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AMIGA E AMIGO!

O conhecimento, o respeito e a tro-ca de informações com os povos indí-genas são os objetivos deste caderno,elaborado para a Semana dos PovosIndígenas. Neste ano vamos abordar atemática: “Povos Indígenas em Espa-ços Urbanos”. Nos últimos tempos estácada vez mais evidente a presença deindígenas nas cidades. Os motivos queos levam para os contextos urbanos sãoos mais diversos, contudo, sem abrirmão de ser indígena seguem afirman-do sua identidade, lutando pelos seusdireitos e reconstruindo suas relaçõese organizações.

Queremos ouvir e olhar para gruposde diferentes povos, que vivem emespaços urbanos, e mostrar o contexto,o cotidiano, a luta e os desafios da vidaem cidades como Campo Grande,Dourados, Manaus, Cuiabá, PortoAlegre e São Leopoldo.

A primeira parte é elaborada paracrianças, a segunda volta-se para opúblico juvenil, servindo também comofonte de informações para educadoras,educadores e pessoas que irão orientar,animar e facilitar as reflexões. Todo ocaderno traz importantes subsídiossobre os povos indígenas em espaçosurbanos. Informações com-plementarespodem ser encontradas no sitewww.comin.org.br que podem servircomo passo inicial para pesquisa eaprofundamento.

Semana dosPovos Indígenas 2008

Responsabilidade e Coordenação: Con-selho de Missão entre Índios – COMINOrganização: Cledes Markus.Pesquisa dos dados: Francelina da SilvaSouza, Graciela Chamorro, Mara Cambeba,Luis Manoel Gil da Silva, Dário de Oliveira,Traudi M. Kraemer, Hans A. Trein, DorotyMayron Taukane, Tserenho A Pronhõpa, Si-las Moraes, Teobaldo Witter, Firmino Salva-dor, Pedrinho Eufrásio, Ari Ribeiro, Francis-co dos Santos, Erondina Vergueiro, Valdomi-ro Vergueiro, Antônio dos Santos, José Ver-gueiro, Dorvalino Cardoso, Marinez Garlet,Ingrid Kamiski, Lúcio R. Schwingel.Elaboração: Sônia L. Trapp Mees, Maria IonePilger, Maria Dirlane Witt, Lori Altmann, EdsonPonick, Ivan Vieira, Hans A. Trein, MartaNörnberg e Cledes Markus.Diagramação, capa e cartaz: Ivan VieiraFotografias: Acervo COMINImpressão: Con-Texto Gráfica e EditoraRealização: COMIN em parceria com Depar-tamento de Educação Cristã da Igreja Evan-gélica de Confissão Luterana no Brasil.Apoio Financeiro: Igreja EvangélicaLuterana da Baviera (ELKB), Kerkinactie daHolanda e Kirchen helfen Kirchen.

Tiragem: 30 mil exemplares

ISBN: 978-85-89732-97-0

Editora Oikos Ltda.Rua Paraná, 24093120-020 São Leopoldo/RSwww.oikoseditora.com.br

INDÍGENAS NA CIDADE ............................ 03

A CAMINHADADE VIDA DA SUA FAMÍLIA ...................... 05

SER INDÍGENA NA CIDADE ....................... 05

ARTESANATO .......................................... 07

EDUCAÇÃO .............................................. 09

SAÚDE ..................................................... 11

RE-SIGNIFICARCONCEITOS E PRÁTICAS...................... 13

PARA SABER MAIS ................................. 22

Sumário

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Luís Manoel chegou a Manaus/AM em 1997. Faz oito anos queFirmino mora em Porto Alegre/RS. Dorothy mora em Cuiabá/MT.

A comunidade de Antônio está de sete para oito anos em São Leo-poldo/RS. Quem são essas pessoas? O que elas têm em comum?

Todas elas pertencem a povos indígenas que vivem no meio ur-bano, ou seja, na cidade. Hoje existem mais de 350 mil indígenasvivendo nas cidades. Entre outros povos, são Kaingang, Terena,Bakairi e Sateré-Mawé dando nova vida ao dia-a-dia de várias cida-des do nosso país.

Veja no mapa algumasdestas cidades...

