas no séc. XVIII, quando a Inglaterra emergia como potência mundial, após o alcance de sua estabilidade política, ela tentaria implementar um forte domínio em relação à América do Norte, gerando conflitos que iriam culminar no processo de independência das 13 colônias e na formação dos Estados Unidos da América.

1 Revolução Gloriosa é o nome dado pelo movimento ocorrido na Inglaterra entre 1688 e 1689 no qual o rei Jaime II foi destituído do trono britânico. Chamada por vezes de “Revolução sem sangue“, pela forma deveras pacífica com que ocorreu, ela resultou na substituição do rei da dinastia Stuart, católico, pelos protestantes Guilherme (em inglês, William), Príncipe de Orange, da Holanda, em conjunto com sua mulher Maria II (respectivamente genro e filha de Jaime II).