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Exposição Fotográca Versão Popular

Barão de Mauá

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Exposição fotográfica

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Exposição Fotográfi caVersão Popular

Barão de Mauá - O EmpreendedorExposição Fotográfi ca

Versão Popular

Quem foi o Barão de Mauá?

O Barão de Mauá ou Irineu Evangelista de Sousa (1813-1889), mais do que qualquer outro empresário, encarnou a sociedade brasileira do Segundo Reinado (1840-1889). Foi proprietário de pelo menos 24 em-presas, com interesses no Brasil, na Inglaterra, na França, na Argentina, no Uruguai, no Paraguai e no Chile.

Negociou com presidentes, ministros, deputados, senadores, trafi cantes de escravos, banqueiros, juízes,

advogados e mercadores de toda ordem e envolveu-se na maioria das questões relevantes do País entre os anos 1850 e 1870.

Mauá exibiu inegáveis talentos como homem de negócios, industrial e ban-queiro, em um ambiente de transição econômica, quando as relações capital-istas se consolidavam entre nós. Em quatro décadas saiu da pobreza para se tornar a maior fortuna do País. Conheceu o sucesso e a ruína. Foi um homem de seu tempo, dotado de audácia, habilidade e visão únicas. Sua capacidade para coordenar iniciativas simultâneas e ousadas fi cou como prelúdio de uma economia industrial complexa, que só teria lugar no Brasil a partir de 1930.

Barão de Mauá - O EmpreendedorExposição Fotográfi ca

Versão Popular

O Projeto A exposição Barão de Mauá – O empreendedor é resultado de pes-quisa para o livro homônimo, so-bre a vida e trajetória de Irineu Evangelista de Souza, Barão e Visconde de Mauá, patrocinado pela Transpetro, Cosipa, Sebrae Nacional e Nortel, com recursos da Lei Rouanet de Incentivo à Cultura.

A versão popular, apresenta painéis expositivos reproduzindo fotografi as da época e ilustrações (aquarelas, desenhos e documentos), além de textos e legen-das, com a assinatura do renomado designer gráfi co Victor Burton.

Resgata a trajetória deste brasileiro, um homem arrojado, dotado de visão de conjunto, capaz de sempre se lançar aos novos desafi os em diversas áreas de atuação.

Mauá, ao contrário de seus contemporâneos, que adotavam símbolos rurais em suas marcas, Mauá estampava a modernidade. Seu escudo ostentava um barco a vapor, uma locomotiva e quatro postes com iluminação a gás.

O conhecimento sobre a sua trajetória consiste em incentivo paraos milhões de brasileiros que aspiram construir seus próprios negócios, sendo um exemplo de consistência, coerência e perseverança na construção de uma grande nação.

A itinerância da mostra prevê capitais e grandes cidades , mas poderá ser realizada em municípios de médio e pequeno porte, em cada um dos estados. A exposição poderá permanecer por até 30 dias em cada local. A programação poderá se adequar à disponibilidade de agenda dos espaços expositivos.

Barão de Mauá - O EmpreendedorExposição Fotográfi ca

Versão Popular

Formato da exposição

Trata-se de versão simplifi cada, adequada a locais sem infra-estrutura de ga-leria expositiva, como prédios públicos, estações de metrô e trem, rodoviárias, agências bancárias, shopping centers etc.

Dispomos de dois modelos de painéis expositivos:

Estrutura em madeira Estrutura em aço escovado

Barão de Mauá - O EmpreendedorExposição Fotográfi ca

Versão Popular

InvestimentoA exposição Barão de Mauá – o empreendedor, versão popular, foi aprovada em duas leis de incentivo:

Lei Rouanet – Ministério da Cultura• 100% de Isenção no Imposto de Renda Realização em 27 cidades Pronac: 08-7824 Investimento total : R$ 1.123.577,00 Investimento por etapa: R$ 41.613,96

Programa de Ação Cultural - ProAC – Secretaria de Estado da Cultura• 100% de isenção no ICMS Realização em 12 cidades do estado de São Paulo. ProAC: 6021686216 Investimento total : R$ 400.000,00 Investimento por etapa: R$ 33.334,00

Barão de Mauá - O EmpreendedorExposição Fotográfi ca

Versão Popular

Roteiro da exposiçãoA exposição abordará alguns conteúdos essenciais:

Parte I – O Homem Comum• - Ventos do Sul - Ganhando a vida na Corte - Subindo na vida - Tempos de agitação

Parte II – Homem de empresa• - O industrial - Águas da discórdia - O Estado e os negócios

Parte III – Enxergando mais longe• - O banqueiro - O Barão da ferrovia - Prestígio e turbulência - Enfrentando a tempestade - O Mauá que fi ca

