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Amor, Ódio, Redenção e Morte

Amor, Ódio, Redenção e Morte_paulo vitor grossi (2013)

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Amor, Ódio, Redenção e Morte

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apenas

não leia isto a menos que saiba quem é você de verdade, previamente.

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Amor, Ódio, Redenção e Morte

(A História de um Poeta num tempo de ausente Poesia)

Roteiro cinematográfico[Filme contemplativo crítico.]

Atores (em ordem de aparição):Bruno – POETAJORNALEIROCOZINHEIROJoca – TAXISTAPORTEIROLila – EDITORA

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Ato 1 (Cidade)

A TELA ESTÁ NEGRA. Ouve-se de tudo, desde vozes de conversas casuais até carros e ônibus, músicas, buzinas, gritos e risos descompromissados. Sons da cidade.

Créditos, todos no começo. De baixo pra cima na tela, como um bloco subindo. Corte brusco: Ao fundo, uma chuva torrencial; foco no alto dos céus, enquanto passa o restante dos créditos.

Aparece a tal cidade. [Em fade in] Toca a peça introdutória. É final de tarde. Mostra o protagonista, Bruno, andando. Corte quando termina a música.

TÍTULO.

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Caminha o poeta pela noite. Poderia ser um policial ou um mero angustiado, com seus tons escuros, força e tristeza. A cidade está úmida, pois há pouco chovera. Está cansado, até a roupa lhe pesa, mas continua; nem sabe o porquê – e passa através do povo, olhando para a frente – tais ídolos – Pensa (Seus pensamentos são narrados pelo mesmo ator).

Bruno: – Que sei de tudo isso? Agorinha tinha tão poucas preocupações, me parece que desencaminho, fui posto na encruzilhada da idade e da vez. Que sei eu da minha história? Tenho a impressão de insignificância – e é até melhor. Curo a moléstia do egoísmo pelo mundo. Sinto as dores do Universo, sem distinções. Prefiro assim, me nutre – como fiquei tanto tempo longe?

Assim, ele hesita. Vai a uma banca, pede para trocar um nota de 50 ao jornaleiro, ao que o homem irrita-se.

Jornaleiro: – A essa hora, parceiro? Tô sem troco, claro.Bruno: – Se fosse então outro horário, me respeitaria?Jornaleiro: – Hã, como assim?? Ó, vaza daqui! Já vi que tu é desses biruta.

Há calmaria no ambiente, como se o que fora dito pelo jornaleiro fosse

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tamanha besteira que nem abalara o ânimo do cliente.

Bruno: – Que sabe tu da história da própria espécie?Jornaleiro: – Que tá geral fudido. Ei ô, vai encher o saco de outro, valeu!?

Estranhamente... Tal ato de raiva – ingênua, prosaica – só fez suscitar foi inquietude ao gênio do “herói”. Vem-lhe uma imagem plural demais, a de uma máscara que cai pela mão. Ele revê e revê o jornaleiro nesse cenário. Aparece a ele também (Bruno) a face pálida e assustada do comerciante, olhando as mãos cinzas de poeira das publicações – mal pode falar este jornaleiro – E cala-se, mirando as revistas e o troco.

Segue Bruno pelas ruas, pensando:

Bruno: – Humanos sem interesse. Que lhes falta? O que houve nesse processo? Parece que a naturalidade virou palavra classificada e só vista nas telas do passado. Tudo e mais a me azucrinar as ventas! Pra quê! Pra quê? Qual foi? Se reclama. Talvez o apressado seja eu mesmo e as coisas se ajeitam – afinal, a ordem já esteve por aí antes de mim, que não passo de instante e matéria pros ciclos da Existência. Viver é só errar mesmo... Mas será que volta tão melhor quanto?

Dirige-se a uma zona de bares, a área boêmia do centro da cidade. Pessoas em mesas discutem exaltadas, turistas se perguntam banalidades em uma língua estranha e olham seus mapas, uma menina

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discute com alguém ao celular, uma jovem mãe repreende seu filho, diversos repórteres de rádio, televisão, jornais, Internet, incluindo uma atraente mulher com um caderno de notas, estão esperando por algumas palavras de um senhor engravatado, enquanto um morador de rua dá risadas deles. Focalizar demoradamente cada uma dessas situações. Vê-se Bruno perdido, olhando em volta. E continua a se imolar:

Bruno: – Todos eles e seus problemas e pressas. Há um mundo interligado e relações desconectadas; senão descontroladas! Por que não consegue se concentrar, pessoa? Já tentou um texto completo ou só se limita às páginas de notícias? Preocupe-se com a vida adulta, onde há mais dureza. Sim? Ou não? Deve depender. Não, não mesmo!Eu não sou um computador, vamos fazer por partes. Calma, relaxa, esvazia a tua mente! Pense como uma célula normal, tanto mediana, sei lá. Pensa sem travas! Esqueçe um pouco as máquinas e seus confortos. Peço que fique, ao menos, este dia fora da linha. Há tanto para se discutir – tanto tempo em asneiras e distrações. Ainda consegue, viciadinho? Viciadinha?