Manaus – Sateré-MawéCuiabá – Bakairi

Campo Grande e Dourados – TerenaSão Leopoldo e Porto Alegre – Kaingang

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“Na cidade, senti um choque. Mesenti diferente, olhada... Depois, otempo foi passando e eu fui ficandomais à vontade e comecei a acharque essa curiosidade podia ser tam-bém interesse para conhecer e que,conhecendo a gente, os colegas po-diam respeitar mais os povos indíge-nas.” (Francelina da Silva Souza, Dou-rados/MS)

Os povos indígenas se organizam,vivendo conforme a sua cultura e osensinamentos dos seus antepassados.A vontade de conquistar um espaço queé de todos está sempre presente.

Copie as palavras que estão nas sementes, preencha as lacunas da frasee descubra o que disse o indígena Francisco dos Santos, de Porto Alegre/RS.

__ __ __ __ NA __ __ __ __ __ __ NÓS NOS __ __ __ __ __ __ __ __ MUITO

__ __ __, PORQUE AQUI __ __ __ __ __ __ É A NOSSA __ __ __ __.

ALGUNS MOTIVOS QUE LEVAM OS INDÍGENAS A MORAR NA CIDADE:

• O estudo em escolas e universidades.

• Dificuldades para manter seu espaço no meio rural.

• A busca de recursos para cuidar da saúde.

• Maior possibilidade de vender o artesanato.

• O crescimento das próprias cidades que, assim,estão chegando perto das terras indígenas.

Na cidade, como em qualquer outro lugar, existem dificuldades e desafiosa serem enfrentados, como a discriminação ao seu modo de viver, a formacomo cuidam da saúde e ensinam as crianças.

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Resposta na página 23

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Família Kaingang – Morro do Osso – Porto Alegre/RS

Organize um encontro na sua família para conversar sobre a sua história.Dicas de perguntas: A sua família mora no mesmo lugar em que nasceu? Se houveuma mudança de local, qual foi o motivo para isto ocorrer? Todos os familiares

moram na mesma cidade? Alguém deixade pertencer a uma família ou de sero que é por morar em outro lugar?

Aproveite o momento paraolhar fotos dos lugares onde seusfamiliares já moraram ou esti-veram. Organize um álbum,leve-o para a escola e conteaos seus colegas um pouco dacaminhada de vida da sua famí-

lia.

Os povos indígenas continuam aser indígenas mesmo morando na ci-dade. Percebemos isso na forma comoentendem o que acontece à sua voltae na sua atitude diante dessa realida-de. Viver em comunidade, morarpróximos e se organi-zar em grupos familia-res ajuda a enfrentaros desafios queexistem na cida-de. Eles tambémlembram aquiloque seus antepas-sados viveram e en-sinaram.

“Tem perigos na cidade? Tem.

Mas nós já estamos aprendendo comolidar, assim como nossos antepassa-dos aprenderam a lidar com os perigosque havia nas florestas... Não foi en-

frentando dificulda-des que o serhumano apren-deu o quesabe?” (Fran-cisco dos San-

tos, Porto Ale-gre/RS)

Os indígenas quemoram na cidade man-têm contato com seus

parentes de aldeias rurais. Vão ao in-terior quando ocorre uma festa, o nas-

Kaingang– São Leopoldo/RS

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cimento, a doença ou a morte de umparente. Também é lá que buscam oschás para cuidar da saúde e os mate-riais para fazer o artesanato que não en-contram na cidade. Quem mora no inte-rior e vai à cidade para fazer uma visitaou cuidar da saúde também encontraum lugar de aconchego. Nessas visitas,trocam-se experiências, valorizando a vi-vência que cada um tem no lugar ondemora.

Os povos indígenas que moram

Aldeia Kaingang situada na BR116em São Leopoldo/RS

Encontre o caminho que leva a família da cidade até o interior:M

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Resposta na página 23

na cidade não esquecem suas raízes eos que ainda moram no interior, lem-brando que, mesmo à distância, a uniãoentre eles permanece.

A cultura dos povos indígenas é cul-tivada através da sua linguagem, dashistórias contadas de geração em gera-ção, da forma como fazem o artesana-to, através da dança, do cuidado com asaúde e a natureza.

Aldeia – Agrupamento de casas empequena povoação indígena. Po-voado. Em língua tupi, taba de tawa.

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Na cidade, o artesanato mostra a cultura e a tradição dos po-vos indígenas, mas também é uma importante forma de sobrevi-vência e um jeito do povo ser reconhecido pelas pessoas de outras

culturas. Muitas vezes, uma conversa entre indígenas e pes-soas de outras culturas inicia a partir da venda do artesa-nato. É assim que passam a se conhecer e se respeitar.