Parte IO Homem Comum

1 V E N T O S D O S U L 1 8 1 3 –1 8 2 1

OBarão de Mauá ou IrineuEvangelista de Sousa, mais doque qualquer outro

empresário, encarnou a sociedadebrasileira do segundo reinado(1840–1889). Teve evidentes qualidadescomo homem de negócios, industriale banqueiro, em um ambiente detransição econômica, quando as relaçõescapitalistas se consolidavam entrenós. Ligou-se profundamente aos meiospolíticos e econômicos do Império,soube colocá-los a seu serviço e foi,também, por eles utilizado. Envolveu-sena maioria das questões relevantes dopaís entre os anos 1850 e 1870. NumBrasil com escasso mercado interno,Mauá buscou dinheiro onde havia:em negócios ligados ao Estado e emassociações com o capital inglês.

Em quatro décadas sai da pobreza parase tornar a maior fortuna do país.E também conheceu o sucesso e a ruína.

Irineu nasceu em 28 de dezembrode 1813, na freguesia de NossaSenhora do Arroio Grande, distritode Jaguarão, quase nos limites dacapitania do Rio Grande do Sul com aProvíncia Cisplatina, atual Uruguai.Era filho de pequenos proprietáriosrurais. O pai, João Evangelista deSousa, ganhava a vida como vendedorde gado. Uma noite de 1819, após umdesentendimento, é assassinado. A mãe,Mariana de Jesus Baptista, sem recursose com duas crianças para criar, entregaIrineu aos cuidados de um tio materno,José Baptista de Carvalho, capitãode um barco a vela, que o levaria aoRio de Janeiro, para tentar a sorte.

Jean-Baptiste DebretCena da Província do Rio Grandelitogravura em viagem pitoresca

e histórica ao brasil , 1954

fundação biblioteca nacional

à esquerda

Edouard VienotD. Mariana Baptista de Carvalho e Sousa

óleo sobre tela, segunda metade do século xix

museu histórico nacional

abaixo

E. WiedmannVista Geral da cidade de Porto Alegre,

Província de São Pedro do Rio Grande do Sullitogravura, s .d.

fundação biblioteca nacional

2 G A N H A N D O A V I D A N A C O R T E 1 8 2 1 –1 8 2 2

Como qualquer um, o meninoIrineu deve ter se espantadoao ver a capital do Império,

pela primeira vez, do convés dobarco do tio. Irineu não teria muitotempo para contemplações.Viera a trabalho. Arranjara empregonuma pequena loja, em troca decomida. Para obter dinheiro,engraxava as botas de funcionáriosmais velhos. Era uma escravidãodisfarçada. Mal completara onze anose já estava atrás do balcão, das seteda manhã às dez da noite.

A Corte vivia os primeiros temposcomo sede de um país independente.Tudo era novidade. Quando aindependência tornou-se um fato,Portugal de início recusou-se areconhecer a soberania do novo país.Não por acaso, a Inglaterra apressou-seem fazê-lo e estabelecer contatosestreitos com o Império do Brasil.

Os ingleses gozavam de amplosfavores na ex-colônia. À Inglaterrainteressava expandir seus mercadosde produtos industrializadose de crédito e aumentar seu lequede fornecedores de matérias primas.Para isso, Londres apoiou nãoapenas política e economicamenteos países em fase de libertação,emprestando vultosas somas,como em alguns casos deu suportemilitar. Isso aconteceu no Chile,na Venezuela e no Brasil.

Arnaud Julien PallièreChafariz das Marrecasaquarela, c. 1817–1825

museu histórico nacional

à direita

Jean-Baptiste DebretRei D. João VI

litogravura, c. 1816–1818

museus castro maya | mea 3645

abaixo

Nicolas Antoine TaunayMorro de Santo Antonio em 1816

óleo sobre tela, 1816

museu nacional de belas artes

Parte IO Homem Comum

2 G A N H A N D O A V I D A N A C O R T E 1 8 2 1 –1 8 2 2

Jean-Baptiste DebretEstudo para a sagração de D. Pedro I

óleo sobre tela, s .d.

museu nacional de belas artes

abaixo

Jean-Baptiste DebretCerimônia da aclamação de D. João VI

litogravura, c. 1818

museus castro maya | mea 3647

2 G A N H A N D O A V I D A N A C O R T E 1 8 2 1 –1 8 2 2

Parte IO Homem Comum

François René MoreauxA Proclamação da Independência

óleo sobre tela, 1844

museu imperial

à esquerda

Planta da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro

planta realizada a mando

do príncipe regente

litogravura, 1817

mapoteca do itamaraty

2 G A N H A N D O A V I D A N A C O R T E 1 8 2 1 –1 8 2 2 3 S U B I N D O N A V I D A 1 8 2 2 –1 8 3 0

Dois anos após chegarao Rio de Janeiro, em 1825,o menino consegue seu

segundo emprego. Vai para a casacomercial do português JoãoRodrigues Pereira de Almeida,na Rua Direita. O novo patrão é umdos maiores comerciantes da Corte,por diversas vezes diretor do Banco doBrasil. Irineu se torna, em poucotempo, o principal caixeiro da firmae funcionário de confiança. A partirda Independência e por quaseduas décadas, o Brasil viveu um dosperíodos mais conturbados de suaHistória. Uma das primeirasconseqüências da situação foi aeclosão de diversas revoltas pelo país.As províncias mais populosas eram