Detém-se frente a um bar, lanchonete, o que valha a definição. Pede um suco de laranja. A maré é de instabilidade e ações turvas de bondade. Mesmo assim, gritam-lhe de dentro:

Cozinheiro: – Tamos fechando!!! Tenta o da esquina!Bruno: – Tá foda, heim. E por que não abaixou a grade?Cozinheiro: – Quem é tu pra me dizer o que fazer? – Fala, abrupto.

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Bruno: – Eu, pois que nem sou ninguém. Tampouco tenho mais nome.Cozinheiro: – Então se larga daqui. Chispa!

Ao contrário do que pensam os transeuntes curiosos, sai é aliviado, a brotar um sorriso no rosto que estava machucado. Vai em direção à pista principal, numa pequena corridinha.

Bruno: – Por certo que são somente irrelevâncias. Existe um molde – a forma nem foi pro lixo. Nunca disse que era profissional.Que sabe ele sobre desenvolver atividades cerebrais mais intensas? E da busca pelo Conhecimento além do que percebemos do usual??Que houve com tuas relações, Cara? Onde escapuliu tua Filosofia? Onde relega tuas realizações!?... E o calor, os toques, risos, trapalhadas, besteiras? Não era belo tentar? Sempre a gente... Para sempre se arrependerá de esquecer quem é. E foi. Foi-se. Por onde anda tua família, amigos, amores? Volta pra terra, que os outros elementos te seguem. O comércio te levou mais do que pensa. Te pinica. Escancarou o portão da sanidade.Leia-me, joga fora. Reciclar o papel e você. E também concordo que sem livros não há futuro... é mais um grave erro da atualidade pensar que pode suprimir a cultura pela tecnologia! As coisas precisam ser somadas, não divididas dessa forma tola. Ih, tecnologia – que sonsa!Dá gole desse guaraná, me informa de algo bom, inominável.

Foco no movimento da via, ao que ouve-se Bruno rindo. O certo é que torna a andar nessa caminhada noturna. Talvez uma música lhe atinja. Ia que tava que tava. Mais:

Bruno: – Esses superficiais de papel! Tua partitura não sabe ler. Busca o “papel” da Música para a alma humana. Quem sabe possa ter uma noção – já que não é artista nem apreciador nem nada; nem acha que Cultura sirva

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para alguma parada além de aparecer na TV (ou algo disso – que lhe cabe no bolso). Homem, é exatamente o contrário: a Arte é pra deixar justamente a vida mais prosaica, leve, achando graça na “perda de tempo” de acreditar – fie-se na distração, num modo de existir mais digno. São as mesmas balelas que existem e sabe delas, porém com outra roupagem. Me entendeu? Tentei ser didático. Odeio isso, me faz feder e transpirar. E Arte é bem mais que isso. Beleza... Mas por hoje chega, é demais. Terá sonhos cheios e agravamentos e pesadelos. (Risos)

Ditas as presentes palavras, recolhe-se. É o que espera. Foco no cabelo voando com o passar dos automóveis.Toma um táxi:

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Ato 2 (Táxi)

O taxista puxa assunto. Nota a face perdida do homem no banco de trás. Toca no rádio algo esporrento.

Taxista: – Ninguém gosta de ficar muito tempo mesmo naquela área. Já foi legal, agora anda lotada de parasitas. Nem parar pra tomar uma brejazinha em paz é possível. Não acha?Bruno: – Concordo plenamente, senhor...Taxista: – É Joca, me chamo Joca.

E Bruno olha pela janela, vê o mar e a orla da cidade desfazendo-se. Volta, sorri e completa:

Bruno: – E pra quê me diz isso?Joca: – Quê, meu nome?Bruno: – Não, o de antes. Me chamo Bruno. Prazer.Joca: – Não sei, bem, talvez pelo fato de comentar. Às vezes dividir os pensamentos é bom, meio que gasta as preocupações, alivia. E quando aparece um que tem as mesmas queixas, discutimos abertamente.Bruno: – Não que isso possa trazer alguma solução real!Joca: – Na minha opinião, sim, que pode.Bruno: – O que você faz a respeito?Joca: – Bem, além de reclamar e fazer piadinhas...Bruno: – Faz piadas!?Joca: – É

E sorri o taxista. Mostra o interior do automóvel, com suas

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propagandas, estofado com rasgos, crucifixo no retrovisor e uma sacola com restos de lanche no banco da frente. Logo após, foco na janela e ruas por onde passa, ao que responde Bruno, depois de certo tempo.