Para fazer o artesanato, toda a família participa. Ascrianças aprendem com os pais e os avós, observando,ouvindo e, por fim, confeccionando junto.

Em geral, os materiais usados para fazer o artesanatosão taquaras, sementes e cipós colhidos no mato. Algumasvezes, é difícil encontrar este material na cidade. Por isso,outros materiais, como miçangas e tintas, são usados no tra-balho indígena.

O artesanato é vendido em feiras, parques ou praças. Sãomomentos em que famílias indígenas de diversos lugares seencontram e conversam na sua língua. Contam as novidadese as notícias de parentes que moram em outras aldeias. Emalguns lugares, os indígenas vendem livremente o artesanato,andando de bairro em bairro, de porta em porta.

O artesanato mostra a cultura indígena através dos dese-nhos, dos trançados, da forma como é feito em grupo, promovendoa reunião da família e dos amigos. Também, através dele, são trans-mitidos aspectos da religiosidade e da história do povo.

Artesã Kaingang – feira de artesanato em Porto Alegre/RS

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O povo indígena utiliza com cui-dado os materiais da natureza paraconfeccionar o seu artesanato.

“Desenvolvemos a prática depreservação do cipó...Cuidamos do tempo certo dacolheita. Com isso, preserva-

Kaingang no Morro do Osso – Porto Alegre/RS

mos a natureza. Se abusarmosda natureza, ela acaba e acabacom todos nós. Mas, se cuida-mos, a cada três meses vemuma colheita. Porque é do mato,quer dizer, da natureza que vemnosso sustento.” (Francisco,Porto Alegre/RS)

Zarabatana – Arma de arre-messo que consiste em umtubo comprido pelo qual seimpelem, com sopro, váriostipos de projéteis.

Anéis

Braceletes

Zarabatana

No caça-palavras, encontre onome de 9 objetos confecciona-dos pelos Kaingang:

Peixe

Cesto

Chapéu

Estrelas

Colares

Brinco

Resposta na página 23

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*

As crianças aprendem en-quanto observam tudo o queacontece no dia-a-dia.Acompanham osadultos nas ati-vidades e fazemo que eles fazem. Tam-bém aprendem atra-vés das histórias que sãocontadas de pai para fi-lho, de mãe para filha, deavós para netos... comoo mito do guaraná. Veja!

“O guaraná originou-sede uma menina índia que morreue a sepultaram no quintal da oca(da casa). Depois de um mês,

Sala de aula em São Leopoldo/RS Sala de aula em Manaus/AM

brotou uma lindaplanta, queé o guara-ná.” (Alex, 14

anos, Sateré-Mawé)

A história dos po-vos indígenas é rica emmitos, que são uma for-

ma alegre e interessan-te de ensinar pessoas de qual-

quer idade. Através dos mitos,são apresentados valores, verda-des e ensinamentos significativospara o povo.

Muitas pessoas consideram o mito como lenda, fábula, história in-ventada de algum povo. No entanto, estudos comprovam que elessão relatos importantes que falam da vida, história e identidadede um povo e como tal contêm verdades fundamentais, sentidose significados valiosos para este povo.

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10 Resposta na página 23

Entre os povos indígenas,existe a preocupação com a con-tinuidade da educação de crian-ças e jovens. Por isso, tambémas escolas ensinam a língua e acultura indígena. Isto, muitas ve-zes, é feito por professores dopróprio povo.

Um dos motivos que leva mui-tos indígenas a morar na cidade é

Ligue os pontos e veja o que aparece

Francelina da Silva Souza, Dourados/MS

Descubra outro mito que é contado de uma geração para ou-tra. Ele fala sobre um peixe, o __ __ __ __. Faça uma pesquisa edescubra o que conta este mito.

o estudo em escolas de ensinomédio e universidades. Muitosusam a sua formação para melho-rar a vida do seu povo. Veja o rela-to de uma indígena Terena!