Pará, Maranhão, Ceará, Pernambuco,Minas Gerais, São Paulo e Rio Grandedo Sul. Suas economias não eramintegradas e voltavam-se para aexportação e mantinham relações,na maior parte das vezes, diretas coma Europa. Ao mesmo tempo, eramobrigadas a recolher impostos,centralizados no Rio de Janeiro.

Nesta conjuntura de instabilidadee crise, João Rodrigues Pereirade Almeida vê seus negóciosnaufragarem e as dívidas tornarem-seimpagáveis. Em 1829, chama oscredores, oferecendo-lhes seus ativos.Um deles era um comerciante inglêschamado Ricardo Carruthers,que ficou com boa parte dos negóciose com o pequeno caixeiro gaúcho.

Simplício Rodrigues de SáRetrato de D. Pedro Ióleo sobre tela, s .d.

museu imperial

acima, à esquerda

Johann Moritz RugendasVista da montanha do Corcovado

e do subúrbio do Catete, tomada da Pedreira

litogravura, 1835

coleção particular

abaixo

Largo do Paçoaquarela, c. 1839–1840

coleção gilberto ferrez

foto de raul lima

4 T E M P O S D E A G I T A Ç Ã O 1 8 3 1 –1 8 4 0

uando começa a trabalharcom Carruthers, Irineuvê o país degringolar entreum governo que se isola,

uma crise econômica crescente eo descontentamento que floresce naCorte e nas províncias. Ao longo dadécada, temperatura política sobe.Na madrugada de 7 de abril de 1831,D. Pedro abdica do trono em favorde seu filho, Pedro de Alcântara,com apenas cinco anos de idade esegue para Portugal.

Rapidamente organiza-se umnovo governo. Monta-se um colegiadode três membros. Era a RegênciaTrina. O período regencial(1831–1840) foi um dos maisconturbados da história brasileira, comrebeliões no Rio Grande do Sul, Pará,Maranhão, Bahia, dentre outras.Reprimindo as inquietações earrochando o orçamento, o governocontrolou a situação.

Em 1836, Irineu torna-se sóciode Carruthers. Aos 23 anos, o meninode Arroio Grande era um veteranonos negócios. Sua prosperidadecoincidiu com o constantecrescimento de uma economiaque se articulava com o capitalismointernacional. Irineu Evangelista deSousa quis conhecer este mundoe suas engrenagens e, em 1840, partepara a Inglaterra em sua primeiraviagem internacional.

Uma nova realidade se abriadiante do ex-caixeiro, com seusempreendimentos siderúrgicos, têxteise de carvão, sua malha ferroviáriae seu sistema bancário espalhando-separa além de suas fronteiras.

No mesmo ano, com medo demais revoltas, a oligarquia brasileirapromove um lance ousado. O príncipePedro de Alcântara, de 14 anos,é declarado Imperador do Brasil.Era o Golpe da Maioridade.

Q

Louis-Auguste Moreaux e Abraham-Louis Buvelot

Coroação e sagração de D. Pedro II, em 18 jul. 1841

litogravura aquarelada, 1842

museu imperial

foto de christina bocayuva

abaixo

Domenico FailuttiPadre Diogo Antonio Feijó

óleo sobre tela, s .d.

museu paulista

foto de hélio nobre

Parte IO Homem Comum

3 S U B I N D O N A V I D A 1 8 2 2 –1 8 3 0

Johann Moritz RugendasRua Direita

litogravura aquarelada, 1832

museus castro maya | mea 3307

Parte IO Homem Comum

4 T E M P O S D E A G I T A Ç Ã O 1 8 3 1 –1 8 4 0

Félix Emile TaunayRetrato do Imperador D. Pedro II

litogravura aquarelada, 1837

museu imperial

à esquerda

Johann Moritz RugendasCastigo público no Campo de Santana

litogravura, 1835

coleção particular

abaixo

Heaton e RensburgUniformes do Corpo de Cavalaria

e do Batalhão de Caçadores da Guarda Nacional

litogravura aquarelada, s .d.

arquivo nacional

4 T E M P O S D E A G I T A Ç Ã O 1 8 3 1 –1 8 4 0

à esquerda

Adam Smithlitogravura, s .d.

fundação biblioteca nacional

à direita

Adam SmithCompêndio de A riqueza das Nações

impressão régia, 1811

traduzida do original inglês por

bento da silva lisboa

fundação biblioteca nacional

abaixo

A cidade de Londres – Correioslitogravura em nelson’s

pictorial guide books , s .d.

fundação biblioteca nacional

Parte IIHomem de empresa

5 O I N D U S T R I A L 1 8 4 1 –1 8 5 0

OBrasil da década de 1840 sedistancia daquele que Irineuconhecera em tempos de

balcão. Esta diferença é impulsionadapor uma frutinha vermelha que seespalha pelos campos do sudeste. Erao café, que pelos cem anos seguintesreorganizaria toda a economia, asociedade e a vida política nacional.