Bruno: – Muitos fazem também.Joca: – Temos essa arma.Bruno: – Não é uma “arma”, é uma forma de se excluir da real proporção. Transforma os problemas em brincadeiras. Tanta gente faz isso – quem ri por último são os que ficam intocáveis.Joca: – Não tô te entendendo, moço...Bruno: – Por que, ao invés de fazer piadas, não grita pelo vidro do carro?Joca: – Me tomam por maluco, poxa.Bruno: – Na verdade, todos somos loucos. Há de ser notar a medida! Mas isso não se discute... desde que a Espécie saiu da Savana... Bem, ao menos você os incita a pensar, né.Joca: – Quem, os clientes? Claro, fuzilo a cabeça da galera. Sabe, passo muito tempo aqui sentado, rodando. Nem sempre tem gente. É muito pra se virar sozinho, digo, conversando comigo mesmo.Bruno: – Faça isso sempre. Vai te entender de uma forma jamais vista. Acredito muito no que dizem de que o básico é saber quem é.Joca: – É, deve ser. Chegou teu ponto. Tenha uma boa noite.Bruno: – Tomara. Aqui tá o pagamento.

Estica a mão e vê os olhos do motorista. Foco no olhar triste dos dois.

Bruno: – Fica com o troco, por ter te alugado a viagem toda. Sei que não é o devido, mas enfim.Joca: – Ei, todos temos questões.Bruno: – Que bom! Boto fé nisso.

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Ato 3 (Escadaria)

Bruno não pode evitar o cansaço nas escadarias até a entrada do condomínio. Anda. Chega próximo à guarita. Cumprimenta o vigia pelo caminho com um “Olá, boa noite... tudo tranquilo, tranquilo”, e ri; e o outro também ri. Não responde o vigia, apenas olha pra frente e acena com a cabeça. Ao que, depois, este puxa da gaveta da mesa onde está sentado uma garrafinha dessas de bolso e dá uma golada demorada e retira também um maço de cigarros do bolso da camisa, estica-se. Presta atenção a uma linda jovem que passa em frente à guarita, sempre por ali, do outro lado das grades da vila. Olha a bunda dela!Aparecendo e reaparecendo em diferentes ângulos, os sapatos de Bruno e seus passos. E narra, ao fundo da cena:

Bruno: – Como seria propor uma questão a todos que puderem ter acesso... Digo, até a nível mundial. Vincular em todas as mídias existentes – como uma comoção global. Daria o título de “A Questão do Equilíbrio das Coisas”. Quantos seriam atingidos e os que nada fariam caso? E se os dissesse que é um poema? Isso mesmo, um poema de todo mundo, de poesia pura, ainda lembra? Isso sim é pra rir, me contradizendo.

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Risos ao dizer a palavra “contradizendo”, ao passo que foca nas paredes e degraus, acompanhando com a câmera os pés movendo-se mais rapidamente. Foco no suor e respiração. Valorizar os sons.

Bruno: – Quis dizer, é... um “poema cláusula, ou, se preferir, prosa solidária”. Impor a discussão de como a noção de união move blocos – como já tanto o fez antes! A todos que acreditarem nos desafios. Falemos de razão e princípios. Tais divagações que têm faltado – compartilhar das opiniões e anseios, os traumas das últimas décadas. Quantos estragos os últimos tempos impuseram às sociedades atuais. É preciso entender o que aconteceu, sob vários pontos e óticas. O que se passou após as guerras mundiais e quais revoluções surgiram e foram suplantadas pelo Capitalismo exacerbado. Conhecimento e força. Valores.

Para na fachada da residência. Descansa uns segundos. Ouve os vizinhos tagarelando. E chega à casa, gira a fechadura com calma. Arrasta-se adentro. Não acende luz alguma, apenas vai tateando. Acha a cama e desaba.

Mostra o ator dormindo na cama neste intervalo. Remexe-se. A câmera vai em direção à janela aberta e mostra lua cheia, sob um céu bem estrelado e rico.

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Ato 4 (Café da manhã)

Manhã. Sons de pássaros.

Passa um bom tempo tudo em paz, apenas uma câmera ligada e a captura de momento do céu azul e multiplicidades.

Volta ao lar. A televisão está ligada, passando qualquer desenho animado, ao que esse termina e começa um destes programas culinários de auditório. Bruno caminha em direção ao aparelho. Foco em seu corpo chegando e tapando a visão da tv. Ele a desliga.