“Tudo o que estudei serviucomo reflexão sobre minha reali-dade... Meu pensamento era, des-de o começo, estudar para conti-nuar trabalhando na aldeia comoprofessora. Por isso sempre esco-lhi temas relacionados com a mi-nha aldeia como trabalhos na uni-versidade.” (Francelina da SilvaSouza, Dourados/MS)

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A cultura indígena também é co-nhecida através da sua preocupaçãocom a saúde. Na cidade, os povosindígenas buscam formas de atendi-mento que respeite o seu jeito de cui-dar da saúde. Querem a valorizaçãoda sua medicina, que chamam de tra-dicional, feita com plantas medicinais.“A gente busca, não importa onde esteja,a valorização da medicina tradicional.”(Mara Cambeba, Manaus/AM).

índio não estraga o corpo, já remédiode branco não é bom usar sempre, sóquando o nosso não cura.”

Os indígenas aceitam o trata-mento com médicos ou em hospi-tais. Querem, contudo, um atendi-mento hospitalar que permita, porexemplo, levar junto a rede paradeitar, o seu chá indicado pelo pajé,e ter a própria presença do pajé.

Em Campo Grande/MS, exis-tem agentes indígenas de saúde,como, por exemplo, do povo Tere-na. São pessoas da própria comuni-dade que auxiliam quem precisa deatendimento médico. Elas marcamconsultas nos serviços públicosoferecidos, trabalham com preven-ção de doenças, acompanham aspessoas que têm dificuldades de en-tender o português. É uma conquis-ta importante e que respeita o pedi-do por um atendimento que valori-ze a sua forma de cuidar da saúde.

Alguns indígenas plantam as ervasmedicinais no terreno onde moram nacidade. Muitas pessoas de outras cul-turas aprendem com os indígenas comousar chás e ervas medicinais para cui-dar da saúde. O conhecimento dasplantas medicinais pelos indígenas é umrecurso muito utilizado pelo povo bra-sileiro. Dina e Noronha, indígenas doMato Grosso, afirmam: “Remédio de

Morro do Osso – Porto Alegre/RS

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Guaraná - Origináriada palavra wara’ná, lín-gua tupi. Planta medi-

cinal da florestaamazônica cultivada pelos in-

dígenas Sateré-Mawé. Elesdomesticaram e criaram oprocesso de beneficiamen-to da planta, possibilitandoque hoje o guaraná seja co-nhecido e consumido nomundo inteiro.

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Nossa participação

No livro Cultura, Ambiente eSociedade, Sateré-Mawé tem

uma pergunta feita a estepovo: O que é ser indígena?Ele responde com sabedoria:

“É não renegar a cultura, astradições, as crenças,

costumes e línguas. Sempretrabalhar na melhoria da

sociedade a que pertence.”

É tarefa de cada pessoatrabalhar para que a sua vida,

a vida de outros sereshumanos e tudo o que existe

ao seu redor seja valorizado emelhorado. Como nóspodemos colaborar?

Plantas Medicinais

Pajé – Tem sua origem na palavrapa’yé da grande família lingüísticatupi, denominando a liderança es-piritual destes indígenas. É um mis-to de sacerdote, profeta e médico. Nalinguagem regional amazônica sig-nifica benzedeiro/a, curandeiro/a.

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Macela

Açaí

Pequi

Jatobá

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O tema Povos Indígenas em espaços urbanos,abordado neste caderno, é assunto de muitas discussõesda sociedade nacional. Há muitas manifestações, concei-tos e preconceitos em torno do assunto.

A questão nos leva a ouvir e olhar para grupos in-dígenas de diferentes povos, que vivem em espaçosurbanos, e a conhecer melhor sua história, seu modode ser e de se compreender.

Vamos conhecer grupos com diferentes traços cultu-rais entre si e também diferenças culturais em relação àsociedade nacional.

RE-SIGNIFICAR

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Culturas são re-significadasnas relações entre sujeitos

Culturas são re-significadasnas relações entre sujeitos

1- SAHLINS, Marshal. Ilhas de história.Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990.

Assim, viver em espaço urbanonão faz com que os indígenas abrammão de sua identidade étnica. Naconvivência com pessoas de outrasculturas ocorre uma re-significaçãode alguns de seus traços culturais.