O Brasil teve poucas atividadesindustriais até essa época. Havia váriosentraves, entre eles a inexistência deum mercado interno que absorvesse aprodução e a concorrência comprodutos importados.

Entre as várias medidas tomadaspela Coroa no âmbito econômico,estava a Tarifa Alves Branco, de 1844.Ela estipulava uma elevação de30% a 60% nos impostos sobre asimportações de determinadosprodutos. Assim, Irineu faz suaprimeira grande investida industrial eadquire, em 1846, o Estabelecimentode Fundição e Estaleiro Ponta deAreia, em Niterói.

Irineu só teve segurança pararealizar o investimento quando obtevegarantias do Estado. A primeira foiconseguir a concessão pública para acanalização do rio Maracanã, antesmesmo de realizar a aquisição. Emseguida, obtém empréstimos de fundospúblicos para ampliar sua produção.

Misto de siderúrgica de grandeporte e estaleiro, em breve torna-sea maior empresa de fundiçãodo país, empregando trabalhadoreslivres. Constrói embarcações variadase quatro anos depois lança aCompanhia de Rebocadores Barra doRio Grande. Produz canos, barcos,navios, canhões, guindastes postes,caldeiras etc. Chegou a empregarmais de mil trabalhadores. Não havianada igual no país.

Lith de Brito & BragaIrineu Evangelista de Sousa, Barão de Mauá

litogravura, s .d.

fundação biblioteca nacional

abaixo

João Gregório & Roberto GrandeProjeto para um estaleiro no Rio de Janeiro

aquarela, 1841

fundação biblioteca nacional

5 O I N D U S T R I A L 1 8 4 1 –1 8 5 0

Fleiuss & LindeMáquina centrífuga fabricada na Ponta de Areia

recordações da exposição nacional de 1861 –

primeira exposição nacional brasileira em 1861

litogravura, 1861 | fundação biblioteca nacional

no alto, à direita

Fleiuss & LindeMáquina a vapor e aparelho de irrigação

recordações da exposição nacional de 1861 –

primeira exposição nacional brasileira em 1861

litogravura, 1861 | fundação biblioteca nacional

à direita

Pieter Gotfried BertichemHospital Marítimo de Santa Isabel, Jurujuba

litogravura em o brazil pitoresco

e monumental , 1857 | fundação biblioteca nacional

abaixo

Frederico Guilherme BriggsCarregadores de Café

litogravura aquarelada, c. 1845–1853

coleção gilberto ferrez | foto de raul lima

Parte IIHomem de empresa

5 O I N D U S T R I A L 1 8 4 1 –1 8 5 0

abaixo

Mapa demonstrativo do pessoal empregado no estabelecimento da Ponta de Areia

tabela quantitativa dos trabalhadores

da fábrica de ponta de areia

com especificidades como distinção por

oficinas, nacionalidade, trabalhadores escravos

manuscrito, 24 jul.1848

fundação biblioteca nacional

à esquerda

Sebastien Auguste SissonD. Pedro II e seu ministério

litogravura, 1853

instituto histórico

e geográfico brasileiro

abaixo, à direita

Emilio BauchHonório Hermeto Carneiro Leão,

Marquês do Paranáóleo sobre tela, 1856

instituto histórico

e geográfico brasileiro

6 Á G U A S D A D I S C Ó R D I A 1 8 5 0 –1 8 5 2

A ousadia de Irineu manifesta-senão apenas no âmbitoempresarial, mas na esfera

política. O governo imperial resolveuintervir em um complicado conflitono Uruguai, em 1850. O país eraestratégico, pela localização do portode Montevidéu na entrada do rio daPrata. Aquela era uma rota comercialdecisiva no continente e porta deacesso ao Paraguai, à Bolívia e àProvíncia do Mato Grosso.

Sem ter como bancar a intervenção,a Coroa busca um financiadorprivado. A esta altura, o dono daPonta de Areia já era um milionário.Além de industrial, era importadorde tecidos e ferragens inglesas,exportador de café, fumo e açúcare concessionário de serviços públicos.