Nisso, toca alguma música arrastada e bucólica, e durante praticamente toda a execução dela, ele está sentado, com a cabeça pendendo pra trás. No final, põe-se a comer seu pão, biscoitos e bebe café.

Durante o lanche, reflete sobre a questão do riso. Sente-se melhor ao comer. Fala consigo, em voz alta:

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Bruno: – O riso, isso que me torna. O riso como esclarecimento, adorno, fuga, desleixo. Rindo para não “chorar”, mesmo assim, afoga as mágoas. Meio que expele o peso das costas, exorcizando-se e aliviando, tal terapia. O mesmo efeito dá-se ao riso grupal, a comoção dos humores. Se te enlatam o riso, terá que pagar para mexer os músculos da face – não deixa! Recebe de bom grado à qualquer momento, dê gratuitamente um olá, sorrindo. Isso não fui eu quem prescreveu, só enfatizo nesse instante aqui entre nós, sim? É uma tendência, um fato, hábito antigo, vai saber. O certo é que funciona, e faz mesmo bem – para ambas as partes, é preciso sinalizar.Bom, não sendo profissional... É até melhor assim, sem pressas, pressões. Sem ter que inventar a esmo; o que é, é o que é... gostem ou não, este método empregado.

Risos tomam conta do ambiente, porém, são de uma alegria insana, beirando o ódio, desprezo, mas sarcasticamente. Ecoam. Adicionar risos de gentes diversas pelo mundo, em cortes bruscos. Ainda assim, continua divagando, talvez a se explicar, falando como se para algo:

Bruno: – Brincadeira, foram rodeios a despistá-los – de minha ignorância. Afinal de contas, estamos na mesma todos os seres, apenas fazendo o que nos dá na telha. É belo tentar! E achar que é. Somente o que importa, e intensamente. Há mais riqueza em todas as convicções que tiver assim, disso posso tomar fiado e emprestar o conceito!Libera. Liberta-se. Finalmente livre, a estudar o mundo inteiro – e isso inclui, obviamente, os benefícios e malefícios. Digo também para romper com o passado – não sem antes lhe enxugar as rugas e sugar do suor a experiência, as ações e tomadas de consciência. O melhor do que foi, do que era, reutilizado dando-lhe prosseguimento. Coisas não finalizadas nem interessam tanto, verá. Há tensão, sempre haverá quando a força e determinação estiverem presentes.

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Estica-se o poeta.

Bruno: – É tão amplo que me envergonho ao pensar pequeno! Pede-se tudo. Pode ser de tudo todos. Aprisionar o sentido (ou, 'os sentidos') a um punhado ou dois de significados é sacanagem!!

Fica de pé e olha para câmera, como se falando a um auditório:

Bruno: – Deixa rolar, vai. Ofereça-se ao natural, sente... teu próprio corpo se move e dá as caras ao redor. Sempre tende a expressar-se o corpo vivo, é dele isso.

Diante disso, feliz ao desabafar, dirige-se à geladeira.

Corte. Fora da casa. Está Bruno separando o lixo em plásticos, papéis e orgânicos e atirando nos recipientes devidos. Ouve o telefone de longe. Corre. Entra em casa.

Dá uma topada na quina da mesa que há na cozinha – uma dessas batidas que deixa qualquer um zonzo vendo trens! E xinga todos os palavrões possíveis!!

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Ato 5 (Trens)

Está desorientado. Câmera aproxima-se do cabelo, lentamente, até focalizar o couro cabeludo, como faria um telescópio. Logo, a ação passa-se internamente, entre imagens múltiplas de cores borradas, tintas, texturas que tomam a tela, escorrendo como faria o próprio sangue. E os pensamentos de Bruno são relatados ao fundo de tudo isso, entre filtros de voz:

Bruno: – Ah merda! Tinha que levar essa topada, arrancar pedaço de mim, ficar zonzo sem querer (antes fosse induzido!). Mais parecem os juros do mundo a me perturbarem com suas cobranças fartas e desmedidas. Uns sobre os outros os juros para 'estar', que quer que seja. Por que será que entrei nesse jogo? Não sou disso, não suporto. Não é minha essa sociedade, não pertenço a isso, me desfoca – que faço? Vivo, as topadas e os juros me perseguem; morto, há o indefinido. Fujo? Assassino o 'sistema'? Me mudo para uma ilha deserta? Onde é ela? Adiantaria mesmo?Ficar zureta só me faz alerta, a pensar na Poesia, na Palavra – tudo desfalece, vira areia nesse caminhão moderno. Não estou à venda, mas só assimilam arte que vê-se estática, meramente exposta. Como ficar, então? Me ponho louco ao aceitar essas regras, ou estava doido ao considerar? Querem minha alma empadronada. Digo não, sou íntegro e bem disposto, não entro nesses esquemas; sou um homem livre. Porém, não estou em lugar algum, virei um fantasma próprio e modelo de passado. Se a Arte

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virou pedra velada, e eu participava dela, então sou um paradoxo – parábola e adeus. Não posso. Só sei fazer o que quero, não sou desses que respeita. Portanto, fui excluído da jogada. Então, para os livres e desimpedidos (ao qual me encaixo, certamente), é o fim, é o tempo sem Poesia – é o tempo das palavras justapostas, do comércio dos rins do saber. Estou morto. Precisaria vagar. Estão mortos os que acreditam na Arte. Que anos vieram pra mim de presente!! Caminham pela Terra apenas os compradores de espólios!