A busca do espaço urbano porum determinado grupo indígenapode ter vários motivos: a falta deterra e de incentivo para manter seu

A cultura de determinado grupoétnico não é fixa ou parada no tem-po. Ela é construída na relação en-tre sujeitos de um mesmo grupo ede diferentes grupos étnicos e, porisso, está sempre em processo demudança, reconstrução e re-significação. Marshal Sahlins escre-ve sobre essa ação ativa e criativana contracapa do livro Ilhas de His-tória: “A história é ordenada cultural-mente de maneiras diferentes nasdiversas sociedades... Se, por umlado, a cultura é historicamente re-produzida na ação, por outro lado, elaé alterada historicamente na ação”.1

No seu relato, Francisco dosSantos, indígena Kaingang da aldeiado Morro do Osso, localizada na zonasul de Porto Alegre, capital do RioGrande do Sul, ilustra o que está es-crito acima: “Nossa arte vem do fun-do de nosso espírito, que herdamosdos ancestrais... Nossa sabedorianos ensinou a transformar parte denossos bens tradicionais. Aqui na ci-dade, criamos muitos outros produ-tos, como pulseiras, anéis, colares ebrincos, além de inúmeros objetospara uso pessoal e para as datas co-memorativas dos não índios. São fru-to de nossa imaginação e de nossosconhecimentos culturais.”

Doroty - Bakairi

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para um novo espaço não lhe supri-me sua identidade, ou seja, no es-paço urbano, os Bakairi, Sateré-Mawé, Terena ou Kaingang não dei-xam de ser quem são. Vejamos duashistórias:

1- Luís Manoel Gil da Silva, indí-gena do povo Sateré-Mawé, chegouà cidade de Manaus, Amazonas, coma família em 1997 e em 2000, à atualaldeia urbana “Y’apyrehyt”, na qual écacique. Conforme ele, buscaram a

Culturas são reconstruídas no movimentoe nos contrastes dos espaços urbanos

Criança Sateré-Mawé – Manaus/AM

espaço no meio rural; a busca derecursos para cuidar da saúde; oestudo em escolas e universidades;maior possibilidade de vender seuartesanato; a visibilidade da situa-ção dos povos indígenas no país;entre outras questões. Vão em bus-ca de melhores condições de saúdee educação, venda do artesanato,visita a parentes, divulgação dos tra-ços da sua cultura através da dan-ça, artesanato e de palestras, entreoutras questões. Esse movimento

Culturas são reconstruídas no movimentoe nos contrastes dos espaços urbanos

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cidade, especialmente, por causa detratamento de saúde e estudo paraos filhos. O espaço urbano possibi-lita fazer palestras nas faculdades eescolas e isto ajuda a reafirmar aidentidade e a divulgar a situação dopovo.

A mobilidade e a vida nummundo plural e, ao mesmo tempo,globalizado, que é a cidade, ao con-trário do que a maioria afirma, nãosubstituem a identidade étnica dedeterminado indivíduo ou grupo in-dígena. Portanto, Luis Manoel Gil daSilva não deixa de ser indígena Sa-teré-Mawé por estar vivendo no es-paço urbano.

2 - Francelina da Silva Souza,indígena do povo Terena, da aldeiade Jaguapiru, município de Doura-dos/MS, conta que foi para o espa-ço urbano em busca de estudo para,depois de formada, contribuir namelhoria da vida de seu povo. Fezo ensino médio, a graduação e pós-graduação na cidade. Hoje, ao serquestionada sobre sua identidade,Francelina diz:

“...sou Terena, porque cresci as-sim, numa família que diz ser Tere-na e me fez sentir Terena. Sempreme afirmo como índia Terena emqualquer lugar...”

Sobre este aspecto o pesquisa-dor Fredrik Barth trouxe contribuiçõesimportantes. Entre elas, ao tratar dos

grupos étnicos e de suas fronteiras,afirma que a mobilidade, os novoscontatos e as informações, não inter-ferem no pertencimento a um determi-nado grupo étnico. Pelo contrário, apessoa ou o grupo, ao travar contatocom outras culturas, poderá reafirmarsua identidade e sua etnicidade, mui-tas vezes, de forma até mais forte.2

2- BARTH, Fredrik. Grupos Étnicos e suasFronteiras. In: POUTIGNAT, Philippe;STREIFF-FENART, Jocelyne (Orgs.). Teoriasda etnicidade: seguido de grupos étnicos esuas fronteiras de Fredrik Barth. Traduçãode Élcio Fernandes. São Paulo: UNESP,1998.

Indígenas reafirmam a identidade

Francelina da Silva Souza (no centro)e família – Dourados/MS

Sateré-Mawé

Indígenas reafirmam a identidade

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cas e as danças fazem parte da suasabedoria milenar. Sua memória seliga ao mito de origem do povo,construído no decorrer dos tempos.