Irineu Evangelista de Sousa, amigodo ministro dos Negócios Estrangeiros,faz ali um de seus mais ousados lancesempresariais. Percebendo que adiplomacia nunca anda desvinculada degrandes oportunidades, oferece-se parasustentar financeiramente a investidaimperial, para apoiar um governoamigo. Em caso de vitória, teria comogarantia as receitas aduaneiras do país.Em caso de derrota, perderia tudo.

Quando acaba o conflito, o Uruguaiestá em ruínas, a população maispobre do que antes e suas finançascomprometidas com pesadas dívidascontraídas junto ao Brasil, à Inglaterra

e à França. Com isso, o empresáriodá início a uma série de negóciosao sul do continente, que incluem umbanco e uma extensa propriedadeagro-pastoril, além de tornar-se o maiorcredor da dívida pública uruguaia.Após a intervenção no Prata, asatividades do empresário alcançamuma nova dimensão. Há umaconfluência de interesses entre elee as ações do Império brasileiro.

Edoardo De MartinoNoite de luar em Montevidéu

óleo sobre tela, s .d.

museu histórico nacional

abaixo

Edoardo De Martino Passagem de Tonelero

óleo sobre tela, s .d.

museu naval

Parte IIHomem de empresa

6 Á G U A S D A D I S C Ó R D I A 1 8 5 0 –1 8 5 2

Irineu Evangelista de Sousa guache sobre papel, s .d.

fundação biblioteca nacional

7 O E S T A D O E O S N E G Ó C I O S 1 8 5 2 –1 8 5 4

Ofim do tráfico internacionalde escravos, por pressãoinglesa em 1850, afeta

diretamente a economia. Vultosassomas de capital empregadas nocomércio entre a África e o Brasiltêm de se alocar em outros ramos deatividades. De imediato, o paísconhece um período de expansãomonetária e de ampliação ediversificação dos investimentos,entre 1850 a 1857. As exportaçõesde café batiam recordes.

O Rio de Janeiro no início dasegunda metade do século xix tinha180 mil habitantes, e era uma cidadesem grandes melhoramentosurbanos. Apenas as ruas mais centraistinham calçamento. O sistemade limpeza pública era irregulare o maior adensamento populacionalcomprimia-se entre a rua Direita e ocampo de Santana. Ali estava localizadatoda a burocracia da corte, as principaiscasas de comércio, os teatros, as

escolas etc. À noite, apenas este trechocontava com cerca de 400 lampiõesde azeite de peixe, que geravam umaluz fraca e esmaecida.

Em 1854, Irineu ganha umaconcorrência para fornecer iluminaçãopública a gás para as áreas centrais.Sua empresa, a Companhia deIluminação a Gás do Rio de Janeiro, mudao aspecto do centro da cidade: a novailuminação substitui os velhos lampiõesde óleo de peixe. No mesmo ano,após nova concessão exclusivapor 30 anos, lança a Companhiade Navegação a Vapor do Amazonas, combarcos produzidos em seu estaleiro.

A economia do período imperial,centrada no dinamismo do setorprimário exportador, subordinava todoo país à demanda dos países ricos.Os negócios só poderiam prosperarà sombra de quem tinha dinheiro parainvestir: o Estado e o capital externo.Era ali que Irineu Evangelista de Sousabuscava dinheiro.

Augusto MaltaQuiosques

fotografia, 1906–1926

fundação biblioteca nacional

Exemplo de iluminação a gás que permaneceu em uso durante várias décadas.

abaixo

Revert Henrique KlumbEstabelecimento de gás

albúmen, c. 1860

fundação biblioteca nacional

Parte IIHomem de empresa

7 O E S T A D O E O S N E G Ó C I O S 1 8 5 2 –1 8 5 4

José dos Reis Carvalho Iluminação de azeite de peixe

na rua do Sabãoaquarela sobre papel, 1851

fundação biblioteca nacional

Parte IIIEnxergando mais longe

8 O B A N Q U E I R O 1 8 5 1 –1 8 6 0

Oprimeiro Banco do Brasilfoi criado em 1808, porD. João VI. Após uma série

de crises, a instituição foi fechadaem 1829. Desse ano em diante,a oferta de crédito passou a ser feitapor grandes comerciantes e traficantesde escravos, que possuíam fundossuficientes para financiar atividadesligadas à agricultura.

Com o crescimento da economiacafeeira, na década de 1840, começoua ficar clara a insuficiência de créditona economia. Para suprir tais carências,surgiram alguns bancos comerciaisprivados. O primeiro a funcionarna Corte foi o Banco Comercial doRio de Janeiro, em 1838, com recursosoriundos de negociantes de café.