Nisso, toca o telefone. Volta a mostrar Bruno, segurando o pé. Assusta-se, volta a si, olha o aparelho telefônico tremendo.

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Ato 6 (Telefone)

Continua olhando o telefone. Detém-se, para, espera. Pensa se vai ou não. Por fim, corre e atende, mancando, movido pela ética:

Bruno: – Pronto, quem fala?

Nisso, a tela muda para a visão de uma feira livre dessas de bairro e vai passeando entre as bancas e suas pessoas, provocações, provas de quitutes e sucos aos montes. E ouve-se a voz dela; depois, a dele:

Lila: – Sou eu, Lila. Lembra de mim?Bruno: – Êêê, que susto. Não tava esperando... pra falar a verdade, nem sei se ia mais usar isso, digo, o telefone! Lila, é você mesma?? Caralho...Lila: – Que isso, Bruno... Está tudo bem?

Treme um pouco, respira fundo, vai recobrando a seriedade... Mostra imagens do passado. Dele. Dela. Ambos em fotos de jornais e em lançamentos de livros, caminhando lado a lado em uma exposição de artes plásticas.

Bruno: – Claro, é que me veio uma ideia repentina. Mas tudo tranquilo, tá

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dominado... Que me diz, querida?Lila: – Bom, na posição de sua editora...Bruno: – Como assim, Lila? Disseram que cancelaram as publicações, que faliram e tal, que poesia não dá mais dinheiro, que mal dava pra cobrir os gastos...Lila: – Calma, não é bem assim. Foi uma situação delicada que passamos. Eu fali também, esqueceu, recorda não? Acredito que já estejamos melhor.Bruno: – Faz dois anos que não tenho contato com vocês. Por que a volta?Lila: – Não julgue a gente assim. Todos passam por problemas, ainda mais uma empresa pequena como a nossa. Só quero conversar, falar das tuas obras, saber se tem algo novo... Tem?Bruno: – Na verdade, não. Passei por males, pestes, consciência... Ser artista é pior do que ser bandido. Tive que fazer diversos bicos para sobreviver e manter uma casa, ao menos. Nesse ínterim, pausei todos os meus trabalhos. Em especial depois de saber que estava falido e com dívidas em diversos órgãos que se criaram por aí... na praça...Lila: – Entendo, estou me livrando dessas também... e até hoje... Risos dela, ao que mostra parte de seu rosto e mão no telefone) Atinge a todos que não se adaptam; não que seja um dever, sabe.Bruno: – Tudo bem.Lila: – Então, mas o que me diz de tentar novamente?Bruno: – Isso soa meio esquisito, moça... mas enfim...Lila: – Só porque é vindo de mim?Bruno: – Que isso! Tentar novamente, digo.Lila: – Escrever, Bruno.

Pela primeira vez no dia seu rosto ilumina-se. Passam por sua mente vultos e reflexos dos dois juntos, no sentido carnal da expressão. E ele respira fundo, para completar:

Bruno: – Escrever? É mais suicida do que atinar contra os capitalistas! Querida, não te disseram que venderam tudo? Lila: – Bruno!!!Bruno: – ….....Que, que foi arrendado imbecilmente?

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Segue esse comentário de uma sonora risada dele, ao que a editora fica constrangida. Foco em sua mão compulsivamente desenhando formas geométricas em pedaço de papel ocasional. Rabisca e se mexe.

Lila: – Ah, não fala assim. Até queria rir da situação contigo mas a piada seria demais.Bruno: – Estou te julgando? Não, só sou realista. Você também é, que sei.Lila: – Errado, errado. Não... Existem muitos que adorariam ler algo novo seu.Bruno: – Bom, menos eu. Que leiam a bula dos seus remédios. Lila, ninguém mais entende um poema. Não sei escrever para que passem o tempo. Você muito sabe que sou um instigador, quero que pensem. Além do mais, não sei escrever por extenso. Acabou a Poesia.