Através da dança, o grupo mos-tra sua cultura, tornando-a visível noespaço urbano.

Historicamente, diferentes povosindígenas têm se deslocado em bus-ca de matéria-prima para confeccionarartesanato, coletar comida e visitar pa-

O povo indígena Kaingang, nacidade de São Leopoldo/RS, mani-festa sua identidade através de tra-ços culturais como o artesanato, ouso de ervas medicinais, os ritos re-ligiosos e, freqüentemente, atravésdo grupo de danças. Formado porcrianças, jovens e adultos, esse gru-po possui cantos e adereços quefazem parte da cultura e da tradiçãoKaingang. Ele se organiza em duasmetades clânicas, de acordo com acultura Kaingang. As metades clâni-

Indígenas visibilizam traços culturais

Apresentação de dança Kaingang numa escola em São Leopoldo/RS

Indígenas visibilizam traços culturais

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Indígenas transitam historicamentepor diferentes espaços

3-LARROSA, Jorge. Notas sobre a expe-riência e o saber da experiência. In: Revis-ta Brasileira de Educação, Rio de Janeiro,Jan/fev/mar/abr, 2002, nº 19, p.20-28.

Doroty Bakairi no Seminário do GTME em 2006

Manaus - Sateré-Mawé

Indígenas transitam historicamentepor diferentes espaços

Compreender uma cultura dife-rente da sua envolve trabalhar a sen-sibilidade do ouvir e do olhar.

Ouvir o que o/a outro/a, que temtraços culturais diferentes dos meus,tem a dizer, antes de estabelecermospré-conceitos e conceitos, dizendo,muitas vezes, inclusive, quem ele/aé ou o que pode ou não ser.

Permitir a si mesmo a experiên-cia do olhar. Assimcomo sugere JorgeLarrosa3, olhar nãoo que passa, o queacontece ou o quetoca. Precisamosolhar para o quenos passa, o quenos acontece, oque nos toca.

Desta forma, buscaremos re-significar nossos conceitos e práti-cas na questão indígena em espa-ços urbanos.

rentes. Transitam e moram em dife-rentes espaços, incluindo aquelesonde hoje há cidade. Portanto, deslo-car-se e, a seguir, estabelecer mora-dia temporária em determinados es-paços é algo tradicional à maior partedos povos indígenas. Dentro do pro-cesso migratório, as populações deoutras culturas foram se aproximandoou avançando sobre as áreas ocupa-das pelos povos indí-genas. Por seu lado,Indígenas como Do-rothy Mayron Tauka-ne, do povo Bakairi,também participaramdesse movimento mi-gratório, mas emsentido inverso, ouseja, para a cidade.Ela mora em Cuiabá e relata que, des-de cedo, seu avô, prevendo o cresci-mento das cidades, preocupou-se emensinar sobre a cultura de seu povo eprepará-los para o contato com a so-ciedade nacional. Dorothy hoje aindacanta na língua materna e faz comidastradicionais do seu povo.

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a - Para leitura e aprofunda-mento da temática aqui discuti-da, visite a página do COMIN nainternet www.comin.org.br. Lápodem ser encontrados váriostextos e subsídios para sala deaula e trabalho com grupos.

b - A partir do estudo docaderno e na internet, aprofun-dar temas como: cultura e es-paços; cultura e fronteiras; su-jeitos e a re-significação da cul-tura; diferentes teorias sobrecultura; etc. Depois, produzirtextos a serem compartilhadosem diversos espaços (mural,jornal, debate entre grupos eturmas, elaboração de caderno,enviar para o COMIN).

Sugestões de atividades

c - Construir cartelas decartolina contendo, cada uma,um pequeno depoimento de in-dígena que vive em espaço ur-bano. Em duplas, ler e conver-sar sobre o depoimento e de-

Desenho de uma criança Kaingang

Desenho de uma criança Kaingang

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pois trocar a cartela com outradupla. Os depoimentos podemser encontrados neste cadernoe na página do COMIN. É impor-tante sempre dizer de quem éo depoimento e o nome dopovo indígena.

d - Visitar uma aldeia indí-gena urbana e identificar ele-mentos e conceitos aqui traba-lhados.