Como não havia papel-moeda emvolume necessário, a partir de 1840, ascasas bancárias passam a lançar vales.Era como se cada instituição financeirativesse o poder de emitir dinheiro.O primeiro banco de porte fundadono país foi o Banco do Commércioe da Indústria do Brasil, em 1851,por Irineu Evangelista de Sousa,associado a inúmeros comerciantes enegociantes. Era o segundo Banco doBrasil, como ficou mais conhecido.

Dois anos depois, a área econômicado governo apontou a emergência deuma grave crise no Rio de Janeiro,fruto da excessiva liberdade de emissãofacultada às instituições financeiras.A solução para equilibrar as finançasdo país era determinar o monopólio

das emissões de títulos por parte doEstado. Seria feita uma reformabancária e lançado um novo Bancodo Brasil, resultado da fusão forçadae da incorporação pela Coroa dos doisconcorrentes privados. Irineu seriaapenas diretor de uma casa na quala nomeação do presidente eraprerrogativa do Imperador.

O empresário não gosta nada damedida e prepara mais uma de suasiniciativas arrojadas: Lançaria em breveum novo banco.

Pieter Gotfried BertichemBanco do Brasillitogravura em

o rio de janeiro e seus arrabaldes , s .d.

fundação biblioteca nacional

8 O B A N Q U E I R O 1 8 5 1 –1 8 6 0

Notas do Império do Brasil emitidas pelo Tesouro Nacional. 200 mil réis

gravura, 1882–1920

museu histórico nacional

Pieter Gotfried BertichemPaço Imperial

litogravura em o rio de janeiro

e seus arrabaldes, s.d.

fundação biblioteca nacional

abaixo

Ação de 2 mil contos de réis daImperial Companhia de Navegação a vapor

– Estrada de Ferro Petrópolislitogravura, 1861

instituto histórico e

geográfico brasileiro

Parte IIIEnxergando mais longe

9 O B A R Ã O D A F E R R O V I A 1 8 5 2 –1 8 6 0

A o mesmo tempo em quebusca sócios para seu novobanco, Irineu se volta

para uma nova modalidade detransportes. Ao longo dos anos, aexpansão do café levou o plantio a seafastar cada vez mais da costa, embusca de terras novas. Para alcançaros portos de exportação, o produtopercorria estradas precárias, em lombode burro e de outros animais de carga.Uma ligação segura, econômica,contínua e rápida das regiõesprodutoras com os portos apontavapara o último avanço tecnológicoeuropeu: a ferrovia.

Mais uma vez o pioneirismo coubea Irineu Evangelista de Sousa. Em30 de abril de 1854 são inauguradosos primeiros 14,5 quilômetros de viaférrea do Brasil, ligando Porto deEstrela (hoje porto Mauá), situadoao fundo da baía da Guanabara, e alocalidade de Raiz da Serra, emdireção à cidade de Petrópolis. Nãoera ainda uma via de exportação, masuma antevisão do que seria o novomeio de transportes no país.

Entre os convidados para aprimeira viagem, estão o ImperadorD. Pedro II, a família real, váriasautoridades da Corte e os amigos deIrineu. São acompanhados pelosolhares de centenas de popularesespantados com aquele barulhento

maquinário de ferro e cobre, envoltoem fumaça, a rodar sobre os trilhos.D. Pedro reconhece a ousadia doempresário. Concede-lhe ali mesmo,na festa, o título de Barão de Mauá.

Três meses depois, é lançado oBanco Mauá, MacGregor & Cia.,em associação com capitais ingleses.Logo teria agências em Londres, Paris,Manchester, Nova York, Montevidéu,Buenos Aires, Rosário e Córdoba.A intenção era clara: captar dinheiroem praças européias e oferecercrédito abundante ao mercadobrasileiro. Mauá ganhava dinheirocom as diferenças de câmbio nasdiversas províncias.

Nota de Promissória da Sociedade Bancária Mac Gregor & Cia., c. 1850

museu histórico nacional

abaixo

Píer do porto de Mauá, integração ferroviária e marítima, ainda em funcionamento em 1903

reprodução

guia de pacobaíba

9 O B A R Ã O D A F E R R O V I A 1 8 5 2 –1 8 6 0

Luis Aleixo BolangerBrasão de Armas de nobreza e fidalguia

do Visconde de Mauá, ainda Barãoaquarela e impressão sobre papel, 1858

museu histórico nacional

Parte IIIEnxergando mais longe

9 O B A R Ã O D A F E R R O V I A 1 8 5 2 –1 8 6 0

Imagem do início dostrabalhos da construção da primeira

estrada de ferro brasileiralitogravura, 1852

coleção particular

à direita

Integração marítimo-ferroviária do porto Mauá (antigo porto de Estrela),

no início do século xx, após mais de cinqüenta anos em operação.