Do outro lado da linha, ela morde os lábios e seus olhos ficam úmidos. Fala baixinho fora do gancho “burro, burro”. É grande o afeto que sente, mesmo depois de 'tudo'. A câmera move-se devagar em direção ao rosto dela, e revela tão mais sua beleza cheia. Bruno está perplexo pelo que havia dito e a escuta, do outro lado.

Lila: – Não seja tão pessimista. Você não se esqueceu de que os sentimentos não se dissolvem dessa forma

Mal completa, segura-se para conter a voz trêmula enquanto ele continua, lhe interrompendo:

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Bruno: – Tudo tomado de limo, poeira, cracas... adornados.Lila: – Pra vender em shopping? (Ri e anima-se, enfim)Bruno: – Sim, e logo vão vender até pessoas, escravos dos escravos e dominação.Lila: – Você não respeita ninguém. Sempre adorei isso.

Nota-se leve sorriso contínuo nela também, de agora em diante.

Bruno: – Obrigado. Me alegra que seja você.Lila: – O quê?Bruno: – A me ligar.Lila: – Olha, posso te encontrar para almoçarmos juntos?Bruno: – Claro. Meio dia no café aquele?Lila: – Perfeito.Bruno: – Lila, pode não parecer, mas nem estava sendo irônico. Chega uma hora que é preciso ter classe e sair. Melhor que não seja com o rabo entre as pernas – forçar demais estraga a colheita! Eu não sou isso, ah não, essa figura estática que fizeram de mim. Só cansei.Lila: – Eu sei disso, por que acha que te importuno? Sei quem é e como tudo aconteceu em nossas vidas, sei porque pensei muito a respeito; mas viver é cheio desses 'sortilégios'...Bruno: – Pragas. Vamos pro manicômio. Ao menos lá não tem comércio. Nunca disse que era profissional...Lila: – Conheço essa!Bruno: – Ahãm, veremos. Té logo.Lila: – Tchau.

Mal desliga o telefone e Lila pensa, enquanto começa de fundo a tocar uma música: “Caraca, que merda, essa foi o papo mais difícil que tive… anos atrás... e precisei de muitos pra superar, mesmo...”E mostra a orla, pessoas na praia, gente tranquila fazendo exercícios,

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namoros, crianças e ciclistas. Multiplicidade de ações, o que as pessoas fazem ao redor. Diversos cortes, cenas vivas cheias de cor e alegria; mostrar mais da beleza da raça humana e suas variações, interações, tonalidades, vestes, risos etc.

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Ato 7 (Meio dia)

Curiosamente, chegam ao mesmo tempo no tal café, localizado no Parque da Cidade.

Bruno: – Oi, chegamos juntos. Deve ser bom sinal.Lila: – Não é, também achei!

E cumprimentam-se com um abraço forte e demorado e beijo no rosto. Olham-se. E ela diz:

Lila: – Como está? Te achei meio carregado ao telefone. Imagino quanto te aflige. Ainda mais te conhecendo, sabendo o que sente pelo mundo afora... Deve ser difícil mesmo dar-se em prol de uma causa...Bruno: – Sabe que eu sou também é muito cético em relação à galera!Lila: – Você é dramático, isso sim.Bruno: – É, né... os dramas e os expurgos da mente.

E ri ele, ao que ela lhe dá um pequeno tapa no braço e ri também. Sentem-se bem, ali.

Lila se ajeita e fala:

Lila: – Não, que isso...Bruno: – A culpa é minha mesmo. Tenho uma visão muito romantizada, pretendo a extensão do Pensamento, não o inverso. Mas quem não o quer, poxa!... Lila: – “Quem?” é a grande pergunta.

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Passam algumas pessoas e olham os dois. Um olhar de análise, mas meio terno, digamos. Como quando alguém vê um casal e sente uma pequena inveja boa.O parque está cheio, pois uma excursão de escola trouxe uma boa quantidade de crianças pra lá.

Lila: – Viu só?Bruno: – O quê? As pessoas ali?Lila: – É, nos olharam de baixo pra cima, cruzes. Devem achar que somos conspiradores.

E se riem mais uma vez, alto.

Bruno: – Pois é, teóricos da conspiração.Lila: – A queda dessas tosquices, convenções...Bruno: – Tipo comprar presentes com os olhos, ãhn. Né?Lila: – Claro que eu lembro.Bruno: – Falei isso, você riu. Abriu caminho para nos conhecermos e você aceitar minhas piadinhas. Bons momentos.

O rosto dela está claro, sorri sempre. Segura uma pasta. Olha a pasta, volta-se ao horizonte. Suspira.

Lila: – Ei, tem pastel e caldo de cana aqui pertinho. Deve ser mais legal ainda.Bruno: – Gostei da sugestão! Se tenho fome, fico inquieto.Lila: – Ué, vamos.