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Desenho de Taira, 12 anos, da aldeia Kaingang, situada na Lomba do Pinheiro em Porto Alegre/RS

JOGO DAS 7 DIFERENÇAS

e - Os/as alunos/asrelembram com a famíliahistórias ou canções queouviram na infância. De-pois analisam tais histó-rias e canções, identifican-do traços culturais valori-zados ou reproduzidos noespaço familiar.

f - Através de dinâmi-cas e atividades práticas,trabalhar a sensibilidadedo olhar e do ouvir. Vejao exemplo na página se-guinte.

Resposta na página 23

Crianças – Sateré-Mawé

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Compare o desenho sobre a venda de artesanato das páginas20 e 21 e ache as sete diferenças.

Formar grupos de até sete pessoas para realizar as atividades a seguir:

1) A partir da leitura do texto “Re-significar conceitos e práticas”, com-partilhar nos grupos situações invisíveis, que podem transformar o nossomodo de ver o mundo.

2) Das situações compartilhadas, o grupo escolhe uma e cria uma cenaestática.

3) Antes da montagem da cena, a pessoa que coordena pede que asdemais pessoas que estão assistindo fechem os olhos, enquanto a cena émontada e coberta com um grande pano, que pode ser um lençol ou TNT.Após, as demais pessoas são convidadas a identificar o que está ocultodebaixo do pano. Depois, a pessoa que coordena tira o pano e se conver-sa novamente sobre o que se vê agora. É importante enfatizar que, à me-dida que descortinamos o nosso olhar, passamos a ver as coisas como defato elas são, desbancando preconceitos, possibilitando o respeito e o diá-logo com o diferente.

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PARA SABER MAIS

PESQUISA NA INTERNET

O Conselho de Missão entre Índios dis-ponibiliza material de pesquisa destecaderno para a sala de aula, como entre-vistas, mitos, histórias e bibliografia:www.comin.org.br

O Conselho Indigenista Missionário dis-ponibiliza informações atualizadas e po-sicionamentos frente à política indige-nista do governo: www.cimi.org.br

O Instituto Socioambiental disponibilizainformações atualizadas e indicação de li-teratura sobre os povos indígenas:www.socioambiental.org.br

O Repórter Brasil, numa série especial dePriscila D. de Carvalho, apresenta o cotidia-no e o contexto da vida de indígenas em di-versas cidades do Brasil:www.reporterbrasil.org.br

LIVROS

Esta terra tinha dono - B. Prezia e E.Hoornaert - CEHILA POPULAR/CIMI/FTD -S. Paulo/SP, 3a ed.,1992.

Povos Indígenas: terra e vida - EgonHeck e Benedito Prezia - Ed. Atual, S.Paulo/SP, 1998.

A temática indígena na escola – NovosSubsídios para professores de l0 e 20

Graus - A. Lopes da Silva e Luís D.B.Grupioni - MEC/MARI/UNESCO, Brasília/DF, 1995.

Papel da Religião no Sistema Social dosPovos Indígenas - Eduardo V. de Castro -GTME, Cuiabá/MT, 1999.

Práticas Pedagógicas na EscolaIndígena - Aracy Lopes da Silva, MarianaKawall Leal Ferreira (Orgs.) - São Paulo:Global, 2001.

A Terra dos Mil Povos - HistóriaIndígena do Brasil contada por um índioJecupé, Kaká Werá - FundaçãoPetrópolis, S.Paulo/SP, 1998.

VÍDEOS (CONFIRA NAS LOCADORAS)

• Brincando nos Campos do Senhor,de Hector Babenco, EUA, 1991, 187min. - Condor Vídeo.

• A Missão, de Roland Joffé - ING,1986, 121 min. - Distr. Flashstar.

• Dança com Lobos, de KevinKostner - EUA, 1990, 128 min. - AbrilVídeo / Hollywood.

• Tainá - Uma Aventura na Amazônia,de Tânia Lamarca e Sérgio Bloch -Brasil, 2000, 90 min. Tietê Produ-ções.

• Tainá 2 - A Aventura Continua, deMauro Lima - Brasil, 2005, 80 min. -Columbia Pictures.

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AQUI NA CIDADE, NÓS NOS SENTIMOS MUITO BEM, PORQUEAQUI TAMBÉM É NOSSA CASA.

RESPOSTAS

página 06

página 04

página 08

página 10

BOTO

página 21

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