Hoje o terminal está desativado.fotografia, início do século xx

instituto histórico

e geográfico brasileiro

à direita e abaixo

Detalhes da pá de prata com cabo dejacarandá e do carrinho de obras,

também de jacarandá, oferecidos por Irineua D. Pedro II, em 1852, no início das obras

da primeira ferrovia brasileirainstituto histórico

e geográfico brasileiro

9 O B A R Ã O D A F E R R O V I A 1 8 5 2 –1 8 6 0

François-René MoreauxInauguração do Caminho

de ferro de D. Pedro IIcerimônia realizada na plataforma

do rio de janeiro em 29 março de 1858

grafite sobre papel

fundação biblioteca nacional

abaixo

Locomotiva A Baronezafotografia, 2007

museu do trem

Parte IIIEnxergando mais longe

1 0 P R E S T Í G I O E T U R B U L Ê N C I A 1 8 5 2 –1 8 6 0

Entre a segunda metade dos anos1850 e o início da décadaseguinte, o Barão de Mauá

torna-se o homem mais rico do país,com uma influência enorme sobre ogoverno imperial e fator decisivono desenvolvimento nacional econtinental. Mas logo violentasturbulências atingiriam seus negócios.

Em 1857, uma nova crise bancária,vinda de fora, envolve o país. Em meioa um pânico generalizado, o país assistea uma expressiva fuga de divisas e o mil-réis afunda em relação à libra esterlina.Um desastre para um país que dependiade produtos industrializados vindo defora. As vendas de café desabam.Em dois anos, o Rio de Janeiro conhece139 falências de estabelecimentoscomerciais e financeiros. As empresasde Mauá não atuam diretamente sobreos setores agrícola e exportador eresistem aos abalos. A economia poucoa pouco se recupera.

Em 1860, Mauá dá início ao seumais ousado investimento em matériade transportes, a Estrada de FerroSantos–Jundiaí. Buscando associaçãocom capitais ingleses, o empresárioprojeta a ligação de uma das maioresregiões produtoras de café com o portode Santos. Mas, quatro anos depois, umnovo choque internacional gera umefeito dominó por toda a economiaimperial. A isso se soma um abalo que asempresas de Mauá sofrem no Uruguai.

A essa altura o Barão era credor dequase toda a dívida pública do país.Ali ele é também o maior proprietáriode terras, um grande criador de gadoe o organizador da empresa deiluminação da capital.

Em um emaranhado de lutas erebeliões locais, seus negócios sofremintervenção do governo uruguaio, noinício de 1869. Com eles, boa parte daeconomia local vai a pique. Os setebancos existentes no país fecham asportas, incluindo o maior deles, o deMauá. A quebra no Uruguai acabariasendo uma das principais causas dafalência do empresário, anos depois.

Cédula de cinco pesos, emitida pelo Banco Mauá de Montevidéu, em 1878

gravura

instituto histórico e geográfico brasileiro

Fidanza & Ca.Festejos no Pará por ocasião da visita de D. Pedro II, em 7 de setembro de 1867.

Ao fundo, dois navios da Companhia de Navegaçãodo Amazonas, fabricados na Ponta de Areia, ambas

empresas de Mauá fotografia

fundação biblioteca nacional

1 1 E N F R E N T A N D O A T E M P E S T A D E 1 8 6 4 –1 8 7 0

Mauá não toma parte nasdecisões relativas à Guerrado Paraguai (1864–1870).

Mas praticamente todos os naviosbrasileiros envolvidos no conflitosaíram da Ponta de Areia. Isso, noentanto, não o tira da crise.

Aos infortúnios na casa bancária,somam-se imprevistos em outrosnegócios, como na Santos–Jundiaí.Os trabalhos na ferrovia enroscam emum emaranhado de acidentes edesabamentos, tornando o projeto umasangria de recursos. O abalo repercutiriafortemente sobre o banco. Preocupado,Mauá vai à Inglaterra, em 1864. Há umdesentendimento sério com os sócios.Sem colocar dinheiro na ferrovia, elesexigem reembolsos de gastos duvidosos.

A economia internacional conheceforte expansão. Os investimentosingleses dirigem-se em massa paraa América Latina, na esteira darealização de obras de infraestrutura,garantidas pelo Estado. Não precisammais de intermediários, como Mauá.

Como conseqüência direta,em 1870, a Ponta de Areia, quenão resiste à queda de encomendasestatais e à concorrência comprodutos importados, fecha as portas.Mesmo assim, o empresário não pára.Em 1872, obtém a concessão para ainstalação do cabo submarino entreLisboa e o Rio de Janeiro. Dois anosdepois, recebe o título de Visconde.

Uma nova crise monetária atingeo país em 1875. As contas públicasseguem com déficits insanáveis. Emmaio, o Banco Mauá & Cia. suspendetodos os seus pagamentos e pede umfinanciamento de três mil contos aoBanco do Brasil, que nega o empréstimo.