Partem. Toca uma canção. Seguem lado a lado até terminado o refrão; e

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a câmera vai subindo, vendo-os e ao parque também bem de longe.

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Ato 8 (Debutar)

Em câmera lenta, vê-se o corte dos alimentos, a massa do pastel envolvendo um punhado de carne seca, o preparo da cana, a fritura, o óleo escorrendo. E os funcionários fazendo piadas entre eles.

Logo, estão comendo os dois. Passaram-se alguns minutos. Conversam sobre os manuscritos, ainda que a todo tempo ela seja invadida por alguma memória deles, namorando.

Lila: – Bom, você já tem bastante material, juntando as obras publicadas anteriormente... Vou dar uma olhada nos papéis que já começou, te dou umas dicas. Vejo o que já pode ser lançado. Sei que você é muito perfeccionista e pilhadinhoBruno: – Pilhadinho!??Lila: – É, sempre vem com detalhes. E teu segundo livro? Eu seiii.

Ele faz gesto de negação e ri, termina de beber o caldo de cana.

Bruno: – Você disse que estava pronto, e estava mesmo. Tudo bem, faz o que quiser.Lila: – Confia em mim. Te peço mais uma vez. Apesar do cenário literário estar um caos, com todo mundo querendo ser minoria perseguida, temos

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uma boa ideia.Bruno: – Vai, diz logo. Sem rodeios. Pelo teu rosto, essa expressão sapeca quer dizer algo relevante.Lila: – E é.

Dito isso, ela ajeita o cabelo. É feito lentamente. A cena é calma, familiar. Foco quando um vê ao outro em suas íris.

Bruno: – Olha, quanta convicção!Lila: – Isso, a proposta é minha. Vim até você diretamente. Parece meio esquisito o que vou dizer... mas... ah, não disse a mais ninguém... ainda que saibam das intenções. Bem, sou sócia majoritária.Bruno: – Fala logo, doidinha.Lila: – Pensei em assassinar você.Bruno: – Êta, porra. Tô marcado pra morrer??!Lila: – Não é isso, ficcionalmente. Quero que você escreva como quer ser morto. Publicaríamos por último.Bruno: – Gostaria que me matasse você mesma.Lila: – Ah é, como?Bruno: – Já sabe.Lila: – Bobo, deixa eu terminar!Bruno: – Prossegue.Lila: – Tipo... você pode depois forjar a própria morte, fora dos livros e ir parar nas páginas policiais. Sem dívidas, livre pra fazer o que quisesse e com todos comentando sua obra e ideias. Que tal? Te espantei com minha clareza? Calma, junta os fatos, a simetria e lógica das situações.Bruno: – Você sabe do que faz. Não dá ponto sem nó. Eu te fiz uma brincadeira anos atrás sobre isso de forjar a própria morte e tal, mas foi um camarada meu quem tentou. E deu errado!Lila: – Porque ele deu mole. Não sou mais esperta?Bruno: – Evidente.Lila: – O esquema do vinho que matura...Bruno: – Por mim, eu faço agora.

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Ela fica eufórica. Dá um abraço nele. É forte, talvez o mais reconfortante em tempos. Olham-se diretamente, frente a frente. De pé. Beijam-se. Excitam-se. Bruno a aperta forte pela cintura e Lila suspira. Grande foco na boca dela, seu batom, a regularidade de seus contornos... dizendo a frase seguinte, devagar, ao ouvido:

Lila: – Eu sei antes de você, por exemplo, que os signos usados para escrever e os que organizam as conclusões, não são os mesmos da compreensão

Quando ela profere 'compreensão', diminui o tempo de execução da cena e a palavra vai sendo repetida em eco enquanto são enquadradas partes dos corpos quando se chocam. Há várias posições, surpreendendo-se.

Rapidamente, o diálogo é abafado pelo som de uma revoada de pássaros. São diferentes varições de espécies e piruetas pelos ares. Foco demorado no movimento dos seres em seu progresso.

Logo, corte para nuvens em desenhos e céu limpo, voos, asas; e:

Lila: – Assim até parece que sou uma ordinária te seduzindo...Bruno: – Se for assim, sou pior do que você, por aceitar!Lila: – Vamos pra sua casa.Bruno: – Eu chamo o táxi.

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Pagam e saem do local, ela puxando ele pelo braço. Dirigem-se ao outro lado do parque, a fim de tomar o táxi na direção contrária, mas correta a seu destino.Ela fala e ele está contente. Há brandas lufadas de vento neles. Estão dispersos e atrativos. Andam e pepeiam com parcimônia.