Sem saída, Irineu pede moratória –modalidade de concordata preventiva– por três anos, a partir de maio de1875. Findo o prazo, se não houvesserecuperação da empresa, era requeridasua falência pelos credores.

Durante a moratória, Mauásaldou dois terços de seu passivo.Em maio de 1878, sem conseguirprorrogar a medida, Banco Mauá &Cia. fecha suas portas.

A Coroa sai em defesa de Mauá, no Uruguai. Publicação a pedido do

consulado brasileiro no jornal Telégrafo Marítimo,Montevidéu, em 20 de outubro de 1871

impresso

museu imperial

acima, à esquerda

Alfredo MichonCaricatura de Mauá

litogravura em la ortiga, montevidéu, 1870

instituto histórico

e geográfico brasileiro

abaixo

Marc FerrezCampo de Santana na festa por ocasião

do fim da Guerra do Paraguaifotografia, 1870

fundação biblioteca nacional

Parte IIIEnxergando mais longe

1 1 E N F R E N T A N D O A T E M P E S T A D E 1 8 6 4 –1 8 7 0

à esquerda

Caixa presenteada ao ImperadorD. Pedro II em 1874, de origem inglesa.

Continha amostras de todosos cabos submarinos existentes no mundo

naquele momento. museu histórico nacional

abaixo

Pieter Gotfried BertichemFábrica Ponta de Areia

litogravura aquarelada em

o brazil pitoresco e monumental , 1857

fundação biblioteca nacional

acima

Edoardo De MartinoChegada do cabo submarino a São Salvador

óleo sobre tela, s .d.

associação comercial de salvador

foto de adenor godim

à direita

H. ValentimInstalação de cabo submarino

gravura em as grandes invenções,

de luis figuier

porto: livraria internacional, 1873

1 1 E N F R E N T A N D O A T E M P E S T A D E 1 8 6 4 –1 8 7 0

Parte IIIEnxergando mais longe

1 2 O M A U Á Q U E F I C A 1 8 7 8 –1 8 8 9

A falência foi dramática.Quase todos os bens doempresário entraram na

conta dos débitos. A lista depropriedades do Visconde de Mauáenvolvia ações de suas numerosasempresas, sua casa no bairro do Catete,vários imóveis nas províncias doRio de Janeiro, do Rio Grande do Sule de São Paulo, além de váriosobjetos particulares.

De seu patrimônio anterior, poucacoisa sobrou. Em suas mãospermaneceu a Companhia Pastorile Agrícola, no Rio Grande do Sul, quelhe garantiu o sustento. Mantinha aesperança de ganhar duas demandasjudiciais. Eram processos contra seussócios ingleses da Santos–Jundiaí econtra o governo uruguaio.

Sua última viagem à Europaacontece em junho de 1884. NaInglaterra, nova decepção o aguarda:o caso da ferrovia está prescrito najustiça. Não há sequer julgamentodo mérito da questão. Sua fúria ficamaior quando se dá conta que oBarão de Penedo, representantedo Brasil em Londres, tomarapartido dos ingleses.

De volta ao Brasil, o empresáriovê o mundo se transformar à sua volta.Perdera estatura econômica einfluência política. A diabete, que oacometia havia anos, o debilitapaulatinamente. Morre em Petrópolis

quase esquecido, aos 75 anos, em21 de outubro de 1889, 25 dias antesda queda do Império.

A vida econômica e empresarialde Mauá seguira de perto as oscilaçõesdo II Reinado. Começara de fatoem 1840, ano em que D. Pedro IIassume o trono. No auge do regime,em 1860, o financista está em seumelhor momento. A partir de 1870,quando aparecem os sinais da criseque desembocaria na República, osempreendimentos do Viscondeentram em sua rota descendente.

Irineu Evangelista de Sousa foium homem de seu tempo, dotado deaudácia, de habilidade e de visãoúnicas. Sua capacidade para coordenariniciativas simultâneas de grandeenvergadura ficou como prelúdiode uma economia industrialcomplexa, que só teria lugar no Brasila partir de 1930.

no alto, à direita

Pereira NettoA morte do Visconde de Mauá

na capa da Revista Illustradalitogravura, 2 de novembro de 1889

acervo gilberto maringoni

abaixo, à esquerda

Charuteira com as iniciais do Barão de Mauácristal e metal, século xix

museu histórico nacional

1 2 O M A U Á Q U E F I C A 1 8 7 8 –1 8 8 9

A Viscondessa de Mauáfotografia, s .d.

coleção particular

à direita

A família, da esquerda para a direita, de cima para baixo:

1. Visconde de Mauá, ladeado pelo filho Henrique

2. Maria Carolina de Sousa Salles, filha de Mauá3. Alice Salles de Sousa da Veiga,

neta de Mauá 4. Noemy Salles de Sousa Ganns, neta de Mauá

fotografia, s .d.

coleção particular