Lila: – Vai ser até engraçado. Te sirvo um drinque. Passo o cálice como uma sacerdotisa. Seria teu rito de iniciação. Sorrimos e conversamos enquanto você degusta o líquido. Falamos e falamos besteiras. A solução que haveria no vinho te deixaria “morto” por 3 dias.Bruno: – Vem cá, aquele teu primo ainda trabalha na Polícia?Lila: – Acho que sim...

Mal ela completa o “sim...” e ele já emenda as frases....

Bruno: – Você poderia discursar no meu velório. Ia ser bem pesado, até apareceriam os que gostassem de chorar e rasgar seda.Lila: – Ô!?

Se divertem ao imaginar tudo isso. Se esbarram.

Bruno: – Depois, viraria minha curadora ou algo do gênero...Lila: – Tá rolando um humor negro, sarcasmo ou o quê? Gosta de saber que vai enganar o mundo?Bruno: – Fazemos isso todo dia, já é natural. Além do mais, é por um bem maior.Lila: – Isso é que dá arrepios.Bruno: – Que nada.Lila: – Bruno, vou libertar tua escrita, soltar a poesia. Pássaros por aí. Há

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muito o que analisar nas tuas páginas... diretrizes para a cura dessa cegueira intelectual dos dias de hoje, teatros. Ou do que perdura de burrice...Bruno: – Só prego as sensações e sentimentos, que são o de melhor nessa existência. E que esteja em geral.Lila: – Vai fazer com que eles reflitam.Bruno: – Questionem-se. Uma vez que seja já é válido.Lila: – E você acha que estou satisfeita? Somos feitos de carne e osso.Bruno: – Não artificiais.

Foco nos dois de longe, parados, esperando, enquanto ele a abraça, passa as mãos pelas costas até chegar ao cabelo de Lila.

Lila: – Que maneiro atear fogo novamente!Bruno: – É...Lila: – Faltam mensagens boas, relaxamento, falta empatia, divertimento.Bruno: – Só falta a gente.Lila: – Ihhh, me deixou confusa

E se esbalda de rir ela. Fica corada.

Bruno: – Calma! Falta sentir que estão vivos, e não manipulados. Quantos potenciais artistas, cientistas, filósofos, educadores etc se perderam em trivialidades econômicas e sociais todos os dias pela pura ganância, violência, babaquices... essas “paradas”?Lila: – Ainda por cima enraizados em nossos átomos. Para não falar dos costumes! Vedados por gerações e gerações?Bruno: – É uma infecção da mentalidade. Lila, queria dizer que... sobre como tudo terminou... mesmo assim, foi o caminho para chegarmos onde estamo

Ela pensa em dizer algo mas vira-se, pois ouve um ruído forte que interrompera a conversa. É um caminhão fazendo curva.

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Perde-se, atravessa o acostamento em alta velocidade.Seu trajeto é a posição do casal. Há um intervalo de tempo mínimo entre o que ela diz e o golpe:

Lila: – Que disse?

Sem terminarem de falar, são interrompidos pela massa do veículo de mudanças descontrolado ante suas vidas. De uma forma seca e escrota, os dois são atropelados e morreram ali mesmo, na viela, vítimas de mais um ser descontente com a própria realidade... que havia decidido minutos antes pôr fim ao seu desespero causando o maior estrago possível com o veículo em suas mãos, até se ajeitar na direção do mar e perecer ele também, deixando sua marca impensada e vaga. E consegue.

Foco. Estirados no chão, inertes, somente os relevos dos corpos...

Corte de tempo em que a câmera vem passando horizontalmente pelo parque, pela cena do atropelamento e desastre posterior... passando também por uma jovem estudante, um grupo de músicos, atendentes das redondezas. Há grande murmurinho dos curiosos em volta, repetindo a frase:

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“Cada um tem que realmente ser líder neste planeta...”

Corte. Angulo de trás, mostrando a gente olhando e se perguntando o que havia passado.E, começando baixinho, toca um apelo, enquanto o cenário é visto do alto, desfazendo-se... Mais pessoas estão chegando perto para discutir, pondo suas mãos na boca... a segurar o desconforto.Terminando a canção, aparece a palavra “FIM”. Escurece.

1 MIN. APÓS: Fundo azul. Céu, nuvens, vento, brisa. Música doce nos créditos.

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* Produzido entre fim de 2011 e meados de 2012. Revisto em fevereiro de 2013.** Sugestão de músicas pelo autor: Ato 1: “23h59mim” (Alice)Ato 2: “Nariz De Doze” (Raimundos)Ato 4: “O Relógio” (Mutantes)Ato 6: “Ratamahatta” (Sepultura)Ato 7: “Namorinho De Portão” (Gal Costa)Ato 8: “Preciso Me Encontrar” (Cartola)

revisão maíza grossi nunes

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2013 © paulo vitor grossi